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SS 6 | Depressao agitada } em uma mulher madura I Estava na América do Sul, ensinando e dando consultoria a um grupo de terapeutas experientes. Nesta situagao, Elena, uma mulher de 45 anos, e sua familia. O marido de Elena, Luis, havia ligado para o terapeuta a fim de ‘marcar um encontro para ela. © marido havia dito que a esposa estava agitada e impaciente e que brigava constantemente com ele ¢ com os filhos. O terapeuta convidou Luis para o encontro com Elena, e 0s viu como um easal por trés sesses antes da consultoria. Eu estava acompanhando esta familia parcialmente por meio de um workshop de treinamento, mas 0 terapeuta também me disse que encon- ‘wava dificuldades, especialmente com Luis, que tendia a assumir o controle das sessdes ¢ a insistir que a esposa era a paciente. Perguntei se 08 filhos haviam sido convidados também. Maria, 16 anos, dispusera-se; Carlos, 0 filho de 10 anos, relutava, mas apés alguma contrariedade concordara em comparecer. De uma perspectiva terapéutica, essa consultoria é interessante em srande parte porque néo se trata de uma conversa suave entre um terapeuta € uma familia colaborativa, € mais como uma batalha. A familia persiste em sua visio de Elena como uma mulher agitada, responsdvel pela discérdia familiar Insisto que a visio deles ¢ limitada demais e que minha perspectiva {rd ajudé-los a methorar. Nessa polémica, perco-me mais de uma vez ¢ acho ‘que a danga subsequente é que instrui. Quando entram na sala, Elena, uma mulher de aparéncia agradével com um sorriso atraente, senta-se primeiro, Carlos fica a0 lado dela, e entio Maria € Luis. Todos esto vestides em suas melhores roupas. Familias ¢ casais 115 Btapa 1: ampliar a queixa apresentada LUIS: 0s filhos concordaram em vir para ajudar a mie, Estamos todos preo- cupados. Ela é muito nervosa, tudo a iia, Ela discure com os filhos © comigo pelas menores coisas. Luis esté se definindo como 0 porta-vo= da familia. ELENA: Sou muito nervosa. Fu ver o doutor na fabrca, e ele me deu alguns ‘comprimidos que me ajudaram um pouco, mas continuo estressada no trabalho. Somos sete pessoas trabalhando no escritério e no temos tem- rar, Tudo precisa ser feito para j8. Vou para casa, e a situagéo Ee repete. Os ios preciam de cols, esi aquela que respond, Sens, a casa fica uma bagunca. © primeiro comentério de Elena é defnirse como a paciente, concorrendo para uma descricéo precisa dos problemas que sua doenga traz para a Famia. Sua fala é répida, quase sem pontuagéo. Nao sei se € algo carac- teristico da regio, ou uma pressao na fala devido & ansiedade, mas foco ‘essa caracterstca para minha primeira intervensdo. Dr. MINUCHIN: Por favor, meu espanol é bom, eu cresci na Argentina, mas falamos um pouco mais devagar ld. Voc® poderia me ajuda e falar mais evagar para mim? ‘No inicio da terapia, com frequéncia desafioo comportamento do paciente identficado como parte de minha E essa sua tinica forma de funcionar? 0 quo flexivel ele €? Faco isso automaticamente. Meu comentério néo tem o objetivo de ser confrontador. Como muitos clinicos, ‘estou demonstrando curiosidade e interesse. Entdo, nesse caso, pego a Elena para mudar 0 seu padréo de fala, apresentando isso como uma necessidade minha, endo como um desofio a ela, ¢ ela sorri enquanto continua a falar mais lentamente. ELENA: Estou em movimento continuo, como se estivesse viajando em alta velocidade. ‘Ainda que ocontetdo seja uma continuagio da sua dscrigéo anterior, a forma «como ela fla india fleibilidadeedisposigao de cooperar. Agora, pezo permis- sdo para falar com os fils, ¢ ela, naturalmente, concoa. Meu padrdo de fala € lento, modelando um ritmo mais relaxado. Maria responde primeio. MARIA: Ela estd sempre iritada. Quaiquer coisinha a aborrece. Sempre hi tensio entre nés. CARLOS: Ela nao estd sempre iritada comigo. Elena responde ao comentério de Maria e dis que é verdade. Irrta-se com 5 menores coisas. ELENA; Maria ndo pendura suas roupas. Ela deixa na cadeira ou no chi. J € uma maneira de ser. Ela sabe que isso me irrta, mas faz mesmo assim, SARA ARAN AAAAARADAAAA AAAI AAS “2eur ens w109 Je19 -ofou e piapuaide esunu goon anbuod ‘eura[qoxd win 9 OSs] ‘NIHOANIWN 7 "EpgDUaALOD OBistI09 ‘ogu na anbsod ‘sapuajap aw ma wstoaud a9 “e120 puso ObU UID as "Wag :VIEVIN oney nas wo wparsiut fed nas 0 “eur ens wos ainostp 320 opuend) :(ou0yy wo> opuoNUNUOD) NIHOANIN 40 srapod 2p vindsyp pu we opeoo}a> oyaDy sou pisodseu pyuj 9 ‘oyoqoa n=l, wo> opwationg nisny 2fq “opopouscd., yapy o anb 1gzasad sous ‘soworns s00 22p ovodo 09 sodso ons ap onadsas 0 ‘3m 2p vpi8)4 ops v zoxfosep oupssou B19 anb oigos ng ‘epuazofsouo2=9 ‘anb 0 opopino wo> opupauesgo ‘sojasDwon sjus so sowgzaied anb oszeud 3 ‘opoisofo pysby 0 m2 ossaz0ud ‘ssw anb 9s ‘Junuy owo> Duapy wowBoylyonb sowssou: so anbsod ‘oun (00 opSojas wa 2jap sazorraad sonuauxou 50 opuvenborg‘onsups 9p vp.on ‘um owo> opif0 vupy nq “Duayq woo vind Jormoud opis oyADY 2 ‘mpMuL ‘wiped opu sos so anb ap sn ap vpougiqsuyD woo opuassau aus ng hp ‘pumiun{uoo burn we sownapasg “2pupricino ons » oyfpsop maui Woo OpDLiBs woo 2q pound ‘upiod ‘airy sauoumiua stow vps mp 9 ‘nesarodosop ypf ons bu opsonso V “2Iuowpsansepisues noxDjas pf Buapy “Dandyo Dsse ¥ “2our ens ap of-28ar01d ‘ued yed nas ap esizaud anb assnuas sojren as euad eum BU9S :NIHONNIW 2 “Dump 28 09 ‘apu p25-D1unf‘soj09 2p o1sed pporucs pis2 anb ‘oUDyY 2} Woo oYUDG Dypf2 vs 0 snsa4 v o-opnty “pun 20f 0 D9 9 S01s09 a1i0fu0> anb pp B ofag “siny Datue> opz009 i bod 9 055) sow ‘Du2jg b au-oup, “audwias ogu seur nut 9}9 anb osto21d sazan sy “es -onzatinos anbuod ‘ebuaop eyuru ep esneo sod opidps oxrnus vind ata {VNITA gomed assau epnfe ap esroaud goon :(ou2py Ded) NIMONNIN 30 “apopianefe oyunu anSoowD ouzpod opooyfuapy a1u2I>0d 0 soro8sa1 -z3pfuys0o1mpdo.o1 soanetgo sraut 500 oyfosep wn owo> a1u20p 196 DU2| o1vonb sin7 2p opuprsisuy v opuoppunzd> pais no ‘oquDi2s1Ug “OyRf ras wu nupd 401 -uoaudas ap 294 on ap soe Ja8aroid espaxd anb squss aoased st “(Our BzOd) NIDA Tin case osemaes (1049 apuow amp) 202 {PPE ens exed se3jon apod goon Sone sod “sy :(57T BUDA) NIHNINI 30 (:10y9 v oi onvonbua ‘suaupua used ons piou090 2 son) 2p obiod on 1 20 2p 08 UD Dad ‘mou08 9 ‘opodnsoeud ‘s-D1ua%a} sr uDs040 D oSdueD 999 "weEIMs Tt 4 pure saws woo e>uuqexed ofes na opuenb ei 2 er *SOTMVD 5 9 9D0a anus aoeruOD" anb ¢ (01109 Dud opuPAM) NIHOANIW 10 and apopnureaid oyunu o opupzun 3 opsss op opondoaud ous © opusmunuyp none ‘mm p>uppueoues 9p onued wn wo Bua tun Sul oY ‘oytnueg win seus 9 BotsnUs eng “YN “enpjsnes nooy opu epure v9 seu Sunjon o UNKC -VRIVIN £272) 0n anb © 3 :(oNOHY DADd) NIHOANIN 3 “ove eaeiso o1uenb o eqaotod ope seuade goo) o3[e onmul BABI :VNTA “ove wamso ogu seu ‘ome ounus eaeiso auinjon © anb noyoe agur eyuru 2 “orpps ou easqu opulAno eaeiso na “lod “RIVA, ‘jpuopunfp opspod wn aszpisues anb 0 s2yhpow no soyfsop ossod sonb sojad sowuof cos ‘ossoaud a0 oass5go anb auduing Dune op opSuainuou 2p ossea0ud op ausod owoo oyjuimf op sosquidu $0 9139 sqm 00> s24 posnanuase oydosey op oowqus.9pmD9 voibus Duan opts ual {o1uado1 awappouy une 2iqos 262) 3 apod 9209 (o-0yyaund) “opus ens wejauatiode9 SOU $0 01109 BULIO}@ R10 [dx ap eers08 na ‘syn ‘amutiad aut 9208 9g :(sIM7 DADA) NIHONIN 20 “3 » sqpuodsos ap puxof oyunu v apo © omausnas 0 assocayueras mb opud ‘57 we | ng "Biau Stow 2421 synod we ,asod, 259 anb 9s sou ‘umusoon oS 3 OBU ‘Opsoe Dp omy ou owsaut * 240d, ap jours wn oDiua ‘s|qua4-oDU sox508 weD spars -Dusou oniuod nuouimonbauy ad 2p 028 tn wo opus oy OUD “open 28>y ejp ered peu saze estoaid wpnBuwy “epenus ese ro eBoy> era ‘SIT “Duy ap soxsojod so epuves ‘oof ay ‘upuod ‘tomowa> vssod na anb #3 msn 9 9gu ens anb eyoe 9009 :(OUOW D104) NINOAANIIN 3A ‘wosadinuyossud 0 oxof wo zuoU! » opoueraup 9 opSuaunu oy. “suuzsqopo Dyn oun 2 pu un an souuoU sornfuD sn OBS U2 Day 3p busi moored op oxouDU 0 Disp oy 2 2pu au xquraoNn O SSE eee ‘997 GUNKTEM 8 SOIN GREP UNDHURN OPENED OLE SB BS Sk 118 Salvador Minuchin, Michael P Nichols & WalYung Lee {ee pont, tote nombre de Maria a lembrasbre om ices Dr. MINUCHIN (para Luis): Estou tentando entender Maria, que parece ser ‘uma moga muito inteligente, Se vocé me permite, gostaria de continuar falando com ela. (para Maria) Se vocé esté sozinha com sua mie, como vocés resolvem os problemas? [Nesse ponto,o sistema terapéutico estd repetindo a dindmica familiar. Luis ‘vem resgatar Maria de meu desafio, eeu 0 ataco. Tomei a posigdo de Elena em relagdo a Luis,” e talvez aos fithos,¢ iso certamente ndo € titi. Tor- ‘na-me um participante do drama familiar e priva-me da chance de ser um ritico objetivo. MARIA: Nao posso fazer nada. Ela nunca aceita que eu esteja certa. Quando se enraivece, ela vai para seu quarto e fecha a porta. Acho que ela chora. DR. MINUCHIN: Quando vocé precisa que seu pai intervenha? MARIA: Quando ela bate em mim. Entio ele vem e segura seus bragos e no permite que ela me bata. ‘No siléncio que sucede a essa acusagio, parece que cada um deles estava pensando sobre esse momento de violéncia, cada um do seu jeito. Dr. MINUCHIN (para Elena): © que vocé sente quando ele segura suas mos? ELENA: Sou nervosa, no consgo me conola. No quero baer nel, mas ‘no me controle. Dr. MINUCHIN: Entdo vocé precisa dele para controlé-la? ELENA: Sim, claro. Preciso dele para me controlar. Peso a Elena para afastar sua cadeira do restante da familia. Com fre ‘quéncia, utilizo o espago como uma metéfora para distancia. Oato de mover grifco, e as familias entendem que estou enfarizando proximidade, distancia, ou agrupamentos especifcos dentro da familia. Dr. MINUCHIN (para os demais): Ento vocés tém uma familia com um pai, mas sem uma mie. LUIS: Néo é que as criangas no tenham uma mie, mas quando ela sai do ‘escritério e vem para casa esté irritada. De novo, Luis insiste: € com ela. Voltamos & primeira fase: todas concor- dam que o problema ¢ Elena, LLUIS: As criangas ficam atentas ao humor dela, Elas sabem que ela é doente e esto tentando ajudé-la. Dr MINUCHIN (para Elena): Como é que eles a protegem? ELENA: Carlos & muito sensivel, muito emotive. Quando ele vé que estou ‘enlouquecida, vem falar comigo e tenta me acalmar. 1N. do. No original, vis-a-vis, Familias ecasais 119 Carlos comeca a chorar de novo. Percebo, é claro, que Carles estd com problemas e necessita de atengdo, mas terapia é seletiva, em cada mo- ‘mento, ¢ agora estou focado em um tema diferente. Estou tencando introduzir incerteza, ¢ cada vez que apresento uma perspectiva interpessoa, a familia sala de volta para sua visdo predominance. Isso néo é algo incomum: a terapia usualmente tem a caracterstica de uma gangorra,’ € no processo 0 ferapeuta os membros da familia diseutem suas diferencas. Dr MINUCHIN (para Elena): que vocé fard para ajudar os filhos a cres- ‘cerem normalmente? Carlos pensa que precisa ser seu enfermeiro. Ele n3o ‘consegue funcionar como uma crianga agora, sua tristeza & muito conta sgiosa. O que vocé pode fazer para ajudé-lo? £Estou estimulando: essa é minha parte na gangorra. Estou tentando usar 0 ‘ear © ogbofau wi wioraiord ruLO} 9p ie > Ns ‘nb 1g “eminuase eaou eum 3p anvap SCWISOU 5 © waa EWE) Up sOIqUIDUT 50 ‘opseas exouud ewin ap euy ou “opuenb onus oBfe yy ‘axis oWoD, OySS3s V 3HBOS SVION sowors so puopuogo anusuisaduns 2 Dip opunas o axod op1so8ns p anes ‘opu 2quapod 0 “uduos wou sou ‘muomufts oiugnbouf wor “sowygoud 50 tumrapoouasop anb soyqao8 sop sop1.9sqo tun 25-1oW0D o-opuopnfo ‘owONS jd jaapsuodses azuapod o s0w0) 7 anspdaud Q "272 woo ypuasdo no sous (90 — SDH Kop o> “onpa.sD “s-nowiBui0 vso> ap sofeiD) z0p 2p DDNDp1 Y ‘OSSIP optanp sozaA SY 185 OLN :SIMT eaqex woo 2 opesie> sey was soqure wo opueyTeqen renurueD apod anb ap 231189 wH91 920A ‘soBaidura siop war goo, “jeuSamt own ura opueyreqen iso wpqUIE) 390A seo wa seul ‘opeBaistouD wn 9 ‘ “eseo ep moo seuon ered pad au ap ‘e319 se 1278} 3p rena 2p euioj eum 9 ouissoarou nas anb oyse ‘szaa sy “eumsse no anb purpad ‘uqus wo exedare 35 ery “20j 0 ou wa anbiod oss 922) ospaid ‘SIMI pms oun 2:0f 25 oweo 0} 70/2 za ua opodravaud od un 3p vowoo opbiauoni ons ox.059p Se 2p sound au und oof nN, “owes seypegen ‘paid Ogu goon Z24ReL “opueuopuRy eIyUre) ens sonseU eed PesBoIUt ‘odwox wo eueqes goon anb 9 19% apnd anb o :(sm7 DuDd) NIHONNIA 0 ‘2uo} oxsouueroduroy wn oyas wpquE “epUpIOEd eYLTEL orod sozon sy anb saz1p a ospaud “wag Taassodu 9 ef Sozan se SEW ‘SIM sermid ap sowaus -ou singe wg 59008 anb assp aut wquIe Gok (87 nxDd) “e104 sap ‘8u0] oF nopnu go0a seu “emano] ap eULIOJ EUMEIe Ula goo anb opuet -aprsuoo mbe weredaqo ‘9208 aasnput 50 “A wos opxou09 bun 435 ossauoud undo xy tupiod ‘opsas mt ‘spauynaua 9 “osods9 ons ap op op opunay cou 0 2 opodnosad > opunaa> ‘nb ow opossaiauuy piso fg ",b1nado.91-02, bun 9s-nowior 2 DuyD> piso pug ‘opuvasion® siod ata sopojnSup.n opis anb ‘soSuouo x0 wo> sie opr eof Sei See oom ‘997 Gunicem @ SOWOIN @ FEUD ‘UNONU OPENS BEL Se es 1126 Salvador Minuchin, Michael P. Nichols & Wal-Yung Leo Elena, porém, havia trazido um caderno e estava claro que ela havia feito ‘as anotagées da sua tarefa de casa, Etapa 3: investigar o passado com foco na estrutura LUIS: A verdade é que Elena mudou. Ela esté mais relaxada e sente-se melhor do que eu. Vejo.a mim mesmo como mais agitado, ¢ ela... Eu ndo se ELENA: Estou mais relaxada. Talver a medicagio esteja fazendo efeito. (Ela abre seu caderno e comesa a me falar sobre sua tarefa de casa.) Na quin- ta-feira, as criangas estavam discutindo sobre a televisio. Cada um deles estava interessado em um programa diferente, entio eu disse que, se eles no chegassem a um acordo, eu desligaia a televisio e que isso era tudo. Sal, e entio eles chegaram a um acordo sobre o canal, Dr. MINUGHIN: Entio voce esté dizendo que as criangas mudaram. LUIS: Nao, foi Elena. Antes, a discussio teria aumentado, mas ela parou. ELENA: No dia seguinte, nio encontrei uma situagéo que merecesse uma discussdo, entdo deixei essa pagina vazia. (Ela mostra-me a pagina vazia ‘em seu caderno.) Dr. MINUCHIN (para Luis): Eu Ihe pedi para fazer menos, entio ela poderia fazer mais. Como isso funcionou? fe LUIS: Nao lembro de vocé me pedindo isso, mas estou sempre ado ‘com as criangas. Nao quero que elas sofram. a Dr. MINUCHIN (para Elena): Luis sempre foi uma pessoa responsével? Eu o ‘vejo constantemente alerta. ELENA: Sim, ele sempre foi preocupado com a seguranca das criancas. Dr MINUCHIN (para Luis): Vejo vocé trabalhando em dois, talvez ués, em- regos. LUIS: Penso que no. Dr. MINUCHIN: Assim é que vejo vocé. Vocé presta atengo nos detalhes. Vooé um bombeiro, sempre esperando pela possiblidade do préximo incéndio. LUIS: Bem, isso é verdade. laramente, estamos em novo teritéio. Estou definindo seu comportamento em termos postivos. Ele ¢ responsdvel, preacupado, suas intervengées sG0 ‘arte de sua proto ds criangas. Ele aceita esta defnipdo de si mesmo. Na sessdo anterior, eu defnira seu comportamento como intrusivo e controlador, ‘mas, tendo refletido sobre minhas difculdades em me aproximar de Luis, decid adotar urna postura diferente em relacio a ele. LUIS: Antes de casar,eu néo era assim. Eu adorava no me preocupar. Tinha ‘muitos amigos e apreciava me divert, mas quando casei Elena era asmati- ‘ce precisei cuidar dela e aos poucos mudei para acomodar-me 3s neces. sidades dela. E entdo a mae dela adoeceu e tomei conta dela também. Familias 0 cassis 127 Dr. MINUCHIN: Parece ser uma tarefa que voce jé fazia antes. Vocé é como ‘um cuidador nato. Nao posso imaginar que essa forma de ser tenha come: ado somente apés vocé casar. Enquantofalo, Luis faz gestos de assentimento, mas cle etd esperando, impa- ciente, para continuar seu relato. Pretendo dar Ihe espaco, mas primero subli- ino mina percep ~ no um desfio, mas uma vido que convida @ discuss, Dr. MINUCHIN (continuando): Vejo vocé como um time de futebol completo. ‘Vocé ¢ 0 goleiro,o lateral e © centroavante. Onde vocé aprendeu a ser dessa forma? Estamos na terceira etapa. Tendo prestado atencao ds interagdes entre os cesposos, pergunto entdo como eles aprenderam a ser desse modo. Luis ‘assumiu o papel de narrador,e a familia tornouse sua audiéncia, LUIS: Venho de uma familia grande. Eramos muito pobres, em cinco filhos. Vivia- ‘mos em uma fazenda, e minha mae se sacrificava por nés. Ela estava sempre trabalhando, Meu pai era mais velho. Ele era um trabalhador, mas no podia trabalhar. Entéo, quando meu irmao mais velho precisou cursar 0 ensino mé- dio em uma cidade maior, foi decidido que eu deveria parar de estudar ¢ ‘comegar a trabalhar para ajudar a familia. Nunca terminel a escola média. Eu era o segundo filho. Havia wésirméos mais jovens, e precsei ajudé-los, Dr. MINUCHIN: Entio voe8 aprendeu muito jovem a ser um cuidador. LUIS: A vida me ensinou. Eu precisava ajudar. Dr. MINUCHIN: Por que voc8? Por que nao seu irmo mais velho? LUIS: Néo sei. E uma das coisas que perdi na vida. Muitos de meus amigos foram cestudar e agora sio profissionais. Minha mie queria que todos nés estudés- semos, mas éramos muito pobre, e alguém precisava ajuda, e fui eu. Dr. MINUCHIN (para Elena ¢ as criangas): Ele foi escolhido pela familia para sero tinico responsével. ‘A atmosfera na sala é de atengdo silenciosa, como se a familia estivesse sentada em torno de uma fogueira ouvindo o contador de histérias. Ainda ‘que a histéria provavelmente fosse conhecida, havia um elemento de orgulho na narrativa, ¢ a familia aquecia-se nesse cima. Etapa 4: descobrir/cocriar formas alternativas das relagbes Entio, quando voce se casou, vocé assumiu outra responsa- LUIS: Ela evita conflitos, ¢, quando sua mie adoeceu, eu precisei assumir. . Dr. MINUCHIN: Posso ver 0 quo dificil é para vocé fazer menos, soltar. Esse parece 0 seu jeito de ser. LUIS: Normalmente ¢ isso mesmo. (Ele se vira para Elena.) Quando hé pro- blemas, voc# me deixa com eles. Vocé se estressa, vocé deixa estar, ¢ eu 128 Satvador Minuchin, Michael P. Nichols & Wai-Yung Lee assumo. Mesmo com sua mie... Nés vamos toda semana visité cela estd doente, mas vocé néo gosta de visitar minha mae, Dr. MINUCHIN: Essa é uma familia diferente da que vimos ha trés dias atrés, Por favor, ajude-me a entender a mudanca. LUIS: Ela mudou. Esté mais tranquil ELENA (relaxada e sorrindo): & verdade. Estou mais controlada, Dr. MINUCHIN: Isso é extraordindrio. Come foi que aconteceu? Voce disse {que a doenca controlava vocé. LUIS: A conversa. Falar as coisas em vez de manté-las dentro de si. Dr. MINUCHIN: Vejo que Luis mudou. ELENA: Acho que nio. Nao vejo que ele tenha feito algumma coisa para ajudar ‘a me tranguilizar, Dr. MINUCHIN; Estou interessado em vocé, Luis, porque vejo que Elena pode ‘mudar. Ela mudou da sessio anterior para esta. Mas vocé consegue mu: dar? Voce vé 0 mundo como um lugar onde hé problemas para resolver, ¢ vocé € 0 solucionador de problemas. Dr. MINUCHIN (para Elena): Ele recebeu a tarefa de ser responsivel ¢ esté sobrecarregado com essa tarefa. ELENA e LUIS (falando juntos ¢ concordando): Sim, Ele é - Eu sou ~ assim. A definigdo da situagéo mudou. Como na alquimia da pesa de Pinter, “O Servidor", onde o servo assume o controle sobre seu mestre, o problema de lena agora aparece como consequéncia das boas intengées de Luis, ¢ a sina dele, como um padrao de ajudar por toda a vida. Dr MINUCHIN: Parece que vocé fez um belo trabalho com os filhos, mas algo «std errado com vocts dois. Vocés no veem comio afetam um a0 outro. Nzo acho, Luis, que vocé perceba como constréi o nervesismo de Elena, ELENA: A verdade é que 4s vezes eu posso fazer as coisas, mas prefiro nlo fazer nada, e sei que Luis vai fazer. Dr, MINUCHIN: Ento voct esti pedindo que ele controle vocé. ELENA: Sim. Nao sei o que vai acontecer amanhi, mas até agora é assim que tem funcionado, LUIS: Evito 0 conflito com ela e permaneco no controle. Dr. MINUCHIN (para Elena): Sua tarefa serd ajudar seu marido. Ele foi ‘organizado pela sua infancia, pelo amor por sua mie e pela necessidade de proteger seus irmios. Ele precisa do seu auxilio para diminuit o ritmo. LUIS: Comecei com 12 anos e estou com 47, Dr MINUCHIN (para Elena): Serd dificil para Luis mudar. Vocés tém uma tarefa dura, mas ele mudou pelos filhos, entio talvez. possa mudar por Yocé. Vou dizer uma coisa absurda: Luis tornou voce incompetente pelo simples fato de ser responsdvel, + Porque Familias @ casais 129 ELENA: Temos sido assim por 18 anos. Dr. MINUCHIN: Voc® gosta de ser alguém que ¢ indi, enquanto cle faz tudo? WIS: Preciso mudar. Nés precisamos mudar. Estou sob um estesse cerrivel ‘Sei que sou um lider. Sempre fui. Eu fui o fundador do sindicato em meu distrito, ¢ trabalhei no sindicato por muitos anos. Numa das ditaduras rilitares, quase fui preso, e, quando percebi que o sindicato estava to- ‘mando conta de minha vida, parei. Simplesmente me demiti. Sinto-me ddesse jeito agora. As coisas precisam mudar. De repente, sinto-me conectado com Luis. Eu também fui preso durante uma ditadura e queria compartthar isso com ele, mas me contive. Ndo era apropriado, nesse momento Dr. MINUCHIN: £ necessério continuar como lider com sua esposa? LUIS: Sim, porque ela preguigosa. ‘ssa é uma mudangasignificativa na sua rotulagdo de Elena, Ea ndo¢ louca, nervosa ou descontrolada. Ants, ela requisica que ee asuma os problemas. la € preguigosa. Seu problema nao &intrapsiquico, mas interpessol. Dr. MINUCHIN (para Lui): Sabe, lideres precisam de seguidores, ¢ Elena aceitou, mas ressente-se desse papel. LUIS: Quero me liberar de ser o responsével. ‘A esponsabldade de Luis tomas um sintoma, como a agitago de Elena, € dks peien que preci baa jana Ea ali a sso fan com 2s fihos. Hoje, perguntara ds criangas se elas queriam conversar com os pais ‘threo quella curds co impacto disso em suas vidas, mas fale com elas sr chai etmantad, xe a i decompleneridade 0 descrevi com palavras simples para Carls. 0 co ete gre cl Cale, reer aces row “quando 0 outro assume as coisas, nos tama desnecsséros”. As criangas hhaviam testemunihado as brigasrepettivas entre seus pais. Elas compreendem 4 ieia de superfuncionamento ¢ subfuncionamento € quase seguramente compreendem que algo havia mudado durante esa sesso. Reflexes Eu esava sures, ainda estou, com as mudangs de lena eas. Era come se houvessem compareido&teapiaem ua conjutura da qual esta vam eaustos e pronos para modar£ também possivel que proximidade entre as duasssses, « conhecmento de qu a consulta ia encerarse come segund encono, nha provocado um ef cataldor,cterando 0 proceso tanto para fafa quanto par oterapeuta.O intervalo ene 3 Sesotes hava me permit rever minha rego a Las e pensar sobre como eu Doderia Ser eapaz de apoiélo mesmo quando desafave a limitagio de seu BEBE SGU FU EE SUE Se ewicit ae YS ee 130 Salvador Minuchin, Michael P. Nichols & WaiYung Lee repertério. Foi dtl, também, na segur ‘um pouco dos meus conceitos terapé linguagem de mutualidade e intercor (0 a familia haver incorporaio ‘gradativamente empregando una ESTRUTURA TERAPEUTICA ides transacionais de todos 9s de ser il, estava em coalizio totalmente 0 papel de paciente ‘que seu marido havi Em familias com sho dois subsstemas dierenves. Enquanto um en paralado mo con, ur ‘ode proporcionar uma aberrua para maior possbilidades. Ao final da segur- da sesso, cada um dos espososhaviaaceitado aieia de que Seu comporame- to era produto da relago. lene estava descrevendo asf mesma como organi 4a pela répida intervengo de Luis, enquanto Luis estavaaceitando que seu fu cdonamento como encarregado tomava Elena “preguigosa". Porspectivas individuals, Lis havia sido elito por sua mae para tomar-se o cuidador da familiae tomara-se 0 controlador “prestativo” da sua esposa. Ainda que eu nio tenka ‘explorado o passado de Elena e nao tenha compreendido a origem de sua agita- ‘gio, utlizei 0 padrio de relagdo entre marido e esposa como uma ferramera ‘para introduzir formas altemativas de ela ver a si mesma e relaconar-se com 95. ‘outros membros da familia, Neste caso, focalizei marido e esposa como um casal ‘complementar em vez de traté-ls de forma individual. Estratégias de intervengéo Falando pela familia, a afirmacio inicial do pai foi: 0 problema é a mie, “tudo a irita". Ela concordou: “Sou eu”, O primeiro teste em face de uma apre- sentagio assim é considerar que o paciente identificade pode estar respondendo a pressdes interacionais na familia. Com um pequeno estimulo, Elena revelo ue nem “tudo a deixava nervosa", mas que se irrtava com seus filhos por dei- xarem roupas no chlo e ouvirem’miisica em alto volume pela casa. Quando Elena aborrecia com os filhos, Luis sakava para resgatélos e, nesse process, definia airritagio de Elena, endo o comportamento das filhos, como o problem. Em familias com um doente crénico, o terapeuta frequentemente vé-se en Jura com a forma estabelecida dos membros da familia de verem uns aos outs. Familias ¢ casais 131 ‘Ao it contra essa norma estabelecida, usualmente me aproximo do membro sintomético e redefino sua pocigéo na familia, Esta estratégia tem um isco inerente, porque o ato de desequiibrar pode convidar membres da famfia a terapeuta. Minha disputa de pode a sessio: primero pela minha redefines superprotegio de Lu come peo se preocupava e como havia se tornado uma pessoa preocupada. Assim que Luis comegou a sentir que eu apre- ava sua posicio, tormou-se mais aberto a uma exploracéo da complementa- ridade rigida que caracterizava sua relagio com Elena. Técnicas.

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