Você está na página 1de 9
DU 61: 901.81 PROTOCOLO DE UMA INVESTIGACAO* PABLO V. CARLEVARO** RESUMO © protocolo de uma investigacao é um documento, que constitui a expresso formal do projeto de um trabalho cient fico. Seu contetido dé resposta a todas as interrogac&es, que se fagam em relagdo a uma atividade, que se planeje com o propésito de conhecer. Deve responder, basicamente, a0 que se vai investigar (0 tema), porque vai se realizar 0 trabalho (os motivos ou fundamento) que se quer ao empreendé-la {os objetivos e, quando existem, as hipéteses), os recursos (humanos, instituicées, materiais @ financeiros) com os quais se conta (ou ha de contar) para realizd-la, de que forma vai se proceder (os desenhos e os procedimentos de execucao), bem como a cronologia do desenrolar do projeto. Por fim, todo 0 projeto de investigaggo deve submeter-se a uma anélise dos fatores, por parte da instituig&o onde hd de se realizar. PALAV RAS-CHAVE: Elaboraggo trabalho cientifico ABSTRACT The protocol of an investigation is a document which constitutes ‘the formal expression of a scientific paper's project. Its content is the answer to all the questions which may be done related to an activity Planned in order to know. It must answer basically to what will be investi- gated (the subject), why the work will be accomplished (the fundamentals or the purposes), which is the aim on doing the work (the objectives and, when existing; the hypothesis), the resources (human, institutions, material and financial), what is needed to accomplish the work, the proceedings that will be followed (the designs and the proceedings of execution), as well as the chronology of the project development. Finally, every research Project must be submitted to an analysis of the factors by the institution where it will be carried out. KEY WORDS: Preparation of a scientific paper. A primeira versio mimeogratada deste trabalho foi editada pelo Centro de Cibernética aplicada a Medicina do Instituto Superior de Ciéncias Médicas de Havana. Uma nova versdo foi editada pelo Dep. de Atencdo a Satide da Universidade Auténoma Metropolitana com sede em Xachimilco, México, D.F. Foi publicado em: Revista Médica do Uruguai, 1{1, 28 época): 26-33, 1985. ** Prof. de Biofisica da Faculdade de Medicina. Decano da Faculdade de Medicina de Mon- tevideo, VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43. 1986. 35 INTRODUGAO O protocolo é um documento basico, necessdrio para iniciar todo 0 trabalho de investigagao. Constitui, em si, 0 projeto da investigacio que se vai realizar, devendo, como tal, dar resposta as interrogagdes fundamentais que se facam, com relacao as circunstancias da execuciio. O contetide do protocole néo difere do contetido essencial de todo do- cumento primério, que define e caracteriza, satisfatoriamente, uma atividade humana realizada com propésito, qualquer que seja. Por este fato, 0 contetido do protocalo corresponde, quase estritamente, com o que, desde a antigilidade latina, se conhece na Retorica (disciplina que trata da correcao do discurso) com o nome de “circuns- tancias”, fazendo alusdo, como diz 0 nome, a todo aquele que se dé (e existe) em torno de uma situagSo ou atividade fundamental; no caso o projeto da investigacao. Na linguagem corrente dos investigadores, a palavra “protocol” se usa também, freqiientemente, para denominar 0 documento que contém os dados primarios de um experimento, ou de uma observacdo metédica e rigorosamente efetuada. Trata-se, nestes casos, de um protocolo experimental, ou de um protocolo descritivo (por ex., 0 protocole de uma necropsia, e de um preparado anatomo- patolégico, ou de uma intervencio cirdirgica, etc). Se bemo uso da palavra “protocolo", é inteiramente correto, porquanto se refere a reuniao ordenada de dados primdrios, deve diferenciar-se com nitidez, esta acep¢%o daquela que vinhamos considerando desde o inicio, posto que no presente artigo se trata, tio somente, do “protocolo”’, enquanto documento basico do projeto de um trabalho de investigacdo. E, também, usual o emprego da palavra “‘protocolo”, para se referir a todo documento, que contenha uma descricéo metédica de questées de diversas indoles, além do conjunto de regras, que regem certo tipo de atividade (ou ceriménias), 0 qual nfo deve ser motivo de confusdo alguma, com respeito ao uso que tem a palavra na investigacdo clentifica, t8o longe das ceriménias e da diplomacia. BASES ESTRUTURAIS DO PROTOCOLO O projeto de investigagao, em seus diversos aspectos, o qual estd definido e caracterizado em um documento (protocolo), é a expressdo da conjuncdo primdria e sistematica de seus elementos basicos. Esses elementos se evidenciam ao dar resposta as aludidas ‘‘circunstancias’’ da Retorica, que ficam definidas ao responder as seguintes interrogagbes: quem? qué? onde? com que meios? por qué? como? quando? (em latim quis, quid, ubi, quibus auxilis, cur, quomodo, quando). Ha mais de vinte séculos, pois, para caracterizar uma situacao ou definir uma atividade deve-se saber: — Quem iré realizar? (os praticantes) — Que se ird realizar? (a questdo essencial) — Onde se vai realizar? (0 lugar) = Com que meios se vai realizar? (os recursos) 36 VITTALLE, Rio Grande, 2 35-43, 1986, — Por que se vai realizar? (os motivos e as razBes) — Como (de que forma) se vai realizar? (a maneira e os procedimentos) — Quando se vai efetuar? (o tempo) Esta forma bdsica de caracterizacdo possui tal generalidade, que se aplica nfo em relag%o A elaboraco de um projeto de investigacio, como também, a definiggo precisa de qualquer outra atividade com propésito. Assim, por ex., se for necessario elaborar um projeto docente, como um curso de atualizacio para pés-graduados seria necessdrio estabelecer, basicamente: — Quem iré participar? — Que se ira ensinar? — Onde? — Com que recursos? — Porque motivo ira se realizar? — Como se ira ensinar? — Quando? Claro esta que, em cada caso, se deve encontrar a forma mais adequada, para articular entre si (coaptar) todos estes elementos, componentes e agregar, assim mesmo alguns mais, constituindo dessa forma o documento basico, que denominamos protocolo; palavra que em sua etiologia alude, precisamente, a conjun¢ao de elementos primdrios (protos: primeiro}, unidos (kollao: pegados), entre si (obviamente, com Kola). Por este motivo é que a ordem pela qual se responde as interrogagdes fundamentais, que definem as ‘‘circunstancias’’, diferem da origem latina, que se acaba de expor. O TEMA DA INVESTIGAGAO. No caso da investigacao, no ha davida que o elemento primério e original se estabelece ao responder & pergunta: que se investiga? Esta 6 a questo essencial de todo projeto cientifico, e para usar um modo de dizer correto — em seu sentido — é 9 quid da investigacao. Naturaimente, a resposta 4 pergunta implica na definigo do tema da investigagao, que surge do propésito de conhecer algo que se desconhece. {sso quer dizer, que tem um sentido cognitivo, indispensavel, para que exista uma atividade, que possa ser considerada investigagac. MOTIVOS (OU FUNDAMENTO) PARA EMPREENDER A INVESTIGACGAO Todo projeto de investigagéo deve se fundamentar em motivos que o justifiquem, expressando os motivos, uma vez que esses propésitos so o marco tedrico no qual fica incerto. Isso ficaria expl{cito, respondendo a pergunta: — Por que se ird realizar a investigacéio? Ao respondé-la, cabe indicar questées tais como: —antecedentes (trabalhos realizados, previamente, relacionados com otema); VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43, 1986, 37 — Motivos (que derivam da importancia do tema e seu significado: cienti- fico, social, cultural, ete.); — referéncias bibliograficas (publicages efetuadas pelos autores ou preexis- tentes na literatura cient fica, em relagdo ao tema que se projeta estudiar). Estes trés incisos da fundamentacao permitem colocar o projeto no contexto do conhecimento cientifico e das idéias, que existem em relagdo direta com o tema, que seré objeto do estudo (marco tedrico). Deste modo, todo novo aporte no campo do conhecimento reconhece sempre algum antecedente e, quem projeta realizar algo novo, deve justificd-lo quante a sua originalidade, importancia, interesse, significado técnico-cientifico, beneficio social, etc. A fundamentagao, embora concisa, da idéia da solidez e seriedade, com que se vai empreender a tarefa, pde do manifesto que ja tenha trabalho preliminar @ se conhece o que tem feito outros sobre esse tema (consulta bibliogrdfica), para no repetir o mesmo e carecer de originalidade em seu aporte. OBJETIVOS DA INVESTIGACAO, Quando se trata de uma atividade com propésito (como o éa investigagao cientifica), a resposta ao porqué de sua realizagdo se superpde, bastante, a pergunta: — Para que se iré investigar? Esta pergunta aponta para o que se persegue, ou busca coma investigacio Projetada e diz, tanto para os propésitos mais gerais, como para seus objetivos mais especificos. Portanto, com maior ou menor generalidade, a pergunta anteriormente enunciada inquire pergunta acerca da finalidade da investiga¢do. Ao respondé-la, diferenciam-se os seguintes aspectos: — objetivo(s) geral(is); — objetivos especificos; — hipéteses. Os objetivos gerais da investigacdio so os propésitos de mais amplo aleance, que guiam e orientam o estudo. O carater de generalidade indica que o propésito Pode satisfazer-se com este estudo, pelo que também outros, completamente diferentes, poderiam ser concorrentes em relagdio a mesma finalidade perseguida. Em troca, os objetivos especificos indicam — com um nivel de precisdio e um grau de definic&o muito maiores — quais so as finalidades imediatas, que se Persequem com o trabalho investigativo e que, portanto, séo as que determinam todos os passos programéticos de sua planificacdo e posterior execucao. Juntamente ao tema da investigacdo, a definicSo dos objetivos constitui uma das etapas mais importantes da elaboragdo de qualquer projeto de investigacdo. Deve efetuar-se de tal modo que, posteriormente, possa se verificar — mediante a evolucdo — se o objetivo perseguido foi conseguido e, inclusive, com que grau de cumprimento ou aproximagao. Em certas investigacdes — aquelas que pretendem nao simplesmente descrever trechos, situages ou aspectos da realidade, como também, aventurar uma. explicagao do porqué das coisas serem ou sucederem de tal forma — é neces- 38 VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43, 1986, sério que os investigadores elaborem hipéteses, que possam ser submetidas — com base nos dados que aporta a investigacao projetada — a constatacdo. Assim devem ser, necessariamente, pols as hipéteses ndo sdo suposigdes, que faz 0 investigador em relacdo a interpretacdo (explicacdo) de trechas suscep- tiveis de observacao. As observagdes podem advir de fatos provocados (mediante experimentos) ou de fatos simplesmente observados onde, também, nestes casos € o investigador quem deve desenhar previamente, de fato, provocando as observagGes, que iré realizar. Quando uma investigagdo concebida possui hipdteses, que sempre provém de uma atividade intelectual reflexiva e audaz do investigador, essa passa a consti- tuir-se no objetivo fundamental, que orienta e define todo o programa. Portanto, a investigagSo se realiza, essencialmente, para verificar ou rechacar as hipdteses propostas. OS RECURSOS Definido o que se iré investigar, porqué, e para qué, é dizer o tema e seus objetivos, sendo que a etapa seguinte do planejamento do projeto deve atender aos recursos (humanos e materiais), que se necessita, para realizar a investigacao. RECURSOS HUMANOS A especificagéo do contetdo deste importante inciso se obtém, respon- dendo a pergunta: — Quem ira realizar? No esquema retérico, inicialmente referido, aparecia como a primeira interrogante. Dita a localizaeZo, estd plenamente justificada se repara que a inves- tigag’o cient fica é uma atividade humana, com propésito cognoscitivo. Séo sempre os homens que querem conhecer, sdo eles que determinam 0 que querem conhecer {el quid) da investigacdo, uma vez que projetam e executam todo o necessdrio, para aleancar o propésito perseguido (os objetivos). O recurso humano é essencial protagdnico. Quando a investigacdo estiver terminada e 6 0 objetivo, ou abjeto de comunicacao, ou publicacao ciéntifica, toda a informag&o se condensa num titulo do tema, e no nome do(s) autor(es). Quem faz a investigacao é 0 protagonista (o autor); o que se faz 6 a subs- tancia (parte) fundamental da investigacdo (o tema); os porqués e para qué se faz a investigag3o sdo os motivos e o guia, que orientam a planificagao e a agao do investigador (os objetivos). Na presente enunciagio do contetide de um protocolo de investigacao, optar-se-4 por reunir em um mesmo cap /tulo os diversos tipos de recursos necess4- rios para efetuar a tarefa. Este critério responde mais a um esquema administrativo da planificagdo que a Retérica Classica, pois — neste caso — a ordem de obrigacZo ndo afeta o resultado. VITTALLE, Rio Grande, 2 : 36-43. 1986, 39 Entre os recursos, devem diferenciar-se quem so os autores, daqueles que s6 sdo assessores. Algumas vezes, existem também — e séio muito importantes — os colaboradores (auxiliares) técnicos. Autores sdo aqueles que concebem, intelectualmente, e executam (total ou parcialmente) o trabalho investigativa. Dentre estes existe um responsavel pelo Projeto de investigagSo ou autor principal, que é quem encabeca a nominata dos autores, quanto ao trabalho e objeto de publicacZo ou comunicacao. Os assessores so pessoas que contribuem e orientam o desenvolvimento da tarefa, ou alguma de suas etapas ou aspectos. Quando um assessor se constitui em guia principal do conjunto do trabalho investigativo, participando desde sua Concepedo, até sua culminagao final, tendo caréter de tutor, ao qual implica um grau maior de compromisso que o de um mero assessor. Os colaboradores (auxiliares) técnicos so pessoas que constituem, muitas vezes, um certo tipo de trabalho de investigacéio, um recurso humano imprescindivel que, sem embargo, ndo participam cientificamente da tarefa (pensando, discutindo, opinando}, sendo executando uma tarefa técnica, que é parte importante e delicada de sua tarefa habitual. RECURSOS INSTITUCIONAIS. Outra questo importante que teremos de responder é: — Onde ird ser realizada a investigaga0? A resposta implica especificar ndo s6 2 area topografica (em caso de uma investigagao, 0 ensaio “de terreno"), sendo — no modo mais importante — alos) Ambito(s) institucional{is) que podem servir de base para a execucdo da tarefa projetada, SupSe-se que a instituigao, onde se realiza uma investigacdo, ampare significativamente miltiplos aspectos relacionados com o aporte de numerosos recursos, indispensaveis para a concretizacSo do projeto. E, quando o projeto é sério ea institui¢o no o ampara, incorre em falta grave ou omissio RECURSOS MATERIAIS Ao definir um projeto e consolidé-lo no protocolo, é imprescindivel conhecer: — Com que meios se ird realizar? (“quibus auxilus”), Se excetuarmos os temas de investigacdo das ciéncias formais ou Os aspectos te6ricos das ciéncias fatais, que se pode abordar praticamente com meios materiais de uso corrente, a grande maioria das investigagGes — e particularmente as aplicadas — requerem, para sua realizagdo, que se possa dispor de recursos materiais que resultam imprescindiveis em diversas fases da execucio. Idealmente esses recursos deveriam ser previstos antes que se inicie a execucio do projeto. Praticamente, quando as facilidades néo sio étimas, é hecessdrio que os investigadores calculem a execucdo de tal forma e de tal modo que, em cada instancia, possam obter, ou utilizar os recursos que seu trabalho requer. 40 VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43. 1986, RECURSOS FINANCEIROS Tanto os recursos financeiros, como os materiais tém uma contra-parte financeira, enunciando, em suma, uma interrogacdo em dinheiro. Estimar despesas, implica dar resposta 4 pergunta: — Quanto custa a investigagao projetada? Mesmo ndo integrando explicitamente o corpo de interrogantes, das “‘cir- cunstancias” da Retérica, esta implicito na pergunta precedente e passa a ser um dos dados que mais preocupa e importa a quem — em definitivo — deve autorizar {e financiar) a execugao do projeto. A pergunta nao pode ser contestada, sen’io em forma estimativa. O custo do recurso humano far-se-4 em fungo do salério e do tempo, que os autores e seus assessores — assim, como os auxiliares-técnicos — dedicaram especificamente a esta tarefa, mediante, calculos aritméticos Gbvios. O montante dos recursos materiais é estimado com base no custo dos materiais (consumidos durante a execucao) e a aquisigao daqueles que resultem imprescindiveis (equipamentos, instrumentos, etc.), para a execucdo do projeto serio considerados como gastos de inversdo da insti- tuic&o que o ampara. Entre todos os recursos, o humano sempre é o principal. Sem estabelecer uma falsa oposigéo com outros recursos — também necessarios — deve-se dar especial énfase em hierarquizar a importancia do recurso humano na investigacao. Jamais se deve organizar um centro de investigagdo em torno de um instrumento, por mais sofisticado e deslumbrante, que este possa ser. Os instrumentos ( micros- cépios eletrdnicos, computadores, ultracentr ffugas, tomdgrafos computadorizados, etc.) sfo, sempre, auxiliares do homem. Contudo, por mais poderosos e maravilhosos que possam ser os instrumentos, nfo so senfo recursos auxiliares, que esto a servigo da mente humana, e nao o inverso (os filisteus sugerem crer o contrario e © deslumbramento que os causa, 6 homélogo ao que causava o fulgor dos espelhos dos conquistadores). Os instrumentos, jamais, resolveram o que o investigador nao haja concebido. Concretamente, os computadores n@o extraem dos dados, conclusdes que o investigador ndo tenha pensado extrair. Organizar um centro de investigago cientffica, em fungao de uma maquina ou de uma técnica, é téo absurdo quanto subordinar o homem &-maquina. Um centro de cdlculo — ou um laboratério de microscopia eletrénica — nao 6 um centro cientifico, sendo uma unidade de servico especializado. O servico poderd ser eficiente, magnifico, e ndo usd-lo significa, muitas vezes, um desapro- veitamento lamentavel, pois sua condi¢do de servico esta supondo que deve existir, antes de adquirir ou recorrer depressa ao instrumento, alguma idéia cientifica que oriente e guie o uso do recurso. Para que haja investigagdo tem que haver, antes que nada, idéias. Depois vém os instrumentos e as técnicas, sempre a servico das idgias cientificas. Se ndo hé idéias, os instrumentos séo desaproveitados ou — o que, as vezes é pior — sdo usados para desmascarar ou prestigiar, com base na modernidade de sua técnica, a caréncia essencial das idéias dos usuarios. VITTALLE, Rio Grande, 2 :35-43. 1986. 4 PROCEDIMENTO DE EXECUCAO Estando definido o tema, os objetivos ¢ os recursos, é necessario saber: — Como e de que forma se iré proceder? (“‘quomodo”’). Para responder esta pergunta — questo vital no plano de toda a atividade com propésito — 6 preciso definir a metodologia, que se ira empregar. A elaboragéo de um desenho (para os experimentos, os “tratamentos” ou as observacées), assim como a definicdo precisa do procedimento de execucio, no se constitui o livreto (a partitura, o programa — segundo o que se prefere} da agdo, sendo que pGe de manifesto a capacidade criativa e a idoneidade do investi- gador, enquanto a praxe investigativa se refere. Para ser mais explicito: um tema poderd estar muito bem elegido e os objetivos, corretamente, definidos. Inclusive, poderd ser brilhante a atitude especula- tiva do investigador e sua intuigao para aventurar hipdteses, pois sua capacidade de desenhar, organizar e dispor, metodicamente, das acdes pode obter resultados, mas quando hd falha na investigacdo, nunca se poder4 chegar a bom término. Se os desenhos ou os procedimentos de execugao ndo esto estabelecidos corretamente, ndo se obteré, nunca, os dados que permitam discutir (aceitar ou rechagar) as hipdteses, e o que alls seré pior, os dados obtidos sero questionados, ou estardo invalidados, de forma tal que tampouco poderdo ser empregados ou ter a ver com as atividades humanas efetuadas com propésito; afeta inevitavel e benefi- ciosamente (apesar de tudo) a investigagdo. Vejamos, ento, as etapas: 14 etapa — Planificagao: eleigéo do tema, consultas de assessoramento, busca e revisao bibliogrd- fica, definig&o de objetivos, elaboracSo do protocolo. 22 etapa — Organizagao: obtencdo dos recursos, adestramento e treinamento do pessoal que participard do projeto, ensaio preliminar de técnicas e procedimentos, etc. 34 etapa — Execugao: tealizagao de agdes e tarefas previstas no procedimento de execugao, com 0 objetivo de obter — como resultado — a informagao necessdria Para extrair, anteriormente, conclusdes. 48 etapa — Processamento e andlises da informagao: tratamento estatistico dos dados recorridos: resumo da informacto quantitativa, representagdo diagramética, gréfica ou esquemética dos resultados e realizagao de provas inferenciais, que sirvam de base as conclusées; discussdo e andlises critica dos resultados e extracdo — por fim — das conclusdes. 5? etapa — Redagdo do material cient/fico destinado a: — informar, administrativamente, a instituig&o que a auspicia da tarefa realizada. — comunicar o trabalho em uma reuniao cientifica (jornada, semindrio, reuniao de uma sociedade cientifica, congresso, etc. — publicar o trabalho em uma revista cientffica. 42 VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43, 1986. ANALISE DA VIABILIDADE Todo projeto, antes de ser executado, deve ser submetido a uma anélise de viabilidade, por parte da institui¢ao que ampara sua realizacdo, E conveniente, que os autores exponham brevemente os argumentos em favor da viabilidade do projeto de investigacdo elaborado, assinalando que se tem levado em conta ~ em todos os aspectos e, particularmente, nos mais questionaveis — a existéncia, disponibilidade ou acesso aos recursos com que é necessério contar para desenvolver a investigacdo projetada. Quando a investigacdo projetada recai sobre seres humanos é imprescind vel verificar que ela observa e respeita, absolutamente todas, as normas éticas que regem tanto a investigacdo clinica — ou além, com maior genalidade, médica — como a experimentacdo em individuos humanos. E necessério, que as comissdes de investigacdo cient ifica das universidades, Ou os comités dos hospitais ou outras instituigdes de assisténcia a satide,que realizam trabalhos de investigacdo, analisem —de maneira sistematica ~ 0 aspecto ético dos projetos de aceitacdo universal (declaracdo de Helsinki e outras relacionadas) que é condi¢do suficiente para invalidar a viabilidade do projeto apresentado. ANEXOS AO PROTOCOLO Todo documento ligado ao projeto, pode ser incluide como anexo ao Protocolo. Por exemplo, “separata” de trabalhos cientificos, previamente, publicados que constituem um antecedente do atual projeto, informes sobre uma investigagaéo preliminar no mesmo tema, formuldrios de questiondrio elaborados para obter a informacdo requerida, modelos desenhados para a coleta dos dados, e qualquer outro material, diretamente, relacionado com a investigacdo projetada. COMENTARIO FINAL O presente artigo ndo pretende codificar as instrucdes para a elaboracdo de um protocolo. Nao se trata de uma receita rigida, nem de uma formula infalivel. Cada tipo de investigacdo ~ e existe uma notavel variedade de tipos e projetos — pode requerer adaptacdes ou cambios especificos. Sd aspira mostrar que o protocolo se confecciona — em suas partes essenciais — de maneira natural e légica, dando res- posta Coerente € precisa a interrogantes classicos, que pertencem a arte de expressar as coisas corretamente e que, a mais de vinte séculos apresentadas, seguem sendo a chave apropriada para caracterizar, descrever e informar acerca dos fatos e das agées, assim como das circunstancias em que se desenvolvem. VITTALLE, Rio Grande, 2 : 35-43, 1986. 43

Você também pode gostar