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O PAPEL DO TESTE NA AVALIACAO PSICOLOGICA Caroline Tozzi Reppold Léia Goncalves Gurgel A AVALIACAO PSICOLOGICA E 0 USO DE TESTES A avaliacio psicologica é um processo abrangente, que objetiva a obtengaa de dados detalhados sobre as sujeitos ou as situagées avaliadas. Possibilita descre- yer comportamentos a partir de procedimentos variados, sendo os testes psi coldgicos um deles (Pacanaro, Alves, Rabelo, Leme, & Ambiel, 2011; Pasquali, 2001a). O psicdlogo é o profissional habilitado para realizar a avaliacio psico- lagica e, para isso, deve ter objetivos claros que possam guié-lo até a conclusao. Para este capitulo, e para a compreensio dos conceitos especificos acerca dos testes psicolégicos, serao retomadas, a seguir, algumas definicdes basicas volta- das para a avaliagao psicologica (Cunha, 2000a). Inicialmente, ¢ importante referir que € primordial que a avaliacao psi- colégica seja objetiva, uma vez que € a base para a tomada de decisao nas prati cas profissionais do psicdlogo. Para que, de fato, seja titil, deve ser organizada de modo a integrar todas as técnicas e metodologias utilizadas. Nesse sentido, Pas- quali (2001a) comenta que a avaliacao é composta por quatro etapa: 1. aidentificacio do problema ou situacao a ser avaliada: pode ser realizada por meio de entrevistas, observacées, testes psicométricos ou ontras abordagens; 2. aintegracio dos dadas coletados: relacionada com a reuniao das informagoes obtidas a partir da aplicacao das técnicas do item anterior, além da classifica- cio dos sujeitos em relagdo aos escores e as normas dos testes; 148 a HUTZ, BANDEIRA & TRENTINI (ORGS.) 3, ainferéncia de hipdteses: inclui a interpretagio dos dados obtidos e, po: velmente, os diagnésticos ou conclusées obtidas a partir da avaliacao; 4. a intervencdo: contempla a formulagao de programas de intervencao e/ou orientagao a partir dos dados coletados e da inferéncia de hipoteses realizada, 0 uso conjunto de abordagens e técnicas diversas na avaliacao psicolégi ca, com 0 passar dos anos, passou a ser cada vez mais reconhecido como um recurso valido para a pratica do psicélogo. Esse uso deve ser baseado nos refe- renciais teéricos do profissional, sendo dependente da demanda de cada situa- So e dos contextos de aplicagao (Cunha, 2000a). Nesse sentido, ¢ importante frisar que nem todos os casos que chegai para uma avaliagao inicial necessi- tam, de fato, de uma avaliagio psicolégica e que ha casos em que uma avalia- cdo pode ser realizada com técnicas psicolégicas que prescindem do uso de tes- tes. No entanto, os testes podem ser titeis na medida em que oferecem, a partir da normatizacao, um parametro de comparacao do sujeito ou da situagao em relagdo a outros que apresentam caracteristicas semelhantes. Os testes permi- tem também a operacionalizacao e a verificacao de diversas teorias psicologicas (Primi, 2010) e a organizacao de intervengdes mais adequadas em cada caso. O uso de testes psicolégicos ocorre em todas as dreas de acio da psicologia, entre clas pesquisa (na verificacao de hipoteses propostas), a psicologia clinica, a neu- ropsicologia, a psicologia juridica, a psicologia do trabalho, a psicologia do tran- sito, a psicologia do esporte, bem como em todos os contextos clinicos € institu- Gionais que demandem uma avaliagao, como a educaco, a rea de recursos hu- manos, a satide e a justica (Noronha & Alchieri, 2002; Pasquali, 2001a). Todos os casos devem ter propésitos claros ¢ fundamentados, de modo a cumprir com os princfpios éticos de beneficéncia, e ndo maleficéncia, que as técnicas devem res- peitar. Ou seja, uma avaliagdo psicoldgica ndo deve ser realizada de forma indcua, sem que as dados coletados sirvam para nortear uma a¢ao futura, beneficiando, assim, a pessoa avaliada ou os demais envolvidos com ela, uma vez que essa ava~ liagdo pode oferecer um panorama mais claborado sobre as forcas, as virtudes, as caracteristicas e as necessidades dos sujeitos no momento da avaliagao. Nesse sentido, a avaliagao (de individuos ou de instituigdes) tem sido uti lizada em todos os campos de agao da psicologia como uma estratégia que, in- clusive, contribui para um dislogo interdisciplinar, pois fundamenta a priti- ca dos psicdlogos diante de casos de pericia judicial, escolha profissional, se- lego de pessoal, internagao hospitalar, avaliagao de projetos saciais, etc. As- sim. cla contribui, por exemplo, para responder perguntas como: “Quais as es tratégias psicoldgicas que um individuo dispée para lidar com uma situacao de luto?”, “Quais caracteristicas familiares dos adotantes aumentariam o bem-es- tar de determinada crianga que aguarda uma adogao?”, “Qual a evolugao do de- clinio cognitive observado em determinado caso de paciente com diagnostt esicomerata “149 co de Alzheimer?”, “Quais habilidades cognitivas e/ou emocionais deveriam ser mais estimuladas em determinados casos de atraso escolar?”, “Eventuais quadros de tristeza, desesperanca e solidao sao caracteristicas de traco ou estado do sujei- 10?”, “Determinado paciente psiquidtrico se caloca em situagdes de risco e apre- senta confusao mental por ter menos recursos cognitivos ou por estar passando, naquele momento, por um quadro maniaco?”, “O fato de uma crianga apresen- tar enurese noturna apés o nascimento de um irmao deve ser tratado como um problema psicolégico, ou trata-se de uma condi¢ao desenvolvimental esperada?”. Quando realizada em ambito clinico, a avaliagao psicoldgica ¢ denomina- da psicodiagnéstico e tem o abjetivo de identificar o funcionamento psicold- gico do sujeito, considerando as variabilidades normais dos individuos em re- lag3o aos critérios preestabelecidos, como a faixa etaria e 0 grau de escolarida- de. E “.. um processo cientifico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e tes tes psicoldgicos (input), em nivel individual ou nao, seja para entender proble- mas A luz de pressupostos tedricos, identificar ¢ avaliar aspectos especificos, seja para classificar o caso e prever seu curso possivel, comunicando os resulta- dos” (Cunha, 2000b, p. 26). Deve ser iniciada com a organizagao de um plano de avaliagao, ¢ é fundamental que o profissional tenha habilidade para reconhe- cer quais estratégias e testes serao uteis e eficazes para cada etapa da avaliacao. Além disso, é composta por alguns passos importantes, como o levantamento de perguntas e a definigao dos objetivos, o planejamento das estratégias de ava liagao a serem utilizadas ¢ a escolha dos testes, 0 levantamento dos dados (de origem qualitativa e/ou quantitativa), a reunido desses dados ¢ a apresentacdo dos resultados (Cunha, 2000b) A avaliacio psicolégica, portanto, excede a aplicacio de testes propria- mente ditos. Ela é composta, basicamente, por um tripé, que inclui os testes, as entrevistas e-as observagdes. Segundo Werlang, Villemor-Amaral e Nascimen- to (2010), os dois tiltimos so procedimentos avaliativos comumente utilizados, em contexto clinico e visam a obtencio de uma quantidade maior de informa- ¢o do avaliando, a fim de garantir que o diagnéstico seja adequado e que seja possivel organizar a intervengao. Outros métodos também podem ser incluidos nesse processo, como desenhos e pratica de contar de histérias, por exemplo, que no apresentam dados padronizados para corrego e que dependem unica- mente da interpretagao do psicdlogo. Uma avaliagao adequada, nesses moldes, depende da experiéncia e da consisténcia do referencial tedrico utilizado pelo psicdlogo, de modo a garantir a coeréncia das conclusdes. Werlang e colaboradores (2010), ainda, citando textos classicos, como o de Anzieu (1981), apontam que as técnicas de avaliacao psicoldgica podem ser categorizadas em trés tipos: expressivas, projetivas ¢ psicométricas. As técni- cas expressivas esto relacionadas com maior liberdade quanto As instrugdes € aos materiais e incluem formas de expressao variadas, como a pintura (Pinto, 150“ nur, BANDERA & TRENTIN' (ORGS) 2014). As medidas projetivas, embora possam apresentar bases quantitativas, séo mais aceitas quando baseadas em aspectos mais dinamicos do funciona- mento do sujeito. 0 termo é usado, sob a dtica do psicodiagnéstico, quando in- clui técnicas que sugerem a projegdo (Cunha & Nunes, 2010). As medidas psi- cométricas, por sua vez, so mais baseadas em recursos estatisticos e teorias de medida (Pasquali, 2001a) Diante da vasta insergao da avaliacdo psicoldgica, pode-se compreender, até aqui, que ela é um processo amplo que inclui técnicas variadas, sendo 0 tes- te (ou instrumento) psicolégico uma delas. Na proxima secao, serao abordados conceitos mais especificos sobre os testes e sua aplicagao. TESTES PSICOLOGICOS NO BRASIL O teste psicolégico ¢ uma ferramenta sistematica construida com o objetivo de facilitar as tomadas de decisdo profissionais do psicdlogo. Seu surgimento ocor- reu por volta do fim do século XIX € inicio do século XX, sendo concomitante a0 desenvolvimento da psicometria (Ambiel & Pacanaro, 2011; Pasquali, 2010). E conceituado, conforme a Lei n° 4.119/62, como um instrumento de mensu- racao de caracteristicas psicolégicas, considerado como método de uso privati- vo do psicdlogo (Brasil, 1962). E um procedimento sistematico, voltado para a observagio € o registro dos comportamentos e das caracteristicas psicolégices dos individuos, nas suas mais diversas formas de expresso, Pasquali (2007, p. 105) salienta que “.. entende-se por teste psicolégico um conjunto constituido de comportamentos que 0 sujeito deve exibir. Ele ¢ um teste se todos os com- portamentos envolvidos no conjunto se referem a mesma coisa’. De maneira complementar, Werlang e colaboradores (2010) apontam que 0 teste psicoldgi- co é um instrumento padronizado que tem como objetivo obter 0 maximo de informacdes referentes 20 examinando, reduzindo as incongruéncias entre os avaliadores e devendo apresentar fundamento teérico sdlido, evidéncias de va~ lidade e precisio. Conccitualmente, ainda, Pasquali (200 1a) refere que os testes psicolégicos sdo categorizados segundo a abordagem utilizada: + em relagao a objetividade e & padronizacao: podem ser divididos em testes psicométricos ou impressionistas. Os primeiros estao relacionados com a psi cometria e com as teorias de medida, fazendo uso de estratégias estatisticas. Os impressionistas relacionam-se com a descrigao Linguistica das habilidades e dos comportamentos, de forma que seja possivel caracterizar os sujeitos; + em relacao aos construtos mensurados: sio divididos em testes que avaliam capacidades (aptidées) ou preferéncias (personalidade, interesse, valores): esicomerria 151 + em relacéo a forma de resposta: pode ser verbal, motora ou informatizada, por exemplo Ante a diversidade de usos, estratégias e recursos estatisticos para ava- liagdo psicoldgica, a Area tem crescido substancialmente ao longo dos iiltimos anos, sobretudo em termos de produgao cientifica e atualizacao de ferramen- tas e andlises, Segundo Noronha e Reppold (2010), esse crescimento também € observado internacionalmente, pois a drea tem sido palco de relevantes discus- sdes que geraram documentos norteadores, como 0 ITC Guidelines on Test Use €01TC Guidelines on Adapting Tests, da International Test Commission. Aliado a.isso, em ambito nacional, considere-se também a implantagao do Sistema de Avaliag3o dos Testes Psicoldgicos (Satepsi), proposto pelo Conselho Federal de Psicologia (CEP), em 2003, e fomentado pelo Instituto Brasileiro de Avaliagio Psicolégica (IBAP) e pela Associacac Brasileira de Rorschach e Métodos Pro- jetivos (ASBRo). Tal sistema resultou na possibilidade de analise critcriosa dos instrumentos psicolégicos, que ser aprofundada no ultimo capitulo desta obra. Nos ultimos anos, a tematica da avaliago psicolégica esteve presen- te em uma série de documentos norteadores ¢ pesquisas que apontavam, ape- sar de enfoques diversos, preocupagées semelhantes voltadas para a qualidade das técnicas avaliativas, a formacio basica do psicélogo e a pratica profissional (Araiijo, 2007). Em relagao a formagao, pode ser considerada uma area basica dos cursos de psicologia, estando necessariamente ligada a outras, como a psi- cologia do desenvolvimento e da personalidade, que fornecem também subsi- dios para as interpretagdes e para a constru¢ao e o aprimoramento dos instru- mentos. Por esse motivo, e pela importancia destacada até aqui, acredita-se que a temitica da avaliagao psicolégica deva ser minuciosamente trabalhada nos curriculos dos cursos de psicologia (Nunes et al., 2012). Algumas dificuldades, no entanto, tém sido observadas na formagao ba- sica dos psicélogos. A fim de exemplificar essa afirmagéo, cita-se 0 estudo de Noronha e colaboradores (2002a) sobre o conhecimento de alunos de psicolo- gia acerca dos instrumentos psicolégicos. Os autores observaram que, apesar de a formagao objetivar 0 conhecimento mais abrangente possivel voltado para a avaliagao psicoldgica, ainda hd falta de preparo dos alunos nessa area. De to- dos os testes apresentados (167) nesse estudo, os alunos conheciam aproxima- damente 21%, niimero muito abaixo do esperado. Apesar de esse estudo ter sido realizado antes da instalaco do Satepsi e da visualizacao de seus “efeitos”, 0 quadro do ensino da avaliacao psicoldgica néo se modificou, nos anos seguintes, 0 quanto deveria e poderia. Esse fato serve de alerta para os profissionais da area e para os representantes dos érgaos regula- mentadores. Achados representativos dessa afirmagdo podem ser encontrados no estudo de Hazboun e Alchieri (2014), por exemplo, que, embora realizado 152. wurz, eanoeiea & went (oK6s,) 12 anos mais tarde, continua apontando problemas voltados para a formaco bésica em avaliagao psicoldgica. De forma geral, estes sdo atribuidos a possiveis deficiéncias no processo de ensino dessa area, além da auséncia e inadequac3o dos instrumentos disponiveis. A discuss4o proposta por Noronha, Castro, Ot tati, Barros e Santana (2013), que objetivou verificar os contetidos ministrados as metodologias de ensino utilizadas em avaliacdo psicoldgica nos cursos su- periores, também evidenciou pouco esforgo quanto ao incentivo a uma maior postura critica em relacao ao aprendizado na area. Ao longo da existencia do Satepsi, a area da avaliagao psicologica foi favo- recida, especialmente pela disponibilidade de testes, muito mais do que em dé- cadas passadas, trazendo importantes repercussOes para a psicologia e sua pra- tica (Reppold & Serafini, 2013). No entanto, € necessario que esse avango seja visto também na formagao basica do psicdlogo. Como um reflexo dessas difi- culdades e limitacées no ensino, a area da avaliagao psicolégica é a que mais apresenta problemas de infracio ética junto a0 CEP, conforme observado por Anache ¢ Reppold (2010). Isso porque a area da avaliacao tem grande impacto sobre os sujeitos e ¢ utilizada em contextas variadas, como no caso de concursos puiblicos e guarda de criancas, por exemplo. Resulta, ainda, na produgio de docu- mentos oficiais, como laudos e pareceres, que acabam servindo como instrumen- tos para a formalizacao das dentincias nos conselhos (Anache & Reppold, 2010). Soluges definitivas para as questées do ensino académico da avaliac3o psicolégica ainda nao foram encontradas, mas sabe-se que esto relacionadas com o desenvolvimento de um programa com questées basicas a serem ensina- das nessa drea, em cursos de graduacao. Aliados a isso, dois outros quesitos de- vem estar presentes nas grades curriculares: a interdisciplinaridade, de forma a integrar os conhecimentos, ¢ a habilidade de analisar criticamente os instru- mentos (Hazboun & Alchieri, 2014). Dessa forma, os estudantes estario sen- do mais bem preparados para o mercado de trabalho (Noronha et al., 2002a). Uma vez que os psicdlogos tém garantia de reserva de mercado na érea da ava- liacdo psicolégica, é importante que apresentem condigdes de atuar de manei- ra efetiva, dando conta da complexidade das demandas, com autonomia e se- guranea na escolha das técnicas utilizadas em cada situacao (Noronha & Rep- pold, 2010). Nesse contexto, o Instituto Brasileiro de Avaliac3o Psicolégica (IBAP) criou diretrizes para o ensino da avaliacao psicolégica, que vém ao encontro da discussao anterior,' O documento respeita todas as resolugoes do CFP ¢ do co- digo de ética da profiss&o, utilizando referéncias sdlidas e reconhecidas da 4rea ! Disponivel no enderego eletronico http://www.ibapnet.org.br/docs/ensino_de_ava- liacao_psicologica.pdf. esicomereia “153 de avaliagio psicoldgica. Contém uma proposta de contetido ideal para as dis- ciplinas que abordam a avaliaco psicolégica, sendo um material valido e rico para uso, pelos alunos e docentes, nas universidades brasilciras. Os docentes, por sua vez, sAo cruciais nesse contexto de formacio basi- ca do psicdlogo e também devem estar atentos para a atualizacao das discipli- nas ¢ contetidos da area da avaliagao psicolégica. Sua importancia é observada em pesquisas como a de Noronha, Barros, Nunes ¢ Santos (2014), em que foi avaliada a percepgao de 98 docentes quanto 4 relevancia das competéncias em avaliagao psicolégica, Os autores observaram que “principios éticos” e “comu- nicagéo dos resultados” foram os itens considerados como mais importantes na érea, ao passo que “nogdes de estatistica” e “conhecimento de grande quan- tidade de testes” foram considerados menos importantes. Hazboun ¢ Alchie- ri (2014) encontraram resultados semelhantes, considerando as principais di- ficuldades em avaliagao psicolégica na opinido de psicélogos brasileiros, Boa parte dos participantes considerou nao observer dificuldades em sua pritica em avaliagéo, demonstrando a falta de vivéncias relevantes, ou um conheci- mento muito basico. Ambos os estudos apontam para a necessidade de os pro- fissionais, docentes, pesquisadores ou clinicos, avaliarem sua propria conduta e seu prdprio conhecimento acerca do tema. Muitos dos problemas relatados das conclusées dos estudos esto voltados para as deficiéncias na formacao bé- sica dos psicdlogos, e, em consequéncia disso, observa-se o grande numero de questées éticas relevantes geradas. O que se constata claramente ¢ que quando a formacao académica, em sua base, é bem estruturada e abrangente, os profissionais saem da graduaco mais bem habilitados para a pratica e mais bem informados sobre as areas em que ha neces- sidade de maior especializacao ¢ de busca de conhecimento mais aprofundado. As- sim, também sao evitados problemas que vém sendo frequentemente observados na area da avaliagao psicoldgica, como uso dos instrumentos de maneira inade- quada, a desatualizacao dos instrumentos, a falta de base tedrica sdlida e a falta de teflexao critica sobre os resultados. O caminho para tentar resolver essas questdes inclui o aprimoramento na formaco dos profissionais, especialmente dos curricu- los basicos das graduacdes em psicologia, maior capacitacao dos professores da drea © a constru¢ao de instrumentos tecnicamente adequados que considerem profun- damente as questées éticas (Noronha et al., 2002b, 2014). Para além da formacao bdsica, a atualizacdo frequente também é impor- tante para aqueles que jd estdo graduados, uma vez que os cursos de psicolo- gia nao sio suficientes para que o aluno adquira todes as informagdes neces- sdrias para sua pratica, especialmente na drea da avaliacao. Especializagdes cursos de aprimoramento sao adequados nesse sentido, uma vez que possibi- litam ao profissional aprofundamento no conhecimento e na pratica. O profis- sional deve estar habituado a utilizar a producio cientifica realizada ao longo 154. Hur, BANDEIRA & TRENTINE (ORGS.) dos anos, disponivel em periddicos e bases de dados, objetivando a atualizacao continua, Aliado a isso, sua participagao em cursos de especializagao exclusi- yamente voltados para a area da avaliacdo psicolégica deve ser incentivada pe los drgios regulamentadores estaduais e nacionais (Noronha & Reppold, 2010) Segundo Primi (2010), é possivel que ainda haja certa resistencia para a con- solidagao da especialidade em avaliagio psicolégica, que pode ser gerada por concepgoes mais qualitativas e menos sistematizadas da drea. No entanto, é im- portante salientar a necessidade atual dos profissionais de aprofundamento das técnicas de avaliagio, tornando cursos desse tipo essenciais para a pratica pro- fissional e em pesquisa. Nesse contexto, ressalte-se que 0 CFP ainda nao reco- nhece a drea da avaliacdo psicolégica como uma especialidade da psicologia, embora tenha uma comissao de especialistas no Satepsi. Pesquisadores da area © sociedades cientificas, como o IBAP, no entanto, trabalham para tal reconhe- cimento. Destacam que a demanda existe, haja vista, por exemplo, o nuimero de participantes em congressos ¢ a existéncia de curso de pés-graduacio lato sen- sw na area, avaliado pela Coordenagao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) como um programa internacionalizado de alto nivel, bem como de programas de pds-graduacio stricto sensu que tém a avaliacao psicol6- gica como drea de concentra¢ao ou como linha de pesquisa, Coniudo, sendo ou nao uma especialidade, a atiagio profissional adequada nao € obtida somente na graduagio — requer atualizagao continuada, profundo conhecimento ¢ ana- lise critica das diversas técnicas disponiveis. Na proxima secao, serio abordadas questoes técnicas voltadas principalmente a escolha de instrumentos da rea. OS CUIDADOS NA ESCOLHA DO TESTE E SEU PROCESSO DE APLICACAO E constatada a importancia do uso de instrumentos psicolégicos, de seu desen yolvimento baseado em técnicas psicométricas adequadas e principios éticos, do sen adequado ensino ao longo da graduagao e da busca por especializacao € aprofandamento por parte dos profissionais j4 formados, Para tanto, salienta-se que, apesar de a énfase na construgao dos testes psicometricamente adequados ser evidenciada, ainda esto disponiveis no mercado uma série de instrumentos que cumprem apenas 0s requisitos minimos necessarios, falhando no forneci- mento de informacdes mais rebuscadas acerca dos instrumentos propriamente ditos e dos construtos avaliados. Nesse sentido, o psicélogo deve estar apto a analisar criticamente esses jnstrumentos, seus manuais ¢ materiais, a fim de julgar sua aplicabilidade na pratica clinica, Para tanto, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001) publi- cou a Resolucio n° 25/2001, que regulamenta a elaboragao, a comercializagao PSICOMETRIA, - 155 e€ 0 uso dos testes psicoldgicos. Essa resolugao aponta alguns critérios minimos obrigatérios para que os instrumentos psicolégicos sejam, de fato, considerados apropriados para uso no Brasil. $io eles: + fornecer uma fundamentagao tedrica adequada ¢ ampla, com definicao cla- ra do construto, objetivos e contextos de uso; + descrever método de busca de evidéncias de validade e precisao, resultados e interpretacoes sugeridas; + descrever dados psicométricos detalhados dos itens; + fornecer informagées claras sobre a corregao ¢ a interpretacao dos escores do teste; + descrever claramente as etapas de aplicagao e corre¢ao, além das demais con- digdes, como especificidades do ambiente e materiais a serem utilizados a0 longo da aplicacao. A resolugao da énfase especial necessidade de produgéo de manuais completos. Conforme as orientacoes do documento, 0 manual seré adequado se contiver como informagées basicas: + detalhamento dos aspectos técnico-cientificos voltados para a fundamenta- Gio tedrica do teste e construtos abordados, além de dados empiricos: + descrigéo de aspectos praticos voltades para a aplicagao do instrumento, a corregao dos dados coletados e a interpretacao dos escores e resultados; + referéncias da literatura relacionada, de modo que o usuario do teste possa acessar o material utilizado como base para construgao do instrumento e uti- liza-lo também na busca de maior compreensio sobre o construto avaliado; + informacées sobre o responsavel técnico pela produgao do instrumento; + informacdes sobre a autorizagio e aprovacio do CEP; + destaque para as informagées sobre 0 uso restrito aos psicdlogos; + informacdes sobre a comercializagao, que também deve ser restrita a esses profissionais, apresentando essa informagao em destaque no manual. A resolugao em questao é baseada em documentos internacionais, que merecem atengao especial em sua integra, como: + Standards for Educational and Psychological Testing, de autoria da Ameri can Educational Research Association (AERA), da American Psychologi- cal Association (APA) e do National Council on Measurement in Education (NCME) (1999); + Guidelines for Educational and Psychological Testing, de autoria da Canadian Psychological Association (CPA) (1996); 156 wun, BANDEIRA & TRENTINI (ORGS.) + ITC Guidelines on Test Use e ITC Guidelines on Adapting Tests, de autoria da International Test Commission (ITC) (2005, 2013). Estes, por serem mais atuais, serdo detalhados a seguir, Segundo Noronha, Freitas e Ottati (2002), o objetivo dessas diretrizes € organizar critérios que auxiliem 03 profissionais no uso € na anilise dos ime trumentos de avaliacao psicolégica. Materiais como esses nao sao encontrades facilmente, e, por isso, devem receber devido valor ¢ atengao. O ITC Guidelemes on Test Use foi disponibilizado em 2013 e aponta, como objetivo de sua criacSe que 0 psicdlogo tem o dever de usar adequadamente, e de forma ética, os instr mentos disponiveis para sua pratica profissional. Para que isso ocorra, 0 prom sional deve atender as necessidades do avaliando, além de utilizar instramentes que sejam adequados no cumprimento do propésito ao qual a avaliagao se pe pée. Segundo as diretrizes apresentadas nesse documento, deve-se avaliar ope tencial de cada instrumento, sendo essencial: + analisar adequadamente as necessidades do avaliando, os encaminhamentas € as condigées gerais em que o instrumento ser utilizado, a fim de garam que a aplicacdo seja util. Ou, em caso de pesquisa, fundamentar a justice va garantindo que, de fato, sua utilizacdo é vidvel e relevante; * analisar as vantagens e desvantagens do uso do instrumento, compares com outros tipos de métodos avaliativos, e a viabilidade de sua aplicacse. No momento da escolha efetiva do instrumento, as diretrizes em apontam a necessidade de considerar: + seo instrumento apresenta informagées atualizadas, detalhadas ¢ relew + sua adequacao técnica, como evidéncias de validade, de precisdo, ¢ a repr sentatividade do construto (temas aprofundados nos Caps. 3, 4, 5 e 6); + apresenca de estudos psicométricos metodologicamente adequados; + aaceitabilidade do instrumento em relacao ao avaliando; + apraticidade da aplicacao; + os recursos a serem gastos, incluindo os humanos, financeiros e de tempo; + as influéncias dos interesses comerciais em torno do uso dos instrumentos. sua venda e editoracio, evitando-as; + 08 grupos especificos para os quais os instrumentos séo construidos, espe- cialmente em termos de género, grupo etario, cultural e étnico; + seas metodologias de adaptagio foram seguidas de maneira adequada quan- do os instrumentos forem adaptados; esicomereia “157 + se.0s procedimentos de padronizacdo para as pontuagées e as normas de corregaa sao adequados e se 0 manual possibilita interpretagao completa dos resultados; + seo instrumento apresenta normas com grupos adequados para comparagées; + as limitages técnicas de cada instrumento e de seu ambiente de aplicacao. Deve-se lembrar que a interpretacao dos resultados obtidos a partir da aplicagio do teste psicolégico deve ser feita com base, também, nas demais informagées sobre o avaliando, como a idade, a escolaridade, o sexo, seu am- biente social e cultural, além de condigdes de saude geral. Além disso, deve- -se cuidar o excesso de generalizacées a partir do resultado de um instrumen- to. Como sugestao aos profissionais, 0 documento recomenda que se atente As atualizagées das evidéncias de validade dos testes que est&o sendo utilizados. O segundo documento norteador da International Test Commission ¢ 0 ITC Guidelines for Translating and Adaptating Tests (ITC, 2005), que trata es- pecificamente da adaptagao de instrumentos. Segundo ele, deve-se analisar em um teste traduzido e adaptado: + seos editores consideraram as diferengas culturais ¢ linguist Ges do instrumento original e do adaptado; + sea linguagem c as técnicas utilizadas no teste esto, de fato, adequadas ao uso proposta; + seo material e os recursos do teste sio familiares 4s populagdes as quais s destinams + a qualidade psicométrica e a adequagao dos estudos de busca de evidéncias de validade e precisao da versao adaptada; + a equivaléncia entre as versées do instrumento; + seo manual do instrumento especifica todas as informacdes da versao adap- tada, deixando claros e detalhados os dados necessarios, conforme des to anteriormente. as das popula ri- Em resumo, salienta-se, conforme evidenciado por Chiodi e Weschler (2008), que os instrumentos psicolégicos devem apresentar manuais claros € que, de fato, auxiliem os profissionais na compreensio dos construtos aborda- dos ¢ na avaliacao proposta. Os manuais devem apresentar instruges ¢ ma- teriais de avaliagéo recomendados, critérios de corregao e interpretagao dos resultados e normas padronizadas para compara¢ao entre grupos de sujeitos, quando possivel. E preciso garantir que esses materiais sejam baseados em estu- dos consistentes voltados para a busca de evidéncias de validade, precisio, nor- matizacdo e padronizacao dos escores. 158 / nur, sanoetea « 7Revrint (oRes,) Essas questées apresentam-se como pontos-chave da pratica fundamenta- da na psicometria. No entanto, segundo Tavares (2003), @ validade clinica tam- bém deve ser considerada, apontando para maior qualidade das informagoes ¢ também para 0 contexto em que ocorre o proceso de avaliagdo, sendo esta de- pendente das amostras utilizadas. Ainda segundo o autor, nessa discussao, in- clui-se a abordagem nomotética ¢ a idiografica. Na primeira, os procedimentos avaliativos sao yoltados para amostras representativas, podendo ser generali- zados a populacées, ¢ nao a individuos. A abordagem idiogréfica, por sua vez, considera ndo apenas a comparagao do individuo com a norma estabelecida, mas também com sua propria performance em diferentes momentos do tempo. Nesse sentido, os procedimentos considerados qualitativos também tém a pos- sibilidade de apresentar validade, que depende da possibilidade de a técnica ge- rar resultados semelhantes, independentemente de seu aplicador. Seguindo essa linha de pensamento, Werlang © colaboradores (20010) apontam que o processo de avaliacao psicoldgica inclui o uso de estratégias va- riadas, unindo as informagées geradas, qualitatives e quantitativas, fundamen- tando as conclusdes obtidas. Além da teuniao de técnicas variadas, também ha a possibilidade de construcio de baterias de instrumentos, que se configuram como um conjunto de testes a serem utilizados. Essas baterias podem ser estru- turadas ou nao. As primeiras so mais indicadas quando se tem um objetivo ex- plicito e sio construfdas com base em informacées empiricas. E preciso con- siderar, contudo, que a escolha desses instrumentos ¢ a organizagio da bateria devem ser feitas com bom senso, uma vez que uma quantidade muito grande de instrumentos, muitas vezes, nao é justificavel. A escclha de instrumentos deve ser feita com base nas qualidades psicométricas de cada um, evitando-se sobre- posicdes. O profissional experiente, com bases tedricas sélidas, tem habilida- de para selecionar as técnicas e os instrumentos a serem utilizados, exploran- do 0 maximo das informagées obtidas por meio deles. Para tanto, é importante esclarecer no manual do instrumento para qual contexto determinado instru- mento se aplica, as normas ¢ as condi¢des espectficas de aplicacao, além de suas caracteristicas psicométricas (Anache & Reppold, 2010). Estas tiltimas sao observadas, principalmente, por meio de evidéncias de yalidade dos testes, que devem ser pontuais e dependentes do contexto para 0 qual foram criadas. Os estudos de validade e normatizacao apresentados devem deixar claras as finalidades especificas de cada instrumento. O profissional, por sua vez, deve ter 0 costume de revisar as pesquisas da area, a fim de conhecer os contextos possiveis de aplicago dos instrumentos e as evidéncias de validade ja existentes. Segundo a AERA, a APA e o NCME (1999), no manual intitulado Standards for Educational and Psychological Testing, as seguintes evidéncias de validade devem ser encontradas nos instrumentos: PSICOMETRIA J 159 : incluem dados sobre o contetido co instrumento, obtidos: pot meio de investigagao do conjunto de itens ¢ andlises de outros especialistas; + baseadas em varidveis externas: incluem as correlac6es entre o instrumen. to e demais varidveis externas e outras variaveis de interesse, como o suces- so académico, por exemplo; + baseadas na estrutura interna: abordam as correlagées entre os itens; nesse caso, usam-se, principalmente, andlises fatoriais para as conclusées, incluin- do também evidencias de precisdo dos instrumentos; + baseadas no processo de respostas: relacionadas com os processos mentais envolyidos na realizacdo de cada tarefa e item, observando-se se sio adequa- dos ao construto relacionado, s metoda- Os testes precisam apresentar resultados confiaveis e evidér logicamente adequadas de sua qualidade. Em sua maioria, os instrumentos psi colégicos sao psicométricos e, portanto, baseados nas teorias de medida. Para isso, existem duas teorias psicométricas; a primeira e mais difundida é a Teoria Classica dos Testes (TCT), que engloba as evidéncias de validade citadas ante- riormente. A segunda, que vern ganhando forga com 0 passar dos anos, a Teo- ria de Resposta ao Item (TRI), que surgiu para resolver algumas limitacdes da TCT e que apresenta vantagens como 0 calculo da aptidao do sujeito ser inde- pendente da amostra. Vale ressaltar que ela nao veio para se sobrepor, mas para somar-se 4 TCT (Pasquali, 2001b; Pasquali & Primi, 2003). Por fim, de maneira abrangente, Pasquali (200 1a) aponta que, para a apli- cagao de instrumentos, é preciso treino e conhecimento por parte do aplicador. Os instrumentos requerem, de forma geral, padronizacio na aplicagao, ¢ esta esté geralmente voltada para a aplicagio propriamente dita, o controle de vieses (especialmente os de aplicacao) ¢ as normas de correcao dos resultados. A ad- ministracdo dos testes é dependente da qualidade no ambiente fisico (que in- clui higiene, siléncio e reducao de interrup¢des) e psicoldgico (que inclui, por exemplo, redugao da ansiedade para a realizacdo das tarefas propostas). 0 TESTE ALIADO A OUTRAS TECNICAS DE AVALIACAO PSICOLOGICA E AS TENDENCIAS NA AREA Foi apontado que o teste psicolégico precisa apresentar uma fundamentacio tedrica bem estruturada, relacionada ao construto em questao, e empirica (Ta- vares, 2010). Contudo, a avaliagao psicolégica no se resume apenas & aplica- 40 de instrumentos; ela envolve técnicas variadas que serao utilizadas confor- me a demanda de cada situagao ¢ do referencial tedrico do psicélogo (Araiijo, 160 / Hurz, sanoeren & TRENTINI (ORGS) 2007). Segundo Primi (2010), as préticas com maior compromisso e adequacao sio aquelas compostas por diversos recursos avaliativos, consideradas multi- métodos, favorecendo a visao mais completa possivel do avaliando ¢ represen tando uma tendéncia na érea da avaliacao psicolégica. Nesse conceito, pode ser incluido 0 tripé, mencionado no inicio deste capitulo, composto pelos testes, pela observacao clinica e pelas entrevistas (Tavares, 2003). Porém, outros re- cursos podem ser utilizados, como as dinamicas de grupo (Chiodi & Wesch- ler, 2008) e os questionrios (Capitao, Scortegagna, & Baptista, 2005). Median- te a variada gama de recursos, é facil compreender que a avaliagio psicoldgica nao pode ser restrita apenas ao uso de testes. E importante que sejam utilizados outros métodos que complementem a aplicagao do teste, contribuindo para o desenvolvimento mais amplo da psicologia como ciéncia ¢ profissdo (Chiodi & ‘Weschler, 2008). Para tanto, a escolha correta de técnicas que possibilitem a compreensao de suas vantagens e de suas limitacdes, além do bom senso e critica dos profis- sionais, € que vai garantir que o processo de obtengao do diagndstico seja basea- do em principios éticos. E evidente, portanto, a necessidade de se considerar uma abordagem mais contextualizadora dos dados obtidos a partir da avalia- ¢40 psicolégica, considerada a validade clinica do procedimento, que possibi- lita a integracao entre informagdes oriundas de fontes diversas para conclusao ¢ complementagao dos procedimentos de avaliacdo ¢ diagnésticos em psicolo gia (Tavares, 2003). Diante dessa necessidade de complementacdo, outras tendéncias na area podem ser observadas com os avancos metodoldgicos e tecnolégicos. Estes po- dem ser vistos no desenvolvimento da TRI ¢ de testagens informatizadas, per- mitindo a criagao de bancos de itens, por exemplo (Primi, 2010). Silva (2011) aponta que existe uma tendéncia crescente voltada para 0 uso de ferramentas informatizadas na drea de avaliacio psicolégica, nos contextos nacional e inter- nacional, sendo necessario o aumento de estudos que apontem evidéncias de validade desses instrumentos, para que possam ser utilizados na pratica profis- sional e em pesquisa. CONSIDERACOES FINAIS Quando se fala em testes psicologicos, a questao central deve estar voltada para a organiza¢ao dos contextos e objetivos dos procedimentos, técnicas ou estraté- gias utilizadas na area, possibilitando que a avaliagdo psicoldgica, como ciéncia, seja capaz de incluir os diversos modos de agit do psicdlogo. Para isso, é preciso que os profissionais estejam aptes a analisar os instrumentos, fazendo boas es- PSICOMETRIA JS 161 colhas em sua pratica profissional ¢ em pesquisa. Essas habilidades, idealmente, devem ser adquiridas, mesmo que basicamente, ne etapa académica da gradua G40. Os cursos de psicologia devem primar pelo ensino dessa area, uma vez que é base para o fazer do psicélogo. O aprofundamento tedrico, por sua vez, pode ser obtido nos cursos de especializacao da area, tornando o profissional ainda mais apto para a atuagao em avaliagao psicoldgica. Investimentos, nesse senti- do, ainda sao necessirios, sobretudo na formagio basica, de modo que o aluno de psicologia seja preparado para corresponder adequadamente a essa deman- da (Noronha & Reppold, 2010). ‘A desqualificacao dos profissionais ¢ as dificuldades ¢ falhas encontradas a0 longo do proceso de formagao basica do psicdlogo trazem implicagdes éti cas e sociais importantes. A maior parte das infragdes éticas esta relacionada com a pratica da avaliagio psicolégica, como a emissao de resultados equivoca- dos ¢ a utilizagao de instrumentos inadequados, A atuacao profissional do psi- célogo deve considerar os contextos em que as avaliacées sio realizadas, a vali- dade clinica das avaliagdes e as evidéncias de validade dos instrumentos esco- Ihidos para compor o proceso avaliativo (Reppold & Serafini, 2013). Por fim, este capitulo pretendeu auxiliar os profissionais ¢ os estudan- tes de psicologia no fornecimento de informacées essenciais sobre os quesi tos necessarios aos instrumentos psicoldgicos e a sua andlise, além de na com- preensio geral acerca da avaliacdo psicoldgica como um processo composto por variadas técnicas e estratégias que incluem a utilizacao dos testes. Para tan- to, é imprescindivel que se tenha confianga e seguranga nos instrumentos dis- poniveis ¢ aptos para uso, uma vez que igo nortear e auxiliar 0 diagnéstico e a pratica profissional (Noronha & Reppold, 2010; Reppold, Gurgel, & Hutz, 2014). Portanto, os testes devem ser considerados instrumentos importantes para a avaliagao psicologica, apesar de ela nao se resumir a sua aplicacao. In- dependentemente da abordagem utilizada, a avaliagao deve, obrigatoriamente, primar pelos principios éticos que regem a profissio e ser fundamentada em ba. ses tedricas sélidas. FEST OES 1. Qual 0 conceito de teste psicoldgico e como este se insere na avaliacéo psicolégica? 2. Eposstvel a realizacdo de uma avaliacao psicolégica sem 0 uso de testes psicolégicos? Quais as vantagens do uso de testes? Quais 05 demais recursos de que o psicélogo pode dispor? 3. Quais as etapas da avaliacao psicolégica? 162 wf HUTZ, BANDEIRA & TRENTINI (ORGS.) A. Quais os cuidados que um psicdlogo deve ter ao pensar em uma bateria de instrumentos psicoldgicos a ser administrada em cada caso avaliado? 5. Qual a contribuicdo da Resolucao n° 25/2001, do CFP, para a area da dvaliaggo? Como devem ser os manuais dos instrumentos psicologicos? Quais so as principais contribuicbes das diretrizes internacionais fomecidas pela Intemational Test Commission (ITC) e seus documentos norteadores? B, Quais 2s circunstancias a serem abservadas no momento de escolha de um teste a ser utilizado em uma avaliagao psicolégica? 9. Quais evidéncias de validede devem ser observadas em um teste psicolégico? 10.0 que é validade clinica? 11.Por que a maioria dos casos de infracdes éticas cometidos por psicdlogos envolve a avaliacao psicolégica? 12. £m sua opiniao, como deveria ser organizado, em termos curriculares & didaticos, 0 ensino da avaliacao psicoldgica, especialmente no que diz respeito a discussao sobre 0 papel dos testes psicoldgicos em ume avaliagao? REFERENCIAS Ambiel, R. A. M., & Pacanaro, 8. V, (2011). Da testagem & avaliago psicolégica: Aspec- tos historicos ¢ perspectivas futuras, In R. A. M. Ambiel, I. S. Rabelo, S. ¥. Pacanaro, G. A. S. Alves, & I, F. A. de Sé Leme (Orgs.), Avalingao psicoldgica: Guia de consulta para estudanies e profissionais de psicologia (2. ed., pp. 11-28). Sao Paulo: Casa do Psicdlogo. ‘American Educational Research Association (AERA), American Psychological Associa tion (APA), & National Council on Measurement in Education (NCME) (1999). Standards for educational and psychological resting. Washington: AERA, APA, NCME. Anache, A. A., & Reppold, C. T. (2010). Avaliacio psicolégica: Implicagées éticas. In A.A. ‘A. dos Santos, A. A. Anache, A. E, de Villemor-Amaral, B.S. G. Werlang, C. T. Reppold, C.HLS.S, Nunes, ... R. Primi (Orgs.), Avaliagao psicoldgica: Diretrizes na regulamentagtio da profissdo, Brasilia: CFP. Anzieu, D. (1981). Os métodos projetivos. Rio de Janeiro: Campus Aratijo, M. F. (2007). Estratégias de diagndstico e avaliacao psicolégica. Psicologia: Teoria e Pritica, 9(2), 126-141 Brasil (1962). Lei 4.119, de 27 de agosto cle 1962. Dispée sobre os cursos de formagéo em psicologia e regulamenta a profissao de psicdlogo. Brasilia: Presidéncia da Repiblica. Canadian Psychological Association (CPA) (1996). Guidelines for educational and psycho- logical testing. Ontario: CPA.

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