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oI000c MOSSE, claude. 0 proeess0 de ‘Secraeg. Reo se Janae: Jorge Zahar city, 1088 Tinea Lebesi te foae Conteh © 98. EsosCompee Copia © 19 om ge por Jorge Zahar Ear Lids a Meee ate ‘Bem fansednnie ‘Arey uosaorands da pb. stato ‘eam pte cout le docapp et 98) Impress Tae Teo Lite. 15624707 2014 (eo) 108 aso }108 ze BS) S “D> Apresentagio 7 Prefécio a edigio brasileira 9 Inodugao 2B Sumario Atenas em399a.C, 16 ‘Uma Cidade-Estado vencida 16 Uma Gidade-Estado assassinada 24 ‘Uma Cidade Estado dilscerssa, 34 O debate ideolégico 45 ‘O debate politico durante a guerra ‘do Peloponeso 48 ‘movimento sofste 57 Socrates 67 AStestemunias: Xenofontee Platio 67 ‘Ohomem Sderates 72 ‘Gensinamento de Socrates 77 Séerates © 2 crfica da democracia OProcesso 99 ‘A justiga em Atenas 99 ‘Osacasadores 105 ‘Osmativos de acusagio 110 O processo 120 a Amore de Stcrates 126 Amore e os mortos nas prices religiosas os gregos 128 Socrateseo problema da morte 131 Amore deSéerates 136 Conclusio 141 [Importinciahistrica do processo ‘eda morte de Sécrates 141 ‘Atenas ea morte de Sderates 142 (© desenvolvimento do mito de Sécrates 152 Cronologia 158 Fontes bibliografia 159 Indice analttico 162 Apresentacio JEANNE CLAUDEMOSSE nasceu no dia 24 de dezembro de 1924, diplomov-se em histsria pela Sorbonne em 1945 € ‘btere 0 teu de doutor em 1959, hoje considerada ‘uma das mais importantes historiadorase pesqusadoras dc histria da Antiguldade greg “Liga pesguisas do CNRS (1956-68) econvivendo com os grandes pexquisaores que inovaram o discuso historic, como ML Finley, Vernant, Detiennee Naguet, Claude Moss faz pare de uma escola francese quedeua pesquise em historia antiga um destaque extraordindrio para que podéssemos melbor ompresnder os fendmenos hstrios. Compreendendo a hstria come un 140, ja- sas isolou a antiguidade da presente. "Hoje aude Moss professorada Universidade Paris Ville oferecesemindrios para 0s cursos de mestrado € outrado da Bene des Hautes Etudescn Sciences Socie- ies. e seus trabalhos publics podemos destacar: afin dele democrate Athénienne, Pais, PUF, 1962 2 i | Le travail en Gréce et & Rome, Paris, PUR, 1966 ‘La prannie dans la Gréce Antique, Pais, Nathan, 1910 La femme dans la Groce Antique, Pats, A. Miche, 1983 La Gréce Archalque, d'Homere ® Eschyle, Pats, Seul, 1984 Em outubro de 1988 esteve pela primeira vez n0 Brasil fazendo conferéncias na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade do Estado de Sio Paul, na Univer- sidade Estadual de Vit6ria da Conguista,na Bahia, e 20 Riode Janeiro, onde, junto com o profesor e arquedlogo ean Clause Gardin, também professor de Ecole des Hautes, Etudes en Sciences Sociales, minstrou um curso de aper- feigoamento no Instituto de Filosofia e Citncias Socais, Departameme de Hist6ria, setor de HistOria Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando apresen- ‘owas grandes tendéncias tebricas da histOria, Enquanto a Drofessora Claude Mossé delineava os modelos tedticos ‘usados por Polanyi, Max Weber e M.L Finley, «professor Gardin defends os modelos em linguagem formal baseatos ‘Ros métodos técnicas de Ineligencia Artificial. ‘Oaprego que Claude Mossécriow por nés, brasileiros, fez.com que excrevesse, a nosso pelido, um pretico pars ‘2 edo brasileira deste seu © processo de Sderaies. NEYDE THEML Profesor ane de hist ip, Ireinan de Flo Cini Sia UFR Prefécio A edicio brasileira © jlgamento impos em 399 C0 foo Stee sec etnaenagiol mone dete eto swclarans er foyer: Con comprecdecom i, guctena Sa quesequeriaoproprosinboi iberdade ena poddo Since ensbocaepuao capeseen totoo mundo pepe stbo preenacequccle"eorrompi tJovetod eta repel os deus a cade"? Para tcaturrespnders ct perginteinporuncesabelere ‘coulis oo aromstlnds dope egament, mas tine © que ae escnda iis da up aaa de tormpto dr jeatudee eHasfmia Pos comeyo do seas [Vea momen esencal na hist de Aca ‘Nie dicontnemaratem pnw gre derrotn pontofim vate neo anoste gue Gate ce quaiso veirlo ca Atic fl eiversasveres estado, nquanto que ma epdeniade=pest™ no nico do con tho ercoressonbriosnapopulagio.Poremelaemaise: Iherdatina pla gota cquctesepuut gerne os mais tenazes adversirios da democraciaapoiadossobre © inimigo espartano, se apossarem do poder ¢ fazerem reinar 0 teror. Claro, apego da massa dos cidadics 20 regime quehémaisdemeioséeuloesiavaligado3 graneca de Atenas permit os democrats coparem seus adverse. Eos venosdores se empenharam em “esquecer” que uma parte da populago inka se engajado aris dos oligareas. ‘Mas mesmo que tos concordemem reconhece! a mode. raglo dos democrats e © respeito & anistia, isto nio mpodiu que sbsistissem muitos rancores contra aqueles aque tinham ordenado massacres e prisdesarbitrélas. E {ue dente esses sltimos tenham se incuido pessoas que ‘ariam pane do creo habitual de Socrates, como Carmo sobretudo Cris, ochete dos oliarea,certamente ndo um at ireevante. No entano,oJalgamento de Socrates ‘nose apresenta como um proceso politico, porém como ‘um processo de blasémia. Eisto nos obrign a consierarO que era 0 ensinamento do flésofo e em que podia ele Parecer nochvo acs olhos dos democrat atenenses. O problema é que este flsofo que atrala para junto desi os jovens de toda a Grécia nio excrevev'uma unica linha sequet. £ perambulando pelasruas de Atenas que cle Aispensava seu ensinamento, esomente conhecemos set pensamento através dos escrito de seus diseipulos¢par- ticularmente através de Patio e de Xenofonte Or, ese dduplo testemunho nos remete duas imagens que nem sempre coincidementre si Stcraes de Xenofonte¢um hhomem piedoso quemalonseguimosimaginarseduzindo ‘osjovensricos de Atenas tanto que pareoeeompromeigo com um conformismo intelectual sem grande orignal- dade. O Socrates de Patio € um pensador sil, 80 sul ry que até mesmo 6 dificil acreditar que seus propésitos ema- ‘nem do flho de um modesto escultore de uma pareira. Evidentemente¢tentador prefer 0 Socrates de Plato 20 {de Xenofonte, entretanto sem se dissimular que o itustre liscipuloatrbuia seu mestre suas propria idias. Prem € preciso também levar em conta o testemunho de Aisi6fanes, pois ele tem mais chance de refletir 0 que ppenssva o homem ds rua, 0 modesto cidado que delibe- savana assembléia ouno tribunal. Ora, Aristanes faz de ‘Scratesum desses pensadores que'se passavam por char- laties porque afirmavam que a lua ou 0 sol eram pediras incandesoentes ~ como Anaxgoras ~ ou que aexsténcia os deuses nfo estava comprovada — como Protdgoras. Exes sofistas dspensavam seu ensinamento & juventude ouradade Atenas, de ondeserd provenienteamaioriados irigemtes da oligarquia. Sdcrates,aos olhos dos atenienses, ‘rz um dene les. Porém Séerates era um iad, enquanto ‘que a maior parte desses sofstas eram estrangeios que apenas se radicavam na cidade por um tempo limitado. ‘One, na democritica Atenas exigia-se do cidadao que ele Ccumpriseseusdeveresemrelagdoa0s deuseseobedecesse asleis da cidade. ‘A partir dal se compreende como aquele que afirmava reiteradamente que sua nica certeza era adeque ele nso sabia nada tenka podido aparecer aos homens que ace bbavam de restbelocer a democracia ¢ de recolocar em cordem a lepislagio como um elemento de desordem, por {sso mesmo um perigo para o equilfbro da cidade. Isto, ‘evidentemente, 56 pode chocar todos aqueles que pensam {que # lberdade de expressao ¢ de pensamento & um dos Drimeiros preceitos entre os direitos do homem. Quanto SOK rene ° 3 so historiador, ele tem que explicare no julgar,em nome ‘dos principios que sto 0s nostos mas que eram estranos sociedad grega. Neste sentido, o processo de Socrates é exemplar. 2 Introdugio Na primavera do ano 399 a.C, a chegada 20 Pireu da ‘embareagio que retornava de Delos, onde acada ano uma miscfo sagrada era enviada para comemorar a ilGria de Teseu sobre 0 Minotsuro, comovew dolorosamente 05 isefpulos do Mlésofo Sécrates:signiicava, de fato, que 2 condenagio & morte pronunciada pelo tribunal popular contra ovelho homem cajos ensinamentas eram seguidas pelos jovens mais brthantes de Atenas, condenacio cuja ‘execuGio tinha sido adiada hé um més em conformidade ‘com a ke, ia fnalmente consumar-se. No dia seguinte, 0 ‘ldsofo bebiao venenomortalna presenca deseus discfpu- Jos, ¢ sua morte exemplar ia durante séculos suscitar @ admiragio. Serates era um cidadlo ateniense, ¢ Atenas uma twiglo. Veremes mais adiante como tendemos, nos bhi ‘mos aos doséealo V, aatribuira Sdlon esa democracia dos ancestnis, a fazer dele 0 fundador da democraca, porém de uma democracia moderada, bem diferente emocratiacontemporinea. O que quer que tenha fete 20 e reeusar tavorecer um dos grupos em litgio, Solon susctou odescontentamento de 1s Fas coniiios nto ‘demoraramarenascer,confitos entre0spoderos0s quese agrupavam em fagbes para se tornarem donos absolutos 4o poder politico, conftos opondo estes poderosos 20 demos, 30s pequenos eamponeses da Aica que a meditas 4eSélon innam ivrado da ameaca de servi, mas quea suarecusaem dviiras eras haviaabandonado§ misti. [Nem sempre ic seguro desenrolar dos acontecimen- 2s

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