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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Solos
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Marco Referencial em
Serviços Ecossistêmicos

Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz


Rachel Bardy Prado
Lucília Maria Parron
Mônica Matoso Campanha

Editores Técnicos

Embrapa
Brasília, DF
2019
Exemplares desta publicação podem ser Supervisão editorial
adquiridos na: Jacqueline Silva Rezende Mattos
Embrapa Solos Revisão de texto
Rua Jardim Botânico, 1024 Marcos Antônio Nakayama
CEP 22460-000 Rio de Janeiro, RJ Normalização bibliográfica
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www.embrapa.br/fale-conosco/sac/ Eduardo Guedes de Godoy
Fotos da capa
Unidade responsável pelo conteúdo e pela Joice Nunes Ferreira
edição Mônica Matoso Campanha
Embrapa Solos Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Comitê Local de Publicações Rachel Bardy Prado
da Embrapa Solos Paulo Luiz Lanzetta Aguiar

Presidente Editoração eletrônica


Vinicius de Melo Benites Alexandre Abrantes Cotta de Mello

Secretária-Executiva 1ª edição
Jacqueline Silva Rezende Mattos 1ª impressão (2019): 1.000 exemplares

Membros
Adriana Vieira de Camargo de Moraes
Bernadete da Conceição Carvalho Gomes Pedreira
Enyomara Lourenço Silva
Evaldo de Paiva Lima
Joyce Maria Guimarães Monteiro
Luciana Sampaio de Araujo
Maria Regina Capdeville Laforet
Maurício Rizzato Coelho
Ricardo de Oliveira Dart
Wenceslau Geraldes Teixeira

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Solos
Marco referencial em serviços ecossistêmicos / Rodrigo Peçanha Demonte
Ferraz … [et al.], editores técnicos. – Brasília, DF : Embrapa, 2019.
160 p. : il. color.

ISBN 978-85-7035-909-4

1. Serviços ambientais. 2. Desenvolvimento sustentável. 3.


Agricultura. I. Ferraz, Rodrigo Peçanha Demonte. II. Prado, Rachel
Bardy. III. Parron, Lucília Maria. IV. Campanha, Mônica Matoso. V.
Embrapa Solos.
CDD 577
Luciana Sampaio de Araujo (CRB 7/5165) © Embrapa, 2019
Autores

Adriana Reatto dos Santos Braga


Engenheira-agrônoma, doutora em Ciência da Terra, pesquisadora da Secretaria de
Pesquisa e Desenvolvimento, Brasília, DF
Aluisio Granato de Andrade
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências do Solo, pesquisador da Embrapa Solos,
Rio de Janeiro, RJ
Ana Paula Dias Turetta
Engenheira-agrônoma, doutora em Ciências do Solo, pesquisadora da Embrapa
Solos, Rio de Janeiro, RJ
Bernadete da Conceição Carvalho Gomes Pedreira
Engenheira-agrônoma, doutora em Engenharia Agrícola, pesquisadora da Embrapa
Solos, Rio de Janeiro, RJ
Carlos Roberto Martins
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa Clima
Temperado, Pelotas, RS
Débora Pignatari Drucker
Engenheira Florestal, doutora em Ambiente e Sociedade, pesquisadora da Embrapa
Informática Agropecuária, Campinas, SP
Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
Engenheira-agrônoma, doutora em Engenharia Agrícola, pesquisadora da Embrapa
Solos, Rio de Janeiro, RJ.
Elenice Fritzsons
Engenheira-agrônoma, doutora em Engenharia Florestal, pesquisadora da Embrapa
Florestas, Colombo, PR
Enio Egon Sosinski Junior
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ecologia, pesquisador da Embrapa Clima
Temperado, Pelotas, RS
Gustavo Bayma Siqueira da Silva
Geógrafo, mestre em Sensoriamento Remoto, analista da Embrapa Meio Ambiente,
Jaguariúna, SP
Ivan Bergier Tavares de Lima
Biólogo, doutor em Ciências, pesquisador da Embrapa Pantanal, Corumbá, MS
Joice Nunes Ferreira
Bióloga, doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA
Joyce Maria Guimarães Monteiro
Engenheira-agrônoma, doutora em Planejamento Energético, pesquisadora da
Embrapa Solos, Rio de Janeiro, RJ
Leandro Bochi da Silva Volk
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências do Solo, pesquisador da Embrapa
Pecuária Sul, Bagé, RS
Lilian Terezinha Winckler
Engenheira-agrônoma, doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Clima
Temperado, Pelotas, RS
Luciano Mansor de Mattos
Engenheiro-agrônomo, doutor em Desenvolvimento Econômico, pesquisador da
Embrapa Cerrados, Planaltina, DF
Lucília Maria Parron
Biológa, doutora em Ecologia de Ecossistemas, pesquisadora da Embrapa Florestas,
Colombo, PR
Luiz Fernando Duarte de Morais
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agrobiologia, Seropédica, RJ
Margareth Gonçalves Simões
Engenheira civil, doutora em Geografia, pesquisadora da Embrapa Solos, Rio de
Janeiro, RJ
Mônica Matoso Campanha
Engenheira-agrônoma, doutora em Fitotecnia, pesquisadora da Embrapa Milho e
Sorgo, Sete Lagoas, MG
Rachel Bardy Prado
Bióloga, doutora em Ciência da Engenharia Ambiental, pesquisadora da Embrapa
Solos, Rio de Janeiro, RJ
Rafael Gonçalves Tonucci
Zootecnista, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos,
Sobral, CE
Ricardo Trippia dos Guimarães Peixoto
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências do Solo, pesquisador da Embrapa Solos,
Rio de Janeiro, RJ
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências do Meio Ambiente, pesquisador da
Embrapa Solos, Rio de Janeiro, RJ
Sandra Aparecida Santos
Zootecnista, doutora em Zootecnia, pesquisadora da Embrapa Pantanal, Corumbá, MS
Sérgio Ahrens
Engenheiro florestal, advogado, doutor em Engenharia Florestal, pesquisador da
Embrapa Florestas, Colombo, PR
Sumário
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual ......................... 19
Introdução ................................................................................................................ 20
O que são os serviços ecossistêmicos ou ambientais? .......................................... 20
O que são as funções ecossistêmicas? ................................................................... 23
Quais são as relações entre as funções e os serviços ecossistêmicos? ............... 24
Quais são os tipos de serviços ecossistêmicos? .................................................... 26
Desserviços ecossistêmicos, conflitos (trade-offs) e sinergia entre os serviços
ecossistêmicos ......................................................................................................... 30
Multifuncionalidade e pacotes de serviços ecossistêmicos (Bundles) ................. 32
Considerações finais ................................................................................................ 32
Referências ............................................................................................................... 33

Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução ............................................ 37


Introdução ................................................................................................................ 38
Como surgiram os serviços ecossistêmicos? .......................................................... 38
Gerando valor para os serviços ecossistêmicos ..................................................... 42
Evolução das iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil ......... 44
Serviços ecossistêmicos para a sustentabilidade da agricultura, na pesquisa
da Embrapa ..................................................................................................... 46
Considerações finais ................................................................................................ 48
Referências ............................................................................................................... 49

Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil ...... 57


Introdução ................................................................................................................ 58
Como ocorre a abordagem dos serviços ecossistêmicos nos instrumentos legais
e políticos brasileiros? ............................................................................................. 59
Quais são os principais instrumentos legais e políticos relacionados aos serviços
ecossistêmicos no Brasil? ........................................................................................ 62
Considerações finais ................................................................................................ 81
Referências ............................................................................................................... 82
Serviços Ecossistêmicos: relações com a agricultura ................................ 89
Introdução ................................................................................................................ 90
A agricultura e os impactos nos serviços ecossistêmicos ...................................... 91
Serviços ecossistêmicos da agricultura: além da provisão de alimentos ............. 93
Serviços ecossistêmicos da agricultura: do local ao global ................................... 97
Agricultura: beneficiária e dependente dos serviços ecossistêmicos .................. 98
Serviços ecossistêmicos e a multifuncionalidade da paisagem rural ................... 99
Considerações finais .............................................................................................. 101
Referências ............................................................................................................. 102

Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação ...... 109


Introdução .............................................................................................................. 110
Qual é a importância da pesquisa, desenvolvimento e inovação em serviços
ecossistêmicos para o Brasil? ............................................................................... 110
Como se faz pesquisa, desenvolvimento e inovação em serviços ecossistêmicos? .... 111
Quais são as linhas temáticas da PD&I em serviços ecossistêmicos na Embrapa? ...... 112
Quais são as estratégias da Embrapa na programação de PD&I em serviços
ecossistêmicos? .................................................................................................... 114
O que pode ser oferecido à sociedade como solução com base nas pesquisas:
transferência do conhecimento e tecnologias em serviços ecossistêmicos? ..... 116
A PD&I na Embrapa em serviços ecossistêmicos e a adoção da Agenda 2030 e
dos Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS): desafios atuais e visão
de futuro ................................................................................................................ 117
Considerações finais .............................................................................................. 118
Referências ............................................................................................................. 119
Agradecimentos
Agradecemos a todos os autores que se dedicaram a cada um dos cinco capítulos
que, por meio das discussões temáticas, redação, comentários e sugestões,
prestaram inestimável contribuição para a realização desta obra. Lembrando que
é uma realização da equipe e uma conquista de todos, recebam o nosso muito
obrigado!

Nesse contexto, agradecemos também a todos os revisores que muito agrega-


ram na melhoria do conteúdo e forma da redação final. Não poderíamos deixar de
agradecer também aos colegas do Comitê Local de Publicação da Embrapa Solos
pela dedicação e empenho, sem os quais não seria possível a publicação deste
documento.

Muito agradecemos, também, ao Dr. Silvio Crestana por ter, amavelmente, aceitado
o nosso convite para prefaciar o Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos.
Suas luzentes palavras em muito enobrecem esta obra.

Por último, mas não menos importante, os editores agradecem aos chefes da
Embrapa Solos, Embrapa Florestas e Embrapa Milho e Sorgo pelo imprescindível
apoio institucional, sem o qual não conseguiríamos lograr êxito na consecução da obra.
"Não é a terra que é frágil. Nós é que somos
frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes
muito piores do que as que produzimos. Nada do
que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos
facilmente nos destruir."

James Lovelock, ambientalista


Apresentação

Seguindo uma tendência global, a sociedade brasileira, cada vez mais informada e
consciente, tem demonstrado uma crescente preocupação com o meio ambiente
e com a sustentabilidade e a responsabilidade socioambiental dos sistemas de
produção.

Atenta a esta realidade, a Embrapa vem atuando fortemente em pesquisa e


desenvolvimento em prol da sustentabilidade socioeconômica e ambiental da
agricultura brasileira. Neste contexto, induziu a organização de uma rede de pes-
quisa especializada em Serviços Ecossistêmicos, formada por um grande número
de pesquisadores que atuam nos diversos biomas brasileiros. Atualmente, a
extensa carteira de projetos da empresa sobre o referido tema está organizada
no Portfólio de Serviços Ambientais.

Visando compartilhar com a sociedade brasileira a percepção e a visão, presente e


futura, da empresa sobre o relevante tema dos Serviços Ecossistêmicos, os editores,
em nome da Embrapa, com grande satisfação apresentam a presente obra, intitu-
lada: Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos.

Esta obra visa ainda balizar a atuação institucional da Embrapa no tocante a


sua programação de P&DI no tema dos serviços ecossistêmicos, posicionando a
empresa frente a esta importante demanda da sociedade brasileira.

O documento se inicia com um capítulo conceitual, que fornece informações atuais


para subsidiar a compreensão das discussões dos demais capítulos. O segundo
capítulo traça um histórico e apresenta o estado da arte da atuação no tema, no
Brasil e no mundo, destacando também as iniciativas da Embrapa e de seus par-
ceiros. O terceiro capítulo apresenta e discute os principais instrumentos legais e
políticos relacionados ao tema, apresentando as possibilidades de contribuição
da Embrapa neste tocante. O quarto capítulo aborda a relação entre os Serviços
Ecossistêmicos e a Agricultura, apresentando suas inter-relações, conflitos e
sinergias. E por fim o quinto capítulo apresenta e discute aspectos relacionados à
pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação, com destaque para as oportunidades
e os desafios.
A nossa expectativa é que a presente obra possa disseminar a atuação da Embrapa
e parceiros e ampliar a interação e cooperação com os diferentes setores da
sociedade no relevante tema dos Serviços Ecossistêmicos. Como resultados efeti-
vos, esperamos contribuir para conciliar a produção agrícola com a manutenção ou
a maior provisão dos serviços ecossistêmicos no meio rural. Valorizando também
o produtor rural como o principal ator da adequação agroambiental e aliado da
conservação, tão necessárias ao desenvolvimento sustentável de nosso país.

Os editores
Prefácio
Em primeiro lugar, congratulo-me com todos aqueles que contribuíram para
viabilizar esse Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos. Essa iniciativa que
envolveu várias unidades de pesquisa e diferentes “expertises” exalta o prota-
gonismo e a vitalidade da Embrapa e parceiros em institucionalizar, na Empresa
e no País, o enfoque ecossistêmico – essa nova fronteira mundial da inovação e
do desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico. Esse fato vem
fortalecer significativamente e dar continuidade a iniciativas estratégicas e pio-
neiras da Embrapa iniciadas em 2006 com o lançamento do Marco Referencial em
Agroecologia e do Plano Nacional em Agroenergia e, posteriormente, em 2011,
com o Marco Referencial em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Nesse bojo,
soma-se ainda, em 2016, o lançamento dos marcos regulatórios em pesquisa e
desenvolvimento visando ao acesso ao patrimônio genético, ao conhecimento tradi-
cional, à exploração econômica de produtos e processos e repartição de benefícios.
Para avançar nesse contexto, faz-se necessário contemplar a tendência mundial
e “fazer a lição de casa” naquilo que depende de nós, tanto para se adaptar aos
novos tempos como para aproveitar as novas oportunidades advindas dos ecos-
sistemas, desenvolvendo nosso potencial e, assim, contribuindo ao progresso do
País e da humanidade.

Vale constatar que, no âmbito mundial, a bioeconomia emerge como uma das
principais forças motrizes para ajudar na solução dos desafios inerentes à
“tempestade perfeita” que se abate sobre o nexus alimento, água e energia em
tempos de crescimento populacional explosivo e com perfil urbano e de classe
média e de maior longevidade criando novos hábitos de consumo. Para que o Nexus
tenha nexo, a bioeconomia se propõe a reunir o conjunto de atividades econômicas
baseadas no uso de recursos biológicos (biomassa) renováveis no lugar de matérias-
-primas fósseis para a produção de alimentos, rações, novos materiais, produtos
químicos, combustíveis e energia para a geração e promoção de saúde, desenvol-
vimento sustentável, crescimento e bem-estar para a sociedade. Assim, espera-se que
a economia brasileira, nas próximas décadas, incorpore em sua matriz a promoção de
produtos biológicos sustentáveis de alto valor, derivados da agricultura, alimen-
tação, saúde, bioenergia e química verde, que deverão ser eficazes, eficientes e
vantajosos do ponto de vista ambiental, social e econômico. Devido às suas dimensões
territoriais, ao uso sustentável dos recursos biológicos renováveis e da biodiversi-
dade nacional no lugar de matérias-primas fósseis, o País tem pleno potencial para
desenvolver bionegócios e bioprodutos. Desse modo, poderá dar importante
contribuição às metas dos Objetivos do milênio de desenvolvimento sustentável e
na economia circular, ajudando a construir uma nova geopolítica baseada na busca
da abundância a partir da escassez. Para tal, terá que alicerçar um robusto sistema
de inovação baseado na excelência educacional, científica e de negócios. É nesse
cenário que ganham relevância e prioridade o conceito e a implementação dos
Serviços Ecossistêmicos, tão bem abordados neste Marco Referencial.

Concomitantemente à bioeconomia, está surgindo uma nova economia, a economia


digital, que possui ingredientes para construir soluções que atendam às necessida-
des das seguranças do nexus alimento, água e energia e da bioeconomia. Ela está
mudando a maneira de produzir bens, serviços, valores e conhecimento, de fazer
negócios e de se relacionarem os seres humanos, entre si e com a natureza. Na agri-
cultura, é a nova onda tecnológica da indústria e da agricultura digital sustentada na
convergência tecnológica que integra bits, genes, átomos, moléculas e neurônios.
A economia digital, por meio da conectividade e de sensores, integra a automação
com veículos autônomos, pessoas, animais e faz uso da robótica, da computação
nas nuvens e big data. Além disso, em conjunto com as tecnologias convergentes –
tecnologia de informação e comunicação, biotecnologia, nanotecnologia e ciências
cognitivas – traz novos e inimagináveis horizontes à solução dos grandes proble-
mas mundiais e nacionais, incluindo os de natureza ambiental. Em outras partes do
mundo desenvolvido ou mesmo dos emergentes, as ciências cognitivas começam
a ocupar espaço importante na prática e na gestão dos negócios e das estratégias,
por meio da inteligência artificial, da robótica, da mecatrônica ou da neurolinguís-
tica, além da incorporação de disciplinas como filosofia, antropologia e psicologia.
Avanços tecnológicos promissores, convergentes e interdisciplinares estão pre-
vistos, no horizonte de uma década, como tecnologia 5G, computação quântica,
realidade virtual, realidade aumentada, impressão 3D em alta resolução, disponibi-
lidade e acesso à “constelação de satélites” assim como o uso de tecnologia “blo-
ckchain” para registrar, integrar dados e informações de percepção pública, além
dos biofísicos e socioeconômicos.

Aproveitar o que já está disponível e tirar proveito dos fluxos nacionais e mundiais
de conhecimento, juntando a hard-science com a soft-science, é uma grande opor-
tunidade para a criatividade e o empreendedorismo. Nessa perspectiva, reconhecer
as dimensões da heterogeneidade e da complexidade inerente aos sistemas natu-
rais e humanos é parte do mesmo todo, hoje cada vez mais possível e necessário.
Nesse sentido, toda atenção se faz essencial para não cair na visão simplista e
equivocada do reducionismo mercantilista da natureza quando se pretende incluir
as novas funções do ecossistema em sistemas de preços e relações de mercado,
tarefa fundamental para valorar e monetizar as externalidades positivas ou reverter
as negativas, como na oportuna proposição do pagamento por serviços ambientais.
Outra vertente equivocada seria limitar a natureza a uma visão meramente utili-
tarista quando se interpretam os estoques de capital natural unicamente como
fornecedores de bens e serviços diversos para as sociedades humanas. Há benefícios
intangíveis como conhecimento tradicional, turismo, beleza cênica, recreação, valo-
res espirituais que se traduzem na multifuncionalidade territorial e que precisam
ser captados na plataforma dos serviços ecossistêmicos. Do ponto de vista da pesquisa,
da tecnologia, da inovação e da geração de conhecimentos, é imprescindível trocar
as tecnologias de produtos por aquelas de processo, os projetos de curto prazo por
programas de pesquisa mais perenes, integrar as pesquisas analíticas às sistêmi-
cas, contemplar simultaneamente as escalas de propriedade agrícola e as de bacia
hidrográfica, para isso desenvolvendo indicadores e métricas apropriadas.

A dupla tarefa de produzir e conservar sistemas, nas suas várias dimensões, remete
ao desafio de construir a sustentabilidade e ao problema científico-tecnológico de
lidar com a complexidade e com a outra face da sustentabilidade, que é a resistên-
cia e a resiliência de sistemas. Evitar os desserviços ambientais, como a degradação
dos solos, das águas, da atmosfera, da biodiversidade, da cultura e da paisagem
é uma outra maneira de ver o problema. Portanto, recuperar áreas degradadas
e construir agroecossistemas sustentáveis passa a ser um estupendo mister. A
intensificação sustentável baseada na produtividade, estabilidade, sustentabili-
dade, resistência, resiliência e invulnerabilidade dos sistemas de produção é uma
boa solução.

Uma consequência, do ponto de vista dos recursos humanos, para atender essa
nova ordem, em construção, se traduz na demanda crescente por novos profis-
sionais. Eles devem ser capazes de trabalhar em equipes globalmente integradas
para aplicar e agregar o máximo de valor, gerar em profundidade e amplitude a
tecnologia para criar soluções cada vez mais inteligentes, que saibam definir novos
mercados para as inovações, para resolver problemas desafiadores por meio das
conexões das contribuições individuais. Se ainda lembrarmos que as crises, as
incertezas, a necessidade de mudanças e a pressão por resultados são caracterís-
ticas marcantes de nossos tempos, otimizar as sinergias e construir resistência e
resiliência de sistemas são ingredientes indispensáveis para se enfrentar os desa-
fios pessoais, profissionais e corporativos, do País e do planeta. É nesse âmago que
têm surgido conceitos como o de biocapacidade, pegada ecológica, pegada hídrica,
pegada de carbono, limites críticos dos recursos naturais, entre outros.

Em época de grandes incertezas, recursos escassos, crises emergentes e eventos


extremos como a que estamos vivendo, é preciso mostrar que há esperança na
Ciência e Tecnologia e no seu bom uso. Assim, não explorar tudo aquilo que tem
potencial de mitigação ou de solução é um desserviço à humanidade, como é o caso
de não empreender o desenvolvimento sustentável e não avançar na pesquisa e no
uso das tecnologias avançadas para viabilizar os serviços ecossistêmicos. Construir
as seguranças alimentar, hídrica e energética brasileiras, pilares fundamentais da
soberania nacional, e contribuir decisivamente para viabilizar a paz entre os povos
e nações é a grande ambição que devemos ostentar. Finalmente, é preciso lem-
brar que a continuidade do homem na Terra é uma tarefa humana que depende da
escolha de caminhos. Um dos pilares de sustentação é a harmonia entre os homens
e deles com a natureza. O amálgama das Ciências da Natureza com as Ciências
Humanas e as tecnologias daí decorrentes constituem o principal instrumento para
iluminar a construção desses caminhos. O presente Marco Referencial em Serviços
Ecossistêmicos é um ótimo começo e já é um pedaço de bom caminho!

Parabéns aos editores e autores por esta distinta obra. Boa leitura a todos!

Silvio Crestana
Pesquisador Sênior da Embrapa Instrumentação
Professor da Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental-EESC-USP
Presidente da Embrapa entre 2005 e 2009
CAPÍTULO 1

Serviços ecossistêmicos:
uma abordagem conceitual
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Rachel Bardy Prado
Margareth Gonçalves Simões
Mônica Matoso Campanha
Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
Ivan Bergier Tavares de Lima
Ana Paula Dias Turetta
Rafael Gonçalves Tonucci
Joyce Maria Guimarães Monteiro
Lucília Maria Parron
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Introdução
O presente capítulo tem como propósito introduzir o leitor nos conceitos funda-
mentais sobre o tema “Serviços Ecossistêmicos” ou “Serviços Ambientais”. Desse
modo, será discutido, brevemente, o que são e quais são os diferentes tipos de
serviços ecossistêmicos. Assim como, suas relações com as funções ecossistêmicas.

Além dessa breve discussão sobre os principais aspectos do tema “Serviços


Ecossistêmicos”, serão apresentados os principais posicionamentos conceituais
que permeiam este documento e sob os quais a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) baliza a sua atuação no cumprimento da sua missão de
pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia.

O que são os serviços ecossistêmicos ou ambientais?


O conceito de serviços ecossistêmicos (SE) ou serviços ambientais (SA), ultrapassando
os limites dos meios acadêmicos e científicos, vem se tornando, cada vez mais, visível
nas agendas de governo e nos debates e iniciativas das organizações civis que atuam
na mitigação dos conflitos entre a sociedade humana e o meio ambiente. Além disso,
o caráter objetivo e prático do conceito dos serviços ecossistêmicos o coloca em des-
taque na esfera dos debates sobre o meio ambiente, economia e sustentabilidade, na
medida em que evidencia as relações entre o funcionamento dos ecossistemas e as
demandas de subsistência e bem-estar da espécie humana.

Nesse sentido, compreender as relações entre as funções dos ecossistemas e as


demandas para a manutenção da sociedade humana tornou-se fundamental, no
tocante aos processos de tomada de decisão, planejamento e proposição de polí-
ticas públicas visando ao desenvolvimento sustentável (Fisher et al., 2007). Desse
modo, o conceito de serviços ecossistêmicos torna-se relevante na medida em que
agrega à discussão maior clareza e consenso, tanto nos meios acadêmico-científicos
como nos político-decisórios.

No âmbito científico, diversos trabalhos vêm estabelecendo as relações entre os pro-


cessos naturais e a sociedade humana, enfatizando a dependência dos sistemas eco-
nômicos vigentes ao capital natural, que é definido como o estoque natural que gera
um fluxo de bens e serviços úteis para a sociedade humana (De Groot, 1987; Costanza;
Daily, 1992; Jansson et al., 1994). Nesse contexto, diversos autores vêm propondo con-
ceitos próprios a respeito dos serviços ecossistêmicos ou ambientais, dentre os quais,
os de maior destaque encontram-se transcritos a seguir, a partir de Santos (2014):
20
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

• Daily (1997): “Serviços ecossistêmicos são condições e processos provenientes


dos ecossistemas naturais e das espécies que os compõem que sustentam e
mantêm a vida humana”.

• Costanza et al. (1997): “Serviços ecossistêmicos são os benefícios para


populações humanas que derivam, direta ou indiretamente, das funções dos
ecossistemas”.

• Odum e Odum (2000): “A natureza contribui para a economia através dos


serviços ecossistêmicos. Em função de limites termodinâmicos, a valoração
desses serviços deve estar associada à quantidade de energia requerida para
produzir um bem de consumo ou serviço, e não ao valor ou preço que as pessoas
desejam, por questões subjetivas, pagar”.

• De Groot et al. (2002): “Funções ecossistêmicas podem ser compreendidas


como a capacidade do ecossistema para fornecer bens e serviços que satisfaçam,
direta ou indiretamente, as necessidades humanas e são, portanto, valorizados
pelos seres humanos”.

• Millennium Ecosystem Assessment (2003): “Serviços ecossistêmicos são os


benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas”.

• Daily e Farley (2004): “Serviços ecossistêmicos são produtos de funções


ecológicas ou processos que direta ou indiretamente contribuem para o bem-
estar humano, ou têm potencial para fazê-lo no futuro... Representam os
processos ecológicos e os recursos expressos em termos de bens e serviços que
fornecem”.

• Boyd e Banzhaf (2007): “Serviços ecossistêmicos não são os benefícios, são


componentes da natureza, diretamente aproveitados, consumidos ou usufruídos
para o bem-estar humano”.

• Fisher et al. (2007): “Serviços ecossistêmicos são os aspectos dos ecossistemas


utilizados, ativa ou passivamente, para produzir bem-estar humano”.

• FAO (2007): “Serviços ambientais se referem a um subconjunto específico de


serviços ecossistêmicos, caracterizados como externalidades positivas”.

• Sukhdev (2008) e Sukhdev et al. (2010): “Serviços ecossistêmicos são as


contribuições diretas ou indiretas dos ecossistemas para o bem-estar humano”.

• Farley (2012): “Serviços ecossistêmicos são componentes do ecossistema


que podem ser consumidos ou utilizados para produzir bem-estar humano”.

• Muradian et al. (2010): “Serviços ambientais são os benefícios ambientais


resultantes de intervenções intencionais da sociedade na dinâmica dos ecossistemas”.

21
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

• Watanabe e Ortega (2011): “Os serviços ecossistêmicos estão ligados


aos ciclos do carbono, da água e do nitrogênio, e sua adequada valoração é
fundamental para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa e para
a adaptação à mudança do clima, considerando-se a regulação climática do
planeta associada ao equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos globais”.
Como evidenciado, embora tenha havido diversas propostas conceituais, não há
até o momento um consenso definitivo em torno de um significado explícito e con-
sistente para o termo serviços ecossistêmicos (De Groot et al., 2002; Fisher et al.,
2007). Nesse sentido, percebe-se, por meio da análise das definições conceituais
apresentadas, que, embora haja certa centralidade na ideia geral sobre os serviços
ecossistêmicos, algumas importantes diferenças podem ser destacadas.

Em Costanza et al. (1997), De Groot et al. (2002) e Daily e Farley (2004), a ênfase
é dada à ideia de que os serviços ecossistêmicos constituem bens e serviços deri-
vados explicitamente de funções ecossistêmicas capazes de serem utilizados em
benefício da humanidade. Em Daily (1997), os serviços ecossistêmicos são equipa-
rados às condições e processos provenientes dos ecossistemas naturais, deixando
apenas de modo implícito a ideia de funções ecossistêmicas associadas. Por sua vez,
a definição apresentada pelo Millennium Ecosystem Assessment (2003) se utiliza
de uma lógica mais simplista e direta estabelecendo que os serviços ecossistêmicos
consistem nos benefícios providos de uma forma geral pelos ecossistemas. A defini-
ção fornecida pelos relatórios do Ecological and Economic Foundations (Sukhdev,
2008; Kumar, 2010) também segue essa lógica de atribuir aos serviços ecossistêmi-
cos a ideia de contribuições diretas ou indiretas dos ecossistemas para o bem-estar
humano. Em contradição a essas últimas concepções, as abordagens conceituais de
Boyd e Banzhaf (2007), Fisher et al. (2007) e Farley (2012) argumentam que os
serviços ecossistêmicos não são benefícios de forma geral e sim componentes
da natureza, diretamente aproveitados, consumidos ou usufruídos para o bem-
estar humano.

Diversos autores fazem referência indistinta aos termos serviços ambientais e


serviços ecossistêmicos como sendo benefícios, direta ou indiretamente, advindos
das funções dos ecossistemas (Costanza et al., 1997; De Groot et al., 2002; Daily;
Farley, 2004; Nicholson et al., 2009). Díaz et al. (2006) mencionam que os serviços
ambientais são os benefícios obtidos dos ecossistemas, que tornam a vida humana
possível. Essa concepção se assemelha às encontradas para os serviços ecossistê-
micos em Costanza et al. (1997), Daily (1997), Millennium Ecosystem Assessment (2005),

22
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

dentre outros. De acordo com Prado (2014), os conceitos assemelhados servi-


ços ambientais e serviços ecossistêmicos são, como atestam diversos trabalhos,
tratados na maioria das vezes como sinônimos. O termo serviços ambientais tem
sido mais utilizado pela sociedade em geral na América Latina e, especificamente,
no Brasil. Por exemplo, nos meios que tratam das ações e políticas de compensa-
ção ambiental, é comum o uso da expressão pagamento por serviços ambientais
(PSA), e não por serviços ecossistêmicos. Contudo, nos meios acadêmicos e cien-
tíficos, seguindo a tendência internacional, o termo serviços ecossistêmicos figura
com maior destaque.

O que são as funções ecossistêmicas?


Do ponto de vista científico, as funções ecossistêmicas podem ser definidas como
processos interativos entre os elementos estruturais, bióticos e abióticos, de um
dado ecossistema, capazes de gerar serviços explicitamente definidos (Daily; Farley,
2004). Sob uma ótica termodinâmica, pode-se considerar que as funções ecossistê-
micas se resumem em fluxos de matéria e energia que regulam e fazem funcionar
os ecossistemas naturais. Tais fluxos de matéria e energia, segundo Andrade e
Romeiro (2009), quando combinados com os demais tipos de capital (financeiro,
mão de obra, etc.), produzem bens e serviços para o bem-estar humano. Como
exemplos dessas funções ecossistêmicas, pode-se citar: a transferência de ener-
gia, ciclagem de nutrientes, regulação de gases atmosféricos, regulação climática,
ciclo hidrológico, entre várias outras funções (Costanza et al., 1997; De Groot et al.,
2002; Millennium Ecosystem Assessment, 2003; Daily; Farley, 2004).

De Groot et al. (2002) apresentam uma tipologia de classificação das funções ecos-
sistêmicas, dividindo-as em quatro categorias: funções de regulação; funções de
produção; funções de habitat e funções de informação, que, na sequência, serão
abordadas separadamente.

Funções de regulação

As funções de regulação relacionam-se com a capacidade de autorregulação dos


processos ecológicos essenciais ao funcionamento dos ecossistemas naturais ou
antropizados. Mantêm, portanto, os ciclos biogeoquímicos e os processos físico-
-atmosféricos e climatológicos, de modo a garantir as condições biosféricas
apropriadas para a reprodução e manutenção da vida em escala planetária.

23
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Funções de produção

As funções de produção dizem respeito à capacidade de produção biológica dos ecossis-


temas terrestres e aquáticos que se baseiam na produção primária e sucessiva conversão
secundária por ação, respectivamente, dos organismos autotróficos e heterotróficos.

Funções de habitat

As funções de habitat, segundo postulado por De Groot et al. (2002), se referem à


própria estrutura dos ecossistemas naturais e, em menor medida, dos agroecos-
sistemas, que proporcionam habitat de refúgio e reprodução para fauna e flora
selvagens e, assim, contribuem para a conservação in situ da diversidade biológica,
genética e sucessão ecológica, garantindo os processos evolutivos.

Funções de informação

As funções de informação não são funções objetivas, físico-bióticas, em estrito


senso, mas podem ser consideradas funções ecológicas na medida em que se con-
sidera o ser humano como parte intrínseca dos ecossistemas terrestres. O pressu-
posto repousa na convicção de que, apesar da vida artificializada, os seres humanos
guardam uma memória genética de milhares de anos vivendo em contato íntimo
com a natureza. Dessa forma, as funções de informação dos ecossistemas naturais
ou seminaturais desempenham um papel relevante para as sociedades humanas,
fornecendo oportunidade de experiências subjetivas cujos benefícios são o
enriquecimento espiritual, o desenvolvimento cognitivo, a recreação, a inspiração
cultural, estética e artística, além do fornecimento de informação histórica, cultural
e científica (De Groot et al., 2002).

Quais são as relações entre as funções e os serviços ecossistêmicos?


O conceito de funções ecossistêmicas torna-se relevante na medida em que elas
provêm dos serviços ecossistêmicos. Assim, incorporando a noção de utilidade
antropocêntrica, os serviços ecossistêmicos podem ser considerados funções
específicas desempenhadas pelos ecossistemas que trazem benefícios explícitos na
forma de bens e serviços para os seres humanos (Hueting et al., 1998; Andrade;
Romeiro, 2009). Contudo, Prado (2014) destaca que as funções ecossistêmicas existem
independentemente de seu uso, demanda ou valorização social, transformando-se em
serviços ecossistêmicos somente quando beneficiam os seres humanos.

24
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

Uma função ecossistêmica pode gerar um determinado serviço ecossistêmico;


no entanto, funções e serviços ecossistêmicos não apresentam necessaria-
mente uma relação biunívoca, ou seja, quando uma determinada função cor-
responde a um único serviço. Assim, um único serviço ecossistêmico pode ser
o produto de duas ou mais funções, e, reciprocamente, uma única função pode
gerar mais do que um serviço ecossistêmico (Costanza et al., 1997; De Groot et
al., 2002; Andrade; Romeiro, 2009).

Andrade e Romeiro (2009) enfatizam a complexidade analítica para se estabelece-


rem as relações entre os serviços e as funções ecossistêmicas. Visto que, devido
à interdependência destas, faz-se necessário compreender as interconexões
existentes entre os componentes do ecossistema antes que se possa realizar a cor-
reta análise dos serviços prestados.

Além disso, as funções e os serviços ecossistêmicos se caracterizam por serem


processos dinâmicos e espacialmente heterogêneos. Portanto, são dependen-
tes da escala de observação. Com essa noção, Fisher et al. (2007) salientam
que a dinâmica espaço-temporal é uma característica que deve ser levada em
conta na compreensão, análise e definição dos serviços ecossistêmicos. Com
efeito, Fisher et al. (2007) mencionam particularidades dos serviços ecossis-
têmicos, explicitando que alguns processos ecossistêmicos oferecem serviços
que são utilizados in situ, enquanto outros se caracterizam pela descontinui-
dade espaço-temporal entre a geração das funções e a utilização dos servi-
ços relacionados. Como exemplo do primeiro caso, os autores citam que os
processos pedogenéticos geram funções de manutenção da produtividade nas
terras aráveis (serviços de suporte) e que, por seu turno, propiciam serviços de
provisão que podem ser usados no mesmo local (agricultura). Exemplo ao con-
trário, a regulação das vazões de uma bacia hidrográfica por meio da cobertura
vegetal pode se dar a montante do ponto de utilização do serviço de provisão
hídrica alocado mais a jusante, ou seja, separado temporal e espacialmente.

Quais são os tipos de serviços ecossistêmicos?


De acordo com o Millennium Ecosystem Assessment (2003), os serviços ecossis-
têmicos são classificados da seguinte forma: serviços de provisão ou serviços de
abastecimento; serviços de regulação; serviços de suporte e serviços culturais.

25
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Serviços de provisão

Os serviços de provisão ou de abastecimento se relacionam com a capacidade


dos ecossistemas em fornecer produtos materiais para a manutenção das popu-
lações humanas. De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millennium
Ecosystem Assessment, 2003) os serviços de provisão dizem respeito à capacidade
produtiva dos ecossistemas naturais ou seminaturais (agroecossistemas) em
fornecer produtos tais como: alimentos, fibras e materiais biocombustíveis, além
de produtos aromáticos, fármacos e medicinais. Apreende-se, desse modo, que
os serviços de provisão de origem biótica são renováveis e fundamentam-se na
capacidade de produção biológica, primaria e secundária, dos ecossistemas.

Por sua vez, os recursos minerais, como os minérios, os combustíveis fósseis e a


oferta de água, são considerados serviços de provisão ou de abastecimento de
origem abiótica. São serviços ecossistêmicos que se baseiam na capacidade de
provisão relacionada com os estoques de materiais de origem mineral encontrados
na crosta terrestre.

A água destaca-se como um produto essencial à vida e insumo para todas as ativi-
dades econômicas. De modo diferente dos demais recursos minerais, a produção e
a disponibilidade da água constituem um serviço intrinsecamente dependente das
funções de regulação e estabilidade dos ciclos hidrológicos. Como recurso abiótico
e renovável, a oferta d’água constitui um serviço ecossistêmico altamente vulnerável
aos impactos decorrentes do uso inadequado dos solos e dos corpos hídricos.

Serviços de regulação

Os serviços de regulação advêm das funções ecossistêmicas de regulação, intrinse-


camente relacionadas com os diversos processos ecológicos que ocorrem na bios-
fera terrestre. As funções de regulação ocorrem por meio da interação de fatores
bióticos e abióticos que mantêm a capacidade de autorregulação dos ecossistemas
em suporte à vida na Terra. Como exemplos desses processos, pode-se citar: a
transformação da energia da radiação solar em biomassa (produtividade primária);
o armazenamento e transferência de minerais e energia na cadeia trófica (produti-
vidade secundária); os ciclos biogeoquímicos (reciclagem de nutrientes e mineraliza-
ção de matéria orgânica); a regulação climática, o ciclo hidroclimático e hidrológico,
entre outros (De Groot et al., 2002).

26
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

Serviços de suporte

Segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millennium Ecosystem Assessment,


2003) os serviços de suporte são caracterizados como condições ecológicas,
estruturais e funcionais que dão suporte para que outras funções ecossistêmicas e
serviços derivados possam ocorrer. Nessa categoria, agregam-se processos, funções
ou serviços que de certa forma se sobrepõem com as demais categorias de servi-
ços ecossistêmicos da tipologia proposta pelo Millennium Ecosystem Assessment
(2003); contudo, diferenciam-se das demais na medida em que seus impactos são
indiretos ou ocorrem em longo termo (Prado, 2014).

Entre os exemplos mais citados de serviços de suporte, figuram a produção de oxi-


gênio atmosférico fotossintetizado e a ciclagem biótica de nutrientes. Os processos
pedogenéticos de formação de solos e a capacidade de retenção de nutrientes e
água que esses sistemas oferecem também podem ser considerados como serviços
de suporte. Os benefícios na forma de serviços estão relacionados com a manutenção
da fertilidade dos solos que possibilita a prestação de serviços de provisão de gêneros
alimentícios e matérias-primas. Destaca-se, ainda, que os recursos genéticos e a bio-
diversidade constituem serviços de suporte de origem biótica.

Serviços culturais

Os serviços culturais são derivados das funções de informação que dizem


respeito à capacidade dos ecossistemas naturais ou seminaturais de contribuírem
para a manutenção do bem-estar psicológico do ser humano, conferindo-lhe
a oportunidade de experiências subjetivas relacionadas à cognição, reflexão,
espiritualidade, recreação e experiência estética.

Constitui uma categoria de serviços que se diferencia das demais pelo seu caráter
subjetivo e, na medida em que são intrinsecamente ligadas aos valores humanos,
podem variar conforme o contexto sociocultural vigente. Como salientam Andrade
e Romeiro (2009), a percepção e a valoração desses serviços podem não ser as mes-
mas entre populações díspares, visto que dependem dos padrões culturais, valores
e paradigmas que moldam as diferentes culturas humanas.

Andrade e Romeiro (2009) incluem nessa categoria de serviços o potencial intrín-


seco dos ecossistemas naturais ou antropizados em fornecer oportunidade para
o desenvolvimento do ecoturismo ou agroturismo, da recreação, da inspiração
estética, cultural e artística (paisagens culturais), além de informações históricas,

27
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

culturais e científicas que podem ser adquiridas por meio de experiências de imer-
são nesses ambientes. Esses autores ainda acrescentam que tais características
dificultam não somente a definição conceitual como também a valoração desses
serviços.

A Figura 1 apresenta um diagrama com as diferentes categorias de serviços


ecossistêmicos.

Serviços Ecossistêmicos

Serviços de Regulação

Ex.: Regulação climática, de


doenças, biológica, de danos
naturais, regulação e purificação
da água e polinização.

Serviços de Provisão
(abastecimento)

Ex.: Alimentos, água, madeira para


combustível, fibras, bioquímicos e
recursos genéticos.

Serviços Culturais

Ex.: Ecoturismo e recreação,


espiritual e religioso, estético e
inspiração, educacional, senso de
localização e cultural.

Serviços de Suporte

Ex.: Formação do solo, produção


de oxigênio, ciclagem de
nutrientes e produção primária.

Figura 1. Diagrama ilustrativo das diferentes categorias de


serviços ecossistêmicos.
Fonte: Adaptado de Millennium Ecosystem Assessment (2003).

Além do sistema de classificação proposto pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio


(Millennium Ecosystem Assessment, 2003), cabe mencionar que, a partir dos tra-
balhos sobre contabilidade ambiental realizados pela Agência Ambiental Europeia

28
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

(EEA), desde 2009, vem sendo elaborado um sistema de classificação internacional


para os SE, chamado Classificação Internacional Comum de Serviços Ecossistêmicos
(CICES), que está atualmente em sua versão 5.1 (Haines-Young; Potschin, 2018).
Essa iniciativa, em contribuição direta com a revisão do Sistema de Contabilidade
Econômica Ambiental (SEEA) da Divisão de Estatística das Nações Unidas (UNSD),
objetivou estabelecer um sistema de classificação de SE que fosse internacional-
mente padronizado. A ideia de se estabelecer uma classificação internacional se
deve à necessidade de se padronizar a descrição dos SE de modo a possibilitar o
estabelecimento de métodos de contabilidade ambiental, de mapeamento e de
avaliação de SE que possam ser reproduzíveis e comparáveis. A classificação CICES
tomou como ponto de partida a tipologia sugerida pela Avaliação Ecossistêmica
do Milênio (Millennium Ecosystem Assessment, 2005) da qual, com a exceção da
categoria serviços de suporte, considerou, em seus níveis mais elevados, as outras
três categorias de serviços: provisão, regulação e cultural. A categoria serviços
de suporte foi excluída deliberadamente, pois, sendo um serviço intermediário,
as relações entre o ecossistema e a contabilidade ambiental, nesse caso, não são
explícitas. Sendo assim, o CICES, adotando uma visão pragmática, optou por dar
ênfase às saídas finais dos processos que efetivamente beneficiam e têm valor
direto e explícito para as pessoas (Haines-Young; Potschin, 2018). Contudo, como os
próprios autores advertem, os serviços intermediários e de suporte não devem ser
ignorados ou negligenciados.

Abaixo desse nível, chamado de seções, a metodologia propõe uma hierarquia de


classes como: divisões, grupos e classes. A estrutura hierárquica de CICES foi
proposta como uma maneira de lidar com alguns dos desafios que possam surgir em
relação às diferentes temáticas e escalas espaciais utilizadas em aplicações diver-
sas. Para efeitos de comparação, as classes categóricas podem ser agregadas ou
generalizadas. Assim, a estrutura hierárquica de classificação permite aos usuários
tanto descer para o nível mais adequado de detalhamento conforme sua aplica-
ção quanto agrupar ou combinar resultados fazendo comparações mais amplas
ou generalizadas. No sistema CICES, as sucessivas classes (seção, divisão, grupo e
classe) permitem, progressivamente, uma descrição mais específica e detalhada de
cada SE. Sendo assim, pode abrigar muitos tipos de serviços dentro das categorias
mais amplas. Ademais, a estrutura hierárquica foi proposta para acomodar as dife-
rentes aplicações temáticas e sistemas de contabilidade ambiental considerando as
diferentes escalas espaciais (Haines-Young; Potschin, 2018). A Figura 2 apresenta
um exemplo do sistema CICES.

29
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Seção Provisão

Divisão Biomassa Água ...

Grupo Plantas cultivadas Plantas nativas Animais criados ...

Plantas cultivadas Plantas cultivadas Plantas cultivadas


Classe para materiais para nutrição para energia

Tipo de classe Cereais ... ...

Figura 2. Ilustração da estrutura hierárquica de CICES v 5.1, destacando um exemplo de


provisão de alimentos (cereais).
Fonte: Adaptado de Haines-Young e Potschin (2018).

Finalmente, o sistema de classificação do CICES foi estabelecido para facilitar a inte-


gração entre os processos ecossistêmicos, os serviços derivados e a valoração destes.
Dessa forma, constitui-se em um sistema de classificação útil para os processos de
tomada de decisão e proposição de políticas públicas (Haines-Young; Potschin, 2018).

Dentre as várias proposições conceituais, merece atenção, também, o conceito de


contribuições da natureza para as pessoas (CNP). Essa nova proposta conceitual
não constitui, no entanto, uma mudança radical do entendimento dos Serviços
Ecossistêmicos do modo como é tratado no Millennium Ecosystem Assessment
(2005). É, na verdade, uma decorrência da evolução e amadurecimento do pensa-
mento científico interdisciplinar, calcado, principalmente, na crescente contribuição
da Antropologia e das Ciências Sociais nesse debate.

Desserviços ecossistêmicos, conflitos (trade-offs) e sinergia entre os


serviços ecossistêmicos
Outros conceitos importantes que permeiam o debate sobre serviços ecossistêmi-
cos e que não se pode deixar de mencionar são o que tem sido chamado de: desser-
viços ecossistêmicos, os conflitos (trade-offs) e as sinergias.

O conceito de desserviços ecossistêmicos estabelece uma contraposição aos serviços


ecossistêmicos, enquanto estes estabelecem a noção de processos benéficos, os
primeiros indicam a ocorrência de processos prejudiciais, danosos ou nocivos. Apesar
de ser uma divisão conceitual um tanto quanto reducionista e antropocêntrica, do

30
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

ponto de vista prático, elucida com clareza as inter-relações de causa e efeito entre
os processos naturais e as ações antrópicas sobre o meio ambiente. Desse modo, de
acordo com Power (2010), tanto os impactos negativos da atividade agrícola sobre os
processos ecossistêmicos como os efeitos desses impactos nos sistemas de produção
são considerados desserviços ecossistêmicos. Assim, os processos que depreciam
a produção agrícola podem ser considerados desserviços da natureza para a agri-
cultura, como, por exemplo, a concorrência por luz, água e nutrientes por parte
das ervas invasoras, os danos causados pelas pragas e fitomoléstias, parasitismo
em animais domésticos, eventos climáticos e meteorológicos adversos, etc. (Zhang
et al., 2007). Por outro lado, as práticas agrícolas também causam desserviços na
medida em que impactam diversos processos ecológicos, como, por exemplo, a
contaminação ambiental pelo uso indiscriminado de pesticidas e a perda da biodi-
versidade causada pela supressão da vegetação nativa para a implantação de siste-
mas de produção, entre vários outros processos.

Outra perspectiva conceitual bastante utilizada para se avaliar o grau de harmo-


nia e interação entre os diferentes serviços ecossistêmicos de uma dada situação
ambiental consiste na determinação dos conflitos (trade-offs) e sinergias que ocor-
rem entre eles. Ou seja, ocorrem conflitos quando a prestação de um determinado
serviço concorre para o comprometimento ou redução da prestação de outros
serviços ecossistêmicos importantes para outros setores ou a sociedade em geral.
Por exemplo, o aumento da produção de alimentos (serviço de provisão de alimen-
tos), envolve geralmente o decréscimo da cobertura florestal e a intensificação do
uso da água, fertilizantes e pesticidas que podem levar à redução da qualidade e
quantidade de água (serviço de provisão de água), conflitando com diversos outros
usos dos recursos hídricos (Andrade; Romeiro, 2009). Estabelecem-se, assim, con-
flitos entre os vários beneficiários dos serviços ecossistêmicos e/ou usuários dos
recursos naturais. Por outro lado, pode ocorrer também sinergia entre os diferen-
tes serviços ecossistêmicos. Tomando o mesmo exemplo, caso o dado sistema de
produção fosse conduzido de acordo com os preceitos de conservação da água e
solo, por meio de práticas de controle da erosão, favorecimento da infiltração da
água no solo, proteção das nascentes e recarga dos aquíferos, teríamos um caso de
sinergia entre a prestação de serviços, visto que a própria atividade produtiva que
estaria prestando o serviço de provisão de alimentos também estaria prestando o
serviço de provisão de água limpa, beneficiando diversos outros usuários.

31
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Consoantes a essa abordagem conceitual, existem na literatura diversos métodos


disponíveis de avaliação dos serviços ecossistêmicos a partir do cotejo entre os
conflitos e as sinergias (Power, 2010; Turkelboom, 2016). Esse tipo de abordagem
tem demonstrado ser bastante prático e útil para subsidiar o direcionamento de
políticas públicas e/ou os processos de tomada de decisão de gestão ambiental.

Multifuncionalidade e pacotes de serviços ecossistêmicos (Bundles)


A multifuncionalidade pode ser definida, segundo Berry et al. (2016), como a pro-
priedade intrínseca dos ecossistemas em executar, simultaneamente, múltiplas
funções, que podem gerar um único e específico serviço ou um conjunto de servi-
ços ecossistêmicos (Bundles). Por sua vez, de acordo com Raudsepp-Hearne et al.
(2010) e Berry et al. (2016), pacotes de serviços (Bundles) consistem em conjuntos
de serviços ecossistêmicos que ocorrem simultaneamente em uma mesma locali-
dade. García-Nieto et al. (2013) estendem a ideia para as relações entre a oferta
e a demanda de pacotes de SE. Destacam os autores que, em um ecossistema ou
paisagem, diferentes conjuntos de serviços podem ser exigidos por diferentes
grupos de interessados. Por exemplo, em Sierra Nevada (Espanha), Iniesta-Arandia
et al. (2014) observaram que diferentes perfils de beneficiários demandam diferentes
conjuntos de serviços. Enquanto os agricultores tradicionais da região demandam ser-
viços relacionados à fertilidade do solo, ao controle da erosão e à provisão de água, os
turistas destacam a importância dos serviços de purificação do ar, manutenção da
biodiversidade e valores estéticos. O primeiro conjunto de SE está mais relacionado
aos agroecossistemas, e o segundo, mais relacionado às florestas, embora ambos
ocorram na mesma paisagem multifuncional.

Considerações finais

• Este capítulo apresentou uma breve discussão conceitual sobre o importante


tema serviços ecossistêmicos. Dessa maneira, espera-se que o leitor, não afeito
ao tema, possa ter uma visão geral sobre o que são os serviços ecossistêmicos,
quais são as principais relações entre as funções e os serviços e quais são os
diferentes tipos de serviços ecossistêmicos, hoje aceitos pela maioria das
organizações internacionais e estudiosos no assunto.

• Cabe enfatizar, no entanto, que tal discussão conceitual, evidentemente,


não se esgota em poucas linhas, devido às diversas abordagens, abrangência
e profundidade em que se pode tratar a temática em destaque. Para aqueles
que desejam se aprofundar no tema, sugere-se, dentre outras, a leitura das
referências apresentadas na sequência.

32
Serviços ecossistêmicos: uma abordagem conceitual

• Contudo, o objetivo precípuo do presente documento, na modalidade de um


marco referencial, foi situar o leitor sobre o tema dos serviços ecossistêmicos e
explicitar os principais posicionamentos conceituais sob os quais, no cumprimento
da sua missão, a Embrapa baliza a sua atuação na temática apresentada.

• Assim, considerando os consensos internacionais, o valor prático e


a pertinência conceitual, no contexto do Marco Referencial em Serviços
Ecossistêmicos, adotam-se as seguintes premissas:

• Por tratar-se de uma designação de caráter científico adotado


internacionalmente, optou-se por dar prevalência ao termo Serviços
Ecossistêmicos, considerando, como sinônimo, o termo Serviços Ambientais.

• Por sentido prático e coerência conceitual, adota-se as seguintes categorias


de serviços ecossistêmicos: de provisão, regulação, suporte e culturais, conforme
proposto pelo Millennium Ecosystem Assessment (2003).

• E propõe-se a seguinte conceitualização: serviços ecossistêmicos são


benefícios advindos de processos naturais dos ecossistemas, que por meio
de funções ecossistêmicas geram, direta ou indiretamente, bens, serviços e
produtos que beneficiam a sociedade humana. Compreendem, ainda, aspectos
de caráter subjetivo relacionados ao bem-estar psicológico e espiritual. Podem
ser potencializados pelo uso e manejo adequado dos recursos naturais,
constituindo-se em capital natural para a sustentabilidade das atividades
antrópicas.

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36
Capítulo 2

Serviços ecossistêmicos:
histórico e evolução
Mônica Matoso Campanha
Bernadete da Conceição Carvalho Gomes Pedreira
Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
Lucília Maria Parron
Rachel Bardy Prado
Ivan Bergier Tavares de Lima
Joyce Maria Guimarães Monteiro
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Ana Paula Dias Turetta
Rafael Gonçalves Tonucci
Gustavo Bayma Siqueira da Silva
Luciano Mansor de Mattos
Margareth Gonçalves Simões
Ricardo Trippia dos Guimarães Peixoto
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Introdução
O Capítulo 2 apresenta um breve histórico da evolução conceitual sobre o tema
serviços ecossistêmicos (SE), incluindo referências a autores de destaque, marcos
conceituais, redes de pesquisa, plataformas, agências e institutos com foco em SE.

O capítulo discorre ainda sobre a estratégia de Pagamento por Serviços Ambientais


(PSA), que trouxe o aspecto econômico ao tema, e sobre a evolução de programas
de PSA no Brasil. Um resumo sobre as pesquisas científicas da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no tema serviços ecossistêmicos voltados
para à sustentabilidade da agricultura brasileira, seguida das considerações finais,
encerra esta parte.

Como surgiram os serviços ecossistêmicos?


Nas últimas décadas, os problemas socioambientais têm sido cada vez mais abordados
por meio da perspectiva dos Serviços Ecossistêmicos. Permeando os diversos setores
da sociedade, a abordagem ecossistêmica sob a ótica dos serviços está cada vez
mais sendo incorporada nas agendas políticas, nos planejamentos setoriais e nos
debates da sociedade civil organizada. O aumento do interesse e da repercussão
dessa área do conhecimento surge da melhor compreensão de que a humanidade
e a natureza são intimamente conectadas e interdependentes (Potschin; Haines-
Young, 2017).

O entendimento de que a sociedade se beneficia direta e indiretamente dos


recursos naturais de muitas maneiras não é novo. Embora o desenvolvimento con-
ceitual e a discussão em torno da ideia de que os ecossistemas são imprescindíveis
para o suporte e manutenção da sociedade humana tenha se iniciado no final da
década de 1960, segundo Hermann et al. (2011), foi apenas em 1977 que a ideia de
"serviços" surgiu, denominada de "Serviços da Natureza", quando Westman (1977)
sugeriu que o valor social dos benefícios que os ecossistemas fornecem poderia
potencialmente ser avaliado para que a sociedade pudesse tomar decisões mais
apropriadas no tocante à gestão ambiental. Em 1981, o termo serviços ecossistê-
micos foi apresentado por Ehrlich e Ehrlich (1981) da Universidade de Stanford. O
objetivo dessa abordagem era o de estimular o interesse público e privado pela
conservação da biodiversidade (Gómez-Baggethun et al., 2010). Outros autores
(Ehrlich; Mooney, 1983; De Groot, 1987) utilizaram a mesma abordagem com o
intuito de demonstrar que a redução da biodiversidade poderia afetar as funções

38
Serviços Ecossistêmicos: histórico e evolução

dos ecossistemas com reflexos negativos nos SE, comprometendo o bem-estar


humano (De Groot et al., 2017).

Nas décadas seguintes, os ecologistas elaboraram ainda mais a noção dos ecossis-
temas como sistemas de apoio à vida, provedores de serviços e bens econômicos
(Ehrlich; Mooney 1983; Folke, 1991; Pearce; Warford, 1993; Costanza et al., 1997;
Daily, 1997; Daily et al., 2000). Diversos trabalhos vêm estabelecendo as relações
entre os processos naturais e a sociedade humana, enfatizando notadamente a
dependência dos sistemas econômicos vigentes ao capital natural. O conceito de
"capital natural" também surgiu na década de 1970, considerado o estoque natural que
gera um fluxo de bens e serviços úteis ou rentáveis ao homem, ao longo do tempo
(De Groot, 1987; Costanza; Daily 1992; Dasgupta; Mäler, 1994; Jansson et al., 1994).
Para Gómez-Baggethun e De Groot (2007), a partir de uma perspectiva ecológica, o
capital natural não pode ser concebido apenas como um estoque ou agregação de
elementos naturais, mas engloba todos os processos e interações dos ecossistemas,
que regulam e determinam sua integridade e equilíbrio ecológico (considera seu
funcionamento). O capital natural não depende da construção humana para sua
existência (Costanza et al., 2017).

Originalmente, foi criado o conceito de "função dos ecossistemas" que se referia


ao conjunto de processos ecossistêmicos operando em um sistema ecológico. As
funções do ecossistema são as bases para a prestação de um serviço. O termo
serviços ecossistêmicos foi então utilizado para conceituar as “coisas úteis” que
os ecossistemas “fazem” para as pessoas, fornecendo tanto benefícios diretos
como indiretos (De Groot et al., 2017). O conceito de SE destacou os benefícios
intangíveis dos serviços ecossistêmicos, isto é, não facilmente reconhecido pelas
pessoas, como a produção de oxigênio, regulação térmica e de água. Estes, quando
devidamente considerados, promovem maior motivação para a conservação dos
recursos naturais dos ecossistemas, os quais são fundamentais para o desen-
volvimento socioeconômico e são intimamente ligados à geração de produtos e
serviços tangíveis, como alimentos, fibras e energia (Waltner-Toews et al., 2008;
Power, 2010; Heydinger, 2016).

O conceito de serviços ecossistêmicos passou a fazer parte dos debates, de


modo mais efetivo, a partir do final da década de 1990, impulsionado pela
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-
92, quando diversos autores adotaram esse conceito publicando trabalhos que se
tornaram referências em nível internacional (De Groot et al., 2002; Lele et al., 2013).

39
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Dentre essas publicações, destacam-se o livro “Nature’s Services: Societal


Dependence On Natural Ecosystems” (Daily, 1997), que reuniu textos de diver-
sos especialistas em SE, e o artigo de Costanza et al. (1997), “The values of the
world’s ecosystem services and natural capital”, mostrando o valor econômico global
dos serviços ecossistêmicos. Este trabalho, recentemente atualizado (Costanza
et al., 2017) serviu de base para subsidiar outros estudos sobre a importância
de valorar os SE.

Daily (1997) foi um dos primeiros autores a abordar o conceito de serviços


ecossistêmicos como "os serviços prestados pelos ecossistemas naturais e as
espécies que os compõem, na sustentação e preenchimento das condições para
a permanência da vida humana na Terra". Essa abordagem veio então a ser ado-
tada de forma similar pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio – MEA (Millennium
Ecosystem Assessment, 2005). Essa Avaliação contribuiu de forma definitiva para
que a abordagem dos SE fosse inserida nas agendas políticas nacionais das nações
(Gómez-Baggethun et al., 2010; De Groot et al., 2017). As conferências da MEA
foram realizadas entre 2001 e 2005 com foco nas consequências das mudanças
dos ecossistemas para o bem-estar humano. As publicações que se seguiram a essas
conferências estabeleceram as bases científicas que subsidiam as ações necessá-
rias para induzir e fomentar a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas e
garantir o bem-estar humano. A MEA envolveu mais de 2 mil autores e revisores de
95 países e cunhou a definição mais aceita ultimamente de SE: "os serviços do ecos-
sistema são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas". Nesta avaliação,
para facilitar o seu entendimento, os SE foram classificados em quatro categorias:
suporte, regulação, provisão e culturais (ver detalhamento no Capítulo 1).

O relatório da conferência aborda de forma abrangente o conceito de serviços


ecossistêmicos. A partir de sua divulgação, a literatura sobre SE vem crescendo
exponencialmente (Waltner-Toews et al., 2008; Fisher et al., 2009; Power, 2010;
Costanza et al., 2017). Atualmente, mais amplo e consolidado, o termo e a definição
de SE se tornaram a base de estudos que medem, avaliam e valoram os diversos
aspectos relacionados à dependência da sociedade dos processos ecológicos da
natureza (Odum; Odum, 2000; Costanza et al., 2017).

Nestas últimas décadas, também foram organizados fóruns nacionais e interna-


cionais e criadas redes de pesquisas, plataformas, agências e institutos com foco na
abordagem dos SE. Esses eventos e organizações agregam diferentes instituições e
países. Como exemplos, destacam-se:

40
Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

1. A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA), iniciativa da ONU, executada


por um conjunto de cientistas de várias nações, com o objetivo de avaliar as
consequências da mudança do ecossistema para o bem-estar humano e a
base científica das ações necessárias para melhorar a conservação e o uso
sustentável desses sistemas (www.millenniumassessment.org).
2. A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB), iniciativa global cujo
objetivo é integrar os valores da biodiversidade e dos SE para interessados e
tomadores de decisão (www.teebweb.org/).
3. A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de
Ecossistemas (IPBES), criada em 2012, para avaliar o estado da biodiversidade
do planeta, seus ecossistemas e os serviços que estes fornecem para a
sociedade, bem como as ferramentas e métodos para proteger e usar de
forma sustentável esses recursos naturais vitais (Díaz et al., 2015) (www.
ipbes.net/). A Embrapa participa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade
e Serviços de Ecossistemas (BPBES) (www.bpbes.net.br).
4. A Ecosystem Service Partnership (ESP), rede mundial de especialistas para
melhorar a ciência e a aplicação prática de SE (Burkhard et al., 2010) (www.
es-partnership.org), onde a Embrapa participa e atualmente coordena a rede
nacional (Brazil ESP).
5. O Mapeamento e Avaliação de Ecossistemas e seus Serviços (MAES),
estratégia da União Europeia para reunir informação para orientar as decisões
sobre questões públicas complexas em conformidade com a avaliação dos
ecossistemas do milênio (EMA). (www.biodiversity.europa.eu/maes).
6. A Classificação Internacional Comum de Serviços de Ecossistemas (CICES),
criada com o objetivo de propor uma classificação comum para os SE
(Potschin; Haines-Young, 2017) (www.cices.eu).
7. O Projeto de Capital Natural, parceria entre a Universidade de Stanford, a
Universidade de Minnesota, The Nature Conservancy e o World Wildlife
Fund, com o objetivo de integrar o valor que a natureza fornece à sociedade
nas decisões importantes, de modo a melhorar o bem-estar de todas as
pessoas e da natureza (https://www.naturalcapitalproject.org/).
8. O Biodiversity Observation Network (GEO BON), que consiste em um sistema
global para o monitoramento das alterações nos serviços ecossistêmicos
(Tallis et al., 2012) (www.earthobservations.org/).
Diversos marcos conceituais foram elaborados para facilitar o intercâmbio e entendi-
mento desses termos entre os cientistas e os tomadores de decisão, que atuam em
áreas correlatas como ecologia, sociologia, economia, biologia, engenharia florestal
e outras (De Groot, 1987; De Groot et al., 2002; Wallace, 2007; Fisher et al., 2009;
Dominati et al., 2010). Contudo, concordâncias e críticas ainda permeiam o conceito
de SE em publicações científicas internacionais.
41
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Lima et al. (2015) mostraram que o número de artigos sobre SE saltou de 100 em
2004 para 1.600 em 2014. A maior parte desses trabalhos foi produzida nos EUA.
Com base em mais de 41 mil artigos acadêmicos, Balvanera et al. (2012) eviden-
ciaram o maior peso conferido aos SE ligados aos ciclos da água e do carbono. Os
autores mencionaram, ainda, que o sucesso da abordagem SE na América Latina
dependerá em grande parte da sua capacidade de conferir eficácia aos objetivos
de conservação e de desenvolvimento sustentável. A literatura científica sobre os
SE é vasta e apresenta discussões acerca de: aspectos conceituais (Wallace, 2007;
Fisher et al., 2009; Dick et al., 2018); quantificação (Fearnside, 2008; Alipaz, 2010);
aspectos relacionados à sua avaliação e valoração econômica (Gómez-Baggethun et
al., 2010; Lele et al., 2013; Heydinger, 2016; Murray, 2016; Kubiszewski et al., 2017);
funções ecológicas da biodiversidade (Lele et al., 2013; Schneiders; Müller, 2017);
aplicação de modelos sobre a dinâmica espaço-temporal na sua avaliação e moni-
toramento (Bürgi et al., 2015; Heydinger, 2016; Silva et al., 2017), entre outros.
Um histórico de 20 anos dos debates, das pesquisas geradas, das lições aprendidas e
novas recomendações sobre SE foi resumido por Costanza et al. (2017).

Gerando valor para os serviços ecossistêmicos


O termo "economia ecológica" começou a ser difundido na década de 1990, espe-
cialmente após Costanza et al. (1997) mostrarem que era possível estimar um
valor para os serviços dos ecossistemas. O relatório da Avaliação Ecossistêmica do
Milênio também foi considerado um marco importante na avaliação econômica dos
serviços ecossistêmicos, pois, embora não tenha abordado a valoração, serviu de
suporte da tomada de decisão em relação à conservação dos ecossistemas e de
seus serviços (Heydinger, 2016).

Em 2010, o estudo “A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade” (The


Economics of Ecosystems and Biodiversity – TEEB, 2010) acrescentou uma clara
conotação econômica. Esse estudo surgiu a partir da decisão dos ministros de meio
ambiente dos governos dos países G8+5 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão,
Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, mais as cinco principais economias emergentes –
África do Sul, Brasil, China, Índia e México), reunidos em 2007. A finalidade do TEEB
foi de "analisar os benefícios econômicos globais da diversidade biológica, os custos
da perda da biodiversidade e as falhas das medidas de proteção versus os custos
da sua efetiva conservação". Dessa forma, o interesse dos tomadores de decisão
voltou-se para a concepção de instrumentos de mercado que criassem incentivos

42
Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

econômicos para a conservação de processos da natureza. Em apenas duas déca-


das, um número cada vez maior de funções do ecossistema foi caracterizado como
serviço, avaliado em termos monetários e, em menor medida, incorporado a
mercados e mecanismos de pagamento (De Groot et al., 2017). Inicialmente, os
estudos foram centrados em SE individuais ou em avaliações econômicas de
SE específicos, os quais foram paulatinamente ampliando em escala e grau de
complexidade (inter-relacionamento de diferentes SE). Recentemente, tem sido
verificada a importância de considerar os aspectos interdisciplinares e transdisci-
plinares, além da dimensão social ou cultural nos estudos, projetos e programas
sobre SE (Costanza et al., 2017).

O uso da valoração fundamentalmente permitiu que os ecossistemas fossem conside-


rados em decisões que envolvam compensações (trade-offs) em avaliações implícita
ou explícita. A valoração explícita permite que as unidades de todos os elementos
sejam expressas no mesmo denominador, possibilitando a comparação direta de
compensações. Essas comparações, utilizando métodos de valoração econômica,
são usualmente realizadas em unidades monetárias, mas outras unidades como
tempo, energia ou área de terra também são possíveis (Kubiszewski et al., 2017).
Segundo Costanza et al. (2014), a valoração econômica não significa privatização
ou "comodificação" dos SE, uma vez que eles são tratados como bens públicos ou
comuns. Ao contrário, trata-se de ferramenta importante para nortear agências
públicas, na priorização de investimentos em ações de preservação, conservação,
recuperação e manutenção dos SE. Além da esfera política, setores sem fins lucra-
tivos, privados e financeiros também assimilaram o conceito de SE e passaram a
integrá-lo em suas tomadas de decisão (Gómez-Baggethun et al., 2010).

Uma política de SE não obrigatoriamente pressupõe a necessidade de pagamento


por prestação de serviços ambientais(1) (Mattos et al., 2011). No entanto, este
mecanismo vem sendo utilizado como mais uma entre as ferramentas disponíveis
que auxilia na conservação de processos ecológicos.

O termo PSA é entendido de forma ampla como um instrumento econômico para a


conservação ambiental. De uma forma mais restrita, PSA se refere a um instrumento
baseado no mercado para financiar a conservação e que considera os princípios do

1
Por tratar-se de uma designação de caráter científico adotado internacionalmente, optou-se por adotar
o termo serviços ecossistêmicos, considerando, como sinônimo, o termo serviços ambientais (vide
Capítulo 1).

43
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

usuário-pagador e provedor-recebedor, pelos quais, por meio de uma transação


voluntária, aqueles que se beneficiam dos serviços ambientais podem pagar por
eles, e aqueles que contribuem para a geração desses serviços devem ser com-
pensados por proporcioná-los (Pagiola et al., 2013). O PSA estabelece modelos de
incentivos à conservação, geralmente financeiros. Em linhas gerais, os programas
de PSA representam uma mudança de paradigma, visando conectar aqueles que se
beneficiam dos SE aos que mantêm a produção desses serviços, por meio de tran-
sações voluntárias (Coudel et al., 2015). Também valoriza os proprietários rurais
que promovem a conservação e uso sustentável da terra, visando à provisão de
SE. Com esse mecanismo de conservação, uma ampla gama de modelos de PSA vem
sendo utilizados.

Nos últimos anos, têm surgido grandes avanços com relação aos instrumentos
econômicos para a gestão ambiental no mundo e no Brasil. Esses instrumentos
buscam atender às metas ambientais, contornando a rigidez das políticas públicas,
que geralmente priorizam a regulação direta da utilização dos recursos naturais. A
abordagem do PSA foi adicionada recentemente a esse conjunto de instrumentos,
mas avança pelo País (Pagiola et al., 2013; Young; Bakker, 2015).

Evolução das iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil


No Brasil, a evolução das iniciativas de PSA é crescente (Pagiola et al., 2013). A
preocupação com os temas ambientais de setores, como o setor agropecuário e o
florestal, fomentou diversos estudos e projetos visando à avaliação, monitora-
mento e mapeamento dos recursos naturais. Esses esforços foram realizados por
diferentes instituições brasileiras de pesquisa, universidades bem como órgãos
governamentais e não governamentais, organizando e disponibilizando informa-
ções sobre os recursos naturais brasileiros (Trivedi et al., 2012; Prado, 2014). Os
mecanismos de PSA vêm sendo desenhados e aperfeiçoados. Iniciativas de PSA têm
ganhado a atenção da sociedade e dos gestores públicos como instrumento que
pode contribuir para a melhoria da qualidade ambiental em várias regiões do País
(Ahrens; Ahrens, 2015; Mattos, 2015; Parron et al., 2015).

Segundo Coudel et al. (2015), o desenvolvimento dos PSA no Brasil teve início a par-
tir dos anos 2000 por meio de Organizações não governamentais (ONGs) e gover-
nos locais, os quais criaram oportunidades de experimentação e compartilhamento de
experiências por todo o País. As etapas iniciais levaram em consideração agendas como:

44
Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

• Avaliação de práticas agroambientais;

• REDD+ dedicado a florestas;

• Gestão da água; e

• Transferência de renda para os mais pobres.

Diferentes modelos de PSA têm sido sugeridos e promoveram experiências


práticas importantes, bem como estimularam a criação de marcos legais e de
fundos específicos de apoio à implementação de programas de PSA em vários
níveis de governança.

A partir de 2006, os programas de PSA apresentaram expressivo crescimento, em


sintonia aos esforços de aprovar leis envolvendo PSA nas esferas federal, estadual
e municipal. Desde então, realizou-se uma variedade de experiências exitosas, com
a aplicação de PSA em diferentes escalas espaciais, abrangendo desde áreas remotas
de fronteiras florestais até áreas periurbanas de megacidades como São Paulo.
Também foram utilizadas diversas abordagens como: i) pagamento direto por usuá-
rios; ii) venda a mercados de carbono regulados e voluntários; iii) financiamento
governamental; iv) compensação ambiental; v) isenção de tributos, além de várias
combinações possíveis entre essas abordagens (Pagiola et al., 2013; Mattos, 2015).

No Brasil, os programas de PSA com vistas à produção e conservação de água


foram os mais difundidos. Em Minas Gerais, os municípios de Extrema e Montes
Claros foram precursores com os programas locais de PSA em 2006, sendo seguidos
por outros estados da federação com o apoio de ONGs (Pagiola et al., 2013). O
Programa Conservador das Águas, em Extrema, MG, é o mais conhecido por ser
a primeira iniciativa municipal a realizar PSA para proprietários rurais em troca da
garantia do fornecimento de SE ligados aos recursos hídricos (Jardim; Bursztyn,
2015). A Agência Nacional de Águas (ANA), também em 2006, criou o Programa
Produtor de Água, com a proteção hídrica rural como principal foco, sendo diri-
gido prioritariamente às bacias hidrográficas de importância estratégica para o País
(Fidalgo et al., 2017). O número de programas de PSA hídricos aumentou de 42 em
2011 para 52 em 2014 (Fidalgo et al., 2017). Essa expansão ocorreu inicialmente
no bioma Mata Atlântica, e posteriormente em outros biomas, principalmente no
Cerrado (Prado et al., 2015a). A maioria dos programas que focam ações de conser-
vação dos SE ligados aos recursos hídricos se restringem principalmente ao Sul do

45
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

País, enquanto os projetos de sequestro de carbono são amplamente distribuídos


(Pagiola et al., 2013).

Uma visão geral das legislações, políticas e iniciativas voltadas à provisão e manu-
tenção dos serviços ecossistêmicos no Brasil é tratado com maior profundidade no
Capítulo 3.

Serviços ecossistêmicos para a sustentabilidade da agricultura, na


pesquisa da Embrapa
A Embrapa tem por missão viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e
inovação para a sustentabilidade da agricultura, de modo a fortalecer a agricultura
familiar e o agronegócio. A busca por indicadores de sustentabilidade dos agroe-
cossistemas tem sido realizada por meio de pesquisas de ganhos em produtividade
vegetal e animal, bem como na manutenção da produção de serviços ecossistêmicos,
em diferentes escalas espaciais e abrangendo os diversos biomas que compõem o
território brasileiro (Prado et al., 2015b).

A organização do tema dentro da Embrapa se iniciou em 2011, com a identificação


dos projetos de pesquisa sendo executados, que tratavam diretamente sobre serviços
ambientais. Apesar de ser um tema novo à época, os 12 projetos identificados
abrangeram as regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Essa busca possibilitou a rea-
lização de uma primeira Oficina de Pesquisa em Serviços Ambientais na Embrapa,
que buscou integrar os diferentes grupos de pesquisa no tema, assim como nivelar
conceitos básicos, avaliar demandas da sociedade, mapear desafios e oportunidades,
definir estratégias e mecanismos eficientes para viabilizar formas de cooperação e
de integração entres os grupos de pesquisa no tema, dentro da Empresa (Embrapa,
2012a, 2012b). O grupo optou pelo uso do termo serviços ambientais, como sinô-
nimo de serviços ecossistêmicos, utilizando a conceituação e classificação pro-
posta na Avaliação de Ecossistemas do Milênio (Millennium Ecosystem Assessment,
2005), e as funções ecossistêmicas, de acordo com De Groot et al. (2002).

Após o evento, acordada a necessidade de troca de conhecimentos e experiências


sobre o tema serviços ambientais, foi formada uma Rede de Pesquisa em Serviços
Ambientais na Embrapa (Rede PSAE). Essa rede, composta inicialmente pelos inte-
grantes daquela oficina, se expandiu para os grupos de pesquisa da Embrapa nas
diferentes regiões do Brasil. A realização da oficina e a constituição da Rede PSAE
sinalizaram e fomentaram o tema dentro da Empresa, possibilitando a abertura de

46
Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

novos espaços e oportunidades para projetos e trocas de conhecimento, bem como


fortalecendo o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no tema
"serviços ambientais" dentro da Embrapa (Embrapa, 2012a, 2012b).

Posteriormente, os diversos grupos de pesquisa da Embrapa, em todos os biomas


brasileiros e com foco em serviços ecossistêmicos, foram identificados para o esta-
belecimento de uma rede de pesquisa interunidades intitulada "Serviços Ambientais
na Paisagem Rural". Essa rede, que conta também com parceiros externos, públicos
e privados, engloba diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento e tem o obje-
tivo de identificar e tornar públicos os avanços no conhecimento, as tecnologias e
as ferramentas para subsidiar ações e políticas públicas de restauração, manutenção
e ampliação da produção de serviços ambientais em agroecossistemas, bem como
fomentar iniciativas de sistemas de produção de base sustentável adaptados aos
diferentes biomas e particularidades regionais. Esse trabalho em rede é de suma
importância para criar novas soluções e oportunidades para as diferentes demandas
da sociedade brasileira, gerando subsídios à conservação, recuperação e valoriza-
ção dos serviços ambientais em agroecossistemas, bem como a preservação de
ecossistemas naturais nos biomas brasileiros.

Essa rede de pesquisa foi estruturada em três macroeixos:

1. Avaliação e análise integrada como suporte à decisão, que inclui indicadores


de SA, análise da paisagem e políticas públicas.

2. Desenvolvimento e adaptação de métodos e ferramentas, que inclui


metodologias para avaliação, monitoramento, valoração e análise espacial
de SA.

3. Organização da informação e transferência/comunicação.

Essa rede de Pesquisa em SA reúne uma carteira de projetos que atuam em diver-
sas linhas de pesquisa, tais como: Análise e avaliação de políticas públicas em SE;
Avaliação, monitoramento e modelagem em SE; Capacitação e troca de expe-
riências em SE; Ferramentas para sistematização e padronização de métodos
e organização da informação em SE; Geotecnologias aplicadas à análise de SE;
Seleção, validação e aplicação de indicadores em SE; Suporte à compensação e
valoração de SE; Tecnologias, práticas, recomendações e alternativas conservacio-
nistas para provisão de SE aos agroecossistemas, entre outros. Espera-se que os
seguintes benefícios ocorram com a divulgação dos resultados de pesquisa dessa

47
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Rede SE: sensibilização da sociedade sobre a importância dos serviços ambientais;


determinação de conexões entre as mudanças nos ecossistemas e os impactos
sobre os serviços ecossistêmicos e ambientais; espacialização do status dos serviços
ambientais nas diferentes regiões brasileiras identificando áreas potenciais, críti-
cas e vulneráveis; fornecimento de dados capazes de uso em modelos preditivos
de impactos ambientais; subsídio a ações mitigadoras fomentadas pelos PSAs;
promoção de intercâmbio entre pesquisadores dos diferentes biomas brasileiros
e entre os diferentes atores e tomadores de decisão, capazes de mitigar impac-
tos negativos e promover aumento dos serviços ecossistêmicos e ambientais
(Prado et al., 2015b).

Considerações finais

• O conceito de serviços ecossistêmicos, elaborado há mais de 3 décadas,


tem definitivamente se estabelecido na esfera mundial, ancorado inicialmente
pelas publicações científicas da "Avaliação Ecossistêmica do Milênio", em 2005.

• O conceito evoluiu da avaliação das alterações nos ecossistemas com


relação à permanência e a continuidade da vida na terra, para incluir também
aspectos socioeconômicos ao componente ambiental apontando indicadores de
sustentabilidade ao processo produtivo, fomentado por programas como o PSA.

• A valoração dos serviços ecossistêmicos permitiu que a provisão e manutenção


dos serviços ecossistêmicos fosse fomentada e incentivada por instrumentos
econômicos que surgiram no cenário, como as iniciativas de Pagamentos por
Serviços Ambientais (PSA);

• Apesar de ainda prevalecer uma visão reducionista, baseada na avaliação


individual de cada SE, abordagens sistêmicas e interdisciplinares, onde são
avaliados múltiplos SE e suas interações, vêm se consolidando.

• Diferentes redes de pesquisa e experiências práticas fortalecem o tema


e ampliam a discussão nos governos e na sociedade de diferentes países,
contribuindo ainda mais para ampliar os aspectos legais que envolvem a temática.

• O Brasil vem desenvolvendo, nas últimas décadas, um vasto conhecimento,


técnicas de avaliação, monitoramento e valoração de SE, além de políticas
nacionais que favorecem a conservação de SE. A abordagem de PSA, como
parte de um conjunto de ferramentas econômicas, tem proporcionado avanços
importantes nos níveis estadual e municipal, mas ainda com algumas lacunas
a serem melhoradas, especialmente a regulamentação de mecanismos que
favoreçam a atribuição financeira aos recursos e processos naturais dos
ecossistemas.

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Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

• A Embrapa, como instituição de pesquisa nacional, incorporou o tema


em sua agenda de atuação e fomentou uma rede de pesquisa para avançar
no conhecimento, na geração de tecnologias e de ferramentas para subsidiar
ações e políticas públicas de restauração, manutenção e ampliação da produção
de serviços ambientais nos agroecossistemas dos diferentes biomas brasileiros.

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Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

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54
Serviços ecossistêmicos: histórico e evolução

55
Capítulo 3

Serviços ecossistêmicos:
instrumentos legais e
políticos no Brasil
Rachel Bardy Prado
Joice Nunes Ferreira
Bernadete da Conceição Carvalho Gomes Pedreira
Gustavo Bayma Siqueira da Silva
Ivan Bergier Tavares de Lima
Joyce Maria Guimarães Monteiro
Rafael Gonçalves Tonucci
Lucília Maria Parron
Mônica Matoso Campanha
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Lilian Terezinha Winckler
Débora Pignatari Drucker
Adriana Reatto dos Santos Braga
Sérgio Ahrens
Margareth Gonçalves Simões
Luiz Fernando Duarte de Morais
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Introdução
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millennium Ecosystem Assessment, 2005)
alertou o mundo para a dependência humana do Capital Natural e identificou que
os serviços ecossistêmicos (SE) em várias partes do mundo têm sido degradados
mais rápida e profundamente nos últimos 50 anos do que em qualquer outro perí-
odo análogo da história da humanidade. A avaliação indica declínios acentuados de
SE para as próximas décadas, dadas as perspectivas de crescimento populacional,
da lenta adaptação para uma econômica circular e as alterações climáticas globais.

Desde então, diversos estudos vêm sendo conduzidos mundialmente para a avalia-
ção, o monitoramento, a modelagem e a valoração econômica dos SE. Também no
âmbito dos tomadores de decisão, instrumentos e políticas públicas têm buscado
incentivar e estimular a conservação ambiental e a promoção de ações para a
mitigação da emissão de gases de efeito estufa e para a adaptação às mudanças
climáticas. O histórico desses estudos e iniciativas foi apresentado no Capítulo 2.

A implementação desses instrumentos e políticas requer regulações em seus dife-


rentes níveis. Com isso, arcabouços jurídicos têm sido elaborados e colocados em
prática no mundo; portanto, no Brasil, não poderia ser diferente.

De maneira geral, dentre os instrumentos existentes, o Pagamento por Serviços


Ambientais (PSA) vem ocupando cada vez mais espaço na agenda ambiental bra-
sileira. Destaca-se que, em termos de instrumentos jurídicos, eles têm sido criados
principalmente nos níveis estadual e municipal, visto que o País ainda não possui
uma legislação ou política específica para regular os PSAs no território nacional.

Há atualmente extensa literatura acerca dos instrumentos legais e políticos em


estados e municípios do Brasil, os quais estabelecem diretrizes específicas sobre SE
para diversos setores da sociedade (Riva et al., 2007; Novion; Valle, 2009; Mattos;
Hercowitz, 2011; Eloy et al., 2013; Pagiola et al., 2013; Ahrens; Ahrens, 2015;
Incentivos..., 2015; Guia..., 2017; Leite; Anguita, 2017 e outras).

Contudo, são ainda necessárias novas abordagens baseadas nos aprendizados das
iniciativas de PSA em andamento, tornando-as mais efetivas ambientalmente e jus-
tas socialmente. Inovações nesse sentido poderiam subsidiar a regulamentação das
legislações existentes e, sobretudo, contribuir para o avanço da tramitação e sucesso
de projetos de Lei Federal de PSA no Congresso Nacional (Leite; Anguita, 2017).

58
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

O presente capítulo tem por finalidade descrever e analisar alguns instrumentos


legais e políticos nacionais de maior relevância e mais atuais, apontando-se aspectos
positivos e limitações para assegurar a manutenção e a provisão de SE em siner-
gia com iniciativas e plataformas globais. Um item específico resume o estado da
arte de instrumentos legais e políticos estaduais e municipais. O capítulo também
aborda como a pesquisa da Embrapa e seus parceiros pode contribuir para tornar
as ações no âmbito desses instrumentos legais e políticos mais efetivas e robustas.

Como ocorre a abordagem dos serviços ecossistêmicos nos


instrumentos legais e políticos brasileiros?
Há no Brasil diversas leis e políticas para assegurar a provisão e a manutenção dos
SE no longo prazo.

Avanços na legislação e políticas ambientais ocorreram nos últimos 20 anos. A Tabela 1


apresenta os principais instrumentos legais e políticos com suas principais características.

Tabela 1. Principais instrumentos legais e políticos ambientais em vigor nos últimos anos.
Instrumentos Nome Criação Objetivo
legais e políticos
Lei nº 9.433 Política Nacional 1997 Estabelecer instrumentos para a gestão
de Recursos dos recursos hídricos de domínio federal
Hídricos (aqueles que atravessam mais de um
estado ou fazem fronteira) e criar o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH).
Lei nº 9.605 Lei de Crimes 1998 Dispor sobre as sanções penais e
Ambientais administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente e dar
outras providências.

Lei nº 9.985 Sistema Nacional 2000 Potencializar o papel das Unidades de


de Unidades de Conservação (UCs), de modo que sejam
Conservação planejadas e administradas de forma
(SNUC) integrada, assegurando que amostras
significativas e ecologicamente viáveis
das diferentes populações, habitats e
ecossistemas estejam adequadamente
representadas no território nacional e nas
águas jurisdicionais.
Continua...

59
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Tabela 1. Continuação.
Instrumentos Nome Criação Objetivo
legais e políticos
Decreto nº 4.339 Política Nacional 2002 Implementar as obrigações assumidas
de Biodiversidade na Convenção de Biodiversidade
(CDB) e promover, de forma integrada,
a conservação da biodiversidade
e a utilização sustentável de seus
componentes, com a repartição justa e
equitativa dos benefícios derivados da
utilização dos recursos genéticos, de
componentes do patrimônio genético e dos
conhecimentos tradicionais associados a
esses recursos.
Lei nº 10.650 Lei sobre Dados 2003 Realizar a gestão ambiental no Brasil, sendo
e Informações do o sistema formado pelos órgãos e entidades
Sistema Nacional da União, dos estados, do Distrito Federal e
de Meio Ambiente dos municípios responsáveis pela proteção,
(Sisnama) melhoria e recuperação da qualidade
ambiental no Brasil.
Lei nº 11.428 Lei da Mata 2006 Promover a conservação, a proteção, a
Atlântica regeneração e a utilização do Bioma Mata
Atlântica, patrimônio nacional.
Lei nº 11.284 Lei de Gestão de 2006 Realizar a gestão de florestas públicas para
Florestas Públicas produção sustentável, instituir o Serviço
Florestal Brasileiro (SFB), na estrutura
do Ministério do Meio Ambiente, e criar
o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Florestal (FNDF).
Decreto nº 5.902/ Utilização 2004/2007 Executar o Quinquagésimo Oitavo
Portaria MMA Sustentável e Protocolo Adicional ao Acordo de
nº 09 Repartição dos Complementação Econômica no 18, entre
Benefícios da os Governos da República Federativa
Biodiversidade do Brasil, da República da Argentina, da
República do Paraguai e da República
Oriental do Uruguai.
Decreto nº 7.747 Política Nacional 2012 Garantir e promover a proteção, a
de Gestão recuperação, a conservação e o uso
Territorial e sustentável dos recursos naturais das
Ambiental de terras e territórios indígenas, assegurando
Terras Indígenas a integridade do patrimônio indígena,
a melhoria da qualidade de vida e as
condições plenas de reprodução física
e cultural das atuais e futuras gerações
dos povos indígenas, respeitando sua
autonomia sociocultural, nos termos da
legislação vigente.
Continua...

60
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Tabela 1. Continuação.
Instrumentos Nome Criação Objetivo
legais e políticos
Decreto nº 8.505 Programa de 2015 Apoiar a criação e a consolidação de
Áreas Protegidas unidades de conservação federais e
da Amazônia estaduais de proteção integral e de uso
sustentável na região amazônica que
integram o Programa; auxiliar a manutenção
dessas unidades, conforme seus manuais
e normas; propor mecanismos que
garantam a sustentação financeira em
longo prazo; e promover a conservação da
biodiversidade na região e contribuir para o
seu desenvolvimento sustentável de forma
descentralizada e participativa.

Ao longo das últimas décadas no Brasil, os mecanismos do princípio poluidor-


-pagador, que visavam punir os responsáveis pela degradação ambiental vêm sendo
substituídos ou complementados por instrumentos de incentivos econômicos ou
financeiros fundados no princípio do protetor-recebedor.

Segundo Veiga Neto (2008), o princípio central da compensação por SE consiste no


reconhecimento daqueles que proveem o serviço e, portanto, devem ser recom-
pensados por isso, e daqueles que se beneficiam do serviço (a sociedade local,
regional ou global) e que devem realizar compensação pela geração dos SE. O
princípio protetor-recebedor possibilita a participação de vários atores sociais
interessados na gestão pública e privada ambiental, de forma democrática e valo-
rizando o papel do conservador, ou seja, daqueles que adotam práticas conserva-
cionistas em suas atividades.

O Programa Bolsa Floresta na Amazônia; o Sistema Nacional de Unidade de


Conservação (SNUC); a Lei Chico Mendes na Amazônia, que proporciona subsídios
ao extrativismo da borracha; o Programa de Desenvolvimento Socioambiental da
Produção Familiar Rural (Proambiente), relacionado às práticas sustentáveis exer-
cidas pelos agricultores familiares, são exemplos de mecanismos de compensa-
ção financeira e outros incentivos à preservação ambiental adotados no Brasil. O
Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), criado em 2010, é
uma iniciativa governamental destinada à concessão de crédito a juros baixos
para agricultores que adotam práticas agrícolas sustentáveis em suas proprie-
dades (Brasil, 2010).

61
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

A partir de 2001, iniciativas de Pagamento por Serviços ambientais (PSA) começa-


ram a surgir e se multiplicar no País, bem como os marcos regulatórios relacionados
ao tema (Coudel et al., 2015). Idealizados como instrumentos de mercado na
literatura científica, na prática os PSAs combinam mecanismos de mercado com
regulamentação governamental e subsídios aos agricultores (Eloy et al., 2013).
Guedes e Seehusen (2011) e Pagiola et al. (2013) apresentam um panorama das
iniciativas de PSA no Brasil, focados no carbono, na biodiversidade e na água.

Segundo a “Pesquisa de Informações Básicas Municipais”, do IBGE (2012), recebe-


ram recursos para PSA 131 dos 449 municípios da região Norte (29%), 111 dos 1.794
do Nordeste (6%), 405 dos 1.668 do Sudeste (24%), 225 dos 1.188 do Sul (19%),
e 105 dos 466 do Centro-Oeste (22%). O IBGE classificou as iniciativas de PSA em
cinco modalidades: 1) promoção à conservação e melhoramento da quantidade
e da qualidade dos recursos hídricos; 2) conservação e preservação da vegetação
nativa e da vida silvestre; 3) conservação, recuperação ou preservação do ambiente
natural nas áreas de Unidades de Conservação; 4) recuperação e conservação dos
solos e recomposição da cobertura vegetal de áreas degradadas; e 5) conservação
de remanescentes vegetais em áreas urbanas (IBGE, 2012). De forma geral, os
maiores valores para ações e iniciativas no País estão concentrados na modalidade
1. A exceção ocorre na região Sul, onde a maioria das ações e iniciativas centram-se
na modalidade 4.

Quais são os principais instrumentos legais e políticos relacionados


aos serviços ecossistêmicos no Brasil?
Os instrumentos legais e políticos nacionais selecionados como mais relevantes e
de maior abrangência no País, que utilizam explicitamente a abordagem dos SE são
descritos e analisados a seguir.

Política Nacional sobre Mudança do Clima e Plano Agricultura de Baixo Carbono

Durante a 15ª Conferência das Partes (COP-15), o Governo Brasileiro divulgou


o seu compromisso voluntário de redução entre 36,1% e 38,9% das emissões
de gases de efeito estufa (GEE) até 2020. Esses compromissos estão ratificados
na Lei nº 12.187/2009, que estabelece a Política Nacional sobre Mudanças do
Clima (PNMC) para vigorar no território nacional, com ênfase na Amazônia e no
Cerrado (Brasil, 2009a).

62
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

O Decreto Regulamentador da PNMC (Decreto nº 7.390/ 2010) propôs a criação


do Plano para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na
Agricultura (Plano ABC) (Brasil, 2010). O Plano ABC estabelece metas para a redu-
ção de emissões na agricultura entre 134 a 163 milhões de toneladas de CO2 equiva-
lente (tCO2 eq.) até 2020. Essa redução seria alcançada pela adoção de tecnologias,
a saber: a) Recuperação de Pastagens Degradadas; b) Integração Lavoura-Pecuária-
Floresta (iLPF); c) Sistema Plantio Direto (SPD); d) Fixação Biológica de Nitrogênio
(FBN); e) Plantio de Florestas; e f) Tratamento de Dejetos Animais (Brasil, 2012b).

As tecnologias conservacionistas previstas no Plano ABC estão vinculadas à “eco-


nomia de baixo de carbono”, promovendo a mitigação da emissão dos gases do
efeito estufa na agricultura por meio da redução do desmatamento e da adoção
de sistemas produtivos mais eficientes e capazes de estocar carbono no solo e nas
florestas plantadas.

Portanto, o Plano ABC fomenta a capacidade adaptativa do setor agropecuário


frente aos desafios impostos da mudança do clima, exercendo impactos positivos
na manutenção da provisão de serviços ecossistêmicos (Cuadra et al., 2018). As
tecnologias conservacionistas previstas no Plano ABC podem contribuir para a
redução das taxas de erosão do solo, incrementar o estoque de matéria orgânica
e de carbono do solo e maximizar a disponibilidade e os fluxos de nutrientes, auxi-
liando na melhoria da fertilidade do solo, da eficiência da produtividade agrícola e
da conservação da biodiversidade.

O Plano ABC conta com uma linha de crédito, o Programa ABC, que concede
recursos a baixas taxas aos produtores rurais para financiar a adoção das tec-
nologias ABC. O Programa ABC foi lançado na safra de 2010/2011, e, até a de
safra 2016/2017, já foram disponibilizados cerca de R$ 25,4 bilhões de crédito
aos agricultores (Observatório ABC, 2018). Além do plano ABC nacional, vários
estados brasileiros estruturaram seus planos ABC estaduais. Alguns desses pla-
nos estaduais citam diretamente como estratégia de implantação o pagamento
por serviços ambientais, como, por exemplo, os dos estados do Espírito Santo
e de Minas Gerais.

O Plano ABC criou uma estrutura de governança que incentiva os produtores rurais
a adotar tecnologias conservacionistas, oportunizando a internalização do tema no
cenário nacional, promovendo campanhas publicitárias e de divulgação, a capacita-
ção de técnicos e produtores rurais, a transferência de tecnologia e o crédito rural.

63
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Apesar de o plano não citar diretamente o pagamento por serviços ambientais,


essa política pública incentiva o desenvolvimento de boas práticas no setor agrope-
cuário e são capazes de estimular e alavancar a intensificação sustentável do setor
agrícola no cenário nacional.

Política Nacional de Biodiversidade

Os compromissos assumidos pelos membros da CDB (Convenção sobre Diversidade


Biológica), assinada por 192 países e a União Europeia durante a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, consolidam as
estratégias, políticas, planos e programas nacionais de biodiversidade.

A CDB define diversidade biológica como:

a variabilidade de organismos vivos de qualquer origem,


compreendendo, entre outros, ecossistemas terrestres,
marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos
ecológicos de que fazem parte; isto inclui a diversidade dentro
de espécies, entre espécies e de ecossistemas. (Convention on
Biological Diversity, 2018, tradução nossa).

Assim, o termo “biodiversidade” refere-se tanto à riqueza de espécies quanto à


sua variabilidade e complementaridade biológica entre ecossistemas, ressaltando a
importância estratégica dos serviços ecossistêmicos e dos benefícios imprescindíveis
da natureza para a humanidade.

Ao adotar o Plano Estratégico da CDB, os países signatários se comprometeram


a alcançar, até 2010, uma redução significativa na taxa de perda de diversidade
biológica nos níveis mundial, regional e nacional. Porém, a meta acordada pelos
governos do mundo em 2002 de “atingir até 2010 uma redução significativa da
taxa atual de perda de biodiversidade ao nível global, regional e nacional, como
uma contribuição para a diminuição da pobreza e para o benefício de toda a vida
na Terra” não foi alcançada (Convention on Biological Diversity, 2018). Para rever-
ter esse quadro, a 10ª Conferência das Partes da CDB, realizada em outubro de
2010, em Nagoya, no Japão, aprovou o seu Plano Estratégico para o período 2011
a 2020. O Plano Estratégico relacionou a biodiversidade ao bem-estar humano,
aos Objetivos do Milênio e à redução da pobreza, e vai além de 2020, definindo
a situação desejada para 2050. O Plano Estratégico da CDB apresenta 20 metas,

64
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

chamadas de “Metas de Aichi de Biodiversidade”, que tem como visão: “Em 2050,
a biodiversidade será valorizada, conservada, restaurada e utilizada com sabe-
doria, mantendo os serviços ecossistêmicos, sustentando um planeta saudável e
provendo benefícios essenciais para todas as pessoas” (Convention on Biological
Diversity, 2018). Dessa forma, fica explícita a importância crescente atribuída aos
serviços ecossistêmicos.

A CDB foi Ratificada pelo Brasil em 1994 (Decreto nº 2/1994) e promulgada pelo
Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998 (Brasil, 1994, 1998). O compromisso
de instituir uma Política Nacional de Biodiversidade (PNB) foi concretizado em 2002
(Brasil, 2002b). A PNB tem por objetivo a promoção da conservação integrada da
biodiversidade e da utilização sustentável de seus componentes. Justifica-se pela
necessidade de maior integração dos atores sociais envolvidos no tema, em função
dos distintos níveis de comprometimento dos agentes públicos e privados nos esfor-
ços de conservação, uso sustentável e repartição de benefícios decorrentes do uso
da biodiversidade dos biomas brasileiros. É formada por sete componentes, a saber:

1. Conhecimento da Biodiversidade: congrega diretrizes voltadas à geração


de informações que apoiem a gestão da biodiversidade e a realização de
pesquisas.

2. Conservação da Biodiversidade: engloba diretrizes destinadas à conservação


in situ e ex situ de ecossistemas, incluindo os serviços ecossistêmicos, e de
espécies vulneráveis, ameaçadas de extinção e com potencial econômico.

3. Utilização Sustentável dos Componentes da Biodiversidade: reúne diretrizes


para a utilização sustentável da biodiversidade e da biotecnologia, para o
estabelecimento de mecanismos e instrumentos econômicos e práticas e
negócios sustentáveis que garantam a manutenção e a funcionalidade dos
ecossistemas, considerando não apenas o valor econômico, mas também os
valores sociais e culturais da biodiversidade.

4. Monitoramento, avaliação e mitigação de impactos sobre a biodiversidade:


engloba diretrizes para fortalecer os sistemas de monitoramento, avaliação
e mitigação de impactos sobre a biodiversidade, bem como promover a
recuperação de ecossistemas degradados.

5. Acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados


e repartição de benefícios: alinha diretrizes que promovam o acesso e a
distribuição dos benefícios gerados pelo uso dos recursos genéticos e dos
conhecimentos tradicionais associados.

65
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

6. Informação, sensibilização pública e educação: define diretrizes e especifica


os objetivos destinados a divulgar as informações sobre biodiversidade e a
promover a participação da sociedade; e

7. Fortalecimento Institucional: agrega as diretrizes que viabilizem a


implementação da política por meio do fortalecimento da infraestrutura,
da formação de recursos humanos, da cooperação interinstitucional e
intersetorial, de mecanismos de financiamento, de atos internacionais e de
cooperação internacional.
Na PNB, está explícita a importância da promoção de pesquisas ecológicas e
estudos sobre o papel dos seres vivos na funcionalidade dos ecossistemas. Uma
das ações para o cumprimento dos dispositivos da CDB e em conformidade com
as Diretrizes da PNB foi a instituição o Programa de Pesquisa em Biodiversidade
(PPBio) (Portaria MCT nº 268/2004) (Brasil, 2004), com o principal objetivo de
promover o desenvolvimento de pesquisa, a formação e a capacitação de recursos
humanos e o fortalecimento institucional na área da Pesquisa & Desenvolvimento
da diversidade biológica, em conformidade com as diretrizes da PNB (Magnusson,
2013). A Embrapa contribui em inúmeras atividades de pesquisa do PPBio em todo
o território brasileiro.

Código Florestal e Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa

A Lei nº 12.651/2012, denominada de Código Florestal, que dispõe sobre a proteção


da vegetação nativa brasileira, oferece uma oportunidade de construir um modelo de
desenvolvimento rural que favoreça uma melhor provisão de serviços ecossistêmicos,
no que diz respeito a uma melhor conservação da biodiversidade (e benefícios associa-
dos, como polinização, obtenção de renda alternativa, etc.), uma melhor conservação do
solo e um ambiente com melhor provisão e regulação hídrica (Brasil, 2012a).

No seu artigo 41, atribui ao poder executivo federal o estabelecimento de um


programa de apoio e fomento à conservação do meio ambiente, por meio do PSA
como retribuição às atividades que geram os SE, como o sequestro de carbono, a
conservação da beleza cênica, da biodiversidade e dos recursos hídricos, além da
regulação do clima (Leite; Anguita, 2017).

Vários instrumentos são mencionados nessa lei, que se somam aos já existentes,
como é o caso da Cota de Reserva Ambiental (CRA), que permitirá a compensação
de reserva legal de imóveis em locais distintos ao que se obriga recompor, abrindo,
assim, um novo leque de possibilidades de recomposição e conservação da vegetação

66
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

nativa, inclusive com a possibilidade de apoiar a regularização de unidades de


conservação públicas.

Além disso, com a instituição do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que se tornou
obrigatório por essa mesma lei, há a possibilidade de surgirem novos mecanis-
mos de cooperação/interação produtores-consumidores, já que o CAR facilitará
o acompanhamento, o monitoramento e a rastreabilidade da produção rural,
expondo-a às exigências do consumo responsável. Numa análise sobre as implica-
ções do Código Florestal brasileiro sobre os serviços ecossistêmicos, Ahrens e Ahrens
(2015) consideram que houve um avanço na previsão normativa para o pagamento por
serviços ambientais, embora o disposto no art. 41 ainda necessite de regulamenta-
ção para que seja possível dar-lhe plena efetividade. Se aplicado com rigor, o Código
Florestal poderia prevenir uma perda líquida de 53,4 milhões de hectares de
floresta e vegetação nativa até 2050, dos quais 43,1 Mha (81%) estão na Amazônia;
a aplicação do Código Florestal poderia contribuir com até 1,03 PgCO2 e para a
ambiciosa meta de redução de emissões de GEE estabelecida pelo Brasil para
2030 (Soterroni et al., 2018).

Atividades relativas à manutenção de Áreas de Proteção Permanente (APPs) e


Reserva Legal (RL) são elegíveis para recebimento de PSA, priorizando-se, todavia,
os agricultores familiares com menor renda. Antes da vigência dessa lei, a conserva-
ção da vegetação que integrasse tais espaços protegidos constituía o cumprimento
de uma limitação administrativa e, por esse motivo, não permitia qualquer espécie
de compensação monetária, impedimento que foi superado com a edição de nova
ordem normativa.

Embora não contemple de forma explícita o PSA, o Decreto nº 8.972/2017 insti-


tui a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg) (Brasil, 2017)
e tem como objetivo articular, integrar e promover políticas, programas e ações
que impulsionem a recuperação de florestas e demais formas de vegetação nativa.
Também visa impulsionar a regularização ambiental de, no mínimo, 12 milhões
de hectares das propriedades rurais brasileiras até 31 de dezembro de 2030. É
complemento necessário, no âmbito das políticas públicas ambientais, para viabi-
lizar diferentes políticas setoriais e transetoriais, como as de combate à fome e à
miséria, mudanças climáticas, agricultura sustentável, recursos hídricos e energia,
para mencionar os mais relevantes.

67
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Essa política tem como principal instrumento o Plano Nacional de Recuperação da


Vegetação Nativa (Planaveg). Seu principal objetivo é ampliar e fortalecer políticas
públicas, incentivos financeiros, mercados e boas práticas agrícolas para a recupe-
ração, principalmente de APP e RL, além de áreas degradadas e de baixa produti-
vidade. Para tal, baseia-se em ações de sensibilização, de promoção da recuperação
da cadeia produtiva, de desenvolvimento de mercados e de geração de receitas,
da extensão rural e de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação para reduzir custos
e melhorar a eficiência de ações de recuperação da vegetação nativa. Deverá se
integrar ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), ao Sistema Nacional de
Cadastro Ambiental Rural (Sicar), ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e
às linhas de ação de apoio e incentivo à conservação ambiental autorizadas pelo já
mencionado art. 41 da Lei nº 12.651/2012.

Ainda, no âmbito do Proveg, foi instituída a Comissão Nacional para Recuperação


Nativa (Conaveg). O Conaveg é um colegiado que possui como atribuição bus-
car, monitorar e avaliar a implementação do Planaveg e Proveg. Conta com
representante de estados, municípios, sociedade civil organizada e academia,
entre outros.

Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais – Projetos de Lei

Ainda não existe no Brasil uma lei ou política que regulamente o PSA, embora diver-
sos projetos de lei (PL) federais estejam em tramitação no Congresso Nacional.
Esses PLs têm por objeto estabelecer uma Política Nacional de Pagamento por
Serviços Ambientais (PNPSA). Podem-se citar: o PL nº 792/2007, que dispõe sobre
a definição de Serviços Ambientais e outras providências; o PL nº 5.487/2009, que
institui a Política Nacional dos Serviços Ambientais; o PL nº 1.274/2011, que institui
o Programa Nacional de Compensação por Serviços Ambientais e o Fundo Federal
de Pagamento por Serviços Ambientais; o PL nº 276/2013, que institui a Política
Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais; e o PL nº 312/2015, que reedi-
tou o PL nº 1274/2011, que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços
Ambientais (PNPSA), entre outros PLs apensados.

Uma PNPSA tem por objetivo disciplinar a atuação do Poder Público em prol da
manutenção e melhoria dos serviços ecossistêmicos no território nacional, espe-
cialmente nas áreas prioritárias à conservação da biodiversidade. Objetiva também
fomentar o desenvolvimento sustentável e a promoção de geração de trabalho e
renda para populações mais vulneráveis sob o aspecto socioeconômico e recompensar

68
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

financeiramente o produtor rural que desenvolver iniciativas de preservação ou


recuperação ambiental em sua propriedade (Brasil, 2009b).

O conjunto de iniciativas legislativas em prol da criação de uma Política Nacional


de Pagamento por Serviços Ambientais, com o auxílio de instrumentos como
o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais, o Fundo Federal de
Pagamento por Serviços Ambientais e o Cadastro Nacional de Pagamento por
Serviços Ambientais, aponta para uma tendência de valorização dos serviços ecos-
sistêmicos visando adotar novas estratégias de conservação e recuperação do meio
ambiente no Brasil. Tais iniciativas reconhecem a relevância da atuação humana
para a manutenção, recuperação ou melhoramento desses serviços, além da pos-
sibilidade de se estabelecer uma contraprestação, pecuniária ou não, decor-
rente dessa atuação. Contemplam também a necessidade de promover alternativas
para a geração de renda das populações em situação de vulnerabilidade socioeco-
nômica (Guerra, 2016).

As diretrizes do PNPSA contemplam: o atendimento aos princípios do provedor-


-recebedor, do poluidor-pagador e do usuário-pagador; o reconhecimento de que
a conservação, a recuperação ou a melhoria dos SA contribuem para a manutenção
da qualidade de vida da população; o PSA como instrumento de promoção do
desenvolvimento social, ambiental, econômico e cultural das populações tradicionais,
dos povos indígenas e dos agricultores familiares; a integração e a coordenação
das políticas setoriais, de meio ambiente, agricultura, energia, pesca, aquicultura
e desenvolvimento urbano, voltadas para a manutenção, recuperação ou melhoria
dos SE; a complementaridade do PSA em relação aos instrumentos de comando
e controle da Política Nacional do Meio Ambiente; a articulação entre programas
e projetos de PSA implementados pela União, pelos estados, municípios e pelo
Distrito Federal; entre outros aspectos (Brasil, 2009b).

O PL para a PNPSA do Senado Federal vem tramitando nas diferentes comissões,


sendo que, em maio de 2018, seguiu para a Comissão de Assuntos Econômicos.
Elaborado com o objetivo de “classificar, inventariar, cadastrar, avaliar e valorar os
bens e serviços ecossistêmicos e seus provedores”, este PL foi associado principal-
mente à promulgação da Lei nº 12.651, em 2012 (Lei de Proteção da Vegetação
Nativa). O “Código Florestal” estipulou a criação de um programa de apoio e
incentivo à conservação do meio ambiente, em seu Artigo 41, para proporcio-
nar o “pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou
não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem servi-

69
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

ços ambientais”. Assim, criou-se uma demanda explícita para regulamentação do


pagamento pelos serviços ecossistêmicos. O PL propõe, por exemplo, o registro dos
bens e serviços ecossistêmicos no meio rural por meio do Cadastro Ambiental Rural
(CAR). Além disso, propõe que a Política Nacional de Meio Ambiente contem-
ple o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) como colegiado respon-
sável por avaliar metodologias de inventários, avaliação, mensuração e valoração
de bens e serviços ambientais. O PL propõe ainda novos mecanismos para ali-
mentar o fundo para pagamento por serviços ambientais, como recursos do Fundo
Nacional sobre Mudança do Clima e das multas por infrações ambientais.

Programa Produtor de Água

No Brasil, os PSAs hídricos com foco na conservação de água tiveram início em


2005, com a criação do Programa Produtor de Água da Agência Nacional de Águas
(ANA). Sua implantação pioneira foi no município de Extrema, em Minas Gerais, em
2006.. O programa Produtor de Água atua principalmente com foco no controle
da poluição rural em áreas prioritárias de bacias hidrográficas de relevância estra-
tégica para o País. Fundamenta-se no compromisso voluntário dos participantes
e promove o desenvolvimento de iniciativas de PSA de proteção hídrica, ou seja,
cujo objetivo seja a melhoria da qualidade e quantidade de águas, a regularização
da vazão fluvial e ampliação da oferta hídrica (Agência Nacional de Águas, 2012;
Fidalgo et al., 2017).

O programa prevê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação


da água e do solo, como, por exemplo, a construção de terraços e bacias de infiltra-
ção, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o
reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal, o saneamento
ambiental, entre outros. Prevê também o pagamento de incentivos (compensação
financeira) aos produtores rurais que comprovadamente contribuam para a
proteção e recuperação de mananciais, gerando benefícios para a bacia e a popula-
ção (Santos et al., 2010). O programa possui um manual de operação disponível na
página eletrônica da Agência Nacional de Águas (2012).

A partir da experiência no município de Extrema, outras iniciativas se desenvol-


veram no Brasil inicialmente no bioma Mata Atlântica, seguido do Cerrado e dos
demais (Fidalgo et al., 2017). Guedes e Seehusen (2011) e Pagiola et al. (2013) regis-
traram e descreveram o estágio em que se encontram as principais iniciativas de
PSA hídrico do País.

70
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Atualmente, a TNC classifica quatro categorias de fontes de pagamento dos PSAs


hídricos. Na primeira categoria, os Comitês de Bacias Hidrográficas destinam
recursos que vêm da cobrança pelo uso da água. Na segunda categoria, os estados
e municípios criam uma legislação que permite o uso de recursos públicos para o
pagamento. Na terceira categoria, o setor privado se convence da importância da
água para sua produção, como é o caso das indústrias de bebidas, e resolve pagar
para ter água de qualidade. A quarta categoria envolve as empresas de abasteci-
mento de água, que pagam incentivando boas práticas ambientais para melhorar a
qualidade da água e reduzir os custos de tratamento.

Embora seja crescente o número de iniciativas de PSA no Brasil, persistem ainda


algumas dificuldades e lacunas a respeito da metodologia adotada para se obter um
valor de pagamento justo e adequado à conservação de recursos naturais; monito-
ramento de SE nas iniciativas de PSA; divulgação dos impactos positivos na provisão
de SE; continuidade da fonte dos recursos para pagamento, entre outros. A questão
fundiária é também um problema porque as informações sobre a posse da terra são
deficientes, o que dificulta a identificação do proprietário e, consequentemente, do
provedor do SE (Wunder et al., 2009; Guedes; Seehusen, 2011). A restrição legal às
agências do governo de realizarem pagamentos diretos aos proprietários de terras
(Pagiola et al., 2013) também constitui impedimento a estas iniciativas. Ressalta-se,
ainda, que a maioria das iniciativass brasileiras de PSA possui elevada burocracia e
dependem de planos técnicos elaborados por especialistas, o que pode resultar em
planos de conservação de alta qualidade. Mas, por outro lado, são dispendiosos e
exigem um grande número de pessoal qualificado para executá-los.

Diversas publicações têm centrado esforços em organizar informação, sanar


dúvidas e repassar experiências adquiridas para minimizar os desafios da
implantação e condução de iniciativas de PSA. Entre elas, citam-se as mais atuais
e disponíveis gratuitamente na internet para download: “Guia para a formulação
de políticas públicas estaduais e municipais de pagamento por serviços ambien-
tais” (Guia..., 2017) e “Manual para pagamento por serviços ambientais hídricos:
seleção de áreas e monitoramento” (Fidalgo et al., 2017).

A Tabela 2 apresenta, por fim, os aspectos positivos, limitações, alinhamento com


iniciativas e plataformas globais e o potencial da pesquisa da Embrapa em
contribuir para tornar as ações mais efetivas e robustas no âmbito dos instrumen-
tos legais e políticos nacionais relacionados aos SE.

71
72
Tabela 2. Aspectos positivos, limitações, alinhamento com iniciativas e plataformas globais e potencial da Embrapa e parceiros para contribuir
com os instrumentos legais e políticos voltados à provisão e manutenção dos serviços ecossistêmicos (SE).
L e i / p o l í t i c a / Pontos positivos Limitações Alinhamento global Potencial de contribuição da
iniciativa Embrapa e parceiros
Política Nacional Prevê condições para o produtor rural Falta a contabilização dos Relaciona-se diretamente Implementação e avaliação
sobre Mudança realizar os investimentos necessários resultados da implantação ao ODS 13: Ação contra a dessa política e do Plano ABC,
do Clima – Lei nº à incorporação de alternativas do Programa ABC a fim de mudança global do clima, e monitoramento dos impactos
12.187/2009 e tecnológicas de baixa emissão de verificar o cumprimento indiretamente com os ODS 2, das práticas conservacionistas
Plano Agricultura carbono no processo produtivo e a das metas internacionais 12 e outros. dos sistemas de produção
de Baixo intensificação sustentável. brasileiras. A fiscalização das agrícola nos SE e bem-estar
Durante a 15ª Conferência
Carbono (ABC) ações e monitoramento do dos atores envolvidos,
O programa ABC é uma linha de das Partes (COP-15), o
seu impacto nos SE não estão proposição de adequações
crédito para o financiamento das Governo Brasileiro divulgou o
bem definidos. e correções de rumos (se
metas do Plano ABC e está incluído seu compromisso voluntário
necessário), organização
nos Planos Agrícolas e Pecuários (PAP) Os produtores enfrentam de redução entre 36,1%
da informação gerada,
como uma linha de investimento. problemas no acesso ao e 38,9% das emissões de
disseminação e orientação
crédito por não atenderem gases de efeito estufa (GEE)
em relação às tecnologias
a todas as exigências projetadas para 2020.
propostas, entre outros.
estabelecidas.
O Programa ABC está
A questão da adaptação às associado ao cumprimento
mudanças climáticas não está das metas assumidas pelo
muito bem explicitada e nem Brasil no Acordo de Paris,
sendo diretamente abordada. previsto na Contribuição
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Nacionalmente Determinada
(NDC) Brasileira.
Continua...
Tabela 2. Continuação.

L e i / p o l í t i c a / Pontos positivos Limitações Alinhamento global Potencial de contribuição da


iniciativa Embrapa e parceiros
Política Prevê a promoção da conservação de Estabelecida inicialmente Relaciona-se diretamente aos Geração de informações
Nacional de forma integrada da biodiversidade, como a estratégia nacional ODS 14: Vida na água, e ODS que apoiem a gestão da
Biodiversidade incluindo explicitamente a para a biodiversidade, 15: Vida terrestre, e de forma biodiversidade e geração
– Decreto nº conservação dos serviços sobrepõe-se a diversas indireta com os ODS 6, 8, 11, de SE ao se relacionar
4.339/2002 ecossistêmicos. outras leis e políticas 12 e outros. com a agricultura; o
sob a responsabilidade estabelecimento de
Definida como a estratégia
de implementação pelo mecanismos e instrumentos
nacional para biodiversidade
Ministério do Meio Ambiente econômicos, de práticas e
perante a Convenção da
(MMA), também instituídas negócios sustentáveis que
Diversidade Biológica,
como compromisso do Brasil garantam a manutenção
assinada durante a
perante a CDB. O resultado e a funcionalidade
Conferência das Nações
são ações setorizadas e dos ecossistemas; o
Unidas sobre Meio Ambiente
difusas, ao invés de uma monitoramento, avaliação
e Desenvolvimento realizada
estratégia integrada. e mitigação de impactos
na cidade do Rio de Janeiro,
sobre a biodiversidade; a
no período de 5 a 14 de
informação, sensibilização
junho de 1992 (http://www.
pública e educação, visto
mma.gov.br/biodiversidade/
que lida com públicos
convenção-da-da-
diversos; modelos e métodos
diversidade-biológica).
de produção agrícola e
aproveitamento sustentável
dos SE que assegurem a
multifuncionalidade e maior
permeabilidade da paisagem.
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Continua...

73
74
Tabela 2. Continuação.

L e i / p o l í t i c a / Pontos positivos Limitações Alinhamento global Potencial de contribuição da


iniciativa Embrapa e parceiros
Lei nº Denominada por Código Florestal, prevê O custo da restauração é Relaciona-se diretamente aos Geração de informações,
12.651/2012 e a proteção de vegetação nativa em elevado. Os esforços mais ODS 14: Vida na água, ODS métodos e novos modelos
Política Nacional áreas de extrema relevância como as recentes nas pesquisas vêm 15: Vida terrestre, ODS 6: que apoiem a restauração
de Recuperação APPs, implicando provisão de diversos buscando justamente reduzir Água potável e saneamento, florestal, tornando-a mais
da Vegetação SE, com destaque para a água e a os custos da restauração, e de forma indireta com os eficiente e com retorno
Nativa (Proveg) manutenção da biodiversidade. como indicam os estudos ODS 8, 11, 12, 13 e outros. de renda ao produtor
Traz a possibilidade de uso econômico que investigam o potencial rural, reduzindo custos e
A Lei Federal nº 12.651/2012,
durante o período de recomposição da de regeneração natural atendendo às demandas
no que diz respeito
Reserva Legal, o que pode estimular os em áreas que precisam ser e especificidades de cada
principalmente à exigência
proprietários a recompor sua RL. restauradas, o que poderia bioma brasileiro. Também
de recomposição APP e RL,
reduzir significativamente os deve buscar respostas a
Ainda quanto ao aspecto econômico, tem forte alinhamento com
custos. respeito da interação e fluxos
vale lembrar que o manejo agroflorestal outros compromissos dos
da floresta-água-solo-clima e
é permitido para a recomposição de Outras limitações dizem quais o Brasil é signatário,
sua relação com as práticas
APP e RL, principalmente para pequenas respeito à dificuldade de como o Bonn Challenge,
agrícolas sustentáveis.
propriedades, o que oferece uma nova incorporação do elemento a Iniciativa 20 x 20 e a
possibilidade de uso sustentável do solo. arbóreo na paisagem, por Iniciativa para Restauração da Além disso, a Embrapa
representar – de acordo com Paisagem Florestal Africana. pode contribuir capacitando
A lei apresenta ainda o conceito
o entendimento consolidado Há ainda iniciativas nacionais técnicos, extensionistas,
de Área de Uso Restrito (AUR),
do produtor – perda de área com impacto global, casos agricultores e tomadores
antes consideradas APP; de acordo
produtiva e restrições legais. do Pacto pela Restauração da de decisão (em todos os
com a lei, somente boas práticas
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Nesse segundo aspecto, o Mata Atlântica e Pacto pela níveis federativos) sobre
conservacionistas do solo serão aceitas
entendimento do produtor Restauração da Amazônia. os conceitos, técnicas e
nessas áreas, favorecendo a provisão
é justificado, pois os órgãos estratégias associados
de SE.
ambientais ainda não à restauração de áreas
O CAR está organizando uma base conseguiram definir o que degradadas e à adequação
de dados em escala de propriedade é passível de autorização e ambiental das propriedades
que será importante para a em que situação (como o rurais.
adequação ambiental, assim como caso da geração de renda
nortear planejamento agropecuário pela exploração de madeira
das propriedades visando à nativa).
sustentabilidade.
Continua...
Tabela 2. Continuação.
L e i / p o l í t i c a / Pontos positivos Limitações Alinhamento global Potencial de contribuição da
iniciativa Embrapa e parceiros
Política Nacional Considera todos os tipos de Serviços Apesar de existir grande Os objetivos e diretrizes do O desafio de se implementar
de Pagamento Ambientais. número de PLs de âmbito PL 312/2015 apresentam uma política nacional
por Serviços nacional sobre PSA, elas forte alinhamento aos ODS 6: de PSA é grande e exige
Contempla diversos aspectos
Ambientais apresentam conteúdo Água potável e saneamento, esforço conjunto de
necessários à implementação e
(Projetos de muito semelhante e ainda ODS 12: Consumo e produção diversos instituições e
execução da PNPSA.
Lei Federais: PL não foram aprovados e/ responsáveis, ODS 13: Ação atores relacionados. Nesse
nº 312/2015 Há uma preferência dada aos ou implementados por contra a mudança global do sentido, a Embrapa e seus
(reeditou o PL nº agricultores familiares. conflitos de interesses clima, ODS 14: Vida na água, parceiros têm competências
1274/2011), PL Os objetivos, diretrizes e ações e divergências entre e ODS 15: Vida terrestre, suficientes para contribuir de
nº 276/2013, PL previstas no PL 312/2015 ambientalistas e ruralistas. além de ter alinhamentos forma expressiva, no âmbito
nº 5.487/2009 e constituem um instrumento indiretos com os ODS 2, 3, 8, nacional, estadual e municipal,
Falta também clareza sobre
PL nº 792/2007) com potencial para promover 17 e outros. nos seguintes aspectos: análise
quem poderá receber a
impactos positivos e relevantes nos dos PL, apontando lacunas e
compensação e como ela Muitos países possuem
diferentes aspectos: social, cultural, melhorias; desenvolvimento
será feita (beneficiários). uma Política Nacional de
econômico e ambiental, devido ao de ferramentas que possam
Pagamento por Serviços
Não são especificados apoiar os PSAs em seus
seu escopo de sustentabilidade e Ambientais, o que tem
com detalhes os aspectos desafios tais como redução de
abrangência espacial. implicado em impactos
necessários (monitoramento, custos do monitoramento, no
positivos nos SE, como é o caso
fiscalização, planejamento ganho de escala e abrangência,
da Costa Rica e do México.
técnico e institucional) para na valoração de SE; no
orientar a implementação de Bastante alinhada a esta desenvolvimento de novos
uma política pública complexa política é a Plataforma modelos e diretrizes para
como é o caso dos PSAs. Internacional de tornar a PNPSA e os PSA mais
Biodiversidade e Serviços robustos e eficazes no País.
Há dúvidas em relação à origem
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Ecossistêmicos (IPBES), de
dos recursos para o PSA.
que o Brasil faz parte, visando
à aproximação de ciência
e política em prol dos SE
(https://www.ipbes.net/).
Continua...

75
76
Tabela 2. Continuação.

L e i / p o l í t i c a / Pontos positivos Limitações Alinhamento global Potencial de contribuição da


iniciativa Embrapa e parceiros
Programa Iniciativa voluntária. Mobilização de Há lacunas no Relaciona-se diretamente Geração de informações,
Produtor instituições e comunidades rurais monitoramento e aos ODS 6: Água potável e métodos e novos modelos
de Águas em prol da conservação da água no comprovação dos impactos saneamento, ODS 14: Vida que apoiem a restauração
da Agência meio rural. dos PSAs hídricos nos SE. na água, e ODS 12: Consumo florestal, tornando-a mais
Nacional de Modelo livre (não há necessidade de e produção responsáveis, e eficiente e com retorno
O custo da restauração é
Águas – 2005 seguir um único modelo). indiretamente aos ODS 1, 2, de renda ao produtor
elevado.
3, 8, 11, 17 e outros. rural, reduzindo custos e
Diferentes arranjos institucionais e A escala de atuação local atendendo às demandas
fontes de recursos e parcerias. Alguns PSAs hídricos
precisa avançar em termos e especificidades de cada
brasileiros fazem parte da
Aumento da renda pelo PSA e por outras de ganho de escala. bioma brasileiro; análise dos
Aliança de Fundos de Águas
alternativas de agregação de renda ao O fator adicionalidade PSAs hídricos, apontando
da América Latina (http://
produtor pela presença do PSA, como o (compensar para restaurar lacunas e melhorias;
fundosdeagua.org/esp/).
turismo rural ou agroturismo, sistemas o que já é obrigação por lei, desenvolvimento de
agroflorestais e outros. como é o caso das APPs) é ferramentas que possam
Apoio técnico para a implementação uma crítica por parte dos apoiar os PSAs em seus
das práticas conservacionistas. ambientalistas. desafios tais como redução
de custos do monitoramento,
Em alguns casos, tem atraído a Não há regulamentação por no ganho de escala e
atenção de diversas empresas parte de uma PNPSA. abrangência, na valoração de
privadas que acabam investindo em SE; no desenvolvimento de
Há necessidade de
infraestrutura. novos modelos e diretrizes
padronização de métodos e
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Aumento da percepção dos envolvidos orientações e de organização para tornar a PNPSA e os


sobre a importância dos SE. das informações relacionadas PSA mais robustos e eficazes
aos PSAs hídricos. no País; contribuição para
Valorização do importante papel
soluções de organização e
que o produtor rural possui para a
disponibilização dos dados
conservação e sustentabilidade na
relativos aos PSAs hídricos.
produção agrícola.
Contribui para o processo de
restauração ou de proteção de APPs
(Código Florestal).
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Instrumentos legais e políticos estaduais e municipais relacionados aos SE


Os instrumentos legais e políticos estaduais e municipais muito têm avançado em
prol dos serviços ecossistêmicos, trazendo soluções regionais e locais.

O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é um exemplo de instrumento da Política


Nacional do Meio Ambiente, regulamentado pelo Decreto no 4.297/2002 (Brasil,
2002a), que tem sido utilizado pelo poder público em projetos de diversas escalas
e territórios nacionais. Municípios, estados da federação e órgãos federais têm
executado ZEEs e avançado na conexão entre os produtos gerados e os instru-
mentos de políticas públicas, com o objetivo de efetivar ações de planejamento
ambiental territorial.

Em termos de recursos hídricos, por exemplo, os estados elaboram seus planos


estaduais de bacias hidrográficas, visando subsidiar o planejamento e ações focadas
nas demandas estaduais, as quais são executadas por meio dos comitês e agências
de bacias. Já o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Verde
ou Ecológico é um mecanismo que possibilita o acesso dos municípios aos recursos
financeiros arrecadados pelos estados da federação, para compensar áreas ambien-
talmente protegidas e condições adequadas de saneamento básico.

Em termos de conservação e restauração florestal e manutenção da biodiversi-


dade, diversos são os instrumentos legais e políticos. No bioma Amazônia, tem-se
o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm), que foi criado em 2004 e tem como objetivos reduzir de forma contínua
e consistente o desmatamento e criar as condições para estabelecer modelos de
desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal. Um dos principais desafios iniciais
foi integrar o combate ao desmatamento nas políticas brasileiras, partindo-se
do princípio de que o combate às causas do desmatamento não poderia mais ser con-
duzido de forma isolada pelos órgãos ambientais.

O programa estadual Bolsa Floresta na Amazônia foi um dos PSAs precursores


criado em 2007. Segundo Pagiola et al. (2013), esse programa foi concebido ao longo
do processo de implementação do Programa Zona Franca Verde, após a criação da
Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) do estado do
Amazonas, baseado nas emissões evitadas de GEE pela conservação da floresta
amazônica. O Programa Bolsa Floresta prevê uma compensação financeira para os
serviços prestados pelas populações tradicionais do Amazonas. Esse modelo tem

77
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

sido aplicado nas reservas extrativistas marinhas, em moldes semelhantes ao


da floresta.

A Lei no 11.428/2006 que dispõe sobre a conservação, a proteção, a regenera-


ção e a utilização do Bioma Mata Atlântica (Brasil, 2006). Há também o Pacto de
Restauração da Mata Atlântica, que surgiu em 2006 com o objetivo de articular
instituições públicas e privadas, governos, empresas, comunidade científica e
proprietários de terras para integrar seus esforços e recursos na geração de resul-
tados em restauração e conservação da biodiversidade nos 17 estados do bioma.
A meta do pacto é viabilizar a recuperação de 15 milhões de hectares até o ano de
2050, mas com metas e monitoramento dos resultados anuais. Ressalta-se que foi
nesse bioma que se iniciaram os PSAs hídricos, mencionados no item 3.5 (Guedes;
Seehusen, 2011; Pagiola et al., 2013; Fidalgo et al., 2017). A primeira iniciativa de
PSA hídrico, denominada Conservador das Águas, teve como parceira a Prefeitura
Municipal de Extrema, The Nature Conservancy (TNC) e o Instituto Estadual de
Florestas do estado de Minas Gerais (IEF/MG), contando com recursos do Comitê
de Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari (PCJ) (Altmann et al.,
2015). Esse PSA hídrico está relacionado ao Programa Produtor de Águas da ANA,
mas outras iniciativas se encontram em curso nesse bioma, com diferentes
arranjos institucionais.

Para a Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, existe uma série de políticas
que abordam em seu texto a questão dos serviços ecossistêmicos. Merecem des-
taque: o PL 222/2016 (Brasil, 2016a), que institui a Política de Desenvolvimento
Sustentável da Caatinga, visando implementar programas de PSA prestados nas
propriedades rurais e criar linhas de créditos especiais e incentivos fiscais para
o pagamento por serviços ambientais; e o PL 6391/2016 (Brasil, 2016b), que dis-
põe sobre o estabelecimento do Fundo Caatinga pelo Banco do Nordeste (BNB),
autorizando o BNB a destinar recursos de diferentes fontes para a realização de
aplicações não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate
ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável no bioma
Caatinga em diferentes áreas.

No Ceará, por exemplo, um projeto de lei sobre PSA está tramitando na câmara
estadual e tem por objetivo instituir a Política Estadual sobre Serviços Ambientais
e Ecossistêmicos, com o objetivo geral de promover, incentivar e fomentar os serviços
ambientais e ecossistêmicos do estado, além de estruturar e fortalecer a atuação
do Poder Público no apoio e incentivo aos setores produtivos e de prestação de

78
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

serviços no estado do Ceará voltados à economia regional de baixa emissão de


gases de efeito estufa e conservação e proteção aos ecossistemas. O projeto visa
ainda criar instrumentos de incentivos econômicos e fiscais capazes de estimular a
preservação e a conservação. Existe também a Lei Complementar 175/2017 (Ceará,
2017), que dispõe sobre a prevenção e o combate a incêndio florestal, e o Programa
Hora de Plantar, política pública estadual que subsidia a compra de sementes para
os produtores que utilizam técnicas conservacionistas reconhecidamente prestado-
ras de serviços ambientais.

O Cerrado detém 5% da biodiversidade do planeta, sendo considerado a savana


mais rica do mundo, e mesmo assim é um dos biomas mais ameaçados do País. Para
fazer frente a esse problema, o MMA lançou, em setembro de 2009, a versão para
consulta pública do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento
e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado), contendo iniciativas próprias ou das
suas instituições vinculadas: Ibama; Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio); ANA e Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

O Pantanal é o bioma brasileiro mais preservado devido à pecuária tradicional


extensiva adaptada ao pulso anual de inundação nas planícies. Atividades de inten-
sificação pecuária são possíveis dentro de limites sustentáveis, conservando a
integridade e os serviços dos ecossistemas inundáveis (Abreu et al., 2018). A questão
ambiental prioritária no Pantanal trata do assoreamento acelerado de leitos de rios
na planície em razão do uso não sustentável de solos agricultáveis nas cabeceiras
dos rios formadores do Pantanal, localizadas no Cerrado do planalto circundante
(Galdino et al., 2005).

Contudo, a ausência de medidas tangíveis de governo e a manutenção do uso


não sustentável dos solos pela agricultura nos planaltos, aliadas à perspectiva do
aumento da frequência de eventos extremos de chuva de verão pela mudança do
clima, representam ameaças concretas para a manutenção da pecuária tradicional
nas planícies pantaneiras no médio e longo prazos (Bergier et al., 2018).

Dessa forma, é de suma importância que sejam rapidamente consolidadas políti-


cas públicas que viabilizem: 1) mecanismos temporários de PSA para pecuaristas
no Pantanal impossibilitados de realizar sua atividade produtiva, mas prestando o
serviço de acomodação dos sedimentos em suas propriedades; e 2) mecanismos
permanentes de PSA para produtores nos planaltos circundantes que garantam o
serviço sustentável de retenção de água e de sedimentos em sistemas integrados

79
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

de lavoura, pecuária (bovina, suína e outras) e floresta de produção de alimen-


tos (Bergier, 2013). No Senado Federal, tramita o Projeto de Lei do Pantanal (PL
nº 750/2011) (Brasil, 2011b). As audiências públicas desse projeto têm ressaltado
a necessidade de mecanismos de PSA como alternativa viável para uso sustentável
do Pantanal e entorno.

No bioma Pampa, no estado do Rio Grande do Sul, o Projeto de Lei nº 449/2007


(Brasil, 2007) foi apresentado para instituir a política estadual de serviços ambien-
tais, sendo arquivado em 23/12/2010. Em 2011, foi instituída a comissão especial
para pagamento por serviços ambientais a fim de colher subsídios junto à socie-
dade sobre o tema, concluindo a importância do estabelecimento de políticas de
pagamento por serviços ambientais como forma de incentivo à conservação. O PL
nº 26/2011 (Brasil, 2011a) foi apresentado e arquivado em 2013, enquanto o PL
nº 11/2012 aguarda parecer (Brasil, 2012c). A fonte de recursos é um dos maiores
entraves para a aprovação desse projeto (Comissão Especial sobre o Pagamento
por Serviços Ambientais, 2012).

Alguns municípios têm instituído programas de pagamento por serviços ambien-


tais no estado do Rio Grande do Sul, sendo a manutenção dos pagamentos o
maior desafio. É o caso do município de Três Passos, que instituiu a Lei Municipal
nº 4.346/2010 para “Pagamento aos produtores para recuperação de nascentes”,
tendo como fonte de recursos um valor recebido pelo Instituto Sadia de susten-
tabilidade. Entretanto, os pagamentos não tiveram continuidade, o que consiste
em um dos principais gargalos dos PSAs no Brasil (Werle, 2013). Já o município de
Vera Cruz conta com um programa de pagamento por serviços ambientais conhe-
cido como Protetor das Águas, que iniciou em 2011. Ele tem sido financiado pela
Fundación Altadis da Espanha, com o apoio da prefeitura municipal, associação dos
fumicultores do Brasil (Afubra), sindicato das indústrias do Tabaco (SindiTabaco) e
do comitê de bacia hidrográfica do Rio Pardo (Moraes, 2012), sendo assegurado
pela Lei municipal nº 4.264/2015 (Vera Cruz, 2015), que instituiu a Política Pública, o
Programa Municipal e o Fundo Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais. A
continuidade do programa tem sido financiada pela Philip Morris Brasil, e recente-
mente o município obteve apoio da Agência Nacional de Águas para um projeto de
conservação de solos. Aqui se evidencia a necessidade de obtenção de pagamentos
pelo setor público, considerados mais acessíveis hoje no Brasil (Fernandes; Botelho,
2016); contudo, quando os recursos são públicos, pode haver descontinuidade no
pagamento, por diversos motivos.

80
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Young e Bakker (2015) apresentam diversas possibilidades de fundos estaduais e


municipais que poderiam ser utilizados como incentivos econômicos à conser-
vação, mas é preciso estabelecer instrumentos legais para a sua viabilização. Por
exemplo, o estado do Rio de Janeiro regulamentou o PSA hídrico como instrumento
de gestão de recursos hídricos, por meio de um subprograma do Programa Estadual
de Conservação e Revitalização de Recursos Hídricos (PROHIDRO), contando com
recursos da cobrança pelo uso da água, por meio dos comitês de bacia hidrográ-
fica. Sendo assim, quando se trata de recursos financeiros provindos da cobrança
pelo uso da água, tem-se maior segurança na continuidade do pagamento, pois a
cobrança ocorre continuamente, independentemente de governos.
Como a questão legal e de regulamentação dos PSAs é uma das principais lacunas
encontradas nessas iniciativas, na literatura são encontradas diversas publicações
focadas em orientar os estados e municípios, como o “Guia para a formulação de
políticas públicas estaduais e municipais de pagamento por serviços ambientais”
(Guia..., 2017), que tem como objetivo fornecer conceitos e exemplos práticos, além
de apresentar os elementos e aspectos principais a serem tratados na normatização
legal de políticas públicas de PSA, oferecendo, principalmente aos formuladores
dessas políticas, uma orientação para a normatização legal pretendida.

Considerações finais

• No Brasil há um conjunto de estudos científicos e instrumentos legais e


políticos voltados à provisão e manutenção dos SE. Esse aspecto tem sido muito
importante para a continuidade das ações, principalmente nos níveis estaduais
e municipais. Contudo, programas de fiscalização e de monitoramento das ações
e dos impactos das políticas e programas têm sido ineficientes, criando uma
grande lacuna.

• Muitas dessas políticas se sobrepõem e carecem de instrumentos


governamentais que permitam a sua atuação conjunta ou complementação com
a sinergia de comunicação e utilização de recursos humanos e financeiros.

• No caso das iniciativas que contemplam a compensação pelos SE na forma


de pagamento, o valor ainda é inexpressivo e muitos produtores rurais não
conseguem atender às exigências dos editais. Em muitos casos, a fonte do recurso
não é segura e contínua, como, por exemplo, em PSAs ligados à conservação de
recursos hídricos.

• Há especificidades regionais e dos ecossistemas/biomas que precisam


ser levadas em conta tanto na proposição de leis e políticas, quanto em
iniciativas de PSA.

81
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

• Quase todas as categorias de SE são contempladas nos instrumentos legais


e políticos avaliados, como provisão (água, alimentos), regulação (estoque de
carbono, controle à erosão, qualidade do solo, climática, purificação da água,
etc.) e de suporte (habitat e manutenção da biodiversidade).

• O aspecto social e os serviços ecossistêmicos culturais como o turismo, a


recreação, a beleza cênica, etc. muitas vezes não são transparentes e evidentes
nos instrumentos legais e políticos e tampouco têm sido levados em conta e
avaliados.

• É necessária e desejável uma maior interação da pesquisa da Embrapa e seus


parceiros com formuladores de políticas públicas e agentes da iniciativa privada,
no sentido de inovar e buscar soluções sistêmicas para problemas regionais
complexos em relação à provisão e manutenção dos SE no meio rural, com vistas
à sustentabilidade e a segurança alimentar e socioeconômica do País.

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87
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

88
CAPÍTULO 4

Serviços Ecossistêmicos:
relações com a agricultura
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Rachel Bardy Prado
Margareth Gonçalves Simões
Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
Ivan Bergier Tavares de Lima
Lucília Maria Parron
Mônica Matoso Campanha
Lilian Terezinha Winckler
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Introdução
Agroecossistemas são definidos pela OECD (2001a) como ecossistemas onde os
seres humanos modificam parcialmente o ambiente natural, visando adaptá-lo para
a implantação de sistemas de produção agrícola. Em decorrência, os agroecossiste-
mas, em maior ou menor medida, dependendo do sistema de produção, guardam
ainda muitas características e propriedades dos ambientes naturais. Desse modo,
se, por um lado, as atividades agrícolas são impactantes para o meio ambiente
natural, por outro, os sistemas de produção agrícola, se devidamente manejados,
podem reverter ou minimizar a tendência de ruptura dos processos ecossistêmicos,
mitigando os impactos negativos e prestando relevantes serviços ecossistêmicos.

O Brasil figura atualmente como um dos maiores produtores de alimentos do


mundo, cujas áreas de produção se distribuem em diferentes biomas por todo
o território nacional. A agricultura no País se destaca como um setor pujante de
grande importância, não somente para a balança comercial, como também para
a segurança alimentar e para o desenvolvimento socioeconômico nacional. Nesse
sentido, a promoção da sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola é de
suma importância. Na dimensão ambiental, a sustentabilidade se baseia na pro-
moção de modelos de desenvolvimento rural baseados em sistemas de produção que
comtemplem os serviços ecossistêmicos e a multifuncionalidade da paisagem rural.

Nesse contexto, o desafio que se impõe consiste em conciliar o aumento da produ-


ção agrícola com a conservação dos recursos naturais e a promoção dos serviços
ecossistêmicos que, além de serem imprescindíveis para sustentabilidade da produ-
ção, beneficiam, além do meio rural, toda a sociedade.

O capítulo que se segue objetiva, portanto, apresentar ao leitor uma perspectiva


ampla sobre a relação da agricultura com os serviços ecossistêmicos. Dessa forma,
será apresentado e discutido como as atividades agrícolas pressionam os proces-
sos naturais, bem como elas são beneficiadas e provêm serviços ecossistêmicos
de provisão, regulação e culturais essenciais para a manutenção da capacidade de
produção dos agroecossistemas. Ressalta-se ainda a importância de se abordar
os serviços ecossistêmicos em múltiplas escalas, para que se possa promover não
somente a adequação dos sistemas de produção em nível local, mas também a mul-
tifuncionalidade da paisagem rural, visando ao aumento da provisão de serviços e a
própria sustentabilidade das atividades agrícolas.

90
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

A agricultura e os impactos nos serviços ecossistêmicos


O Brasil possui, atualmente, uma agricultura diversificada, moderna e pujante
que desempenha um papel fundamental na economia brasileira, ocupando cerca
de 30% do seu território e respondendo por aproximadamente 25% do produto
interno bruto (Ferreira et al., 2014). Contudo, o País já testemunhou diversos ciclos
agroeconômicos calcados na expansão de monoculturas de exportação. A expansão
da agricultura no País ocorreu, como um processo histórico, à custa da supressão
da vegetação nativa de vastas áreas nos diversos biomas brasileiros. Esse processo
conduziu, em certa medida, ao esgotamento dos recursos naturais, à perda da
biodiversidade e ao comprometimento dos serviços ecossistêmicos. Dessa forma,
a dinâmica de uso e ocupação das terras para a exploração agrícola representa
um dos principais fatores de pressão sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos
(Swinton et al., 2007). Os sistemas de produção agrícola, ao privilegiar a produ-
ção contínua de uma ou poucas espécies de plantas cultivadas, impõem ao meio
ambiente alterações estruturais e funcionais de longo prazo (Mainstreaming...,
2017). Por consequência, a mudança de uso da terra associada à expansão da agri-
cultura resulta na perda direta de habitats e da biodiversidade associada, levando
à redução ou extinção de diversas espécies de plantas e animais que compõem e
mantêm as funções ecológicas dos sistemas naturais (FAO, 2019). Estimam-se, no
bioma Amazônia, perdas entre 15% e 18% dos ambientes naturais, cerca de 50%
para os biomas Cerrado, Pampas e Caatinga e 88% para a Mata Atlântica (MMA,
2012).

Além da alteração dos ecossistemas devido à conversão das áreas naturais, a inten-
sificação da agricultura, com enfoque apenas no incremento da produção, afeta
drasticamente diversos processos físicos, biológicos e químicos que intervêm em
importantes serviços ecossistêmicos. Em escala regional, destacam-se o ciclo do
carbono e a regulação climática e hidrológica. Em escala local, destacam-se a depu-
ração da água, a reciclagem de matéria orgânica, o ciclo dos nutrientes, a polinização
e o controle de pragas (Power, 2010).

No nível das parcelas de produção, as práticas agrícolas, desprovidas de preocupa-


ção conservacionista, podem conduzir à degradação dos sistemas edáficos, com-
prometendo assim relevantes serviços ecossistêmicos. O revolvimento excessivo
dos solos, a falta de cobertura vegetal e o sobrepastejo podem resultar no aumento
dos processos erosivos, conduzindo à degradação e à perda dos solos agricultáveis.

91
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

As perdas anuais de solo em áreas ocupadas por lavouras e pastagens ultrapassam


500 milhões de toneladas por ano, causando custos adicionais para os produtores
e prejuízos econômicos e ambientais para todo o País (Bertoni; Lombardi Neto,
2012). Grande parte do solo perdido pela erosão chega aos rios, assoreando-os
e reduzindo sua vazão e capacidade de armazenamento, como é o caso dos rios
Paraíba do Sul e São Francisco, essenciais ao abastecimento de água para grandes
contingentes populacionais residentes nas zonas urbanas dessas bacias (Prado et
al., 2017). Na interface dos biomas, Cerrado e Pantanal, as perdas de solo por siste-
mas produtivos ineficientes foram capazes de alterar a variabilidade interanual dos
pulsos de inundação das planícies pantaneiras (Bergier et al., 2013). Essas pulsações
de inundação geram vastas zonas úmidas (Junk et al., 2013), que são responsáveis
pela manutenção dos estoques pesqueiros, assim como mantêm as pastagens forra-
geiras nativas, essenciais para a sustentabilidade da pecuária tradicional pantaneira
(Galdino et al., 2005).

Além da perda da fertilidade e da capacidade produtiva, a degradação dos solos


contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Na con-
tabilização geral dos inventários nacionais, segundo Bustamante et al. (2012),
as pastagens degradadas no Brasil, estimadas entre 51 e 80 milhões de hectares
(Ferreira et al., 2014; Lapola et al., 2014), constituem um passivo ambiental com signi-
ficativa participação no balanço positivo das emissões de gases do efeito estufa (GEE).

A provisão hídrica constitui outro serviço ecossistêmico altamente relacionado


com as atividades rurais, quer seja pelo uso direto da água em sistemas irrigados
quer por causa das alterações que estas impõem ao meio físico-biótico das bacias
hidrográficas que interferem nos ciclos hídricos, hidrológico e climático. Estima-se
que a irrigação seja responsável pelo consumo de aproximadamente 70% de toda
a água consumida pelas atividades socioeconômicas. Além disso, considerando os
desperdícios dos sistemas irrigados na ordem de 50% (FAO, 2017) dos volumes de
água utilizados, o uso intenso e não planejado da água para irrigação pode levar a
considerável diminuição da disponibilidade hídrica.

Por outro lado, o desmatamento causado para a implantação de sistemas agrope-


cuários pode alterar os regimes de precipitação regional, por meio das alterações
dos fluxos evapotranspiratórios formadores de nuvens. O clima local, em seguida,
pode tornar-se mais seco, impactando não somente os ecossistemas, mas compro-
metendo também a segurança hídrica e a própria sustentabilidade dos sistemas
produtivos (Vergara; Scholz, 2011).

92
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

O uso excessivo de insumos como fertilizantes pode gerar a eutrofização de


corpos hídricos, assim como o uso indiscriminado de pesticidas pode contaminar os
cursos d’água superficiais, os aquíferos subterrâneos, os solos e os sedimentos. A
dispersão de agrotóxicos no ambiente pode causar desequilíbrios biológicos, visto
que, além de erradicar as pragas, também podem eliminar os seus inimigos natu-
rais, como predadores e competidores. Além disso, os agrotóxicos podem, ao longo
da cadeia alimentar, acumular-se na biota. De acordo com Peres e Moreira (2003), a
contaminação pode percorrer a cadeia trófica e se acumular enquanto passa de um
organismo para outro, como de moluscos para crustáceos e peixes, representando
uma fonte potencial de contaminação humana.

A intensa movimentação global de subprodutos das commodities e a supressão


local dos remanescentes de vegetação nativa, com a consequente redução da
biodiversidade e do controle biológico natural, podem causar desequilíbrios ecoló-
gicos, favorecendo a dispersão de pragas e agentes fitopatogênicos que impactam
negativamente a própria atividade agrícola.

Diversos e evidentes são os impactos da agricultura sobre os serviços ecossistêmi-


cos. No entanto, as atividades agrícolas, quando conduzidas sob princípios conser-
vacionistas, podem mitigar os efeitos negativos, preservando processos funcionais
e mantendo fluxos de serviços ecossistêmicos em benefício da própria atividade
produtiva e de toda a sociedade.

Serviços ecossistêmicos da agricultura: além da provisão de alimentos


Os ecossistemas naturais são transformados e manejados para atender às necessi-
dades básicas das sociedades humanas em relação à provisão de alimentos, fibras,
combustíveis, dentre outros bens primários. A provisão de bens primários constitui,
portanto, a função primordial da agricultura, constituindo-se também em seu prin-
cipal e mais evidente serviço ecossistêmico (Palm et al., 2014).

De fato, a agricultura se caracteriza por ser uma atividade econômica viabilizada


graças aos serviços ecossistêmicos de suporte e provisão, relacionados à capaci-
dade de produção biológica, primária e secundária, dos ecossistemas. As atividades
de produção agrícola se valem da capacidade intrínseca de produção biológica dos
ecossistemas, e todo o esforço das ciências agrárias e práticas agrícolas visam, em
síntese, potencializar essa capacidade natural. Desse modo, a relação da agri-
cultura com os serviços ecossistêmicos torna-se evidente, pois a capacidade de

93
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

produção de alimentos, entre outros bens primários, constitui, essencialmente, um


serviço de provisão prestado pelo agroecossistema.

A agricultura pode ser considerada como uma atividade essencialmente provedora


de produtos agropecuários, porém presta serviços ecossistêmicos que se estendem
muito além da provisão de alimentos, fibras e materiais biocombustíveis. Swinton
et al. (2007) observam que muitos serviços prestados pela agricultura são indire-
tos à atividade fim de produção agrícola e, por isso, são normalmente ignorados,
subestimados e não valorizados. Como destacam os autores, são percebidos
somente quando ausentes e seus impactos passam a ser evidentes a partir dos
serviços que deixaram de ser prestados. Assim, os agroecossistemas podem forne-
cer uma série de outros serviços de suporte, regulação ou provisão, relacionados à
água, solo, carbono e ao clima (Fisher et al., 2009; Power, 2010). O fluxo e o nível
de prestação dos serviços dependem dos sistemas de produção, do manejo e das
propriedades do ecossistema (Figura 1).

Figura 1. Impactos do manejo agrícola na propriedade e do manejo da paisagem


no fluxo de serviços e desserviços ecossistêmicos para os agroecossistemas.
Fonte: Adaptado de Power (2010).

A vegetação natural, por controlar diversos processos intervenientes do fluxo


hídrico, como a interceptação, a evapotranspiração e a infiltração, tem o impor-
tante papel de regular o fluxo hidrológico nas bacias hidrográficas, regulando a

94
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

recarga dos lençóis freáticos e os níveis de base e de ascensão (Maes et al., 2009).
Os agroecossistemas podem alterar os fluxos hídricos, modificando a disponi-
bilidade hídrica das bacias hidrográficas. Entretanto, se os sistemas de produção
forem manejados em observância à conservação dos solos, preservação de nas-
centes e recarga dos aquíferos, os agroecossistemas podem preservar a capacidade
de produção de água das bacias hidrográficas, prestando, dessa forma, um dos mais
relevantes serviços ecossistêmicos, a provisão hídrica.

A capacidade de produção dos solos constitui um dos mais relevantes serviços


tanto para os ecossistemas naturais como para os sistemas de produção agrícola.
A capacidade de produção depende da qualidade do solo, que, de acordo com Palm
et al. (2014), além de se relacionar com vários serviços ecossistêmicos, constitui a
chave para produção agrícola. A qualidade dos solos se refere a um conjunto de
propriedades físicas, bióticas e químicas (Karlen et al., 1997) que confere a capaci-
dade dos solos em sustentar os vegetais superiores (Wall et al., 2004; Palm et al.,
2007). Muitas propriedades qualitativas são determinadas pelas característi-
cas intrínsecas do solo, como a textura e a composição mineralógica. Contudo, nor-
malmente, essas propriedades podem ser modificadas pela atividade biológica e
pela composição e conteúdo da matéria orgânica, que, por sua vez, são fortemente
influenciadas pelas práticas de manejo (Oberholzer; Höper, 2007; Palm et al., 2007).
Portanto, mais uma vez, as atividades agrícolas exercem um papel primordial, visto
que, dependendo de como são manejadas, podem degradar ou manter a qualidade
e a capacidade de produção dos solos.

O controle à erosão constitui outro importante serviço ecossistêmico relacionado


à preservação dos solos, sobre o qual as atividades agrícolas também têm forte
influência. A vegetação natural remanescente e a cobertura manejada dos solos
nos sistemas de produção prestam o relevante serviço de controle à erosão, evi-
tando não somente a perda da capacidade produtiva dos solos mas também a
sedimentação e a degradação dos corpos hídricos, beneficiando os setores produtivos
e toda a sociedade (Fu et al., 2011). Desse modo, o manejo conservacionista dos
sistemas de produção, como também da paisagem rural, por meio de programas
de gestão ambiental de microbacias, tem destacada atuação na mitigação dos pro-
blemas associados à erosão dos solos. O controle à erosão constitui, assim, mais
um relevante serviço ecossistêmico que pode e deve ser prestado pelos sistemas
agropecuários, por meio da adoção de práticas de manejo que propiciem a contenção
dos processos erosivos.

95
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

O balanço de carbono, determinado pelas emissões e sequestro de C, relaciona-se


diretamente com o setor da agricultura, uma vez que os estoques de C no solo e na
biomassa, assim como as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido
de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), são fortemente influenciados
pelo uso e manejo dos solos. Os sistemas agropecuários, portanto, podem atuar
tanto como emissores como sumidouros de C, acentuando ou mitigando o aqueci-
mento global (Palm et al., 2014). A possibilidade em atuar como mitigador do efeito
das mudanças climáticas evidencia a importância do manejo sustentável dos siste-
mas de produção no sentido de se minimizar, neutralizar ou mesmo inverter o sinal
das emissões de carbono das atividades agrícolas. Para tal, os sistemas de produ-
ção agrícola devem privilegiar estratégias de manejo que minimizem as emissões
de GEE e favoreçam a incorporação de carbono, tanto no solo quanto na biomassa.
Nesse sentido, as práticas de manejo de solo – como o plantio direto na palha – e
de sistemas integrados de produção – como os iLPFs (Integração lavoura-pecuária-
-floresta) – são fundamentais para a geração de balanços de C mais favoráveis.

A regulação climática constitui outro serviço ecossistêmico no qual a agricultura


exerce um importante papel, visto que o uso da terra altera importantes processos
biofísicos da superfície terrestre que interferem diretamente no clima. Dentre eles,
destacam-se o albedo, os fluxos de energia radiante e partição do ciclo hidroló-
gico (interceptação, infiltração e a evapotranspiração). Segundo a Avaliação
Ecossistêmica do Milênio (Millennium Ecosystem Assessment, 2005), a agri-
cultura, contribuindo para atenuar as emissões e o acúmulo de gases do efeito
estufa (GEE) na atmosfera, exerce um papel-chave para a regulação climática
global. No nível regional, a agricultura influencia a precipitação, a manutenção da
temperatura do ar e a evapotranspiração, além de alterações microclimáticas em
escala mais localizada.

Além dos serviços de suporte, regulação e provisão, a paisagem rural pode prestar
significativos serviços culturais, em termos de vivência cultural, inspiração artística,
espiritual, beleza cênica, recreação e turismo, entre outros. A territorialidade e os
produtos agrícolas tradicionais, com demarcação e/ou certificação de origem,
também agregam valor cultural, qualitativo e monetário à produção de gêneros
agropecuários. Segundo Power (2010), a conservação da biodiversidade no meio
rural também pode ser considerada um serviço ecossistêmico cultural, uma vez que
a maioria das culturas reconhece a valorização da natureza como um valor explici-
tamente humano.

96
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Serviços ecossistêmicos da agricultura: do local ao global


Os diferentes serviços ecossistêmicos são mediados por processos que ocorrem
em diferentes escalas espaciais ou são, pelo menos, evidenciados somente a partir
de certa escala de observação, variando desde parcelas agrícolas, paisagem rural,
bacias hidrográficas ou mesmo regiões (Zhang et al., 2007). Dessa forma, para uma
melhor compreensão dos fluxos de serviços ecossistêmicos prestados pelas ativi-
dades agrícolas, faz-se relevante considerá-los a partir de uma perspectiva espaço-
-temporal mais ampla.

No nível das parcelas de produção, evidenciam-se principalmente os processos e


serviços que ocorrem nos solos, como: ciclagem da matéria orgânica e de nutrien-
tes, estabilização e estoque de carbono orgânico, infiltração e retenção de água,
entre outros, que são responsáveis pela manutenção da fertilidade e da capacidade
de produção biológica dos solos. Nesse nível ou escala de observação, o manejo,
tanto dos solos como das culturas, é de importância primordial, visto que tem forte
influência sobre todos esses processos. É importante destacar, contudo, que a
maioria das práticas agrícolas se limita a esse nível de atuação, ou seja, de manejo
das parcelas, carecendo de contemplar uma visão mais ampla da ambiência e das
múltiplas relações funcionais que ocorrem entre o campo de produção e a paisa-
gem rural na qual este se insere.

Processos ecológicos ocorrem frequentemente em escalas de observação mais


amplas do que as parcelas de produção, tornando a composição da paisagem agrí-
cola um fator essencial do ecossistema no tocante ao fluxo de serviços ecossistê-
micos entre os campos de produção agrícola e seu ambiente de entorno (Garbach
et al., 2014). Nessa escala de observação, como salienta Swinton et al. (2007), a
agricultura é uma atividade dependente não apenas das condições locais do campo
de produção, mas também das características das paisagens circundantes. As cul-
turas em campos individuais dependem dos serviços prestados pelos ecossistemas
naturais próximos, assim como estes são influenciados pelos campos vizinhos de
produção agrícola. Por exemplo, ecossistemas vizinhos fornecem alimento, refú-
gio e habitat reprodutivo para polinizadores e agentes biocontroladores benéficos
para as culturas agrícolas, além de abrigarem organismos potencialmente nocivos
às culturas. Por sua vez, insumos, agroquímicos e pesticidas utilizados na agricultura
podem impactar os ecossistemas naturais à jusante ou circunvizinhos aos campos
cultivados (Zhang et al., 2007).

97
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Os serviços relacionados à estabilidade hidrossedimentológica, ao controle de ero-


são, à regulação hidrológica e à disponibilidade hídrica constituem processos mais
bem evidenciados a partir de uma escala de observação mais ampla, como, por
exemplo, da bacia hidrográfica. Em escala regional, evidenciam-se os processos
ecossistêmicos decorrentes da agricultura em larga escala geográfica, como a regu-
lação climática e as emissões de gases de efeito estufa.

Contudo, é importante ter em mente que os processos ecossistêmicos não ocorrem


de modo compartimentado, mas perpassam as escalas espaciais a partir de uma
cadeia de processos interdependentes de causa e efeito. Por exemplo, a dinâmica
hidrossedimentológica de uma bacia hidrográfica é observada a partir de uma visão
espacial mais ampla; no entanto, a desagregação e o carreamento das partículas
de solo estão ocorrendo em cada centímetro quadrado de solo exposto aos fato-
res causais. As emissões dos gases de efeito estufa também ocorrem em cada
centímetro cúbico de solo, mas tem seu efeito evidenciado quando se considera
sua expressão regional.

Agricultura: beneficiária e dependente dos serviços ecossistêmicos


A capacidade de produção dos ecossistemas, ou seja, a capacidade de suporte das
atividades agrícolas depende de uma série de serviços ecossistêmicos relacionados
aos ciclos biogeoquímicos dos ecossistemas terrestres (Zhang et al., 2007).

Dentre os serviços ecossistêmicos de provisão e regulação, a agricultura é extre-


mamente dependente daqueles relacionados ao ciclo hidrológico e à sazonalidade
climática que influenciam todo o ciclo fenológico do desenvolvimento vegetal. A
dinâmica do ciclo hidrológico desempenha um papel central no funcionamento dos
ecossistemas, influenciando diversos ciclos biogeoquímicos, determinando a qualidade
da água, a depuração de poluentes e a ciclagem de nutrientes, carbono e nitrogênio
(Danesh-Yazdi et al., 2016), com reflexos diretos e indiretos nas atividades agríco-
las. A regulação do ciclo hidrológico e a provisão hídrica, tanto para sistemas de
produção agrícola dependentes de chuva (sequeiro) como para sistemas irrigados,
são serviços ecossistêmicos fundamentais para a sustentabilidade das atividades
agrícolas.

Ecossistemas naturais fornecem habitat e alimentos necessários para uma grande


diversidade de artrópodes predadores e parasitóides, aves insetívoras e patógenos
microbianos que atuam como inimigos naturais de pragas agrícolas e, dessa maneira,

98
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

prestam serviços de controle biológico em agroecossistemas (Tscharntke et al.,


2005). Esses serviços de controle biológico podem reduzir as populações de inse-
tos pragas e plantas daninhas na agricultura, reduzindo a necessidade de pestici-
das e beneficiando a agricultura na medida em que potencializam o rendimento
agrícola e economizam insumos e recursos financeiros (Cong et al., 2016). Dessa
forma, o controle biológico de pragas e patógenos em agroecossistemas constitui
um importante serviço ecossistêmico prestado à agricultura pelos ecossistemas
naturais (Power, 2010). A polinização constitui outro importante serviço fornecido
por habitats naturais em paisagens agrícolas. De acordo com Klein et al. (2006),
75% de todas as espécies de culturas agrícolas, significantes para a produção de
alimentos, dependem da polinização por meio da ação de animais, principalmente
dos insetos. Consequentemente, a manutenção de habitats, em mosaicos de paisa-
gens seminaturais no meio rural, pode contribuir com o aumento da produtividade
e sustentabilidade das atividades agrícolas, uma vez que servem de refúgio e abrigo
para os organismos benéficos provedores de tais serviços.

Destacam-se ainda outros serviços prestados pelos ecossistemas naturais em bene-


fício da agricultura, como a diversidade genética, a ciclagem de nutrientes e de
matéria orgânica que mantém a fertilidade do solo (Power, 2010).

Por fim, cabe ressaltar que os recursos naturais e os serviços ecossistêmicos não
são externalidades aos sistemas de produção, mas afetam a própria base de susten-
tabilidade das atividades agrícolas.

Serviços ecossistêmicos e a multifuncionalidade da paisagem rural


Dependendo do contexto, o termo multifuncionalidade da agricultura tem sido uti-
lizado com vários significados no debate sobre políticas agrícolas (OECD, 2001b).
Esse conceito se traduz numa abordagem de manejo integral dos agroecossistemas,
em um contexto de paisagem, visando, além da provisão de alimentos, garantir a
manutenção e a prestação de outros relevantes serviços ecossistêmicos.

A ideia implícita é que a multifuncionalidade da paisagem rural pode ser planejada


no sentido de se estabelecer um mosaico variado, onde haja integração das áreas
naturais e cultivadas, mantendo assim a dinâmica e os fluxos de serviços ecossistê-
micos entre ambas. Por exemplo, a disponibilidade hídrica, em termos de qualidade
e quantidade, depende do fluxo da água que é influenciado pelas condições dos
agroecossistemas na medida em que a água se move por todos os fragmentos da

99
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

paisagem em uma bacia hidrográfica (Brauman et al., 2007). Os solos, por sua vez,
constituem sistemas naturais multifuncionais, visto que prestam serviços ecossis-
têmicos diversos, conferindo benefícios explícitos não somente para os sistemas
de produção mas também para toda a sociedade (Dominati et al., 2010; Braat; De
Groot, 2012; Hewitt et al., 2015). Desse modo, as paisagens multifuncionais bene-
ficiam os produtores na medida em que mantêm o fluxo de serviços ecossistêmi-
cos em prol da sustentabilidade dos seus sistemas de produção. A abordagem dos
serviços ecossistêmicos fornece, dessa maneira, uma base teórico-conceitual ade-
quada para o estabelecimento de métodos de avaliação no sentido de promover a
multifuncionalidade da paisagem no meio rural (TEEB, 2015; DeClerck et al., 2016).

Nesse contexto, as Áreas de Preservação Permanente (APP) e a Reserva Legal (RL)


exercem um papel preponderante na multifuncionalidade das paisagens rurais, pois
garantem, por força legal, a presença de fragmentos naturais em meio às parcelas
de produção. Portanto, devem ser mantidas ou restauradas, visando compor uma
paisagem diversa que funcione como um ecossistema equilibrado e, consequente-
mente, permita uma produção agrícola mais sustentável (Robertson et al., 2007,
2014).

Além dos mosaicos formados pelas parcelas de produção em meio aos fragmentos
naturais, o tipo de sistema de produção também influencia a multifuncionalidade
das paisagens no meio rural. Nesse sentido, sistemas de produção agroecológicos
ou integrados que promovem maior agrobiodiversidade, normalmente, aumen-
tam o fluxo de serviços essenciais e assim concorrem para a efetivação de paisa-
gens rurais multifuncionais. Entre os sistemas integrados, destacam-se os Sistemas
Agroflorestais (SAF) e o sistemas de baixa emissão de carbono, como os iLPF (inte-
gração Lavoura, Pecuária e Floresta) e suas variações, que promovem a utilização
mais eficiente dos recursos naturais pela integração das atividades agrícolas, pecu-
árias e florestais em uma mesma área. Os SAFs são baseados na prática conhecida
por “land sharing”, ou seja, compartilham a mesma área de produção com a área
de conservação (e.g. Power, 2010), enquanto os sistemas iLPFs apostam nas estra-
tégias de rotação, sucessão e consórcio entre os diferentes elementos do sistema
integrado. Contudo, para contemplar a efetiva multifuncionalidade da paisagem
rural, além da promoção da agrobiodiversidade por meio dos sistemas integra-
dos, o isolamento de certas áreas para a preservação de ecossistemas naturais
se faz primordial (land sparing) para a manutenção do fluxo de serviços ecossis-
têmicos (Phalan et al., 2011).

100
Serviços ecossistêmicos: instrumentos legais e políticos no Brasil

Além disso, uma paisagem diversa no modelo “land sharing” ou “land sparing”,
capaz de produzir, simultaneamente, serviços de provisão e regulação, possibilita
também a geração dos serviços culturais (Fischer et al., 2014; Díaz et al., 2018), uma
vez que se torna atrativa à recreação e ao turismo rural e ecológico. Nesse contexto,
destaca-se que uma paisagem multifuncional é capaz de gerar renda adicional por
meio do agroturismo, pois preserva a beleza cênica entre campos cultivados e
ambientes naturais (Grass et al., 2019).

Por fim, além de disseminar as práticas e estratégias capazes de potencializar a mul-


tifuncionalidade da paisagem rural, faz-se necessário avançar no estabelecimento
de metodologias de avaliação e a valoração dos benefícios que uma paisagem
multifuncional pode trazer para a sociedade em geral, visando atrair a atenção
da iniciativa privada e de agentes públicos para essa oportunidade, não apenas
ambiental, mas de desenvolvimento socioeconômico sustentável do meio rural
(Power, 2010; Turkelboom et al., 2016).

Considerações finais

• Diversas são as pressões que o uso da terra, por conta das atividades
agrícolas, tem exercido sobre os recursos naturais e serviços ecossistêmicos,
sendo potencialmente agravadas pelas mudanças climáticas, com graves
consequências aos ecossistemas e à sustentabilidade das sociedades humanas.
Por outro lado, vimos que a agricultura pode prover, além da provisão primária
de alimentos, fibras e outros bens, diversos serviços ecossistêmicos de
regulação e provisão que são essenciais para estabilidade dos ecossistemas e
sustentabilidade ambiental. Além disso, a agricultura, sem os devidos cuidados
conservacionistas, pode impactar diversos processos ecossistêmicos que não
são externalidades ao sistema, mas ameaçam a própria base de sustentação da
produção, por ser intrinsecamente dependente dos serviços ecossistêmicos.

• É importante contemplar a multifuncionalidade da paisagem rural e


compreender que os serviços ecossistêmicos ocorrem em múltiplas escalas – do
local ao global. Dessa forma, é muito importante para a sustentabilidade do
setor agropecuário que a multifuncionalidade da paisagem rural seja promovida,
diversificando a produção agrícola e preservando a biodiversidade por meio da
manutenção de remanescentes de vegetação natural em meio às parcelas de
produção, garantindo assim a prestação de diferentes categorias de serviços
ecossistêmicos.

• Nesse contexto, a agricultura constitui um setor econômico chave na


edificação de um modelo de desenvolvimento socioeconômico efetivamente
sustentável, visto que é diretamente beneficiária, dependente e prestadora de

101
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

serviços ecossistêmicos. O desafio do setor, portanto, é garantir a produção


futura de alimentos e, ao mesmo tempo, conservar os recursos naturais, mitigar
os impactos ambientais e manter o fluxo de serviços ecossistêmicos.

• Por fim, a visão da Embrapa no relevante tema “Agricultura e Serviços


Ecossistêmicos” pode ser assim sumarizada:

“Sendo imprescindível para a manutenção da sociedade humana, a agricul-


tura fornece, prioritariamente, serviços de provisão de alimentos, fibras, fár-
macos, biocombustíveis, entre outros. Mas, muito além da provisão pri-
mária de bens de consumo diretos, a agricultura presta relevantes serviços
de regulação de processos ecossistêmicos relacionados aos ciclos biogeoquí-
micos naturais. Acresce a esses a prestação de serviços culturais relacionados
à paisagem e à ambiência rural.”

“A agricultura, sem os devidos cuidados conservacionistas, pode impactar


diversos processos ecossistêmicos que não são externalidades ao sistema,
mas ameaçam a própria base de sustentação da produção agrícola, por ser
intrinsecamente dependente dos serviços de suporte dos ecossistemas
terrestres. A agricultura é, portanto, ao mesmo tempo, provedora e depen-
dente dos serviços ecossistêmico.”

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107
CAPÍTULO 5

Serviços ecossistêmicos:
pesquisa, desenvolvimento
e inovação
Lucília Maria Parron
Ana Paula Dias Turetta
Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
Adriana Reatto dos Santos Braga
Rachel Bardy Prado
Ivan Bergier Tavares de Lima
Mônica Matoso Campanha
Elenice Fritzsons
Bernadete da Conceição Carvalho Gomes Pedreira
Enio Egon Sosinski Junior
Sandra Aparecida Santos
Aluisio Granato de Andrade
Leandro Bochi da Silva Volk
Carlos Roberto Martins
Débora Pignatari Drucker
Rodrigo Peçanha Demonte Ferraz
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Introdução
Este capítulo apresenta uma visão geral sobre a pesquisa, desenvolvimento e inovação
em serviços ecossistêmicos (SE) no âmbito da Embrapa e instituições parceiras.
Neste sentido, apresenta a abordagem adotada em SE pela Embrapa em sua progra-
mação de PD&I, estratégias e linhas temáticas, discute como a Empresa deve atuar
na transferência do conhecimento e tecnologias em SE e aponta diretrizes para
o reconhecimento do valor da provisão dos SE no meio rural brasileiro. Também
apresenta o alinhamento do tema SE aos documentos de visão da Embrapa
(Sustentabilidade e Bioeconomia) e aos objetivos do desenvolvimento sustentável
(ODS), propostos na Agenda 2030 da ONU.

Qual é a importância da pesquisa, desenvolvimento e inovação em


serviços ecossistêmicos para o Brasil?
O Brasil tem desempenhado papel de destaque mundial na busca por uma produção
agrícola integrada e sustentável e em modelos agroindustriais eficientes (Lopes;
Contini, 2012). De um lado, a incorporação do conceito de sustentabilidade e da
Economia Circular nos processos produtivos agropecuários, incluindo aspectos
ambientais, sociais e econômicos de forma integrada, que resulte em crescimento
com foco em benefícios para toda a sociedade (Stahel, 2016), tem se constituído
em grande e permanente desafio. Por outro, sistemas de produção, alinhados aos
Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas, estarão em
boa medida alicerçados no avanço tecnológico, haja vista o aumento exponencial
da taxa de inovação em cadeias de produtos e processos da 4ª Revolução Industrial
(World Economic Forum, 2018).

No Brasil, será fundamental, portanto, fomentar os esforços


de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) que se
traduzam em ganhos econômicos e em mitigação dos hiatos
socioambientais (Embrapa, 2003).

Nesse contexto, a promoção da inovação na agricultura familiar e na agroindústria será


crucial para garantir aumentos na produtividade para reduzir as assimetrias ou
imperfeições dos mercados interno e externo. A redução da defasagem científica e
tecnológica que separa o Brasil das nações mais desenvolvidas, a ampliação das bases
para o desenvolvimento sustentável, a expansão e consolidação da liderança bra-
sileira na economia de baixo carbono e de conhecimento da natureza, a consolidação

110
Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação

da inserção internacional do Brasil e a superação da pobreza e a redução das desi-


gualdades sociais e regionais, configuram-se em grandes desafios nacionais para a
ciência, tecnologia e inovação (Brasil, 2016).

Um dos grandes e atuais desafios para o desenvolvimento econômico brasileiro é con-


tribuir para o crescimento da produção mundial de alimentos (grandes commodities) e,
ao mesmo tempo, reduzir os impactos dessa produção sobre os recursos naturais
(Sambuichi et al., 2012). Tendo em vista as gerações futuras, os recursos naturais
devem ser geridos eficientemente visando ao não comprometimento da provisão
de serviços ecossistêmicos (Power, 2010).

O setor agropecuário fornece serviços de provisão em abundância, mas apre-


senta um potencial pouco diversificado de serviços de regulação e de suporte
por unidade de área, quando comparados aos ecossistemas naturais (Porter et
al., 2009). No entanto, há uma grande oportunidade de aumentar a diversifi-
cação desses serviços, por meio da adoção de práticas conservacionistas de
manejo agrícolas, tema em que a Embrapa tem muita competência. Por isso,
lacunas do conhecimento e demandas nesse tema precisam ser supridas pela
pesquisa científica e, consequentemente, pela transferência de tecnologias,
visando alcançar a sustentabilidade nos setores agropecuário e florestal (Santos
et al., 2012). É importante enfatizar que grande parte da agricultura brasileira,
suas possibilidades tecnológicas e a geração de SE ocorrem nos ecossistemas
tropicais (Crestana; Sousa, 2008).

A pesquisa básica e estratégica em SE, direcionada para as diferentes latitudes e


realidades do Brasil, devem ser integradas às políticas públicas, com o objetivo de
subsidiar os tomadores de decisões. Se planejadas e manejadas adequadamente,
paisagens produtivas podem prover não só a produção de alimentos e fibras, mas
também ampla variedade de SE, que em sua maioria não tem valor de mercado,
como a conservação da biodiversidade, regulação da água, e regulação climática.
Em função disso, instrumentos de incentivos à conservação e manutenção de múl-
tiplos SE são de grande interesse para as políticas com foco conservacionista e de
ordenamento territorial (Parron; Garcia, 2015). Portanto, é necessário desenvolver
PD&I para que aconteça a inovação endógena, uma oportunidade única, que nos
diferencia e justifica financiamento e existência de instituições de pesquisa voltadas
à agricultura como a Embrapa e Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária
(OEPAs) (Crestana; Mori, 2015).

111
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

Como se faz pesquisa, desenvolvimento e inovação em serviços


ecossistêmicos?
A abordagem dos SE possui natureza multidisciplinar e transdisciplinar, envolvendo as
ciências da vida, da terra, sociais e econômicas, uma vez que o tema envolve componen-
tes múltiplos (bióticos e abióticos) que estão inseridos em contextos socioeconômicos.

Também leva em conta uma visão sistêmica e integrada, porque os SE não podem
ser compreendidos de forma isolada, pois resultam de uma série de funções e fluxos,
que compõe um sistema ecológico integrado. Aliado a isso, os SE resultam em bens
e serviços que ocorrem em várias escalas espaciais, do local ao global, bem como em
diversas escalas temporais, gerando benefícios que podem ser imediatos ou de médio
e longo prazo. Deve-se considerar ainda que os SE podem integrar diversas regiões,
uma vez que um serviço produzido em um local pode ser consumido em outro.

De forma geral, as ações de PD&I em SE são caracterizadas pela compreensão dos


processos e funções ecossistêmicas que promovem os SE e as condições para sua
manutenção. Também consideram a atribuição de valor econômico aos bens e ser-
viços providos pelos ecossistemas. A organização e disponibilização de informações
em banco de dados e o uso de ferramentas de análise integrada são muito impor-
tantes nos estudos em SE. Uma grande tendência dessa e das próximas décadas
é o emprego de inteligência analítica voltada à Big Data, na coleta (automação e
conectividade cada vez mais disponíveis), organização e deciframento dos bancos
de dados, de modo a transformá-lo em conhecimento útil e apoio aos tomadores
de decisão. Também são importantes a adoção de experimentos de longa duração
(que sirvam também de vitrines tecnológicas), o intercâmbio de conhecimento e
a cooperação interinstitucional (nacional e internacional). Pesquisas devem ser
capazes de avaliar e dimensionar os impactos das ações antrópicas nos SE, propor
métodos de avaliação e valoração desses serviços, assim como selecionar e vali-
dar indicadores qualitativos e quantitativos em diversas escalas, de forma que seus
resultados sejam instrumentos na elaboração de políticas públicas.

Quais são as linhas temáticas da PD&I em serviços ecossistêmicos na


Embrapa?
A agenda de PD&I em SE na Embrapa parte de premissas definidas nas agendas e acordos
internacionais de que o Brasil participa, e em instrumentos de política, como a Redução
de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), Política Nacional sobre

112
Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação

Mudança do Clima, Código Florestal, Política Nacional de Biodiversidade, Pagamento


por Serviços Ambientais (PSA). Tais premissas são abordadas no Capítulo 3. Também
são norteadores das pesquisas em SE os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) definidos para até 2030 pelas Nações Unidas e a Plataforma Intergovernamental
sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).

A agenda de PD&I em SE na Embrapa acompanha a abordagem definida pelo MEA


(Millennium Ecosystem Assessment, 2005), ampliando os esforços para o conhe-
cimento e desenvolvimento de tecnologias que aumentem a provisão de SE. Essa
agenda abrange diferentes escalas de atuação: local (ex.: atuação dos poliniza-
dores, alterações microclimáticas e edáficas), de paisagem (ex.: estabilização dos
ciclos hidro-sedimentológicos, benefício das florestas ciliares na biodiversidade e
qualidade da água superficial, conservação dos corpos d’água), regional (ex.: emis-
sões de gases de efeito estufa, controle das enchentes, manutenção do ciclo de
inundação) e global (ex.: ciclos biogeoquímicos, mudanças climáticas, interferências
na circulação atmosférica global). Os estudos focam nos principais impulsores das
mudanças e seus impactos no clima, no uso da terra e na provisão de SE. Buscam
ainda quantificar os limites críticos desses impactos, a resiliência e a sustentabi-
lidade dos sistemas produtivos. Para se atingir eficiência e sustentabilidade nos
setores agropecuário e florestal, as principais demandas e lacunas na PD&I em SE
onde devem ser concentradas as futuras pesquisas são:

• Desenvolvimento, validação e aplicação de indicadores, de métodos e de


ferramentas para a avaliação e monitoramento dos SE.

• Definição de indicadores simplificados e de baixo custo para avaliar a


sustentabilidade de paisagens rurais.

• Desenvolvimento de protocolos para análises integradas de SE em diferentes


escalas (espacial e temporal).

• Desenvolvimento e aplicação de ferramentas para sistematização e


padronização de métodos e organização da informação em SE.

• Análise espacial da paisagem rural, pela aplicação de geotecnologias


e métricas para identificação de sua multifuncionalidade, áreas frágeis ou
potenciais à prestação de SE.

• Modelagem e geração de cenários futuros de SE.

• Valoração econômica da provisão de SE em sistemas naturais e produtivos.

113
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

• Desenvolvimento, validação e aplicação de metodologias para avaliar a


relação entre SE, funções ecossistêmicas e biodiversidade em diferentes escalas.

• Validação de critérios sócio-econômico-ecológicos para análise dos efeitos


da perda de SE e biodiversidade.

• Geração de tecnologias, práticas, recomendações, diretrizes e alternativas


conservacionistas para sistemas de produção.

• Ações de promoção e reconhecimento da importância dos SE como insumos


para a intensificação sustentável da agricultura.

• Validação de processos de certificação ou compensação a sistemas de


produção sustentáveis.

• Desenvolvimento de protocolos de avaliação de ciclo de vida, do balanço de


massa e de energia em sistemas produtivos, associados à prestação de SE.

• Análise e avaliação de políticas públicas voltadas à provisão e pagamento


de SE.

• Desenvolvimento de softwares ou aplicativos associados à quantificação e


valoração de SE.

• Desenvolvimento de novos modelos e aplicação de modelos já desenvolvidos


de restauração, sistemas agroflorestais e de produção integrada que promovam
aumento da biodiversidade e impactos positivos nos SE, tenham baixo custo e
promovam a sustentabilidade e agregação de valor ao sistema produtivo.

Quais são as estratégias da Embrapa na programação de PD&I em


serviços ecossistêmicos?
Frente às constantes transformações e suas implicações em CT&I para a agri-
cultura, a Embrapa, desde 2012, tem aprofundado suas ações em inteligência
estratégica antecipativa via Agropensa. Esse Sistema de Inteligência Estratégica
é estruturado em dois pilares: monitoramento permanente do ambiente externo,
focando na captação constante de sinais e tendências e na elaboração de cenários
e visões de futuro para a agricultura brasileira, e produção de informações que
deem base à elaboração de estratégias para os mais diferentes atores e agentes
de todos os elos das cadeias produtivas agrícolas, em especial a própria Embrapa
(Embrapa, 2018). No âmbito do Agropensa, a Embrapa lançou o Documento Visão
2014-2034 – O Futuro do Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Brasileira
(Embrapa, 2014), que serviu de embasamento para a construção do VI Plano

114
Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação

Diretor da Embrapa (PDE) (Embrapa, 2015). Esse documento estabelece as gran-


des linhas de orientação para as atividades a serem desenvolvidas na Embrapa
no período de 2014 a 2034, sendo um processo contínuo de construção, aferição,
modulação e atualização de cenários, ou seja, diagnósticos em permanente revi-
são. É missão da Embrapa viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e
inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade bra-
sileira. Nesse sentido, entre os direcionamentos estratégicos estabelecidos pela
Embrapa (2015) e que apresentam interface com os SE, se destacam:

• Desenvolver conhecimentos e tecnologias para o adequado manejo e


aproveitamento sustentável dos biomas brasileiros.

• Desenvolver conhecimentos e tecnologias e viabilizar soluções para ampliar a


resiliência e a plasticidade dos ecossistemas nativos e dos sistemas de produção
agropecuários, bem como ampliar a capacidade de adaptação da agricultura
diante das mudanças climáticas.

• Desenvolver, adaptar e disseminar conhecimentos e tecnologias em


automação, agricultura de precisão e tecnologias da informação e da
comunicação para ampliar a sustentabilidade dos sistemas produtivos e agregar
valor a produtos e processos da agricultura.

• Desenvolver sistemas de produção inovadores capazes de aumentar a


produtividade agrícola, florestal e aquícola, com sustentabilidade.

• Gerar ativos de inovação agrícola baseados no uso de biocomponentes,


substâncias e rotas tecnológicas que contribuam para o desenvolvimento de
novas bioindústrias com foco em energia renovável, química verde e novos
materiais.

• Apoiar o aprimoramento e a formulação de estratégias e políticas públicas,


a partir de análises e estudos alinhados às necessidades do mercado e do
desenvolvimento rural.

• Gerar conhecimentos e tecnologias que promovam inovações gerenciais


para tratar com eficiência, eficácia e efetividade a crescente complexidade e
multifuncionalidade da agricultura.
Entretanto, o Documento Visão, explicitado acima, foi revisitado frente às novas
estratégias em CT&I no desenvolvimento da agricultura e contribuição até 2030
para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações
Unidas (17 Objetivos..., 2015) no Documento Visão 2030: O Futuro da Agricultura
Brasileira (Embrapa, 2018). Esse documento agrupou os sinais e tendências externas

115
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

consolidando-os em sete “megatendências”, quais sejam: mudanças socioeconô-


micas e espaciais na agricultura, intensificação e sustentabilidade dos sistemas de
produção agrícolas, riscos na agricultura, agregação de valor nas cadeias produtivas
agrícolas, mudança do clima, riscos na agricultura, agregação de valor nas cadeias
produtivas agrícolas, protagonismo dos consumidores e convergência tecnológica
e de conhecimentos na agricultura. Os desafios apontados nesse documento em
relação aos SE foram:

• Desenvolver indicadores e protocolos de certificação socioambientais de


propriedades rurais, produtos e serviços.

• Implementar políticas públicas e programas que promovam a adoção de


boas práticas agrícolas e o pagamento por SE.

• Remunerar os produtores rurais pelos SE prestados com foco na redução das


emissões de gases de efeito estufa e oferta de água.

• Desenvolver novos sistemas de produção que considerem aspectos da


multifuncionalidade do espaço rural, integrando a produção de alimentos, fibras
e energia às atividades econômicas não agrícolas, tais como turismo rural e
serviços ecossistêmicos.

De acordo com as diretrizes atuais da Embrapa, a programação da pesquisa,


desenvolvimento e inovação acompanha temas estratégicos da agricultura bra-
sileira. As chamadas para projetos ocorrem com base em demandas e priorida-
des estabelecidos em portfólios (Embrapa, 2018). Os portfólios são organizados
segundo uma visão temática e é um instrumento de apoio gerencial com a finalidade de
direcionar, promover e acompanhar a programação de PD&I da Embrapa, definindo
seu escopo de atuação em alinhamento aos objetivos estratégicos da empresa
refletidos no Plano Diretor da Embrapa (PDE).

O que pode ser oferecido à sociedade como solução com base nas
pesquisas: transferência do conhecimento e tecnologias em serviços
ecossistêmicos?
A forma como as sociedades e as nações produzem, absorvem e utilizam conhe-
cimentos científicos e inovações tecnológicas impactam, em grande parte, o seu
bem-estar e afetam o seu nível de desenvolvimento. O elemento tecnologia deve
fazer parte do escopo da política ambiental, no que se refere às práticas e processos
ambientalmente seguros, bem como à facilidade de acesso a eles. Propriedades

116
Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação

rurais necessitam do aporte de tecnologias para incorporar produtividade e obter


ganhos na conservação dos recursos naturais.

As ações de transferência do conhecimento e tecnologias em SE devem ter como


pauta, principalmente:

• Capacitação e troca de experiência em SE.

• Ferramentas de apoio às iniciativas de compensação e certificação aos


produtores rurais que adotam práticas conservacionistas nos sistemas de
produção.

• Instrumentos e metodologias de baixo custo para a implantação de leis,


políticas públicas e outras iniciativas com foco na conservação e sustentabilidade.

• Promoção e reconhecimento dos SE como fatores essenciais à produção de


alimentos, geração de energia, conservação da água, do solo e da biodiversidade.

• Promoção e valorização da agricultura sustentável e do produtor rural como


provedores de SE e o reconhecimento da sociedade como beneficiária dos SE
gerados.

• Divulgação dos SE como fundamentais à segurança alimentar, hídrica e


energética.

• Divulgação do conhecimento sobre os impactos das tecnologias em SE


desenvolvidas e validadas pela Embrapa.

As diretrizes da Embrapa na transferência de tecnologias envolvendo o conceito de SE


devem buscar um entendimento integrado das atividades do setor agropecuário com
as necessidades socioambientais, econômicas e culturais de cada dimensão espacial,
seja local, regional ou global, como suporte para uma agricultura sustentável.

A PD&I na Embrapa em serviços ecossistêmicos e a adoção da Agenda


2030 e dos Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS): desafios
atuais e visão de futuro
Os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela ONU visam à
busca de um equilíbrio entre o uso de recursos naturais para o desenvolvimento
socioeconômico e a conservação dos serviços providos pelos ecossistemas. Esse
equilíbrio é fundamental para o bem-estar e a sobrevivência da humanidade
e conservação do meio ambiente. Por isso, é essencial a compreensão de como

117
Marco Referencial em Serviços Ecossistêmicos

a manutenção e restauração dos SE contribuem para atingir esses objetivos.


Também, é importante ter a clareza de quem são os beneficiários e quem perde
com as mudanças decorrentes das intervenções do desenvolvimento sustentável.
Os ODS necessitam integrar os valores dos ecossistemas nos processos de plane-
jamento, desenvolvimento e definição de estratégias para a redução da pobreza. A
PD&I na Embrapa atua em todos os biomas brasileiros e contribuem com os ODS,
especialmente as pesquisas relacionadas à redução da fome, melhoria da segu-
rança alimentar, da nutrição, e da promoção da agricultura sustentável e do uso
sustentável dos recursos naturais (Costa et al., 2018; Cuadra et al., 2018; Hammes
et al., 2018; Medeiros et al., 2018; Palhares et al., 2018; Silva et al., 2018). A bioecono-
mia, economia baseada em sistemas biológicos e de baixo impacto, deve orientar os
projetos de PD&I da Embrapa no futuro próximo. A partir do potencial ambiental do
Brasil, esse direcionamento considera as possibilidades criadas a partir desse novo
modelo econômico, onde a agricultura se conecta com uma multifuncionalidade,
dedicada não apenas à produção de alimentos e fibras, mas também de energia,
SE, biomassa e biomateriais, além da preocupação com a química verde, atendendo aos
compromissos do país com a agenda mundial para o desenvolvimento sustentável. Nessa
nova realidade, dispositivos móveis e plataformas conectam produtores aos grandes mer-
cados. Análises geoespaciais a partir do uso de sensores e mecanismos sofisticados
de coleta de dados, previsão e resposta a variações climáticas ajudam produtores a
tomar decisões. Como consequência, o aumento da produção de alimentos, fibras e
energia demanda mais insumos da natureza. Nesse contexto, estão os instrumentos
de incentivos à conservação e manutenção de SE, tais como pagamento ou outro tipo
de compensação por sua prestação, abordados anteriormente.

Considerações finais

• A abordagem em SE busca induzir mudança de paradigmas no manejo de


recursos naturais e contribuir para a tomada de decisão de gestores e formuladores
de políticas, visando ao bem-estar da sociedade e à conservação da natureza.

• Existe um amplo conjunto de instrumentos e avanço no conhecimento que


contribuem para a avaliação das relações entre o uso e cobertura das terras e
o fluxo de SE, assim como existem lacunas de pesquisa a serem preenchidas. O
desenvolvimento e a continuidade das linhas temáticas de PD&I identificadas
neste documento, aliados à transferência da informação obtida em linguagem
e formatos adequados, em muito auxiliarão os tomadores de decisão, para que
possam identificar e aplicar claramente a abordagem em SE.

118
Serviços ecossistêmicos: pesquisa, desenvolvimento e inovação

• Visando acompanhar as tendências mundiais no tema SE, é de extrema


importância para o grupo de pesquisa da Embrapa a prospecção e mapeamento
contínuo das demandas da sociedade por solução de seus problemas, bem
como estabelecer parcerias estratégicas internas e externas, que ampliem a sua
capacidade e agilidade na obtenção das soluções demandadas.

• É fundamental que as dimensões ecológica, econômica e social sejam


incorporadas nas decisões dos agentes econômicos, particularmente
naquelas que afetam o uso e a cobertura da terra. O uso de instrumentos de
incentivos à conservação e manutenção de SE representam uma mudança
de paradigma no manejo e gestão dos recursos naturais, o que é primordial
para o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira e bem-estar das
gerações presentes e futuras.

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