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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.32 n.262 maio/jun. 2011
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Considerações técnicas e socioeconômicas sobre produção e qualidade de leite


Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto, Maria Regina de Miranda Souza, Caroline Franco de Souza,
Amanda Pereira Lemos, Raíssa Saporetti Moreira e Janaína Aparecida Soares Valente .......... 7

Padrões de identidade e qualidade para leites fluidos tipos A, B e leite pasteurizado


Apresentação Carlos Henrique Fonseca . ................................................................................................ 14
A produção de leite e derivados tem papel
relevante no suprimento das necessidades nu- Tecnologias para fabricação de doce de leite, leite condensado e soro em pó
tricionais do homem em qualquer fase da sua Ítalo Tuler Perrone ........................................................................................................... 24
vida. Portanto, atenção especial deve ser dada
às condições de produção, industrialização e Tecnologia de fabricação de requeijão e queijos processados ou fundidos
comercialização para se obterem matéria-prima Denise Sobral, Renata Golin Bueno Costa, Junio César Jacinto de Paula, Vanessa Aglaê Martins
e produtos lácteos de alto padrão de qualidade, Teodoro, Gisela de Magalhães Machado e Elisângela Michele Miguel . ............................... 37
considerando também as questões ambientais e
de autossustentabilidade. Queijos Minas Frescal e Minas Padrão: características e tecnologia
Assim, todos os atores da cadeia produtiva Junio César Jacinto de Paula, Antônio Fernandes de Carvalho, Felipe Alves de Almeida, Renata
do leite têm a responsabilidade de disponibilizar Golin Bueno Costa, Denise Sobral e Gisela de Magalhães Machado ........................................... 45
ao mercado consumidor, cada vez mais exigen-
te, produtos de alto valor agregado, de acordo Leite fermentado probiótico: aspectos tecnológicos, benefícios para a saúde humana
com os padrões de identidade e qualidade. Para e suas perspectivas
isso, nos últimos anos, houve um grande avan- Sislene de Matos Reis, Danielle Soares Malveira, Isabela Rocha Menezes, Larissa Oliveira e
ço na legislação com a elaboração de normas Maximiliano Soares Pinto ........................................................................................................ 52
e padrões, por órgãos normalizadores e fiscali-
zadores, o que permitiu a geração de impactos Tecnologias para fabricação de queijos de massa filada: Provolone e Mussarela
positivos para os mercados interno e externo de
Renata Golin Bueno Costa, Denise Sobral, Junio César Jacinto de Paula, Gisela de Magalhães
lácteos e para a economia do País.
Machado, Vanessa Aglaê Martins Teodoro e Luiz Carlos Gonçalves Costa Júnior ................. 58
Esta edição do Informe Agropecuário apre-
senta em seu conteúdo temas relevantes redigi-
Soro de leite: aspectos tecnológicos, econômicos e ambientais
dos por pesquisadores, professores e técnicos
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto, Caroline Franco de Souza, Luiz Paulo de Lima, Ian Ibsen da
experientes da área sobre aspectos associados à
Silveira Rabelo e Sérgio Casadini Vilela ............................................................................. 69
produção e à qualidade do leite, tecnologias para
a fabricação de produtos lácteos, padrões de
Ferramentas de qualidade: aplicação do Diagrama de Causa e Efeito na indústria de
identidade e qualidade e aproveitamento do soro
de leite, assunto hoje de extrema importância laticínios
nutricional, econômica e ambiental para o setor. Vanessa Aglaê Martins Teodoro, Denise Sobral, Gisela de Magalhães Machado, Renata Golin
Bueno Costa, Junio César Jacinto de Paula e Elisângela Michele Miguel .............................. 76
Renata Golin Bueno Costa
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto
Luiza Carvalhaes de Albuquerque

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.32 n.262 p. 1-84 maio/jun. 2011

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A

© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da


Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ISSN 0100-3364
INPI: 006505007
EPAMIG
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Maria Lélia Rodriguez Simão Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Juliana Carvalho Simões
da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Mairon Martins Mesquita
Vânia Lacerda Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
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EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
Plínio César Soares técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Diretoria de Operações Técnicas

Maria Lélia Rodriguez Simão O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Departamento de Pesquisa publicação da edição.
Cristiane Viana Guimarães Ladeira
Divisão de Produção Animal Esta edição do Informe Agropecuário tem o apoio da FAPEMIG,
Marcelo Lanza por meio do projeto CAG 3737-10 - Revitalização da estrutura
Divisão de Produção Vegetal de produção editorial da revista Informe Agropecuário.

Trazilbo José de Paula Júnior


Chefia de Centro de Pesquisa Assinatura anual: 6 exemplares
Vânia Lacerda Aquisição de exemplares
Departamento de Publicações
Divisão de Gestão e Comercialização
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União
EDITORES TÉCNICOS
Renata Golin Bueno Costa, Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto e CEP 31170-495 Belo Horizonte - MG
Luiza Carvalhães de Albuquerque Telefax: (31) 3489-5002
www.informeagropecuario.com.br; www.epamig.br
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E-mail: publicacao@epamig.br
Sérgio Maurício Lopes Donzeles (EPAMIG)
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
PRODUÇÃO
Executivo de Negócios - DPET
DEPARTAMENTO DE PUBLICAÇÕES Décio Corrêa
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Vânia Lacerda
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
v.: il.
NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
PRODUÇÃO E ARTE ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Ângela Batista P. ISSN 0100-3364
Carvalho, Fabriciano Chaves Amaral, Débora Nigri (estagiária) e
Taiana Amorim (estagiária) 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Econômico. I. EPAMIG.
Coordenação de Produção Gráfica
Fabriciano Chaves Amaral
CDD 630.5
Capa: Fabriciano Chaves Amaral
Foto da capa: Vânia Lacerda
O Informe Agropecuário é indexado na
Impressão: AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Elmiro Alves do Nascimento
Secretário

Padrões de identidade e qualidade


são diferencial para leite e derivados
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
Conselho de Administração
Elmiro Alves do Nascimento Sandra Gesteira Coelho
Antônio Lima Bandeira Elifas Nunes de Alcântara
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
A produção de leite no Brasil é uma das principais
Osmar Aleixo Rodrigues Filho Helton Mattana Saturnino
Décio Bruxel atividades agropecuárias, por seu valor nutricional e sua
Conselho Fiscal importância socioeconômica, com destaque para a geração de
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz renda e arrecadação tributária. O Brasil figura entre os maiores
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
produtores mundiais de leite, com, aproximadamente, 29.500
Presidência
Antônio Lima Bandeira milhões de litros por ano.
Vice-Presidência
Mendherson de Souza Lima Minas Gerais, por sua tradição, clima e topografia, é o
Diretoria de Operações Técnicas maior Estado produtor de leite e queijos do País e responsável
Plínio César Soares
Diretoria de Administração e Finanças
por mais da metade da produção nacional. A fabricação de
Aline Silva Barbosa de Castro queijos no Brasil é o principal destino do leite aqui produzido,
Gabinete da Presidência
Thaissa Goulart Bhering Viana sendo cerca de 33% do seu volume captado, sob inspeção
Assessoria de Comunicação federal, direcionado a esta finalidade.
Roseney Maria de Oliveira
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional O leite, por ser um alimento de alto valor nutricional,
Felipe Bruschi Giorni
rico em proteínas, gordura, carboidratos, sais minerais e
Assessoria de Informática
Silmar Vasconcelos vitaminas, constitui um meio excelente para a multiplicação
Assessoria Jurídica
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo de microrganismos deteriorantes e patogênicos, originados
Assessoria de Negócios Tecnológicos de contaminações pós-ordenha e/ou de infecções do próprio
Sebastião Alves do Nascimento Neto
Assessoria de Planejamento e Coordenação animal, em especial a mastite. Assim, para obtenção de leite e
Renato Damasceno Netto
de produtos lácteos de acordo com os padrões de qualidade, é
Assessoria de Relações Institucionais
Luiz Carlos Gomes Guerra necessário considerar os diversos fatores que podem influenciar
Assessoria de Unidades do Interior
Júlia Salles Tavares Mendes
na sua qualidade, como manejo, alimentação, potencial genético
Auditoria Interna dos rebanhos, condições de obtenção, doenças, armazenamento,
Márcio Luiz Mattos dos Santos
Departamento de Compras e Almoxarifado transporte, processamento, comercialização e consumo.
Sebastião Alves do Nascimento Neto
A exigência do mercado consumidor e o crescimento
Departamento de Contabilidade e Finanças
Warley Wanderson do Couto da competitividade do mercado nacional, aliados ao interesse
Departamento de Engenharia
Luiz Fernando Drummond Alves do Brasil de inserção no mercado internacional de lácteos,
Departamento de Transferência Tecnológica têm estimulado produtores e indústrias a buscarem novas
Juliana Carvalho Simões
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais tecnologias para melhorar a qualidade de seus produtos,
Mary Aparecida Dias
com redução dos custos e maior rendimento industrial, o que
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão implica na obtenção e no uso de matéria-prima de alto padrão
Departamento de Publicações
Vânia Lúcia Alves Lacerda de qualidade.
Departamento de Recursos Humanos Esta edição do Informe Agropecuário tem como objetivo
Flávio Luiz Magela Peixoto
Departamento de Eventos Tecnológicos levar a toda a cadeia produtiva do leite informações relevantes
Mairon Martins Mesquita
sobre padrões de identidade e de qualidade, amparadas na
Departamento de Transportes
José Antônio de Oliveira legislação vigente, e tecnologias para produção de leite e
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Luiz Carlos G. C. Júnior, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo derivados, bem como a importância do aproveitamento do
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo soro de leite, com vistas ao aprimoramento e à excelência da
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa
EPAMIG Sul de Minas atividade.
Rogério Antônio Silva e Ana Paula de M. Rios Resende
EPAMIG Norte de Minas
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
Antônio Lima Bandeira
EPAMIG Zona da Mata Presidente da EPAMIG
Trazilbo José de Paula Júnior e Giovani Martins Gouveia
EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Remuneração pela qualidade
O médico-veterinário Clério Alves da Silva é formado
pela UFMG. Possui diversos cursos na área de Inspeção
de Alimentos, com ênfase em Laticínios, nos quais incluem
tecnologia de fabricação, Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC) aplicadas a indústrias do
mercado nacional, americano e europeu e em ferramentas
de autocontrole em indústria de alimentos.
Foi inspetor de produtos de origem animal, no Instituto
Mineiro de Agropecuária (IMA). Exerceu o cargo de oficial
veterinário do Exército Brasileiro atuando, dentre outras
áreas, na elaboração de trabalhos técnicos e científicos
direcionados à avaliação das condições higiênico-sanitárias
das cozinhas do Exército.
Clério Silva é fiscal federal agropecuário do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), onde
também atuou como responsável técnico do setor de leite
no Estado. Atualmente, é chefe do Serviço de Inspeção de
Produtos de Origem Animal (Sipoa), de Minas Gerais.

IA - Qual a situação atual da produção em vista o contínuo desenvolvimento e a perdas, melhor qualidade, ampliação do
e da qualidade de leite e derivados ampliação de várias unidades industriais mercado nacional e inclusão do Brasil no
no Brasil? pelo País, estimulados pelo potencial a grupo de países com potencial para atuar
ser explorado no mercado interno, pelo significativamente no fornecimento de
Clério Silva - O Brasil tem aumentado
crescente interesse pelas exportações e lácteos para o mercado internacional. É
gradativamente sua produção leiteira, pela exigência cada vez maior de consu- necessária a criação de uma metodologia
porém, no ano de 2010, houve queda do midores por produtos de qualidade. na qual se consiga remunerar os produto-
preço do leite pago ao produtor na entres- res rurais em função da qualidade. Dessa
safra, afetando de maneira significativa o IA - Quais são os principais entraves no forma, os recursos circulariam mais den-
setor, com uma recuperação apenas no fi- setor de leite e derivados para o tro da cadeia produtiva do leite.
nal daquele ano. Portanto, as expectativas incremento dos comércios interno
para a produção de 2011 estão sendo vistas e externo desses produtos e para a IA - O que são Padrões de Identidade e de
com reserva. Já a qualidade do leite vem sustentabilidade do setor, e quais as Qualidade e qual a sua importância
obtendo avanços desde a implementação estratégias para vencê-los? para o setor de laticínios?
da Instrução Normativa no 51, com uma Clério Silva - São normas onde cons-
Clério Silva - Entre os entraves
grande quantidade de amostras sendo no setor de leite e derivados destaco a tam as características mínimas de qualida-
analisadas junto à Rede Brasileira de necessidade de melhoria da educação de, que podem ser avaliadas pelas análises
Laboratórios de Controle da Qualidade continuada nas propriedades rurais, o e pelo cumprimento de especificações
do Leite (RBQL). Isto fornece, hoje, um aumento da oferta de linhas de crédito técnicas, com a finalidade de disciplinar a
ótimo embasamento para o pagamento do em larga escala e a ampliação da infraes- produção de lácteos no País, normalmente
leite por qualidade, porém ainda existe um trutura viária e de energia. Acredito que divulgadas por Portarias. São de grande
bom caminho a ser trilhado, pois não são a principal estratégia seja o pagamento importância para a promoção da saúde
todas as empresas que remuneram pela do leite por qualidade, pois promoverá pública, bem como para a descrição das
qualidade da matéria-prima. Os produ- um maior engajamento dos produtores características próprias que cada produto
tos, por sua vez, têm sido continuamente na adoção de técnicas de produção mais deve ter, obedecendo inclusive acordos
aprimorados nestes últimos anos, tendo desenvolvidas, refletindo em menores internacionais como os do Mercosul.
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IA - Qual a situação atual do Brasil em de medidas corretivas antes do compro- Contagem de Células Somáticas (CCS) e
relação à padronização dos produtos metimento dos alimentos e que também Contagem Bacteriana Total (CBT). Mas
lácteos e seus processos pela indús- comprovem que os produtos estão sendo independente das divergências ocorridas,
tria de laticínios? fabricados dentro dos parâmetros legais o que parece ser consenso é que devemos
vigentes. alavancar, de forma urgente, medidas para
Clério Silva - No Brasil, a padroniza-
melhorar a qualidade do leite, por meio de
ção dos produtos segue os Regulamentos IA - Qual a importância da implantação ações integradas e devidamente coordena-
Técnicos de Identidade e Qualidade, re- dos Programas de Qualidade na das entre todos os participantes da cadeia
gulamentos estes discutidos e elaborados cadeia produtiva do leite e as legis- produtiva, pois a falta de integração será
pelos técnicos do MAPA em conjunto lações relacionadas? prejudicial a todos, seja para os consumi-
com setores de ensino e pesquisa e por
Clério Silva - Sem dúvida, a principal dores, os produtores, os industriais e todos
meio de solicitações das entidades repre-
importância desses Programas é a garantia que direta ou indiretamente participem
sentativas do setor lácteo. A elaboração
da qualidade e da inocuidade dos produ- desta cadeia. Acredito que, a partir deste
desses regulamentos tem possibilitado
tos oferecidos aos consumidores, o que ano, serão sentidas as mudanças provoca-
avanço na padronização dos produtos e o
também promove a diminuição de perdas das pela Instrução Normativa no 51, o que
estabelecimento de parâmetros mínimos
durante a produção, originadas princi- desencadeará um maior empenho de todos
de qualidade, isto dentro de um contexto
os segmentos em busca desta melhoria.
maior que abrange as relações internacio- palmente por matérias-primas de baixa
nais e o Codex Alimentarius. qualidade e pela falta de padronização
IA - Qual a sua avaliação sobre a criação
dos produtos.
e a implementação do Programa Na-
IA - Quais os principais avanços na legis- Esses Programas de Qualidade garantem
cional de Fomento às Boas Práticas
lação brasileira no setor de lácteos e o consumo de produtos realmente saudá-
Agropecuárias (PRO-BPA) e sua
os seus impactos na cadeia do leite? veis, com bom valor nutricional e seguros.
importância para o setor?
Vivemos um momento em que é crescente
Clério Silva - Na minha opinião, os
a preocupação da população com o que Clério Silva - O PRO-BPA é de im-
avanços ocorreram com a implementação
se consome, com a segurança alimentar e portância capital para o setor, pois está
das ferramentas de autocontrole, por meio
também com a tendência dos alimentos fun- diretamente relacionado com a qualidade
da publicação em sequência da Portaria
cionais. A busca da qualidade é a resposta da matéria-prima a ser utilizada pelas
no 368, de 4 de setembro de 1997, que
a toda esta expectativa dos consumidores. empresas. A matéria-prima só pode ter a
estabeleceu o Regulamento Técnico So-
Outra vertente na implantação desses Pro- sua qualidade mantida, não sendo possível
bre as Condições Higiênico-Sanitárias e
gramas diz respeito às informações dis- melhorá-la ao longo do processo. As BPA
de Boas Práticas de Fabricação (BPF),
postas nas embalagens sobre teor/nível de é que poderão conduzir, de forma mais se-
da Portaria no 46, de 10 de fevereiro de
carboidratos, proteínas e gorduras presentes gura, as atividades que terão impacto direto
1998, que instituiu o sistema de Análise
naquele alimento. Para um portador de sobre o leite na sua origem, dentre elas o
de Perigos e Pontos Críticos de Controle
doença metabólica, a exemplo da diabetes uso racional de produtos e medicamentos,
(APPCC) e da Resolução Dipoa no 10,
ou da doença celíaca, a segurança dessas o armazenamento adequado do leite, a
de 22 de maio de 2003, que instituiu a
informações é importantíssima. Também sanidade do rebanho, dentre outras. São
implantação dos Programas de Procedi-
para crianças, idosos e convalescentes, é ferramentas de qualidade que visam inte-
mento-Padrão de Higiene Operacional
fundamental a qualidade no aspecto micro- grar definitivamente a propriedade rural
(PPHO), todos consolidados pelo Ofício
biológico do produto. Uma contaminação a todo o restante do sistema de produção,
Circular no 7 Dilei/CGI/Dipoa, de 11 de
pode causar, nesta parcela da população, todos corresponsáveis pelo produto final.
setembro de 2009, que estabelece proce-
infecções graves e até levar a óbito. É importante lembrar, ainda, que no início
dimentos de verificação dos Programas
dos trabalhos da Instrução Normativa
de Autocontrole. Todas essas normas
IA - Quais são as perspectivas para a no 51, muitos acreditavam ser impossí-
orientam as indústrias como proceder na
cadeia de lácteos com as mudanças veis o resfriamento do leite em tanques
implementação de seus Planos de Auto-
de padrões previstas na Instrução de expansão nas propriedades rurais e o
controle, que são planos escritos sobre o
Normativa no 51, a partir de julho transporte granelizado do leite. Hoje, isso
monitoramento por parte da empresa de
de 2011? já é uma realidade, o que não deixa dúvidas
todas as suas atividades. Tais planos são
de que ainda alcançaremos muito mais na
complementados por registros auditáveis Clério Silva - Foi uma questão que
melhoria da qualidade do leite brasileiro.
que servem para a detecção de problemas gerou muita discussão no setor, princi-
em sua fase inicial, permitindo a adoção palmente com relação aos parâmetros de Por Vânia Lacerda

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 7

Considerações técnicas e socioeconômicas sobre produção


e qualidade de leite
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto 1
Maria Regina de Miranda Souza 2
Caroline Franco de Souza 3
Amanda Pereira Lemos 4
Raíssa Saporetti Moreira 5
Janaína Aparecida Soares Valente 6

Resumo - A produção de leite e derivados ocupa um lugar de destaque no cenário


agropecuário brasileiro e representa uma das principais atividades econômicas, com ge-
ração de emprego e de renda. Os mercados interno e externo de leite e derivados têm-se
tornado cada dia mais exigentes quanto à aquisição de produtos de alta qualidade, para
a conquista de novos mercados e aumento de competitividade. Uma das preocupações
do setor leiteiro nacional é a manutenção dos produtores de leite na atividade. Para
isso, são necessários esforços de todos os atores que compõem a cadeia do leite. A boa
qualidade do leite cru é fator imprescindível para a obtenção de produtos lácteos de alto
padrão de qualidade. O leite é considerado um alimento nobre por sua rica composi-
ção nutricional. Suas características físicas, químicas e biológicas podem ser facilmente
alteradas por atividade metabólica de microrganismos contaminantes, o que ocasiona
grandes prejuízos econômicos ao setor. A implementação das Boas Práticas Agropecu-
árias e Boas Práticas de Fabricação (BPF) é uma exigência do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) e permite atender aos regulamentos técnicos para
produção, identidade e qualidade dos diferentes tipos de leite.

Palavras-chave: Laticínios. Mercado. Programas. Boas práticas. Leite cru. Granelização.

INTRODUÇÃO A exigência do aumento do padrão de Leite (PNMQL), regulamentado em 2002,


qualidade na obtenção do leite e derivados representou para o setor lácteo um grande
A produção de leite no Brasil é con-
siderada uma das principais atividades foi crescente no Brasil, a partir dos anos avanço com destaque para a modernização
agropecuárias, que fornece alimento à 90, com o objetivo de ser nivelado aos da legislação nacional. A mudança de
população. Sua importância socioeconô- padrões do Mercosul e à indústria de lác- maior impacto foi refrigeração do leite
mica pode ser constatada pela posição que teos, além de atender à demanda crescente na fonte de produção e o seu transporte a
ocupa no agronegócio brasileiro, ou seja, dos consumidores por produtos de quali- granel regulamentado pela Instrução Nor-
é um dos principais setores de geração de dade a custos compatíveis. O Programa mativa no 51, de 18 de setembro de 2002
renda nacional e arrecadação tributária. Nacional de Melhoria da Qualidade do (BRASIL, 2002), que permitiu a redução

1
Farmacêutica-bioquímica, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG.
Correio eletrônico: claudia.epamig@gmail.com
2
Enga Agra, Doutoranda Fitotecnia, Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
mrmirandasouza@epamig.br
Graduanda Engenharia de Alimentos, Bolsista FAPEMIG/EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio
3

eletrônico: carolfranco10@yahoo.com.br
4
Graduanda Tecnologia de Laticínios, Estagiária EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG.
5
Graduanda Tecnologia de Laticínios, Estagiária EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG.
6
Graduanda Ciência e Tecnologia de Alimentos, Estagiária EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 2 , p . 7 - 1 2 , m a i o / j u n . 2 0 11

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8 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

dos custos operacionais de produção e melhoramento genético dos rebanhos, qualidade e da escala de produção e têm
perdas por qualidade. investimentos tecnológicos de coleta do alcançado resultados satisfatórios por
De acordo com dados da Embrapa leite e resfriamento. Produtores resistentes meio de atividades de formação dos produ-
(apud RONDÔNIA, 2010), 21.900 mi- à adoção de novas tecnologias apresentam tores para produção com qualidade, sem a
lhões de vacas foram ordenhadas em 2009, maior dificuldade de acompanhar esse necessidade, no entanto, de investimentos
ação que resultou numa produtividade na processo e, portanto, de sobreviverem altos. Isso se torna possível, principal-
ordem de 1.307 litros por animal neste na atividade (PONCHIO; ALMEIDA; mente quando os produtores se unem em
período. O crescimento da competitivi- GIMENES, 2004). cooperativas e associações. As vantagens
dade do mercado nacional, aliado ao in- Apesar de a especialização na atividade competitivas para a categoria de agricul-
teresse de o Brasil se inserir no mercado contribuir para o aumento da produtivida- tores familiares e suas organizações, como
internacional de lácteos, tem estimulado de, deve-se considerar a tendência de aban- a diversificação e complementaridade de
produtores e indústrias a buscarem novas dono da atividade por parcela considerável atividades, a menor dependência relativa
tecnologias para melhorar a qualidade de de produtores não especializados. Souza de insumos externos à propriedade, o que
seus produtos, com redução dos custos e (2007) demonstrou a possibilidade de os traz o baixo investimento tecnológico, as
maior rendimento industrial, o que implica agricultores familiares e suas organizações vantagens do cooperativismo, a autogestão
na obtenção e no uso de matéria-prima manterem-se na atividade, com a produção da mão de obra familiar e a possibilida-
de alto padrão de qualidade. Para isso, é de leite de boa qualidade e de baixo custo, de de atuar em segmentos de alto valor
necessário considerar aspectos tecnoló- seja na atuação em nichos de mercado, seja agregado, podem ser potencializadas ou
gicos, de legislação, de organização, de na produção em commodities, mesmo em reduzidas pelo setor privado ou pelas
capacitação e de políticas. cadeias onde o acirramento do mercado políticas públicas (MARTINS, 2002;
As transformações na cadeia produtiva tem aumentado. Para isso, são necessários SOUZA, 2007).
do leite são marcadas pela heterogenei- investimentos e adequação dos produtores,
dade de sistemas de produção, potencial em especial aqueles menos capitalizados QUALIDADE DO LEITE E SUA
de produção, abertura dos mercados ex- ou com áreas menos extensas. IMPORTÂNCIA
ternos, ampliação do consumo interno e Assim, a especialização da cadeia re- O leite é o produto oriundo da ordenha
instabilidade na dinâmica da cadeia. Essas presenta desafios e possibilidades para os completa e ininterrupta, em condições de
transformações têm contribuído para o au- agricultores que não apresentam condições higiene, de vacas sadias, bem alimentadas
mento da pressão para a especialização dos de adotar novas tecnologias. Se por um e descansadas (BRASIL, 1980). Por ser
produtores de leite, o que coloca em risco lado incentivos e controle estimulam o um alimento de alto valor nutricional, rico
a continuidade de muitos deles na ativida- aperfeiçoamento da cadeia do leite, por em proteínas, gordura, carboidratos, sais
de. A demanda por produtos de qualidade outro, ameaçam a permanência de pro- minerais e vitaminas, constitui um meio
reflete na intensificação dos sistemas de dutores familiares no mercado, pela sua excelente para a multiplicação de mi-
produção e na necessidade de especializa- baixa profissionalização na atividade, e, crorganismos deteriorantes e patogênicos
ção, condição fundamental para aumento consequentemente, baixa eficiência de originados de contaminações pós-ordenha
da competitividade (SOUZA, 2007). competitividade na cadeia (FAVA NETO e/ou de infecções do próprio animal, em
A especialização é decorrente da estru- et al., 2005). especial a mastite. Assim, para a obtenção
tura de preços elaborada pela indústria, o Embora a heterogeneidade da cadeia de leite e produtos lácteos de acordo com
que se refere, essencialmente, à existência e a instabilidade da produção no conjunto os padrões de qualidade, é necessário
de instrumentos de incentivo e controle da produção nacional do leite sejam fatores considerar os diversos fatores que podem
do volume individual, qualidade e regu- considerados negativos, deve-se destacar influenciar na sua qualidade, como zootéc-
laridade de oferta durante o ano. A espe- a significativa participação da produção nicos associados ao manejo, alimentação,
cialização crescente da atividade leiteira familiar na cadeia e que sua permanência potencial genético dos rebanhos, condições
tem promovido a expansão do rebanho e depende do estímulo e da forma de reação de obtenção, mastite, armazenamento,
aumento de sua produtividade com conse- dos agricultores familiares às transforma- transporte, processamento, comercializa-
quente crescimento da produção de leite ções ao longo dos anos. Para se manter no ção e consumo.
e derivados. Este fato está vinculado ao mercado, o produtor tem dois desafios: Os cuidados higiênico-sanitários são
fenômeno Technological Tredmill, carac- busca pela qualidade e produção em escala indispensáveis para obtenção de produtos
terizado pela adoção de novas tecnologias (SOUZA, 2007). lácteos seguros, de acordo com os padrões
por produtores inovadores, as quais estão Diversas organizações têm trabalha- exigidos por órgãos fiscalizadores. Para
associadas aos custos de produção, como do com seus associados na questão da isso, é indispensável a implementação de
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programas de qualidade na cadeia produ-


tiva, como Boas Práticas Agrícolas (BPA),
Boas Práticas Agropecuárias e Boas Prá- Guia orientador para boas práticas de produção
ticas de Fabricação (BPF), pré-requisitos de leite na fazenda

para a implementação de sistemas de Principais As práticas de produção nas fazendas devem assegurar que o leite seja produzido
garantia de qualidade como a Análise objetivos a partir de animais saudáveis, livres de resíduos e de acordo com as condições
socioambientais adequadas
de Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC) ( BRASIL, 1998). Boas Saúde Higiene de Alimentação Bem-estar Ambiente
práticas animal ordenha animal e animal
A elaboração de legislações e de água
normas nacionais e internacionais,
fundamentadas em procedimentos que
permitem a garantia de qualidade dos
Características definidoras
produtos, foi de fundamental importância
para o setor alimentício nos últimos anos.
Figura 1 - Principais componentes e objetivos das boas práticas de produção de leite
Dentre essas legislações e normas estão
FONTE: FAO (2004).
incluídas as BPA, Boas Práticas Agrope-
cuárias e BPF (BRASIL, 1997ab), padrões
sanitários de alimentos (ANVISA, 2001), Essas práticas incluem a implemen- sistemas de garantia da qualidade e segu-
procedimentos operacionais padronizados tação de um programa sanitário com me- rança alimentar. São considerados fatores
(ANVISA, 2002; BRASIL, 2003), APPCC didas de prevenção de doenças, produtos como hidratação do animal, alimentação e
(BRASIL, 1998). A Norma ISO 22000, químicos e medicamentos veterinários de nutrição, conforto, ausência de dor, tran-
publicada pela International Organization acordo com a prescrição e a qualificação quilidade do ambiente de produção, trata-
for Standardization (IS0), em 2005, trata
apropriada dos recursos humanos. mento adequado de ferimentos e doenças,
da certificação do sistema de gestão da
A ordenha é uma das operações mais respeito à expressão dos padrões normais
segurança na produção de alimentos e
importantes na exploração leiteira. Portan- de comportamento do animal.
representa uma oportunidade para atingir
to, todos os cuidados devem ser tomados A atividade deve ser exercida pelos
a harmonização internacional dos padrões
nesta etapa, para minimizar a ocorrência produtores de leite para minimizar riscos
de segurança alimentar (ASSOCIAÇÃO
de contaminações de natureza microbia- de contaminações ambientais, entre estas
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
na, química e física. A monitorização da os efluentes pecuários e as escorrências de
2006).
ordenha abrange todas as operações da silagens. As boas práticas ambientais con-
coleta do leite, as quais deverão preservar templam um sistema de gestão de efluentes,
BOAS PRÁTICAS
AGROPECUÁRIAS a saúde dos animais e a qualidade do leite. práticas gerais de manejo que não impli-
É importante garantir que as rotinas da or- quem em impactos adversos ao ambiente.
A produção de leite praticada mundial-
denha não provoquem lesões nos animais,
mente deve ser capaz de combinar a renta- Programa Nacional de
que sejam respeitadas as normas de higiene
bilidade com a responsabilidade de proteção Fomento às Boas Práticas
e manuseio que são fatores associados à
da saúde humana e animal, do bem-estar Agropecuárias
ocorrência de contaminações.
animal e do ambiente (Fig. 1). Os produtores
A higiene do local de ordenha pode ser Um importante e recente avanço na
de leite são os principais responsáveis pelo
realizada pelo uso separado ou combinado legislação relacionada com o incentivo à
valor dado à sua matéria-prima por meio
de métodos físicos como calor, esfregação, melhoria da qualidade do leite foi a criação
da adoção de procedimentos de produção
que satisfaçam as necessidades da indústria fluxo turbulento, limpeza a vácuo ou outros do Programa Nacional de Fomento às Boas
e dos consumidores. As boas práticas de métodos a seco e métodos químicos, com Práticas Agropecuárias (PRÓ-BPA), pelo
produção de leite, aplicáveis nas áreas de o uso de detergentes alcalinos e/ou ácidos Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
saúde animal, higiene na ordenha, alimen- e sanitizantes. tecimento (MAPA), por meio da Portaria
tação, bem-estar animal e ambiente, foram O bem-estar animal resulta da aplica- Interministerial no 36, de 25 de Janeiro de
elaboradas com o objetivo de auxiliar a ção de práticas éticas de produção animal 2011 (BRASIL, 2011). O objetivo é de-
melhoria da atividade leiteira, a fim de o que pode ser considerado como um dos senvolver e promover a inclusão das Boas
garantir que a matéria-prima seja prove- indicadores de segurança alimentar. As Práticas Agropecuárias nas propriedades
niente de animais saudáveis e mantidos exigências, quanto ao bem-estar animal, rurais das diversas cadeias pecuárias do
sob condições aceitáveis. têm sido incorporadas na maioria dos País. Para isso, são previstas ações como:
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a) desenvolver políticas públicas de ao setor lácteo, sendo um fator limitante subclínica de 85% a 90% (PEDRINI;
apoio à adoção e à implementação para a obtenção de leite e produtos lácteos MARGATHO, 2003).
das Boas Práticas Agropecuárias com qualidade satisfatória. Compromete a O ordenhador deve gozar de boa saúde,
pelo produtor rural; qualidade do leite e seus derivados e coloca trabalhar com mãos e roupas limpas, usar
b) promover eventos de difusão e divul- em risco a saúde pública ao considerar que boné e bota e manter unhas aparadas. Além
gação do programa, como palestras, o leite proveniente de animais portadores de limitar-se somente à ordenha, deve ser
seminários, workshops, entre outros; da doença apresenta alto grau de conta- capacitado a realizar testes mais simples
c) capacitar técnicos, produtores, fun- minação, podendo conter enterotoxinas e, como o da caneca telada e do fundo preto e,
cionários e demais envolvidos em principalmente, resíduos de antibióticos. assim, será capaz de identificar e descartar
Boas Práticas Agropecuárias, articu- A manutenção dos registros como con- o leite mastítico ou o animal infectado.
lação com órgãos de extensão rural tagem de células somáticas (CCS), teste da Os animais infectados ou suspeitos
para ampliar a difusão de tecnologia caneca, California Mastitis Test (CMT), ín- devem ser ordenhados em último lugar e,
do PRÓ-BPA destinada aos diversos dices de mastite clínica e subclínica, perfil se necessário, deve ser realizado o descarte
produtores rurais; microbiológico e de resistência a antimi- dos reincidentes para evitar a perda de
d) publicar cartilhas orientativas PRÓ- crobianos, número de lactações, fase da todo o leite. Após a ordenha, os animais
BPA e das legislações vigentes, lactação e produção são importantes para devem ser mantidos por certo período
com interface no programa, e sua análise do rebanho. Assim, será possível em pé, para evitar a entrada de microrga-
aplicabilidade na produção pecuária; estabelecer as prioridades para o controle nismos pelo esfíncter ainda aberto. Uma
e) incentivar a celebração de acordos da mastite contagiosa ou ambiental. das formas é fornecer alimentação logo
e convênios com entidades públicas Os programas de prevenção e controle após a ordenha. Nas propriedades em que
e privadas, para fomento de ações da mastite bovina são essenciais para limi- ordenha é mecânica, as teteiras devem
ligadas ao PRÓ-BPA; tar a prevalência dessa doença e a redução ser higienizadas antes e após a ordenha.
f) articular com os órgãos ambientais, dos impactos econômicos na atividade A troca da solução desinfetante deve ser
trabalhistas e da agricultura nos leiteira. As principais metas de um progra- realizada com frequência e a imersão das
âmbitos federal, estadual e munici- ma de prevenção e de controle incluem a teteiras nesta solução deve ser feita por
pal, a fim de cooperar na difusão e erradicação dos casos de mastites con- tempo adequado. Além disso, deve ser
implementação do PRÓ-BPA, nas tagiosas por Streptococcus agalactiae, feita a regulagem da pressão de sucção
propriedades rurais e em suas áreas o controle de mastites causadas por das teteiras para evitar a ocorrência de
de atuação. Staphylococcus aureus, mantendo baixos microtraumas nos tetos.
os casos de mastite ambiental e as contagens A realização periódica de análises
SANIDADE DO REBANHO: de células somáticas inferiores a 200 mil/mL, microbiológicas do leite tem como objetivo
PREVENÇÃO E CONTROLE menos de 2% de episódios clínicos ao mês auxiliar no diagnóstico de infecções não
Um dos fatores considerados nas boas e 85% das vacas livres de mastite subclí- detectadas por meio dos testes de campo.
práticas de produção de leite é a garantia nica (SOUZA et al., 2007). As principais Uma medida complementar no controle da
da sanidade do rebanho com a implemen- medidas para alcançar estas metas incluem mastite é a prática da vacinação.
tação de um programa de saúde animal. Na o monitoramento dos índices de mastite, o O leite mastítico apresenta alterações
maioria dos países, alguns programas são manejo adequado do rebanho, a fim de evi- em suas características físicas, químicas
oficiais e têm a gestão governamental, a tar que os animais permaneçam em pastos e microbiológicas. As principais modifi-
exemplo da campanha de vacinação contra sujos, o que pode causar lesões aos tetos, cações na composição química incluem o
a febre aftosa no Brasil. Os procedimentos conforto ambiental, tratamento de todas aumento do porcentual de água, cloretos e
de Boas Práticas Agropecuárias relaciona- as vacas no período seco, tratamento dos pH e uma redução nos teores de lactose,
das com a saúde do rebanho leiteiro abran- casos clínicos e um bom funcionamento do cinzas, sólidos totais não gordurosos,
gem a introdução de medidas preventivas sistema de ordenha. As instalações devem gordura e caseína. Alterações físicas dos
de doenças; implantação de um programa possuir controle higiênico-sanitário crite- glóbulos favorecem a atividade das enzi-
de saúde do rebanho e controle de pragas; rioso. Para a produção de leite dentro dos mas lipolíticas. Pode ocorrer alteração da
uso de medicamentos veterinários com padrões de qualidade e em quantidade, a coloração de acordo com o tipo de bactéria
prescrição e capacitação continuada de boa saúde do úbere deve ser considerada e, causadora da doença. O aumento das célu-
manipuladores. para isso, a realização do pré-dipping e do las somáticas no leite mastítico promove
A mastite bovina é causa de conside- pós-dipping é indispensável, considerando aumento da atividade de enzimas proteolí-
ráveis prejuízos econômicos e sanitários que esta prática reduz os casos de mastite ticas e lipolíticas e dano às membranas dos
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 11

glóbulos de gordura, o que favorece a ação Controle de bactérias termorresistência comparável à resistência
de lipases. O aumento da proteólise pode psicrotróficas na térmica das enzimas produzidas por espé-
ser atribuído também ao aumento da con- granelização cies do gênero Pseudomonas (SØRHAUG;
centração de plasmina. Assim, a caseína, O leite, ao ser sintetizado e secretado STEPANIAK, 1997; PINTO, 2004).
por estar em maior concentração no leite, para o lúmen alveolar, encontra-se livre Dentre as bactérias psicrotróficas iso-
constitui o principal substrato e apresenta de microrganismos, porém podem ocorrer ladas de leite e derivados, Pseudomonas
maior suscetibilidade à proteólise. contaminações de diversas naturezas, se é isolada com maior frequência (PINTO,
O uso indiscriminado dos antibióti- não forem seguidas as boas práticas de 2004), embora não representem mais do
cos no tratamento da doença ocasiona produção, processamento, comercialização que 10% da microbiota do leite recém-
resíduos no leite e seus derivados, o que e consumo. A condição sanitária do reba- ordenhado. Espécies desse gênero apre-
representa um risco à saúde pública e nho leiteiro, as boas práticas de higiene sentam um curto tempo de geração, entre
implicações tecnológicas para a indústria durante a ordenha e a conservação do leite 0 ºC e 7 ºC, e uma temperatura mínima
de laticínios. a 4 ºC ou abaixo desta temperatura até o de crescimento de até –10 ºC, além de
Os principais problemas tecnológicos momento do processamento são fatores secretarem proteases extracelulares resis-
observados na indústria de laticínios, asso- importantes para prevenir o desenvolvi- tentes aos tratamentos de pasteurização e
ciados ao uso de leite mastítico, incluem a mento de microrganismos deteriorantes do UHT (SØRHAUG; STEPANIAK, 1997;
leite e derivados e consequentes perdas de PINTO, 2004). Além disso, espécies do
redução da qualidade e do rendimento na
qualidade e econômicas (PINTO, 2004). gênero Pseudomonas spp. produzem com
fabricação de queijos, aumento do tempo
O controle de microrganismos psi- alta frequência protease, lipase e leciti-
de coagulação, a redução da consistência
crotróficos é uma condição crítica para a nase (WIEDMANN et al., 2000). Assim,
do coágulo, defeitos de textura e alterações
obtenção de matéria-prima e derivados de constituem organismos representantes da
sensoriais (SANTOS, 2007).
alta qualidade. Esses microrganismos são microbiota deterioradora, de particular
capazes de multiplicar a 7 °C ou menos, preocupação para a indústria de laticínios e
GRANELIZAÇÃO DO LEITE CRU
independentemente de sua temperatura de alimentos, especialmente P. fluorescens.
A implementação da Instrução Norma- Não existe no Brasil, ainda, uma
ótima de crescimento por possuírem me-
tiva no 51, de 18/9/2002 (BRASIL, 2002), regulamentação específica sobre a qua-
canismos específicos de adaptação ao frio
constituída pelos regulamentos técnicos lidade microbiológica da matéria-prima
(PINTO; MARTINS; VANETTI, 2007).
sobre produção, identidade e qualidade dos destinada à fabricação de produtos lác-
Muitas espécies desse grupo sintetizam
diversos tipos de leite no País, bem como teos específicos. Entretanto, o conheci-
enzimas deteriorantes proteolíticas e lipolí-
a coleta e o transporte a granel do leite cru mento da qualidade microbiológica do
ticas termorresistentes, as quais ocasionam
refrigerado, tem contribuído para o alcance leite cru permite predizer a qualidade
a redução da qualidade e a vida de prateleira
de novos mercados para o leite brasileiro e de produtos lácteos subsequentemente
do leite termicamente tratado e de produtos
sustentabilidade da produção. Entretanto, manufaturados.
lácteos fabricados com leite contaminado
alguns pontos devem ser considerados para (PINTO, 2004). Essa microbiota inclui espé-
prevenir o comprometimento da qualidade CONSIDERAÇÕES FINAIS
cies de bactérias Gram-negativas dos gêneros
do leite cru e, em consequência, dos seus Pseudomonas, Achromobacter, Aeromonas, A produção de leite é considerada
derivados. Serratia, Alcaligenes, Burkholderia, uma atividade relevante para os diversos
As temperaturas de refrigeração reco- Chromobacterium e Flavobacterium elos de sua cadeia, ou seja, produtores,
mendadas para o armazenamento do leite e bactérias Gram-positivas dos gêneros transportadores, industriais, comerciantes e
na fonte de produção, apesar de inibirem Bacillus, Clostridium, Corynebacterium, consumidores. Ao considerar as diferentes
o crescimento de bactérias mesófilas Streptococcus, Lactococcus, Leuconostoc, categorias de produtores, são necessárias
acidificantes, permitem o crescimento de Lactobacillus e Microbacterium spp. Den- a elaboração e a atualização constantes
bactérias psicrotróficas além da produção e tre os microrganismos que sobrevivem à de políticas coerentes, que permitam sua
atividade de suas enzimas (PINTO, 2004). pasteurização, espécies do gênero Bacillus adequação às condições de produção, para
Assim, alguns aspectos são considerados são predominantes, especialmente Bacillus a melhoria da qualidade e sustentabilidade
críticos no processo de granelização como licheniformis e Bacillus cereus. Espécies da cadeia produtiva do leite no País.
utilização de tanques de refrigeração cole- do gênero Bacillus são associadas à ocor-
tivos, tempo de refrigeração, higienização AGRADECIMENTO
rência de defeitos sensoriais em leite UHT
dos equipamentos e utensílios e tempera- durante a vida útil por secretarem protea- Ao colega Prof. Adbeel de Lima Santos
tura máxima do leite na propriedade rural. ses, lipases e fosfolipases extracelulares de (in memoriam).
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12 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

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14 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Padrões de identidade e qualidade para leites fluidos


tipos A, B e leite pasteurizado
Carlos Henrique Fonseca 1

Resumo - Torna-se necessária a percepção da qualidade do processo produtivo do leite


nos elos de produção primária e da indústria, a partir do marco regulatório dos Padrões
de Identidade e Qualidade (PIQ), para leites fluidos in natura refrigerados e leite pasteu-
rizado. A composição do leite é determinante para o estabelecimento de sua qualidade
nutricional e aptidão para processamento e consumo humano. O leite in natura resfria-
do agrega mais valor econômico, comparado ao leite cru não resfriado, com aproveita-
mento maximizado na indústria em termos de maquinabilidade de processos e com um
custo menor. No processo produtivo do leite fluido, os principais avanços técnicos, até
o momento, decorrentes da Instrução Normativa no 51, foram: a) estabelecimento dos
parâmetros para o resfriamento de leite recém-ordenhado; b) transporte frigorificado do
leite cru a granel; c) contagem de células somáticas (ccs); d) novos limites da contagem
bacteriana; e) obrigatoriedade do programa de educação continuada; f) avaliação da
qualidade intrínseca do leite na Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qua-
lidade do leite; g) sanidade do rebanho leiteiro e da propriedade; h) implantação das
boas práticas agropecuárias. Um processo produtivo que prima pela qualidade tem que
monitorar as múltiplas dimensões da qualidade do leite in natura.

Palavras-chave: Leite. Qualidade do leite cru. Padronização. Legislação.

INTRODUÇÃO tivo do leite nos elos de produção primária No úbere são sintetizadas a caseína
e da indústria, a partir do marco regulatório e as proteínas do soro lácteo – alfa-
Obter alimentos nutritivos, saudáveis e
do Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) lactoalbumina e beta-lactoglobulina –, as
inócuos, produzidos de forma sustentável
estabelecido para leites fluidos in natura quais provêm de aminoácidos essenciais
e competitiva, é uma demanda crescente
refrigerados e leite pasteurizado. e não essenciais do sangue e representam
da sociedade. Não basta que os alimentos,
A composição do leite é determinante cerca de 90% da proteína total do leite; os
como o leite fluido, estejam disponíveis para
para o estabelecimento da sua qualidade outros 10% são formados por albumina e
consumo em quantidade. Como alimento de
nutricional e aptidão para processamento e globulinas séricas.
alto consumo per capita e de elevado valor consumo humano. O leite, biossintetizado De conteúdo diretamente ligado ao
nutricional, é necessário que o leite e seus na glândula mamária sob controle hormonal, volume do leite produzido, a lactose, um
derivados apresentem qualidade nos aspec- é composto por uma mistura complexa e dissacarídeo formado por glicose e galac-
tos microbiológicos, reológicos e sensoriais. heterogênea de substâncias na água, o seu tose, corresponde a 52% do extrato seco
Para isso, os animais devem estar livres maior componente centesimal (Fig. 1). A desengordurado (ESD) e é o componente
de enfermidades, ser criados em ambiente proteína caseína combina quimicamente mais estável do leite. A lactose, as prote-
limpo e capaz de atender suas necessidades diversos aminoácidos que contêm carbono ínas solúveis em água, os sais minerais
nutricionais e de conforto, para a produção (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio e as vitaminas hidrossolúveis formam
de um leite de alta qualidade nutritiva e (O), enxofre (S) e fósforo (P). Ligada ao cál- uma solução. O leite também é rico em
seguro de impurezas (ESTRELA, 2001). cio (Ca2+) e ao P, a caseína forma pequenas minerais, porém, é um alimento pobre em
O objetivo deste trabalho foi revisar a micelas em suspensão coloidal com os gló- ferro (Fe). O conjunto desses e de muitos
percepção da qualidade do processo produ- bulos de gordura e vitaminas lipossolúveis. outros constituintes – em torno de 100 mil

1
Engo Alimentos, D.Sc., Pesq./Prof. Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, BR 040, km 796, Salvaterra, CEP 36045-410
Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: bromatologiasuprema@gmail.com

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indústria. Produtores que se diferenciaram [...] qualidade é o fator de decisão


pela qualidade na obtenção higiênica do básico mais importante para a garantia
leite adotam as boas práticas agropecuárias consistente da confiança dos clientes
na propriedade rural e realizam o transporte nos produtos da marca.
criterioso do leite até o beneficiamento. Assim, para atender à demanda por
A indústria paga o leite por qualidade, lácteos seguros e nutritivos, produzidos de
a partir de indicadores como, contagem modo sustentável e mantendo-se a compe-
total de bactérias, contagem de células titividade da indústria torna-se necessário
somáticas (CCS) e teor de proteínas e gor- avaliar a conformidade do leite oferecido,
dura. Tal comportamento do mercado vem assegurando o atendimento dos requisitos
incentivando e contribuindo para a constru- normativos preestabelecidos na década
ção de um diferencial em prol da melhor de 1950, posteriormente atualizados pelo
qualidade do leite cru. Ou seja, ganha o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
produtor, ganha o laticínio e, certamente, tecimento (MAPA).
ganha o consumidor, com produtos de alta Ao avaliar compulsoriamente a con-
Figura 1 - Leite fluido qualidade, rastreados, inócuos e seguros. formidade do leite, a autoridade sanitária
FONTE: Stock.xchng (2009?). A granelização do leite estabelecida visa proteger e defender o consumidor
pela Instrução Normativa no 51, de 18 de dos agravos à saúde. Quando voluntária,
setembro de 2002 (BRASIL, 2002) fez sur- a avaliação da qualidade torna-se uma
componentes distintos, cuja grande maioria gir a necessidade de os laticínios manterem ferramenta de desenvolvimento industrial,
ainda não foi identificada, forma a emulsão sistemas de avaliação da conformidade passando a ser um diferencial competitivo.
denominada leite (SCHALM; CARROL; por atributos de qualidade preestabeleci- Para avaliação da conformidade na
JAIN; 1971; SILVA, 2008; SANTOS; dos, em função do valor que agregam na indústria, o Instituto Nacional de Metrolo-
FONSECA, 200-). fabricação do mix de derivados lácteos. A gia, Normalização e Qualidade Industrial
Por ser um dos alimentos mais com- indústria remunera o produtor pela qua- (Inmetro) enfatiza a necessidade de obter
pletos em termos nutricionais e funda- domínio científico e tecnológico para redu-
lidade microbiológica do leite e também
mentais para dieta humana, a discussão zir as barreiras tarifárias, cedendo espaço
pelos diferenciais na sua composição de
sobre qualidade e identidade do leite às barreiras tecnológicas. A qualidade do
nutrientes.
é um tema sempre atual, que envolve leite que chega à indústria é determinada
A estabilidade do leite ao processamen-
autoridades sanitárias da área de saúde pela qualidade inicial do leite que sai da
to e o seu teor de nutrientes como gordura,
e técnicos. Pela sua composição, o leite propriedade rural, refletindo o cuidado
proteínas e lactose o direcionam na indús-
constitui um excelente substrato para o (e a falta deste) no manejo e na obtenção
tria, permitindo o cálculo das cifras de
desenvolvimento de uma grande diver- higiênica. O processamento assegura os
rendimento dos produtos (kg de leite/kg de
sidade de microrganismos, inclusive os atributos de qualidade intrínseca do leite
produto), que serão fabricados no laticínio.
patogênicos relacionados com surtos de original recebido na plataforma e não traz,
A compatibilidade das características de
doenças de origem alimentar, o que im- per si, a possibilidade da melhoria dessa
qualidade intrínseca do leite fluido remune-
plica em rigoroso controle dos parâmetros qualidade.
de qualidade intrínseca. ra melhor o produtor e promove melhoria
Azeredo (2000) analisou as regras
A refrigeração do leite cru na fonte contínua de qualidade e produtividade na reguladoras das relações de sistemas
de produção beneficia os produtores, por indústria e entre seus parceiros comerciais agroindustriais. Os diferentes arranjos
reduzir perdas por acidificação e o risco de (BRASIL, 2002; MAFUD et al., 2007; institucionais pesquisados impactaram
doenças, preservando a higidez do leite. O INMETRO, 2004). fortemente a eficiência de um determinado
leite in natura resfriado agrega mais valor sistema por suas características intrínsecas
econômico, comparado ao leite cru não res- BUSCA PELA QUALIDADE aos produtos agrícolas e à relação entre
DO LEITE: DO CAMPO ATÉ A
friado, tendo aproveitamento maximizado os produtores e a agroindústria. Verificou
INDÚSTRIA
na indústria em termos de maquinabilidade que ao disciplinar o comportamento dos
de processos e com um custo menor. A qualidade é essencialmente o atendi- participantes de um sistema agroindustrial
No segmento de produção primária, é mento a requerimentos, tanto de serviços estabelecendo regras, coordena-se melhor
necessário aumentar a eficiência, a eficá- como de produtos, influenciando na aceita- as ações do que quando se utilizava o sis-
cia e a profissionalização para melhorar bilidade pelo consumidor. Brandão (2006) tema de preços, gerando maior eficiência
a qualidade do leite cru que chega até a enfatiza que: e competitividade do negócio.
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A qualidade do leite cru é influenciada acidez, porcentual de gordura, índice ASPECTOS TECNOLÓGICOS
por fatores associados ao manejo, alimen- crioscópico e ESD. O leite de qualidade E PADRONIZAÇÃO: MARCO
tação, obtenção e armazenagem do leite, tem que apresentar características sen- REGULATÓRIO
além do potencial genético dos rebanhos soriais, nutricionais, físico-químicas e O marco legal que regulamenta a iden-
(BRASIL, 1996). microbiológicas estabelecidas no PIQ, tidade para produtos da cadeia produtiva do
Assim, o controle da qualidade do tais como: sabor agradável, valor nutritivo leite fluido é apresentado no Quadro 1 (1950
leite não pode estar restrito à prevenção elevado, ausência de patógenos e outros a 1998) e no Quadro 2 (1999 a 2006). No
de adulterações do produto in natura, contaminantes, reduzida a CCS e baixa final dos anos 90, foi criado o Programa
com base na determinação da densidade, carga microbiana. Nacional de Melhoria da Qualidade do

QUADRO 1 - Marco legal de identidade de produtos lácteos fluidos - 1950 a 1998 (continua)
Legislação Dispositivo Ações
(2)
Lei no 1.283, de Inspeção industrial e sanitária dos Fiscalização das usinas de beneficiamento, fábricas de laticínios, postos
18/12/1950 produtos de origem animal, entre de recebimento, refrigeração e desnate do leite ou manipulação dos seus
estes, leite e seus derivados. derivados e nos entrepostos.
Proíbe duplicidade de fiscalização industrial e sanitária em qualquer esta-
belecimento industrial/entreposto de produtos de origem animal.
(2)
Decreto no 30.691, Aprova o novo Regulamento da Fiscalização dos produtos de origem animal comercializados interestadual
de 29/3/1952 Inspeção Industrial e Sanitária de ou internacionalmente.
Produtos de Origem Animal. Inspeção de propriedades rurais fornecedoras de matérias-primas, destinadas
ao preparo de produtos de origem animal, e estabelecimentos que recebem
o leite e seus derivados, para beneficiamento ou industrialização.
Instalação da Inspeção Federal permanente nos estabelecimentos que rece-
bem e beneficiam leite destinado ao consumo público.
Define o Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) do leite, funcionamento
dos estabelecimentos, rotulagem e classificação do leite quanto à finalidade,
à espécie produtora, ao teor de gordura e ao tratamento.
(2)
Decreto-Lei no 923, Dispõe sobre comercialização do Proíbe a venda de leite cru para consumo direto da população exceto em
de 10/10/1969 leite. regiões não abastecidas permanentemente com leite beneficiado.
(2)
Decreto no 66.183, Regulamenta o Decreto-lei no 923, Estabelece regras para comércio de leite cru em regiões não abastecidas com
de 5/2/1970 de 10/10/1969. o leite beneficiado.
(1)
Resolução no 16, de Estabelece que o leite é produto Considera como produtos perecíveis, produtos alimentícios, in natura,
2/6/1978 perecível. semipreparados ou preparados para o consumo que, por sua natureza ou
composição, necessitam de condições especiais de temperatura para a sua
conservação.
(2)
Portaria no 5, de Aprova os Critérios de Inspeção do Relaciona cada produto de laticínio com seus possíveis destinos, conforme
7/3/1983 leite e produtos lácteos, em estabe- as condições em que se encontram.
lecimentos de laticínios registrados
no Serviço de Inspeção Federal/
SIPA - MA.
(2)
Portaria no 124, de Aprova os Métodos Analíticos Qua- Determina o emprego em todas as atividades desenvolvidas pela rede ofi-
23/9/1991 litativo e Quantitativo de Detecção cial do sistema coordenado pela Divisão de Laboratório Animal (DLA), do
de Soro em Leite, o material e a Departamento Nacional de Defesa Animal (DNDA).
interpretação dos resultados.
(2)
Portaria no 101, de Aprova métodos analíticos para con- Determina o emprego de métodos microbiológicos na rede oficial do siste-
11/8/1993 trole de produtos de origem animal ma coordenado pela Coordenação Geral de Laboratório Animal (CGLA), do
e ingredientes. Departamento de Defesa Animal (DDA).
(2)
Decreto no 1.812, de Altera o Decreto no 30.691/52 que Aprova métodos de processamento do leite e seus derivados, entre eles o
8/2/1996 aprovou o Regulamento da Inspeção soro de leite.
Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal.

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 17

(conclusão)
Legislação Dispositivo Ações
(2)
Portaria no 146, de Aprova os Regulamentos Técnicos Define leite UAT.
7/3/1996 de Identidade e Qualidade dos Pro- Define leite fluido a granel de uso industrial.
dutos Lácteos, entre eles: (...) e leite
fluido a granel de uso industrial e
UAT.
(2)
Decreto no 2.244, de Altera o Decreto no 30.691/52 que Nova definição de leite UAT.
4/6/1997 aprovou o Regulamento da Inspeção
Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal.
(1)
Portaria no 370, de Aprova a inclusão do citrato de só- Estabelece a utilização de citrato de sódio em quantidade não superior a
4/9/1997 dio no Regulamento Técnico para 0,1 g/100 mL.
Fixação de Identidade e Qualidade
do Leite UAT.
(1)
Portaria no 451, de Aprova o Regulamento Técnico Prin- Determina que o leite e demais alimentos lácteos estejam, obrigatoriamente,
19/9/1997 cípios Gerais para o Estabelecimento sujeitos ao controle microbiológico.
de Critérios e Padrões Microbiológi- Estabelece limites e tolerância de microrganismos aos tipos de leite.
cos para Alimentos.
(2)
Portaria no 46, de Institui o Sistema de Análise de Aprova o Manual Genérico de Procedimentos.
10/2/1998 Perigos e Pontos Críticos de Contro- Define o APPCC
le a ser implantado nas indústrias Define os aspectos de garantia da qualidade e integridade econômica.
de produtos de origem animal sob
o regime do Serviço de Inspeção
Federal - SIF.
(2)
Ofício Circular no 4, Padroniza os Critérios Operacionais Define o número de visitas do fiscal em estabelecimentos de leite e derivados.
de 8/4/1998 do Serviço de Inspeção Federal.
(1)
Portaria no 685, de Aprova o Regulamento Técnico que Aprova o Regulamento Técnico: "Princípios Gerais para o Estabelecimento
27/8/1998 estabelece níveis máximos de con- de Níveis Máximos de Contaminantes Químicos em Alimentos".
taminantes químicos em alimentos, Aprova “Limites máximos tolerância para contaminantes inorgânicos”.
entre estes, o leite.
(1)Disponível em: <http://portal2.saude.gov.br/saudelegis/leg_norma_pesq_ consulta.cfm>. Acesso em: 20 mar. 2011. (2)Disponível em:
<http://extranet. agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=abreLegislacaoFederal&chave=50674&tipoLegis=A>. Acesso
em: 20 mar. 2011.

Leite (PNMQL), uma política pública com Posteriormente à aprovação do Riispoa, do a espécie da qual proceda”. (BRASIL,
base em padrões de qualidade e melhoria pelo Decreto no 30.691, de 29 de março de 1952; BRASIL, 1996).
da fiscalização dos processos de industria- 1952 (BRASIL, 1952), foi editada a Porta- A Instrução Normativa n o 51, de
lização de leite e derivados. O Programa ria no 146, de 7/3/1996 (BRASIL, 1996), 18/9/2002 (BRASIL, 2002) aprovou,
buscou oferecer produtos com melhor nível que aprovou 12 Regulamentos Técnicos dentre outros, os Regulamentos Técnicos
sanitário para o mercado nacional e am- de Identidade e Qualidade dos Produtos de Produção, Identidade e Qualidade do
pliou a participação brasileira no mercado Lácteos. Dentre estes, no Regulamento Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite
internacional. Técnico de Identidade e Qualidade de tipo C e do Leite Cru Refrigerado, nos
O Regulamento de Inspeção Industrial Leite Fluido a Granel, o leite foi definido, quais leite foi definido de forma similar
e Sanitária de Produtos de Origem Animal sem especificar a espécie animal, como à Portaria no 146 de 7/3/1996 (BRASIL,
(Riispoa) estabelece que o leite não pode sendo: 1996):
ser adicionado de substâncias não permi- entende-se por leite, sem outra especi-
o produto obtido da ordenha completa
tidas, o que caracteriza a sua adulteração ficação, o produto oriundo da ordenha
e ininterrupta em condições de higiene,
intencional como fraude. Behmer (1999) completa e ininterrupta, em condições
de vacas leiteiras sãs, bem alimentadas
ressalta que a composição do leite in natura de higiene, de vacas sadias, bem ali-
e em repouso.
depende de condições raciais, individuais, mentadas e descansadas. O leite de
alimentares e climatéricas, no momento da O texto enfatiza ainda que “o leite de outros animais deve denominar-se
análise na indústria. outros animais deve denominar-se segun- segundo a espécie de que proceda.

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18 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

QUADRO 2 - Marco legal de identidade de produtos lácteos fluidos - 1999 a 2006.


Legislação Dispositivo Ações
(2)
Instrução Normativa Aprova os programas de controle Aprova o Programa de Controle de Resíduos Biológicos em Produtos de
no 3, de 22/1/1999 de resíduos biológicos em produtos Origem Animal.
de origem animal, entre eles o leite. Determina os níveis de tolerância máximos para resíduos biológicos, clas-
sificando substâncias, estipulando métodos analíticos, entre outros.
(2)
Instrução Normativa Altera a Instrução Normativa no 3, Altera o Programa de Controle de Resíduos em Leite (PCRL).
no 42, de 20/12/1999 de 22/1/1999.

(1)
Resolução RDC no 12, Aprova o Regulamento Técnico Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para ali-
de 2/1/2001 sobre padrões microbiológicos para mentos.
alimentos. Aprimora ações de controle sanitário em alimentos.
(2)
Instrução Normativa Institui a Rede Brasileira de Labora- Define, como objetivo da RBQL, realizar análises laboratoriais para fisca-
no 37, de 18/4/2002 tórios de Controle da Qualidade do lização de amostras de leite cru, recolhidas em propriedades rurais e em
Leite - RBQL estabelecimentos de laticínios.
(2)
Instrução Normativa Aprova os Regulamentos Técnicos Aprova os Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade
no 51, de 18/9/2002 de Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo A, B, C, do leite pasteurizado e do leite cru.
do leite. Aprova o regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu
transporte a granel.
(2)
Instrução Normativa Regulamenta a Instrução Normati- Aprova o Estatuto do Conselho Consultivo Rede Brasileira de Laboratórios
no 59, de 4/11/2002 va no 37, de 18/4/2002, instituída de Controle da Qualidade do Leite (RBQL).
por meio da Instrução Normativa Aprova o Regimento da RBQL.
no 37/2002.
(2)
Portaria n o 78, de Aprova os Programas para o Controle Estabelece os limites dos resíduos de certas drogas em carne, mel, leite e
19/12/2002 de Resíduos em carne, mel, leite e pescado para o exercício de 2003.
pescado para o exercício de 2003. Estabelece métodos analíticos para detecção dos resíduos.
(2)
Instrução Normativa Aprova Métodos Analíticos Oficiais Determina a utilização do Sistema de Laboratório Animal do Departamento
no 22, de 14/4/2003 Físico-Químicos para controle de de Defesa Animal para o controle de leite e derivados.
leite derivados.
(2)
Resolução n o 8, de Determina que a colheita e a remessa Estabelece que a coordenação das ações de colheita e remessa de amos-
16/4/2003 de amostras de produtos lácteos se- tras de produtos lácteos seja executada por servidor integrante da equipe
jam executadas pelo Serviço de Ins- técnica de auditores do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem
peção de Leite e Derivados (Selei). Animal (Dipoa).
(2)
Resolução no 10, de Institui o Programa Genérico de Determina que o PPHO seja utilizado nos estabelecimentos de leite e deri-
22/5/2003 Procedimento-Padrão de Higiene vados sob o regime de Inspeção Federal, como etapa preliminar e essencial
Operacional (PPHO). dos Programas de Segurança Alimentar do tipo APPCC.
(2)
Instrução Normativa Aprova os Métodos Analíticos Ofi- Determina os procedimentos para fazer diluições e soluções; preparo, pe-
no 62, de 26/8/2003 ciais para análises microbiológicas sagem e descarte de amostra; contagem de colônias; emissão do resultado
para controle de produtos de origem obtido, entre outros de uso nas análises microbiológicas.
animal, entre eles o leite e a água.
(2)
Instrução Normativa Oficializa os Métodos Analíticos Ofi- Determina utilização dos Laboratórios Nacionais Agropecuários para con-
no 68, de 12/12/2006 ciais Físico-Químicos, para controle trole de leite e produtos lácteos.
de leite e produtos lácteos. Preparo de soluções, diluições, amostras, metodologias analíticas, interpre-
tação de resultados e outras recomendações gerais.
Instrução Normativa Institui critério de avaliação da qua- Determina o uso do método CMP para verificar se houve falsificação do
(2)

no 69, de 13/12/2006 lidade do leite in natura com base leite por adição de soro.
no método analítico oficial físico- Estabelece o limite de até 30 mg/L para índice de CMP para destinação do
químico - “Índice CMP” (índice de leite para abastecimento direto.
caseinomacropeptídeos).
(1)Disponível em: <http://portal2.saude.gov.br/saudelegis/leg_norma_pesq_ consulta.cfm>. Acesso em: 20 mar. 2011. (2)Disponível em:
<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto. do?method=abreLegislacaoFederal&chave=50674&tipoLegis=A>. Acesso
em: 20 mar. 2011.

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 19

A substituição do termo “sãs” e da para orientar a busca pela qualidade do chamado UHT. O primeiro, é o leite
expressão “em repouso” presentes na Por- leite produzido na região de Franca e no higienizado, resfriado e mantido a 5 °C;
taria no 146 de 7/3/1996 (BRASIL, 1996) Brasil. Foi identificada a comercialização submetido, opcionalmente, à termização
por “sadias” e “descansadas”, na Instrução clandestina de leite por produtores à mar- (pré-aquecimento), pasteurização e/ou
Normativa no 51 de 18/9/2002 (BRASIL, gem das exigências do PNMQL, o que padronização da matéria gorda, transpor-
2002), condiz com a Declaração Universal sinaliza a necessidade de investimentos e tado em volume de um estabelecimento
dos Direito dos Animais (UNESCO, 1987) modificações administrativas nos serviços industrial de produtos lácteos habilitado
em seu Art. 3o: nenhum animal deverá ser de inspeção, para atender níveis de qua- a outro, a ser processado, e que não seja
submetido a maltrato e a atos cruéis e Art. 9o: lidade desejada mais rigorosos e que se- destinado diretamente ao consumidor final.
guem critérios preestabelecidos tanto pela A coleta e o transporte a granel do leite
no caso do animal ser criado para servir
autoridade sanitária como pela indústria refrigerado entraram em vigor em julho de
de alimentação, deve ser nutrido, aloja-
(BRASIL, 2002). 2005, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-
do, transportado e morto sem que para
Ao definir leite cru refrigerado e leite Oeste e, a partir de julho de 2007, nas regiões
ele resulte ansiedade ou dor.
pasteurizado, a Instrução Normativa no 51, Norte e Nordeste, levando-se em conta as
A Instrução Normativa no 51 denota a de 18/9/2002 (BRASIL, 2002) fixou tam- diferenças regionais no estádio de desen-
preocupação do MAPA quanto à ambiência bém os padrões sanitários para a produção, volvimento da atividade (BRASIL, 1996;
e bem-estar animal e reforça a posição do identidade, qualidade, coleta e transporte RUBIA PERIN; VELLOSO FERREIRA;
Brasil como signatário da Declaração Uni- do leite pasteurizado tipos A, B e C e do TALAMINI, 2009).
versal dos Direitos dos Animais, proclama- leite cru refrigerado. Leite UAT é o leite homogeneizado
da pela Unesco, em 1978 (UNESCO, 1978). O leite tipo A é produzido em granja submetido, durante 2 a 4 segundos, a
Ao se estabelecerem padrões mínimos leiteira e pasteurizado no próprio local da uma temperatura entre 130 °C e 150 °C,
de qualidade, a partir da padronização de ordenha, sob rígido controle de qualidade mediante um processo térmico de fluxo
produtos e serviços da indústria, dificulta-se e higiene. O leite pasteurizado tipo A pre- contínuo, imediatamente resfriado a uma
a ação da concorrência que não está preocu- cisa ser distribuído para consumo em até temperatura inferior a 32 °C e envasado
pada com a qualidade dos produtos e/ou com 12 horas após a ordenha ou até 18 horas, sob condições assépticas em embalagens
a saúde do consumidor. A avaliação da con- se o produto for mantido à temperatura estéreis e hermeticamente fechadas. De
formidade do leite pelo perfil de identidade reduzida. acordo com o teor de gordura (% m/v), o
e conforme limites preestabelecidos para a O leite tipo B in natura é produzido em leite UAT dos tipos A, B e C é classificado
qualidade intrínseca permite que a indústria estábulo ou instalação apropriada, podendo em: integral (mín. 3,0), semi ou parcial-
aumente a credibilidade da marca, ofertando ser refrigerado no local da ordenha e, nesse, mente desnatado (0,6 a 2,9) e desnatado
leite e derivados mais seguros ao consumi- mantido por até 48 horas em temperatura (máx. 0,5), como apresentado no Quadro 3.
dor, o que direta ou indiretamente acaba por igual ou inferior a 4 oC. Pode ser pasteuri- Para o Centro de Inteligência do Leite
ampliar a sua participação no mercado. zado no local da ordenha, de forma lenta ou (CILEITE, 2011), sediado em Juiz de Fora,
Em maio de 1998, após algumas de curta duração, seguida de resfriamento MG, existem nove tipos de leite comercia-
melhorias nos padrões de qualidade do imediato à temperatura igual ou inferior lizados atualmente no Brasil. As categorias
leite cru foi oficializado o PNMQL, pos- a 4 oC ou ser transportado para a usina de principais são:
teriormente regulamentado pelo MAPA na beneficiamento. a) leites UAT (integral, semidesnatado
Instrução Normativa no 51, de 18/9/2002 O leite tipo C é produzido em fazendas e desnatado);
(BRASIL, 2002). leiteiras, cujos rebanhos são inspecionados b) leites enriquecidos com vitaminas
Milinsk e Ventura (2010) perceberam periodicamente, e é beneficiado na usina A (retinol), B3 (nicotinamida), B6
diferença de percepção na visão de fun- em até 12 horas após a ordenha ou, se (piridoxina), B9 (ácido fólico), B12
cionários oficiais do Serviço de Inspeção estiver resfriado, poderá ser beneficiado (cobalamina), C (ácido ascórbico),
Municipal (SIM), Serviço de Inspeção de em um prazo maior. O leite é filtrado D3 (colecalciferol) e E (tocoferol)
São Paulo (SISP) e Serviço de Inspeção antes de ser beneficiamento. Deverá ser e/ou fortificados com ácidos graxos
Federal (SIF), com relação às mudanças pasteurizado no máximo até 5 horas após poli-insaturados do tipo ômega 3 e
ocorridas na fiscalização dos laticínios da o recebimento, e não pode conter aditivos ômega 6;
região de Franca, SP, após a implantação químicos para sua conservação (BRASIL, c) leites considerados alimento fonte
do PNMQL. As diferenças principais es- 2002). de Ca e de Fe;
tavam relacionadas com as competências A legislação brasileira distingue leite d) leite com baixo teor de lactose;
de fiscalização da qualidade do leite indus- fluido a granel de uso industrial do leite e) leite enriquecido com fibras (FOS),
trializado. O PNMQL trouxe parâmetros ultra-alta temperatura (UAT), também como a inulina e goma guar.
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QUADRO 3 - Requisitos físico-químicos limítrofes para o leite fluido


Semi ou
Requisito A granel Integral parcialmente Desnatado Método de referência
desnatado
Matéria gorda (g/100 mL) 3,0 (mínimo) 3,0 (mínimo) 6,0 a 2,9 0,5 (máximo) Norma FIL IC: 1987

Densidade (a 15° C) 1,028 a 1,034 NE NE NE Norma AOAC 925.22: 15 ed.

Acidez (g ácido láctico/100 mL) 0,14 a 0,18 0,14 a 0,18 NE 0,14 a 0,18 Norma AOAC 947.0: 15 ed.

Estabilidade ao etanol 68% (v/v) NE Estável Estável Estável Norma FIL 48: 1969

Extrato seco desengordurado (g/100) 8,2 (mínimo) 8,2 (mínimo) 8,3 (mínimo) 8,4 (mínimo) Norma FIL 21B: 1987

Índice crioscópico -0,512° C (máximo), NE NE NE Norma FIL 108 A: 1


equivalente a -0530° H.
FONTE: Brasil (1996).
NOTA: NE - Valor não estabelecido pela Portaria no 146, de 7 de março de 1996 (BRASIL,1996); FIL - Federação Internacional de Laticínios;
AOAC - Association of Official Agricultural Chemists.

Os leites fluidos com finalidades es- por exemplo, no leite fluido pasteurizado Pinha, Carvalho e Travassos (2010)
peciais seguem legislações específicas da (CARVALHO; LEITE; SIQUEIRA, 2009; tomaram por base o salário mínimo, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária DIEESE, 2009, 2010). inflação e a cesta básica calculada pelo
(Anvisa). Os produtos lácteos e demais Em se tratando dos efeitos da implan- Departamento Intersindical de Estatísticas
alimentos com alegação de propriedade tação dos PIQs, para leites fluidos tipos e Estudos Socioeconômicos (Dieese), para
funcional são avaliados pela Comissão A, B e leite pasteurizado, é importante São Paulo e Belo Horizonte entre 2000 e
de Assessoramento Tecnocientífico em lembrar que a qualidade possui dimensões 2009. Esses autores verificaram que o po-
Alimentos Funcionais e Novos Alimen- distintas, a saber: der de compra nas duas capitais aumentou
tos (CTCAF), que utiliza critérios que a) desempenho; de 68% e 56%, respectivamente.
se baseiam em evidências estritamente Ao comparar a oferta e o consumo de leite
b) características secundárias;
científicas para a avaliação dos produtos, no mesmo período (2000/2009), ocorreu um
c) confiabilidade;
oferecendo ao consumidor a garantia da aumento no consumo aparente per capita de
d) conformidade;
segurança do alimento consumido. leite. A produção de leite somada com a im-
e) durabilidade;
portação e subtraída da exportação aumentou
f) atendimento;
REQUISITOS PARA A 18%, passando de 124 litros/habitante para
g) estética;
QUALIDADE DO LEITE 146,8 litros/habitante, isso no cenário da
h) qualidade percebida.
crise mundial de alimentos e da economia
Dentre essas dimensões, a conformida- em 2009. Quase todos os derivados lácteos
Percepção de qualidade do
de está relacionada com o grau com que os registraram aumento de vendas em 2009,
leite pelo consumidor
produtos e serviços atendem a padrões es- mantendo a tendência em 2010 (DIEESE,
A migração de 31,5 milhões de brasi- tabelecidos e, por isso, está muito ligada ao 2010).
leiros das classes D e E para a classe C, cumprimento de normas e especificações.
ocorrida entre 2005 e 2009, em virtude de A qualidade na cadeia produtiva do Regulamentação da
uma melhor distribuição de renda, impac- leite fluido, assim como na produção de produção de leite fluido e a
tou significativamente o poder de compra outros alimentos, associa conformidade Instrução Normativa n o 51
da população. Concomitantemente, o à confiabilidade, permitindo quantificar, Ao regulamentar a produção, identida-
consumo de lácteos no Brasil acompanhou com certa objetividade, a qualidade dos de, qualidade, coleta e transporte do leite
o crescimento da renda, modificando a processos envolvidos, tendo menos pro- cru refrigerado e dos leites A, B e leite
composição da dieta alimentar, pobre em babilidade de refletir preferências pessoais pasteurizado, a Instrução Normativa no 51,
proteínas, para uma dieta rica em proteínas (FEIGENBAUM, 1994; CHAVES, 1997; de 18/9/2002 (BRASIL, 2002) revela a
lácteas, de alto valor biológico, presentes GARVIN, 2002). percepção e a preocupação quanto ao nível

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de qualidade ou à falta dela na cadeia do ambiência, controle de pragas, potabilidade locais e culturais, quando se considera a
leite, por parte dos técnicos do MAPA que da água da ordenha, cuidados de higiene dimensão do território brasileiro.
regulam os produtos de origem animal no com o animal antes da ordenha, eliminação Rubia Perin, Velloso Ferreira e Tala-
Brasil. dos resíduos de esterco e sujeiras, organiza- mini (2009) analisaram a percepção da
Ocorreram inúmeras mudanças em ção, adequação e limpeza dos vasilhames qualidade do processo produtivo do leite
diferentes níveis de implantação da Instru- e equipamentos, o resfriamento do leite e nos elos da produção primária (54 produ-
ção Normativa no 51, em todas as regiões o aprimoramento dos hábitos de higiene tores) e em duas indústrias situadas no Rio
do País. Dentre essas, o estabelecimento pessoal (SENAI, 2011). Grande do Sul, RS, a partir da identificação
dos parâmetros para o resfriamento de das características de conformidade da
leite recém-ordenhado; o transporte fri- Qualidade na cadeia do produção primária leiteira com base na
gorificado do leite cru para a usina de leite fluido: percepção Instrução Normativa no 51.
institucional, do produtor e
beneficiamento; a contagem de células A indústria de laticínios foi o segundo
da indústria
somáticas; os novos limites da contagem segmento alimentício no Brasil a adotar o
bacteriana e a obrigatoriedade do progra- Em 2002, a OMS adotou a meta de Programa de Análise de Perigos e Pontos
ma de educação continuada dos partici- reduzir o impacto social e de saúde das Críticos de Controle (APPCC), ainda na
pantes permitiram monitorar a qualidade enfermidades de transmissão alimentar década de 1990. Em 1998, o PAS – uma
do leite in natura. dentro da estratégia global para a ino- iniciativa da Confederação Nacional da
O produtor rural, o profissional cuidade dos alimentos, visando atingir Indústria/Serviço Nacional de Aprendiza-
laticinista e o consumidor final estão as metas do milênio em 2015: reduzir a gem Industrial (CNI/Senai) e do Serviço
continuamente sendo educados a apri- mortalidade na infância e garantir a sus- Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
morar o senso de qualidade percebida tentabilidade ambiental, meta 5 e meta 7, Empresas (Sebrae), levou as ferramentas
nos produtos escolhidos para consumo respectivamente. para produção de alimentos seguros (Boas
(BRASIL, 2002). As três linhas principais de ação pro- Práticas e o Sistema APPCC) para as in-
A reestruturação do Sistema de Iden- postas pela OMS foram: dústrias de laticínios do Norte de Minas
tificação e Certificação de Bovinos e Bu- a) promover o apoio ao desenvolvi- Gerais (SEBRAE, 2008).
balinos (Sisbov) aprimorou o sistema de mento de sistemas sustentáveis e in- Atualmente, o PAS é um programa
defesa agropecuária brasileiro integrando tegrados de inocuidade de alimentos nacional que atinge toda a cadeia de ali-
as Secretarias Estaduais de Agricultura fundamentados em riscos; mentos, reunindo instituições parceiras
com o Ministério da Agricultura e o setor b) formular medidas embasadas no com focos de ação desde o campo, até
produtivo. Nesse sentido, o produtor está conhecimento científico que previ- o consumo final do alimento: Embrapa,
obrigado a controlar parasitas, mastites, nam a exposição em níveis inacei- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
brucelose e tuberculose, visando à sani- táveis de agentes microbiológicos (Senar), Senai, Serviço Social da Indústria
dade do rebanho e ao aumento da pro- e de produtos químicos ao longo de (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem
dutividade (BRASIL, 1952, 2002, 2003; toda a cadeia produtiva alimentar; Comercial (Senac), Serviço Social do
RUBIA PERIN; VELLOSO FERREIRA; c) avaliar e gerir os riscos de trans- Comércio (Sesc), Sebrae, Anvisa, CNPq,
TALAMINI, 2009). missão alimentar, comunicando a MAPA, Ministério da Saúde, Associação
Adicionalmente, os oito passos pre- informação, em cooperação com Brasileira das Indústrias da Alimentação
vistos no Programa Alimentos Seguros outros setores aliados. (Abia), Inmetro e Associação Brasileira
(PAS) do campo à mesa por meio dos A indústria, os profissionais envolvi- de Normas Técnicas (ABNT).
Procedimentos-Padrão de Higiene Ope- dos e os produtores que participam do A reflexão sobre o status do elo indus-
racional (PPHO) situam a ordenha como agronegócio do leite fluido têm ainda trial da cadeia produtiva do leite do campo
ponto-chave para uma boa qualidade do muitas dúvidas sobre pontos específicos até a indústria (Riispoa), e da indústria
leite cru e estão em perfeita sintonia com da Instrução Normativa no 51 e sempre até a mesa (Riispoa, Instrução Normativa
as recomendações preconizadas pela questionam se os órgãos e os técnicos fis- no 51, Portaria no 146) revelou a trajetória
Organização Mundial de Saúde (OMS, calizadores também possuem dúvidas na do leite fluido cru resfriado e do leite
2002). leitura dessa Norma e, em função disso, se pasteurizado para atingir os padrões de
Os principais PPHO aplicados ao cam- erros são cometidos. E neste caso, se são identidade e qualidade estabelecidos no
po para a obtenção de leite de qualidade, corrigidos adequadamente. Essa é uma Brasil pelo MAPA.
dentro do programa de Boas Práticas Agro- questão técnica bastante complexa e a res- Na percepção da produção primária, di-
pecuárias, são: adequação das instalações, posta envolve inúmeros fatores regionais, versos autores (DÜRR, 2005; FAO, 2005;
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RUBIA PERIN; VELLOSO FERREIRA; de recursos. Faltam assistência técnica e tórios de Controle da Qualidade
TALAMINI, 2009) identificaram baixa capacitação. do leite;
qualidade nas características: controle O produtor não consegue arcar sozinho g) sanidade do rebanho leiteiro e da
de brucelose e tuberculose, alimentação com toda a responsabilidade da produção propriedade;
e refrigeração. Nas indústrias, hábitos de por manejo sustentável da propriedade. h) implantação das Boas Práticas
higiene pessoal do ordenhador, eliminação Tem agregado maior valor ao agronegócio Agropecuárias.
dos primeiros jatos e lavagem dos tetos fo- leite fluido, à medida que novos mercados Um processo produtivo que prima
ram as características de menor qualidade são abertos. Ideologias à parte e, sabendo
pela qualidade tem que monitorar as
percebida. A variação entre a expectativa que somente novos mercados não são
múltiplas dimensões da qualidade do
e a percepção dos atributos intrínsecos e eficientes para gerar empregos e renda,
leite in natura.
extrínsecos da qualidade demonstrou que alternativas foram pensadas.
A segurança dos leites fluidos precisa
a produção primária não atendia às suas Ações conjuntas e coordenadas na
ser uma prioridade máxima no Brasil. A
próprias expectativas nem às das indústrias cadeia do agronegócio viabilizam melho-
regulamentação brasileira neste domínio,
(BRANDÃO, 2006; CARVALHO, 2011). rias. Todos os elos da cadeia produtiva
já por si exigente, tem sido há muito tem-
A Instrução Normativa no 51 assumiu do leite fluido precisam integrar-se para
po reforçada pelo MAPA, desde 2002,
grande importância educadora no agro- aumentar a resultante do somatório das
com publicação da Instrução Normativa
negócio do leite fluido, evidenciando a forças em torno da obtenção do hígido
de qualidade. Das diferentes percepções no 51 e, posteriormente, com a revisão
valorização da qualidade do leite (e a pu- do Riispoa, iniciada em 2008, e ainda em
nição da má qualidade) ao longo da cadeia entre a autoridade sanitária, produtores e
indústrias decorrem das dificuldades no andamento.
produtiva do campo até a mesa, pela via
estabelecimento das melhorias contínuas Segurança não significa uniformidade.
de mercado. O produtor é incentivado a
na cadeia do fluido. Exemplo disso vem da União Europeia,
melhorar, porque participa de programas de
Os Regulamentos Técnicos estabele- ao demonstrar que é possível oferecer
pagamento por qualidade, e o consumidor
cem os PIQs do leite fluido e permitem uma alimentação segura para os con-
mais consciente, passou a exigir da indús-
que os produtores rurais estejam cientes sumidores, promovendo a diversidade
tria produtos com certificados de garantia
dos problemas que comprometem a qua- aliada à qualidade, respeitando o direito
de qualidade e rastreabilidade.
lidade do leite. Mas sem o financiamento dos consumidores a uma escolha esclare-
Avanços e expectativas do federal e utilizando somente a remuneração cida com confiança na segurança de sua
agronegócio do leite fluido recebida pelo produto, não viabilizam os alimentação.
investimentos em equipamentos, sanida-
A efetivação dos novos limites determi-
de e alimentação dos animais (BRASIL, REFERÊNCIAS
nados pela Instrução Normativa no 51, que
1996, 2002). AZEREDO, A.M.C. de. Contribuição ao
regula as normas de qualidade do leite, tem
processo de padronização na indústria
movimentado o cenário do leite no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS de alimentos: um estudo em Minas Gerais.
Os novos Regulamentos Técnicos trou-
2000. 80f. Tese (Mestrado em Ciência e Tec-
xeram mais subsídios de trabalho para as No processo produtivo do leite fluido,
nologia de Alimentos) – Universidade Fede-
fiscalizações federal, estadual e municipal os principais avanços técnicos até o mo-
ral de Viçosa, Viçosa, MG.
dos processos de industrialização de leite e mento decorrentes da Instrução Normativa
BEHMER, M. L. A. Tecnologia do leite.
derivados. É censo comum, que melhorar a no 51 foram:
13. ed. São Paulo: Nobel.1999. v.1.
qualidade é uma necessidade e que existe a) estabelecimento dos parâmetros
BRANDÃO, S. C. C. Fundamentos da busca
muito trabalho a ser realizado. para o resfriamento de leite recém-
pela qualidade na indústria. In: MESQUITA,
As medidas previstas na Instrução ordenhado;
A. J.; DÜRR, J.W.; COELHO, K.O. (Org.).
Normativa no 51 têm sido implantadas b) transporte frigorificado do leite cru Perspectivas e avanços da qualidade do
desde 2002, conforme vocação regional e a granel; leite no Brasil. Goiânia: Talento, 2006. v.1,
alinhamento do produtor às necessidades c) CCS; p. 291-326.
dos mercados atual e futuro. No entanto, a d) novos limites da contagem bacte-
BRASIL. Decreto no 30.691, de 29 de mar-
literatura tem mostrado que a maior parte riana; ço de 1952. Aprova o novo Regulamento da
dos produtores não teve e ainda não tem e) obrigatoriedade do programa de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos
condições de se adequarem. O PNMQL, educação continuada; de Origem Animal. Diário Oficial [da] Re-
em 1998, previa investimentos em capaci- f) avaliação da qualidade intrínseca do pública Federativa do Brasil, Brasília, 7 jul.
tação, o que ainda não ocorreu por escassez leite na Rede Brasileira de Labora- 1952.

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24 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Tecnologias para fabricação de doce de leite, leite


condensado e soro em pó
Ítalo Tuler Perrone 1

Resumo - A tecnologia de lácteos concentrados e desidratados possui importante papel


nas indústrias de laticínios, sendo implantada em fábricas de pequeno a grande porte.
Os processos de evaporação a vácuo, de cristalização e de secagem são os pilares dessa
tecnologia. Serão apresentadas tecnologias para produção de doce de leite, leite conden-
sado e de soro em pó.

Palavras-chave: Produto lácteo. Concentrado. Processamento. Cristalização. Secagem.

INTRODUÇÃO leites condensados e evaporados, fato que tecnologias é fator preponderante para seu
pode ser atribuído à estabilidade dos pro- melhor desenvolvimento.
A concentração por transferência de
dutos e ao papel que desempenham como
energia na forma de calor tem como fina-
substitutos do leite in natura, para acom- HISTÓRICO
lidades melhorar a conservação, reduzir os
panhar cafés e chás. O leite condensado
custos com transporte, armazenamento e Marco Pólo, no século 13, reportou
foi primeiramente produzido em 1856 e,
estocagem, porém, produz modificações que os soldados carregavam leite desi-
hoje, é um importante produto dentro da
significativas no leite e no soro como dratado, que, antes de ser consumido,
indústria de laticínios brasileira. Entretan-
escurecimento, tendência à precipitação, era adicionado de água e solubilizado
to, ainda não conta com um Regulamento
aumento da viscosidade, cristalização durante seu transporte por cavalos e pela
Técnico de Identidade e Qualidade (SAN-
da lactose, formação de aroma e sabor ação do calor do sol (HALL; HEDRICK,
TOS et al., 2009).
característicos. O entendimento dessas 1971). Nicolas Appert, cientista francês
O soro já foi considerado matéria-
principais modificações, causadas pelo e responsável pelo desenvolvimento da
prima de aproveitamento oneroso para
aquecimento e pela concentração, é o indústria de envase em latas, produziu
a indústria de laticínios. Porém, com as
fundamento para as tecnologias de fabri- regulamentações ambientais que proí- leite desidratado na forma de tabletes em
cação do doce de leite, leite condensado bem o descarte de produtos com elevada 1810 pela secagem lenta do leite em ar
e soro em pó. demanda biológica de oxigênio, com quente (HUNZIKER, 1934).
O doce de leite é o principal produto as comprovações científicas do valor Em 1856, Gail Borden lançou o
lácteo, concentrado por ação da energia nutricional de seus constituintes e com leite condensado Eagle Brand, como
na forma de calor, produzido por peque- o desenvolvimento de técnicas de fra- alternativa aos produtos da época, que
nas e médias indústrias de laticínios do cionamento, o soro hoje é amplamente careciam de refrigeração e de técnicas de
País. Essas indústrias são tipicamente requisitado como ingrediente ou como preservação eficientes. Este novo produto
latino-americanas, tendo a Argentina e precursor de ingredientes na indústria teve papel importante na guerra civil
o Brasil como os maiores produtores. de alimentos (GERNIGON; SCHUCK; Americana e na diminuição da mortali-
Utilizam, em sua maioria, equipamen- JEANTET, 2010). dade infantil da época (J.M. SMUCKER
tos simples e processos tradicionais de O doce de leite, o leite condensado e COMPANY, 2011).
produção. o soro em pó são importantes produtos A farinha láctea, que combinava
Os produtos lácteos concentrados de das indústrias de lácteos concentrados leite de vaca, farinha de trigo e açúcar,
maior consumo em todo o mundo são os e desidratados. O entendimento dessas foi criada no ano de 1866 por Henri

1
Químico, D.Sc. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560
Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: italo.perrone@epamig.br

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 25

Nestlé, sendo lançada no mercado no d) modificação na conformação das A tecnologia de fabricação do doce de
ano seguinte. O primeiro carregamento proteínas; leite consiste na evaporação da água por
de leite condensado desembarcou no e) aumento da pressão osmótica, do aplicação indireta de energia na forma
Brasil em 1890, e a primeira fábrica de ponto de ebulição, da condutivida- de calor em evaporadores a vácuo ou em
lácteos concentrados e desidratados foi de elétrica (CE), da densidade, do tachos. O processo de fabricação pode ser
inaugurada em 1921, na cidade de Araras índice de refração, da viscosidade esquematizado, conforme a Figura 1.
(NESTLÉ, 2011). e diminuição do ponto crioscópico; Antes do aquecimento são adicio-
O conceito de atomização de fluidos f) saturação da solução e tendência à nados o açúcar e o redutor de acidez ao
contra uma corrente de ar quente foi cristalização da lactose. leite. O redutor de acidez mais utilizado é
apresentado por Bassler, em 1888, princi- o bicarbonato de sódio, que possui a fun-
Doce de leite ção de atuar como estabilizante por gerar
palmente para a concentração de caldo de
cana, glicose e leite. Em 1896, a empresa O processo de fabricação do doce de uma reserva de alcalinidade, evitando
Trufood Ltd descobriu as vantagens da leite consiste no aquecimento do leite com que o leite venha a precipitar durante o
pré-concentração, sugerindo-a para o leite o açúcar e o redutor de acidez até que sejam aquecimento. Possui ainda a função de
antes da secagem, com o objetivo de au- alcançadas as características desejadas no controlar indiretamente a intensidade da
mentar a solubilidade dos pós. Industrial- produto final, normalmente avaliada pelo coloração do doce, por acelerar a reação
mente, a aplicação significativa do spray emprego de um refratômetro. É possível de escurecimento. A mistura do leite
dryer ocorreu nas indústrias de leite e de obter estas características desejadas com com a sacarose e os demais ingredientes
detergentes por volta de 1920. A secagem diferentes tempos de processamento, de e aditivos é denominada calda. Esta é
em dois estádios foi desenvolvida nos 30 minutos a 4 horas, dependendo do submetida à evaporação contínua por
anos 70, impactando na capacidade das equipamento e ingredientes utilizados. meio do vapor oriundo de caldeiras, com
plantas industriais e criando uma deman- Dessa forma, não existe uma tecnologia pressão entre 800 quilo Pascal (kPa) e
da mundial por leites em pó instantâneos ou receita universal. O doce de leite pode 900 kPa. O vapor empregado no processo
(MASTERS, 2002). ser produzido por: é transformado em condensado de vapor
a) fabricação artesanal; (água entre 85 ºC e 90 ºC), e a quantifi-
ASPECTOS TECNOLÓGICOS E b) fabricação em tachos por batelada; cação dessa água possibilita determinar
PADRONIZAÇÃO c) fabricação em tachos de forma a massa total de vapor empregado na
contínua; fabricação.
De acordo com Walstra et al. (2001),
d) fabricação em evaporadores a vácuo A água do leite, que é retirada no esta-
a evaporação a vácuo do leite e do soro é
e em tacho. do gasoso, recebe o nome de evaporado,
aplicada com as seguintes finalidades:
Serão abordados os três últimos pro- sendo necessária sua remoção rápida do
a) elaborar produtos concentrados equipamento, a fim de evitar sua incorpo-
cessos de fabricação por representarem a
como leite condensado; ração à calda, por meio da condensação.
maior parte do doce produzido no País.
b) realizar etapa intermediária na fa-
bricação de produtos lácteos em pó;
c) produzir lactose a partir da recrista-
lização do soro. Água no estado gasoso
Os evaporados tubulares de película (evaporado)
descendente são os mais empregados
nos laticínios e podem ser acoplados a
sistemas para finalização da concentração Leite
e para o resfriamento rápido do produto Sacarose Evaporador
concentrado, denominado flash cooler Redutor ou Doce de leite
Ingredientes tacho
(WESTERGAARD, 2001). Aditivos
As principais modificações causadas
pela concentração do leite e do soro, de
acordo com Walstra et al. (2001), são as
seguintes: Vapor Condensado
(800-900 kPa) (água 85-90 ºC)
a) diminuição da atividade de água;
b) aumento da higroscopicidade; Figura 1 - Esquematização da fabricação do doce de leite
c) mudanças no equilíbrio salino; NOTA: kPa - Quilo Pascal.

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Dessa forma, há necessidade, no equipa- da amostra do doce até a faixa de lei- terminação do ponto em doce de leite e
mento de fabricação, de um exaustor para tura indicada. Existe uma tabela para em doce de leite para confeitaria.
retirada do evaporado formado. correção do valor lido no aparelho, de No momento da determinação do
Durante a evaporação em tachos, acordo com a temperatura de análise. ponto em doce de leite, as intensidades
ocorre a constante agitação da calda por Dessa forma, uma leitura realizada fora de cor e de viscosidade estão muito
meios mecânicos a uma velocidade entre da faixa correta de temperatura acarreta próximas das apresentadas pelo produto
72 e 80 rpm, sendo fundamental para em valor duvidoso, comprometendo a durante o prazo de validade. Neste mes-
minimizar a formação de depósitos na determinação certa do ponto. O doce mo momento, um doce para confeitaria
parede do trocador de calor. Nos evapo- de leite em pasta apresenta ponto na não possui uma viscosidade próxima da
radores a vácuo, a agitação é realizada faixa de 66-68 ºBrix, e o doce em barra, desejada, pois os espessantes empre-
por meio de bombas centrífugas. O tempo ponto entre 84 e 88 ºBrix. Na Figura 3 gados ainda não produziram o pico de
de processo pode variar de 30 minutos a é apresentado um esquema sobre a de- viscosidade (COLOMBO et al., 2009).
4 horas, dependendo da relação entre a
área de troca de calor e o volume de leite,
bem como da pressão de vapor utilizada.
Nos tachos, a capacidade de fabricação
normalmente varia entre 20 e 700 L de
leite por batelada, já nos evaporadores
a vácuo, a capacidade pode alcançar até
30 mil litros por hora.
No início da fabricação, a calda pos-
sui grande quantidade de água e baixa
viscosidade, o que facilita a evaporação,
porém pode acarretar em transborda-
mento. Dessa forma, inicia-se a fabri-
cação com pequena quantidade de vapor
na camisa do tacho e, à medida que a
calda concentra em sólidos, aumenta-se

Ítalo Tuler Perrone


a quantidade de vapor. Alguns fabrican-
tes colocam uma quantidade de leite
menor do que a capacidade máxima do
tacho e conseguem trabalhar desde o
Figura 2 - Fabricação de doce de leite em tacho - EPAMIG-Instituto de Laticínios Cândido
início do processamento com grandes
Tostes (ILCT)
quantidades de vapor na camisa do
equipamento sem que transborde. Essa
técnica diminui o tempo de fabricação,
Doce de Doce de leite para
porém pode implicar em problemas leite confeitaria
de cor, viscosidade e rendimento. O
Inicial Leite Inicial Inicial Leite Inicial
VISCOSIDADE

VISCOSIDADE
EVAPORAÇÃO

EVAPORAÇÃO

aquecimento deve ser suficiente para o


aumento da viscosidade e a produção de
COR

compostos escuros, os quais irão definir


COR

a coloração do doce (Fig. 2).


O término da evaporação é determina-
do pela utilização de um refratômetro, esse
Ponto Ponto
indica o grau de concentração atingido no
Resfriamento Resfriamento
processo. Uma relação prática determina Desejada Desejada
Desejada
que 66-68 ºBrix representam um doce com, Estocagem Estocagem
do doce de do doce de
aproximadamente, 70% de sólidos totais. Desejada leite
leite
A maioria dos refratômetros faz
leituras entre 15 ºC e 40 ºC, o que im- Término da tecnologia de fabricação
plica na necessidade de resfriamento Figura 3 - Esquematização do ponto em doce de leite e em doce de leite para confeitaria

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Leite condensado b) clarificação; nho superior a 16 micrômetros (µm). O


c) resfriamento; processo de microcristalização é uma
Os produtos lácteos concentrados de
d) estocagem de leite cru; ferramenta muito usada para controlar
maior consumo são os leites condensado
e) padronização do teor de gordura e o número e o tamanho dos cristais de
e evaporado, utilizados inicialmente pela
ajuste do rf, sendo rf igual ao fator lactose no produto. Consiste no res-
sua estabilidade e como substitutos do
de padronização, que consiste da friamento do produto até temperaturas
leite in natura, para acompanhar cafés e
razão entre o teor de gordura e o teor próximas de 28 ºC a 30 ºC, para que
chás (VARNAM; SUTHERLAND, 1995).
de sólidos não gordurosos do leite ocorra a saturação da lactose na solução
Segundo Walstra et al. (2001), o leite
e adição, sob agitação, de núcleos de
condensado é um leite concentrado por condensado;
cristalização. Normalmente, é empre-
evaporação, ao qual se adiciona sacarose f) tratamento térmico;
gada alfa-lactose em pó, como núcleo
com o intuito de produzir uma solução g) evaporação a vácuo;
de cristalização, e esta possui tamanho
quase saturada de açúcar. Pode ser obtido h) adição de açúcar;
médio de 1 a 10 µm. A quantidade de
a partir do leite integral ou desnatado, e i) resfriamento e cristalização;
lactose em pó empregada varia de 0,01%
produzido para venda a granel ou para j) envase e estocagem. a 0,05% sobre a massa de produto a ser
consumo direto. O aumento do prazo de Na Figura 4 é apresentado um esboço cristalizado. A velocidade e a uniformi-
validade deste produto não se deve ao trata- de uma linha de processamento para leite dade da agitação são fundamentais para
mento térmico empregado e, sim, à redução condensado. a homogeneidade dos cristais formados
na atividade de água associada ao processo A padronização, a identidade e a qua- no leite condensado.
de evaporação e pela adição de sacarose lidade do leite condensado estão intima- A obtenção de um leite condensado
(VARNAM; SUTHERLAND, 1995). mente ligadas a sua textura. Uma textura com ótimos atributos sensoriais depende da
A produção do leite condensado obe- arenosa é indesejável e normalmente está formação de inúmeros cristais de lactose,
dece as seguintes etapas: ligada ao aparecimento de cristais de de tamanho reduzido, obtidos por meio da
a) seleção e recebimento do leite; lactose perceptíveis, ou seja, com tama- nucleação secundária.

CD

UTT

TC

1º EF 2º EF 3º EF

FC

Figura 4 - Esboço de uma linha de processamento de leite condensado


NOTA: 1oEF - Primeiro efeito; 2oEF - Segundo efeito; 3oEF - Terceiro efeito; UTT - Unidade de tratamento térmico; CD - Condensador;
F - Finisher; FC - Flash cooler; TC - Tanque para cristalização da lactose no leite condensado.

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Segundo Hunziker (1934), o conhe- Perrone et al. (2008) determinaram que mais relevantes são a atividade de água, a
cimento do número e do tamanho dos os teores de proteínas, lactose e sólidos transição vítrea e a cristalização da lactose
cristais de lactose, bem como da com- não gordurosos são determinantes para o (SCHUCK et al., 2004).
posição centesimal do produto, é ponto tempo de escoamento do leite condensado, O aumento na produção de queijos acar-
fundamental na tecnologia de produção por conseguinte, são variáveis importantes retou em grande volume de soro descartado
do leite condensado. O aparecimento de para a composição da viscosidade final do em rios e lagos. O soro é um poluente em
cristais de lactose perceptíveis ao pala- produto (Fig.5). potencial, pois apresenta altíssima deman-
dar pode ser prevenido pela semeadura da biológica de oxigênio. De acordo com
de microcristais de lactose, sendo sua Soro em pó Giraldo-Zuñiga et al. (2002), estima-se que
quantificação essencial para a qualidade Dentre as diversas formas de processa- a produção mundial de soro gire em torno
do produto final. mento do soro na indústria, encontra-se a de 120 milhões de toneladas. O aumento da
De acordo com Varnam e Sutherland produção do soro em pó. Entende-se como produção de soro no Brasil e, paralelamente,
(1995), o leite condensado não é um soro em pó o produto obtido pela desi- a implementação das leis de proteção ao
produto estéril e, apesar da baixa ati- dratação do soro ou soro ácido, mediante meio ambiente, bem como o reconhecimen-
vidade de água inibir grande gama de processos tecnologicamente adequados, to de que o uso do soro líquido para a alimen-
bactérias, bolores e leveduras são capa- tornando-se apto para a alimentação hu- tação animal só é praticável regionalmente e
zes de se desenvolverem. Dessa forma, mana (SORO..., 2005). de forma restrita, estão levando a indústria
são necessários controles higiênicos A obtenção do soro em pó pode ser rea- a analisar as opções de industrialização e
severos e específicos durante as etapas lizada empregando a associação de proces- aproveitamento (TIBA, 1984).
de fabricação. sos de filtração por membranas, evaporação O Quadro 1 apresenta dados sobre a
O leite condensado propicia o de- a vácuo e secagem em spray dryer. Esta exportação brasileira de alguns produtos
senvolvimento de leveduras capazes de técnica é mais conveniente para a produção lácteos, entre os anos de 1996 e 2006.
fermentar o açúcar, produzindo gás, e de de leites em pó, entretanto seu emprego Destaca-se o aumento expressivo das ex-
estafilococos resistentes à pressão osmótica para secagem de soro e novos produtos portações de queijos.
do meio, sendo potenciais causadores de frequentemente ocorre de forma empírica, As vendas brasileiras de produtos
enterotoxinas. ocasionando o empedramento e a adesão lácteos cresceram 1.043,8% em volume
De acordo com Silva et al. (2008), a va- dos pós nos equipamentos. A origem destes e 619,4% em valor, no período de 1996 a
riação na composição do leite condensado problemas está associada a propriedades 2006, enquanto que as importações caíram,
produzido no Brasil é expressiva, sendo a físico-químicas dos produtos e parâmetros respectivamente, 71,5% e 69,9%. Em para-
viscosidade o requisito com maior variação. de processamento. As variáveis de controle lelo, houve um aumento de 540% no núme-
ro de novos países importadores de produtos
lácteos do Brasil (LEITE et al., 2008).
A fabricação de queijos consiste na
concentração do extrato seco do leite por
meio da coagulação da caseína. Durante o
processo de coagulação, há a transferên-
cia de componentes do leite para a massa
e para o soro, conhecido como cifra de
transição, fator responsável pela compo-
sição físico-química do soro e do queijo.
Segundo Vilela (2009), a cifra de transição
dos sólidos láticos para a massa de queijo
semiduro obedece aos parâmetros apresen-
tados no Quadro 2.
As variações na composição do leite
Ítalo Tuler Perrone

durante o ano, bem como as diferentes


tecnologias empregadas para a produção
de queijos, acarretam grande variação na
Figura 5 - Processo de cristalização do leite condensado em tanque - EPAMIG-Instituto de composição físico-química do soro. O
Laticínios Cândido Tostes (ILCT) Quadro 3 apresenta faixas para a com-
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 29

QUADRO 1 - Exportação de produtos lácteos em toneladas no período 1996 - 2006 posição de soro obtido por diferentes
Queijos Leite in natura Leite em pó processos de coagulação.
Ano de exportação
(t) (t) (t) O Brasil caracteriza-se como um im-
1996 462 16 6.295 portador de soro em pó. Entre os meses
de janeiro e setembro de 2010 importou
1997 391 76 1.596
23.993 mil toneladas do produto e, no
1998 845 9 1.686
ano de 2009, 31.297 mil toneladas, nos
1999 1.028 81 2.532 mesmos períodos a exportação foi de,
2000 2.416 350 4.774 respectivamente, 3.722 mil toneladas
e 3.884 mil toneladas (MILKPOINT,
2001 2.270 586 8.422
2010).
2002 2.122 4.402 27.213
Conforme Westergaard (2001), o soro
2003 3.180 1.803 35.577 em pó possui a composição média apre-
2004 6.406 3.064 55.311 sentada no Quadro 4.
2005 10.995 1.905 61.792
As principais operações unitárias que
podem estar envolvidas na produção do
2006 7.582 5.027 73.391
soro em pó são: a separação por membra-
FONTE: Dados básicos: Leite et al. (2008).
nas, a evaporação a vácuo, a cristalização
e a secagem em spray dryer (Fig.6).
QUADRO 2 - Cifra de transição média para queijos semiduros A osmose reversa pode ser empregada
Componente Cifra de transição para o queijo como fase inicial de retirada de água do
Leite Queijo Soro
(%m/m) (%) soro e é caracterizada pelo baixo consu-
Lactose 4,7 0,2 4,5 4 mo de energia. A evaporação a vácuo
possibilita que o soro seja concentrado
Gordura 3,4 3,1 0,3 91
a teores de sólidos láticos entre 52% e
Proteína 3,1 2,3 0,8 74 60% m/m, com um custo energético por
Minerais 0,9 0,5 0,4 0,6 quilograma de água evaporada até 20 ve-
Sólidos totais 12,1 6,1 6,0 50 zes inferior ao processo de retirada de água
FONTE: Vilela (2009). em spray dryer (SCHUCK; JEANTET;
CARVALHO, 2010).
De acordo com Knipschildt e Andersen
QUADRO 3 - Composição do soro para diferentes tipos de processamento (1994), a secagem é o mais importante
Variedade do soro método de conservação de lácteos, pois a
Constituinte
utilização desta técnica possibilita a con-
Coagulação Coagulação por Queijo versão do leite ou soro em leite ou soro
enzimática ácido lático Cheddar em pó, com perdas nutricionais mínimas.
Sólidos totais (ST) (g/kg de soro) 64-67 62-64 61-66 Há três tipos principais de sistemas de
Proteína verdadeira (g/kg de ST) 110-140 84-110 99-110 secagem em utilização pelas indústrias.
Na secagem em único estádio, emprega-
Razão NPN:TN 0,24-0,28 0,30-0,35 0,22-0,30
se apenas a câmara de secagem para
Cinzas (g/kg de ST) 74-78 117-123 76-91 transformar o leite ou soro concentrado
Lactose (g/kg de ST) 750-810 620-690 744-810 em pó, o que produz um pó particulado
Cálcio (g/kg de ST) 6-8 24-27 6-7 caracterizado pela baixa solubilidade em
água. Na secagem em dois estádios, além
Fosfato inorgânico (g/kg de ST) 10-16 30-34 8-30
da câmara de secagem, emprega-se o flui-
Potássio (g/kg de ST) 18-26 20-24 19-25
dizador, obtendo um pó aglomerado, com
Sódio (g/kg de ST) 6-16 6-12 6-11 características superiores de solubilidade.
Cloretos (g/kg de ST) 14-21 13-19 19-20 A associação de dois fluidizadores com
FONTE: Zadow (1994). capacidade de evaporação junto à câmara
NOTA: NPN - Nitrogênio não proteico; TN - Nitrogênio total. de secagem caracteriza o processo de
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30 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

QUADRO 4 - Composição média do soro em pó e características físico-químicas drasticamente afetadas pela presença de
lactose amorfa.
Características físico-químicas ou constituinte Concentração
O soro em pó, quando obtido sem
Sedimentos 200 mg/L (máximo) prévia cristalização, é um pó muito fino,
higroscópico e com grande tendência ao
pH (após dissolução) 6,3 (mínimo)
empedramento, o que se deve à presença
Acidez titulável (após dissolução) 0,12% (máximo)
de lactose em um estado vítreo ou amorfo
Ácido láctico 200 ppm (máximo) (MASTERS, 2002).
Gordura 0,05% (máximo) A cristalização do soro concentrado
Lactose 70% - 74%
pode ser realizada pela adição de núcleos
de cristalização, lactose microcristalina
Proteínas 12% (mínimo)
ou soro em pó, seguida de agitação e
Cálcio 300 ppm (máximo) controle da temperatura (KNIPSCHILDT;
Magnésio 100 ppm (máximo) ANDERSEN, 1994).
Cloro 1200 ppm (máximo)
Segundo Schuck (2002), as proprie-
dades dos produtos lácteos desidrata-
Gases incondensáveis 0,02% (máximo)
dos são influenciadas por fatores que
FONTE: Westergaard (2001).
envolvem as condições de operação
dos equipamentos, as características
da matéria-prima e as condições de
estocagem.
O aprimoramento da qualidade de
produtos lácteos desidratados, o qual
é governado pelo histórico de tempo
e temperatura, envolve um grande
entendimento do processo por meio de
abordagens físico-químicas, termodi-
nâmicas e cinéticas (JEANTET et al.,
2008).
De acordo com Schuck et al. (2008),
a quantidade máxima de umidade em
um produto lácteo desidratado deve
ser definida pelo valor da atividade de
água, sendo desejado um valor próximo
a 0,2.
Ítalo Tuler Perrone

Conforme Roos (2002), elevadas


temperaturas empregadas durante a se-
cagem, em associação com a presença
de água residual nos estádios finais da
Figura 6 - Secagem do soro em câmara de secagem - EPAMIG-Instituto de Laticínios
Cândido Tostes (ILCT) secagem, produzem a pegajosidade, o
empedramento e a adesão do soro em pó
ao equipamento.
secagem em três estádios e em intensa ar ambiente, o que causa empedramento Segundo Hardy, Scher e Banon
aglomeração do pó (WESTERGAARD, do produto durante o armazenamento e (2002), no caso de produtos lácteos
2001). a substituição de parte da lactose amorfa desidratados, as suas propriedades (flui-
O processo de secagem de lácteos por lactose cristalina, como resultado dez, estabilidade ao armazenamento
implica na formação de lactose no estado da cristalização do soro concentrado, e solubilização) são intrinsecamente
amorfo que é altamente higroscópica. transformando-o em um produto não dependentes do modo e da intensidade
Segundo Hynd (1980), o soro em pó higroscópico. As curvas de sorção, das interações químicas da água com os
possui a tendência de absorver água do conforme Jouppila e Roos (1994), são outros constituintes, e esta dependência
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 31

é bem representada pelas isotermas de evitar a transformação de lactose amorfa do ar de entrada entre 170 ºC e 180 ºC e
sorção. em lactose cristalina, o que acarreta em de saída entre 85 ºC e 90 ºC, no intuito
No Quadro 5, são apresentados al- aglomeração e adesão do produto no de obter um pó entre 3% e 4% m/m de
guns parâmetros de processamento para equipamento. umidade final.
secagem de leite desnatado, integral e Segundo Masters (2002), a secagem Conforme Písecký (1997), a secagem
soro. do soro sem o pré-tratamento da crista- de soro pré-cristalizado em spray dryer
De acordo com Schuck et al. (2004), lização pode ser realizada por meio de de único estádio deve ser conduzida por
ao se produzir soro em pó, deve-se bicos de atomização que operam com meio da concentração do soro entre 48%
controlar a temperatura do ar de saída pressão de 200 bar, sendo alimentados por e 55% m/m, emprego de temperatura de
da câmara de secagem para que seja soro concentrado entre 42% e 45% m/m entrada entre 180 ºC e 200 ºC e temperatura
sempre inferior a 100 ºC, no intuito de de sólidos totais, utilizando temperatura do ar de saída em 92 ºC.
Segundo Vuataz (2002), o processo
de secagem do leite e de seus derivados
QUADRO 5 - Parâmetros de secagem para produtos lácteos
foi desenvolvido empregando uma base
Teor de sólidos totais Temperatura do ar de Temperatura do ar de mais empírica e tecnológica do que em
Produto lácteo no soro concentrado entrada no spray dryer saída no spray dryer
conceitos da ciência dos materiais ali-
(% m/m) (ºC) (ºC)
mentícios, o que pode ser desenvolvido
Leite integral 47-50 175 – 240 70 – 90 por meio de diagramas de fases, curvas
de sorção e análise da composição físico-
Leite desnatado 47-52 175 – 240 75 – 90
química. Na Figura 7, é apresentado um
Soro 40-60 180 – 250 80 – 95 esboço de uma linha para processamento
FONTE: Schuck et al. (2004). de soro em pó.

CD SD

1ºEF
1ºEF 2ºEF
2ºEF

UTT

TC
TC

Figura 7 - Esboço de uma linha para processamento de soro em pó


NOTA: 1oEF - Primeiro efeito; 2oEF - Segundo efeito; UTT - Unidade de tratamento térmico; CD - Condensador; TC - Tanque para
cristalização da lactose no soro concentrado; SD - Spray dryer; F - Fluidizador.

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32 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

REQUISITOS 1997). No Quadro 7, são apresentados os GERNIGON, G.; SCHUCK, P.; JEANTET, R.
critérios microbiológicos e de tolerância Processing of Mozzarella cheese wheys and
O leite condensado e o soro em pó stretchwaters: a preliminary review. Dairy
para o doce de leite.
ainda não possuem Regulamento Técnico Science and Technology, Rennes, v.90, n.1,
de Identidade e Qualidade, dessa forma, os p.27-46, Jan./Feb. 2010.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
requisitos que são apresentados no Quadro 6 GIRALDO-ZUÑIGA, A.D. et al. Proprieda-
����������
são relativos ao doce de leite. O desenvolvimento de parâmetros
des funcionais e nutricionais das proteínas
Segundo a Portaria no 354, de 4 de cientificamente embasados para o proces- do soro de leite. Revista do Instituto de
setembro de 1997 (BRSIL, 1997), o doce samento do doce de leite, do leite conden- Laticínios “Cândido Tostes”, Juiz de Fora,
de leite pode ser produzido a partir de leite sado e do soro em pó é indissociável a um v.57, n.325, p.35-46, 2002.
ou leite reconstituído e adicionado de, maior desenvolvimento da indústria de HALL, C.W.; HEDRICK, T.I. The dry milk
no máximo, 30% m/m de sacarose. São concentrados e desidratados nacional, con- industry: status and practices. Manufacture
ingredientes opcionais o creme, sólidos tribuindo para uma maior competitividade Milk Production Journal, New York, n.12,
de origem láctea, mono e dissacarídeos, dessas indústrias nos mercados nacional e p.5-6, 1971.

que substituam a sacarose em no máximo internacional, bem como o melhor apro- HARDY, J.; SCHER, J.; BANON, S. Water
40% m/m, os amidos e amidos modifi- veitamento do soro. activity and hydration of milk powders.
cados em uma proporção não superior a Le Lait: dairy science and technology,
REFERÊNCIAS v.82, n.4, p.441-452, July/Aug. 2002.
0,5% m/m, o cacau, o chocolate, o coco, as
First International Symposium on Spray
amêndoas, o amendoim, as frutas secas, os BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abas-
Drying of Milk Products, Rennes, France,
cereais e/ou outros produtos alimentícios tecimento. Portaria no 354, de 4 de setembro
de 1997. Aprova o Regulamento Técnico para 2001.
isolados ou misturados em uma proporção
Fixação de Identidade e Qualidade de Doce HUNZIKER, O.F. Condensed milk and milk
entre 5% e 30% m/m do produto final. São
de Leite. Diário Oficial [da] República Fede- powder. 5th ed. Illinois: La Grange, 1934.
coadjuvantes de tecnologia a betagalac- rativa do Brasil, Brasília, 8 set. 1997. 696p.
tosidase (lactase), bicarbonato de sódio,
COLOMBO, M. et al. �����������������������
Avaliação da viscosida- HYND. J. Drying of whey. Journal of The
hidróxido de sódio, hidróxido de cálcio e de durante a fabricação do doce de leite tradi- Society of Dairy Technology, Wembley,
carbonato de sódio. Todos estes coadju- cional adicionado de amido de milho nativo. v.33, n.2, p.52-55, Apr.1980.
vantes podem ser empregados segundo Revista do Instituto de Laticínios “Cândido
J.M. SMUCKER COMPANY. Eagle brand.
boas práticas de fabricação (BRASIL, Tostes”, Juiz de Fora, v. 64, p. 7-13, 2009.
[S.l.], 2011. Disponível em: <http://www.ea-
glebrand.com/history>. Acesso em: jan. 2011.

QUADRO 6 - Requisitos de identidade e qualidade para o doce de leite JEANTET, R. et al. Reside������������������
nce time distribu-
tion: a tool to improve spray-drying control.
Constituinte Concentração Dairy Science and Technology, Rennes,
v.88, n.1, p. 31-43, Jan./Feb. 2008.
Água 30% m/m (máximo) - doce em pasta
20% m/m (máximo) - doce em barra JOUPPILA, K.; ROOS, Y. H. Water sorption
and time-dependent phenomena of milk
Proteína 5% m/m (mínimo)
powders. Journal of Dairy Science, Cham-
Gordura 6 a 9% m/m paign, v.77, n.7, p.1798-1808, July 1994.
Cinzas 2% m/m (máximo) KNIPSCHILDT, M.E.; ANDERSEN, G.G.
FONTE: Brasil (1997). Drying of milk and milk products. In:
ROBINSON, R.K. (Ed.). Advances in milk
processing. London: Chapmam & Hall,
QUADRO 7 - Critérios microbiológicos e tolerâncias para o doce de leite 1994. v.1, p159-254.

Categoria LEITE, J.L.B. et al. Comércio internacional


Microrganismo Critério de aceitação Método de referência de lácteos. Juiz de Fora: Templo, 2008. 281p.
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Estafilococos coagulase n=5 c=2 m=10 MASTERS, K. Spray drying in practice.
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positiva/g M=100
2002. 464 p.
Fungos e leveduras/g n=5 c=2 m=50
3 Norma FIL 94B:1990
M=100 MILKPOINT. Estatísticas. [S.l., 2010]. Dis-
FONTE: Brasil (1997). ponível em: <http://www.milkpoint.com.
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262.indb 32 27/6/2011 12:03:40


Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 33

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Concurso Nacional
Histórico pelo menos uma característica inovadora ou funcionalidade). Os produtos
são avaliados no laboratório de Análise Sensorial da EPAMIG-ILCT. Esta
Durante a realização do 1o Congresso Nacional de Laticínios, nos avaliação é feita levando em consideração a criatividade, apresentação e
dias 10 a 14 de julho de 1972, o então diretor do Instituto de Laticínios opinião do júri, por uma escala hedônica. Os três primeiros lugares de cada
Cândido Tostes (ILCT), da EPAMIG, Prof. Cid Maurício Stehling, declarou:  “É categoria recebem troféu. A premiação acontece em solenidade especial
com satisfação que anunciamos neste certame, a realização de duas no Expominas, sempre no encerramento do Congresso.
exposições, uma de equipamentos e materiais das mais modernas
indústrias do Estado e do País e, pela primeira vez, uma exposição de
produtos derivados do leite, com julgamento, por uma comissão do mais Incentivo à qualidade
alto gabarito, e entrega de medalhas e diplomas de honra ao mérito aos O Concurso Nacional de Produtos Lácteos tem como objetivo
expositores, no encerramento do 1o Congresso Nacional de Laticínios. principal mostrar aos consumidores e à comunidade laticinista a
Esperamos que os senhores industriais tirem o máximo proveito dessa capacidade que as empresas possuem de fabricar produtos de
mostra. Aqueles que forem contemplados com troféus pela excelente qualidade, gerando diferencial competitivo no mercado. Para tal,
apresentação e qualidade de seus produtos continuem, cada vez mais, indústrias de laticínios de todo o País reúnem seus produtos nesse
aperfeiçoando suas tecnologias de fabricação, contribuindo assim, para evento, submetendo-os a um julgamento extremamente rigoroso,
o crescente desenvolvimento tecnológico de nossa indústria.” qualificado e de elevada confiabilidade.
Na 24a Semana do Laticinista, de 9 a 13 de julho de 1973, realizou- A participação das indústrias neste concurso possibilita avaliar as
se a 2a Exposição e Julgamento de Queijos, da qual participaram dez reais condições do produto. Se a empresa se destacar e o seu produto
indústrias de laticínios. A exemplo do que se fez no ano anterior, foram for vencedor, será reconhecida e isso permitirá maior visibilidade perante o
conferidos diplomas e medalhas aos colocados em primeiro, segundo e mercado consumidor. Caso a empresa não seja premiada, a Coordenação
terceiro lugares, de acordo com a contagem total de pontos dada pelos do Concurso tem o comprometimento de emitir relatório de todos os
juízes, quando foram escolhidos os maiores especialistas de queijo do produtos julgados, no qual constam as notas obtidas em cada critério.
País. Foram julgados: Queijo Minas, Queijo Prato e Queijo Lanche. Dessa maneira, é possível que a empresa verifique em quais pontos está
No 2o Congresso Nacional de Laticínios, de 8 a 12 de julho de falhando e, então, busque melhorias em seu processo. Alterações na
1974, mais uma vez, realizou-se a Exposição e Julgamento de Queijos, tecnologia, na qualidade da matéria-prima e no processamento podem
sendo que nesse ano foi acrescentada a categoria Queijo Parmesão. ser feitas na tentativa de obter produtos de maior qualidade.
Concorreram dez indústrias e os três primeiros lugares em cada categoria De maneira geral, a maior parte das indústrias inscritas é oriunda do
receberam troféus na sessão de encerramento do evento. estado de Minas Gerais, mas, no total, mais de dez Estados brasileiros
participam do evento, refletindo a grande área de abrangência do
Inovações Concurso. As categorias mais procuradas e concorridas são: Destaque
Especial, Doce de Leite Pastoso e Requeijão Cremoso.
Hoje, em sua 37a edição, indústrias de todo o País participam “O objetivo é tentar padronizar os tipos de queijos e eleger os
do Concurso Nacional de Produtos Lácteos. Uma das novidades melhores. Para colocar um bom produto no mercado é fundamental que
do último Concurso foi a inclusão da manteiga de primeira qualidade a matéria-prima do queijo tenha qualidade. O leite deve ser retirado de
entre as categorias avaliadas. Segundo Daniel Arantes Pereira, um dos animais saudáveis. A higiene é importante em todo o processo, com
coordenadores do Concurso, decidiu-se pela inclusão da manteiga, uso de equipamentos adequados e treinamento do pessoal”, diz o
atendendo ao apelo dos próprios laticinistas. Na avaliação de muitos Prof. Daniel Arantes Pereira.
profissionais do setor, os produtos encontrados atualmente no mercado Mas como os consumidores podem saber se um produto lácteo é
têm apresentado alguns defeitos. ”A manteiga que chega ao consumidor de qualidade? Na hora da compra, a dica do professor Daniel para os
está sem padrão, fugindo de suas características próprias, como textura, consumidores é observar a data de validade e se a embalagem não está
cor, sabor e consistência. Nossa intenção é fortalecer o padrão sensorial violada.
do produto, de acordo com as exigências da legislação, o que servirá de O professor de tecnologia de queijos da EPAMIG-ILCT e juiz do
parâmetro para os laticínios”, ressalta Daniel. Concurso, Junio César Jacinto de Paula, diz que os consumidores
Com a inclusão da manteiga, o Concurso Nacional passa a contar observam a cor do queijo, por isso este é um dos pontos que o júri leva
com onze categorias: Queijo Prato, Queijo Gouda, Queijo Provolone em consideração durante a avaliação. “A aparência física do produto é
Curado (defumado), Queijo Parmesão, Queijo Reino, Queijo Minas observada, verificam se há crescimento de mofo e diferença na coloração”,
Padrão, Requeijão Cremoso, Doce de Leite Pastoso, Queijo tipo completa. Além da cor, Renata Golin, professora de queijos da EPAMIG-
Gorgonzola, Manteiga e Destaque Especial (qualquer produto lácteo – ILCT e juíza do Concurso, diz que é importante observar outros detalhes.
queijos, doce de leite, iogurte, bebida láctea, manteiga, etc. – que tenha “Se o queijo for do tipo Parmesão, é normal que tenha uma textura granular.

262.indb 34 27/6/2011 12:03:42


de Produtos Lácteos
Isso significa que foi bem maturado e adquiriu as características próprias. Corpo de Juízes
Tem sabor mais picante”, diz a professora. O queijo do tipo Camembert
precisa estar macio e a casca não pode descolar. “Quando o consumidor Os produtos são avaliados por um grupo de juízes experientes,
apertar, precisa sentir que está macio”. Sobre a conservação, o professor vindos de universidades, serviços de inspeção federal, estadual e
Junio diz que os queijos nunca devem ser congelados, pois perdem municipal, além de técnicos das indústrias. Antes mesmo da abertura
suas características. “Trata-se de uma estrutura proteica, que se rompe oficial dos eventos, os juízes, selecionados para o julgamento
por causa do gelo. Quando são congelados, não fatiam e liberam água”. no Concurso Nacional de Produtos Lácteos participam de um
Sobre o consumo, a dica de Denise Sobral, professora de queijos da workshop para apresentação do regulamento da seleção. Os critérios
EPAMIG-ILCT e também juíza do Concurso, é deixá-lo fora da geladeira avaliados são aspecto global, cor, textura, odor, aroma, sabor e
por duas horas antes do consumo. “Isto realça o sabor”.   consistência. Para garantir sigilo no julgamento, as amostras de todos
Os queijos Mussarela, Prato e o Requeijão são, nessa ordem, os produtos são apresentadas aos juízes com identificação feita apenas
os mais consumidos no Brasil. “São queijos de mesa e usados como por um código de três dígitos aleatórios, de conhecimento somente do
ingredientes, por isso, mais produzidos e comercializados”, informa coordenador do Concurso.
Denise. A lista de preferência do consumidor brasileiro ainda inclui os
queijos Reino e Provolone. O consumo dos queijos mofados, como o Como participar
Gorgonzola e Camembert, não atinge o topo da lista, porém já começam
a ser mais conhecidos. “Eles ainda não são muito consumidos, mas As indústrias de laticínios interessadas em participar do Concurso
estão começando a crescer no mercado”, explica a professora Denise, Nacional de Produtos Lácteos do Instituto de Laticínios Cândido Tostes
que ressalta a alta qualidade dos queijos produzidos no Brasil. Segundo devem-se inscrever no site oficial do Congresso - www.cnlepamig.com.br -
ela, as indústrias brasileiras têm colocado no mercado produtos onde está o regulamento completo, as características de cada categoria e
comparados aos produzidos na França, e Minas Gerais se destaca. No a ficha de inscrição. O evento é tradicional no segmento e faz parte do já
Estado, hoje, são produzidos todos os queijos citados. “O queijo tipo consagrado Congresso Nacional de Laticínios, que acontece na segunda
Reino é fabricado em Ibitipoca, Lima Duarte e Santos Dumont e o queijo semana de julho, no Expominas, em Juiz de Fora, MG, sob a organização
tipo Gorgonzola no Sul de Minas”, exemplifica. da EPAMIG-ILCT.

Solenidade de entrega de
diplomas e troféus

Laboratório de
julgamento de
queijos
Luiza Carvalhaes de Albuquerque
Coordenadora de Transferência e Difusão de Tecnologia EPAMIG-ILCT
Nelson Luiz Tenchini de Macedo
Chefe do Centro de Administração, Produção e Comércio EPAMIG-ILCT
Juliana Hastenreiter Mucidas
Supervisora do Núcleo Industrial e Comercial EPAMIG-ILCT

Fotos: Fernando Priamo

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262.indb 36 27/6/2011 12:03:47
Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 37

Tecnologia de fabricação de requeijão e queijos


processados ou fundidos
Denise Sobral 1
Renata Golin Bueno Costa 2
Junio César Jacinto de Paula 3
Vanessa Aglaê Martins Teodoro 4
Gisela de Magalhães Machado 5
Elisângela Michele Miguel 6

Resumo - O queijo, cujas características da massa revelam destruição completa da


estrutura original do coágulo, pode ser classificado como de massa fundida. O requeijão
é um queijo tipicamente brasileiro e está inserido nesta classificação. O princípio da
fabricação desses queijos consiste em fundir dois de seus elementos principais, a
proteína e a gordura, sob condições determinadas de agitação mecânica e temperatura.
O requeijão e os queijos processados possuem mercado promissor, por serem utilizados
como ingredientes em alimentos congelados, pizzas, sanduíches, recheios e também
para consumo direto.

Palavras-chave: Produto lácteo. Queijo. Queijo fundido. Sal fundente. Sal emulsificante.
Processamento.

INTRODUÇÃO ROTHMANN; SCHEURER, 2005). Com BERGER et al., 1989; NUSBAUM, 1992;
o avanço das pesquisas nesta área, surgiu GARRUTI et al., 2003).
As primeiras tentativas de fabricação
na Suíça, por volta de 1911, a tecnologia O requeijão surgiu no Brasil como
do queijo fundido aconteceram no final
de queijos fundidos criada por W. Gerber subproduto feito a partir de leite desnatado,
do século 19. O objetivo era utilizar o
e F. Stettler. Após inúmeras tentativas sem que era considerado descarte das regiões
calor para controlar processos microbia- sucesso, esses pesquisadores obtiveram produtoras de creme para a fabricação de
nos e enzimáticos em queijos e conse- êxito nos experimentos, utilizando o ci- manteiga (MUNCK; CAMPOS, 1984). A
guir transportá-los a grandes distâncias. trato de sódio e o calor para solubilizar o produção restringia-se ao uso local, mas
Naquela época, a tecnologia ainda não caseinato de cálcio da matéria-prima. Após com a evolução dos meios de transporte,
era bem desenvolvida e ocorriam alguns o resfriamento da mistura, obtinha-se um de acondicionamento e de tecnologia, o
contratempos, como separação de gor- gel razoavelmente firme e homogêneo de- requeijão tornou-se expressivo no mercado
dura e de proteína (DUTRA; MUNCK, nominado queijo fundido (MEYER, 1973; de queijos, ocupando a preferência de con-
1997; BERGER et al., 1989; MAURER- FERNANDES et al., 1985; ZEHREN; sumo de muitos brasileiros. Atualmente,

1
Enga Alimentos, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: denisesobral@epamig.br
Enga Alimentos, D.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
2

renata.costa@epamig.br
3
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, D.Sc., Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio
eletrônico: junio@epamig.br
Médica-Veterinária, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
4

vanessa.teodoro@epamig.br
5
Enga Alimentos, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: giselammachado@epamig.br
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz
6

de Fora-MG. Correio eletrônico: elismicheli@epamig.br

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38 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

são várias as tecnologias empregadas na O requeijão é obtido pela fusão de uma Há outra classe de requeijões, não
fabricação de requeijão, assim como o massa de coalhada dessorada e lavada, re- especificada pela legislação brasileira,
formato do produto, as embalagens, a con- sultante da coagulação ácida e/ou enzimá- com consistência entre o requeijão de
sistência e os coadjuvantes tecnológicos tica do leite com ou sem adição de creme barra e o requeijão cremoso, denominado
(RODRIGUES, 2006). de leite ou manteiga e/ou gordura anidra requeijão culinário. O requeijão culinário
Existem no mercado brasileiro diversos do leite ou butter oil (BRASIL, 1997b). deve possuir elasticidade que permita sua
produtos com a denominação requeijão, O requeijão cremoso (Fig. 1) é obtido moldagem com bolsa de confeiteiro ou mo-
sendo o culinário o que apresenta consumo por fusão da massa coalhada dessorada e delagem com as mãos. É muito utilizado
mais expressivo. Em 2009, o segmento lavada, obtida por coagulação ácida e/ou como ingrediente de pratos prontos, con-
produziu 191 mil toneladas de requeijão enzimática do leite com adição de creme gelados, pizzas e salgados. Deve possuir
no País, 10% a mais que em 2008, sendo de leite ou manteiga e/ou gordura anidra alta funcionalidade, ou seja, apresentar sa-
134 mil toneladas de requeijão culinário e o do leite ou butter oil (BRASIL, 1997b). tisfatório derretimento, quando submetido
restante de requeijão cremoso (ASSOCIA- Requeijão do Norte ou requeijão de a forno médio entre 180 °C e 200 °C, por
ÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS manteiga é o produto resultante da fusão 30 a 40 minutos. Não pode desmanchar
DE QUEIJO, 2010). Os queijos processa- de manteiga derretida com massa ou coa- ou escorrer, quando utilizado em recheios,
dos apresentam menor produção anual, se lhada de leite integral ou desnatado, filada apresentando-se sob a forma de um creme,
comparados ao requeijão, sendo em torno e salgada em condições próprias (BRASIL, de sabor característico, além de possuir
de 10.763, divididas entre queijos fatiados, 1997b). Os requeijões do Nordeste são bom rendimento (RODRIGUES, 2006).
porções, tabletes e cremosos (ASSOCIA- fabricados, em grande parte, de maneira Existem também os requeijões análo-
ÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS artesanal e possuem grande resistência às gos, similares aos tradicionais, mas que não
DE QUEIJO, 2010). adversidades do meio onde são conserva- podem ser classificados como tais sem que
dos, comercializados e consumidos. Isso seja declarado no rótulo, por empregarem
REQUEIJÃO E SUAS ocorre, por causa do intenso tratamento em sua formulação ingredientes de origem
VARIAÇÕES térmico ao qual a coalhada e a manteiga não láctea, como gordura vegetal hidroge-
são submetidas, além da proteção dada nada e amido modificado (RODRIGUES,
Existem, no Brasil, requeijões de con-
por uma película oleosa que se forma, 2006). Os requeijões análogos eram deno-
sistência untável, até bastante firmes, que
quando o produto é colocado em condições minados Especialidades Lácteas, no Brasil,
podem ser cortados em fatias (OLIVEIRA,
ambientais (VENTURA, 1987). até 2005, quando a Divisão de Inspeção
1986). O requeijão é definido pela legisla-
ção brasileira como:
O produto obtido pela fusão da massa
coalhada, cozida ou não, dessorada e
lavada, obtida por coagulação ácida e/
ou enzimática do leite opcionalmente
adicionado de creme de leite e/ou
manteiga e/ou gordura anidra de leite
ou butter oil. O produto poderá estar
adicionado de condimentos, especiarias
e/ou outras substâncias alimentícias.
(BRASIL, 1997b).

De acordo com a Portaria no 359, de 4


de setembro de 1997 (BRASIL, 1997b),
o requeijão pode ser classificado como
requeijão, requeijão cremoso e requeijão
de manteiga. As diferenças entre estes
consistem no tipo de matéria-prima e de sal
Fernando Priamo

fundente, empregados no processo de fa-


bricação, e dos teores de gordura e umidade
contidos no produto final (FERNANDES
et al., 1985). Figura 1 - Requeijão cremoso

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 39

de Leite e Derivados do Departamento de condimentos, especiarias e outras subs- com característica granulosa, que se separa
Inspeção de Produtos de Origem Animal tâncias alimentícias (BRASIL, 1997b). do soro lático. Pode ocorrer também por
(DILEI/DIPOA) decidiu não permitir Alguns ingredientes são obrigatórios ou uma acidificação progressiva, obtida por
esse termo para os análogos. Atualmente, não para cada tipo de requeijão (Quadro 1). fermentação lática, formando um coágulo
o amido e a gordura vegetal podem ser Nos queijos processados, é obrigatória liso, homogêneo, que ocupa inteiramente
utilizados desde que declarado no rótulo o apenas a utilização de queijos de uma ou o volume inicial de leite. A acidificação
termo “Requeijão e componentes extras” mais variedades e agentes emulsificantes produz uma profunda desorganização da
(DENDER, 2006), como requeijão com autorizados, o restante dos ingredientes são micela, acompanhada por uma modificação
gordura vegetal ou requeijão com amido opcionais (BRASIL, 1997a). da estrutura quaternária das caseínas. Com
modificado. a aproximação do pH isoelétrico, ocorre a
Leite neutralização das cargas e uma importante
QUEIJOS PROCESSADOS OU O leite é a matéria-prima principal redução da hidratação das proteínas, o que
FUNDIDOS conduz à sua insolubilização (ECK, 1987).
na fabricação de requeijão, utilizado na
O queijo fundido, também conhecido fabricação da massa de queijo. Podem-se Considerando o baixo conteúdo de
como queijo processado, é obtido por utilizar leite desnatado, leite reconstituído, cálcio e o alto grau de decomposição das
trituração, mistura, fusão e emulsão por leite integral ou até mesmo leite integral proteínas, os queijos de massa ácida são me-
meio do calor e agentes emulsionantes de homogeneizado, em que se fracionam os nos interessantes como matéria-prima para
uma ou mais variedades de queijo, com ou glóbulos de gordura, impedindo que estes queijos fundidos (BERGER et al., 1989).
sem adição de outros produtos lácteos e/ou se percam na etapa de dessoragem da mas- Na fabricação do requeijão, o inconve-
sólidos de origem láctea e/ou especiarias, sa (DENDER, 2006). O leite reconstituído niente de utilizar massa ácida é a geração
condimentos e outras substâncias alimen- não é muito utilizado no Brasil, pelo ele- de soro ácido. Este não pode ser utilizado
tícias nas quais o queijo constitui o ingre- vado valor do leite em pó, se comparado como subproduto para fabricação de outros
diente lácteo utilizado como matéria-prima ao leite in natura disponível. derivados, como as bebidas lácteas, e nem
preponderante na base láctea (BRASIL, para alimentação animal, sendo fonte gera-
1997a). Os queijos processados também Massa ácida e enzimática dora de resíduos (PAULA, 2005).
podem ser UHT, desde que submetidos para requeijão Alguns tipos de coagulação ácida para
a tratamento térmico de 135 ºC a 145 ºC, A massa fresca de queijo pode ser obtenção de massa para requeijão estão
durante 5 a 10 segundos após a fusão ou obtida por meio de dois processos: o de em desuso, como é o caso da fabricação a
qualquer outra combinação de tempo/tem- acidificação (emprego de fermentos lác- partir da coagulação natural do leite cru.
peratura equivalentes (BRASIL, 1997a). ticos ou adição direta de ácidos orgânicos Essa massa pode resultar na despadroni-
ao leite aquecido) ou o processo de coa- zação do produto final, além de riscos de
INGREDIENTES PARA gulação enzimática, em que se utilizam contaminação do ambiente e do requeijão
FABRICAÇÃO DE REQUEIJÃO enzimas coagulantes (como o coalho), para (MORENO; VIALTA; VALLE, 2002). A
E QUEIJOS PROCESSADOS coagulação do leite pasteurizado por meio
obtenção da massa (MORENO; VIALTA;
Alguns ingredientes são opcionais na VALLE, 2002). da fermentação por bactérias láticas sele-
fabricação de requeijões, como coalhos O método de coagulação ácida para cionadas também não tem sido empregada
ou coagulantes, creme, manteiga, gordura fabricação de massa de requeijão ocor- em função do período longo de coagulação
anidra de leite ou butter oil, sólidos de re por adição de um ácido mineral ou (DENDER, 2006). Assim, para fabricação
origem láctea, leite em pó, caseína, casei- orgânico que conduz à floculação das de requeijão, tem-se preferido a obtenção
natos, cloreto de sódio, cloreto de cálcio, proteínas no pH 4,6 (ponto isoelétrico das da massa pelo processo de acidificação di-
fermentos lácteos ou cultivos específicos, caseínas), sob a forma de um precipitado, reta ou por meio de coagulação enzimática.

QUADRO 1 - Ingredientes obrigatórios para a fabricação de requeijão


Ingrediente Requeijão cremoso Requeijão de manteiga Requeijão barra

Leite ou leite reconstituído Obrigatório Obrigatório Obrigatório

Creme ou manteiga ou gordura Obrigatório Obrigatório (apenas manteiga) Não obrigatório


anidra do leite ou butter oil
Cloreto de sódio Não obrigatório Obrigatório Não obrigatório

FONTE: Brasil (1997a).

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A maior parte dos queijos é produzida da emulsão. Os queijos processados ou A ordem crescente de eficiência destes sais
por meio do processo de coagulação en- fundidos caracterizam-se por uma consis- são: tartarato < citrato e ortofosfato < poli-
zimática. Um grande número de enzimas tência definida, estrutura típica e um teor fosfato (BERGER et al., 1989; MAURER-
proteolíticas, de origem animal, vegetal de caseína intacta de, no mínimo, 12% ROTHMANN; SCHEURER, 2005).
ou microbiana, tem a propriedade de para que ocorra a estabilização da emulsão O verdadeiro agente emulsificante é
coagular o complexo caseínico (CRITÉ- (FERNANDES et al., 1985; BERGER a paracaseína. Componente natural do
RIOS..., 2004). O coalho é uma mistura et al., 1989; MAURER-ROTHMANN; queijo que interage com os sais fundentes
de quimosina e pepsina secretada pela SCHEURER, 2005). e é absorvida na interface, formando uma
mucosa gástrica do quarto estômago dos emulsão estável e altamente viscosa. Os
ruminantes jovens alimentados de leite. É Sais emulsificantes ou sais sais emulsificantes não atuam como emul-
fundentes sificantes propriamente ditos. O seu papel
a enzima coagulante mais conhecida e tem
seu mecanismo de ação bem estabelecido Os sais emulsificantes são indispen- é reagir com as proteínas, o que torna suas
(ECK, 1987; BERGER et al., 1989; CRI- sáveis para a fabricação de queijos pro- propriedades adequadas para que estas,
TÉRIOS..., 2004). No pH que predomina a cessados e produtos relacionados, como o sim, atuem como emulsificantes da dis-
fabricação de queijo, a quimosina rompe as requeijão. Os sais emulsificantes são utili- persão óleo-água (ZEHREN; NUSBAUM,
moléculas de k-caseína presente na superfí- zados com o objetivo de remover o cálcio 1992; SHIRASHOJI; JAEGGI; LUCEY,
cie das micelas, especificamente na ligação do sistema proteico, peptizar, hidratar, so- 2006). O paracaseinato expõe seus grupos
Phe105-Met106 (ECK, 1987). O resíduo de lubilizar e dispersar a proteína, estabilizar apolares e polares, cátions hidrofílicos e
aminoácido 1-105 é predominantemente a emulsão, controlar o pH, contribuir para a ânions lipofílicos e orientam cada um deles
hidrofóbico e o resíduo 106-169 comporta- formação de uma estrutura apropriada após para a interface óleo e água (BERGER
se de maneira fortemente hidrofílica. o resfriamento e, em alguns casos, atuar et al., 1989; MAURER-ROTHMANN;
Desse modo, a separação enzimática do como agente bacteriostático (MAURER- SCHEURER, 2005).
glicomacropeptídeo solúvel deixa exposto ROTHMANN; SCHEURER, 2005). Segundo Eluers e Costa (1992), as
o interior hidrofóbico das micelas de case- A principal característica de um sal funções dos sais fundentes são:
ína. Essas seriam repelidas pelo potencial emulsificante é a capacidade de solubilizar a) desintegrar a proteína do queijo
negativo e impedidas de se agruparem a caseína, com a consequente transforma- natural;
caso a perda do macropeptídeo não fosse ção da caseína para o estado sol homo- b) transformar o paracaseinato de
acompanhada também pela separação das gêneo. Essa capacidade aumenta, com o cálcio insolúvel em paracaseinato
cargas negativas (LUCEY; JOHNSON; seu poder de fixação do cálcio (MEYER, de sódio solúvel, produzido pela
HORNE, 2003). A remoção aproximada de 1973). Podem ser usados na forma anidra troca iônica do cálcio contido no
97% do macropeptídeo da micela promove ou em soluções preparadas com água a queijo, pelo sódio contido nos sais
o fortalecimento da interação hidrofóbica 50 ºC. Na maioria dos queijos processados, fundentes;
comparada às forças eletrostáticas de re- utilizam-se fosfatos e citratos. Os sais de c) emulsionar a massa fundida, ligando
pulsão. Quando isto ocorre com cerca de tartarato não são muito utilizados, pois as partículas de proteína, gordura e
85% das micelas de caseína do leite, há precipitam durante a estocagem, formando água;
a formação do gel (ECK, 1987). Após a cristais (BERGER et al., 1989).
d) estabilizar a emulsão;
coagulação, procedem-se às demais etapas No Brasil, os sais emulsificantes nor-
malmente são adquiridos já formulados, e) conferir durabilidade ao produto.
de fabricação de queijos, formando a massa
enzimática para fabricação de requeijão. como produtos prontos, específicos para Outra função importante desempenha-
cada tipo de queijo, cremoso ou bloco. A da pelos sais emulsificantes é a peptização,
Mistura de queijos para quantidade necessária a ser utilizada varia isto é, a separação dos grandes agregados
fabricação de queijos de 2% a 3% em relação à massa a ser hidrofóbicos de caseína em unidades me-
processados
fundida e o excesso pode provocar gosto nores, durante o processo de aquecimento
Os queijos processados podem ser amargo e separação de água e de gordura e agitação da massa. A peptização aumenta
fabricados com uma única variedade de (FERNANDES et al., 1985). a área superficial e a capacidade de re-
queijo ou com várias delas. O importan- O sal fundente deve ser solúvel em tenção de água da proteína, provocando
te na seleção dos queijos para fusão é a água de maneira a alcançar as micelas e uma mudança na textura do produto final.
qualidade microbiológica e a mistura de as submicelas. Não deve possuir alto peso Esse fenômeno é tecnicamente conheci-
diferentes índices de maturação, o que molecular e, o mais importante, deve ser do como efeito cremificante (MEYER,
pode influenciar no sabor e na estabilidade neutro em termos de fisiologia e sabor. 1973; ZEHREN; NUSBAUM, 1992).
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A cremificação, isto é, a transformação da também conhecido como difosfato O cálculo da quantidade de gordura a
rede caseínica em uma dispersão coloidal dissódico, pirofosfato tetrassódico, ser adicionada na fabricação de requeijão e
estável é, provavelmente, a condição mais também conhecido como difosfato processados depende da gordura no extrato
importante para a fabricação de queijos tetrassódico e o tripolifosfato de seco do produto final e da porcentagem
pastosos (FERNANDES et al., 1985; sódio, ou trifosfato pentassódico de gordura dos ingredientes adicionados
ZEHREN; NUSBAUM, 1992). (BERGER et al., 1989); como o creme de leite e a massa de queijo
O mecanismo de atuação dos sais c) citratos: o citrato trissódico é ligei- (DENDER, 2006). No Quadro 2 (BRASIL,
emulsificantes pode ser assim resumido: ramente alcalino, com capacidade 1997ab) estão apresentados os requisitos
dissolvido na fase aquosa, o sal rompe as de se ligar ao cálcio formando de matéria gorda no extrato seco e teores
pontes de fosfato de cálcio que existem complexos que solubilizam as pro- de umidade exigidos pela legislação bra-
entre as micelas e submicelas, substituindo sileira para cada tipo de requeijão e para
teínas. Dá ao produto final um sabor
o cálcio por sódio e formando uma estru- queijos fundidos.
particular, além de apresentar uma
tura proteica mais aberta e desagregada,
estrutura mais longa e elástica. É
também mais suscetível a ligar um maior Água
mais indicado para produtos de corte
volume de água de hidratação em suas
(BERGER et al., 1989). Um estudo A água presente nos queijos proces-
porções hidrofílicas (BERGER et al.,
realizado por Shirashoji, Jaeggi sados e nos requeijões pode ser advinda
1989). A caseína em estado mais hidrata-
e Lucey (2006) comprovou que a de várias fontes, como: a água adicionada
do mantém-se dispersa numa suspensão
concentração de citrato trissódico, diretamente ao processo, a água presente
coloidal, com a exposição de seus grupos
em mesmos valores de pH, afeta nos ingredientes (creme e massa de quei-
polares e apolares, o que permite a sua
a textura e a capacidade de derre- jo) e a água oriunda do vapor direto, que
atuação como emulsificante na interface
timento de queijos processados. se condensa durante o processamento
água-óleo (ZEHREN; NUSBAUM, 1992).
Com o aumento da concentração de (ZEHREN; NUSBAUM, 1992).
Alguns dos sais emulsificantes mais
citrato trissódico, há aumento da fir- A água auxilia no processo de trans-
utilizados são:
meza e diminuição da capacidade de ferência de energia térmica e mecânica,
a) ortofosfatos (ou monofosfatos):
derretimento do queijo processado facilitando a fusão. Além de dissolver o sal,
apresentam capacidade tamponan-
(SHIRASHOJ; JAEGGI; LUCEY, produz boa dispersão da caseína e forma
te. O ortofosfato dissódico é mais
usado para produtos untáveis. Os or- 2006). emulsão perfeita com a proteína e a gordura
tofosfatos monossódico e trissódico (DENDER, 2006). A água deve ser de boa
são mais usados como corretores de Fontes de gordura qualidade, livre de contaminação, assim
pH. Geralmente, estes sais não apre- como os demais ingredientes utilizados no
As fontes de gordura utilizadas no pro-
sentam propriedades cremificantes, processo de fabricação.
cesso de fabricação dos requeijões e queijos
deixando o produto com aspecto processados podem ser: o creme de leite,
mais fluido (BERGER et al., 1989); PROCESSAMENTO
a manteiga, a gordura anidra do leite ou o
b) fosfatos condensados: apresentam butter oil. O creme pode ser fermentado Os queijos processados e o requeijão
capacidade tamponante, além de pela adição de fermento lático, dando sabor são uma mistura de queijo, água, sais
peptizar, dispersar, hidratar e pro- característico ao produto final. A gordura emulsificantes (comumente citrato de
mover a formação e estabilização no extrato seco desengordurado desses sódio, ortofosfatos de sódio e polifosfatos
de emulsões. Os mais conhecidos tipos de queijos é elevada, predominando de sódio), gordura de origem láctea e con-
são: pirofosfato ácido de sódio, na faixa de 50% a 60% (DENDER, 2006). dimento. A combinação de ingredientes e

QUADRO 2 - Requisitos de umidade e gordura no extrato seco para requeijões e queijos processados exigidos pela legislação brasileira
Requeijão Requeijão de Queijo processado Método de
Requisito Requeijão
cremoso manteiga e UHT referência
Matéria gorda no extrato seco g/100 g 45,0 a 54,9 55,0 25,0 a 59,9 35 Norma FIL
(mínimo) (mínimo) (mínimo) 5B:1986

Umidade g/100 g 60,0 65,0 58,0 70 Norma FIL


(máximo) (máximo) (máximo) (máximo) 4A:1982

FONTE: Brasil (1997ab).


NOTA: FIL - Federação Internacional de Laticínios.

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as condições de processamento são sele- cozimento durante o processo pode ser a) queijo fatiável: pH de 5,5 a 5,7;
cionadas para dar ao requeijão estrutura, responsável pelo aumento da viscosidade b) queijo cremoso: pH de 5,7 a 6,1.
aparência, cor, sabor e custo desejável ao do produto, com textura supercremificada
e seca (SHIRASHOJI; JAEGGI; LUCEY, O aumento do pH resulta no decrés-
produto (SCHÄR; BOSSET, 2002).
2006). cimo da interação proteína-proteína e
O requeijão e queijos processados
Durante o processo, a massa de queijo no aumento da hidratação das proteínas,
apresentam alta durabilidade por causa do
constituída principalmente de proteína e deixando o requeijão menos firme (GUNA-
tratamento térmico no qual são submetidos
gordura é dispersa, homogeneizada e con- SEKARAN, 2002). A faixa é relativamente
durante a fabricação (SILVA et al., 2002).
vertida em uma emulsão. Os sais fundentes estreita, limitada pela estrutura do queijo
As forças que intervêm no processo de
contribuem na dispersão das proteínas e no e durabilidade do produto final (SHI-
fusão são de origem físico-química, me-
aumento de suas propriedades emulsifican- RASHOJI; JAEGGI; LUCEY, 2006). Se o
cânica e térmica.
tes (SCHÄR; BOSSET, 2002). O queijo pH for abaixo de 5,4, prejudica a estrutura
Os ingredientes usados na formulação,
transforma-se do estado semissólido, coa- e o paladar, o queijo apresenta uma textura
bem como as condições de processamento,
gulado ou floculado, até atingir o limite de granulosa. Se o pH for acima de 6,2, tem-se
podem influenciar significativamente as
solubilidade, que dependerá não só da mas- o perigo de reduzir a durabilidade do quei-
propriedades funcionais dos queijos pro-
sa de queijo, como dos sais emulsificantes jo, além de alterações no sabor e estrutura
cessados (KAPOOR; METZER, 2005).
empregados (FERNANDES et al., 1985). (acentuação do gosto salgado e separação
Segundo Eluers e Costa (1992), as trans-
O processo possui algumas fases prin- de gordura) (FERNANDES et al., 1985).
formações ocorridas na massa de queijo
são determinadas pelos seguintes fatores: cipais. A primeira consiste na peptização,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que é a troca de íons cálcio bivalentes da
a) a própria matéria-prima (pH, prote-
paracaseína por íons sódio monovalentes, A produção de queijos processados e de
ólise, extrato seco, umidade);
promovida pelos sais fundentes. Ocorre requeijão aumentou consideravelmente na
b) equipamento utilizado (tacho aberto, nesta fase uma dissolução das pontes de última década, sendo o requeijão culinário
fechado); cálcio do agregado de caseína e a estrutura o produto com maior destaque. Este fato
c) rotação do equipamento (baixa, passará do estado gel para o estado sol. ocorre por serem os queijos de massa fun-
alta); Na segunda fase, denominada hidratação, dida alimentos versáteis, utilizados como
d) vapor direto/indireto; ocorre a cremificação, ou seja, mudança ingredientes ou para consumo direto, com
na consistência do produto pela absorção muitas variações de sabor e textura. Podem
e) pressão do vapor;
de água. A última fase, de reestruturação, ser comercializados em bisnagas, copos,
f ) umidade do vapor; ocorre durante o resfriamento e após a fatiados, blocos para fatiar, em porções
g) tempo de fusão; estocagem, havendo uma estabilização individuais para lanche ou aperitivos,
h) temperatura; do produto por meio da reorientação das atendendo às necessidades do mercado e,
moléculas proteicas (QUEIJOS..., 2002). principalmente, dos consumidores.
i ) sal fundente utilizado.
A massa de queijo deve ser seleciona-
O processo de fusão consiste no da e formulada de acordo com o produto REFERÊNCIAS
tratamento térmico, no qual a mistura é final que se deseja obter (MARTINS; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚS-
submetida, utilizando tanto vapor direto FERNANDES, 1981). Após a obtenção TRIAS DE QUEIJO. Produção brasileira de
como indireto, sob vácuo parcial e agitação da massa, são feitas as análises físico- produtos lácteos e estabelecimentos sob
constante (DENDER, 2006). A mistura é químicas necessárias para os cálculos das inspeção federal. São Paulo, 2010. Não pa-
aquecida a temperaturas de 80 °C - 120 °C, quantidades de água e gordura a serem ginado.
até que uma massa homogênea seja obtida adicionadas, bem como a escolha do sal BERGER, W. et al. Processed cheese manu-
(SCHÄR; BOSSET, 2002). Segundo a fundente adequado (MARTINS; FER- facture: a Joha guide. Landenburg: BK Giu-
legislação brasileira, o requeijão deve ser NANDES, 1981). lini, 1989. 238p.
submetido a aquecimento mínimo de 80 ºC, O controle do pH do produto final BRASIL. Ministério da Agricultura e do
durante 15 segundos, ou outra combinação é um fator importante na fabricação, já Abastecimento. Portaria no 356, de 4 de
de tempo/temperatura equivalentes (BRA- que é necessário para obter e manter as setembro de 1997. Aprova o Regulamento
Técnico para Fixação de Identidade e Qua-
SIL, 1997b). A fusão deve ser rápida e a características desejáveis de textura e
lidade de Queijo Processado ou Fundido,
agitação vigorosa, para que a massa não propriedades reológicas dos requeijões Processado Pasteurizado e Processado ou
queime e para que a homogeneização do (GUNASEKARAN, 2002). Segundo Fer- Fundido U.H.T. (UAT). Diário Oficial [da]
produto seja completa (DENDER, 2006). nandes et al. (1985), as faixas aconselhadas República Federativa do Brasil, Brasília, 8
Porém, o prolongamento no tempo de para cada tipo de queijo são: set. 1997a.

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BRASIL. Ministério da Agricultura e do Joha guide. Landenburg: BK Giulini, 2005.


Abastecimento. Portaria no 359, de 4 de 50p.
setembro de 1997. Aprova o Regulamento
MEYER, A. Process cheese manufacture.
Técnico para Fixação de Identidade e Quali-
London: Food Trade Press, 1973. 360p.
dade de Requeijão ou Requesón. Diário Ofi-
cial [da] República Federativa do Brasil, MORENO, I.; VIALTA, A.; VALLE, J. L. Efei-
Brasília, 8 set. 1997b. tos das várias etapas do processamento de
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Queijos Minas Frescal e Minas Padrão:


características e tecnologia
Junio César Jacinto de Paula 1
Antônio Fernandes de Carvalho 2
Felipe Alves de Almeida 3
Renata Golin Bueno Costa 4
Denise Sobral 5
Gisela de Magalhães Machado 6

Resumo - O consumo do queijo Minas, há muitos anos, faz parte do hábito alimentar
brasileiro, o que pode estar associado a características diferenciadas como alta
aceitabilidade sensorial, preços mais acessíveis a uma maior faixa da população,
facilidade de fabricação, bom rendimento e preparo rápido. Por esses motivos,
os queijos Minas Frescal e Minas Padrão ocuparam a quinta e a décima posição,
respectivamente, no mercado brasileiro de queijos em 2009. Na maioria das vezes, as
tecnologias de fabricação utilizadas pelas fábricas de queijos são variadas, o que gera
produtos bastante irregulares e sem a padronização adequada quanto a consistência,
textura, sabor, durabilidade e rendimento.

Palavras-chave: Produto lácteo. Queijo. Fabricação. Tecnologia industrial.

INTRODUÇÃO A produção de queijos tem aumentado 2009 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS


expressivamente nos últimos anos e os INDÚSTRIAS DE QUEIJO, 2010). Entre
O Brasil, em 2008, foi o sexto maior
maiores aumentos alcançados ocorreram os queijos de massa crua, o Minas Frescal
produtor de leite, respondendo por 4,52%
quando a população apresentou maior po- e o Minas Padrão são os mais consumi-
da produção mundial. Minas Gerais, por
der aquisitivo, ou seja, após a implantação dos e representam juntos cerca de 8% do
sua tradição, clima e topografia, é o maior do Plano Real. Em 2009, a produção de mercado brasileiro, ocupando a terceira
Estado produtor de leite e queijos do Bra- queijos produzidos sob inspeção federal posição no consumo, em 2005. Em 2009,
sil, sendo responsável por mais da metade foi de 721.411 t, com aumento de 7,8% o queijo Minas Frescal foi o quinto mais
da produção nacional. A fabricação de sobre a produção de 2008. Contudo, fabricado no Brasil, com um volume total
queijos no Brasil é o principal destino do considerando que o mercado de queijos de 37.100 t, apresentando um aumento de
leite produzido e, em torno de 33% do leite formais equivale a 60% do mercado total, 7% em relação ao ano anterior. No caso
captado, sob inspeção federal, é destinado pode-se concluir que o de queijos no Brasil do queijo Minas Padrão, foi fabricado,
a esse setor (EMBRAPA, 2008). ultrapassou a 1 milhão de toneladas, em em 2009, um volume total de 8.050 t, o

Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, D.Sc., Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio
1

eletrônico: junio@epamig.br
Farmacêutico-bioquímico, Pós-Doc, Prof. Adj. UFV - Depto. Tecnologia de Alimentos, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
2

antoniofernandes@ufv.br
3
Graduando Biomedicina UNIPAC, Campus VI - Juiz de Fora, Av. Juiz de Fora, 1.100, Granjas Betânia, CEP 36047-362 Juiz de Fora-MG.
Correio eletrônico: felipealvesdealmeida@yahoo.com.br
Enga Alimentos, D.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
4

renata.costa@epamig.br
5
Enga Alimentos, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: denisesobral@epamig.br
6
Enga Alimentos, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: giselammachado@epamig.br

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que representa um crescimento de 10% de conservação durante a comercialização, 2004; DIAS; GIGANTE, 2009). Os
no volume produzido em relação ao ano são fatores que têm contribuído para venda estudos sobre tecnologia de queijos são
de 2008 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA desses produtos fora dos padrões regula- ainda limitados. Por ser uma tecnologia
DAS INDÚSTRIAS DE QUEIJO, 2010). mentares (SANGALETTI, 2007). promissora, observa-se que a pesquisa
Com alto teor de umidade, o queijo A dificuldade de exportação e os ainda pode avançar, principalmente com
Minas Frescal é de consumo rápido, com principais problemas com a produção de relação à elucidação dos efeitos benéficos
pouca durabilidade, dependendo da quali- queijos no Brasil estão relacionados com da utilização de CO2 em queijos.
dade do leite e do processo de fabricação a baixa qualidade do leite produzido, as Assim, este trabalho tem como objetivo
utilizado. Esses queijos são altamente péssimas condições de fabricação e a fal- discutir as principais características e os
perecíveis, sendo suscetíveis às condições ta ou ineficiência da cadeia de frios. Um aspectos tecnológicos que influenciam na
inadequadas de transporte e estocagem nas estudo realizado por Lisita (2005) avaliou fabricação desses queijos.
gôndolas dos mercados distribuidores. Já a evolução da contaminação em uma linha
o Minas Padrão é um queijo maturado de de fabricação de Minas Frescal. Os resul- REQUISITOS LEGAIS
massa semimacia produzido em diversos tados demonstraram que o Minas Frescal,
No Brasil, o Regulamento Técnico
Estados, tendo sido iniciada sua fabricação antes de ser embalado, já se apresentava
de Identidade e Qualidade dos Queijos,
no século 19, em Minas Gerais. O queijo impróprio para o consumo, em razão
regulamentado pela Portaria no 146, de 7
Minas Padrão recebe outras denominações, das altas contagens de coliformes totais
março de 1996, define queijo como sendo:
como Minas Curado ou Minas Padroniza- e termotolerantes, podendo causar riscos
do. Além destas denominações, este queijo aos consumidores. O próprio processo de Produto fresco ou maturado que se
possui outras variedades, com caracterís- fabricação foi responsável pela alta con- obtém por separação parcial do soro
ticas semelhantes, produzidas de forma taminação, constituindo um problema de do leite ou leite reconstituído (integral,
artesanal, usando leite cru como matéria- saúde pública. parcial ou totalmente desnatado) ou de
prima. Dentre estas variedades são citados Em 2010, a EPAMIG, por meio do soros lácteos, coagulados pela ação fí-
os queijos do Serro, Cerrado, Canastra e Centro de Pesquisa do Instituto de Lati- sica do coalho, de enzimas específicas,
Araxá. O queijo Minas Meia-cura é feito cínios Cândido Tostes (ILCT), realizou de bactérias específicas, de ácidos or-
gânicos, isolados ou combinados, todos
de massa lavada e possui características um projeto de pesquisa financiado pela
de qualidade apta para uso alimentar,
diferentes, não sendo, portanto, o verda- Fapemig, no qual foi avaliada a incorpora-
com ou sem agregação de substâncias
deiro queijo Minas Padrão (FURTADO; ção de CO2 dissolvido no leite para a fabri-
alimentícias e/ou especiarias e/ou
LOURENÇO NETO, 1994; LONDOÑO; cação dos queijos Minas Frescal e Minas
condimentos, aditivos especificamente
FURTADO; ABREU, 1999). Padrão. Foram alcançados resultados muito
indicados, substâncias aromatizantes e
Vários pontos críticos foram identifi- interessantes que demonstraram, dentre
matérias corantes. (BRASIL, 1996).
cados no processamento desses queijos, outros fatores, que a incorporação de CO2
destacando-se a matéria-prima, o tanque não alterou o perfil fermentativo da cultura Conceitua-se Minas Frescal como quei-
de coagulação e a salmoura. As bactérias láctica no queijo Minas Padrão, bem como jo fresco obtido por coagulação enzimática
do grupo coliforme são indicativas de não alterou a composição, a preferência e a do leite e/ou outras enzimas coagulantes
condições higiênico-sanitárias inade- aceitabilidade sensorial desses queijos. Os apropriadas, completadas ou não com ação
quadas durante o processamento desses queijos Minas produzidos com leite pré- de bactérias lácticas específicas (Fig. 1).
queijos. Os microrganismos psicrotróficos acidificado com injeção de CO2 apresen- É classificado como um queijo fresco,
têm destaque especial por alterarem os taram reduções nos tempos de fabricação. semigordo e de alta umidade, geralmente
produtos sob refrigeração por causa da Também foi detectada menor porcentagem conhecido como queijo de massa branda,
produção de enzimas (lipases e proteases) de perda de proteína no soro de ambos os mole ou macia. Possui formato cilíndrico,
que degradam os lipídeos e as proteínas, queijos tratados com injeção de CO2, o massa entre 0,3 e 5,0 kg, cor esbranquiça-
resultando em alterações sensoriais e de que indica que modificações na tecnologia da, odor suave característico e baixa acidez
textura desses produtos (SANGALETTI, poderiam aumentar o rendimento da fabri- (BRASIL, 1996, 2004). Trata-se de um
2007). Diversos surtos de doenças têm cação e melhorar a produtividade e a com- queijo de curta durabilidade no mercado,
sido associados à ingestão de queijos, petitividade das indústrias (PAULA, 2010). demandando consumo rápido, em função
em razão, principalmente, da presença de A literatura relata as propriedades e os de seu alto teor de umidade, em geral pro-
Staphylococcus aureus, E. coli, B. cereus, efeitos tecnológicos da utilização do CO2 duzido em fábricas de pequeno, médio e
Listeria monocytogenes e Salmonella sp. no leite e em produtos lácteos (RUAS-MA- grande portes (FURTADO, 2005b).
Falhas ocorridas durante todo o processa- DIEDO et al. 2002; LOSS; HOTCHKISS, O queijo Minas Padrão ou Minas
mento, aliadas a temperaturas inadequadas 2003; NELSON; LYNCH; BARBANO, Curado ou Minas Padronizado ou Minas
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Prensado é de origem brasileira, produzido interna branca, tendendo a creme, e apre- QUEIJO MINAS FRESCAL
em vários Estados. É um queijo de massa senta sabor levemente ácido (LONDOÑO;
prensada que utiliza fermento láctico me- FURTADO; ABREU, 1999). Aspectos tecnológicos
sofílico, adicionado ao leite durante sua fa- e padronização para o
Apesar de sua relevância e de signi-
bricação e possui um período de maturação queijo Minas Frescal
ficativa produção nacional, ainda não há
curto que varia de 20 a 30 dias em câmara As tecnologias de fabricação dos quei-
uma normalização específica para o queijo
fria a 10 °C - 12 °C (Fig. 2). Normalmente, jos Minas Frescal são variadas, dentre as
Minas Padrão na legislação brasileira. A
seu teor de umidade varia entre 46% e 49% quais se destacam o uso de ácido láctico, de
importância dos queijos Minas no mercado
(m/m), apresenta formato cilíndrico, com fermento lácteo e de diferentes processos
faces planas, bordas retas, massa de 800 a brasileiro consiste no fato de possuírem
de salga, dentre outras variações. O queijo
1.200 g, crosta lisa e amarelada. Possui ain- alto rendimento, baixo custo final, simpli-
Minas Frescal era produzido com o uso de
da textura aberta, com poucas e pequenas cidade no processo de fabricação, alta acei-
fermento láctico, processo que atualmente
olhaduras mecânicas. Sua consistência é tabilidade e preços acessíveis a uma maior
encontra-se em desuso. Quando se utiliza
de semidura a macia e quebradiça, com cor faixa da população (FURTADO, 2005a).
fermento, o queijo normalmente dessora
mais e com isso, o rendimento diminui.
Além disso, por causa da alta acidez que
atinge após alguns dias de fabricação, o
produto apresenta uma durabilidade muito
menor. Esses fatores são minimizados,
quando se usa ácido láctico em substituição
ao fermento (WOLFSCHOON-POMBO;
FURTADO; MUNCK, 1978).
Para os queijos com fermento lácteo,
utilizam-se culturas mistas compostas
Junio César Jacinto de Paula de microrganismos mesofílicos do tipo
“O” como Lactococcus lactis ssp. Lactis
e Lactococcus lactis ssp. Cremoris. Com
a disponibilidade e a facilidade de acesso
aos fermentos de uso direto – direct-vat-set
(DVS), recomenda-se o uso de um quarto
da dose indicada pelo fabricante, o que
Figura 1 - Queijo Minas Frescal minimiza os efeitos da pós-acidificação do
produto no mercado (FURTADO, 2005b).
Para a fabricação do queijo Minas
Frescal com o ácido láctico, utiliza-se o
industrial a 85% de pureza, em substituição
ao fermento láctico, por ser um produto que
não contém microrganismos e apenas au-
menta a acidez inicial do leite. A quantida-
de indicada é de 23,46 mL (ou 20-25 mL)
da solução a 85% para cada 100 L de leite
para aumentar, aproximadamente, 2 °D no
tanque de fabricação. Como é uma solução
altamente concentrada, se for adicionada
diretamente ao leite, irá provocar a sua
coagulação instantânea, por isso, deverá
Fernando Priamo

ser previamente diluído em água. A dose


recomendada de ácido láctico deve ser
diluída a 1%, ou seja, misturada a cerca de
Figura 2 - Queijo Minas Padrão 2 a 2,5 L de água para uma solução final
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com concentração de ácido láctico próxima tos. Neste momento, retira-se o restante de padronizado para 3,0% (m/m) de gordura,
à de um fermento láctico tradicional, uti- soro. Esse tipo de salga proporciona um é adicionado cloreto de cálcio, 50 mL da
lizado antigamente, denominado fermento queijo de textura mais aberta, ou seja, com solução a 40% (m/v) ou 40 mL de solução
de repique (WOLFSCHOON-POMBO; um maior número de olhaduras mecânicas a 50% (m/v). O leite utilizado é então aci-
FURTADO; MUNCK, 1978). (FONSECA, 1986). dificado lentamente com solução de ácido
Em relação à salga dos queijos, existem A salga a seco é realizada na proporção láctico a 85% (m/v), diluído a 1% (20 mL
diversos métodos que podem ser utilizados de 0,7% de sal, em relação ao volume de da solução a 85% m/v, diluída para 2,0 L
para o queijo Minas Frescal. Uma opção é leite, distribuído nas duas faces do queijo, de água filtrada ou destilada), a fim de au-
a salga no leite, a qual é realizada por meio sendo feita durante as viragens. No en- mentar a acidez em 0,02 g de ácido láctico
da adição de 2% a 2,5% de sal, em relação tanto, a distribuição do sal pelo queijo é por 100 mL de leite ou 2 °D.
à quantidade de leite. Nesse processo, há prejudicada. A quarta opção é a salga em A temperatura é ajustada para 40 oC
uma boa distribuição do sal no queijo, mas salmoura a 10 oC - 12 oC, com 20% de a 42 oC e então procede-se à coagulação,
há uma grande perda de sal no soro, tornan- sal por períodos proporcionais ao peso e usando-se dose de coalho ou de coagulante
do-o impróprio para o aproveitamento em formato do queijo. Este método é o mais recomendada pelo fabricante. Após o tem-
outros produtos e até para a alimentação utilizado pelas grandes fábricas de queijos po necessário para a coagulação, a coalha-
animal (FONSECA, 1986). (FONSECA, 1986). No Quadro 1, estão da é cortada lentamente, por meio de liras
A segunda opção é a salga na massa, na apresentados os diferentes tipos de salga, horizontal e vertical, em cubos grandes de
qual é utilizado 1,5% de sal em relação ao utilizados na fabricação dos queijos Minas 2 cm de aresta e deixada em repouso por 5
volume inicial de leite. O sal deve ser de Frescal. min. O processo de mexedura é fixado em,
boa qualidade e adicionado à massa após aproximadamente, 20 min após o início da
a dessoragem de, aproximadamente, 80% Tecnologia de fabricação agitação da coalhada.
do queijo Minas Frescal O ponto final de fabricação no tanque é
do volume inicial do tanque. A coalhada
salgada com o restante do soro deve ser Para a fabricação do queijo Minas medido pela ligeira consistência dos grãos
agitada com o garfo por mais 1 a 5 minu- Frescal com 100 L de leite pasteurizado e e pela facilidade de escoamento do soro na
fôrma semelhante ao escoamento da água
em um “chuveirinho” sem o aprisionamen-
QUADRO 1 - Tipos de salga utilizados na fabricação do queijo Minas Frescal to do soro entre os grãos. A massa é então
Tipo de salga Vantagem Desvantagem colocada em fôrmas de Minas Frescal de
tamanhos variados, entre 250 g, 500 g,
No leite Homogênea Perda de sal no soro
1.000 g e 3.000 g, as quais são deixadas em
Elimina salmoura Perda do soro
repouso para o dessoramento e para a reali-
Método fácil e barato zação de três viragens, após 10 min, 30 min
e 60 min. Os queijos são então salgados em
Na massa Homogênea Produz olhaduras mecânicas
salmoura a 20% (m/v) de sal em tempera-
Elimina salmoura Contaminação pelo sal tura de 10 oC a 12 oC, por períodos propor-
Método fácil Inibe fermentação cionais ao peso e formato do queijo, por
Aproveita o soro exemplo, queijos de 250 g: 40 min; queijos
de 0,5 kg: 90 min e queijos de 1,0 kg:
Em salmoura Homogênea Contaminação 3 a 4 horas. Os queijos são deixados na
Economia de sal Custo elevado própria fôrma para a secagem a 7 °C e a
70% de umidade relativa (UR) do ar até
Aproveita o soro Necessita controle rigoroso
o dia seguinte, quando são embalados em
No queijo Elimina salmoura Contaminação do sal plástico de polietileno. O rendimento da
Método fácil e barato Impraticável para grande escala de produção
fabricação varia entre 5 e 5,5 L/kg (FUR-
TADO, 2005b).
Não homogênea Não homogênea
Na Figura 3, está apresentado o fluxo-
Aproveita o soro
grama de fabricação para o queijo Minas
FONTE: Fonseca (1986). Frescal.
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lização progressiva de sua carga, o que


Leite pasteurizado padronizado para 3,0% de gordura
diminui a capacidade natural de retenção
de água, além de torná-lo mais poroso. As
Adição de cloreto de cálcio (50 mL/100 L)
condições inadequadas de comercialização
durante o transporte e o acondicionamento
Adição de ácido láctico a 85% em temperaturas também inadequadas
(20 mL diluído para 2 L de água para 100 L de leite)
podem agravar o problema (FURTADO,
2005a).
Aquecimento a 40 ºC - 42 ºC
Baixa durabilidade
Adição de coalho ou coagulante A baixa durabilidade do queijo Minas
Frescal é decorrente de modificações que
Corte em grãos (2 cm de aresta) e repouso por 1 a 5 min prejudicam a aceitabilidade sensorial do
produto. O queijo torna-se mais ácido, o
uso de fermento láctico faz reduzir o pH
Agitação lenta da massa por 20 min
durante o armazenamento, que pode chegar
a até 4,9 em uma semana. A diminuição
Enformagem em fôrmas cilíndricas
do pH e o aumento da acidez são fatores
Viragens dos queijos nos tempos: 10 min, 30 min e 60 min
diretamente relacionados com o aumento
da contagem de bactérias contaminantes e
Salga em salmoura com 20% de sal a 10 ºC -12 ºC por tempo proporcional bactérias lácticas que resistiram à pasteu-
ao peso e formato do queijo
rização. Essas transformam a lactose em
ácido láctico durante o armazenamento
Secagem em câmaras a 7 ºC com 70% de umidade relativa (UR) do ar (SANGALETTI, 2007). Com uso de ácido
láctico, o pH se mantém mais elevado e
Embalagem e armazenamento a 5 ºC - 8 ºC pode chegar a, no mínimo, 5,2-5,4. Outro
Figura 3 - Fluxograma de fabricação do queijo Minas frescal fator importante é a modificação da textura
FONTE: Dados básicos: Furtado (2005b). do queijo que se torna pastoso e amarelado
em consequência da ação de enzimas do
coalho, proteases e peptidase. Com o uso
Principais problemas no conduzidos adequadamente. Outro fator
de fermento, a proteólise é mais rápida e
queijo Minas Frescal e suas importante é que, em algumas indústrias,
possíveis causas mais intensa. Outros fatores que afetam a
na tentativa de ganhar rendimento em litros
baixa durabilidade do queijo estão rela-
por quilogramas, o período de fabricação
Separação de soro cionados com o teor de umidade elevado,
do queijo é reduzido, diminuindo, assim,
O defeito de separação excessiva de condições higiênicas, utilização ou não
a sinérese do grão.
soro no queijo Minas Frescal está relacio- de fermento, tipo de coalho ou coagulante
O problema também ocorre nos queijos
nado com o elevado teor de umidade pre- embalados e comercializados em poucas (proteólise), contaminação na salmoura
sente na massa do queijo, o qual pode ser horas após o término da fabricação e da (leveduras), condições inadequadas de
decorrente de falhas no corte da coalhada salga, sem que tenha sido respeitado o transporte e comercialização (FURTADO,
que, ao ser cortada em cubos muito gran- período de secagem e resfriamento do 2005a).
des, retém maior teor de umidade. Além produto. Esse procedimento faz com que a
Gosto amargo
disso, os queijos fabricados sem o uso de massa, que muitas vezes se encontra ainda
fermento láctico retêm maior umidade na quente, não tenha a capacidade de reter a O gosto amargo em queijos é muito
massa, o que provoca seu dessoramento umidade adequadamente. Em especial para complexo e de difícil solução, pois o pro-
excessivo durante o armazenamento. os queijos fabricados com fermento lácteo blema pode estar ligado a diversas causas.
Como o processamento do queijo Minas ou que apresentam elevada carga microbia- Normalmente, é mais frequente no Minas
Frescal não inclui nenhum tipo de prensa- na, a fermentação da lactose com produção Frescal, fabricado sem a utilização de
gem da massa, seu teor de umidade tende de ácido láctico leva à desmineralização do fermento láctico, sem o qual pode ocorrer
a ser maior, o que pode gerar excesso de produto durante o armazenamento. A maior o acúmulo de peptídeos hidrofóbicos que
soro se os tempos de viragens não forem acidificação do queijo provoca a neutra- apresentam gosto amargo, principalmente
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por causa da ação do coalho ou coagulantes A primeira mexedura é fixada em 20 na tampa. Os queijos são então prensa-
de baixa qualidade e com alto teor de pep- min, quando, então, inicia-se a segunda, dos por 30 min com peso equivalente a
sina. No caso do uso de fermento lácteo, com aquecimento da massa com vapor dez vezes o peso do queijo. Em seguida,
esses peptídeos amargos são rapidamente indireto até 38 °C. O processo de mexedura são virados nas fôrmas e recolocados na
degradados pelas enzimas do fermento prolonga-se até o ponto, que é medido pela prensa, trocando-se a posição dos queijos
(FURTADO, 2005a). ligeira consistência dos grãos. O soro é que ficaram na parte superior para a infe-
drenado e a massa é pré-prensada, com rior, e novamente são prensados por mais
Vulnerabilidade a duas vezes o seu peso estimado, no próprio 90 min com o mesmo peso. Ao final, os
contaminações tanque de fabricação, por 15 a 20 min. queijos são virados e prensados mais uma
A fabricação do queijo Minas Frescal O bloco de massa é então cortado e vez, da mesma forma, porém, sem o uso
com ácido láctico apresenta condições colocado em fôrmas cilíndricas de 500 g, do dessorador da fôrma, durante 20 min,
ideais de vulnerabilidade a contamina- equipadas com dessoradores no corpo e quando os pesos são retirados e os queijos
ções, tais como: ausência da microbiota
competidora, alto teores de umidade e Leite pasteurizado padronizado para 3,0% de gordura
de lactose, alto valor de pH, entre 6,3 a
6,5. O uso de fermento láctico mesofílico
Adição de cloreto de cálcio (50 mL/100 L)
ajuda a inibir essas contaminações, mas
torna o queijo mais ácido. Atualmente,
encontram-se disponíveis no mercado os Adição de fermento mesofílico 5 U para 100 L (DVS, tipo “O”)

fermentos probióticos que ajudam a inibir


contaminações e diminuem a acidificação Aquecimento a 35 ºC e pré-maturação por 20 min
do queijo durante o armazenamento, além
de tornar o produto mais nutritivo (FUR- Adição de coalho ou coagulante
TADO, 2005a).
Corte em grãos (1 a 1,5 cm de aresta) e repouso por 1 a 5 min
TECNOLOGIA DE
FABRICAÇÃO DO QUEIJO
MINAS PADRÃO Agitação lenta por 20 min

O queijo Minas Padrão deve ser fa-


bricado, conforme tecnologia descrita por Agitação com aquecimento (1 ºC a cada 2 min) até 38 ºC

Furtado e Lourenço Neto (1994) e apre-


sentada na Figura 4. Obtenção do ponto
Para a fabricação do queijo Minas
Padrão, com 100 L de leite pasteurizado e Dessoragem e pré-prensagem com o dobro do peso de massa por 15 min
padronizado para 3,0% (m/m) de gordura,
é adicionado cloreto de cálcio, 50 mL da
Enformagem em fôrmas cilíndricas (com dessorador)
solução a 40% (m/v) ou 40 mL da solução
a 50% (m/v). Ao mesmo leite é então
Prensagens: com dez vezes o peso do queijo: 30 min, 90 min e 20 min
acrescentada dose normal (5u/100 L) de
Fermentação até pH menor que 5,6
fermento láctico mesofílico, composto por
Lactococcus lactis ssp. Lactis e Lactococcus
Salga em salmoura com 20% de sal a 10 ºC -12 ºC e secagem por 24h a 48h
lactis ssp. Cremoris e a temperatura ajus-
em câmaras a 10 ºC -12 ºC com 70% de umidade relativa (UR) do ar
tada para 32 oC a 35 oC.
Deixa-se o leite em repouso por 20 a 30
Embalagem termoencolhível a vácuo
min e procede-se à coagulação, usando-se
a dose recomendada pelo fabricante, de
coalho ou de coagulante líquido. Após a co- Maturação por 20 a 30 dias em câmara fria a 10 ºC - 12 ºC

agulação, a coalhada é cortada lentamente Figura 4 - Fluxograma de fabricação do queijo Minas Padrão
em cubos médios (1,0 a 1,5 cm de aresta) e FONTE: Furtado e Lourenço Neto (1994).
deixada em repouso por 1 a 5 min. NOTA: DVS - Direct-vat-set.

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 51

deixados na própria prensa até a obtenção nico específico. Um ponto crítico muito ______. Quesos tipicos de latinoamerica. São
de pH abaixo de 5,6. relevante na fabricação dos queijos Minas Paulo: Fonte Comunicações, 2005b. 192p.
Após a fermentação, os queijos devem Padrão é a utilização de culturas lácticas ______; LOURENÇO NETO, J.P. de M. Tec-
ser levados imediatamente para a salga em capazes de reduzir o pH do queijo o mais nologia de queijos: manual técnico para a
salmoura a 20% (m/v) de sal em temperatu- rápido possível, o que evita diversos produção industrial de queijos. São Paulo:
ra de 10 oC a 12 oC por tempo proporcional problemas causados por bactérias conta- Dipemar, 1994. 118p.
ao peso e formato do queijo (aproxima- minantes. A utilização de fermento lácteo LISITA, M.O. Evolução da população bac-
damente 12 h/kg). Posteriormente, são e o fato de ser um queijo de umidade mais teriana na linha de produção do queijo Mi-
deixados na secagem a 10 oC -12 oC e a baixa em relação ao queijo Minas Frescal nas Frescal em uma indústria de laticínios.
70% de UR do ar por 24h a 48h, quando são tornam o queijo Minas Padrão bastante 2005. 61p. Dissertação (Mestrado) – Escola
colocados em embalagens plásticas termo- seguro do ponto de vista microbiológico e Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
encolhíveis a vácuo. Os queijos devem ser aumenta consideravelmente o seu tempo Universidade de São Paulo, Piracicaba.
mantidos em câmara fria a 10 oC - 12 oC, de vida útil. LONDOÑO, M.M.D.; FURTADO, M.M.;
durante 20 a 30 dias, para maturação ABREU, L.R. Comparação dos processos de
(FURTADO; LOURENÇO NETO, 1994). AGRADECIMENTO fabricação, composição centesimal e senso-
rial do queijo Minas Meia Cura com os quei-
CONSIDERAÇÕES FINAIS À Fapemig pelo apoio financeiro. jos Minas Padrão e Prato. Revista do Insti-
Em muitas indústrias, os queijos Minas tuto de Laticínos “Cândido Tostes”, Juiz de
REFERÊNCIAS Fora,. v.54, n.306, p.20-22, jan./fev. 1999.
Frescal e Minas Padrão são fabricados de
maneira ineficiente e despadronizada. O ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚS- LOSS, C. R.; HOTCHKISS, J. H. Use of dis-
TRIAS DE QUEIJO. Queijos: mercado total
teor de umidade dos queijos Minas Frescal solved carbon dioxide to extend the shelf-
brasileiro. São Paulo, 2010. Compilado e or-
encontrados no mercado é normalmente life of dairy products. In: SMIT, G. (E.d).
ganizado por Disney Criscione.
superior a 60% (m/m), o que é preferido Dairy processing: improving quality. Cam-
BRASIL. Ministério da Agricultura, do bridge: Woodhead, 2003. part. 2, p. 391-410.
pelas indústrias brasileiras que buscam Abastecimento e da Reforma Agrária. Por-
alcançar maior rendimento de fabricação, taria no 146, de 7 de março de 1996. Aprova NELSON, B. K.; LYNCH, J. M.; BARBANO,
em litros por quilo de produto. Por causa os Regulamentos Técnicos de Identidade D. M. Impact of milk preacidification with
desse alto teor de umidade, o teor de lac- e Qualidade dos Produtos Lácteos. Diário CO2 on the aging and proteolysis of Ched-
tose residual presente no queijo também é Oficial [da] República Federativa do Bra- dar cheese. Journal of Dairy Science, v. 87,
sil, Brasília, 11 mar. 1996. n.11, p. 3590-3600, Nov. 2004.
muito alto, o que favorece a multiplicação
de bactérias deterioradoras, mesmo durante _______. Ministério da Agricultura, Pecuá- PAULA, J. C. J. Efeito do uso de carbono
a sua estocagem refrigerada. ria e Abastecimento. [Aditivos no Regula-
(CO2) na fabricação dos queijos Minas
mento Técnico para Fixação de Identidade e
A classificação como queijo de muito Frescal e Minas Padrão. 2010. 120p.Tese
Qualidade de Queijo Minas Frescal]. Instru-
alta umidade exige que o seu teor não seja ção Normativa no 4, de 1 de março de 2004.
(Doutorado em Ciência e Tecnologia de Ali-
inferior a 55% (m/m), o que o torna pere- Diário Oficial [da] República Federativa mentos) – Universidade Federal de Viçosa,
cível e de consumo rápido (BRASIL, 1996, do Brasil, Brasília, 5 mar. 2004. Viçosa. MG.
2004). A validade normalmente aplicada DIAS, B.M.; GIGANTE, M.L. Efeito da pré- RUAS-MADIEDO, P. et al. Manufacture of
para o queijo Minas Frescal é de 30 dias. acidificação do leite através da adição de Spanish hard cheeses from CO2- treated
No entanto, a durabilidade real do produto CO2 sobre o rendimento e as características milk. Food Research International, v.35,
depende muito da qualidade do leite, das físico-químicas do queijo Minas Frescal. n.7, p.681-690, 2002.
CONGRESSO NACIONAL DE LATICÍNIOS,
condições higiênico-sanitárias durante o SANGALETTI, N. Estudo da vida útil do
26., 2009, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora:
processamento desses queijos e das condi- queijo Minas Frescal disponível no mer-
EPAMIG-ILCT, 2009. 1 CD-ROM.
ções de transporte e estocagem do produto cado. 2007. 80p. Dissertação (Mestrado) –
EMBRAPA. Estatísticas do leite: leite em
durante a comercialização. Assim, são Escola Superior de Agricultura “Luiz de
números. Juiz de Fora, [2008]. Disponí-
raros os produtos que conseguem resistir a vel em: <http://www.cnpgl.embrapa.br>. Queiroz”, Universidade de São Paulo, Pira-
mais de duas semanas com boas condições Acesso em: 5 out. 2010. cicaba.
sensoriais e microbiológicas. O próprio FONSECA, C.F. Processos de salga e sua in- WOLFSHOON-POMBO, A.F.; FURTADO,
processo de fabricação é o principal res- teração nos queijos. Juiz de Fora: EPAMIG- M.M.; MUNCK, A.V. Fabricação de queijo
ponsável pela alta contaminação, consti- ILCT, 1986. 23p. Apostila. Minas Frescal com uso de ácido lático indus-
tuindo um problema de saúde pública. FURTADO, M.M. Principais problemas dos trial. In: CONGRESSO NACIONAL DE LATI-
O queijo Minas Padrão, apesar de sua queijos causas e prevenção. São Paulo: Fon- CÍNIOS, 5., 1978, Juiz de Fora. Anais... Juiz
importância, não possui regulamento téc- te Comunicações, 2005a. 200p. de Fora: EPAMIG-ILCT, 1978. p.160-182.

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52 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Leite fermentado probiótico: aspectos tecnológicos,


benefícios para a saúde humana e suas perspectivas
Sislene de Matos Reis 1
Danielle Soares Malveira 2
Isabela Rocha Menezes 3
Larissa Oliveira 4
Maximiliano Soares Pinto 5

Resumo - O leite fermentado é resultante do processo de fermentação do leite pasteuri-


zado ou esterilizado, por fermentos lácticos próprios, cujo procedimento realiza-se com
um ou vários cultivos de Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp.
Streptococus salivarius ssp. Thermophilus e/ou outras bactérias acidolácticas. A indústria
de lácteos desenvolveu novos produtos, em especial os probióticos, para atender à de-
manda dos consumidores por alimentos que apresentem sabor agradável, textura atrati-
va e tragam benefícios à saúde. Os probióticos têm o propósito de balancear a microbio-
ta intestinal, manter as concentrações ativas fisiologicamente e proporcionar condições
favoráveis à saúde do consumidor. A seleção adequada das estirpes na fabricação de
produtos lácteos probióticos é fundamental para garantir a sobrevivência das bactérias
no alimento e conferir sabor desejável.

Palavras-chave: Cultura láctica. Alimento funcional. Produto lácteo. Iogurte. Bactéria


probiótica.

INTRODUÇÃO propriedades e os efeitos que podem apre- são veículos em potencial para o consumo
sentar na promoção da saúde (OLIVEIRA de probióticos (ANTUNES et al., 2007b;
O consumidor está cada vez mais
et al., 2002). BALLUS et al., 2010). Estes procuram
preocupado com a saúde e tem optado por
alimentos diet/light, orgânicos, naturais Em todo o mundo, a indústria de lác- atender à demanda dos consumidores,
e funcionais. A população vem preferin- teos buscou desenvolver novos produtos, que consideram essencial que os produtos
do alimentos convenientes, autênticos e especialmente os probióticos (ANTUNES lácteos enriquecidos com probióticos apre-
saudáveis, sem abrir mão da satisfação ao et al., 2007a). Uma nova tendência da sentem sabor agradável, textura atrativa e
alimentar-se e da segurança do alimento indústria de alimentos é a produção de tragam benefícios à saúde (KOMATSU;
(PEREIRA, 2007). iogurtes e leites fermentados funcionais. BURITI; SAAD, 2008; ALVES et al.,
Os alimentos funcionais constituem, Isto porque, além de esses produtos terem 2009). O principal objetivo da indústria
hoje, prioridade de pesquisa em todo o grande aceitação do público em geral e é agregar valor mediante obtenção de um
mundo, com a finalidade de elucidar as apresentarem excelente valor nutritivo, produto que, além de nutritivo, seja capaz

1
Nutricionista/Bióloga, Mestranda Ciências Agrárias UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1.000, Bairro Universitário,
CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico: sislenereis@yahoo.com.br
2
Enga Alimentos, Mestranda Ciências Agrárias UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1.000, Bairro Universitário, CEP 39404-006
Montes Claros-MG. Correio eletrônico: dannymalveira@yahoo.com.br
Zootecnista, Mestranda Ciências Agrárias UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1.000, Bairro Universitário, CEP 39404-006
3

Montes Claros-MG. Correio eletrônico: isabelazootec@hotmail.com


Nutricionista, Mestranda Ciências Agrárias UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1.000, Bairro Universitário, CEP 39404-006
4

Montes Claros-MG. Correio eletrônico: larisoliveira@hotmail.com


5
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, D.Sc., Prof. Adj. UFMG - Instituto Ciências Agrárias, Av. Universitária, 1.000, Bairro Universi-
tário, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico: maxonze@yahoo.com.br

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 53

de beneficiar a saúde de quem o ingere (BRASIL, 2000; INSTITUTO ADOLFO pelas propriedades sensoriais e terapêuticas
(BALLUS et al., 2010). LUTZ, 2008). (DINIZ et al., 2003).
A elaboração de produtos lácteos fer- As características sensoriais desejáveis Alves et al. (2009) constataram a via-
mentados por microrganismos probióticos do leite fermentado são (BRASIL, 2006): bilidade da produção de frozen de leite
exige conhecimento em diversas áreas da a) aspecto fluido, pastoso ou gelificado; de cabra com adição de pré e probióticos.
ciência e tecnologia de alimentos, para b) cor: branco ou de acordo com a O produto apresentou qualidades físico-
que o consumidor possa usufruir de um substância alimentícia e/ou corante química e microbiológica aceitáveis,
alimento comprovadamente benéfico à adicionado; além de boa aceitação sensorial. Dessa
saúde (BALLUS et al., 2010). c) odor: acidulado, de acordo com a forma, os pesquisadores apresentaram
A fermentação é um método de pre- substância alimentícia e/ou substân- à indústria de laticínios uma alternativa
servação largamente utilizado desde os cia aromatizante adicionada; para oferecer um produto com apelo
primórdios da civilização, pela ausência de d) sabor: acidulado, de acordo com a probiótico e de menor custo, em relação
métodos de refrigeração ou pasteurização. substância alimentícia e/ou substân- aos demais produtos do gênero, uma vez
Historicamente, o processo de fermentação cia saborizante adicionada. que a concentração de cultura utilizada
envolvia a coagulação do leite por micror- De acordo com Brasil (2000), os foi menor do que a observada em outros
ganismos presentes no meio, obtendo-se leites fermentados deverão apresentar, trabalhos.
um produto final com características e durante seu período de validade, a con- Nos últimos anos, a literatura científica
propriedades físico-químicas diferentes da tagem mínima de bactérias lácticas totais tem atentado e avançado, significativamen-
matéria-prima (ALM, 1991). (UFC/g) igual a 106, quando for mencio- te, em pesquisas sobre probióticos e pre-
Várias espécies de bactérias lácticas nado o uso de bifidobactérias, a contagem bióticos, em especial, leites fermentados
são utilizadas comer­c ialmente para a deverá ser de, no mínimo, 106 UFC de e iogurtes (Fig. 2 e 3). Entretanto, ainda é
produção de leites fermentados, produtos bifidobactérias/g, não devendo ser subme- necessário comprovar a eficácia e a segu-
cárneos, iogurtes, queijos, dentre outros tidos a qualquer tratamento térmico após rança dos probióticos, principalmente, os
(MACEDO et al., 2008). As bactérias lácti- a fermentação. destinados ao público infantil (MORAIS;
cas são Gram-positivas, não esporogênicas, Existem vários tipos de leites fermen- JACOB, 2006; KOMATSU, BURITI,
anaeróbias facultativas, catalase e oxidase tados como o iogurte, o leite acidófilo, o SAAD, 2008).
negativas. Apresentam como principal ca- kefir e a coalhada (INSTITUTO ADOLFO Um microrganismo para ser conside-
racterística a fermentação de carboidratos LUTZ, 2008). rado probiótico precisa atender a vários
com produção de ácido láctico. Pertencem O kefir, do eslavo kephir, bem-estar, requisitos, sendo um dos principais a via-
a esse grupo quatro gêneros de suma im- é uma bebida fermentada, de origem bilidade das células, que devem estar pre-
portância em alimentos: Lactobacillus, caucasiana (Fig. 1), formada por bactérias sentes em concentrações mínimas exigidas
Leuconostoc, Pediococcus e Streptococcus ácido-lácticas e leveduras, muito usada até o momento de consumo (MACEDO et
(SILVA et al., 2007).

ASPECTOS TECNOLÓGICOS
GERAIS SOBRE A
ELABORAÇÃO DE PRODUTOS
LÁCTEOS PROBIÓTICOS
Leite fermentado é o produto resultante
da fermentação do leite pasteurizado ou
esterilizado por fermentos lácticos próprios
viáveis, ativos e abundantes no produto fi-
nal durante seu prazo de validade, cuja fer-
mentação realiza-se com um ou vários dos
seguintes cultivos: Lactobacillus acidophilus,
Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp.
Streptococus salivarius ssp. thermophilus
e/ou outras bactérias acidolácticas que, por
sua atividade, contribuem para a determi- Figura 1 - Grãos de kefir utilizados para fabricação do produto
nação das características do produto final FONTE: Kefir (2005).

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54 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Fernando Priamo
Figura 2 - Produto lácteo fermentado Figura 3 - Iogurte com polpa de maracujá
FONTE: Bernardes (2009).

al., 2008). A seleção dos microrganismos Os probióticos são microrganismos mente utilizados como agentes probióticos
com essa característica deve observar ainda vivos, capazes de alcançar o trato gas- em alimentos (MAZO et al., 2009).
três fatores primordiais: a segurança, as ca- trintestinal e alterar a composição da A matriz de um processo de fermen-
racterísticas funcionais e as características microbiota, produzindo efeitos benéficos à tação láctica, destinada à produção de um
tecnológicas. Isso possibilita a obtenção saúde, quando consumidos em quantidades fermento ou à fabricação de um produto,
de produtos probióticos de qualidade e em adequadas. Esses efeitos estão direta e ex- passa necessariamente pela colocação em
sua máxima funcionalidade (BALLUS et clusivamente relacionados com o tipo da marcha das condições de cultura dos meios
al., 2010). estirpe utilizada (AGOSTONI et al., 2004). adaptados às estirpes bacterianas implica-
A segurança do uso de probióticos é As bactérias probióticas são microrganis- das. Por outro lado, o estudo da influência
um ponto crítico para avaliar seu potencial mos vivos que, quando consumidos, exer- das condições de cultura sobre as cinéticas
uso em pacientes pediátricos. Estudos têm cem efeitos benéficos sobre o hospedeiro, de crescimento e de acidificação e sobre os
mostrado que o uso de probióticos em conferindo propriedades à microbiota rendimentos da produção permite a obten-
pessoas saudáveis não aumenta o risco de endógena. Algumas propriedades benéficas ção de informações interessantes sobre a
doenças bacterianas. Mesmo em pacientes atribuídas às culturas probióticas necessi- fisiologia de estirpes bacterianas utilizadas
imunodeprimidos, esse risco parece ser tam de estudos mais controlados para ser industrialmente. Dentre essas condições,
baixo, embora 89 casos de bacteremia definitivamente esclarecidas (OLIVEIRA a temperatura e o pH e as concentrações
induzida por lactobacilos tenham sido rela- et al., 2002). em substrato e em produtos são aquelas que
tados, frequentemente associados a graves Para que um microrganismo seja con- agem mais sobre a fase de crescimento ex-
comorbidades preexistentes (SALMINEN siderado probiótico, sua estirpe deve ser ponencial das bactérias lácticas (ZOURARI;
et al., 2004). de origem humana, deve ser seguro para ACCOLAS; DESMAZEAUD, 1992). A
O termo probiótico vem do grego e uso humano, sobreviver à passagem pelo temperatura ideal para fermentação de pro-
significa para a vida (MAZO et al., 2009). trato digestório, aderir à mucosa intesti- dutos que contêm probióticos é 37 °C - 40 °C,
Schrezenmeir e Vrese (2001) pro- nal e manter sua viabilidade e atividade visto que essa é a faixa de temperatura em
puseram a seguinte definição para pro- metabólica. Para resistir às condições do que os probióticos melhor se multiplicam
bióticos: trato gastrointestinal, as culturas probió- (SAARELA et al., 2000).
Uma preparação ou um produto ticas devem apresentar tolerância à bile e De acordo com Thamer e Penna (2006),
contendo microrganismos definidos às atividades de hidrólise de sais biliares, o pH de 4,8 constitui um parâmetro ade-
e viáveis em número suficiente, que além de resistir às condições ácidas e ricas quado na etapa final de fermentação de
alteram a microbiota (por implantação de proteases no estômago (DIAS, 2009). bebidas lácteas, garantindo a viabilidade de
ou colonização), em um compartimento As bifidobactérias proporcionam o probióticos. Dentre as várias combinações
do hospedeiro e que exercem efeitos aumento do valor nutritivo e terapêutico de espécies probióticas e/ou starter na fa-
benéficos à saúde deste hospedeiro. dos alimentos. São microrganismos comu- bricação de leites fermentados, as espécies
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 55

de Lactobacillus e Bifidobacterium fornecem posta imunológica local e sistêmica, etc. ácido láctico, resultante da multiplicação
quantidades distintas de substâncias meta- (MORAIS; JACOB, 2006). Dessa forma, da cultura láctica adicionada. Isto acon-
bólicas, como voláteis, ácidos orgânicos atualmente, a indústria de produtos lácteos tece, geralmente, em velocidade muito
e gás carbônico, com o tempo e a tem- investiu na produção de alimentos probió- lenta e não garante um pH adequado na
peratura de fermentação, confirmando a ticos, sendo utilizada, com frequência, a com- fabricação de alguns derivados em um
importância de controlar esses parâmetros binação de L. acidophilus e Bifidobacterium tempo reduzido. No entanto, na fabrica-
(OSTLIE; TREIMO; NARVHUS, 2005). na fabricação de leites e iogurtes probióticos, ção destes alimentos é preciso que o leite
Em um estudo com leite fermentado, o qual confere um relevante valor terapêu- esteja com pH adequado para ocorrer
acrescido de S. thermophilus, Bifidobacterim tico e redução calórica eficaz (THAMER; a coagulação (KOMATSU; BURITI;
longum e L. acidophilus, não houve di- PENNA, 2005). SAAD, 2008).
ferença significativa nas características O leite fermentado possui um efeito Produtos alimentícios, como os lati-
sensoriais desse leite, que continha todas terapêutico pronunciado em comparação cínios, contribuem para a sobrevivência
as espécies comparadas àquele com S. a outros alimentos probióticos, pois, ao dos probióticos ao suco gástrico, parti-
thermophilus. Esse último apresentou maior chegar no estômago, sua atividade tampo- cularmente por seu efeito tamponante e
acidez e menor pH, enquanto o leite com B. nante e protetora mantém a integridade das protetor (ROSS et al., 2005). Para receber
longum obteve menor acidez e maior pH células no ambiente extremamente ácido a nomenclatura de “alimento probiótico”,
(ZACARCHENCO; MASSAGUER-ROIG, e contribui para que estas cheguem intac- os leites fermentados e iogurtes devem
2004). Já um trabalho, no qual se verificou tas ao intestino (KOMATSU; BURITI; conter, no mínimo, 107 células viáveis por
a aceitação de leites fermentados probióti- SAAD, 2008). Contudo, para garantir um grama ou mL do produto. Por outro lado,
cos com diferentes espécies lácticas, houve efeito contínuo e ser de importância fisio- a dose terapêutica mínima exigida é de
maior preferência ao longo da estocagem lógica para o consumidor, os probióticos 105 células viáveis por grama ou mL do
do produto que continha L. acidophilus devem ser ingeridos diariamente e alcançar produto (STANTON et al., 2001).
(VIEGAS et al., 2010).
populações acima de 106 e 107 UFC/g ou Diversos fatores afetam a viabilidade de
Assim, para a seleção das espécies
mL de produto (JELEN; LUTZ, 1998). bactérias probióticas em leite fermentado
lácticas a serem utilizadas na fabricação de
Os benefícios à saúde do hospedeiro (MOREIRA; ABRAHAM; DE ANTONI,
leites fermentados, deve-se atentar para os
atribuídos à ingestão de culturas probió- 2000). Entre os fatores que influenciam
efeitos atribuídos desejáveis no alimento
ticas, segundo Saad (2006), que mais se a viabilidade dessas bactérias no pro-
específico ou para o consumidor-alvo. Por-
destacam são: duto elaborado destacam-se o estado
tanto, a maior preocupação é no sentido de
o tipo de cultura láctica adicionada afetar a) controle da microbiota intestinal; fisiológico dos organismos probióticos
as propriedades sensoriais do produto b) estabilização da microbiota intesti- adicionados, as condições físicas de
(KOMATSU; BURITI; SAAD, 2008). nal após o uso de antibióticos; estocagem (tempo, temperatura), a com-
c) promoção da resistência gastrintes- posição química do produto, no qual os
LEITES FERMENTADOS COMO tinal à colonização por patógenos; microrganismos serão adicionados (aci-
ALIMENTOS PROBIÓTICOS d) diminuição da população de patóge- dez, conteúdo de carboidratos utilizáveis,
nos por meio da produção de ácidos fontes de nitrogênio, conteúdo mineral,
Os veículos existentes para carrear
acético e láctico, de bacteriocinas atividade de água, conteúdo de oxigênio)
bactérias probióticas integram três grandes
e de outros compostos antimicro- e possíveis interações dos probióticos
grupos: alimentos infantis, preparações
bianos; (bacteriocinas, antagonismo, sinergismo)
farmacêuticas e produtos lácteos. Destes,
e) promoção da digestão da lactose em com outras culturas starter (HELLER,
o grupo dos produtos lácteos é o mais
indivíduos intolerantes à lactose; 2001). Segundo Gibson e Fuller (2000),
representativo principalmente leites fer-
mentados, iogurtes, sorvetes e queijos, nos f) estimulação do sistema imune; para um microrganismo probiótico garan-
quais utilizam-se, frequentemente, culturas g) alívio da constipação; tir efetividade, várias condições devem
iniciadoras, como os lactobacilos e, como h) aumento da absorção de minerais e ser atendidas:
aditivo ou suplemento, as bifidobactérias produção de vitaminas. a) não apresentar variação genética;
(GOMES; MALCATA, 1999). Estudos comprovam também, como b) ser estável;
Os produtos probióticos podem ter efeitos benéficos dos alimentos probióti- c) apresentar resistência ao ambiente
efeito benéfico no organismo humano por cos, a prevenção da diarreia causada por ácido do estômago e a sais biliares;
competirem com patógenos no intestino, rotavírus (SALMINEN, 2001). d) ter capacidade de proliferação, afi-
reduzir o pH, por causa dos produtos de Na obtenção de leites fermentados e nidade e sobrevivência no intestino;
fermentação, interagir e modular a res- queijos ocorre a conversão de lactose em e) produzir metabólitos;
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f) fazer a modulação da atividade me- ALVES, L. de L. et al. Aceitação sensorial G O M E S , A . M . P. ; M A L C ATA , F. X .


tabólica e a imunomodulação; e caracterização de frozen yogurt de leite Bifidobacterium spp. and Lactobacillus
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58 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Tecnologias para fabricação de queijos de


massa filada: Provolone e Mussarela
Renata Golin Bueno Costa 1
Denise Sobral 2
Junio César Jacinto de Paula 3
Gisela de Magalhães Machado 4
Vanessa Aglaê Martins Teodoro 5
Luiz Carlos Gonçalves Costa Júnior 6

Resumo - O queijo Mussarela e o queijo Provolone fazem parte de um grupo que apresenta
uma característica única, são queijos de massa filada. Nestes, ocorre o tratamento da
coalhada na água quente (filagem), que propicia a formação de uma estrutura fibrosa
no queijo, com propriedades de derretimento e estiramento. O queijo Mussarela é
geralmente fabricado para uso indireto, como ingrediente para pizza, por isso suas
propriedades funcionais tornaram-se extremamente relevantes em relação ao seu sabor.
O queijo Provolone, no Brasil, pode ser comercializado na forma fresca, semelhante à
Mussarela, ou curado, maturado por, no mínimo, dois meses e defumado. A tecnologia
de fabricação dos queijos Mussarela e Provolone é muito semelhante, no entanto, alguns
ingredientes adicionados ao leite e a defumação tornam os queijos bastante distintos em
relação a sabor, aroma, aparência e consistência.

Palavras-chave: Produto lácteo. Queijo. Massa filada. Propriedade funcional. Defumação.

INTRODUÇÃO (KINDSTEDT; CARIE; MILANOVIE, mento. Estas fibras podem ser alongadas
2004). sem se romperem. Essa característica está
Os queijos Mussarela e Provolone inte-
Queijos de pasta filata são caracte- relacionada com as altas concentrações de
gram o grupo dos queijos de massa filada
rizados pela plasticidade única e pelo caseínas intactas e teores críticos de cálcio
ou pasta filata, que é derivado de uma ex-
tratamento da massa (coalhada) na água (Ca) e fosfato (LUCEY; FOX,1993).
pressão italiana que significa literalmente quente, permitindo que o queijo adquira Os queijos de massa filada mais conhe-
“pasta fiada” ou ”massa esticada”. Isso uma estrutura fibrosa, com propriedades cidos e produzidos no Brasil são a Mussa-
refere-se a um processo único de plastifi- de derretimento e estiramento. O aqueci- rela e o Provolone. O queijo Mussarela é
cação e filagem que é compartilhado por mento na água quente resulta na formação macio, não maturado, originário da região
todos os queijos de pasta filata e que dá a de uma massa derretida, na qual as fibras da Batipaglia, na Itália. O queijo é leve-
este grupo diverso uma identidade comum proteicas se orientam na direção do estira- mente salgado, branco, com um brilho vivo

Enga Alimentos, D.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
1

renata.costa@epamig.br
2
Enga Alimentos, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: denisesobral@epamig.br
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, D.Sc., Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio
3

eletrônico: junio@epamig.br
4
Enga Alimentos, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: giselammachado@epamig.br
5
Médica-Veterinária, M.Sc., Prof a /Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
vanessa.teodoro@epamig.br
Eng o Agr o , Dr., Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
6

luizcarlos@epamig.br

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 59

na superfície e tem uma propriedade única, A produção de queijo nos Estados Unidos sentou 32,3% da produção total de queijo,
a habilidade de estiramento, isto é, possui foi de 4,49 milhões de toneladas, em 2008, o que significa 1,48 milhão de toneladas
fibras que se esticam quando o queijo é e 4,58 milhões de toneladas, em 2009 (cres- (USDA, 2009).
aquecido (JANA; UPADHYAY, 1991). Seu cimento de 2%), (USDA, 2009), o que cor- O queijo Provolone também apresentou
nome é derivado do verbo mozzare que sig- responde à média mundial de crescimento um crescimento de 5% entre 2008 e 2009.
nifica repartir ou cortar fatias, importante anual. No Brasil, a produção de queijos No entanto, o aumento na sua produção en-
característica ou referência a uma etapa do nos estabelecimentos sob inspeção federal tre os anos de 2000 a 2009 foi de 16,30% e
processamento, em que o queijeiro reparte apresentou um crescimento de 7,8%, entre não tão significativo quanto a produção de
pedaços da massa para realizar a filagem 2008 (668.822 t) e 2009 (721.711 t). Den- Mussarela no mesmo período (ASSOCIA-
(DEL PRATO, 1993). tre os queijos mais produzidos em 2009, ÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS
O queijo Provolone é originário da destacam-se: Mussarela (27,92%), Requei- DE QUEIJO, 2010).
região da Sicília, sul da Itália (Fig.1). Tam- jão culinário (18,57%), Prato (19,55%),
bém é bastante difundido pelo mundo. Na Minas Frescal (5,14%), Parmesão (4,9%) ASPECTOS TECNOLÓGICOS
Itália, encontram-se os Provolones doce e e Provolone (1,04%) (ASSOCIAÇÃO
o picante. Este último possui caracterís- BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE Fermentação e filagem dos
ticas mais semelhantes ao do Provolone QUEIJO, 2010). queijos de massa filada
produzido no Brasil, ao passo que o doce A produção brasileira de queijo Mussa- A filagem é a etapa fundamental dos
se parece com um queijo Mussarela. Na rela, sob inspeção federal, no ano de 2008 queijos de massa filada. Para que ocorra
maioria dos países, o queijo é defumado, para 2009, apresentou um crescimento a filagem são necessárias duas condições:
mas, na Itália, esse processo não é usual. de 6%, correspondendo a um aumento de em primeiro lugar, a coalhada deverá ser
Além disso, o queijo é elaborado com leite 11.400 t. Essa produção, nesses mesmos suficientemente acidificada (pela fermen-
cru, integral e coalho em pasta, que possui estabelecimentos, cresceu 61,12% entre
tação da lactose em ácido láctico) e desmi-
lipases responsáveis pelo seu sabor picante os anos de 2000 a 2009 (ASSOCIAÇÃO
neralizada (reação do ácido láctico com o
típico (FURTADO, 2005) BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE
Ca, originando lactato de cálcio), durante
A produção mundial de queijo em QUEIJO, 2010). O queijo Mussarela é
a fabricação do queijo, a fim de permitir
2007 foi de 14,187 milhões de toneladas usado principalmente como ingrediente
plasticidade e estiramento após a aplica-
e no ano seguinte de 14,501 milhões de para confecção de pizza, o que representa
ção de calor. Plasticidade e estiramento
toneladas, com um crescimento de 2,21% esse aumento de produção. Nos EUA, a
são influenciados principalmente pelo
(EMBRAPA GADO DE LEITE, 2010). produção de Mussarela, em 2009, repre-
nível de Ca associado à caseína (ou mais
corretamente, fosfato de cálcio coloidal)
na coalhada no momento da filagem, que,
por sua vez, é determinado principalmente
pelo teor total de Ca e do pH da coalhada.
O desenvolvimento da acidez durante a
fabricação do queijo, portanto, deve ser
controlado de modo que a correta combi-
nação do teor total de Ca e pH (assim como
o desejado teor de umidade) na coalhada
ocorra no momento da filagem (forma-
ção de paracaseinato bicálcico) (Fig.2)
(MCSWEENEY, 2007).
Em segundo lugar, a transferência de
calor durante a filagem deve ocorrer a
um ritmo suficiente, para que a coalhada
apresente uma consistência plástica e
fluida antes de ser cortada e texturizada
Fernando Priamo

(MCSWEENEY, 2007).
Durante a filagem, a matriz de paraca-
seína amorfa do queijo é reorganizada e
Figura 1 - Queijo Provolone alinhada em fibras aproximadamente para-
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60 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

lelas de paracaseína que são interrompidas


por colunas ou canais contendo glóbulos
de gordura livres e soro. Esta estrutura
laminar heterogênea contribui fortemente
para as características funcionais do queijo
Mussarela de baixa umidade denominados
pizza cheese, tais como fibrosidade e derre-
timento do queijo na pizza (KINDSTETD;
CARIE; MILANOVIE, 2004; MCSWEE-
NEY, 2007).

Mussarela
O queijo Mussarela (Fig. 3) de leite de
vaca é um queijo fresco, que se originou na
Itália, com uma tecnologia similar à antiga
Mussarela de leite de búfala (FURTADO,
2005). No Brasil, existem basicamente Figura 2 - Dinâmica da desmineralização de acordo com o decréscimo do pH durante a
dois tipos de Mussarela que apresentam fermentação da massa antes da filagem
composições diferenciadas: FONTE: O Papel... (2005).
a) Mussarela para consumo direto:
apresenta teor de umidade mais
elevado e menor teor de gordura no
extrato seco (GES). Pode ainda ser
subdividida em duas classes:
- típica ou regular : apresenta
18,0% de teor de gordura; 33,8%
de GES; 53,6% de teor de umida-
de; 22,1% de teor de proteína e 5,2
de pH (produzida a partir de leite
com 3% de teor de gordura),
- magra : apresenta 13,5% de
teor de gordura; 31,5% de GES;
57,2% de teor de umidade; 21,1%

Fernando Priamo
de teor de proteína e 5,2 de pH
(produzida a partir de leite com
2% de teor de gordura);
b) Mussarela para pizza: caracteriza- Figura 3 - Queijo Mussarela
da por apresentar teor de umidade
mais baixo e teor de gordura mais
elevado. Apresenta a seguinte QUADRO 1 - Classificação de Mussarela nos Estados Unidos
composição: 45% a 52% de teor de Teor mínimo de gordura
Teor de umidade
umidade, 24% de teor de gordura, Tipos de Mussarela no extrato seco (GES)
(%)
(%)
30% a 45% de GES, 25% de teor de
proteína e 5,2 de pH (FURTADO, Tradicional 52 - 60 45
1991). Baixa umidade 45 - 52 45

Nos EUA, a Mussarela é dividida Baixa umidade e parcialmente desnatada 45 - 52 30 - 45


em quatro categorias, de acordo com o Parcialmente desnatada 52 - 60 30 - 45
Quadro 1. FONTE: Kindstedt (1994).

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 61

As Mussarelas tradicional e parcial- O derretimento refere-se à capacidade acompanhado pela proteólise normal
mente desnatada possuem alto teor de de as partículas de queijo fundirem-se, for- ocorrida, cria um potencial para a reação
umidade (maior que 52%), corpo macio mando uma camada contínua e uniforme na de Maillard (escurecimento). Essa reação é
e são frequentemente consumidas frescas superfície da pizza (KINDESTEDT, 1991). um risco econômico para os laticínios, pois
como queijo de mesa. São raramente Essa característica é influenciada pela ati- os consumidores geralmente rejeitam a cor
usadas como ingrediente para pizza, pela vidade proteolítica da cultura empregada marrom do queijo, considerando-a um de-
dificuldade de fatiamento e facilidade de e dos teores de gordura e umidade. Altos feito (BLEY; JOHNSON; OLSON, 1985;
agrupamento, além de sua limitada vida de teores de gordura e umidade e proteólise FURTADO, 1997). O queijo que apresenta
prateleira (KINDSTEDT, 1994). intensa resultam em maior derretimento um escurecimento acima do esperado não
Na própria Itália, que mantém de (SIGSGAARD, 1994). é bem-aceito pelo consumidor (CORTEZ,
forma mais tradicional a fabricação de Na mussarela para pizza, as mudan- 1998) e a coloração definida como ideal
Mussarela, existem três tipos desse queijo. ças nas propriedades funcionais ocorrem para o queijo Mussarela, submetido a altas
Um é a Mussarela tradicional italiana, que durante o período de estabilização sob temperaturas, é a amarelo-ouro (FURTA-
apresenta teor de umidade elevado (60%- refrigeração. A Mussarela fresca tende DO, 1997).
65%) e textura bem macia, sendo consu- a derreter-se pouco, por apresentar con- A cultura tem um importante papel
mida fresca e principalmente em saladas sistência áspera e elástica. Da primeira no potencial de escurecimento do queijo
(CORTEZ, 1998). Esse tipo de mussarela para a segunda semana de estabilização, e é considerado como primeiro fator
é considerado, por suas características, o a textura do queijo amolece progressiva- responsável pela galactose residual no
precursor do pizza cheese (SIGSGAARD, mente, atingindo sua funcionalidade ótima queijo (KINDSTEDT, 1991). Muitas
1994). O segundo tipo é o chamado Mus- (KINDSTEDT, 1991). Durante o período estirpes de Streptococcus thermophilus e
sarela industrial, em que são empregados de estabilização, as fibras e as estruturas Lactobacillus delbrueckii ssp. bulgaricus
ácidos (geralmente láctico e cítrico), para constituintes são transformadas em estrutu- são incapazes de metabolizar a lactose,
efetuar a acidificação do leite antes da co- ras mais macias, lisas, suaves e maleáveis, originando a galactose. Em contraste, o
agulação. O terceiro tipo não é Mussarela apresentando moderada elasticidade. Com Lactobacillus helveticus fermenta a lac-
propriamente e, sim, um produto imitação o envelhecimento, eventualmente ocorre tose completamente, podendo também
de Mussarela, sendo basicamente um quei- o declínio da integridade das estruturas, fermentar a galactose livre, o que resulta
jo fundido (CORTEZ, 1998). onde estas se apresentam demasiadamente em pequeno acúmulo desta, quando usado
rígidas, perdendo a elasticidade e a male- em culturas lácticas com estirpes mistas
Propriedades funcionais abilidade (KINDSTEDT; GUO, 1997). (KINDSTEDT, 1994).
A Mussarela no Brasil é semelhante à A elasticidade refere-se à habilidade A última propriedade funcional da
usada para pizza americana (pizza cheese), de resistir ao alongamento das fibras, Mussarela, a separação de gordura, é carac-
que apresenta um baixo teor de gordura quando esticadas no queijo derretido terizada pela tendência do queijo derretido
e de umidade, consequentemente maior (KINDESTEDT, 1991). A Mussarela deve de exsudar óleo, que se separa da massa,
firmeza para ser fatiada. Possui a seguinte apresentar textura elástica, porém não deve levando à formação de bolsões, particular-
composição: 45% a 52% de teor de umi- ser muito resistente, nem demasiadamente mente na sua superfície (KINDESTEDT,
dade, 24% de teor de gordura, 30% a 45% borrachenta, o que irá depender principal- 1991). Excessiva formação de óleo livre
de GES, 25% de teor de proteína e 5,2 de mente dos níveis de Ca e fosfato e do grau dá ao queijo uma aparência desagradável,
pH (FURTADO, 1997). de proteólise do queijo (CORTEZ, 1998). sendo considerado o maior defeito no quei-
Ao considerar o emprego da Mussarela O escurecimento ocorre na superfície jo Mussarela para pizza (KINDSTEDT;
como ingrediente para pizzarias, algumas do queijo durante a exposição a altas tem- KIELY; GILMORE, 1992). No entanto,
características funcionais tornaram-se peraturas e é caracterizado pela formação a formação de gotas de gordura em quan-
fatores essenciais de avaliação de sua de uma camada superficial contendo tidades mínimas é considerada aceitável
qualidade (desempenho), enquanto que manchas coloridas, que podem variar de (FURTADO, 1997).
o seu sabor não é mais considerado um marrom-claras a douradas, chegando até A proteólise ocorre lentamente no
fator tão relevante. A Mussarela deve a coloração preta (KINDESTEDT, 1991). queijo Mussarela e está associada às mu-
apresentar quatro propriedades funcionais: Estudos prévios têm demonstrado que altas danças progressivas nas propriedades fun-
derretimento, elasticidade, escurecimento temperaturas e teores de açúcares (galac- cionais, que ocorrem tipicamente durante
(browning) e separação de gordura (oilling tose residual ou lactose no queijo) cau- o período de estocagem sob refrigeração
off). Todas essas propriedades são influen- sam escurecimento (BLEY; JOHNSON; (KINDSTEDT, 1991; BARBANO; YUN;
ciadas pela tecnologia de fabricação e OLSON, 1985). O acúmulo de açúcares, KINDSTEDT, 1994). Uma atividade pro-
estabilização do queijo. como a lactose (galactose) no queijo, teolítica excessiva resultará na abertura da
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estrutura proteica, que, consequentemen-


te, propiciará alto teor de óleo livre. Em Leite pasteurizado HTST (72 ºC/15 s) ou LTLT (65 °C/30 min)
queijos recém-fabricados, normalmente, Padronizado para 3,0-3,2% de gordura
nota-se menor exsudação de óleo do que
naqueles que passaram por um período de Adição de fermento mesofílico (tipo “O”) ou termofílico
estabilização (SIGSGAARD,1994). (dose normal)
As propriedades funcionais da Mussa-
rela para pizza são sensivelmente melho- Aquecimento a 32 ºC - 34 ºC
radas após um período de estabilização de
cerca de duas semanas, sob refrigeração Pré-maturação do fermento (30 min)
(8 ºC - 10 ºC) (FURTADO, 1997), e são
reflexos de diversos fatores tecnológicos, Adição de cloreto de cálcio (40 mL/100 L solução 50% m/v)
físico-químicos, bioquímicos, entre outros,
que se interagem para tornar o produto Adição de coalho ou coagulante (dose normal)
atrativo e adequado ao uso proposto, seja
do ponto de vista comercial, seja sensorial.
Coagulação em, aproximadamente, 40 min

Tecnologia de fabricação
Corte em grãos no 2
Para fabricação de uma Mussarela de
qualidade é necessário um leite de boa 1a mexedura lenta por 20 min
qualidade, com acidez entre 15 ºD e 18 ºD,
padronizado para 3,0% - 3,2% de maté-
2a mexedura com aquecimento (1 ºC/2-3 min) até 42 ºC (fermento mesofílico) ou
ria gorda e pasteurizado a 72 ºC/15 s ou até 45 ºC (fermento termofílico)
65 ºC/30 min. O leite integral pode ser utili-
zado, porém, o queijo pode apresentar uma
Obtenção do ponto em 40-50 min após o corte da coalhada
consistência muito macia e untuosa, além
de prejudicar a fatiabilidade ou interferir
Dessoragem total (fermento mesofílico)
na exsudação de gordura na pizza. O flu-
xograma de fabricação está apresentado na
Pré-prensagem por 20 min com duas vezes o peso da massa
Figura 4, com a tecnologia descrita a seguir
(FURTADO; LOURENÇO NETO, 1994).
Fermentação curta com o soro (4 a 6 h após adição do fermento)
O leite deve ser aquecido até 32 ºC -
ou longa sem o soro (10-12 h após a adição do fermento ao leite)
34 ºC e adicionado o fermento láctico,
que pode ser de dois tipos, dependendo
Filagem (água 75 ºC - 80 ºC)
do tempo de fermentação: curta, de 4 a 6 h
após a adição do fermento, ou longa, de
Enformagem em fôrmas retangulares de 2 ou 3 kg
10 a 12 h após a adição do fermento ao
ou moldagem em bolinha, trança
leite. O fermento termofílico permite que
todo o processo de fermentação e filagem
Resfriamento em água gelada (10 ºC - 12 ºC) por 1-2 h
seja feito no mesmo dia, pois as bactérias
presentes nesse fermento são mais rápidas
e, consequentemente, mais acidifican- Salga em salmoura (10 ºC -12 ºC)

tes.
Para a fermentação curta utiliza- Secagem 10 ºC - 12 °C por 12 - 48 h a 70% - 75% URA

se um fermento termofílico à base de


Lactobacillus helveticus e Streptococcus Embalagem
thermophilus, na proporção de 5 unidades
(u)/100 L de leite, ou a dose recomendada Estabilização (10 ºC - 12 ºC) por 15 dias
pelo fabricante. A massa deve ser fermen-
tada com o fermento termofílico a uma Figura 4 - Fluxograma de fabricação de queijo Mussarela
temperatura de, aproximadamente, 40 ºC. FONTE: Furtado e Lourenço Neto (1994).

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Para isso, muitas vezes a massa é mantida clorada e adicionado lentamente ao leite 2-3 cm para um resfriamento mais rápido.
sob o soro aquecido. sob agitação. A filagem é feita no dia seguinte. Na fer-
Quando se trabalha com fermento ter- O corte da coalhada deverá ser lento e mentação longa (fermento mesofílico), a
mofílico, deve-se periodicamente medir o realizado com auxílio das liras horizontal massa é deixada em mesas para fermentar
pH da massa ou fazer o teste de filagem. e vertical. Os grãos obtidos devem possuir ou no próprio tanque de fabricação, em
Quando a massa atinge um pH de 5,2 a de 1,0 a 1,5 cm de aresta, aproximadamente seguida, é picada e filada.
5,3 ou começa a filar no teste de filagem, do tamanho de um grão de milho, também Para verificar se a massa está
deve-se resfriá-la imediatamente em água classificado de grão no 2. pronta, deve-se fazer o teste de filagem, ou
gelada, entre 2 ºC e 5 ºC ou em câmara fria. A primeira mexedura deve ser realiza- seja, coloca-se uma pequena fatia da massa
Isto é necessário para evitar que a massa do da com o auxílio de um garfo próprio, de em água de 75 ºC a 80 ºC. Esta massa deve
queijo fermente em excesso e ultrapasse o forma lenta, sendo acelerada aos poucos, esticar como um chiclete sem se arrebentar.
pH de filagem, impedindo que a Mussarela até completar 15-20 min. Caso a massa Caso isto não aconteça, pode ter ocorrido
seja filada. Com o fermento mesofílico este apresente problemas de fermentação ex- um excesso de fermentação (a massa
efeito não ocorre, pois trata-se de bactérias cessiva, ou o leite trabalhado esteja um passou do ponto) ou esta foi insuficiente.
mais lentas e menos acidificantes. pouco mais ácido, pode-se, ao final da Uma forma indireta de verificar o ponto de
O fermento mesofílico tipo “O”, que primeira mexedura, retirar 20% de soro filagem é a medição do pH da massa, que
contém as bactérias Lactococcus lactis ssp. (em relação ao volume inicial de leite) e deve estar por volta de 5,2 (dependendo
lactis e Lactococcus lactis ssp. Cremoris, adicionar 20% de água a 75 ºC - 80 ºC para da região) ou a acidez do soro que sai da
é utilizado na fermentação longa, na realizar a delactosagem. massa, que deve estar por volta de 60 ºD a
proporção de 5 u/100 L de leite, ou dose A segunda mexedura deve ser mais 70 ºD.
recomendada pelo fabricante. A massa é vigorosa e, juntamente, deve-se iniciar o Atingido o ponto de filagem (Fig.5),
fermentada com o fermento mesofílico à aquecimento lento com vapor na camisa a massa deve ser fracionada em fatias
temperatura ambiente, em mesas. No en- do tanque (elevando 1 ºC a cada 2-3 min) pequenas e colocada em água de 70 ºC a
tanto, deve-se tomar cuidado no inverno, até atingir 42 ºC, quando se trabalha com 80ºC, utilizando-se de 2 a 3 L de água/kg
quando a temperatura é muito baixa, para fermento mesofílico, ou 44 ºC, com fer- de massa. A seguir, estica-se toda a massa
não prejudicar a fermentação. mento termofílico. Entretanto, se for feita a e leva-se à mesa para moldagem no for-
Quando se utilizam culturas super- opção pela dessoragem e lavagem, a adição mato desejado (paralelepípedo de 1, 2 ou
concentradas de uso direto no tanque – de água quente deve ser lenta, respeitando 3 kg, bolinha, nozinho, palitinho, entre
direct-vat-set (DVS), independentemente as recomendações descritas anteriormente. outros). A temperatura da massa durante a
de o fermento ser termofílico ou mesofíli- O ponto da massa, sob condições nor- filagem deve ser controlada, para que não
co, esse deve ser adicionado no leite a 32 ºC mais, ocorre cerca de 40-50 min após o cor- ultrapasse 60 ºC, pois o produto final pode
e a 34 ºC e mantido, por 30 min para rea- te da coalhada. Nesse momento, a massa do apresentar bolhas ou ficar mole. Caso a
lizar a pré-maturação do fermento. queijo apresenta-se um pouco mais seca e temperatura da massa esteja muito baixa,
O cloreto de cálcio deve ser adicionado macia. Depois de obtido o ponto da massa, a filagem não ocorrerá adequadamente.
ao leite na proporção de 40 mL/100 L de deve-se empurrá-la para uma extremidade Após a moldagem, os queijos são imersos
leite de uma solução a 50%, que é encon- do tanque ou colocá-la na drenoprensa. em água gelada, entre 10 ºC e 12 ºC, por 1
trada facilmente no mercado. O cloreto de Em seguida, deve-se escoar todo o soro, a 2 h, para depois seguir para a salmoura.
cálcio adicionado melhora a aptidão do lei- caso trabalhe com fermento mesofílico, ou A Mussarela é imersa em salmoura com
te à coagulação pela insolubilização de sais manter a massa com soro, quando se tra- 20%(m/v) de sal, à temperatura de 10 ºC -
de Ca durante a pasteurização. Com isso, balha com fermento termofílico. A seguir, 12 ºC. Peças de 500 g ficam 8 h; de 1 kg,
melhoram-se as propriedades da coalhada deve-se pré-prensar a massa usando-se o 24 h; de 2 e 3 kg, 48 h. Peças como bolinha,
e diminuem-se as perdas de constituintes dobro de peso em relação à quantidade de nozinho, palitinho, trancinha ficam imersas
no soro durante o seu corte. massa (ou 40-50 lb./pol2 em drenoprensa) em salmoura apenas por 20 min.
O coagulante ou coalho deve ser adi- durante 15 a 20 min. Após a salga, os queijos são conduzidos
cionado ao leite a 32 ºC - 34 ºC em quan- Quando se trabalha com fermento a uma câmara refrigerada a 10 ºC - 12 ºC
tidade suficiente para haver a coagulação termofílico, a fermentação é rápida e com umidade relativa (UR) do ar de,
em 30-40 min. Sua dose varia de acordo a filagem da massa pode ser realizada aproximadamente, 70% durante 12-48 h
com o fabricante, por isso utiliza-se a dose imediatamente ou posteriormente, após para secagem.
recomendada pelo fabricante. O coagu- seu resfriamento em câmara fria ou água Após essa etapa, os queijos são guar-
lante usado pode estar na forma líquida gelada. Neste último caso, a massa deve ser dados em embalagem plástica termoenco-
ou em pó, desde que diluído em água não fracionada em fatias de, aproximadamente, lhível e mantidos sob refrigeração de 10 ºC
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Caccio Cavalo, no entanto, apresenta


maior período de maturação. O Provolone
maturado apresenta-se como um queijo
de aroma definido (defumado) e sabor
pronunciado, tornando-se picante, quando
o queijo é maturado por muitos meses.
Esse queijo apresenta um teor de umidade
de 40%-44%, teor de gordura de 26%-
30%, e de cloreto de sódio de 1,2%-1,8%
(FURTADO, 2005). O rendimento da
fabricação varia de 10,5 a 12 L de leite/kg
de queijo (FURTADO; LOURENÇO
NETO, 1994).

Renata Golin Bueno Costa


No Brasil, o queijo Provolone pode
ser fabricado com leite cru (permitido
pela legislação). Quando é fabricado com
leite cru de boa qualidade e uso de soro-
fermento, este apresenta-se com sabor mais
acentuado e consistência mais firme. Isso
Figura 5 - Sistema de filagem mecânica de mussarela é decorrente da lipase natural presente no
leite cru, que é destruída durante a pasteu-
rização. Essa enzima hidrolisa a gordura do
a 12 ºC, por duas semanas, para estabi- massa pode ser filada poucos minutos após
leite e libera ácidos graxos que conferem o
lização e melhoria de suas propriedades o ponto e dessoragem final, sem necessi-
sabor típico picante do queijo Provolone. A
funcionais. Em seguida, são estocados em dade de ser pré-prensada e/ou fermentada
consistência mais firme do queijo elabora-
câmara fria entre 2 ºC e 4 ºC. (FURTADO, 1997).
do com leite cru explica-se pela ausência
O rendimento de fabricação pode A acidificação direta do leite dessa
de proteínas de soro na coalhada. Quando o
variar, o que implica diretamente na fatia- forma resulta em queijo com teor muito
leite é pasteurizado, ocorre ligeira desnatu-
bilidade do produto. Uma boa Mussarela baixo de Ca e pH mais elevado do que
fatiável deve apresentar um rendimento ração das soroproteínas (em torno de 15%)
seria normalmente obtido por um proces-
entre 9,5 e 10,5 L de leite/kg de queijo, sobre as caseínas, incorporadas à massa na
so de fabricação envolvendo uma cultura coagulação do leite, facilitando a retenção
dependendo da composição do leite, láctica. Além disso, é possível produzir
enquanto que, para consumo direto, este de umidade (QUEIJO..., 1992).
queijos com elevado teor de umidade pela
rendimento pode ser melhor (FURTADO; acidificação direta, porque a coalhada di- Tecnologia de fabricação
LOURENÇO NETO, 1994).
retamente acidificada é menos propensa à
Outra tecnologia de fabricação de Mus- A tecnologia de fabricação do queijo
sinérese durante a fabricação do queijo por
sarela utiliza ácidos orgânicos (acidificação Provolone (Fig.6) descrita a seguir por
seu menor teor de Ca e maior capacidade
química) em substituição ao fermento Furtado e Lourenço Neto (1994) é seme-
de retenção de água. Além disso, tempos de
láctico. Esse processo tem sido utilizado lhante à do queijo Mussarela, com algumas
aquecimento, fermentação e temperaturas
na Itália, apesar de ter sido desenvolvido variações.
podem ser minimizados, se assim o desejar,
nos EUA, no início da década de 1970 O leite deve ser padronizado para um
para reter mais umidade (MCSWEENEY, teor mais elevado de gordura (3,4% - 3,6%
(FURTADO, 1997).
Durante a fabricação de queijo Mus- 2007). Com adaptações à tecnologia de de matéria gorda). O queijo também pode
sarela, a acidificação ocorre gradualmente fabricação, é possível fabricar Mussarela ser fabricado com leite integral, porém
por ação da cultura láctica (fermentação da por esse processo com propriedades fun- pode apresentar uma consistência muito
lactose). Já a acidificação direta consiste cionais adequadas para seu uso em pizza macia e untuosa.
na adição de um ácido orgânico (ácido (FURTADO, 1997). Ao invés de utilizarem fermento, algu-
cítrico, láctico ou acético) ao leite frio ou mas fábricas usam o soro-fermento, que
Provolone
à temperatura de coagulação, em quanti- é obtido da fermentação natural do soro
dade suficiente para atingir um valor de O queijo Provolone é um dos queijos resultante da fabricação do queijo, com
pH, geralmente em torno de 5,6 ou 5,7 italianos mais conhecidos e elaborado em fermento termofílico. Normalmente, retira-
(MCSWEENEY, 2007). Nesse processo, a muitos países. Assemelha-se ao queijo se o soro ao final da fabricação e deixa em
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repouso de um dia para o outro num latão


Leite pasteurizado HTST (72 ºC/15s) ou LTLT (65 °C/30 min) ou cru de plástico para manter a temperatura na
Padronizado para 3,4-3,6 % de gordura faixa de 42 ºC - 45 ºC. Esse tipo de fer-
mento deverá apresentar-se aromático e
Adição de fermento termofílico com sabor ácido puro e acidez na faixa de
(dose normal) 100 ºD -120 ºD.
O fermento mesofílico é pouco reco-
Aquecimento a 32 ºC - 34 ºC mendado para esse queijo, pois as bactérias
lácticas do fermento termofílico são impor-
Pré-maturação do fermento (30 min) tantes para atribuir o sabor e a consistência
firme e quebradiça.
Adição de cloreto de cálcio (40 mL/100L Solução 50% m/v) e
Outro ingrediente adicionado ao leite
lipase de cabrito (dose normal)
antes da coagulação é a lipase de cabrito,
que tem como função propiciar ao queijo
um sabor picante característico. Já no leite
Adição de soro fermento (em substituição ao fermento termofílico)
pasteurizado, deve-se adicioná-la, pois a
pasteurização destrói a lipase natural e, com
Adição de coalho ou coagulante (dose normal)
isso, o sabor do queijo fica prejudicado.
Sua dose varia de acordo com o fabricante
Coagulação em, aproximadamente, 40 min
e com a intensidade de sabor que se dese-
ja. Geralmente, varia de 4 a 8 g para cada
Corte em grãos no 3 100 L de leite.
Quando se utiliza leite cru para fabri-
1a mexedura lenta por 20 min cação do queijo, não é necessária a adição
de cloreto de cálcio. Este é adicionado para
2a mexedura com aquecimento (1 ºC/2-3 min) até 44 ºC a 45 ºC repor os sais de Ca insolubilizados durante
a pasteurização.
Obtenção do ponto em 60-70 min após o corte da coalhada O corte da coalhada deverá ser lento e
realizado com auxílio das liras (horizontal
Pré-prensagem com o soro por 20 min com duas vezes o peso da massa e vertical). Os grãos obtidos devem possuir
de 0,5-0,8 cm de aresta, tamanho de um
Fermentação curta com o soro (4 a 6 h após adição do fermento) grão de milho de pipoca, classificado como
grão no 3.
Filagem (água 75 ºC - 80 ºC) A segunda mexedura deve ser mais
vigorosa e, juntamente, deve-se iniciar o
aquecimento lento com vapor na camisa
Moldagem
do tanque (elevando 1 ºC a cada 2 min)
até atingir 44 ºC - 45 ºC. Junto com o
Resfriamento em água gelada (10 ºC - 12 ºC) por 1 - 2 h
aquecimento, a coalhada é agitada mais
rapidamente para evitar que os grãos em-
Salga em salmoura (10 ºC - 12 ºC)
bolem e soltem bem o soro.
O ponto da massa, sob condições
Amarração e secagem 10 ºC - 12 °C a 70% - 75% URA
normais, ocorre cerca de 60-70 min após
o corte da coalhada. Neste momento,
Defumação observa-se a consistência dos grãos, que se
apresentam bem firmes. A massa apresenta-
Maturação (10 ºC -12 ºC) por 2-4 meses se borrachenta e os grãos bem secos.
Após a fermentação e filagem da mas-
Embalagem sa, o queijo é imerso em salmoura com
20% de sal, à temperatura de 10 ºC - 12 ºC.
Figura 6 - Fluxograma de fabricação de queijo Provolone Peças de 500 g ficam 8 h; de 1 kg, 24 h; de
FONTE: Furtado e Lourenço Neto (1994). 2 kg e 3 kg, 48 h.
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Após a salga, os queijos são amarrados Dentre os pontos críticos da fabricação maturação do queijo deverá ser de, no mí-
em cordas ou colocados em redes sinté- do queijo Provolone, segundo Furtado e nimo, 24 h. O leite utilizado como matéria-
ticas. Em seguida, são enviados a uma Lourenço Neto (1994), destacam-se: prima deve ser submetido à pasteurização
câmara a 10 ºC - 12 ºC com UR do ar de, a) seleção do leite e seu tratamento ou a outro tratamento térmico equivalente
aproximadamente, 70%. Permanecem pen- térmico; para assegurar fosfatase residual negativa
durados nessa câmara por até uma semana, (BRASIL, 1997).
b) teor de gordura do leite;
para que fiquem bem secos e formem uma O queijo Provolone não apresenta Re-
c) uso de lipase; gulamento Técnico de Identidade e Quali-
pequena casca.
A defumação deve ser realizada até d) processo de fermentação e filagem; dade, apenas é citado no Decreto no 30.691,
que os queijos adquiram a coloração de- e) secagem e defumação; de 29 de março de 1952 (BRASIL, 1952),
sejada. O tempo em que as peças ficam no que o classifica como fresco e curado. O
f) tempo de maturação do queijo.
defumador varia bastante e depende de ca- Art. 622, desse Decreto, define o queijo
racterísticas como altura, área, ventilação, tipo Provolone fresco como o produto de
REQUISITOS LEGAIS
da madeira usada e da coloração desejada massa filada, obtido de leite pasteurizado,
O queijo Mussarela apresenta um não prensado, dado ao consumo, com até
no produto. Geralmente esse tempo oscila
Regulamento Técnico de Identidade e 20 dias de fabricação. Deve apresentar
entre 2 h e 48 h. Alguns cuidados devem
Qualidade que o define como queijo que como características formato variável,
ser observados ao colocar os queijos no
se obtém por filagem de uma massa acidi- tendente ao esférico; peso de 500 g a 2 kg;
defumador, a saber:
ficada (produto intermediário obtido por e crosta, consistência, textura, cor, odor e
a) os queijos devem estar completa- coagulação de leite por meio de coalho e/ sabor idênticos aos do queijo Mussarela.
mente secos e distantes uns dos ou outras enzimas coagulantes apropriadas, Quando esse queijo apresentar pequena
outros pelo menos 5 cm; completada ou não pela ação de bactérias quantidade de manteiga na sua massa, dará
b) os queijos não podem ficar muito lácticas específicas) (BRASIL, 1997). lugar à variedade denominada “Butirro”.
próximos ao teto, nem muito próxi- O queijo Mussarela é classificado como O queijo tipo Provolone curado é definido
mos da fonte de fumaça, pois podem de média, alta ou muito alta umidade (má- no Art. 627 como sendo o produto obtido
ter problemas de cor e formato; ximo 60% de umidade) e como extragordo, de leite cru ou pasteurizado, enformado ou
c) a temperatura no interior do de- gordo e semigordo (GES, no mínimo, de não, não prensado e devidamente maturado
fumador não pode ser muito alta, 35%). Quanto a sua denominação de ven- pelo espaço mínimo de dois meses. Deve
da, pode ser designado queijo Mozzarella, apresentar formato tendente ao esférico
pois, caso contrário, os queijos
queijo Muzzarella ou queijo Mussarella ou oval; peso de 1 a 8 kg; crosta firme,
deformam;
(BRASIL, 1996, 1997). lisa, resistente, destacável, de coloração
d) a serragem ou o pó de serra usados amarelo-parda, preferentemente revestida
Em relação às suas características sen-
devem estar bem secos. de parafina. A consistência deve ser dura,
soriais, esse produto deve apresentar con-
Quando se utiliza fumaça líquida, não elástica, quebradiça, untada, semisse-
sistência semidura, semisuave ou suave,
devem-se seguir as recomendações ca; com textura fechada ou apresentando
segundo o conteúdo de umidade, matéria
do fabricante. poucos olhos em formato de cabeça de alfi-
gorda e grau de maturação; textura fibrosa,
Ao sair do defumador, os queijos per- elástica e fechada e pode apresentar olha- nete; coloração branco-creme, homogênea;
manecem de um dia para o outro à tempe- duras mecânicas. Sua cor deverá ser branca e odor e sabor próprios, fortes e picantes.
ratura ambiente e, em seguida, seguem para e amarelada, uniforme, e com sabor láctico O Art. 628 denomina o queijo tipo Caccio
uma câmara fria a 12 ºC a 14 ºC com cerca pouco desenvolvido a ligeiramente picante, Cavalo como sendo o produto idêntico
de 85% de UR do ar. Durante a maturação, sendo que esses dois fatores poderão variar ao tipo Provolone com formato ovular ou
os queijos podem ser pintados com resinas segundo o conteúdo de umidade, matéria cilíndrico alongado (BRASIL, 1952).
plásticas para evitar ressecamento ou de- gorda e grau de maturação do queijo. O
senvolvimento de fungos na superfície. O odor deverá ser láctico pouco perceptível. CONSIDERAÇÕES FINAIS
tempo total de maturação varia de dois a O queijo não deve apresentar crosta e pode O ponto crítico na fabricação dos quei-
quatro meses, dependendo do sabor dese- ser fabricado com formato e peso variáveis. jos de massa filada é o controle da fermen-
jado no produto final. Após a maturação, os Ao queijo Mussarela podem ser adiciona- tação, para que a massa se torne apropriada
queijos podem ser fracionados e embalados dos especiarias, condimentos, substâncias para a filagem. A fermentação da lactose
em películas plásticas termoencolhíveis. alimentícias e/ou aromatizantes/sabori- pelas bactérias do fermento láctico, dá ori-
Em seguida, são comercializados ou esto- zantes, que lhe conferem características gem ao ácido láctico, o qual se liga ao Ca
cados a 2 ºC a 4 ºC. sensoriais. O período de estabilização e com a formação do paracaseinato bicálcico
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 67

que é ideal para filagem. Essa fermentação no brine procedure. Journal of Dairy Sci- tured Dairy Products Journal, Washington,
deve ser bem controlada, principalmente ence, Champaign, v. 77, n.9, p.2687-2694, v.26, n.3, p.27-31, Mar. 1991.
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Mozzarella cheese making by a stirred curd, mozzarella cheese on pizza: a review. Cul- 28 de fev. 2011.

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 69

Soro de leite: aspectos tecnológicos,


econômicos e ambientais
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto 1
Caroline Franco de Souza 2
Luiz Paulo de Lima 3
Ian Ibsen da Silveira Rabelo 4
Sérgio Casadini Vilela 5

Resumo - O soro de leite é o líquido resultante da separação das caseínas e da gordura


do leite no processo de elaboração do queijo. Contém mais da metade dos sólidos
presentes no leite integral original, incluindo a maioria da lactose, minerais, vitaminas
hidrossolúveis e 20% das proteínas do leite. Por isso, a utilização de soro de leite tem
sido objeto de pesquisas. A produção anual de queijos no mundo tem aumentado e,
assim, estimulado o desenvolvimento de novos produtos, com o objetivo de atingir
o uso completo do soro produzido. O soro é um ingrediente de grande aplicação em
diversas formulações da indústria alimentícia, pelo seu alto valor nutricional, e outras
como a indústria farmacêutica. Dentre suas aplicações na área de alimentos pode-se
citar a produção de concentrados, de hidrolisados e de bebidas. Reduções da ordem de
75% da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) podem ser atingidas, por exemplo, na
produção de biogás e etanol a partir de soro, o que reflete positivamente no ambiente.

Palavras-chave: Laticínio. Soro lácteo. Composição do soro. Tipo de soro. Características


nutricionais. Industrialização.

INTRODUÇÃO 55% dos nutrientes do leite, como lactose, Quanto a seu efeito poluente, o soro
proteína, minerais, vitaminas e gordura. lácteo, quando lançado em cursos d’água,
O soro de leite é um subproduto de
grande importância, associado ao volume A composição do soro varia considera- pode produzir um efeito poluidor pronun-
produzido e à sua rica composição nutri- velmente de acordo com o tipo de leite, ciado, associado à sua alta concentração
cional. Segundo Kosikowski (1979), o com o tipo de queijo processado e com de compostos orgânicos. Há um aumento
soro de leite é um líquido opaco, amarelo- a tecnologia de processamento. Para a do consumo do oxigênio dissolvido na
esverdeado que se separa do coágulo ou da indústria de alimentos, o soro constitui água pelos microrganismos, o que causa
caseína durante a fabricação convencional uma fonte de baixo custo de proteínas, que a mortandade da fauna e flora aquáticas.
de queijos. Representa, aproximadamente, conferem propriedades a uma ampla gama Um litro de soro de leite requer cerca de
90% do volume de leite e retém cerca de de alimentos. 40 g de oxigênio para completa estabili-

Farmacêutica-bioquímica, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista FAPEMIG, Caixa Posta 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio
1

eletrônico: claudia.epamig@gmail.com
Graduanda Engenharia de Alimentos, Bolsista FAPEMIG/EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio
2

eletrônico: carolfranco10@yahoo.com.br
3
Graduando Engenharia de Alimentos UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: engenheiro.luizpaulo@gmail.com
4
Graduando Engenharia de Alimentos UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: ianrabelo@hotmail.com
Adm. Empresas, M.Sc. Ciência e Tecnologia de Alimentos/Técn. Laticínios, Gerente Tecnologia Chr. Hansen Indústria e Comércio Ltda., Rod.
5

Visconde de Porto Seguro, 2.860, CEP 13278-327 Valinhos-SP. Correio eletrônico: brscv@chr-hansen.com

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70 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

zação da matéria carbonácea contida na QUADRO 1 - Composição do leite, soro doce e soro ácido
sua composição – demanda bioquímica de Leite Soro doce Soro ácido
oxigênio (DBO) de 40 mil mg O2/L – em Componente
(%ST) (%ST) (%ST)
termos práticos, uma fábrica com produção
Sólidos totais (ST) 13,0 6,4 6,2
média de 300 mil litros de soro por dia
polui o equivalente a uma cidade com 150 Proteína 3,6 0,8 0,75
mil habitantes (SILVA, 2006). Gordura 3,9 0,5 0,04
No estado de Minas Gerais, para o lan-
Lactose 4,6 4,6 4,2
çamento de efluentes industriais nos corpos
d’ água, é estabelecido por legislação que: Cinzas 0,8 0,5 0,8
efluentes de qualquer fonte poluidora Ácido láctico - 0,05 0,4
apenas poderão ser lançados, direta ou FONTE: Antunes (2003).
indiretamente, desde que tenham DBO
menor ou igual a 60 mg/L ou tratamento
com eficiência para redução de DBO de, no QUADRO 2 - Conteúdo em vitaminas do soro

mínimo, 75% e média anual igual ou supe- Concentração Necessidades diárias


Vitaminas
rior a 85% (COPAM; CERH-MG, 2008). (mg/mL) (mg)
Embora o soro de leite tenha as apli- Tiamina 0,38 1,5
cações comerciais descritas, ainda hoje,
Riboflavina 1,2 1,5
aproximadamente 45% desse subproduto é
descartado em rios, lagos e águas residuais Ácido nicotínico 0,85 10-20
no solo ou outras instalações, o que repre- Ácido pantotênico 3,4 10
senta uma perda significativa de nutrientes
Piridoxina 0,42 1,5
e gera sérios problemas de poluição am-
biental. Koutinas et al. (2009) descreveram Cobalamina 0,03 2
que esforços consideráveis têm sido feitos Ácido ascórbico 2,2 10-75
para explorar novas alternativas para o uso
FONTE: Linden e Lorient (1996).
do soro e redução da poluição ambiental.

COMPOSIÇÃO E TIPOS DE SORO


teor de nutrientes do soro pode gerar cerca queijos, produtos de panificação, confei-
Industrialmente, podem ser obtidos de 3,5 kg de DBO e 6,8 kg de demanda tarias, iogurtes, carnes, bebidas lácteas e
dois tipos de soro, ácido e doce, os quais química de oxigênio (DQO) por 100 kg como suplemento alimentar (NICOLAU
têm diferenças na composição associadas de soro líquido (MUÑI et al., 2005), sendo et al., 2004; PARRA HUERTAS, 2009).
à forma de coagulação do leite, ácida ou que a lactose é o principal componente só- As características nutricionais e
enzimática, respectivamente (Quadro 1). lido que contribui para a alta DBO e DQO funcionais das proteínas do soro estão
O soro doce tem pH de 6,5 e é obtido por (KOUTINAS et al., 2009). relacionadas com a sua estrutura e função
ação do coalho. O soro ácido tem pH de biológica. É�������������������������������
importante ressaltar que pos-
4,6 e é obtido por meio de fermentação ou IMPORTÂNCIA DAS suem alta digestibilidade e são constituídas
pela adição de ácidos orgânicos e ácidos PROTEÍNAS DO SORO por aminoácidos (Quadro 3) presentes em
minerais na preparação de queijos frescos As proteínas do soro apresentam ca- quantidades equilibradas que lhe conferem
(ANTUNES, 2003). racterísticas funcionais desejáveis para ou até excedem os requisitos nutricionais
O soro de leite também apresenta uma a indústria de alimentos, tais como boa para adultos e crianças (PACHECO et al.,
rica concentração de minerais como po- solubilidade, viscosidade, capacidade esta- 2005). Além disso, são de particular in-
tássio, seguido do cálcio, fósforo, sódio bilizante, emulsificante, espumante, gelei- teresse na indústria farmacêutica por suas
e magnésio e de vitaminas (Quadro 2) do ficante e boa adsorção de água. Assim, têm propriedades nutracêuticas.
complexo B como tiamina, ácido pan- sido utilizadas em diversas aplicações na A beta-lactoglobulina e a alfa-lactoal-
totênico, riboflavina, piridoxina, ácido indústria de alimentos, incluindo sopas de- bumina são as principais proteínas do soro,
nicotínico, cobalamina e ácido ascórbico sidratadas, molho para saladas, alimentos sendo que a beta-lactoglobulina representa
(LONDOÑO URIBE, et al., 2008). O alto infantis, dietéticos e geriátricos, sorvetes, cerca de 50% da massa proteica e sua
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 71

QUADRO 3 - Composição em aminoácidos essenciais - g/100 g de proteína é concentrado por evaporação e liofilizado
(MUÑI et al., 2005).
Aminoácido Soro Equilíbrio recomendado pela FAO
O CPS é definido pelo Código de Re-
Treonina 6,2 3,5 gulamentos Federais dos Estados Unidos
Cisteína 1,0 2,6 como substância obtida pela eliminação
suficiente de constituinte não proteico a
Metionina 2,0 2,6
partir do soro, para que o produto seco final
Valina 6,0 4,8 contenha pelo menos 25% de proteína.
Leucina 9,5 7,0 A maioria do CPS presente no mercado
Isoleucina 5,9 4,2 contém de 34% a 35% de proteína (FO-
EGEDING; LUCK, 2002). No Quadro 4,
Fenilalanina 3,6 7,3
está apresentada a composição nutricional
Lisina 9,0 5,1 e pH dos diferentes CPS. O CPS com,
Histidina 1,8 1,7 aproximadamente, 35% de proteína, é
Triptofano 1,5 1,1
produzido como um substituto do leite
FONTE: Linden e Lorient (1996).
desnatado e é utilizado na produção de
iogurte, queijo processado, aplicações de
bebidas diversas (FOEGEDING; LUCK,
proporção é de 3,3 g/L de leite bovino, Concentrado proteico de 2002), molhos, macarrão, biscoitos, sor-
enquanto que a alfa-lactoalbumina está soro vetes, bolos (MUÑI et al., 2005), laticí-
presente na concentração de 1,2 g/L de nios, padaria, carnes, bebidas e produtos
O concentrado proteico de soro (CPS)
leite (LOURENÇO, 2000). de fórmula infantil, por suas excelentes
é obtido em sistema de ultrafiltração, cons-
propriedades funcionais e nutricionais das
PRINCIPAIS APLICAÇÕES tituído por uma membrana semipermeável, proteínas (FOEGEDING; LUCK, 2002).
INDUSTRIAIS por onde passam seletivamente substâncias O CPS com 80% de proteína é formulado
de baixo peso molecular, como água, íons para aplicações como geleificante, emul-
São diversos os produtos do soro de
leite, bem como suas aplicações. e lactose, e retém substâncias de massa sificante e espumante (FOEGEDING;
molecular alta, como proteína. O retentado LUCK, 2002).
Ricota
A fabricação de ricota é uma alterna-
tiva viável para transformar subproduto
em produto comercial, agregando valor e
diminuindo seu efeito poluente.
A ricota, obtida pela precipitação das
proteínas do soro de leite por acidificação
associada ao calor, é também conhecida
como “queijo albumina”, por se constituir
basicamente desta e de lactoglobulina,
principais componentes proteicos do soro
(Fig.1). A fabricação de ricota é uma das
formas mais simples e econômica para o
aproveitamento do soro proveniente de
queijos comuns. Por ser um produto com
baixo teor de gordura, é considerado um
FASHIONSTUDIO

produto dietético e de fácil digestibilidade.


O aumento da produção de ricota pode
ser justificado, em parte, pela procura por
alimentos mais saudáveis e de baixo valor Figura 1 - Ricota
energético (ESPER, 2006). FONTE: Paixão... (2008).

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72 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

QUADRO 4 - Conteúdo nutricional de concentrados e isolados proteicos de soro marxianus var. marxianus (formalmente
Componente fragilis) e soro desproteinizado como subs-
CPS 34 CPS 50 CPS 60 CPS 70 CPS 80 IPS
(%) trato (MAWSON, 2003; DRAGONE et al.,
2009). O processo pode ser operado sob
Proteína 34,0-36,0 50,0-52,0 60,0-62,0 75,0-78,0 80,0-82,0 90,0-92,0
condições assépticas, usando soro de leite
Lactose 48,0-52,0 33,0-37,0 25,0-30,0 10,0-15,0 4,0-8,0 0,5-1,0 pasteurizado à temperatura de fermentação
entre 24 ºC e 34 ºC (MAWSON, 2003).
Gordura 3,0-4,5 5,0-6,0 1,0-7,0 4,0-9,0 4,0-8,0 0,5-1,0
Este processo de fermentação produz um
Cinza 6,5-8,0 4,5-5,5 4,0-6,0 4,0-6,0 3,0-4,0 2,0-3,0 rendimento de etanol de 75% a 85% do
Umidade 3,0-4,5 3,5-4,5 3,0-5,0 3,0-5,0 3,5-4,5 4,5 ideal, considerando que para cada quilo de
FONTE: U.S. Dairy Export Council (2004). etanol é necessário 0,538 kg de lactose me-
NOTA: CPS - Concentrado proteico de soro; IPS - Isolado proteico de soro. tabolizada, o que reflete a importância da
produção de etanol a partir de soro de leite.

Isolado proteico de soro penho de 37,12%, de acordo com estudos Biomassa


realizados por Souza et al. (2008).
O isolado proteico de soro (IPS) tem Desde 1940, a biomassa de levedura
90% de proteína e entre 4% e 5,5% de água. vem sendo produzida comercialmente.
Fórmulação infantil
Pelo seu alto grau de pureza, o IPS é usado Para este processo podem-se utilizar fon-
extensivamente em suplementos nutricio- O desenvolvimento de fórmulas infan-
tes baratas de carbono, como soro de leite
nais, bebidas esportivas e medicamentos tis baseia-se principalmente em leite bo-
inoculado com o Kluyveromyces lactis, um
(FOEGEDING; LUCK, 2002). vino e seus derivados, como substituto do
microrganismo excelente para produção de
leite humano. Quando nos anos 70 foram
biomassa (GHALY; KAMAL; CORREIA,
Hidrolisado desenvolvidas as fórmulas infantis à base
2005). Este processo pode ser descrito
de soro, a fim de simular o leite humano, a
A introdução na dieta de hidrolisados como uma reação bioquímica de lactose
atenção voltou-se para o desenvolvimento para a produção de células microbianas
enzimáticos, ricos em oligopeptídeos,
desses produtos. Isto marcou o início do (biomassa), como o principal produto
especialmente dipeptídeos e tripeptídeos,
é uma forma de melhorar a utilização desenvolvimento de formulações infantis (GHALY; KAMAL; CORREIA, 2005).
da proteína. Estes preparativos têm sido por meio da mistura de quantidades iguais
utilizados em vários países como um de leite desnatado, soro de leite desminera- Levedura para a indústria
suplemento dietético ou de necessidades lizado e outros componentes, como vitami- de panificação
fisiológicas das pessoas idosas, bebês, nas, minerais e aminoácidos (WIT, 2003).
O soro em pó é utilizado como um
crianças, atletas, para controlar o peso por O principal problema com esses
ingrediente na indústria de panificação,
meio de dieta. São usados extensamente produtos tem sido a utilização de beta-
para melhorar sabor e características de
hidrolisados de proteína, porque os amino- lactoglobulina. Esta proteína está ausente
qualidade. Volume, textura da crosta e
ácidos fornecidos por hidrolisados protei- no leite humano e constitui uma importante
retenção de frescor no trigo de pão, esses
cos são absorvidos rápido e completamente causa de alergia infantil, o que limita o uso
recursos são fornecidos pela incorporação
comparada com a proteína não hidrólisada de leite bovino como matéria-prima para
de uma combinação de emulsionantes e
(SOUZA et al., 2008). a produção de leite para lactentes ������
(LUCE- soro em pó (WIT, 2003).
Fontes de proteínas que podem ser NA et al., 2007). Dois processos foram desenvolvidos
usadas para a preparação de hidrolisados para a produção de leveduras para a indús-
Etanol
são a caseína isolada e a proteína do leite. tria de panificação. No primeiro, a lactose
No entanto, nos países subdesenvolvidos, A produção de etanol pela conversão do é hidrolisada com beta-galactosidase e,
esta proteína tem de ser importada, o que soro de leite é uma alternativa interessante posteriormente, glucose e galactose são si-
poderia causar um aumento considerável para a utilização deste subproduto indus- multaneamente consumidas pela levedura
dos custos. Como alternativa, poderia ser trial (DRAGONE et al., 2009). Na Irlan- (MAWSON, 2003). O segundo processo
usado Bacillus subtilis e pancreatina, uma da, Nova Zelândia e nos Estados Unidos emprega uma fermentação em dois está-
enzima que pode hidrolisar a proteína, existem destilarias de soro em operação. dios. No início, as bactérias do ácido lác-
obtendo-se oligopeptídeos com um desem- Na fermentação é utilizada Kluyveromyces tico convertem a lactose em lactato, que é
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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 73

consumido na segunda fase pela levedura. e outros produtos lácteos. A base láctea =composi%C3%A7%C3%A3o%20do%20
Por fim, a biomassa pode ser mecânica ou representa pelo menos 51% m/m do total soro%20de%20leite&f=false>. Acesso em:
9 abr. 2011.
biologicamente degradada para eliminar de ingredientes do produto, fermentado
os componentes celulares que podem ser mediante a ação de microrganismos especí- COPAM; CERH-MG. Deliberação Normativa
no 1, de 5 de maio de 2008. Dispõe sobre a
purificados e convertidos em produtos de ficos e/ou adicionado de leite fermentado e
classificação dos corpos de água e diretrizes
alto valor (MAWSON, 2003). que não poderá ser submetido a tratamento ambientais para o seu enquadramento, bem
térmico após a fermentação. Além do soro, como estabelece as condições e padrões de
Ácido orgânico do leite e dos cultivos de bactérias lácticas lançamento de efluentes, e dá outras provi-
Vários ácidos orgânicos como butí- já tradicionais, as bebidas lácteas podem dências. Minas Gerais, Belo Horizonte, 13
maio 2008. Diário do Executivo.
rico e propiônico podem ser obtidos por conter na sua formulação, acidulantes,
meio da fermentação do soro de leite. Na aromatizantes, reguladores de acidez, es- DRAGONE, G. et al. ������������������������
Characterisation of vol-
tabilizantes, espessantes, emulsificantes, atile compounds in an alcoholic beverage
fermentação do soro, o álcool ainda pode produced by whey fermentation. Food Che-
ser metabolizado em ácido acético por corantes, conservantes, pedaços, polpa ou
mistry , v.112, n.4, p.929-935, Feb. 2009.
Acetobacter spp. Este processo é utilizado sucos de frutas e mel (BRASIL, 2005).
ESPER, L. M. R. Diagnóstico da qualidade
para a produção de vinagre, produto usado de ricotas comercializadas no Município
em saladas e outros alimentos da cozinha, CONSIDERAÇÕES FINAIS de Campinas-SP. 2006. 122f. Dissertação
sem grandes diferenças em relação ao O descarte de soro pelas indústrias de (Mestrado em Engenharia de Alimentos) –
vinagre tradicional (WIT, 2003). Faculdade de Engenharia de Alimentos,
queijo tem gerado problema de contami-
Universidade Estadual de Campinas, Cam-
O soro constitui também um meio de nação ambiental mundial associado ao seu pinas, 2006.
cultura para produção de ácido láctico alto potencial poluidor. Deve-se considerar
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por meio da biotecnologia. A fermentação que o soro de leite constitui uma matéria- products. In: CABALLERO, B.; TRUGO, L.;
láctica é tipicamente realizada em batelada prima de alto valor biológico, funcional FINGLAS P. (Ed.). Encyclopedia of Foods
utilizando-se um complexo de espécies e tecnológico e que o seu uso deve ser Sciences and Nutrition. New York: Acade-
homofermentativas como Lactobacillus potencializado pelas indústrias, a fim de mic Press, 2002. p. 1957-1960.
delbrueckii ssp. bulgaricus e Lactobacillus aproveitar todas as suas propriedades e mi- GHALY, A. E.; KAMAL, M.; CORREIA, L.R.
casei onde as fontes nutricionais como li- nimizar os impactos ambientais negativos Kinetic modelling of continuous submerged
cor de milho, malte ou extrato de levedura fermentation of cheese whey for single cell
gerados com o seu descarte.
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podem ser complementadas com o meio
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alimentícia, gordura vegetal, leite fer- +de+leite&ots=Kufm8pNImI&sig=VTaM LUCENA, M. et al. a-Lactalbumin pre-
mentado, fermentos lácteos selecionados xUlabCaIqY90_us6sDN8jo#v=onepage&q cipitation from commercial whey protein

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Leia e Assine o INFORME AGROPECUÁRIO
Acesso em: abr. 2011. (31) 3489-5002 - publicacao@epamig.br
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76 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Ferramentas de qualidade: aplicação do Diagrama de


Causa e Efeito na indústria de laticínios
Vanessa Aglaê Martins Teodoro 1
Denise Sobral 2
Gisela de Magalhães Machado 3
Renata Golin Bueno Costa 4
Junio César Jacinto de Paula 5
Elisângela Michele Miguel 6

Resumo - Os programas de qualidade como as Boas Práticas de Fabricação, os


Procedimentos-Padrão de Higiene Operacional (PPHO) e a Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC) têm sido cada vez mais empregados pelas indústrias
de laticínios, seja por exigência dos órgãos de inspeção, seja pelo próprio mercado. As
ferramentas de garantia de qualidade auxiliam na implantação e na implementação
desses programas. O Diagrama de Causa e Efeito constitui uma excelente ferramenta
para tomada de decisão que pode ser utilizada com sucesso para solucionar problemas
ou atingir um objetivo previamente estabelecido.
Palavras-chave: Laticínio. Gestão. Qualidade total. Melhoria de processo. Ishikawa.

INTRODUÇÃO produtos. Esse fato visa atender às legis- de perdas e de desperdícios. Assim, quando
lações e às exigências dos consumidores, se consegue aliar qualidade ao aumento da
O consumidor está cada vez mais exi-
o que possibilita a sobrevivência, a com- produtividade e do rendimento e à redução
gente e consciente de seus direitos. Este fato
petitividade, a ampliação das atividades e de desperdícios, é possível alcançar uma
intensificou-se, principalmente, a partir da
a busca por novos mercados. boa margem de lucro.
década de 1990, quando foi aprovado, no Toda empresa que deseja aumentar sua Os principais programas de garantia
Brasil, o Código de Defesa do Consumidor. eficácia deve reduzir as perdas da produ- da qualidade e inocuidade de leite e de-
Dessa forma, pode-se afirmar que garantir a ção, e ter como meta, o elo entre a produ- rivados, com implementação obrigatória,
qualidade do produto deixou de ser um dife- tividade e a qualidade de seus produtos. são os Procedimentos-Padrão de Higiene
rencial para as empresas e passou a ser uma Segundo Caldeira Filho (2009), o mercado Operacional (PPHO) e as Boas Práticas
necessidade (CALDEIRA FILHO, 2009). estabelece o preço de venda, logo, uma de Fabricação (BPF), também conhecidos
Nas últimas décadas, as indústrias empresa só terá lucro se diminuir seus cus- como Programas de Pré-Requisitos (PPR),
de alimentos têm buscado implementar tos. Por outro lado, uma indústria somente além do Sistema Análise de Perigos e
sistemas para gestão, garantia, controle e conseguirá uma redução de seus custos de Pontos Críticos de Controle (APPCC).
inspeção da qualidade de seus processos e fabricação, por exemplo, com a diminuição Atualmente, esses programas têm sido

1
Médica-Veterinária, M.Sc., Prof a/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
vanessa.teodoro@epamig.br
2
Enga Alimentos, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: denisesobral@epamig.br
3
Enga Alimentos, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: giselammachado@epamig.br
Enga Alimentos, D.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
4

renata.costa@epamig.br
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, D.Sc., Prof./Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio
5

eletrônico: junio@epamig.br
6
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, M.Sc., Profa/Pesq. EPAMIG-ILCT/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de
Fora-MG. Correio eletrônico: elismicheli@epamig.br

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 77

tratados como Programas de Autocontrole seus processos e a padronização de seus de um problema, a partir da análise e das
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e procedimentos (CALDEIRA FILHO, classificações das prováveis origens dessas
Abastecimento (MAPA). 2009). Para isso, é necessário que haja causas, razão pela qual é conhecido também
Ferramentas para desenvolver e atingir como de causa e efeito (CAMPOS, 1996).
FERRAMENTAS DA os objetivos. Assim, pode-se dizer que foi desen-
QUALIDADE Ferramentas da qualidade são técnicas volvido para representar a relação entre o
O conceito de qualidade vem evo- utilizadas com a finalidade de definir, “efeito” e todas as possibilidades de causas
luindo ao longo dos anos. Inicialmente, mensurar, analisar e propor soluções para que podem contribuir para esse efeito. Seu
associava-se à conformidade e às espe- os problemas que interferem no bom de- desenho facilita a visualização das várias
cificações, posteriormente, à visão de sempenho dos processos produtivos. Para causas que afetam um processo, por classi-
satisfação do cliente. Essa satisfação compreender e melhorar esses processos, ficação e relação, tomando a forma de uma
relaciona-se, principalmente, a fatores são necessários o conhecimento e a apli- espinha de peixe (O GERENTE, 2006).
como prazo e pontualidade de entrega, cação de uma série de ferramentas ou O Diagrama é um instrumento muito
condições de pagamento, atendimento pré técnicas. O hábito de disciplinar a busca usado para estudar quais fatores deter-
e pós-venda, flexibilidade (CALDEIRA de soluções com ferramentas adequadas minam os resultados que se deseja obter
FILHO, 2009), além de satisfação das evita a ocorrência de falhas muito comuns (processo, desempenho, oportunidade) e
características sensoriais exigidas pelo nas decisões do cotidiano como conclusão quais as causas de problemas que se pre-
consumidor. por intuição, tomada de decisões pelo cisa evitar (defeitos, falhas, variabilidade)
Para Ishikawa (1997), o termo quali- caminho mais curto, dimensionamento (SANTOS, 2009).
dade aborda trabalho, serviço, informação, inadequado do problema, satisfação com Os benefícios da utilização do Dia-
processo, divisão, pessoal, incluindo ope- uma única solução, isolamento do proble- grama de Causa Efeito são evidentes, na
rários, engenheiros, gerentes e executivos, ma ou omissão de detalhes (CALDEIRA medida em que foca no aperfeiçoamento
qualidade de objetivos, dentre outros. O FILHO, 2009). do processo, envolve toda a equipe de
enfoque básico é controlar a qualidade em Várias são as ferramentas que podem trabalho e promove um registro visual das
todas as suas manifestações. ser aplicadas na indústria de laticínios e causas potenciais que podem ser revistas e
Qualidade total representa a busca que auxiliam na tomada de decisão como atualizadas (O GERENTE, 2006).
da satisfação, não só do cliente, mas o Programa 5 Sensos e as ferramentas Essa ferramenta, segundo o Gerente
de todas as partes interessadas como 5W + 1H ou 2H, kanban, kaizen, Círculos (2006), possibilita:
funcionários, acionistas, governo, co- de Controle de Qualidade, Brainstorming, a) identificar as informações a respeito
munidade, meio ambiente, enfim, todos Desdobramento da Função Qualidade das causas do problema;
que representam entidades significativas (QFD), o Ciclo Plan, Do, Check e Act
b) organizar e documentar as causas
na existência da empresa (CALDEIRA (PDCA), a Análise dos Modos e dos
potenciais de um efeito ou caracte-
FILHO, 2009). Efeitos das Falhas (FMEA), a técnica de
rística de qualidade;
A garantia da qualidade dentro do Análise da Árvore de Falhas (FTA), além
do Diagrama de Causa e Efeito. c) indicar o relacionamento de cada
Programa de Qualidade Total, segundo
causa e subcausa às demais e ao
Campos (1996), é uma conquista que pode
DIAGRAMA DE CAUSA E efeito ou característica de qualidade;
ser alcançada pelo gerenciamento correto
EFEITO (ISHIKAWA) d) reduzir a tendência de procurar uma
de todas as atividades relacionadas com
a qualidade, buscando sistematicamente Este Diagrama, também conhecido causa “verdadeira”, em prejuízo do
a eliminação das falhas, com vistas à como Diagrama de Ishikawa ou espinha de desconhecimento ou esquecimento
satisfação total das necessidades dos peixe, foi idealizado pelo professor Kaoru de outras causas potenciais.
consumidores. Para Souza et al.(1994), Ishikawa, em 1943 (O GERENTE, 2006), Transmeth (2009) cita como pontos
sua implantação implica na mobilização e tem como objetivo identificar as causas fracos do Diagrama a não apresentação
dos seus vários departamentos ou setores de um problema em estudo ou de um efeito dos eventuais relacionamentos entre as
e na participação ativa de todos os seus desejado. É utilizado na fase de análise dos diferentes causas e a ausência de foco
colaboradores. A fim de incentivar e via- problemas levantados pelo grupo, por exem- nas causas que devem ser efetivamente
bilizar essa participação faz-se necessário plo, durante um Brainstorming e identifica a eliminadas. Para sanar estes pontos fracos,
treinar os funcionários dos vários escalões relação entre uma característica da qualida- sugere a utilização combinada do Diagra-
para identificar e analisar problemas, vi- de e os fatores que a determinam. Constitui ma de Ishikawa com uma ferramenta de
sando promover a melhoria contínua de um diagrama de registro das diversas causas focalização.
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78 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

Metodologia do Diagrama (2009) também inclui o “Management” identificadas, selecionadas e estudadas


de Causa e Efeito ou gestão. Podem ser utilizadas, ainda, para uma melhor análise e para subsequen-
as categorias 4Ps, a saber: política, pro- te eliminação (O GERENTE, 2006).
O processo inicia-se com o levanta-
mento de um problema ou efeito a ser cedimentos, pessoal e planta (SANTOS, Os componentes do Diagrama são
analisado, acompanhado de uma descrição, 2009). Essas categorias funcionam, na representados graficamente na forma de
onde e quando ocorre e qual a sua extensão. realidade, como um guia para definição espinha de peixe, conforme apresentados
Segundo Santos (2009), o problema a ser das causas. Cada autor sugere um número na Figura 1 e detalhados na Figura 2.
investigado deve ser definido de forma diferente de categorias, que variam de Quando o Diagrama de Causa e Efeito
precisa, ou seja, devem ser evitados ter- acordo com a empresa e/ou com a situação é utilizado para fins de planejamento, a
mos abstratos e ideias muito genéricas. específica com que se deseja trabalhar, atenção deve ser concentrada sobre um
Em seguida, deve-se encontrar o maior não constituindo, portanto, uma regra. resultado desejado. A seta principal apon-
número possível de causas que possam A partir de uma lista bem definida de ta para o que se deseja que aconteça, e as
contribuir para gerar o efeito, terminando possíveis causas, as mais prováveis são setas menores dos ramos representam os
o processo com a eleição da causa principal
ou causas principais (CAMPOS, 1996),
focando naquelas possíveis de ser sanadas.
1) Cabeçalho 4) Categoria
Na etapa de levantamento das causas, é
necessária uma discussão franca e aberta,
em que se pode utilizar um método efetivo 5) Causa
de condução da reunião com este objetivo,
a Ferramenta da Qualidade Brainstorming
6) Subcausa
(CAMPOS, 1996), com ��������������������
pessoas envolvi-
das no processo. As sugestões devem ser
resumidas em poucas palavras (SANTOS, 2) Efeito
2009). 3) Eixo central
Para facilitar a identificação e a aná-
lise, recomenda-se agrupar as causas em
categorias, compostas por palavras que
iniciam com a letra M e variam em núme-
ro de componentes: método, mão de obra,
material, máquina, meio ambiente, manu-
tenção (CAMPOS, 1996), matéria-prima, Figura 1 - Componentes do Diagrama de Causa e Efeito
mensuração (O GERENTE, 2006). Santos FONTE: O Gerente (2006).

1) Cabeçalho: Título, data, autor (ou grupo de trabalho)


2) Efeito: Contém o indicador de qualidade e o enunciado do projeto (problema). É escrito no lado direito, desenhado no meio da
folha.
O efeito ou problema é fixado no lado direito do desenho, e as influências ou causas maiores são listadas no lado esquerdo.
3) Eixo central: Uma flecha horizontal, desenhada apontando para o efeito. Usualmente desenhada no meio da folha.
4) Categoria: Representa os principais grupos de fatores relacionados com o efeito. As flechas são desenhadas inclinadas, as
pontas convergindo para o eixo central.
5) Causa: Causa potencial, dentro de uma categoria que pode contribuir com o efeito. As flechas são desenhadas em linhas
horizontais, apontando para o ramo de categoria.
6) Subcausa: Causa potencial que pode contribuir com uma causa específica. São ramificações de uma causa.

Figura 2 - Detalhamento dos componentes do Diagrama de Causa e Efeito


FONTE: O Gerente (2006).

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Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade 79

vários meios necessários para alcançar


1. Definir o efeito: estabelecer o efeito que se deseja alcançar, ou seja, uma caracte-
o resultado (O GERENTE, 2006). Essa rística da qualidade (CAMPOS, 1996) ou um problema a ser estudado (SANTOS,
ferramenta auxilia na organização do 2009). O efeito pode ser um problema, como "erros em pedidos" ou algo que
pensamento e sua utilização facilita a necessite ser descrito em termos de qualidade, como "desenvolver o melhor trei-
distinção da verdadeira causa de um pro- namento em motivação gerencial" (O GERENTE, 2006).
blema (IBIAPINA, 2005). 2. Conhecer e entender o processo: observar, documentar, conversar com pessoas
Os passos para construção do Dia- envolvidas (SANTOS, 2009).
3. Gerar ideias: reunir um grupo para discutir o problema, apresentar os fatos co-
grama Causa e Efeito estão descritos na
nhecidos, incentivar as pessoas a dar suas opiniões. Isso pode ser por meio de
Figura 3. Brainstorming (SANTOS, 2009).
Durante a sessão para montagem do 4. Organizar as informações: organizar todas as informações obtidas na etapa an-
Diagrama de Causa e Efeito deve ser terior, eliminar informações irrelevantes (SANTOS, 2009) e definir o maior núme-
oferecida total liberdade aos participan- ro possível de causas que podem afetar o efeito da qualidade (CAMPOS, 1996).
tes, induzindo-os à participação. Devem 5. Ordenar as causas: estabelecer as causas principais, secundárias, terciárias,
ainda, ser evitadas críticas, discussão ou etc. (SANTOS, 2009), isto é, definir as relações entre as causas e construir um
diagrama de causa e efeito, ligando os elementos com o efeito da qualidade por
mesmo interpretação de ideias (IBIAPI-
relações de causa e efeito (CAMPOS, 1996).
NA, 2005). 6. Definir grau de importância para as causas: estipular uma importância para cada
Este procedimento é caracterizado pela causa e assinalar aquelas particularmente importantes, que pareçam ter um efei-
execução de duas atividades diferentes: o to significativo na característica da qualidade (CAMPOS, 1996; SANTOS, 2009).
levantamento de maior quantidade possível Para Böhmerwald (1996), nessa etapa, o coordenador deve entrar em consenso
de causas e o arranjo das causas de forma com os participantes sobre as causas mais prováveis e priorizá-las por meio de
sistemática. Uma das dificuldades, que votação.
7. Definir soluções: os participantes indicam as possíveis soluções para afastar as
frequentemente ocorre, é a de onde alocar
causas dos problemas a serem solucionados ou para a melhoria da qualidade
uma determinada causa. No entanto, isto (BÖHMERWALD, 1996).
não é significativo. O importante é que 8. Registro: registrar quaisquer informações necessárias (CAMPOS, 1996).
a causa tenha sido lembrada (CAMPOS,
Figura 3 - Passos para construção do Diagrama de Causa e Efeito
1996).
Ao construir o Diagrama de Causa e
Efeito, as causas devem ser arranjadas
de forma sistemática, partindo das espi-
nhas pequenas para as médias e destas
para as espinhas grandes e colocadas
na forma de flechas apontadas para o
problema ou efeito que se deseja obter
Máquina Método Mão de obra
(Fig. 4).
Segundo Campos (1996), é preciso
fazer tantos Diagramas quanto forem os
efeitos ou problemas estudados. Depois
Problema
que as ideias forem exauridas e compre-
endidas, devem-se identificar as causas
mais prováveis, destacando-as no Dia-
grama. Para essas causas selecionadas,
Meio ambiente Matéria-prima Medida Manutenção
devem-se então, desenvolver e implantar
Efeito
as soluções. O acompanhamento do pro-
blema, de preferência por meio de itens Causas
quantificáveis, permite determinar se as
soluções implementadas corrigiram de
fato as causas reais. Se isso não ocorrer,
o Diagrama deve ser refeito até que todos
concordem que o problema tenha sido Figura 4 - Construção do Diagrama de Causa e Efeito
solucionado. FONTE: Campos (1996).

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Simulação da aplicação possíveis de ser controladas. Essas causas A Figura 6 demonstra, sem detalhes, os
do Diagrama de Causa foram então separadas por categorias (mão itens e os subitens trabalhados pela equipe.
e Efeito na indústria de de obra, matéria-prima, método, medidas, A seguir, será apresentada a descrição
laticínios máquinas e meio ambiente) e agrupadas, do primeiro item do memorando, mão de
Segue-se uma simulação da utilização conforme a relação existente entre elas. obra, com detalhamento de sua causa e
da ferramenta Diagrama de Causa e Efeito O passo seguinte foi a montagem do subcausa:
com a finalidade de identificar as possíveis Diagrama e a discussão de como atuar em
causas para um problema específico. cada uma dessas causas para prevenir e/ou Mão de obra
O primeiro passo foi definir como pro- controlar sua ocorrência. a) causa: contaminação de origem fecal
blema a contaminação de queijos frescos De acordo com as informações levanta- por manipulador doente ou portador.
por Listeria monocytogenes. Posteriormen- das nas discussões, foi possível elaborar o Os colaboradores que manipulam
te, realizou-se Brainstorming com uma Diagrama representado na Figura 5. alimentos e que podem contaminá-
equipe composta por profissionais da área los de forma direta ou indireta
de produção de queijos, físico-química, Memorando das causas:
devem-se submeter aos exames de
controle e prevenção
microbiologia e qualidade. Dessa forma, rotina como os de fezes, urina e
foram definidas as causas mais importan- As ações corretivas, as medidas pre- sangue por intermédio dos órgãos
tes, passíveis de acarretar contaminação ventivas e de controle foram descritas de- competentes de saúde antes do seu
do queijo fresco por L. monocytogenes e talhadamente no memorando do processo. ingresso na indústria e, depois,

Título: Contaminação de queijos frescos com Listeria monocytogenes.


Data: fevereiro/2010.
Grupo de trabalho: Colaboradores da indústria

Mão de obra Método Meio ambiente


Contaminação da água
(ordenha e indústria)
Incrustações

Tratamento térmico Contaminação


Contaminação por Interconexões
do ar Animais
manipulador insuficiente

Partículas suspensas Contaminação do solo


Ausência de Falha na válvula
na indústria e na
hábitos higiênicos de retorno do leite
ordenha Contaminação
Ausência de Binômio tempo Ausência de por silagem
treinamento temperatura manutenção/higienização
inadequado dos filtros de ar na
indústria Contaminação
de queijo fresco
Contaminação por Listeria
Ausência de controle
cruzada monocytogenes
sanitário
Furos no trocador
de calor Equipamentos
Ausência de BPA Não cumprimento mal-higienizados Ausência de análise de
do protocolo fosfatase alcalina
Leite contaminado Não cumprimento
do protocolo Protocolo
Protocolo Ausência de controle
inadequado Equipamento
Refrigeração prolongada inadequado de leite pasteurizado
malprojetado
Equipamentos mal-
higienizados Ausência de análise de
Biofilmes água
Equipamento
malprojetado Ausência de controle do
Demora em higienizar gráfico do pasteurizador

Matéria-prima Máquinas Medidas


Figura 5 - Diagrama de Causa e Efeito para a contaminação de queijos frescos com Listeria monocytogenes
NOTA: BPA - Boas Práticas Agrícolas.

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I. MÃO DE OBRA
periodicamente, a cada seis meses.
CAUSA 1: Contaminação de origem fecal por manipulador doente ou portador Esses exames não são específicos
Subcausa 1.1: Ausência de hábitos higiênicos para Listeria, mas podem indicar
Subcausa 1.2: Ausência de treinamento alguma alteração. Também deverá
ser efetuado exame médico nos
II. MEIO AMBIENTE trabalhadores em outras ocasiões,
quando existirem razões clínicas ou
CAUSA 1: Contaminação do ar
Subcausa 1.1: Ausência de manutenção/higienização dos filtros de ar na indústria
epidemiológicas.
Subcausa 1.2: Contaminação por partículas suspensas no ar na ordenha e na indústria Manipuladores suspeitos de se-
rem portadores de microrganismos
CAUSA 2: Contaminação da água (na ordenha e na indústria)
de alguma doença passível de ser
Subcausa 2.1: Acesso dos animais à fonte de água ou contaminação fecal
veiculada por alimentos ou possuam
Subcausa 2.2: Interconexões
feridas, infecções cutâneas, chagas
CAUSA 3: Contaminação do ambiente por silagem ou diarreia ficam impedidos de
trabalhar em qualquer área de ma-
CAUSA 4: Contaminação pelo solo
nipulação de alimentos ou onde haja
possibilidade de constituir fonte de
III. MÉTODO contaminação direta ou indireta até
CAUSA 1: Tratamento térmico insuficiente que obtenha alta médica.
Subcausa 1.1: Binômio tempo temperatura inadequado - subcausa 1: ausência de hábitos
Subcausa 1.2: Incrustações higiênicos.
Subcausa 1.3: Falha no funcionamento da válvula de retorno do leite
A prática de hábitos higiênicos
deve ser abordada nos treinamentos
IV. MEDIDAS
oferecidos aos funcionários. Porém,
CAUSA 1: Ausência de controle do gráfico do pasteurizador devem ser intensivamente trabalha-
dos e vistoriados, a fim de evitar a
CAUSA 2: Ausência da análise de água
contaminação por parte dos mani-
CAUSA 3: Ausência de controle do leite pasteurizado puladores. Na maioria dos casos, a
Subcausa 3.1: Ausência de análises de fosfatase alcalina mudança de hábitos impróprios é a
questão mais complicada dentro das
V. MATERIAIS (equipamentos) indústrias. Por isso, são importantes
a conscientização e o treinamento.
CAUSA 1: Equipamentos mal-higienizados
Deverá ser realizado controle ade-
Subcausa 1.1: Não cumprimento do protocolo de higienização
Subcausa 1.2: Equipamentos malprojetados quado, para garantir o cumprimento
Subcausa 1.3: Protocolo de higienização inadequado dessas exigências.
As pessoas que ordenham, ma-
CAUSA 2: Formação de biofilmes
nipulam, armazenam, transportam,
Subcausa 2.1: Demora em higienizar equipamentos
Subcausa 2.2: Equipamentos mal-higienizados
processam ou preparam leite e de-
rivados são, na maioria das vezes,
a) Não cumprimento do protocolo de higienização
responsáveis por sua contaminação.
b) Equipamentos malprojetados
c) Protocolo de higienização inadequado Esta pode ser evitada por meio de
higiene pessoal, comportamento e
CAUSA 3: Contaminação cruzada manipulação adequada. Isso deve
Subcausa 3.1: Furos no trocador de calor ser feito a partir da manutenção de
um nível adequado de limpeza pes-
VI. MATÉRIA-PRIMA soal, comportamento e operação de
CAUSA 1: Leite contaminado forma apropriada, a saber:
Subcausa 1.1: Ausência de controle sanitário do rebanho (mastite) • pessoas que manipulam matérias-
Subcausa 1.2: Tempo prolongado de refrigeração do leite primas ou produtos semielabora-
Subcausa 1.3: Ausência de Boas Práticas Agropecuárias dos, as quais representam risco de
Figura 6 - Itens do memorando do Diagrama de Causa e Efeito contaminá-los, não devem entrar
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82 Leite e derivados: tecnologias, padrões de identidade e qualidade

em contato com nenhum desses devem abranger não somente as tec- do em Engenharia Mecânica) – Faculdade
produtos prontos para o consumo, nologias, mas também, higienização, de Engenharia de Ilha Solteira, Universi-
dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
enquanto não trocarem a roupa, hábitos higiênicos, dentre outros.
Filho”, 2004. Disponível em: <http://www.
• manter os uniformes limpos e O treinamento em higiene de dem.feis.unesp.br/posgraduacao/tesespdf/
utilizá-los somente dentro da alimentos consiste em demonstrar odiloncaldeirafilho/capitulo2_revisao_
indústria, quais são os riscos para a conta- bibliografica.pdf> Acesso em: 5 maio 2009.

• manter os cabelos presos e minação e alteração da qualidade CAMPOS, V.F. TQC: “Controle da Qualida-
protegidos por touca, e utilizar do alimento manipulado, por falha de Total”. Belo Horizonte: Fundação Chris-
na higiene pessoal e no compor- tiano Ottoni: UFMG, 1996.
máscaras, ambas descartáveis,
• uso de luvas está condicionado à tamento dos funcionários. Nestes O GERENTE. Diagrama de Causa e Efeito.
treinamentos, deve constar o uso de [S.l., 2006]. Disponível em:<http://www.
ocorrência de treinamento ade- ogerente.com.br/qual/dt/qualidade-dt-
quado, máscaras e de luvas. Deve ser feito
diagrama_causa_efeito. htm>. Acesso em: 5
um trabalho intenso de motivação e maio 2009.
• os homens devem manter-se bar-
conscientização. Os colaboradores
beados, com unhas limpas e curtas; IBIAPINA, F. L. P. Avaliando a qualidade
devem-se sentir parte do processo das áreas de suporte em uma instituição
as mulheres, além de manterem as
produtivo. de saúde: validando um modelo a partir
unhas limpas e curtas, não devem
da POCC – Próxima Operação como Clien-
usar adornos, esmaltes ou bases, te. 2005. Monografia (Especialização em
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• não comer ou fumar, tossir ou Administração Hospitalar) – Universida-
falar sobre os alimentos, O Diagrama de Causa e Efeito é uma de Gama Filho, Fortaleza. Disponível em:
ótima ferramenta para definir as causas de <http://www.fundacaounimed.org.br/site/
• higienizar as mãos antes de iniciar Monografias/Fl%C3%A1vio%20L%C3%
os trabalhos e após o seu término, um determinado problema, bem como as
BAcio%20Pontes%20Ibiapina.pdf>. Aces-
sempre que utilizar os sanitários, estratégias para atingir um efeito desejado. so em: 5 maio 2009.
trocar de atividade, manipular Essa ferramenta auxilia na organização do
ISHIKAWA, K. Controle da qualidade total:
produtos contaminados, crus pensamento para tomada de decisão e sua à maneira japonesa. Rio de Janeiro: Cam-
ou semielaborados, manipular utilização facilita a distinção da verdadeira pus, 1997. 221p.
produtos químicos, e sempre que causa de um problema, além de permitir SANTOS, A B. Diagrama de Causa e Efei-
necessário, maior interação entre as pessoas envolvi- to. São José do Rio Preto: UNESP, [2009].
• não realizar procedimentos de das no processo. Disponível em: <http://www.dcce.ibilce.
unesp.br/~adriana/ceq/ Material%20de%20
higienização enquanto estiver aula/Diag_causa_efeito.doc>. Acesso em: 5
produzindo, REFERÊNCIAS
maio 2009.
• cumprir todas as normas de higie- BÖHMERWALD, P. Gerenciando o Sistema
SOUZA, R. de et al. Sistema de gestão da
ne que se fizerem necessárias. de Sugestões. Belo Horizonte: Fundação qualidade: para empresas construtoras. São
Christiano Otoni, 1996. Paulo: SEBRAE-SP, 1994.
- subcausa 2: ausência de treinamento.
CALDEIRA FILHO, O. Revisão bibliográ- TRANSMETH. Diagrama de Causa e Efeito
Treinamentos contínuos são ne- fica. In: _________. Uso de ferramentas de Ishikaswa. [São Paulo, 2009]. Disponível
cessários, com a finalidade de apri- da qualidade na melhoria dos processos em: <http://www.numa.org.br/transmeth/
morar as atividades exercidas pelos de fabricação de tubos PVC extrudados. ferramentas/ffishikawa.htm>. Acesso em:
colaboradores. Esses treinamentos 2004. cap.2, p.7-56. Dissertação (Mestra- 10 maio 2009.

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Tecnologias para o Agronegócio

Assinatura e vendas avulsas


publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002

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INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas
ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma-
c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

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Job: 00427-002 -- Empresa: M&C Saatchi F&Q -- Arquivo: 00427-002-Double-Informe Agro21x28cm_pag001.pdf
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