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BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIENCIAS SOCIAIS J. B. DUROSELLE HISTORIA Conselho Diretor: Eduardo D’Oliveira Franga Hector Hernan Bruit José Gentil da Silva José Roberto do Amaral Lapa José Sebastifo Witter Most None Diss A EUROPA DE 1815 AOS NOSSOS DIAS (Vida Politica e Relagées Internacionais) SERIE “NOVA CLIO” Orientacao: ‘Luis Lisanti Supervisio Editorial: Joo Pedro Mendes ‘Tradugao de Olivia Krihenbitht 2 edicéo DUROSELLE - ESginas 33 36 LIVRARIA PIONEIRA EDITORA ‘ Sao Paulo Capitulo 1 A Europa de 1815 Os homens que reconstruicam a Europa em 1814-1815 e os que viviam sob sua autoridade, eram perseguidos pelas vivas recordacbes da Revolucio e do Império. Desde 1789, na Franca e 1792 na Eu- ropa onde se desencadeava a guerra, toda ordem antiga havia sido abalada até em seus fundamentos. Certamente Napoleso restabele- cera @ ordem, Mas seu sistema nao era a ordem tradicional, Era natu- ralmente considerado pela maioria como o continuador da Revolu- sto. ‘Na propria Franca, onde ele esmagara ou convertera os jacobinos ¢ suprimira as liberdades, os que restavam das velhas equipes revolu- cionétias tinham tendéncia a esquecer o tirano para evocar apenas sua obra. Sua queda provocou uma alianca de fato — pressentida por Carnot durante os Cem Dias — entre coastitucionais, bonapartstas ¢ jacobinos. Aqueles que eram chamados independentes, dentro em pouco liberais (a partir de 1819), se recrutavam principalmente entre esses dois grupos. Contra a Restauracio, esqueciam-se de que haviam combatido entre si e que seus objetivos finais divergiam. Talvez houvesse, entre os emigrados menos perspicazes, reuni- dos em torno do Conde de Artois, um grupo que “nada aprendera’e nada esquecera”. Mas, no conjunto, ainguém esquecera nem podia ter esquecido, e quase todo mundo —e no caso os governos — tinha aprendido bastante. E pois em relacao aos vinte € cinco anos de conflitos e de guerras ‘que se opera a reconstrucio da Europa e que se afirmam os princi ios internos dos Estados. a3- (lobeleaments dae Negihiemsade. seyilterio susropeu ; 3 é iB aks gikmideds A eq ee. tain a Prinatpodas da 1) A RECONSTRUGAO DA EUROPA Nosso fim aqui nao é resumir a obra do Congresso de Viena e os tratados de 1814-1815, mas o de acentuar os novos tracos da Europa, a maneira como ela ressurge de tais acontecimentos. Decerto que os grandes negociadores sio todos adversirios da Revolugio, até mesmo Talleyrand, do lado francés, que no entanto cooperou com ela. Mas eles sabem que a nova Europa nao pode mais ser aquela de 1792. E preciso premuni-la contra a catastrofe mas, também aproveitar as desordens para acrescer 0 poderio dos grandes Estados. Gentz, Talleyrand souberam formular claramente essa dou- trina. Primeiro, restabelecer a ‘‘legitimidade” — dos soberanos. Mas “aa ordem das combiaagbes Tegitians, igar-se dé preferencia aquelas que podem com maior eficicia concorrer para o estabelecimento € conservacio de um verdadeiro equilibrio”. Serio ento utilizados com flexibilidade e ém proveito dos grandes Estados os dois princi pios, um moral ¢ juridico, o da legitimidade, outro puramente pri fico, 0 do equilfbrio europeu. "As principais vitimas desse processo séo os regimes nos quais a legitimidade nao. era hereditéria: principados eclesidsticos da Ale- manha, repiblicas aristocréticas de Veneza e de Génova na Itilia, e, bem entendido, a Polénia, que ninguém procura seriamente reconsti- tuir como Estado independente. E assim que, em lugar de um “Santo-Império Romano Germi- nico” de 350 Estados, cria-se uma “Confederacao Germania” de 39 Estados. No seio desta, o Império Austriaco e, sobretuc reino da ‘Prassia, aumentam sua influéncia € seus territ6rios. A Prissia, principalmente, recebe uma parte do Saxe, sobretudo a quase totalidade da Reninia, que Ihe fornece, daf por diante, uma fronteira comum com a Franca, e onde jf se explora, sem prever sua importdncia furura, as jazidas de carvio do Ruhr e do Sarre ‘Tendo aumentado muito pouco na Alemanha, reaunciando 3 sua antiga parte nos Paises-Baizos demasiadamence distantes e inde- fensiveis, a Austria penetra, em compensacio, nos Balcas e na Iti lis. Com efeito, anexa as “provinciasilirianas” de Napoledo, habica- das por italianos ¢ iugoslavos, eslovenos ¢ croatas, € 0 “reino Tombardo-veneziano” da Itilia do Norce. Os pequenos dueados do sul do P6 sio seus vassalos —o de Parma inclusive € doado a impe- rattiz Maria Luiza, princesa austtfaca, © resto da Itdia pouco se ‘modifica. A Itélia continua a no existic em s nome, diz Metternich, ¢ uma simples “express tas 0 “reino da Sardenha’ reforcado pela anexagio de Genova e a recuperacao da Savéia. E que faltem bons “Estados-tampies" 20 longo da fronteira francesa. —4- Reena, 0 reino dos Paises-Baixos, que retine as Provincias Unidas, of antigos Paises-Baixos austracos e 0 bispado de Litge, isto €, a Ho- lands em sentido lato © a Belgie, sob a realera da diosstia de ‘Orange, 6 outro desses Estador-tampoes. Depois dos Cem Diss, © segundo tratado de Paris Ihe concedeu ao longo da fronceira fra- cei, uma sre de forlorn detinnda «formar sun defra mas ‘Deste modo, a Frangs, reduzida a suas froateites de 1792 que, excecuandorse «Saybia com suns fronceiras atunis, viu-se solide: ‘mente reduzida, A espera de que o regtesso do wsurpador ov dos jacobinos pudesse langé-la novamente na aventura da expansio. LLuls XVIII e os homens da Restauragio se declaram sltamente 5a. tisfeitos. E na “esquerda” que se recrutam os adversirios dos "ver- {gonhosos tratados de 1815", 08 partidarios das “frontcira naturais". ‘Mas eles aio tém nenhum poder e devem concentarse em difamar a “traigio" dos Bourbons. No resto do continente, s6 hi duas modificacdes importantes Primeiro, a Rissia via sua parte acrescida da Poldia, Dat em diaote possuird Vars6via, ¢ seu teritério chegard, entre a Prissia oriental 0 Império da Austria, até quase a Europe central, Foi preciso tinda uma coalizio anglo-austeo-francesa em janeiro de 1815 pira levicla a reduzir suas pretensoes, A outra modanga foi absurd: & Norucga no estava rsis gad 3 Dinamarce, mas 3 Suéca. feorgani raved -quoyolt hea Assim, o mapa da Europa esté um tanto simplificado. Mas:essa simplificagio de modo algum levou em conta um principio novo que 0s americanos do Norte ¢ os revolucionérios franceses haviam intro- duzido nos acontecimentos: o priscipio das nacionalidades. Todavia, a ideglogia nacional toma cousist@ucia e-vigor novos. Em 1615, actedita-se que tio-somente a Franca poderia eventualmente destruir 05 tratados. Progressivamente, estes serio totalmente destruidos, mas de uma maneira entio insuspeitada, pela forca das nacionalidades, isto €, por essa “opiniao péblica” da qual Metternich pressente a exis téncia ¢ a vitalidade, mas que s¢ julga capaz de derrubar. ‘Ja que s6 a Franca parece ameacar, é contra ela que se elabora um sistema embriondrio de organizacao curopéia. Esse sistema € conhe- ido pelo nome de “Santa Alianca”, e é assim que, na época, o desig- nava a linguagem popular. Na realidade, os historiadores — e, entre os mais recentes, Webster, Jacques-Henri Pirenne e Bourquin' — mostraram que a “Santa Alianca”, produto dos sonhos do czar, tinha pouca consistén- cia, e que a verdadeira realidade era a “Quédrupla Alianga”, assinada ‘Sestamene a 20 de novembro de 1819 ene « Rass Togas, Saustta e« Prise, cons a range A Tngloerrs hove ecu Frdasia, conta Franca, A Tnglaerra havi recusado soa adesao a “Santa Alianca", que achava demasiado confusa, Concluida —5— “em nome da santissima e indivisivel Trindade” por um czar orto- doxo, um imperador cat6lico e um rei lucerano, foi em seguida fran- queada & Franca e &s poténcias menores. Na realidade, nao fazia mais que proclamar a solidariedade — inteiramente ficticia — entre os is. Singularmente mais eficaz era a “Quidrupla Alianga™, Esta era ‘uma alianca automética para o caso de Bonaparte voltar 20 trono da Franca, ¢ uma promessa de consulta para 0 caso da revolugio infla- ‘mar novamente 0 pais, Seu artigo 6 institucionalizava o “acordo eu- ropeu,” isto é, 0 acordo das grandes poténcias, prevendo conferén- cias que seriam realizadas periodicamente para examinar as medidas pertinentes para manter a paz € 2 fazer respeitar “os grandes interes- ses comuns”. Tal estrutura, na realidade pouco firme, tendo sido aceita pelo ministro inglés Castlereagh, poderia ter-se transformado ‘em uma verdadeira organizacao internacional. Canning, sucessor de Castlereagh, iria cransformé-la em organiza¢io inoperante, receoso de que ela viesse a facilitar a intervengao nos negécios interiores dos prindipis da telidoriadade. mu pequenos Estados. Em todo caso, 0 primado das prandes poténcias — aut Os gua aad ¢ mais are a Ranga —€esrondosament nag 982 gg Fado. S85 3 B32 +E Nowse que « Espanha nio foi admitida nesse acordo. Para ela — i 46 t © e em breve, para Portugal — a ruina do velho Império colonial se | ¢ © toma um sinal evidente de fraqueza. A Inglaterra, que | _S ¢ andes guertas para conguisar aos Paties-Baizos~0 Cella, Cabo ¢ (i acesas, eorna-se a tinica grande poténcia & ‘Ve-se assim esbocada uma das grandes rivalidades que irio do- minar todo 0 da Russia Ingl: Acreditou-se, freqtientemente, que tal rivalidade era a do “ele- fante e a da baleia”, isto &, a-principal poréncia continental contra a principal poséncia maritima. Bis ai um grave erro de interprecas ‘Viroriosa em Waterloo, a Inglaterra — cujo rei é soberano do Ha- novre até 1837 — procura assegurar apoio no continente (Paises- Baixos, Espanha, Portugal, Reino de Napoles). Quanto & Rissia, seu desejo era ser uma poténcia maritima. Possui o Alasca na América, e, faa Califoraia, a base da Bala de Bodega. Mas tenciona penetrar na ‘América do Sul. © czas, que possui muitas iemés, quer casi-las na ‘ Espana, aa Holanda. E todos os olhares se voltam para os estrcitos turcos que 0s russos cobigam, a tal ponto que 0 sultio viu, na Santa Alianca, uma manobra sutil do czar, arvorando o estandarte da Cris- tandade para abater 0 principal Império do Istamismo. ~7- 2) A ESTRUTURA INTERNA DOS ESTADOS Segundo o carter que assumiu nos diferentes paises a expansio revolucionaria ¢ imperial, pode-se dividie a Buropa em muitas zonas: se ecida. per £2 sapol lov a administracio calcada sobre a da Franca. ae ‘As zonas de “influéncia”, onde a anexacao foi indireta, mas onde Antigo Regime foi eliminado pelas autoridades francesas. E 0 caso jucado a, do. fapoles. essencialmente a Prussia, 8) calculacam que o melhor ‘ranca Gra pOF em Praeica CxveTisas reform: ‘@bolicio. fo, dos direitos feudais). pfs Zonas de “resistencia passva” —essencalmente « Austia Rassia — onde a luta concra se fer acompathar de né= hums reforms prof Eafim, a Inglacerra da Gra-Bretaal cl quistadae por outro jé possufa um regime ara que tivess fio ardente d ana. Esse quadro esquemitico revela sumariamente tansformacoes sociais internas ou uma relativa estagnacao dos Estados. Mas em 1815, ele nao corresponde absolutamente aos regimes politicos que adotaram. £ mister, para defini-los, procurar uma outra classificacao. © critério essencial parece ser a existéncia de assembléias denere as quais pelo menos uma é eleita. Esse sistema deriva ou de uma tradi¢io secular, como na Inglaterra, ou de uma constituigao escrita ‘Mas em 1815 as constituigdes escrieas nio emanam de assembléias ‘onstituintes de parte alguma, malgrado os exemplos franceses de 1791, 1793, 1795 ¢ 0 exemplo da constituigio espanbola de 1812. Trata-se de constituig6es “outorgadas” pelo soberano, como a “Carta Constitucional” francesa de 4 de junho de 1814. Mesmo se na pritica a carta outorgada chegava mais ou menos aos mesmos resultados que a constituic2o votada, no plano dos principios a diferenca é imensa, © principio de legitimidade e a prerrogativa real néo sofrem com a “outorga’ de certas “liberdades”. Luis XVIII néo teria sem ddvida podido retornar ao trono se nao tivesse concedido uma Constituicao. Ele porém rejeitou cautelosamente a constituicao elaborada pelo Se- nado Imperial, e entendeu que o sistema constitucional ema- a yon forma. manvieneps nava apenas de sua generosidade. Poucos textos existem tio interes- santes quanto 0 predmbulo da carta “Consideramos que, embora na Franca toda a aucoridade resida nna pessoa do rei, nossos predecessores nao hesitaram em modificar O see exercicio, acompanhando a difereaca dos tempos”. Assim, 0 fei se coloca numa continuidade tradicional. Se concede uma carta, isso se deve ao "progresso sempre crescente das luzes", do “voro de fnossos siditos", da “expectativa da Europa esclarecida’, mas "nosso primeito dever para com 0s nossos povos era conservar, em seu Proprio interesse, of direitos ¢ as prerrogativas de nossa Coroa, Menarasiat yates : > -& oporavanos que, instrardo pele experienc, eles se cvences BB Tem de que s nutoridade suptema s6 pode dat as instcues que 2 SRSASIRE T Bice peftnneaca ea majesnde™ Acoarece © =F Conta quis "e tileeca arancs conctsbes 3 faqs do £0 3 Vermo" Em sum, legismniade subse sntegramence, visto ae § Sotpegale "weant 4 adel dor tempon, que Taneson afsaments haviam interrompido”. Quais séo em 1815 os Estados com Constituigio? Eles se esten- dem essencialmente a0 nordeste da Europa. O reino dos Paises- Baixos tem sua “lei fundamental” redigida por uma comissao real. A ‘constituicio sueca (a “forma de governo” de 1809) foi imposta ao rei pela aristocracia. Foi mantida pelo general francés Bernadotte, que se tomnou principe real da Suécia: Quando a Noruega foi cedida & Sué- Cia, cla se revoltou ¢ uma Dieta votou uma Constituigao imitando a Constituicdo francesa, em 1791. Bernadotte tentou substitui-le por ‘uma constituicio outorgada, depois julgou mais prudente aceiti-la ppara fazer cessar a guerra. De sua parte, a Dinamarca contiquava uma monarquia absolucs. ranha é sensivelmente diferente: © “Ato de Con- federagio” de 10 de junho de 1815, que criou o Desticher Bund, nio era em nada uma constituig’o, pois 0 seu Orgio nico, a Dieta Ger- minica (Bundesversammlung) io era eleito, mas composto de pleni- potencidrios. Mas 0 seu artigo 13 encorajara os principes a constitut- rem Assembléias de Estado. Alguns principes da Alemanha do Norte prosseguiram timidamence nesse caminko (Hanover, Mecklemburg0, Saxe, depois Oldenburgo). O eleitor de Hesse-Cassel convocou uma Assembléia porém dissolveu-a em 1816. As inicas ¢ verdadeiras ‘onstituicées outorgadas foram as dos principes da Alemanha do Suk: Bariera (1818), Bade (1818), Wurtemberg (1819), Hesse-Darmstadt (1820), Nassau, Brunswick e, sobretudo, 0 grio-ducado de Saxe- Weimar, 0 tinico verdadeiramente liberal dentre os Estados alemies. ‘Todos os demais principes alemaes, ¢ notadamente os dois gra des, imperador da Austria e rei da Prissia, mantiveram a monarquia 95 ——— Taena, absoluta, Esta consticuju também uma Italia, onde a auséacia de cons- tieuigdes permitiu que 0 despotismo dos tiranetes locais se deseavol- vvesse sem peias. Somente o grio-duque da Toscana praticava em seus Estados a tolerancia dos “déspotas esclarecidos”. Mas nenhum texto 08 obrigava a isso. Do mesmo modo na Espanha, Fernando VII, desde a sua restau- ragio, apressou-se em rejeitar a Constituigio de 1812, restabele- cendo o regime absoluto. Por muitos anos apés 1813, Portugal foi governado por um “regente", o general inglés Beresford, sem ne- ‘hum controle constitucional. (© imenso Império russo era uma autocracia despética e paterna- lista, onde 0 czar governava por meio de ucasses*. Mas Alexandre 1, personagem mistico e irresoluto, fer do “reino da Polénia” — a parte da Polénia que anexara — um Estado teoricamente autonomo, nto qual usava o titulo de rei. Pela carta de dezembro de 1815, ele outorgou uma verdadeira constituigao com uma Dieta composta de duas cimaras, 0 Senado nomeado e os “néncios” eleitos pelos nobres e pelas cidades. Assim, a Europa de 1815 se dividia em monarquias absolutas ‘em monarquiss constitucionais. Mas, na grande materia delas, tendo 2 carta sido ourorgada, 0 principio de leglumidade om saatide orn suas linhas essenciais, com apenas uma excecio: a pequena Confede- rasio suiga. Composta de 22 cantées, outorgou-se uma Constituicio 9 de setembro de 1815, Era a Suica'a Gnica republica da Europa, se excetuarmos quatro “cidades livres” na Alemanha e na Cracovia, Encretanto nao se deve exagerar as diferencas existentes entre os Estados constitucionais os Estados absolueos. Para comegar, em toda parte a aristocracia dispunha, depois do rei, do poder essencial ¢ dos postos-chave da administracio. A Europa de 1815 € governada pelos grandes proprietirios de terras. Constituia uma excecio 0 fato de um nio-nobre, Fouché, ter sido minisero num gabinete francés, por alguns meses, em 1815. A maior parte dos ministros da Restau. acio era constituida por nobres ou enobrecidos. O mesmo acontecia tna Inglaterra antes de Canning (1822). Os “tories” detentores do poder eram grandes senhores ricos, proprietirios de castelos, extre- mamente distantes do povo simples. Pode-se simplesmente diz pera at tiie” eat aes suficienteménte-com 03 burgueses énriquecidos (aa Franca, mediante compras de artigos nacionais, fornecimento de | a t08, € enormes gratificac xr Napoli a Toga. ‘erra pelo comércio e indisttia nascente), pata que ali se maniestas- Sem uma certa abertura de espirito e um certo liberalismo. ioe Por toda parte a nobreza que rodeava os soberanos mostrava-se reacionéria, de espirito limitado, oposta a qualquer reforma pro- funda, ¢ notoriamente antiliberal. Basta mencionar a camarilla (cama rilha), ou 0 cireulo pessoal do rei da Espanha, a “junca de regéncia” de Portugal, o citculo do sei da Prissia, « Haus-Hof-Staskanclein austriaca. Bnfim, na maior parte dos cas0s, 0 clero era a favor das solucdes absolutistas. Era o sistema da “uniéo do trono com o altar”. | Tais regimes se apoiavam numa forte policia que fiscalizava os assuntos, lis as careas, Bodia prender arbitrariamente, e manter inde- finidamente os suspeitos na prisio. Stendhal, que conhecia admira velmente a sociedade italiana, descreveu tais priticas em A Cartuxa de Parma. Mesmo nos Estados constiracionais, a liberdade nao pas- sava dé um termo indcil para os humildes. As penalidades eram seve- as. Na Inglaterra ainda se enforcavam cagadores furtivos. Ainda se recrutavam as tripulacdes para a marinha real pelo sistema da forca. Os indigentes podiam ser confinados em atrozes warBbouses (casas de corregio). O dizeito de coalizto dos operirios nao existia em parte alguma (suprimido na Franca em 1791, na laglacerra em 1799). 'Na Franga, onde os pobres eram trauidos mais duramente que os ricos — Paul-Louis Courier denunciou-o asperamente em seus pan- fletos — a liberdade desaparece sob os atos de vinganca. O “Terror branco” que os eealistas desencadeiam contra os culpados dos Cem Dias, nfo se manifesta somence em assassinios e execucdes apés jul- gamentos sumarios e sem garantias das “‘cortes prebostais”. Chega dezenas de milhares de desticuigdes. “A reagio” — escreve Vaulabel- Ie’, “percorreu todos os degraus da escola administrativa, desde os| mais altos até os mais {afimos”. ‘Avida por eliminar os eragos da revolugio e as conquistas do Im- ério, a Furopa de 1815 ¢ uma Europa legitimista, clerical, eacioné- aE uina Europa arbtocrtie ¢ desigual. No eatin, exo vivos os germes das idéias de 1789. Dos iatelectuais aos proletirios, dos libe- rais aos democratas, dos burgueses esclarecidos aos operiios desar- saigados pela nascente Revolucao Industrial, em quase todas as clas- ses da sociedade em quase todos os paises vigora o descontentamento. Esse descontentamento espontaneo, essa revolta lacente encontra a sua justificacao em diversos tipos de ideologias, moderadas ou violentas. A Europa de 1815 estava madura para uma longa sucessio de revolucdes. NOTAS: 1 Ch supra 8 774,278, 778 1 Decretsespectcs do gover imperial ro 2 NOB2 1 p485 -u- ee tonyerwatlora. Capitulo 2 Reagoes e Revolucées (1815-1871) Freqiientemente, 20 compararmos 0 nosso século XX ensan- giientado por duas guerras assustadoras com o perfodo de 1815- 1871, temos tendéncia a admirar a boa sorte de nossos ancestrais Ora, nada mais ilusério. O século XIX foi uma das fases mais amar- gas c cruéis da historia européia. Perturbacdes, revoltas, revolucées no plano interior, guerras, conflitos, intervencées no plano exterior, ‘marcaram toda a Epoca que estudamos neste capitulo, E mister rever nossas apreciagdes e compreender que a Europa, depois dos tratados de 1815, viveu na agitacdo e a0 softimento. 1) FATORES DOS DISTURBIOS As pinturas idilicas — ¢ perfeitamente inexatas — da sociedade européia apds 1815 sao responsiveis pela distorcio histérica que acabamos de assinalar. Com efeito, 0 romance, o teatro nao descre- veram senio as classes abastadas, que podiam usufruir as docuras da vida. A sociedade descrita por Balzac e Stendhal 8 nobreza, a alta e, as vezes, a pequena ou média burguesia. Em vao, procurariamos em nossa literatura, antes de Emile Zola, um pintor auténtico dos prole- titios. Ou entio, € a classe “perigosa”, chamada por Marx de Lumpen- proletariat , que atrai a atencao como uma espécie de monstruosidade ‘capaz de provocar nos leitores deliciosos frémitos. Victor Hugo. nos descreve fartamente condenados e bandidos. Eugéne Sue faz 0 —BH mesmo em Mistérios de Paris. Também Balzac, em Vautrin, por exemplo. Mas .onde esti o verdadeiro, 0 auténtico proletitio? As vezes aparece, isoladamente, 0 "bom operério”, submisso, respeitoso, vilmente adulador, admitindo como necessidade ecerna a sua triste condicao, e, aliés, capaz de nao comer nem beber, para deitar alguns vinréns na Caixa Econémica, coisa que as almas caridosas o estimu- lam vivamente 2 fazer. Se o trabalhador possui um espirico mais forte ¢ se bate por sua vida e sua dignidade, & imediatamente equiparado 20 criminoso de direito comum. Os artigos 414, 415 ¢ 416 do Cédigo Penal francés proibem-Ihe qualquer “coaliza0”, portanto, qualquer esforgo con- junto para melhorar a sua sorte. B mister esperar(1864 phra que a ‘oalizio e, em conseqiiéncia, a greve se tornem legais. Na Inglaterra, 1 coalizao, proibida em 1799, € de novo autorizada pelas leis de 1824 € 1825, Estas porém serio aplicadas com evidente parcialidade. O proletério das cidades, 0 trabalhador pobre dos campos, esca- pam da literatura, € por isso mesmo ignora-se, salvo em circulos res- tritos, a sua espantosa miséria, Mas hé muitos “romances sociais”. George Eliott, na Inglaterra, descreveu em Silas Marner os efeitos da concentracio da indiistria téxtil na vida de um pequeno artesio' rural. Disraeli e outros antores cultivavam esse género literirio. Mas além do fato de serem esses livros razoavelmente tediosos, nao penetram no Amago do problema. Quanto a George Sand, seus romances sociais, como o Meunier d’Angibault, pretendem mostrar que uma mulher tica no se rebaixa socialmente por manter relagdes com um homem pobre. Trata-se de uma justificacio pessoal, mais que uma pintura social. Em sua totalidade, a literatura ignora o essencial, ou no o deixa transparecer sentio inconscientemente. O essencial é que a igualdade de direitos, mesmo em um pais onde ela é proclamada em principio, como na Franca, nio existe em absoluto. Ha dois pesos e duas medi- das. O arbitrdrio no existe para as classes ricas, mas pesa com toda @ sua forca sobre a imensa ¢ desconhecida massa dos pobres. Ora, essa desigualdade de tratamento, que afinal existia em todos 1s séculos precedentes, essa miséria que em primeiro lugar na Ingle- terra, depois na Franca e na Bélgica, depois na Alemanha Oriental ¢ ao norte da Itélia fomentara a “Revolugao Industrial”, rornou-se no século XIX um poderoso agente revolucionério. "De maneira di- ferente da dos séculos passados, as massas tomam consciéncia de sua posisio. A Revolugio Francesa representou, nesse ponto, 0 papel decisivo. Precisamente todos os paises europeus que no século XYII ainda eram “subdesenvolvidos” (para empregar uma termino- 7 logia moderna), enteam na era do desenvolvimento. Produz-se entio, tum fenémeno notavel. Nao é a pobreza absoluta, sem esperanca, - embrutecedora, que desencadeia as revoltas organizadas: € 0 comeco BFeS50. ~~"A partir de 1815, os mais conscientes dos descontentes se rea- grupam em sociedades que o rigor policial obriga a manter secretas. Trata-se de pequenos grupos incessantemente perseguidos, animados por um ideal revolucionério. Os Carbonétios italianos, « Carbonaria francesa, as sociedades republicanas da Monarquia de Julho (“Socie~ dade das Familias”, “Sociedade das Estagoes”), a “Liga dos Juscos” na Alemanha Oriental, a “Sociedade do Norte” e a “Sociedade do Sul” nna Russia, outras ainda, pertencem a esse tipo. Seus membros sio oficias, estudantes, artesios, pequenos burgueses. 2) A ERA DAS INSURREICOES (1815-1849) o , E interessante seguir cronologicamente 0 processo da causa fan- damental das insurreicdes que reside na insarisfagio das massas mise- 5 raveis pois ai se revela um fendmeno enropeu que, através das fron- | teiras, possui maldiplos lacos. = __ Para simplificar — sem contudo deformar a realidade — pode- § mos dizer que, entre 1815 ¢ 1849, a Europa conheceu trés “ondas” Z sucessivas de revolugSes: em 1820, 1930 e 1848 aproxinadamente. % A panei, de (620, € peti por 2 de [820, & prevedide por uma forte agitacdo a 4 Alemanha, notadamenté 103 meios universitérios. O objetivo € poli- «g_ fico? a intencio era obrigar os diversos governos alemies a outorgar 3 constituicdes. Mas a repressio sabiamente dirigida por Metternich ' abafa o movimento antes que ele tenha tomado uma forma revolt -f ciondria, Nao acontece 0 mesmo na Espanha. Aqu‘, tendo as tropas 2 se aquartelado em Cadis para combater os colonos da América que se * haviam revoltado, um oficial, 0 Tenente-coronel Riego subleva as tropas em janeiro de 1820. As guarnigdes do Norte fazem triunfar essa cevolucéo cujo fim era politico. (O rei Fernando ViTeve que restabelecer a constituicio de 1812, que havia abolido, O ebsolu- tismo 56 sera restaurado em 1823, apis uma inteevencio francesa. Quase imediatamente, em julho de 1820, estoura uma revolta em Napoles, organizada pelos Carbonarios ¢ dirigida por um oficial, Pepe. O fim é igualmente politico. O rei Fernando I também foi obrigado @ estabelecer uma Constitui¢io. Enquanto as tropas austria- cas “restabelecem a ordem” em Napoies, em marco de 1821 irrompe uma insurreigio de Carbonarios no Piemonte. Ai também & conce- ida uma constituigio. Também ai as tropas austriacas iriam intervir para restabelecer o poder absoluto. —5- shopinn 403 ’ gf yo Comey do Feary spay + tevotla) novenais Erovelas Da Itélia, o movimento se propaga para a Franga. A 13 de feve- reiro de 1820, o duque de Berry, sobrinho do rei, € assassinado, No fim de 1821, a"Chacbonnerie” — que imita a organizacio dos Car- pondrios italianos — tenta passar 2 insurreigio. Em Saumur (de- zembro, 1821), em Belfore (janeiro, 1822), em Thouars (fevereiro, 1822), em Colmar (julho, 1822), os oficiais sublevam ou tentam su- blevar as guarnicoes. Mas em parte alguma esses compl6s, deplora- velmente organizados, conseguem vingar. ‘0 ultimo pais atingido € a Rissia. Com a moste do czar Ale~ xandre I, oficiais pervenceates @ sociedades secretas tentam fazer Subir a0 trono, em lugar de seu irmao Nicolau, seu outro irmio, Constantino. © verdadeiro fim é transformar 0 regime autocrético ‘em regime constitucional. E a insurreicio “dezembrina” (dezembro, 1825). Mal idealizada, mal dirigida, seu desastre ¢ total. ‘Como tais sublevagdes foliticas se acompanham de revoltas na. ions oa Guten e nas eolbuls espanholas da América, Merternich enett te Sulitms ver a0 fruto de uma expécie de “conspiragio jacebina’” cajo centro seria Paris. Com efeito, se houve revoltas em todos os lugares € porque as causas foram gerais. Dificilmente os povos suportamn o absolutismo ¢ a opressio. A primeira onda de re- Woltas é um esforco desordenado ¢ impotente para conquistar a I tide Pe segunda onda se desencadeia na Franca em julho de 1830. Com a pretensio de Carlos X de desfazer ¢ Constituicio, a populacio de Paris, com 2 aprovacao da burguesia liberal, ¢ gracas & acéo das socie- dades secretas republicanas, se insurge contra o regime da Rescaura- Sao. Desta vez 0 sucesso é rotal. Carlos X é obrigado a abdicar Gullar-se, Mas 0s vencedores esto mal organizados para tomar 0 po- der. A grande burguesia, representada pelos depurados liberais jornalisas, como Thiers, sianobra _habilmente para limitar as conse~ Quencias das “"Trés Gloriosas” e faz subir a0 trono Luis Felipe, Duque de Orleans. Como resultado, as sociedades republicanas, ofendidas, ceromam a luta. Os distirbios continuam. Serio todos re- rimidos, pois, se em julho de 1830 a massa “prosseguiu”, 0 mesmo bio acontece com as revoltas de fevereiro de 1831, junho de 1832, abril de 1834. Durante quatro anos Paris € o foco das intrigas repa- blicanas, que bruscamente irrompe em revolucées sangrentas © de- sesperadas. Depois, malgrado algumas revoltas subseqtientes, do se acalma por algum tempo. ‘De Paris, a revolugio alcanga Bruxelas (agosto, 1830), reves- tindo-se ali de um cardter nacional. Os belgas desejam sacudir a autoridade do tei dos Paises-Baixos. Conseguem-no com a ajuda da Europa. Apenas a Russia de Nicolau I quis intervir. Mas, precisa- — 16 — mente em novembro de 1830, outra revolucao, igualmente nacional, se desencadeia na Polénia, imobilizando assixa as forgas do czar, que Jevario dez meses para €Smagi-la. "0 movimento prossegue aa Itélia centeal (fevereizo, 1831), nos = ducados" de Parma e de Médena, e na Roménia, que pertence a0 £ Pips Af, objetivo € ao mesino tenipo politico — estabelecer resi- 5 mes constitucionais em lugar de déspotas no poder — e nacional: os rebeldes constituem “provincias unidas italianas”, preambulo, a seus 3 olhos, de uma unificagio mais vasta. As tropas austriacas no tardam_ =a esmagar essa revolta. ‘A agitagio alcanga também a Alemanha, onde os libersis, reuai- dos emtHambach em mui de 1833. preccnizam os lives "Exeados S Unidos da Alemanha", de forma republicana. Nio toma porém a _E forma de insurreigdes Sangrentas ¢ novamente a ordem ¢ restabele- = cide, TTodavia, o ano de 1830 concedeu duas vit6rias a insurseigio: Frangi€ na Bélgica, Nio € de espantar que tis importantes prece- gates Tenham despertado a esperanca dos democratas, dos naciona- lises, e até daqueles cujo nome aparece nessa época— os socialists. Novamente surgem circunstancias favoréveis e os revolucionacios tentario desencadear novas provas de orca a __E-actise econdmica de 1846-1847 que fornece essa ocasiio. Li- anda is mis colhets (ela segundo Limest Labrousse, ilkima crise do ancien régime, no qual a economia € dominada pela agriculeura), faz aumentar terrivelmente os sofrimentos dos arcesios, dos oper rios, isto é, da parte menos privilegiada da burguesia, através de toda a Buropa, Seré possivel compreender o alcance desse fendmeno por tum exemplo: em Paris, a guarda nacional, composta de pequenos burgueses ¢ que fora 6 elemento motor na repressio dos motins, muda de posisio em fevereiro de 1848 ¢ se une aos manifestances republicanos para derrubar Luis Felipe, Notemos igualmente que @ rise econdmica termina no decorrer do outono de 1847. E, pois, a0 comeso da recuperacéo econdmica que se iniciam as revolucbes. ‘Nunca, nem em 1820, nem em 1830, haviam tomado tal amplitude. Hii, porém, sinais precursores: na Sicilia, em Milio desde ja- neito de 1848. Mas a processo%se desenvolve como um rastilho de polvora, quando sio atingidos dois centros vitais da Europs: Paris, depois Viena. Em Paris (22-24 de fevereizo 1848) ¢ uma revolusio democré- tica que derraba um regime jf liberal para instalar a Replica com © sufrigio universal. Nessa ocasi8o revelam-se também marcantes tendéacias sociais, Mas 0s dias revolucionérios de junho, atroz- 7H lerenynam du Gent sean) Viena ee) Cnsvreei mente sangrentos, rematario no fracasso total dos proletiios revol- tados com a miséria, De Paris, a revolucio se propaga em directo 2 Turim (5 de argo) € Roma (14 de marco), onde se outorgam constiigbes, hem como em Napoles ¢ Florenga. Mas foi principelmente 0 su- cess0 da revolurio parsiense que incitou os liberais de Viena a Seseecadear, por sua vez, uma insurreisao (15-15 de margo) que também termina pela outorga de uma, constituicio. Um novo rmotim em Viena em 15 de maio permitirt aos liberais obterem a eleigio de uma Assembleia Constituinte em substinuiggo & Const- twicdo Oucorgnda, 4 revolugao se espalha. No Império austriaco, multi- oon Maaco a queda de Mecernich deeheaicin as te < Assim se compzzende melhor 0 caréter antinacional da Europa de 1815, fandado, como vimos, no principio da legitimidade e no equi- Iibrio europea’ Duas nacoes, a alema ¢ a italiana, se dividiram, uma em 39 Estados, a segunda em 7 Estados. Vém, em seguida, dois grandes Escados hist6ricos plurinacionais: o Império da Austria © Império Otomano. "No primeiro, além de austefacos de lingua alem’, se encontram tchecos, eslovacos, poloneses, eslavos do Sul (eslovenos, croatas, sér- vvios), hingaros, romenos e italianos. No segundo, além dos turcos, instalados em varias regides dos Bélcés, se encontram gregos, bilga- 105, eslavos do Sul (sobretudo sérvios), albaneses ¢ romenos. A dife- renga entre ambos esté no faro de o Estado otomano ser fraco — desagrega-se na Europa de 1815 a 1913 —enquanco o Império Aus- tulaco € forte, Resistiri aos abalos, concederi autonomia apenas 20s Iingaros (mediante Convencio de 1867), e € preciso a guerra de 1914-1918 e a derrota para que ele se parta numa dispersio de “Es- tados sucessores”. Hé por toda parte nacionalidades submissas. Ir- Janda ao Reino Unido, a Noraega & Suécia, os alemaes do Schleswig 25 a ued we edo Holstein ao rei da Dinamarca, 0s finlandeses, os baleinicos ¢ os poloneses & Rissia czarista, E ainda poloneses a Préssia. ‘Ora, o sentimento nacional tornou-se forga politica. Em todo aga of pores MB Rugndos apltam f independenele mesmo oo: BA Becnd oraiverde vida € mais batxo e 6 analfabetismo mais pa Ihde, descobrese o orgillo de pereesrer 3 um tale esaclonalidade, histor ade povo. Posias fee descobrem as plorias passadss, PRG aielara ings ereuulin or brea Ao movimen intelectual ge vobrepoem miovimentos polidcos reformistas ou FevO- IBsgastssDeneo.om breve tina poticia nova jorra de coda pare Hae a ee aera ear dirego oy fauio conde com NDE Gene feito felibentide © Sgridade humana “Assim, a Europa de 1815, construida contra a hegemoaia f cen a fae se nln Com na Fang cada er ai ese fade saisfeits, mas com forcas novas que rejeitam,com horror o ‘lho principio de legidmidade, que mancém uma siti de jncolerével Entre 1815 € 1871, podemos distinguir duas fases nessa tua case maine elegtiidace, De 18132 1851-com pours | Jb ‘da Furope De 1851 « 1871, 0 contriri, triunfa o principio Tat aclonalidedes, 20 meso¥ aos pons essencas 1) AS RELAGOES INTERNACIONAIS DE 1815 A 1851 i venkmonta no wens! eva ‘mi ‘A Franca ocupada, muslada, submetida s uma pesada indeniza, (° io, vigiade pels Quilrupla ALanga (com Wellington, que comands” Scie c 2 "Confertaca dos Embaixadores", que contola 0 60 Teono},seormentada pelos amultos sangrentos do “Terror Branco”, Carbeeve dita deseo foco da inquictacio geral. A parr de 1818, so Conese Aesi.Chacle eda de Rigel amis & See Oe en er a se der te Tals XVIII parece reforgarse: Todavia,impera a descon- fianca, pois ainda existe a possibilidade de hever uma revolugio. Ja ‘no ha inquietacio. A bandeira branca € menos perigosa que a ban~ Jeke wecolor Fao seu longinguo exsio de Sanca Helena, Napoleso {Shore's 3 de aio decl820 Seu filo € um pequeno duque aus- triaco que ado oferece perigo. A Repiblica vive apenas na lembranca Geejpis velnone no ardor de alguasjovens responsive. Eafim, a $outes dos Congessos, prevsta pela Quédrupla Aliana, parece ef cee Troppas, Laybeeh, deige-e #incerveagio sastrac contra Stipoles, em Verona a intervengio funcesa conta a Espana. 25 = i Oe eren eens ee enter sar w Stele ns apéte Stans. Moe pl oe Boer rea naan Orono. Ma por Se ee Sete Bleue ger scones ge Quer CSauslr ts Eaeeita See SU Poet oo terra nlio o quer a preso nenhum, e, para ela, a integridade do Impé- ea ppg Meat tps conesk taney pene ae Ce acres tees Sa ectaate ani eae a an are i seca aaron nent eet erecta tee amen ets rac Elche aie oars eee nem joven | Rusti. role dos este! bu) Con frota'mais eficaz que a dos turcos, a criagio na Grécia © no estran | | geiro de uma sociedad patritica, « “Heratia", 0 papel do patriarca |g, Ses de Conscaatinopla. Cada vex mais os gregos seatem que for: [UB | mam uma Nasio. No estrangeiro, onde a elit se acha impregnada de | memérias da Antigiidade, a Grécia é simpética sos conservadores porque, como cristi, hice contra os turcos muculmancs, aos liberals porque, como nagio subjugada, combate por sua independéncia, Por toda parte hi “filelenos”. O czar apsia periodicamente os revoliosos "pois lhe apraz enfraquecer a Turquia. arepe [Nos dais primeicos ans (1821-1822) vencem os gros, Logo potém se dividem, combarem ene sO scleo ape pars seu for Salo, 0 paxd do Esit, Mohammed Al, para esinagiios. A fot ree poderia to impedido de desembarca, tas Ss machetes, ‘mal pos, recusaramse a deizar os pores. Ibrahim, fho do pact do Hato, cheps enti. Mortia. Com os esforgos combinlos dos i gipcos ¢ os turcos, a resistencias gregastombam oma aps uta | 26-897. ‘Mas a Europa intervém. Canning com retictnciat, © novo czar Nicolau Icom eneusasmo, a Franga de Carlos X por solideriedade crite por simpaua — todos rsolvem enviar cageadets 4 Nivaciny | base da fro epipcia. Al, 2 20 de outubro de 1827, um incideate dlesencadeis a banlha © ota dos muguimanos neulragn Tropes ‘sts iovadem os prncipades romenos. Uma expedigto francesa dlesembarca oa Morea. Pera impedis 0 desesre — entendamos, i tomade de Constntnopla pelo cra — os bridakor apres « pez. Crise entio ua pequens Grécia da qual sto excuidas sas ias © um vasto eegtrig continental — uma Grecia atte. ‘oma, completamente independence em 1830." Com a autonomia da Sérvia, é esse 0 primeira teiunfo do movi- mento das nacionalidades. Stevo aa da rane Inte pepetnin. g % Ja evocamos o segundo triunfo, 2 independéncis da Bélgica. Ai, Seem vez da rivalidade anglo-russe, hé uma rivalidede frenco-inglesa }Os britinicos — o liberal Palmerston chega 20 Foreign Office em novembro de 1830 — teriam preferido a manutengio do reino dos Paises-Bsixos. Sio porém realistas. O essencial € impedir que a Franca ocupe # Antuérpie. Uma Conferéacia de Embaixadores reine-se em Londces onde a Franca se faz repeesentar por Talley- rand, Nem este nem o fei querem a guerra, e quando o presidente do Conseltio, Laffitte, se detxa levar por propésitos desconsiderada- mente belicosos, Luts Felipe o substitui por um homem enérgico mas moderado, Casimir Péter. Os belgas oferecem wma constituicdo € tum rei, que, de conformidade com as exigéncias inglesas, alo é um principe francés, Trats-se de Leopoldo I, da familia Saxe-Cobourg. Depois, peaosamente, tracam-se as fronteiras que a Holanda s6 re- conheceré em 1839, ¢ proclama-se a neutralidade do novo Estado. ‘Apesar da conguisti da Argélia, que 03 ingleses no acotheram de bom grado, acentua-se uma aproximacio entre 0s dois paises liberais, da Earopa ocidental ¢ foi possivel falar de uma “primeira Enteate Cordiale”. Em todo caso, havia nascido a nova nacio bela. A “Bacente Cordiale” nio foi durivel. Palmerston desconfia da Franca. Luis Felipe; apesar de suas boas relagées com a jovem rainha Vit6ria que subiea 20 ono em 1837 e que se casara com um outzo Sexe-Cobbucg, o principe Albert, desejava estabilizar seu regime. Para o “rei das barricades” isso significava uma aproximacio das ve~ las mooarquias absoluristas, Rissia, Prassia, Austria, seas velhas monarquias fizeram-no sentir claramente que era um usurpador, ¢ ele nio péde casar seu filho mais velho com uma arqui duquesa, Nem Palmerston nem Luis Felipe tentam consolider 0 scordo. A Questio do Oriente acabaria por desagregi-lo Esta questio volcou a tona por causa de Mohammed Ali, © paxi do Bgico, que assentara seu poder depois de massacrar os mamelucos, seus rivais, € um procegido da Francs, onde, por uma curiosa aberra- Gio, € considerado liberal. Quase independente, tendo constitido uum exército moderno, suas ambicbes nao tém limiees. Conquistou 0 imenso Sudio até os Grandes Lagos, ¢ as cidades sancas da Arabia Como prémio de sua intervengio aa Grécia, reclama Creta junto 20 sultio. Com a recusa do sultio, ele invade a Siria, esmaga os turcos e ai se inseala (1833), Endo sio 05 russos que salvam 0 Império Otomano. O trarado de Unkiar-Skclessi estabelece um verdadeiro protetorado russo sobre os turcos. Além do mais, os savios do czae tem livre acesso aos Estreitos. A Inglaterra, que do quer ver um protegido francés tomar-se sultio (mas que estava extremamente inquieta por cause do 27 ccvtado de Unkiar Skeless), manobra penosamence entre fanceses€ tenor Quito oslo, impel pelos ngs, tra em 1859 seu Tit Qupcio,& compleumence comagedo, A frot oromana iia Tenderattees Alene see Palmerston convence as postncias evropéias de que € preciso co- tocat 4 Tynqula sob seu provtorado coletvo -— 0 que poe fim 20 brotetoredo unilateral dor rusioe (lho de 1839). Joe um primeizo Prceo brtnico, © segundo ovotze em segue ama fata de habi- Sie e Thiers, gue setornoa presidente do Coaselho em margo de 1840. Ese orgtnea una negoctaao secretaentve Mohamed Alle a ticon Maso seared ¢ descoberto. Ofeadidos por ver « France Shi sosinin's despeto de acondon conceidos, ab quato outs Po ‘ics sina em Londtes, 2 13 de lho de 1840, um watado, ox aig Makan A resi om ong Bete pedis o apoio da Fraga, Thies esavs diapono a concede to, 0 gueittis igelicado una guerra geral. Prepazourse e det inicio Pioedicaao de Pars. Masa sabedora de kus Felipe etou acts: xoserou Thiers, subsctinco por um Ministrio Soule no qual Gui- Soe cou com ov Negocios Exeroces e 2 infiuéacia dominance, Mo- fammed All ceve que se comsolan,fcando apenas com o Ego, = til hereditanb, Em lho de 1841, » Convengio dos Esreitos 5 Sake Oiigleses 9 Bosforoe o Dardanelos se coasecvariam fecha- Soe" tempo de quer is Rots de todas a8 poténca. Assim, Pot, o protegdo frances ficou dinnuldo e-« Réssia ao ceria acesso Toy mages quettes. Por algun tempo, 2 "Questio do Onente™ foi ‘epalada dc'acordo com as conveniencas 49 Goverao de Londres gussto:on governosprosseguinm ex cans polémicas, os powos prepare Safisumente © cuss dos dados estabeledses. Fen Pe se descacadeou 0 movimento revolusionéio eeropen. Ja des- revemos oo dndoy essencais, Noremos agul 0 que se seveste de Sportacia 390 o ingulo da vide ineeraacional. Piiaceo 0 festa da tonativa de uatia;to da Telia fi muito inatrutro, O Piemoate ¢ os tebeldes do Lombardo-Venew tentanm ahs exper os susiaoe, Italia ard dete, ini 0 rei Carlos ‘Risto! ole demonstou set imposeivel Os que vio sovernac 0 Rieaoste apés 1850, e, noredamente Cavoor, saber que dali Por hie € eecessitia ¢ alanga de uma grande po€acia. Toda 2 Sua deities cossurd em achat ess sllanga A. segunda tes tera Eystencs sobre a unidade da Ir a confederasdo alana presidca Selo papa Casogtelfismo” do pate Giobera), + Repdblica ou ane- cde todas Telia ao Plemoate (dele de Cesare Balbo, Massimo 2 gee moenas'a tiem subsite. A recuse do Papa Bo 1X, Gu ne ebeance peosava por liberal e patsiots em combeter Austria 2 ‘cardlica, destruin sua popularidade e as esperangas que fizera surgi. Dai em diante, todos 08 paceiotas se voltam para Turim. Enfim, 2s tentativas republicanas em Veneza, Roma e Florenca levancaram ‘Contra elas a fiaior parte dos moderados. Pense Mazzini o que pensar se Mazzini, 0 republicano romintico — a Icilia tomaré a forma mo- nirquica. Manin, prestigioso republicano de Veneza que enfrentou ‘os austrlacos por um ano, aderiu ao realismo dessa idéia simples. ‘O problema da unidade alema também foi relegada a um segundo plano. Os republicanos, que formavam apenas pequenos grupos 0 Sule na Rendnia, desempenhsram um papel insignificance. Mas ‘ntteviram-se trés tolucoes. A primeira era a de uma unio pela von- fade popular, independentemente dos soberanos. O “Parlamento de Francfurt”, eleito pelo sufrégio universal, centox lealmente essa solu~ cao, Seu fracasso se cornou patente quando Frederico Guilherme, rei Se prissia, recusow a coroa imperial que Ihe fora oferecida. Ele ‘30 ‘dmitia que seu poder fosse de base popular. Restavam duas solu- Goes: a) Uma unio em torno da Austria, reforgando a “Confederacio Germanica” de 1815. Isso fazia supor que & Prissia caberia apenas 0 seguado lugar, embora brilhante. Havia igualmente a hipdtese da in- Corporagio de todo 0 Império austriaco, com suas populagdes al6ge- thas, & Alemanha, E a solucio da “grande Alemanha” (ainda que cer- tos partidarios tivessem desejado a incorporagio @ Alemanha unifi- cada da tinica parte german6fona do Império — o que teria deslo- ‘edo a velha monarquia dos Habsburgos); b) a outra solugio, a da Spequena Alemanha", coasistia em excluir da Alemanha unificada 0 conjunto do Império austriaco, inclusive a Austria germanéfons. Essa lunizo se realizaria sob a Prissia, Um jovem reacionério prussiano, membro de muitas assembléias eleitas entre 1848 e 1851, ¢ violen- famente hostil 4 Alemanba liberal de Francfurt, Otto von Bismarck Schoeahausen, compreendeu perfeitamente entio o que implicava a ‘oposicio entre a “grande” e a “pequena Alemanha”. “Ardente patriogs prussiano e partidécio do Estado histérico dos Habsburgos, ele cohcluiu que s6 uma guerra entre a Prussia ¢ 2 Aus- tia petmitiia mais tarde resolver © cilema. Era necessirio ganbar ‘essa guerra e, em conseqiéacia, preparar longs minuciosamente 0 ‘exército € procurar apoios diplomaticos. Veremos mais tarde as con- seqiiéncias dessa comada de posisio. Finalmente, as revalugdes de 1848 demonstraram que a velha monarquia habsburguesa, em certo momento abalada até em suas ba- Ses, permanecia solida. Cercamente a guerra contra os hiingaros fora ude, e [oi necessério 0 apoio russo para subjugi-los. Mas a expe- Hiéncia provou que esse Estado sustentava-se de maneira absurda. Por muito tempo as populacbes subjugadas limitaram suas ambigoes ee a “federalizacao” do Império. A vitéria da reagio paralisou o espirico de independéncia durante muitas geracies 2) AS RELACOES INTERNACIONAIS DE 1851 A 1871: NAPOLEAO Il] — CAVOUR — BISMARCK © fracasso das revolusées € a ajuda da prosperidade econdmica apaziguaram os movimentos populares por algum tempo. Os chefes Ge Estado, gprano de maior Uberade de anata, cesempenta- ‘am um papel mais pessoal, mais decisivo. Alguns deles foram perso talidade! excepcionnis, Alga de Palmersion, podemos can ede 63 primeiros, Napoleio lil e Cavour até 1861, Nepoleso Ille Bismarck aps 1863. Esses w2és aomes estio ligados 2 grande crise européis, iotiade pla formario da uidae ana © 4 furan da uicace Personagem misterioso, pouco comunicativo, idealizador de lon- oacepeao e lento aa execucio, Napoleto TI foi o pitimeiro chefe de Estado de uma grande poeéncia que acreditou no principio das nacionalidades. Enquanto a opioiio francesa permanece indiferente a'isso, para nao dizer hostil (aos meios catSlicos que de- sejam a permanéncia dos Estados pontificios), ele fari 0 possivel para co bom éxito de unidade italiana, até mesmo da unidade alem@, Mas se tal politica é “gratuita”, isco é, independence das correntes profundas ‘que agitam o pais, ainda mais gratuita € a parte tomada pelaFranca na guetta da Criméia, novo desteque da Quescio do Oriente Sem perder de vista suas ambigbes aos Estreitos, o car idealiza um novo método de penetrasio: tramar 0 reconhecimento de um “protetorado” sobre os eristios ortodoxos do Império Oromano. As- sim, encontraria mil pretextos para intervie nas Balets. Proclama que a Turquia é um “homem enfermo",-e que é preciso pensar em sua heranca, Depois, com o débil precexto dos “lugares sancos" da Pales- tina onde se eatrentam violentamente catéicos © orrodoxos, eavia fem maio de 1853 seu ajudante-de-ordem, Meatchikof, reclamar a prote¢io russa para os ortodoxos. A Inglaterra tem um real interesse 1 jogo. Nao é de surpreender que ela incentive a Turquia a resiscit € que, tendo a guerra se desencadeado entre russos e eurcos, acabe por intervir. Em compensasio, é dificil compreender por que Napo- eGo III the entrava os passos. Para a Prange, eata-se quase que uni ‘camente de uma questio de prestigio. Tnicia-se entio uma violenta guetta no poato escolhido pelos ia- sleses, 2 nica grande base naval russa do Mar Negro, Sebastopol, na Criméia. Trincheiras cercam a cidade. © porto € bloqueado pelos ravios rassos que conseguem penetrar. Os Aliados — franceses, in- ~ 30 — gleses ¢ turcos, logo reunidos a um pequeno exéicto piemontés — impedem que Os exércitos de socoreo do czar atinjam a cidade, O mal e a crueldade dos combates causam grandes perdas. Em Paris, onde se resliza uma Exposigio Universal, comeca 2 inquieta- so, A tomada de Sebastopol em setembro de 1855 vem, finalmente, scalar 0s espiritos. Morrendo 0 czar Nicolas I, desgostoso por nio* ter obtido 0 apoio sustriaco, ele que havia ajudado os Habsburgos a ‘ences 0s hiingaros revoltados, seu filho Alexandre TT aceita uma in- tervensio austtiscs, sustenteda no iiltimo instante pela Prissia. © Congresso da Paz se reine em Paris em marco-abril de 1836, Se 0 que queria era prestigio, Napoleio III ganhos. Ele parecia ser 0 ar- Bitro da Europa. No plano das nacionalidades, vambém ganou, pois uma nova nacio automa, praticamente indepeadente, Roménia, sasce do Congresso de Paris — novo desmembrameaco do Império ‘Oromano, no entanto vitorioso. Mas a grande vencedora & 4 Ingla- ‘errs; a Rssia foi por algum tempo excluida dos Balcis, e além da zgarantia do bloqueio dos Esteeitos 3 froea russ, traido pela Conver lo de 1841, ela adquice uma magnifica garantia suplementar: 4 neu- tcalizagio do Mar Negro, em ovtras pelaveas, jé nio existia # frota Outro grande vencedor & Cavour. Tendo ele, sob pretexros expe-

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