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Revista de Economia Politica, vol. 12, n* 3 (47), julho-setembro/1992 Comercializacao agricola e desenvolvimento capitalista no Brasil RENATO SERGIO MALUF* 1. INTRODUGAO A maioria dos estudos existentes acerca da comercializagao agricola no Brasil caracteriza-se por uma visio funcionalista, tributaria dos preceitos teéricos da economia neocléssica. Seu florescimento a partir de meados dos anos 60 insere-se no quadro mais geral de avango do pensamento econémico conservador, voltado a elaboracao de apreciagdes “técnicas” sobre as fungdes da agricultura no desenvolvimento econdmico e a formulagao de propostas que, além da pretensio de despolitizar o debate sobre a questio agréria, propugnavam pela modemnizagio (conserva- dora, sem diivida) da agricultura e, nesse contexto, das estruturas de comercializagio. Nao por acaso o tema da comercializagao recebeu maior atengao especifica dessa vertente teérica, dada sua compreensio sobre a natureza da atividade comercial (do con- junto das atividades econémicas, a rigor). O desenvolvimento de uma aniilise sistematica a esse respeito teve o propésito, inclusive, de construir uma disciplina com objeto proprio — a “economia da comercializagao”, — um ramo da chamada “economia rural”. Fora desse campo tedrico, poucos tomaram a comercializago agricola como objeto principal de suas andlises ou ao menos se dedicaram a problematizar o entendimento dominante, apesar das habituais referéncias que a colocam como um dos elementos determinantes das condigdes de desenvolvimento das atividades agrope- * Do CPDA ~- Curso de Pés-Graduagao em Desenvolvimento Agricola, da UFRRJ ~- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 46 cudrias ¢ de suas relagdes com os demais segmentos da economia. O objetivo deste texto é apresentar as idéias basicas desenvolvidas em trabalho anterior sobre o tema da comercializagao agricola no processo de desenvolvimento capitalista no Brasil, com énfase nas transformagées ocorridas nas duas tltimas décadas'. Diga-se desde logo — mesmo sugerindo uma contradig4o com o anterior — que as reflexdes sintetizadas a seguir implicam questionar a especificidade atribuida a comercializagao agricola, em especial sua condigio de objeto que requer um instrumental analitico proprio. Contudo, por ter ela sido pouco considerada no bojo da profunda revisio teérica recente acerca do desenvolvimento da agricultura brasileira e sua articulagao com 0 processo econémico em geral, persistem incompreensdes derivadas da visio funcionalista mesmo em andlises que nao integram seu campo tedrico. Dai eu ter tomado a comercializagao agricola como objeto de estudo, abordando-a porém com base em um referencial teérico alternativo ao neoclissico de forma a contribuir para sua superagio. 2. COMERCIALIZACAO AGRICOLA E ACUMULACAO DE CAPITAL A construgio de uma abordagem alternativa requer de inicio a negacao das varias definigdes da comercializagao agricola que partem do conjunto de fungdes que deveriam ser por ela desempenhadas. Nada mais comum e aparentemente elementat que a seguinte definigo: “A comercializacao de produtos agricolas (...) envolve todas as atividades, fungdes e instituigdes necessarias 4 transferéncia de bens e servigos dos locais de produgao aos de consumo” (Steele, 1971, p. 23). Note-se que esta implicita a tradigao de tomar a agricultura como referéncia primaria e considerar como intermediarias todas as atividades que se interpdem entre ela e 0 consumo final do produto. Essas atividades, por sua vez, correspondem a determinadas fungées que, ao serem executadas, adicionam utilidades as mercadorias. As citcunstdncias econdmi- cas mais gerais em que se realiza a comercializagao (o desempenho das fungSes) sio analisadas com base nos principios extraidos do modelo neoclissico de equilibrio dos mercados. Negar tais definigdes implica negar também seu paradigma principal, que se manifesta nas avaliagdes das estruturas de comercializagao com o objetivo de propor alternativas que tornem o mais eficiente possivel o desempenho daquelas fungées de forma a beneficiar produtores e consumidores e garantir uma remunerago justa aos que realizam a comercializagao?. Em minha andlise tenho como pressuposto tedrico que a comercializacio agricola constitui uma atividade da esfera de circulagao das mercadorias ou, mais propriamen- te, corresponded circulagao de capitais. A atividade de circulago pode constituiruma fungao auténoma desempenhada por uma forma particular de capital — o capital comercial. No caso da comercializagio agricola, suas caracteristicas dependem, segundo a hipétese aqui adotada, da forma de organizagao da produgo agricola e do desenvolvimento do processo de concentragio de capital em geral. Sob certas * Tese de doutoramento “Um mal necessério? Comercializacéo agricola ¢ desenvolvimento capitalista no Brasil”, Instituto de Economia — Unicamp, sctembro 1988. > A formulagao mais expressiva ¢ geral diz que “o sistema de comercializagio tem o dever de levar os bens eservigos desejados pelo consumidor ao lugar certo, da forma certa, no tempo certo, nas quantidades certas, a pregos satisfatérios para os consumidores, produtores ¢ intermedirios, ¢ deve fazé-lo com um minimo de recursos” (Steele, 1971, p. 134). 47 circunstdncias destacadas adiante, estabelecem-se relagdes diretas (sem intermedia- 40) entre os proprietérios da produgio agricola’ e a agroindustria, de maneira que a comercializagao do produto agricola nio existe (ou deixa de existir) como um espago ‘econémico em si, com agentes especificos. Por outro lado, mesmo nos produtos em que hd a intermediagao realizada pelo capital comercial, ela passou por importantes transformagées cujo sentido é dado pelo processo em curso na produgao agricola e na circulagao de mercadorias no interior do desenvolvimento capitalista no pais. Essa abordagem implica privilegiar a identificagao das formas de capital envol- vidas na produgao (agricola e agroindustrial) e na circulagao das mercadorias de otigem agricola e das relagdes que se estabelecem entre elas. Mais que isso, com base numa andlise integrada da comercializagao agricola — sem perder de vista as especificidades dos diferentes produtos --, demonstra-se que o desenvolvimento da produgao agricola em bases capitalistas e 0 avango da concentragao de capital na economia brasileira resultaram na crescente centralizagao do fluxo de mercadorias agricolas sob controle do grande capital. O capital agrario, as “cooperativas empresa- riais", a agroindistria e o grande capital comercial (em especial as cadeias de supermercados) sio as formas de manifestago do grande capital que detém a hegemonia sobre a produgio e a circulagao dos produtos agricolas. 3. COMERCIALIZAGAO E PROCESSO DE MODERNIZACAO A construgio de um referencial empirico que sustente tal perspectiva analitica coloca a questio de ser ele representativo das circunstancias prevalecentes na produgao e circulagio de produtos agricolas no Brasil. Nos limites deste artigo destacarei os aspectos mais importantes da evolugdo dos produtos escolhidos como referéncias, quais sejam: laranja, tomate “rasteiro” (industrial), algodao, soja/trigo, artoz, feijéo e horticolas*. O critério para sua escolha leva em conta sua importancia econémica e social e também o fato de conterem os elementos que se devem ressaltar quanto aos agentes econémicos envolvidos e as relagdes mercantis que se estabelecem. entre eles. Vale mencionar, a propésito, que nao se trata de mera justaposigao de estudos de caso; dai ter organizado a apresentagao a seguir de modo a caracterizar os dois processos que tais referéncias empiricas expressam. Relembro, ademais, a pretensio manifesta anteriormente de desenvolver uma andlise integrada da comercia- lizagao — isto é, integrando analiticamente o que os agentes econémicos integram de fato — de modo a fugir da postura convencional que implicaria construir tantas “cadeias de comercializagao” quantos sao os produtos agricolas. Os dois processos referidos dizem respeito 4 configuragao, por um lado, do que considero 0 padréo moderno de comercializagao agricola, Nele se destacam — além dos proprietarios da produgio agricola — dois agentes com natureza e origens diversas mas que expressam 0 avango do processo de modemizagio capitalista da agricultura > Denominagao mais adequada que a ambigua “produtores agricolas ou rurais™. E corrente a utilizagao desta tiltima para se referir indistintamente aos produtores dirctos © aos que s¢ apropriain dos frutos do trabalho alheio; quando for inevitavel a referéncia simultinea a ambos, optei pela denominacio de agricultores. “Na exposigiio minuciosa dessa evolugio, apresentada na tese, hui também referéncias tépicas ao milho, café ‘e cana-de-agiicar. A pecuiria foi excluida por envolver o tratamento de aspectos adicionais que ampliariamn tem demasia 0 escopo do trabalho. 48 brasileira e a crescente integragdo agricultura-indistria’, So eles o capital industrial — representado pela agroindiistria processadora de produtos alimentares ¢ pela industria téxtil — e 0 “cooperativismo industrial”. A comercializagao da laranja e do tomate industrial ilustram o estabelecimento de relagées diretas entre a produgdo agricola e a agroindustrial; a chamada “agroindustrializag4o”, no entanto, é uma das dimensdes da industrializagao da economia brasileira. O estreitamento dos lagos da industria téxtil com parte importante da cotonicultura possibilita identificar os elos entre as alteragdes na comercializacao agricola e o processo de industrializagéo em geral, com seus requisitos de matéria-prima agricola. O consércio trigo/soja, por sua vez, constitui o principal exemplo da ascensao das cooperativas que expressaram inicialmente a din’mica de acumulagao do capital agririo (criadas “de cima para baixo”, no dizer de alguns autores), ingressando posteriormente num processo de diversificago econémica de suas atividades, com forte peso na produgao agricola, comercializagao e processamento agroindustrial de varios produtos. O segundo processo refere-se ao que denomino modernizagdo do tradicional ¢ tem por objetivo introduzir na andlise o capital comercial propriamente dito. Embora presente em algumas das situagées anteriores, a participagao do capital comercial é pouco expressiva ou secundaria em relagdo as demais formas de capital. O mesmo nao ocorre na comercializagao de trés dos produtos alimentares considerados basicos (arroz, feijao e milho) e dos horticolas, onde o capital comercial — em suas diferentes manifestagdes — desfruta da condigao dominante. Aqui se localizam as mais notorias manifestagdes da intermediagao mercantil tradicional e nao por acaso constituem as referéncias empiricas comumente utilizadas nas discussées sobre comercializagao agricola, dado que eram as formas dominantes de “agregac4o” da produgao agricola. A questo colocada neste caso é identificar como a produgao e a comercializagao desses produtos refletiram a modernizagio/integragao a que estou me referindo, em particular no que tange as transformagées na produgao agricola, no comércio ataca- dista e A consolidagao do grande capital comercial sob a forma das redes de supermercados. Tomem-se de inicio aqueles produtos no interior do padrio modemo cuja comercializagao se faz através de relagées comerciais diretas entre os proprietarios da producdo agricola ¢ a agroindistria (laranja e tomate). Na verdade, tais relagdes so um desdobramento de vinculos mais profundos que se manifestam na propria decisio de produgao dos agricultores; a figura do contrato de fornecimento exclusivo entre os tomaticultores e a indiistria processadora representa um exemplo extremo dessa integragiio. Nao se depreenda do anterior que a produgo agricola se torna um simples departamento da industria processadora; ao contrario, vendedores e compradores do produto agricola sio agentes econdmicos distintos cujos conflitos, quando da definigo do prego do produto, demandam com freqiiéncia a mediagao estatal. Contudo, esse tipo de relagao comercial nega a identificagao corrente entre comercializagao agricola ¢ 5 As referéncias neste artigo as transformagdes ocorridas na producéo agricola destes ¢ dos demais produtos ‘considerados serio apenas as indispensaveis para 0 entendimento da naturcza das relagdes entre a agricultura as atividades urbanas ou do desenvolvimento das relagoes agricultura-indistria. ® Sobre a nogio de “cooperativismo empresarial”, ver Benetti (1982). Tomadas aqui como uma manifestagio especifica do grande capital, tais cooperativas envolvem importantes questécs cm termos das relagdes econdmicas ¢ sociais ein seu interior (com cooperados diferenciados entre si) € com os demais agentes econémicos, que nio vem ao caso detalhar. 49 (@ existéncia de) intermediagio comercial — base, por sua vez, de colocagées pretensamente gerais sobre a problematica da comercializago. Mais que isso, impe- se a superagdo da tendéncia dominante de analisar as questées da comercializagao circunscritas 4 drbita da circulago ou, mais grave, de tomé-las como “questées de mercado”, entendido este tiltimo em sua acepgio mais vulgar como o espaco econémico onde a produgio disponivel é ofertada e a compra/venda se concretiza (ou no) segundo os imperativos da lei da oferta e da demanda’. Uma andlise detalhada da produgio e comercializago de laranja, tomate industrial, algodao e soja — impossivel de reproduzir num artigo — demonstra em diferentes situagdes 0 equivoco dos enfoques que privilegiam a tradicional contrapo- sigdoentre a produgio agricola ca esfera da circulagao, ouentre os produtores em geral e 0s demandantes de seus produtos. Mencione-se, por exemplo, a participagao de empresarios ligados a citricultura na criagao de indiistrias processadoras de laranja; € © fato de que foram fundamentais os estimulos provenientes da agroindtstria na “criagaio” do cultivo de tomate “rasteiro”. Até mesmo nas relagdes que se estabelece- ram historicamente entre o grande capital, a cafeicultura e, posteriormente, a cotoni- cultura, a questio nao se colocava naqueles termos. Estes e outros exemplos possiveis revelam que, a0 corte analitico que contrapée a produgio e a circulagao, se deve sobrepor a consideragio da natureza dos agentes econémicos (capital comercial, cooperativas, agroindiistria e proprio capital agrario), sua légica de reprodugao e a dimensio relativa dos capitais envolvidos. Concretamente, nao ha um confront dos citricultores em geral com algumas poucas indistrias produtoras de suco de laranja, pois parte deles participa dessa industria ou mantém com ela relagdes diferenciadas. Os capitalistas agrérios que controlam as grandes cooperativas se beneficiam da atuagio destas como capital comercial e, mais recentemente, como capital agroindus- trial. Referindo-me a um perfodo histérico anterior, a burguesia agritia cafeeira integrava o grande capital hegeménico no periodo, que tinha uma face mercantil dominante (Silva, 1976). Em suma, tomar a agricultura em bloco significa desconsi- derar as importantes diferenciagdes existentes em seu interior. Por outro lado, desconsiderar as distintas naturezas dos agentes (como distintas formas de capital) obscurece a identificagio do significado das relagées entre eles. Sem, com isso, deixar de levar em conta que a agricultura se coloca em condigo subordinada, neste quadro de integragao econémico-financeira, em raz4o dos obstaculos ao pleno desenvolvi- mento da concorréncia capitalista no campo e a conseqiiente concentragao de sua produgdo em niveis compativeis com a concentragio verificada ao nivel das atividades urbano-industriais. Voltarei a este ponto adiante. Com respeito aos produtos que nao envolvem processamento industrial ¢ onde o capital comercial (e a intermediagao) tem presenga dominante, 0 processo de modernizagio — a “modemizagao do tradicional” — significou uma integragao crescente de sua produgao, beneficiamento e comercializagio a légica de valorizagao docapital em geral edo grande capital em particular. Os exemplos utilizados compoem © grupo dos tradicionalmente denominados alimentos basicos*, onde se destaca a 7 Observagio analoga sobre a acepgio comum do conecito de mercado na tcoria microccondmica conven- cional se da em Possas (1987, pigs. 164-165). * Bsca classificagio esta demandando uma rediscussio de seu significado cm razio das notérias modificagbes na composigio da cesta de consumo ¢ nos habits alimentares da populagdo — para o que, aliés, contribuiram. alguns dos fendunenos aqui analisados. 50 capitalizagao verificada na produgao de arroz e, em processo posterior e com menor intensidade, do feijao e alguns olericolas. As principais dimensdes da modemizagao das estruturas tradicionais da comercializagio sio: a crescente eliminagio dos pequenos agentes comerciais e a redugio do espaco de atuagao do capital comercial como capital usurdrio (ambas caracteristicas das conhecidas formas de subordinagao da pequena produgao); a ligagao mais estreita entre a produgio agricola e 0 atacado; o estabelecimento de um padrao minimo de beneficiamento dos produtos; a concen- tragdo econémica em nivel do varejo com fortes repercussdes nas instdncias que 0 antecedem. Ela trouxe consigo a consolidagdo do grande capital comercial como agente dominante na comercializagao daquele produtos, marcada mais especifica- mente pela ascensao das redes de supermercado e por alteragées que transformaram. parte do comércio atacadista tradicional em atividade de corretagem. A tendéncia a concentragao do capital comercial acompanha, obviamente, a mencionada tendéncia mais geral de concentragao do capital. Ela apresenta uma particularidade por ter se desenvolvido a partir do varejo — atividade comercial por exceléncia — ao mesmo tempo em que reduziu bastante o peso da intermediagao comercial propriamente dita como reflexo da tendéncia a subordinagao das atividades de circulagao 4 medida que se desenvolve a produgao capitalista. O peso crescente das tedes de supermercado no varejo projetou-se no comércio atacadista e tomou aquela forma de manifestagao do grande capital um dos agentes que centralizam o fluxo de mercadorias de origem agricola; simultaneamente, ocorreu a eliminagao de grande parte dos pequenos agentes comerciais que intermediam a produgao proveniente de pequenos produtores, cuja.participago na oferta de produtos agricolas também é decrescente. Um aspecto mais se deriva da analise dos dois processos mencionados, relativo 4 tradicional diferenciagao entre produtos alimentares de mercado interno e aqueles destinados a exportagao como critério de diferenciagao e fator explicativo da evolugio recente dos diversos produtos, inclusive no tocante as politicas governamentais a eles destinadas. Sua insuficiéncia ja foi reiteradamente evidenciada em varios estudos que, ‘como neste caso, destacam o processo de capitalizagao da produgio agricola em geral (voltada para ambos os mercados) e as relagdes de boa parte dela com a agroindistria, em franca expansio ha pelo menos duas décadas, sem desconsiderar a importancia especifica do mercado externo na evolugao da agricultura e da propria agroindiistria brasileira. A questo quanto a produgo de alimentos destinados ao mercado interno coloca-se, na verdade, em termos das contradigdes especificas geradas pelos processos a que estamos fazendo referéncia. Tome-se, por exemplo, a problemitica da formagio dos pregos dos alimentos — que incorporou os requisitos da produgao agricola em bases capitalistas e o beneficiamento/transformagao da maioria deles? — e sua * A questo dos pregos dos alimentos envolve mais que a incluso de célculos capitalistas na produgao agricola ¢ 0 valor adicionado pelo beneficiamento/transformagao, pois requer a considcragdo dos elementos caracteristicos das estnuturas de mercado correspondentes. Contudo, essas observagées so suficientes para revelar o simplismo das colocagées que insistem em definir 0 nivel dos pregos dos alimentos conforme o riimero de intermediaios ou de etapas de comercializacao, alvo predilcto também de varios discursos sobre problemtitiea do abastecimento alimentar. A propésito, mencione-se que a maior “proximidade” da producio com 0 varejo c os ganhos de eficiéncia pela escala de operagoes ¢ esqucmas de integragao das redes de supermercados nao se refletiram nos pregos finais, como pressupunha a politica oficial para 0 setor (v. Cyrillo, 1987). 51 evolugo em face do papel que desempenham na definigo das condigées de reprodugao da forga de trabalho e em nosso secular proceso inflaciondrio. Ou entio se avalie, para colocar a questéo em termos socialmente mais justos, 0 que tal modernizagao representou na ampliagao das possibilidades de acesso aos alimentos para o conjunto da populagdo e, claro, para o grande contingente de pequenos produtores agricolas que subsistem no interior desse proceso. A andlise da evolugao recente das formas de comercializagio de varios produtos agricolas sinteticamente apresentada neste artigo revela, por um lado, um enfoque que em lugar de avalid-la com base no desempenho de determinadas fungées, parte de uma compreensao distinta da natureza e do desenvolvimento das atividades de circulagao numa economia capitalista. Por outro lado, procura ter uma visao integrada da comercializagao agricola, tanto no sentido de aglutinar os varios casos concretos em dois processos distintos porém articulados e inseridos num quadro mais geral, como no de apontar a presenga crescente de agentes econémicos (do grande capital) integrando o que comumente se estuda sob a forma de cadeias ou estruturas de comercializagao de cada produto agricola. Essas duas dimensdes da andlise ficarao mais claras com a sistematizagao de seus pressupostos tedricos e a problematizagao da atuagio estatal neste campo. 4, TEORIA E POLITICA DA COMERCIALIZAGAO Conforme antecipado no item 2, a comercializagao constitui uma atividade correspondente a etapa de circulagiio das mercadorias que, sob certas circunstancias, pode se converter em fungo aut6noma realizada por uma forma particular de capital — 0 capital comercial --, que participa como tal da distribuigio do excedente econémico gerado. O capital comercial cumpriu historicamente um papel importante na generalizacao da produgio mercantil, porém o desenvolvimento econdmico global da sociedade em -- especial da produgo capitalista -- tende a subordinar a circulagio de mercadorias (e o capital comercial) a reprodugao do capital em geral (Marx, 1974, pags. 309 esegs.), Nesses termos ¢ que pressuponho que as formas concretas assumidas pela comercializagao agricola (inclusive as possibilidades de participagao do capital comercial) dependem, num plano mais imediato, das formas de organizacao da produgio agricola e do processo de concentragio de capital em geral’®, No plano da dinamica econémica, acrescente-se que a tendéncia 4 concentrago se manifesta também na atividade comercial e que a dimensio relativa dos capitais e a disponibi- lidade de capital-dinheiro constituem os dois principais instrumentos na disputa entre as formas de capital (no caso, o industrial eo comercial) pela apropriagao do excedente econémico gerado (Hilferding, 1973, pags. 231-250). Retomarei este ponto adiante. Concluo portanto que, ao contrario do que sugere a “economia da comercializa- 40”, nio ha uma questo da comercializagao em si que seja teoricamente relevante 4® Bissa formulagio geral contempla a possibilidade de subsistirem situagdes de subordinagao da pequena produglo agricola ao capital comercial, analisadas em outro trabalho (Maluf, 1982) com base na nogio de ssubordinagdo indireta ao capital desenvolvida por Silva (1977). Trata-se de um referencial que protende it além da habitual justificativa da intermediagao comercial por sua fungao aglutinadora de uma produgio lispersa geogrifica © economicament 32, ¢ geral para toda a atividade agricola de modo a exigir um instrumental especifico de andlise. A problematica geral da comercializagao ¢ a problemética da produgao em sentido amplo (produgdo e circulagaio), que, no caso da produgio agricola, requer ainda sua insergio no quadro mais geral do desenvolvimento das relagées agricultura- industria. Para tanto é preciso adicionar ao quadro tedrico a nogao de industrializagéo da agricultura (Silva, 1981, p. 43), que expressa as transformagées resultantes de um longo processo de modemizagio capitalista da produgao no campo e de integragio agricultura-indistria. Por outro lado, recorro ao conceito de estruturas de mercado (Possas, 1987, pags. 160-182)!" para caracterizar os setores onde os produtos agricolas estudados tém participagao importante e, em particular, para destacar o significado da comercializagio agricola como instrumento de concorréncia, portanto de valorizagao dos capitais envolvidos, como ocorre no “oligopélio competitive” e nos “mercados competitivos”. Esses elementos -- acrescidos da consideragao da natureza dos agentes econémicos (formas de capital), conforme formulagao anterior — possibilitam analisar as diversas maneiras como se processa a comercializagio agricola tendo na devida conta os determinantes maiores das relagdes comerciais que se estabelecem. entre a esfera da producao agricola e a circulagao de mercadorias (ou a circulagio de capital), inclusive sem contrapé-las de forma simplista. Devo mencionar sinteticamente as razGes que justificam a nao-incorporagao nessa abordagem da nogdo de CAI — complexo agroindustrial, por ser um recurso metodoldgico de ampla utilizagao no Brasil. Embora haja um debate em curso sobre suas reais possibilidades analiticas, trata-se de uma nogao que pode contribuir na andlise principalmente dos fendmenos referentes 4 integracao técnico-produtiva entre aagricultura e as atividades montante e 4 jusante dela e, segundo algumas vertentes, também no tocante a estratégia de diversificagao das empresas. Sem embargo, concluo que ter como critério de recorte da realidade a identificagao de CAIs ou a constatagéo de sua nio-formagio, em alguns casos, contribuiria pouco para os meus objetivos. Destaco de inicio o fato de o emprego corrente dessa ogo manter como centro do “tecorte” o produto agricola — apesar de alguns autores nio localizarem na agricultura co chamado “nticleo do complexo” —, dificultando o desenvolvimento de uma visio integrada, interessada em verificar o controle crescente que as diferentes formas de capital exercem sobre a produgao ea circulagao do conjunto das mercadorias de origem agricola, O que deve ser observado soba ética da centralizagao do fluxo de mercadorias em agentes econdmicos que atuam em diferentes produtos, ou sob a dtica da articulagao entre os mercados desses produtos, ambos resultantes da concentragao de capital e do desenvolvimento das atividades de valorizagio financeira deles. E possivel enfatizar suficientemente a integragdo agricultura-indiistria sem recorrer & nogio de CAI, principalmente com a perspectiva de ir além da dimensio técnico- produtiva e tratd-la em termos econémico-financeiros", Com respeito especificamente a participagio do capital comercial, é possivel verificar que a criagao das estruturas de intermediagiio e a consolidago de determi- 1 Sem o equivoco neockissico de ulilizar esse conceito com a perspectiva estitica de seus modelos de equilibrio (Possas, 1987, 88). 2 Como o fez, por excmplo, Delgado (1985) ao adotar 0 conceito de integragao de capital derivado da analise de Hilferding (1973) sobre a fusio de capitais ou bloco de capitais, para chegar a um conceito de capital financeiro aplicavel a agricultura 53 nados tipos de agentes comerciais se fez com base em produtos de maior expresso econémica regional, incorporando porém outros produtos de menor peso ou que nao adicionam a essas estruturas nenhuma caracteristica propria relevante. Este é 0 caso, por exemplo, dos comerciantes atacadistas (regionais ou dos principais centros urbanos) ligados aos cereais e é, também, o caso das cooperativas que muitas vezes tém sua constituigo marcada pela evolugao de um determinado produto (como trigo, e depois a soja) mas que terminam por participar da comercializagao e processamento industrial de varios produtos. O que reforga a importancia do enfoque que privilegie anatureza dos agentes econédmicos e das relagdes que se estabelecem entre eles, sem se limitar as cadeias (ou complexos) de cada produto. Mencionei anteriormente a colocagdo de Hilferding sobre a importancia da disponibilidade de capital-dinheiro como um dos elementos diferenciadores na concorréncia entre os varios capitais pela apropriagao do excedente econémico. Para aproximar essa colocagao geral de meu objeto de estudo, é preciso destacar a importancia especifica da liquidez para o capital envolvido na circulagao de merea- dorias — em particular quando se trata de intermediagiio comercial —e, principalmen- te, o estreitamento de sua relacdo com a Orbita financeira, com os circuitos de valorizagao financeira dos capitais. Ha uma dimensao especulativa na atividade de intermediagao comercial em geral"?, que se manifesta mais fortemente nos produtos agricolas dada a grande diferenga entre seu tempo de circulagao e seu tempo de produgao (Hilferding, 1973, p. 166). Essa dimensdo especulativa pode afetar o movimento real das mercadorias, uma vez que a intermediagao se caracteriza por ser © transporte no tempo dos estoques dessas mercadorias visando apropriar um ganho diferencial (portanto especulativo). Por outro lado, o carater especulativo da interme- diagdo é uma manifestagao do fendmeno mais geral da circulagao do capital como capital-dinheiro em busca de sua valorizagao na érbita financeira, na qual se destacam, nesse caso, as operagées a termo nas Bolsas de Mercadorias. O peso relativamente pequeno destas tiltimas no Brasil e sua subordinagao ao mercado internacional de alguns produtos sugerem que o papel mais importante que cumprem é antes o de garantir a liquidez e a valorizagio financeira desses capitais, que pelos efeitos que possam ter na definigao das operagdes correntes de compra e venda. Um tiltimo aspecto a tratar diz respeito a importincia decisiva da participagao do Estado sob as mais distintas formas, que vao mais além dos instrumentos convencio- nais da politica de comercializagio agricola (crédito ¢ garantia de pregos). Deve-se mencionar especialmente sua participagdo como mediador das conflituosas relagdes entre os capitalistas agrdrios ¢ a agroindiistria. E também as politicas de apoio 4 modemnizagao das estruturas de comercializagio, voltadas a estimular a concentragio em grandes agentes mais eficientes e, supostamente, mais adequados para garantir 0 abastecimento regular e a pregos mais baixos, como foram os casos do apoio a © Relembro que cssa abordagem nao parte da plena identificagio entre capital comercial c intermediagio comercial. A atividade de intermediagéo € aqui privilegiada, pois minha énfasc é na primeira etapa da ‘comercializagio, onde participam dirclamente os agricultores ¢ capital comercial se confunde com os intemmediirios. Aquela diferenciagéo, contudo, é indispensivel para uma correta compreensio do processo de reproducéo do capital comercial (particularnnente de sua principal forma de manifestagao, as redes de supermercado) © para que se definam com mais precisio categorias como luero comercial © ganho especulativo. 54 expansio dos supermercados e, em boa medida, da criagio de entrepostos nos principais centros urbanos. ‘Atmaioria das andlises sobre a intervengio do Estado na cometcializagio agricola pa-se em avaliar os “desvios” das politicas oficiais em relagao aos objetivos que hes seriam inerentes (derivados em grande parte de modelos tedricos de extragio funcionalista). Os dois exemplos mais freqiientes desses desvios sio a fixagao de pregos de garantia (os precos minimos) insuficientes em face das condiges de mercado e a significativa participagao de “nao-produtores” nos recursos crediticios para comercializagio (EGF — Empréstimos do Govemo Federal). Nos limites deste attigo farei algumas observacdes derivadas da abordagem apresentada com 0 intuito de contribuir na problematizagio da andlise sobre a intervengao estatal. Assim como a comercializagao agricola nao é considerada neste enfoque de forma isolada, com mais razio nao se pode tomar a politica de comercializagao como se resultasse, no fundamental, de determinagées especificas dessa atividade, inclusive nas iniciativas referentes a seus requisitos operacionais (transporte, armazenagem etc.). Na mesma medida em que as caracteristicas da comercializagio so determinadas pelas transformagées na organizagao da produgao agricola e pelo avango da concentragao de capitais, a politica de comercializago define-se nos marcos da politica de modernizagao no campo e do estimulo 4 consolidacao do grande capital agrério e, em especial, do comercial e industrial. Uma retrospectiva dos principais instrumentos de intervengio na comercializagio agricola nos vatios periodos historicos revela a substituigao, desde fins dos anos 60, da énfase em intervengdes diretas (timidas) no mercado e no controle dos chamados “agambarcadores” pelo apoio a concentragao e integragao como forma de modernizar e melhorar a eficiéncia do setor e, também, de ampliar 0 grau de controle governamental. No que se refere especificamente 4 politica de garantia de pregos minimos e & concessio de crédito de comercializacao, creio que os “desvios” constatados sao, na verdade, indicativos da natureza desses instrumentos e nao indicios de contradigées entre seus objetivos e sua implementagio. A fixagao dos pregos minimos abaixo dos niveis de mercado, por exemplo, parece obedecer muito mais a razées de crédito — isto é, as condigées em que o volume de recursos disponiveis seri oferecido a intermediarios/beneficiadores, industriais e médios e grandes agricultores para finan- ciar um determinado volume de estoques — que ao objetivo formal de sustentagio de pregos ao “produtor” ou mesmo de servir como um dos instrumentos de combate a inflagao", Quanto ao crédito de comercializacao propriamente dito (EGF), no tocante A patticipagao expressiva de “nao-produtores” na absorgao dos recursos, ela reflete em alguns casos a autonomia da comercializagao em relagao a comercializagao agricola em fungao do estagio de desenvolvimento desta ultima. Por outro lado, revela também © controle do armazenamento (da comercializagio) pelos agentes privados majorita- riamente urbanos, com certa participagao do capital agrario. Portanto 0 fato de 0 crédito de comercializagao contemplar "nao-produtores” € coerente com seu objetivo de financiar o transporte no tempo dos estoques, realizado pelos agentes referidos. Nao por acaso a elevacao real do patamar dos pregos minimos a partir de 1982/3 foi entendida por varios estudiosos como una das compensagdes dadas pelo governo ao encarecimento do crédito de custeio agricola, 55 Por fim, observo que a ago do Estado, via de regra justificada pela necessidade de compensar o carter concorrencial da produgio agricola em seu enfrentamento com estruturas oligopsénicas, deve ser analisada a partir da constatagao inversa, a saber, considerando as dificuldades colocadas ao pleno desenvolvimento da concorréncia capitalista na agricultura, desenvolvimento que o Estado deve em principio apoiar. Os obstaculos ao desenvolvimento da concorréncia no campo, em especial seu principal meio de produgio (a terra), impedem a concentragao da produgao agricola em niveis semelhantes as atividades urbanas, colocando dificuldades especificas ao capital agrério. Analisar a agdo estatal sob este enfoque implica atribuir-Ihe, a obedecer a0 principio geral mencionado, o sentido de apoio ao desenvolvimento da concorréncia capitalista no campo, que resulta, entre outros, em referendar a diferenciagao entre os agricultores, dado que o desenvolvimento capitalista é desigual por sua propria natureza. Hi varios aspectos da ago estatal, alguns aqui mencionados, que ratificam ter sido este seu sentido, ao menos nas duas tiltimas décadas. 5. CONCLUSAO A titulo de conclusio, vale a pena retomar os objetivos iniciais do trabalho, que so, em primeiro lugar, fazer a critica da visio funcionalista da comercializagao agricola com base em seus principais pressupostos: a caracterizagao da comercializa- go como o desempenho de determinadas fungdes (que incorporam utilidades ao valor das mercadorias) e os principios derivados dos modelos de equilibrio de extragao neoclassica. Em segundo lugar, desenvolver uma anilise da evolugao recente da comercializagao com base no pressuposto de que ela cortesponde a etapa de circulagao de mercadorias (portanto, de circulagao de capital), que pode ou nao se converter em uma fungo auténoma alvo da aplicagao de um capital especifico, o capital comercial. Esta analise objetivou também demonstrar que as formas como a comercializagao se verifica dependem da organizagao social da produgio agricola e do desenvolvimento da concentragio de capital. O enfoque tedrico adotado permite concluir que 0 desenvolvimento capitalista implica a subordinagao das atividades de circulagao, que, no caso, significou a redugio do espago da intermediagao comercial simultaneamente 4 consolidagao do grande capital comercial, acompanhando a tendéncia mais geral a concentragao inerente aquele desenvolvimento. A outra face do proceso foi a centralizagao do fluxo de mercadorias agricolas, com o grande capital (cooperativas, agroindistria e redes de supermercado) colocando-se como destinatério de parcela majoritéria da produgdo, compartilhando — quase sempre em posigao mais vantajosa — com o capital agrario os ganhos gerados. Finalmente, foi possivel destacar a importéncia crescente da dimensio financeira (da valorizagao financeira) para todas as formas de capital envolvidas na produgio e circulagao dos produtos agricolas, em especial aquelas diretamente aplicadas nesta tiltima. REFERENCIAS BENETTI, Maria D. (1982). Origem e formago do cooperativismo empresarial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, FEE, 1982. 56 CYRILLO, Denise C. (1987). “O papel dos supermercados no varejo de alimentos”. Ensaios Econémicos 68, Sao Paulo, IPE/USP, 1987. DELGADO, Guilherme C. Capital financeiro e agricultura no Brasil. Sio Paulo, Ed. Icone/Ed. Unicamp, 1985. HILFERDING, Rudolf, El capital financiero. Madrid, Ed. Tecnos, 1973. MALUF, Renato S. “Algumas questées tedrico-metodolégicas no estudo da comerci- alizagao agricola”, Textos para Discusso 16, Campinas, IFCH-Unicamp, 1982. MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro, Civilizagao Brasileira, 1974, Livro 3, Volume 5. POSSAS, Mario L. Estruturas de mercado em oligopélio. Sao Paulo. Hucitec, 1987, 2ed. SILVA, José G. Silva. Progresso técnico e relagdes de trabalho na agricultura. Sio Paulo, Hucitec, 1981. SILVA, Sérgio. Expansdo cafeeira e origens da indiistria no Brasil. Sio Paulo, Alfa- Omega, 1976. Idem (1977). “Formas de acumulagio e desenvolvimento do capitalismo no campo, in PINSKY, J. (org.) Capital e trabalho no campo. Sao Paulo, Hucitec, 1977, pags. 7-24. STEELE, H. L. et al. (1971). Comercializagdo agricola. Sao Paulo, Atlas, 1971. ABSTRACT ‘This paper presents an alternative view of agricultural commercialization in the capitalist development process in Brazil, in contrast with the funcionalist approach derived from neoclassical economic theory. Agricultural commercialization is a capital circulation activity whose form depends on the social organization of agricultural production and the development of capital concentration, both determined by the modernization process of the Brazilian economy. The conclusion remark upon the tendency toward subordination of circulation activities, the growing importance of different types of capital (agrarian, commercial, agro-industrial and “entrepreneurial co-operatives”) and of the financial appreciation of capital used in agricultural production and circulation. ST

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