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AB Comissao de Advocacia Criminal MINAS GERAIS. CARTILHA DO CRIMINALISTA ©@® COMISSAO DE ADVOCACIA CRIMINAL DA OAB/MG PNu Tae Ma oleate Uw ase 0-16 (Msi t TOM OLA BS José Arthur Di Spirito Kalil / Lazaro Guilherme / Luis Carlos Parrei- ras Abritta / Maira Garcia Dias / Marcelo Sarsur / Négis Rodarte / Paola Alcantara / Paulo Martins Crosara / Talita Quezia Assis / Thiago Martins de Almeida Todos os direitos reservados aos autores SUMARIO Apresentacao e agradecimentos Por José Arthur Kalil... 00. ee ... 02 Audiéncia de Custédia Por Paola Alcantara... 0... 2... 03 Audiéncia de Instrucao e Julgamento Por Maira Garcia Dias e Paulo M. Crosara.......... 08 Atuagao do (a) Advogado (a) em Delegacia de Policia PorTalita Assis... 20... eee eee 14 Do procedimento do Juri Por José Arthur Kalil... ee Le. (18 Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha Por Amanda Rodrigues e Jamilla Sarquis.......... 21 Sessées dos Tribunais Por Luis Carlos Abritta e José Arthur Kalil. 0 eee 25 CARTILHA DO CRIMINALISTA Apresentacao A presente cartilha foi idealizada pela Comissao de Advocacia Criminal da OAB/MG e desenvolvida durante os trabalhos desta, que se iniciaram em 2019, ano de sua criagéo. Os membros da Comissao se engajaram para levantar pontos sensiveis da atuagao do criminalista no seu dia-a-dia. Portanto, a ideia & fruto de conversas, reflexdes e troca de ideias sobre audiéncias, acompanhamento em delegacias, asses- soramento em episédios regulados pela Lei Maria da Penha, audiéncias de custédia e sessées de julga- mento nos tribunais e perante o Juri Nesse ano de 2021, a Comisséo de Advocacia Criminal, em parceria com o Instituto de Ciéncias Penais, realizou série de debates reunidos em evento exclusivamente virtual, divulgado no canal do Youtube do ICP e das Comissdes da OAB/MG, que ainda estao disponiveis e podem ser acessados livre- mente pelos interessados. Na organizagéo do evento, batizado de"O Criminalista’, que aconteceu ao longo dos meses de Junho, Julho e Agosto, com sete encontros, foi essencial a adesdo e 0 apoio da Diretoria do ICP, do Instituto dos ‘Advogados de Minas Gerais, da OAB/MG e da Escola Superior de Advocacia da OAB/MG O objetivo da cartilha é compartilhar com todos os criminalistas a experiéncia militante em questées pontuais de sua atuagao relacionada aos temas acima refetidos. Na diviso dos trabalhos da cartilha, os. membros Jamilla Sarkis e Amanda Rodrigues abordaram a assisténcia do criminalista em fatos relaciona- dos a Lei Matia da Penha, Paulo Crosara e Maira Garcia Dias reuniram reflexdes sobre audiéncias de instru- 540. Luis Carlos Abritta e José Arthur Kalil desenvolveram aspectos das sessdes de julgamento nos tribu- nais. Kalil também foi responsavel pela parte afeta ao Tribunal do Jui. E por fim, Talita Assis e Paola Alcan- tara abordaram a tematica da audiéncia de custédia e do assessoramento nas delegacias de policia Em toda cartilha a objetividade esté presente nos escritos ora publicados, que foram destinados 8 orientagao geral da advogada e do advogado criminalista. Jamais houve pretensao de quaisquer dos membros de esgotar a apresentagao de dificuldades préticas ou mesmo trazer solugées para pontos malversados pela legislacao; definitivamente, nao. O trabalho que se apresenta é por sua natureza nao exauriente dos temas e despido de pretensdes dogmiéticas. O compromisso é com o dia-a-dia forense e com 0 ideal de a atuacao do profissional ser digna, ética, eficiente e alicercada nos principios e garantias, do direito processual penal. Na oportunidade, externamos agradecimentos aos incentivos e apoio que recebemos da Coordena- dora das Comissées da OAB/MG, Dra. Helena Delaménica, do Procurador Geral das Prerrogativas dos ‘Advogados da OAB/MG, Dr. Bruno Candido, da Presidente do Instituto de Ciéncias Penais, Desembarga- dora Karin Emmerich, e do Presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais, Dr. Felipe Martins Pinto. Por representar este trabalho a finalizagao da atuagio da Comisséo neste ano de 2021, nao se pode deixar de mencionar e agradecer imensamente a cada um dos membros ativos da Comissao, notadamen- te Amanda Rodrigues, Eduardo Bruno Milhomens, Henrique Abi-Ackel, Jamilla Sarquis, Lézaro Guilherme, Leonardo Monteiro Rodrigues, Luis Catlos Abritta, Maira Garcia Dias, Marcelo Sarsur, Négis Rodarte, Paola Alcantara, Paulo Crosara, Talita Assis e Thiago Martins de Almeida. A todos os colegas do nosso Estado, desejamos boa leitura e que nossas vivéncias forenses possam se encontrar nos foros varios e onde quer que haja 2 atuacéo dos criminalistas, profssionais de funda- mental importancia para o resgate da cidadania e dos principios maiores do Estado Democratico, José Arthur Kalil Presidente da Comissao de Advocacia Criminal da OAB/MG 02 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xxx: Audiéncia de Custédia Por Paola Alcantara O QUE E? E um direito fundamental que determina que todo preso, seja em flagrante ou em decorrén- cia de mandado de prisao, deve ser levado a presenga da autoridade judicial, no prazo de 24 horas, contados a partir do ato, para que esta avalie a legalidade e a necessidade de aplicacao de medidas cautelares, em especial da decretagao de prisao preventiva Na hipétese de priso decorrente de mandado, o Juizo de custédia somente ficard adstrito 8 andlise documental, além de observar eventual violacao dos direitos do preso (maus tratos/tor- tura), sem possibilidade de decisio quanto aos motivos da prisdo. Ele também deverd realizar comunicagao imediata ao juizo que emitiu a ordem. FUNDAMENTAGAO DO INSTIUTO: + Art. 72, item 5, da Convencao Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de So José da Costa Rica) (Decreto n° 678/92); 5.Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, a presenca de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funcées judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoavel ou a ser posta em liberdade, sem prejuizo de que prossiga o proceso. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juizo. + Art. 92, item 3, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos das Nacées Unidas (Decreto ne 572/92); 3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infragdo penal deveré ser conduzida, sem demora, a presenga do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer fungées judiciais e terd o direito de ser julgada em prazo razoavel ou de ser posta em liberdade. A prisao preventiva de pessoas que aguardam julgamento nao deveré constituir a regra geral, mas a soltura poderé estar condicionada a garantias que assegurem 0 comparecimento da pessoa em questao a audiéncia, a todos os atos do processo ¢, se necessério for, para a execu- 40 da sentenga + Resolucao n° 213/15, Conselho Nacional de Justiga; + Art. 310, Cédigo de Processo Penal; Art. 310. Apés receber 0 auto de prisao em flagrante, no prazo maximo de até 24 (vinte e quatro) horas apés a realizacao da prisdo, o juiz devera promover audién- cia de custédia com a presenca do acusado, seu advogado constituido ou membro da defensoria puiblica eo Membro do Ministério Pubblico e, nessa audiéncia, 0 juiz deverd fundamentadamente: 03 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: + Art. 287, do Cédigo de Processo Penal; Art, 287, Sea infracao for inafiancdvel, a falta de exibicao do mandado nao obstard a prisao, e 0 preso, em tal caso, serd imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para a realizacdo de audiéncia de custédia. POSSIBILIDADES DE DECISAO DURANTE O ATO DA CUSTODIA: Relaxamento da prisio em flagrante Isto é, se observada alguma ilegalidade no ato da priséo em flagrante ou no decorrer da acéo policial, o juiz deve declarar a ilegalidade do ato e colocar, de imediato, o flagranteado em liberdade plena. A fundamentagao legal encontra-se prevista nos termos do art. 5°, inc. LXV, da Constituigdo Federal c/c 0 art. 310, inc. I, do Cédigo de Processo Penal Se for o caso de cumprimento de mandado de prisdo, o juiz deverd analisar o documento de mandado, além de observar eventual alegagao de tortura, maus tratos ou abuso de poder, circunstancia na qual deverd realizar o relaxamento da priso e comunicar o juiz competente do caso. De acordo com alteracées do CPP, é possivel que a prisio do flagranteado seja relaxada no ‘caso em que comunicagao da prisao exceder o prazo de 24h, conforme art. 310, §4°. Contudo, tal previsdo encontra-se suspensa pela de decisao do vice-presidente do Supremo Tribunal Fede- ral (STF), Luiz Fux, em razao das ADIs 6.298, 6.299, 6.300 6305. Concesséo da liberdade proviséria, com ou sem medidas cautelares diversas da prisio. A autoridade competente pode determinar medidas menos gravosas que prisdo, que funcionarao como alternativas para evitar a mesma. As medidas cautelares estao listadas no art. 319, do CPP. Caso 0 flagranteado descumpra tais medidas, é possivel decretar a prisao preventiva. Apés recentes alteragdes do CPP, é necessario lembrar que o Ministério Puiblico tem que fazer requerimento expresso e fundamentar a necessidade de aplicacao das medidas cautelares diversas da prisao que se aplicam ao caso concreto e de maneira individualizada, conforme art. 282, §2° e §6,, do CPP, vez que a regra é a liberdade plena, conforme principio da presuncao de inocéncia, A fundamentagao para concessao da liberdade proviséria encontra-se nos arts. 310, inc. Ill c/coart. 321 e319, ambos do CPP. E possivel realizar 0 requerimento de dispensa ou diminuicao do valor da fianca (quando for 0 caso), nos termos dos arts. 325, § 1°, inc. |, € 350, CPP. Decretagao da prisio preventiva: Apés recentes alteragées ocorridas no CPP, passou existir novo requisito para decretag4o da priséo preventiva. Além de demonstrar necessidade de acordo com os fundamentos ja existentes: garantia da ordem publica, da ordem econémica, por conveniéncia da instrugao criminal ou para assegurar a aplicacéo da lei penal, é necessério que- 04 CARTILHA DO CRIMINALISTA fique demonstrado o perigo gerado pelo estado de liberdade do flagranteado, determinando a necessidade de justificar de acordo com caso em concreto a necessidade da prisdo excluso do risco do mesmo em permanecer em liberdade. E bom lembrar que a prisdo preventiva somente serd determinada quando nao for cabivel a sua substituigéo por outra medida cautelar, que deverd ser justificada de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, conforme disposto no art, 312, §2°, do CPP, §2° A decisao que decretar a priso preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existéncia concreta de fatos novos ou contemporaneos que justifiquem a aplicagao da medida adotada Anecessidade de fundamentacao da decisao também consta nos artigos: Art, 315. A decisao que decretat, substituir ou denegar a prisao preventiva sera sempre motivada e fundamentada § 1° Na motivagao da decretagao da prisao preventiva ou de qualquer outra caute- lar, 0 juiz devera indicar concretamente a existéncia de fatos novos ou contempo- raneos que justifiquem a aplicacao da medida adotada. § 2° Nao se considera fundamentada qualquer decisao judicial, seja ela interlocu- téria, sentenga ou acérdao, que: | se limitar a indicagao, a reproducao ou a paré- frase de ato normativo, sem explicar sua relacao com a causa ou a questdo decidi- da; II empregar conceitos juridicos indeterminados, sem explicar 0 motivo concreto de sua incidéncia no caso; Ill- invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisao; IV - no enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusao adotada pelo julgador; \V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de stimula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que 0 caso sob julgamento se ajusta aqueles fundamentos; VI- deixar de seguir enunciado de stimula, jurisprudéncia ou precedente invoca- do pela parte, sen demonstrar a existéncia de distingao no caso em julgamento oua superagao do entendimento. No caso de descumprimento em relacéo 8 fundamentacao, estaré demonstrada nulidade processual, de acordo com novas alteracées, vejamos o art. 564, do Cédigo de Processo Penal e poderd ser utilizado como fundamento para impetracao de habeas corpus: V- em decorréncia de decisao carente de fundamentacao. CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB sxx: Vale lembrar também que, a depender das condicées pessoais do flagranteado, conforme art, 318, do CPP, é possivel pedir conversao em prisao domiciliar da prisao preventiva eventual- mente decretada, nos termos dos arts. 282 e 318, ambos do CPP, DIREITOS RELACIONADOS ANTES DA AUDIENCIA Acesso aos autos do flagrante ou mandado de prisdo: Antes de realizar 0 contato e ter conversa prévia com seu cliente, é necessario que o advogadola) tenha acesso aos autos de prisdo em flagrante ou documento de mandadbo de priso, pata avaliar circunstancias do caso em concreto. Tal direito encontra previsao legal no art. 7°, XIV, Lei n 8.906/94. Contato prévio e reservado, sem presenca dos agentes responsdveis pela priséo: Todo advogado(a) constituido tem direito de acesso ao cliente, bern como conversa prévia e sigilosa, sem presenga dos agentes que realizaram prisao, nos moldes do art. 7°, Il, Lei n° 8.906/94, art.185, § 5°, do CPP. DIREITOS RELACIONADOS A AUDIENCIA Requerimento de retirada de algemas: O uso de algemas na audiéncia de custédia é excep- ional, assim como ern outros procedimentos do proceso penal, conforme Sumula Vinculante 1.11. Assim, o juiz deverd observar que em caso do custodiado estiver algemado devera constar no termo da audiéncia de custédia a motivacao idénea. DURANTE AUDIENCIA Em regra, quais so perguntas que sao feitas aos custodiados? 1. Setem residéncia fixa. 2. Se trabalha. Caso sim, com que? 3. Se reconhece algum dos agentes de seguranca pliblica presentes como condutor ou participante da sua prisao em flagrante? Se sim, pedir retirada do local. 4. Sesofreu algum tipo de agressdo ou maus tratos por parte dos policiais? 5. Se teve direito a um telefonema? Se nao, anotar o telefone do preso e comunicar a familial 6. Se passou por corpo de delito. Se nao, requerer ao juiz. Se sim, questionar se foi na presenca do agente, circunstancia em que deverd ser realizado novo exame. 7. Se esta respondendo processo criminal anterior ou em cumprimento de pena. 8 Seostenta condigéo de gravidez (se aplicavel); 9. Setem filhos de até 12 anos incompletos (se aplicavel) 10. Se ostenta condicao de Unico responsavel pelos cuidados de filho de até 12 anos incompletos (se aplicdvel); 11. Se é responsavel pelos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou deficiente (se aplicével). 12, Relato da prisao e descrigo de abuso de poder, de maneira pormenoriza- da 06 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Em regra, nao se analisa 0 mérito do caso, ou seja, responsabilidade penal, mas é possivel realizar REQUERIMENTOS, se necessatio, tendo em vista a possibilidade e a necessidade de producao de uma prova que pode-se perder ao longo do lapso temporal até instauragao da investigagao criminal. Existem outros tipos de requerimentos, tais como: 5 Requerimento de exame de corpo de delito, > Se nao houver sido realizado (art. 8°, inc. VII, a, Res. 213/15 CNJ); > Se os registros forem insuficientes (art. 8°, inc. VII, b, Res. 213/15 CNJ); > Se presente queixa de tortura, abuso ou maus tratos em momento posterior & sua realizacao (art. 89, inc. VIl, c, Res. 213/15 CNJ); > Se houver sido realizado na presenga de agente policial que realizou a priso (art. 89, inc. Vil, d, Res. 213/15 CNJ); ou : Juntada de documentos: > Comprovante de residéncia; > CTPS ou comprovante de exercicio de trabalho, como declaracées pessoais; > Declaragées diversas; > Procuracao, se necessario. 07 CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB sxx: Audiéncia de Instrugao e Julgamento Por Maira Garcia Dias e Paulo Martins Crosara ORDEM DAS OITIVAS Cart. 400, CPP, estabelece a ordem processual das oitivas a serem realizadas na audiéncia de instrugao e julgamento, Serdo primeiro ouvidas as vitimas, quando possivel, seguidas das teste- munhas de acusagao, depois as de defesa, e, por tiltimo, é realizado 0 interrogatério. Ressalta-se que leis extravagantes, como a Lei 11,343/06 e a Lei 8.666/93, definem outro rito processual, prevendo 0 interrogatério como primeiro ato da instrucao. Apés grande discussao doutrindria e jurisprudencial, o STF definiu, no julgamento do HC 127.900, que o art. 400, CPP, prevalece sobre leis especiais, por estar de acordo com a Constitui¢ao, sob pena de nulidade absoluta, E comum que, quando ha testemunhas da acusacao ausentes, estando as testemunhas de defesa presentes, 0 juiz pergunte as partes sobre a possibilidade com a inversao processual, ou seja, que a oitiva das testemunhas ocorra antes da conclusdo da oitiva das testemunhas de acusa¢ao. Essa inversao sé pode ocorrer com o consentimento de ambas as partes, podendo o advogado se manifestar negativamente quando assim for melhor para o acusado. No caso de ter sido expedida carta precatéria para a oitiva de testemunha, importante notar que a auséncia da realizacao de oitiva no julzo deprecado nao interrompe a instrucao criminal (art. 222, CPP). Ou seja, ainda que haja testemunhas da acusagao ainda nao ouvidas em outras comarcas, pode o juiz continuar a instrucao com a oitiva de testemunhas ¢ a realizagao de inter- rogatério. Caso ja tenha se esgotado o prazo para o cumprimento da precatéria - estabelecido pelo juizo deprecante quando da expedigao da carta precatéria -, pode-se até mesmo proferir sentenca, ainda que haja testemunhas a serem ouvidas. Nada impede, todavia, principalmente quando nao ha urgéncia no fim da a¢do penal (por exemplo, quando a prescri¢ao est longe de ocorrer ou quando nao ha réus presos), que o advo- gado requeira ao juizo o respeito & ordem processual prevista no art. 400, CPP, em detrimento da determinagao do art. 222, §10, CPP. CARTAS PRECATORIAS Quando for necessatia a oitiva de testemunhas em outras comarcas, 0 juizo do feito expedira carta precatéria. Importante notar que, de acordo com o art. 255, do CPC, aplicavel ao processo penal (art. 30, CPP), “nas comarcas contiguas de facil comunicagao e nas que se situem na mesma regido metropolitana, o oficial de justica poderd efetuar, em qualquer delas, citagdes, intimagoes, notificacées, penhoras e quaisquer outros atos executivos”, Assim, uma testemunha que more em Betim, por exemplo, poderd ser intimada para comparecer em uma audiéncia na Comarca de Belo Horizonte, nao sendo necessaria a expedico de carta precatéria © advogado deve ser intimado da expedi¢ao da carta precatéria, sob pena de nulidade, contudo, de acordo com o a jurisprudéncia predominante, nao é necessaria a intimacao do advo- gado para a audiéncia designada no juizo deprecado. Dessa forma, muito importante que se mantenha atento, acompanhando pelo site do TJMG, a distribuicao e os andamentos processu- ais da carta precatéria para que comparega no ato processual a ser realizado. 08 CARTILHA DO CRIMINALISTA AB xxx: REALIZACAO DE INTERROGATORIO VIA CARTA PRECATORIA. Hé grande discussao sobre a possibilidade da realizacdo do interrogatério via carta precaté- ria, pois se violaria o Principio da Identidade Fisica do Juiz (art. 399, §20, CPP), sendo muito importante que o juiz sentenciante seja aquele que teve contato imediato com o acusado. OSTF consolidou entendimento pela possibilidade de realizacao do interrogatério do acusa- do de forma justificada, em situacées que seja dificil a realizacao do interrogatério no juizo de origem, nao sendo, portanto, um direito absoluto. Na pratica, quando o acusado reside em outra comarca é expedida carta precatoria para a realizacéo do interrogatério. A depender da estratégia defensiva adotada, pode-se requerer 0 recolhimento de tal precatoria sem cumprimento, informando que o acusado ira comparecer na audigncia de instrugao e julgamento designada pelo juizo deprecante, a fim de ser interrogado pelo juiz natural da causa. INQUIRIGAO DE TESTEMUNHAS © Cédigo de Processo Penal, desde 2008, adotou o chamado “cross examination’, dessa forma, as partes deverdo fazer suas perguntas diretamente as testemunhas, nao mais sendo necessario que o questionamento seja primeiro realizado ao magistrado (art. 212, CPP). Porém, poderd o juiz indeferir perguntas “que puderem induzir a resposta, ndo tiverem relasdo com a causa ou importarem na repeticdo de outra jd respondida”. Durante a inquirigao da parte contraria poderd o advogado pedir a palavra para requerer o indeferimento de alguma pergunta que se encaixe nas hipéteses retro expostas. A acusacao deverd perguntar primeiro para a vitima e para as testemunhas que arrolou na dentincia/queixa-crime, enquanto a defesa iniciara a oitiva das testemunhas defensivas. Ao juizo sao reservados esclarecimentos finais, se necessario for, nos termos do p. u. do art. 212 O INTERROGATORIO Antes de se iniciar o interrogatério, ¢ direito do acusado se reunir, reservadamente, com 0 seu advogado para orientacao juridica, ainda que esteja preso. O interrogatério é realizado pelo juiz, sendo permitida, quando o magistrado termina sua inquiricao, perguntas pela acusacao e depois pela defesa Nos termos do art. 186, CPP, ao acusado deveré ser lida a dentincia/queixa crime, sendo cien- tificado, logo apés, do seu direito a permanecer calado e que, assim o fazendo, nao poderd ser prejudicado pelo seu siléncio. Importante notar que direito ao siléncio pode ser exercido total- mente ou parcialmente, ou seja, 0 acusado pode se recusar a responder certas perguntas € responder as demais. Nessa linha, é possivel que o acusado informe que iré responder as pergun- tas apenas de seu advogado, por exemple. 09 CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB exe: O interrogatério poss fatos lois momentos, um de qualificagao do acusado e outro sobre os Vale destacar que o direito ao silencio se aplica nos dois momentos processuais e que, ainda que se resolva responder is perguntas realizadas, o acusado nao tem o dever de dizer a verdade, podendo relatar a versio dos fatos que melhor coadune com sua defesa. CONVERSA PREVIA COM AS TESTEMUNHAS Existe um tabu no meio judicial brasileiro sobre o advogado se reunir com as testemunhas defensivas antes da audiéncia de instrucao e julgamento. Contudo, nao ha nada de ilegal em conversar com as testemunhas de forma a saber o que essas sabem sobre o fato tratado na acao penal e preparar perguntas que serdo feitas em audiéncia. Inclusive, aconselhavel nao realizar perguntas “as cegas” durante o ato processual. Obviamente, nao se pode induzir a testemunha a mentir ou a omitir fato que sabe, o que podera configurar crime. Nesse aspecto, de grande importdncia é 0 provimento 188/2018 do Conselho Federal da OAB que regula a investigacao defensiva realizada por advogados. Como se vé na norma, seja na fase de inquérito, processual ou recursal, poderd 0 advogado “promover diretamente todas as diligéncias investigatérias necessdrias ao esclarecimento do fato, em especial a colheita de depoi- mentos, pesquisa e obtengdo de dados e informagées disponiveis em érgaos publicos ou privados, determinar a elaboragdo de laudos ¢ exames periciais, e realizar reconstituigdes, ressalvadas as hipé- teses de reserva de jurisdigao” (art. 4°) Assim, tais reunides sao legitimas. COMPROMISSO EM DIZER A VERDADE E CONTRADITA DE TESTEMUNHAS, A vitima nao firma compromisso de dizer a verdade. Quanto as testemunhas, quando se conhece qualquer motivo que possa impedir o depoen- te de dizer a verdade, como lacos familiares e/ou profissionais, deve-se realizar a contradita, devendo 0 advogado pedir a palavra antes do inicio da oitiva, fazendo constar seu requerimento emata, No momento, pode, inclusive, apresentar provas do que esta sendo afirmado, Caso o juiz defira o pedido, a testemunha néo prestaré 0 compromisso de dizer a verdade e sera ouvida como informante. LEITURA DOS DEPOIMENTOS PRESTADOS NA FASE POLICIAL E DA DENUNCIA PARA TESTEMUNHAS Cart. 204, CPP, probe que a testemunha traga seu depoimento por escrito, bem como o art. 212, CPP, impede perguntas que induzam a resposta. Assim, implicitamente, nao se deveria permitira leitura de depoimentos prestados na fase inquisitorial antes de se iniciar a oitiva judi- ial. Contudo, a pratica é comum nos féruns brasileiros. Dessa forma, a leitura poderd ser impug- nada, devendo o advogado pedir a palavra imediatamente. 10 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Outro costume, é a leitura da dendincia, pelo magistrado, para as testemunhas, ainda antes de se iniciar formalmente a audiéncia. Em alguns lugares, a dentincia é pregada no quadro de avisos junto a pauta de audiéncias. Nesses casos, o advogado também poderd se insurgir contra a pratica, pelos mesmos motivos alegados retro, uma vez que se configura influancia indevida no depoimento das testemunhas INCOMUNICABILIDADE DAS TESTEMUNHAS OCPP prevé que as testemunhas serao inquiridas separadamente e deverdo permanecer em espacos reservados antes da audiéncia (art. 210, caput e p. u,, CPP). Todavia, nem mesmo na capi- tal mineira o forum esta preparado para atender a exigéncia legal. Todas as testemunhas espe- ram juntas, no corredor, serem chamadas para depor. Contudo, a incomunicabilidade continua sendo exigida, devendo ser registrada qualquer comunicacao entre testemunhas, principalmen- te depois que uma delas jé prestou depoimento. RECONHECIMENTO DO ACUSADO Durante a oitiva da vitima, podera ser realizado reconhecimento do acusado pela mesma. Nos termos do art, 226, II, CPP, o acusado deveria ser posicionado ao lado de pessoas com seme- thangas fisicas 8s dele. Contudo, infelizmente, tal procedimento é extremamente raro de ser observado, No Férum Lafayette na Comarca de Belo Horizonte, por exemplo, o acusado é posi- cionado na varanda do férum, dizendo a vitima se reconhece ou nao 0 acusado depois de obser- vérlo pela janela, PRESENGA DO ACUSADO EM AUDIENCIA ‘Ao acusado é reservado o direito de presenciar os depoimentos prestados, sendo de grande importancia que isso ocorra, uma vez que esse pode se comunicar com o seu advogado a qual- quer momento, informando-o de alguma situacao fatica importante para a inquiricao das teste- munhas. Além disso, ao final serd realizado 0 interrogatério, e o acusado tem o direito de saber 0 que foi dito pelas testemunhas para se preparar para seu interrogatério. A nica excesao ocorre quando a presenca do acusado causa temor na vitima ou testemu- nha, podendo o juiz determinar sua retirada da sala, em ato devidamente motivado e registrado em ata (art. 217, CPP). Por dbvio, o seu defensor nunca poderd ser impedido de participar de qualquer ato processual JUNTADA DE DOCUMENTOS Diferente do processo civil, no processo penal pode-se juntar documentos a qualquer tempo, inclusive durante a audiéncia de instrugao e julgamento (art. 231, CPP). 11 CARTILHA DO CRIMINALISTA TESTEMUNHA DO JUiZO © Cédigo de Processo Penal permite o juizo arrolar testemunhas que julgar conveniente para apurago dos fatos (art. 209, CPP). E possivel, ainda, seja determinada, ao final da instrucao, oitiva de pessoa mencionada por uma ou mais testemunhas em seu depoimento (testemunha referida), nos termos do art. 209, § 10, CPP, o que deverd ocorrer antes do interrogatério. FASE DO ART. 402, CPP Finalizada as oitivas, poderd as partes requerem diligéncias que se mostraram necessérias a0 longo da instrucao criminal (art. 402, CPP). Tem sido comum que se adie para essa fase a andlise da necessidade ou nao de realizacao de realizagéo das pericias requeridas em resposta & acusagéo, devendo o advogado insistir na producéo probatéria antes do fim da audiéncia, caso assim entenda, para que nao ocorra a preclusao. SENTENCA EM AUDIENCIA Nos termos do art. 403, CPP, a sentenga deverd ser proferida em audiéncia, apés alegacées finais orais pela acusacao e defesa. Contudo, na pratica, tal procedimento é pouco adotado e ¢ reservado para casos de baixa complexidade, sendo comum a abertura de prazo para alegacées finais escritas. Recomenda-se o advogado conferir qual o costume da vara e se preparar para apresentar alegagées finais em audiéncia, inclusive levando um pen drive com um esboco da defesa, POSSIBILIDADE DE MANIFESTACOES VERBAIS A QUALQUER TEMPO E direito do advogado se manifestar, pela ordem, “mediante intervengao suméria, para escla- recer equivoco ou dtivida surgida em relacéo a fatos, documentos ou afirmagées que influam no julgamento, bem como para replicar acusacao ou censura que Ihe forem feitas’, nos termos do art. 7°, X, do Estatuto da OAB. Dessa forma, qualquer tempo, poderd o advogado se manifestar, requerendo a palavra ao juiz que preside o ato. DESRESPEITO AO RITO PREVISTO EM LEI E DESRESPEITO AS PRERROGATIVAS DO ADVOGADO E direito do advogado fazer constar aquilo que julgar pertinente na ata da audiéncia, nao podendo o magistrado se negar a fazé-lo. CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Caso 0 magistrado se negue terminantemente a constar em ata evento ocorrido em audién- cia- ou por outro qualquer motivo grave - é direito do advogado se negar a assinar a ata, poden- do se retirar do ato processual, independente de licenga (art. 72, VI do Estatuto da OAB). Nesses casos, procure registrar por todos os meios possiveis os motivos que ensejaram a recusa em assinar. Em casos de desentendimentos mais graves com promotores e/ou julzes pode acontecer de ser dada voz de priso ao advogado por desacato. E direito do advogado que seja chamado um representante da OAB para acompanhar o ato (art. 7°, IV, do Estatuto da OAB). € importante destacar que nao existe “hierarquia nem subordinagdo entre advogados, magistrados e membros do Ministério Piblico, devendo todos tratar-se com consideragao e respeito reciprocos” (art. 6°, do Estatuto da OAB). Procure sempre saber quem séo 0s advogados que compée a Comisséo de Prerrogativas local, e tenha o celular desses advogados com vocé 13 CARTILHA DO CRIMINALISTA Atuagao Do (A) Advogado (A) Em Delegacia De Policia Por Talita Quézia de Assis A atuacao do advogado pode ser dividida em dois momentos: 1. Atuacao em sede de priso em flagrante; 2. Atuacao em sede de investigagao criminal; ATUAGAO DO (A) ADVOGADO (A) EM SEDE DE PRISAO EM FLAGRANTE A primeira ligagdo Em regra, o advogado criminalista sera contatado por amigos ou familiares da pessoa que foi autuada em flagrante delito. £ importante colher informacées como: a) OLocal (bairro e cidade) onde ocorreu a prisao; b) Qual aacusacao que esta sendo imputada a pessoa presa; ©) Local para onde foi levada a pessoa presa (Qual Delegacia/Central de flagrante ou Bata- thao da Policia Militar). Ea partir das informagées acima que 0 advogado criminalista saberd para qual local a pessoa presa sera conduzida. Em Belo Horizonte e regio metropolitana é comum a Policia Militar conduzir a pessoa presa inicialmente para 0 Batalhao da Policia Militar e Id iniciar a confecgo do REDS (boletim de ocor- réncia). A lavratura do REDS ¢ feita pelos militares responséveis pela prisdo. No REDS iré constar 0 relato de como foi feita a prisdo ea lista materiais apreendidos (armas, municées, drogas, veicu- lose outros). Antes de se deslocar para a delegacia, é importante negociar os honorarios e a forma de pagamento com 0 Contratante. Sugerimos que o pagamento seja feito mediante transferéncia bancéria ou em espécie e antes do advogado iniciar os trabalhos (pagamento antecipado). Quanto ao valor dos honorarios, estes devem ser no minimo o valor previsto na Tabela de Honorérios da OAB/MG Os tramites do flagrante Lavrado 0 REDS, 0s Militares irao conduzir seu cliente para a delegacia competente. Em Belo Horizonte/MG temos os chamados CEFLAN's (Central de Flagrantes da Policia Civil) que sao divididos por regises CEFLAN 1: R. Pouso Alegre, 417 - Floresta, Belo Horizonte/MG; CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: CEFLAN 2: R. Conselheiro Rocha, 321 - Santa Tereza, Belo Horizonte - MG CEFLAN 3: Av. Sinfrénio Brochado, 946 - Barreiro, Belo Horizonte/MG CEFLAN 4: Av. Joao XXIll, 287 - Alipio de Melo, Belo Horizonte/MG Chegando a delegacia o REDS serd entregue pela Policia Militar 8 Autoridade Policial (Dele- gado De Policia), juntamente com todos os materiais apreendidos no momento da prisao. A Autoridade Policial ira colher 0 depoimento dos Militares envolvides na prisao (policiais condutores), das demais testemunhas e vitimas e por ultimo, a pessoa presa sera interrogada sobre os fatos Apés 0 interrogatério a Autoridade Policial ird decidir pela ratificagéo ou nao da priséo em flagrante. Sendo ratificada, deverd ser observado se ¢ o caso de concessao de fianca (Art. 322 seguintes do Cédigo de Processo Penal). Apresentacao ao cliente: Ao chegar a delegacia, verifique junto aos Policiais Militares presentes no local se o seu clien- te jd est na delegacia (é comum chegarmos a delegacia antes do cliente). Constatada a presenga do cliente na delegacia, peca aos Policiais Militares para ter acesso a ele apenas para informa-lo que vocé ja esta na delegacia. Aqui vale um “quebra-gelo” com os Militares: pergunte a eles como foi a ocorréncia e quais materiais foram apreendidos. O objetivo 6 ja ir se familiarizando com a versao dos Militares. Feito isso aproxime-se do seu cliente, apresente-se e informe a ele o nome do Contratante para que ele saiba que vocé é o (a) advogadoa) de confianga. Diga a ele que vocés terao a oportunidade de conversar reservadamente em momento opor- tuno e que serd durante a conversa reservada que ele ird te contar detalhes sobre os fatos. Depois de avisi-lo que aquele nao é o momento para falar sobre os fatos, pergunte se ha algo de urgente que ele queira te contar de imediato. Apresentacao a autoridade policial © préximo passo é se apresentar perante a Autoridade Policial (normalmente essa apresen= taco é feita para um Policial Civil que esta no plantéo). Identifique-se como advogado (a), diga que esta ali para representar o seu cliente (mencione aqui 0 nome completo dele e do que se trata a ocorréncia). Informe ainda que deseja de ter acesso ao REDS (caso os Militares ja tenham sido ouvidos) ou pega para acompanhar o depoimento dos Militares. Ressalte que precisara conversar reservada- mente com 0 seu cliente antes do interrogatério dele. 15 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Atengao: Conversa reservada é reservada mesmo. Sem Policiais Militares ou Civis ouvindo a conversa. Anegativa do direito de conversar reservadamente com seu cliente implica em violacao as, pretrogativas dos advogados previstas no art. 7°, inciso Ill e inciso VI, alinea"b" da Lei n° 8.906/94 (Estatuto da OAB) e configura crime de abuso de autoridade nos termos do art. 20 e art. 43, ambos da Lei 13.869/2019. Como orientar o cliente? © advogado devera solicitar ao cliente que conte, com riqueza de detalhes como os fatos ocorreram e com base na narrativa do cliente e/ou no seu estado de animo, o advogado devera decidir se 0 mais prudente ¢ orientar o cliente a prestar depoimento ou a exercer seu direito constitucional de ficar em siléncio. Na duvida, sugira que ele fique em siléncio. Se optar pelo depoimento, pense em todas as perguntas que o delegado poder fazer durante o interrogatério e avalie se de fato é interessante que seu cliente as responda Fim do flagrante a) Com fianga: Sendo ratificada a prisdo em flagrante, o delegado ira arbitrar fianga para os casos em que possivel (Art. 322 e seguintes do Cédigo de Processo Penal). Normalmente a fianga é paga em espécie e na propria delegacia. Apds 0 pagamento, o cliente sera liberado. Na hipdtese de nao haver o pagamento, ele sera encaminhado a uma unidade prisional e posteriormente a audién- cia de custédia, E importante requerer o recibo referente ao pagamento da fianga. b) Sem fianga: Nao sendo o caso de arbitramento de fianca, o cliente seré encaminhado a unidade prisional. Lembre-se de solicitar uma copia do APFD, de recolher os documentos do cliente e eventuais objetos que estavam com ele no momento da prisdo e que nao foram apreendidos (objetos licitos como chaves, reldgio e afins).. ATUAGAO DO (A) ADVOGADO (A) EM DELEGACIA DURANTE O CURSO DA INVESTIGACAO CRIMINAL Outra hipétese de atuacao do advogado em sede de delegacia se dé no ambito das investi- gasdes. Aquia situaao mais comum é 0 advogado, ser contratado para acompanhar o cliente duran- te 0 depoimento dele em sede de delegacia. CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB xxx ‘A Policia Civil intima seu cliente para comparecer a delegacia com data e hora pré-definidas ena maioria das vezes o mandato de intimacao nao contém informagoes sobre o fato em apura- cao. De toda forma, constando ou nao as informagées sobre o fato em apuragio, deveré 0 advo-~ gado diligenciar junto 8 delegacia em data anterior a data designada para a oitiva do cliente, para ter acesso aos autos do inquérito e se necessério fazer cépias e apontamentos. O pedido de vista deverd ser protocolado junto a Autoridade Policial e caso seja necessério, ‘0 advogado deverd requerer ainda a designasao de nova data para a colheita do depoimento. Importante: A negativa do direito de acesso aos autos implica em violagao as prerrogativas dos advogados previstas no art. 7°, inciso XIll e inciso XIV, da Lei n° 8.906/94 (Estatuto da OAB) e configura crime de abuso de autoridade nos termos do art. 32, da Lei 13.869/2019. Caso seja necessério acione a prerrogativa da OAB para que eles comparegam ao local ¢ certifiquem os fatos. De posse dos autos do inquérito, analise a portaria de instauracao do inquérito para identifi- car se o cliente esta figurando como vitima, testemunha ou investigado. £ fundamental saber qual a posicao do cliente frente a investigacao em curso. Meu cliente esta send Westigado. E agora? Antes de apresentar o cliente na delegacia, pesquise os dados do seu cliente no Banco Nacio- nal de Mandados de Priséo -BNMP para verificar se hd mandado de priso em aberto. E importante mencionar que o fato de nao constar mandado de prisdo registrado no BNPM, nao significa dizer que nao hé mandado de prisdo em aberto. Isso porque, pode acontecer do mandado de prisdo no ter sido registrado no BNPM. Em reuniao prévia com o cliente, questione-o sobre os fatos e defina qual estratégia sera adotada durante o depoimento dele perante a Autoridade Policial (se ele ird prestar depoimento ou ficar em siléncio) O advogado deveré acompanhar o depoimento e poderd apresentar quesitos e fazer reque- rimentos. A negativa desse direito implica em violacao & prerrogativa dos advogados previstas inciso XXI da Lei n° 8.906/94 (Estatuto da OAB) e configura crime de abuso de autorida- de nos termos do art. 15, paragrafo Unico, inciso Il, e art. 32, ambos da Lei 13.869/2019. 17 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Do Procedimento do Juri Por José Arthur Kalil Leitura de documentos No julgamento, poderao ser lidos os documentos juntados pelas partes conforme o art. 479 do CPP. Citagéo doutrinaria néo é documento e, assim, poderdo ser lidas ligées da literatura penal e processual penal. E mesmo os trechos de julgados de tribunais poderao ser lidos, desde que tal leitura nao seja da propria decisao que julgou admissivel a proniincia, nos termos do art. 478 do CPP, pois ai terfamos o seu uso indevido como argumento de autoridade. Oaparte © Cédigo de Processo Penal pouco aborda o “aparte’, apenas dispondo que cabe ao juiz"Xil regulamentar, durante os debates, a intervencao de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (trés) minutos para cada aparte requerido, que sero acrescidos ao tempo desta iltima” (art. 497, CPP). Requerido o aparte ao juiz, entao cabe ao magistrado regulamentar o tempo pata tanto, nos termos legais, para que o orador nao seja prejudicado pela intervencao da outra parte. Trata-se de liberalidade do orador na concesséo do aparte quando este Ihe é pedido diretamente. Mas, uma vez requerido ao magistrado, a este cabe tarifar e controlar o tempo cedido a prerrogativa ‘em questao. Podem advir de um aparte bem exercido bons frutos para quem o faz, seja pela qualidade do argumento, seja pela oportuna pausa provocada na exposicao. Porém, sempre ha a chance de um espirituoso e sagaz orador aparteado fulminar os argumentos logo depois, ou mesmo usar 0 aparte como combustivel para inflamar 0 seu discurso. Pedido de indicagao de folha dos autos Os jurados, advogados e 0 Ministério Publico, por intermédio do juiz, poderao solicitar ao orador que indique a folha dos autos que esta sendo lida durante a exposicao. Os jurados podem ainda, nesse momento, solicitar esclarecimentos de fato ao orador, tudo nos termos do art. 480 do CPP. Arguigéo tempestiva de nulidades O ato judicial ou da parte contraria que apresentar desconformidade com o tito deverd ser impugnado no instante em que ocorrer (art. 571, VIll, CPP), devendo haver decisao fundamenta- daa respeito, o que deverd constar da ata do julgamento. Nao havendo a impugnacao tempesti- va, ha 0 risco de 0 ato considerar ser sanado nos termos do art. 572, Ill, do CPP. Assim, reveste-se de grande importancia a oportuna impugnacao do ato aparentemente ilegal. © fato de nao haver a impugnacao nao retira a possibilidade, contudo, da declaracao da nuli- dade do julgamento pelo juiri. E que o procedimento do juri possui verdadeira liturgia, inumeras que so as formalidades inerentes ao julgamento, a exemplo do que se vé quanto as advertén- cias, explicacées e exortagées a serem feitas pelo juiz aos jurados. 18 CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB xxx Gravagao ambiental E permitido ao advogado a gravacao do audio e de imagens do julgamento, nos termos do §6° do art. 367 do Cédigo de Processo Civil, aplicado ao processo penal subsidiariamente, nos moldes permitidos pelo art. 3° do CPP. Destarte, sugere-se, havendo interesse em gravagdo da sesso pelo Advogado, que este informe aos Julgadores que ira fazer a gravacao do ato, tomando por base a aplicacao subsidiaria do artigo 367, p. 6°, do CPC e artigo 792, do CPP. Em caso de negativa, recomenda-se que o Advogado requeira que se conste em ata. Traje do réu preso Aleinao disciplina o traje que deve o réu preso usat, se o uniforme do sistema prisional ou 0 traje civil, tal como 0 réu solto. A questao tem merecido a atencao dos Advogados, que frequen- temente requerem ao juizo que o réu preso possa usar trajes civis como forma de néo influenciar a sensibilidade dos jurados. Hé julgados assegurando ao réu o uso de traje civil, mesmo que preso, sendo esta a melhor orientagao & luz do principio da nao culpabilidade Auséncia do réu A presenga do réu nao é obrigatéria no seu julgamento perante o Juri, constituindo parte da defensiva. € tal prerrogativa vale tanto pata o réu solto, quanto para o réu preso (art. 457 e seus §5, do CPP) . Para este tiltimo, é necessério que o advogado faca prévia peticéo a0 Presidente do Juri, ndo s6 para ficar claro 0 uso desse direito, mas também para prevenir cias dispendiosas para a administracao prisional decorrentes do transporte do preso. Réu preso sem algemas O Juri, composto por juizes leigos, é extremamente sensivel e sua inclinacao para condenar ou para absolver pode originar-se das mais inusitadas e simples circunstancias. A lei foi sensivel a esta particularidade e, como regra geral, temos a auséncia de algemas no réu que se encontra preso durante o julgamento. Ha excegées a esta regra, como se pode ver do art. 474, §3°, do CPP. Suficiéncia da afirmagao por maioria na resposta aos quesitos O.CPP menciona que sao suficientes as afirmacées por mais de trés votos para a resposta aos quesitos durante a votacao pelos jurados (art. 483). Cumpre explicitar que, nesse sentido, sao suficientes quatro votos para colher-se a posi¢ao dos jurados quanto aos quesitos que Ihe sao postos na votacao. Obtida a maioria, quatro votos, encerra-se a votagao. Nao é necessario obter- ~se ou buscar-se a unanimidade dos votos dos jurados. Votacées com resultados expressivamen- te folgados, como 7x0 e 6x1, podem alterar a disposicao do juri para condenar ou absolver; dai a prescrigao legal quanto a suficiéncia de se acolher a resposta em face da maioria, 19 CARTILHA DO CRIMINALISTA Tratamento respeitoso pelo MP, pelo juiz e pelo advogado © tema deste item pode soar ébvio e desnecessario para constar numa cartilha, mas é na extrema liberdade de uma tribuna que o orador deve demonstrar respeito aos limites de sua manifestacao e, nao raro, assiste-se a episédios de excesso de linguagem nos tribunais do juri E de ser observado pelo membro do Ministério PUblico tratamento respeitoso ao réu, as testemunhas ¢ ao advogado, devendo-se constar em ata qualquer abuso nesse sentido, pois, nos termos do art. 43 da Lei 8.625/93, é dever do Promotor de Justiga IX - tratar com urbanidade as partes, testemunhas, funcionarios e auxiliares da Justica;". Assim, discurso acusatério contundente permitido, e mesmo eventuais excessos inerentes 8 discussao da causa em face da imunidade forense que possui a parte em suas manifestacoes orais e escritas (art.142, |, CPP). Importa notar, contudo, que a solenidade e a gravidade de um julgamento perante o Juri jamais se compatibilizarao com abusos que extrapolam a referida causa e que vulneram o dever de respeito imposto a qualquer orador. Da mesma forma que é dado ao membro do Ministério Publico o dever de tratar com urbani- dade as partes, testemunhas, serventuarios e auxiliares da justica, o mesmo dever estende-se ao magistrado, que representa o Estado Juiz. O dever de urbanidade esta previsto no art. 35, inciso IV, da Lei Complementar 35/79. O Advogado também deve portar-se adequadamente quando usar a tribuna, de modo a ser merecedor de respeito e que contribua para o prestigio da advocacia (art. 31, Lei 8.906/94). Com relagao aos colegas, aos serventudrios e as autoridades deve portar-se sempre com respeito, disctigao e independéncia, exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito (art. 44 do Codigo de Etica e Disciplina da OAB). E também de nosso Estatuto que se impde ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida, esmero e disciplina na execucao dos servicos (art. 45). 20 CARTILHA DO CRIMINALISTA GAB exe: Lei 11.340/06 — Lei Maria da Penha Por Jamilla Sarquis e Amanda Rodrigues Au ncia de justificago 1) As finali jades da audiancia de justificagao Inicialmente, é importante definir a qué se propée o ato da audiéncia de justificagao, existin- do correntes diversas acerca da sua finalidade. Efetivamente, a Lei Maria da Penha nao disp6e sobre uma intitulada audiéncia de justifica- ‘640, limitando-se a tratar da audiéncia para rentincia da vitima (artigo 16). Nesse sentido, parte da jurisprudéncia considera que a audiéncia de justificacdo tem como fundamento Unico o exer- cicio do direito de reniincia da vitima, oportunidade na qual pode se retratar sobre sua represen- tacao em desfavor do agressor. Assim, nos termos do Enunciado 4 do Fonavid (Férum Nacional de Juizes de Violéncia Doméstica e Familiar contra a Mulher),“a audiéncia prevista no artigo 16 da Lei n° 11.340/06 é cabivel, mas nao obrigatéria, somente nos casos de acao penal publica condicionada a represen- tacao, independentemente de prévia retratacao da vitima’, Hé, ainda, uma segunda parte da jurisprudéncia que compreende - com amparo no artigo 300 do Cédigo de Processo Civil - a finalidade da audiéncia de justificacdo em hipéteses nas quuais 0 juizo ndo seja capaz de formar, com base nos elementos colhidos pela autoridade poli- ial, sua conviccao acerca da urgéncia, necessidade e adequacao das medidas protetivas. Nesses casos, a0 invés de indeferir de plano a cautelaridade protetiva, o juizo deveria intimar a vitima, pessoalmente, para oitiva, sendo facultada a presenga de testemunhas. Por fim, outra terceira corrente considera as medidas protetivas como cautelaridades afeta 8 tutela penal, recomendando-se atengao ao rito do Cédigo de Proceso Penal que, nos termos do artigo 282, §3°, determina a intimagao prévia do agressor antes da andlise do pedido, ressalva- dos 0s casos de urgéncia, Em todos os casos, deve-se ter em mente que a audiéncia de justificagao nao é sinénimo e nem se confunde com a audiéncia preliminar prevista na Lei n. 9.09/95 (Lei dos Juizados Espe- ciais), até porque as medidas despenalizadoras previstas por esta norma nao se aplicam aos delitos promovidos no ambito da violéncia doméstica e contra a mulher em razao de seu género, nos termos do art. 41 da Lei 11.340/06 ea stimula 536 do ST). Da mesma forma, a audiéncia de justificacao nao pode ser confundida com a audiéncia de custédia que se realiza diante da priséo em flagrante do agressor pelo descumprimento das medidas protetivas de urgéncia, crime tipificado no artigo 24-A da Lei Maria da Penha. 2) Retratagao da vitima - requisites Enquanto, no procedimento comum, a retratagao da vitima é cabivel até o oferecimento da dentincia (artigo 102 do Cédigo de Processo Penal), nos crimes de acao penal condicionada a representaco processados no rito da Lei Maria da Penha deverd ser designada uma audiéncia, antes do recebimento da deniincia, oportunidade na qual a vitima poderd desistir de dar prosse- guimento ao caso. 21 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Para o ato da retratagao, a vitima deve estar acompanhada de advogado ou defensor publi- co. Igualmente necessaria é a reducao a termo de sua manifestagao de vontade, que deve ser precedida de todos os esclarecimentos sobre as consequéncias de sua decisao. da vitim: 3) Presenca do imputado na audiéncia para retrata O artigo 16 da Lei Maria da Penha nao trata da presenga do imputado na audiéncia de justifi- cacao. Em regra, sua intimagao nao é realizada neste ato, mantendo o protagonismo da vitima e possibilitando ao juizo a andlise e controle de sua voluntariedade no que se refere a retratacao. Nada impede, todavia, que o defensor do imputado acompanhe o ato, representando os interesses de seu cliente, 4) Auséncia da vitima: rentincia tacita. Acerca desse tema, existem dois entendimentos: 0 primeiro de que o feito prosseguird e outro no sentido de que a auséncia da vitima em tal audiéncia deve ser interpretada como renuncia tacita. No sentido de se dar andamento ao feito mesmo diante da auséncia da vitima, esté 0 Enunciado 19 do Fonavid, segundo o qual:"0 néo-comparecimento da vitima a audiéncia previs- ta no artigo 16 da Lei n. 11.340/06 tem como consequéncia o prosseguimento do feito" Os filiados 8 tal corrente argumentam que nao hé que se falar em rendincia tacita, devendo a rentincia ser expressa e presencial, respeitando-se todas as formalidades previstas no art. 16 da Lei. 11.340/06 (TJMG, RSE 1.0106.17.002476-9/001; TJMG, RSE 1.0106.17.002476-9/00). Além disso, consideram o ato indispensavel para a formalizacao da desisténcia das medidas protetivas com o objetivo de que seja promovido um controle de voluntariedade sobre a vonta- de da vitima, sendo possivel, inclusive, encaminhé-la para acolhimento multidisciplinar (STJ, REsp. 1.051.314/DF). Em contraponto, ha jurisprudéncia no sentido de que 0 ndo comparecimento da vitima na audiéncia de justificagao, designada para o fim especifico de retratacao, demonstra o claro desin- teresse da vitima no prosseguimento do feito (TIMG, RSE 1.0525.17.011574-1/001; STJ, HC 96.601/MS). Importante mencionar que nas referidas decisées 0 argumento € no sentido de que 6 haverd audiéncia de justificacdo se a vitima demonstra algum interesse no nao prosseguimen- to do feito, assim, se ela ndo comparece a audiéncia marcada para essa finalidade, o reconheci- mento da reniincia tacita é a medida que se impée. 22 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Para o ato da retratacao, a vitima deve estar acompanhada de advogado ou defensor publi- co. Igualmente necessaria é a reducao a termo de sua manifestagao de vontade, que deve ser precedida de todos os esclarecimentos sobre as consequéncias de sua decisao. da vitim: 3) Presenca do imputado na audiéncia para retrata Oartigo 16 da Lei Maria da Penha nao trata da presenga do imputado na audiéncia de justifi- cacao. Em regra, sua intimagao nao é realizada neste ato, mantendo o protagonismo da vitima e possibilitando ao juizo a andlise e controle de sua voluntariedade no que se refere a retratacao. Nada impede, todavia, que o defensor do imputado acompanhe o ato, representando os interesses de seu cliente, 4) Auséncia da vitima: rentincia tacita. Acerca desse tema, existem dois entendimentos: 0 primeiro de que o feito prosseguird e outro no sentido de que a auséncia da vitima em tal audiéncia deve ser interpretada como renuncia tacita. No sentido de se dar andamento ao feito mesmo diante da auséncia da vitima, esté 0 Enunciado 19 do Fonavid, segundo o qual:"0 néo-comparecimento da vitima a audiéncia previs- ta no artigo 16 da Lei n. 11.340/06 tem como consequéncia o prosseguimento do feito" Os filiados & tal corrente argumentam que nao hé que se falar em rendincia tacita, devendo a rentincia ser expressa e presencial, respeitando-se todas as formalidades previstas no art. 16 da Lei. 11.340/06 (TJMG, RSE 1.0106.17.002476-9/001; TJMG, RSE 1.0106.17.002476-9/00) Alm disso, consideram o ato indispensavel para a formalizacao da desisténcia das medidas protetivas com o objetivo de que seja promovido um controle de voluntariedade sobre a vonta- de da vitima, sendo possivel, inclusive, encaminhé-la para acolhimento multidisciplinar (STJ, REsp. 1.051.314/DF). Em contraponto, ha jurisprudéncia no sentido de que 0 néo comparecimento da vitima na audiéncia de justificagao, designada para o fim especifico de retratacao, demonstra o claro desin- teresse da vitima no prosseguimento do feito (TIMG, RSE 1.0525.17.011574-1/001; STJ, HC 96.601/MS). Importante mencionar que nas referidas decisées 0 argumento € no sentido de que 6 haverd audiéncia de justificacao se a vitima demonstra algum interesse no nao prosseguimen- to do feito, assim, se ela ndo comparece a audiéncia marcada para essa finalidade, o reconheci- mento da reniincia tacita é a medida que se impée. 23 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: 5) Audiéncia de just icagdo prévia ao deferimento de medidas protetivas Muito se discute sobre a obrigatoriedade da audiéncia de justificagao antes da fixacdo de medidas protetivas de urgéncia Sao dois os entendimentos sobre essa situacao. O primeiro, que vincula as medidas proteti- vas as tutelas civeis, compreende como desnecesséria a audiéncia de justificagao antes de sua anilise e deferimento. O segundo, que vislumbra a medida protetiva como cautelaridade afeta a tutela penal, reco- menda atengao ao rito do Cédigo de Processo Penal que, nos termos do artigo 282, §3°, determi- na que “ressalvados os casos de urgéncia ou de perigo de ineficdcia da medida, 0 juiz, ao receber 0 pedido de medida cautelar, determinaré a intimagao da parte contréria, para se manifestarno prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cépia do requerimento e das pecas necessérias, permanecendo os autos em juizo, e os casos de urgéncia ou de perigo deverdo ser justificados e fundamentados em decisao que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional” Concretamente, a situacdo das medidas protetivas é em regra, regida pela urgéncia, motivo pelo qual a pratica evidencia que as audiéncias de justificacao antes do deferimento das cautela- res sao raras. Isso nao significa, todavia, que ao imputado sejam negados os direitos & ampla defesa e ao contraditério no ambito da Maria da Penha. Intimado da deciséo que defere medidas protetivas, poder constituir defensor para manifestar-se sobre a urgéncia, necessidade e adequasao, ocasiao na qual poderd, inclusive, arrolar testemunhas e apresentar documentos Tanto as testemunhas, quanto os documentos apresentados nessa fase devem estar relacio- nados com os requisitos das medidas protetivas, sendo importante que este ato nao se confunda com 0 da audiéncia de instrugao. A decisao final no incidente de medida protetiva deve, portanto, levar em consideragao os argumentos suscitados pelo imputado e, a teor do que dispée 0 artigo 93, IX da Constituigao de 1988, se fundamentada, sob pena de nulidade (artigo 564, V do Cédigo de Processo Penal). 24 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Sess6es dos Tribunais Por Luis Carlos Abritta e José Arthur Kalil Prerrogativa de fazer sustentaso oral por tiltimo em face da ampla defesa Nos Tribunais, durante as sess6es de julgamento, em regra quem primeiro se manifesta oral- mente é a parte recorrente, seguida da parte recorrida. Todavia, hd possibilidade de manifestagio do Ministério Publico como fiscal da lei No Tribunal de Justica de Minas Gerais, tanto nas agdes penais privadas como nos “habeas corpus’, hé a previsao regimental de que o Ministério PUblico se manifeste apés o querelado querelante, no caso das ages penais, e apés o impetrante, no caso do julgamento do writ. Contudo, tanto nas agées privadas quanto nos habeas corpus, recomenda-se aos advoga- dos requererem que se manifestem por ultimo, tendo em vista o respeito ao principio constitu- cional do contraditério, bem como da ampla defesa. Quanto ao habeas corpus, tem-se que se trata de acdo exclusiva da defesa, inexistindo parte contrdria para sustentar, nao se podendo admitir que o fiscal da lei se manifeste apés aquele que busca a defesa do direito do paciente, razao também pela qual se recomenda aos advogados requererem que se manifestem por tiltimo. Do Pedido para esclarecimento de fato Nos Tribunais, tém-se, normalmente, admitido o esclarecimento do Advogado sobre ques- tao de fato durante o julgamento do recurso. Entretanto, no Regimento Interno do Tribunal de Justiga de Minas Gerais, nao ha previsao acerca de tal questao, Recomenda-se, assim, caso seja levantado algum obstaculo a arguigao, que o Advogado sempre faca mengao ao artigo 7°, da Lei Federal 8906/94, o qual, em seu inciso X, expressamente permite ao Advogado: X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juizo ou tribunal, mediante intervencao suma- ria, para esclarecer equivoco ou diivida surgida em relacao a fatos, Pedido para arguicao de questo de ordem Os Tribunais tém, normalmente, admitido o esclarecimento do Advogado sobre questao de fato durante a sessao de julgamento. Contudo, no Regimento Interno do Tribunal de Justica de Minas Gerais nao ha previsao acerca de tal questao, CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Recomenda-se, destarte, caso seja levantado tal obstaculo & arguicdo, que o Advogado sempre faca mengao ao artigo 7°, da Lei Federal 8906/94, o qual, em seu inciso XI, expressamen- te permite ao Advogado: XI ~ reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juizo, tribunal ou autoridade, contra a inobservancia de preceito de lei, regulamento ou regimento; Da Vestimenta Adequada Usualmente, nos Regimentos dos Tribunals, ha previsao de utilizagao de vestes talares pelos ‘Advogados, sem que haja definicao expressa sobre qual seja referida veste Existem, inclusive, questionamentos sobre a necessidade do Advogado do sexo masculino usar gravata e terno, mesmo inexistindo previsdo expressa no regimento a respeito. Assim, cumpre esclarecer que, para o Advogade, a utilizacao da veste talar tem por base 0 artigo 25, inciso XI, alinea“a" do Decreto 20784/31, 0 qual por sua vez faz mencao ao Decreto 393, de 1844, que trata unicamente da vestimenta talar preta, ou seja, utilizacéo da beca pelo Advo- gado durante a sessao de julgamento. Da Juntada de documentos A possibilidade de juntada de documentos ao processo pela parte, em qualquer momento, esta prevista no artigo 231, do Cédigo de Processo Penal. No Regimento Interno do Tribunal de Justiga de Minas Gerais, 0 artigo 492 prevé que, “se qualquer das partes apresentar documento novo, a outra serd ouvida no prazo de quarenta e ito horas” Destarte, ha a possibilidade de juntada de documento novo ou que venha a alterar a prova existente, sendo certo que o préprio Regimento Interno do TJMG prevé em seu artigo 105, paré- grafo 12, que, se o Relator constatar a“existéncia de fato superveniente a decisdo recorrida ou a existéncia de questao apreciavel de oficio ainda nao examinada, os quais devam ser considera- dos no julgamento do recurso ou do processo de competéncia originéria, 0 julgamento seré ime- diatamente suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente” Da Gravagao da sesso Questao que vem gerando questionamento nos Tribunais por todo o pais refere-se a possi- bilidade ou nao de gravagao das sessées de julgamento pelos Advogados. Embora no ambito penal nao haja previsao expressa, o pardg. 6° do artigo 367 do Cédigo de Processo Civil permite que a parte grave 0 ato judicial, mesmo sem autorizagao do juizo. Ademais, 0 artigo 792 do Cédigo de Processo Penal estabelece que todos os atos processu- ais, por regra, sao publics, inexistindo vedacao para gravacao dos atos. 26 CARTILHA DO CRIMINALISTA OAB xx: Destarte, sugere-se, havendo interesse em gravagao da sesso pelo Advogado, que este informe aos Julgadores que ird fazer a gravacao do ato, tamando por base a aplicacao subsidiaria do artigo 367, p. 6°, do CPC e artigo 792, do CPP. Em caso de negativa, recomenda-se que o ‘Advogado requeira que se conste em ata. Da facultativa leitura do relatorio Nos Tribunais, o relatério do processo é disponibilizado nos autos no momento em que este tem sua pauta de julgamento designada, ou seja, antes da sessao de julgamento. Nas sessdes, é praxe indagar ao orador, no instante em que se inicia a sustentacao oral, se dispensa a leitura do relatério, o que por habito ocorre. Diante de causas complexas, com intimeras questées cuja anélise desafiem a observancia do prazo nas sustentacées orais, pode revelar-se interessante a estratégia de requerer ao Relator a leitura do relatério dos autos, o que poder poupar preciosa fracdo de tempo do orador. 27 GAB xxx: Advocacia Criminal MINAS GERAIS

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