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Patologia Geral

Brasília-DF.
Elaboração

Amanda Piovesan Ucci

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
Introdução À Patologia................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
Conceito de patologia geral e especial........................................................................... 9

Unidade iI
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos........................................................................... 31

Capítulo 1
Histórico, generalidades e terminologia do processo inflamatório....................... 31

Capítulo 2
Fenômenos básicos e classificações das inflamações............................................... 41

Capítulo 3
Desordens genéticas......................................................................................................... 47

Unidade iII
Distúrbios Circulatórios................................................................................................................. 54

Capítulo 1
Edema e hemorragias........................................................................................................ 54

Capítulo 2
Trombose, embolia e infarto............................................................................................. 72

Capítulo 3
Reparo regenerativo e cicatricial................................................................................... 84

Referências................................................................................................................................... 91
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Patologia é o estudo de alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e
dos órgãos, tanto macroscópica quando microscópica também, é a ciência que estuda
a perda do equilíbrio do organismo. O estudo da patologia permite o diagnostico
de doenças, e, deste modo, a terapêutica adequada. Portanto, a patologia explica os
mecanismos responsáveis pelo surgimento e sintomas das doenças; estuda as reações
do organismo aos estímulos anormais que podem ocorrer nas células e nos tecidos e
possíveis diagnósticos e terapêutica.

Segundo Robbins, o patologista deve ser interessado não somente no reconhecimento


de alterações estruturais, mas também em sua significância, como por exemplo, os
efeitos dessas mudanças nas funções celulares ou teciduais e o efeito dessas alterações
no paciente.

Neste material serão exemplificadas as causas da patologia (etiologia), mecanismos


de ação (patogênese), lesões (se patológicas ou fisiológicas) e alterações fisiológicas
conhecidas.

Portanto, os capítulos desse material irão abordar, de forma objetiva, temas como
alterações do desenvolvimento celular, crescimento e diferenciação das células; tais
quais atrofia, hipertrofia, hiperplasia, hipoplasia, metaplasia, displasia e anaplasia.
Ainda neste tema, aspectos sobre a lesão celular reversível e a lesão irreversível também
serão abordados.

No capítulo 3, mecanismos do processo inflamatório e as células envolvidas nesse


processo também serão estudados.

Também serão abordados os fenômenos básicos da inflamação, incluindo as diferenças


entre a inflamação aguda e a inflamação crônica e os cinco tipos de reações inflamatórias.

Dentro do tema distúrbios circulatórios, aspectos sobre edema e hemorragia serão


estudados. Também será visto questões hemorragia externa e hemorragia interna e
as demais classificações serão estudadas. Ainda dentro de distúrbios circulatórios,
hiperemia e congestão, isquemia, trombose, embolia (tipos de êmbolos e embolias,
tromboembolia) e infarto (incluindo infarto do miocárdio e infarto do pulmão) também
serão alvos dos estudos sobre distúrbios circulatórios.

Por fim, no capítulo 8, reparo regenerativo e cicatricial serão abordados.

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Objetivos
»» Identificar agentes agressores e seus mecanismos de ação (reações
adaptativas, reversíveis ou irreversíveis).

»» Conhecer a origem bioquímica da doença e entender como elas se


desenvolvem no organismo.

»» Estudar as manifestações clínicas das doenças (sinais, sintomas,


diagnóstico, tratamento e prevenção).

»» Compreender o mecanismo de homeostase (equilíbrio fisiológico).

»» Reconhecer e diferenciar as alterações inflamatórias (inflamação aguda,


crônica e reparo).

»» Identificar distúrbios circulatórios.

»» Diferenciar reparo regenerativo e cicatricial.

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Introdução À Unidade I
Patologia

CAPÍTULO 1
Conceito de patologia geral e especial

Ramos da Patologia
Etimologicamente, o termo Patologia significa estudo das doenças (do grego pathos =
doença, sofrimento, e logos = estudo, doutrina). Porém, esse conceito não compreende
todos os aspectos das doenças, pois elas são muito numerosas e poderiam confundir a
Patologia Humana com a Medicina (a qual engloba todos os elementos ou componentes
das doenças, incluindo a sua relação com os doentes). Assim, o conceito de Patologia
abrange a ciência que estuda as causas das doenças, mecanismos responsáveis e
alterações morfológicas e funcionais apresentadas, sendo considerada, deste modo,
uma parte dentro da Medicina. Sendo assim, segue a definição dos termos saúde e
doença:

Saúde

Quando o organismo está adaptado ao ambiente físico, psíquico ou social no meio que
se vive. Também é importante o sentir-se bem sem alterações orgânicas evidentes.

Doença

Quando ocorre a falta de adaptação ao ambiente físico, psíquico ou social, onde o


indivíduo se sinta mal e mostra alterações orgânicas evidenciáveis.

De uma forma mais trivial, o termo Patologia é utilizado para o estudo da doença, o
estudo das alterações estruturais, bioquímicas e funcionais nas células, tecidos e órgãos,
visando explicar os mecanismos por meio dos quais surgem os sinais e sintomas das
doenças. Dentre os agentes causadores de doenças, podemos citar os micro-organismos

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

patogênicos, formas variadas de energia (radiação, calor), privação de proteínas e


influência de fatores genéticos.

O estudo da patologia é tradicionalmente dividido em dois grandes ramos chamados


Patologia Geral e Patologia Especial ou Sistêmica. Abaixo, uma breve descrição de cada
um dos ramos:

Patologia Geral

A patologia geral estuda as causas das doenças, os mecanismos que as produzem, as


características. Está envolvida com as reações básicas das células e tecidos a estímulos
provocados por doenças; é o estudo das reações aos estímulos anormais que ocorrem
em todas as células e tecidos.

Patologia Especial/Sistêmica

Examina as respostas específicas de tecidos e órgãos especializados a uma agressão ou


estímulos definidos, estuda doenças especificas de cada órgão.

Figura 1. Patologia Geral e Patologia Sistêmica.

Fonte disponível em: <https://www.ufrgs.br/patologiageral/o-que-estuda-a-patologia/>.

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

Como visto, a patologia é dividida em dois grandes grupos: a Patologia Geral, que estuda
os aspectos comuns às deferentes doenças no que se refere às causas, mecanismos
patogênicos, lesões estruturais e alterações da função e a Patologia Especial, que se
ocupa das doenças de um determinado órgão ou sistema ou doenças agrupadas por
causas. No entanto, existem outras classificações mais especificas:

Patologia anatômica

A patologia anatômica é responsável pela realização de diagnósticos de diversas doenças


(incluindo o câncer), por meio de estudos realizados ao microscópio utilizando amostras
de células ou tecido, material obtido por aspirações, esfregaços, biopsias e cirurgias.

Patologia clínica

A patologia clínica está relacionada com a execução e interpretação de exames


envolvendo a análise laboratorial de líquidos do corpo, como por exemplo, o sangue, a
urina ou o liquido cerebrospinal, e do tecido corporal para diagnóstico de doença.

Patologia molecular

A patologia molecular foi definida como a aplicação clínica e laboratorial da tecnologia


dos ácidos nucleicos na elucidação, diagnóstico e monitorização de estados patológicos
e na avaliação das condições não patológicas, utilizando técnicas e princípios básicos
do diagnóstico molecular.

Fisiopatologia

Estuda os distúrbios funcionais e significado clínico. A natureza das alterações


morfológicas e sua distribuição nos diferentes tecidos influenciam o funcionamento
normal e determinam as características, o curso e também o prognóstico da doença.

Além destes, existem outros termos que são importantes quando trata-se de doenças:

Etiologia

A etiologia estuda as causas das doenças, ou seja, é o estudo das causas presentes na
patologia. Os agentes etiológicos podem ser:
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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

»» fatores intrínsecos ou genéticos;

»» fatores adquiridos (nutrição, agentes químicos ou agentes físicos,


infecções);

»» combinação de ambos os fatores.

Patogenia

É o processo do estímulo inicial até a expressão morfológica da doença.

Alterações morfológicas

Alterações estruturais em células e tecidos características da doença ou diagnósticas de


processos etiológicos. Essas alterações morfológicas nos órgãos ou tecidos dependem
de sua natureza podem ser macroscópicas ou microscópicas.

Desordens funcionais e manifestações clínicas

São os sinais e sintomas de uma doença. A natureza das alterações morfológicas e


sua distribuição nos diversos órgãos e tecidos influencia a função normal e determina
as características clínicas (sinais e sintomas), curso e prognóstico de uma doença.
Geralmente, as interações célula-célula e célula-matriz contribuem de forma significativa
para a resposta às lesões.

Figura 2. Fluxograma dos conceitos acima.

causa mecanismos alterações morfológicas sinais e sintomas


(etiologia) e funcionais (significado clínico)
(patogenia)
(etiologia)
Fonte disponível em: adaptado de <http://patogeralpunf.wixsite.com/punfuff/introd>.

A patologia estuda as alterações estruturais, bioquímicas e funcionais da célula;


é uma ciência que estuda a perda do equilíbrio do organismo. Esse estudo
permite o diagnóstico de doenças e, consequentemente, a terapêutica
adequada. O estudo é dividido em Patologia Geral e Patologia sistêmica, sendo
que a primeira estuda as reações de células e tecidos aos eventos que não são
específicos a um determinado tecido. A patologia sistêmica trata-se do estudo
de doenças que são específicas para cada órgão.

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

Existem alguns exames na área da patologia que ajudam na detecção de certas doenças.
Os exames podem ser citológicos ou anatomopatológicos.

Exames citológicos
Os exames citológicos ou citopatológicos fazem a análise de células individuais ou de
pequenos grupos de células, descamadas, expelidas ou retiradas da superfície de órgãos
de diferentes partes do organismo. É uma avaliação que não abrange a arquitetura do
tecido, ou seja, não avalia a inter-relação entre as células. É um exame baseado na
análise de células descamadas da mucosa. Através desse exame, é possível a detecção
de atipias celulares antes de seu aparecimento clínico, sendo considerado um exame
complementar com possível detecção de tumores malignos. A amostra de um exame
citológico, em comparação com a biópsia de um tecido, geralmente:

»» sua obtenção é mais fácil;

»» apresenta menos complicações;

»» menos desconfortável ao paciente;

»» resposta diagnóstica rápida (na maioria dos casos);

»» possui menor custo.

No entanto, existem algumas desvantagens. Uma delas, por exemplo, é a precisão:


o exame citopatológico não substitui a biópsia, pois não define o tipo de lesão maligna.
O resultado de uma biópsia de tecido é mais precisa.

Algumas etapas das técnicas citológicas são parecidas com as das técnicas histológicas,
no entanto, com algumas especificidades. No entanto, existem interferências na
qualidade do material quando são diagnosticados e, tanto a coleta de material, fixação,
processamento, coloração e leitura das lâminas citológicas devem ser realizadas de
maneira precisa.

1. Coleta do material - As amostras obtidas para técnicas histológicas


são obtidas de tecidos de provenientes de biópsias e necrópsias. Nas
técnicas citológicas, essa origem é mais diversificada, em que as
amostras são oriundas de secreções (escarro, abcesso e fístula), raspados
(cervicovaginal, bucal, ocular etc.), punções aspirativas por agulha fina
(mama, linfonodos, pulmão etc.), e lavados cavitários (vesiculares,
brônquios e broncoalveolares).

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

De acordo com as características que possuem, as amostras são divididas


em três grupos e chegam ao laboratório da seguinte maneira:

Tabela 1. Divisão e classificação das amostras.

Classificação da amostra Método de coleta Origem da amostra


Colpocitopatologia
Raspagem
Olhos
swab
Lavado brônquico
Lesões cutâneas
Distensão celular Imprint
Biópsias
(esfregaço) ou decalque
Peças cirúrgicas
Sangue
Punção aspirativa Lavado brônquico
Líquor espinhal
Expectoração Escarro
Amostras pastosas Abcessos
Punção ou drenagem
Massas necróticas
Espontânea ou por cateter Urina
Escovação Líquido sinovial
Escovação ou lavado Líquido peritoneal ou ascítico
Líquido pleural
Líquido peritoneal ou ascítico
Amostras líquidas Líquido pericárdio
Lavado brônquico alveolar
Punção
Lavado vesical
Líquido estomacal
Lavado brônquico
Líquido sinovial
Fonte disponível em: adaptado de <http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/capitulo_4_vol2.pdf>.

O tipo de amostra (sólida, líquida ou pastosa) define a forma de coleta e


também o preparo do material.

Lavado – Para esse tipo de coleta, é necessário o auxílio de um cateter


de instilação, contendo uma solução salina, para a lavagem da amostra.
As cavidades do organismo podem ser peritoneal, brônquico (LB),
broncoalveolar (LBA) etc. Normalmente, as amostras de lavado são
pouco celulares.

Distensão celular (esfregaço) – A distensão celular é realizada ao


se distender uma leve camada de fluidos corpóreos sobre uma lâmina de
vidro e posterior análise ao microscópio.

Citologia Esfoliativa/Escovados – A citologia esfoliativa é um


procedimento simples que utiliza células obtidas por meio de esfoliação

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

da superfície de mucosas, utilizando-se uma escova e posterior análise ao


microscópio. A citologia esfoliativa é fundamentada na renovação celular
epitelial constante e sua consequente descamação. Deste modo, por meio
de exame de citologia esfoliativa é possível a detecção de atipias celulares
antes da ocorrência de uma manifestação clinicamente perceptível da
lesão. Sua fidelidade para estudo de tumores malignos está em torno
de 95%, sendo, deste modo, suficientemente confiável para utilização
(SANDLER, 1996). Lembrando que tanto quanto a qualidade do esfregaço
quanto a da biópsia dependem do conhecimento e da habilidade da
pessoa no momento de se obter o material para o exame.

Citologia por decalque (imprint) – Também denominada de


impressões teciduais, durante esse procedimento é colocada à área do
tecido lesionado em contato com a superfície de uma lâmina de vidro, de
maneira a se obter uma impressão digital. As células da superfície da área
lesionada passam para a superfície da lâmina de vidro e, deste modo,
podem ser analisadas ao microscópio.

2. Fixação das amostras – a fixação das amostras tem como objetivo a


preservação da composição química das células e também da morfologia
celular mesmo após a retirada do organismo. A fixação pode ser seca, por
revestimento ou por líquidos fixadores:

›› Fixação seca – A fixação seca utiliza a coloração de May-Grünwald-


Giemsa. O metanol presente na solução é o agente fixador. Esse tipo
de fixação é utilizado para gânglios linfáticos, distensão de células
sanguíneas, imprint de baco etc.

›› Fixação por revestimento – A fixação por revestimento são usadas


nos esfregaços citológicos, sendo que os fixadores são constituídos
de álcool e polietilenoglicol (Carbowax). A fixação das amostras
ocorre pelo gotejamento do fixador ou pulverização. A secagem é
feira a temperatura ambiente (fixação e evaporação do álcool) e o
polietilenoglicol forma uma camada protetora que preserva a amostra.
Antes de corar as amostras é necessário lavá-las em etanol 95% por
10 minutos para remover a película de polietilenoglicol. Dentre os
diversos tipos de protocolos disponíveis, segue um exemplo:

Carbowax em etanol 95%

Etanol 95% ...............................................................95 ml

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Polietilenoglicol 4000 ....................................................5 g

›› Fixação por líquidos fixadores – O etanol 95% é o fixador citológico


universal. Tem ação coagulante, penetra nas células e as desidrata,
intensificando a diferenciação nuclear e citoplasmática após o
procedimento de coloração. Outros fixadores também podem ser
utilizados; os quais variam no tempo de fixação. Alguns deles são:
etanol 50%, metanol, Carnoy, álcool isopropílico 80%, líquido de
Bouin, dentre outros.

3. Processamento das amostras – Para que as amostras não sejam


perdidas, degradadas, o acondimento correto é de extrema importância.
Em primeiro lugar, a amostra deve ser identificada e deve possuir a ficha
de solicitação médica, contendo nome do paciente, idade, natureza da
amostra, data da coleta, tipo de exame requerido e dados clínicos do
médico.

Dependendo da natureza do material, a amostra necessita de


procedimentos específicos. Segue alguns:

›› Distensão celular – A distensão celular, normalmente, chega


fixada em etanol 95%. Quando ela não é realizada pelo clínico
ou cirurgião, a coloração do material é realizada pelo método de
May-Grünwald-Giemsa. Dependendo da amostra, pode ser feita ou não
a fixação durante cinco minutos com metanol. A preparação da amostra
deve ser realizada de maneira a formar uma fina camada de células para
permitir a diferenciação. Quando as distensões são espessas, ocorre a
hipercoração, produzindo artefatos que dificultam a análise.

›› Amostras pastosas – As amostras pastosas precisam ser processadas


antes da análise. Para isso, é utilizada uma placa de Petri de fundo
escuro. A amostra é colocada nela para a seleção de regiões mais
densas, escuras e/ou sanguinolentas. Então, essas áreas são dispostas
sobre uma lâmina de vidro para distender (distensão celular) e obter
uma camada de células. Logo em seguida o material é fixado com
etanol 95%.

›› Amostras líquidas – dependendo do tipo de amostra, essas são as que


têm maior diversidade. As mais utilizadas são:

Líquidos (como a urina, por exemplo), lavados, derrames de cavidades e

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

líquido sinovial podem ser pré-fixados em etanol 50% ou enviados direto


ao laboratório logo após a coleta. No entanto, podem ser conservados a
4°C até o momento do envio. As amostras líquidas são divididas em dois
grupos:

Exsudatos: bastante celulares, escuros e de natureza inflamatória


ou neoplásica.

Transudatos: pouco celulares e de coloração clara.

De acordo com a quantidade de células, as amostras podem ser


processadas por centrifugação ou citocentrifugação.

›› Centrifugação – A centrifugação é preferencialmente usada com


material hipercelular e o tubo pode ou não vir com anticoagulante.
Segue o procedimento disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/
handle/icict/8659>:

·· colocar o líquido em tubos tampados tipo Falcon;

·· centrifugar a amostra por 10 minutos a 1500 rpm;

·· descartar o sobrenadante;

·· aspirar o sedimento utilizando pipeta Pasteur;

·· colocar o sedimento em lâminas limpas;

·· proceder com a distensão celular;

·· secar ao ar e/ou fixar com álcool 95%.

›› Citocentrifugação – por meio da citocentrifugação é possível a


realização de análise citológica com baixa densidade celular. Esse é
um método importante para a concentração de células em suspensão,
podendo ser absorvido por papel absorvente específico. Segue o
procedimento disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/
icict/8659>.pipetar 0,5 ml da amostra no citofunil, previamente
acoplado ao citoclipe, à lâmina e ao papel absorvente;

·· centrifugar por 10 minutos a 1200 rpm;

·· retirar o conjunto e desacoplar a lâmina;

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

·· deixar secar ao ar e/ou logo após fixar em álcool 95% (a secagem


deve ser ao ar se o método for May-Grünwald-Giemsa).

A vantagem desse método é o pouco volume utilizado por lâmina e alta


confiabilidade do resultado.

›› Bloco celular ou cell block – Esse procedimento reúne técnicas


histológicas e patológicas. É utilizado para a obtenção de concentração
celular alta, complementando o diagnóstico. A técnica de bloco celular
ou cell block é utilizada em citodiagnóstico de amostra líquida ou
pastosa.

4. Colorações citológicas – para que a coloração citológica seja de


qualidade, é necessário levar em consideração as características do
corante e realizar de maneira precisa o processamento da amostra e
fixação. A falta de cuidado pode gerar artefatos e prejudicar a análise da
amostra.

Existem várias colorações histológicas que também são usadas na citologia.


Dentre elas os mais utilizados são: May-Gruenwald-Giemsa, mucicarmin
de Mayer, Shorr, Grocott, ácido periódico Schiff (PAS), hematoxilina e
eosina, etc. No entanto, o método mais utilizado é o Papanicolau (Pap).
Esse método possui grande demanda diagnóstica, além da sua coloração
ser empregado no diagnóstico de câncer ginecológico em amostras
colpocitológicas. O método de Papanicolau abrange cinco etapas:

›› Hidratação: as células são submetidas a banhos alcoólicos com


concentrações decrescentes até agua destilada.

›› Coloração nuclear: uso do corante hematoxilina de Harris (possui


afinidade pelo núcleo da célula).

›› Desidratação: retirada de água das células com banhos alcoólicos de


concentrações crescentes.

›› Coloração citoplasmática: uso dos corantes orange G (se combina com


o citoplasma de células queratinizadas) e EA-65 (oferece tonalidades
de cores diferentes no citoplasma).

›› Desidratação, clarificação e selagem: retirada da água (por meio de


concentrações crescentes de álcool) e uso de meios hidrofóbicos.

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

A sequência do método de Papanicolau está descrita no manual de


procedimentos da Fiocruz disponível em <http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/
default/files/capitulo_4_vol2.pdf>.

Para se aprofundar mais sobre as técnicas citológicas: Junqueira, L. C. U.;


Junqueira, L. M. M. S. Técnicas básicas de citologia e histologia. São Paulo,
Ed. Santos, 1983.

Exames anatomopatológicos
Os exames anatomopatológicos são divididos em biópsia e necropsia.

Biópsia

Biópsia é um fragmento de tecido retirado de um paciente vivo. Trata-se de um


procedimento cirúrgico e consiste no principal recurso dermatológico em busca do
diagnóstico. A biópsia é realizada quando apenas o diagnóstico clínico não é possível.
Assim, o fragmento de tecido que foi retirado é submetido aos exames histopatológicos
ou outros métodos para a confirmação.

A análise pode ser feita com fragmentos e, dependendo do caso, com peças cirúrgicas
inteiras, desde que removidas do indivíduo vivo. A amostra precisa ser representativa e
fixada em formol 10%, em frasco com volume 10:1. A biópsia possui alguns tipos:

1. Incisional – A biópsia incisional remove apenas uma região da lesão. Esse


tipo de biópsia é indicado quando a lesão é extensão e, consequentemente
a retirada não é viável, necessária ou desejável. Nunca é curativa.

2. Excisional – A biópsia excisional remove toda a lesão. Quando a lesão é


benigna, ela é curativa. No entanto, se a lesão for maligna, só é curativa
quando não há metástase e a realização é feita com margem de segurança.

3. Interna – é realizada por incisão, punção ou endoscopia.

4. Externa – a biópsia externa é realizada quando a lesão é superficial.

5. Perioperatória – são realizadas durante uma cirurgia.

6. Aspiração – nesse tipo de biópsia o material é aspirado utilizando uma


seringa ou instrumento semelhante.

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Necrópsia

A necrópsia é realizada post mortem com o objetivo de se detectar a causa da morte.


A necropsia busca relacionar dados morfológicos e clínicos para determinar as doenças
e lesões do indivíduo.

Manifestações celulares à agressão


O ambiente em que vivemos pode apresentar diversas variações como, por exemplo, a
temperatura, umidade e pressão atmosférica. No entanto, o ambiente celular apresenta
poucas alterações. Isso ocorre devido a homeostase, ou seja, mecanismos responsáveis
pela proteção e regulação das atividades vitais. Assim, as células do nosso organismo
tendem a ser mantidas em condições constantes em relação à temperatura, irrigação
sanguínea, oxigenação e suprimento de energia para conseguir manter a homeostase.
Pequenos desvios destas condições podem ser tolerados e, dependendo do tipo celular
atingido, esses desvios podem ser tolerados por tempo variável e sem prejuízo da
função ou alterações estruturais celulares. Porém, se a mudança nas condições citadas
acima forem mais intensas ou mais duradouras, podem ocorrerem alguns mecanismos
de alterações adaptativas como hipertrofia, atrofia e hiperplasia (alterações do
desenvolvimento, crescimento e diferenciação celular).

A agressão celular ocorre quando as células estão submetidas a um conjunto de


estímulos diferentes os quais comprometem o desempenho de uma função celular
ou, eventualmente, a sua própria viabilidade. Quando uma célula sofre uma agressão
ela pode responder de três maneiras diferentes: adaptação, lesão reversível e lesão
irreversível (os quais serão explicados posteriormente).

Alterações do desenvolvimento, crescimento e


diferenciação celular
Há diversas morfologias nas alterações de crescimento celular. Nelas, as modificações
(alterações no peso ou volume) recebem as seguintes nomenclaturas:

Atrofia

Atrofia é a diminuição do volume de um órgão ou de parte dele depois que estes já


estão formados, ou seja, depois que atingiram a idade adulta. Essa redução volumétrica
do órgão ou do tecido, devido à redução do volume celular, pode ser patológica ou
fisiológica, cujas causas são:

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Introdução À Patologia │ UNIDADE I

»» diminuição da carga de trabalho ou desuso do órgão (por exemplo em


indivíduos que estão mobilizados por bastante tempo – parte gessada ou
com tala);

»» diminuição do suprimento sanguíneo (isquemia) (redução do cérebro


– aterosclerose carótida, redução do rim – aterosclerose das artérias
renais);

»» nutrição inadequada (ausência, privação ou deficiência). A redução da


oferta alimentar pode causar inanição, que ocorre na seguinte ordem:
tecido gorduroso, músculos, tecido linfoide, pele, glândulas, ossos,
pulmões, coração e cérebro. Um exemplo desta nutrição inadequada é a
anorexia;

»» perda da inervação;

»» perda da estimulação endócrina (pode ser central – hipofisária, pode ser


ovariana);

»» envelhecimento (redução volumétrica orgânica – cérebro, ossos,


mucosas);

»» compressão (compressão mecânica e vascular sobre um tecido ou órgão,


como por exemplo, a atrofia cerebral – hidrocefalia –, cálculos na vesícula
– atrofia de parede).

Figura 3. Tipos de atrofias.

Fonte disponível em: adaptado de <http://ajudanerdbio.blogspot.com.br/2014/09/adaptacoes-celulares-atrofia.html>.

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UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Hipertrofia

Hipertrofia é o aumento do volume de um órgão ou tecido devido ao aumento individual


do tamanho da célula, sem alteração no número. A hipertrofia é causada por um excesso
de nutrição e aporte de oxigênio no tecidos, podendo ser patológica ou fisiológica.
Um exemplo de hipertrofia fisiológica é o aumento do volume o útero durante a gestação.
Exemplos de hipertrofia patológica são:

»» hipertrofia do miocárdio ─ coração sobrecarregado;

»» hipertrofia da musculatura lisa ─ bexiga, obstrução na uretra;

»» hipertrofia na musculatura esquelética ─ hipertrofia do musculo lombar,


problemas na coluna vertebral;

»» hipertrofia de hepatócitos;

»» hipertrofia de células nervosas ─ hipertrofia de plexos mioentéricos.

Figura 4. Hipertrofia cardíaca.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.nanocell.org.br/o-que-e-hipertensao-5o-capitulo-qual-a-diferenca-entre-


hipertrofia-cardiaca-e-hipertensao/>.

Hiperplasia

Hiperplasia é o aumento do número de células parenquimatosas, as quais mantêm tanto


o tamanho quanto as funções normais. No entanto, o tecido ou órgão com hiperplasia
possui seu volume e função aumentados. A hiperplasia ocorre em órgãos com capacidade
replicativa e é um processo reversível. Ela também pode ser fisiológica, como o útero
na gestação, mamas na lactação, ou patológica. As patológicas são secundárias à

22
Introdução À Patologia │ UNIDADE I

hiperestimulação hormonal, como a Síndrome de Cushing, produção excessiva de TSH,


hipertiroidismo. Também pode ocorrer em papilomas, pólipos e inflamações.

Hipoplasia

Hipoplasia é a diminuição do volume de um órgão ou tecido causado pela redução do


número de células. Vários motivos podem causar a hipoplasia. Um exemplo é a má
formação e o mau desenvolvimento do feto no útero. As ações também são patológicas
ou fisiológicas. Durante a embriogênese, a hipoplasia pode provocar algum defeito
na formação de um órgão ou parte dele. Um exemplo é a do tipo renal e pulmonar.
Depois do nascimento, a diferenciação celular é consequência da diminuição do ritmo
de renovação celular, do aumento da distribuição das mesmas ou devidas as duas
condições. A hipoplasia fisiológica pode causa a involução do timo a partir da puberdade,
das gônadas no climatério e da senilidade (junto à hipotrofia). A hipoplasia patológica
pode causar a redução dos órgãos linfoides na AIDS/SIDA e anemias hipoplásicas
(aplásicas).

Metaplasia

A metaplasia é uma alteração reversível na qual um tipo celular diferenciado


(epitelial ou mesenquimal), é substituído por outro tipo celular de mesma linhagem
(ROBBINS; COTRAN, 2005). A metaplasia também pode representar uma
substituição adaptativa das células que são sensíveis ao estresse por tipos celulares
mais bem preparados para suportar o ambiente adverso, pois o tecido metaplásico é
mais resistente às agressões.

A metaplasia de epitélio colunar para epitélio escamoso é o tipo mais comum. Um


exemplo é aquela que ocorre no trato respiratório em resposta a irritantes crônicos.
As células metaplásicas escamosas do trato respiratório são capazes de sobreviver,
mecanismo de proteção importante. No entanto, a secreção do muco é perdida. Na
metaplasia escamosa do colo uterino, o epitélio colunar é substituído ou transformado
em epitélio escamoso estratificado (maduro ou imaturo). É uma resposta comum a
irritantes, que está presente em quase todos os colos uterinos e se localiza na zona
de transformação e não é considerada uma condição pré-maligna. Em todos esses
exemplos, o epitélio escamoso estratificado mais resistente é capaz de sobreviver sob
circunstâncias nas quais o epitélio especializado mais frágil teria, provavelmente,
sucumbido.

23
UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Displasia
A displasia é um “distúrbio na formação”. Pode ser considerada como o principal
marcador biológico preditivo de evolução para adenocarcinoma. Portanto, identificar e
graduar a displasia constitui importante questão na prática diagnóstica. A displasia pode
afetar um órgão (Anatomia Patológica) ou um tecido (Histopatologia). Quando afeta um
órgão, envolve diversos distúrbios do desenvolvimento e crescimento. Normalmente,
os processos são regressivos e podem estar ligados a condições genéticas. Quando a
displasia afeta um tecido, ela abrange erros locais do desenvolvimento.

Anaplasia
Anaplasia refere-se à falta de diferenciação de células neoplásicas, ao retrocesso da
formação. Na definição clássica, anaplasia era a transformação de um tecido diferenciado
em um indiferenciado (como exemplo, a reversão de células adultas para a sua forma
embrionária, com aumento da capacidade de multiplicação celular, o que é comum em
neoplasias malignas). A anaplasia celular possui algumas características:

»» pleomorfismo (variação no tamanho e forma);

»» morfologia nuclear anormal, como hipercromatismo, contorno nuclear


irregular e um aumento nuclear (relação citoplasmática, cromatina
grosseira e nucleoide);

»» mitoses (numerosas e anormais);

»» perda da polaridade (interrupção da orientação celular, perda da


arquitetura e organização) e;

»» outras coisas: células tumorais enormes, necrose isquêmica (a partir de


células tumorais que ultrapassam o suprimento de sangue).

A Patogenia é o estudo do desenvolvimento da doença, isto é a reação celular e tecidual


frente ao agente etiológico, contemplando do estimulo inicial até à manifestação
final da doença. O conjunto de alterações morfológicas, moleculares e/ou funcionais
que surgem de células e tecidos afetados após uma agressão é chamado de lesão ou
processo patológico. Assim, as lesões podem ser classificadas como:

»» lesão celular (letal ou não letal / reversível ou irreversível);

»» lesão no interstício (matriz extracelular);

»» lesão na circulação;

»» lesão na inervação.

24
Introdução À Patologia │ UNIDADE I

Lesão celular
Diversos fatores podem acarretar na agressão celular. As lesões podem ser causadas
tanto por fatores físicos externos (como acidentes automobilísticos, por exemplo) como
por causas endógenas que podem resultar na alteração metabólica). Os principais
estímulos que são nocivos estão descritos abaixo:

Agentes físicos
Compreendem os traumas mecânicos, temperaturas extremas (tanto de frio intenso
quanto calor – queimaduras), mudanças bruscas na pressão atmosférica, radiação,
choque térmico, choque elétrico (desequilíbrio dos potenciais de membrana) etc.

Agentes químicos
Substâncias químicas em concentrações hipertônicas, venenos, poluentes, drogas
terapêuticas e não terapêuticas.

Alterações imunológicas
Doenças autoimunes, reação anafilática.

Distúrbios genéticos
Erros inatos do metabolismo, alterações genicas, genômicas e cromossomais.

Distúrbios nutricionais
Estes são considerados a maior causa de lesão celular. Os principais distúrbios são
provocados pela desnutrição, excesso de lipídeos (aterosclerose), obesidade, anorexia,
deficiência de vitaminas.

Isquemia
Obstrução arterial.

Hipóxia
Carência de oxigênio nos tecidos orgânicos – causa lesão celular por conta da redução
da respiração aeróbica. Difere da isquemia por ainda possuir suprimento nutritivo
sanguíneo, exceto do oxigênio.

25
UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Envelhecimento

A senescência celular pode acarretar em reduções na habilidade de replicação e reparo


celular e tecidual.

Além disso, os mecanismos de lesão podem ser avaliados em três princípios:

1. A resposta celular pode depender do tipo de agressão, da duração e da


intensidade da agressão.

2. As consequências resultantes da agressão podem depender do tipo de


célula e do estado de adaptação da célula agredida.

3. As lesões podem causar alterações tanto bioquímicas quando funcionais


em um ou mais componentes celulares.

Quando uma célula sofre uma agressão ela pode responder de três maneiras
diferentes: adaptação, lesão reversível e lesão irreversível (os quais serão explicados
posteriormente).

Figura 5. Respostas de uma agressão celular.

Célula normal
(homeostase)
Stress Estímulo de lesão

Adaptação Lesão celular


Inabilidade de
adaptação

Lesão celular Alterações


reversível subcelulares

Ponto de irreversibilidade

Apoptose Necrose

Fonte: Adaptado de Kumar et al, 2008.

Adaptação celular

Diversos fatores podem causar lesões celulares. Apesar da tentativa do corpo humano
para manter o equilíbrio (homeostase), algumas células podem ser vítimas de algum

26
Introdução À Patologia │ UNIDADE I

tipo de estresse ou demanda física e, portanto, serem modificadas. Esse processo é


determinado de adaptação celular. A adaptação celular ocorre quando as células sofrem
metaplasia, ou seja, conversão do tipo celular. Por exemplo: um indivíduo normal
começa a frequentar uma academia para realizar exercícios físicos e alimentar-se de
maneira saudável. Este novo hábito provoca uma adaptação no corpo do indivíduo para
que ele se adapte ao novo estilo de vida. As fibras musculares são submetidas a uma
demanda de trabalho maior e assim começam a se modificar. Neste caso específico,
para ocorrer à adaptação celular, há um aumento do metabolismo sem causar lesão, ou
seja, ocorrência da metaplasia.

Lesão reversível

A lesão reversível ocorre quando a célula é agredida por um estimulo nocivo e,


consequentemente sofre algumas alterações funcionais e morfológicas. No entanto,
apesar dessas alterações, a célula é capaz de se manter viva e consegue se recuperar
quando o estimulo nocivo cessa ou é retirado. Nesses estágios, mesmo que ocorra
anomalias estruturais e funcionais graves, a lesão não avança a ponto de resultar na
morte celular. Pode-se citar como exemplo a tumefação celular (edema) e a degeneração
gordurosa.

Lesão irreversível

Quando a lesão é irreversível, a célula não é capaz de se recuperar mesmo quando a


agressão é cessada ou retirada, culminado na morte celular. Um exemplo é a exposição
ao sol por várias horas sem nenhuma proteção. Depois desse tempo, mesmo que o
indivíduo saia do sol, ou seja, mesmo que ele retire o estímulo, horas depois ou no
dia seguinte aparecerão bolhas ou outras complicações. Isso significa que mesmo
que a agressão tenha sido retirada, as células foram atingidas junto com o ponto de
irreversibilidade. A morte celular pode seguir por dois mecanismos possíveis: necrose
e apoptose.

Necrose

Necrose é o processo de morte celular, morte de um tecido ou parte dele em um


organismo vivo seguida de autólise. É um processo patológico e desordenado causado
por fatores que levam à lesão celular irreversível e, consequentemente, a morte celular.
A necrose é considerada o “ponto final” das alterações celulares, uma consequência de
inflamações, processos degenerativos e infiltrativas e de muitas alterações circulatórias.
Trata-se da degradação progressiva das estruturas celulares sempre que existam

27
UNIDADE I │ Introdução À Patologia

agressões severas (VASCONCELOS, 2000). Autólise, por sua vez, é a degradação


enzimática dos componentes da célula por enzimas da própria célula liberada pelos
lisossomos.

A necrose acarreta no desaparecimento total do núcleo e também da própria célula. Esse


processo, por sua vez, é precedido de alterações celulares estruturais graves. O processo
de necrose pode culminar na cicatrização total – isso ocorre por conta da proliferação
do tecido conjuntivo-vascular – ou pode gerar ulcerações que são permanentes ou
recorrente. Além disso, processos necróticos maiores podem se tornar encapsulados
pelo tecido conjuntivo que os envolve (disponível em: <abc.med.br>). As alterações
causadas pela necrose podem ser inicialmente vistas ao microscópio eletrônico,
posteriormente ao microscópio ótico e finalmente a olho nu.

Existem vários tipos de necrose. Alguns deles são:

»» Necrose de coagulação ou isquemia ─ ocorre devido a uma hipóxia


ou isquemia em qualquer tecido, exceto o tecido cerebral (sofre necrose
por liquefação). Ela é acarretada pela desnaturação das proteínas celulares
autolíticas (célula não é destruída e o tecido é mantido durante alguns
dias, até que ocorra a digestão e remoção da necrose). É caracterizada
pela perda de nitidez dos elementos nucleares e manutenção do contorno
celular por permanecer proteínas coagulativas no citoplasma sem que
haja rompimento da membrana celular. Um exemplo é o infarto de
miocárdio (CORRÊA, 2000).

»» Necrose de liquefação ─ causada por infecção por agentes biológicos,


isquemia ou hipóxia no tecido cerebral. A lesão e morte celular são
causadas por toxinas produzidas por micro-organismos infecciosos ou por
processo inflamatório. As células mortas sofrem fagocitose e são digeridas.
Por fim, a digestão do tecido necrosado resulta da transformação de uma
massa amorfa, muitas vezes contendo pus.

»» Necrose fibrinoide – o tecido necrótico adquire aspecto semelhante


à fibrina (róseo e vítreo). Ocorre em algumas doenças autoimunes e na
hipertensão arterial maligna.

»» Necrose gangrenosa – é uma forma de necrose isquêmica em que o


tecido necrótico sofre modificações por agentes do ar ou bactérias. Um
exemplo é o cordão umbilical que, após o nascimento, torna-se negro e
seco (CORRÊA, 2000).

28
Introdução À Patologia │ UNIDADE I

»» Necrose hemorrágica – quando há presença de hemorragia no tecido


necrosado; essa hemorragia às vezes pode complicar a eliminação do
tecido necrótico pelo organismo (CORRÊA, 2000).

»» Necrose enzimática – ocorre quando há liberação de enzimas nos


tecidos. A forma mais observada é a do tipo gordurosa, principalmente no
pâncreas, quando pode ocorrer liberação de lipases, as quais desintegram
a gordura dos adipócitos desse órgão (CORRÊA, 2000).

Apoptose

Diferente da necrose, a apoptose, é conhecida como Morte Celular Programada, ou seja,


um tipo de autodestruição celular não acidental. É um processo que requer energia e
síntese proteica para que possa ocorrer, além de estar relacionado com a homeostase na
regulação fisiológica dos tecidos. A morte celular ocorre individualmente, sendo que a
morte de uma célula não leva à morte de outras células. É um mecanismo rigidamente
controlado por expressões genéticas decorrentes da interação célula e meio externo,
levando à produção de várias moléculas com atividades específicas que resultam
em alterações celulares funcionais expressas morfologicamente por condensação
e fragmentação da cromatina e formação de protuberâncias na superfície celular
(ISRAELS; ISRAELS, 1999).

Apoptose é um programa de morte celular regulado e eficiente. Para sua ocorrência é


requerido à interação de diversos fatores, alterações morfológicas observadas em uma
cascata de eventos bioquímicos e moleculares.

O processo de apoptose é considerado um mecanismo celular fundamental, pois possui


papel essencial na manutenção da homeostase tecidual. Além disso, ela ocorre nas
mais diversas situações, como, exemplo, na organogênese e hematopoiese normal e
patologoca, atrofia dos órgãos, câncer, resposta inflamatória, eliminação de células
após danos.

Enquanto a necrose é sempre considerada um processo patológico, a apoptose atua em


diversas funções normais e não está necessariamente associada com o dano de uma
célula. A tabela a seguir, mostra algumas características que diferenciam a necrose da
apoptose.

29
UNIDADE I │ Introdução À Patologia

Tabela 2. Necrose X Apoptose.

Característica Necrose Apoptose


Tamanho celular Ampliada (inchada) Reduzida
Núcleo Cariocinese Fragmentação em nucleossomos.
Intacta, estrutura alterada, orientação de
Membrana plasmática Interrompida
lipídeos.
Intacto, pode ser liberado em corpos
Conteúdo celular Digestão enzimática: pode sair da célula
apoptóticos.
Inflamação adjacente Frequente Não.
Frequentemente fisiológico, meios de
eliminação indesejado, pode ser patológico
Função fisiológica ou patológica Patológico (resulta em prejuízo irreversível)
em algumas formas de célula danificada,
especialmente dano no DNA.
Fonte: adaptado de Robbins e Cotran, 2015.

30
Processo
Inflamatório Unidade iI
e Distúrbios
Genéticos

Capítulo 1
Histórico, generalidades e terminologia
do processo inflamatório

A inflamação ocorre no tecido conjuntivo vascularizado, inclusive no plasma,


nas células circulantes, nos vasos sanguíneos e componentes extravasculares.

Resumidamente, inflamação é uma rápida resposta aos agentes agressores mandando


mediadores de defesa (exemplo, leucócitos e as proteínas plasmáticas) para o local
da injúria, sendo observada no homem e também em animais domésticos. Ela pode
ser causada por agentes de natureza física (radiações), química (tóxicos), ou biológica
(vírus), tendo origem fora ou dentro do organismo (antígenos estranhos e os próprios
processos autoimunes).

Há poucos relatos sobre o processo inflamatório na Idade Média. A primeira referência


sobre processo inflamatórios na literatura ocorreu no livro do médico John Hunter,
em 1794. O médico que atuava no Hospital São Bartolomeu, em Londres, afirmou
que a “a inflamação em si mesma não deve ser considerada uma enfermidade, mas
sim uma condição saudável, consequência de alguma violência ou padecimento”.
Posteriormente, na segunda metade do século XIX, o processo inflamatório teve
importantes avanços que contaram com os patologistas alemães Virchow, Conheim,
Arnold, Ziegler e com o naturalista russo Metchnikoff. Paul Ehrlich, bacteriologista
alemão, notável por seus estudos do sistema imunológico e seu método de tratamento
da sífilis e por ter transformado a quimioterapia em um ramo eficaz da medicina, nessa
mesma época, lançou a teoria humoral da resposta imune. Por conta desse trabalho,
Paul Ehrlich dividiu o Prêmio Nobel de Medicina em 1906, juntamente com o biólogo
Mechnikoff.

31
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

Também vale salientar a Tríplice Reação/Resposta de Lewis (ID), considerada até os


dias de hoje como o modelo clássico para explicar alterações vasculares causadas na
inflamação. Nesse estudo, Lewis observou que a pele humana apresentava três respostas
quando recebia aplicação de injeção subcutânea, as quais eram caracterizadas pelas
seguintes observações:

1. observação de um eritema de poucos milímetros, determinado de


eritema primário, ao redor do local de aplicação. Isso ocorre devido
à ação dilatadora da histamina sobre os vasos de pequeno calibre –
vasodilatador direto (arteríolas);

2. vermelhidão ao redor da aplicação, com contornos irregulares,


determinado de eritema secundário. Isso ocorre devido à vasodilatação
reflexa dos pequenos vasos da pele – reflexo axonais, indireto;

3. edema, aumento do volume localizado, devido ao aumento da


permeabilidade vascular (vênulas) e transdução de água e eletrólitos dos
capilares.

Nessas provas, Lewis detectou que havia variações tanto de intensidade quanto de
duração destes fenômenos de indivíduo para indivíduo.

As três fases que caracterizam a tríplice reação de Lewis também é útil para o diagnóstico
da hanseníase, doença causada pelo Mycobacterium leprae, comum em várias regiões
do mundo. Para essa detecção, a prova da histamina vem sendo usada como alternativa
para elucidação de casos de hanseníase. Esse é um teste aplicado no diagnóstico de
lepra cutânea, sendo que nessa prova é aplicada uma gota de solução de histamina na
mancha considerada suspeita de hanseníase. Na sequência, a pele deve ser escarificada
com uma agulha estéril (sem que haja sangramento) nos pontos em que as gotas de
histamina foram aplicadas. Na pele normal, em minutos ou até mesmo segundos
aparecerá a tríplice reação de Lewis – resposta fisiologia da pele quando submetida
a uma irritação com histamina. Já na pele comprometida pela hanseníase, a segunda
fase da reação não ocorre devido ao acometimento do bacilo da hanseníase nos filetes
nervosos da pele.

Histamina
A histamina (C5H9N3) é um dos principais mediadores químicos envolvidos na
resposta inflamatória, anafilática e na resposta alérgica. Possui ação vasodilatadora
nos processos de resposta inflamatória e é sintetizada e liberada por diferentes células

32
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

humanas, especialmente basófilos, plaquetas, mastócitos, neurônios histaminérgicos,


linfócitos e células enterocromafínicas e são estocadas em vesículas ou grânulos
liberados sob estimulação. A histamina é um potente mediador de numerosas reações
fisiológicas. A mediação dos efeitos da histamina é realizada pela ligação com quatro
subtipos de receptores: (HR)1, HR2, HR3 e HR4. A tabela 2 mostra as especificidades
de cada um desses receptores:

Tabela 3. Diferentes receptores da histamina.

Receptor de Expressão em células/tecidos Sinais intracelulares de Proteínas G


histamina ativação
HR1 Células neurais, músculo liso, vascular e vias aéreas, Principal sinalizador: aumento do Gq/11 Gq/11
endoletlio, hepatócitos, células epiteliais, neutrófilos, eosinófilos, Ca2+. Outros: PhLC, PhLD, GMPc, PhLA,
dendrócitos, monócitos, LT e LB. NFkB.
HR2 Células neurais, músculo liso vascular e vias aéreas, endotélio, Principal sinalizador: aumento do AMPc. G±S
hepatócitos, condrócitos, células epiteliais, neutrófilos, Outros: adenilclicase, c-Fos, c-jun, PKC,
eosinófilos, dendrócitos. p70S6K.
HR3 Neurônios histaminérgicos, eosinófilos, dendrócitos, monócitos, Principal sinalizador: inibição do AMPc. Gi/o
baixa expressão nos tecidos periféricos. Inibe a liberação e Outros: aumento do Ca2+, MAP kinase.
síntese da histamina.
HR4 Alta expressão na medula óssea e células hematopoiéticas Aumento do Ca2+, inibição do AMPc . Gi/o
periféricas, eos., neutrófilos, dendrócitos, LT, basófilos,
mastócitos; baixa expressão em tecidos periféricos, hepatócitos,
baço, timo, pulmões, intestino e coração. Estimula quimiotaxia
de eosinófilos e mastócitos.
Eos., eosinófilo; LB, linfócito B; LT, linfócito T; PKC, proteína quinase C; AMPc, adenosina monofosfato cíclico; PhLC, fosfolipase C; PhLD, fosfolipase D;
PhLA, fosfolipase A; NFkB, fator nuclear de transcrição kappa.
Fonte: Adaptado de Jutel et. al, 2005.

A resposta inflamatória não é específica, no entanto, ela ocorre de maneira padronizada


em qualquer que seja o estímulo recebido. Além disso, ela pode ser reprodutível para
provocações ulteriores. A inflamação depende menos da natureza do estímulo do que
da maneira como o organismo mobiliza suas defesas.

A inflamação acontece com o objetivo de realizar algumas funções:

»» matar micro-organismos;

»» coordenar reações imunitárias;

»» eliminar células lesadas,

»» restaurar tecidos e;

»» restaurar a função normal.

Como visto, durante o processo inflamatório, a permeabilidade vascular e o fluxo


sanguíneo em direção ao local da inflamação aumentam. Assim, como ocorre a dilatação

33
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

dos vasos sanguíneos, a temperatura e a exsudação aumentam, uma vez que houve
uma elevação da pressão hidrostática nos capilares acarretando em edema. Devido
à liberação de água e proteínas (exsudato) pelo sangue, a concentração de hemácias
aumenta e, devido à estagnação dos eritrócitos, ocorre uma congestão vascular que causa
o eritema (rubor). Durante todo esse processo existem vários mediadores químicos que
estão associados com a dor. E, quando a resposta inflamatória não é capaz de recuperar
a lesão causada, as células lesionadas podem perder a sua função. A liberação, ativação
ou sínteses desses mediadores determinam uma série de alterações locais.

Existem dois tipos de mediadores: mediadores derivados de células e mediadores


derivados do plasma (estes são sintetizados pelo fígado), os outros são liberados por
exocitose granular. A seguir, a tabela mostra resumidamente os tipos de mediadores.

Tabela 4. Mediadores derivados de células.

Mediador Principais Fontes Ações


Vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular,
Histamina Mastócitos, basófilos, plaquetas
ativação endotelial.
Serotonina Mastócitos, leucócitos Vasodilatação, dor, febre.
Aumento da permeabilidade vascular, quimiotaxia, adesão e
Leucotrienos Mastócitos, leucócitos
ativação dos leucócitos.
Vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular,
Fator ativador de plaquetas Mastócitos, leucócitos quimiotaxia, adesão e ativação dos leucócitos,
desgranulação, surto oxidativo.
Espécies reativas de oxigênio Leucócitos Extinção de micróbios, dano tecidual.
Relaxamento da musculatura lisa vascular, extinção de
Óxido nítrico Endotélio, macrófagos
micróbios.
Macrófagos, células endoteliais, Quimiotaxia, ativação dos macrófagos.
Citocininas (TNF e IL-1)
mastócitos
Quimiocinas Leucócitos, macrófagos ativados Quimiotaxia, ativação dos macrófagos.
Fonte: adaptado de Robbins e Cotran, 2015.

Tabela 5. Mediadores derivados do plasma.

Produtos do complemento Principais Fontes Quimiotaxia e ativação de leucócitos, vasodilatação.


Aumento da permeabilidade vascular, contração da musculatura lisa,
Cininas Plasma
vasodilatação e dor.
Protease ativada a coagulação Plasma Ativação endotelial, recrutamento de leucócitos.
Fonte: adaptado de Robbins e Cotran, 2015.

A inflamação possui algumas fases:

»» Fase 1: inflamação aguda (resposta vascular e celular, quando dominam


os granulócitos);

»» Fase 2: inflamação crônica (proliferação, quando dominam os monócitos);

»» Fase 3: formação de granuloma;

»» Fase 4: cura/cicatrização.

34
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

Edema é um excesso de líquido no interstício, pode ser um exsudato ou um


transudato.

Transudato é um líquido com baixo teor proteico, não decorre de um desequilíbrio


na permeabilidade.

O pus ou exsudato purulento é um exsudato inflamatório rico em leucócitos e


restos celulares.

Existem algumas células que normalmente estão envolvidas no processo inflamatório.


São elas:

Macrófagos
Os macrófagos são células mononucleadas derivadas do monócito, que é um tipo de
leucócito. Os monócitos são circulantes (saem do sangue e atravessam a parede dos vasos
sanguíneos) e, no tecido conjuntivo, se transformam em macrófagos, sendo atraídos por
mecanismos de quimiotaxia. São células esféricas, grandes, aderentes e possuem função
primária de fagocitar partículas, patógenos e debris celulares. Quando ativados, podem
alterar suas características aumentando: tamanho, número de grânulos, quantidade de
retículo endoplasmático granular, aderência ao vidro, capacidade de fagocitose. Quando
ocorre um dano no tecido ou uma invasão microbiana, os macrófagos são uma das
primeiras células a reconhecer e apresentar o antígeno da resposta imune adaptativa.
Essas células mononucleares são “fagócitos profissionais” com ampla variedade de
antígenos para s sua ação.

Durante o processo inflamatório, os macrófagos potencializam as repostas de células


T e B através da expressão de moléculas coestimulatórios e liberação de citocinas
pró-inflamatórias, como por exemplo IL-1, IL-6, IL-12 e TNF-a e outras citocinas e
quimiocinas importantes.

Figura 6. Macrófagos.

Fonte disponível em: adaptado de <https://www.cancer.gov/espanol/publicaciones/diccionario?cdrid=44054>.

35
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

Neutrófilos
Os neutrófilos, junto com os macrófagos, são as principais células fagocitárias do
organismo, importantes na digestão de agentes estranhos. São polimorfonucleares com
núcleo segmentado (de 3 a 5 lóbulos), contendo grânulos no citoplasma. Atuam nas
fases precoces da resposta inflamatória e são as primeiras células a alcançarem a área da
reação inflamatória por meio da migração desencadeada por quimiocinas e medidores
inflamatórios (IL-8 e INF-g) liberados por células endoteliais ativas (macrófagos e
mastócitos) e pelos produtos C3a e C5a do complemento. Quando o micro-organismo
ou a partícula estranha é fagocitada, é mantido dentro do fagossomo que se funde
com o lisossomo (rico em enzimas oxidativas e proteolíticas). Essa fusão resulta no
fagolisossomo, onde ocorre a destruição do micro-organismo. Portanto, os neutrófilos
são granulócitos típicos de fenômenos agudos da inflamação. Estão presentes nessa fase
pelo seu alto potencial de diapedese e rápida velocidade de migração. Como possuem
ação fagocítica, se mortos, podem provocar necrose do tecido devido à liberação de suas
enzimas lisossômicas.

São produzidos e armazenados na medula óssea e seus valores de referência são de 40 a


80%, o que corresponde a 1800-8000/mm3. A neutrofilia, ou seja, o valor de neutrófilos
alto, pode ocorrer em casos de estresse, uso de determinados medicamentos, exercício
físico exagerado, infecções, diabetes, inflamações, anemia hemolítica, hemorragia,
câncer, queimaduras, entre outros. A neutropenia, ou seja, neutrófilos em baixa
concentração, ocorre em situações de leucemia, hipotireoidismo, cirrose, entre outras
causas.

Figura 7. Neutrófilos.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.minutobiomedicina.com.br/postagens/2014/06/19/neutrofilos/>.

Mastócitos
Os mastócitos são células mononucleares teciduais derivados de células da medula
óssea. Os progenitores migram pela corrente sanguínea e se diferenciam nos tecidos

36
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

alvos. Essa diferenciação está relacionada com as características particulares dos


microambientes (KITAMURA et al, 1987).

Diversos estímulos induzem os mastócitos a liberarem mediadores ativos, como, por


exemplo, a interação de antígenos específicos com seus receptores sintetizados durante a
ativação do complemento. Esses mediadores são capazes de aumentar a permeabilidade
vascular e induzir a expressão de moléculas de adesão. Os mediadores pré-formados
incluem a histamina, serotonina, proteinases e proteoglicanos e neofirmados mediadores
químicos. Além disso, os mastócitos também sintetizam diversas interleucinas e fatores
de crescimento, tais quais: fator de crescimento de fibriblastos, TNF-a (Tumor Necrosis
Factor), SCF (Stem Cell Factor), CSF (Granulocyte-Macrophage Colony-Stimulating
Factor) e IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-13, IL-14 e IL-16.

Figura 8. Mastócitos.

Fonte disponível em: adaptado de <https://cienciaeneppendorf.wordpress.com/2014/01/08/reaccion-de-hipersensibilidad-


tipo-i/>.

Basófilos
Os basófilos são um tipo de leucócito menos numerosos, constituem cerca de 2% do
leucócito no sangue. O núcleo é bem volumoso e irregular, sendo que muitas vezes está
encoberto por vários grânulos que estão no citoplasma. Os grânulos são corados com
corantes básicos, por esse motivo são denominados basófilos. Na membrana dos basófilos
encontram-se receptores para a ligação à imunoglobulina E (IgE) (BEU et al, 2017).

Os basófilos contêm grânulos de heparina e histamina.

Heparina

É uma molécula que possui ação anticoagulante sobre uma proteína do sangue.
É produzida por células do sistema imunológico, naturalmente. Em casos de trombose

37
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

ou obstrução de vasos sanguíneos, a heparina é utilizada para desfazer o coágulo


formado por meio da inibição de proteínas envolvidas no processo de coagulação.
No entanto, ela pode ser nociva em casos de problemas com a coagulação, como a
hemofilia, por exemplo.

Histamina

A histamina é sintetizada e liberada por diferentes células humanas, especialmente


os basófilos, mastócitos, plaquetas, neurônios histaminérgicos, linfócitos e células
enterocromafínicas, sendo estocadas em vesículas ou grânulos liberados sob
estimulação. Pertencente à classe das aminas biogênicas, é sintetizada a partir do
aminoácido histidina e é um potente mediador de várias reações fisiológicas.

Figura 9. Basófilos.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.biomedicinapadrao.com.br/2016/07/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-os.


html>.

Eosinófilos
Os eosinófilos são granulócitos cujo desenvolvimento e maturação ocorre na medula
óssea. São células importantes nas infecções em geral e sua ação antiparasitária (são
tóxicos a helmintos) é uma das mais potentes e eficazes do organismo. Depois de
maturados, os eosinófilos circulam pela corrente sanguínea (pequenas quantidades)
e podem ser encontrados nas regiões de mucosas (maiores números) como, por
exemplo, o trato respiratório, trato gastrointestinal e geniturinário. São encontradas
nas inflamações subagudas ou relacionadas com fenômenos alérgicos e determinados
processos neoplásicos. Também conseguem realizar fagocitose, porém, menos que os
neutrófilos.

38
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

A eosinofilia (aumento da concentração de eosinófilos no sangue – quando ultrapassam


500 unidades por microlitro de sangue) pode ser decorrente de processos inflamatórios,
tais como reação a medicamentos, infecção por vírus, bactérias ou fungos, infestações
parasitárias, doenças autoimunes, inflamação inespecífica, tumores, reações alérgicas
e afecções endocrinológicas. Quando o valor de células é baixo (inferior a 50 unidades),
ocorre a eosinopenia. Em oposição à eosinofilia, a eosinopenia é uma indicação de que a
imunidade do organismo está fragilizada. Assim, a quantidade adequada de eosinófilos
no sangue deve estar entre 50 e 500 unidades por microlitro de sangue.

Figura 10. Eosinófilos.

Fonte disponível em: adaptado de <http://bioneogenios.blogspot.com.br/2014/02/leucocitos-e-plaquetas.html>.

Células dendríticas
As células dendríticas (DC) constituem somente cerca de 1% de leucócitos mononucleares
no sangue periférico, no entanto, constituem uma das principais células que apresentam
antígeno do sistema imune. Possuem projeções do citoplasma e estão localizadas em
outros tecidos periféricos, podendo atuar como sentinelas do sistema imunológico
através do patrulhamento contínuo os antígenos (JOFFRE et al., 2009; STEINMAN;
COHN, 1973).

As DC são produzidas a partir de células tronco hematopoiéticas pluripotentes, na


medula óssea, e dão origem as linhagens mieloides (que, por sua vez, dão origem as
células de Langerhans, células dendríticas intersticiais, células dendríticas derivadas
de monócitos e as DCs convencionais ou “mieloides”) e linfoides (GATTI et al, 2000).

As quimiocinas, que desempenham importante papel na movimentação pelo corpo de


células mononucleares, contribuem para a resposta imune adaptativa e/ou patogênese
em diversas doenças. São nas células dendríticas, células de Langerhans e nos leucócitos
que os receptores de quimiocinas são expressos.

39
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

A homeostase das CD resulta no equilíbrio entre progenitores, geração, migração e


morte das células. Quando em condições normais, a quantidade de DC convencionais
nos tecidos linfoides e não linfoides é constante. Durante o processo inflamatório, a
quantidade de CD nos órgãos linfoides é bastante alterado. Pode ser diminuído devido
ao excesso de ativação e morte por apoptose ou então pela migração para sítios de
infecção ou outros órgãos. Quando as CD convencionais migram para os órgãos linfoides,
produzem citocinas e alteram seu fenótipo. Após o final do processo inflamatório, a
quantidade de CD convencionais volta ao normal com o recrutamento de progenitores,
proliferação de CD diferenciadas e, também, a diferenciação de monócitos para CD
inflamatórias.

Células endoteliais
As células endoteliais formam o endotélio vascular. Quando há vasodilatação, a
velocidade do fluxo sanguíneo diminui e as células sanguíneas colidem com as células
endoteliais ativadas que expressam moléculas de superfície que se ligam aos leucócitos.
As células endoteliais ativas são adaptadas para expressarem bastante quantidade de
moléculas de adesão da família das selectinas (E-selectina e P-selectina), molécula 1
de adesão da célula vascular (VCAM-1) e molécula 1 de adesão intercelular (ICAM-1).
A ativação endotelial é causada por alguns sub produtos de micro-organismos, citocinas
(IL-1, TNA-α), componentes ativados do SC, fatores da coagulação, histamina e
leucotrieno B4. As integrinas, que estão localizadas na superfície celular, são mediadoras
da adesão entre leucócitos e células endoteliais.

40
Capítulo 2
Fenômenos básicos e classificações
das inflamações

Quais são os cincos pontos cardeais da inflamação?

»» Rubor.

»» Calor.

»» Edema.

»» Dolor.

»» Perda da função.

Quando ocorre uma reação inicial a uma injúria, a extensão da lesão no local dependerá
não somente da intensidade, mas também da natureza e da duração do estímulo
causador da lesão. Deste modo, se o estímulo lesivo for de curta duração ou anulado
rapidamente do organismo pelos mecanismos de defesa, as alterações ocasionadas
pela inflamação irão ser resolvidas rapidamente ou então uma quantidade de tecido
cicatricial será deixada no local que foi lesado.

No entanto, alguns estímulos considerados nocivos possuem duração mais longa,


fazendo com que a injúria no tecido continue após o período necessário para que
ocorra o desenvolvimento completo dos estágios iniciais do processo inflamatório.
Nessa situação, as alterações seguintes irão depender da natureza do agente lesivo.
Assim, com a natureza do estimulo, a inflamação pode ter considerada aguda ou crônica.

Inflamação aguda
A inflamação aguda é a primeira resposta a lesão celular ou tecidual. Nesse momento
predomina-se aumento de permeabilidade vascular e migração dos leucócitos (em
especial os neutrófilos). É caracterizada pelos sinais cardeais da inflamação, no entanto,
se a reação for intensa, pode haver o envolvimento regional dos linfonodos e resposta
sistêmica na forma de neutrofilia e febre (o que caracteriza a reação da fase aguda da
inflamação). O principal objetivo da inflamação aguda é a eliminação do agente agressor
(nesse caso é comum ocorrer à destruição do tecido). Os fenômenos da inflamação
aguda são transitórios, ocorrendo à regeneração ou cicatrização da área que foi lesada.

41
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

A inflamação aguda é uma inflamação serosa (grande permeabilidade vascular),


fibrinosa (aumento da permeabilidade vascular), purulenta (acúmulo de exsudato
purulento) e pode ocorrer úlcera (erosões na região gástrica).

Inflamação crônica
A inflamação crônica ocorre em algumas semanas ou meses. Ela é caracterizada uma
inflamação ativa, destruição tecidual (característica mais marcante) e tentativa de
reparação de danos (cicatrização). Pode ocorrer a partir de uma reação aguda, mas
também pode acontecer como uma reação pouco intensa e assintomática. Os macrófagos
que estão ativos secretam vários mediadores da inflamação. Estes caso não controlados,
podem destruir o tecido e levar à fibrose. As causas dessa inflamação são caracterizadas
por infecções persistentes, autoimunidade, exposição prolongada a agentes nocivos ou
tóxicos (COTRAN, 2005).

A inflamação também pode ser granulomatosa. Esse tipo de inflamação possui um


padrão distinto da reação de inflamação crônica, caracterizada pelo acumulo local
de macrófagos ativados que geralmente desenvolvem uma aparência epitelioide.
A tuberculose, a sífilis, a hanseníase e a doença da arranhadura são algumas condições
em que esse tipo de inflamação se desenvolve. Os granulomas podem ser de dois tipos:
granuloma de corpo estranho (apresentando células gigantes de corpo estranho) ou
granuloma imune (COTRAN, 2005).

Tabela 6. Características dos processos inflamatórios agudos e crônicos.

Características dos processos inflamatórios agudos e crônicos


Inflamação
Aguda Crônica
Patógenos orgânicos, radiação ionizante, agentes Persistência do estímulo inflamatório inicial,
Agente causal
químicos, trauma mecânico. autoimunidade.
Células envolvidas Neutrófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos. Macrófagos, linfócitos, fibroblastos.
Aminas vasoativas, eicosanoides, quimiocinas, espécies IFN-g, citocinas, fatores de crescimento, enzimas
Mediadores primários
reativas de oxigênio. hidrolíticas.
Início Imediato. Tardio.
Poucos dias. Meses ou anos.
Cicatrização com restituição ad integrum, formação de Destruição tecidual e fibrose.
Evolução
abscesso ou cronificação.

Fonte: Mesquita et al, 2008.

Quando ocorre um dano tecidual, a primeira defesa do organismo é a resposta


inflamatória. Esse processo biológico envolve componentes vasculares, celulares e
várias substâncias solúveis, cujo objetivo é a remoção do estímulo indutor da lesão e

42
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

início da recuperação do tecido local. Durante o processo inflamatório, muitos sistemas


bioquímicos, como a cascata do Sistema Complemento (SC) e coagulação são ativados
para ajudar no estabelecimento, evolução e resolução do processo.

Sistema complemento
O SC abrange cerca de 30 proteínas plasmáticas ou séricas, sendo que uma proteína
ativa a outra, atuando em cascata. Esse sistema pode ser ativado por três vias distintas:
a via alternativa, ativada por determinados produtos microbianos ou antígenos, a
via clássica, ativada por anticorpos específicos ligados a seus antígenos (complexos
imunes). O SC atua na destruição de substâncias estranhas ao corpo e a via da lectina,
ativada por meio da ligação da lectina ligante a manose. A atuação do SC pode ser direta
ou em conjunto com outros componentes do sistema imune.

As proteínas de controle do SC asseguram que a ativação do sistema seja proporcional


tanto à duração quanto à concentração da presença dos ativadores do complemento,
além de protegerem as células do hospedeiro contra a potência dos produtos que
podem ativar o complemento. Assim, a ausência de algum componente pode resultar
em deficiências na ativação do complemento. A deficiência nos primeiros componentes
podem estarem associadas com doenças autoimunes (como o lúpus eritematoso
sistêmico, por exemplo). Há micro-organismos que são capazes de desenvolver
mecanismos de escape da ativação do SC, por meio da síntese de proteínas que inibem
a cascata do complemento, por exemplo.

Via clássica de ativação do SC


Essa via foi a primeira a ser descrita. Os componentes da via clássica são designados com
o símbolo “C” seguidos do número correspondente. Formam parte dela os componentes
C1, C2, C3 e C4. Essa via é ativada principalmente por complexos antígeno-anticorpo
e imunoglobulinas agregadas e a ativação da via se inicia com a ativação de C1.
As imunoglobulinas pertencem as classes IgM e subclasses IgG1, IgG2 e IgG3.

Componente C1

É um complexo molecular multimérico. Há uma subunidade denominada C1q é


associada a duas moléculas C1r e duas moléculas C1s através de ligações dependentes
de cálcio. A subunidade C1q se liga a uma molécula de imunoglobulina e C1r e C1s são
esterases requeridas para a progressão da ativação da cascata.

43
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

Componente C4

Esta é a segunda proteína sérica ativada. É uma betaglobulina composta por três cadeias
polipeptídicas.

Componente C2

O C2 consiste de uma cadeia polipeptídica, sendo que a clivagem desta molécula forma
C2a e C2b.

Componente C3

A proteína C3 é o componente central do SC. É uma proteína crítica para todas as


funções efetoras do sistema. As formas biologicamente ativas de C3 são seus produtos
de clivagem proteolítica. Nas fases iniciais da via clássica, moléculas de anticorpo
ligam-se e ativam proteoliticamente e sequencialmente o C1, C4 e C2, formando o
complexo C4b2a. Esse complexo funciona como convertase de C3 da via clássica.

Via alternativa de ativação do SC

Para a ativação da via alternativa, a presença de determinados fungos e bactérias, alguns


tipos de vírus e helmintos e, principalmente, a ausência de ácido siálico na membrana
são suficientes.

O C3 também é ativado nessa via. A proteína é ativada continuamente em pouca


intensidade na fase fluida. Isso ocorre por proteases séricas, moléculas nucleofílicas ou
água que atacam a ligação tio éster.

As deficiências dos primeiros componentes da via clássica estão associadas a doenças


por imunocomplexos ou autoimunes, como a glomerulonefrites e lúpus eritematoso
sistêmico (LES).

As deficiências desses primeiros componentes não estão associados a uma


susceptibilidade aumentada para infecções. Isso sugere que a via alternativa seja
suficiente para a eliminação de agentes patogênicos. A deficiência genética mais
comum é a de C2, mesmo tendo sido descritas deficiências de todos os componentes.
A deficiência de C3 é a que acarreta no maior comprometimento do SC, sendo associada
a infecções bacterianas.

44
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

Classificação da resposta inflamatória


A resposta inflamatória normalmente beneficia o organismo, pois o objetivo é a
eliminação de micro-organismos por meio da lise do SC, mecanismos de fagocitose,
neutralização ou diluição de substâncias tóxicas ou irritantes e limitação da lesão pela
deposição de fibrina.

Gell e Coombs (1963) classificaram as reações de sensibilidade em quatro tipos: reações


de sensibilidade imediata (tipo I), reações do tipo II, reações do tipo III e reações do
tipo IV. É comum uma doença envolver mais de um tipo de reação. A tabela abaixo,
mostra a classificação de reações de hipersensibilidade.

Tabela 7. Reações de hipersensibilidade segundo Gell e Coombs.

Tipo Nome alternativo Doenças associadas Mediadores


I Hipersensibilidade imediata Atopia, anafilaxia, asma. IgE.
II Hipersensibilidade mediada por Anemia hemolítica autoimune, Síndrome de Goodpasture, IgG ou IgM e Complemento.
anticorpos Eritroblastose fetal.
III Hipersensibilidade mediada por Doença do soro, Reação de Arthus, Nefrite lúpica. IgG e Complemento.
imunocomplexos
IV Hipersensibilidade tardia Rejeição de transplante, Dermatite de contato, Tuberculose. Células T, macrófagos, histiócitos.
Fonte: Gell e Coombs, 1963.

Resumidamente, as características de cada reação podem ser visualizadas:

»» Reações tipo I – A reação de hipersensibilidade imediata (tipo I),


também conhecida como hipersensibilidade anafilática, geralmente é
desencadeada por um antígeno externo (alérgeno) e caracterizadas pela
presença de IgE. O componente primário celular é o mastócito ou basófilo
(IgE possui bastante afinidade pelo seu receptor em mastócitos e basófilos).
Essa reação pode envolver olhos (conjuntivite), pele (urticária e eczema),
tecidos broncopulmonares (asma), nasofaringe (rinorreia, rinite) e trato
gastrointestinal (gastroenterite). A reação leva normalmente de 15 a 30
minutos para o tempo de exposição ao antígeno (no entanto, em alguns
casos pode demorar até 10-12 horas), podendo haver uma variedade de
sintomas.

»» Reações do tipo II – A reação de hipersensibilidade do tipo II também é


conhecida como hipersensibilidade citotóxica. A resposta humoral pode
causar dano ao invés de proteção, dependendo da natureza do antígeno,
isótipo da imunoglobulina e especificidade dos autoanticorpos. Essa
reação pode afetar uma variedade de órgãos e tecidos, o tempo de duração
é de minutos a horas e sua mediação envolve os anticorpos das classes

45
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

IgM ou IgG e complemento. O tratamento envolve anti-inflamatórios e


imunossupressores.

»» Reações do tipo III – A reação de hipersensibilidade do tipo III também


é conhecida como hipersensibilidade imune complexa. É causada pela
formação de imunocomplexos (IC) antígeno-anticorpo que ativam o
SC. Essa reação pode ser tanto geral (como, por exemplo, a doença
do soro) como individual, resultando em aspergilose (pulmão), lúpus
eritematoso sistêmico (lúpus), poliarteite (vasos sanguíneos), artrite
reumatoide (juntas), dentre outras. A reação pode ocorrer de 3 a 10 horas
posteriores à exposição ao antígeno, podendo ser provocada por diversos
micro-organismos.

»» Reações do tipo IV – A reação de hipersensibilidade do tipo IV também


é conhecida como reação mediada por células ou hipersensibilidade
tardia. Essas reações são mediadas por linfócitos T (LTs – células com
diversas funções no organismo, porém, todas de extrema importância
para o sistema imune), macrófagos, histiócitos e monócitos. Alguns
exemplos clássicos são o envolvimento dessa reação na patogênese de
doenças autoimunes e infecciosas, como por exemplo a tuberculose, a
lepra, toxoplasmose, histoplasmose, leishmaniose, etc, e granulomas.

O link a seguir descreve de maneira sucinta e didática do processo básico


de resposta inflamatória, disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vZ9ykvRhWK0>.

46
Capítulo 3
Desordens genéticas

As desordens ou transtornos genéticos são mais comuns do que o estimado. A frequência


das desordens genéticas é estimada em 670 a cada 1000. Além disso, as doenças genéticas
detectadas na prática médica representam apenas a ponta do iceberg, ou seja, aquelas
com erros genéticos menos extremos e que permitem o desenvolvimento do embrião
e nascimento do indivíduo. Cerca de 1% dos recém-nascidos possuem uma anomalia
cromossômica severa e, sérias doenças com comprometimento genético se desenvolve
em aproximadamente 5% de indivíduos com menos de 25 anos. Isso significa que pode
haver muitas mutações não detectadas.

Existem alguns termos importantes que estão relacionados com desordens ou


transtornos genéticos: hereditariedade, familiar e congênito.

Hereditariedade: a hereditariedade, por definição, é derivada de um dos


pais e é transmitida nas células germinativas, por meio das gerações.
Portanto, são também familiares.

Congênito: a palavra congênito implica no termo “nascido com”.


Algumas doenças congênitas não são genéticas, um exemplo é a sífilis.
E nem todas as doenças genéticas são congênitas, por exemplo,
indivíduos com a doença de Huntington começam a manifestá-la
somente depois de completar 20 ou 30 anos.

As desordens genéticas podem ser classificadas em três categorias: desordens


relacionadas com um único gene e amplo efeito, transtornos cromossômicos e distúrbios
multigênicos complexos.

Desordens relacionadas com um único gene e


amplo efeito
Essas mutações causam a doença ou a predisposição à doença. Com algumas exceções,
como hemoglobinopatias, não estão tipicamente presentes na população normal.
Tais mutações e suas desordens associadas são altamente penetrantes, o que significa
que a presença de mutações está associada com a doença em grande proporção nos
indivíduos. Devido ao fato dessas doenças serem causadas por uma única mutação, elas
usualmente seguem o clássico padrão de herança Mendeliana, também referido como
desordem Mendeliana.

47
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

O estudo de únicos genes e mutações com grande efeito tem sido bastante informativo
na medicina. A grande quantidade das descobertas sobre diversas vias de fatores
fisiológicos (como, por exemplo, o transporte do colesterol, secreção de cloreto) foram
realizadas por meio da análise de distúrbios genéticos em genes únicos. Embora
informativas, esses tipos de desordens são mantidas na população por meio de fortes
forças seletivas.

Transtornos cromossômicos
Esses transtornos resultam de estruturas ou alteração numérica nos cromossomos
autossômicos e sexuais. São menos comuns, no entanto, estão associados à alta
penetração.

Distúrbios multigênicos complexos


Os distúrbios multigênicos complexos são mais comuns que as desordens relacionadas
com um único gene e amplo efeito e os transtornos cromossômicos. Eles são causados
pela interação entre múltiplas formas variantes dos genes e fatores ambientais. Essas
variações de genes que são comuns em uma população também são chamadas de
polimorfismo. Cada um desses genes confere um pequeno aumento no risco da doença
e, nenhum gene suscetível é necessário ou suficiente para que ocorra a doença. Somente
quando vários desses genes estão presentes em um indivíduo a doença pode ocorrer.
Por isso, o termo multigênicos ou poligênicos. Assim, diferente dos genes mutantes
que são altamente penetrantes e podem dar origem a doenças Mendelianas, cada
polimorfismo tem um efeito pequeno e são de baixa penetração. Como as interações com
o meio ambiente são importantes na patogênese destas doenças, elas também podem
ser chamadas de transtornos multifatoriais. Nessa categoria estão inclusas algumas
doenças comuns presentes nos seres humanos, como a aterosclerose, diabetes mellitus,
hipertensão e doenças autoimunes. Inclusive características como altura e peso podem
ser determinados por polimorfismos em vários genes.

As discussões abaixo descrevem mutações que afetam apenas um único gene, as quais
são a base das desordens Mendelianas seguidas pelo padrão de transmissão e amostras
selecionadas de transtornos em gene único.

Mutações
Diariamente, as células produzem proteínas que possuem uma sequência específica de
aminoácidos. Essa sequência de aminoácidos é importante para que a proteína possa

48
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

realizar normalmente o seu funcionamento. Caso essa alteração não seja capas de afetar
o funcionamento molecular, significa que a mutação ocorrida passou despercebida, ou
seja, a mutação é indiferente.

Assim, mutação é definida como uma mudança permanente no DNA. Mutações que
afetam células germinativas são transmitidas para a progênie e podem resultar em uma
doença hereditária.

Os princípios gerais que estão relacionados com os efeitos de mutações genéticas estão
descritos a seguir:

Mutações pontuais em sequências codificadoras

Mutação pontual é a troca em que uma única base é substituída por outra diferente. Isso
pode alterar o código da trinca de bases e acarretar na substituição de um aminoácido
por outro no produto gênico. Essas mutações que alteram a sequencia da proteína
codificada são frequentemente chamadas de mutações missense. Se o aminoácido
substituído é bioquimicamente similar ao original, normalmente essa mutação causa
pouca alteração na função da proteína. Esse tipo de mutação é chamada de mutação
missense conservativa. Por outro lado, a mutação missense não conservativa substitui
o aminoácido inicial por outro diferente. Um exemplo desse tipo de mutação é a
anemia falciforme, doença que afeta a cadeia da B-globina da hemoglobina. A trinca
de nucleotídeos CTC (ou GAC no mRNA), que codifica o ácido glutâmico, é alterado
para CAC (ou GUG no mRNA), que codifica para a valina. Essa única substituição de
aminoácido altera fisiologicamemte as propriedades da hemoglobina, dando origem à
doença anemia. Os eritrócitos alongados foram descritos pela primeira vez em 1910,
por Herrick. A ausência de duas cargas negativas na hemoglobina a deixa em forma de
foice, diferindo da normal.

Apesar da substituição de um aminoácido poder manter a produção proteica, a


mutação pontual pode alterar o códon para um terminador ou stop códon (nonsense
mutation). Novamente no exemplo da B-globina, a mutação pontual que afeta o códon
para glutamina (CAG) cria um stop códon (UAG) se a U (uracila) for substituída pela
C (citosina). Essa alteração resulta em uma alteração para a terminação pré-madura
da tradução do gene da β-globina. Deste modo, um pequeno peptídeo é produzido e
degradado rapidamente. Como resultado, a deficiência na cadeia da B-globina acarreta
na anemia denominada de β0-talassemia. O exemplo abaixo mostra a mutação que
resulta na terminação prematura da cadeia. A sequência parcial de mRNA na cadeia
β-globina da hemoglobina mostra os códons referentes aos aminoácido0 s 38 ao 40.
A mutação pontual (C à U) no códon 39 altera o códon da glutamina (Gln) para o stop
códon e, consequentemente, a síntese proteica termina no aminoácido 38.

49
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

→ à Alelo normal da β-globina Thr Gln Arg


ACC CAG AGG

→ à Alelo da β0-globina ACC UAG AGG


Thr STOP
A anemia é caracterizada pela deficiência na concentração da hemoglobina.
A hemoglobina, por sua vez, é um elemento do sangue que tem a função de
transportar o oxigênio dos pulmões para as outras células do organismo, com
a finalidade de nutri-las, ou na produção de hemácias (eritrócitos ou glóbulos
vermelhos).

A anemia pode ser classificada como aguda, crônica adquirida ou hereditária. A


anemia é considerada aguda quando ocorre bastante perda de sangue em um
período curto de tempo. Isso pode ocorrer em cirurgias, acidentes etc. A anemia
crônica é provocada por doenças de base e, algumas vezes, pode ser hereditária
(como a talassemia e a anemia falciforme, por exemplo) e também pode ser
adquirida. Estas últimas podem ocorrer na gestação, devido a deficiência de
ferro (como a anemia ferropriva, por exemplo), por deficiência nutricional ou por
carência da vitamina B12 ou de ácido fólico (anemia megaloblástica).

Mutações em sequências não codificadoras

Os efeitos deletérios também podem resultar de mutações que não envolvam exons.
Lembrando, a transcrição do DNA é iniciada e regulada pelo promotor e sequências
chamadas “enhancer”. Mutações pontuais ou deleções que envolvem essas sequências
podem interferir na ligação de fatores de transcrição e resultar em uma diminuição
ou redução total da transcrição. Um exemplo é o caso de certas formas de anemias
hereditárias denominadas talassemias. Além disso, mutações pontuais em íntrons pode
acarretar em um splicing defeituoso, interferindo no processamento de transcritos
iniciais de mRNA e resultar na não formação da forma madura do RNA. Assim, a
transcrição não ocorre e, consequentemente, o produto gênico não é sintetizado.

Deleções e inserções

Pequenas deleções ou inserções que envolvem a sequência codificadoras podem,


apresentar dois possíveis efeitos na proteína codificada. Se o número de pares de base
envolvido na deleção ou inserção for três ou então múltiplo de três, o frame de leitura
não se altera, continua intacto. Nesse caso, a proteína será modificada, ou com a falta
ou com a adição de um ou mais aminoácidos que serão sintetizados. Segue o exemplo
esquemático da fibrose cística (FC), em que a deleção de três bases resulta na síntese da

50
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

proteína sem o aminoácido 508 (fenilalanina – Phe). Como essa deleção é múltipla de
três, a mutação não altera o frame da proteína:

à DNA normal: Ile Ile Phe Gly Val


...T ATC ATC TTT GGT GTT...

à DNA FC: ...T ATC AT_ _ _T GGZ GTT...


Ile Ile Gly Val

No entanto, se a quantidade de código que foi afetado pela mutação não for múltiplo
de três, a mutação resultará numa alteração da janela de leitura da fita de DNA.
Normalmente, nesses casos, o resultado é a incorporação de um número variável
de aminoácidos incorretos seguidos de um truncamento que resulta na parada de
leitura prematura. Segue o exemplo da deleção de uma única base no locus ABO
(glicosiltransferase), levando a uma alteração da janela de leitura cuja mutação acarreta
na forma do alelo O.

à Alelo A (ABO): ...Leu Val Val Thr Pro


CTC GTG GTG ACC CCT T...
à Alelo O (ABO): ...CTC GTG GT_ ACC CCT T...
Leu Val Val Pro Leu

Mutações por repetição de trinucleotídeos

As mutações por repetições de trinucleotídeos pertencem a uma categoria especial


de anomalias genéticas. Essas mutações são caracterizadas pela amplificação de
uma sequência de três nucleotídeos, portanto, são caracterizadas por qualquer tipo
de distúrbio que resulta em uma doença de repetição de trinucleotídeos. Embora a
sequência específica de nucleotídeos que é submetida a essa amplificação difere em
várias desordens, quase todas as sequencias afetadas possuem o nucleotídeo guanina
(G) e citosina (C). Por exemplo: na síndrome do X frágil, existe de 250 a 4000
repetições em tandem da sequência CGG dentro do gene denominado síndrome da
deficiência mental familiar 1 (FMR1). Em uma população sem a síndrome o número de
repetições é menor, possuindo cerca de 29. Tais sequências com essas amplificações de
trinucleotídeos previnem a expressão normal do gene FMR1, dando origem, portanto
ao retardo mental.

Essa repetição trinucleotídica também é conhecida como repetição triplet. A expansão


dos triplets é causada quando ocorre o “deslizamento” durante a replicação do DNA.
Em regiões do DNA que contém naturalmente sequências repetidas, é comum a formação
de estruturas de loop que são formadas durante a replicação. Esse loop mantém a

51
UNIDADE II │ Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos

paridade das bases complementares na síntese da nova fita de DNA, resultando no


aumento do número de repetições das sequências.

Por fim, as mutações podem interferir com a expressão gênica em diferentes níveis.
A transcrição pode ser suprimida por deleções gênicas, e mutações pontuais envolvendo
sequencias promotoras. O processamento anormal do mRNA pode resultar desde
mutações que afeta os íntrons ou splicing, ou ambos. A tradução é afetada caso a mutação
nonsense acaba por criar um códon de término, stop códon dentro de um exon. Assim,
algumas mutações pontuais podem acarretar na produção normal de proteínas com a
função comprometida.

Os agentes mutagênicos podem ser físicos ou químicos:

Agentes Físicos

»» Temperatura – O aumento da temperatura promove quebra de ligações


entre átomos.

»» Radiações – As radiações ionizantes de alta energia, como, por exemplo,


os raios X, nêutrons, raios gama, partículas alfa e beta, radiação não
ionizante de baixa energia e luz ultravioleta. Tais radiações induzem
mutações devido a sua atuação sobre o DNA.

»» Radiação ionizante – O espectro de radiação eletromagnética


é bastante amplo. Quanto menor o comprimento de onda, maior
a energia, possuindo uma maior penetração nas células e tecidos.
Os fótons eletromagnéticos podem colidir com os elétrons do átomo e
fazer com que eles mudem de orbita. Quando isso acontece, um átomo que
primariamente era neutro, pode tornar-se carregado com carga positiva
(existe maior carga positiva no núcleo do átomo quando comparado com
as cargas negativas nos elétrons orbitais. Desse modo, o átomo carregado
positivamente juntamente com o elétron formam um par de íons. Os raios
gama e raios X produzem trilhas de pares de íons em sistemas biológicos.

Os átomos ionizados e suas moléculas são mais reativos que os nêutrons.


Ainda, os elétrons que são perdidos durante esse processo movem-se em
alta velocidade, fazendo com que outros átomos tornem-se ionizados.
Cada elétron perdido por um átomo é ganho por outro, tornando-se,
assim negativamente carregado. Esse processo de ionização é repetido,
várias vezes resultam em uma cadeia de pares de íons através da trilha

52
Processo Inflamatório e Distúrbios Genéticos │ UNIDADE II

de fótons de alta energia. As reações químicas que os íons sofrem quando


suas cargas são neutralizadas resultam nos efeitos mutagênicos.

»» As radiações ionizantes podem causar:

›› formação de tautômeros raros ─ Os tautômeros consistem em formas


alternativas das purinas e pirimidinas. O rearranjo de elétrons e
prótons da molécula resulta na tautomerização. Os tautômeros raros
de adenina, citosina, guanina e timina são diferentes das outras formas
em relação às posições dos átomos de hidrogênio, fazendo com que
algumas ligações simples se tornem duplas;

›› substituição de uma base por outra ─ Essa substituição consiste na


chamada transição e transversão. A transição ocorre quando há
a substituição de uma purina (A e G) por uma pirimidina (T e C).
A transversão, por sua vez, é a troca de uma purina por uma pirimidina;

›› deleção ou adição de uma base em uma das fitas de DNA – Essas


adições e deleções alteram a leitura das trincas de nucleotídeos a
partir do ponto da mutação. A sequência de aminoácidos é alterada e
frequentemente aparece um códon de terminação;

›› formação de peróxidos;

›› inversão da sequência de pares de bases de nucleotídeos dentro da


molécula de DNA.

»» Radiação não ionizante – um exemplo é a radiação ultravioleta (UV).


Apesar dessa radiação não ionizar o DNA devido à falta de energia, ela é
capaz de causar mutações na molécula. O DNA absorve comprimento de
onda referente a 254 nm. Apesar de não ser profundamente penetrante
no tecido, a radiação é capaz de inativar bactérias, fungos e aumentar a
incidência de câncer de pele. Normalmente, a radiação UV forma dímeros
de pirimidina, ligações de carbono entre as pirimidinas adjacentes,
impedindo temporariamente a replicação do DNA.

Agentes Químicos
»» Análogos de bases – Os análogos de bases são moléculas que possuem a
estrutura parecida com uma base nitrogenada e portanto, as vezes pode
ser incorporada na molécula de DNA durante o mecanismo de replicação.
Assim, esse análogo é pareado com a base, causando uma mutação.

»» Reagentes para purinas e pirimidinas.

53
Distúrbios Unidade iII
Circulatórios

Capítulo 1
Edema e hemorragias

Edema
Por definição, edema é o acúmulo de líquido no espaço intersticial, causando o
inchaço. Para ocorrer o edema, deve haver uma desregulação nos mecanismos que
controlam a distribuição do volume de líquido no espaço intersticial. Essa alteração
pode ser localizada, envolvendo somente os fatores que influenciam o fluxo de fluido
no capilar, ou ela pode ser secundária, alterando mecanismos de controle do volume do
espaço extracelular e do líquido corporal total, geralmente podendo ocasionar edema
generalizado.

Um exemplo de edema localizado é o edema inflamatório. Sua constituição é rica em


proteínas, por isso é denominado exsudato. A constituição do edema sistêmico é pobre
em proteínas. Esse líquido é denominado transudato e encontra-se, por exemplo, no
edema pulmonar. A presença desses líquidos pode causar infecções, causando mais
complicações. Por isso, os edemas pulmonares podem acarretar em insuficiência
respiratória e pneumonia. O edema cerebral, por sua vez, pode ser mortal.

Considera-se também o acúmulo de líquido dentro das células neuronais (tumefação).

Tumefação
Tumefação corresponde ao acúmulo de líquidos dentro da célula (água e eletrólitos, em
especial o sódio). É a consequência de desequilíbrios no controle do gradiente osmótico
(em relação à membrana citoplasmática) e nos mecanismos de absorção e eliminação
de agua e eletrólitos intracelulares. Esse inchaço causado pela retenção de líquidos no
tecido pode ser causado por uma lesão ou uma inflamação, e também pode estar ligado
aos sistemas venosos ou linfáticos.

54
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Pode ser causada por hipóxia, infecções bacterianas ou infecções virais, hiperemia e
intoxicações.

A tumefação possui duas classificações, de acordo com o tipo de distribuição da água


acumulada:

»» Tumefação turva ou Degeneração granular ou Degeneração


albuminosa ou grânulo-albuminosa – Esse tipo de tumefação
ocorre quando a distribuição do excesso de água é homogênea. É uma
fase menos grave, reversível, mais aguda e às vezes pode ser confundida
com a autólise.

»» Degeneração hidrópica ou vascular ou balanosa ou globulosa


– Esse tipo de tumefação ocorre quando a água que está acumulada está
disposta em compartimentos no citoplasma da célula. Esta é uma fase
mais avançada da tumefação turva.

Com característica macroscópica a tumefação apresenta o aumento de volume e de


peso visceral com palidez e/ou coloração acinzentada.

Em relação às características microscópicas, no exame à fresco, o citoplasma


encontra-se opaco, granuloso, turvo, com transparência diminuída mascarando o núcleo.

No exame de rotina, ocorre o aumento do volume celular e alteração da proporção


citoplasma/núcleo. O vacúolo citoplasmático aumenta de volume, frequência e
intensidade, dependendo do estágio de lesão.

O edema, na maioria das vezes, é uma reação fisiológica, embora também pode ser
sintoma de alguma doença adjacente. Algum inchaço nas pernas de pessoas que
ficam muito tempo sentadas ou em pé é comum. Também é normal nos períodos
pré-menstruais, devido a variação hormonal, e durante a gravidez, pois o volume
abdominal dificulta o retorno da quantidade de sangue das pernas ao coração (por
minuto).

Além do inchaço, a descoloração da pele também pode ocorrer no edema, deixando


momentaneamente a marca do dedo, se pressionado. O local afetado também pode
ficar dolorido, causa rigidez na articulação, perda ou aumento de peso e aumento da
pressão arterial. Os sinais e sintomas do edema vão depender da quantidade e do local
no qual ele está mais localizado, sendo os mais comuns:

»» peso nas pernas;

»» inchaço na pela;

55
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

»» inchaço nos tornozelos, rosto ou olhos;

»» infecção ou inflamação;

»» ganho de peso;

»» dores no corpo;

»» falta de ar e tosse;

»» dificuldade na respiração;

»» pressão arterial alta;

»» rigidez articular;

»» aumento do volume abdominal (ascite).

O edema também pode ser um efeito adverso de certas medicações (como


antidepressivos, antivirais, quimioterapêuticos, hormônios, anti-inflamatórios,
citocinas, anti-hipertensivos). O mecanismo geralmente inclui a retenção de sal e água
com o aumento da pressão hidrostática capilar.

Figura 11. Edema.

Fonte disponível em: adaptado de <https://biosom.com.br/blog/saude/edema/>.

O edema localizado recebe o nome do órgão, por exemplo: edema cerebral, edema
pulmonar etc.). Já o edema generalizado recebe o nome anasarca, independentemente
da gravidade.

O edema pode ser classificado quando à sua causa:

Edema cardíaco (ICC)

Ocorre devido à falência do miocárdio, causando a queda do débito cardíaco. Assim, a


pressão venosa sistêmica é elevada, ao mesmo tempo que o volume arterial efetivo de
sangue (VAES) é reduzido.

56
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Edema renal

»» Edema nefrítico: a principal causa de edema nas síndromes nefríticas


agudas, das glomerulonefrites (por exemplo, que se manifestam com
edema, hematúria, hipertensão – sem proteinúria importante) é a redução
da taxa de filtração glomerular (TFG). Essa queda de filtração pode ser
mais amena (com creatinina sérica normal) ou mais grave, quando a
diálise é requerida. Quanto maior a redução da TFG, mais grave o edema,
resultando na diminuição do sódio que é filtrado. No entanto, em casos
de insuficiência renal aguda, o edema pode ou não ocorrer. Deste modo,
a ocorrência do edema depende da associação entre a redução da TFG,
redução de sódio excretado e quantidade de sódio adquirido na dieta.

»» Edema nefrótico: a manifestação do edema nefrótico ocorre por urina


espumosa (proteínas) e edemas. O edema acarreta na redução da pressão
oncótica do plasma, resultando na menor reabsorção do fluido intersticial.

Edema de Quincke

O Edema de Quincke também é chamado de angioedema ou edema angioneurótico.


É uma forma de urticária associada a um edema. Essa reação é caracterizada pelo
inchaço no tecido subcutâneo. Apesar de afetar mais os tecidos moles do organismo
como lábios, língua, laringe, pálpebras etc. pode ocorrer em qualquer parte do corpo.
Está associado com a alergia medicamentosa, alimentar ou uma sensibilização aos
venenos dos himenópteros (vespas, abelhas), à anafilaxia, à urticária. Normalmente,
um edema localizado com aparição abrupta. O Edema de Quincke pode resultar em
uma grave asfixia e, eventualmente, à morte.

Edema linfático

O edema de ordem linfática, chamado de linfedema, ocorre por obstrução dos vasos
linfáticos.

Linfedema

O linfedema é uma desordem crônica e progressiva derivada da função do sistema


linfático prejudicada. É caracterizado pelo acúmulo de fluido rico em proteína nos
tecidos. Ocorre redução da permeabilidade linfática, fazendo com que 10-20% do
líquido que deveriam ser absorvidos se acumulem, formando o linfedema. Essa função
prejudicada dos vasos linfáticos interrompe a drenagem do sistema linfático que é parte

57
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

do sistema circulatório, assim como as estruturas arteriais e venosas. Os vasos linfáticos


removem o excesso de fluido dos tecidos e transportam de volta para a circulação, além
de a maturação de células do sistema imune ocorrem no sistema linfático.

O linfedema pode ser primário ou secundário. Porém, independente dessa classificação,


ele é caracterizado pelo inchaço crônico, dor localizada, alterações de atrofia na pele e
infecções secundárias. Outro aspecto ruim do linfedema é da aparência do membro
afetado.

Linfedema primário

Está relacionado com o desenvolvimento de anormalidades no sistema linfático. São


“espontâneos”; na anamnese não é identificado nenhuma forma de agressão às vias
linfáticas.

Lindefema secundário

Está relacionado com os danos nos vasos linfáticos devido a uma condição adquirida
como trauma, tumor, cirurgia ou infecção.

Algumas causas do linfedema podem ser:

»» a linfagite, causada pela fibrose dos linfáticos pode ocorrer em infecções


bacterianas, como a erisipela, por exemplo;

»» a filariose gera o aumento das partes moles, causando a elefantíase;

»» cirurgias com retirada de gânglios;

»» neoplasias metastáticas.

O diagnóstico do linfedema geralmente é feito clinicamente, por meio de avaliação


e exame físico. No entanto, os principais sintomas são o inchaço crônico, alterações
progressivas de atrofia na pele e infecções recorrentes.

Infelizmente não há cura para o linfedema, no entanto, existe tratamento efetivo


disponível.

Os edemas cavitários (derrames) podem ser:

»» Hidrotórax (derrame pleural)

»» Hidropericárdio (derrame pericárdio)

»» Hidroperitônio (ascite)

58
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Nos edemas cavitários, o líquido que sai do vaso e se acumula nos espaços pode ser do
tipo transudato (simples ou modificado) ou exsudato.

Transudato simples

O transudato simples ocorre a diminuição da pressão oncótica ou coloidosmótica.


O líquido é claro e possui pouca proteína, baixa intensidade e pouca quantidade de
célula. A permeabilidade do vaso fica inalterada e a principal causa é a síntese diminuída
de proteínas plasmáticas.

Transudato modificado

O transudato modificado ocorre por aumento da pressão hidrostática. Nesse caso a


permeabilidade do vaso também está inalterada, sendo responsável pela principal
causa da hiperemia.

Figura 12. Transudato.

Fonte disponível em: adaptado de Freitas e Nogueira <http://www.disciplinas.famerp.br/patologia>.

Exsudato

O exsudato ocorre por aumento da permeabilidade vascular e, diferentemente do


transudato simples, o líquido é turvo e rico em proteínas e alta densidade. É rico em
células, principalmente células inflamatórias (a principal é o neutrófilo). Sua principal
causa é a inflamação.

59
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Figura 13. Exsudato.

Fonte disponível em: adaptado de Freitas e Nogueira <http://www.disciplinas.famerp.br/patologia>.

Mixedema
O mixedema é um edema com características especiais por ser duro e com aspecto da pele
opaca, ocorrendo em casos mais graves de hipoatividade da tireoide (hipotireoidismo).
Nessa condição, a glândula é deficiente na produção dos hormônios que são produzidos,
a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4) – afetam todos os aspectos do metabolismo.
O mixedema é um edema localizado e, além dos sais e da água, também há o acúmulo
de determinadas proteínas que são produzidas no hipotireoidismo. Os sintomas
iniciais aparecem como edemas na face e pálpebras e formam bolhas nos olhos. Outros
sinais são e sintomas são a diminuição da pressão arterial, diminuição da respiração
e da temperatura corporal, apatia, diminuição dos ritmos orgânicos e excesso de
sono. Além destes, exames de laboratório, como o exame de sangue, indicam níveis
de TSH (hormônio estimulante da tireoide) e de tiroxina (hormônio que é produzido
pela tireoide). Quando o nível de tiroxina está baixo e o nível de TSH está alto, é um
indicativo de hipofunção da tireoide. Tais exames podem diagnosticar distúrbios da
tireoide antes dos sintomas do mixedema.

Como visto, o edema é o acúmulo de fluido no meio intracelular que resulta de


uma expansão anormal do volume do fluido intersticial. O fluido entre os espaços
intersticial e intravascular é regulado pelo gradiente de pressão hidrostática capilar e
gradiente de pressão oncótica por meio do capilar. O acúmulo de fluido ocorre quando
condições locais ou sistêmicas quebram seu equilíbrio, levando ao aumento da pressão
hidrostática capilar, aumento do volume do plasma, diminuição da pressão oncótica
(hipoalbuminemia), aumento da permeabilidade capilar ou obstrução linfática.

60
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Tabela 8. Causas do edema sistêmico e localizado.


Causa Mecanismos de ação
Sistêmica
Reação alérgica urticária e angioedema Aumento da permeabilidade capilar.
Aumento da permeabilidade capilar da hipertensão venosa sistêmica; aumento
Doença cardíaca
do volume de plasma.
Redução da síntese proteica levando a diminuição da pressão oncótica do
Doença hepática
plasma.
Redução da síntese proteica levando a diminuição da pressão oncótica do
Desnutrição
plasma.
Apneia obstrutiva do sono Hipertensão pulmonar resultando em aumento da pressão hidrostática capilar.
Gravidez e edema pré-menstrual Aumento do volume do plasma.
Aumento do volume de plasma; diminuição da pressão oncótica do plasma
Doença renal
por perda de proteína.
Localizada
Celulite Aumento da permeabilidade capilar.
Insuficiência venosa crônica Aumento da permeabilidade capilar causada pela hipertensão venosa local.
Síndrome compartimental Aumento da permeabilidade capilar causada pela hipertensão venosa local.
Síndrome de dor regional complexa de tipo 1 (distrofia simpática
Perturbação capilar aumentada mediada por neurogênese.
reflexa)
Trombose venosa profunda. Aumento da permeabilidade capilar.
Obstrução da veia ilíaca. Aumento da permeabilidade capilar causada pela hipertensão venosa local.
Lipedema. Acumulação de liquido no tecido adiposo.
Linfedema. Obstrução linfática.
Primário: linfedema congênito, linfedema praecox, linfedema tarda.
Secundário: dissecção do linfonodo axilar, cirurgia, trauma, radiação,
tumor, filariose.
Síndrome de May-Thurner (compressão da veia ilíaca esquerda pela Aumento da permeabilidade capilar causada pela hipertensão venosa local por
artéria ilíaca direita). compressão.

Fonte: adaptado de Trayes et al, 2013.

O inchaço agudo de um membro por um período inferior de 72 horas é mais característico


de trombose venosa profunda (TVP), celulite, ruptura do cisto poplíteo (também
chamado de Cisto de Baker), síndrome compartimental aguda ou iniciação recente de
bloqueadores de canal de cálcio. A acumulação crônica de edema mais generalizado
deve-se ao inicio ou exacerbação de condições sistêmicas crônicas, como doença renal,
doença hepática ou insuficiência cardíaca congestiva (ICC) (YALE; MAZZA, 2001; Ely
et al, 2006).

Hemorragias
A hemorragia é o rompimento de vasos sanguíneos que acarreta na saída de sangue
do interior para fora de um vaso, orifício, corte, tanto para dentro quanto para fora do
corpo, ou seja, um sangramento. As causas da hemorragia podem ser:

»» fisiológicas (parto, mudança de dentição, menstruação);

»» traumatismos (ruptura dos vasos);

»» patológicas.

61
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

As causas patológicas da hemorragia podem ser:

»» Vasculopatias (doenças dos vasos sanguíneos): vasculites (inflamação


nos vasos), varizes, aneurismas, lesão endotelial, defeitos genéticos
adquiridos.

»» Distúrbios da hemostasia: pode ter das plaquetas ou dos fatores de


coagulação.

»» Aumento da pressão intravascular.

Em seres humanos adultos saudáveis, a perda de sangue pode ser de até 20% do seu
volume sanguíneo. Essa quantidade de sangue perdida, mesmo de maneira rápida, não
acarreta em problemas de saúde de forma imediata. No entanto, quantidades acima
disso podem gerar choque hipovolêmico, o que é bastante prejudicial ao organismo.
Portanto, quando ocorre a ruptura dos vasos sanguíneos, a hemorragia que ocorre
pode ser pouco significativa ou até mesmo legal. Assim, de acordo com a quantidade
de sangue perdido, a hemorragia pode ser dividida em cinco classes: Classe I, Classe II,
Classe III e Classe IV.

Além da quantidade de sangue perdido, há outros sinais e sintomas da hemorragia. Estes


podem ter características gerais ou especificas, dependendo do tipo de sangramento.
Quando ocorre hemorragia, o organismo realiza a contração dos vasos sanguíneos
(vasoconstrição) a fim de tentar manter o fluxo sanguíneo (principalmente para o
coração, rim e cérebro). A tabela abaixo, mostra os principais sinais e sintomas da
hemorragia de acordo com as classes:

Tabela 9. Classes da hemorragia.

Classes Sinais e Sintomas Perda de sangue


Classe I Leve aumento da frequência cardíaca. Até 15% do sangue
Frequência cardíaca ≥ 100 batimentos por minuto, pulso fino e leve, respiração rápida, diminuição da De 15 a 30% do
Classe II
diurese. sangue
Mesmos sintomas da hemorragia classe II, sinais de hipoperfusão, palidez, sudorese e diminuição do De 30 a 40% do
Classe III
nível de consciência. sangue
Taquicardia extrema, dificuldade de perceber a pulsação, queda da pressão sistólica, quantidade de urina
Classe IV ≥ a 40% do sangue
próxima de zero, perda total da consciência.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/293050/hemorragias+o+que+prec


isamos+saber.htm>.

Além destas classificações, a hemorragia também pode ser classificada como interna e
externa:

62
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Hemorragia externa

Na hemorragia externa, a lesão leva a perda de sangue em uma superfície do corpo


visível. Quando detectada, recomenda-se buscar atendimento médico com urgência,
no entanto, existem alguns procedimentos que podem ajudar a conter o sangue.
É importante observar a coloração do sangue para identificar se a hemorragia é venosa
ou capilar. Também é importante manter a região se sangramento elevada para
dificultar a chegada do fluxo sanguíneo, diminuindo o sangramento. Como tentativa
de bloqueio do fluxo sanguíneo, pressionar a região com um pano ou gaze pode cessar
a hemorragia.

Hemorragia interna

Na hemorragia interna a lesão causa a perda de sangue da parte interna do corpo, não
sendo visível a saída de sangue. Por não ser visível, essa hemorragia é mais difícil de
ser detectada e não ser observada a tempo de tomar as devidas providencias, causando
consequências graves. Essas hemorragias podem somente ser cessadas por um médico,
sendo necessário levar o indivíduo ao hospital o mais rápido possível. Esse tipo de
hemorragia pode ser detectada pela saída de pouca quantidade de sangue pelo nariz,
ouvidos, dor abdominal, taquicardia, palidez, entre outros.

A hemorragia também pode ser classificada pelo tipo de vaso que foi danificado,
podendo ser capilar, venosa ou arterial.

Hemorragia capilar

Na hemorragia capilar, o sangramento é caracterizado como mais lento e com


menor volume de sangue. Normalmente, esses vasos capilares são encontrados nas
extremidades internas da pele. Esse tipo de hemorragia é comum em cortes superficiais
(pequenos) e arranhões.

Hemorragia venosa

Esse sangramento ocorre devido ao rompimento ou corte de uma veia. O sangue


possui cor vermelha escura, pois o sangue venoso é rico em gás carbônico. Esse tipo de
hemorragia possui fluxo de sangue contínuo e mais lento quando comparado com o da
hemorragia arterial.

63
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Hemorragia arterial

A hemorragia arterial corre quando uma artéria é rompida. Esse tipo de hemorragia
apresenta-se em jatos e o sangue possui cor vermelho vivo, pois é um sangue rico em
oxigênio.

Figura 14. Hemorragia arterial, venosa e capilar.

Fonte disponível em: adaptado de <http://uebtops.blogspot.com.br/p/hemorragias.html>.

A hemorragia pode ter diversos tipos de classificações. Abaixo se encontram algumas


delas:

»» Em relação à cronicidade/intensidade – Estas podem ser agudas


(possui o início rápido, maior intensidade e curta duração, subagudas ou
crônicas.

»» Em relação à duração – Podem ser classificadas como transitória


(geralmente agudas), contínuas (geralmente crônicas) e intermitentes
(geralmente crônicas).

»» Em relação à extensão – Quanto à extensão, as hemorragias podem


ser petéqueas (até 3 mm na pele, mucosas ou órgãos externos), púrpuras
(de 3 mm até 10 cm) ou sufusões (acima de 10 cm e pode conter de 500 a
1000 ml de sangue).

»» Em relação ao mecanismo de formação – A hemorragia pode ser


formada por mecanismo de secção ou ruptura vascular (traumatismos),
diapedese e necrose parietal vascular (como as doenças vasculares,
isquemia).

64
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Os distúrbios hemorrágicos são causados por problemas relacionados com a coagulação


sanguínea, os quais podem ser causados por alterações plaquetárias (quantitativas e
qualitativas) e por deficiência nos fatores de coagulação (genéticas, adquiridas, inibição
de fatores medicamentosos).

Como consequências, a hemorragia pode apresentar:

»» anemia ferropriva;

»» efeito de massa (compressão de estruturas pela hemorragia) – pode


causar a morte devido a compressão de estruturas encefálicas) e o
tamponamento em cavidades como o pericárdio, impedindo a diástole;

»» choque hipovolêmico;

»» morte.

Existem alguns mecanismos do corpo humano que, até certo nível da hemorragia,
é possível manejá-la. A homeostase é o principal mecanismo capaz de lidar com as
hemorragias. Esse mecanismo consiste em diversas reações acarretando em um
coágulo, ao qual pode limitar ou parar o extravasamento de sangue. Dentre a série de
reações, algumas são:

»» vasoconstrição arteriolar;

»» deposição de fibrina;

»» estabilização do coágulo e sua reabsorção;

»» formação de coágulo primário.

Hiperemia e congestão

A hiperemia (do grego “hyper” = aumento + “haima” = sangue) e congestão podem ser
definidas como o aumento do volume sanguíneo localizado em um tecido, órgão ou
parte dele, por diferentes mecanismos e com consequente dilatação vascular devido a
alteração dos sistemas pressão arterial X resistência pré e pós capilar.

A hiperemia pode ser dividida em hiperemia ativa e hiperemia passiva:

65
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Hiperemia ativa

A hiperemia é um processo ativo que ocorre devido à dilatação arteriolar e aumento


do influxo sanguíneo. Mesmo também sendo chamada de arterial, é um processo que
também pode envolver vênulas e capilares.

A hiperemia ativa, por sua vez, pode ser fisiológica ou patológica:

Hiperemia ativa fisiológica

Ocorre a expansão do leito vascular com os vasos de reserva se tornando funcionais


devido ao aumento de O2 e nutrientes em paralelo a demanda de maior trabalho.
Isso pode ocorrer no musculo esquelético devido a um exercício físico, no cérebro
durante o estudo, nos corpos cavernosos penianos durante a excitação sexual, no tubo
gastrointestinal durante a digestão.

Hiperemia patológica

Na hiperemia patológica ocorre o aumento do afluxo sanguíneo decorrente da liberação


localizada de mediadores químicos da inflamação. Isso ocorre devido a alguma agressão
aos tecidos e, assim como na hiperemia fisiológica, ocorre à expansão do leito vascular.
Exemplos dessa hiperemia são: inflamação aguda, irradiações intensas, queimaduras
ou congelamento, traumatismos, infecções, entre outras.

Hiperemia passiva

A hiperemia passiva ou venosa também é conhecida como estase ou congestão. Portanto, a


congestão pode ser definida como um processo passivo que resulta do comprometimento
do e fluxo de sangue venoso. Deste modo, os tecidos que estão passando por esse processo
são chamados de congestionados e sua cor é azul-avermelhada, devido ao acúmulo de
sangue desoxigenado nos vasos (também conhecido por cianose). A congestão pode
ocorrer de maneira sistêmica ou localizada.

Hiperemia passiva local

A hiperemia passiva local ocorre quando há insuficiência cardíaca congestiva, obstrução


ou compressão vascular, trombos venosos, embolias em sistema porta, abscessos,
compressão vascular, entre outros.

66
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Hiperemia sistêmica, ou geral

A hiperemia sistêmica ocorre quando há obstrução de alguma veia isolada, trombose e


embolia pulmonar, lesões pulmonares extensas (enfizemas).

Há também a congestão aguda, em que os vasos estão distendidos e o órgão é mais


pesado e a congestão crônica, em que o órgão pode sofrer hipotrofia e apresentar micro
hemorragias antigas. Dentre as hiperemias passivas, as três mais importantes são as do
fígado, dos pulmões e do baço.

Congestão pulmonar

A congestão pulmonar pode ser caracterizada como aguda ou crônica, no entanto,


ambas ocorrem pelo aumento do volume sanguíneo e diminuição do retorno venoso.

Na congestão pulmonar aguda os capilares alveolares estão dilatados e os septos


ficam mais alargados devido ao edema intersticial e pode haver hemorragia alveolar.
Na congestão crônica os septos tornam-se fibrosados e ocorre o acúmulo de
hemossiderina nos espaços alveolares. O volume e peso do pulmão são aumentados e a
cor mais acentuada.

Figura 15. Congestão pulmonar. Observa-se o volume aumentado e coloração acentuada.

Fonte disponível em: adaptado de Freitas e Nogueira <www.disciplinas.famerp.br/patologia>.

Congestão do baço

A congestão do baço é caracterizada pelo aumento e volume do órgão, endurecimento


por fibrose e com possíveis focos de hemorragia. A congestão aguda é causada pela
insuficiência cardíaca. Nessa situação, o órgão aumenta pouco seu volume, encontra-se
cianótico e repleto de sangue. A congestão crônica ocorre principalmente em casos de
hipertensão porta (esquistossomose, cirrose).

67
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Figura 16. Congestão do baço.

Fonte disponível em: adaptado de <https://patologia.iptsp.ufg.br/n/4919-baco-congestao>.

Congestão hepática

A congestão hepática, aguda ou crônica, normalmente é causada por insuficiência


cardíaca congestiva e menos frequentemente pela obstrução de veias hepáticas ou da
veia cava inferior. O fígado, assim como o pulmão, também possui o peso e volume
aumentados.

Na congestão hepática aguda ocorre a degeneração e morte de hepatócitos que estão


próximos à veia centrolobular e esteatose dos hepatócitos periféricos. A manifestação
crônica da congestão hepática é caracterizada pela cirrose e formação de nódulos
regenerativos em áreas periféricas.

Figura 17. Congestão hepática. Observa-se o volume aumentado e coloração acentuada.

Fonte disponível em: adaptado de Freitas e Nogueira <disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia>.

68
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Isquemia

Etimologicamente, a palavra isquemia vem do grego “ischaimos” = detenção sanguínea,


“iskho” = deter + “haima” = sangue.

Isquemia é uma alteração circulatória definida como a falta de fornecimento de sangue


a um determinado tecido ou órgão, devido à diminuição da luz de artérias, arteríolas
ou capilares. Como o oxigênio levado até as células é transportado pelo sangue, por das
hemácias (glóbulos vermelhos), a isquemia resulta na falta de glicose e de oxigenação
nas células.

As causas da isquemia podem ser funcionais ou mecânicas:

Causas funcionais

»» hipotensão acentuada;

»» hemoglobina acentuada;

»» espasmo vascular;

»» redistribuição sanguínea.

Causas mecânicas

»» obstrução vascular;

»» compressão vascular;

»» espessamento da parede celular com diminuição a luz.

As consequências da isquemia dependem do grau de redução do calibre da artéria que


foi afetada, depende da velocidade com que é instalada, da eficiência da circulação
colateral e do grau de redução do calibre da artéria afetada.

Além disso, também existem vários tipos de isquemia. Elas podem variar desde
insignificantes (como, por exemplo, o sono durante a digestão – isquemia cerebral leve)
até o infarto e gangrena.

69
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Isquemia cerebral

A isquemia cerebral é uma das principais causas de óbito no Brasil e tem como
consequência altas taxas de sequelas neurológicas. O cérebro necessita de um fluxo
constante de sangue, assim, a isquemia ocorre quando o cérebro não recebe sangue
suficiente. É causada pelo comprometimento do fluxo sanguíneo nas artérias que nutrem
o cérebro. Essa obstrução pode ser iniciada na própria artéria ou devido a um coágulo
sanguíneo que se desloca até o cérebro. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ocorre
devido a essa oclusão de uma artéria no cérebro, ruptura de uma artéria, malformação
vascular (causando o sangramento) ou aneurisma.

Figura 18. Isquemia cerebral.

Fonte disponível em: adaptado de <https://biosom.com.br/blog/saude/isquemia-cerebral/>.

Ataque isquêmico transitório

Existe também o Ataque Isquêmico Transitório (AIT). Como o próprio nome diz,
acontece passageiramente e de repente. É um problema neurológico que provoca
sintomas de minutos ou até mesmo horas, no entanto, a recuperação é total. Comumente,
o AIT é causado por coágulos que bloqueiam o fluxo de sangue temporariamente para
o cérebro. Esse coágulo pode ser formado longe das áreas do cérebro e, por meio da
corrente sanguínea, chegar até ele. O coágulo pode ser formado por artérias danificadas
pela arterosclerose, diabetes mellitus, pressão arterial, células tumorais, bolhas de ar

70
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

e acumulo de bactérias, por exemplo. Os sintomas podem simular um AVC, alterar a


força em um braço ou perna, desviar a boca para um dos lados, alterar o a sensibilidade
de um lado do corpo, alterar o equilíbrio, visão e audição, convulsões, náuseas, dores
de cabeça e sonolência.

Os fatores de risco para o AIT são os mesmos do AVC. Os mais conhecidos são:

»» idade (a frequência aumenta com o aumento da idade);

»» genética;

»» doenças: como diabetes, aumento de colesterol ou triglicérides, doenças


cardíacas e arritmias;

»» tabagismo e sedentarismo.

A isquemia não deve ser confundida com hiperemia passiva. Enquanto a


isquemia é caracterizada pela deficiência no afluxo sanguíneo a um tecido, a
hiperemia passiva é a consequência da deficiência do efluxo ou drenagem de
sangue de um tecido. No entanto, como nas duas alterações os tecidos sofrem
hipóxia, normalmente elas são confundidas. Como consequência, a hiperemia
passiva pode acarretar no infarto vermelho ou hemorrágico e a isquemia, por
sua vez, o infarto branco ou isquêmico.

71
Capítulo 2
Trombose, embolia e infarto

Trombose

Etimologicamente, trombose vem do grego “Thrombos” = coágulo + “osis” = estado de.

O corpo humano possui um eficaz sistema de coagulação sanguínea. É por isso que,
quando há um corte, é comum ocorrer um sangramento inicial, porém, o sangramento
é cessado depois de algum tempo. Um dos motivos do sangue cessar é a migração das
plaquetas para o local ferido para formar um trombo a fim de parar o sangramento.
Após certo tempo, o trombo é desfeito (por diversas maneiras), o vaso recanalizado e a
circulação volta a acontecer normalmente. Esse é um dos mecanismos de homeostase
que o organismo possui.

No entanto, existem pessoas que têm distúrbios de hemostasia e acabam formando


trombos em lugares onde não houve sangramento. Normalmente, esse trombo é
formado nos membros inferiores. Como ele possui uma estrutura sólida, apesar de
amolecida, é possível que um fragmento se desprenda e comece a seguir o trajeto da
circulação venosa, a qual volta aos pulmões para a oxigenação do sangue. Dependendo
do tamanho desse trombo nos pulmões, pode ocorrer a embolia pulmonar, caracterizada
pelo entupimento causado pelo trombo. Essa é uma situação grave e pode ser uma das
causa da morte súbita.

Como visto, trombose é a forma patológica da hemostasia, envolvendo a formação de


trombos. Assim, a formação do trombo depende da consequência de três alterações
(Tríade de Virchow), que podem agir isoladas ou simultaneamente:

»» alterações reológicas hemodinâmicas;

»» alterações da parece vascular ou cardíaca;

»» alterações na composição sanguínea com hipercoagulabilidade.

72
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Figura 19. “Tríade de Virchow”.

LESÃO ENDOTELIAL

TROMBOSE

HIPERCOAGULABILIDADE
FLUXO SANGUÍNEO
ANORMAL

Fonte: Ucci, A. P., neste trabalho.

Alterações reológicas ou hemodinâmicas

»» Por estase.

»» Por turbulência.

Alterações da parede vascular ou endocardíaca

Essas alterações são notáveis na maioria das tromboses arteriais e em algumas venosas.
São causadas por traumas, infecções virais nas células endoteliais, parasitas na parede
vascular (endocardites), infarto do miocárdio, bactérias na superfície vascular e erosões
vasculares infiltrações neoplásicas.

Alterações sanguíneas (hipercoagulabilidade)

Esse é um dos fatores mais importantes na formação do trombo.

»» Trombocitose: anemias ferroprivas, disseminação de neoplasias


malignas, após hemorragias.

»» Incremento de fatores da coagulação: síndrome nefrótica, na gestação,


em algumas neoplasias malignas.

»» Redução da atividade fibrinolítica: obesidade, síndrome nefrótica, diabete


melito.

73
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

»» Aumento da viscosidade sanguínea: policitemia, queimaduras,


desidratação, anemia falciforme.

Existem algumas classificações para a trombose, as quais podem ser em relação à


estrutura, localização, efeito de interrupção do fluxo sanguíneo e pela presença de
infecção.

Em relação à estrutura, os trombos podem ser:

»» vermelhos, ou “de coagulação” ou “de estase”: possuem bastante hemácias


e são mais frequentes nas veias;

»» brancos ou “de conglutinação”: sobretudo, esses trombos são constituídos


de fibrina e plaquetas e são mais frequentes em artérias;

»» hialinos: basicamente são constituídos de fibrina, são mais frequentes


nos capilares;

»» mistos: esses são os mais comuns, formados por estratificações fibrinosas


com partes cruóticas. São formados por três partes: cabeça (trombo
branco), colo (porção estreita intermediária) e cauda (trombo vermelho).

Em relação à localização, o trombo pode ser:

»» Venoso. Surgem em locais de lesão endotelial ou turbulência dentro das


veias varicosas (geralmente localizado nos membros inferiores).

»» Cardíacos (murais ou valvulares). Surgem em local de lesão endotelial ou


turbulência dentro das câmaras cardíacas.

»» Arteriais (geralmente acomete as coronárias, cerebrais, ilíacas, e


femurais). Crescem no sentido contrário ao fluxo sanguíneo e possuem
laminações mais claras (Linhas de Zahan).

»» Capilares (nas coagulopatias de consumo). Surgem na coagulação


intravascular disseminada (CIVD).

Em relação ao efeito de interrupção do fluxo sanguíneo, os trombos podem ser:

»» oclusivos: obstruem por completo a luz vascular;

»» murais, parietais ou semi-ocludentes: obstruem de maneira parcial a luz


vascular;

74
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

»» canalizado: trombo oclusivo que restabeleceu pelo menos alguma parte


do fluxo sanguíneo.

Em relação à presença de infecção, o trombo pode ser:

»» séptico (quando houve infecção bacteriana ou trombo ou quando ele foi


formado devido a um processo inflamatório infectado);

»» asséptico.

O trombo também pode ter alguns destinos variados. Ele pode sofrer lise, amolecimento
puriforme, organização, canalização, colonização bacteriana e embolização.

Na lise ocorre a ação da plasmina digerindo o fibrinogênio, fibrina e alguns fatores de


coagulação (V, VII, XII e protrombina). Também impede que a fibrina seja sintetizada
novamente e inibe a agregação de plaquetas.

No amolecimento puriforme, neutrófilos são encarregados de realizar a digestão,


transformando o trombo em um conteúdo puriforme ou purulento (caso o trombo seja
séptico) que é liberado na circulação.

Na organização, macrófagos, fibroblastos e brotos de neovascularização transformam o


trombo em tecido de granulação.

Na canalização, os vasos recém-formados na organização anastomosam-se e permitem


que um fluxo sanguíneo parcial seja restabelecido.

Na colonização bacteriana, micro-organismos podem colonizar um trombo asséptico


tornando-o séptico (septicemia).

Por fim, é muito comum a embolização, ou seja, fragmentação ou deslocamento do


trombo.

Algumas situações clínicas podem favorecer a formação de trombo, como, por exemplo,
os aneurismas, o infarto agudo do miocárdio, placas ateroscleróticas ulceradas,
síndrome de hiperviscosidade e anemia falciforme.

As consequências de um trombo irão depender do tipo, da localização do trombo, do


tipo anatômico da circulação (terminal, colateral ou dupla) e da vulnerabilidade dos
tecidos à hipóxia. No entanto, geralmente acarretam na isquemia, hiperemia passiva e
embolia.

»» fragmentação do trombo, resultando na obstrução e infarto à distância.


Esse trombo afeta seriamente os rins, pulmões, cérebro e baço, causando

75
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

infarto cerebral, infarto renal, infarto pulmonar e infarto esplênico,


respectivamente.

»» Trombose Venosa Profunda (TVP), podendo culminar no


Tromboembolismo Pulmonar (TEP).

»» Trombose Venosa Superficial, acarretando em congestão, estase, dor,


edema.

»» Síndrome Pós-Trombótica, que consiste no edema persistente, ulcerações


varicosas, e alterações isquêmicas na pele.

Embolia

Trombo é uma massa formada pela coagulação do sangue.

Etimologicamente, embolia vem do grego “émbolo” = tampão, rolha; e “emboleé”


= irrupção.

Embolia é a ocorrência de qualquer elemento estranho (êmbolo) na corrente circulatória.


Seu transporte por meio dela, eventualmente, pode acabar sendo detido em um vaso de
menor calibre, causando a oclusão total ou parcial do vaso. Quase 100% das embolias
são causadas por fragmentos de trombos (chamados de tromboembolias). Todavia, os
êmbolos podem ser sólidos, líquidos e gasosos.

Figura 20. Embolia.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.fotosantesedepois.com/embolia/>.

76
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Êmbolos sólidos

Esses êmbolos são os mais frequentes e a maioria é oriunda de trombos ─ descolamento


integral ou fragmentação/tromboelismo ou embolia trombótica). No entanto, além
dos trombos, larvas e ovos de parasitos, massas bacterianas, massas neoplásicas e
fragmentos de ateromas ulcerados também podem atuar como êmbolos.

Êmbolos líquidos

Esses êmbolos são menos frequentes e podem ser classificados em Embolia amniótica
e Embolia lipídica ou gordurosa. A embolia amniótica acontece durante a gravidez,
quando o líquido amniótico é injetado na circulação venosa por conta das contrações
uterinas que ocorrem durante o parto. Os principais sintomas são a cianose, dispneia
e choque seguido de convulsão e coma. A embolia gordurosa ocorre quando gotículas
de gordura entram nos vasos sanguíneos e transportam-se neles até sua oclusão.
Os lipídeos podem formar êmbolos quando há:

»» esteatose hepática intensa;

»» queimaduras extensas da pele;

»» esmagamento ósseo e/ou tecido adiposo;

»» injeção de grande quantidade de substâncias oleosas através da veia


venosa;

»» inflamações agudas e intensas de medula óssea e tecido adiposo;

»» acompanhamento da embolia gasosa nas descompressões subotas.

Êmbolos gasosos

Esses são os êmbolos mais raros. Podem ter origem venosa ou arterial e os gases podem
acontecer nas situações seguintes:

»» perfuração do tórax com aspiração de ar;

»» injeção de ar na circulação sanguínea da mãe, durante o parto


(nas contrações uterinas). Os sintomas aparecem logo no parto ou
imediatamente no pós-parto;

»» descompressões súbitas. Ocorre, por exemplo, nos mergulhadores,


quando quantidades crescentes de ar (principalmente o nitrogênio)
77
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

são dissolvidas no sangue. As consequências são sufocação e necrose


isquêmica nos ossos devido aos êmbolos gasosos crônicos.

Além disso, existem três tipos de embolia: a embolia direta, a embolia cruzada e a
embolia retrógrada.

Embolia direta
Essa é a embolia mais frequente. Os êmbolos são deslocados no sentido do fluxo
sanguíneo.

Há êmbolos que são provenientes das artérias ou do lado esquerdo do coração e seguem
na direção dos capilares. Estes são comuns nas aterosclerose aórtica, tromboses murais
pós-infarto do miocárdio e nas endocardites vegetativas. É comum afetarem o cérebro,
baço, rim e extremidades.

Há, também, os êmbolos que são oriundos de veias ou do lado direito do coração e
vão em direção aos pulmões (embolia pulmonar). Este é o mais comum e letal ao ser
humano, pois podem acarretar na insuficiência súbita do coração e morte por hipóxia.
Frequentemente, a maioria dos êmbolos oriundos das veias migram até o pulmão
(exceto o das veias tributárias).

Embolia cruzada ou paradoxal


Nesse caso o êmbolo passa da circulação venosa para arterial ou da circulação arterial
para a venosa em atravessar os capilares. Essa transição ocorre por fístulas arterio-
venosas ou por intermédio de comunicação interventricular ou interventricular.

Embolia retrógrada
Na embolia retrógrada, o êmbolo se movimenta do sentido oposto do fluxo sanguíneo
(como, por exemplo, a migração do Schistosoma mansoni).

Quando os trombos são formandos no interior de veias profundas, como nas pernas, por
exemplo, pode ocasionar a Trombose Venosa Profunda (TVP). A TVP pode acarretar em
um edema, porém, a principal consequência é a embolia pulmonar (quando o coágulo
ou parte dele é transportado pela corrente sanguínea até os pulmões).

Tromboêmbolia
A diferença do tromboêmbolo em relação ao êmbolo é que o primeiro não está aderido
à parede do vaso não assume a anatomia da luz vascular. Mais de 90% dos êmbolos se
originam de trombo.

78
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Os tromboêmbolos têm origem arterial. Os êmbolos paradoxais têm origem venosa,


no entanto, migram para a circulação arterial pelas comunicações interventriculares.
O cérebro, rins, baço e intestino são os órgãos mais afetados pelo tromboêmbolo.

A origem mais frequente da tromboembolia cerebral é no coração, infarto do miocárdio,


miocardite chagásica, cirurgia cardíaca e endocardite bacteriana.

As consequências da embolia irão depender da natureza e volume do êmbolo e do local


atingido. Porém, geralmente há isquemia e hiperemia passiva.

Infarto
Foi visto que a obstrução do suprimento arterial ou da drenagem venosa pode causar
uma necrose isquêmica. Essa área de necrose isquêmica é chamada de infarto, ou
seja, morte das células por isquemia prolongada. Se a trombose ou embolia não forem
tratadas de maneira rápida, o tecido que estava recebendo sangue pode morrer.

A maioria dos infartos acorrem devido a uma obstrução trombótica ou embólica, no


entanto, também existem outras causas como hemorragia em uma placa ateromatosa,
vasoespasmo, compressão extrínseca.

Os infartos podem ser classificados em sépticos, assépticos, vermelhos (hemorrágicos)


ou brancos (anêmicos).

O desenvolvimento do infarto pode ser influenciado pela taxa de desenvolvimento da


oclusão, teor de oxigênio no sangue, vulnerabilidade à hipóxia e natureza do suprimento
vascular.

Infarto do Miocárdio
O Infarto do Miocárdio (IM) consiste na morte do músculo por isquemia (quando
a quantidade de sangue atinge o coração por muito tempo, provocando a morte das
células musculares por hipóxia) e pode ocorrer em qualquer idade. Aproximadamente
10% do IM pode ocorrer em pessoas com menos de 40 anos e 45% ocorre em pessoas
com menos de 65 anos. No entanto, a frequência do IM aumenta progressivamente com
o aumento da idade. A incidência de IM também está relacionado com predisposições
comportamentais a aterosclerose, genética, diabetes melitus, além de outras causas de
hiperlipoproteinemia (ROBBINS; COTRAN, 2016).

O IM pode ser reconhecido por algumas características clínicas, incluindo o


eletrocardiograma (ECG), marcadores de necrose do miocárdica, imagem ou definido
pela patologia.

79
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Em relação à patogênese, o IM é iniciado com a ruptura de uma placa ateromatosa.


Quando isso acontece, as plaquetas tornam-se expostas ao conteúdo necrótico da placa
e também ao colágeno endotelial e então, começam com mecanismos de agregação,
adesão e liberação de agentes agregadores. Dependendo da localização da placa, o
infarto pode ser:

»» Anterior: a área afetada está situada na frente do músculo do coração.


Esse é o tipo mais grave.

»» Posterior ou inferior: a área afetada está situada em um dos ramos da


artéria coronária direita e é menos grave que o infarto anterior.

»» Lateral: obstrução da artéria circunflexa, causando um infarto confinado.

Quando não há aterosclerose, o IM pode ser causado por doenças de pequenos vasos
coronarianos, distúrbios hematológicos, entre outras.

Pessoas com IM apresentam forte transpiração, sendo que entre 10-15% do inicio
dele pode ser assintomático. As complicações posteriores a um IM podem englobar
pericardite, trombo mural, extensão da área do infarto, aneurisma ventricular,
insuficiência cardíaca, arritmias, entre outros. A arritmia considerada mais grave
é fibrilação ventricular (batimento cardíaco rápido e irregular, principal causa da
parada cardíaca súbita). A taquicardia ventricular também é perigosa, pois aumenta a
frequência cardíaca, impedindo o bombeamento de sangue para o coração.

Figura 21. Infarto do Miocárdio.

Fonte disponível em: adaptado de <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAArc8AB/infarto-agudo-miocardio>.

Há uma classificação sobre o contexto clínico que é usada pela terceira definição
universal de infarto do miocárdio (THYGESEN et al, 2012):

80
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Tabela 10. Terceira definição universal de infarto do miocárdio.

Tipos de IM Contexto clínico


Tipo 1 Complicação de placa aterosclerótica (ex.: erosão, ruptura, ulceração).
Desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio na ausência de complicação de placa aterosclerótica (ex.:
Tipo 2
anemia, hipotensão, choque circulatório, bradi ou taquirritmias).
Morte súbita na vigência de sintomas/alterações eletrocardiográficas sugestivas de IM em que marcadores
Tipo 3
de necrose miocárdica não estão disponíveis.
Tipo 4a Complicação de angioplastia coronariana (ex.: oclusão de ramo da artéria principal, embolia distal).
Tipo 4b Infarto relacionado à trombose de Stent.
Tipo 5 Infarto relacionado à cirurgia de revascularização miocárdica.
Fonte disponível em: adaptado de <https://cardiopapers.com.br/como-classificar-os-diferentes-tipos-de-infarto/>.

Infarto do Pulmão

A Tromboembolia Pulmonar (TEP) é uma importante causa de morbidade. O infarto


pulmonar ocorre de 10-15% em pessoas com pneumonia.

A embolia pulmonar ou TEP resulta de um trombo que se soltou das veias da perna e
migrou até uma das artérias do pulmão, impedindo o fluxo sanguíneo. Dependendo
do tamanho do trombo, a embolia pode causar a morte súbita. Quando o trombo é
pequeno, ele pode permanecer em alguma artéria periférica do pulmão. No entanto, se
o trombo for grande, ele pode permanecer na saída do coração, impactando a passagem
de sangue e causando a morte do pulmão e falência do coração.

Figura 22. Infarto Pulmonar.

Fonte disponível em: adaptado de <https://pt.slideshare.net/JaimeCruz5/tromboembolismo-pulmonar-63117458>.

81
UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

A aterosclerose é uma inflamação que contém placas de gordura, cálcio e outros


componentes. O acúmulo de gordura nas paredes das artérias pode causar seu
enrijecimento, situação conhecida como ateroma.

A placa vai crescendo com o tempo e, consequentemente, o vaso vai estreitando


até sua completa obstrução, comprometendo suas atividades e causando
doenças cardiovasculares (como, por exemplo, o infarto, acidentes vasculares
cerebrais, morte súbita).

A evolução da aterosclerose pode ser silenciosa, o que a torna perigosa, pois


a formação de placas pode ser descoberta somente quando a artéria está
completamente obstruída e o paciente precisa de atendimento imediato.

Choque
O choque é caracterizado por uma crise aguda de insuficiência cardiovascular. Além
de ser uma alteração circulatória aguda, também é rápida, geralmente levando a óbito.
Quando ocorre o choque, o coração e os vasos não conseguem irrigar os tecidos com a
quantidade de oxigênio necessária. Há cinco tipos de choque, 2 da macrocirculação e 2
da microcirculação:

Choque Hipovolêmico
Ocorre quando há uma diminuição do volume sanguíneo, plasma e eletrólitos e
diminuição do retorno venoso e do débito cardíaco, como, por exemplo, a desidratação
por queimadura, hemorragia.

Choque Séptico
Ocorre em casos de septicemia. Toxinas produzidas por determinadas bactérias
(principalmente Gram negativa) fazem com que as células do corpo liberem algumas
substâncias que desencadeiam o processo inflamatório (citocinas). Mesmo que essas
citocinas atuam ajudando o sistema imunológico para combater a infecção, elas podem
causar a dilatação dos vasos sanguíneos e diminuição do retorno venoso e débito
cardíaco, acarretando na diminuição da pressão arterial.

Choque Anafilático
Ocorre como consequência de reação antígeno-anticorpo, resultando em uma resposta
alérgica acentuada com aumento de liberação de histamina. Há dilatação de vasos e,
portanto, queda da pressão arterial.

82
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Choque Neurogênico

Redução do tônus das veias e artérias devido a uma desregulação neurogênica.


É uma resposta vasomotora com vasodilatação, diminuindo o retorno venoso e o débito
cardíaco (exemplo: anestesia peridural).

Choque Cardiogênico

Ocorrem devido a uma disfunção cardíaca.

O choque possui três estágios:

1. Inicial: a perfusão é mantida e ocorre a ativação de mecanismos reflexos


compensatórios.

2. Progressivo: hipoperfusão tecidual e início dos desequilíbrios


circulatórios.

3. Irreversível: tem início após lesões celulares consideradas graves.


Mesmo que os defeitos hemodinâmicos sejam corrigidos, não é possível
a sobrevivência.

83
Capítulo 3
Reparo regenerativo e cicatricial

O processo de cura de um tecido pode ocorrer por regeneração ou reparo (cicatrização).


A Matriz Extracelular (MEC) possui componentes que são fundamentais no processo de
reparação dos tecidos. Eles são responsáveis pela produção de fatores de crescimento,
citocinas e quimiocinas (que são requeridas para a reparação tecidual), possibilitam
a angiogenese, mantêm a polaridade celular e fornecem rede para a migração celular.
A MEC é formada por proteínas estruturais fibrosas, como, por exemplo, as
glicoproteínas, proteoglicanos, colágeno, elastina.

Regeneração
É a substituição do tecido morto por outro idêntico tanto em relação à morfologia quanto
a função. A regeneração consiste na proliferação de células e tecidos a fim de substituir
regiões que foram danificadas ou até mesmo perdidas. É importante compreender que
a regeneração de tecido lesionado é diferente da regeneração fisiológica, a qual se refere
à reposição de células, como a reposição de células do sangue, por exemplo, que são
destruídas normalmente.

Além disso, a regeneração depende se as células são lábeis, estáveis ou permanentes


(perenes):

»» Células lábeis – As células lábeis são aquelas que continuam a se


multiplicar durante a vida toda. São as células da pele, mucosas, epitélios,
tecido hematopoiético.

»» Células estáveis – As células estáveis normalmente não se dividem, no


entanto, elas têm a capacidade de proliferação quando são estimuladas.
Essas são as células do tecido osteocartilaginoso, células parenquimatosas
(fígado, rim, pâncreas).

»» Células perenes – As células perenes são aquelas que perderam toda


a capacidade de se dividirem. Essas são as células do músculo estriado,
cardíaco e sistema nervoso.

A regeneração tecidual pode ocorrer:

»» nos epitélios: estes são facilmente regenerados;

»» fígado: o fígado pode se regenerar se mantido no arcabouço conjuntivo.


A regeneração pode ser completa, quando há pequenas lesões necróticas
e os hepatócitos ao redor sofrem mitose para substituir os mortos ou
84
Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

pode possuir nódulos regenerativos, quando a área de lesão é grande e


compromete a reorganização da arquitetura lobular. Nas pequenas lesões
o estroma é preservado enquanto nas lesões com grande área ocorre um
colapso do estroma reticular. Além disso, a lesão pode ser aguda, quando
parte de hepatócitos ou epitélio biliar ou crônica, a partir de células tronco
e de progenitoras residentes;

»» adiposo: o tecido adiposo pode ser facilmente regenerado (fibroblastos,


adipócitos);

»» osso: a regeneração ocorre a partir do periósteo;

»» cartilagem: a regeneração ocorre a partir do pericôndrio;

»» medula óssea: fácil regeneração;

»» musculo liso: regenera pouco;

»» musculo estriado: não regenera;

»» tecido nervoso: os neurônios não regeneram, mas as células da glia e


células se schwann se regeneram.

Cicatrização
Quando ocorre a substituição de um tecido perdido por um tecido neoformado
originado do estroma (conjuntivo ou glia), ou seja, o tecido lesado é substituído por
tecido conjuntivo vascularizado.

Primeiramente, as células fagocitárias fagocitam restos celulares e sangue que foi


extravasado. É o processo de instalação da reação inflamatória.

Posteriormente, ocorre a proliferação fibroblástica e endotelial a fim de formar o tecido


conjuntivo cicatricial. Como a cicatrização por tecido fibroso é formada por tecido mais
simples daquele que precisa ser substituído, essa cicatrização acarreta na perda da
função fisiológica da região da região comprometida. Uma cicatrização de uma região
cardíaca, por exemplo, após um infarto, reduz a função do órgão.

Para que ocorra os mecanismos de cicatrização, existem alguns fatores que devem
acontecer. São eles:

»» formação de coágulo;

»» ativação da inflamação;

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UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

»» liberação de interleucina (IL–1) e fator de necrose tumoral (TNFa) por


macrófagos;

»» exposição de moléculas de adesão (ICAM, VCAM);

»» vasodilatação;

»» migração de leucócitos.

Devido a enorme variedade de situações em que pode ocorrer à cicatrização, ela pode
ser considerada como cicatrização primaria, ou por primeira intensão e cicatrização
secundaria, ou por segunda intensão.

Cicatrização por primeira intensão

É o tipo mais simples de reparação, bem orientada e com o mínimo de fibrose possível.
Ocorre em ferimentos, cirurgias (com a incisão do bisturi e posterior sutura).

Figura 23. Cicatrização primeira intensão.

Fonte disponível em: adaptado de <http://wp.ufpel.edu.br/patogeralnutricao/files/2013/05/Regeneração-e-Cicatrização.pdf>.

Cicatrização por segunda intensão

A cicatrização de segunda intensão, também chamada de união secundaria, ocorre


quando a área lesada é extensa, não sendo possível o uso de suturas. Refere-se ao
preenchimento de grandes regiões de tecidos destruídos, como por exemplo as úlceras,
lacerações de pele e músculos, abscessos, contaminação de uma incisão cirúrgica.
O mecanismo básico é o mesmo que na primeira intensão, no entanto, contendo
área lesada maior e grande quantidade de exsudato inflamatório e restos necrosados.
Ocorre a formação de grande quantidade de tecido cicatricial, podendo provocar uma
protuberância no local, chamado de queloide.

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Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

A cicatrização, além de queloide, ser hipertrófica e queloide. A cicatrização hipertrófica


é reversível enquanto a queloide é irreversível ou quase irreversível. Neste último caso
há um descontrole na síntese de colágeno.

Tecido de granulação

A resposta dos tecidos à uma injúria consiste no acúmulo de células inflamatórias


na região que foi atingida. Durante as primeiras 24 horas são, basicamente,
polimorfonucleares. Em seguida, os macrófagos tornam-se mais números e,
posteriormente, ocorre a proliferação dos fibroblastos. Assim, ocorre o avanço de novos
capilares para as áreas lesadas e o material extracelular que os fibroblastos produziram
se acumulam. Esse conjunto de material extracelular, células e vasos recém formados
formam o tecido de granulação jovem. Macroscopicamente, esse tecido é caracterizado
pelo aspecto róseo e, microscopicamente, pela proliferação de fibroblastos e vasos.
Posteriormente, esse tecido de granulação é modificado e se torna maduro, com aspectos
e funções diferentes daquele encontrado nos primeiros dias.

Reparação de nervos, músculos, ossos e tendão

Nervos

Quando ocorre a reparação dos nervos, o processo é o de regeneração. Devido ao fato das
células do sistema nervoso não se multiplicarem, o processo de regeneração acontece
pela neoformação do axônio. No entanto, isso só é possível se o corpo celular não sofreu
necrose. Caso o corpo celular tenha sofrido uma lesão celular irreversível, não ocorre
a regeneração e, nesse caso, pode haver cicatrização da área. O axônio que está lesado
se prolifera através do caminho deixado pela fibra lesada, assim, é importante que o
endoneuro esteja preservado.

Reparação no Sistema Nervoso Central (SNC)

Quando a lesão ocorre no cérebro, elas são reparadas por astrócitos e não por
fibroblastos. Os astrócitos que substituem o tecido necrótico formam fibras gliais
(gliose). Em casos da lesão ser mais severa, ocorre a formação de cavidade contendo
líquido (cisto), envolvida por astrócitos e fibras gliais.

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UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Músculos

O tecido muscular liso possue, naturalmente, capacidade de regeneração.


No entanto, se a área é extensa, o reparo será por cicatrização. Há duas condições em
que a regeneração do músculo liso pode ser observada:

»» proliferação dos vasos neoformados;

»» regeneração de áreas pequenas da mucosa intestinal.

Os músculos cardíacos possuem a sua capacidade de regeneração muito limitada.


Pode-se dizer, inclusive, que essa capacidade de regeneração do músculo cardíaco é
inexistente. No entanto, é importante lembrar que as células musculares estriadas
podem apresentar hipertrofia.

As hérnias ocorrem quando há reparação incompleta do tecido muscular do abdômen.


É caracterizada por projeções das vísceras decorrente de uma pressão abdominal em
áreas de tecido muscular enfraquecido.

Osso

É comum a reparação do tecido ósseo, normalmente não há grandes complicações.


No entanto, lesões na cartilagem podem acarretar em lesões irreversíveis, resultado
da formação de um tecido desorganizado. Assim, enquanto a fratura de um osso pode
voltar ao normal, a ruptura da cartilagem pode ser irreversível. Para que ocorra a
reparação óssea, é necessários que alguns passos ocorram. São eles:

Redução da fratura: como uma maneira de facilitação do processo de reparação


evitando deformidades, os fragmentos da região deformada são aproximados. O nome
desse processo é chamado de redução da fratura.

Fatores predisponentes à fratura óssea:

»» doença de Paget;

»» osteogênese imperfeita;

»» osteoporose (fêmur, coluna vertebral);

»» osteomalácia (fraturas pequenas não substituídas);

»» tumores primários e metástases.

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Distúrbios Circulatórios │ UNIDADE III

Existem alguns fatores que participam do processo de reparação. Eles podem ser
sistêmicos ou locais.

Sistêmicos

Condições fisiológicas do indivíduo

Geralmente, pacientes jovens possuem maior capacidade de reparação. Isso ocorre


devido ao melhor suprimento sanguíneo na área afetada.

Nutrição (proteína e vitamina C)

Como a reparação da área afetada é feita por tecido neoformado, é importante que a
região seja nutrida. A falta de vitamina C, por conta de alterações na síntese de fibras
colágenas, acaba atrasando a reparação.

Diabetes

Ocorre a alteração dos vasos na diabetes, além de uma provável diminuição na síntese
proteica.

Estereoides

O possível aumento de produção das lipocortinas é um dos mecanismos de ação dos


glicocorticoides. A fosfolipase A2, importante na liberação do ácido araquidônico, é
inibida pela lipocortina.

Locais

Suprimento sanguíneo

Para que ocorra a reparação, a reação é dependente de suprimento sanguíneo no


local, assim como em todo processo inflamatório. Se a área é pouco irrigada (como,
por exemplo, na arterioesclerose acentuada), o reparo é feito em tempo muito mais
prolongado ou então não é feito. Áreas propícias são a cabeça do fêmur e o pulso ─
podendo acarretar na necrose avascular.

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UNIDADE III │ Distúrbios Circulatórios

Presença de corpo estranho

A presença de um corpo compromete a reação, pois ele atua como estimulante para a
inflamação. O tecido necrosado (infarto) é um estimulo para inflamação e necessita ser
removido.

Mobilidade

A imobilização e a redução da fratura são importantes para os casos de reparação óssea.


A imobilização de tecidos moles também pode ajudar no processo de reparação.

»» Extensão da lesão.

»» Infecção.

»» Natureza do tecido lesado.

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