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Universidade Federal de Sio Carlos Pr6-Reitoria de Pesquisa Coordenadoria de Iniciagao Cientifica e Tecnolégica Relatério Final do Programa Jovens Talentos para a Ciéneia Aluno: Mateus Lima dos Santos Filosofia Orientador: Eliane Christina de Souza Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciéncias Periodo: Setembro de 2013 a Agosto de 2014 Sto Carlos / 2014 Relatorio de Atividades 1. Disciplinas cursadas durante o periodo de 08/13 a 07/14 Disciplina Conceito obtido Histona da Filosofia Antiga 1 70 Histéna da Filosofia Contemporanea 1 65 Leitura ¢ Redagio de Tentos Filosolices | 72 Histéna da Psicologia e Sistemas | 6.5 Psicolégicos: Psicanilise 1 Histéna da Filosofia Antiga 2 53 Historia da Filosofia Antiga 3 30 2. Participacio em eventos académicos: Minicurso ministrado pelo professor Roberto Bolzani Filho, promovido pela Coordenacio do Curso de Filosofia e pelo Programa de Pés-Graduacio em Filosofia da Universidade Federal de So Carlos — “A escrita em forma de diilogo em Platio: funeio e sentido”. Abril de 2014 Semana de semmarios sobre “o mio-ser”, promovida pela Coordenagao do Curso de Filosofia e pelo Programa de Pés-Graduacio em Filosofia da Universidade Federal de Sao Carlos. 25/08/2014 — “O nio-ser em Parménides” ~ Doutorando Nicola Galgano. 26/08/2014 —“O nao-ser em Platio” — Prof* Dr’. Eliane Christina de Souza. 27/08/2014 — “O mao-ser na tradi¢ao hegeliana francesa” — Prof. Dr. Luiz Damon Santos Moutinho. 3. Produgio cientifica: Projeto de iniciaco cientifica “Séerates nos disilogos platénicos”. Atividades realizadas no desenvolvimento do projeto de pesquisa Participagao no grupo de pesquisa de Filosofia Antiga da Universidade Federal de So Carlos, que foi coordenado pela orientadora Eliane Christina de Souza. O encontro ocorreu as quartas feiras, no periodo de Margo de 2014 Junho de 2014, Relatério substantivo 1. Resumo do plano inicial: © objetivo proposto pelo programa Jovens Talentos para a Ciéncia foi realizar uma breve pesquisa a fim de desenvolver um projeto de iniciagdo cientifica, além de fazer com que 0 orientando se familiarizasse com as normas académicas de pesquisa ¢ que conseguisse levantar uma bibliografia em torno do tema escolhido. O tema inicial com que trabalhamos foi a critica de Platio a poesia. Porém, ao desenrolar da pesquisa, optamos em trabalhar a imagem de Sécrates nos dialogos platénicos. 2. Introdusio: Neste texto, apresentarei uma sintese do movimento dos primeiros livros da Repiiblica, que focam no tema inicial do meu trabalho, isto é, a critica de Platio a poesia. Seguirei o movimento que me conduziu ao tema do meu projeto de iniciagdo cientifica, a saber, 0 personagem Sécrates nos dislogos platénicos. A critica de Platao a poesia na Republica Quando nos deparamos com os primeiros livros da Reptblica, encontramos uma critica bem elaborada ao discurso poético. Porém, Villela Petit (VILLELA PETIT, 2003, p.55), mostra que Plato nao foi o percursor de tal eritiea, como afirmam algumas leituras caricaturais', No livro Il, Gléucon, no convencido nem por Trasimaco nem por Sécrates, retoma a tese do segundo para analisa-la, a fim de ver Sécrates defender a “Tais leituras acusam Platdo de expulsar os poetas de sua harmoniosa polis, 3 justia, Tal tese defende que o injusto é mais feliz que o justo, pois da justiga s6 € boa sua aparéncia ([I, 3572- 360d). Adimanto, ao auxiliar Gléucon no didlogo, postula os autores de tais argumentos e mostra como estes apresentam uma imagem dos deuses capaz de justificar més condutas (II, 362d — 367e). Sécrates se vé obrigado a defender a justiga ¢, para tal tarefa, propde uma investigagtio em tomo do surgimento da cidade para que se possa encontrar a génese da justiga nese proceso. A investigagdo que Sécrates propde ¢ um légos articulado segundo a razo, que leva em conta as diferengas naturais de cada homem, para determinar suas ocupagdes dentro da pélis (II, 368d ~ 369a). A cidade surge devido a insuficiéncia do homem, que por nfo ser capaz. de produzir o necessério para sua sobrevivéneia se junta a outros. Assim, para que satisfagam suas necessidades, cada qual fica responsavel por uma tinica tarefa dentro polis, tarefa que € determinada de acordo com a natureza de cada individuo. No decorrer da investigagdo, a cidade comega a se expandir, mas mantém sua sobriedade, ou seja, produz apenas o necessétio ¢ visa satisfazer as principais necessidades dos cidadaos, as necessidades naturais. Porém, Gléucon interfere na investigagéio argumentando que tal cidade estA muito longe da realidade. Segundo ele, Sécrates se deteve numa cidade ristica, enquanto 0 que Ihes interessava era procurar o retrato de uma cidade requintada. Sécrates se defende argumentando que estava a investigar uma cidade si, que no foi corrompida pelos excessos, mas aceita a contraposigdo de Gléucon ¢ passa a investigar a génese da justiga dentro da cidade requintada (Il, 369b — 373b). Com o crescimento da cidade, tora-se necessério 0 actimulo de terras ¢ 0 surgimento de novas profissdes, que até entio eram desnecessérias. Os poetas, os médicos, os imitadores ¢ os guardies surgem nesse contexto, mas, como lembra Souza Netto (SOUZA NETTO, 1990, p.132), se se preservasse a simplicidade da cidade si que Socrates expunha, a figura do guardidio nao estaria totalmente ausente, porém, com o refinamento desta, toma-se necessirio o surgimento do guardiao para regrar a pélis*. E determinado que, para que tais individuos se ocupem dessa fungo, devem possuir um animo indomével e uma alma filosdfica. Assim, devido a necessidade de conquistar mais terras, & *O guardifo surge para defender os interesses da pis, mas também para gerencia-la 4 necessario que haja uma classe guerreira, pois os cidadios nao podem guerrear, 4 que cada qual possui uma tarefa especifica dentro da pélis. Em seguida, os interlocutores se deparam com o processo de formagaio pelo qual os guardides deverdo passar, que & nfio somente pedagégico, mas também moral. Para que os guardides cresgam temperantes e corajosos, necessdrio é que Ihes censurem o contato com certos tipos de [égoi. Dentre todos os analisados, 0 mais nocivo & alma do guardido e que por isso mesmo deve ser censurado, é 0 discurso poético que faz uso da mimesis. Segundo a critica platénica, a mimesis ameaga a liberdade dos guardides, pois faz com que a parte irrascivel da alma se sobreponha a razo. Sécrates, quando anilisa o tipo que deve ser censurado & classe dos guardides, apresenta as reformulagGes pelas quais esses /égoi devem passar para que néio ameacem a harmonia da pélis nem dos guardies. Importante lembrar que as reformulagdes dizem respeito principalmente ao contetido destes discursos, ou seja, certos estilos como o estilo homérico hesiédico, que apresentam os deuses ¢ os herdis como viciosos, intemperantes covardes, devem ser censurados aos guardides, pois os deuses e os herdis devem ser alvo de imitagao por parte destes. Determinado 0 tipo de contetido permitido na pélis, a investigagfo se depara com a forma dos discursos, isto 6, o estilo narrativo ¢ os recursos literdrios que deverio usar. As formas de narrativa analisadas so trés: a narragdo, que é um relato simples onde o poeta narra a histéria em terceira pessoa; a imitagdo, ou seja, a mimesis, onde o poeta narra o discurso em primeira pessoa e se passa pelo personagem; e a epopéia, que consiste num misto dos dois tipos. Platio determina que 0 iinico estilo digno de entrar na pélis é 0 relato simples. Sua critica se ditige ao estilo mimético. Na poesia mimeética encontramos, como caracteristica, a narragdo em primeira pessoa, onde o poeta se ausenta para se passar pelo personagem. Um claro exemplo do uso da mimesis sao as tragédias e as comédias. Porém, basta uma anélise mais profunda acerca da forma como Plato expée seu pensamento, para entendermos que ele faz uso dos mesmos recursos que critica. Bolzani (BOLZANI, 2012, p.26-27) e Gagnebin (GAGNEBIN, 2000, p.92), apresentam semelhangas entre A Apologia e a Ilfada de Homero e mostram que Plato faz uso de recursos especificos da tragédia Porém, 0 herdi que Plato apresenta ndo é um guerreiro tal como se via nas 5 poesias tradicionais. As principais armas do herdi que Plato apresenta sfio suas virtudes, ¢ a maior delas, segundo minhas leituras, é a temperanga. Diferente dos poetas tradicionais que com suas poesias visavam manter viva a meméria de seus heréis, Platio visa além de manter a memoria de seu mestre viva, difundir uma nova maneira de pensar, como mostra Bolzani: Nao se trata simplesmente de exercitar um Jégas & maneira tradicional, mas de langar mao dessa tradigo, para veicular uma nova visto de mundo. A ‘mimesis, nas méos de Platdo, obedece a interesses pr6prios de seu autor, que incluem a elaboragio de um ethos novo, “filosofico”, na figura do mestre (BOLZANI, 2012, p20) Segundo Dorion (DORION, 2006, p.34), nfo € justo olharmos para o personagem Sécrates como um simples porta voz de Platio, isto é como se Plato apresentasse seu pensameno através de um terceiro ¢ tal pensamento fosse exclusivamente seu. Podemos considerar fases de Plato, ou seja, uma primeira em que ele estaria mais mareado pelo pensamento socratico ¢ outras em que ele foi se distanciando desta influéncia. Mas nao podemos considerar estes primeiros didlogos como se fossem didlogos puramente socraticos, onde Plato apresenta uma imagem fiel do Sécrates histérieo, ou considerar os didlogos posteriores como exclusivamente plat6nicos. Devemos entender que os pensamentos socritico e platénico, constituem uma homogencidade © néo é possivel delimiter dentro dos didlogos, um pensamento totalmente platénico ou um totalmente socritico, mas podemos compreender que ambos se intercalam ¢ se completam, Schleiermacher (SCHLEIERMACHER, 2002, p.43), referindo-se ao estilo platonico, mostra que: [.-] seu método era o socritico, e, quanto a interagdo mitua progressiva e a enetragio profunda na alma do ouvinte (...] Uma vez que Plato, nao obstante essas quixas, escreveu tanto desde a idade madura até a mais avangada, fiea evidente que procurou tomar o ensinamento escrito © mais semelhante possivel aquele cnsinamento melhor [ensinamento de seu mestre] ¢ foi bem sucedido nessa tentativa. Em seus didlogos, Platio usa um método de condugtio da alma do ouvinte, batizado por estudiosos de psicagogia. Este método pertence ao campo da oralidade, porém, Platio, mediante um grande aperfeigoamento literdrio, 0 captura 0 copia no campo da escrita. Assim, para validar seu pensamento 6 filoséfico, faz uso de recursos miméticos, recursos estes que condena ¢ censura no livro III da Repiiblica®. Gagnebin (GAGNEBIN, 2000, p.95), frisa o fato de Plato se ausentar como narrador © como personagem em seus didlogos, apresenta tal fato como fiuto de um aperfeigomento literdrio, que visa se ausentar da subjetividade do sujeito-autor para validar um Idgos objetivo. Iniciei meu trabalho procurando compreender a critica platénica & poesia, porém, ao longo da pesquisa observei que Platiio faz: uso dos mesmos recursos que critica, tal fato me chamou a atengdo. Para tentar compreender 0 uso que Platiio faz da mimesis e suas intengGes 20 fazer uso dos recursos poéticos que critica, foquei no personagem Socrates. Entendo que tal figura é uma composigao verossimel que s6 ¢ possivel mediante um grande conhecimento das técnicas posti is. Além disso, a chave para uma compreensao mais profunda do movimento filosdfico de Plato encontra-se em tal personagem, pois a figura de Socrates muda ao longo dos didlogos platénicos, podemos ver desde um exclusivo refutador & um parteiro de almas, ou mesmo um interlocutor ativo que postula teses, como acontece na Republica. Tais estudos permitiram a elaborac%o de um projeto de pesquisa que foi submetido ao PIBIC. 0 projeto nao foi contemplado com bolsa, mas planejamos continuar a pesquisa como IC voluntéri 3. Metodologia: Para a elaboracdo do projeto de iniciagao cientifica, estudei os didlogos A Apologia e A Reptiblica, Participei do grupo de pesquisa na érea de Filosofia Antiga, onde pude manter contato com outros pesquisadores ¢ me familiarizar com outros temas de pesquisa em Plato. Levantei uma bibliografia com a ajuda de minha orientadora e a enriqueci nestes encontros do grupo de pesquisa. Com base nos estudos de Bolzani (2012) e Dorion (2006), elaborei meu projeto de iniciagao cientifica, que visa compreender 0 * Tais recursos so condenados por Platao, pois ele reconhece poder de penetragéo na alma do ouvinte que os légoi que fazem uso destes recursos possuem. Porém, o que o dé o direito de usar dos mesmos recursos que condena € 0 fato de seu /égos ser articulado pela razo, nfo pela aparéncia, como sto 0s Iégoi potticos. O tema nto seré tratado aqui devido a sua extenstio, 7 uso que Platio faz da mimesis e com isto entender a fung&o da imagem de Socrates nos diilogos platénicos. |. Referéncias bibliograficas: BOLZANI, R-£. Ensaios sobre Platao. 2012. Tese (Livre-Docéncia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas, Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2012. DORION, L.A. Compreender Sécrates, trad. Lticia M. Endlich Orth. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2006. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Plato, acho, estava doente. Kleos, Rio de Janeiro, V.4, Num. 4, 2000, p. 89-95, PLATAO, Apologia de Sécrates e Criton. Tradugdio de Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Edigdes 70, 2006. PLATAO. A Repiibliea, trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundacio Calouste Gulbenkian, 1972. SCHLEIERMACHER, Friedrich D.E. Introdugio aos didlogos de Platio. Belo Horizonte. Editora UFMG, p.20, 2002. SOUZA NETTO, Francisco Benjamin. O problema da censura no pensamento de Plat&o. 1990. Tese (Doutorado) Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas, Departamento de Filosofia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1990. VILELLA PETIT, Maria da Penha. Platio e a poesia na Repiblica. Kriterion, Belo Horizonte, n°107, Jun/2003, p.51-71 5. Auto-avaliagao Programa Jovens Talentos me proporcionou uma maior familiarizago com o trabalho de pesquisa. Considero que 0 grupo de estudos foi de extrema importancia nesse processo de familiarizagio, Através do contato com outros pesquisadores pude me situar dentro do universo da pesquisa académica. Desenvolvi um projeto de PIBIC que néo foi contemplado com bolsa, mas sera submetido ao PIBIC voluntario. Ieteus Wnt Sue, Mateus Lima dos Santos 6. Avaliacao do orientador O bolsista desenvolveu o trabalho de pesquisa de modo exemplar, cumprindo os prazos determinados pela orientadora ¢ realizando as atividades programadas. Os resultados apresentados superam 0 esperado e mostram que aluno esta apto para iniciar atividades de pesquisa. E@ane C Snr. Prof*. Dr’. Eliane Christina de Souza 7. Destino do aluno aluno continua cursando a Graduagao em Filosofia e participando de grupo de estudos ¢ ird submeter projeto de pesquisa a0 PIBIC voluntério. 10

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