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A ATIVIDADE DE INTELIGENCIA DE SEGURANGA PUBLICAt ApRIANO MENDES BARBOSA Coonnexagao De Exsmo Acannatta Nactowat ne Poricta - Buastt kD RESUMO Ocime é um fendme 10 social que acompanhaa humanidade desde sempre. Todavia, a mani- fescagao das acdes criminosas acontecem de maneiras diversas a depender de itoreshistticos, culturais, geogrificos, econdmicos, sociais¢ politicos. Neste contexto, ha atividades criminosas aqueseapresentam de forma menos complexa como o crime predatsirto, desorganizado, inserido no contexco da viokéncia urbana, com agentes atuando de forma improvisada e desestruturada, como n0 €aso dos furtos,roubos e estupros praticadosalhures. Etambém neste mesmo contex: toh atvidades delitnsas que se manifestam de forma organizada, com atores delinguentes que se organiza ¢ estrutram aparatos criminosos de modo profissional buscando huctoe sujeig aa ddo poder constituido aos seus desideratos criminosos, no caso do tifico de drogas.rifico de armas rouboa banco sequestros, Com feto.0 Estado necesita de uma estrucura de prevencao e repressto criminal que sea hibil a enfrencar todas essas formas de manifesacao criminosa Para cada problema ha de haver uma tesposta adoquada eapropriada para a sua solvéncia, Neste sentido, no cenirio da criminalidade organizada ascendea Atividade de Intelligencia, conduzida pela instituicao policial, como uma ferramenta que proporcione melhores condigoes para que haja mais efickéncia ¢ eficacia na prevencao ¢ repressaa da macrocriminalidade. A Tnteligencia de Seguranca Piblica constitute exatamente neste instrumento estatal que empresta suporte ¢ ctimizao enfrentamento do crime, notadamente 0 de estatura organtzada, PALAVRAS-CHAVE: Crime. Crime Onganizado, Prevencio Criminal. Repressio Criminal Policia Inteligéncia. Inteligéncia Policial 1 Aquiutilizoralexpressio, coadunado com os estudos de Michael Herman (2010), onde cle versa sobre “intemal security’ demonstrando exist insttucionalizado desde 1883 na Inglaterra, nos quadros da Policia Metropolitana de Londres, um setor especial de inteligéncia voltado neutralizar agoes de terrorismo, espionagem e sabotagem em terrtério inglés. Por certo, tal expressao pode ser entendida ‘no Brasil, como em regra é que ha, como sendo Inteligéncia de Seguranga Pblica, voltnda a questoes relativas a prevengao criminal (Policia de Ondem Pablica). quanto na repressio criminal (Policia de Investigagbes ou Judiciéri). Revista Brasileira de Caéncnss Poliesas | Bras, 2.2,» 1, 11-30, jan(jn 2011. ISSN 2178-0013 A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica INTRODUGAO Hi, por certo, virias expresses de ages criminosas no tecido social humano. Existem, por conseguinte, formas desorganizadas ¢ organizadas do crime se manifestar na sociedade (BARBOSA, 2008), fato que exigird o em- prego de contramedidas cstatais de repressio criminal de menor ou maior monta, a depender do grau de complexidade da demanda criminal As expressées desorganizadas, aquelas préprias de agdes de crimi- nalidade predatéria, predatory crimes, como denomina Paul Lunde (2004), afetam imediatamente a vida no urbis trazendo 4 baila a violéncia urbana no varejo, compreendendo, entre outras ages perniciosas, 0 furto, 0 roubo, 0 es- com restrigao da liberdade (seqiiestro relimpago). Para en- tupro, a extor: frcntamento deste tipo de eriminalidade, também dita micro-criminalidade, ou criminalidade desorganizada o Estado despende esforcos, por assim dizer, ordinatios, como ages de policiamento de ordem publica, que no Brasil éle- vado a termo pelas Policias Militares (PM) ¢ pela Policia Rodovidria Federal (PREF), lavraturas de ocorréncias criminais (Boletins de Ocorréncia - BO), lavratura de Termos Circunstanciados de Ocor: ncia (TCO) ¢ instauragao de Inquéritos Policiais (IP), levados a termo pelas Policias Judicisrias (de In- vestigacio) estaduais, Policias Civis (PC), ¢ Policia Federal (PF). Por certo, nestes esforgos de prevengio ¢ repressio criminais tam- bém hé cspaco para o descnvolvimento ages que vio além do policiamento ordindrio e da apuragao cotidiana de fatos criminosos. Neste diapasio, hé esforgos de anilise criminal (tética ¢ estratégica), iniciativas pontuais de pro- dugio de conhecimento, no contexto deste enfrentamento da criminalidade desorganizada. De outra margem, para arrostar a agio da criminalidade organizada, aqucla que esta estruturada como empresa c busca 0 aufcrimento de lucro © esta disposta de mancira estruturada com divisio de tarcfas, compartimenta- io de suas atividades, infiltragio em érgios ptiblicos, cooptagio de agentes piblicos, cm regra de altos escalécs da republica, suporte juridico ¢ contibil, é preciso um esforgo de repressio criminal que va além das iniciativas coti- dianas, Esta criminalidade engloba a macro-criminalidade, a levada a vermo pelos chamados white collars, as organizagécs criminosas que perpetram cri- mes comoa lavagem de dinheiro, 0 tréfico de drogas, trafico de armas, trifico de pessoas, a corrupsio ativa, o trifico de influéncia, as fraudes a licitagées. 12 Reeista Brasleina de Cigncias Policia A rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa Neste diapasio, para enfrentar ages criminosas de tal matiz 0 Es- tado necessita que suas instituigdes de persecucio criminal cstejam tio bem organizadas e providas de recursos, sejam humanos, sejam materiais, quanto as organizag6es que levam a termo ages criminosas estruturadas ¢ planeja- das. Assim, o esforgo investigativo estatal que ha de enfrentar a criminalidade organizada hé de langar mio de técnicas investigativas que vdo além das em- pregadas em face de agdcs criminosas outras. Ensina o dileto colega Professor ¢ Delegado de Policia Federal Rodrigo Carneiro Gomes (2008, p. 3) sobre o poderio encerrado pelas organizagées criminosas: A existéncia do crime organizado é uma demonstragao de wm poder paralelo néo legitimado pelo povo, que ocupa lacunas deixadas pelas deficiéncias do Estado democrttico de Direito e demonstra a falén- cia do modelo estatal de repressa macro-criminalidade, Conclui Gomes asseverando: A importincia da repressdo a macro-criminalidade organizada decorre da real ameaga que representa ao Estado Democrttico de Dircito. Usurpa suas fungies e se aproveita das situagoes de caos urbano e politico para a instalago do seu poder paralelo. Um poder paralelo amparada em surpreendente poder econimico, na deterio- acto do Estado de Direito (nasce e se alimenta dele e das brechas ¢ protegies legais), que dissemina corrupao, intimida, viola leis e ‘pessoas, sem freies, concretizand seu império por atos que variam do constrangimento ea intimidagio até atos de extremada violéncia com assasinatos¢ tortura Nesta scara da repressio criminal, portanto, h4 espaco fértil para 0 emprego da Atividade de Inteliggncia de Seguranga Publica que tem sua face da Investigacio Criminal (BARBOSA, 2010) materializada através da cha- mada Inteligéncia Policial. © que nao se pode olvidar é que a Atividade de Inteligéncia de Se- guranga Publica nao a quintesséncia da atividade de prevengio ¢ repressio criminal. Ela, cm veras, constitui uma forma diferenciada de abordagem ti- tica e estratégica da prevengao e repressao criminais utilizadas quando ha ne- cessidade de se produzir, além das evidéncias (provas), conhecimento titico e estratégico para cnfrentamento da criminalidade organizada, com uma pers- pectiva macto ede longo prazo do problema do crime e da criminalidade. NC Revita Brasleina de Ciéncias Pobicinis 13 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica O professor Michael Herman (2010, p. 1) em relagio a Atividade de Inteligéncia ensina que “governments collect, process and use information. Part of statecraft is what a writer called ‘the central importance of knowing, both in general and in particular.” Hi ainda neste vigs 0 ensinamento do Professor Marco Cepik (2003, p. 27) que sustenta: Inteligéncia é toda informagio coletada, organizada on analisada para atender as demandas de um tomador de decisées qualquer. Para a ciéncia da informacao, inteligéncia é uma camada especifica de agregagao ¢ tratamento analitico em uma pirdmide informacio- nal, formada, na base, por dados brutos e, no vértice, por conbeci- mentos reflexivos. Assim, tendo como referéncia os estudos de Herman (op. cit.) ¢ de Cepik (op. ci.), pode-se sustentar que a Atividade de Inteligéncia de Inter- na (Seguranga Publica) é 0 conjunto de atividades de anilise e de operacées de natureza compartimentada que tém por escopo dar suporte a atos de prevengio e repressio criminais para fins de neutralizacao de agées crimi- nosas organizadas. De outra margem, a Atividade de Inteligéncia de Seguranga também ha de ser entendida como um instrumento de suporte do proceso decis6- rio do gestor da Seguranga Puiblica na tomada de decisaes de repercussao de alcance macro. Neste sentido, a Atividade de Inteliggncia Policial pode ser compreendida sob dois prismas, a saber: um de natureza tatica, adstrita di- retamente 4 preven¢ao imediata de praticas delituosas e repressao criminal, € outro de esséncia estratégica, vinculada a ages de perspectiva igualmente estratégica com anilise de cenatios ¢ prospecgio. ‘Assim, a Atividade de Inteligencia Policial, na seara da Investiga- gio Criminal, é um meio que sc utiliza para se aperfeigoar a angariagio das evidéncias na fase pré-processual da persecugio penal, Desse modo, tal atividade nao € um fim em si mesmo, vindo & tona no auxilio da atividade fim da Investigagio Criminal. Neste ponto ¢ relevante que sc visite © significado da Investigagio Criminal. Sustento (BARBOSA, 2010) que: Em suma, pode-se definir imvestigacito criminal como sendo 0 con- junto de agoes (diligéncias), levadas a termo pelos entes estatais que exercem o mister da persecuséo criminal pré-processual, que diante 14 Reeista Brasleina de Cigneias Poli rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa da noticia (demanda) da pritica de uma infragéo penal levam a ter- ‘moa reuniao de dados da realidade fitica vinculada ao supostofato delituoso, com o conseqitente exame técnico ¢ andlise de tais dados com o escopo de trazer a lume as elucidacées (evidéncia) da autoria, materialidade (existéncia) e circunstancias (de tempo, lugar, modo, motivagado, meio) adstritas & situagao criminosa apresentada. 1 - INTELIGENCIA E CONTRA-INTELIGENCIA: AS DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA Pode-se dividir a Atividade de Inteligéncia de Seguranga Pibli- ca cm dois grandes ramos: 1) Inteligéncia (INTEL), propriamente dita, voltado & prevengio ¢ repressio da criminalidade organizada em geral, ¢ 2) Contra-inteligéncia (COINT), especializada na protegio das instituigbes de seguranga publica, colocando a salvo 0 conhecimento engendrado cm prol da repressio & criminalidade organizada ¢ neutralizando, por exemplo, 0 fenémeno da infiltragio criminosa no scio do organismo policial, bem como a cooptagio de servidores policiais por parte das quadrilhas ai gidas pela repressio criminal, realizando, com efeito, um trabalho em socorro & Corre- gedoria de Polic Assim, as operagics ¢ anilises levadas a cfeito em face dos alvos de interesse da seguranga publica acontecem no ambito da Inteligéncia, em sen- tido estrito. Neste passo, na Inteligéncia a preocupagio é com “o outro”, como cnsina Herman (2010, p. 34) “intelligence is about them, not us; it is not self- knowledge.” Este dito “outro”, na seara da Inteligéncia de Seguranga Piblica, sio os cidadios autores de fatos delituosos de expressio organizada, ou as proprias organizag6es criminosas. Na Intcligéncia, por conseguinte, busca-se desnudat os esquemas cti- minosos determinando, por exemplo, quem sio as pessoas envolvidas, quai so os seus vinculos, como elas se relacionam, como se comunicam, como elas se organizam, quais so os meios utilizados nas priticas delituosas, quais sio 0s objetivos criminosos perseguidos, quais sao os alvos preferenciais levado a termo 0 financiamento da organizagio criminosa, quais sio os modus como é operandi (taticas) eleitos pelos membros da organizagio criminosa c outros da- dos imprescindiveis para se conhecer em profundidade o alvo de interesse. Noutra margem, a Contra-inteligéncia ¢ focada na protecio de todo 0 conhecimento engendrado pela Inteligéncia no esforso de conhe- NT Revita Brasileira de Ciéncias Pobiciais 15, Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica cer 0 “outro”. Com efeito, a COINT age, impedindo, que o “outro” co- nhega, influcncic ow interfira no proceso de produgao de conhecimento do érgio de seguranga. Hi, assim, um esforgo de seguranga informacional (information security) promovido por este ramo da Inteligéncia, que de- senvolve também agoes de contramedidas de seguranga e seguranca de operagdes (CEPIK, 2003). Segundo 0 escélio de Herman (op.cita p. 166), in verbis: Information security has three components: ‘protective security’ in- tended to defeat or blunt intelligence collection; the detection and neutralization of intelligence threats; and deception. The first puts up passive, defensive screens; the second is active defence by elimi- nating the opponent's offensive intelligence threat; the third defeats hostile intelligence by deceiving or confusing it Dessa forma, a COINT coloca a salvo tanto 0 conhecimento pro- duzido, propriamente dito, quanto a instituigdo ¢ seus quadros de agentes, analistas ¢ gestores. A COINT cumpre, assim, papel de alta rclevancia identi- nobi ria sobre os esforgos institucionais de inteligéncia, bem como neutralizando ficando ma de adversaios (“os outros”) que incidem de forma deleté- as cventuais agdes das organizagécs ctiminosas sob escrutinio que possam fragilizar os esforgos estatais de prevengio ¢ repressio criminais. Neste mesmo sentido, o Professor Marco Cepik (2003, p. 57) ensina que: Do ponto de vista operacional, enquanto a principal missio da drea de inteligéncia é tentar conbecer outro’, a principal missio da drea de infosee? é garantir que os “outros” s6 conhecerto 0 que quisermas que eles conbegam sobre nds mesmos (..) as duas atividades existem simultaneamente e interagem de forma mais ou menos sinérgica para cada ator envolvido num conflito informacional. 2. ANALISE FE OPERAGOES DE INTELIGENCIA Tanto a Inteligéncia quanto 4 Contra-intcligéncia estao, a scu turn, subdivididas em dois ramos de concentragio. Assim, hd a atividade de And- lise de Dados cade Operacées de Inteligéncia, scndo esta ultima objevo do presente estudo. 2 Neste ponto Cepik faz mengao a area de seguranga de informagocs que pelas maos dos doutrinadores, americanos ascende com a designasao INFOSEC ou informations security 16 Reeista Brasileina de Citnial POU A rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa A Anilise, portanto, desenvolve exames ¢ estudos tanto de dimensdes titicas, quanto estratégicas sobre a criminalidade organizada (SOUZA, 2006). A Anilise Tatica volta-se para as organizagées criminosas de maneira individual, vale dizer, esta atividade procura entender todos as nuances ¢ formas de expresso da atividade de determinada empresa ctiminosa para fins de sua desarticulagao. Com efeito, a andlise titica ¢ pragmatica e concorre para a produgio de conheci- mento que poderio dar enscjo & partuti (oda fatura prova criminal. De outra margem, a Andlise Estratégica atua numa perspectiva ma- cro, nio se limitando a uma investigacio especifica. O seu gol é antecipar © movimento do crime organizado e assessorar as autoridades gestoras da seguranga publica em prol de decisdes que assegurem um combate mais cficiente ¢ eficaz das organizagdes criminosas As atividades de Operagées de Inteligéncia, por seu turno, desen- volvem as diligencias de natureza sigilosa em prol das investigagdes crimi- nais. Seu objetive ¢ desnudar ¢ trazer luz ao dito “dado negado”, aquele dado que é mantido sob sigilo ¢ guarda de grupos criminosos organizados, € que € vital para se estabelecer a autoria, materialidade ¢ circunstincias que tocam as atividades do emprcendimento criminoso. Nos capitulos vindouros as Operagdes de Inteligéncia sero escrutinadas mais amitide. Outrossim, ha de se frisar que todas as diligéncias investigati vas levadas a efeito na seara das Operacées de Inveligéncia poli I ames dos Estado Democra- hao de ser conduzidas sob a égide dos d tico de Direito. Aqui nao se trata de ages de inteligéncia de Estado que por vezes atua nas sombras (EIGUEREDO, 2005) ¢ ao arrepio da lei para obtengio de dados que vio subsidiar tio somente o processo decisério de um lider politico. Aatividade de Inteligéncia aplicada em suporte a agées de prevengio ¢ repressio criminal busca, em dltima instfincia, a formagio de evidéncias que dar suporte 20 nascimento da prova em sede processual, e estas, por con- seguinte, nao podem ser concebidas ainda em seu nascedouro sob 0 manto dailegalidade ou da ilegitimidade. Neste diapasio, todo c qualquer diligéncia gue invista sobre direitos protegidos por sigilo ha de ser conduzida mediante autorizagio da ordem judicial devida, Mais adiante este tema sera desenvolvi- do de mancira mais proficua cm capitulo proprio. NN Revita Brasleiva de Ciéncias Pobicinis 7 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica Assim nio sendo, todo proficuo ¢ arduo trabalho de investigagao é perdido. Mais ainda, o procedimento investigatério, v.g.. Inquérito Policial, em que se produziu todo o conjunto de evidéncias sera fragilizado e passard a ser suscetivel de trancamento por “remédio herdico”, Em curtas palavras, no vale a pena agir ao arrepio da lei na seara da Inteligéncia Policial. Com aatividade de Inteligéncia empregada na scara da investigagao é possivel, ainda, construir uma memoria sobre as organizagécs criminosas que se investiga. Neste passo, poder-se-& catalogar liderangas, individuos relacio- nados &s ages delituosas, ages emblemiticas que tenham estatura de lig&es aprendidas, modus opentndi, logistica criminosa, formas de financiamento, etc, Ou soja, as ages de Intcligéncia proporcionam além da utilizagao de um instrumental investigativo de alta eficacia do ponto de vista da produgio de evidéncias, o engendramento de um banco de dados que da suporte a futuras investigagdes que enfrentem o mesmo tipo de empresa criminosa. Neste sentido, ascenderd a estruturagio de uma coletinea organizada de dados que possibilita ao investigador acesso a um cabedal de informes, informagées, apreciagées ¢ cstimativas de tal ordem que podcrio otimizar 9 processo investigativo. Em verdade, um banco de dados bem estruturado, ascende como uma ferramenta que da socorro a investigagio com diminuigio de exposigio dos investigadores envolvidos, notadamente os operacionais, ¢ com selegio, por exemplo, de alyvos mais recompensadores a serem abordados do ponto de vista da produgio de cvidéncias. Condlui-se, portanto, que ¢ preciso técnica apurada ¢ recursos mate- riaise humanos de exceléncia para se levar a efeito atividade investigativa que enfrenta a criminalidade organizada, 3. O CICLO DE PRODUGAO DO CONHECIMENTO, Estabele idade de Inteligéncia de Seguranga Pablica, as suas dimensdcs de produgio de conhecimento ¢ de pro- regio de conhecimento, bem como as suas vertentes de Anélise e Operagies, é preciso compreender de que forma se materializa, se concretiza, o produto de las as bases doutrindrias sobre Ati todo o esforgo de inteligéncia, que é 0 Conhecimento. Conhecimento este que €0 fim precipuo da Atividade de Inteliggncia, que desnuda “o outro’, que traz& tona os clementos necessitios ¢ suficientes para a tomada de decisio do gestor de seguranea pitblica, seja no plano tatico, seja no plano estratégico. 18 Reeista Brasleina de Cisneias Pola Lr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa Para melhor compreender a produgéo de conhecimento € utilizado pela dourrina de Inteligéncia um modelo, que Herman (2010, p. 39) deno- mina “Intelligence process in ourline’, ¢ no Brasil é chamado, vide Priscila An- tunes (2001), de Ciclo de Produgio do Conhecimento. Este cis Jo tom 0 condao de explicitar como deve se desenvolver 0 processo de Inteliggncia (mctodologia da produgio do conhccimento) desde a abordagem primeira da situagio problema até o alcance do produto final do esforgo de Inteligéncia, que € 0 engendramento de um conhecimento que subsidic 0 proceso decisério do gestor da seguranga publica, scja cm termo titicos, seja em termos estratégicos. REUNIAO aes <> Figura 1:Ciclo da Produgao de Conhecimento TRATAMENTO VESTIBULAR DA DEMANDA DE INTELIGENCIA Com 0 partejamento de uma situacio de alta indagagio na se- ara da seguranga publica, como o incremento vertiginoso de ages cri- minosas organizadas (por exemplo, 0 aumento da incidéncia de roubos a joalherias, de forma orquestrada em shopping centers, na cidade de Sio Paulo), ascende uma demanda de seguranga publica de alta relevancia, Esta demanda, entio, constituird objeto de diferentes agdes de seguran- a publica, como, entre outras, o incremento de policiamento ostensivo em lugares com as mesmas caracteristicas dos que forma palco das agdes criminosas sob luzes, ins! uragao de inquéritos policiais em prol da in- vestigagio formal dos delitos perpetrados, com a oitiva de testemunhas, entrevistas de pessoas saibam dizer sobre os fatos, pericias de local de crime, apreensio de midias que contém cenas das ages criminosas, como NN Revita Brasileira de Ciéncias Pobicinis 19 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica as capturadas por circuito fechado de Televisio (CETV) ¢ esforgo de in- teligéncia, além das diligéncias investigativas ordindrias, para se produzir conhecimento sobre os eventos criminosos sob escrutinio. Assim, no contexto da atividade de inteligéncia, todos os detalhes fiticos que tocam as ages criminosas objeto de exame serio apreciados num vi 's que vai além da angariagao de elementos probatérios. Os érgaos de Inteligéncia agirio neste cenirio criminoso com o escopo de desnudar todo clemento factual, além dos que possam constituir prova criminal, re- lativos aos alvos sob investigagio. Isto, tanto num viés preventivo, tanto quanto repressivo e prospective. ‘Abordagem inicial do problema demandara, por conseguinte, do agente de Intcligéncia encarregado do caso, ¢ de sua equipe de analis- tas, uma abordagem vestibular metodoldgica da situagio-problema que orientard todos os demais pasos a serem percorridos no proceso de pro- dugao de conhecimento. Assim, o cncarregado do caso hé de se langar so- bre o fato sob anilise escrutinando 0s dados da realidade que a traduzem. Neste diapasio, cle executa a busca de dados oricntada pelas indagagSes que quando respondidas trazem ampla chucidacio & situagio problema. © analista de Inteligéncia diante do objeto de anilise prima facie ha de indagar sobr 1) O que aconteceu? 2) Quem foi o autor do fato? 3) Quando tal fato se deu? 4) Onde cle aconteceu? 5) Por que cle veio & tona? 6) Como foi 0 ato criminoso praticado? 7) Com quais instrumentos o scu autor levou a termo a sua perpetragao? Ou scja, ele procura com tais questionamentos sc aproximar nao sé da autoria ¢ materialidade delituais, mas também de todas as circunstancias de lugar, tempo, modo e Animo que sio adstritos aos crimes sob investigagio. Diante de tais questionamentos, o analista se deparard com as premissas, as hipsteses ¢ os vazios relacionados com o fato criminoso. O escopo do ana- 20 Revista Brasileira de Cibiciad POU A rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa lista em face desces trés elementos seré a ratificagio ou retificagéo das premis- sas c hipéteses ¢ 0 preenchimento dos vazios. Assim sendo, sc aleangario os limites faticos que circundam a atividade delituosa sob andlise. [As premissas constituem dados da realidade fitica que sio ob- servados pelo analista ¢ que em principio sio verdadeiros, dentro de uma dada inferéncia. Vale dizer, elas sio constatagées emanadas do raciocinio légico do analista. As hipéteses constituem uma suposigao admissivel que serve como explicagio da cxisténcia de determinado fato. As hipéteses em sede de In- teligéncia Policial sio também sio denominadas de linhas de investigagio que sio determinadas pelo analista quando este se depara com uma situagio criminosa. Sao, em verdade, conjecturas engendradas pelo analista diante do fato criminoso que lhe é apresentado. Neste diapasio, diante de um delito podem surgir diversas hipdteses que explicam a sua existéncia, inclusive para eximir de culpa um determinado suspeito. Quando do estabelecimento das linhas de investigagio deve 0 ana- lista elencar as mais plausiveis que expliquem a existéncia do fato criminoso. A hipétese ha de ser plausivel, pois, assim, nao sendo ha investimentoa fundo perdido de recursos preciosos para o Estado, como desperdicio de horas de trabalho de mao-de-obra especializada que poderia ser empregada em situa- des criminosas que realmente necessitam ages investigatdrias, De outro lado, 0s vazios so 0s questionamentos fullcrais engendrados em face de um fato criminoso sob escrutinio ¢ que carceem de rexpostas. Eles representam a auséncia de soluugio ao problema posto. Assim, seem uma dada anilise néo se consegue superar algum vazio ~ que é materializado através da auséncia de resposta a alguma das questes: quis - quem? quid - que coisa? ubi - onde? quando - quando? quomodo - de que maneita? cur - por qué? quibus auxilis - com que auxilio? ~ sobre ela incidiré a macula de inefictci Tais indagagdes compdem o chamado Heptimetro de Quintiliano. Cipiiio Martins, citado por Pery Cotta (2002, p. 66), afirma que: No século I, 0 reitor romano Quintiliano, possivelmente nascido em tervas de Espanha (Calahorra), tracor em sua Instituigiio Onatéria as precisos contormos da Retorica, mais conbecidos coma circunstan- ciais: pessoa, fato, lugar, meios, motivos ¢ modo. NT Revita Brasileira de Ciineias Poticinis 21 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica Econclui Martins: Quintiliano enuncion um heptimetra para disciplinar o discurso: quis, quid, ubi, quibus ausilis, cur, quomodo, quando? (quer que coisa, onde, por que meio, como, quando?). Hi de se frisar que tais questionamentos nio sio exaustivos, consti- tuindo um referencia a0 qual podem ser agregados outras indagagdes. Eles constituem indagacdes minimas, mas ndo exaurem o rol de indagacdes que devem scr feitas em face de uma situacao problema posta sob anélise. Com a incidéncia ¢ permanéncia de vazios 0 esforgo de Intcligéncia Policial levado a termo nao alcangaré a solvéncia do fato criminoso, seja em relago & sua autoria, seja em relagio & sua materialidade, ow a alguma circuns- tancia imprescindivel ao seu deslinde. 5. REUNIAO DE DADOS O procedimento de reuniao de dados vem & tona cxatamente para angariagio de elementos da realidade que tém 0 condo de ratificar ow reti- ficar premissas ¢ hipéteses, preencher vazios. A reuniio de dados é levadaa feito através do emprego de técnicas operacionais que permitem ao agente de inteligencia a busca ¢ coleta de dados, bem como a sclegao ¢ avaliagio destes clementos factuais que vao formar 0 cabedal de clementos a screm analisados para produgio de conhecimento. O ferramental legislative que ascende da Lei n° 9034/1995, que “dispoe sobre a utilizagio de meios operacionais para a prevengio ¢ repres- sao de ages praticadas por organizagdes criminosas’, por exemplo, traz rol de técnicas operacionais para a prevengio ¢ repressio de agées praticadas por organizagées criminosas, como a interceptagao ambiental de sinais cle- tromagnéticos ¢ infiltragio por agentes de policia em organizagdes crimi- nosas, que podem instrumentalizar a busca de dados. ‘Acoleta de dados é obtengio de clemento fiticos disponiveis,isto é de livre acesso a quem procura obté-los. Ou seja, através da coleta se promove a ar- recadagio de dados que estio ao alcance imediato do agente de Inteligéncia, sem necessidade de engendramento de esforgos operacionais para superar direitos ¢ garantias individuais, nem cmprego de técnicas operacionais. Em relagio a esses dados ha de se obscrvar incondicionalmente o que prescreve a Constituigio Fe- deral (1988) no que concerne & protegio aos direitos fundamentais do homem, notadamente da liberdade ambulatéria, inviolabilidade do domicilio, do s 22 Revista Brasileira de Cibicias POU A rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa das comunicagoes, etc, Neste diapasio, quando o agente de inteligéncia se de- parar com dados que estio sob o pilio constitucional como 0s suso referidos ele necessitar’ da devida ordem judicial para os alcangar ¢ buscar. ‘A busea, por sua vez, é a obtengio de dados nao disponiveis de ma- neira imediata por parte do agente de Inteligencia. Os dados que sio objeto de busca sio aqueles que estao sob o palio de manobras protetivas dos alvos, tendo em vista que as mesmas os colocam dirctamente vinculados aos delitos por eles perpetrados, ou aqueles outros que demandam ages operacionais, ou sio dados que para serem alcangadas necessitam de afastamento de prote- 40 constitucional, Excmplo de ages operacionais de busca seriam a quebra do sigilo das comunicagoes dos alvos, emprego de fontes humanas (infor mantes) para obtengio de dados relativos aos cidadios lideres do esquema criminoso, infiltragdo de agente na organizagio criminosa alvo da operagio. Nos processos de coleta ¢ busca ¢ de bom alvitre que 0 agente de In- teligéncia Policial observe alguns critérios para otimizacao da operagao neste momento em que os primeiros dados sio alcancados. Desse modo, 0 agen- te de Intcligéncia cm relagio aos dados a scr angariados deve nao desprezar nenhum dado mesmo que em principio parega insignificante; nio descartar dados a vista dos mesmos poder favorecer o alvo; partir do mais simples para © mais complexo; partir do de menor custo para o mais dispendioso; partir do de pouco ou nenhum risco para o mais arriseado; esgotar a capacidade do proprio drgao antes de acionar outros. A selegao consiste na triagem, exchisio, que obviamente tem aqui o significado de descarte intelectual ¢ nao de retirada fisica do dado, c escolha dos dados que sio de fato relevantes ou de menor monta para o deslinde do caso, a partir do critério de releviincia para a fucura produgio de conhecimen- ro. Com aselecio promove-sea separacio do joio do trigo. Tal momento éde todo relevante tendo em vista que por ocasio da coleta e busca muitos dados Iaterais, vale dizer, dados que nao contribuucm para a dircta solvéncia do fato criminoso, séo angariados. A avaliagao é 0 processo a que sio submetidos os dados para afe- rigio da sua forca no sentido de se estabelecer se determinado dado tem condigées de sustentar a produgéo de conhecimento que se almeja. Como se percebe é na fase de reunitio de dados que se desenvolvem as ages operacionais de Inteligéncia. O gerenciamento das Operagdes ¢ Agdes de Inteligéncia sera abordado em detalhes em capitulo vindouro. O objetivo da cxposigio nesta abordagem inicial é contextualizar c localizar a atividade Ne Revita Brasleina de Ciéncias Pobicinis 23 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica operacional de Inteligéncia no contexto do Ciclo de Produgio de conheci- mento. O estudo da gestio dos esforgos operacionais vird a posteriori. 6. ANALISE DOS DADOS O momento da andlise promove a associagio, cruzamento ¢ valora- 20 dos dados para fins de estabelecimento do conhecimento que € 0 produto final de todo o esforgo de Inteligéncia. Michael Herman (op. cit. p. 100) ensi- na o seguinte sobre o esforgo de Andlise de Inteligéncia, literis: Al-source work is a continuation of single-source processing, as defined in the official British description of the DIS as being to ‘analyse information from a wide variety of sources, both overt and covert, NATO doctrine divides it into a sequence as follows: Callation, or the routine ofc work of recording incoming information Evaluation, of the reliability of the source and credibility of the information Analysis: identifying significant facts, comparing them with existing facts, and drawing conclusions Integrations, of all the analysed information into a pattern or picture interpretation, or ‘deciding what it means in terms of what is likely to happen in the future’ Em prol da andlise, serio empregadas tanto a Légica (COPI, 1981), j& utilizada pelo agente de Inteligéncia, notadamente 0 enearregado de caso, desde 0 estabelecimento das premissas ¢ hipétescs, quanto ferramental tecnolégico como sofewares de anilise criminal, como 0 12 Analyst ‘+ Notebool®, Em verdade a anise se dia todo momento, nao havendo um momento estanque onde se somente acon- tecea anilise dos dados. 3 Sobre o programa de andlise criminal Analyt’s Notebook da empresa i2 hi: Investigations typically imoolve large amounts of rate, aulti-formatied data gathered from a wide variety of sources. Somewhere in this data lis the Rey to the investigation but it can remain obscured by the volume and apparent randomness of individual facts 2 Analysts Notebook 7isi2award winning visualization and analytical product which enables anabysts and investigators to visualize large amounts of disparate information and ium it into meaningfi intelligence. This ss achieved by providing a framework for information which Belps the analyst to quickly create a chart of objects and relationships. Analysts Notebook alse provides users with the tools they require to navigate, search and analyze the wealth of information contained ina chart. This allows intelligence data to be collated and flrered so that the important relationships seithin the investigation can be easily understood. Analysts Notebook is considered an essential tool for intelligence and investigative analysts around the world. Proven in defense, law enforcement and connmercial organizations it has become a de fact standard forthe exchange of intelligence information between agencies. Disponivel em http: //wwwissaftica.co.ta (acessado om 21/10/2008). 2 Revises Braslema de Ciencias Poliaais, rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa Mais ainda, as fases do Ciclo da Produgio do Conhecimento nio estio divididas em compartimentos incomuniciveis ¢ herméticos. © pro- cesso de anilise € dinimico ¢ no comporta o confinamento de suas fases a momentos fixos ¢ especificos. £ claro que metodologicamente, ¢ do ponto de vista didético, hé o estabelecimento de fases, momentos, do esforco de inte- ligéncia, tanto operacionais, quanto analiticos. Outrossim, isso no significa gue estas acontegam de mancira isolada ¢ distanciada uma das outras ¢ que nfo haja o desenvolvimento de agées tipicas de uma fase no bojo da outra. Na anilise ha, por conseguinte, a promogio do estudo pormenoriza- do do conjunto de dados angariados. Isso, numa perspectiva individual ¢ glo- bal concomitantemente do conjunto de dados arrecadados. Assim, cada dado éanalisado individualmente ¢ confrontado com os demais numa perspectiva micro macro da andlise, conferindo uma apreensio da realidade fética atre- ada ao objeto sob cxame que é traduzida através dos dados colecionados. © produto da andlise de Inteligéncia Policial ¢ proprio conheci- mento que pode ter estatura titica ou estratégica. O conhecimento titico se materializa através de informes ¢ informagées. Por sua vez, o conhecimento cstratégico vem a tona através de apreciacées ¢ cstimativas. Informe ¢ 0 conhecimento destinado a comunicar a ocorréncia de um fato criminoso, objetivando o processamento ini policial, nao possuindo um nivel de certeza que seja hil, por exemplo, a ensejar | dos trabalhosde inteliggncia aascensio de clementos probatérios cm face da agio criminosa sob anilisc. Neste nivel de conhecimento a influéncia das percepgées ¢ impress6es do analista im- pregna, por assim dizer, fortemente 0 conhecimento, Geralmente os informes prescindem de aprofundamento na andlise. Todavia, eles jé podem ascender indi- cando a presenga de indicios relevantes sobre 0 objeto de anilise. Informagao é 0 conhecimento resultante de raciocinios elaborados pelo profissional de intcligéncia ¢ que contém 0 resultado do processamen- to dos dados dos quais se pode obter, por exemplo, elementos probatérios ou se tem conhecimento de onde poderio ser obtidas sobre a materialidade, autoria ¢ circunsténcias de crimes sob anilise. A informagio é um plus em re- acio ao informe, denotando um nivel de certeza maior em relagéo aos dados analisados, se aproximando daquilo que ¢ verossimil em relagio ao objeto de anilisc, Com a informagao o tomador de decisics tem diante de si um conhe- cimento robusto hbil a orienté-lo em prol da melhor decisio. Ne Revita Brasileira de Ciéncias Pobiciais 25 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica Apreciagao ¢ 0 conhecimento destinado a demonstrar a situagao cri- minal em determinado momento, de abrangéncia regional ou nacional. Tem como finalidade, no contexto da Inteliggncia de Seguranga Publica, subsidiar aclaboragio de estratégias ¢ polfticas para 0 enfrentamento de decerminados fenémenos criminais. A apreciacio se assemelha a uma fotografia panorimi- ca da situacéo problema objeto da anilise, conferindo ao gestor & possibilida- dede melhor entender a problemitica a ser enfrentada. Estimativa € 0 conhecimento destinado 0 demonstrar ¢ projetar de forma estimada a evolu ow as tendéncias de um tipo crime ou da crimina- lidade como um todo. Tem como finalidade subsidiar a adogio de estratégias ¢ politicas preventivas na scara da seguranga piblica, A cstimativa ¢ pros- pectiva ¢ antecipa no tempo cendrios que demonstram como, por exemplo, fatores que influenciam na criminalidade organizada podem vir & tona, ense- jando, assim, oportunidades, em adiantado, de prevengao criminal. ‘Assim, percebe-se que os informes ¢ informagies sto engendrados num contexto especifico, com foco precipuo na repressio criminal, para subsidiar investigagées criminais ¢ 0 processo decisério do coordenador dos trabalhos investigativo, cxcrcida pela Autoridade Policial, o Delegado de Po- licia, Por ébvio, o conhecimento titico também ¢ habil a subsidiar ag6es poli- ciais ostensivas, vindo ao suporte de decisdes taticas de oficiais superiores das Policias Militares, cm particular de Coronéis, responsévcis pela condugio de ages de policiamento de manutengio da ordem ptiblica. De outro lado, as apreciagées ¢ estimativas sio produzidas num contexto estratégico, sem estar adstrito a um caso em especifico, sendo materializados para subsidiar 0 processo decisério do gestor em seguranga publica. Isso, em suporte & implementagio de politi de prevengio c repressio a criminalidade, em especial & organizada. s ¢ estratégias macro Com a coneretizagio da anilise de dados o analista vai se depa- rar com dutas situagées, a saber: a) os dados angariados sio suficientes para se engendrar 0 conhecimento necessario ao suporte do proceso decisério do tomador de decisdes; b) 0 conjunto de dados analisados ainda aponta para a existéncia de vazios de tal monta que interferem na produgio do conhecimento necessirio € suficiente para atender a demanda trazida aos drgios de Intcligéncia. 26 Revita Brasileira de Cibiciad POU Lr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa Em sendo suficientes os dados, o Ciclo da Produgio de Conhe- cimento segue seu curso rumo produgio propriamente dita do conhe- cimento tatico ou estratégico demandado. Contudo, se ainda resta in- dagagées; relevantes &s anilises, do Heptimetro de Quintiliano a serem sanadas ascende uma nova demanda de inteligéncia, esta ensejada pelo encarregado de caso ¢ sua equipe de analistas, que vai ensejar 0 apa- recimento de novas premissas ¢ hipéteses ¢ de nova reuniéo de dados mediante busca, coleta, selegio ¢ avaliagéo. Supcrada a fase da andlise com a produgao do conhecimento de- vido, este € materializado (formalizado) em pertinente documento de Inteligéncia. Tal documento ¢ 0 Relatério de Intcligéncia (RI) que traz em scu bojo os seguintes clementos formais: a classificagao sigilosa do conhecimento, identificacio do documento (numeragio ¢ data), Orgio de Inteliggncia de origem, referéncia da demanda que deu origem a0 es forco de Inteligéncia, difusao anterior do conhecimento, difusio atual do conhecimento, relagio de anexos. No mérito o RI traz.o conhecimento propriamente dito de esta- tura tatica ou estratégica. Pode-se recomendar que o texto do Relatério de Inteligéncia observe os seguintes principios, sem prejuizo de outros que emprestem clareza ¢ certeza ao texto: 1) concisio, sendo breve ¢ usando apenas a quantidade de palavras necessérias para transmitir a idéia; evitando circunléquio, ou scja, discurso pouco dircto, onde 0 es- critor foge do ponto principal pelo abuso de expresses, estendendo demasiadamente uma ideia que pode ser expressa cm poucas palavras, clichés, redundancia: 2) corregao, obedecendo ao emprego das nor- mas gramaticais; 3) precisio, escolhendo as palavras mais adequadas A transmissio das idéias; cvitando ambigitidades; 4) imparcialidade, apresentando os fatos com iscngao, evitando o cmprego de adjetivos ¢ expressées que indiquem juizo de valor; 5) objetividade, apresentando os fatos de modo pragmitico, raciocinando com base neles; 6) simplici- dade, transmitindo as idéias na ordem dircta ¢ sem ostentacio; evitan- do linguagem rebuscada ¢ estrangcirismos; 7) amplitude, apresentando © trabalho de modo completo ¢ compreensivo, sem lacunas; 8) clareza, transmitindo de modo nitido ¢ eficiente a mensagem. Ne Revita Brasleina de Ciéncias Pobicinis 27 Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica 7. DIFUSAO Uma vez que o conhecimento encontra-se produzido alcanga-se a fase de difusio do conhecimento. A difusio consiste na remessa do co- nhecimento formalizado para os usuarios que dele fario uso para suporte de scu proceso decisério. A difusio pode ha de scr levada a termo me- diante o encaminhamento do conhecimento através de canais seguros de comunicagio, Este cncaminhamento pode ser por intermédio de docu- mento de Intcligéncia, notadamente o Relatério de Inteligéncia ou men- talmente, em casos excepeionais quando ha a necessidade de transmissio oral do conhecimento. CONCLUSAO, Diante do exposto, observa-se o alto grau de pertinéncia do cmprego da Atividade de Inteligéncia na seara da Seguranga Publica. Isso, tanto na dimensao da prevengao do crime, quanto da repressao criminal. Nao obstante esta constatagio alvissarcira, este ferramental, pelas suas peculiaridadcs, apresentadas acima, ha de ser i ma técnica e sempre com palio na legalidade ¢ com respeito incondicional aos direitos ¢ garantias constitucionais do individuo. A Atividade de Inteli- nstrumentalizado de for- géncia no campo da Seguranga Piiblica atua necessariamente sob os ditames do Estado Democritico de Direito de forma inarredavel. Nao ha como se conceber uma atuagao policial de repressao criminal, por excmplo, 20 arrepio do que determina a Lex Excelsa Neste diapasio, as Operagées de Inteligéncia, face da atuagio da Atividade de Inteligéncia de Seguranga Publica, mais (in)visivel ¢ invasiva sé pode scr levada a termo sc hé legitimidade ¢ licitude no bojo desta agio. Assim nao sendo, os dados angariados em sede de Opera- s6es, que dario, por exemplo, palio a parturigio do fucuro elemento probatério, estario maculados, viciados ¢, por via de consequéncia, im- prestaveis & repressao criminal. Com efeito, a Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piiblica hi sempre de ser expressiio de uma atuagiio estatal de prevengio ¢ repressio cri- minais de cstatura legal ¢ constitucional. 28 Revita Brasileira de Cibiciad POU A rrr rs, 0 2. sp. 11-30,janfju 2011, Adriano Mendes Barbosa ADRIANO MENDES BARBOSA Datxcano pz Poricia FEDERAL, MaSTRE EM PoLizican SCIENCE ELA Narat Posrcrapuare Scttoo1. (NPS),CaLtrORNtA, FUA, [REVALIDADO PELA UNIVERSIDADE DE Brastt1a (UNB) como MasTRr at RELAGOES INTERNACIONAIS, PROPESSOR DA ESCOLA SUPERIOR DE Poricta DA ACADEMIA NACIONAL DE POLiciAa DA POLICIA FEDERAL E samen OnIENTADOR DE MONOGRATIAS, CONFERENCISTA.E PALESTRANTE SOURE AS TEMATICAS DO TERRORISMO, INTELIGENCIA PouiciaL E IwvEsTiGacao CrisaNaL; Menno DA ComissA0 Ept ‘TORIAL DA REVISTA BRASILEIRA DE CIENCIAS POLICIALS EMAIL: adrianoambidpfgorbr ABSTRACT The crime is a social phenomenon which is deeply connected with humankind history. However, it comes about by different ways. As a matter of fact, there some factors that highly influence the way that the crime appears in society, like history, culture, geogra- phy, economics, social values and the politics. Hence, there are crime activities which are less complex than others. For instance, one can find predatory crimes that are disonga- nized and are committed in urban spaces by criminals who act by an improvised way with no support, such as pickpocket, burglaries and rapes. On the other hand, there are some kinds of crime activities that are driven by an organized way. This type of cimi- ality is perpetrated by criminal organizations that look for outcomes and put the state under its influence. Drug trafficking, weapon trafficking, bank robbery and kidnap- pings and samples of this kind of criminal endeavor. As a consequence, the state needs 10 be prepared to prevent and to combat all these types of criminality. In this context, to struggle the organized crime the state needs a police apparatus that must be as efficient as possible. Hence, the Police kntelligence comes about as the right tool to be applied in this mission. It can provide support to police operations and investigations in order to defeat organized crime. Keyworps: Crime, Organized Crime. Criminal Prevention. Criminal Repression. Police. Intelligence. Police Intelligence: REFERENCIAS BARBOSA, Adriano M. Criminalidade Predatéria Organizada, Revista Artigo 5°, Ano I, Edigio 2, Maio-Junho de 2008; - Ciclo do Esforco Investigative Criminal, Revista Brasileira de Ciéneias Policiais, Volume 1, Nimero 1, Jan- Jun/2010; Revista Brasdcra de Cite Policass 29) Brasilia ©. 2.m. Lp. 11-30, januen 2011. A Atividade de Inteligéncia de Seguranga Piblica - Investigagio Criminal e sua Gestio Estrategia, no prelo. BIBLIA SAGRADA, Sio Paulo: Sociedade Biblica do Brasil, 1969. BRASIL, Constituicao Federal, 1988. CEPIK, Marco. Espionagem e Democracia: Agilidade e Transparéncia como dilemas na Institucionalizagio de Servicos de Inteligéncia, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. COPI, Irving M. Introdugao a Légica, Sao Paulo: Editora Mestre Jou, 1981. COTTA, Pery. Aristételes, o pai genético do Jornalismo, Comum, V.7, N° 19, Rio de Janciro, 2002. FIGUEREDO, Lucas. Ministério do Siléncio, A Histéria do Servico Secreto Brasileiro de Washington Luis a Lula: 1927 - 2005, Sio Paulo: Editora Record, 2005. GOMES, Rodrigo Carnciro. O Crime Organizado na Visao da Conyengio de Palermo, Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2008. HERMAN, Michael. Intelligence Power in Peace and War, Cambridge: Cambridge University Press, 2010. LUNDE, Paul. Organized Crime: An Inside Guide to the World’s Most Successfull Industry, London: Dorling Kindersley, 2004. SOUZA, Percival. O Sindicato do Crime, PCC e outro grupos, Rio de Janciro: Editora Ediouro, 2006. TZU, Sun. A Arte da Guerra. 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