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30/05/2028, 13:13 ‘Quatro Cinco Um: a revista dos livros -Didlogos iransallanicos: livros bras cos na Franga Literatura em lingua francesa (br/categorias/literatura-em-lingua-francesa) Didlogos transatlanticos Uma editora em prol da diversidade da literatura brasileira na Franga Izabela Moi (br/autores/izabela-moi) 16dez2021 19ha2 (20)an2022 16h28) Atradutora Paula Anacaona Arquivo pessoal Em 2018, ano dos dados mais recentes sobre o mercado editorial na Franga, foram langados pouco mais de 80 mil novos titulos no pais. Quase um quinto destes foram de obras traduzidas, mas apenas 73 vieram de livros escritos em lingua portuguesa — 0 que equivale a cerca de metade do que foi traduzido do holandés ou do russo, e um décimo dos titulos que vieram do alemao naquele mesmo ano. 0 espaco para a literatura e para os autores brasileiros em uma das maiores vitrines de leitores,na Europa parece ainda ser, menor do, que,poderia ser. E foi olhando para esta ila Anacaona viu uma oportunida as, a sguranca-e- OK privacidade.html) sea cesta hitps:lwwn.quatrocincoum. com bribr/artigos/Iteratura-emlingue-rancesaldalogos-transatlanioos 1 3010si2023, 13:13, ‘Quatro Cinco Um: a revista dos livros - Didlogos transallanicos: vrs brasilsres na Franga criou uma editora exclusivamente dedicada a publicar a diversidade de vozes do Brasil. “Aqui na Franga normalmente os editores criam suas ‘maisons’ usando seu proprio sobrenome, ha uma tradicao em dizer quem indica a obra. Eu fiz 0 contrario: escolhi 0 nome da editora e passei a usd-lo como sobrenome”, diz Paula, que se recusa a revelar mais do que isso. A Anacaona Editions nasceu assim em 2009. Resisténcia Anacaona é 0 nome de uma cacique da etnia Taino, lider de uma das primeiras grandes resisténcias indigenas & colonizagao no que é hoje 0 Haiti. “A decolonizagio das histérias narradas ainda é um processo lento e muito urgente”, conta, sobre a escolha do nome que mais tarde seria também o assunto de um de seus romances histéricos. “A descoberta da literatura latino-americana aqui na Franca veio com o realismo mégico, mas o Brasil ficou de fora. Tem a ver com o peso do pensamento colonizador sobre quem sao os detentores do conhecimento, e, portanto, os autores por primazia de livros”, diz. “Jé entrei em muitas discussées sobre a imagem que se faz do brasileiro, ainda ligada 4 cordialidade e nao a uma racionalidade ou intelectualidade a ser ‘exportada’’ ia também: Romance e obra de filosofia de autoras nigerianas sobre cultura iorubé ‘mostram o respeito a histéria particular de cada um (https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/literatura /para-ampliar-horizontes) Paula tem sempre uma leitura fina ¢ politica sobre o contexto. E a editora faz, parte desta sua maneira de olhar para o mundo. “antes de langar minha editora, jé fazia tradugées de obras brasileiras para outras editoras francesas. Em uma das muitas viagens ao Brasil, que comegaram em 2003, estava indo para uma pequena cidade em Minas Gerais, de énibus, com um livro do Férrez na mao, para enfrentar 0 trajeto de sete horas que tinha pela frente. Li sem parar, até o fim.” Quando voltou a Paris, conta que sugeriu a obra para diversas editoras com as quais estava acostumada.a.trabalharegighuetabeuaaegativas. “Eram negativas acima do tom, como s¢,fRHSSe HA SHERI AALEHICRR RSIS UERARE justificativa. Aquilo me hitps:lwwn.quatrocincoum. com bribr/artigos/Iteratura-emlingue-rancesaldalogos-transatlanioos 2a sovos2023, 1:13 Cuatro Cinco Um: a evista dos ios -Dilogos kanslankcos: ios brass na Franga incomodou. Minha hipétese é que elas tinham encontrado um autor que nao tinha se resignado a ficar no seu lugar de periférico. Ele nao ia falar s6 de rap ou hip-hop. Ele era um intelectual.” O Manual prdtico de ddio, do escritor e poeta paulistano Férrez, foi o livro que langou a Anacaona Editions. Brasilidade Tradutora com titulos académicos em espanhol e em inglés, Paula foi aprender 0 portugués brasileiro — especifica — depois que jé tinha saido da universidade. “Meus amigos brincam que devo ter nascido no Brasil em vidas passadas.” ‘Foi no Brasil que me falaram que eu era negra e da diversidade das pessoas negras’ “Meu pai é negro e minha mae é branca, mas eles se divorciaram muito cedo. Eu fui criada pela minha mie e até uns vinte anos eu simplesmente nao pensava na minha cor. Eu nao tinha nenhuma referéncia, e na busca da minha identidade fui me educar. © Brasil foi muito importante para mim neste percuso. Foi ali que me disseram que eu era negra, que me falaram da diversidade das pessoas negras e onde o movimento negro me acolheu de forma generosa”, conta. Em 2015, quando o Brasil foi o pais homenageado no Salao do Livro de Paris, 0 auge da presenga literaria na Franga, a consagrada escritora mineira Conceicao Evaristo ganhava a primeira tradugio em francés de sua obra com o langamento L’histoire de Poncia (Poncia Vicéncio), pela Anacaona Editions. Depois dele, outros dois entraram no catdlogo: Banzo, mémoires de la favela (Becos da meméria), em 2016, e Insoumises (Insubmissas lagrimas de mulheres), em 2017. Paula nao faz apenas a curadoria das obras, mas traduz ela mesma para o francés a maioria dos titulos que publica. E j4 fez até diagramagio e escolheu capas “minimalistas” para conseguir publicar os livros. “Meu engajamento feminista, antirracista e pela ecologia passa também por colocar em risco minha vida financeira em prol da difusio das ideias contidas nos livros que publico.” Politica de Privacidade {(attes://sobreuol noticias.uol,com,br/normas-de-seguranca-e- privacidade.htm!) hitps:lwwn.quatrocincoum. com bribr/artigos/Iteratura-emlingue-rancesaldalogos-transatlanioos 38 010572029, 13:13 ‘Quatro Cinco Um: a revista dos vos Dislogostransalaniics: los brasiiros na Franca Hoje, as vésperas de completar doze anos, a Anacaona Editions tem uma operacao no azul, com vendas principalmente pelo site ¢ com leitores que acompanham as novidades nos canais de comunicagao préprios. “Temos uma comunidade!” Discussées contemporaneas Paula acredita que esta virada comercial tem a ver também com a decisao de publicar ensaios e outros livros de nao fic¢4o muito conectados com as discussdes da contemporaneidade sobre feminismo ¢ raga. 0 primeiro da colecao Epoca, langada em maio de 2019, foi La place de la parole noire (Lugar de fala) — que ja esta na terceira reimpressao —, seguido rapidamente de Chroniques sur le féminisme noir (Quem tem medo do feminismo negro?), ambos da ensaista e ativista Djamila Ribeiro. Em dezembro, a Anacaona Editions langa um livro inédito em parceria com a editora brasileira Bazar do Tempo. Dialogue Transatlantique (Didlogo Transatlantico), de Djamila Ribeiro e Nadia Yala Kisukidi, discute o feminismo negro a partir de uma visdo da diaspora e dos pontos de encontro e desencontro nos diferentes lados do atlantico. A conversa entre as intelectuais brasileira e francesa de origem congolesa, ambas com titulos em filosofia, se estende por quase duzentas paginas. A edic3o francesa traz ainda um prefacio da autora e especialista em diaspora africana Maboula Soumahoro. Leia também: Livro de autor congolés sobre imigrante africano em Paris tentando seguir a carreira de escritor deu origem a pegas de teatro e élbum musical (https: /www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/literatura-em-lingua francesa /o-bazar-de alain-mabanckou) Assine gratuitamente a newsletter Literatura em lingua francesa E-Mail >>>> (br/profile/newsletters) Mais newsletters Politica de Privacidade (https://sobreuol.noticias.uol,com,br/normas-de-seguranc: privacidade.html) hitps:lwwn-quatrocincoum.com bi rlarigosiiteratura-em-ingus-francesaldialogos-rensatlanticos 48

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