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1

PROPOSTA DE PROJETO

Módulos de Conhecimento Integrado Para o Segmento dos


Catadores de Materiais Recicláveis: Uma proposta de
inclusão econômico-social e sustentabilidade ambiental na
perspectiva da Economia do Conhecimento

PLANO DE TRABALHO

1. FICHA DO PROJETO

Nome do Projeto Módulos de Conhecimento Integrado Para o Segmento


dos Catadores de Materiais Recicláveis: Uma proposta de
inclusão econômico-social e sustentabilidade ambiental
na perspectiva da Economia do Conhecimento
Agencia Executora GERI – Grupo de Estudos de Relações Intersetoriais
Faculdade de Ciências Econômicas - FCE –
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
Coordenador Geral Prof. Dr. João Damásio de Oliveira Filho
Instituições de Apoio MDE - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Envolvidas à Fome; PETROBRÁS – Petróleo Brasileiro S. A. ;
PANGEA – Centro de Estudos Sócio-Ambientais –
Centro Nacional de Referência dos Catadores de
Materiais Recicláveis; CATABAHIA – Rede de
Cooperativas de Catadores do Estado da Bahia.
Tempo de Execução 24 meses
Financiamento BID US$ 1.000.000,00
Contrapartida Não- PANGEA e REDE CATABAHIA
Financeira Local US$ 500.000,00

Draft 1.29 – Favor não citar


Agosto de 2008
2

2. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

 A reciclagem dos resíduos sólidos urbanos apresenta-se no contexto atual como


uma fórmula de curto-prazo para mitigar os crescentes problemas gerados pelos
padrões de consumo das sociedades nas quais vivemos.
 Esta solução apresenta um conjunto de características, cada uma delas
individualmente importante: economias de recursos naturais; minimização ou
redução de impactos ambientais negativos; redução dos custos públicos para a
coleção e tratamento desses materiais; criação de postos de trabalho e renda;
impactos positivos na economia ao longo das cadeias da
reciclagem; entre outras.
 A presença de catadores de materiais recicláveis é um fenômeno
visível na maioria das cidades e metrópoles latino-americanas e
caribenhas. Trata-se de um segmento social imerso em situação
de pobreza crítica, trabalhando em ruas e lixões e
comercializando os seus materiais em condições de subordinação
econômica.
 No Brasil existem cerca de 800.000 catadores ocupados nas ruas e lixões e apenas
12% desse contingente encontra-se organizado em 353 cooperativas, associações,
ou grupos, dispersos pelo país.
 Esse segmento articula-se a ramos industriais dinâmicos da cadeia
produtiva -- através da reciclagem de materiais -- gerando riqueza,
conservação de recursos, e sustentabilidade ambiental. Entretanto, são
menos visíveis suas participações nos resultados.
 Em outras palavras, são quase um milhão de catadores em situação de
pobreza -- mas sobrevivendo -- e que alimentam uma indústria que vem se
tornando uma das mais dinâmicas do país, a indústria da reciclagem.
 Alguns desses grupos, porém, já detêm consideráveis níveis de conhecimento
adquirido -- formas de organização, logística e comercialização
-- que potencialmente os qualifica como objetos empíricos de
investigação da Economia do Conhecimento.
 Este Projeto trata de desenvolver a sistematização desses conhecimentos
adquiridos – alinhados a uma coleção de novos conhecimentos -- de forma a
gerar referências técnicas, blueprints, procedimentos organizacionais básicos e
informações logísticas. Isso levará ao desenvolvimento dos Módulos Integrados de
Conhecimento – MIC - que possam ser difundidos e replicados -- dentro da
perspectivas da construção de conceitos baseados na Economia do
Conhecimento.
 É visível a necessidade de coligir os níveis de
conhecimentos adquiridos pelas organizações
de catadores, visando a construção de políticas
publicas de inclusão social a respeito de um setor
emblemático -- do ponto de vista da construção
de uma sociedade ambientalmente sustentável.
 No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome - MDS1 apóia a
1
Uma das Instituições de Apoio envolvidas neste presente Projeto. Favor consultar a Carta de Apoio ao
Projeto, anexada ao final deste Plano de Trabalho. Nela pode ser literalmente lido: “O mencionado
Projeto possibilitará que o conhecimento popular e científico, no setor da reciclagem, sejam articulados
3

intenção da construção de um primeiro pilar de conhecimento sobre as cadeias e


sub-cadeias da reciclagem em virtude da dimensão social e econômica que este
fenômeno representa no Brasil.
 A concepção do Plano de Trabalho deste Projeto parte do desenvolvimento de
estudos mais amplos e aprofundados sobre a Economia do Conhecimento,
aplicada à questão dos catadores de materiais recicláveis.
 Isto é indispensável para estabelecer bases analíticas que permitam capturar as
dimensões adicionais dos problemas de conhecimento relativos às cadeias e sub-
cadeias produtivas do processo de reciclagem, que são críticas para as suas
eficiências.
 Além disso, deve contribuir para a identificação
de potenciais transferências de conhecimento
adquirido, e sua difusão – e nas adições de
novos conhecimentos – para desenvolver
oportunidades de negócios sustentáveis para os
catadores e suas parcerias com companhias do
setor privado, com instituições da sociedade
civil e com entidades públicas.
 Mais do que isso busca a constituição de um
conhecimento que articule pesquisa cientifica e
a experiência prática para sistematizar módulos de conhecimento replicáveis em
contextos territoriais diversos2.
 O presente Projeto assume um caráter estratégico que o capacita a ser submetido
para admissão junto ao Programa de Economia do Conhecimento do BID ,
apresentando elevada capacidade de gerar impactos econômicos, sociais e
ambientais para o segmento dos catadores de materiais recicláveis no Brasil e
demais países da América Latina e Caribe.

e venham a fomentar a inclusão social e econômica dos Catadores de Materiais Recicláveis”. Nossa
ênfase, JD.
2
“[…] o uso e a criação sustentáveis do Conhecimento estão no centro do processo de desenvolvimento
econômico.” - IDB-Knowledge Economy Program-Special Program Pre-Proposal-Draft- May, 2008 –
item 1.1 p.1 - Nossa tradução, JD.
4

3. OBJETIVOS DO PROJETO

3.1. GERAL
O objetivo desta proposta é sistematizar e articular os conhecimentos adquiridos -- já
incorporados pelas cooperativas de catadores de materiais recicláveis mais avançadas –
alinhados a uma coleção de novos conhecimentos sobre ações e processos, de forma a
gerar referências técnicas, blueprints, procedimentos organizacionais básicos e
informações logísticas. Isso levará ao desenvolvimento dos Módulos Integrados de
Conhecimento3– MIC - com ganhos em escala e valorização, e que possam ser
difundidos e replicados -- dentro da perspectivas da construção de conceitos baseados
na Economia do Conhecimento.

3.2. ESPECÍFICOS

 I) Identificar os níveis de conhecimentos adquiridos acumulados pelos


catadores de materiais recicláveis na coleta; transporte; triagem; prensagem; e
comercialização dos resíduos urbanos -- partindo das cooperativas mais
avançadas da rede CATABAHIA4.
 II) Identificar novos conhecimentos, na forma de novas técnicas
organizacionais e de novos procedimentos de logística e de produção, que
possibilitem agregação de valor: a transformação industrial de materiais in loco;
a geração de energia através da biodigestão; e a captação do óleo de cozinha
utilizado para a reciclagem como biocombustível.
 III) Avaliar as eficiências física, econômica e de mercado para a sistematização
de Redes de Comercialização de materiais recicláveis junto às indústrias
recicladoras.
 IV) Coleção de blueprints de conhecimento e montagem de Módulos
Integrados de Conhecimento (MIC) a partir de Módulos Básicos de Produção,
Distribuição e Comercialização, objetivando a sua replicação e difusão pelo
Brasil e pelos países da região LAC.
 V) Incorporar gradativamente as unidades cooperadas da rede CATABAHIA à
lógica dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo5 - MDL – como Projeto-
Piloto.
 VI) Oferecer capacitação e treinamento técnico a catadores de materiais
recicláveis – como forma de difusão de conhecimentos -- visando à
qualificação profissional e contribuindo para a geração de postos de trabalho.
 VII) Desenvolver e aferir indicadores de sustentabilidade do desenvolvimento na
ótica da Economia do Conhecimento: efeitos econômicos locais; impactos
macroeconômicos; efeitos ambientais; efeitos sociais; e efeitos-demonstração de
difusão por apropriação e reprodução do conhecimento.
 VIII) Promoção de intercâmbios; divulgação de resultados parciais; e redação de
Relatório Final.

3
MIC , ou em inglês, IKM - Integrated Knowledge Modules
4
A Rede CATABAHIA é formada pela organização intermunicipal de nove cooperativas de catadores
baianas. Visa à implantação de um organismo específico para o desempenho de atividades relacionadas à
coleta e comercialização de resíduos, gerando novos postos de trabalho e definindo estratégias mais
eficientes de inserção no mercado. A Rede focaliza suas ações em projetos geração de condições de
competitividade para as cooperativas de catadores. O Projeto avaliará as oportunidades de extensão
analítica para as cooperativas da rede CATASAMPA (SP).
5
CDM - Clean Development Mechanism
5

4. COMPONENTES DO PROJETO E CRONOGRAMA6

Este Projeto inclui as seguintes Componentes, articuladas de forma a garantir o


adequado desenvolvimento de sua execução:

I) PERFIS DE CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS - PCA7

II) AGREGAÇÃO DE PERFIS DE NOVOS CONHECIMENTOS - PNC8

III) EFICIÊNCIAS RELATIVAS E REDES DE COMERCIALIZAÇÃO

IV) MÓDULOS INTEGRADOS DE CONHECIMENTO – MIC

V) MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO - CDM – PILOTO

VI) TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO TÉCNICA PARA CATADORES

VII) INDICADORES DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO

VIII) DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS E RELATÓRIO FINAL

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DAS COMPONENTES

COMPONENTE
Períodos Mensais
Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
I X X X X X X X X
II X X X X X X X X X X X X X X X X X X
III X X X X X X
IV X X X X X X X X X X
V X X X X X X X X X X X X X X X X
VI X X X X X X X X X X X X X X X X
VII X X X X X X X X X X
VIII X X X X X X X X X

6
Cada uma das Componentes a seguir corresponde a um dos Objetivos Específicos do projeto, acima
apresentados.
7
Acquired Knowledge Profiles (AKP)
8
New Knowledge Profiles (NKP)
6

5. DESCRIÇÃO DAS COMPONENTES: ATIVIDADES, INDICADORES DE


DESEMPENHO9 E CRONOGRAMAS DE EXECUÇÃO DO PROJETO

COMPONENTE I: PERFIS DE CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS - PCA –


(8 MESES)

 Esta Componente visa identificar os conhecimentos adquiridos acumulados pelos


catadores de materiais recicláveis na coleta; transporte; triagem; prensagem; e
comercialização dos resíduos urbanos - partindo das cooperativas mais avançadas
da rede CATA-BAHIA.
 Objetiva-se caracterizar e sistematizar os diversos níveis diferentes de
conhecimentos adquiridos a respeito de processos e técnicas já existentes, de
forma a gerar perfis descritivos comparados que fundamentem a formulação de
quadros de indicadores da Economia do Conhecimento.
 Para isso será definida uma amostra de unidades organizadas de catadores na Rede
CATABAHIA, à qual serão aplicados os instrumentos de coleta de dados, em
trabalho de campo.
 O produto resultante desta Componente será um conjunto organizado de Perfis
de Conhecimentos Adquiridos (PCA) acumulado já existentes nas unidades da
Rede CATABAHIA.

As Atividades previstas nesta Componente são:

I.1 Definição da amostra da pesquisa direta Rede CATABAHIA (2 meses).


I.2 Elaboração de instrumentos de coleta de dados e pesquisa-piloto (2
meses).
I.3 Aplicação dos instrumentos de coleta de dados às unidades da CATA-
BAHIA (5 meses).
I.4 Tabulação e sistematização dos dados (4 meses).
I.5 Análise crítica e avaliação dos resultados (2 meses).
I.6 Construção de Perfis de Conhecimento Adquiridos (PCA)
acumulados nas unidades da Rede CATABAHIA (2 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE I: Perfis de Conhecimentos


Adquiridos (PCA) das unidades da Rede CATA-BAHIA.
Cronograma da Componente
Períodos Mensais
PERFIS DE CONHECIMENTOS
ADQUIRIDOS – PCA
Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8
1.1 X X
1.2 X X
1.3 X X X X X
1.4 X X X X
1.5 X X
1.6 X X
9
O Produto de uma Componente, e o efetivo cumprimento de cada Atividade, servem como Indicadores
de Desempenho da execução do Projeto.
7

COMPONENTE II: AGREGAÇÃO DE PERFIS DE NOVOS


CONHECIMENTOS - PNC (18 MESES)

 Esta Componente visa identificar os novos conhecimentos, na forma de novas


técnicas organizacionais e de novos procedimentos de logística e de produção, que
possibilitem agregação de valor: a transformação industrial de materiais in loco; a
geração de energia através da biodigestão; e a captação do óleo de cozinha
utilizado para a reciclagem como biocombustível.
 Objetiva-se mapear técnicas e processos que potencialmente contribuam -- na
forma de novos conhecimentos -- para aumentar o valor-agregado da atividade
dos catadores de materiais recicláveis.
 A incorporação desses novos conhecimentos será elemento catalisador da
ampliação de rendimentos ao fortalecer a acumulação e ao viabilizar a auto-
sustentabilidade da unidade de catação.10.
 Um mapeamento de oportunidades de transformação industrial será desenvolvido
-- através da internalização de atividades-fim ao longo das cadeias e sub-cadeias
produtivas – de maneira a capacitar os catadores a adicionar valor localmente, ao
invés de comercializar os seus produtos em estado bruto.
 Este novo conhecimento -- sobre a inserção de etapas de transformação industrial
à lógica interna do funcionamento das unidades de catadores -- verticaliza
localmente a atividade, valoriza os materiais recicláveis, e contribui para eliminar
os intermediários na venda de seus produtos.
 O Produto resultante desta Componente será um conjunto de Perfis de Novos
Conhecimentos (PNC)11 que poderão ser adotados pelas organizações de
catadores acordo com a sua conveniência.

As Atividades previstas nesta Componente são:

2.1. Identificação de novos conhecimentos, na forma de novas técnicas


organizacionais e de processos (7 meses).
2.2. Proposição de logísticas mais eficientes (5 meses).
2.3. Mapeamento das oportunidades de transformação industrial in loco na
cadeia produtiva Petroquímica (5 meses).
2.4. Mapeamento das oportunidades de transformação industrial in loco na
cadeia produtiva de Papel e Papelão (5 meses).
2.5. Mapeamento das oportunidades de transformação industrial in loco na
cadeia. produtiva de Materiais Metálicos (5 meses).
2.6. Mapeamento das oportunidades de transformação industrial in loco nas
cadeias produtivas de Outros Materiais (4 meses).
2.7. Operacionalização da catação, filtragem e processamento de óleos para a
produção de biocombustíveis (18 meses).
2.8. Operacionalização da biodigestão da fração orgânica de resíduos sólidos
urbanos (18 meses).
2.9. Construção de Perfis de Novos Conhecimentos (PNC), alocáveis às
unidades de catadores (3 meses).

10
Nesse sentido contribui para o adensamento do setor de conhecimento (K-sector) das unidades de
catação.
11
New Knowledge Profiles (NKP).
8

PRODUTO DA COMPONENTE II: Perfis de Novos Conhecimentos


(PNC) potencialmente incorporáveis às unidades da Rede CATABAHIA.

Cronograma da Componente

AGREGAÇÃO DE PERFIS Períodos Mensais


DE NOVOS
CONHECIMENTOS - PNC
Atividade 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
2.1 X X X X X X X
2.2 X X X X X
2.3 X X X X X
2.4 X X X X X
2.5 X X X X X
2.6 X X X X
2.7 X X X X X X X X X X X X X X X X X X
2.8 X X X X X X X X X X X X X X X X X X
2.9 X X X

COMPONENTE III: EFICIÊNCIAS RELATIVAS E REDES DE


COMERCIALIZAÇÃO (6 MESES)

 Esta Componente ocupa-se em avaliar as eficiências relativas -- física, econômica


e de mercado -- para a sistematização de um conhecimento novo: as Redes de
Comercialização de organizações de catadores materiais recicláveis junto às
indústrias recicladoras.
 É evidente que a existência ou a carência de equipamentos e capitais contribui
diretamente para a maior ou menor eficiência da atividade. Entretanto, as
eficiências relativas com as quais as diferentes unidades operacionalizam os seus
conhecimentos é fator decisivo na dinâmica dessa atividade.
 Por outro lado, a inexistência de volume e escala adequados – além da
impossibilidade de formação de estoques -- desvaloriza o resultado da atividade.
9

 A criação de Redes de Comercialização – para a venda conjunta de materiais


recicláveis -- enfeixa os diferentes materiais em níveis adequados, para a demanda
direta das indústrias recicladoras.
 A avaliação das eficiências relativas será possível a partir dos resultados obtidos na
pesquisa direta da Componente I acima.
 A implementação de Redes de Comercialização – um conhecimento novo -- será
viabilizada a partir da análise da demanda de mercado por produtos recicláveis. O
conhecimento instrumentalizado no processo será apresentado como indicadores
nos perfis das eficiências operacionais.
 O produto resultante desta Componente será um conjunto de Perfis das
Eficiências Operacionais dos Conhecimentos (PEC) que servirão como critérios
para apoiar a construção de indicadores, na perspectiva da Economia do
Conhecimento.

As Atividades previstas nesta Componente são:

3.1. Avaliação da eficiência física das unidades de catadores (2 meses).


3.2. Avaliação da eficiência econômica das unidades de catadores (2 meses).
3.3. Avaliação da eficiência de mercado das unidades de catadores (2 meses).
3.4. Avaliação das Redes de Comercialização conjunta de catadores
operando no Brasil (3 meses).
3.5. Implantação no Estado da Bahia de uma Rede de Comercialização
conjunta de materiais junto às indústrias recicladoras (2 meses).
3.6. Construção de Perfis das Eficiências Operacionais dos
Conhecimentos (PEC), na perspectiva da Economia do Conhecimento
(2 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE III: Perfis das Eficiências


Operacionais dos Conhecimentos (PEC) das unidades da Rede
CATABAHIA.

Cronograma da Componente
Períodos Mensais
EFICIÊNCIAS RELATIVAS E
REDES DE COMERCIALIZAÇÃO
Atividade 9 10 11 12 13 14
3.1 X X
3.2 X X
3.3 X X
3.4 X X X
3.5 X X
10

3.6 X X

COMPONENTE IV: MÓDULOS INTEGRADOS DE CONHECIMENTO – MIC


(10 MESES)

 Esta Componente visa à sistematização de blueprints de conhecimento e a


montagem e composição de Módulos Integrados de Conhecimento (MIC) a
partir de Módulos Básicos de Produção, Distribuição e Comercialização.
 A concepção da base material dos Módulos Integrados de Conhecimento
(MIC) será também fundeada nos modelos de “Módulos Básicos”12 que hoje

12
Cf. Damásio, J. “Análise do Custo de Geração de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o
Segmento dos Catadores de Materiais Recicláveis” – no prelo – mimeografado 2006.
11

servem de referência ao BNDES13 em seus editais para aportes de investimento em


unidades de catadores no Brasil.
 Os Perfis de Conhecimentos Adquiridos (PCA), os Perfis de Novos
Conhecimentos (PNC), e os Perfis das Eficiências Operacionais dos
Conhecimentos (PEC) são resultados, respectivamente, das Componentes I, II e
III deste Projeto. A incorporação desses resultados aos Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) é adotada em consonância à necessidade de valoração do
conhecimento – na perspectiva da KE.
 Por outro lado, as blueprints de conhecimento explicitam a descrição de métodos,
técnicas e processos já implementados – ou em vias de implementação – em
unidades de catadores de todo o país.
 A integração das blueprints de conhecimento aos Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) objetiva a sua replicação e difusão pelo Brasil e pelos
países da região LAC.
 Os produtos resultantes desta Componente serão os Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) – inclusive a coleção de blueprints sistematizadas – e
constituem o núcleo de conhecimento transferível para as unidades.

As Atividades previstas nesta Componente são:

4.1. Discussão e formulação de Módulos Básicos de Produção, Distribuição


e Comercialização como embasamento para os Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) (4 meses).
4.2. Incorporação dos Perfis de Conhecimentos Adquiridos (PCA), os
Perfis de Novos Conhecimentos (PNC) aos Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) (4 meses).
4.3. Incorporação dos Perfis das Eficiências Operacionais dos
Conhecimentos (PEC) aos Módulos Integrados de Conhecimento
(MIC) (4 meses).
4.4. Relação de blueprints de conhecimento incorporáveis aos Módulos
Integrados de Conhecimento (MIC) (9 meses).
4.5. Elaboração de Relatório com os Módulos Integrados de
Conhecimento (MIC) integrados às blueprints de conhecimento (3
meses).

PRODUTO DA COMPONENTE IV: Relatório com os Módulos


Integrados de Conhecimento (MIC) integrados às blueprints de
conhecimento para difusão e replicação no Brasil e países da região LAC.

Cronograma da Componente
Períodos Mensais
MÓDULOS INTEGRADOS DE
CONHECIMENTO - MIC
Atividade 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
4.1 X X X X
4.2 X X X X

13
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
12

4.3 X X X X
4.4 X X X X X X X X X
4.5 X X X

COMPONENTE V: MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO – CDM


– PILOTO (16 MESES)

 Esta Componente tem como meta incorporar gradativamente as unidades


cooperadas da rede CATABAHIA à lógica dos Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo14 - MDL – como Projeto-Piloto.
14
CDM - Clean Development Mechanism
13

 A efetiva certificação das cooperativas de catadores como plantas integradas ao


MDL trará às unidades de catadores um degrau adicional de conhecimento –
DC5 -- que agregará valores, na direção do desenvolvimento sustentável.
 O processo será iniciado com o diagnóstico das etapas e dos procedimentos que já
estão estabelecidos como práticas do MDL. Essa tarefa permitirá divisar os passos
metodológicos a serem adotados para sua funcionalidade nos Módulos Integrados
de Conhecimento (MIC) gerados pela Componente IV.
 A sua viabilidade e adequação do MDL serão testadas empiricamente em um
Projeto-Piloto a ser implementado em unidade da Rede CATABAHIA.
 O produto resultante desta Componente será um Relatório onde serão apresentadas
as metodologias resultantes da incorporação dos procedimentos do MDL aos
Módulos Integrados de Conhecimento (MIC) e a análise crítica do Projeto-
Piloto.

As Atividades previstas nesta Componente são:

5.1.Levantamento e diagnóstico das etapas e procedimentos que já estão


estabelecidos como práticas do MDL (4 meses).
5.2. Formulação dos passos metodológicos a serem adotados para a
funcionalidade das práticas do MDL aplicadas aos Módulos Integrados
de Conhecimento (MIC) (4 meses).
5.3. Aplicação empírica da metodologia MDL desenvolvida em projeto-
piloto em uma unidade da Rede CATABAHIA (10 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE V: Relatório com a metodologia resultante da


incorporação dos procedimentos do MDL aos Módulos Integrados de Conhecimento
(MIC) e a análise crítica de desempenho do Projeto-Piloto.

Cronograma da
Componente

Períodos Mensais
MECANISMOS DE
DESENVOLVIMENTO
LIMPO - CDM - PILOTO
Atividade 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
5.1 X X X X
5.2 X X X X
5.3 X X X X X X X X X X

COMPONENTE VI: TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO TÉCNICA PARA


CATADORES (16 MESES)
14

 Esta Componente propõe oferecer capacitação e treinamento técnico a catadores de


materiais recicláveis – como forma de difusão de conhecimentos -- visando à
qualificação profissional e contribuindo para a geração de postos de trabalho15.
 A capacitação técnica dos catadores contribui para a disseminação do
conhecimento em seus diferentes níveis. Permite também que novos
conhecimentos sejam aprendidos e implementados em suas unidades. O
intercâmbio com os instrutores, por seu lado, é também importante ferramenta de
familiarização com o conhecimento adquirido, acumulado pelos catadores.
 São previstos dois módulos de 30 horas cada um, tratando de habilidades básicas,
profissionais e de gestão. Esses módulos serão apresentados em duas jornadas
diferentes: a do primeiro ano tratará primordialmente da difusão dos
conhecimentos adquiridos16; a do segundo ano tem por objetivo a introdução de
novos conhecimentos e técnicas.
 O conteúdo programático e a elaboração dos planos de aulas teóricas e práticas
serão formulados em sessões participativas com orientação pedagógica.
 Os resultados desta Componente serão catadores capacitados e treinados – com um
nível de conhecimento maior -- valor imaterial que será descrito em um
Relatório com as metas alcançadas nas jornadas de capacitação e treinamento em
conhecimentos existentes e novos conhecimentos.

As Atividades previstas nesta Componente são:

6.1. Definição dos conteúdos dos programas - conhecimentos adquiridos já


existentes (2 meses).
6.2. Elaboração dos planos de aulas teóricas e práticas – conhecimentos
adquiridos sobre técnicas existentes (2 meses).
6.3. Aplicação das sessões de habilidades básicas – conhecimentos
adquiridos sobre técnicas existentes (2 meses).
6.4. Aplicação das sessões de habilidades profissionais - conhecimentos
adquiridos sobre técnicas existentes (2 meses).
6.5. Aplicação das sessões de habilidades de gestão - conhecimentos
adquiridos sobre técnicas existentes (2 meses).
6.6. Definição dos conteúdos dos programas – novos conhecimentos e
técnicas (2 meses).
6.7. Elaboração dos planos de aulas teóricas e práticas – novos
conhecimentos e técnicas (2 meses).
6.8. Aplicação das sessões de habilidades básicas – novos conhecimentos e
técnicas (2 meses).
6.9. Aplicação das sessões de habilidades profissionais – novos
conhecimentos e técnicas (2 meses).
6.10 Aplicação das sessões de habilidades de gestão – novos conhecimentos
e técnicas (2 meses).
6.11 Sessões participativas de avaliação e crítica dos resultados (4 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE VI: Relatório com as metas alcançadas


nas jornadas de capacitação e treinamento em conhecimentos adquiridos
existentes e novos conhecimentos.
15
“O capital humano (competências) é uma componente chave do valor em uma organização baseada no
conhecimento”– op.cit. item 2.2f - Nossa tradução, JD.
16
Os quais já são existentes nas unidades mais avançadas de catadores.
15

Cronograma da
Componente
TREINAMENTO E
Períodos Mensais
CAPACITAÇÃO
TÉCNICA PARA
CATADORES
Atividade 4 5 6 7 8 9 10 11 - 15 16 17 18 19 20 21 22
6.1 X X -
6.2 X X -
6.3 X X -
6.4 X X -
6.5 X X -
6.6 - X X
6.7 - X X
6.8 - X X
6.9 - X X
6.10 - X X
6.11 X X - X X
16

COMPONENTE VII: INDICADORES DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO


(10 MESES)

 Esta Componente propõe desenvolver e aferir indicadores de sustentabilidade do


desenvolvimento na ótica da Economia do Conhecimento: efeitos econômicos
locais; impactos macroeconômicos; efeitos ambientais; efeitos sociais; e efeitos-
demonstração de difusão por apropriação e reprodução do conhecimento17.
 São conhecidas as dificuldades na proposição de indicadores não-ambíguos e
consensuais na perspectiva da Economia do Conhecimento. Entretanto, a
extensão e detalhamento -- que se busca atingir neste projeto de pesquisa – são tais
que permitirão a elaboração de escalas comparativas de conhecimento. Essas
comparações potencialmente ensejarão a possibilidade de hierarquização e aferição
de indicadores.
 Por exemplo, uma melhoria na logística de arrecadação do material reciclável
bruto e a centralização do processamento geram um aumento considerável das
produtividades físicas e econômicas: esses valores diferenciados são resultantes de
conhecimento aplicado e são também mensuráveis!
 Da mesma forma, outras aplicações empíricas do conhecimento – sejam
adquiridos ou novos – dão lugar a situações distintas que podem ser comparáveis
e mensuráveis.
 Assim, procura-se estabelecer rotinas de aferição que – por comparação direta –
permitam a mensuração e possibilite dar ao uso do conhecimento aplicado uma
valoração objetiva. Em trabalhos convencionais essas relações nem sempre são
explicitáveis, ou mesmo objeto de estudo, e acabam ignoradas.
 Serão exploradas as viabilidades de apresentar indicadores de conhecimento em
várias frentes: sustentabilidade; efeitos econômicos locais; impactos
macroeconômicos; efeitos ambientais; efeitos sociais; e efeitos-demonstração de
difusão por apropriação e reprodução do conhecimento
 A robustez de cada indicador será submetida à apreciação crítica antes que suas
metodologias sejam formalizadas.
 O resultado desta Componente será um conjunto de indicadores concebidos sob a
ótica da Economia do Conhecimento.

As Atividades previstas nesta Componente são:

7.1.Discussão e proposição de indicadores de sustentabilidade do


desenvolvimento na ótica da Economia do Conhecimento (3 meses).
7.2.Aferição dos indicadores para os efeitos econômicos locais na ótica da
Economia do Conhecimento (3 meses).
7.3. Aferição dos indicadores para os efeitos macroeconômicos na ótica da
Economia do Conhecimento (3 meses).
7.4. Aferição dos indicadores para os efeitos ambientais na ótica da
Economia do Conhecimento (5 meses).
7.5. Aferição dos indicadores para os efeitos sociais na ótica da Economia
do Conhecimento (3 meses).

17
Aqui o Projeto procura contribuir com o esforço de construção de indicadores de conhecimento, ou K-
específicos, como proposto em BID-Knowledge Economy Program-Special Program Pre-Proposal-Draft-
May, 2008 – p.10 2.14.
17

7.6. Aferição dos indicadores para os efeitos-demonstração de difusão por


apropriação e reprodução do conhecimento (10 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE VII: Metodologia e conjunto de indicadores de


sustentabilidade do desenvolvimento na ótica da Economia do Conhecimento: efeitos
econômicos locais; impactos macroeconômicos; efeitos ambientais; efeitos sociais; e
efeitos-demonstração de difusão por apropriação e reprodução do conhecimento.

Cronograma da Componente
Períodos Mensais
INDICADORES DA ECONOMIA
DO CONHECIMENTO
Atividade 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
7.1 X X X
7.2 X X X
7.3 X X X
7.4 X X X X X
7.5 X X X
7.6 X X X X X X X X X X
18

COMPONENTE VIII: DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS E RELATÓRIO


FINAL (9 MESES)

 Esta Componente propõe encaminhar os aspectos relacionados à comunicação e à


divulgação dos resultados parciais e finais desta pesquisa. São previstos
mecanismos de intercâmbio e de socialização dos produtos das diferentes etapas do
estudo.
 Em particular, são previstos dois Workshops: um ao final do primeiro ano de
trabalho; e o outro ao final do segundo ano. Nesse último será divulgada a versão
definitiva do Relatório Final.
 O resultado desta Componente será o Relatório Final, que sumarizará todos os
produtos desta pesquisa.

As Atividades previstas nesta Componente são:

8.1. Criação e produção dos instrumentos de comunicação e divulgação dos


resultados do Projeto. (3 meses).
8.2. Preparação e realização: Workshop I - Resultados Preliminares. (2
meses).
8.3. Preparação e realização: Workshop II Resultados Finais. (2 meses).
8.4. Redação e Divulgação do Relatório Final. (4 meses).

PRODUTO DA COMPONENTE VIII: Relatório Final.

Cronograma da Componente

DIVULGAÇÃO DE Períodos Mensais


RESULTADOS E RELATÓRIO
FINAL
Atividade 1 2 3 - 11 12 - 21 22 23 24
8.1 X X X - -
8.2 - X X -
8.3 - - X X
8.4 - - X X X X
19

6. INTEGRAÇÃO LÓGICA DAS COMPONENTES DO PROJETO

I II

III IV

VI VII

VIII

LEGENDA

I - PERFIS DE CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS - PCA18


II - AGREGAÇÃO DE PERFIS DE NOVOS CONHECIMENTOS - PNC19
III - EFICIÊNCIAS RELATIVAS E REDES DE COMERCIALIZAÇÃO
IV - MÓDULOS INTEGRADOS DE CONHECIMENTO - MIC
V - MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO - CDM - PILOTO
VI - TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO TÉCNICA PARA CATADORES
VII - INDICADORES DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO
VIII - DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS E RELATÓRIO FINAL

18
Acquired Knowledge Profiles (AKP)
19
New Knowledge Profiles (NKP)
20

7. ANTECEDENTES DE PESQUISA

SOBRE O FINANCIAMENTO PARA A CAPITALIZAÇÃO EM EQUIPAMENTOS, INSTALAÇÕES,


FERRAMENTAS E PROCESSOS.

 Para que existam ganhos de eficiência econômica e melhor utilização dos


materiais recicláveis – são necessárias informações prévias sobre o
comportamento da produção total vis-à-vis as crescentes quantidades de
recicláveis, por tipo de materiais, bem como uma caracterização mais detalhada
dos atores envolvidos nesse processo.
 Sem essas informações torna-se impossível conhecer as escalas operacionais de
eficiências adequadas. Como montar uma organização de catadores, diante
dessas indagações?
 Algumas questões básicas e muito importantes merecem uma resposta: Qual é o
tamanho ótimo de uma planta de beneficiamento de materiais recicláveis? Qual
é o numero ótimo de prensas e outros equipamentos adequados para esta planta?
Qual é o número de catadores associados que podem estar inseridos nesta
planta? Quais são os fluxos adequados de beneficiamento da produção que
permitem otimizar o processo produtivo e transformar mercadoria em dinheiro
no mais curto espaço de tempo possível? Qual é a relação capital/trabalho
ótima numa planta de catadores compatível com os melhores níveis de
eficiências? Como podem ser mensurados os níveis de eficiência física,
econômica e de mercado de uma planta de materiais recicláveis?
 As questões supracitadas foram alvo de estudo do grupo GERI20 (Grupo de
Estudos de Relações Intersetoriais) da UFBa (Universidade Federal da Bahia) –
sob a coordenação do Prof. João Damásio -- e envolveu a articulação entre o
saber acadêmico e científico, e a experiência de cooperativas e associações de
catadores em 22 Estados da Federação de todas as Regiões do Brasil.
 O estudo foi realizado em parceria com o “Centro de Referência de Catadores de
Materiais Recicláveis” ligado à ONG Pangea (Salvador-Bahia) e
encomendado/financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome - MDS21.
 As respostas às questões acima aludidas apontaram para uma direção segura: a
criação de um módulo de unidade básica de cooperativa de catadores que --
embora adaptável às diferentes e específicas condições locais, culturais e
regionais específicas – servisse de parâmetro padrão de referência, quando
levados em consideração os pré-requisitos para a elevada produtividade e a alta
eficiência.
 O módulo de unidade básica procurou criar as condições de rompimento do
círculo vicioso de ineficiências no processamento de materiais recicláveis22.

20
O GERI foi criado em 1983 e é registrado desde 1985 como um grupo de pesquisas consolidado pelo
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É um grupo de pesquisas da
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia – Salvador – Brasil.
21
“Análise do Custo de Geração de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o Segmento dos
Catadores de Materiais Recicláveis” elaborado pelo Prof. Dr. João Damásio para o PANGEA/ Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2006. O estudo encontra-se no prelo, para
publicação, com prefácio do Ministro Patrus Ananias, do MDS.
22
Favor referir-se a op.cit. pp. 87-112.
21

 Com referência a esses módulos básicos, foi então proposto um investimento


total de cerca de R$ 169 milhões23 com o objetivo de equipar 244 cooperativas e
associações de catadores em 22 Estados Federais Brasileiros.
 O estudo referido, desenvolvido em 2005-6, construiu e propôs linhas mestras e
blueprints – agregando referencial e sustentação
teórica -- que permitiram ao governo brasileiro,
através do Banco de Desenvolvimento
Econômico e Social - BNDES - tomar a
inciativa de lançar um amplo programa de
investimentos em capital físico para as
cooperativas brasileiras de catadores.
 Pela primeira vez na história do banco foi publicado um edital nacional aberto às
organizações de catadores de materiais recicláveis, com o objetivo de apoiar
financeiramente a capitalização de suas cooperativas, na forma de equipamentos
e instrumentos de trabalho.
 O site do BNDES (http://www.bndes.gov.br/linhas/catadores.asp), anuncia um
fundo social de “Apoio a Projetos de Catadores de Materiais Recicláveis” onde
cita textualmente o seguinte:

 “A participação do BNDES nas ações Federais voltadas para esse segmento


iniciou-se em 2007, com a publicação do ‘I Ciclo de Apoio a Projetos de
Estruturação Produtiva de Cooperativas’ no âmbito da iniciativa ‘Apoio a
Projetos de Catadores de Materiais Recicláveis’. Foram apresentados 127
projetos, das quais 67 foram julgadas elegíveis para fins de enquadramento.
Dentre estes, foram enquadrados 44 projetos, dos quais 34 foram
aprovados, no valor de R$ 23 milhões24. Estima-se que estas operações
resultarão em incremento de cerca de 2.300 postos de trabalho nas
cooperativas e de 45% na renda médias dos cooperados”.25
 “O apoio do BNDES ao segmento foi estruturado
com base no estudo intitulado"Análise do Custo de
Geração de Postos de Trabalho na Economia Urbana
para o Segmento dos Catadores de Materiais
Recicláveis"26, em que foram tipificadas as
cooperativas e as associações de catadores e proposto
um módulo de unidade básica de investimentos para
cada tipo, de acordo com seu estágio de desenvolvimento, visando a geração de
novos postos de trabalho e aumento de eficiência no segmento”.

 Esses foram os números do ano passado, 2007. Este ano o processo está aberto
novamente para submissão de propostas, para uma potencial concessão de
valores semelhantes. Vale a pena lembrar que esses recursos não são destinados
na forma de empréstimos: são recursos de investimento social, executados a
partir dos lucros do próprio banco.

23
Cerca de US$ 105 milhões à taxa de câmbio corrente.
24
Cerca de US$ 14.375.000,00 à taxa de câmbio corrente.
25
Grifo nosso, JD.
26
Damásio, João (2006) - op.cit.
22

POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO APLICADA A TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DA


PRODUÇÃO: OS DEGRAUS DE CONHECIMENTO27
27
Para o que se segue, foram retirados estatísticas e parâmetros conceituais do estudo referido. Cf. op.cit.
23

 Qualitativamente – do ponto de vista do conhecimento adquirido -- é possível


segmentar as organizações de catadores do Brasil em três grandes conjuntos,
com graus decrescentes de conhecimento, organização estrutural e produtiva;
além de um quarto conjunto composto por grupos de catadores ainda não-
organizados.
 Vamos chamar esses conjuntos de “Degraus de Conhecimento”, numerando-os
em ordem decrescente de conhecimento de 1 a 4:

DG1 - DEGRAU DE CONHECIMENTO 1: ALTO NÍVEL DE CONHECIMENTO ADQUIRIDO.

Grupos formalmente organizados em associações ou cooperativas, com prensas,


balanças, carrinhos e galpões próprios, com
capacidade de ampliar suas estrutura físicas
e de equipamentos a fim de absorver novos
catadores e criarem condições para
implantarem unidades industriais de
reciclagem. Detêm um conjunto
apreciavelmente elevado de conhecimentos
adquiridos, passíveis de difusão. Neste
Degrau de Conhecimento as cooperativas
já estão prontas para a verticalização da
produção de materiais recicláveis. As cooperativas nesta situação – líderes em
conhecimento adquiridos -- devem ser vistas como importantes vetores de difusão do
conhecimento.

DG2 - DEGRAU DE CONHECIMENTO 2: MÉDIO NÍVEL DE CONHECIMENTO ADQUIRIDO.


24

Grupos formalmente organizados em associações ou cooperativas, contando com alguns


equipamentos, porém precisando de apoio
financeiro para a aquisição de outros
equipamentos e/ou galpões. Detêm algum
conhecimento adquirido, e seriam os
beneficiários imediatos da difusão de
conhecimento de DG1. Neste Degrau de
Conhecimento as cooperativas deste
grupo estão numa fase intermediária - com
falta de alguns equipamentos e de
conhecimentos para poder expandir a
produção - necessitando de reforço de
infra-estrutura e treinamento para ampliar
a coleta, e assim formalmente incluir novos catadores de materiais recicláveis.

DG3 - DEGRAU DE CONHECIMENTO 3: BAIXO NÍVEL DE CONHECIMENTO ADQUIRIDO.


25

Grupos em organização, contando com poucos equipamentos – alguns de sua


propriedade - precisando de apoio financeiro
para a aquisição de quase todos os equipamentos
necessários, além de galpões próprios. Detêm
pouco conhecimento adquirido e necessitam
forte apoio para treinamento e aprendizado de
conhecimentos adicionais. Esses grupos, em
geral, sequer têm conhecimento dos meios e
fontes para solicitar financiamento e apoio
técnico. O estabelecimento formal de sua
cooperativa significará a inclusão de novos
postos de trabalho para catadores de materiais recicláveis -- e o início da subida para
um degrau superior de conhecimento.

DG4 - DEGRAU DE CONHECIMENTO 4: BAIXÍSSIMO NÍVEL DE CONHECIMENTO


ADQUIRIDO.
26

Grupos desorganizados - em ruas ou lixões - sem possuirem quaisquer equipamentos, e


freqüentemente trabalhando em condições de extrema
precariedade para atravessadores e deposeiros. Faltam-lhes
quase todos conhecimentos, excetuando-se aqueles mais
básicos referentes à coleta e seleção de materiais. É
necessário apoio financeiro para a montagem completa da
infra-estrutura de edificações e de equipamentos – o que os
capacitariam a começar a receber mais conhecimentos. O
estabelecimento formal de sua cooperativa significará a inclusão de novos postos de
trabalho para catadores de materiais recicláveis. Até que suas cooperativas sejam
estabelecidas, esses grupos são pouco afetados pela disponibilidade de conhecimentos
adicionais.

 Na amostra na qual aquele estudo foi baseado28, é possível ter uma visão geral de
como as cooperativas e associações de catadores no Brasil são distribuídas,
classificadas de acordo com os respectivos Degraus de Conhecimento DG1,
DG2, DG3 e DG4:
28
Op.cit.
27

TABELA 1: NÚMERO DE CATADORES E COOPERATIVAS


NA AMOSTRA E SEUS RESPECTIVOS DEGRAUS DE CONHECIMENTO
CATADORES
DEGRAUS DE NUMBER OF NUMBER OF
% % PER
CONHECIMENTO CATADORES COOPERATIVES
COOPERATIVE
4 7
DG1 1,381 24 57.5
% %
8 21
DG2 2,753 70 39.3
% %
16 37
DG3 5,720 122 46.9
% %
72 35
DG4 25,783 115 224.2
% %
TOTAL 30,131 100% 331 100% 91.0
Fonte: Damásio, J. op.cit. p.85 – Tabela 5.1

 As cooperativas com melhores níveis de conhecimento adquirido – como em


DG1 – incluem apenas cerca de 7% da amostra e dão ocupação para uma
proporção de catadores ainda menor: 4%. Quando agrupados os melhores níveis
de conhecimento adquirido – DG1 e DG2 – observa-se que 28% das
cooperativas congregam apenas 12% dos catadores da amostra.
 No extremo oposto de conhecimento adquirido – DG4 – 35% referem-se a
grupos não-organizados, e respondem por 72% de todos os catadores de
materiais recicláveis na amostra, trabalhando em situação de precariedade.
 Como o grupo DG3 não é significativamente diferente de DG4 em termos de
conteúdo de conhecimento, conclui-se que 72% desses grupos – com cerca de
88% dos catadores – permanecem em estado desassistido em relação ao mínimo
suas infra-estruturas, de seus conhecimentos e das condições de execução de
suas atividades.
 Como formular políticas públicas de apoio dirigidas a esses grupos, sem reforçar
e reproduzir a mesma situação estrutural? Em outras palavras, será insuficiente
melhorar as possibilidades de criação de novos postos de trabalho através de
investimentos de capital, se os catadores continuarem inseridos numa posição
subordinada e espoliada – sem qualquer possibilidade de escapar ao círculo
vicioso de ineficiências e de baixas produtividades – estruturalmente
dependentes de intermediários, de atravessadores e de donos de depósitos.
Apenas a ampliação do conhecimento, acoplada aos investimentos em capital,
pode trazer as possibilidades de mudanças reais.

DAS PESQUISAS ANTERIORES PARA ESTE PLANO DE TRABALHO: APRENDER -FAZENDO E CONHECER
APRENDENDO
28

 Deve ficar claro desde o início -- que a universalização do conhecimento entre


as cooperativas e associações de catadores não ataca por si só a questão
fundamental: a inexistência ou insuficiência de equipamentos e acessórios
dessas organizações -- em uma palavra, a descapitalização – dos catadores. Esta
questão é central – a pedra-de-toque – do problema da exclusão social dos
catadores, e vem sendo tratada no Brasil, como vimos, pela atuação do BNDES.
 A tabela abaixo apresentada mostra a distribuição regional dessas cooperativas e
associações no Brasil, segmentadas de acordo com os seus Degraus de
Conhecimento:

TABLE 2: SUMÁRIO DA DISTRIBUIÇÃO REGIONAL


DAS COOPERATIVAS, SEGUNDO OS SEUS
DEGRAUS DE CONHECIMENTO.
TOTAL
REGIÃO NA DG1 DG2 DG3 DG4
REGIÃO
NORTE 2 0 0 1 1
CENTRO-OESTE 25 3 6 8 8
NORDESTE 58 2 7 14 35
SUDESTE 112 14 47 35 16
SUL 47 6 10 22 9
TOTAL 244 25 70 80 69
Fonte: Damásio, J. op.cit. p.132 – Tabela 7.11

 É evidente que as cooperativas e associações de catadores que presentemente se


encontram no Degrau de Conhecimento 1
(DC1) exibem maior nível de organização,
maiores eficiências -- físicas, econômicas e de
mercado -- e maior nível de rendimentos e
bem estar social.
 Também exibem melhores índices de higiene
– com instalações sanitárias e de banho
adequadas – limpeza; uso de uniformes; e até
mesmo instalações de cozinha e refeitório em
seus locais de trabalho, na própria planta de
processamento.
 Algumas dessas cooperativas DC1 também possuem
salas de aulas – para alfabetização, treinamento e
assistência técnica adequados – além de sala de
informática, favorecendo a integração digital.
 É bastante visível que existe uma diferença abissal --
em termos do conhecimento existente -- entre os catadores que hoje estão no
DC1 em relação à grande maioria que permanece no DC4. A disseminação do
conhecimento existente nas cooperativas do tipo DC1 seria um fundamento
para orientar os grupos de catadores hoje nos níveis de conhecimento DC2,
DC3 e , eventualmente aqueles grupos hoje classificados no nível DC429.
29
“[O conhecimento] quando contido em sistemas ou processos, tem um valor inerente maior do que
quando permanece nas cabeças das pessoas” - BID-Program Profile-Knowledge Economy (KE) Program-
Feb, 2008 –- item 2.2e. Nossa tradução, JD.
29

8. JUSTIFICATIVAS
POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO NA CADEIA DA RECICLAGEM: OS
CATADORES COMO PROTAGONISTAS

É ESTE UM PROJETO DE ECONOMIA DO CONHECIMENTO?


30

 Pelo título, o Projeto pode parecer mais uma proposta de resgate social do que
um projeto de Economia do Conhecimento, já que o problema principal deve
ser um Problema do Conhecimento, onde não se conhecem as técnicas; não se
sabem os impactos; enfim, existe uma falta, ou mesmo ausência total de
conhecimento.
 No entanto, não há como negar que o presente projeto implica na discussão de
vetores de conhecimento que incorporam uma importante componente de
resgate social. Afinal, ele é focado sobre o segmento humano provavelmente
mais excluído dentre todos os demais estratos de nossas sociedades.
 Assim, torna-se inevitável – quando se fala de catadores de materiais recicláveis
– serem aludidas as formas de potencialização de sua organização, formalização,
treinamento e melhoria de suas condições de vida.
 Isso necessariamente implica no aumento dos ganhos por dia de trabalho; na
dotação de equipamentos e instalações para a eficiente operação; na
alfabetização e na utilização de equipamento adequado; e até mesmo na adoção
de noções de higiene, sanitização e limpeza de seus apetrechos e no uso de
uniformes.
 Porém, implica também na transformação dos catadores de materiais recicláveis
em protagonistas: na sua participação na administração das plantas e na tomada
de decisões; na formulação dos critérios de distribuição dos resultados; enfim,
no aumento dos níveis de democracia interna.
 A produção de bens através do reuso e da reciclagem já mostrou ser uma prática
tecnologicamente viável, ambientalmente correta e economicamente eficiente.
Além disso, é, sem dúvida, um instrumento potente para a inclusão social e para
a redução da pobreza.
 No entanto, a sua contribuição total para o conjunto do processo produtivo e
suas interfaces com outras atividades estão ainda necessitando de melhores
mensurações e de estudos mais detalhados. Mais preocupante ainda: os
conteúdos de conhecimentos nas cadeias da reciclagem – em particular aqueles
presentes nas organizações de catadores – nunca foram extensivamente
estudados!
 Hoje, no Brasil, existem algumas cooperativas que detêm um conjunto de
conhecimentos já adquiridos – em técnicas, organização e qualidade de seus
produtos -- que são utilizados por seus cooperados para obter rendimentos
sensivelmente melhores30. Essas cooperativas “líderes em conhecimento
adquirido” entretanto vicejam lado a lado a uma maioria de catadores
trabalhando em condições de miséria e subordinação.
 A grande maioria dos catadores brasileiros não detém esses conhecimentos,
embora também não se possa dizer que eles não detenham algum
conhecimento. Tratam-se, portanto de níveis diferentes de conhecimentos
adquiridos. Essa maioria não conhece as técnicas, não conhecem os impactos, e
pode até mesmo resistir a formas de organização.
 Entre os catadores existem variados níveis de conhecimento. Entretanto é
possível discernir patamares distintos, aos quais é possível chamar de degraus
30
Em um texto do BID, pode-se ler: “recursos do conhecimento tais como know-how, habilidade e
propriedade intelectual são mais críticos do que outros recursos econômicos como a terra, recursos
naturais, ou até mesmo a mão-de-obra”. BID-Program Profile-Knowledge Economy (KE) Program - Feb,
2008 – item 2.1. Nossa tradução, JD.
31

de conhecimento. A análise e avaliação desses diferentes degraus de


conhecimento (DC) – e a possível disseminação de seus níveis mais elevados –
deve ser sim um tópico de investigação da economia do conhecimento,
avaliando as forma de potencializar os ganhos dos segmentos que ainda não
detém esses conhecimentos.
 Assim, a integração social potencialmente resultante -- com evidente sabor de
resgate social – tem uma componente da economia do conhecimento (KE)
que não pode ser ignorada.
 O presente Projeto enquadra-se na perspectiva da Economia do Conhecimento,
ao destacar e enfatizar os diferentes níveis de conhecimento existentes entre os
diversos agrupamentos de catadores de materiais recicláveis31.
 Entretanto, é preciso perceber que qualquer inclusão social possível não pode
ser conseqüência apenas da transferência dos conhecimentos adquiridos pelas
cooperativas mais avançadas! É necessário entender os dois níveis distintos do
problema: o da capitalização e o do conhecimento, aqui apresentado.
 Como será discutido abaixo32, sem a consentânea capitalização dos grupos e
organizações dos catadores – na forma de dotação de equipamentos, galpões e
instrumentos de trabalho – os conhecimentos adquiridos pelas cooperativas
mais avançadas são de pouca valia para os catadores não-organizados.

POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO APLICADA A TÉCNICAS DE TRIAGEM DOS


MATERIAIS RECICLÁVEIS

 O que se convencionou chamar de cadeia da indústria da reciclagem em


realidade corresponde a um conjunto de sub-
cadeias produtivas específicas de cada tipo de
material reciclável coletado. Inclui os mais
diversos tipos de plásticos: PET (Polietileno
tereftalato); PEAD (polietileno de Alta
Densidade); PEBD (polietileno de baixa
densidade); PVC (polietileno de vinila); PP
(polipropileno); PS (termoplástico
poliestireno); e plástico filme, entre outros.
Também inclui papéis (papel branco do tipo 1, 2, 3; papel revista; papel jornal,
catálogos); papelão; alumínio; sucatas ferrosas de diferentes tipos; isopor;
TetraPack (que combina dois recicláveis num só produto: alumínio e papelão);
dentre ainda outros tipos de recicláveis que aparecem com freqüência no
mercado consumidor.
 Adicionada a esta infinidade de matérias recicláveis, existem também as
variações por cores dos materiais
recicláveis, que correspondem
também -- de acordo com cada cor
-- a uma finalidade de produção
diferente dentro da mesma sub-
cadeia.33.

31
“Algumas vezes, a utilização de meios tradicionais de colecionar, transmitir e aplicar o conhecimento
pode ser mais eficiente do que sistemas altamente sofisticados”. - BID-Knowledge Economy Program-
Special Program Pre-Proposal-Draft- May, 2008 item 2.1 p.4 - Nossa tradução, JD.
32
Por favor, referir-se ao item abaixo sobre Capitalização e Conhecimento.
32

 Para cada tipo de reciclável/cor há uma correspondência de um determinado


preço de compra da indústria recicladora para com sua cadeia de fornecedores.
Em geral, essa diferenciação é baseada, em dois degraus: a) as estruturas
específicas de intermediação; e b) o grau de conhecimento adquirido existente
nas cooperativas ou associações dos catadores de materiais recicláveis -- a base
da pirâmide que alimenta toda a cadeia a partir do seu trabalho de triagem.
 É necessário gerar conhecimento sobre qual é o custo de oportunidade por
triagem de material reciclável. Conhecer em quais recicláveis vale a pena
investir tempo na triagem especializada – aqueles que geram valores agregados
que são maiores.
 O conhecimento permite a triagem organizada e eficiente dos materiais mais
valiosos ao invés da triagem de forma não-
especializada, sem determinação consciente da
cadeia produtiva a que pertence cada material.
 Construir um conhecimento sistematizado
sobre a diversidade de materiais recicláveis
existentes e suas formas de triagem adequadas
significa agregação de valor e melhor preço
praticado. Registre-se que, os excedentes gerados na etapa de comercialização
da cadeia da reciclagem, entre a coleta na rua -- realizada pelos catadores -- e a
sua venda às estruturas de intermediação -- até chegar à indústria -- superam em
alguns casos os 500%.34.
 Isto significa que um conhecimento devidamente sistematizado sobre esta
técnica incidiria em aumento do valor per capita do material coletado pelos
catadores -- sem que haja aumento da produção física bruta -- magnificando a
renda deste segmento social. As cooperativas e associações de catadores mais
organizadas já detêm esse conhecimento. A grande maioria dos catadores que
ainda permanecem nos lixões – como é o caso de muitas das cidades dos países
LAC – ainda não detêm este conhecimento específico.
 A coleção e a disseminação desse conhecimento
adquirido é parte integrante das avaliações ligadas
aos conhecimentos tradicionais dos catadores-- ou
já existentes nas cooperativas e associações
organizadas – conforme o projeto ora apresentado. O
conhecimento adquirido existente só é
potencializado como valor quando tornado disponível
para aqueles que não o tem35.

33
Por exemplo, para o PEBD de cor branca a reciclagem pode corresponder a um grande número de
produtos reciclados de diversas cores. Para um PEBD de cor escura, a reciclagem deste produto somente
corresponderá a produtos de cor escura. Evidentemente a primeira situação corresponde a um preço
significativamente maior do que o da segunda situação.
34
Pesquisa realizada pela ONG PANGEA em algumas cidades do Nordeste brasileiro registram que o
PET é vendido por catadores por U$ 0,07/Kg para atravessadores que separando nos seus diversos tipos,
o revendem a U$ 0,80/Kg.
35
“Na Economia do Conhecimento, este é utilizado para produzir benefícios econômicos, portanto
transformando-se em motor do crescimento econômico”. BID-Knowledge Economy Program-Special
Program Pre-Proposal-Draft- May, 2008 Item 1.1 p.1. Nossa tradução, JD.
33

POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO APLICADA NA IDENTIFICAÇÃO E


CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES NOS MERCADOS DO PROCESSO DE RECICLAGEM AO
LONGO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS.

 A capacidade de identificar os principais atores das cadeias e sub-cadeias


produtivas na comercialização de materiais recicláveis, por sua natureza e tipo, é
uma necessidade inicial. Esse conhecimento leva à compreensão das diferentes
formas de produção, de apropriação de valores, e dos ganhos relativos ao longo
da cadeia – para uma dada logística na coleção, distribuição e triagem de cada
um dos materiais recicláveis – e finalmente, ao conhecimento a respeito das
características das estruturas de mercado existentes.
 O maior impedimento para que os catadores consigam vender diretamente
materiais recicláveis para a indústria recicladora reside, além da triagem
adequada, em conseguir ter escala e regularidade de fornecimento.
 A indústria não pode conviver com quantidades reduzidas e irregularidade de
fornecimento, sob pena de comprometer o seu
processo produtivo. O controle de qualidade do
material reciclável exige volume, limpeza,
acondicionamento correto e pontualidade.
 Muitos catadores -- por não possuírem os
conhecimentos existentes nas cooperativas e
associações – são desorganizados economicamente e trabalham, em sua grande
maioria, de forma isolada. Coletam os recicláveis na rua e no lixão, e vendem os
materiais não-triados em pequenas quantidades a cada dia36, de forma atomizada,
para a vantagem das estruturas de
intermediação.
 Mas, mesmo quando adquirem alguns
equipamentos – mas não os conhecimentos
já existentes – organizando-se em
cooperativas ou associações, o volume por
eles coletado ainda costuma ser pequeno, o
que os retêm como reféns da intermediação
comercial. Não obtêm escala para atender a
indústria.

 Nessas circunstâncias, os catadores precisam adquirir novos conhecimentos: a


venda conjunta de materiais recicláveis em Redes de Comercialização.
 As Redes de Comercialização37 introduzem novas estratégias logísticas e
organizacionais no curto-prazo,
amplamente capaz de gerar ganhos
em eficiência, com razoável poder de
difusão, e com o potencial de
melhorar o padrão de vida dos
catadores filiados a cooperativas e
associações ligadas a essas Redes.
36
O horizonte diário de sobrevivência implica na venda cotidiana do material reciclável, o que impede a
formação de estoque, subjuga o catador e reduz o preço dos materiais coletados.
37
A rede CataBahia foi a primeira Rede de Comercialização no Brasil. Para uma discussão mais detalhada
de uma Rede de Comercialização funcionando em São Paulo, favor referir-se a Damásio, J. (cord.) 2007:
“Relatório Técnico de Avaliação de Sustentabilidade do Projeto CataSampa, São Paulo, Brasil” – AVINA.
34

 Em uma Rede de Comercialização entram-se cooperativas que são


estruturalmente diferentes: são colocadas lado a lado cooperativas de elevada
eficiência e grupos de catadores que ainda povoam as ruas e lixões, e que
apresentam eficiências extremamente baixas.
 Uma Rede de Comercialização possibilita que certos tipos de materiais que são
coletados por cooperativas que não apresentam escala produtiva sejam vendidos
a preços melhores. O seu principal objetivo é agrupar – e em alguns casos
estocar -- materiais recicláveis até que sejam obtidos os volumes necessários
para atender às especificações de demanda das indústrias.
 Em todos os casos, é evidente que os retornos são maiores do que aqueles que
seriam obtidos pela comercialização
individual, descentralizada. Nesse
sentido, uma Rede de Comercialização é
um conhecimento novo, que junta os
esforços de diferentes cooperativas e é,
de fato, uma eficiente estratégia de
negócios para enfrentar um mercado
concentrado povoado por intermediários.
 Não deve ser surpreendente que, apesar de haver exceções, os maiores ganhos
em eficiência econômica obtidos através da Comercialização em Rede são
apresentados pelas cooperativas menores e menos estruturadas. Elas são as que
mais lucram, pelas externalidades positivas do conhecimento novo desse
procedimento38.
 O conhecimento novo das características de uma Rede de Comercialização
passa a ser uma estratégia empresarial para os catadores. Constitui-se numa
central de inteligência que articula as pequenas, médias e grandes organizações
de catadores para uma comercialização simultânea e sistemática.
 Se as Redes de Comercialização forem suficientemente eficientes para alcançar
grandes volumes mensais e regularidade de fornecimento, podem ultrapassar as
estruturas de intermediação, e vender diretamente para a indústria recicladora,
obtendo melhores preços para o mesmo volume de materiais.
 O conhecimento novo sobre a constituição e
o funcionamento de uma rede de
comercialização também consegue
possibilitar a análise do mercado consumidor
de reciclados de forma regional e/ou
nacional. Ao viabilizar a construção de um
sistema de informações sobre tendências
atuais e futuras das cadeias e sub-cadeias
produtivas, possibilita observar os
movimentos de médio e de longo prazo --
agregando conhecimento sobre posicionamentos estratégicos das organizações
dos catadores.
 Porém, mesmo as Redes de Comercialização de cooperativas de catadores ainda
não são capazes de construir estoques produtivos para enfrentar sazonalidades
do mercado, até porque não têm o conhecimento das informações necessárias
para compreender como se dá a formação de estoque no mercado por sub-

38
1.1 “KE é, assim, definido como o valor agregado não-monetário que a sociedade recebe pelo maior
acesso a dados, informação e conhecimento” - op.cit. item1.1, p.1.- Nossa tradução, JD.
35

cadeias, quais são e como operam as categorias de análise que incidem na


formação e na variação do preço ao longo do tempo.39
 Ainda existe uma grande ausência de dados e de informações – falta de
conhecimento – que pudessem indicar em quais segmentos das sub-cadeias de
reciclagem seria possível agregar os maiores valores, e quais seriam os níveis
tecnológicos adequados, de forma a inserir as Redes de Comercialização em um
processo mais verticalizado. Podem ser observados diversos gargalos que se
tornam obstáculos para que esse procedimento se torne uma política pública
ampla e eficiente.
 As Redes de Comercialização para cooperativas de catadores de materiais
recicláveis são um fenômeno de menos de três anos em toda a América Latina,
ainda singulares, restritas quase ao Brasil, com muita dose de experimentação e
pouco conhecidas academicamente.
 Isto implica em que a construção de um conhecimento articulado a esta
experiência prática, significa um deslocamento do posicionamento estratégico
dos catadores na cadeia produtiva, de meros fornecedores individuais, para
organizações econômicas regionais e nacionais de fornecimento de matéria
prima para a indústria.40
 Uma melhor compreensão das cadeias e sub-cadeias produtivas do processo de
reciclagem – um novo conhecimento – e a adoção de medidas que apóiem a
organização de Redes de Comercialização para cooperativas e associações de
catadores, certamente abrirá novas oportunidades para a acumulação de
conhecimento crítico para a estruturação de uma tecnologia social de combate à
pobreza, favorecendo a inclusão social.
POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO APLICADA A TÉCNICAS DE LOGÍSTICA
PARA A COLETA, PROCESSAMENTO E TRANSPORTE DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

 O material reciclável tem como característica geral pouco peso e muito volume.
Pagar para carregar ar é muito freqüente nas operações de coleta seletiva.
 A densidade na distribuição do material reciclável num território se deve a três
elementos fundamentais, a saber: a renda da comunidade que habita aquele
território; a população daquela região/cidade; e a presença de grandes empresas.
 Quanto mais elevada a renda de uma comunidade, maior é a proporção entre
materiais recicláveis e o lixo orgânico produzido nesse território. Da mesma
forma, maior também será o valor econômico per capita contido nos resíduos
domésticos. Qualquer catador de rua, organizado ou não, sabe disso – ou, em
outras palavras, detém esse conhecimento – o que pode ser observado pela sua
efetiva distribuição territorial.
 Quanto maior for a população de uma região e/ou cidade, maior é a densidade
territorial de resíduos existentes. O número de catadores nesse território tende a
acompanhar essa densidade. O conhecimento do território e a forma de

39
O preço da Nafta no mercado internacional impacta na resina virgem do PET que em certas situações
pode ser mais barata do que a resina reciclagem, por mais paradoxal que seja.
40
A REDE CATABAHIA, objeto de pesquisa do projeto, é a primeira rede nacional que inaugurou esta
estratégia sendo referência para o Brasil. Foi considerada em 2007, pelas Nações Unidas, como uma das
50 melhores experiências visando alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do MILÊNIO -- na
categoria do combate à miséria. Como experiência que é, acumulou um conhecimento empírico, que
obteve sucesso. Trata-se aqui de analisar a experiência, enfatizar a natureza do conhecimento por ela
adquirido, sistematizá-lo junto com um conjunto de outras práticas e técnicas, visando constituir um
Módulo Integrado de Conhecimento reproduzível em outras experiências na América Latina e no Caribe.
36

escoamento do material reciclável são necessidades logísticas essenciais à


eficiência da atividade.
 Quanto mais empresas existirem numa cidade/região maior será a densidade de
resíduos concentrada em pequenos espaços territoriais. A negociação do acesso
aos resíduos dos grandes produtores de materiais recicláveis41 -- e a adequação
da coleta e triagem in loco desses materiais -- é um conhecimento necessário ao
aumento das eficiências físicas e econômicas.
 A modelagem correta de captação de materiais recicláveis -- através da
distribuição num território de um determinado conjunto numérico de entrepostos
estrategicamente localizados, até chegar a um galpão central -- é conhecimento
empírico muitas vezes não sistematizado, nem articulado aos modelos formais
existentes.
 A modelagem correta para um consorciamento articulado para transbordo entre
carrinhos de coleta através de tração humana e
caminhões de recolhimento – com o objetivo de
obter o maior volume de materiais recicláveis
com menor custo econômico possível -- é
também conhecimento empírico ainda não-
sistematizado, nem agregado a modelos formais.
 Atualmente, os registros de montagem de
sistemas de captação de materiais recicláveis
que levem em conta ao mesmo tempo as
variáveis de peso e volume são essencialmente
erráticos. Isso é devido principalmente à irregularidade temporal na
distribuição dos resíduos urbanos quanto às variáveis territoriais e níveis de
renda da região considerada. Aqui, novamente, o conhecimento empírico
adquirido joga um papel determinante na eficiência da atividade.
 Até o momento, modelos matemáticos de consorciamento para fins logísticos
através de rotinas computacionais -- que considerem variáveis como centrais /
entrepostos / galpões e os transbordos entre carrinhos de coleta de tração
humana e caminhões de recolhimento – em geral produziram resultados
erráticos e pouco confiáveis.
 Como dito acima, o conhecimento empírico das variações sazonais específicas
-- e mesmo dos períodos do dia favoráveis à coleta -- são determinantes para o
sucesso da logística e de um desempenho eficiente42.
 As questões apresentadas demonstram a importância de reunir mais informações
– gerar novo conhecimento – sobre o processo dinâmico de valoração de
preços dos materiais recicláveis, em circunstâncias onde a logística tenha papel
relevante. A ausência do conhecimento acarreta ineficiência e a elevação de
custos para os catadores de materiais recicláveis, seja pela simples adoção de
sistemas desarticulados de coleta, seja pela utilização ineficiente de caminhões
de transbordo.
 Os pontos acima elencados ensejam a necessidade de construir um
conhecimento novo estruturado sobre qual modelos de arranjo de circuitos
logísticos de coleta seletiva sejam economicamente sustentáveis e
operacionalmente viáveis para situações diversificadas, onde as variáveis
41
Supermercados, Shopping Centers, Cadeias Varejistas, Hotéis, Restaurantes e algumas indústrias.
42
Portanto, em acordo com a referência ao “desenvolvimento das capacidades locais de inovação, [e]
modernização da infra-estrutura de disseminação da informação” - BID-Program Profile-Knowledge
Economy (KE) Program-Feb, 2008 – item 2.7. Nossa tradução, JD.
37

supracitadas têm intensidades diferentes em cada território, em cada época do


ano e até em cada hora do dia.

POR UMA ECONOMIA DO CONHECIMENTO APLICADA A TÉCNICAS DE VERTICALIZAÇÃO DA


PRODUÇÃO E ARTICULAÇÃO A NOVAS OPORTUNIDADES ENERGÉTICAS E AMBIENTAIS

 A agregação de valor adicional aos recicláveis através da verticalização da


produção pelas próprias organizações dos catadores exige como premissa
volume e regularidade no fornecimento desses materiais.
 Portanto a verticalização da produção e agregação de valor adicional, em geral,
têm mais chances de sucesso nas cooperativas e associações de catadores
organizadas em redes de comercialização de materiais recicláveis.43.
 Mas em quais sub-cadeias de materiais recicláveis agregar valor? Até qual nível
de verticalização da produção será técnica e economicamente viável chegar? O
conhecimento sobre o correto encaminhamento dessas questões é
essencialmente novo às cooperativas e associações de catadores.
 No Brasil, algumas organizações de catadores já desenvolveram conhecimento
empírico novo
sobre essas
questões e estão
prontas para
fornecerem
blueprints – novo
conhecimento em
forma transferível, como propõe esse projeto -- sobre essas possíveis
verticalizações da produção, isto é, a descrição dos procedimentos de agregação
de valor adicional através da reciclagem in loco de materiais.
 No Brasil, novas janelas de oportunidades se abrem com os biocombustíveis a
partir do óleo de cozinha utilizado, que passa a ser
potencial insumo para plantas de biodiesel.44 No
entanto, por ser o óleo um resíduo líquido, a
estrutura logística de coleta adequada não está
devidamente amadurecida em grande escala.
 O apropriado desenvolvimento desse conhecimento
trará novas oportunidades de ganhos de escala e de
rendimentos -- caso a logística das Redes de
Comercialização das cooperativas possa ser adaptada para comportar esse novo
material reciclável.
 A Petrobrás45 -- hoje a quarta maior empresa das Américas -- iniciou
recentemente uma estratégia agressiva de compra de óleo de cozinha usado,
recolhido por cooperativas de catadores. No entanto, ainda não existe o

43
A REDE CATABAHIA está implantando uma indústria de reciclagem de plástico que produzirá
garrafas de água sanitária que serão comercializadas pela Rede WalMart de supermercados em todo o
país. Trata-se de feito inédito de catadores que saíram do lixão para tornarem-se pequenos empresários
industriais.
44
A primeira Usina de Biodiesel do Brasil – adequada para a compra de óleo de cozinha usado – está
sendo implementada nas vizinhanças de Salvador pela Petrobrás. Notar que o biodiesel gerado a partir do
óleo de cozinha usado não gerará pressão adicional sobre os preços dos alimentos.
45
Uma das Instituições de Apoio envolvidas neste presente Projeto. Favor consultar a Carta de Apoio ao
Projeto, anexada ao final deste Plano de Trabalho.
38

conhecimento sobre o mercado e suas nuances: volumes alcançáveis, preços e


margens de comercialização.
 Adicionalmente, também não está amadurecida a discussão sobre quais seriam
os níveis de agregação de valor adicional ao óleo de cozinha – queima,
filtragem, purificação e envasamento -- para a comercialização junto à empresa
brasileira de petróleo Petrobrás, pois todo o processo é muito recente. 46 O acesso
a esse novo conhecimento proporcionaria novos patamares de receitas na
preparação pré-industrial na etapa de reciclagem.
 Atualmente o óleo de cozinha utilizado é um resíduo ainda não amplamente
coletado – e que a maioria dos domicílios certamente produz. Existe, portanto,
um vasto potencial para que esse conhecimento novo seja rapidamente
difundido por todo país, através de blueprints, como propõe esse projeto.
 Por outro lado, os catadores têm potencialidade de coleta de resíduos orgânicos,
que poderiam ser trabalhados em escala
visando a construção de biodigestores
para a produção de composto e geração
de energia elétrica. Essa energia pode
ser comercializada ou absorvida nas
plantas de produção dos catadores de
materiais recicláveis.
 Trata-se, evidentemente, de potencial
expressivo e já existem projetos-pilotos em curso para implantação desses
biodigestores.47 No mundo, a experiência de incorporação de biodigestores em
cooperativas de catadores de materiais recicláveis basicamente resume-se à Índia
e ao Brasil, até o momento. É preciso acompanhar o desenvolvimento desse
conhecimento novo, articulando essas experiências com o conhecimento
científico.48
 Todo este sistema de coleta do conjunto de materiais recicláveis – sólidos e
orgânicos que iriam para os lixões ou
aterros sanitários -- produzindo
agregação de valor, gás metano, e
geração de energia, é perfeitamente
quantificável com respeito aos
volumes de recursos ambientais
poupados: água, árvores, bauxita,
ferro, cobre, alumínio, e
petroquímicos, dentre outros.
 O conhecimento novo desses processos abre novos horizontes de oportunidades
para construir metodologias de enquadramento dessas experiências das
organizações dos catadores para auferirem bônus oriundos do Protocolo de
Kyoto, que atualmente somente beneficiam grandes organizações empresariais49.
46
Por exemplo, saber responder à questão sobre qual é o valor adicional agregado caso os próprios
catadores eliminem os níveis de impureza, entregando o óleo pronto para ser insumido na indústria.
47
A REDE CATABAHIA está atualmente montando um biodigestor para gerar energia que será
direcionada a indústria recicladora de plástico da própria rede. Trata-se de experiência inovadora no
mundo, com aproveitamento total do resíduo orgânico e reciclável.
48
Recentemente no Brasil um ex-catador desenvolveu e patenteou um biodigestor com o nome de
redgestor, que gera metano, ou gás natural. Este fato apenas reforça as questões discutidas acima.
49
“[…] Países em Desenvolvimento precisam investir ao mesmo tempo na geração de novos
conhecimentos através de investimentos em educação, inovação, quadros regulatórios adequados e
instituições viáveis”. IDB-Knowledge Economy Program-Special Program Pre-Proposal-Draft- May,
39

SOBRE A PROCURA DE REFERENCIAIS DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO PARA OS CATADORES

 Este projeto é justificado – antes de tudo -- pela sua inserção na linhas do


Programa de Economia do Conhecimento do BID50, devotadas a prover os
segmentos de menor rendimentos de estratégias de valoração das opções e meios
de geração de renda a partir do capital que elas coletivamente já possuem51: o
conhecimento de técnicas e práticas da catação, seleção e processamento dos
resíduos sólidos urbanos52.
 A distribuição desigual desse capital-conhecimento gera disparidades de rendas
consideráveis, na medida em que ele permaneça concentrado em algumas
‘cooperativas de excelência’.
 A implementação e execução deste Projeto visam contribuir, em alguma medida,
para a melhoria da distribuição do capital-conhecimento e para o aumento dos
valores auferidos por essa parcela de nossa população – os catadores -- a partir dos
elementos da Economia do Conhecimento.
 Ela promoverá a articulação do conhecimento adquirido e já incorporado –
presentes nas organizações mais avançadas de catadores – com o conhecimento
novo, procurando capitalizar53 os ganhos em escala de comercialização conjunta e
em logística articulada.
 Finalmente, ao formular propostas de Módulos de Integrados do Conhecimento
(MIC) replicáveis, permite a difusão; o aperfeiçoamento dos
métodos organizacionais; e a propagação do conhecimento
articulado dentro das estruturas tradicionais -- valorando o
conhecimento acumulado.
 O fortalecimento dos elos entre o Poder Público, as Entidades
Científicas e as Empresas será favorecido com a organização
de um setor de catadores de materiais recicláveis – apoiado
em seus próprios conhecimentos acumulados.
 Mais do que isso, evitar-se-á que o conhecimento seja perdido.54

SOBRE A CAPITALIZAÇÃO E O CONHECIMENTO

 Tentemos responder a uma pergunta retórica: q uando da conclusão do Projeto –


supondo que os conhecimentos adquiridos sejam sistematizados, difundidos, e

2008 - item 1.4 p.2 - Nossa tradução, JD.


50
Knowledge Economy Program – IDB – Cf. Knowledge Economy Program-Special Program Pre-
Proposal-Draft- May, 2008
51
“Uma linha de ação dedicada a prover os mais pobres com as opções e os meios para gerar renda a
partir do capital que eles já possuem contribuiria enormemente para o crescimento da renda e da riqueza
dos grupos de baixa renda e da sociedade em geral.” op.cit. item 1.11 – p.3. Nossa tradução e ênfase, JD.
52
“[...] é necessário investimento para capturar, reter e administrar o conhecimento que já existe (o
chamado transbordamento) e colocá-lo para funcionar como um fator de produção” op.cit. item 1.4 – p.2.
- Nossa tradução, JD.
53
Em um espírito semelhante ao da seguinte citação: “Desenvolver um meio de capitalizar o
conhecimento local para o benefício das comunidades – fonte de emprego e renda, contrapartida de
valores, e outros.” - op.cit. item 2.13 p.9. Nossa tradução, JD.
54
“Hoje, uma quantidade não-quantificável de Conhecimento (K) é perdida porque os agentes do
desenvolvimento não estão ativamente engajados em capturá-la e retê-la.” op.cit. item 1.2 – p.1. Nossa
tradução, JD.
40

mesmo ampliados – o problema continuará o mesmo, uma vez que as suas causas
fundamentais natureza diferente?
 Este Projeto NÃO objetiva resolver, ou extinguir, as causas fundamentais da
exclusão social dos catadores de materiais
recicláveis. Entende-se que as causas fundamentais
residem na ainda ampla inexistência de bens de
capital -- equipamentos, instalações e acessórios --
que lhes possibilitem assumir postos de trabalho, e
que a seguir, contribuam para tornar as suas atividades
mais produtivas.
 Portanto, nesse sentido, o projeto se insere sobre o suposto da pré-existência de
alguns requisitos básicos: a) a presença de algumas cooperativas de catadores de
nível DG1; b) a implementação de programas sociais públicos e/ou privados de
capitalização de cooperativas e associações de catadores.
 Os catadores de um país aonde estes permaneçam sem acesso a fontes ou fundos
de financiamento -- que lhes possibilitem a
aquisição de bens de capital -- estarão
definitivamente inabilitados para serem
beneficiados pelos resultados deste projeto. Para
eles de nada adiantará que os conjuntos de
conhecimentos adquiridos por cooperativas avançadas sejam sistematizados,
difundidos e mesmo ampliados: sua condição objetiva de trabalho NÃO será
alterada.
 Entretanto, como acima argumentado, a simples concessão dos financiamentos
parece ser insuficiente para a eliminação dos processos de subordinação e
marginalização dos catadores. Tomemos por exemplo as cooperativas em Degraus
do Conhecimento DG3 e DG4: suas deficiências em conhecimentos adquiridos
ou novos -- em seus respectivos degraus -- jogam aqui papéis determinantes.
 Assim sendo, parece-nos que o encaminhamento das questões relacionadas aos
catadores de materiais recicláveis envolve duas iniciativas interligadas, siamesas:
a) a capitalização, através de financiamento para a aquisição de equipamentos,
instalações e acessórios, do que NÃO trata o presente projeto55; e b) a
implementação dos tópicos da Economia do Conhecimento – discutidos ao longo
deste Plano de Trabalho -- do que, de fato, trata o presente projeto.
 Parece agora bastante evidente que apenas iniciativas de Políticas Públicas que
ensejem um esforço concertado sobre as duas pontas – a capitalização E o
conhecimento – podem ser capazes de obter algum sucesso56.
 No Brasil apenas uma das duas questões foi encaminhada -- através das linhas de
financiamento do BNDES para capitalização das organizações dos catadores.
 Entretanto – como as questões aludidas são siamesas – ainda resta uma longa
jornada para encaminhar a solução adequada desses problemas. E é nesse contexto
– um conjunto de ações típicas da Economia do Conhecimento – que o presente
projeto se insere.

PALAVRAS DE CAUTELA

55
Essa questão já foi tratada antes! Por favor, Cf. Damásio, J. op.cit. 2006.
56
“A estratégia de um país em aplicar oportunidades da Economia do Conhecimento a uma utilização
mais lucrativa e igualitária do conhecimento existente, assim como o desenvolvimento de indústrias
baseadas no conhecimento, teria grande potencial de melhorar as condições dos grupos de baixa renda.”
op.cit. item 1.11 p.3. Nossa tradução, JD.
41

 Não é a temática da Economia do Conhecimento marginal, quando comparada


com as questões principais da problemática dos catadores? Será através dos
Módulos Integrados de Conhecimento (MIC) que essa problemática se
resolverá?
 A natureza deste Projeto não pode ser mal compreendida!
 A construção dos Módulos Integrados de Conhecimento (MIC) -- por si só --
NÃO soluciona a problemática dos catadores. E é correto defender o ponto de
vista de que o tema do conhecimento é relativamente marginal diante da
urgência e enormidade do problema principal que é a sua descapitalização e
conseqüente exclusão econômica de sua maioria.
 A este ponto deve estar claro e evidente que a única forma de promover a
inclusão econômica dos catadores é através da organização; formalização; e,
principalmente, da capitalização das suas cooperativas e associações. Um
Projeto que visasse a sua inclusão social, através desse conjunto de medidas,
claramente NÃO deveria ser tratado sob a ótica da Economia do
Conhecimento!
 Entretanto, diante do que foi exposto anteriormente, a simples e nua dotação de
equipamentos e instalações para as cooperativas e associações – etapa
criticamente fundamental, sine qua non, para o início da integração econômica
dos catadores -- demonstra-se uma ação necessária, porém insuficiente57.
 A complexa estruturação e concentração dos mercados dos produtos da
reciclagem exigem não apenas a disseminação – mas, particularmente, a
potencialização -- dos conhecimentos adquiridos pelas cooperativas de
catadores mais avançadas (DC1), lado a lado à incorporação gradativa de
novos conhecimentos.
 É nesse sentido -- buscando entender os distintos degraus do conhecimento
adquiridos pelos diversos agrupamentos estratificados de catadores, DC1,
DC2, DC3 e mesmo DC4 -- que esse presente Projeto de pesquisa assenta as
suas premissas e bases iniciais58.

57
“O conhecimento é reconhecido como uma fonte de competitividade, onde o valor reside em novas
idéias, serviços e redes, utilizando a tecnologia como um instrumento, e não como um fim em si próprio.”
- op.cit. item 1.1 - p.1. Nossa tradução, JD.
58
“Através de investimentos KE cuidadosamente formulados, os mais pobres podem receber mais de seus
capitais-conhecimentos do que eles fariam com apenas os seus trabalhos.” - op.cit. item 1.11 - p.3. Nossa
tradução, JD.
42

9. CARTAS DE APOIO

 São anexadas a seguir cópias das cartas de apoio da Petrobrás e do Ministério


do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS.
 É importante notar que a carta de apoio do MDS é assinada pelo Secretário-
Executivo do Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de
Materiais Recicláveis.
 O Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais
Recicláveis, criado por Decreto Presidencial em Setembro de 2003, é
coordenado pelo MDS, e é formado por 10 órgãos do Governo Federal
brasileiro:

• MMA – Ministério do Meio Ambiente;


• MTE – Ministério do Trabalho e Emprego;
• MCT – Ministério de Ciência e Tecnololgia;
• MEC – Ministério da Educação;
• MS – Ministério da Saúde;
• MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio;
• SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da
República;
• Casa Civil da Presidência da República;
• Caixa Econômica Federal;
43

• BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social


44
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