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Conto Missa do Galo de Machado de Assis

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSIS, J. M. M. de. Contos: uma antologia/ Machado de Assis. Seleção, introdução e


notas de John Gledson. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, vol. 2.

CRESTANI , Jaison. O Narrador sob Suspeita: uma leitura de ‘Missa do Galo’, de


Machado de Assis. s/d , www.delberandaro.com/abralic/txt_14pdf.

GOTLIB, N. B. Teoria do Conto, 10 Ed., São Paulo: Ática, 2003.

O conto objeto de nossa análise, “Missa do Galo”, constitui-se numa das peças
modelares da historiografia literária brasileira, foi publicado pela primeira vez no
periódico “A Semana”, em 1894 e em 1899 ele foi incluído na coletânea Páginas
Recolhido.

É um conto que, em um primeiro momento, não traz revelações surpreendentes ao


leitor, algo que possa impactá-lo, podendo até ser tido como conto corriqueiro, todavia,
como é próprio do autor, está carregado de reflexões da alma e do comportamento
humano

Resumo

O Conto tem seu foco narrativo em primeira pessoa, ou seja, o narrador também é
personagem. Faz uma retrospectiva, pois o Sr. Nogueira já adulto relata um
acontecimento vivido em sua mocidade. O enredo se desenvolveu quando Sr. Nogueira
tinha dezessete anos de idade e morava na casa do escrivão Meneses, para estudar
naquele ano, prolongou sua estada na Corte a fim de assistir à Missa do Galo, apesar das
férias já terem iniciado. O escrivão Meneses, mesmo casado com dona Conceição, uma
santa, segundo o narrador, mantinha um caso extraconjugal com uma mulher separada
do marido. Na casa todos sabiam inclusive sua esposa. Uma vez por semana, Meneses
encontrava-se com a amante. À noite de Natal foi uma dessas ocasiões. O adultério
declarado do marido de Conceição propiciava condições para que ela própria também
desejasse prevaricar.

Assim aconteceu o encontro premeditado por ela, ao que tudo indica, com o jovem
Nogueira, enquanto este, em casa, esperava a hora da Missa do Galo. Ele por
ingenuidade e inexperiência, não chegou a captar exatamente as intenções da pacata,
mas traída Conceição. Ela, por sua roupa, seus gestos, suas atitudes, seu andar, suas
frases ambíguas parecia disposta a seduzir o estudante ingênuo. No entanto, nenhum
envolvimento explícito aconteceu com eles. Nogueira conta no final que, no ano
seguinte, o escrivão Meneses morreu de apoplexia. Quanto à Conceição, casou-se
novamente logo depois com o escrevente juramentado do marido.

É importante destacar a frase inicial, pois há existência clara de ambigüidades: "Nunca


pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu
dezessete, ela trinta” subentende-se que nem mesmo o narrador entende? É a marca e a
técnica que Machado usa em sua narrativa. Tem-se que tentar elucidar o mistério da
alma humana.

Foco narrativo

Neste conto o narrador é autodiegético, ou seja, participa da historia como personagem


principal sua focalização, MODO como o narrador vê os fatos da história, ora é
focalização onisciente, ora focalização externa. Na focalização onisciente é focalizada
no microrrealismo psicológico, podemos tomar, por exemplo, alguns trechos da
narrativa para corroborar “Conceição padecera, a princípio, com a existência da
comborça; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito
direito.” “... tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um
temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos.” Já
na Focalização externa vemos o narrador limitando-se ao que é observável do exterior
“Durante o dia, achei-a como sempre, natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a
conversação da véspera.”

O Conto é narrado em 1º pessoa em vários momentos do conto isso fica muito


específico “A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora
casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas.” “eu repeti-lhe o que ela
sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte e não queria perdê-la.” “Há
impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me,
atrapalho-me.” A historia é relatada por Sr. Nogueira, narrador-personagem,
relembrando uma conversa numa noite de natal entre o jovem Nogueira e a Dona
Conceição. Vemos explicitamente que a historia é contando sob a ótica do jovem
Nogueira, intrigado com a conversa, ao mesmo tempo banal e misteriosa envolta num
clima de sensualidade. Praticamente nada acontece objetivamente entre os dois, mas o
autor parece nos querer dizer que, onde nada acontece, tudo pode estar acontecendo
subjetivamente e, para que o percebamos, é preciso apurar os ouvidos e ler nas
entrelinhas as marcas do desejo não-explícito.

Tempo/Espaço

Nesta obra o Tempo de Narração é diferente do Tempo da Narrativa já que o narrador


transcreve suas reminiscências vividas quando jovem apresentando seu sentimento de
dualidade do momento vivido tal fato fica explicito logo no inicio da narração “Nunca
pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu
dezessete, ela trinta.” notamos também que as feições de Conceição, não são reveladas,
mas deixa pistas para que o leitor observe seus movimentos sutis, como descreve em
certos trechos: “De vez em quanto passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Em
seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os
cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos”.
Em outra cena, a sensualidade de Conceição é latente quando o narrador observa que as
mangas do roupão branco, que Conceição usava, não estavam abotoadas e deixava
metade dos braços aos olhos de Nogueira.

Toda a trama acontece na sala da frente, de uma casa mal assombrada, localizada na
Rua do Senado, Rio de Janeiro. Havia uma mesa no centro da sala, algumas cadeiras,
cortina na janela, um canapé e um espelho. Nas paredes, dois quadros completavam
aquela atmosfera de cumplicidade entre Conceição e Nogueira.

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