Você está na página 1de 22
RS WS HIA Das LETRAS © SHOTONMI9T : VIS ae 2.7, al com OS holandeses 5. A luta glob (1600-63) an, autor de uma descricao classica da ervou que o papel dos descobridores € conqui \arem os cAes para espantar a ca¢a, que; tendo sido os holandeses os principais itém grande dose de verdade, pois qt sua Guerra dos Qitenta Anos pela in bém em regides tao remotas. Angola, a ilha de Timor e a cos dia ¢ a noz-m ana como © estudrio do ta do Chile. As presas i "Ton mel Null 4 aprata do México, Peru e Japao, 0 ouro da Gi car do Brasil ¢ €s de que as populagdes respectivas dos dois pequenos paises de que estamos 1 fando de modo especial, 0 reino de Portugal ea Republica is provavelmente nao excediam mais do que 1,5 milhao, iné € de Monomo Ae 5 tapa, 0 act ‘avos negros da Africa Ocidental. Quando nos inten s Holandesa Unida, € de que ambos esta- yam profundamente entedados na Europa, a magnitude e a extensio dos esfor gos que fizerath ndo podem deixar de provocar nossa admiragao, Além disso, essa luta global muitas vezes envolveu outras partes, como ingleses, itcalas queses, congoleses, persas, indonésios, cambojanos ¢ japoneses, em diferentes Jocais e datas. Finalmente, havia um forte elemento religioso na questdo, ten- do em vista que portugueses catélicos romanos ¢ holandeses calvinistas con- sideravam-se paladinos de suas religides, e, em decorréncia, acreditavam estar travando a batalha de Deus contra seus inimigos. Para os adeptos da “‘verds- deira religido reformada’, como foi definida no Sinodo de Dort, em 1618-9, a Igreja de Roma era “a grande prostituta da Babilonia’, e o papa, o verdadeiro anticristo. Os portugueses, por seu lado, estavam amplamente convencidos de que a salvagao s6 podia ser obtida mediante a crenga nas doutrinas da Igreja catdlica romana, como tinham sido definidas no Concflio de Trento, que ocorrera no século xv1. “Os holandeses sto apenas bons artilheiros ¢, além disso, servem somente para ser queimados como hereges desesperados’, escre- yeu um cronista portugués que expressava as convicgdes de muitos de seus compatriotas em 1624. ataque macigo dos holandeses ao império colonial portugués foi os- tensivamente motivado pela unido das coroas espanhola e portuguesa na pes- soa de Filipe 11 de Espanha, contra cujo governo, nos Pafses Baixos, os holan- deses haviam se revoltado enf/1568. IDez anos mais tarde, com a derrota ¢ a morte do rei dom Sebastido, que n140 deixou descendéncia, no campo de AR cécer Quibir, no Marrocos (em 4 de agosto de 1578), a Coroa portuguesa foi transferida para o iiltimo monarca da Casa de Avis, 0 idoso € doente cardeal dom Henrique, Este morreu em janeiro de 1580, ¢, alguns meses depois, Fili- Pe, cuja mae era uma princesa portuguesa, fez valer suas pretensOes 20 ee Yago com a ajuda dos veteranos do duque de Alba e das “balas Renee xicanas, numa combinagao judiciosa que permitiu que se yaa sn novo dominio: “Herdei-o, comprei-o, conquiste-o” ("Yo lo heredé, yo Pté, yo lo conquisté”), As coroas de Espana e Portugal continuaram nt Al m periodo que 0s portuguest | tarde compararam com 0 cativeiro dos judeus na Babildiig O que durou de 1580 a 1640, e que se estendia de ©, potosis no Peru, foi o primeiro império mundial onde o sol ‘Ao assumir a Coroa portuguesa em 1580, Filipe 11 nado imbélica, a ndo ser na ilha Terceire am ar uma grande invasao,. nos sessenta anos seguintess > ynial ibérico, do que uma resis onde os espanhdis tiveram que organ 4 portuguesa ¢ do alto clero membros do baixo clero opunham-se tacitamente a ela, mas est ganizados, desanimados e sem lider depois do desastre de Alle mais tarde desorganizou a economia do pais devido a necessid resgates de milhares de cativos capturados pelos mouros. No timento nacionalista portugues era muito forte, ¢ 0 proprio Fili ao garantir, em 1581, durante a reunido das Cortes que sancic te sua tomada da Coroa, que os dois impérios coloniais devi nobr onérios portugueses para elas. Os espanhéis « de comerciar ou de se fixar no império ngleses contestaram | Protestantes eee had VSPA er Ee com Portugal por cay % usa da cabo da Boa Ey ambiga | puiram para envolver os portugueses em hostilidades com as poténcias mart timas do Norte mais cedo do que, em outras circunstancias, poderia ter acon- tecido. Além disso, uma vez que os holandeses decidiram entrar em guerra no ultramar e atacar os inimigos ibéricos nas possessdes coloniais que lhes for- neciam os recursos econdmicos, em vez de combater em Flandres e na Italia, Portugal, como o membro mais fraco das duas coroas, inevitavelmente sofreu | mais do que Castela os golpes deflagrados pela poténcia maritima que lhe era ( superior. A guerra colonial teve inicio com ataques de barcos de guerra holan- deses as ilhas de Sao Tomé e Principe, em 1598-9. A medida que a luta se es- tendia no espaco € no tempo, os holandeses tendiam a dirigir suas investidas contra as coldnias portuguesas na Asia, na Africa € no Brasil. Quase todas tuavam-se em costas maritimas expostas, e, portanto, eram muito mais vul- nerdveis do que o México ¢ o Peru, os vice-reinos espanhéis voltados para o interior, que nao podiam ser dominados — nem mesmo seriamente ameaga- dos — tao-somente por mar. ‘A expansio holandesa pelos sete mares durante a primeira metade do sé- culo xvir foi, A sua maneira, tao notavel como a expansdo maritima portuguesa e espanhola ocorrida cem anos antes, mas estamos aqui principalmente inte- ressados no efeito devastador que ela teve sobre o império portugues. Entre- tanto, embora concentrando nossa atengao nesse aspecto da historia, nao po- demos esquecer que os holandeses também realizavam, muitas vezes, ataques vigorosos ao mundo colonial espanhol. Simultaneamente ao primeiro que a Companhia Holandesa das Indias Ocidentais fez ao Brasil, em 1624-5, outra frota de onze navios e 1650 homens, equipada pelos Estados Gerais ¢ pela Companhia Holandesa da Indias Orientais, navegou para o Pacifico através do estreito de Magalhaes, atacou as costas do Peru e do México, ¢ atravessou © oceano em diregdo as Molucas e a Batavia — feito notavel quanto a capaci- dade empreendedora e & organizagao. Além disso, os holandeses, enquanto atacavam os portugueses em suas possessdes asidticas, langavam ataques fre- qlientes — se bem que nao com tanto éxito — contra as Filipinas, até o tra- tado de Munster, assinado em 1648, por fim a Guerra dos Oitenta Anos entre 95 Pafses Baixos e a Espanha. A luta luso-holandesa, que comeou com as investidas contra Sao Tomé © Principe, em 1598-9, terminou com a captura das coldnias portuguesas n@ Costa de Malabar, em 1663, apesar de os termos da paz terem sido estabeleci- 123 dos somente ncia portuguesa rei dom Joao rv, em 1? de dezembro de 1640, ee tiados contra os holandesess M2 nos 23 anos seBuintes 09} panhois em territorio ibérico e aque lutar contra 08 €8 errit6HiG do-nos a uma simplificagao exces ua forma de uma. juta pe independé ram ses no ultramar. Arrisca que essa longa guerra colonial tomo! ao das especiarias asiaticas, pelo tr ja importagao e revenda do aciicar brasileiro, Também po resultado final foi equilibrado: uma vitria para os holande ‘empate na Africa Ocidental e uma vitéria par: e resumimos brevemente 0s acontecimentos decisivos des (s holandeses logo conseguiram ser bem-sucedidos com a conquista das principais ilhas das Especiarias, e1 trado forte resistencia dos portugueses em Tidore e nenht No ano seguinte, os espanhdis das Filipinas organizaram ico de escravos da guir, va inesperada, que Ihes permitiu tomar e conservar Tido até que a ameaca de um ataque chinés a Manila os regressar as guarnigdes que se encontravam nas lio do cravo-da-india aos holandeses. Depois da é Molucas, os portugueses estabeleceram-se em M 619. Os holandeses foram forgados a < ntra Macacar, em 1660 ¢ 1667, ante: Onias costeiras ports que fizeram ao estreit port suas aquisigdes na Asia com a tomada de Cochim e de outras fortal tuguesas na costa de Malabar, em 1663, Desse modo, a Companhia Holandesa das Indias Orientais, fundada em 1602, conseguiu. com éxito o controle do comércio do cravo, do macis ¢ da noz-moscada das Molucas, da canela da costa do Ceilio e da pimenta de Ma- Inbar, Por volta de 1663, os holandeses granjearam dos portugueses a posicao de proprietérios da parte do leao no negécio de transportes em Aguas asiati- as, entre 0 Japao € a Arabia. Haviam obtido 0 monopélio do comércio euro- peu com 0 Japao depois da expulsao dos portugueses da ilha-império pelo di- tador militar da familia Tokugawa, por motivos politicos e religiosos, em 1639. Os tinicos lugares de onde nao conseguiram expulsar os portuguese fo- ram Macau, na costa do sul da China, e as ilhas mais afastadas do arquipéla- g0 das Sunda Menores (Timor, Solor, Flores), na Indonésia. Desferiram pode- oso ataque contra Macau, em junho de 1622, que, no entanto, foi repelido pelos defensores a custa de intimeras baixas, e outra expedicao, armada em 1660, foi desviada para Formosa. Os esforgos holandeses para privar os por- tugueses do comércio do sandalo nas ilhas Sunda Menores fracassaram no de- correr do tempo, sobretudo porque os habitantes eram animados, liderados e organizados para se opor aos holandeses pelos missionarios dominicanos que ld residiam. Ao contrério dos holandeses, os ingleses contentaram-se quase sempre, no Oriente, em adotar uma atitude defensiva diante dos portugueses, mas 0s persas nao teriam tomado Ormuz, em 1622, nao fossem os seis pode- 10505 navios e os habeis artilheiros fornecidos pelos ingleses. O rapido pro- gresso dos holandeses no Oriente alarmou quase tanto os ingleses como os Portugueses, levando a um renversement des alliances e & trégua anglo-portu- gulesa em Goa, em 1633. A inveja dos holandeses também acarretou um acor- do entre dinamarqueses e portugueses nas Indias Orientais, apos algumas hostilidades esporddicas e menores entre ambos de 1619 a 1631. Na Africa Oriental, os holandeses falharam duas vezes na tentativa de to- mar dos portugueses o posto intermediario da ilha de Mogambique (em 1607 € 1608), ¢ esse fracasso foi uma das razOes que os levaram a fundar uma cold- nia holandesa no cabo da Boa Esperanga, em 1652, Muito tempo se passov Porém, antes de conseguirem penetrar de fato no interior, a0 Passo a Portugueses, nesse periodo, estavam estendendo seu dominio, pot “— j Ataques e do comércio, do vale do rio Zambeze até 0 territ6rio atual do Zim- lezas por- 25 ——=—_—— i | 1, Na Aftica Ocidental, ja em 1612, 08 holandeses fixaram. (Forte Nassau), € 140 demoraram a tirar dos e do comércio do ouro, Fracassaram desastrosamen- de tomar Sao Jorge da Mina em 1625, mas foram numa expedicao mais bem organizada, ola e de Benguela em agosto de 1641, em- Portugal se revoltara contra a uniao com rior, € que as conquistas ultramarinas muito provavelmente seguiriam o exemplo do pais-mae — como todas fize- ram em 1645, com excecao de Ceuta. Os invasores calvinistas de Angola esta- beleceram relagdes surpreendentemente cordiais com Garcia u1, rei catélico romano do Congo, e com a rainha canibal Nzinga, dos jagas. Em agosto de 1648, esses estranhos aliados estavam prestes a aniquilar os portugueses, de- fensores sobreviventes de Angola, nas trés posigdes que lhes restavam no vale do Quanza (Muxima, Massangano e Cambambe), quando uma expedi¢ao lu- ‘so-brasileira proveniente do Rio de Janeiro reconquistou Luanda e modificou ll totalmente a situacdo no ultimo momento. Quando a paz foi assinada em 1663, 0s holandeses passaram a dominar as primeiras posi¢6es portuguesas Z na Costa do Ouro, mas os portugueses permaneceram com o controle sobre , Benge ‘Tomé ¢ Principe, por eles reconquistadas em 1648-9. No Brasil, depois da ocupacao efémera da Bahia, em 1624-5, os holande- ses invadiram Pernambuco em 1630 e, quinze anos mais tarde, controlavam a \ Parte maior e mais rica dos distritos costeiros nordestinos produtores de acti- lear: Os habit a regiao revoltaram-se contra seus senhores heréticos em junho dé 1645, alguma hesitacao inicial da parte de dom Joao 1V, receberam de Portugal ajuda significativa, ainda que nao oficial, de homens € navios. Depois de quase uma década de guerra acirrada, Recife e as uiltimas Posig6es holandesas capitularam em janeiro de 1654, A primeira senha dos Beer. + Pare 2'revolta foi “acticar’, o'que denota clarumentequeera mn das causas (¢ recompensas) principais da guerra, embora 0 daar ice im Hao | ents calvinistas¢ catlicos romanos tivesse desempenhiado papel ainda mals APES FANE Ma/eclosto da revolta, Ambas as partes utilizaramn agit negtNas na luta, como j4 acontecera u das im século antes ¢o, ior an p m os franceses, e a maioria tribos tapuias aderiu aos holandeses, enquanto a maioria dos tupis permant- = aloria dos ty cera fiel i 408 portugueses. Multas das forcas luso-brasleiras nessa campanha pabue [exRodésia se na Costa do Ouro, em Mouri portugueses a maior part te na primeira tentativa a pem-sucedidos treze anos depois, Ocuparam pela forca a costa de Angi bora tivessem conhecimento de que a Espanha em dezembro do ano antel 126 | compunham-se de mulatos, negros e mestigos de todos os tipos. Entre os mais destacados comandantes de regimento estavam um chefe indigena puro (Ca- nario) ¢ um negro puro (Henrique Dias). O primeira chefe da revolts, Joao Fernandes Vieira, que lutou do primeiro ao ultimo dia, era filho de um fidal- go da Madeira e de uma prostituta mulata. © desgosto natural dos holande- ses por terem perdido 0 “Brasil holandés” foi intensificado pelo fato de terem | compreendido que haviam sido derrotados por um exército em grande parte { de cor. Assim, 0 comércio do agiicar ficou por fim em poder dos portugueses, mas métodos mais avancados de cultivo do agticar e de moagem da cana fo- ram introduzidos nas Indias Ocidentais britanicas e francesas durante a ocupa- feSibatendeaaidesPernambuc provavelmente gracas a atuac4o de judeus Juso-brasileiros. As derrotas sofridas pelos portugueses para os holandeses nos primeiros quarenta anos do século xv1t constituiram um dos principais motivos para a revolta daqueles contra a Coroa espanhola em 1640, contudo foi va a esperan- \ ca de que os holandeses deixariam de atacar as possessoes portuguesas assim | que a metr6pole tivesse cortado seus lagos com a Espanha. Em Haia, em 1641, assinou-se uma trégua de dez anos entre os dois adversérios, que foi ratifica- da um ano mais tarde e implementada na Asia somente em novembro de 1644, No Brasil e em Angola a trégua nem sempre foi observada, mesmo an- tes do recomego, em grande escala, da guerra que teve origem na eclosao da revolta pernambucana, em junho de 1645. A intensificacao das hostilidades fora da Europa apés a expiracao da trégua, em 1652, levou os portugueses a procurar a prote¢ao de uma alianga com os ingleses, por intermédio do casa- \ mento de Carlos 11 com Catarina de Braganga, em 1661. A paz que Portugal conseguiu posteriormente com a Espanha ¢ as Provincias Unidas (em 1668- 9), em parte devido & agdo mediadora dos ingleses, foi, no que diz respeito a Portugal, de esgotamento, O fato de sacrificar Bombaim e Tanger aos hereges ingleses como parte do dote de Catarina melindrou os portugueses, fervoro- $05 catblicos, embora nao houvesse nenhuma probabilidade de que pudessem, naquelas circunstAncias, promover 0 desenvolvimento dessas duas possess0es, As razbes para a vitéria dos holandeses na Asia podem se resumir a trés Pontos fandamentais: recursos econémicos superiores, numero superior de homens, poder maritimo superior. As Provincias Unidas da Holanda Livre tam uma metrdpole mais rica do que o empobrecido reino de Portugal. A 127 ser aproximadamente idéntica (de 1,25 milhay ), porems enquanto Portugal teve que for. “até 1640, ¢ contra ela a partir da, em seus exércitos is paises devia jos doi \da um. de habitantes 2 rvigo \ppopulagao de a ai,Smilhao ‘8 ecer carne de canbao a s° ye holandeses podiam se Serv» da Espanha, ose serviram amplamente efrotas, do potencial humano fornecido por seus vache esac. pavos. A disparidade do efetivo humano no mar era ain alee. = ncentemente express pelo grande jesufta portugués Ants. Ele calculava que 0S holandeses possuiam mais de 14 mil de guerra; Portugal por sua ver ni dos como vasos a categoria. Os holandeses, dizia ele, dis. fnante, ¢ foi com WF of nio Vieira, em 1649. Or podiam ser usa iy tavios ave Po , vios da mesm: * —_ possufa sequer treze na ; 50 mil marinheiros para tripular os navios, enquanto Portugal +4 mil £ claro que Vieira exagerava, mas nao muito, Um em 1620, que pretendia identificar 0 numero de a registrou apenas 6260 homens punham de nao conseguia reuni censo realizado em Lisboa, marinheiros disponiveis para tripular a frots em todo o pais. Numa reuniao do conselho consultivo do vice-rei em Goa, em le 1643, afirmou-se que nao havia em Lisboa numero suficiente de novembro d pilotos habilitados para conduzir qualquer embarcagao para a India, uma vez odos os que possuiam as devidas credenciais — menos de dez individuos entravam-se nos trés navios que faziam a Carreira da India, detidos queio holandés em Goa. A falta de marinheiros de alto-mar foi um a: maritimos dos holandeses na Asia deve-se tin a espinha fae Batavia, e em especial Antonio van Diemen, 1636 € 1645, possuiam conheci Poder maritimo portugués no Indico, entte mais eficazes do que a cee a respeito de estratégia naval muit ia dos vice-reis Portugueses de Goa. Além diss s portugueses conta ‘lusivam. vam, Para atuar 5 d jente com GS como chefes navais e militares, quase & Os ob: i os crité- servadores portugueses mais intlige™ ‘0. Um di cles, a0 escrever em 1656, frisou 6O™ mmordacidade o contraste entre 0s aristocraticos fidalgos, que haviam perdido Malaca e Celio, € os holandeses de condigao humilde que os conquistaram. ros fatores relevantes foram a di out iplina mais eficaz € o treinamento dos marinheiros esoldados holandeses, aliados a crescente riqueza da Companhia Holandesa das Indias Orientais, que contrastava com a economia em declinio da até entio “dourada” Goa. padre Fernao de Queirés, 0 cronista jesuita da guerra luso-holandesa no Ceiléo, queixava-se de que “os holandeses diziam com razao que a nossa rra era sempre uma guerra de pobres’. Um experiente comandante portu- gués na India disse ao vice-rei, em 1663: “E fato bem sabido que a sorte da guerra ndo pode ser melhorada sem homens e sem dinheiro, e esta € a razao por que vemos tantas desordens, tantas lagrimas e tantas perdas, porque o rei nao tem sendo um tesouro vazio e seus vassalos nao tem nenhum capital para 0 ajudarem’. No ano seguinte, outro comandante portugués escreveu, da cos- tade Malabar, ao mesmo vice-rei Gee nee er Qualquer capitéo holandés tem plenos poderes ¢ muito dinheiro para utilizar ‘em qualquer ocasiao, ¢ esta autorizado a gasté-lo sem preocupagao quando ne- cessério, Quanto a nés, temos que obter a permissao de uma autoridade superior para qualquer coisa ainda que minima, e essa permissdo chega, frequentemente, tarde demais, Além disso, como estamos mal supridos, somos sempre obrigados a implorar, seja para onde for que nos dirijamos, que, por sua vez, nos impos- sibilita de realizar seja 0 que for, porque nada pode ser feito sem dinheiro, so- bretudo com esses nativos da India. Dom Manuel Lobo da Silveira errava ao afirmar que os administradores da Companhia Holandesa das Indias Orientais nunca relutavam em ceder 0 dinheiro para as despesas navais ¢ militares acarretadas pelas dispendiosas campanhas de seus subordinados. Mas sua observagao reflete o trufsmo de que numa guerra entre ricos e pobres, quando todos os outros fatores sto idénticos (moral, fisico, equipamento, treino, taticas etc.) 08 ricos estao des- | tinados a ganhar, Eevidente que, ao longo da prolongada luta entre portugueses ¢ holan- deses, nem sempre esses fatores foram idénticos. No caso de dois deles, o fist Sea disciplina, a vantagem pertencia aos holandeses, especialmente no tea- 129 ea Osalistados nas companhias holandesas das Indias Orien. 0.08 lis jentais eram, evid do alemaes, gem maior de hol de comentarios invejosos de seus s vezes 0s holandeses resmunga. lentemente, mercenarios, € entre os so). franceses, escandinavos € (antes de landeses entre Os oficiais, tro de guerra asistic tais e das Indias Ocid dados rasos havia sobretu 1652) ingleses, embora com porcenta | 0 fisico dos europeus nérdicos era MOH rios no Brasil ¢ no Ceilo; e se muita — a insuficiénc acées, eram invariavelmente mais bem yam quanto a insuficiéncia de suas ras! alimentados do que os portugueses. Os soldados portugueses quase mortos de fore que se encontravam no C eilao, em 1644, queixavam-se: Estamos tio ‘em trés de nds se equiparam a um holandés” O ofi- advers: magros ¢ famintos que ni 0 ) is antigo, presente na reconquista da Bahia em maio de cial portugués mais 1625, escreveu sobre a guarnigao holandesa derrotada; “Eram: todos jovens, homens escolhidos que brilhariam em qualquer infantaria do mundo”. Um dos defensores portugueses da Bahia, por ocasido do segundo ataque holan- dés, em 1638, escreveu em seu didrio depois que o assalto final foi repelido: “Contamos os seus mortos quando os entregamos — 327 dos mais perfeitos que jamais poderiamos ter visto; pareciam gigantes e eram, sem ditvida, a flor da tropa holandesa’. Par outro lado, os soldados portugueses, mandados como carne de ca- | hao para os campos de batalha coloniais durante todo o século xv, eram uiase sempre recrutados a forca entre presos e criminosos condenados, como etic, oe” es je queixas das autoridades de Goa ee ees lades da metrépole desconheciam as des- rutamei Faria, 0 erudito cénego de Ev ciatdalag ident aa fora, escreveu em 1622, apds ter recebido a noti- nto acarretava. Manuel Severim de Opinio idéntica foi ; ) express pltdo JoH0 Ribeiro, veteran nen 8 & Sessenta anos mais tarde pelo ce fa guerra aA SMe ocorreu no Ceilaéo entre 1640 ¢ LOT ON M Op ea 1658) @ propésito dos contingentes de condenados enviados anualmente da ty of. "de eng Un Tan. ido 2itos flor \ prisio do Limoeiro: Porque aquele que se comporta mal em Portugal nao ‘ode se comportar bem na India’. Tampouco s4o menos numerosas as quei- sofas de que uma porcentagem demasiado elevada dos novos recrutas rbarcados para asconuistas era ce meras criancas — era relativamente co- srumhaver‘soldados” de doze, deze oito anos, esabe-se de alguns de apenas cis, Além disso, muitos dos melhores recrutas adultos trocavam prontamen- teaespada de soldado pelo habito do monge ou pela batina do novigo jesut- ta, pouco depois da chegada a Goa. Esse costume foi tema de grande parte da correspondéncia acrimoniosa entre a Coroa, 0s vice-reis eas autoridades ecle- siésticas a0 longo de todo o século xvii. A propria ps ersisténcia dessa corres- pondéncia mostra que nunca se conseguiu erradicar 0 abuso, apesar de todas as invectivas reais e dos vice-reis contra ele. ‘A caréncia de disciplina rigida ¢ de treinamento militar adequado em tempo de paz também colocou os portugueses em franca desvantagem dian- tede seus adversarios holandeses. Foi o que ocorreu na Asia, onde, por motivos que discutiremos no capitulo 13, os portugueses, durante quase dois séculos, abstiveram-se de organizar unidades militares permanentes. A tinica tatica que utilizavam era uma investida desorganizada ao grito guerreiro de “Santia- goeaeles!” Mesmo na Europa, os portugueses eram sempre os tltimos a ado- tar qualquer inova¢ao nas taticas, no treinamento e no equipamento, como afirmou dom Francisco Manuel de Melo, preeminente escritor com experién- cia naval e militar consideravel, em suas Epandforas de 1660. Isso era bastan- teestranho, uma vez que seus vizinhos espanhois estiveram na vanguarda do Progresso militar durante todo o século xvi. Conseqiientemente, os portu- gueses foram alvo de muitas criticas desdenhosas de seus contemporaneos castelhanos, entre 1580 ¢ 1640, por causa de sua “ Qualquer forma de disciplina militar”. ‘completa ignorancia de aes ¢ lugares criticos, quando eram necessarios cuidados ¢ vigilancia idicionais, Francisco Rodrigues da Silveira escrevia por experiéncia pessoal a0 Se queixar, em 1595, de que os soldados da guarnigio de Ormuz, em sua maio- "ia, habitavam e dormiam fora da fortaleza, chegavam para o servico de sent mM ela duas horas atrasados € quando se apresentavam, tardiamente, mandavam: 431 viegeonentrente De suas armas, iets mari. jt an eecmnbarcaramn Pertolu cl ial nno ano das trégua de sem ter encontrado niinguém, nem ter sido inte. ineluindo a guarnigdo) dormia profundamente Gis tro horas, de meio-dia as quatro da tarde. As guarnic0es portu. ane ‘ossuiam armas suficientes, € quando a situagao nao era semen eee ace sstavam maltratadas, enferrujadas ou inaprestavei TT tempo de Afonso de Albuquerque. Poderiamos dar outros inumeraveis exem- plos daquilo que Manuel Severim de Faria qualifica com indignagao como: um negro (0 nheiros holandeses ae de 1649, entraram na cida pelados, j que a populace ( essa abomindvel negligéncia em que vivem nossos,portugueses’Para/alem di barra de Lisboa, como se estivessem em seguranga em casa, no interior de Por- tugal. Iso os levou muitas vezes aos reveses mais terriveis, pois ao Iutar desar mados contra adversérios fortemente armados ou somos derrotados ou entio escapamos por um milagre do Como em todos 0s confrontos que se arrastam por muito tempo, o de- ‘curso da luta entre portugueses ¢ holandeses no mundo tropical foi amargu- . ( rado por acusacdes mituas de atrocidades e de crueldades infligidas aos pri- sioneiros de guerra. Aconteceu especialmente na campanha de Pernambuco a 1644-54, ee cada parte acusou a outra de incitar os respectivos auxi- fe a eer selvagens, ¢ em que os chefes deam- eee ee Eee! ps 8 préprios homens de poupar 0 adversitio: eildo, 0 cabo Saar conta como ele e alguns dé eis ahoitadas mee fs BS ee rea sido maltratados quando prisioneiros dos port" outubrode 16s N8*S €™ fuga depois da batalha de Paniture,¢™ Porque embora nossos oficiais clementes, por isso mostremo 08! agimos, no entanto, as ee » Como se Nao 0s tivéssemos ouvido, e atiramos nos ho” Vigor e cortamo: see Gritassem: “Camaradas, chamam-nos holandes¢s Nos realm A Sa * realmente assim e poupemos nossos inim 132, RIPLE CAMERA n tis b © odium_theologicum também desempenhou seu papel ao exacerbar o aio mituo,¢ 05 portugueses se queixavam de que quando sofriam nas mios gos holandeses, quer no Ceildo, quer no Brasil, seus piores opressores eram &m geral os zelosos calvinistas, ou “pichelingues’, como lhes chamavam por ‘ausa da pronincia incorreta da palavra Vissingen (“rubor da face”). ‘Tendo em vista as vantagens de que os holandeses dispunham, dentre as quaisenumerei apenas algumas, pode-se perguntar por que levaram sessenta anos para conquistar parte da Asia portuguesa, e por que fracassaram com- pletamente em Angola eno Brasil depois de um comego tao promissor. Entre 9s varios motivos possiveis, podemos mencionar alguns. Embora nao possa haver diividas de que, individualmente, os mercenérios holandeses eram, de modo geral, mais fortes fisicamente do que seus adversérios portugueses, es- tes estavam muitas vezes mais bem aclimados nos trépicos. Isso ajuda a expli car a vitoria final luso-brasileira no Bra ‘em 1648 e 1649 foram vencidas por homens habituados ao sol tropical e hé- sil, onde as batalhas dos Guararapes beis nas lutas no mato contra os que tinham sido treinados nos campos de ba- talhas mais frescos e formais de Flandres e da Alemanha. No Ceilio tropical, poroutro lado, a vit6ria final coube aos holandeses. Em parte, sem duvida, em virtude da ajuda que receberam de seus aliados cingaleses — ainda que os portugueses também tivessem seus lascarins, ou auxiliares, cingaleses figis — mas sobretudo devido a incompeténcia crdnica do alto comando portugues. na ilha. Em contrapartida, em Pernambuco, os luso-brasileiros apresentaram 0s chefes mais eficientes, reunidos naquele notavel triunvirato: Joao Fernan- des Vieira (nascido na Madeira), André Vidal de Negreiros (nascido no Bra- sil) e Francisco Barreto (nascido no Peru), habilmente secundados, como ja mencionado, pelo amerindio Filipe Camaro e pelo negro Henrique Dias. As vicissitudes da luta em terra contrastavam fortemente com 0 curso da luta no mar, onde desde o inicio os holandeses estabeleceram e mantiveram eat ridade esmagadora, tanto no Indico como no Atlantico sul. Mesmo quando Perderam temporariamente 0 comando no mar com resultados desastrosos Para eles préprios, como aconteceu em Luanda, em agosto de 1648, ¢ em Re~ cife, em janeiro de 1654, isso nao se deveu a nenhuma derrota naval causada Pelos adversérios, mas a uma estratégia mal calculada ¢ a falhas administrat- ¥AS, associadas a acidentes provocados pelo vento € Pp Excluindo consideracoes desse tipo, um tanto técnicas, 0 motivo basico 133 elo tempo. 4a m conservar parte tao grande de seu ge. apesar da superioridade esmagadora dos holande. que, com todos 0s seus eros fixaram raj | mais profundas como! Golonizadores, Consequentemen a geral nao podiam | erafastados da cena apenas POF ANS de uma derrota mi he ou mesino por \ uma série de derrotas, como as que sofreram no Nordeste do Baal entre 1630 © 61640, e em Angola entre 1641 e 1648. Muitos holanie) tinham conscién. que impressionow observadores tao diferentes quanto o gover- ‘emen, na Batavia, e 0 cabo Johann Saar, no Cei- eriores em Amsterda, em 1642: ; ia pelo qual os portusueses conseguit crépito império maritimes ses em muitos aspectos, dessese® cia desse fato, nador-geral Antonio van Dis Jao. O primeiro escreveu a seus SUP -Amaoria dos portagueses na India (= Asia) considera essa seiatisbali tal. Jé ndo pensam mais em Portugal. Comerciam pouco ou nada com Portugal, ‘econtentam-s¢ com o comércio entre portos da Asia, exatamente como se fos- sem dali e nao tivessem nenhum outro pats. 0 cabo Saar, depois de alguns anos de servigo contra os portugueses no lao, escreveu sobre eles, vinte anos mais tarde: Seja ande for que cheguem, cles pretondem se estabelecer a oxesto da vida, - oa mais pensam em voltar para Portugal outra vez. Mas um holandés, quan do chega & Asia, pensa “Quando meu periodo de seis anos de servigo acabar, vol- "to outra vez para a Europa’, can me ie ae podiam ser (e foram) feitas 40 { EM Gpilisede Betguclaso leses no Nordeste brasileiro e ao longo da co Re cdareity a ae Johan Maurits [Mauricio] de Nas re ee tests 6 reconllectigeee mui Pe Face simenosaas, deixou de avisar a seus superiores em Hai ¢ ” # menos que enviassem colonos holandeses, alemaes ¢ & candinavos em grand. colonos Pret ne substituir (ow para se misturar com) 0° fre Sempre se manter e ira oportuni Pportugueses de coraga0 ae aes be ra ocorreu em julho de 1645: aonde iste Taverni a \ quer que vao, tornam o lugar melhor nee Eee que lhes suce¢ Ib 134 Des a a \ yanto os holandeses tentam destruir todas as coisas onde quer que ponham ‘Tavernier tinha idéias notoriamente os pes”: deses, mas é verdade que, como explicow 0 « preconcebidas contra os holan- abo Saar, quando conquistaram Colombo, Cochim e outras colénias portuguesas bem construidas, desmante- laram muitas casas, muralhas e fortificagdes, contentando-se com cerca de aim terso da superficie ocupada por seus predecessores. também verdade que durante o século xv1, 05 portugueses, di ramo ireta e indiretamente, dissemina- cultivo do cravo-da-india nas Molucas, em especial ao introduzi-lo em ‘Amboino. Os holandeses, por sua vez, cortaram, mais tarde, enorme quanti- dade de craveiros-da-india para nao correrem 0 risco de excesso de produgao, eforgaram (por meios chamados Hongi-toch tea cles, 0 que os portugueses nunca foram ten) a venda do cravo unicamen- capazes de fazer. Os portugueses também haviam abastecido a ilha desabitada de Santa Helena com arvores frutiferas, porcos, cabras etc., para que servi ‘isse de escala onde os navios da Carreira da India pudessem conseguir alimentos frescos, caso houvesse essa necessidade. Os holandeses, nas primeiras idas a ilha, cortaram as arvores € tentaram devast4-la, mas acabaram alterando essa politica destrutiva e segui ram 0 costume portugués. Embora os portugueses, quase sempre, e com brutalidade, reforgassem suas reivindicagdes a0 monopélio da “conquista, navegacao ¢ comércio” do oceano Indico, os holandeses ficaram contrariados ao descobrir, quando con- testaram, com éxito, tais pretensdes monopolistas, que os indianos “eram, no entanto, mais favoraveis aos portugueses do 1a”, como Gillis van Ravewsteyn escreveu de que a qualquer outra nagao cris- Surate, em 1618. Quarenta e trés anos depois, Willem Schouten queixou-se de que os pescadores de pérolas de Tuticorim preferiam, de longe, os opressores portugueses aos libertadores ho- Iandeses. Encontramos muitas declaragdes semelhantes de outros holandeses com longa experiéncia na Asia reproduzidas na obra enciclopédica de Pieter van Dam, compilada para informagao con! Companhia Holandesa das Indias Orientais fidencial dos administradores da no final do século xvi. Van Dam afirmava que, embora os portugueses muitas vezes maltratassem ¢ afrontas- Sem 0s indianos,“capturando e queimando seus navios, causando estragos em Sus portos e os atacando, convertendo a fors: Con taxas arbitrérias aos carregamentos que enviam por mar, se orgulhosa e arrogantemente em sua terra’ negociar com os portugueses a faze-l a seuss cativos ao cristianismo, apli- comportan- ainda assim 0s indianos pre- lo com quaisquer outros europeus. 435 tudo portugueses, afirmam que os ; sidticos (ainda que nAo a todos), de. aide dos anos Oran aie ee que Se cASQVAM COM milhe. almente & proPorsi | de europeus nérdicos, € ao fato de nao te. ape oct dado grande desconto a essas duas as que chegaram do séeulo xvi, bret Muitos escritores modernos; $0 comum a outros a: via-se princip res indianas, mui ct cor. Deve ser | rem nenhum preconceito de cor De 0 alids, nao se encontram entre : ’ ‘eres asidticas, apesar de nao se casarem com elas com tanta freqiiéncia as mulheres em questao eram quase sempre onvertidas ao cristianismo, consi- mulh como os portugueses. Ademais, de casta ou classe baixa, ou prostitutas, ou c d is ; deradas renegadas por seus compatriotas respeitaveis; portanto, nao exerciam nenhuma influéncia na vida politica nem na politica econdmica. Longe de nao terem preconceito racial, os portugueses, a0 contrario, mostravam que 0 tinham, e em alto grau, em varias esferas, como se explica no capitul eo 11,além do fato de (como observou Linschoten, sem exagerar demais), “em todos os lugares, serem senhores e donos, desprezando e aviltando os habitantes”. Diversos funcionérios e comerciantes holandeses no Oriente observaram que os portugueses gozavam de significativa vantagem sobre os holandeses em face da influéncia € do prestigio que os missiondrios catélicos romanos | adquiriram em varias regides. Vimos anteriormente que os métodos portu- gueses de propagacao da fé eram as vezes mais coercivos do que persuasivos em locais onde exerciam 0 poder politico livre de entraves, mas, onde conse- guiam implantar o catolicismo romano, tonio van Diemen, das Indias Holand. litismo religioso, este em geral criava rafzes firmes. An- um dos poucos governadores-gerais zelosamente calvinistas lesas Orientais, notou, com pesar, que, no campo do prose- ne i apenas * missionarios portugueses “sio muito superiores a nds, € tas i demonstram maior zelo e energia do que nossos prega- © éxito dos port See ee pease de suas posicées perigosamente &x- jundam, Oca a! entalmente “ao fato de seus padres € set ‘ e de, conseguindo garantit lerem si m sido capazes de colher todos 0s be- queixourse de ave 0s bantos da regiao do Zambeze e do litoral mogambicano wip comerciavam com os portugueses que mantém alguns padres na costa smartima, que insPiram uum temor excessivo aos nativos tolos e conseguem as presas de eefante e 0 ouro em troca de bagatclas Os missiondris jsuitas na forte de Pequim foram os grandes responséveis pelo fracasso de todos os es- forsos dos holandeses com vistas a estabelecer um comércio oficialmente re- conhecido com a China, embora as autoridades provinciais de Kwantung ¢ Fuquiém estivessem, em geral, a favor da aceitagao dos “barbaros de cabelo yermelho”, apés 0 inicio da dinastia Manchu em 1644. ‘Acestreita cooperagio entre a Cruz e a Coroa, uma das caracteristicas dos impérios ibéricos, nem sempre foi, evidentemente, vantajosa para os portu- gueses em sua Iuta contra os holandeses. O receio de uma “quinta-coluna” rista constituiu uma das principais razGes para o fechamento do pais, orde- nado pelo governo japonés,a todos os europeus, com excecao dos holandeses, em 1639. Esse receio, que havia muito estava latente no pensamento dos dita- dores militares japoneses, foi deliberadamente exacerbado pelos holandeses ¢ ingleses protestantes, no principio do século xvi, com a dentincia de que os missionérios catdlicos eram perigosos agentes subversivos. No outro lado do mundo, 0 rei catélico romano do Congo e seu clero nativo, apesar de rejeitar sem hesitagdo as tentativas de propaganda dos calvinistas holandeses, aco- Ihiam com entusiasmo as noticias das vitorias holandesas. Chegaram até a re- zar nas igrejas pelo éxito dos exércitos holandeses protestantes contra os por- tugueses catdlicos em Angola, entre 1641 ¢ 1648. Dom Mateus de Castro, bispo titular de Cris6polis, goense de nascimento, cultivava tamanha antipatia por seus correligiondrios portugueses que incitou, de um lado, a calvinista Compa- hia Holandesa das Indias Orientais e, de outro, 0 sultio muculmano de Bijapur a atacarem Goa, na década de 1644 a 1654. Embora os missiondrios jesuitas fossem muitas vezes bem recebidos como enviados a corte do grao-mogol, © “grao-sulf” da Pérsia, x4 Abbas 1, solicitou, em 1614, que nao Ihe mandassem mais frades agostinianos nem padres jesuitas como enviados diplomaticos, “Porque um religioso fora de sua cela era como um peixe fora d’égua’: Mas atitude do x4 Abbas nao era compartilhada por muitos na Asia. Na India e no Japio, respectivamente, os bramanes e os sacerdotes budistas nao raro éram utilizados como enviados diplomaticos, e a maioria dos governantes asiticos Nao via incongruéncia no fato de missiondrios portugueses desempenharem fungoes dessa natureza. B7 >. do modo, as autoridades holandesas admitiam, com pesar, que seus De todo modo, . nS ae Ivinistas ou predikarsten jamels poderiam competit em igualdade Se télicos romanos. Durante a ocupasao holande. \ ge condigdes com os padres ca ; ec ndeses se aproximaram da (ou se Pernambuco (1630-54), muitos hola: sa de Pernambuco ( 4 ‘aram com a) Igreja de Romas enquanto os conversos do catoli reconcilia para o calvinismo eram t80 Faros quanto ae nae oe sae se ossessdes portuguesas asiaticas conquistadas pelos holandeses,¢ nidade cat6lica romana sob 0 dominio dos ‘de Malaca, de Coromandel, do Ceilao e de ‘Malabar, sempre que podiam, e muitas vezes a custa de grandes riscos pessoais, deixavam o predikant pregando para as paredes ¢ espucitavamn-ss Pata OWE qualquer padre catélico romano disfarcado, de passagem, dizer a missa, bati- srr os filhos deles ou celebrar casamentos. Com poucas excegdes — sendo ‘Amboino a principal —, os conversos a0 calvinismo pelos holandeses nas an- tigas possessbes portuguesas nao deixaram nenhum vestigio no mundo tro pical da atualidade, enquanto as comunidades catdlicas romanas semeadas passou nas P onde quer que houvesse uma com hereges. Os eurasiaticos da Batavia, pelos portugueses ainda florescem em muitas regides. Outro motivo por que os asidticos — ou muitos deles — preferiam lidar com os portugueses e nao com os ingleses ou com os holandeses foi explica- do pelo cronista Antonio Bocarro, quando escreveu sobre 0 comércio de t&x- teis em Guzerate, em 1614, Enquanto os portugueses, mais pobres ¢ mais mo- destos, empregavam nativos da regiao para empacotar, transportar e carregar ‘tudo o que compravam em terra, as Companhias Holandesa e Inglesa das ias Orientais insistiam em fazer com que muito desse trabalho manual e i” Por seus préprios marinheiros e empregados brancos. Além ee a veo aes local, os Portugueses se conten- Si Fane Mono cinco hint na mosh © declinio do comércio portugués com ee Agra, ao escrever sobre 1626, obseryou: Por causa dessa decadénci cia, Somos amaldicoados nao sé pelos portugueses, = pelos hindus e muculln nee ee Pi pcica ¥¢ Jogam toda a culpa em nés dizendo que somos le; Porque, mesmo que o comércio holandes eingl&S valesse um milhao de anterior que era Pitucc: Snuuais, isso no se pode comparar com 0 comérci0 , vezes superior, nao s6 ' i Eee Peril: $6 na India mas também na Arébit 138 ae | % Correndo 0 risco de excessiva simplificagao, talvez possamos dizer que, « mipora 0s holandeses fossem, a principio, calorosamente acolhidos por muitos « pos asiticos como reaydo a0 orgulho eas pretens0es portuguesa, a expe- te Mpc nao demoraria a mostrar que os que cairam na esfera do monopélio a da Companhia Holandesa das Indias Orientais safram da frigideira e cafram x ‘ brasa. we ‘Além da luta direta e da rivalidade econdmica, politica e religiosa entre & portugueses holandeses, outra caracteristica dessa luta merece ser mencio- | « nada: a batalha entre as duas linguas. Quanto a esse aspecto, os portugueses 3 Jevaram a palma com facilidade. Uma vez que a expansio ultramarina da Eu- ® ropa foi iniciada pelos portugueses, a lingua portuguesa (ou uma adaptagao + dela) tornou-se a lingua franca da maioria das regides costeiras que eles abri- e yam ao comércio ¢ aos empreendimentos europeus em ambos os lados do 7 globo, Por ocasiao do confronto com os holandeses, a lingua portuguesa ja 2 riara raizes demasiado profundas para ser erradicada, mesmo nos dominios & ‘coloniais em que os holandeses tentaram substituf-la. Durante os 24 anos em que os holandeses dominaram todo ou parte do Nordeste brasileiro, a popu- Z lagdo subjugada recusou-se obstinadamente a aprender a lingua de seus se- £ nhores heréticos, e acredita-se que apenas duas palavras holandesas sobrevi- & yeram na linguagem popular pernambucana. Em Angola e no Congo, apesar & dea grande maioria dos bantos ter se reunido em torno dos holandeses entre a 1641 e 1648, seus escravos, auxiliares e aliados negros continuaram a utilizar fi © portugués e nao fizeram nenhum esforco para aprender 0 holandés. No i Nordeste brasileiro, varios filhos de chefes tapuias foram enviados & Holanda | com 0 propésito de ser educados, ¢ la aprenderam a lingua e se converteram ; a religido dos holandeses. Mas poucas andorinhas nao fazem verdo, € 0s mis- i sionérios jesuitas logo destrufram qualquer vestigio de influéncia holandesa entre os amerindios brasileiros, a partir d€1656. Na Asia, o portugués, ou, antes, as formas crioulas que dele procederam, , Tesistiram com éxito mais notivel a pressdo ¢ a legislagao oficial holandess. O if a (ou imperador) de Candi, no Ceilao, o raja Sinha 1 (1629-87), suber 3 ‘ ae es aliado aos holandeses contra as portugueses, eae a ae = = ; ee u despachos escritos em holandés ¢ insistiu om que fossem esc = tugués, lingua que falava e escrevia com fluéncia. Os governantes mus! anos de Macacar também falavam portugués fluente, ¢ um deles tinha at¢ 139 > ae | as obras devocionais do escritor espanhol frei Luis de Jido no original todas 4 < il de 1645, Gerrit D Granada, OP. Em abr observou que o portugu faceis ¢ mais atrativas para 0s fa vitoria da lingua de Ca holandesa da Batavia, “a rainha dos mares orien- os pés ld, a nao ser como prisioneiros de de passagem. No entanto, 0 dialeto criou- emmer, governador das Molucas, acgnaté mesmo o inglés pareciam serlinguas mi “tivos de Amboino do que o holandés. A pro. mais espantosa d moes sobre a de Vondel foi a for- va necida pela capital colonial tais”, Os portugueses nunca puseram guerra ou como visitantes ocasionais € Jo procedente do portugués foi introduzido por escra¥08 e criados domésticos da regio da baia de Bengala ¢ era falado pelos holandeses e pelas mulheres de nascidos ¢ criados na Batavia, as vezes com exclusio da propria lingua materna. Houve muitas criticas oficiais a esse costume; mas como autoridades da Batavia observaram em 1647, a maior parte dos holan- ddeses considerava “uma grande honra saber falar uma lingua estrangeira’ — J a0 contrario de seus antecessores portugueses e sucessores ingleses © france- casta intermediaria, | ses criadores de impérios. O mesmo se passou em muitos outros lugares; até no cabo da Boa Esperanga, onde as condigdes favoreceram o desenvolvimen- ao branca depois das primeiras décadas dificeis, 0 portugues crioulo manteve-se durante muito tempo como lingua franca, ¢ nao deixou to da coloni de ter influéncia no desenvolvimento do africaner. O governador-geral Johan Maetsuyker e seu conselho na Batavia assim explicaram aos administradores da Companhia Holandesa das Indias Orientais, em 1659: Alingua portuguesa ¢ facil de gua portuguesa ¢ ficil de falar e de aprender. F esse o motivo por que 30 Podemos impedir os escravos trazidos para ca de Arakan, que nunca ouviram uma s Palavra sequer de portugues (e até nossos proprios filhos), de preferirem Tingua a todas as outras e de a considerarem a sua,

Você também pode gostar