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lidia jorge in other words por outras palavras Co eee Uke Cee ent Table of Contents ” 9 6 ” Introduction CCléualia Pazos Alonso Articles (ReTelling History: Lidia Jorge's O Dia dos Prodigios Ligia Siva ‘Sex and Success in Noticia da Cidade Silvestre: A Tale of Two Cities Claudia Pazos Alonso A Costa dos Murmirios: Uma Ambiguidade Inesperada Paula Jordéo Meméria Infinita Paulo de Medeiros Back to Nietzsche: The Making of an Intellectual/Woman. Lidia Jorge's A Costa dos Murmirios Hilary Owen. Donning the “Gift” of Representation: Lidia Jorge’s A Instrumentalina ‘Ana Paula Ferreira 141 155 167 175 Da Performance Como Retérica (e Vice-Versa) Maria Licia Lepecki Contingency and Loss in Marido e Outros Contos Ellen W. Sapega Picturing Time: Some Photographs of Lidia Jorge Memory Holloway ‘© Romance @ o Tempo Que Passa ‘ou A Convengéo do Mundo Imaginado dia Jorge Interview with Lidia Jorge Stephanie d'Orey Selected Bibliography Claudia Paz0s Alonso PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 2 Helder Macedo. Pedro e Paula. Lisboa: Editorial Presenca, 1998. Isabel A Ferreira Pedro e Paula, 0 romance mais recente de Helder Macedo, coloca em cena 0 espago portugués de aquém e além fronteiras numa sucessio de quadros vivos dda ikima metade deste século. Inserido numa linha novelistica que encara com especial atencdo um espago romanesco miltiplo ¢ descentrado, a narrativa examina a pétria como lugar de passagem c renovagio, pafs em trinsito entre passado ¢ futuro, registando os labirinticos caminhos portugueses principalmente pela Europa e pela Africa. Romance de espago(s), mas igualmente romance de personagem(ns), a obra posta no duplo enquanto imagem unificadora, linha de interpretagio que privilegiamos entre as fecundas possibilidades de leitura oferecidas pela narrativa. Exemplo do duplo sio os gémeos nao idénticos que dio pelo nome de Pedro e Paula, cuja diferenca se define desde a primeira infancia pelos olhos verdes ¢ cardcter frugal dela e pelos olhos castanhos ¢ personalidade imperiosa, egocéntrica dele. Os gémeos, no centro da intriga romanesca, representam 0 conflito, a ireconciliagdo e, sobretudo, os caminhos antagénicos do Portugal dos iltimos cinquenta anos. Paula personifica a pureza das intengGes € 0 idealismo revolucionério dos anos 60 ¢ 70, bem como a arte ¢ a liberdade. Pedro, pelo contrétio, corporiza 0 egofsmo, o conservadorismo politico ¢ a corrupgio. Metiforas dum eu dividido ¢ dum universo fragmentado, este duplo pés-moderno néo forma uma unidade nem tio-pouco possui um perfil dualista. Representando, enquanto gémeos, a forma mais antiga do duplo na arte e na literatura, Pedro e Paula sugerem outros paralelismos e remetem no apenas para a leitura intertextual de Esa eJaed, de Machado de Assis, mengio explicita ‘no texto © em epigrafe, mas também aludem a figura de Janus (149), deus romano protector das entradas e saldas, cujos dois rostos apontam para a imagem do duplo, fio conduor em Pedro ¢ Paula. Assim, sob o signo de Janus, deus do inicio, bem como das pontes ¢ passagens, abre o primeiro capitulo do romance precisamente intitulado “Entradas e Saidas,” que consiste na revisitagio do Portugal de meados dos anos 40. O pais surge aqui como espaso de trinsito e confluéncia, ponto de entrada e saida de levas de refugiados em final de guerra, cruzamento de viagens simultancamente euféricas € desencantadas com destino aos exilios eas teras de emigraszo. No tfeulo, sem SPRING 1997 diivida sugestivo deste capitulo, afluem conotagies de passageros em transito ce de safda da guerra, celebrada justamente no dia em que os gémeos dio entrada no mundo. Explicitamente 0 texto refere “as entradas e safdas do corpo ‘humano” (19), e implicitamente deixa entrever a inauguragio de uma nova era ra enfitica escolha daquela significativa data para dia do seu nascimento, ‘Mas se a imagem do duplo preside a construgio do enredo de Pedro ¢ Paula, quer na forma de gémeos nao idénticos quer nos percursos diferenciados das virias personagens, a essa imagem cabe também estruturar © processo de narrar que toma como alicerce a ironia, a parédia ea multiplicidade de “verdades” ou a miscigenacio das “verdades” ¢ das “mentiras.” Estamos de facto perante uma narrativa tecida de "verdades ‘mentidas com mentiras verdadciras” (55), em que a mentira “é a verdade de tum eu alternativo” (54). Neste romance repartido em 12 partes, com fronteiras nem sempre nftidas, misturam-se o género epistolare a crénica de familia formando por recomposigio o “corpo orginico” a que Cesirio Verde alude em epigrafe. Resulta este todo da reinvengio dos fragmentos da meméria individual e colectiva que nos chegam através do olhar e da voz do narrador/autor que & simultaneamente “letor” e “espectador” da estéria de Paula ¢ da (H)historia do seu tempo; a este cabe a funcio de “confiante

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