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AVENTURAS ANA ISTORIA. APRESENTA Como a maior sociedade secreta de todos os tempos ajudou a escrever a historia do Brasil e do mundo CARTA AO TWIT OIR DESMONTANDO MITOS i final, a magonaria & uma sociedade secreta? Seu papel realmente foi decisivo em momentos importantes da histria? Ela ja quis — ‘ou quer — dominar 0 mundo? Sobram pontos de interrogasa0 na cabega da maioria das pessoas quando assunto é essa irmandade, a maior — e provavelmente a mais famosa — de todos os tempos. ‘Muitas dessas perguntas, pode ter certeza, sio frutos de mitos alimentados por séculos, principalmente por aqueles que sempre cenxergaram nos masons uma ameaca. E os inimigos da magonaria ‘io foram poucos, muito menos despreziveis (como vocé veri na reportagem da pigina 66). Pois bem: além de reconsttuir a trajet6ria da ordem, desde as suas supostas origens até os dias de hoje, esta edigio especial tem por ‘objetivo desmontar boa parte desses mitos. Vocé vai descobrir como 4 irmandade atuou, ¢ até que ponto foi decsiva, em seis epis6dios ppara li de marcantes na hist6ria da humanidade: a independéncia do Brasil e dos Estados Unidos, a Revolucio Francesa, a libertagio da América Espanhola, 0 processo de unificagio da Itdlia e a Proclamasio da Repiblica brasileira. Conheceri os masons mais {importantes do passado e do presente. E entenderi o significado dos principas simbolos ¢ cédigos magnicos — como os trés pontos ‘em forma de delta que muitos masons acrescentam a sua asinatura (eque eu, mesmo nao sendo magom, incorporei& minha neste texto, ‘6 para fazer uma grasa). HistORiA Wee Evel. Soe EDUARDO LIMA editor ‘ustanatont weap INTRODUGAO A MACONARIA Actigem, as tradicdes ‘¢ os segredos da maior ‘e mais famosa sociedade secreta da historia REVOLUCAO AMERICANA A guerra entre iemBos que resultou na Indepenctncia os Estados Unidos — o pats ‘mais magénico do mundo REVOLUGAO FRANCESA A decisiva partcipacso {de magons em um dos eventos mais importantes 4a Idade Moderna PROCLAMAGAO DA REPUBLICA ‘A magonatia ports dos acontecimentos ‘que conduziram a extingdo o Brasil Império ALGOZES IMPLACAVEIS $6 tem “gente fina” no time {que sempre perseguiu os los macons: de papas inquiskdores 2 Adolf Hitler LIGACOES DUVIDOSAS Quatro ouras sociedades secretas que, de alguma forma, podem ter algo em LIBERTACAO DA AMERICA Do México 8 Argentina, rmagons estiveram a frente a lta pela emancipacio 42s coldnias espanholas MAGONARIA HOJE (0s macons garantem: 0 grande segredo da inmandade, agora, & nio ‘auardar segreco aigum UNIFICACAO ITALIANA Se ndo fosse a magonava, a Itlia como a connecemos hoje provavelmente no apareceria nos mapas INDEPENDENCIA DO BRASIL 0s planos para libertar a coltnia do dominio portugues ‘acabaram sendo tragados Sento de ljas magénicas SO QUEM PROCURA ACHA Se prestar bastante atencSo, voct vai encontrar releréncias 8 magonaria fem uma porgio de filmes ULTIMA PAGINA ‘Serd que o quadro 0 Gedprato, do holandes Johannes Vermeer, ¢ uma ‘bra-prima magénica? ISVENDANDO A IRMANDADE SURGIDA NA IDADE MEDIA, A MAGONARIA JA REUNIU HERGIS E VILOES. FOI ACUSADA DE TODO TIPO DE CONSPIRAGAO. MAS OS MACONS GARANTEM: NUNCA QUISERAM DOMINAR 0 MUNDO por JOSE FRANCISCO BOTELHO Hi centenas de anos, a maior sociedade seereta do mundo se reiine a portas fechadas, em sales sem janelas, com Fituais cheios de obscuras simbologias, para debater — «6, quem sabe, determinar — os rumos da humanidade. ‘A magonaria, que hoje conta com aproximadamente 5 milhes de membros ao redor do planeta é sem dlivida a irmandade mais longeva e intrigante na histéria do mundo ‘ocidental (embora também tenha chegado e se estabelecido ‘em lugares como a China, Oriente Médio ea india). ‘Ao mesmo tempo temida e respeitada, a irmandade jit reuniu herdis e cripulas, revolucionarios e aristocratas, lataes. E jé foi acusada de todos os tipos de — como, por exemplo, planejar a cri de um governo mundial tinico, tentar destruir a Igreja € até praticar satanismo, Mas os magons garantem que seu objetivo & muito mais simples € nobre: conduzir hhumanidade no caminho da Luz — ou,em outras palavras, plas vias da razao do obseus no rumo contririo ao da intolerancia ntismo. OS MAGO: SE REFEREM US COMO ° A ARQUITETO DO UN VERSO. DAL A IDEIA DE QUE ELE TERIA § bo opr EIRO INT AN DA ORDEM Controvérsias ¢ incertezas & parte, 0 que ninguém nega E que os magons exerceram, sim, uma enorme in- fluéncia nos caminhos recentes da historia, Estiveram ‘envolvidos, por exemplo, em duas das maiores revoluges da Idade Moderna — a Americana, de 1776,¢ a France- sa, de 1789. Américas, Enearnaram a luta pela independéncia nas E atrairam para suas fileiras gente tio gratida ‘quanto Napoledo Bonaparte e dom Pedro I, um texso dos nidos e artistas imortais como ig. 11). Quais seriam as origens da “sociedade secret famosa do mundo? A verdade € que ninguém sabe dizer a0 certo, por mais que conbesa sia histéria. Muito mis presidentes dos Estados Mozart e Goethe (leia mais na tério acompanha a irmandade desde os seus primeiros passos. E as verses para o nascimento da ordem so riltiplas. Algumas delas estio relativamente bem fun: dadas em fatos reais. Outras, no entanto, sto repletas de lendas mirabolantes. A palavra “magom” vem do inglés ‘mason ou do frances mayon. Significam “pedreiro” — ‘ou, num sentido mais amplo, “artifice”. SIMBOLOS ETERNOS A simbologia maginica, Presente nos templos erituais¢€ preservada pelos COMPASSO EESQUADRO Por desenbar circles pere dda peed do dng rete LETRAG Ven de God (Deus em ‘Criader como GADU sigla para Grande Arguiteto do Univ AVENTAL Lenin , CHAO XADREZ [Nao por acaso, as historias mais conhecidas tem a ver com grandes construtores. A comegar pelo maior de- les: Deus, que entre os membros da ordem & chamado de Grande Arquiteto do Universo. Dai a nogio metaférica de que © Criador teria sido 0 primeiro magom, Outro possivel fundador seria Noé — um engenheito de talen- tos invejéveis a julgar pelo relato biblico, segundo o qual ele teria construido um barco grande o bastante para so- breviver 20 dikivio. Hi quem acredite, ainda, que os mes- tres de obras do Egito antigo, preocupados em guardar 0 segredo de suas pirimides, fundaram uma ordem que, ‘mais tarde, daria origem & magonaria, MARTIR MITOLOGICO Alenda mais divulgada, contudo, aponta um certo Hiram Abiff, engenheiro-chefe do rei Salomio ¢ responsive! por enguer 0 grandioso — hoje desaparecido — Templo de Je- rusalém. Conta-se que Hiram teria sido emboscado e as- sassinado por rivais de profisio, que quetiam extrair-Ihe seus proverbiais segredos de construtor. Até hoje ele € uma espécie de mértir mitolégico da magonaria: um homem que preferiu morrer a dar com a lingua nos dentes. Embora essas origens miticas remontem até a cria~ 0 do mundo, a versio mais accita pelos historiadores € «que situa as raizes da magonaria na Idade Média. Na- quela época, 0 controle do comércio era feito pelas guil- das — poderosas corporages que reuniam artesios de ‘um mesmo ramo, funcionando como ancestrais dos sin dicatos de hoje. Uma das guildas mais poderosas era, precisamente, a dos pedreiros — oficio que incorporava as atividades de arquiteto, engenheiro © empreiteiro, Eram eles os responsiveis pela construgio dos castelos que protegiam os nobres e pelas magnificas catedrais que representavam o poder da Igreja (© monopélio das técnicas de construcio garantia- Ihes o respeito dos bem-nascidos: os pedreiros medievais tinham salvo-conduto para andar livres entre feudos € reinos € contavam com amplo acesso as cortes reais. Por isso, acabaram ficando conhecidos como free masons ou _franc-masons — “pedteitos livres”. Suas reunides ocor- iam nos canteiros de obras, onde eles trocavam sigilosa~ mente truques ¢ macetes. Esse & 0 periodo conhecido como magonaria “operativa" — época em que os masons realmente sujavam as miios com reboco e argamassa. ado OLHO QUE TUDO VE COLUNAS GREGAS Ta temple maom d PEDRA BRUTA E PEDRA POLIDA ada, as pedras Bra ¢ pos ESTRELA DO ORIENTE Muito con SIGILO ABSOLUTO Por volta do século 16, 0 monopélio sobre as técnicas de construgio escapou ao controle das guildas. Mas a magona~ ria jtinha ganho um prestigio que ia muito além dos cireu- Jos de artesos. A parti da Renascensa, 0 grupo passou a atrair também intelectuss, artistas e nobres. Em vez dos canteitos de obras, os magons passaram ase reunirem sales fechados, chamados lojas (do inglés lage, “alojamento"). © que eles discutiam em suas reunides secretas? © conteiido das conversas era sempre mantido em segre- do, Hoje se sabe que, apés o fim da fase “operativa’, (os interesses da ordem se voltaram para temas como a fi- losofia e o progresso da humanidade. Uma das ideologias ‘que mais influenciaram a ordem naquela época foi 0 “deismo” — escola de pensamento surgida na Inglaterra ‘que pregava a crenga em uma forsa césmica inteligente, combatendo ao mesmo tempo a superstisio € 0 obscu- rantismo. Comegava aio periodo da magonaria “especu- lativa’, que dura até hoje ¢ & marcado especialmente pela ‘combinagio de racionalismo ¢ misticismo, CODIGOS SECRETOS Essas duas tendéncias se conjugam nos rituais e sim- bolos da ordem —a comesar pelo mais célebre, o compas 0, signo da razio. © esquadro, por sua vez, representa a capacidade humana de alterar a natureza (um poder que, segundo a visio magénica de mundo, deve sempre ser usa~ do com precisio € parciménia. Objetos como martelos, aventais e luvas — mais referéncias diretas aos ancestrais “operativos’— sio pecas que no podem faltar em cerimd- nas da irmandade (lia mais na pg. 9). ‘Um dos simbolos mais universais e sugestivos, contu~ do, é aquele otho misterioso situado no centro de um triin- sgulo—imagem comum na fachada de templos magdnicos. As trés pontas do triingulo equilitero podem ter virios significados (um deles, “liberdade, igualdade e fratemida- de"). O olho representa ninguém menos que Deus, aquele aque tudo v8. E ease mossica de signos ¢cifes, eapécie de tapesaria de significados ¢ alusdes, que cobre o interior das lojas. A aura de obscuro fascinio é acentuada pelos estra~ inhos degraus que compéem a hierarquia da ordem. Os no- vatos sio chamados de aprendizes, enquanto os membros No pasado, 0s macons criaram toques e sinais para se reconhecer em pdblico sem que fossem identificados por ‘quem ndo pertencia & fraternidade. Esses cédigos acabaram virando tradicdo. E continuam sendo usados até hoje ABRAGOFRATERNO — APERTO DE MAO Consiste em colocar um (Qs magons se reconhe- bbrago por cima e outro ‘cem no cumprimento 20 or bai, em x, baterttés _encostar 0 dedo indicador vezes nas costas e trocar no punho de quem esta de posigdotrés vezes. sendo cumprimentado. PES EM ESQUADRO- MAO NO CABELO ‘Uma maneira de se identi- Outro sinal para identiicaca0 ‘car como macom em locals fora dos tempos macbnicos pablicos ¢ endireltar a 6 passar a mao pelo ‘coluna e formar um cabelo, irando-a durante ‘esquadro com os pés. ‘movimento, ‘omsrnapbes: TIAGO PASSO MAGONS IMORTAIS Artistas, politicos cestiveram ligados a ordem J.W. GOETHE OSCAR WILDE t dade de O: mais tarimbados levam titulos tio enigmiticos quanto formidaveis — como Cavaleiro do Oriente, Principe do ‘Tabernéculo e Sublime Principe do Real Segredo. CONSPIRAGAO MUNDIAL? No inicio do século 18, 0s tentéculos da irmandade comega- ram a se espalhar por toda a Europa e, dali, chegaram até a Asia as Américas. Mas, se por um lado 0 prestigio dos ‘magons aumentava, também cresciam as desconfiancas pai- rando sobre eles. Isso acontecia,em parte, porque muita gen- te que nao pertencia a0 grupo o associava aos Cavaleinos ‘Templirios — uma ondem de monges guerreiros que, na Idade Média, havia controlado as finangas da Europa. Acusados de cultuar o deménio,eles foram exterminados no século 14 pela Igreja e pela monarquia francesa. Nos séculos 18 ¢ 19, surgiram boatos de que os magons seriam os hherdeiros dos desaparecidos templirios — e que teriam man- tido, inclusive, uma queda por rituais satinicos. Resultado: 1 magonaria passou a se vista como um clube de ocultstas conspiradores, que pretendiam virar do avesso a civilizagio ‘xidental. Nao por acaso, em 1738, uma bula papal conde nou a irmandade, que passou a ser perseguida pela Santa Inquisigio (eia mais na reportagens das ps. 56 ¢ 72). ‘A tal conspiragio mundial jamais passou de um rumor, Mas € bem verdade que o sigilo absoluto sobre 0 que era iscutido nas reunides da ordem servia de fermento para ebuligbes politicas. Na América do Norte, a irmandade atraiu uma legio de pensadores e lideres que sonhavam com a independéncia dos Estados Unidos em relagio a In- glaterra — em grande parte, a Revolusio Americana foi planejada no interior de lojas magdnicas. Benjamin Franklin, um dos grandes idedlogos da rebelio, foi grio- mestre da ordem, assim como George Washington, lider militar dos revoltosos e primeito presidente da nagio. Tho- mas Jefferson, que entrou para a historia como autor da Declaragio de Independéncia, também era magom. ‘A importincia da magonaria no processo de inde- pendéncia dos Estados Unidos foi tio grande que, até hoje, muitos identificam simbolos masénicos espalha- dos pela cidade de Washington, a capital do pais (lia mais no infogrfico das pigs 26 €27).O tridngulo equiltero € 0 otho que tudo vé, por sinal, entraram no apenas no dia a dia do pais como também circulam pelo mundo todo, gravados na onipresente nota de USS 1. & roden WINSTON CHURCHILL. MARC CHAGal JANIO QUADROS oN | Dear ee "e = REVOLUCIONARIO A importincia da magonaria também foi enorme em outra revolugio essencial a era moderna — a Francesa. Setenta anos antes da queda da Bastilha, os magons ji estavam vinculados aos ideais dos filésofos iluministas, que criticavam as monarquias absolutas. O hino nacional francés, grande mantra dos revolucionérios em 1789, foi composto na loja magénica de Marselha — vem dai nome da misica, A Marselbesa. Algumas décadas depois, 0 gene revolucionsrio dos pedreinos lives se transmitiu também & América do Sul. Foi na loja Lautaro, em Londres, que trés dos ibertadores da América espanhola bolaram seus projetos épicos para © continente:o chileno Bernardo O'Higgins (1778-1842), © venezuclano Simén Bolivar (1783-1830) ¢ o argentino José de San Martin (1778-1850) — todos magons. [Na mesma época, idealistasitalianos inspiraram-se na ma~ sonaria para fundar a sociedade secreta dos carbonirios, cujo objetivo era liar seu pais da dominagdo austriaca — uta que levou a criagio da Itilia como a conhecemos hoje. ‘Apesar dessa participagio maciga em grandes even- tos histéricos, a magonaria jamais constituin um bloco uno de ideias. Mesmo no auge de sua influéncia politica, havia grandes duelos no interior das lojas — que, por si- nal, sempre foram independentes entre si.“A irmandade esteve vinculada a guerras ¢ revolugdes. Mas nio era a ‘magonaria que pelejava nesses confitos, eram os indivi «duos magons, cada qual com seus interesses ¢ inclinagdes", diz Luis Alberto Chaves, curador do Museu Ariovaldo Vulcano, do Grande Oriente do Brasil entidade & qual «sti subordinada a maioria dos templos magdnicos brasi~ -an Paul Marat, um dos revolucio- ‘€sanguinrios da Revolusio Fran- cesa, que mandou dezenas de pessoas para a guilhotina, cra magom até 0s oss0s — assim como seu contraponto, ‘© moderado ¢ humanista marques de La Fayette. INFLUENTES E RESERVADOS Oposigses como essa também ocorreram na histéria da ‘magonaria brasileira. Um dos principais aquitetos da Inde pendéncia do Brasil foi o magom José Bonificio de Andra~ da e Silva, Por conselho de Bonificio, 0 préprio dom Pedro I entrou para a ordem, em 1822, com o apelido de Guatimozim (homenagem a0 tltimo imperador asteca). OK OR RR RK A ESCRITA MAGONICA Para dificutar a compreensio de seus documen- tos aqueles que ndo pertencem a ordem, os ma- ‘sons inventaram abreviagoes. Algumas palavras ‘do reduzidas a sllabas e acrescidas de trés pon- tos em forma de delta: Loj .-. Loja Ir Irmao Prof .-. — Profano Outras palavras so reduzidas as trés primeiras le- ‘ras, com a inicial duplicada em caso de plural: Wig .-. — Vigilantes ‘AApr .-. — Aprendizes MWMag .-. - Macons ‘Também so comuns palavras que devem ser lidas da direita para a esquerda, numa suposta referén- cia a0 alfabeto hebraico: Mocam = Macom ‘Os tes pontes tm diferentes signficados. O mais co- ‘mum € associé-los 20 tripé “liberdade, igualdade e fraternidade”. Mas também podem ser referencia aos prsdente 1881 1°36, Obie Leja: Harmony n 1,Tennesce Leja: Magnaia n* 20, Obio GERALD FORD WARREN G.HARDING 38 presidente: JAMES KNOX POLK WILLIAM MCKINLEY 29 presidente: 1974-1977 10> presidente: 1945-1849 25° presidente: 1897-1901 1921-1923 Lain: Columbia 3, Leja: Columbian 31, Teese Lajac Hiram n° 21, Virginia Lajas Marian w° 70, Obio Washington DC destinidade. Isso explica, pelo menos em parte, por que 0s americanos acabaram construindo o maior pais magico do mundo (eia mais na reportage da pug. 74) Li fer pa te da fraternidade nunca teve nada de suspeito ou obscuro. “Fora um periodo de perseguigio entre 1826 e 1840, 4 magonaria sempre foi muito aberta nos Estados Uni- dos", diz. pesquisador americano Chris Hodapp, autor de sete livros sobre a ordem. Frequentar uma loja magénica, segundo el, significava estretar os lagos de amizade com gente importante — entre os frequentadoresassiduos havia {uizes fiscais da receita oficiais do Exército e da Marinha... Até governadores. Antes mesmo de ser inaugurado © primeiro templo em solo americano, no ano de 1730, (0s magons ja eram numerosos nos Estados Unidos — to- dos iniciados em lojas do Reino Unido. REAGAO INEVITAVE As lojas magénicas cram lugares onde jé se praticava ddemocracia muito antes de ela ganhar as rua. Para come ‘ara magonaria accitava — ¢ continua aceitando — gente de todos os credos ¢ classes socais.“Nas reunies, homens de qualquer idade, é ¢ nivel socioecondmico podiam votar ddemocraticamente em seus lideres”, diz Hodapp. Natural, portanto, que algumas dessas ideias tio progressistas aca~ bassem virando combustivel para uma revolugio. Respi- rava-se conspinagio independentista em todos os templos magénicos dos Estados Unidos. ‘A expansio da irmandade em territério americano ajudou a espalhar pelo novo continente os ideaisiluminis- ‘as que cortiam soltos pelos corredores das lojas europei liberdade, igualdade e fraternidade. Enquanto os ingleses aque trowxeram esses conceitos para as coldnias da América ddo Norte acreditavam que els seriam garantidos pela Coroa britdnica, alguns intelectuais que frequentavam os mesmos templos viam outro sentido naquelas ideias, ‘A aversio 20 absolutismo mondrquico encampada pelos itu quando © governo inglés, com a economia quebrada apis a guerra com a Franga, passou a controlar excessivamente ca sobretaxar as exportagies dos produtos americanos. Uma série de atos oficiaislimitava o intercimbio comercial das coldnias: 96 era possivel fazer negécio com a Coroa, que Jimpunha toxasaltissimas sobre o comércio de agticar, de chi c até sobre o envio de cartas e documentos pelos correios. jstas cai como uma luva nas mios dos colonos BENJAMIN FR ‘Mais que magom, Benjamin Franklin era um ho- ‘mem tipicamente iluminista. Foi escriter, abolicio- nista, inventor e cientista. Em 1731, ele e outros limos de fraternidade juntaram recursos para fun- dar @ primeira biblioteca publica da Filadétfia, sua terra natal. Franklin fundou também a Universidade ‘de Nova York, a Sociedade Filoséfica Americana e ‘0 primeiro hospital dos Estados Unidos. Cumpria fervorosamente a tradigao maghnica da filantropia. Foi ele um dos primeiros @ propor a unificagdo das 13 colonias briténicas que, depois de conquista- da a independéncia, formariam os Estados Unidos. da América. Atuando como diplomata durante a Revoluggo Americana, garantiu uma alianga com ‘a Franca — de fundamental importéncia no proces- 0 de libertagao ante a Coroa briténica. Foi 0 «nico dos fundadores do pats a assinar os trés mais impor- tantes. documentos dos Estados Unidos: 0 Tratado de Paris, a Constituigao e a Declaragao da Indepen- déncia. Como embaixador em Paris, exerceu 0 posto de grdo-mestre da koja magbnica Les Neuf Soeurs, ‘a mesma frequentada por Voliire. Quando voltou ‘para 0s Estados Unidos, em 1785, jd tinha conquis- tado seu lugar de destaque no pantedo dos herdis da independéncia — abaixo apenas de George ‘Washington. Morreu em 1790, aos 84 anos. ie eee Acorn or: terceiro presidente dos Estados Unidos fo um ho- mem plural: fidsofo, arquteto, diplomata, misico, inventor, poltico e até arquedlogo. Mas gostava mes- mo era de ser apresentado como autor da Declaracdo {de Independencia — documento ratficado pelo Con- ‘sso Continental no dia 4 de julho de 1776. ‘vida politica do macom Thomas Jefferson comecou or volta de 1769, 20 lado de George Washington. Numinista, pubicou manifestos sobre os dretos dos cidados da América que eccaram por toda a Europa Foi um dos maiores defensores do ideal de liberdade ‘que se espahou por toda a América colonial naquele Periodo. Eleto governador da Virginia em 1779, con- ‘eguiu instr a liberdade religiosa no estado e funder orl uma das primeira universidades do pas. Thomas Jefferson foi embadador na Franca durante cinco anos, e acredita-se que tenha frequentado nes- se periodo a Grande Loja Magénica Les Neuf Soeur, em Paris. De voa aos Estados Unidos, comecou sua carrera na recém-criada capita: foi secretirio de Estado no governo de George Washington, vice de John Adams na Casa Branca e presidente do pals por dois mandetos consecutvos, de 1801 a 1809. Jaafas- tado da poltica, moreu no mesmo dia da morte de seu amigo Adams — 4 de juho de 1826, exatamente 50 anos apts a Declaragao de Independencia. Alguma reagio era inevitivel. Pois no dia 17 de dezembro de 1773, um grupo de colonos colocou a mio ina massa: disfargados de indios, foram até 0 porto de Boston, invadiram 0s navios da East Indian Company (a companhia oficial inglesa)e jogaram ao mar todos os caixotes de ché que encontraram pela frente. O protes- to, estopim para a revolugao que resultou na eriagio dos Estados Unidos, foi arquitetado nas imediagées da loja ‘magdnica Saint Andrews. Ela funcionava no mesmo prédio da taverna Green Dragon, em Boston, onde revolucionérios de todo tipo se juntavam a magons no fim do expediente, para trocar ideias e conspirar contra o dominio britinico, A magonaria era vista como um clube que reunia os mais importantes intelectuais do pais, ¢ 0s que nao faziam parte dela queriam, pelo menos, estar por perto. Entre eles, estava ‘© magom John Hancock, que frequentava aquela loa € foi ‘um dos principais mentores da asao. ial TUMU! © NOS BAS DORES “O confito se concretizaria, marcando o verdadero inicio dda Revohugio Americana, quando, em abril de 1775, ge~ neral Thomas Gage, comandante das tropas inglesas em Boston, decidiu prender os lideres revolucionstios € ma- s@nicos John Hancock ¢ Samuel Adams’, escreve o histo~ riador José Castellani no livro A Apdo Secreta da Magonaria na Politica Mundi aque levaram a independéncia do pais mas de uma slencio~ sa guerra de magons contra magons, “Enquanto alguns magons planejavam a revolusio, a maior parte deles permanecia fiel & Coron i diz Mark Tabbert, diretor do Memorial Maginico Geor- ge Washington, nos alvorogo em virias lojas do pais, onde eram proibidas — € até hoje ainda sio — discussdes politicas. “Durante a revolusio, muitas lojas interromperam suas reunides Era inicio nao somente dos confit esa" sados Unidos. O conflito causou € até acabaram fechando", conta Tabbert. Pudera: vivia~ se um periodo conturbado, cheio de confrontos armados, s.Tudo isso,obviamente,tumultuava 1 bastidores da magonaria. Exemplo dessa contfisio foi «© caso do magom Benedict Arnold, que havia sido gene ral do Exército Continental americano, mas virow a ca- saca durante a guerra de independéncia e passou a lutar do lado inglés — causando consternagio em meio a so- ciedade e ganhando fama de traidor do pai cconspiragies¢ tra CC ALECANDRE URRAN IMPORTANTE NA HISTORIA DOS AAGOM: GRAO-MESTRE, HERGI DE E PATRIARCA DA INDEPENDENCIA éM FOI MA\ ne UNIDOS QUE [ores (© homem que ¢ considerado 0 pai dos Estados Unidos fo também um dos mais proeminentes magons de todos 105 tempos. Iniciou-se cedo: a0s 20 anos, em 1752, na loja Fredericksburg, no estado da Virginia — época em que comecava sua curta e agitada carreira militar na ‘América colonial. De 1753 a 1758, George Washington comandou frentes de batalha contra franceses na Guer- +a Franco-Indigena. Logo depois, deixou o Exército para Ccuidar da plantagao de tabaco em suas terras na regigo ‘de Mount Vernon e se casou com uma joven viva cha- ‘mada Martha Dandridge Custis. Aproveitou também para cconstruir uma carrera politica: durante 15 anos, fez par- te da House of Burgesses da Virginia — uma especie de ‘Assembleia Legislativa do estado. Foi la que ele iniciou sua militancia contra a politica colonial da Coroa britd- nica, que comegava a cobrar impostos exagerados dos [produtores locas e restringia a compra e venda de terras. © PRIMERO ‘0s americanos. Entre uma batalha e outra, ele dava um jelto de aparecer nas reuniges da maconaria, sempre na loja Fredericksburg. Acabou sendo eleito grdo-meste, 1no ano de 1777 —em plena luta pela independéncia ‘A guerra durou até 1781. Mas foi 36 dois anos mais tarde, em 1783, que George Washington viu se realizar tum de seus maiores desejos: 0 reconhecimento da in- dependéncia dos Estados Unidos, que aconteceu com ‘a assinatura do Tratado de Paris, no dia 3 de setembro daquele ano, Ele ajudava, assim, a criar ofcialmente © pais que foi 0 bergo da democracia nas Américas. Mas seu trabalho estava longe de terminar. Alguns ‘anos depois, Washington também foi um dos politicos ‘que lutaram pela realiza¢ao da Convencao Constituin- te da Filadeifia, que acabou também presidindo. De 14, salu @ Constituigao aprovada em 1789 — mesmo ano em que o herdi de guerra entrou para a histéria como 0 primeiro pre- Lutando pela independéncia dos Esta- PRESIDENTE _ sidente eleito dos Estados Unidos, os Unidos, George Washington fez sua AMERICANO, ‘numa ceriménia tipicamente magéni- fama. Em 1775, ele dewou de lado. vida = VIROU MAGOM ca. Washington prestou seu juramen- em sua fazenda na Virginia, que tocava. «= MUITO CEDO: to sobre a mesma biblia utilzada na paralelamente & carrera poltica, para FOTINICIADO —_abertura dos trabalhos da loja Saint ‘comandar as orcas do Exército Cont- EM 1752, John, de Nova York (a mesma usada rental na guerra contra @ Coroa. Tinha QUANDO até hoje, a cada posse de um novo ‘2cabado de ser eeito comandante-geral © TINHA APENAS presidente americano). No langamen- das forgas rebeldes pelo segundo Con- 20 ANOS to da pedra fundamental do edifcio ‘gresso Continental, reunido na Filadéiia. Havia quase 20 anos que 0 independentista tinha luta- ‘do numa guerra pela dltima vez. Pegar em armas nova- mente, porém, deve ter sido mais ou menos como voltar a andar de bicicleta, O confit durou cerca de cinco anos. E Washington foi um de seus protagonistas. Eximio estrategista e adepto tanto das estratégias tradi- cionais (que aprendera no Exército inglés) quanto das téticas de guerriha, ele treinou mais de 14 mil homens € teve sucessivas vitérias contra as forcas britanicas em varios estados. A atuago brithante na guerra — dizia-se ue Washington era um mestre do improviso nas frentes de batalha e que sabia como ninguém manter a unio entre 0s oficiais, mesmo nos periodos mais crticos — fez ‘dele um mito, Sua fama correu o pais e George Washing- ton passou a ser um nome conhecido por quase todos do Congresso americano, em 1793, cele usava suas insignias magonicas.. primeiro presidente magom de uma lista de 14 que via depois (leia mais na pag. 18) governou de 1789 1797, em dois mandatos consecutivos. Foi durante ‘0 segundo, mais precisamente a 18 de setembro de 1793, ‘que Washington fundou a cidade batizada com seu nome. Nascia, naquele dia, no 6 a capital politica do pais mas uma especie de capital mundial da magonaria — ta- rmanha a quantidade de simbols e referéncias & ordem es- pealhados por lé (mais no infogrético das pags. 26 e 27) George Washington morreu em 1799, aos 67 anos, vitima de uma infecgo. Seu funeral seguiu toda a ri- tualistica magGnica, em uma ceriménia dirigida por dois, inmaos de fraternidade: Elisha Cullen Dick e James Muir, respectivamente presidente e orador da loja Alexandria A PRESENCA DE MAGONS NO EXERCITO AMERICANO ERA ENORME. As VESPERAS DA REVOLUCAO, PELO MENOS 74 RAIS 33 DOS AM A oRDEM Be SK Desertores & parte, do lado independ os ma sgons continuavam sendo figurinhas carimbadas entre os principais Kideres. A presenca deles era fortissima no Exér~ ito: 33 dos 74 generais pertenciam irmandade. O mais importante deles certam George Washington, comandante das forgas rebeldes que, em 1777, foi eleito agrio-mestre da Grande Loja da Virginia, em plena tata pela independéncia. Mais tarde, ele se tornaria nada_me- ros que 0 primeiro presidente dos Estados Unidos (leia sais no perfil das pgs. 2 ¢ 23). Benjamin Franklin, outro ilustre pai da revol também foi grio-mestre, s6 que na Pensilvinia. E teve participasio especialmente ativa na fratemnidade: foi responsivel pela primeira publicagio magénica no pai © Livro das Consttuisées,considerado a biblia da magona~ ria, Franklin era ainda membro da loja Les Neuf Socurs, de Paris — onde teria assistido a iniciagio de Voltaire. E foi com o apoio de magons franceses que conseguiu fazer com que a Franca reconhecesse a independéncia dos Estados Unidos, no dia 6 de fevereiro de 1778 (passo im- portante para que a Espanha, logo depois, fizesse 0 mes: mo e declarasse guerra contra a Inglaterra). "Foram esses 6s fatos que levaram a capitulasio definitiva das tropas britinicas, em 1781, sendo o tratado de paz assinado a 3 de setembro de 1783, pendéncia dos Estados Unidos”, diz Castellani. m 0 reconhecimento da inde~ A MACONARIA NEGRA Hoje, a magonariaaceta “homens de bem” sem se preocu- par com a cor da pele. Mas nem sempre fl assim. Nos sé- culos 17 e 18, negros costumavam ser rejitados pela irman- dade. Nao que fosse impossive para um ex-escravo se tonar ago. Mas, para que isso ocoresse, era necessério que todos 0s membros da loja magtnica votassem a favor de seu ingressona ordem. Eessa unanimidade nunca acontecia, ‘A stuagio comegou a mudar ns Estados Unidos em 1775, quando negros ives passaram a ser aceitos na koja Africana nt 1, em Boston. Mais tarde, ela seria rebatizada de Prin- ‘ce Hal, em homenagem a um de seus fundadores. Nascia, assim, uma magonaria $6 para atrodescendentes. Ela segue ava até hoje, com mais de 40 kojas espalhadas peo pas. HALLDA FAMA ‘A independéncia dos Estados Unidos foi um capitu- Jo importante para a histéria da magonaria ¢ fundamen- tal para a mundial. Eeoou até mesmo sobre a Revolugio Francesa, que aconteceria cerca de seis anos depois. Pela primeira vez, uma sociedade to onganizada como a mago- naria assistia a uma guerra de tamanha importincia entre seus membros. Um conflito comandado por homens im- portantes para a instituigio, que muitas vezes arquitetavam combates nos préprios corredores das lojas. E, pela primeira vez, uma colonia comegava uma re- volusio que culminou com sua independéncia. Pouco de- pois, aquele seria também o cenitio para a aprovacio da primeira Constituisio politica de um pais — um marco para a democracia mundial, que influenciou e desencadeou ‘movimentos independentistas por toda a América Latina. A participagio da masonaria no ficou s6 nisso: das 56 assinaturas da Declaracio de Independéncia,ratificada no Congresso Continental a4 de julho de 1776, nove eram de integrantes da irmandade, assim como um tergo dos 39 signatirios da Consttuigdo americana, Era 0 inicio também da maior repiblica magénica do mundo, Nos Es- tados Unidos, os simbolos da fraternidade passariam a se confundir com a pripria cultura do pais. Até oj, o jura- _mento de posse de cada presidente, sja cle magom ou nio, € feito sobre a biblia de George Washington — que per- tence & loja magonica Saint John n° 1, de Nova York. PARA SABER MAIS A A¢do Secreta da Magonaria ‘na Politica Mundia, Jose Castellani, Landmark, 2007, ACilade Secreta ‘da Magonaria, David Ovason, Planeta do Beal 2007. MACONICA REFERENCIAS A IRMANDADE QUE AJUDOU A FUNDAR OS ESTADOS UNIDOS ESTAO ESPALHADAS POR TODA A CAPITAL DO PA(S AA cidade de Washington, capital administrativa dos Estados Unidos, esconde numerosos simbolos magénicos. Em virias edificagdes piblicas, como o Capitélio,o Banco Central, a Academia de referéncias& irmandade que ajudou a fundar 0 pais. Alguns estudiosos do assunto a 4a e a Casa Branca, ndo ¢ dificil identificar firmam que até a planta da cidade foi pensada para homenagear a maconaria. De acordo com essa tese, alguns prédios estio dispostos de modo a formar um compasso ¢ um esquadro imaginarios. 7 ee 1a) Fa MONUMENTOS 1. Memorial Abraham Lincoln 2. Monumento a Washington 3. Casa Branca 41. Memorial Thomas Jefferson 5. Capitélio. oh (NA ea) 8 REVOLUGAO ELA FEZ DI VISKo DE MUNDO MAGONIC: D ERNUSDE — 0 ALICERCE PARA CONSTRUGAO DE UMA NOVA.N: ’ 0 suramento do Pte po entureciso ‘Assembiea Nocona! ram magons dois dos mais importantes Kideres da Revoluglo. Francesa: Jean-Paul Marat, idedlogo de uma ala radical do movimento, ¢ 0 marqués de La Fayette, militar aristocrata que aderiu & revolta popula. Isso quer dizer que a magonaria foi a forsa motrz da rebelito? Depende de como se inter- preta a histéria. Certos pesquisadores, como o americano W. Kirk MacNulty (magom hi mais de 40 anos), acredi- tam que sim, “Entre 0s inimigos da monarquia francesa, mesmo qu ciado por suas ideas’, diz MacNulty. Outros, como o bri- tinico Andrew Prescott (diretor do Centro de Estudos da Universidade de Shetfield, na Inglaterra) destacam que os dois principais comandantes da revolusio — Georges-Jac~ ques Danton e Maximilien de Robespierre — jamais fo- ‘ilo participava da ordem tinha sido influen- ram magons. “Sio exageradas as afirmagies de que a maso- naria liderou o movimento", declara Prescott. Independentemente da interpretagio que se fasa, € fato que a Revolugio Francesa fez da visio de mundo magénica— liberdade para adorar qualquer deus, igualda- de entre nobres ¢ plebeus ¢ fraternidade entre os membros IRMAOS PARA SEN Fr do mesmo grupo — 0 alicerce para o novo pais que os re~ volucionarios pretendiam construr. A influéncia da mago- naria foi tamanha que uma musica composta e cantada na loja magdnica de Marsetha acabou sendo transformada no hhino da nova Franga (Ieia mais na pg. 34). PRINCIPIOS DEMOCRATICOS Em 1789, quando o rei Luis XVI se viu forgado a con- vocar a Assembleia dos Estados Gerais pela primeira vez desde 1614, todas as principais cidades francesas manti- inham lojas de grande infuéncia sobre a vida local. Como cera comum desde as origens da ordem, os masons que fre~ quentavam esses templos representavam as mais variadas ~ «antagonicas — correntes politicas. Els abrigavam desde 0 antimonarquista Marat até 0 monarquista radical Bertrand de Milleville,Os ideais da irmandade, porém, combinavam muito mais com o engajamento daqueles que defendiam a deposicio do rei ea instauragio de um novo regime. “Tanto nas lojas como nos debates entre os revolucio- niirios, conceito de liberdade estavaligado, principalmen- tc, a0 dircito de se expressa. Era um principio bastante de ‘mocritico”, diz MacNulty.O historiador alemao Jan Snock, professor da Universidade de Heidelberg e especialsta no assunto, confirma: “Os magons estimulavam debates aber- tos,em que todos podiam participa, além de eleigdes livres e diretas, Nada disso estava na moda no século 18°, As nogies de igualdade ¢ fraternidade, por outro lado, revelavam-se mais ret6ricas do que priticas,jé que a mago- naria francesa — assim como a de todos os outros paises Aquela altura — reunia homens distintos, invariavelmente oriundos da elite. “Os magons formavam uma irmandade seleta, que pregava a igualdade”, afirma Andrew Prescott. “Em tese, eles concordariam unanimemente com a ideia de aque todo cidadio deveria ter os mesmos deveres¢ direitos. Na pritica, porém, havia um orgulho muito mal disirgado «em se considerar acima dos demais.” De toda forma, havia uma grande convergéncia de ideais. Nao por acaso, um dos grandes inspiradores da Revolugio Francesa foi o filésofo iluminista Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) — ele ‘mesmo um entusiasmado simpatizante da magonatia. No fim do século 18, Franga era um pais ico, mas de popullagdo pobre. Apesar de manter um comércio exterior muito desenvotvido, a parte do povo chamada de Terceiro Estado (camponeses, servos, artesios ¢ burguesia — ou se, fo AtsxANDR JoRRAN Nascido Marie-Joseph Paul Yves Roch Gilbert du Moti- er, em 1757, 0 magom La Fayette era um aristocrata frances que, quando a Revolueao Francesa estourou, tinha assumido 0 posto de general do Exérito de seu pals. Em 17 de julho de 1791, no Campo de Marte, ra ele quem dria as forgas miltares que acaberam ‘com uma manifestacSo de trabalhadores — pelo me- ‘nos 50 pessoas morreram naquele episico. Mas a vida do marqués foi muito além desse mas- sacre, Antes de aderir & revolucso em seu pats, ele atravessou 0 Atintico para lutar na guerra de inde- Pendncia dos Estados Unidos. Servis sob 0 coman- do de outro macom, George Washington. De vota {3 Franca, fol um dos autores do rascunho da Declara- ‘¢d0 dos Diretos do Homem e do Cidadso. ‘Como integrante da magonaria, LaFayette foi um ier

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