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ESTADO DO PIAUI PODER JUDICIARIO COMARCA DE TERESINA : JUIZO DE DIREITO DA 2° VARA DOS FEITOS DA FAZENDA PUBLICA Ago Civil Publica - Processo n° 239712010 SENTENCA Vistos ete. Trata-se de Ago Civil Publica, ajuizada pelo Ministério Publics do Estado do Piaui, em face do Estado do Piaui e do Municipio de Teresina, pessoas juri cas de direito publice intemo, objetivando a condenagao tos réus 4 obrigagao de fazer consistente na retirada de quaisquer simbolos religiosos de repartigbes pubiicas e de nao fazer, no sentido de vedar, pro- futuro, 4 anexacao de signos religiosos nas dependéncias fisicas dos referidos entes, ci Aduz que antes de ser medida judicial, 0 presente pleito representa @ condugao dos anséios da sociedade 4 anélise do Poder Judiciario, com a finalicade de apurar se orgaos publics estaduais © municipais situados na comarca de Teresina estilo respeitando o principio constitucionat do Estado laico. Alega que a Constituiggo Federal assegura ao individuo 0 direito de escolher sua religido ou nao escolher religiao alguma, e que tal direito nao sc manifesta em sua plenitude quando a administragao publica patrocina, ou quando nao tolera, que suas dimensdes sejam espago de propagagao de credos religinsos de inns particulares Ampara sua pretens&o no principio constitucional do Estacio laico @ que @ manutengdo de simbolos religiosos em prédios piblicos no pode ser resguadada sob qualquer argumento baseado na isonomia, posto que, nao apresentam univocidade de significados. Acrescenta ainda, que a existéncia do Estado laico decorre da separagio entre 0 dominio publico e © privado © elenca experiéncias estrangeitas ue atymagsa do Estado faico. Juntou 208 autos os documentos de fis. 19/72 fe © pedido liminar foi indeferido consoante decisao de fis. 74/76. Citado 0 municipio de Teresina apresentou Contestagao (fis 82/88) e alegou preliminarmente a caréncia da aco por nao tratar-se de hipdtese de ajuizamento da agae civil publica. Acrescentou aue respeita a Constituigée Federal no que conceme 20 dieito de liberdade e de crenga dos municiparios e administrados, e que as manifestagdes religiosas nao ocorrem por sua imposi¢éo mas de forma live pelos servidores adeptos de determinada religido. ‘Yambém em Contestagae 0 Estado do Piaul alegou que o Estado laico, antes de ser limitador da atividade religiosa, apresenta-se na verdade, como garantidor da liberdade religiosa, e que a laicidade, consoante a interpretagao que se extrai da Constituigao Federal, expressa-se na tolerancia e no respeito mituo entre adeptos de religibes diversas (fis. 101/108). Em réplica & Contestagao 0 Ministério Publico alegou que pleito versa sobre direito difuso, cabendo 0 ajuizamento da Agao Civil Publica, e que embora algumas das associagdes que dao corpo a representacao acostada aos autos, no se voltem para a defesa do objeto da demanda, tal nao subtrai @ fungdo do Ministério Poblico de trazer ao judiciario a analise de uma questo juridica. Quanto a0 merit, ratificou ‘5 fundamentos e 0 pedido (fis. 110/117) E orelatorio. DECIDO. Quanto preliminar de caréncia da aga0. arguida pelo Municipio de Teresina, por ndo ser hipstese de cabimento da agao civil publica, esclareco que esta tem como um de seus objetivos, servir como instrumento para a defesa dos direitos difusos, que s3o 0s que ultrapassam a esfera de um Unico individuo caracterizados principalmente por sua indivisibilidade, onde a salisfagdo do direito deve atingir @ uma coletividade indeterminada, apresentando-se plenamente cablvel o ajuizamento da presente agao civil publica para a defesa de direitos relacionados 4 liberdade retigiosa. Por esta razao, afasto a preliminar de caréncia da agao arguida pelo Municipio de Teresina. No que tange @ alegacdo de que as associagses que deram origem a representagSo acostada 20s autos (fs. 19/72), néio estdo diretamente relacionadas ao objeto da demanda, assiste razao ao Ministério Publico Estadual, uma vez que. tai nao subtrai sua funego na defesa dos valores piblicos. E 0 que estabetece at e 129 da Constituigao Federal: Art. 129. Sdo fungées institucionais do Ministério Publico: &) IL= promover 0 inquérito civil e a ago civil publica, para a protegao do patriménio publico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, Analisadas as preliminares, passo ao mérito da demande. Este versa sobre a possibilidade de serem condenados 0 Estado do Piaul e 0 Municipio de Teresina, a retirarem os simbolos religiosos de repartigbes publicas e de nao fazer, no sentido de vedar. pro- futuro, a anexagao de signos religiosos nas dependéncias fisicas dos referidos entes A liberdade religiosa faz parte do rol dos direitas fundamentais, sendo expressamente assegurada no Ambito constitucional, cabendo ao Estado iltando a proporcionar ao cidadao a garantia do livre exercicio de todas as religibes, possi compreensdo religiosa e evitando o fanatismo. A Constituigdo Federal de 1988 prescreve que o Brasil ¢ um Estado Laico e consagra a inviolabilidade de crenga religiosa, assegurando também a protecao a liberdade de cuito, Transcrevo algumas disposigdes constitucionais que tratam da liberdade retigiosa: ‘Art. 5° Todos s40 iguais perante a lei, sem disting3o de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pals a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, 2 igualdade, a seguranga e 4 propriedade, nos termos seguintes, ce Vi - inviolével a liberdade de consciéncia e de renga, sendo assegurado o livre exercicio dos cultos religiosos ¢ garantida, na forma da lei, a protegao aos locais de culto € as suas liturgias. Vil - € assegurada, nos termos da tei, a prestagdo de assisténcia religiosa nas entidades civis e militares de internagao coletiva Vill - ninguém sera privado de direitos por motivo de crenga religiosa ou de conviceao filosdfica ou politica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigagdo legal a todos imposta recusar-se a cumprir prestagao altemativa, fixada em lai Q Entendo que a laicidade conquistada pelos paises democraticos nao se traduz na eliminago dos simbolos religiosos, mas na tolerancia dos mesmos através da convivéncia harmonica entre os adeptos de religides diversas. @ A laictdade estabelecida pela Constituigao Federal veda aos entes piblicos © estabelecimento de cultos ou igrejas, subvenciond-las ou embaracar-ines 0 funcionamento, ou manter com elas ou seus representantes relacao de dependéncia ou bolo religiosos em ianga. No entanto, tals disposigbes ndo vedam a presenga de orgdos publics. ry) A manutengao de tais signos ndo torna a administracdo publica ; ee clerical, tampouco viola o principio do Estado laico, mas antes preserva valores culturais solidificados e, também, amparados pela Constituicéo Federal. E possével citar ainda, que segundo deciséo do Conselho Nacional de Justiga, quando do julgamento dos pedidos de providéncias, n? 1344, n? 1345, nf 1346 ¢ n° 1362 0 uso de simbolos religiosos em drgaos da Justiga nao fere o principio de laicidade do Estado, O entendimento ficou expresso no julgamento dos referidos Pedidos de providéncias que questionavam a presenga de crucifixes em dependéncias de 6rgaos do Judiciério. Portanto, nao vislumbro qualquer ofensa ao principio do Estado laico na manutengdo de imagens religiosas em prédios publicos, posto que, asseguram antes de tudo, a liberdade religiosa e a manitestagao da cultura nacional ANTE © EXPOSTO, com fundamento nas razdes acima explicitadas. 10 IMPROCEDENTE, com resolucao de mérito, nos termos do art. 269, | do Cédigo de Proceso Civil, 0 pedido formulado na exordial ‘Sem custas nos termos do art. 18 da Lei n® 7347/85. PRI. Teresa, O4 ite ager de 2011 jo Magall Bel. Reinaldo Arai haes Dantas Juiz de Direito de 2* Vara dos Feitos da Fazerida Publica

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