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Caso Schreber 12.06
Caso Schreber 12.06
Resumo
Introdução
Daniel Paul Schreber nasceu na Alemanha, em 1842, sendo filho do meio de outros
4 irmãos que cresceram em meio a contexto familiar marcado por educação totalmente
moralista e rígida exercendo um controle excessivamente pedagógico de pais com
filhos, pois buscavam destaque através do trabalho intelectual. Schreber construiu uma
brilhante carreira, operador do Direito, mais precisamente magistrado, tendo exercido a
função de presidente do Tribunal Regional de Chemnitiz e, posteriormente, o mais alto
cargo, o de Presidente da Corte de Apelação em Dresden. Se casou com Ottlin Sabine
Behr em 1878, casamento que não lhe rendeu filhos, a moça teve cerca de 6 abortos.
Apesar de sua posição social e inteligência Daniel Paul Schereber sofria de
“Doença dos Nervos”, como o próprio intitulou, em 1884 foi acometido pela “Primeira
Doença”, período em que esteve no hospício de Sonnestein, atribui esta internação à
tensão emocional derivada da campanha e foi diagnosticado como um caso de
hipocondria severa, por Flechsig. Posteriormente recebeu alta aparentemente curado.
Entre 1885 e 1993 passou por período de grande exito profissional, recebendo a
nomeação para o cargo de juiz-presidente (Senatspräsident) da Corte de Apelação, na
cidade de Dresden para onde se transfere. A posse ocorreu em1893, na mesma época em
que foi acometido pela “Segunda Doença”, após entre o dormir e o acordar, lhe ocorreu
pensar que deveria ser muito bom ser uma mulher submetendo-se ao ato de copular.
Clínica Psicanalítica 1
Em sua segunda estadia no Hospital Psiquiátrico de Leipzigonde, apresenta
novamente ideias hipocondríacas, idéias de perseguição, alucinações visuais e auditivas
assim como os distúrbios cenestésicos, que posteriormente evoluem de forma que
acredita ter uma comunicação direta com Deus, ouvir música sagrada, assim como ser
perseguido por seu médico.
Schereber não teve cognição, memória, sinais de confusão ou de inibição psíquica,
nem sua inteligência demasiadamente afetados, o que o possibilitou escrever um livro
sobre apresentara relatos sobre o desenvolvimento de sua patologia como parte de uma
peça jurídica afim de retira-lo do hospício, peça esta que por meados de 1911, Freud
teve acesso.
Ao analisar o livro das memórias de Schreber, Freud foi logo concluindo que seria
um caso de psicose, o delírio vem sendo destacado como ponto principal no período em
que esteve em tratamento. Suas idéias alucinatórias intensificavam na medida em que
sua personalidade se transformava através dos seus fenômenos delirantes
comprometendo a sua saúde psíquica.
Clínica Psicanalítica 2
História Clínica
Schreber nunca aceitou que o seu problema fosse psíquico embora existir muitas
evidências, ele acreditava que o que ele tinha era uma doença dos nervos. Seu quadro
veio a manifestar duas vezes deixando ele completamente em estado de necessidade de
acompanhamento onde ficou internado por seis meses pela primeira vez na clínica da
Universidade de Leipzig com crises severas de hipocondria.
Apesar de não ficar claro na obra freudiana qual a idade de Schreber na época de
sua doença, sabe-se que ele era casado já há alguns anos e os cargos que ocupava
também dava a idéia de um homem não tão jovem. Em outras fontes, foi encontrada a
seguinte informação: Schreber tinha 42 anos na primeira doença, em 1884 e 51 anos na
segunda doença, em 1893.
Após indicação em novo cargo, passou a ter sonhos de que sua doença retornara
e um dia pela manhã entre o sono e vigília, ocorreu-lhe a idéia de que “afinal de contas,
deve ser realmente muito bom ser mulher e submeter-se ao ato da cópula.” Poucos
meses depois, internou-se novamente devido a acessos de insônia, depois foram notadas
idéias de perseguição, ilusões sensórias, auditivas e visuais.
Clínica Psicanalítica 3
Em relatório feito pelo Dr. Weber, diretor do asilo em 1899, é feitas observações
sobre a condição do, ressaltando que apesar de seus sintomas psicomotores óbvios, o
Dr. Schreber não apresentava sinais de confusão e nem sua inteligência se achava
prejudicada. Schreber discutia com clareza e tinha um estoque considerável de
conhecimento sobre várias áreas e ocupava-se desses assuntos. No mesmo relatório, é
relatado que, entretanto, o paciente apresentava-se repleto de idéias patológicas,
constituídas de um sistema completo, sendo mais ou menos fixa e pouco acessível à
correção de juízo.
Esse propósito delirante de Schreber estabelece para uma relação direta com a
vontade de Deus, que o levavam a acreditar que milagres divinos estariam o mantendo
vivo e o tornando ‘feminino’ (nervos femininos). Porém, antes de assumir esse papel
religioso, a emasculação era vista por Schreber como grave injúria e perseguição. Antes
partindo da imagem do Dr. Flechsig e depois assumida pelo próprio Deus.
Schreber relata em seu livro que toda tentativa de ‘assassinar a sua alma’ e de
‘emascular-se’ seria para fins ‘contrários a ordem das coisas e reclamava das vozes, os
‘Raios de Deus’ que zombavam dele o chamando de ‘Miss Schreber’. Depois disso,
aceitando a ‘missão atribuída a ele por Deus’, declara que a conseqüência da sua
emasculação seria a sua fecundação por raios divinos, a fim de criar uma nova raça de
homens, já que segundo ele, os homens ao seu redor seriam ‘homens apressadamente
improvisados’
Clínica Psicanalítica 4
Freud detalha e pede atenção para a relação de Schreber com Deus e como ele o
define e o conflito entre masculino e feminino relembra o pensamento do paciente ao
imaginar como seria ser uma mulher no ato de cópula relaciona toda a sua construção
no intuito de realizar esse sonho inicial.
Tentativas de Interpretação
Então o que veio acontecer com Schreber, foi que ele teria evocado, por certas
peculiaridades do seu corpo, e sua forma de pensar a volúpia de Deus, ele acreditava
que Deus é um personagem que tem dificuldades para aprender, é um personagem meio
burro quase cativou pelo corpo e começou então a enviar uma conexão, que ele chama
de raios divinos e esse raio se instalava em cada pedaço do corpo de Schreber. Então
essa comunicação, explica uma serie de fenômenos, que ele começa a experimentar,
como por exemplo, o fenômeno de interrupção da frase, fenômeno como os pássaros
falantes, onde ele escuta pássaros piando e pensa que os pássaros estão dizendo algo
para ele, fenômeno de dificuldade de ir ao banheiro, que ele diz que Deus controla a sua
evacuação, outro fenômeno é onde ele começa a observar o seu próprio corpo e ele
percebe que estão nascendo seios e que ele está se transformando em mulher.
Assim ele cria uma palavra para designar esse processo que é a emasculação, e
com essa emasculação, ele começa a perguntar por que está acontecendo comigo? Ele
conclui então, em um determinado dia, que Deus tem essa volúpia pelo corpo dele,
porque Deus está querendo o transformar em uma mulher, e em seguida copular com ele
e dá origem a uma raça. Schreber luta com isso, ele não aceita isso e seu delírio se
desenvolve em torno dessa história. Até o momento que ele decide aceitar, que ele tem
mesmo que se transformar em uma mulher e na verdade isso é uma espécie de operação
de salvação da humanidade.
Então Freud entende que a experiência com a primeira internação vivida pelo
Schreber, foi uma experiência que convocou nele fantasias homossexuais de desejo,
foram experiências que estavam ligadas a importância que o psiquiatra Flechsig teria
exercido sobre ele, e como defesa para essa fantasia homossexual de desejo, ele
estabeleceu uma negação muito forte, uma negação muito intensa e que explicaria não
só do termo paranóico, mas todas as suas variações. Isso foi umas das contribuições
mais importantes de Freud no estudo do caso Schreber.
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Então Freud vem mostrar, que o processo de negação de defesa dessas fantasias,
explicaria uma série de detalhes do caso Schreber. Por exemplo, a informação delirante
ligadas a Deus como um sucedâneo do pai que também mostraria como Schreber estaria
em uma espécie de fantasia de sedução para com o seu pai e em defesa contra isso, ele
vai produzindo uma solução para sua fantasia, que é a sua emasculação se
transformando em mulher.
Um exemplo que podemos citar onde constitui fato notável que as principais
formas de paranóia conhecidas podem ser todas representadas como contradições da
proposição única ‘eu (um homem) o amo (um homem)’, e que, na verdade, exaurem
todas as maneiras possíveis em que tais contradições poderiam ser formuladas.
(FREUD, 1913/2020)
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“A proposição ‘eu (um homem) o amo’ é contraditada por: (a) Delírios de
perseguição, pois eles ruidosamente asseveram (...) ‘Eu não o amo - Eu o odeio.
’ Esta contradição, que deve ter sido enunciada assim no inconsciente, não pode,
contudo, tornar-se consciente para um paranóico sob essa forma. O mecanismo
de formação de sintomas na paranóia exige que as percepções internas -
sentimentos
- sejam substituídas por percepções externas. Conseqüentemente, a proposição
‘eu o odeio’ transforma-se, por projeção, em outra: ‘Ele me odeia (persegue), o
que me desculpará por odiá-lo. ’ E, assim, o sentimento inconsciente compulsivo
surge como se fosse a conseqüência de uma percepção externa: ‘Eu não o amo -
eu o odeio, porque ELE ME PERSEGUE. ’ A observação não deixa lugar para
dúvidas de que o perseguidor é alguém que foi outrora amado.” (
FREUD,1913/2002,p.71)
Considerações Finais
É importante ressaltar que o caso Schreber não deve ser considerado como uma
representação universal dos transtornos psicóticos. Cada indivíduo enfrenta uma
combinação única de fatores biológicos, psicológicos e sociais que contribuem para a
manifestação e a gravidade de sua condição.
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Referências
FREUD, S. O caso Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos. Vol. XII - Rio
de Janeiro: Standard Brasileiro das Obras Completas de Sigmund Freud, 1911-1913.
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