A origem dos eslavos não está muito clara, embora se aceite habitualmente
que provêem da zona ocidental russa e que foram estendendo-se
imediatamente e delimitando uns territórios que ficavam sob a sua
influência. Por exemplo, os eslavos foram assentando-se na Ucrânia,
Polônia e Rússia branca. Historiadores como Plínio e Tácito nos dão
testemunho da existência de eslavos nas zonas que citamos. Devido ao seu
primitivismo e ao seu paganismo, alguns evangelizadores cristãos falavam
deles num tom de desprezo e colocavam-nos como uma "das raças
humanas mais vis e repugnantes". Tal julgamento, vertido por um
qualificado apóstolo que viveu no século VII (dC), parece que, pelo menos,
não está de acordo com os princípios que o cristianismo defende,
especialmente com o conceito de pessoa humana. Também alguns
narradores gregos da época clássica nos falam dos povos eslavos; e
também geógrafos árabes e astrônomos de fama, como é o caso de
Ptolomeu, aludem a este povo numeroso e excessivamente tribal.
ANCESTRAL GUERREIRO
O deus preto, em compensação, é uma deidade que mora nas trevas -algo
similar ao deus grego Hades, considerado como o soberano dos escuros
abismos subterrâneos- e, portanto, é considerado maligno e perigoso. No
entanto, é necessário saber que está aí dado que, segundo os bruxos ou
adivinhos -a missão destes, entre os eslavos, era similar à dos sacerdotes
gregos e romanos, e à dos druidas celtas e galos-, há um deus em cima e
outro em baixo. O mais essencial dos assertos herméticos -que entre os
alquimistas adquire especial importância no momento de descobrir a
proporção exata das suas misturas com distintos metais- vem dizer algo
muito parecido, a saber: que o que está em cima é como o que está em
baixo, ou fora é a mesma coisa que dentro.
As preces mais simples dos eslavos se dirigem ao deus branco, que habita
no céu e nos oferece a luz. Daqui que, na cosmologia destes povos, se dê
tanta importância ao Sol, considerado como a luminária por excelência,
graças à qual nunca triunfam as trevas nem o frio. Além disso, o Sol será a
personificação de um deus justiceiro, que castigará os maus e, pelo
contrário, premiará os que tenham seguido uma conduta exemplar. A ação
virtuosa, portanto, tem preferência dentro da sociedade eslava sobre a
conduta pícara e interessada, o que parece indicar a existência de ares
míticos que caracterizarão os herdeiros daquela etnia eslava tribal.
DEUS SOL
LENDAS ESLAVAS
Em ocasiões, os ídolos tinham, além das quatro caras aludidas, uma quinta
no peito e, junto deles, aparecia uma sela de montar e uma brida que
pertenciam ao corcel branco da deidade.
SIMBOLISMO DO CAVALO
O anterior nos leva a considerar que, como os celtas e os galos, que tinham
o cavalo como um animal sagrado e existia a prescrição de não comer a sua
carne, os eslavos também apreciavam o cavalo até ao ponto de deificá-lo.
E, assim, um dos seus deuses superiores era o deus-cavalo "Svantovit", que
protegia os guerreiros nas batalhas. Também se lhe atribuía a
particularidade de conhecer o porvir e, nesse sentido, existiam uma espécie
de rituais pré-bélicos, nos quais se sacrifica um animal para que, nos seus
sopros e bufidos, seja interpretado pelos bruxos tudo o que sucederia na
batalha que se ia livrar. Em certo modo, esta espécie de magia não resolvia
claramente as questões colocadas, senão que qualquer resposta dada nas
condições apontadas resultava, pelo menos, ambígua; era similar ao que
acontecia com os oráculos gregos.
LENDA DO FOGO
Alguns estudiosos dos ritos e costumes dos povos eslavos, por exemplo o
prestigioso investigador Frazer, nos descrevem a importância simbólica,
mítica e emblemática que, para determinadas tribos eslavas, têm o fogo e
os seus resíduos. Assim, em "A Rama Dourada" podemos ler o seguinte:
"Os Huzules, povo eslavo dos Cárpatos, acendem o fogo por fricção de
madeira na véspera de Natal (cômputo antigo, cinco de Janeiro) e mantêm-
no ardendo até à noite duodécima.
LENDA DA VIDA
O relato explica que o bruxo não confiava em ninguém, assim que disse à
jovem que o seu coração se encontrava na vassoura que havia numa das
salas. A princesa foi correndo até o lugar indicado, pegou na vassoura e a
jogou ao fogo, esperou que terminasse de arder e viu-a reduzida a cinzas.
Mas o bruxo não morreu, o qual significava que lhe tinha mentido. De novo
pediu-lhe, a aduladora e meiga princesa, que lhe revelasse o lugar onde
escondia o seu coração e o bruxo voltou a mentir. Explicou à princesa que
tinha guardada a sua morte, ou o seu coração, no interior de um verme que
se encontrava nas raízes de um velho carvalho que se erguia no jardim. A
princesa contou tudo imediatamente ao seu jovem apaixonado e, este,
depois de achar o verme, esmagou-o; mas o bruxo Imortal continuava vivo,
o que indicava que tinha enganado outra vez da princesa.
O PALÁCIO DO SOL
Não se esgota com o dito a mitologia eslava com respeito à importância que
para eles tem a luz, o fogo, o lume e o próprio astro rei.
Por exemplo, quando se acendia o fogo que ardia nas lareiras, todos deviam
permanecer em silêncio, especialmente os mais jovens da casa, para que
fossem aprendendo os diferentes rituais da sua tribo. A mitologia em que
aparecia envolvido o Sol era muito ampla entre os eslavos, para quem esta
luminária tinha a sua morada num longínquo lugar do oriente, que
consideravam o país da abundância. O Sol habitava num palácio refulgente,
todo de ouro e, quando se dispunha a percorrer o espaço, fazia-o numa
carruagem brilhante, puxada por doze cavalos brancos que tinham as suas
crinas douradas. Tudo isto parece muito a descrição que a mitologia clássica
fazia do Sol e, como Faetonte era um filho do Sol entre os gregos, sucede a
mesma coisa com os eslavos. A mitologia destes últimos contempla o Sol
como a personificação de um belo jovem que se senta num trono de ouro e,
a seu lado, aparecem duas belas jovens que são as suas filhas: a Aurora da
manhã e a Aurora da Tarde.
A MÃE TERRA
POVOS DA ESTEPE