Você está na página 1de 18
O TOMBAMENTO DA SERRA DO MAR © tombamento da serra do Mar em Sao Paulo foi uma realizacao notavel no universo da preservagao do patriménio natural brasileiro. Para discuti-lo em profundidade, a Revista do Patriménio convidou duas pessoas que participaram em momentos diferentes do processo: Aziz ‘AbSdber, geografo, que deu inicio aos trabalhos, Jose Pedro de Oliveira Costa, arquiteto com especializagao em planejamento ambiental, que atuou no final da operacao, Partindo de um consenso, 0 tombamento, os dois tém abordagens histéricas diversas, com critérios divergentes, mostrando o quao fértil é a matéria, fornecendo subsidios para um assunto que chega tardiamente em pauta: a preservacio do patriménio natural brasileiro, Frat do Cachadaeo, no litoal do Parque Nacional da sere de Sere do Mar, Estado do Rio de Jeneiro, no encontro da serra com ‘ustiicatina do seu nome. No 21/1986 REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL ada mais digno de ser ins crito no livro dos patrimé. nios naturals bisicos de uum pais do que os espagos de suas paisagens de excs go, Seus tecidos ecologi cos mais delicados e representativos. Os remanescentes mais significativos de seus ecossistemas continentais ou mari hos. A rigor, tudo aquilo que escapa da banalidade topogritica e paisagistica, su: blinhado por um tipo qualquer de ex. cepcionalidade ecoldgica e bidtica, me receria, desde 0 infcio, uma protesao le. gal, por uma modalidade qualquer de disposiggo estatutéria. Para tanto, a ima- ginago preservacionista foi muito fértil desdobrando a tipologia dos instrumen: tos de protegdo da natureza: parques na cionais, parques estaduais, parques mu. nicipais, reservas florestais, reservas bio logicas, estagdes ecoldgicas, santusrios e ‘reas de preservagio da vida silvestre Para ndo falar das reservas indigenas, {que se constituem em um tipo de espago natural e antropoldgico, defendido pela propria Constituigdo. Alguns estatutos legais para pre Ho, existentes entre nés, sfo excelentes para conciliar proteeZo com uma certa Visitagdo turistica e cultural: os parques estaduais e 05 parques nacionais. Outros facilitam a visitagfo de pesquisadores cientfficos, mas impedem a atuagido de um turismo de algum porte: as reservas florestais, as reservas biol6gicas e as esta ges ecoldgicas. Entre eles, as reservas biologicas e os santudrios para preserva: 0 da vida silvestre tém limitagoes ain: da mais drdsticas. Existem modismos, de introdugdo recente, que protegem muito ouco ou quase nada, como é 0 caso das controvertidas dreas de preservago am- biental. Na metade norte do pais exis tem condigées adequadas para o estabe- lecimento de verdadeiras reservas de biosfera, suscetiveis de receber um trata- mento regional met6dico e polivalente, dentro das idéias de ponta que vém nor eando a organizagdo e a filosofia para tais tipos de grandes espacos naturais Em alguns raros casos, apliciveis so. bretudo a areas de alta especificidade ¢ fungdes bidticas e biocliméticas, acopla- das com interesse social indireto, aplica se um estatuto, que, independentemente das leis da propriedade privada e sem a exigéncia obrigatéria de qualquer pro: cesso de desapropriago, pode ter forca para congelar 0 uso de um determinado espago fisico © ecol6gico. Ngo so trata de tombar todos os espagos que ji este- O Tombamento | da Serra do Mar no Estado de Sao Paulo Aziz Ab’SAber Rhamphastos dicolorus, ucanodo bico-verde naserra do Mar, umm refigto de fauna ¢ flora preservedo, jam sob a a¢do de uma ou outra modal dade de preservagao legal. Tombar gran- des espacos, situados om seas distantes, de getenciamento problematico, 6 to indtil quanto estab; no papel, sem se tomar as medidas e procedimentos indispensiveis ao seu funcionamento, por meio de um correto plano de manejo, fiscalizagio e implan: tagdo, Paradoxalmente, os espagos mais indicados para um tombamento situam: se proximos de areas altamente humani- zadas, sujeitas a uma forte irrefredvel pressfo da especulagGo imobilidria. Hi que possuir, ob: junto de infra-s ecer novos parques tus instaladas€ po tencialmente dges, a nivel regional esta dual, para garantir « preservagso plena ou zoneada, definida nos tombamentos de reas naturis. Nao é por outra razio que a fachada atlantica de Sto Paulo em sotores ndo muito distantes da gran de metrépole paulstana, tena sido pio neira nos esforgos para 0 tombamento de alguns patrimdnios natura bisicos: serra do Mar, Juréia, Jap, Pedra Grande, Cantareira, Jaragus, Boturuna e cabecel ras do Tité. Efécil entender que para a proteséo integrada da Naturezanas abe ¢eiras do rio Jurud ou do Purus, noscon fins da Amazénia Ocidental, no Estado do Acre, seria necessério invocar outro tipo de estatuto preservacionista do que © rigido e, no caso, totalmente inade quado tombamento. A mesma coisa se pode dizer da érca do pico da Neblina ou do monte Roraima, ou ainda, do conjunto da serra dos Carajés 0 roteiro da deci Ornstats auilicagoes muito conhecimentos, organizagdo de estraté Bias ¢ diretrizes, e agGes culturais aber. tas. Sem nunca desprezar 0 apoio jurfdi co relativo as leis dos patriménios cultu ral e natural. E uma correta avaliagao da atmosfera administrativa e outros envol vimentos politicos. Em qualquer hipate. Cy Ata Nacib ADSiber, edgrafo, profesor titular de Geografia ds Universidade de S80 Paulo, fol vcepresidente da SHPC (Sociedade Brasileira para 0 Progresso da Cincia) pres uo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa {do Prriménio Historico, Arqueolbgico, Artis tico Turistico), do governa de Sf0 Paul, DA SERRA DO MAR DE SAO PAULO 1N021/1986 Een iS ) TOMBAMENTO DA SERRA DO MAR NO ESTADO DE SAO PAULC -__————]S—— _______ a) Picos de lhebelanaitha de Sto Sebastio:a serra do Mar chess ao pélago, N021/1986 se, porém, exige qualificagGes que pai- ram muito acima de simples atos de vai dade pessoal, ou de meras tiradas dems gogicas de eventuais e passageiros res- ponsveis pela administragao publica. ‘A tomada de decisfo para o tomba- mento 6, antes de tudo, um ato de dis- cernimento cultural, que procura aten- der is reclamagdes de muitas vozes e de muitas geragoes. Como tal, é um ato de inteligéncia e de coragem coletiva. Tra tase de uma estratégia cransideolbgica, destinada a ter permanéncia e validade histérica. Em qualquer caso, a garantia de sua implantagio dependera do nivel de tratamento dado ao objeto de preser- ‘vagio, reconhecido por toda uma gera- fo de intelectuais, cientistas e Iideres Culturais. E por todos aqueles que opi- naram na abordagem dos diferentes an- gulos envolvidos nas querelas sobre o es- pigo a ser protegido por forga de lei. No sfo o§ governos que tomam a iniciativa do tombamento. As solicita- {g6es quase sempre partem de cidadsos esclarecidos. Ou de grupos comunité tos. Ou, ainda, de estudiosos sensibiliza dos pela idéia de proteger o patriménio da Sociedade e da Nagio, de um modo inteiramente idealista e desinteressado, Em contraposigio as eternas expectati vas de lucros dos especuladores de todos os naipes. 0 reconhecimento da excepcionalida- de e da aplicabilidade do estatuto do tombamento — em cotejo com outros instrumentos de preservagdo — depende- ri sempre do consenso obtido pelo aconselhamento responsivel das comu: nidades cientificas, técnicas e culturas. Nada feito, se a linguagem dos técnicos ‘dos cientistas ndo tiver suficiente forga abrangéncia para sensibilizar intelec tuais, ambientalistas, governos ¢ publico em geral fora as grandes lutas pela sobre vivencia, baseadas na conquista de empregos e melhores salirios, ‘nunca houve no Brasil um oSdigo de lin guagem mais polivalente e sensivel do que aquele que norteou as campanhas ppublicas pela defesa da Natureza; dos fluxos vivos da Natureza e da qualidade ambiental, nas dreas residenciais e redu- tos de trabalho. Ao governo cabe, so- bretudo, ter abertura cultural e acuida- de politica para captar o volume das ra- 26es e argumentos que decidiram ho- ‘mens de bom senso ~ representados por conselheiros culturais independentes — a tomar as providéncias legais necessérias REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO ‘amos um proceso rico de avalancha | para ultimar a decisfo politica e jurfdica do tombamento. © apelo ao recurso do tombamento somente é aplicével a uma area ou gleba que, por razSes paisagisticas, ecol6gicas, hidricas ou ambientais, seja reconheci damente uma drea necessitada de prote- ‘¢f0 integral. Estdo nesse caso, certamen: te: uma grande escarpa tropical floresta a, do tipo da “serra do Mar”, no Brasil de sudeste; uma péleo-ilha, engastada no litoral, comportando diferentes ecossis- temas florestais ¢ relictos arcaicos de campos de cimeira (Juréia); um agrupa- ‘mento monumental de “pies de agi car”, situado em qualquer ponto do Bra- sil tropical atlintico (Rio de Janeiro, Espirito Santo, nordeste de Minas Ge ris); um macigo serrano envolvente de Sera de Peranaplacaba, Cubatao: a polugso aére axficiante sobe a serr provocendo em 20 | uma grande aglomeracdo urbana, dotado | de frageis ecossistemas e grande valor de referéncia paisagistica (Cantarcira, Ita peti, Japi, Boturuna, Gavea, Gericind); uma serrania dotada de um chéteau d'eau, com mananciais prioritarios pelo seu grande interesse social (Mantiqueira, Bocaina, serra de Caldas); um conjunto de grutas calcirias, sumidouros, ¢ de presses fechadas, com lagos sujeitos a Arenagens de controle subterrineo, in cluindo eventuais sftios pré-histéricos ¢ jazigos paleontologicos (regifo cast de Confins—Lagoa Santa, a0 norte de Belo Horizonte, noroeste de Minas, Piauf, Bahia, Sao Paulo, Mato Grosso do Sul). Areas de topografia ruiniforme es- petaculares, que carecem de protegfo miltipla, até mesmo em relagdo a visita OTOMBAMENTO DA SERRA DO MAR (0 FSTADO DE SAO PAULO 2 fo predatori oficiais, e dos comerciantes de bugigan 25, incultos e insensiveis (Vila Velha, te Cidades de Piracuruca, Torres do Bonito, Guaritas do sudeste rio- -prandense, chapada dos Guimaraes, vale do So Francisco). Enfim, espagos de di- ferentes ordens de grandeza. Inseridos em diferentes dominios morfoclimdticos € fitogeogrificos. Dotados de diferentes feigdes paisagisticas locais, e envolvidas «¢ interpenetradas por diferentes ecossis- temas (geossistemas e geotopos). E sub- metidas a diferentes graus de vulnerabil dade por processos erosivos e ages an ara fins de tombamento de dreas ‘Panorama da sera do Mor no Estado do Parana tomado do Pico do Manami, 21-54 7m de altitude, por Reliherd Maas Marumos Per sere grease Alto da Béa Visto a bizonhice dos técnicos | cidos ecoldgicos regionais (caso da serra do Mar, em So Paulo; serra de Caldas, no sul de Goiis). 2. Tombamento de freas ou setores de regides, pelo princt: pio da distingZo entre paisagens reco nhecidamente banais © paisagens reco: nhecidamente de excecd0 (morros teste ‘munhos, topografias ruiniformes, inseri das em dominios naturais definides por condigdes primdrias e no sujeitos a vis- {ago turistica de massas; altos picos ro chosos do tipo dos “pies de agacar”, in- selbergs, “dedos de Deus”, pedras-tortas, campos de matacdes no depredados, ‘canyons e furnas, assembléias de feigdes cérsticas bem preservadas, cavernas ¢ la pas, sumidouros e depressbes cirsticas, lagos de dolinas,lajedos dotados de mi: nienclaves relictos, ilhas continentais ‘com vegetago bem conservada e stocks bioldgicos representativos, ecossistemas costeiros de protego obrigatoria. 3. Pre servagdo de remanescentes primarios de reas. topograficamente banais, porém ecol6gica e bioticamente eriticas, a nivel de banco de germoplasmas ¢ amostras Intocaveis de ecossistemas primérios, em vias de extingdo. 4. Areas de introdugio ou reintrodugo de espécies, considera- das de sucesso pleno, ¢ dignas de prote fo integrada ou lgeiramente zoneada Gelhos hortos desativados, setores de ‘hase glebas que foram colénias penas, matas de fazendas e sitios do Estado ou de particulates, terras doadas ou reverti- das ao Estado por herangasjacentes, do tadas de setores sigificativos de pase gens naturals, dignas de preservagdo em mosaico). Nesse contexto de tipologa, 2 serra do Mar tem a condigdo de uma criticidade indiscutivelmente miltipla. E geomorfologicamente eritca. E ecolog amente critica. E critica do ponto de vista geotéenico. Possui eritieidade do ponto de vista hidrico. E é biologics mente critica, Da‘ por que, em Sao Pau Io, sempre houve absoluto consenso so bre a necessidade do tombamento da serra do Mar Razdes da opedo pelo tombamento excepsionalidade da ser do A Mirren um eda tei fees de atoton Os tps amcor ies adel ope tar fest | purnmente cents ao plo da toet prageion, ce ander toca No 21/1986 Em primeiro lugar, & preciso sublinhar que a serra do Mar possui uma escala de referéncia planetiria.E » mais importan- te das escarpas tropicais existente no cinturdo das terras quentes timidas do planeta. Na categoria de grande borda assimétrica do Planalto Brasieizo, € 0 mais continuo e monumental acidente geoligico © geomorfologico de toda a face oriental do continente sul-ameri no. E, ainda, a unidade paisagistica que, a despeito de estar situada no entremeio da tegido de maior interiorizagzo do po voamento, ¢ possuidora da maior e mais densa rede urbana de todo o Hemistério Sul, apresenta uma biomass vegetal rela tivamente bem preservada, mesmo que se considere a fragilidade dos ecossstemas florestais dos tropicos imidos, desenvol vidos em terrenos de fortssima decivida de. Ainda em termo macro, a serra do Mar & considerada 0 maior banco gené- tico remanescente da natureza tropical atlintica, em toda a face leste do Brasil © que vale dizer em toda a vertente ‘oriental da América do Sul. Em contrapartida, & um espago eco Jogico que nao admite manipulagoes an- te6picas diretas ou indiretas. Nao possui REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO| E ARTISTICO NACIONAL vocagZo como espago agririo. Nao ofe: ‘condigSes para sitios urbanizaveis. Nao pode servir como espago industrial, E, acima de tudo, 6 dotado de tecidos ecoldgicos ¢ coberturas vegetais intocé: veis em relagdo a agoes mecainicas ou quimicas, as quais de imediato sfo capa zes de deslanchar movimentos de massas de extrema perivulosidade para as insta lagdes hhumanas situadas no piemonte, nas baixadas e estudrios, das zonas cos. teiras adjacentes. AA posigo da serra do Mar na borda suloriental do grande conjunto de pla- naltos brasileiros, entre a fossa do médio Paraiba e o sistema de fossas da plata forma continental brasileira (bacia de Santos, bacia de Campos), Ihe confere © cariter de um brago terminal, no te © no espago, da grande familia de falhas que se fez atuar apos a fragmentagio do continente afto-brasileiro pelo comple xo mecanismo da tecténica de placas. Até 0 creticeo inferior — hi aproximada- mente cem milhdes de anos — ain dda existia uma espécie de “Superconti- niente transverso”, reunindo os nucleos de terrenos antigos do Brasil e da Africa, Sujeitos a climas desérticos rasticos, até Serra Farinha Séea- Serra da Grociosa - Serra lteraqure( Serra des Org30s) oe 2020 page © Inicio dos movimentos erustais ¢ sub- crustais, que determinaram sua separa- edo e deriva. Apés a separacdo, houve a completagio da formagio do Atlantico Sul, 0 qual passou a funcionar como fa tor participante na amenizagZo gradual dos climas dridos anteriormente existen- tes. O nivel tectonico geral do territério brasileiro ainda era relativamente baixo, comportando subsidencia terminal na bacia do Parand e recorréncia de sedi- mentagdo lagunar e flivio-lacustre, por uma complexa rede de espagos interio- res, enquanto um jogo de fossas tect0- | nicas, de alta negatividade, se formava na plataforma continental (caso da bacia de Santos). 0 soerguimento, por bascu- | | lamento, da borda do Planalto Brasileiro, fez-se acompanhar nos derradeiros res justes do equilibrio tectonico, dando frigem as primeiras escarpas de falhas | responsivels pela criago do complexo sistema de escarpamentos da serra do Mar. Na testada das escarpas, faz-se sen- tir ilhas e faixas altitudinais de umidade, proveniente dos acréscimos de ar timido de inverno, que Se soma, se atrita ee al- tema, com as massas de ar continentais, provocadoras de chuvas de verdo. @.—Vista parcial da escerps de falhe, entre SWe NE {0 TOMBAMENTO DA SERRA DO MAR NOSSTADO DE SAOFAULG sionando mudancas climéticas ¢ ecologi hoje sobrelevada a 220-230 metros, da tdvel quaterndrio. No entanto, até mes- do Mar. Por alguns milhdes de anos, as | presente), por ocasido dos momentos | Trata-se de uma cadeis complexa baixo e mais afastada da costa atual, in terceptou © roteiro de penetiacdo das smassas de ar frio e Gmido, proveniente dda regio polar antértica. Os vales dos pequenos rios e torrentes provenientes da serra encaixaram-se muito, em fun- (fo da mudanga do nivel de base mariti- ‘mo para menos 100 metros, Alguns, dentre eles, copiaram diregbes estrutue raise tectOnicas, numa trama complexa de eixos, ora se guiando pela direeso ge- ral das velhas estruturas (NE-SO), ora acompanhando digclases tectonicas ¢ lic ‘has de falhas que cruzavam 0 rumo ge- ral dos terrenos antigos. Cada eixo dos baixos vales, entio escavados, tomou-se um caminho para a posterior invasfo do ‘mar, ocorrida entre 12.000 ¢ 6.000 anos, aproximadamente. Q maximo do tebai xamnento do nivel do oceano correspon: deu ao maximo de intensidade da sem aridez. Mesmo assim, as florestas da ser ra do Mar, retrafdas e descontinuas, so- Dreviveram numa stea-refigio, nfo mui to continua, porém suficiente para res- guardar, sob a forma de um grande ban- So da Natureza, uma potente biomassa tropical, em posiedo subtropical, transi- cignando para temperado quente. A se- cura ganhou grandes tratos das depres- s6es intermontanas do planalto Atfani co @ compartimentos de planaltos inte riotes, Numerosos subestoques de vege- tagéo Morestal permaneceram em faces Gmidas de serranias e macigos regionais, enquanto uma ponte de araucérias, ara vés dos reversos mais abrigados da serra do Mar, estabeleceu-se entre a area nuclear das araucirias e 0 refiigio de pi- nhais, ainda hoje existente nos altos da Mantiqueire (Campos do Jordzo, Mon- te Verde). 0 cariter recente da retomada da tropicalizago na serra do Mar mals novel destesaconteimen- CO rise aes terse o to no da toplealdade para 0 con- junto da fachada atlantics brasileira, Criando as grandes matas atlanticas que, de modo praticamente continuo, esten- deram-se desde a zona da mata nordes- tina até 0 Brasil de sudeste ¢ a regido costeira atlantica do Parand e Santa Ca- tarina, em posigdo marcadamente azonal No mecanismo de reexpansio das flores: tas, em fungfo da retropicalizagdo regio~ nal, a5 areas refigios de matas ~ simila- res gos atuais “brejos” do interior do Nordeste ~ funcionaram como centros de colonizagio florestal dos espagos an tesiormente abrangidos pelas condigses semisiridas subtropicals. As matas refu sgiadas nas encostas médias e superiores da serra do Mar passaram a funcionar vomo 0 banco genético basico pars a re cexpansdo florestal na direga0 do Planal to Atlintico e na direedo dos sopés e es pordes da serra, onde a transgressto flandriana desvinculou acidentes, trans formando-0s em ithas, ao tempo em que (© mar em ascensio aleangou alguns me: ‘ros a mais do que seu nivel atual e for: ‘mou ss primeiras grandes restingas, a custa de materiais da plataforma, retra- balhados por uma ebrasdo progressiva, geologicamente muito ative HA que se conceber que os processos de retropicalizago da fachada atlintics do Brasil desde’ 13.000 anos até nossos dias comportaram uma verdadeira ca- deia de fatos integrados. O aumento uni versal das temperaturas médias determi- now 2 fusio de aproximadamente dois tergos do volume total do gelo acumula- do 0s pélos e regides cordilheiranas ¢ (© nivel do mar subiu rapidamente, atra- vés de algumas fases diferenciais de atua fo. Ao mesmo tempo, a grande corren- te fia, que chogara até além do sul da Bahia, refluiu para a costa da Argentina, ficando com sua ponta terminal atuando entse o Rio Grande do Sul ¢ o Uruguai Ee corrente quente sul-brasileira passou a ocupar 0 seu espago atual, progressiva mente ao recuo das dguas frias da cor tente das Malvinas. Mais calor e umida de, um pouco por toda a parte, indepen: dentemente de algumas pequenas reto madas da semiaridez, associadas a mais calor ¢ menor participagdo eventual da massa de ar polar atlantice. Progressiva mente, 0 clima guente ¢ dmido com ne- voeitos deslanchou uma decomposigao ‘generalizada dos setores sub-tochosos su- perficiais. Enquanto pelfculas de solos ‘em equilibrio instavel se formavam ¢ se generalizavam por todas as faces das es- carpas e de seus espordes, a vegetagdo florestal se adensava e se expandia. Rios « torrentes que, entre 13.000 € 20.000 anos, haviam transportado Seixos malo: res do que um punho ou uma cabega, tomaran-se perenes, deséritificaram-se nas cabeceiras, e passaram a receber particulas finas, de modo progressivo e ireversével. As lagunas, encarceradas en- tre os sopés da serra do Mar e as praias- barreiras da costa, apés terem recebido ‘um pouco de areias “em bancos™, atra- vés de rios de porte pequeno a médio. provindos da serra (ou pelo retrabalhe- ‘mento de arelas empurradas para a costa pela transgressio flandriana) passim a receber areias muito finas (silts), logo depois, grandes lengois de argias, remo- vimentadas pelas marés, Forma-se o de: ta intralagunar & frente dos rios Cubs- tioMogi. Estabelecemse os_primeitos rmanguezais,o sistema de gamboss, os “argos” entre as jungées intemas dos estuarios centemente invadidas por um facies eda: fico de matas tropicais: « mata da figuei sone i ote tte tae serra do Mar e da zona costelira que the é ficil deduzir-se que foi relativa- ‘REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO fates EARTISTICO NACIONAL quanto 9 reexpansfo das florestas por todos os setores das escarpas & seus eS pores, macigos insular ¢ilhss, proces Souse dentro dos. quadros evolutivos dos ultimos 12.000 anos. Fot um pro- aessivo esquema de ampliagio das con digées tropicals imides, por meio da ex tensfo progressiva dos altibutos que J existiam no nucleo das sreasefgios. 0s fortes decives das escarpas no pos- stilitaram um espessamento muito grande dos solos. Lim mosaico complexo de itossolos. latossolos, materiais co- Tuviais fings e depésitos de escorrega- rmentos forma 0 suporte que serve de cho frégil para a manutengfo das gran- des florestas. Qualquer manipulaggo me- einica ou quimica, dentro de tals cir counstincias, pode determinar uma acen- tuagGo incontrolével dos processos ero- Sivos, por ocasido de grandes chuvedss de vero. Foram construfdos, 20 longo ddo tempo, apos o inicio da eolonizagio, has e caminhos, para pedestres e para rmuares. Mais tarde intensificou'se 0 tr fego de muares transportando café, Es tradas carrogavels para carrusgens foram raras. Na maior parte dos casos, passou- $2 direto dos caminhos de tropas para a feitura de estradas de ferro, a partic de 1863, &custa de solug6es tEenicas com- pativeis, ¢ de obras de arte complemen: {ares suficientes para evitar processos acelerados de erosio. Mais recentemen te, fzeramse estradas e rodovias de di- ferentes padres ténicos, para vencer os esearpamentos ¢ desdobrar as ligagoes entre ltoral ¢ planalto. Obras de apro- Neilamento hidtdulico, dos grandes des- niveis existentes nas escarpas da serra, introduziram outras tantas_ manipula ‘ges mantidas em equilfbrio compativel ‘om 05 processos morfoldgices @ pedo- s2nicos. Oleodutos e faixas para implan tagao de fios de alta tenséo foram cons- trufdos, com as precaugées desejives. Grandes chuvas de vero. em curto espar go de tempo, determinaram escostega- mentos catati6ficos na serra das Araras ¢ em Caraguatatuba. E, finalmente, na Serra de Parenapiacaba, em Cubatio (SP), devidoa um longo periodo de agres Slo feito por industias poluidoras, as matas da serra do Mar, mais préximes, Sofreram um fenecimento diferencia al- tamente devastador¢ lesionante Vv inte anos de uma poluigdo aérea asfixiante, realizada por parti- culados € gases, foram suficien: tes para fenecer desiguaimente a biomas- sa vegetal primaria ¢ propiciar 0 apareci ‘mento de sulcos pioneiros ¢ ravinas em brionérias em numerosos pontos da tes: tada geral da escarpa. Uma grande chu- vada, em janeiro de 1985, culminou por provocar um gigantesco e incontrolavel sistema de avalanche debris, que arras tou para a baixada do rio Mogi uma ‘enorme carga detritica; sufleiente para cobrir em toda 2 largura e extensio 0 leito maior, que anteriormente alojava apenas um Setor meandrico daquele rio proveniente da serra. Foram centenas de escorregamentos de lamas e outros ma- terials detriticos, que fizeram descer troncos e galhos de arvores, juntamente ‘com blocos que estavam enterrados nos regolitos, até 20 baixo rio Mogi. Chuvas de igual ou maior intensidade, ovorridas ‘na mesma ocasido, ndo resultaram em catéstrofes similares, em areas contiguas, ‘go afetadas por uma poluigio indus: trial t30 violenta ¢ continuada. A corre lagdo entre o lesionamento progressivo, , finalmente, espasmédico da serra do Mar, com a poluigao de particulados gases, ficou inteiramente comprovada, Conforme previsao jé antiga d2 comuni- dade cientifica brasileira. Os que ndo quiseram ouvir, agora temem 4 “revan- che” da natureza contra seus proprios patrimOnios. Hd certamente um alto ai- vel de risco para algumas daquelas indis- tia que contribuiram para tomar Cubatfo uma das areas mais polvidas do mundo, Continuam a existir sérios perigos para as infra-estruturas instal das na baixada entre Cubatzo ¢ Piasss- suera e ao longo do baixo Mogi-Cuba: to. As populagoes carentes, que vive em precirios nucleas residencisis prole trios, sentemse mais do que nunca ameacadas por novas desgracas, dentro dda_desgraga permanente da poluigio rmiltipla, ali existente. E fazem-se pla- nos emergenciais para, @ posteriori, es- tancaremse as numerosas ¢ profundas TesGes deixadas pelas avalanchas detriti- cas nas ingremes encostas da serra do Mar. Tenta-se maquilar as lesGes ao invés de combater as causas, bem conhecidas, de seu aparecimento ¢ progress. Nun~ 2 foi to importante, portanto, a defesa Integrada da serea do Mat, a nivel de to- dos os argumentos. Mesmo porque apé a retropicalizagao geral da fachada atlin tica do Brasil, que demorou alguns mi hares de anos, podemos avaliar a forca dos processos’ de_disrupsdo-em-csdeia (resistasia entrépica). Em menos de 25 anos, desfezse toda a harmonia e 0 equilibrio dos fatos fisicos, ecolégicos e bidticos que a Natureza levou 12,000 16 anos para reconstruir, a partir de peque- nos bancos genéticos florestais, de al- ‘guns milhoes de anos. Consenso no tombamento; o-consenso nos eritérios. de delimitagéo & sot de tonbamento nf tendo tsomhecinents | inde aplabade Coe tuto legal de uma preservagdo plena. Por outa lor ago adem spe: de iagopis inengdeeembutat Soporte et de espa ps Stender quests purl esl acreteasancal dno ps Din Pri pres ue todo oven si par dase ts gue ur tem ape ies de hston, 0 proven de tom | Sement de Bon tra tem | | Sposa 0 mals oul ds pei Tongue or nese. Taree haven, coma Go coeds do tin, Taryrente ot tein, como tfckanente no fe co dst do Mr Por an ipl oie come pes su attain ac do ios ge Berets de ten mas somone pod ce ato em eas estan 1 Gis amo sro cam Gan do Ma cond rio see ine erp do pe dorado Mar | é sme ates de stents dot | Goal nol asta Por vais ¢ tise, os vlor ego tam de demi-montagne. Nesse sentido, sua Aeumtaglo vole un wor de 2 Sumas sits, uns tke complens em i Sompirs tes mone © pent trelvens do po dra do Maem Sato ps Price ma crt de quiets de Spterso, dete» fonts do Exado | Se Rosie totes com oad do | Parana. Para proteger a integridade fisi- | ‘ca e bioldgica da serra e ineluic amostzas dos ecossistermas florestais diferenciados dos primeizos trechos dos planaltos ers talinos, seria de boa precaugdo garantir 8 preservapso de dois a tr8s quildmetros «do reverso continental imediato da sca! pada serra, No piemonte da serrania onde se processa 0 contacto brutal das encos- tas com as rasas planicies de piemonte, ‘ou com of patamares situados abaixo do nivel dos 200-220 metros, a delimitagao ‘0 TOMBANENTO DA SERRA DO MAR ‘NO ESTADO DE SAO PAULO. uma tarefa mais complexa. Hi, tam- Dém, af a necessidade de um outro tan ppio de defesa ecologica (ecological buf. fer zone), conforme as particularidades Topogrificas, altamente variaveis, de ca da subsetor dos sopés das serranias. Fei ta 2 delimitagao da serra, nos seus “al: para utilizar ve- Thas express6es portuguesas, aplicaveis 205 seus dois extremos — o restante do espago costeiro constitul-se em uma fai- xa geral de planejamento, que comporta uum mosaico extzemamente complexo de terrenos, a merecer um zoneamento ra ional e diversificado. Manguezais, esti- rancios de pra, falésias, estusrios, lagu fas e campos de dunas so atributos na- turais dessa regio, a merecer posturas totalmente restritivas. Identicamente, as vertentes mais én gremes dos patamares de espordes da Serra, 08 altos morros isolados das bai- xadas, ¢, acima de tudo, os morros que se constituem na “armature” da linha de costa dever softer sérias posturas restri tivas de uso, quando nao proibigfo total de utilizagso. Tarefa para ser feita em comum acordo pelo municipio e pelo Estado, em fungdo de conhecimentos acumulados e posturas eruzadas. A prd- pria Unido, em fungo do velho e bené fico estatuto das “terras de marinha”, ‘também tem a obrigago de tomar co” nhecimento sobre as formas adequadas ‘ou inadequadas de utilizaya0 propostas para tais sftios e paragens, aprovando ou ‘no sua implantacto legal. F_coibindo drasticamente os abusos do poder eco- nomico e do poder politica. Sem o que jamais haveré um verdadeizo e abrangen: te sistema de gerenciamento costeiro, em nosso pats. Em qualquer hipétese, porém, entre a linha basal do tomba- ‘mento da serra ea linhs de costa, haverd tum espago de uso miiltiplo e de proibi- (es diferenciadas, Nao hi qualquer pos- sibilidade real de aplicar 0 estatuto do tombamento, por extensfo de atribui- ges, 20 complexe litordneo, sujelto a méltiplas utilizagdes descontinuas. Tra fase de uma drea de manipulacao dife rencial constante, que pressupée um esclarecido sistema de gerenciamento, centrado parcisimente no pélo da natu -7a ¢ parcialmente no palo das interfe réncias ligadas as implantagGes humanas, 2 nivel do urbano, do industrial, da pes” cae do lazer. Pelo que ela carece mais de uma politica bem feita de ordenagio espacial, com forte apelo a0 paisagismo ecolbgico ¢ i proteco dos fluxos basi cos da natureza costeira. Em nenbuma tos” e em sua “rai | hipotese, porém, 0 estauto de tombs mento aplicase, de saa, ao seu “uni- | verso" multvarido de fungoes. ntendemos também que os par. FE, gee 0 podem er tonto aleatoriamente. A maioria, den: ire eles, tem fungOes tipieas, que env: vem selores de proteggo integral seto ze5 do_implantagio de infraestruturas especificas e particulares a cada caso Quer se trate de uma cimeira de planal- to, com mosaico de vegeta¢ao diferen- ciada (cas0 dos altos campos da Bocaina € seus bordos florestados), ou seja um distrito cérstico com suas caverns, su midouros, depressdes fechadas ou semi- fechadas e drenagens sincopadas (distri tos calcérios da Ribeira) ou, ainda, de parques em altiplanos onde’ se proces- Sam importantes contactos de vegetago tropical e subtropical, em izea de solos relativamente pobres, porém atravesse- dos por rodovias de grande volume de circulaeZo (Alto Ribeira, no planalto de Paranagué). Para que se possa tombar tum ov outro desses parques, muito sepa: rados entre si, € necessiio realizar a du: rm ¢ desafiante tarefa de elaboragéo de uum “plano de manejo", aprovado por uma comunidade escarecida e represen tativa, integrand as ditetrizes, postuas, | projetos © subprojetos existentes nesse | plano, coma parte integrante do tomba- mento. A idéia de englobar um conglo- rmerado de parques, estabelecidos no papel, dentro da area de tombamento dita da serra do Mar, foi muito infeliz, certamente exigindo revises sucessvas, 4 curto e médio prazos, para propiciar ‘manipulapdes espacias, implantag6es de infraestruturas, e sistemas de manejo, visitagdo publica e administrapdo indivi. ualzada Outra consideragao importante a pro pésito do tombamento da serre do Mar diz respeto & stica municipal. Em face |, do tombamento da serra e de amplos se tores da faixa costeita atlantica, € com: preensivel que aja uma avaliacdo das consequéncias da proposta de preserva: 0 integral de uma parcelasignificativa do espago municipal. A ética dos res. ponsiveis pela coisa piblica municipal Importa como um teste de avaliago da ‘cuidade ¢ do espirito de previsio das diretrizes do estatuto de tombamento Doutrinados, por longos anos, a maxi nizar a efiegncia produtiva e tributécia os espagos sob sua jurisdigfo, 0s res- ponséveis pela administracao municipal sentem-se na obrigagdo de alertar 0s au- NO 21/1986 tores do tombamento em relagdo 20 congelamento maior ou menor das espa- 698 disponiveis no territéno, para usos miltiplos. Ou sea, dos espagos, a escapo do tombamento. Julgamos que no e380 dos municipios que tém parcelas ponde- rveis de seu terrtério, localizadas na serra do Mar propriamente dita, ¢ obri- gatério um bom jogo de avaliagdes Sobre © nivel de suficigncia do espago Hiquido restante para usos variados, dentro do espago municipal total. Incluemse na metodologia de um tombamento, que possui a forga de um congelamento to- {al de importantes setores do espago ‘municipal, alguns procedimentos conco- mitantes ¢ complementares: |. sobrepor a carta da drea tombada & carta dos peri- metros dos municipios envolvidas atingidos pelo tombamento: 2. seperar, om alto nivel de discernimento, & pa cela do espago a ser congelado pelo est tuto do tombamento, em relagio a area cfetivamente restante para o desenvol mento de fungoes mltipas; 3. avaliagso quanttativa dos espagos pertencentes & fea tombada (sera), somados com gle- bas ou subespagos sujeitos a fortes res- trig6es e proibigses de uso, existentes dentro da rea de planejamento ordenae do (espagos costeitos). A partir desse Ul timo procedimento, deveria ser conside- rado erftico qualquer caso de tomba- mento que redundasse em um congela- rento da ordem de 70 2.75% do espago total do. municipio. Um congelamento superior a 75% do espago municipal e firla, em todos os casos, uma série de compensagées estudadas — a nivel esta dual, ¢ mesmo federal ~ para fortalect mento administrative dos municipios prejudicados. Em casos de congelamen {os iguals ou superiores 2 90% a regizo deveria comportar todo um sistema de compensagdes, a par com a decretagao dde um estatuto especial de estancia tu ristica e de lazer, ineluindo vantagens l- sais especificadas. Em termos de idéias realmente cxatvas, o tombamento deve- Fia pressupor um conjunto de medidas compensatorias, vidveis e progressives, suficientes para encaminhar a erdenacdo dos espagos disponiveis segundo raz6es funcionais, estéticas © ecolégicas, sem maiores prejutzas para a eficéncta eco. nnémica e social do teritério municipal juleadas pertinentes. E certo, entre fanto, que 0 modo de ver do exiga 60 or ultimo, a étice do caigara ou das comunidades pesqueiras exi REVISTA DO PATRINONIO HISTORICO E-ARTISTICO NACIONAL mais tumultuado, em todo 0 proceso. E sabido que. presionadas pelos grandes propritérios ¢ imobilarsss. © por um Semnmero de interessados dfusos. ue pretendem obter suas terres por pregos aviltados. a5 populagSes caicares vivem om rectio de tudo © com medo de to dos. O que nao impede que alguns den- tre eles calam na tentagdo de dispor de seus bens de rai, passando avver a tra sedia cotidiana des pecterias urbanas ¢ das populagBes marginalizadas. No caso da ser do Mar, o ponto de vista do ca gara € 0 de que poss continusr vivendo de uma coleta de produtos vegetsis exis tentes no interior das matas regions Evidentemente que 0 estatuto do tom bamento tera que limiter ao maximo as agbes predat6rias nas frentesescarpadas de serra propriamente dita. Mas pode- ria pressupor uma forte campanha dere introdugio de palmdceas ‘comestiveis nos setoresflorestados da zona de tam pao ecolégico da base da serra do Mar. Tais procedimentos seriam vaveis desde aque os éigios expecializados de desen- ‘olvimento floresal (Instituto Braileio de Desenvolvimento Florestal) estives- sem aparelhados pera proteger fami caigarastradicionais, habitantes do fu do das batxadaslitoraneas, sem permit coletas predators destinadas a forneci- rmentos industeais. Notese que em teas Combadas, dotadas de poucas vies de acesso entre litoral e planalto, existe grandes favlidades pare um gerencia mento correto dab atividades de mino ria de cultura tradicional, acostumadas 2 coleta para alimentagio e complemen- tagfo de oreamento familiar. 0 caso do caigara coletor no difere do pescador caicara, que desenvolve atividades pes- Gqeicas| em lagunas, estos, rios praiss, Muitosexigaras pescadores se de ficam a0 trabalho no mar e 20 trabalho de coleta em terra. Da mesma forma que incluem em suosatvidadese teaicas de Sobrevivencia algumas culturas de quin- tal, paisagisticamentepromiscuss, po- rém extremamente importantes para g2- fantir um orgamento. familiar ‘stuado dentro dos limites do suficiente. O en tendimento ¢ a defese da condiga0 ca Gara equivale ao nosso esforgo para en lender e garantir meios para a sobrevi- véncia dos tabalhadores do mar,e proje tar nessa dtica de compreensto paracom a8 massas de populagdo favelada, assim ‘como para com os pobres homens semi-

Você também pode gostar