Você está na página 1de 21
© Gauthier-Villars, 1974 ‘Titulo original: Groupes, organisations et institutions a) uustragées: AG Comunicagdo Visual, Arquitetura Ltda, Impresso no Brasil Printed in Brazit FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de. Catalogasio-na-fonte do Lapa, Georges Latse Grapes, oramizages ¢intugSe; ta fique "Augusto de Arado Mexqua’ preticts “de: | litte PaverBoulomier, Rio de Jando, "F. “ANes ce (Eadueacio em questo) in erin) em frances: Groupes, organisations et ge 1. Psicologia social 1, Titulo HL, Série cpp — 01.1 70682 Du — 01 Ist 1977 Todos os direitos para lingua portunucsa reservados & LIVRARTA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. Rua Baro de Lucena, 43, Botafogo ZC-02 20.000 Rio de Janeiro, RJ SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI) sumario Prologo para a terecira edigio Preficio de J. Favez Bourowsun Prélogo para a segunda edigio Introducio Capitulo 1. As fases A, Be © Capitulo 2. Os grupos pesquisn — formago — intervengdo Capitulo 3. As organizagies ¢ © problema da burocracia Capitulo 4. As instituigdes 4 pritica institucional Capitulo 5. Dialétiea dos. grupos, das organizagées, das instituigées Léxico Notas ¢ referencias bibliogrificas Bibliogratia 13 35 39 191 225 301 315 Pprologo para a terceira edicio Entre 1963 © 1964, quando escrevi este livro, haviamos (esenvolvido em torno do movimento dos grupos ‘uma ideo logia que encontrou repercussio, em seguida, no movimento de maio de 1968; particularmente, a ideologia da “liberta. ‘so da palavra”. “Hoje em dia, no entanto, trata Ro novo movimento dos grupos, de organizar a do corpo” Essa nova orientagio é em seu conjunto, contra a pa- lavra, contra a anilise. O seu horizonte politico ¢ bastante obscuro, Pode-se distinguir, todavia, os lagos do novo mo. Vimento dos grupos com os movimentos de libertaglo se xual, € igualmente com priticas terapéuticas muito mais ‘antigas: as préticas do transe... A_ideologia microssociolégica e micropolitica da década de 1960, © da edigho de Arguments de 1962 sobre a psicos- Sociologia, em suas relagdes com politica, tornou-se (potica atual, © cu ndo endosso mais as teses micropoliticas que de senvolvi naquele livro. Penso, ao contritio, que o novo movimento dos grupos de bioenergia, de gestalt, de encontro € de expresso poderia ter, em praz0 mais ou menos longo, tum efeito de libertacdo anéloga aos efeitos que a dindmica de grupo vem obtendo hé dez anos Estou igualmente muito longe, hoje em dia. da and- lise institucional tal como a defini ha dez anos. Trata-se de decompor ¢ de reconstruir 0 conctito de “instituigto Essa reconstrugo necesséria é exigida igualmente pelos trabalhos desenvolvidos no interior do movimento da psico~ ferapia institucional aue influenciou as nossas primeiras pes uitas institucionais. por isso que, recentemente, F. Tos- quelles (em Connexions n.° 7) deciarou que nao se deve confundir a instituigéo e 0 estabelecimento, quer dizer, a escola, o hospital...” Essas observagdes possibilitam esclare- cer pelo menos uma ambigiiidade: nio se definira mais a andlise institucional em situago de intervengio com refe- éncia aos estabelecimentos “clientes”; nio so essas as ins. titwigdes que devemos analisar. Em ‘resumo, cabe-me reto- mar o problema em sua base A anilise institucional esta atravessando um perfodo de cetise © devemos procurar novas formas de intervencao. A primeira parte do livro, sobre as fases A, B, ¢ C, foi diretamente inspirada pelos trabalhos de Serge Mallet, pelo seu livro sobre a nova classe operaria, por nossas conver sas © nossa amizade. Serge Mallet morreu num acidente de trafego, em julho de 1973. Ocupou-se sempre, até 0 dia de sua morte, dos problemas do movimento operirio em Fos; ele militou, ao mesmo tempo, no movimento Occitan ‘A sua meméria, dedico esta nova edi 3B 0 que farei em meu préximo livro: RECHERCHES INSTITU- TTONELLES: 4 — ‘Le désir et linutitution, 8 prefacio © estudo dos pequenos grupos fez brotar, entre os es- pecialistas em ciéncias humanas, a esperanga de descobrir as leis comuns © profundas que regem tanto 0 individuo como a sociedade, Terminaria assim um dilema a que a sociologia © a psicologia do comega do século sé. podiam escapar mediante uma opcio arbitréria, uma vez que era to impossivel_compreender 0 homem ‘sem 0 meio social que Ihe € indispensével, quanto a sociedade sem os seres humanos que a constituem, Ora, no nivel do pequeno grupo, as relagées interpro- fissionais mostram-se ligadas aos comportamentos dos. indi- Viduos, a inter-reagSes que 0 observadar pode registrar com precisio. Quando 0 pequeno grupo é experimental, ou qua- se experimental, dirigido segundo diversas maneiras de exer- civio de autoridade, ou Iibertado artificialmente de qualquer tarefa comum que nio seja a de “manter-se em conjunto”, Parece com efeito que aquilo que se passa nfio é uma coisa qualquer, parece que cada um toma conscitncia da presen- 64 dos outros numa atmosfera em que se apreende, na pré- tica, a relagao estreita de cada existéncia com a existéncia de outrem. A experiéncia do grupo confere assim um novo sentido ao “conhece-te a ti mesmo", que ainda é a dltima palavra de qualquer sabedoria ¢ de ioda a cura psicolégica, ‘mas também mostra que esse conhecimento, para ser com. pleto, deve levar em consideragio © que os outros nos re- Yelam a nosso préprio respeito, pelo papel que nos atribuem © por aqucle que assumimos. A palavra social ‘Todo grupo distribui tarefas, escolhe responsiveis para ir fungdes; em resumo, todo grupo humano se orga- E isso acontece qualquer que seja a finalidade do 2 a produgdo, a pritica religiosa, a gestio ou a agita. politica. De onde vem, no enianto, a organizagio? E "onde vem o grupo? | Um grupo € constituido por um conjunto de pessoas em relagio umas com as outras e que se uniram por diver- razdes: a vida familiar, uma atividade cultural ou pro- ional, politica ou esportiva, a amizade ou a religiio... todos esses grupos — equipes, oficinas, clubes, células = parecem funcionar segundo processos que lhes ‘sho co- ‘mas que ndo se tem costume de observar espontanea- Nos vivemos em grupos sem tomar necessariamente das Teis de seu funcionamento interno. ral e cientifica desses caracteres gerais da vida dos grupos foi chamada por Kurt Lewin de “dinfimica de grupo”. Numa primeira etapa, o termo “dinimica de gruj designou uma cigncia experimental, praticada em laborat6- Ho e sobre grupos artificiais reunidos para fins de experién- cia, Essas experiéncias subordinamse as regras fundamen- tais de toda pesquisa experimental: controle de variaveis, aparclhagem experimental, quantificagio das observagiies. O seu objeto é 0 funcionamento do grupo, a cocsio © as co- ‘municagdes, a criatividade dos grupos, 0 comando. ‘Numa ‘segunda etapa, o mesmo termo designou 0 tra- balho do téenico em dinamica de grupo, 0 qual, saindo de seu laborat6rio, vai ocupar-se da “solugio dos conflitos sociais". © psicanalista “conhece” 0 individuo a partir de sua intervengao terapéutica, que visa a conseguir a cura — quer dizer, uma mudanca da personalidade. 0 psicossocid- Jogo pritico “conhece 0 grupo ao organizé-lo, © conhece & sociedade 20 modificé-la. ©. seu conhecimento cientifico cstabelece-se desia vez a partir de uma pratica social © seu Taboratério so 0s grupos reais, as organizagdes sociais. Nio se pode conhecer © compreender a dinamica de grupo, desde que se ignorem essas duas dimensies de pes- quisa e de asdo. No. sentido original, portanto, a dinimica de grupo cconstitui o setor de pesquisas aberto por Kurt Lewin © por seus assistentes entre 1938 e 1939. Num sentido mais amplo fe mais popular, 0 mesmo termo tende a designar, ao mesmo tempo, © conjunto de pesquists experimentais sobre 05 pe- ‘quenos grupos e todas as téonicas de grupo que constituent ‘9s meios ditos de aplicagio. Essas téenicas sio instrumentos de formagio, de terapia, de animagio e de intervengio, que tm como denominador comum o fato de se apoiarem no grupo. Desle a morte de K. Lewin (1947), multiplicaram-se 0 trabalhos sobre os pequenos grupos, ¢'a psicossociologia dos grupos tornou-se um domfnio auténomo da. pesquisa e da acio com 05 seus laboratérios, seus pesquisadores, suas sociedades ¢ também as suas scitas © as suas ideologias. ‘Assim, na Franga de hoje em dia, o psicossocidlogo € aquele que trata das relagdes humanas nas empresas, ou que forme 0s jovens administradores e os trabalhadores’sociais. nos se- 66 mindrios de psicossociologia. Em resume, é antes de tudo um prético, como um psicanalista, ao qual cle toma de empréstimo, alias, conceitos e modelos de intervencéo, Em 1940, a0 contratio, o técnico em dinamica de grupo ‘era um homem de laboratério, separado de uma pratica de grupos desenvolvida fora do Iaboratério, no tratamento das ““telagoes humanas” ou na psicoterapia de grupo. Registrou- ‘& Portanto,convergénia, ao menor parcial, ds pesquisa © Examinaremos essa convergéncia abordando sucessiva- mente: As penenles nica. sapdinena ake a 2. Os problemas da formagio nogio lewiniana de dindmica de grupo ‘definir um grupo como um sistema de distinguir, por exemplo, as forcas 'e as forgas de coesio: a6 primeitas si Rares Pare. o8 fins gue Cy nl sh FIG.1 - A coesao e 0 objetivo Em certos grupos ditos “naturais", os fatores de coe- ‘Sio podem dominar: assim, num grupo de amigos, que de- seiam, antes de tudo (toda procura de um fim comum), “estar juntos". 44 foram propostos varios eritérios de coe- ‘so: assim, segundo Cartwright © Zander, a cocsio con- funde-se com a atragio exercida pelo grupo sobre os seus membros. Podem-se separar duas séries de fatores: certas, propriedades do grupo (seus obj seu tamanho, seu modo de organizacio), de uma parte, ¢ de outra parte a propriedade que tem o grupo de satisfazer as necessidades dle seus membros (necessidades de relagdes interpessouis, de seguranga, etc.). Entre os fatores de coesio do grupo, pod: se distingui em fungio das finalidades do grupo: © a pertingncia das finalidades (seré que elas sio bem escolhidas?); © a clareza das finalidades: isso implica consondncia entre os diferentes membros do grupo na percepgdo das fi- nalidades; © a aceitagio da finalidade pelos membros. Esses acordos dos membros definem as forgas de atra- ‘so; as divergéncias, ao contririo, constituem forgas de re- pulsio. Desde que as segundas dominem, podem se obser- var processos de esfacclamento dos grupos (figura 2). “8 CY FG 2 -Aawvergéncia dos objetivos e 0 estacelamento do grupo 2. As comunicacoes modos intrinsecos de comu *. O- probler ts comunicagies € © das trocas no interior do. grupo, Po. abordar os problemas de comunicagi rupos varios aspectos. ane Claude Faucheux " distingue duas orientagdes de de comunicagdes (redes oficiais, tais administracio ou numa empresa, a ee FIG. 4 - Comunicagao em forma de estrela eo ° ) OU FIG. 5 - Comunicagao em forma de eirculo “ving POU, ainda observar nos grupos uma pressio no sen- ido da uniformidade que implica, em particular, como con. @ rejeiglo daqueles que desviam, quer dizer, dos que nfo adotam os valores, normas e finalidades © grupo. Um membro que se desvia coloca um problema Para © grupo: ao mesmo tempo que se tende a rejeitd-lo, -se formular a hipétese de que ele poderia trazer para ‘grupo elementos novos de solugio para os problemas © grupo se coloca. Daf os esforgos para uni-lo a0 grupo, A relacéo para com aquele que se desvia foi objeto de experiéneias. Numa delas, a rejeicio de tais ele- ntos é estudada em funcio da motivagso do grupo: quan- aes for 9 motivacio, tanto mals 6 forte a tendén- @ rejeitar aquele que se desvia (grupos de criancas cons. modelos reduzidos. um ‘grupo vencedor poderd ser a projeco de um filme, ou em uma viagem de aviéo. No segundo caso, a rejeigao do que se desvia, que prejudica o trabalho do grupo, do que no primeiro, no qual a motivagio Redine-se um grupo experimental de ieGlogos) tem papéis precisos a 7 outros membros. O pri- de “individu modal”, que Propoe-se Aquele que se desvia o Iugar ‘para controli-lo, fazé-lo calar, eserever, No nivel das comunicagdes, no grupo, observa-se uma baixa significativa das mensagens em dircgdo ao cle- mento mével depois que se juntou ao grupo. O elemento que se desvia passa a polarizar as comunicagées. Depois, observa-se uma baixa, que tende a isold-lo, quando se cons tata que ele nao se junta ao grupo. Isso corresponde a uma baixa da pressio do grupo sobre o clemento que se desvia com vistas & “uniformizacao” do rupo. 4. As resisténcias @ mudanca, A decisto de grupo A resisténcia & mudanga foi estudada por K. Lewin no curso da primeira intervenga0 psicossociol6gica, consagrada as mudancas dos habitos alimentares *. Uma outra experiéncia, citada com freqiiéncia como “eléssica”, € a de Coch e de French na Harwood Manufac- turing Corporation. Voltaremos a ela no capitulo da in- tervengao. 5. A criatividade dos grupos Os problemas da inteligéncia, do conhecimento ¢ da in- vengio foram, alé agora, muito mais estudados no nivel do individuo do que no nivel dos grupos; a respeito desse pon- to, mesmo a psicologia experimental do homem-individuo ‘esti meio século adiantada com relagio ao estudo experi- mental dos grupos. Para mostrar, no entanto, o que se co- mega a fazer nesse dominio, vamos apresentar brevemente ‘05 trabalhos empreendidos na Franca por Claude Paucheux ¢ Serge Moscovici no quadro do C.N.RS. ¢ do Laboratério de psicologia social da Sorbonne **. Esses autores definem a criatividade como um “processo. de claboragdo de representagées que tém uma riqueza de informagao. cada vez maior”. O mesmo ocorre ma desco- derta de uma lei, na invengio cientifica. ‘Para estudar experimentalmente criatividade dos gru- pos, comparando-a com a dos individuos, Faucheux e Mos- 72 _covici utilizaram duas provas: as figuras de Euler (ti © as arvores de Riguet (figura 7). ano) Na primeira prova, apresentam-se a pessoa tabuleiros de damas com nimero variével de quadrados para serem ompletados de acordo com certas instrugocs. Por. exem- Plo, figura 6a representa um tabuleiro no qual se encon. tra cada notagao apenas uma vez em cada coluna. Pede-se a0 grupo experimental para completar a figura seguinte (fi. ura 6b) nas mesmas condigdes (vé-se que 0 quadcado.@ re canal Gam um X» 36 pode conter & Jetta B ( uiram ji nal 0 nuime el fi Bas Cf © ntimeo 3 (2 1 figuram FIG 6A Figuras de Euler FG. 6B A Arvore de Riguet constitui uma prova na qual qual se iis pessoas para desenhar drvores combinando 7 ramos, fazer 0 maior numero de arvores diferentes. das figuras 7a e Tb sio semelhantes mee as = FIG.7A —Arvores de RiguetFIG.78 contrario, a rvore aT is 7% Dee tc aa at an erie 73 ‘Nessa segunda prova, aplicaram-se, aos individuos € aos instr diferentes: gy a en yond Se eater ee ° Ria ceeontrer a 28 esiruturas_possves (Riguet_fecha- do). ‘Sem entrar no detalhe. da experiéneia, ‘daremos as conclusées dessas pesquisas feitas comparativamente, € bom Jembrar, com individuos ¢ com grupos: “A superioridade do grupo depende do tipo de ta- refa. A interagio social nfo € uma garantia de rendimento mais econdmico; : b. ha um feito positive de grupo quando a organi. sagio a tarefa permite uma colsboragao dos membros, co laboragdo suscetivel de tornar mais flexivel a percepeio cada um ¢ de controlar, gragas as regras existentes, @ sua producti; “tote ue numa prova em que é possivel um efeito de gru- po, os grupos sto mais originals do que os individuos”. i te conse- © Ieitor_peteeberi rapidamente a importante conse- ciiéncia, dessa pesquists, principalments. em pedagogia ex Pema dn co river Senate 0& re. ses peri com ie coe "trabalho de equips", ¢ efetuar as opedes pedanésicas fais Kicidas (particularmente sobre os problemas de ‘Tho em grupo). m A historia das teorias e das técnicas de organizagio ‘passou por trés fases: 1. Uma fase de racionalismo mecénico (é 0 periodo das “teorias clissicas” de Taylor ¢ de Fayol) ®, ia, Umma segunda fase que comeca com Elton Mayo%, se, por outro lado, com a sociometria e a dindmica Brupo, © por outro, com a anilise das disfungGes buro- 3. af, terecira fase (que se esforca por ultrapassar a sem, contudo, rejeité-la inteiramente) caracteri- or um neo-racionalismo (March ¢ Simon) ¢ pelo fato ‘que se cnfatizam os problemas do poder (Crozier), As (otis da formagio confecem @ mesma, evolugdo 45 teorias da organizagio de que sio 0 complemento ¢ das dimensies priticas: J. primeira etapa corresponde a técnica dita do a relagio da “formagao nio-diretiva”, dos semini- telagdes humanas ¢ do treinamento para os diagnés- de grupos (Bethel, ctc.), fase ao T.W.L., 6, evidente- ‘4 mesma reagio que a de Elton Mayo face as con. icistas de organizacio; ‘apa das teorias © técnicas da formagao esté em estado embriondrio e experimental. Esea ela. $e nas andlises dos fendmenos de poder e numa das dimensOes institucionais e “politicas” da for Jas sem com isso rejeitar tudo o que foi adquirido Precedente. Designemos essa tendéncia da formagio 1S de “pedagogia institucional”, Um quadro resume esse pa- ralelismo: Organizagio Formagio Primeira etapa: ‘Teorias clissicas — T-W.1 (O.S.T., ete.) i Segunda etapa: RelagSes humanas, Formagiio nao-di- a etapa: nun de gree. Group po, et. : ‘Terceira etapa: Neo-racionalismo, —_Pedagogia institu estudo das relagées cional, de poder Autoformagio ‘Uma vez delimitado este quadro, abordaremos em se~ guida os métodos de formagio da 2.’ ctapa, fundamentals To dni cate sua morte, em 1947, Kurt Lewin preocupa-se com os problemas de formagio, Ele morreu Redo demais para testemunhar ¢ participar do inicio de uma Gxperéne’a que permiliré a difusio a mais intensa, sendo 2 fais fiel, das aquisigdes da dinfmica de grupo: @ saber, a Fnvengio do grupo de formacio (T. Group) em Bethel, entre 1947 € 1948, ¢ a sua difusio na Franca € na Europa a de 1955-1956. Pan avengio do 7. Group foi, segundo L, Bradford, di- retor do seminario de verso (N.T.L,) de Bethel (E.U.A.). fortuita: no curso de uma sessio “os animadores formaram ‘© habito de se reunir fora das sessbes para estudar a dini- trica da sessio. encerrada”. (Tratava-se entio de exposi- ges e de exercicios sobre a dinamica de grupo.) “Os par- icipantes (estagidrios), quando descobriram o fato, mostra yam-se profundamente interessados por essas discusses que. Togo, nao se. travaram mais sem cles.” Trata-se, como se iz na “gitia” atual, de um staff aberto, quer dizer, da rea- izagio de uma reuniio da equip: de animadores frente aos estagidrios, que ouvem assim 0 diagndéstico dos membros da equipe sobre 0 funcionamento de seus grupos Vase assim que esses T. Groups, que alguns definem como esotéricos ¢ iniciéticos, apoiavam-se, na realidade, num procedimento pedagégico muito simples: 0 monitor do gru- formula novamente para 0 grupo de estagidrios as mo- alidades de funcionamento de seu grupo, 0 que permit fa aprendizagem a partir de uma experiéncia vivida aqui ¢ 6 en dados elementares da dindmica de grupo (comu- 8 10 grupo, procedimentos de tomada de decisdes, oo eventual dos problemas de desvio, coesio do B, pelo menos, essa a orientagio que se pode detect i pole Tob oles : af pee Seis ‘concepgdes americanas do grupo de diagnés- so piel Privilegiada de formacio do tipo dinamica de grupo ¢ 0 training group ow grupo de formacao (igualmente -chamado na Franga de grupo de base ou grupo de diagnés- tico). De que se trata? Essencialmente de uma experiéneia vivida do que se passa em todo o grupo, experiencia discutida ‘em comum, sob a orientacio de um monitor. B uma invengdo Pedagégica que consiste, sobretudo, em formar um grupo sod Scja, a0 mesmo tempo, sujeito e objeto de experién- % cada um “se forma”, cada um aprendy a “diagnosticar” funcionamento dos pequenos grupos, observando in vive, “no grupo de que faz parte, os mecanismos diversos, carac- eristicos por hipotese da vida de todo o grupo. , _ ©, Principio de um grupo de formagéo é 0 seguinte: “7 a 15 pessoas (de idade, sexo © profissio diferentes) que Se conhecem umas as outras, retinem-se para efetuar Conjunto, durante um certo mimero de sessées, fixado Amente, uma auto-andlise de grupo. Um lider de for- pedagézica e psicossociolégica sid presente no gru- ‘mas niio participa do conteido dos debates. Quando neeessirio, ele comunica a0 grupo o diagnéstico que da situasio. As suas andlises situamse sempre no nivel ‘grupo, © mio, dos individuos que o compSem: elas refe- 0 processo, quer dizer, & dinimica do grupo, a co- Gio, a0 sistema de interagdes, 4 cooperagio, A de- cio de finalidades no grupo. Esse monitor pratica 4 pedagogia nio-diretiva, segundo a rns a Carl Rogers *. “ SS: Brupo de formacio, no inicio, nio tem - dit-se-4, mais exatamente. que a sua ue ae ir os processos de funcionamento do grupo, consiste “aprender a “dinamica dos grupos” mediante’ a auto- do que se passa aqui ¢ agora. Tal é em principio, ggram” c/a “agenda” cnunciada na circular de con: ‘9 come¢o, nfo se definem nem se distribuem os fepresentados por cada membro do grupo. Progres- 7 sivamente, no entanto, ¢ freqiientemente de mancira técita, © grupo ‘se organiza, toma consciéncia da distribuicio de papsis, percebe enfim que pode ascender a sua autogestio. ‘O grupo de formactio obedece a uma regra que impli tr@s_unidades: © 2 unidade de tempo: o grupo deve respeitar os limites de tempo previstos: 1 hora ¢ meia ou 2 horas por sessto: a unidade de local; cle se redine na sala prevista, ras horas indicadas; © a unidade de acéo: 0 estilo de participacdo de cada ‘um dos participantes ¢ seu papel sio definidos pela verbal zagdo, que exclui a agio. Os problemas tratados sio, em principio, os problemas do grupo ¢ & apenas nesse nivel que ‘© monitor intervém. Os problemas individuais s6 so discuti- dos na medida em que determinam ao mesmo tempo os problemas do grupo como tal, aqui ¢ agora. ‘De acordo com os momentos da vida do grupo, a orien- tagio ¢ 0 estilo do monitor, poderiio ser enfatizadas sejam ‘as comunicagdes entre as pessoas, sejam os valores. afetivos, Seiam as operagies, 08 processos, as opgdes ¢ as rejeigies, a ‘cooperagéo, os papéis, as estigios de desenvolvimento do grupo, Em todos os casos, no entanto, o monitor (anima- dor, lider, formador) abstém-se de participar do_contetido da, discussio, abstém-se de dar conselhos, de distribuir pa. péis, de organizar 0 grupo, de propor temas de debate. Por isso que se diz, transpondo para essa pedagogia de gru- oa terminologia de Carl Rogers, que 0 monitor € nio-di- retivo®. ‘Os principais caracteres dessa atitude pedagégica sto os seguintes: monitor no traz ao grupo nem diretivas, nem juizos de valor. Sublinhou-se muitas vezes que 0 monitor nio-diretivo nio devia fornecer informacées que poderiam Ser utilizadas pelo grupo como diregves de funcionamento © vividas como um “alimento gratificante” ou extorquidas por mei de manipulagSes, O monitor despoja, portanto, » sua participagio de qualquer “donativo” ao grupo. ‘Uma imagem eémoda, utilizada com muita freqliéncia para ilustrar essa atitude, € a do “espelho". Hé mais, no entanto, na relagio do monitor para com o grupo, do que tum simples “reflexo”, © monitor ndo julga, nio aprova nem desaprova, ele procura compreender © ajudar 0 grupo, cle 8 participa assim, a sua manci i Insist . ira, da vida di erie si, nn mucin da ie do gpo aioe ‘vidos pelo monitor, e nio de atitudes artificiais pura is do enters ax eneicase cer, Maerse te f, as modalidades de sua agt ° Mostramos, seo to vardves quanto 0 pedis efups, ums ‘que participam da mesma evolugéo. . @ monitor pode intervie, median a reformulagio, quer dizer, 0 reflexo, Po, de sua prOprin imagem: ele se efetua de varias manei. - Mais do que de um frio reflexo stico, trata-se da co- io ao grupo dos sentimentos de um’ participante. pri iado, © monitor, considerado como o mals capar de ex Drimir 0 trabalho dialétio do. grupo: " © 4 interpretagio, quer dizer, 0 ‘culias Ou ‘mal persshidas dos fendmeos apatentce, Stinks Bi Camonitor limtase a dar novamente 0 grupo o que interpretagso pode ser efetuada: $20 nel do. grupo: 20 nivel das relagies entre as pessoas @ titulo ex- al (6, nese caso, dentro de uma. perspectva “socio ‘escolha do nivel ¢ da profundidade d peace. tran emt yal gee ce pode sez em determinado mo- a ie, Portanto, a aplicago do momento deco ng aye a a Vezes proposta a aplicagéo de conceit m pscaalics a compreemlo do" qus ss pasa, mo. phe ormagio. Essa comparagio vélida pelo menos num mesma forma que o psicanalista nfo faz nada que tomar claro ao paciente o seu préprio desejo, € © monitor, por sua atitude nao-diretiva, conten: @ em revelar algumas potencialidades de mudanga do sauer dizer, alguns desejos. Os dois modos de in. Ho que assinalamos sfio apenas dois niveis dessa aco. © a reformulago € 0 enunciado do desejo expres. fee eect 4 evelapfo de um deszjo : te. permitir a0 grupo, > fomar conscitneia daquilo que impede os » daquilo que bloqueia o seu funcionamento. Foi assinalada a necessidade de uma evoluso da ali- tude do monitor, em funcio da evoluedio da atitude do ‘grupo; a sua parlicipagio no grupo se ressente dessa opeiio fundamental. Segundo certos autores, o amadurecimento de ‘um grupo deve caminhar no sentido’ da integracio progres- siva ¢ finalmente realizada do monitor no grupo. Trata-se, rnaturalmente, de uma integracio do monitor no grupo, como ‘monitor, e mo como participante emocional. Ele no co- Imunica ao grupo a sua experiéncia ou as suas emogdes. ‘© desenvolvimento do grupo foi muitas vezes compara- do a0 desenvolvimento do individuo. A comparacio deve ‘ser formulada com reserva; ela tem, no entanto, a vanta- gem de acentuar dois aspectos importantes desse amadure- ‘cimento: '@ 6 processo de desenvolvimento (nascimento de_um ‘organismo, infancia, aprendizagem, “maturidade” ou estado adulto, declinio © morte); passagens e crises marcam essa ‘evolugio que € continua; © as relagdes sociais caracteristicas das desse processo, de um estado de dependéneia tstado ideal de autonomia ¢ de independéncia do grupo. Foram elaborados diferentes modelos gonéticos para ex- plicar essa evolugio. Esses modelos datam de 1955 (Be- thel) © de 1959 (Franga). O futuro permitira, sem divide avaliar a evolugio das concepeGes francesas, '¢ particular mente 0 declinio da tcoria dos estigios de desenvolvimento. ‘Como o observa Claude Faucheux em seu estudo sobre as ceoncepobes americanas do grupo de diagndstico (Concep- tions américaines du groupe de diagnostic): a andlise se sic tua em duas perspectivas diferentes. Bennis ¢ Sheppard sityam a sua andlise no nivel das comunicagSes © das re- lagées. interpessoais: relagGes com monitor, separagio em subgrupos. Black*® leva o diagnéstico para 0 nivel dos pro- feess0s do grupo, da cooperagao, da escolha dos assuntos de discussio, das formas de tomada de decisio, do desenvolvi- ‘mento da discussio e do trabalho em grupo. Essas diver- géncias, ligadas aos objetivos de formacio, conduzem a di- ferenies opgdes de parte do monitor: com Bennis © Shep- pard, 0 grupo concentra-se numa melhor compreensio entre $8 individuos, enquanto para Blake o grupo coneentra-se nas Yéenicas de progresso que experimenta, No primeiro caso, 30 tata-se de “comunicar™ de mancira efi 80, de opera” de mancia =< Seni explica as variagies na. descr “momentos” Bie na deserigio dos “momentos" Beanis © Sheppard distinguem duas fases: se Shey juas fases: uma fase de dependéncia seguida por uma fase de interdependéncia Aividida em seqitncias; fase, portanto, de inter-telacSes, Blake descreve trés fases © mostra, através delan, 0 Progresso do grupo no seta da orgniasio. ‘Claude Faucheux distingue, com os primciros autores bethelianos, 4 estigios de desenvolvimento do grupo de “diag. a solugio de problemas da relage do grupo com o @ solugdo do problema da autoridade interna do 3 cons set fax Pages observa igualmente que “os te6ricos do Group coincidem’em ger a0 dstnge 3 04 4 Tass .esforvos dos participantes para manipular older ¢ epresentar um papel convencional; fracassodesses foros tenatas de ecorser a métodos elisiom (nomea: ; presidente, asuntos de diseusto.-); fracsso -b. (0. grupo interroga-se predominantemente qu problemas, mas faz com ansiedade sem com uma recrudesotncia do. sentimento de. fracas tentatva de cooperagao; concesses teprocas entre essa solugo parece, ao fim de. pouco tempo, € subsistem os desncordos, : ©’ grupo parece retroceder na andlise de suas dif- des © procira of verdadeiros motives das mesma au. so sem ajuda do monitor; progresso no sentido Jas Didier Anzieu desenvolven um modelo genético: lento, balbucios e apels do grupo a0 monitorpaiati- lar, comentarios dos textos e freqiéncia a um cur- c incia, dificuldade em analisar as suas mo- © a sua dependéncia, ingresso na maturidade, 0 sen- dle “nés” © a organizacio ‘explosio das ten- nto em subgrupos; acesso a uma maturidade 81 superior, através da andlise © da soluggo das tenses, me- diante 6 estabelecimento de uma organizagao democratica: Preparagdo para a morte, pela recapitulagio da historia do ‘grupo ¢ pela aspiraco a uma sobrevivencia”, Num traba- Tho posterior, Anzieu desenvolven 3 “modelos” aplicéveis ao funcionamenio do grupo de formagio. O primeiro é um modelo “cibernético”, inspirado nos trabalhos de J. © M. Van Bostale, que consideram 0 grupo como “um sistema ‘em cquil’brio cujos estados correspondem a uma seqiténci de operagdes observaveis”. Esse modelo parece-nos seme: Thun ds onities de Levin © do se ena sobre osu brio, quase estacionfrio, nos grupos. Ele tende a expli grupo no que se refere_ao estabelecimento e a evolucio de luma rede de comunicagao. O segundo modelo € de inspira ‘gio psicanalitica. Um certo mimero de analogias, de com- paracdes frutuosas © de pontos realmente comuns entre os ensinamentos da psicandlise e os ensinamentos do grupo de formacio podem ser postos em evidéncia entre essas duas técnicas. Elas parecem, em realidade, como 0 acentua An- zien, “complementares para quem quiser compreender 0 hhomem em sua riqueza e agir sobre a sua progressio”. O tereeiro modelo € um modelo analitico, inspirado na anélise de Sartre, em sua Critica da razdo dialética. Nés préprios. assim como J. Ardoino, propusemos uma concepcio. sartria- na do grupo de formacio. Pensmos hoje em dia, no en- tanto, que essa concepgao deve ser profundamente revista, em fungdo dos problemas da estrutura do estisio. Da aparente multiplicidade de concepedes sobre a pro- gressio de um grupo de formacio, pode-se extrair um certo riimero de momentos: ‘a. dependénecia com relagio ao monitor, que se traduz pela procura de informacoes, de orientacdes: b. fracasso desta procura, ¢ tentativa de funciona- mento segundo os modos cléssicos de reuniio; essa fase coincide com uma contradependéncia e termina geralmente por um fracasso, e pela consciéncia aguda desse fracasso; €. elucidagdo das eausas pessoais e grupais do fracas- 80, quer dizer, Tevelacio e solucio (pelas vias de catarse © de uma tomada de consciéncia em niveis varidveis) das ton ses entre as pessoas; d. auto-avaliago final do grupo, que se entrega a seu primeiro trabalho “bem sucedido”, quer dizer, & constitui- a © como grupo ¢ a sua morte. Como se vé, a concepgio betheliana da formato & es- situam-se no encontro de diferentes correntes psico- (dinamica de grupo, psicandlise, sociometria) © de ativos; or seus métodos: como se viu, a atividade de base de Bethel ¢ 0 Training Group ou T. Group que, como o eu nome indica, ¢ um grupo de formacio. Como o escre- ‘Meigniez: “No T. Group, 0 monitor fala com fre- ia nas leis gerais do grupo, de que © grupo presente seria mais do que um exemplo”, F. uma atividade dida- . Ts50 coloca em questio 0 rigor so: pode-se f, com efeito, na intervencio assim desctita do monitor, @ indireta de um saber. © grupo de formacao aparece, com efeito, um pouco instrumento de uma formagko acelerada. A propria assume aqui todo o seu eariter pe treinamento (skill groups) nas técnicas de e @ palestras, ete. A organizacio das ativi- @ 0 mesmo cardter escolar: € 9 emprego do tem- icional, decidido & diretiva, quer dizer, tradicional, ou, como diria “positiva’, ao nivel das estruturas do estigio, Ba ‘profunda da formagio em Bethel; comeca-se, a. Franga, tomar consign dessa conrad. fermos, e para nos limitarmos a esse pont de yerio em Bethel constitui um estézio de de aperfeicoamento em psicossaciologia com _métodos niio-diretivos. Esse estégio ¢ organizada para todos aqueles que julgam til aperfeigoar os seus co- nhecimentos em psicologia dos. grupos. No sistema betheliano, a pedagogia no parece prosse- guir até a andlise do conjunto institucional. Tudo se passa como se os monitores bethelianos limitassem o aprendizado dos estagisrios ao nivel dos pequenos grupos, niio se consi- derando 0 conjunto do estagio como parte de um Grupo total de a No dominio da psicologia social, delineia-se, assim, um setor das relagdes. interpessoais das operagdes microsso- ciolégicas que no ullrapassam as dimensGes as atribui- ‘ees dos grupos restritos (smail groups). Para que as coisas se passem diferentemente, seria necessirio ao menos que a fotalidade do estégio (quer dizer, a instituigio betheliana) fosse ela propria submetida a uma anilise psicossociolézica andloga & que € instituida nos grupos de formacéo, Seria necessério que a pedagogia de Bethel fosse no apenas uma pedagogia de grupo, mas também uma pedagogia institucio- nal. Nao & assim, Essa limitagiio deve-se, sem diivida: © a fatores culturais © estruturais, ligados & organi- zagiio ¢ & ideologia da sociedade americana, como, alids, 40 conjunto da sociedade industrial c capitalista. Essa s0- ciedade pede @ seus trabalhadores, a0 mesmo tempo, uma certa iniciativa e uma certa adesio as estruturas exisientes; © a razdes mais téenicas: 0s grandes grupos fur nam segundo processos dindmicos menos inventoriados, e, portanto, menos controlaveis ¢ analisiveis do que os grupos restritos ‘de 10 a 15 participantes; © a0 psicologismo celético dos animadores de Bethel, que implica a cooperacio das diferentes concepgdes psicos” sociolégicas, psicopedagdgicas © psicoterapéuticas (entre ou- tras, a concepgdo de Freud, de Rogers, de Lewin, de Mo- Ten, etc.) ‘modelo betheliano tem a vantagem de ser o primeiro abrir uma via na formacio ativa em psicossociologia; con- vém, no entanto, marcar os seus limites, se quisermos levar mais adiante 0 que permanece implicito nos métodos postos em prética no interior desse primeiro. modelo. Devemos reconhecer na escola de Bethel pelo menos uma qualidade essencial: a invengio ¢ a difusio de uma pe- a , agogia que, ao mesmo tempo em que guarda certas liga- ‘com a nova escola, caminha muito mais longe, no en- no sentido da. nao-diretividade. A nio-diretividade tende a ser completa ¢ efetiva, como ‘se viu, 20 menos no nivel do 7. Group (a atividade funda- ‘mental de Bethel), Uma nova corrente de pensamento ago nasceu dai: uma corrente que coloca em questo 0 ‘em sua relagio pedagogica, em sua praxis, e que © caminho para uma andlise critica das relagdes. hu- € da organizagtio social no mundo contemporineo, és da critica das relagdes diretivas da formagao. % 0 que acentua o estudo de J. Ardoino dedicado 20 grupo de diagndstico, instrumento de formacio”**, Instru- o de formaso? Alguns iriam até reconhecer, hoje em que 0 T. Group tende a tornar-se algumas ‘vezes um irumento teraptutico, embora ago pertenca cxplicitamente repertétio das diversas formas de psicoterapia de grupo, fem grupo, apresentadas particularmente por. Slavson ® ", etc. OT. Group petmanece, em principio, um enfo que visa a formar, ¢ néo a curar. A sua clien- n outros métodos de formago no interior do gru- meio dele: citemos a discussio de casos, a utiliza ‘ou pelo menos alguns entre utilizados nos semindrios de formacio do tipo de de grupo que cada equipe organiza, na Franca, | clientela vatiada (educadores, jovens administra. licalistas), sendo o principio do T. Group e desses fondo ‘ee permanece como instrumento “de cessiria, 0 método psicossoctolégico essencial, quer dizer, a anilise de grupo. Essas téenicas e procedimentos mostram bem as ambi- silidades de uma psicossociologia pritica que quer ser, a0 ‘mesmo. tempo, libertadora, utilitéria © reformista. Essa ambigiidade € ainda mais visivel ao nfvel das préticas da intervencio, A intervencao Para 05 psicossocislogos, intervengio significa agi numa organizagdo social, a pedido dessa organizagéo, para facilitar certas mudangas. Para fazé-lo, eles realizam em primeiro lugar conversas individuais ou de grupos, , depois, uma primeira sintese que ‘comunicam (feedback) ‘a0 conjunto do pessoal administra- tivo ou mesmo dos trabalhadores da organizagio “cliente”. ‘Comeca entdio uma segunda fase dos trabalhos em comissio. (Desde 0 comeco da intervensdo foi constituida uma equipe de investigagao reunindo os psicossociélogos © os responsi vveis pela empresa.) - A intervengio prossegue, assim, através das reuniées de equipes. Com a andlise dos resultados das conversas, pela ago sobre certas estruturas da organizagio, mediante as eunides de comissdes, assiste-se progressivamente ao degelo das comunicagdes; 05 servigos entram em contato... No entanto, ¢ também necessério que a propria diregio seja capaz. de assumir essas mudaneas, ¢ as tensdes que suscita essa socioterapia. Acontece que 0 tratamento € interrom- pido, sob diversos pretextos... Na realidade, isso significa, muito freqlientemente, que foi descoberta a vontade_geral do grupo. Foi possivel a cada um entrever a possibilidade de participar das decisdes, de administrar a empresa. Tal € 0 horizonte ailtimo © verdadciro da intervencio psicosso- clolégica: nio 0 privilégio do grupo, mas a autogestio de 0s grupos, das organizag6es, da sociedade em seu con- A autogestéo social niio é, como cada um sabe, um icossocioldgico; € um produto do movimento s0- do proletatiado. Se a psicossociolo- encontra hoje em dia esse problema, isso se deve a di- iS razbes: em primeiro Ingar, todas as pesquisas sobre -Brupos mostraram que os melhores resultados sao obi na produtividade quando todos participam das decishes. seguida, 2 autogestio social supe, desde que se queita itar a burocratizacio, um refinamento constante dos mé- todos de decisio coletiva ao nivel dos comités de gestio, dos Teguladores. Os iugoslavos comecam a descobri-lo, praticar a dinimica de grupo. Enfim, ¢ talvez funda: falmente, a psicologia lembra aos “politicos” e aos tee. que 0 socialismo nio € somente questiio de eco. € de instituigses juridicas: ele supse uma mudanga ‘cultura, nas motivacdes e na vida afetiva dos grupos. A. primeira intervencéo foi a de Kurt Lewin, por volta ‘1943. Lewin interveio nos conflitos sociais: nov contli- facials, por exemplo. Ele facilitou as mudancas julga “Recessérias; cle trabslhou para a mudanca dos hibitos periodo de pemtitia. Tratava-se, em 1943, de @ aquisigo ¢ 0 consumo das partes menos (miidos de boi) em seis grupos de 13 a 17 donas. . Tres grupos assistiram a cadas & riqueza dos mitidos em vitaminas, © a con- culindrios. Os trés outros grupos participavam de Ges coletivas com um perito em nutrigio posto a dis- do grupo. eram-se entio os seguintes resultados: 3 por cen- donas-de-casa dos trés primeiros grupos e 32 por ‘outros grupos mudavam os seus “habitos alimen- resultados mostram a cficiéncia das decisbes em grupo. Eles mostram, igualmente, que o psi- Hlogo conhece os grupos, modificando-os, serundo 0. da “pesquisa ativa™ (action research) . im, enfim, um novo campo de posquisa, que fem analisar os problemas da mudanga social e em mesmos. ‘outra intervenc#o, muitas vezes citada, foi reali- | empresa de confeccio, @ Harwood Manufactu- tation, por Coch e French. Essa empresa encon- 7 do pessoal, quando das mudan- da evolugéo das técnicas, resis- pela baixa de rendimento, pelas demissées, pela hostilidade para com a direydo, pela redusio dda reciclagem. A experiéncia efetuou-se com 4 grupos de operas: © a0 primeiro grupo (18 operdrios) explicou-se sim plesmente a necessidade das mudancas; ‘© ‘no segundo grupo, representantes do pessoal par cipavam das decisbes; © ‘nos dias outros grupos (de 7 © 8 operirios) todos os trabalhadores participavam das decisdes. Foi nesses ulti- mos grupos que a mudanga foi melhor aceita, enquanto a resisténcia era mais forte nos primeiros®. Foi cfetuada uma intervencio célebre pelo Doutor Elliot Jacques** numa fabrica de utensilios elétricos, a Gla~ ier Metal Company, situada no subiitbio de Londres, © que ‘contava com 1.500 trabalhadores. A intervengio comecou, em abril de 1948, por uma primeira fase de implantacio da intervengio (nessa primeira fase, define-se a fungao dos psicossocidlogas, que nao tem fungao de dirego da\ empre- +a, sendo, simplesmente, “consultores”). Em julho de 1948, interveio a equipe de 8 membros, dirigidos por E. Jacques. Essa equipe pos-se & disposiglo da coletividade. Entre 1948 1951, ela foi consultada por diferentes grupos que The pe- diram ‘um auxilio para resolver os problemas de remunera- ‘40, do comité de delegados do pessoal, etc, Através dessas intervengSes, analisam a estrutura social da empresa, a sua “cultura” (Convengdes, costumes, tabus) © a personalidade de seus membtos, ‘Trabalha-se principalmente para facilitar as comunicagées na empresa, para tomar claros os papéis, ara tornar precisas as responsabilidades. ‘A intervengiio psicossociolégica nas empresas, e, de ma- heira mais geral, nas organizagées sociais, apresenta certos tracos essenciais, que inicialmente poderiam scr ilustrados com o auxilio da literatura. Em O castelo, de Kafka, vemos K., o agrimensor, chegar a uma aldeia com a intengéo (ou a missa0?) de determinar “fronteiras”: € a sua profissio. Ele procura, no entanto, o “cliente”, individuo ou organi- zagi0, que 0 convocou ¢ entra logo em cheque com as re- sisténeias do grupo, que tomam diferentes formas © mani festam-se através de certos sintomas: como telefonar ao cas- (elo? As comunicasdes funcionam mal, O castelo € essa | organizagdo petrificada, “burocratizada”, com a sua com- Plexidade secreta, que’ psicossocislogo descobre quando ‘aborda os problemas de sua sociedade por intermédio de uma organizagio que o chama na qualidade de consultor. A intervencio psicossociolégica nos grandes grupos (nas ‘empresas, nas administragdes, nas escolas, nos. hospitais) im- Pica um certo niimero de’ técnicas especificas. Efetua-se um primeiro diagnéstico 2 partir de conversas © de ques- © objetivo & ao mesmo tempo, adquirir um co- objetivo da organizagio cliente e saber como: feus membros a encaram. (Assim, uma organizacio qual- ae uma determinada politica de vendas, ou de pro- ‘ou de publicidade ete., © seus membros compreen- mais ow menos claramente essa politica, accitando-a ow: ) uma empresa € um “grupo de grupos ‘refine equipes, escrit6rios, ofieinas, segundo certas for- de organizacio. Entce esses grupos, a informagao cir- Segundo modalidades formais (circulares, ete.) ow in- +.) Essas comunicagbes se’ chocam com Datreiras, que podem ser levantadas. Isso pode ser -dos objetivos da intervenea0 que atinge uma nova fase comunicagio (chamada feedback) dos primeiros resul- Esses_ resultados podem ser trabalhados por grupos, iso de reunides que implicam certas téenicas de ani- Desde 0 comeco da intervencao, aliés, fazem-se esforcos para instalar grupos regutadores com cle- escolhidos entre os membros da organizacio cliente. esses. grupos ou comités que o trabalho prossegue © lia, provocando 0 envolvimento cada vez maior, cada Profundo, dos outros membros da organizacio, ‘ese, pelo menos, 0 objetivo almejado: fazer com que ibros do grupo tomem a seu cargo problemas que, Ines dizem respeito, aqui e agora; procurar as solugées, determinar’ as mudancas necessérias wr as mudangas que provocam resistincias. Vé-se 0 percorrido desde as primeiras.pesquisas de Elton em dia, a oficina se situa na totalidade da em- Pequenos grupos sio analisados em seu contexto © nflo se concebe mais que a_intervengio: um setor parcial, A experiéncia levada 8m 4 efeito na Glacier Metal Company por E. Jacques, que diz respeito a todo o sistema da empresa, assume, assim, um sentido inteiramente diferente do sentido das pesquisas efe- tuadas, vinte anos antes, em algumas oficinas da Western Electrie Company por Elton Mayo. Podte-se dizer a mesma coisa em relagio as interven- Ses de Max Pages © D. Benusiglio® em empresas, ¢ a in Tervengdo de André Levy numa instituicio psiquiatrica, A intervengio parte “do funcionamento psicossocial a empresa: problemas de coordenagio entre servigos ditos funcionais © servigos ditos de execugio, entre sedes sociais © unidades descentralizadas, problemas ligados & incompre- ensio das politicas da empresa, ou & sua interpretacio em sentidos divergentes, funcionérios que aceitam mal as novas fungdes que Ihes so atribuidas, métodes de comando ina- daptados ao contexto social, mecanismos inadequados de contratagio, de remuneragdo... Todos esses problemas in- teressam & empresa na medida em que ela é uma organiza 40 social, quer dizer, um conjunto de grupos sociais (gra- pos de trabalho, tals’ como servicos ou oficinas, sindicatos, associagées profissionais, associagdes patronais, clubes, parti- dos politicos...). O funcionamento psicossocial da empresa € 0 funcionamento de cada um desses grupos © de suas liga ‘GBes reciprocas, é, em termos mais precisos, mas ainda muito gerais, a mancira pola qual estio ligadas as estruturas de grupo’ (objetivos, papéis, normas, sang6es), as comunicagbes ‘entre os membros do grupo, € as motivagdes ou desejos dos membros do grupo”. Como se vé, a propria empresa (ou a escola, 0 liceu, o hospital) pode ser definida como um grupo (ou um “grupo de grupos") cujo tamanho excede evidente- mente o dos “pequenos grupos” (small groups) habitual- mente estudados em laboratério, A dindmica de grupo nio 6, ou nio & apenas, uma din mica de pequenos grupos; cla € também, © a0 mesmo tempo, uma dinimica social que diz. respeito a esses “grupos” que constituem as empresas, as organizagies sociais, as instituigdes. ‘0 funcionamento psicossocial das empresas muda cons- tantemente, como muda 0 conjunto da sociedade industrial. Pode-se dizer, numa primeira aproximacdo, que 0 psicosso- idlogo “consultor” que intervém na empresa € chamado para 90 -facilitar essus mudangas, um ponco como o psicanalista ¢, ‘maneira mais geral, 0 psicoterapeuta sio. “especialistas em mudanca”. Ora, nés jé citamos, precisamente a propésito do resistencias & mudanca, os trabalhos de K. Lewin (mu- -danca de habitos alimentares) e os de Coch ¢ French rela- fivas A discussio de grupo e a decisio coletiva. Com essa -apresentacio ja estévamos, alias, a0 nivel da intervengio no io dos grupos sociais maturais, mais do que a0 nivel inca de laboratério. Essas experiéncias orientam-se ao mesmo tempo no sen- © da pesquisa pura sobre © funcionamento dos grupos sua “dindmica”) © no sentido da socioterapia de certos njuntos sociais. Pois, assim como em biologia humana o rio ¢ a clinica médica iluminam.se reciprocamente me o mostrou G. Canguilhem em Connaissance de la , em dinimica de grupo hé uma interagio entre 0 tra- Sem que, por isso, © segundo seja uma simples do primeiro. Isso dito, como se desenvolve a intervengio? Max Pages trés_etapas que Ihe parecem corresponder & dos de formacio (7. Groups): uma fase de tomada de féncia, uma fase de diagndstico c uma fase de agio. A fase de tomada de consciéncia “consiste em locali- fs dificuldades. sociais até enti desconhecidas. No esti- esas dificuldades fo ainda de uma mancira fragmentéria, ndo estando figa- s uumas as outras” ‘A fase de diagnéstico € aquela no curso da qual o (quer dizer, aqui. a empresa) “descobre a existéncia rede complexa de caysas que azem sobre 0 funcic do grupo e suas dificuldades’ de acéo & aquela no curso da qual “numa em- novos objetivos para uma funcio, reforma-se estabelecem-se comités ou comissdes de li se posicso quanto a novas normas que regem as pessoal dos servicos, uns em relacio aos outros”. supe 0 uso de téenicas: as investigagies, por meio de entrevistas ou questionarios, que’ im: telatério (chamado feedback) aos interessados: as sobre as comunicacdes © as estruturas; as pes- sobre as diferencas de percepcio dos objetivos © dos om paptis no interior dos grupos de trabalho; o estudo sistem tico das barreiras que dificultam a comunicago ao Tongo de ‘um circuito de trabalho que retine diferentes operagies que concorrem a uma tomada de decisio tinica (por exemplo: colocagio de um artigo novo na colegio de uma loja); 0 estudo de opgdes sociométricas no interior de um grupo; a organizagao de reunides para que se examinem os result dos de uma investigagio, o que significa a participagio mais ampla dos membros da empresa na intervengio, a qual ten- deria_a tornar-se, assim, uma “investigagio-participacio’ ‘Como se vé, no curso dos Gitimos anos 0 termo “din: mica de grupo” assumiu uma significagio cada vez mais ampla, a partir de sua significagao estrita inicial, que @ tornava a ciéncia experimental do funcionamento dos grupos. Foi posstvel constatar que essa “ampliagio” jd existia no projeto Iewiniano de agio social, de intervengio refle- lida’ ¢ rigorosa nos processos sociais, de action ‘research. 1. Muito rapidamente, no entanto, a corrente Jewinia- nna misturou-se a outras correntes de pesquisa ¢ de ado que teria sido igualmente necessério apresentar, se nos tivésse- ‘mos proposto um estudo exaustivo de todas as_pesquisas sobre os grupos: a corrente na qual Claude Faucheux!! distingue uma ramificagdo “naturalista” com Homans ¢ uma ramificagio “experimentalista” com Bales", para citar ape- nas esses dois autores; a corrente sociométrica, fundada por Moreno, mas ilustrada por um grande nimero de pesqui- sas ¢ de’ préticas; a corrente psicanalitica, ilustrada princi- palmente, na escola inglesa, por W. R. Bion‘; a corrente fatorialista, ilustrada por Cattell. 2. AO nivel da difusio ¢ da utilizacdo da dinamica de ‘grupo por diferentes grupos sociais vimos se desenvolverem: © “a sua_utilizagio em meio familiar, estimulada na Franca pela Escola dos pais; © a sua utilizacdo em meio pedagégico, bem ilustrada por um ntimero especial da Education Nationatet © 2 introdugo dos métodos de grupo nos sindicatos, principalmente no sindicalismo estudantil, apresentada por Researches Universitaires**. psicossociolosia “se politiza”, Vé-se isso em sua pritica, e nos esforgos de elaboracto te6rica. Nao se pode ignorar a\ contribuigio relativamente indireta ¢ critica de Jean-Paul Sartre, em sua Critica da razio dia- ética'®. & preciso igualmente mencionar aqui a colaboracéo oy de véitios psicossociélogos franceses para um mimero da re- vista Arguments*®. Chegamos aqui ao problema cssencial, As intervengies psicossociol6gicas encontram sempre as mesmas objesdes ideolégicas. Procura-se ver nelas apenas a riltima descoberta das. classes dirigentes em seu esforgo para dominar os trabalhadores, ¢ para instituir a colaboragio de ‘classes na empresa capitalista. Nio ¢ certo que a rcalidade ‘seja tao simples. 1 verdade que a intervengiio nos grupos ‘Propie-se algumas vezes, explicitamente, reduzit as tensdes, fazer accitar as mudangas (de cargos, de pessoal, de “poli: fica”). F igualmente verdadeiro, no entanto, que uma in- tervensio faz crescer a tomada’ de consciéncia dos proble» as, € que cla revela todos os sistemas informais e confli- antes produzidos por antagonismos de interesses. A dis ‘eussio sobre a significagio social ¢ politica da intervengio deve ser travada diferentemente, E digno de registro que a critica do sistema burocritico se desenvolva na Franca, atualmente, em organizagées © grupos cada vez mais nuimerosos. Citarei aqui: 05 clubes, o sindicalismo estudantil, {’N.LA,, todos os grupos em que a ideotogia “modernista” exprime ‘uma passagem, uma mudanga, Que mudanga? A. mudanga que caracteriza a sociedade neocapitalista: © apa- ‘recimento dos “gerentes”, 0 nascimento de uma nova buro- ‘eracia, mais flexivel, mals capa de administrar a mudanga ‘téenica ¢ social, a passagem histérica da fase B para a fase C. Ora, é nessas organizagdes © nesses grupos que o psicos- | sociglogo encontra novos “clientes, O “cliente” do. psi- -cossocilogo ¢ sempre uma organizaco, mas no € qualquer “organizacio. E necessério proceder sempre & anéilise socio- Négica, deste que se queita compreender quem ¢ o cliente © por qué. O primeiro cliente era constituido pelas organi industriais que procuravam resolver os problemas da ratizago (do tipo B). Os novos clientes nio sio as as. tradicionais das organizagées profissionais, sin- politicas. Essas_mantém-se em reserva, ou mesmo “hegam-se a accitar a intervenco dos psicossocidlogos. Os ‘modernistas da burocracia, ao contririo, pedem a interven ilo dos _mesmos. Aqui aparece, no entanto, um novo processo, 0 mes- nna realidade, que se podia descrever a partir das inter- 93 vengSes nas empresas industriais. Num determinado mo- mento, a colaboragio tende a ceder Iugar & “crise”. O psi- eossoci6logo no € exatamente o instrumento, ele nao for- nece o instrumento que se esperava dele, Ele nio é como diria Sartre%, “a arma que € preciso arrancar das mios dos ‘eapitalistas para ust-la contra eles; ou melhor, ele & iss0, € & a0 mesmo tempo, outra coisa. Convocado ‘pela organi- zagiio, ele desenvolve sobre esse ponto de partida uma acéo ‘que quer estar a servigo de todos os grupos, e qu: liberia ‘um movimento suscetivel de ultrapassar as novas. formas, mesmo as. mais modernistas, do poder. da autoridade Consideremos de um pouco mais perto 0 fundamento te6rico da pritica psicossociolégiea, Esse fundamento €, hoje em dia, a dindmica de grupo. Ora, 0 propésito funda mental da dinamica de grupo € a autogestio social. Com feito, 0 psicossocislogo pritico considera-se sempre como a servigo de todos os grupos, ¢ no de um grupo entre os ‘arupos; consiste bem o seu paradoxo, ou, so qui- serem, 0 scu jogo duplo. Chamado pela organizacio capita- lista Ou pela organiza¢io burocritica, elemento estranho- nessas organizagies, ele s6 pode intervir a seu pedido dan- do a palavra a todos os grupos, a todos os individuos, a todos 0s membros da_organizagio, B bem por isso que muitas veres 0 “cliente” paralisa a intervencio, quanlo des- cobre que ela pode ultrapassar o seu eéleulo inic'al, que ela nio se faz inteiramenie a sea proveito, no sentido eco. ndmico do termo. Como poderiam as. coisas, no entanto, passar-se de outra forma? O psicossociélogo ‘uténtice nao ‘quer escother. Ele se recusa a ser o instrumento manipula dor dos manipuladores que 0 contrataram. E s6 povle acci- tar tornar-se tal instrumento ao preco de uma renincia 20 ‘que fundamenta a sua pritica Esse fundamento da intervengao, quer dizer, a teoria psicossociolégica, nao € invalidado pelas distorgdes que al- guns podem fazer em seu nome. Isso porque a verdadeira orientacho tedriea e pritien da dindmica de grapo insc ye-se no objetivo de alcancar-se uma sociedade inualitari Wibertada dos grupos dominantes, das ideotogias do desco- nhecimento, da falsa consciéncia. Nao queremos, de forma alguma, indicar que a psicos- sociologia poderia substituir formas mais antizas de teoria € de prética revolucionérias. Tampouco dizemos qu> 0 psi- of cossocidlogo nao-tiretivo anuncia 0 novo dirigente politi €9, nem mesmo que os dirigentes do movimento operdrio deveriam integrar, em sua ciéncia © em sua pritica, a psi ia, como © fizeram com a teoria econdmica, Afirmamos apenas que, em seu setor de agio, a patti de uma situagio ambigua como 0 so hoje em dia todas as situagdes politicas, © psicossocidlogo pode. se 0 quiser, e © conseguir fundamentar a sua prética com uma teoria’vigo- rosa, participar na superacio dos conflitos e das alienagbes que marcam a sociedade atual. Tss0, no entanto, cle’ s6. pode fazer assumindo parcialmente a situa¢io tal como cla se oferece a cle, ¢ que se define hoje em dia pela ideolo- gia do. modernismo. O iélogo assume 0 modernis- ‘mo, para, ao mesmo tempo e no mesmo ato, ullrapassé-lo © preparar ja 0 seu declinio. , Endossamos aqui a posicfo definida por Max Pages: “Os psicossocidlogos deveriam estar prontos a aceitar todos ‘08 compromissos, mas sem comprometer-se: tal é a essén- ‘cin da nao-diretividade. Nio comprometer-se implica nfo entrar em conluios, Pode-se agir ao nivel das estruturas ¢ dos comportamentos, mantendo-se aberto a0 que significa em profundidade o comportamento sobre o qual se inter- vém.., E preciso, portanto, procurar as significacdes pro- fundas, sem confundi-las como plano da pritica, Por exemplo: a mancira pela qual uma decisio € tomada im- Portante, Pode-se dar um curso professoral, se ele niio for foriundo de uma decisio autoritiria, um compromisso, ¥ organizar uma investigacio estruturada. © dar con- selhos. 0 psicossocidlogo responde a esses pedidos, mas cle visa, no entanto, mais longe...” Esse tiltimo aspecto das contradigdes que a psicossocto- ‘encontra aparece mais claramente no momento em ossociélogo intervém em organizacézs _politicas ‘as quais a politica ainda € um negocio separado e pri- ‘no conjunto do campo social, Recusando, até o limite 10, a alienacio nessa vontade politica nova, “geren- “0 psicossocistozo tem um objetivo que vai bem além politica, mesmo que 0 seu discurso € a forma que con- ‘a0 que revela tenham os caracteres da utopi Por ora, as forcas informais levadas a recusar essa ideo- nio_ podem ser identificadas pelo psicossocidtono, na- fem que permanece, parcialmente, 0 delesado’ da 95 ‘nova burocracia nos grupos, seniio como um balbucio quase patolégico, como um “sussurro” do individuo despolitizado. -Esses balbucios so talvez_a expresso mais visivel, mais au- téntica © mais “avangada” da negatividade. E possivel que eles aparegam um dia como os primeiros sintomas de uma -contestagio pritica e “revoluciondria” ou, ao contrério, niilista, uma vez que o niilismo € 0 complemento do mo- dernismo da sociedade neoburocritica em formacéo. Di- amos, @ titulo provis6rio, que ele revela um “proletariado sociométrico” *!, que também é, desde agora, um “prole- tariado politico” *. Na medida em que trabalha para superar a sua propria, alienacao profissional e politica que acabamos de descrever, na medida em que quer ser homem de luta na hist6ria, ator © ouvinte da palavra social, 0 psicossocidloge (0 socioana- lista), mo proprio momento’ em que soci¢dade 0 chama, parece sempre inassimilavel, sempre marcado no que faz pelo sinal da mais profunda “despolitizagao”. além da. poli- fica isolada e difundida “modelos funcionais” ou estruturas extraidos de sua origem sécio-politica. Aqui se revela enfim o campo da psicossociologia, o tema de seu trabalho. Nao se trata das organizagdes. sociais como tais; niio se trata sequer dos aprendizados da comuni- ceagio, da cooperagio e da gestio, nem mesmo se trata da edueagio social ou da terapéutiea. Tudo isso se_apresenta sempre, ao psicossocidlogo, como a expressio enfraquecidi de uma dimensio mais profunda. © psicossocidlogo ¢ primeiramente aquele que, mediante f sua pritica, institu na sociedade um certo campo da pa- lavra, E preciso partir dessa evidéncia imediata, mas que nfo foi aié agora articulada. Seja no grupo de andlise ou na intervengio, o “material” € linguagem, 0 propésito ¢ a libertagio de uma palavra plena, além das ideologias, além do desconhecimento, além da utilizago da palavra, nos gru- ppos, para efeitos de dominacio. A burocracia, o grupo, @ organizagio, 0 individuo s6 estio presentes, no aqui © ago- ra desse campo, na medida em que se exprimem nese cam- po, ou que, ao contrério, as instituicdes possam impedir no ‘grupo, pela censura social, a emergéneia da expresso, No grupo de andlise, os mal-entendidos sio permanentes, como igualmente permanente o fracasso da comunicagio, @ ima- gem de nosso mundo. Ao mesmo tempo, todos se ¢sforgam 96 para comunicar, para dizer quem sio, © para aprender a falar com voz propria. ‘Também o sociélogo ocupa-se com a linguagem. Na in- Yestigacio, ele interroga ¢ colige as respostas. Elas slo para ele, no entanto, apenas um significante (0s estatutos, os dados econdmicos, os sinais de classe social, os funcionamen- tos institucionais). Para_o psicossocisiogo, ao contrério, a palavra no é apenas colocada em posicao privilegiada, mas € também reconhecida, de maneira definitiva, como 0 campo exato de sua pritica. Da mesma forma que o significado a escritura automatica nasce da equivaléncia e da associ ‘¢4o estabelecidas entre todos os materiais do discurso (com excluséio de qualquer referéncia exterior), igualmente o sig- nificado do grupo s6 aparece na palavra plena que tome transparentes a cles proprios os membros do grupo. A re- gra do grupo de andlise € “dizer tudo”; o principio da in- Atervengo ¢ colher a palavra do grupo ¢ colocé-la em circula- ‘$40. Esses dois exemplos bastam para indicar como esse Conceito de Palavra Social deveria permitir claborar, enfim, ‘05 principios da socioandlise. Tudo aqui resta por fazer, ou quase tudo. Muitas indi ‘eagides, no entanto, jé foram ‘elaboradas, tanto mas analises da “conscigncia falsa”* da representagio social * quanto ‘nas correntes que tratam hoje em dia da psicandlise como abertura de um campo da linguagem, do psicodrama ana- Iitico © da terapia institucional como procura de signifi- scantes'*, Sio essas pesquisas que se_situam imediatamente mas fronteiras da pesquisa psicossociolégica a ser empre- -endida’®. A psicossociologia no € apenas, nem em primeiro lugar, © ponto de encontro e de conflito entre © individuo (psico- Jogia) © a sociedade ou a cultura (Sociologia). Além disso, no € © ponto em que deve ser estudada a consciéncia social (o que é para alguns uma outra maneira de definir 0 ‘carter “‘coletivo” dessa psicologia). Ela seria antes de tudo |& aproximago da palavra social com 2s suas deformagies, © seu inconsciente, os seus mecanismos de desconhecimento, at jgomo todos esses elementos se revelam na Tinguagem, ‘© agora”, desde 0 momento em que se institui a fundamental dé dizer todo no grupo e por meio do grupo.

Você também pode gostar