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1 Novos Paradigmas na Resolucao de Conflitos Dora Fried Sehniaman RESOLUGAO DE CONFLITOS E CULTURA CONTEMPORANEA contexto da cultura contempordinea favoreceu a formagiio de novas priticas, de novas disciplinas cientificas e de novas perspectivas sobre as cifncias, criando, dessa forma, meios culturais e tecnolégicos adequados ao desenvolvimento de ‘metodologias inovadoras de resolugao de conflitos (Schnitman, 1989e, 1994c). Como essas novas tecnologias se relacionam com a cultura contemporanea? De ‘que modo explicar seu intenso crescimento a partir da década de 70 e a diversidade de ambitos em.que se aplicam? Finalmente, qual é sua conexio com os novos panadigunss cicnificus ¢ culturais, © quais so as perspectivas emergentes? Os diferentes ambitos — familiar, educativo, laboral, etc. ~ enfrentam processos de mudangas sociais ¢ culturais que levam a uma complexidade crescente. Em tal contexto, 0s conflitos entre pessoas, sistemas ou subsistemas de sistemas complexos podem ser percebidos como um aspecto indesejével ou como uma oportunidade de mudanga, As metodologias para a resolugio altemnativa de conflitos facilitam a defi- nigio e a administragio responsével ~ por individuos, organizagdes © comunidades — os prprios conflitos, eo caminho para as solugdes. A mediagZo ¢ outras metodologias podem facilitar o didlogo e prover destrezas para a resolugdo de situagoes conflitivas. No curso do proceso resultante, 08 sujeitos comprometidos tém a possibilidade de adquirir as habilidades necessérias para resolver por si mesmos as diferencas que podem, eventualmente, ser suscitadas no futuro com seus pares, familiares e colnbo- radotes, ou em sua comunidade. Nossa cultura privilegiow paradigma ganhar-perder, que funciona com uma I6gica determinista binéria, na qual a disjungao ¢ a simplificagdo limitam as opgii possfveis. A discussio ¢ o litigio ~ como métodos para resolver diferengas ~ dio origem a disputas nas quais usualmente uma parte termina “ganhadora’”, e outra, “perdedora”. Essa forma de colocar as diferengas empobrece o especiro de solugdes possiveis, dificulta a relagiio entre as pessoas envolvidas e gera custos econdmicos, afetivos e relacionais. Os contextos de resolugao alternativos & confrontagio, ao paradigma ganhar- perder, & disputa ou ao litigio direcionam-se & co-participacdo responsével, admitem. 18 _ Schnitman & Litlejohn acomsideragdo eo reconhecimento da singularidade de cada participante no contfito, consideram a possibilidade de ganhar conjuntamente, de construir 0 comum e assen- lar as bases de soluydes efetivas que Iegitinrem a participagao de todos os setores envolvidos. ‘Ay tiuvas mnetuduTogiay levant previnainente a resolver us wunflitus enlie as pa tes de forma colaborativa, promovendo a mudanga mediante a busca de solugdes, Losensuais © a euustiuyau de “lugares” suciais legitimus pasa us paitivipantes. s diversos ¢ complexos contextos da cultura contempordnea basciam-se em diferengas culturais, religiosas, raciais, econémicas ou gcogréficas. Diferencas que ‘maream as distintas maneiras como as pessoas constroem e dio sentido a seu mundo. Nesscs contextos nao sc conta, necessariamcntc, com procedimentos participativos c democraticos para dirimir as disputas. Os modos tradicionais de resolugdo de confli- tos, além de niio capacitarem para resolvé-los, também niio conduzem a aprender como fazé-lo. ‘As novas metodologias para a resolugdo alternativa de conflitos oferecem no- vas opedes ndo-litigantes. Sao préticas capazes de atravessar a diversidade de con- toxtos sociaias ato catruturadas para capacitar as possoas a aprenderom a aprender, permitindo-Ihes um escrutinio tanto das difereneas como das convergéncias. A partir do momento em que as divergéncias podem ser dirimidas, a escalada dos conflitos 5e reduz, aumenta a habilidade para compreender os diversos pontos de vista e so gera- das, durante 0 proceso, novas possibilidades, novos enquadramentos ¢ maneiras praticas de litigiar com as diferengas. Essas metodologias permite aumentar a compreensio ¢ o reconhecimento dos participantes, construir a possibitidade de ages coordenadas ~ mesmo que na dife- renga, incrementar os diflogos e a capacidade de pessoas e comunidades para com- rometerem-se responsavelmente com decisdes ¢ acordos participativos, especifi- eando as mudangas que ocorrermo tanto nas priticas materiais como nos papéis relacionais estabelecidos sobre base de perspectivas, préticas, visOes ¢ sentidos co- onstrufdos. Os acordos alcangados por meio dessas metodologias apresentam resultados efetivos porque permitem considerar — e em muitos casos resolver — disputas e dife- rengas, e também porque as pessoas elaboram, na prépria pritica, novas ferramentas para ofganizar suas relagées. No prépria pracesso poclem encontrar ou gerar uma diversidade de possibilidades que nao existia ao inicié-lo, e expandir suas habilida- des para resolver sens conflitos em event nnstincias ou contextos posterio- res, Soma-se, assim, um novo beneficio ~ poderfamos denominé-lo segunda ordem -, que transcende o imediatismo de qualquer problema especifico. ‘As metodologias para a resolugdo altemativa de conflitos favorecem o respeito A diferencas, a caordenagia na camplexidade e a contradighi, a estrinragin de acordos e a construgao cultural de préticas democréticas ndo-restritas exclusivamen- tea experts. Sendo assim, nfo 6 sio importantes como uma maneira de resolver disputas, como também uma forma de promover a participagdo e a colaboracao nas bases das comunidades. Certamente, tal aspecto também é de utilidade tanto em Iu- gares onde se apresentam conflitos dificeis de dirimir — os casos Israel-Palestina, Irlanda, Iugostavia ~ como em paises de cujas democracias ainda se espera que con- cretizem definitivamente as grandes declaragdes de prinefpios em praticas e modos de vida cotidianos. ‘As metodologias para a resolugdo altemativa de conflitos apéiam o funciona- mento de redes comunitirias e organizacdes em um amplo espectro, que compreende escolas, satide, administragio, relagdes internacionais, negécios € comunidades, Novos Paradigms em Mediago 19 oferecem maneiras de ampliar as possibilidades de colaboragio ¢ coordenagio na pluralidade ~ com interesses e propésitos compartithados ~, aumentando a capacida- de de gest e participagao ¢ favorecendo a criacdo de novas comunidades de interes se. No caso particular das organizagdes comunitérias, esses métodos conseguein re- duzir a dependéncia de intervengdes de organismos governamentais e promover & autogestio co-participativa focalizada. A evolug2o dos servigos em organizagoes ju- diciais, familiares, educacionais, de satide, ambientalistas, empresariais, comerciais, Jegais, comunitérias, mediante a incluso dessas metodologias, & uma tarefa aberta, Na América Latina, tal desafio é um incentivo para criar redes de colaboracao. NOVAS PRATICAS, NOVOS PARADIGMAS As metodologias para a resolugio alternativa de conflitos podem ser definidas como priticas emergentes que operam entre o existente e o possivel, A luz de novos paradigmas, tais processos emeigentes podem ser entendidos como processos auto- organizativos em sistemas complexos, processos nos quais os patticipantes, ao cons- tuufrem renovadas possibilidades na resolugio de scus conflitos, reconstroem suas relagdes e reconstzoem a si mesmos (Fried Schnitman, 1998b), Pessoas, familias, organizngdes, corporagées, comunidades ¢ inclusive pafses — imersos em um mundo de progressiva complexidade ~ encontram-se inseridos em importantes processos de mudanga, O setor de analistas econdmicos, psicossociais ¢ organizacionais denomina tais processos de “administracao da complexidade, da ambigiidade e do caos”. Independentemente do nome com que esses fendmerios Sio designados, o certo é que existe um amplo acordo no que se refere & sua complexida- de, Sugerimos a compreensto do movimento de resolugao alternativa de conflitos ‘como parte de um contexto cultural ¢ cientifico emergente. que se esforca para acm nistrar e coordenar essa complexidade, interrogando e reelaborando as logicas dos paradigmas conflito/eompeténcia ~ ganhar/perder, Trata-se de construir novas plata- formas para a ago, que considerem uma linguagem centrada nas ligagSes, no sentido de comunidade - 0 comum -, na ecologia social e na qualidade de vida. Embora 0 paradigma ganhar-perder ainda controle o debate, estes novos caminhios e recursos examinam nosso potencial para reorientar-nos as ecologias relacionais que susten- tam o desenvolvimento participativo ¢ responsavel, a uma sociedade civil que possa incluir a diversidade entre seus recursos. A capacidade de se perguntar sobre as di- versas estratégias dispontveis frente ao conflito, de refletir, formular questdes signi- ficativas, aprender a aprender, transforma-se em meias ativos de enfrentar os contli- {0s ¢ resistir as simplificagGes de velhos paradigmas. A construgio de um mundo onde haja lugar para a criatividade, onde sejam ossiveis marcos para refletir ¢ atuar dentro do paradigma ganhar-ganhar, as asso- Ciagdes ¢ 0s acordos colaborativos na convergéncia ¢ a diferenga ~ € nfo s6 a compe- tEncia, o poder ¢ o litigio ~ permitem a geragio de novos procedimentos ¢ novas formas relacionais, novos empreendimentos, associagdes ¢ instituiges. F posstivel «que essa construgio conduza a inovagdes nas relagdes sociais, a reequilibrar o pibli- £0, 0 setor civil ¢ 0 privado, encontrando caminhos mais cooperativos para recons- ‘ruir uma comunidade global e local (Bush e Folger, 1994; Fisher e Ury, 1991; Gergen, 1994; Henderson, 1996; Johnson e Cooperrider, 1991; Pearce e Littlejohn, 1997). 20 _Schnitman & Liteon ‘A consciéncia crescente da trama plural da cultura contemporiinea, da diversi- dade, da sobreposigao de linguagens, tempos e projetos, impde uma necessidade cada ‘vex maior de encontrar métodes que delectem as ligagdes, as articulagdes, no s6 como uma receita técnica para resolver conflitos, mas também como um principio orientador ~ um paradigina — que utorgue tanta Forya 2 aticulaydo © & integrayaio ‘como a distingio e & oposigao. As metodologias para a resolucio de conflitos tor- gr9e MIL instuIHEMY pare Lepensar a propria Cultura, a transfoumayao dus discur= 08 institucionais e culturais. A realidades e préticas sociais nas quais predominam o confronto e a luta coe~ xistem com outras realidades sociais em que individuos, familias, instituicBes, em- ppresas, comunidades ~ ¢ até nagdes — tenham construido espagos sociais de didlogo sem por isso deixar de lado seus tracos distintivos ou suas diferencas. {As priticas que fazem parte da resolugao alternativa de conflitos consistem em destrezas ¢ habilidades transversais que operam na diversidade, & margem, nas interconcxes. Sua proposta oricntadora considcra que o conflito ¢ também uma opor- tunidade de crescimento e desenvolvimento. Superando l6gicas binérias, essas prati- «cas sc interessam pelas possibilidades eriativas que brindam as difcrengas, a diversi- dade e a complexidade. Assim, opgdes etiativas de acordos ou diferenciagdo, possibilidades de ganhar cconjuntamente, construir colaborativamente, descobrir safdas inesperadas ou dife- renciar-se e concordar sobre aquelas dreas em que se pode e & preciso coordenar, coexistir na diferenca, aparecem como parte de um novo espectro de caminhos vid~ veis, criativos e amplos. Esses caminhos se concretizam em uma diversidade de es- tratégias que incorporam e abordam a contradigao e 0 conflito de maneiras diversas. Em alguns casos, tais estratégias buscam um compromisso; em outros, trabalham ragmaticamente as diferencas, ransformam-nas, restringem, celebram ou constroem possibilidades inéditas. Assim, frente ao conflito, sfo eluboradas estratégias eompro- ‘metidas com a diversidade. A luz do contexto cultural dos novos paradigmas, as metodologias para a reso- lugdo de conflitos levam & construgdo de formas de relacionamento atendendo as diferencas, as miiltiplas vozes e a promogo de uma abertura ao diilogo com o “ou- tro”. A possibilidade de alentar didlogos significativos para a resolugao de conflitos pressupée e confirma a polifonia social. A diversidade de idiomas, de experincias de culturas aparece como uma das idéias centrais da p6s-modernidade. O didlogo ‘opera como uma dimensio transversal dessas metodologias. entradas nos didlogos transformadores, tais metodologias utilizam modelos info-lineares de rmidanga, assim como as possibilidades que deles emergem. As rela Ges humanas sao ricas em evolugdes imprevisfveis, podem apresentar formas com- plexas e flnxas tirhnlentos Fi precisamente nos sistemas complexas — como as rela es humanas, em que, em condigdes distantes do equilfbrio, pequenas perturbagdes fn flimagées podem ampliar-se ¢ derivar em eventos ¢ oportinidades imprevistas — ue podem operar como plataformas para resolver conflitos, construir novas possibi- lidades, mudar a relagdo ou a organizagao do sistema, Nessas circunstincias, 0 operador ~mediador, consultor ou facilitador — cons- ciente do papel construtivo desses processos, estaré atento aos novos eventos, as variagdes, aos momentos criticos ou pontos de bifurcacilo que oferecem opedes, aos elementos capazes de articular criativos processos de auto-organizacio. Quando 0 operador encontra o elemento articulador, envolve-se facilitando 0 didlogo e as opor- tunidades que emergem do préprio proceso. Tais circunstincias favorecem actiacao de plataformas inéditas e inesperadas a partir do mesmo processo construtivo; as Novos Paradigmas cm Mego 21 Flutuagdes, 0 acaso e a criatividade fazem parte desse proceso. Os modelos enqua- drados nos novos paradigmas integram a énfase pragmatica as destrezas ¢ solugSes com uma preocupagao pelos processos emergentes (Os miodelos tradicionais de resolucdo de conflitos operam a partir da: 1) arbitra- ‘gem, 2) negociagao ou 3) terapia. Os estilos ligados A negociagio a arbitragem consideram os conflitos, os processos ou os interesses como “relagdes palpiveis” para a materializagaio ~ em objetivos especificos e praticos ~ daquelas coisas que as pessoas podem fazer para resolver seus problemas. Os estilos terapéuticos, 20 contté- rio, enfocamn aspectos internos da experiéncia, os sentimentos e pensamentos, os tra- ‘bjetivos” das disputas (Bush e Folger,1994), Nossa perspectiva a respeito dessas metodologias baseia-se nos novos paradigmas, promovendo a construgo de didlogos para encontrar palavras que pos sam ser experimentadas ¢ assumidas como prdprias pelas partes em conflito; pala- vas, perspectivas e descrigdes que permitam definir um futuro possivel e os passos capazes de conduzir a ete. Em relagio a diversidade de perspectivas, o que necessitamos reconhecer é pre- cisamente o interjogo, a polifonia, ¢ ndo 0 monitoramento hegeménico de um sobre 0 outro, Os enfoques propostos apSiam-se em mociclos comunicativos e discursivos nos quais € poss{vel entender a evolugdo de um conflito enfocando nio s6 as emo- ‘oes, as intengdes e as crengas dos participantes, mas também os dominios simb6! Cos, as construgdes narrativas, as tramas dial6gicas que constroem ¢ transformam, significados e préticas, projetos e resultados. Os novos paradigmas integram 0 valor pragmético de tais metodologias com sua capacidade transformadora. Nesse fimbito, 0 mediador, o operador comunitirio, ‘© consultor e outros especialistas interessados na busca de solugbes alternativas para as disputas criam condigdes para a resolugio ¢ para a “apropriacio” responsavel de agoes, solugdes, conhecimentos. O termo empowerment alude, precisamente, a es “recuperagao” como uma magnitude da transformagdo. ‘Tal conceito permite distin- guir entre modelos nos quais, por razdes téticas ou estratégicas, o expert decide “cor cedet” poder as pessoas, e outros modelos — centrados no empowerment — que facili- tam que os atores ~ pessoas, grupos ou comunidades ~ recuperem reflexivamente seu prdprio poder, promovendo a reciclagem de seus recursos e a criagio de novas possi- bilidades. Apoiando-se nas nogGes de construgao social da realidade, incluso do observa- : dor nas construgdes que realiza e em processos de autor-reflexividade, os novos ! paradigmas fomecem perspectivas renovadas para a participagao dos atores soc Conscientes dos processos que os constroem como tais e operando com essas pers- pectivas, os atores sociais podem incrementar sua capacidade para iniciar ages no- vas, atuar como protagonistas ao enfrentar ¢ resolver conflitos ¢ dilemas em suas ‘vidas, assim como narar novas ¢ methores hist6rias sobre os sistemas dos quais so parte e de seu lugar nos mesmos EXPANSAO DE PERSPECTIVAS E CONTEXTOS DE MUDANCA As transformagdes globais e o desenvolvimento de novos paradigmas amplia- ram as perspectivas que desde a Modemnidade vém sustentando-se sobre a mudanga, Precisamente, foi na nogiio de mudanga que o mundo modemno arraigou sua prépria existéncia, mas a palavra “mudanga” havia tomado um significado predominante- mente tecnolégico. Numerosas descrigdes que utilizavam os conceitos de mudanca e 22 Schritman & Ltlejohn resolugio cstavam centradas cm seu caréter de provisibilidade, no controle, na Confiabilidade, no foco, nos objetivos circunscritos, na estratégia, (Os novos paradigmas c as condicées contemporiincas propécm cenérios alter- nativos de fluxo, incluem 0 emergente, 0 viver com e o administrar processos de mudanga permanente, a surpresa de explorar 0 ainda desconhecido © descobrir a efetividade do que se esté conformando, o surgimento de possibilidades, incluindo a possibilidade de trabalhar © conatruir na incerteza. Nesse contexto, prefiguram-se temas centrais para o manejo dos contflitos e a rmudanga produtiva nos sistemas humanos, tais como: a) o abandono da idéia de deficit ‘como foco na resolugo de problemas, idéia que orientou o trabalho tanto na mediacio ‘como na psicoterapia, na consulta ena administragio; b) o direcionamento para proces- sos que reconhecem — como fontes de novas possibilidades — as perspectivas, as opor- tunidades, as esperangas e as expectativas imbricadas nos mticleos do problema; c) a adscrigdo a uma linguagem que incorpora a apreciagao do existente, daquito que fun- ciona, nutrindo a aprendizagem e criando possibilidades de mmudanca positiva em siste- ‘mas humanos; d) 0 trabalho prospectivo, ao futuro na construgao do presente mediante incluso de caminhos possfveis, a capacidade de imaginar, criar, construir aquilo que ainda ndo existe — isto 6, de construr 0 presente a partir do futuro projetado/desejado; @) arestauragio dos sujeitos como ativos co-construtores de suas realidades; f) a cons- ciéncia crescente do papel construtivo das flutuagGes, da desordem, dos processos dis- tantes do equilibria, da nfo-linearidade, o acaso e os pracessos de auto-organizagio na ‘geracao de possibilidades emergentes; g) a nocdo de flutuagdes pequenas que podem, por amplificago, gerar muddangas em grande escal. NOVOS PARADIGMAS' Cabe perguntar, agora, qual € a relagao do exposto anteriormente com os novos paradigmas. A expressio “novos paradigmas” constitui uma maneira sintética e con- veniente de aludit a mudangas pelas quais passaram a teoria e a pritica cientfficas nos titimos 20 anos. Assim como a nogdo de “paradigma’ remete ao nome de Thomas Kuhn (1970), a idéia de “novos paradigmas” remete, entre outros, a Ilya Prigogine (1994; Prigogine e Stengers, 1979) e a seus trabalhos sobre auto-organizagao, caos e irreversibilidade temporal, a Edgar Morin (1977, 1985, 1987, 1991, 1994a) e& nogo de complexidade, & énfase na construgdo social das ciéncias, bem como incluso do observador proposta pelo construtivismo de Heinz von Foerster (1984, 1994) e pelo construcionismo social de Evelyn Fox Keller (1994) em ciéncia, Kenneth J. Gergen (1994) em psicologia e W. Bamett Pearce (1989) em comunicagio, & construgdo de tmundos poss ves que propée Jerome Bruner (1968, 1990), ov viualidade daquilo ue nio existe ainda, mas pode ser criado, como sugere o paradigma estético na obra de Guattari (1989, 1994; Deleuze e Guattari, 1980). No processo da cultura contem- pordinea, essas perspectivas tendem a mesclar-se ¢ a deixarem de ser configuragdes isoladas. De acordo com a visio dos paradigmas anteriores, a ciéncia podia conduzir & certeza, ao previsivel; por isso, impulsionou-se a busca de marcos universais unifica- dores, regularidades, visOes inclusivas, sem espaco para os desenvolvimentos espon- tdineos, inesperados. Tudo 0 que acontecia devia, em principio, ser explicdvel em termos de leis gerais e imutaveis. Nosso proprio conhecimento era um reflexo da realidade preexistente. A I6gica desse tipo de representagdo — segundo Fox Keller (1994) —€ a hustona do desaparecimento progressivo do autor/observador cientitico. Novos Paradizmas em Mediagio 28 Esse desaparecimento tornou-se téo completo que permitiu a representagtio do mun- do que aparece hoje aparentemente progressiva e sem sujeito. Desse ponto de vista, 0 curso dos acontecimentos nada tem a ver com nossa patticipago nos mesmos. (© papel do tempo e seu papel inovador-criativo, o caos como fonte unificadora, a aleatoriedade, o interesse pelos processos emergentes ¢ a novidade, a complexida- de-como um mundo aberto de possibilidades, a oportunidade de consiruir nosso lugar ativamente, o conhecimento como um processo construtivo-gerador, todos sto recu 505 com 08 quais os novos paradigmas permitem que nos desloquemos de vis ligadas a leis gerais ¢ a modelos normativos que configuram um mundo ordenado ¢ previsfvel, para outras visSes em que as vurbuléncias, as osvilagdes e a novidade fazem parte do cotidiano, e 2 inovagao faz parte da construgio da mudanga part um foturo aberto. A partir dessa perspectiva, 0 mundo é um evento emergente que envolve uma abertura a0 novo, ao inesperado. A ciéneia, a pesquisa, o desenvolvimento de mode~ Jos as préticas ce implementagao so agora diélogos, no mondlogos que podem ser sustentados unilateralmente. Em suma, a mudanga crucial consiste no deslocamento que vai do erer em uma narrativa sem autores até o conceito de um universo plural, multidimensional, a cuja coologia nos integramos, que esté constitufdo ~ mais que representado ~ por nossos, aos comunicativos. Os novos paradigmas podem guiar-nos na construgao de futuros posstveis: no temos agora a aspiragio de prevé-los, mas sim de incidir em seu advento, Fomecem uma renovada ética para as nogdes de foco ¢ estratégia para elaborar novos desenhos destinados a concretizar a pritica profissional. Nao se trata de um plano monolégico, padronizado, claborado por um “profissional expert” que possa ser estrategicamente tragado e implementado, mas, como diria Morin, de “idéias-farol” que orientam 0 rumo ¢ nos permitem navegar ao titndo em situagdes locais e mutantes. A estratégia cconsiste, agora, na arte de trabalhar co-participativamente na complexidade e na in- certeza. {AS posigdes reflexivas, colaborativas, multivocais, narrativas, dialdgicas, gera- doras, representadas neste livro — entre outras desenvolvidas na ultima década ~ tensionam a relagdo entre foco e complexidade, constrigdes e possibilidades. Mais do que um saber onisciente, propdem um saber gerador ¢ diverso arraigado local/ ecologicamente, uma integragao entre “saber” ¢ “saber fazer”, e questionam a légica disjuntiva da racionalidade técnica, A tradigo modernista da ciéncia esteve empenhada na clucidagdo de esséncias. Desenvolvimentos pés-modemos ~ incluindo as perspectivas construtivistas (centradas em processos construtivos) ¢ construcionistas (centradas em processos relacionais) ~ das ciéncias sociais postulam que as narrativas cientificas atuam criando, sustentan- do ow alterando mundos de relagées sociais, Ambos os desenvolvimentos teéricos (Consteutivistas constracionistas) concordam na rejeigdo ao dualismo sujeito-obje- toc A premissa de que o conhecimento & uma representagio adequada do mundo. ‘Uma c outra perspectiva sugerem que as construgdes cientificas ou culturais do mun- do ocorrem dentro de ~ ou no marco de ~ formas de relagio. No nivel metate6rieo, convidam a explorar a pluralidade de possibilidades, a diversidade e, ao mesmo tem- po, reconhecem a contingéncia material, histérica e cultural das verses ou maneiras de explicar a tealidade, 2 _Sehitman& Liteon AS RELACOES COMO SISTEMAS COMUNICATIVOS: NOVOS PARADIGMAS EM COMUNICACAO Os novos paradigmas aceitam que, na comunicacao, so construidos mundos sociais, © quo cla também é uma forma ds ago simbélica ou de outro tipo - com propésitos e efeitos. Em alguns modelos antoriores, a “comunicagio” cra entendida como transmis stio de mensagens entre um emissor e um receptor. A partir desses pontos de vista, a comunicagao ocorria quando uma pessoa tentava trocar informages com outra, com sgraus varidveis de ajuste, persuasao ou habilidade. E justamente a habilidade para trocar mensagens conseguia reduzir os mal-entendidos ¢ as discordancias, ou condu- Zia a um acordo. Assim — tal como no modelo objetivista do conhecimento ~, esses modelos de transmissao consideram a comunicagao como um reflexo no qual se privilegia a cla- reza e a adequagiio dos contetidos da mensagem, e convidam ao desenvolvimento de destrezas especificas. O foco do consultor, do operador, do mediador, orient as pessoas como entidades — unidades individuais -, para seus mapas comunicadores € cognitivos (individuos em conflito, fungées, relagdes) e para os conflitos como tunidades discretas, possiveis de serem desarmadas e rearmadas uma de cada ve2. Essa ética & acompankada de uma visio da organizacdo centrada em fungdes indi duais espectficas, previamente consignadas Na perspectiva dos novos paradigmas, ao contrério, diversos autores propdem a compreensia da comnnicagio camo a possihilidade de compreender e operar na cons truco, na reprodugdo e na transformagio de processos relacionais em diélogo (Fried Schnitman, 19982; Gergen, 1994; Pearce, 1989). Os conflitas niio sia entendidos como entidades, mas como processos, como parte de eventos comunicativos, ¢ a argumentagio aparece com ma lente coneeitnal que canstréi, & eanstnfda par even tos comunicativos. A comunicagao & performance, execucao, desempenho relacional. Interessa ver a que mundas saciais condn7. atendendo as habilidades para a conde nagdo, a interpretacio, a administragao do conflito e a sinergia, mesmo que na dife- renga, agregando destrezas para trabalhar com uma orientacio transformadora, liga- da ao reconhecimento e & possibilidade de responder rapidamente a situages emer- gentes. Essa perspectiva, de base construcionista social, define entio a comunicagao ‘como tum conjunto de processos — verbais ¢ néo-verbais ~ para conhecer e fazer, de agdo e interpretacdo, de fluxo constant, interativo e co-evolutivo, que estimula for- ‘mas de operar mediante as quais as pessoas criam, mantém, negociam e transformam suas realidades sociais (ver Capitulo 4). Como “realidades sociais”, as relacdes sociais e a comunicacio abrangem as praticas sociais as regras de seu agir (enactment), assim como as relagdes — e os direitos e responsabilidades que as definem -, as identidades individuais ~e as narra- tivas que as sustentam -, os valores micro e macroculturais da prépria organizacao. No modelo construcionista social, essas caracterfsticas, aparentemente estiveis, cdo mundo social sao consideradas produtos da comunicagao, temporérios e maledveis. Enguanto o modelo de transmissdo coloca significado ¢ propésito no contetido das ‘mensagens individuais, o modelo construcionista social situa-os nos fluxos de feracdo. A perspectiva construcionista baseia-se em uma metéfora que descreve as pessoas como imersas em uma ecologia de significado e de agio. Assim, as agdes verbais e nio-verbais se sobrepGem e ressoam em miitiplas diregdes, contribuindo para um processo co-evolutivo de crescimento e transformagio. Novos Paradigms em Meiagio 28 ‘A pattir dessa perspectiva, a compreensio da comunicagio modifica-se em ues sentidos 1. Comunicagio ¢ conhecimento aparecem como processos de criagio con- junta de significados, processos em que se constroem praticas, relages, identidades e outras formas de realidade social: a comunicacio deixa de ser um mero infercémbio de mensagens isoladas. 2. Acomunicagtio apresenta-se por meio de interagées permanentes, nao por intermédio de transmissées intermitentes de mensagens. 3. Bpercebida em termos de sistemas em co-evolugao, niio como um modelo linear de causa-cfeito, Essa passagem a racionalidade consirutiva do didlogo transforma as maneiras de entender a resolugao de contfitos, o campo académico, a formagio profissional, a prética profissional ¢ as perspectivas vinculadas a uma racionalidade tecnoi6gica. Sugere que esses so processos geradores e que os profissionais nfo podem se limitar a aplicar técnicas, uma vez, que sex trabalho especifico consiste em enquadrar problemas, interpreté-tos e defini-los, Nao se trata, assim, de uma atividade mera- ‘mente técnica, mas da ativa construgao de. marcos de interpretagio que envolvem valores € pontos de vista Quais Sao as Perspectivas Emergentes? = Aperspectiva epistémica, que concebe a comunicagio e a resolugio de con- flitos como maneiras de conhecer e de fazer. ~ Aperspectiva dialégica, que alude &co-criagao de significados por meio de entre interlocutores. Explica a comunicagio como processo formativo de mundoe sociais que ac apsiam na Hinguagem, mas que 0 transcedin A perspectiva argumental, que encara um argumento nao como objeto, mas como ponto de vista, um conjunto de lentes conceituais — construfdas no didlogo nas interagdes sociais ~ que as pessoas utilizam para examinar eventos comunicativos, ~ Aperspectiva geradora, que constr6i futuros possiveis: nela, mediante ages ‘comunicativas pessoais grupais, cabe perceber e construir futuros possf- veis, prefigurar situacSes, desenvolvimentos e passos que poderiam condu- zir a eles © — neste proceso ~ atualizar sua realizagao. ~ A perspectiva de desempenho (ou performativa): ela examina as maneiras como a comunicacio possibilitae fortalece formas vidveis de agao, comple- tando a construgao de uma realidade prefigurada, ~ A perspectiva narrativa, a qual entende a comunicagao como um conjunto de agées simbélicas que adquirem consequéneia ¢ significado para quem vive nela, a cria ou interpreta, ~ Aperspectiva transformadora, que alude a como, mediante atos comunica- tivos, 08 sujeitos sociais reconhecem a si mesmos ¢ reconhecem a outros como produtores de conhecimento ¢ de ages, adonando-se (empowerment) de seu préprio poder como dimensio transsformadora. Tais processos facili- tam tanto a recuperagio do poder préprio das pessoas, grupos e comunida- des, como os potenciais desenvolvimentos transformadores que tal reco- nnhecimento implica. 26 _Schnitman & Litlejobn NOTA Em sintese, as metodologias para a resolugao alternativa de conflitos so prati ceas que aparecem em um contexto em que mudou a maneira de conceber a constru- ¢0 do conhecimento. Inicialmente, irabalhava-se com a idéia de saberes e poderes hegeménicos, visées unidimensionais, um conhecimento alheio aos sujeitos: éramos ‘observadores — quem sabe distantes, as vezes passivos —de verdades que estavam af, ‘que existiam fora de nosso alcance. © que nos propée - como priticas emengentes ~ a tesolugio alternativa de con- flitos? Basicamente, entender os sujeitos como co-construtores de suas realidades, E ‘com ele, em ver. das vias do jé feito — ou dito ~ ou do dado, propdem-nos participa- ‘¢4o, futuro, transitar um camiinho entre o existente e 0 possfvel. ‘A proposta consiste, entfo, em passar de uma visio do conhecimento hegemdnico como reflexo do mundo (onde esse conhecimento consiste em aproximar-nos de for- ‘ma cada vez mais estreita de uma realidade preexistente) a uma visto diferente, na qual o conhecimento e as praticas elaboram realidades para nés, em que constrafmos nossos mundos sociais e nos constraimos como atores do processo no de maneira unidimensional, mas no marco de uma polifonia ‘Trata-se, na realidade, de um movimento de miltipias vozes. De fato, a epistemologia ¢ os modelos e préticas de resolugao altemativa de conflitos podem, ser entendidos como campos polifOnicos que, como (ais, validam a existéncia de miltiplas vozes, a existéncia do diferente, do didlogo, do outro, da diversidade. ‘Os novos paradigmas para a resolucdo alternativa de conflitos definem um cam- po que, por naturcza, tende a ser multidiseiplinar, atravessa fronteiras, trabalha com a diferenca ~ mais ainda, enriquece-se.com ela - a fim de preparar futuros melhores atuar sobre a qualidade de vida das pessoas, das instituigdes onde as pessoas vivem ¢ trabalham e das comunidades Oensino, as universidades, entretanto, operam dentro de segmentos disciplina- rese de fronteiras herdadas do Iluminismo, com uma visio fragmentada e reducionista, Nosso fururo global ¢ plural, multidisciptinar, convida a criatividdk te de tempo-espago expandido a novos saberes. Remetemos o leitor a Bernstein (1992) a Schnitman (19944). REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BERNSTEIN, RJ. 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