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Consulte “Black Elk Speaks” (Morrow, Nova Iorque, 1932; nova edição, Pocket Books, 1973) e “The
Sacred Pipe, Black Elk’s Account of the Seven Rites of the Oglala Sioux” (Norman, University of
Oklahoma Press, 1967, edição da Penguin Books, 1971). A introdução de Frithjof Schuon para a
edição francesa de “The Sacred Pipe” serviu como ponto de partida para o presente artigo. A
maior parte desta introdução está contida em um capítulo intitulado “The Sacred Pipe of the Red
Indians" em "Language of the Self” (Ganesh & Co., Índia, 1959) pelo mesmo autor.
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“Se você subir em uma colina alta e olhar ao redor, verá o céu tocando a terra em todos os
lados, e dentro deste cercado sagrado, as pessoas vivem. Portanto, os círculos que fizemos [em
nossos rituais] representam o círculo que Tirawa Atius fez para o local de habitação de todas as
pessoas” (de um sacerdote Pawnee, falado durante os rituais de Hako, conforme citado por
Hartley Burr Alexander, “The World’s Rim, Great Mysteries of the North American Indians”. Univ. of
Nebraska Press, Lincoln, 1953, p. 131).
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“Os pontos cardeais representam as quatro Manifestações divinas essenciais [correspondentes
aos Arcanjos das religiões semíticas]” (Frithjof Schuon, “Language of the Self”, p. 211): e de acordo
com Black Elk, esses “quatro espíritos são apenas um, afinal” (Black Elk Speaks, p. 2)
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Se a estrada Norte-Sul é o “bom caminho”, é porque no plano horizontal considerado em sua
totalidade, ela representa a “estrada vertical” do Céu de forma mais direta do que a estrada
Leste-Oeste, de acordo com o simbolismo hiperbóreo.
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Isso nem sempre foi verdade, uma vez que os índios das Planícies e das Florestas eram
originalmente apenas semi-nômades; mas isso foi de qualquer forma muito antes da chegada dos
Brancos.
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A transformação das pessoas em animais, que deve durar durante a ascensão da segunda e
terceira colinas, simboliza a extensão do drama cósmico a domínios sutis que não o da alma
humana. Soa acima deste mundo de transformação a Águia do Espírito com quem o visionário se
identifica.
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Esta é a “grande Voz... do Sul” (Ibid., p. 30), a direção para onde os mortos vão e de onde a vida
vem, além da nova vida ansiosamente esperada para o povo e para o mundo. Nesse aspecto,
simbolizando a Fonte de toda a Vida, a direção do Sul é “o caminho que leva ao lugar para o qual
sempre nos voltamos” (The Sacred Pipe, p. 20).
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Frithjof Schuon específica “do Mundo transcendente ou universal” (Language of the Self, p. 219).
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entre os dois aspectos de Wakan Tanka de maneira clara (The Sacred Pipe,
p. 49): “Meu Avô, Wakan Tanka. Você é tudo. E meu Pai, Wakan Tanka,
todas as coisas pertencem a você!” Ou seja, no último caso, a dualidade
Criador-criação ainda não é superada; este é o ponto de vista dos seres e
das coisas que recebem toda a sua luz e vida do Sol; no primeiro caso, pelo
contrário, o indígena se identifica com a Luz indivisa da “Esfera” celestial9.
Há uma aparente contradição no fato de que as seis Potências do
Universo — que em si mesmas pertencem à ordem ontológica — são
representadas na visão de Black Elk como tantos “Avôs”. Contudo, isso é
explicado pelo caráter “polissintético” da Divindade indígena, uma
perspectiva na qual os dois Aspectos Divinos, bem como o Espírito
Universal, o cume supra-formal da criação, são colocados no mesmo
“eixo”. De acordo com essa perspectiva, tudo no Universo participa de
maneira direta na natureza do “Avô” Wakan Tanka.
Benjamin Black Elk, filho do sábio com quem tivemos ocasião de nos
encontrar, chamava a isso de “Presença”10 no homem, esse foco de
virtualidades espirituais ilimitadas, o “tipi do coração”. Essa expressão de
um indígena de nosso tempo é de grande importância, pois sugere quais
possibilidades ainda permanecem, apesar de tudo, para os índios
contemporâneos realizarem o “conhecimento dos Círculos” em seu
aspecto essencial. Pois esse “tipi” pode ser assimilado ao tipi ritual situado
no centro do acampamento: assim como a periferia desse tipi central era
concêntrica ao acampamento (que simbolizava o “aro sagrado da nação”) e,
portanto, com o grande círculo dos Quatro Quartos, da mesma forma, a
vida interior do homem é normalmente um reflexo do Universo
macrocósmico, bem como, até certo ponto, da coletividade religiosa que
corresponde a ele no plano da vida social11. O tipi ritual e, mais
especialmente, o fogo nunca extinto que arde no seu centro, forma, no
ponto onde as seis direções se encontram, uma “sétima” direção, que na
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“Nosso Avô, Wakan-Tanka. Você é tudo e, ainda assim, acima de tudo! Você é o primeiro. Você
sempre foi... Você é a verdade. Os povos bípedes que colocam sua boca neste cachimbo se
tornarão a própria verdade” (The Sacred Pipe, p. 13).
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Por “Presença”, o autor está se referindo à imanência do grande “Círculo”, o supremo protótipo
do cosmos, em todas as criaturas, como explicado dois parágrafos acima [Nota do tradutor].
11
No ritual de purificação dos Sioux, o principal oficiante chora: “Oh, Wakan Tanka, olhe para
mim! Eu sou o povo. Ao me oferecer a você, ofereço todo o povo como um só, para que possam
viver! Desejamos viver novamente! Ajude-nos!” (The Sacred Pipe, p. 38).
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John G. Neihardt, que registrou a história de Black Elk, aqui acrescenta a seguinte nota de
rodapé: “Black Elk disse que a montanha em que ele estava em sua visão era o Pico Harney nas
Black Hills. ‘Mas qualquer lugar é o centro do mundo’, acrescentou”. Este comentário do sábio
indígena vermelho é indiretamente uma maneira de comparar a montanha ao coração do
homem, que é sempre subjetivamente o centro potencial do mundo. Consequentemente, “a mais
alta de todas as montanhas” pode ser dita como símbolo do máximo de realização espiritual do
qual o coração do homem é capaz. Quanto à analogia entre o coração e a montanha — e entre o
coração e a caverna, que, de fato, é o “coração” da montanha — veja René Guénon, “The Heart
and the Cave” e “The Mountain and the Cave”, Studies in Comparative Religion, Inverno e
Primavera, 1971.