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SOBRETENSOES

{anuel Coelho"

Descargas Atmosféricas.
Bases da Proteccão ;)

resumo abstract
A filosofia da moderna concepção de sistemas de The modem concepts in externa! lightning protec-
protecção exterior contra descargas atmosféricas assenta uon are based upon lhe iroditional ways alui lhe so
r.a adopção dos métodos convencionais de protecção colled «electrogeometrical mode!», which is COtn171on/\
e na utilização do modelo electrogeométrico para a uscd to verify lhe proper protection conditions. Thi
verificação das condições de vulnerabilidade do siste- paper shortly rcmembers such basic concepts.
ma. Neste artigo abordam-se, sumariamente, aquelas
noções básicas de concepção.

1 Introdução posicionamento dos vários elementos do si terna de


protecção relativamente ao volume que ~L' pretende
A necessidade de conseguir a protecção de edifí- proteger.
cios e outras estruturas contra Os efeitos resultantes A filosofia de base de qualquer sistema de protec-
elas descargas atmosféricas directas que sobre eles ção consiste em defender o volume a proteger por
possam incidir tem vindo a determinar o desenvolvi- meio de um conjunto de condutores eléctricos que
mento das mais diversas propostas de sistemas de possibil ite à descarga incidenre um cam ln ho alterna-
protecção, desde a simples haste vertical imaginada tivo e preferencial eH1 direcção à massa condutora da
por Franklin até ao uso de sofisticados processos para Terra, devendo aquele sistema ser concebido de forma
prod uzi r uma ionização adicional na vizi nhança do a minimizar também os efeitos da descarga que se

sistema. manifestam fora do percurso da corrente de descarga
Desde os primeiros estudos do problema subsiste (efeitos electrodinârnicos e de indução, por exemplo).
urna questão, fundamental na definição da eficácia do Recorda-se que os sistemas de protecção contra
sistema projectado. que consiste na determinação do c'escargas atmosféricas (SPDA) são compostos, essen-
volume potencialmente protegido pelo sistema ou, o cialmente. por três parles:
que 0 o mesmo, no estabelecimento de uma «zona de
influencia» dos elementos captores localizados no volu- • Elementos de captura
PIe a proteger Oll nas suas proximidades. • Condutores descendentes
Das di vc rsas teorias que foram sendo desen vol vi-
• Eléctrodos de terra
das na tentativa de explicar qualitativa e quantitativa-
mente o processo de captura da descarga atmosférica, Os elementos de captura constituem a parte do
acuela que tem demonstrado maior aproximação à
sistema a instalar nas zonas de maior probabilidade
realidade é a chamada «teoria electrogeométrica», cujo
de incidência de descargas atmosféricas, pretendendo-se
modelo rnutcmático permite definir com razoável apro-
que constituam sempre os pontos de entrada no sistema.
ximação a distância a partir da qual fica determinado
o ponto de impacto da descarga. possibilitando assim
o estabelecimento dos critérios mais adequados para o C*) Eng," Electrotécnico (FEUP), Sigma, Lda POI to

ELECTRICIDADE - N.o 225 -IU1l10 1986 261


o conjunto dos condutores descendentes destina-se Aplicando a expressão referida e considerando uma
a conduzir a corrente de descarga desde os elementos latitude média de 40 para o território de Portugal
0

ce captura até ao conjunto de eléctrodos de terra, atra- Continental obtêm-se os valores do Quadro I, tendo-se
ves dos quais se fará a disseminação daquela corrente tomado para cada distrito o maior nível ceráunico nele
na massa condutora da Terra. verificado. Não se incluem neste quadro as regiões
O dimensionamento, extensao e posicionamento autónomas dos Açores e da Madeira por falta de dados
dos elementos constituintes do SPDA são resultado de relativos aos respectivos níveis ceráunicos por parte
um compromisso entre o valor da estrutura a proteger, do INMG.
co seu conteúdo ou dos custos da sua indisponibili- Uma outra expressão, mais recentemente estabele-
dade para o serviço a que se destina e o custo do cida no âmbito dos trabalhos ligados à Comissão de
sistema projectado, devendo ser sempre tornado em Estudos 33 de CIGRE (Conference lnternacionale des
consideração o carácter aleatório e a natureza proba- Grands Reseaux Electriques) [3], é a seguinte:
bilística dos dados disponíveis sobre a distribuição
geográfica e a intensidade do fenómeno, bem como N ·
= 0023
,
Nt1,3
eventuais factores agravantes ou atenuantes dos ris-
cos associados à incidência de descargas (característi- Esta expressão aplica-se sempre que não seja pos-
cas topográficas do terreno, vulnerabilidade da estru- sível estabelecer o valor de N8 por meio de aparelhos
tura a proteger, perigosidade intrínseca ligada à insta- automáticos de contagem de densidade de descargas no
tação, tal como aglomeração de pessoas, riscos de solo, devendo contudo notar-se que, nesse caso, a
explosão ou de disseminação de elementos venenosos dispersão da estimativa poderá atingir valores da ordem
ou radioactivos, etc.). dos 100 0/0.
O problema da conveniência ou da necessidade de Note-se que os valores incluídos no Quadro I cor-
dotar alguns tipos de estrutura com SPDA será abor- respondem, aproximadamente, ao limite superior da
dado noutra ocasião. dispersão referida.

QUADRO I
~- Avaliação da densidade esperada de
Nível ceráunico máximo e densidade esperada de descargas,
descargas atmosféricas em solo plano
por Distrito, no território do Continente

Uma das primeira questões a colocar no estudo de N.


DISTRITO K~
um sistema de protecção contra descargas atmosféricas [Dia...Ano] max. r oe« /krn? /ano]
será, naturalmente, a que se relaciona com a frequên- Aveiro . .. ·.. · .. · .. ·.. ·.. 15 1,95
cia de incidência de descargas sobre a área de implan- Braga ·.. ·.. ·.. · .. · .. ·.. · .. 20 2,6
tação do volume a proteger. Tal informação é obtida
a partir de cartas de curvas isoceráunicas, elaboradas Bragança ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. 15 1,95
pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, Beja · .. ·.. · .. · .. ·.. ·.. ·.. 20 2.6
das quais se obtém a indicação do número médio anual Castelo Branco ·.. ·.. ·.. ·.. 30 3,9
de dias de trovoada em cada região.
Coimbra ·.. ·.. ·.. ·.. · .. ·.. 20 2,6
A partir de informação referida é possível avaliar
o número aproximado de descargas por unidade de Évora ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. 20 2.6
superfície e por ano numa dada região, por recurso a Faro ·.. ·.. ·.. ·.. . . ·.. ·.. 10 1,3
fórmulas empíricas, das quais se dá como exemplo a
Guarda ·.. ·.. ·.. · .. ·.. ·.. 20 2,6
seguinte:
Leiria ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. · .. 15 1,95
Na = N, (0,1 + 0,35 sen a) . (0,4 -+- 0,2) Lisboa ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. · .. 10 1,3

em que:
Portalegre ·.. ·.. ·.. • •• ·.. ·.. 20 2,6
Porto ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. · .. ·.. 20 2,6
N I; - densidade de descagas em solo plano, Santarém · .. · .. ·.. ·.. ·.. · .. 10 1,3
expressa em n." de descargas por km2 e
Setúbal ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. 15 1,95
por ano.
Viana do Castelo · .. ·.. ·.. ·.. 15 1,95
Ní - nível ceráunico do local, expresso em n."
de dias de trovoada por ano. Vila Real ·.. ·.. ·.. · .. ·.. ·.. 20 2,6
a -latitude do lugar. Viseu ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. ·.. 20 2.6

262 ELECTRICIDADE - n: 225 - Julho 1986


Do CODhecunento da expressão referida ficamos
portanto, em condições de determinar a distancia de
escorvamento entre o traçador e qualquer obje 'to 11 -
do a Terra i to e, podemos definir o volume d in-
do mgcIeJo fiuência de um elemento potencialmente captor.
A expressão anahtica resultante do modelo mate-
atmosférica é antecedida
mático referido é:
~ da bise da nuvem e no
um «traçador» ou «stepped
:do que um canal ionizado que d = 2 1 + 30 1 - exp (_ 1 )]
e progride por saltos sucessivos 6,8
10"(1).
com a distância d e pressa em metros e sendo 1 o v, lor
O êllJ8I ionjzado referido uma ligação
de pico da corrente de descarga c presso em k
• 2XDI da nuvem que admitimos carre-
a extremidade do traçador em Note-se, porém, uma e pre ão simplificada que da
da erra contém uma muito grande con- resultados equivalentes, nomeadamente para valore
eléctricas negativas, conduzindo de I compreendidos entre 10 a 50 kA
dpido creseímento do campo eléctrico à
Da sua vertical, com a consequente criação d = 9,4 12 3
de .ium
contrário, os quais se desenvolvem
com d em metros. Deve-se sublinhar que, pelos pIO-
ob~ salientes do solo e electricamente
terra. pnos factores de incerteza admitidos na teoria electro
a diatância do traçador ao solo é grande,
1.&....
geométrica as expressões reproduzidas não pretendem
referidos são de pequena intensidade e a definir distâncias de escorvamento e actas ma apenas
carga eléctrica é neutralizada nas camadas inferio- os seus valores aproximados.
atDJnlfera. Porém, quando a distância do traça- Em conclusão podemos dizer que, segundo o m -
ao 8Olo se i'edyz suficientemente, um dos eflúvios delo electrogeométrico, (o objecto que em primeiro
(pl'Ova*lmente um que seja emitido por lugar se encontre a uma distância da c tremidade do
.-",......
próximo do traçador
ou com melhores traçador igual à distância de escorvamento atrás refe-
de propagação do potencial da Terra) con- rida (d), constituirá o ponto de impacto da descarg ,
ektremidade do traçador J ficando a partir seja aquele objecto um corpo electricamente ligado ti
.O"'ento estabelecido o caminho eléctrico nu- Terra (peças metálicas árvores, rochas, etc.) seja me
,'..
"""'-

e, consequentemente, definido o ponto de mo o próprio solo».


da descarga.
Bota, sublinha-se que até ao momento do
cIttlUa extt:emidade com o fluxo de iões 32- Aplicação directa do ME na definição da
*bll mferidoa, o percurso do traçador é per- área protegida ao nível do solo
aleatório, não sofrendo até àquele momento,
.. be, qualquer influência de objectos Considere-se a existcncia de um ponto COI1<. li ot
do 8010. potencial da ferra instalado na extremidade de lima
coaaideraçóes qualitatTvas referidas haste vertical de material i olante com al ura h p t
quantitativo relacionadas, nome a- J.J, na figura 1).
• carp eléctrica contida na extremidade O lugar geometrico dos ponto situadoa j u I di
o consequente campo eléctrico à h ncia do solo e da extremidade da haste con tatua a
no início dos anos 60 um superfície de um parabolóide de revoluçao p d ndo
.. permitiu obter uma expres- ver-se na figura 1 a intersecção (p) daquela uperfícic
ela qual se pode determinar a com um plano que contém a ha te vertical. a m m
dá o desenvolvimento de um figura, XOX repre enta a mt r ecçao do 010 c m o
de um objecto condutor ao poten- p ano vertical referido enquant qu OY a mi
objecto à e tremidade do tra- -recta que contém a h te
O ponto de impacto da des- O espaço qUe circunda ha t fie im di idid
em duas partes.

AItra/"*- o lendmMo e DI
a) Conjunto do ponto cu a di t n ia tr mt
pp 167172 dade da haste é maior do que ii ua d n I•

26J
ao solo (volume exterior ao parabolóide, área valor na equação da parábola, se pode determinar a
A na figura 1); respectiva abcissa x, ou seja, podemos definir a distân-
era no solo ao longo da qual se faz sentir a influência

b) Conjunto dos pontos que se encontram mars protectora da extremidade da haste:
próximos da extremidade da haste do que do
solo (volume interior do parabolóide, área B 112 - 2hy + xl = O
na figura 1).
h2 - 2hd + x2 = O

. e portanto 2 2
2d
y x =h ( - 1)
p h

® 2d
donde
X=hV h
- 1.

Como é evidente, pelas características de simetria


@ da haste vertical, a área de protecção ao nível do solo
d conferida pela sua extremidade superior será um cír-
H culo de raio x.
Verificamos assim que a zona de influência de um
h elemento captor localizado a determinada altura acima
do solo é função dessa mesma altura mas depende
o também da distância de escorvamento, ou seja, do
--...,,----'
J(
valor de pico da corrente associada à descarga.
Fig. 1 - Aplicação directa do modelo Electro-geométrico A existência da dependência referida, entre o raio
protegido no solo por um elemento captor e a intensi-
dade presumível da descarga é um factor muito impor-
De acordo com o modelo electrogeométrico, os tante no estabelecimento do nível da protecção e per-
pontos definidos em a) sao aqueles para os quais qual- mite explicar o motivo pelo qual se verificam, por
quer traçador neles incidente e em condições de con- vezes, penetrações de descargas de relativamente pe-
tactar um eflúvio ascendente escorvará necessariamente quena intensidade em sistemas de protecção, com loca-
para o solo, dado este encontrar-se mais próximo do lização de pontos de impacto muito próximos da base
que a extremidade da haste. das hastes protectoras.
Já no que se refere aos pontos definidos em b) o Com efeito, a observação da expressão de x mostra
ponto de impacto da descarga será a extremidade da que, para valores d menores do que a altura da haste,
haste desde que o traçador se encontre a uma distância o raio de protecção no solo se torna inferior à altura da
de H inferior ao valor da distância de escorvamento haste, reduzindo-se a zero para d = h/2.
(cl) dado pela expressão referida em 3.1. Note-se que, no caso de se considerar que a haste
Se a distância entre o traçador e a extremidade da isolada com extremidade condutora a que temos vindo
haste for superior a d, o traçador proveniente da área a referir-nos passa a ser condutora em toda a sua
TIpoderá evoluir para uma de duas situações: extensão, já não será possível uma situaçção de raio
de protecção nulo. Neste caso, e para valores decres-
1) Atravessar a parábola, passando à zona A e centes de d, inferiores a /1, tudo se passa como se a
dirigindo-se para o solo; altura da haste fosse sendo sucessivamente reduzida,
assumindo valores h' = d. Desta forma, o raio de pro-
2) Manter-se na zona B até que a sua distância ao tecção ao nível do solo conferido pela haste totalmente
ponto H se torne inferior a d, escorvando então condutora será x = d, e, portanto, sempre diferente de
para a extremidade da haste. zero.
Este tipo de análise justifica a incidência, frequen-
o limite da situação 2), a partir do qual o escor- temente verificada, de descargas atmosféricas em pon-
vamento se dará para a extremidade da haste, encon- tos intermédios de hastes condutoras de altura apre-
n a-se sobre a parábola e corresponde ao ponto em que ciável, tais como antenas, chaminés, etc., quando se
=
HT d. Podemos observar que este ponto (x, y) tem e' peraria que o ponto atingido fosse, sistematicamente,
uma ordenada de valor d, pelo que, substituindo este a sua extremidade superior.

264 ELECTRICIDADE - N.: 225 - Julho 1986


3.3 - Métodos de aplicação prática do ME No caso a), a esfera fictícia toca a haste num ponto
de cota inferior à do seu topo (excepto para o ca ..o em
3.3.1 - Método da esfera fictícia que li == d) e podemos verificar na figura 2 3) que a
altura que define o \ olume protegido e o raio da zona
Vimos anteriormente que, segundo o modelo elec- protegida ao ruvel do solo têm dimensão igual a d .
uogeométrico, o objecto que constituirá o ponto de
impacto da descarga é aquele que vier a encontrar-se, No caso b). a esfera toca invariavelmente a haste
em primeiro lugar, a uma distância do traçador igual nc seu topo e. assim) a altura protegida na zona central
à distância de escorvamento (d), quer se trate de um do volume de protecção coincide com a altura daquela
corpo electricamente ligado à Terra, quer seja o pró- haste, (fig. 2 b). O raio protegido ao nível do solo sera
prio solo.
Este princípio sugere que se associe à extremidade
2J
do traçador uma esfera fictícia, com centro naquela x, == h - 1.
h
extremidade e com um raio igual à distância de escor-
vamento (d), observando-se seguidamente todas as pos-
Com efeito. sendo a equacao de esfera
sibilidades de aproximação de tal esfera relativamente
ao objecto a proteger, sabendo-se que o primeiro local
tocado pela esfera constituirá o ponto de impacto da
(x - X)~ + (y - Y)~ == r
descarga.
e sabendo, neste caso. que XC) tem a mesma abcissa X
Assim, para verificar que determinado objecto se
do centro da esfera, resulta:
encontra devidamente resguardado por um sistema
de protecção contra descargas atmosféricas, bastará
garantir que a referida esfera, rolando no solo em todas
x == Xo

as direcções de aproximação do objecto em causa. não r ==d==Y


possa atingi-lo sem que antes contacte com um dos
elementos do sistema de protecção previsto. No topo da haste verifica-se x == O e )' == h pelo que I

Desta forma relativamente simples se poderá efec-


tear a verificação da garantia de segurança de qual- x: + (11 - d)~ == (p.
quer objecto ou construção, por utilização de maquetes
ou mesmo de desenhos do objecto em causa, qualquer e portanto X2 + 122 + cP - 2 hei == (P
destes elaborados, naturalmente, ern escala adequada.
donde se deduz ..\2 == 2 hei - h2
Veremos em seguida, a título de exemplo, a aplica-
ção do método da esfera fictícia na definição do volu-
me de protecção conferido por uma haste vertical
condutora.
e ainda ..Y == h. l / 2 d _ 1 :
Consideremos uma esfera de laia d, rolando no V h
solo (suposto plano), em redor da haste vertical. O
volume protegido pela haste será aquele que não é Sublinhe-se a semelhanca desta expressão com a
atingido pela esfera, qualquer que seja a posição desta obtida, por ou tra \' ia. em 3.2.
cm volta da haste. Será, portanto. um volume com uma
simetria de revoluçao, cm torno da haste, representan-
do a figura 2, a tracejado, metade do COI te daquele
volume, efectuado de forma a conter a referida haste
y f
vertical.
Para definir analiticamente, para este caso. a altura
protegida e o raio protegido ao 111\ el do ~010, temos T

que considerar dois casos, os quais caracterizam a zona d


--- .. I Y

d,1 haste tocada pela esfera fictícia no seu movimento


" d

de rolamento: r

J.


a) h ~ d :CI

11 < d
a)
b)
Fig. 2 - Raio de protecção ao nível do solo pelo método da
sendo h a altura da haste e ti o raio da esfera fictícia. esfera fictícia

I:LECTRIC/DADE _,\.0 225 -Julho 14S6 265


3.3.2 - Método simplificado No Quadro II indicam-se os serni-ângulos de pro-
tecção que eventualmente se poderiam considerar para
Embora a verificação do volume de protecção de os casos em que a altura da haste seja inferior aos 20
um elemento captor pelo método da esfera fictícia metros referidos, tendo-se utilizado para obter os res-
seja a forma mais aproximada para interpretar o mode- pectivos valores a expressão
lu electrcgeométrico, a sua aplicação prática é sempre
trabalhosa pela necessidade de construir modelos ou Xo
a = arc cos --:--
desenhos em escalas convenientes para um fácil manu- d
seamento do artifício de verificação.
Por tal motivo é normal a utilização de processos 2d _ 1
ou ainda h
simplificados de verificação das condições de protec- a = are cos ------Od--- .
ção, os quais são adoptados com garantia de não serem
significativamente excedidos os volumes de protecção
Observando a figura 3 pode deduzir-se a forma
que seriam obtidos com a utilização do método da
como a expressão referida foi encontrada.
esfera fictícia, reservando-se o emprego deste processo
mais exacto para os casos em que a importância do Deve notar-se que os ângulos a que temos vindo
objecto em causa ou o perigo potencial a ele ligado a fazer referência são aplicáveis se a altura da haste
a ISSO aconselhe (necessidade de graus de protecção vertical for inferior ao valor do raio de esfera fictícia
classificados de «muito elevados»). (d). Para alturas de haste superiores àquele raio, o

Assim, para os casos de protecção por um ernalhado semi-ângulo a considerar para os níveis de protecção
de condutores horizontais estipula-se normalmente que normal e elevado é sempre de 450, continuando a posi-
as dimensões de cada malha não devem exceder 10 X 20 sicionar-se o vértice do cone de protecção a uma altura
metros, para níveis de protecção normais, adoptando-se máxima de 20 metros.
as dimensões máximas de 10 X 10 metros nos casos
em que as exigências de protecção sejam maiores, como
é o caso da protecção de edifícios contendo grande
número de equipamentos electrónicos.
No que se refere à protecção por hastes verticais,
considera-se protegido o volume contido na superfície d
envolvente definida por um cone de eixo comum com
O(

cada haste, tendo o vértice coincidente com a extremi- h

dade desta e cujo semi-ângulo no vértice seja de 45°.


A altura máxima a considerar para a localização do
vértice do cone é de 20 metros, seja qual for a altura
da haste para além daquele valor.
O valor de 45° como semi-ângulo no vértice do Fig. 3 - Serni-ângulo de protecção (x) conferido por uma
haste vertical com h e d
cone de protecção refere-se a um nível de protecção
normal. Caso se pretenda um nível de protecção ele-
vado deverá baixar-se aquele valor para 25°, manten-
A utilização do valor de 45° garante, neste caso,
do-se a limitação de localização do vértice do cone
que o volume do cone de protecção nãc excede signi-
a uma altura de 20 metros.
Ircati amente os limites do volume de protecção defi-
nido pela aplicação do método da esfera fictícia.
QUADRO II

Semi-ângulo no vértice do cone de protecção em função


da altura da haste e do nível de protecção
4- Referência ~ equipamentos com efei-
ALTURA DA SEMI-ÂNGULO NO VÉRTICE (a) [graus] tos ionizantes adicionais (pára-raios
HASTE (h)
[m] Protecção Nomal Protecção Elevada Protecção Muito radioactivos, ionizantes ou electróni-
(d=57 m) (d=35 m) Elevada (d=20 m)
cos)
5 66 59 49
10 56 46 30 Os princípios Físicos referidos até aqui e que se
consideram como traduzindo genericamente os meca-
15 48 35 15
nismos de formação e impacto das descargas atmosfé-
20 41 25 - ricas, sugeriram a ideia de tentar ampliar o volume de

266 ELECTRICIDADE - N.: 225 -Julho 1986


influência dos elementos captores através de um sua extremidade, o que é irrelevante para os efeitos
aumento artificial da emissão dos eflúvios ascendentes, protectores pretendidos se nos recordarmos que o tra-
tendo os primeiros sistemas concebidos para esse fim cadoi
.. descendente ve irrev ersivelmente definido o
utilizado elementos radioactivos. os quais, conforme os ponto de imoacto da descarga varias dezenas de me-
tipos, produziriam a ionização do ar circundante atra- tros acima do solo.
vés da emissão de partículas a ou fi. TOS últimos anos e dev ido à tendência das autori-
Embora durante algumas décadas o uso dos pára- dades dos próprios países produtores de pai a-raios cio
-raios do tipo radioactivo não tivesse sofrido qualquer tipo rad-oactivo para proibir a sua instalacâo têm sido
contestação, fundamentalmente por ausência de estudos c _'mercializados outros modelos de aparelhos com a
convenientemente aprofundados e isentos sobre o seu mesma finalidade. designados por «electrónicos» ou
comportamento em condições reais e, eventualmente, «ionizantes». os quais, apresentando embora a vanta-
pela carga psicológica, então favorável, que a sua pró- gern de não possuir os radioelernentos poluidores dos
pria designação continha, a verdade é que a respectiva seus antecessores são. contudo. a eles equiv alentes no
utilizacão está hoje abandonada em praticamente todos que se refere à sua duvidosa eucacia pratica c aos seus
os países, não só pelos inconvenientes resultantes da relativamente ele, ados preços.
poluição radioactiv a incontrolada que representam, mas Assim, a tendência da tecnica de protecção contra
também porque se verificou nos mais diversos estudos as descargas atmosféricas tem \ indo a \ erificar-se no
e experiências que da sua utilização não resultavam sentido da utilizacão exclusiva dos métodos de protec-
quaisquer vantagens relativamente ao emprego de uma cão

ditos «convencionais» (Hastes Franklin ou Gaiola
simples haste condutora vertical, ligada à Terra e ins- de Faraday). os quais se rev elarn de menores custos e
talada nas mesmas condições [4, 5, 6] . de maior garantia de eficácia.
Com efeito, experiências comparativas Iorarn inten- Como exemplo da tendôncia mencionada referem-se
sivamente realizadas em laboratórios e em situacões
, os trabalhos da Comissão Técnica n.? 81 de CEI
de instalação efectiva, tendo-se verificado que o efeito (T ightning Protection), os quais apontam para a adop-
de «atracção» da descarga que se pretendia imputar cão exclusiva dos métodos conv encionais de protec-
ao dispositivo ionizante apenas se faz sentir, alias de ção no que se refere à proteccão exterior cont ra Os
forma pouco intensa. alguns decímetros em redor da efeitos das descargas atmosféricas, destacando-se nos

PROTECÇÃO CONTRA SOBRETENSÕES


• ESTUDOS E PROJECTOS

• PROTECÇÃO DE EDIFfCIOS E ESTRUTURAS CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS

• PROTECCÃO DE EQUIPAMENTOS SENSfVEIS ÀS SOBRETENSÕES

1- CONDUTORES

2-7 - ACESSÓRIOS DE
FIXAÇÃO

8 - ELÉCTRODOS DE
TERRA E HASTES
DE CAPTURA

9 - APARELHOS DE
PROTECÇÁO INTE-
RIOR CONTRA
SOBRETENSÕES

SOCIEDADE DE INSTALACAO GERAL DE MATERIAL ELÉCTRICO, LDA

RUA FARIA GUIMARÃES, 109-137 TELEFONE 49 20 58 P P C A


~ PORTO PORTUGAL TELEX 23 481 - P - END TELEG SIGMA· PORTO

eu: ru! jIJADIJ-N.O 225-/11'"0 19"6 267


documentos de trabalho produzidos até à data a noção gava ser suficiente prever um pára-raios radioactivo
de «protecção integrada», no sentido de dever ser com- ou ionizante, ficando assim, como foi dito, a segurança
plcrnentada a protecção exterior referida com uma do objecto a proteger entregue ao acaso e confiando-se
protecção interior de todas as instalações sensíveis às apenas na relativamente baixa probabilidade de inci-
sobretensões, designadamente as redes de utilização de dência directa das descargas sobre a zona «protegida»,
energia eléctrica, telefones, telex, tratamento de dados, é altura de utilizar os conhecimentos e experiências
etc. mais recentemente recolhidas a nível internacional rea-
Pela importância de que se reveste, o problema lizando, também neste capítulo, um verdadeiro traba-
da protecção interior contra sobretensões de instala- lho de engenharia no sentido da minimização dos ris-
ções sensíveis será objecto de análise em melhor opor- cos associados ao fenómeno em causa, ao menor custo
tunidade. possível.

5 - Conciusões REFERF.NCIAS BIBLIOGRAFICAS

As considerações que acabam de ser feitas acerca fI] CLAUDE GARY, Les príncipes physiques guidant la
protection contre la [oudre, RGE, n." 89, Maio 1980.
de- alguns conceitos básicos que os projectistas de sis-
[2] HASSE - WIESINGER. Handbuch [ur Blitzschutz und
temas de segurança devem normalmente dominar, pre- Erdung, Pflaum Verlag, VDE - Verlag.
tendem fazer ressaltar a possibilidade de serem utili- [3] R. B. ANDERSON, A. J. ERIKSSON, Lightning, Para-
zados os meios convenientes para uma correcta con- meters for Engineering Application, Electra, n." 69, 1980.
cepção dos sistemas de protecção contra descargas [4] MULLER - HILLEBRAND, Change oi the path 01
atmosféricas, os quais, uma vez estabelecida a conve- lightning hy ionizing radiation and space charges, ETZ, A~
n." 83, 1962.
niência ou obrigatoriedade da sua instalação, exigem
[5] D. M. LEITE, Experience 01 radioactive lightning aerials
cuidados idênticos aos que são tomados na implemen-
in [ield and in laboratories. International Conferences on
tação de qualquer outra instalação eléctrica. lightning Protection (ICLP), Munique, 1985.
Com efeito, ultrapassada que está a fase em que, [6] C. BOUQUEGNEAU, Laboratory tests on some radioac-
para a protecção contra descargas atmosféricas, se jul- tive and corona lightning rods, ICLP, Munique, 1985.

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