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05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 A ORALIDADE NO IMPRESSO: O ‘EU-NOS LIRICO-POLITICO” DA LITERATURA INDIGENA CONTEMPORANEA Julie Dorrica™ RESUMO: Este artigo versa sobre a emergéncia da literatura indigena contemporinea no pais, buscande mostrar a qualidade estética adveniente desde a oralidade e fazenda-se presente na literatura impressa dos diferentes escritores indigenas. Nosso argumento central consiste em defender que a literatura indigena apresenta a ancestralidade como rmatéria para a expresso estética e a violéncia historica enquanto matéria para resistencia, possibilitand um transito entre 0s dois mundos: o da oralidade, em que os saberes, 0s rituais, os canfos fazem parte da cultura indigena fundamentalmente oral até 0 século XXI; ¢ 0 do impresso, onde a expressio oral faz-se presente somando-se ao estilo criativo dos escritores na contemporaneidade. Esta literatura apresenta caracteres especificos, tais como a evocacao da pessoa singular ‘eu’ indissociavel do coletivo étuico “nds, ¢ a expressio literaria‘litica’ evoca a resistencia “politca’. Por isso, defeademos 0 conceito do ‘eu-6s liico-politco” na conjuutura literéria indigena, justificando uma voz _préixis que protaganiza a presenca e a atuacio do indigena desde si mesma, Palavras-Chave: Tradiglo. Literatura Indigena. Voz-préivis. “Eu-n6s litico-politico’. Abstract: this paper explains the emergence of the contemporary Indian literature in Brazil, aiming to show the aesthetic qualities which become from orality and are inserted in the printed literature of different Indian writers. Our central argument consists in defending that Indian literature presents the ancestry as matter for aesthetic expression and the historical violence as matter for resistance, allowing a correlation between two worlds: that of orality in which the knowledge, the rituals and the songs are part of the Indian culture in a fundamentally oral way since to XXIst century: and that ofthe printed, in which the oral expression is present, adding to creative style of contemporary writers. This literature has specific characteristics, such as the evocation of the singular “T” linked to ethnic collective “We", the same as the “Iyrical” literary expression evokes the “politcal” resistance. Therefore, we argue that the concept of “lyrical-political I-We" in the conjuncture of Indian literature justifies a voice-pravis that stars the presence and the actuation of the Indian by himself. Keywords: Tradition, Indian Literature. Voice-Prats. Lyrical-Political We. Introdugao Dalcastagné (2012) aponta para a necessidade de pensarmos a literatura de minorias (indigena, negra, LGBTT, feminista) nas novas abordagens e enquadramentos que ela suscita, bem como nas questoes éticas que as especificidades dessas literaruras em seu préprio universo levantam. Nesse sentido, neste artigo, propomo-nos a refletir sobre a literatura indigena contemporanea no Brasil e as caracteristicas que ela apresenta, no seu sentido estético e politico. Para tanto, dividiremos este trabalho em duas partes: na primeira, refletiremos as consideragdes tecidas pelos criticos que teorizam sobre a literatura indigena no * Doutoranda em Teoria da Literatura na Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bolsista CNP9, E-mail: juliedorrico@email.com 216 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -npsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 ane. 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 pais reconhecendo sua forte ligago com a oralidade, tais como Risério (1992) e Bicalho (2007), que tratam da presenca incontestivel do caniter estético entre os povos de tradigdo oral ‘Na segunda parte, apresentaremos uma classificago do sistema literdrio indigena que ainda estd em desenvolvimento, apresentado por Behr (2017), além de alguns autores e suas respectivas obras como componentes do corpus que reconhecemos como literatura indigena, tais como Daniel Munduruku (2016), Olivio Jekupé (2009) e Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015). Nosso argumento central consiste em defender que a literanura indigena tem na ancestralidade a matétia para expressao e na violéncia histérica a matéria para resisténcia, marcando a cena literiria pela sua conjuntura cultural, representativa e estética concomitantemente. Isto & a tradigo ancestral e a violencia histérica so matérias para autoafirmacdo, autovalorizacdo e resisténcia (re-existéncia) no presente, dos indigenas por si nesmos. 1A literatura indigena desde a tradicao oral ¢ o seu deslocamento para o impresso Risério (1992) reafirma, na esteira do trabalho do antropélogo Viveitos de Castto (1986), a existéncia de uma poética no povo indigena araweté, povo fundamentalmente de tradigao oral e sem contato ainda com a escrita alfabética, Tendo como base o estudo Araweté — os Deuses Canibais do acima citado antropélogo, Risério enfatiza a linguagem esteticamente eficaz dos povos indigenas no pais. Tal afirmagao ‘vai na contramdo do pensamento que atribui capacidade de abstragao somente as sociedades com escrita alfabstica Sabemos que o critério do letramento & muito usado para negar a existéncia de uma expresso estético-literéria em sociedades orais, Alids, esse € um dos primeiros parimetros de exclusdo social apontados aos povos indigenas, tal como afirma Finnegan (2006) como podemos ver a seguir: Quando se quer fazer uma distingdo entre sociedades ou periodos histiticos diferentes, tum dos eritérios conmmente usados 0 do letramento, Em particular, quando se quer evitar conotagdes de “primitivo", “nio-civilizado”, “aborigene”, tende-se a elaborar deserigdes em fermos de “nAo-letrado” ou “pré-letrado”, Certamente, outras caracteristicas também sio levadas em consideragio (particularmente a tecnologia), ums a preseuca ou auséncia da eserita é cada vez mais destacada. (FINNEGAN, 2006, p. 64) Partindo da premissa de que existe literarura em sociedades tradicionais, que seguem modelos alhei & ocidemtalizada (escrita alfabética), a autora sustenta que essa aparente auséncia trouxe consequéncias graves para as culturas nio-letradas. Para isso, Finnegan compara as diferentes expresses existentes na oralidade em diferentes povos as expectativas associadas ao termo literatura. No primeiro, listam-se a presenca de diferentes géneros, como a lirica, © panegirico, 0 postico, as eangdes de amor, as narrativas em prosa ou drama diretamente ligadas A conjuntura performance, audiéncia, compositor e 217 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 218 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 ouvintes. Nesse ponto, quando se compara a expresso oral A impressa, vale ressaltar que “[...] cada obra & diretamente influenciada e, portanto, moldada pela audiéncia, tanto quanto pelo compositor” (FINNEGAN, 2006, p. 83). A aproximagio entre ouvinte e performador na expressio oral, ¢leitor e autor na expressio escrita deve set vista, portanto, como uma questdo de graw. Isto &, sabendo que, na tradiga0 oral, 05 ouvintes podem tomar parte mais direta na performance ¢ dar uma contribuicdo mais Gbvia do que na literatura escrita, € preciso ter em mente, todavia, que “[...] o piblico para o qual qualquer obra é ditigida sempre exerce alguma influéncia sobre ela e munca é verdadeiro pensar em poetas como ilhas isoladas, nao sendo afetados pela sociedade na qual vivem” (FINNEGAN, 2006, p. 83). Em face disso, pensar a literatura apenas nos suportes do livro, de modo impresso, desqualifica outros tipos de expressdes, quando, na verdade, vemos na oralidade diferentes formas de manifestagdes estétieas que podem ser denominadas como literatura, nfo tomando como parimetro a ocidentalizada, mas aquela que tem na sua expresso uma assertiva cultural ada & tradic&o oral e &s priticas ritualisticas (portanto, nao somente sob a forma impressa, livresca), No que se refere a expectativa em tomo do termo literatura, duas funcdes s20 apontadas como caracteristicas do que seria a base da literatura no Ocidente: a expressdo intelectual © 0 distanciamento artistico, Estas fungdes, de acordo com Finnegan, contribuem para enfatizar o abismo entre a cultura letrada ea cultura oral. A ambivaléncia entre esses dois polos se destaca mais ainda quando se atribui ao indigena a imagem do “primitivo”, como sendo essencialmente um ser emocional, préximo da natureza, incapaz de distanciar-se e de ver as coisas de forma intelectual. Dito de outro modo, ao atribuir estas nogdes herdadas da colonizacto, reforca-se uma estereotipia discriminadora que nfo reconhece as diferentes formas de literatura dos diferentes povos na contemporaneidade, literatura esta que inclui suas religides, mitos, rituais sagrados, cdnticos, pensamentos e mesmo a escrita alfabética sob a forma impressa e publicada, Nesse sentido, argumenta Finnegan: Nao € mais possivel, portanto, aceitar a velha imagem do “primitivo” (ou do nBo-Letrado) como inconsciente ¢ alieuado, incapaz de contemplar o nmudo com afastamento intelectual, uma imagem transmitida a nés (talvez inconscientemente) por meio de nossas associagdes desses atributos falta de letramento e, por conseguinte, imaginamos, de literatura. (FINNEGAN, 2006, p. 77) Segundo César (2011) & na concepeto tradicional de alfabetizacio “como desenvolvimento de competéncia individual entre um sujeito que aprende e o material escrito, um trabalho de decodificacto solitario, frequentemente associado a escolarizagao” (CESAR, 2011, p. 87) que se operam os equivocos de associagio entre a alfabetizagao como porta principal para o desenvolvimento cognitivo, contribuindo para a discrimina¢ao dos analfabetos (pensando somente na educacdo da leitura ¢ escrita alfabética), na maioria 218 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 38 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 das vezes retratados como seres incapazes de pensar e agir, ou de dominar sistemas complexos. César argumenta ainda que: Essa concepcio de alfabetizacio associa-se a concepcdes igualmente equivocadas em relacio a escrita e oralidade, atribuindo & primeira qualidades intrinsecas capazes de transformar estruturas mentais, e faz acreditar que a escrita favorece um pensamento mais abstrato, mais légico, mais reflexive. Por outro lado, conferem-se A fala caracteristicas como informalidade, pouca sistematicidade incapacidade de conduzir a abstragdes nnevessarias a0 pensamento logico. (CESAR, 2011. p. 89) © resultado de tais equivocos persistentes é a atribuigdo da inferioridade aos povos de tradicdo oral ou, ainda, da inaptidtio ao desenvolvimento tecnolégico e As tSenicas da tradicdo letrada, legitimando 0 abismo e a impossibilidade de articulagao entre essas duas tradigdes. Nesse sentido, o reconhecimento da expresso indigena em seu viés estético impulsiona a desconstrugdo de nocdes ossificadas e negativas sobre 08 povos tradicionais Entre os povos indigenas a expressio estético-artistica ja ndo se manifesta unicamente nas formas orais, uma vez que, na contemporaneidade, tém-se usado, cada vez mais, a escrita alfabética e a impresstio para divulgar, em sua literatura, as especificidades ligadas A tradigo ancestral enquanto ferramenta de autoafirmacdo, resisténcia e re-existéncia, Se nesse primeiro momento queremos reunir as discussdes te6ricas realizadas pelos autores nao indigenas acerca da expressio estética adveniente da oralidade entre 05 povos tradicionais, no podemos deixar de tecer algumas consideragdes sobre as especificidades que elas, suscitam e que caracterizam a literatura indigena como uma voz-préxis ligada a tradigao ancestral. ‘Simando a expressdo estética araweré, Risério afirma que a palavra-canto tem fortissima expresso za onganizagao cultural desse povo, tuma vez que, partindo dela, explica-se a separacao do mundo divino do imimano arquetipico. Em linhas gerais, o tema do mito fundador dé-se do seguinte modo: in illo tempore nil se fazia distingdo de homens e deuses, mas Arandmi, demiurgo arawet6, insultado por sua mulher, toma © chocalho do xamanismo e comega a cantar e a comer a fumaga. Cantando, os deuses tomnam-se divinos e sublevam o solo de pedra até formar a aboboda celeste, Seguidos por outros Mai (divindades araweté) e otras categorias sobem ao c&u e, assim, ocorre a separaco no mundo entre deuses e humanos. Podemos observar que a palavra-canto possui grande importincia, uma vez que é dela que resulta a invocasao, celebrago, rituais, priticas cotidianas, posto que foi levada pelos deuses e cultivada na Terra pelos humanos, pasando a existir tanto no céu quanto na terra, Assim como separou a Terra ¢ céu pela palavra-canto, é t2o somente por meio dela que pode haver uma reconexdo desses dois mundos. E, segundo © autor, pelo canto que os deuses e mortos descem a terra falando aos humanos. Em outras palavras, a palavra-canto, além de petmitir que os humanos se comuniquem com 0 outro mundo, torna pos BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 ane 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 ou ressolidarizar “o que um dia se rompeu para gerar 0 cosmos como 0 conhecemos” (RISERIO, 1992, p. 30). Nesta seara verbi-musical esté uma altissima funedo da producdo postica na arte verbal amerindia ‘Desse modo, diante dessa dupla tradic&o, oral e escrita, amalgamada na conjuntura indigena lancada no mercado editorial sob a tutela de literatura indigena, torna-se necessirio reconhecer as elevadas funcdes criativa, estética e literdria que sdo desenvolvidas na tradic2o oral e esto em consonancia com o sentido cultural de cada etnia: os munduruku expressam-se a partir da sua tradigao ancestral, de igual modo os krenak, 0s guarani, os maxacali etc., e, unindo-se, promovem a militincia em prol dos povos natives no pais. Tendo em mente essa especificidade literéria, heranea ancestral e oral travestida para o impresso sob a forma de literatura, que abarca diferentes formas (romance, contagdo de historia, crénica, conto, meméria, depoimento, autobiografia, ete.) podemos refletir no sentido de que tais obras pretendem significar no impresso e sob a forma de livro, em particular, ¢ de literatura indigena, de modo mais geral. Tal visto admite 8 expressiio ancestral como matéria para expressio literiria na contemporaneidade, isto &, assume que a fungdo estética é tradicionalmente entendida no interior da emia (cada um a seu modo), valendo-se dela para constituir esse mosaico literdrio contempordneo que pode vir sob a forma de ritos, cantos, mitos, ficeao, histérias, entre outros, Outro exemplo que podemos trazer para reforgar o argumento do uso da matéria ancestral como literatura compreendida nos préprios termos culturais amerindios esti em Bicalho (2007). O autor propde- se analisar um género da postica maxakali, o ymiy, como sendo de ordem paratética (composigao que se organiza por coordenae%o) em oposi¢ao a ordem hipotitica (organizacto que se articula gracas as conjunedes subordinativas), o que o aproximaria de géneros tidos como ideogrimicos. Para isso, 0 autor faz uma comparactio com o género de poesia afticana orfhi Evocando as significagdes proprias das referéncias maxakali, ele desloca o leitor primeiro ao plano do conhecimento € da compreensio do que representam esses termos em que se classificam 0 género indigena, o yamiy e o yamiyvop, para depois mostrar a importincia, a este povo, do escrito ¢ do impresso na defesa de seus costumes e tradigdes. O género nativo maxakali & 0 ydnfy, que significa em lingua matemna “canto” e também “espirito”. © yamiy é a concepedo central para se entender a cultura maxakali, uma vez que yamiy sfo 0s cantos sagrados e “[...] verdadeiras composigdes postico-musicais (poemmisicas) cantadas ‘nos rituais” (BICALHO, 2007, p. 119). Uma breve descricao sobre os rituais ¢ os termos utilizados na lingua matema que designa esse género nativo vemos a seguir: Appalavra que desigua os rtuais maxakalis ¢ yamfxop. ‘op particula que indica plural Os yamisxop sto cerimonias religiosas, verdadeiras festas, que cavolvem toda a conmnidade de uma aldeia. Sao realizadas para agradecerem aos denses por uma boa colheita, ou pare pedirem una. S20 realizadas tamivém para pedir a cura de um doente, Nelas se cantam uma variedade de ydiiys incessautemente. Durante todo o dia que 220 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottata/arile/iew/32958i23097 518 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 precede a noite do ritual, todos os membros da conmuidade de uma aldeia ficam envolvidos com os preparativos do yamnivvop. (BICALHO, 2007, p. 120) Osaimiy classifica-se como género poético performético, posto que “tudo provém dos espititos, que trazem todo 0 conhecimento sobre o mundo e o sobrenatural quando interagem com os fumanos nos rituais” (BICALHO, 2007, p. 120). No género nativo encontra-se 0 yamiyxop, espeticulo que nos rituais mescla canto, danga, poesia e teatro concomitantemente, inclindo neles a poesia ydmiy. Como dito acima, a preocupactio com a manutencto dessa lirica é elementar, por isso, diante das tentativas de passar-se esse género poético para o impresso, buscou-se preservar os elementos ritmicos oriundos da tradico oral Retomando o conceito de transcriagio utilizado por Haroldo de Campos (1986) e Risério (1996), Bicalho trata, portanto, os poemas maxakalis evitando a traduedo literal quando passada da lingua materna para a lingua portuguesa, Aqui, podemos retomar o mesmo argumento de Risétio (1992) que se refere a defesa de ‘uma expressio estética nos povos tradicionais. Percebemos, inclusive, a misica, vista também no povo araweté como forma de expressdo baseada nos modos de vida tradicionais. Mas, se os arawetés ainda sto povos fundamentalmente orais, os maxakalis, além de orais, passam, desde a década de 1960, a ter contato com a escrita com Harold Popovich, do Summer Institute of Linguistics — STL, que alfabetizou alguns maxakalis. Mas & a partir da efetivacto, em 1995, do Programa de Implantagio de Escolas Indigenas de Minas Gerais ~ PIEI-MG que a literatura, que costuma ser bilingue, antes fundamentalmente oral, passa a ser publicada sob a forma de livros, a0 lado de cartilhas de alfabetizagao, livros de geografia, histéria, matemitica, etc., fortalecendo a pritica da alfabetizagao e da escrita literéria entre os membros da commnidade. Segundo Bicalho, “[..] é assim que vemos nascer um novo e rico acervo literdrio a ser consumido também pela sociedade envoltéria” (BICALHO, 2007, p. 120). A literatura maxakali impressa, oriunda da oralidade (da tradigo ancestral), vera com suas préprias especificidades. Para 0 autor, sua recepcdo também demanda os cinco sentidos do corpo, uma vez que se centra no aparato performético. A leitura da matéria ancestral alude a uma leitura e conhecimento de mundo maxakali, ao conhecimento ancestral, aos saberes deste povo, A forma particular que esta cultura tem enguanto sabedoria, Essa experiéncia ancestral, agora encontrada no impresso, imprime os entendimentos sagrados e de resisténcia, também uma recepedo de morfologia e sintaxe, cujos sentidos vao tomando forma paulatinamente sob o guarda-chuva da literatura indigena. Nos maxakali, a adogao da escrita alfabética e da lingua portuguesa para a publicagao dos livros acompanha a lingua materna (trorico linguistico macro- 8), ¢ enfatiza a importincia dela, como podemos ver na obra Livro de cantos rituais maxakali (2004 2 Ver on-line: . 2a BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottata/arile/iew/32958i23097 ene 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 “Neste processo do oral ao impresso, no qual transitam os povos indigenas, vemos uma conexfo cultural que no se dissocia da tradicdo ancestral, mas inscreve outros sentidos que, adaptando-se dentro desse novo suporte (0 livro, as midias sociais) e nessa nova rede que atua (mercado editorial, academia, concursos literdrios)’, alcanga leitores nfo indigenas e, por consequéncia, maior espaco para reivindicagtio de saberes © demands, seja no campo epistemolégico, seja no campo politico. Gratina (2013) refletindo sobre as faces desse género emergente (sob a forma do escrito), reitera que devemos ler a literatura indigena sob 0 signo da tradigao ¢ das relacdes que ela vai apresentando nesse processo hibrido de culturas (indigena com nao in: enas) € préticas (da oralidade para o impresso), uma vez que: Gerando 2 sua propria teora, a literatura escrta dos povos indigenas no Brasil pede que se leiam as virias faces de sua transversalidade, a comecar pela estreita relagto que ‘mantém com a tradiga0 oral, com a historia de outras nagdes excluidas (as nagdes afficanas, por exemplo), com a mescla cultural © outros aspectos fronteisigos que se ‘manifestam na literatura estrangeira e, acentuadamente, no cenério da literanura nacional. (GRAUNA, 2013, p. 19) ‘A heranga da tradi¢do e as diferentes relagdes que, paulatinamente, ganham forma nesse decurso podem ser vistas nas obras dos autores indigenas, Nesse conjunto literirio indigena escrito pelos autores desde si mesmos, a partir de suas préprias culturas ¢ levando-se em conta a situacio de marginalizacto em que vivem, vemos uma constelagio de formas e sentidos que se originam conforme a ancestralidade e as, priticas adotadas (como a escrita alfabética) desde © contato com o “branco”. Os efeitos resultantes do contato nao podem set vistos como ambivalentes ou dicotémicos, nesse cenario, ou como uma imediata amulagao da alteridade amerindia, mas a partir do modo como, nessa relacao, movimentam-se os escritores, a5 liderangas e 05 artistas e qual 0 sentido dessa relagao na atuagdo estética e politica deles enquanto diferenga, 2A sistematizacao da literatura indigena: do mito transcrito a autoria atribuida aos indigenas € 0 seu-nds litico-politico” Behr (2017) situa trés momentos da literatura indigena no pais: os mitos transcritos, as literaruras ditas didaticas e a literatura de autores individuais autoproclamados indigenas. © reconhecimento desses trés momentos sistematiza muito bem desde a emergéncia até a atualidade do movimento literério indigena contemporaneo, 3 Daniel Mundurukm recebe em 2017 0 prémio Jabuti com a obra Yozes Ancestrais. Ver oneline: itp/premiojaburi.combriapuracao’£2-dt311017-1507/> 222 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottata/arile/iew/32958i23097 78 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 © primeiro momento consiste no resultado material de um trabalho no indigena com origem indigena, ou seja, a coleta dos mitos indigenas transpostos para o impresso por outrem no indigena, desde viajantes, antropélogos a linguistas e assessores. Nesse primeiro momento, nfo hé uma atribuicio de autoria aos indigenas, nem de cariter coletivo, tampouco individual. Para Barra (2014), a acto colonizadora extremamente violenta jsando o completo apagamento da cultura dos povos indigenas dew higar ao quase desaparecimento da autoria indigena até o final da década de 70 do século XX” (BARRA, 2014, p. 61). A figura do autor indigena, portanto, jé havia sido inaugurada no periodo colonial por meio da agao de escritores e tipégrafos guarani, tal como aponta Eduardo Neumann (2009) Em consideragdes acerca da alfabetizagao nas redugdes guaranis pelos jesuitas, D’Angelis (2007, p. 12) conclu que a escrita em lingua indigena, “a despeito de o Guarani e o Tupi terem sido escritos e até impressos em varias obras ja nos séculos XVI e XVII", nfo era uma necessidade ¢ nem interesse das sociedades indigenas no Brasil durante aqueles séculos, e sequer no século XIX e a maior parte do século XX. Contudo, concordamos com Barra (2007, p. 61), quando ela afirma que “[..] a figura do autor indigena precisou de alguns séculos de incessante resisténcia para se fazer sentir como presenga viva”. Em outras palavras, nfo se tratava, como sitta D’Angelis acima, de estar interessado em aprender a lingua portuguesa © a consequente escrita alfabética, mas de sobreviver ao colonizador ainda sem as politicas minimas em defesa do indigena no Brasil, como 0 reconhecimento das tradig8es, territérios e saberes, Nas palavras do escritor indigena Olivio Jekupé (2009), sobre o povo guarani, resistir jé & uma grande vitbria {...] nossos parentes guaranis, até os dias de hoje, com $00 anos de resistencia, ainda falam a lingua e vivem ainda as hist6rias que sempre foram faladas de geragdo em geracto. Isso uma grande vitbria, porque no foi fécil viver $00 anos de massacre e violencia e ainda ‘manter a pripria cultura. (TEKUPE, 2009, p. 17) segundo caso refere-se A literatura que emana de projetos pedagégicos. Aqui, sob a coordenacdo do Ministério da Educacao e da Cultura, as universidades e as ONGs “se encarregam dos diferentes projetos que dao origem a uma literatura pedagégica produzida por e para os préprios indios em éreas indigenas, as mais das vezes em cursos de formacdo para professores indigenas” (BER, 2017, p. 267). Batra (2014), aludindo Almeida (1999) e seu Ensaio sobre a literatura indigena contempordnea no Brasil, observa que as obras publicadas ditas de cariter pedagégico passaram a significar para os professores indigenas “um trabalho de editoragdo: texto verbal, imagem, projeto grifico” (BARRA, 2014, p. 5). Isto & nfo se trata apenas do trabalho na edigdo bilingue ou na mensagem textual, sendo que isso também reflete as intengdes culturais de cada etnia, muitas vezes procurando passar 0s tragos étnicos vividos no oral, no corpo, em rituais como preocupagao de representé-los no impresso, 223 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 ane 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 Lima (2012) investigando as caracteristicas da emergéncia do livro indigena postula duas dimensdes encontradas a fim de salvaguardar a oralidade, a historicidade e a cultura no registro impresso: a primeira di-se por meio do texto, da mensagem e da lingua; e a segunda refere-se ao livro como objeto fisico, a0 seu projeto grifico, isto 6, a plataforma visual (layout) em cores, tipografia, design, ete., bem como seu aspecto editorial (textos, linguagem, contetido). Essas dimensdes apresentadas pela autora sto recorrentes em outros projetos que visam & publicacdo de material pedagégico para a aldeia © para o dar-se a conhecer extemporineo a ela. Essa confec¢ao, em sua maioria, envolve um coletivo de professores ¢ alunos indigenas, esquisadores, linguistas, antropélogos, assessores, etc., € “sto editados em programas de formagiio, financiados e distribuidos pelo Estado, em parceria com universidades e ONGS, tais como a Comisso Pré- indio do Acre ou 0 Instituto Socioambiental” (LIMA, 2012, p. 60). Lima apresenta em seu trabalho uma catalogacdo que contabiliza 538 titulos indigenas, inctuidos ai os de autoria individual e também coletiva (em sua grande maioria) até a data de publicagto de sua dissertacdo, no ano de 2012. Sabemos que outros autores indigenas publicaram obras depois dessa data e seguem atualizando esse mimero, tais como Daniel Munduruku, Davi Kopenawa, Cristino Wapichana, Jaider Esbell, Marcia Kambeba, pata citar alguns. A seguir apresemtamos algumas obras que fazem parte desse segundo momento, resultantes de projetos pedagégicos. A titulo de esclarecimento, a pesquisa apresentada a seguir foi retirada da minha dissertagdo (PERES, 2015) e € o resultado de um breve levantamento de obras de autoria coletiva que conrespondem as confecgdes realizadas pelos indigenas ¢ ajudantes, seja no formato de livro ou de cartilha, ou de manuais. © Ministério da Educagto e a Secretaria de Educagto Continuada, Alfubetizacio e Diversidade - MEC/SECAD publicou, no ano de 2008, em parceria com 0 Niicleo Transdisciplinar de Pesquisas Literaterras, vinculado a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a organizagao de Nilza Figueiredo e Susana Grillo Guimaries, um conjunto de livros no total de $4 obras, sob o titulo de Materiais Didéticos e Para-Didéticos em Linguas Indigenas. Esses materiais sto resultados de politicas voltadas 4 promosao da efetividade dos direitos culturais, linguisticos e educacionais dos povos indigenas. Esta coletinea reine virias obras de autoria coletiva, dentre elas podemos citar algumas que abarcam a regio do Acre: Aprender Nukini, do povo Nukini: kene Yositi, do povo Katunina; Nixi Pae—O espirito da Floresta, do povo Huni Kut, Da producao que abarca a Universidade do Estado do Mato Grosso — UNEMAT esto as seguintes obras: Iypwiwve Arexemoondwa Ra'ygéwa, do povo Taptrapé, sendo que esta obra & resultado do trabalho do professor Xari8*i Carlos Tapirapé, da aldeia Tapi"itawa Podemos citar, ainda, 0 Laboratério de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento — LACED. 0 LACED esta localizado no Setor de Etnologia do Departamento de Antropologia do Museu ‘Nacional/UFRJ. Entre as varias obras que podem ser encontradas no sitio online, podemos citar: O india Brasileiro: 0 que vocé precisa saber sobre os povos indigenas no Brasil de hoje, publicada em 2006, de 224 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 one 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 Gersem dos Santos Luciano — Baniwa; Povos indigenas e a lei dos “brancos”: 0 direito d diferenca, publicada em 2006, de autoria coletiva reunindo Ana Valéria Araijo, Jo8nia Batista de Carvalho ~ Wapixana, Paulo César de Oliveira ~ Pankararu, Liicia Femanda J6fej - Kaigang, Vilmar Martins Moura Guarany e S. James Anaya; A escola na ética dos va Kaiowa, publicada em 2012, de Tonico Benites. Como podemos perceber, as publicagdes das obras sdo recentes © abrangem uma gama de etnias geograficamente descentralizadas que fomentam a pesquisa e 0 ensino aos povos indigenas, dando auxilio € muitas vezes subsidio para a produgo © propagacao de seus materiais produzidos individual e coletivamente, As caracteristicas das obras indigenas que pudemos observar sto as dimensdes do texto, mensagem lingua, a0 lado de seu projeto griico, tal como postulado por Lima (2012). Outra caracteristica dessa literatura de cariter mais didético é que o sujeito principal da narracdo € 0 “nés”, autor coletivo, resultado do trabalho da comunidade em conjunto, como vimos acima. Behr argumenta, nesse sentido, que o livro toma-se uma ferramenta para os indigenas “para se representarem perante 0 mundo exterior & aldeia, mas também meio de definir a propria identidade” (BEHR, 2017, p. 269). As palavras de Olivio Jekupé mostram a importincia da educagao escolar e de como tais projetos colaboram para a formacao cidada e também para a preservacao cultural e a resisténcia indigena: Acredito que nossas comunidades t8m que lutar para que haja escola em suas aldeias, porque 0 futuro da defesa de nosso povo esti na educactio. E através do conhecimento que teremos lideres fortes e preparados. O dominante usa dessa arma para nos enffentar, para ‘hos humilhar. Se temos que eafrenta-los, por que nao usar dessa arma? Uma arma que 130 precisa de muerra: s6 de conversa, diseurso. (JEKUPE, 2009. p. 16) O terceito caso, por fim, trata dos autores indigenas que dio énfase & sua alteridade e que escrevem livros e sto publicados por editoras, comegando a ser conhecidos © a consolidat-se no cenétio artistico- literati nacional. Como argumenta a autora, neste terceiro momento, a escrita tem um papel de combate € defesa dos valores indigenas, como também podemos ver na fala de Olivio Jekupé: 1Nés indigenas temos que set como os grandes lideres que lutaram pelo nosso povo; tem0s que ser fortes ¢ acreditar na arma que usamos para lutar que ¢ escrever. O prescute, © firuro est mudando e a literarura seré nossa grande arma para defender nosso povo. (EKUPE, 2009. p. 15) Tomamos como ponto de pattida este terceiro momento para analisarmos a especificidade que argumentamos haver nas obras indigenas, As vezes de modo expresso, outras de modo mais implicito, que & 0 conceito da voz-pravis em termos do eu-nés lirico-politico, condicdo central para a atuacto dessa vor~ 225 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 1018 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 prévis indigena nos cenirios académicos politico-sociais. Compreendemos 0 ‘ev-nés’ como uma intrinseca relacdo de alteridade que une & voz e 4 autoria individual, o ‘eu’ enquanto sujeito histérico, 0 ‘nds’, a meméria coletiva/mitica da tradic&o ancestral comunitiria, Isto 6, esse conceito problematiza e leva- nos a teorizar a especificidade do material indigena publicado no impresso que envolve esse conceito que consideramos fundamental no ambito literdrio indigena contemporaneo: a autoria coletiva © a autoria individual enquanto correlagao intrinseca. O primeiro refere-se & manufatura da obra em catiter coletivo, explicitado no momento da sistematizagao apresentada por Behr; 0 segundo representa este terceiro ‘momento em que encontramos os escritores indigenas na atualidade, apropriando-se de ferramentas como a escrita @ a midia para autoexpressao. Em outras palavras 0 ‘eu-nés’ & 0 reconhecimento das formas das pessoas (eu, singular, sujeito hhistérico; nés, plural, sujeito mitico) coabitando a narrativa indigena como forma de expressdo que se formula na alteridade indigena, ainda que a narrativa, crénica, romance, conto, fiecto (todos a modo indigena) assinale nome individual e automatieamente d8.se a aleunha de autoria individual. Nesse caso, & preciso ver @ matéria ancestral existente na ctiagdo estética, & preciso reconhecer que “os mitos da comunidade constituem fonte de inspiragao extremamente presente ¢ inesgotével” (BEHR, 2017, p. 275). Em obras assinaladas como sendo de autoria coletiva também encontramos o “en, sobretudo em obras que assinalam 0 coletivo ‘Pataxé, Maxakali, Tupinambé’, ete. Nestas, o conceito cunhado por Costa (2014) de autobiografia extrospectiva destaca a inscrigao do sujeito histérico, o autor indigena em sua individualidade, capaz de exprimir a sua voz. Contudo, apesar de destacar a importincia da voz individual isolada, descontextualizada, a autora ressalta a tradiclo A qual é pertencente, Em sintese, com o conceito do ‘eu-nés* trata-se de perceber que a histéria pessoal e 0 destino coletivo sto a matéria para a voz-prévis indigena via literature. Compreendemos 0 predicado “litico-politico’ partindo de uma epistemologia propria ao universo indigena ¢ considerando o movimento de resisténcia pelo qual militam, O terme litico-politico é um conceito formulado a fim de captar a expressto adveniente dos préprios indigenas que, buscando na ancestralidade a matéria para expressto € na violencia histérica a matéria para resisténcia, marcam a cena literdria na contemporaneidade pela conjuntura cultural e especifica que apresentam. “Lirico-politico’, portanto, & a expresso da meméria e da alteridade sob 0 signo de resistéucia. Tal conceito *eu-nés litico-politico” Jjustifica 0 que temos chamado de voz-prévis indigena, atuacto literiria e politica em defesa de sua condic&o de minora, a partir da sua diferenga e da sua singularidade (DANNER: DORRICO, 2017, p. 130). Desde 05 mitos transcritos, passando pela literatura que emana de projetos pedagdgicos até a autoria individual, reconhecemos que os momentos situados nao sao periodos delimitados no tempo ow no espaco. Essas diferentes agdes acontecem, ainda nos dias de hoje, simultaneamente em aldeias e com escritores publicando livros em cariter individual. Para Behr, “a adogao da escrita nao distancia das raizes o indigena 226 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 one 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 que escreve: pelo contririo, permite-the reafirmar seu legado e tradigdes” (BEHR, 2017, p. 277). Nesse sentido, Daniel Munduruku (2016), pode ser tomado como exemplo. Se a obra de Daniel Munduruku é vista como sendo de autoria individual, logo em sua apresentacio ele desmistifica qualquer pretensio de autoria modema, aquela que afirma que o autor & um sujeito solitirio e destituido de qualquer contexto social € cultural, Walter Benjamin (1987), em sua obra Magia e técnica, arte e politica, afirma ser 0 romancista 0 individuo solitatio, figura correspondente ao nascimento do romance na modemidade: Podemos fazer uma travessia maritima e cruzar o eceano, sem terra vista, vendo tunicamente 0 céu © 0 mat. E 0 que faz 0 romancista. Ele € 0 mde, o solitiri. [..] 0 romancista se separou do pavo e da que ele faz. A matriz do romance ¢ o individuo em sua solido, o homem que nio pode mais falar exemplarmente sobre suas preoeupacdes, a quem ninguém pode dar conselhos, ¢ que mio sabe dar conselhos a ninguém. Eserever uum romance significa descrever a existéncia humans, levando o incomensurdvel 20 paroxismo, (BENTAMIN, 1987, p. $9) Contritio a esta compreensio de autoria modema, de um escritor individual, solitirio e descontextualizado, temos 0 exemplo do escritor indigena Daniel Munduruku que reforga em sua escrita sua voz historica inextricavelmente a voz ancestral, heranga tradicional de sew povo munduruku, isto é apresentando uma autoria individual ligada ao seu contexto étnico e cotidiano. Se nesta obra a énfase esta tna voz do sujeito histérico, enquanto lideranca e militante indigena, diretor do Instituto Uka — Casa de Saberes Ancestrais, que visa 4 promogao da literatura indigena, a voz ancestral, isto &, 0 ‘n6s’, manifesta-se na valorizagdo da tradi¢do e da meméria (individual e coletiva) ‘Nessa época, 2 gente vivia um poueo isolado dos grandes centtos, ¢ por isso ficamos na curiosidade. A noite, os velhos contavam histérias antigas que traziam fendmenos semelhantes: temores de terra. Nas historias, diziam que era a flria dos ancestrais. Eles estavain tristes com os seres hnimanos, ¢ por isso faziam a terra temer para que as pessoas tomassem juizo, Eu ouvia tudo aquilo sempre agarrado A sain de mame. Estava com medo de que os ancestrais quisessem me pegar por eu ter feito alguma coisa rim, (MUNDURUKU, 2016, p. 16) A presenga manifesta da subjetividade, do ‘eu’, na composigao das memérias dispostas de Daniel a0 longo da obra, vem acompanhada das experiéncias do conhecimento tradicional. Mas nao s6, elas também esto adjuntas da conscigncia da violéncia histérica pelo qual passam os povos indigenas no pais, como podemos ver na passagem a seguir: A literatura €, para nds, uma forma de atualizar noss0s conhecimentos antigos. Por intermédio dels, pretendemos desconstrair a imagem negativa que fizeram de nos [..J. E 27 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottatalaricleliew/32958123097 rae 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 isso que procuramos manter vivo nos livros que eserevemns, nos filmes que produzimos, nas nvisicas que compomos, nos cautos que dancamos, nas universidades que frequentamos. Atalizar nossos saberes ancestrais usando 0s equipamentos que a sociedade, dita civilizada, criou € a nossa maneira de mostrar que mio somos seres do passado, muito menos do futuro. Essa atualizacio mostra que estamos na Terra para ficar e queremos ensinar nossa maneira de mantero planeta vivo, queremos gritar para o nmundo todo que somos parte e que ainda di tempo de reverter o quadro vermelho de sangue que {i pintado ao longo de nossa histéria. Ainda dé tempo. (MUNDURUKU, 2016, p. 192- 193) © predicado “lirico-politico” sintetiza bem a expresso amerindia porque expde as formas de expresso da escrita indigena. Em Daniel Munduruku vemos, simultaneamente, a literatura como veiculo pata antincio dos saberes tradicionais, quando ele afirma ser a literatura 0 veiculo de atualizagdo dos saberes antigos, e para a enunciagdo da voz indigena desde si mesma junto 4 demincia da violencia histérica sofrida e vivida pelos povos indigena: uma vez que ele enfatiza, por meio da metifora quuadvo vermelho de sangue pintado ao longo da histéria, sua consciéncia politica. Olivio Jekupé é outro escritor indigena que marca a ceua literdria contemporénea no pais. Em seu texto, jé aludido anteriormente, Literatura escrita pelos povos indigenas (2009), ele elenca oito titulos em que assinala autoria individual, marcando os anos de 1993 até 2007: Leopélis Inesquecivel (1993), 500 anos de angiistia (1999), O saci verdadeiro (2000), Iarandu, 0 cdo falante (2002), Xereké arandu a morte de Kretét (2002), Arandu Ymanguaré (2003), Ajuda do saci Kamba (2006). Também podemos encontrar do autor A mulher que virou urutau (2011), autoria junto & sua esposa Maria Kerexu, Tekoa — conhecendo uma aldeta indigena (2011) e As quetxadas e outros contos gnarants (2013). A escrita voltada & literatura esta no cere do fortalecimento da luta in ena no papel de lideranga assumido por Olivio Jekupé. Para ele, a escrita nfo & assumida como o sinénimo de apagamento da tradicdo oral, mas como ferramenta essencial de resisténcia no presente: Através dela [da escrita] podemos mostrar ao mundo nossos problemas que acontecem no Basil diariamente: tera sendo ronbadas, ros sendo destruidos, indios assassinados, indians estupradas e tantas outras coisas mais. E poueos sabem disso. Por isso eu via na eserita pelos préprios indigenas como uma grande arma para a defesa de nosso povo. (JEKUPE, 2009, p. 13) © ex-nés na obra de Olivio encontra-se na ficeao (a0 modo indigena, na contacdo do conhecimento ancestral guarani) que retine “coletividade, mitos e encantos nos modos de constituir 0 nome proprio do indigena” (COSTA, 2014, p. 77). Em O saci verdadeiro (2002), composta por duas histirias, vemos 0 Saci Pereré (kamba’i) na versio indigena constituida e reapropriada no estilo criativo de Jekupé. Em outras palavras, a versio folclorizada na cultura brasileira por Monteiro Lobato, agora ¢ recontada nas palavras de 228 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottatalaricleliew/32958123097 1318 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 uum indigena que se vale da matéria ancestral para esteti2i-la a seu modo partindo da ancestralidade guarani A ficcionalizacio indigena nao se dissocia dos saberes tradicionais, mas 0 enfatiza, reorienta-se visio indigena do autor, trazendo a especificidade da propria cultura: as personagens so 0s seres ancestrais, 0 espago ¢ 0 da aldeia e 0 da cidade, contudo, sempre ligado 4 natureza, 0 tempo & ao mesmo tempo o mitico © o presente, e a intengdo possui caréter lirico-politico, uma vez que busca mostrar os saberes tradicionais reforgar a militancia indigena, Para Costa (2014), 0 nds esté sempre nos modos de coletivizar as agdes © 05 sentimentos de pertencimento, tal como podemos ver na obra de Olivio Jekupé e nos demais escritores indigenas na contemporaneidade, Em outras palavras, nas autorias e vozes individuais, de sujeitos in singulares, vemos que a coletividade esta associada na formulagdo criativa dos diferentes géneros (romance, conto, contagdo de histérias, crénica, memérias, depoimentos, testemunho, etc.) e em diferentes suportes (Livros e midias sociais). A queda do céu: palavras de wm xamé yanomami (2015), de Davi Kopenawa e Bruce Albert, narra a trajetéria do xam& yanomami Davi Kopenawa na constante relacdo de historia pessoal e destino coletivo. Classificada como autobiografia, depoimento, meméria, biografia, encontramos nela 0 ‘eu-nés lirico- politico’ que explicita a pessoa indigena em sua diferenca epistemolégica ¢ ontolégica. O livro traz uma especificidade acerca da autoria, ou da relagao do que chamamos de ‘eu-nés’: 1) a autobiografia indigena por meio da narragao de Kopenawa em que o “eu” € singular, mas também plural, ‘eu’, enquanto sujeito histérico, e 0 “eu” enquanto sujeito mitico e ancestral, foco do nosso estudo neste texto, Segundo Albert, co- autor do texto, responsivel pela escrita, o que encontramos em 4 queda do céu é visto do seguinte mod © “ev” narrador no & apenas duplicado pelo efeito autobiogrifico. Pode também ser habitado por uma nmltiplicidade de vozes que constituem um verdadeizo mosaico narrativo. Esse € particularmente o caso de Davi Kopenavsa, como ele mesmo sempre Jembra em suas falas. Em primeiro ugar, para além de suas reflexdes e lembrancas pessoas, sas palavras se referem constautenteate aos Valores e & historia de seu povo, € tos so transmitdas enquanto tas. Nesse caso, 0 “eu” nnrradoré indissocidvel de um "nds" da tradigio e da memaria do grupo ao qua ele quer dar voz. Portanto,o que ouvinos € uum “eu” coletivo tornado autoetn6grafo, movido pelo desejo ao mesino tempo intelectual, estctico « politico de revelar 0 saber cosmolégico ea historia trica dos seus 0s brancos dispostos a escui-lo. (KOPENAWA; ALBERT, 2015, p. $39) 4 queda do céu intercambia elementos antropol6gicos, literérios, etnogréficos e autobiogréfico a0 modo indigena. A etnografia surge nessa obra a partir do sentido contemporaneo, ou seja, ela abrange diversas maneiras de pensar e escrever sobre a cultura do ponto de vista da observacdo do participante. Esta visdo, que “supe miitua projegdo” (KLINGER, 2006, p. 119), valoriza e oportuniza a expressdo indigena no a derrocando como subalterna na producto de conhecimento, mas permitindo um papel ativo e protagonista, Por outro lado, a autobiografia evidencia a presenca multicultural do xami yanomami, pois, 229 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.v! brtevistasluelindex.phprbottatalaricleliew/32958123097 sane 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 20 falar da propria vida, ele ressalta fronteiras entre sua vida individual e subjetiva, bem como da vida politica e coletiva prépria do grupo. Essas miltiplas perspectivas convidam-nos ao exame das particularidades que os povos indigenas, os autores indigenas, apresentam na publicacio de suas obras. A obra pode ser considerada autobiogréfica, mas néo pertence a um género narrativo tradicional em que o antropélogo transcreve wma narragdio. Para Albert, 0s tegistros do depoimento de Davi nao cabem nos cénones autobiogrificos cléssicos (nossos ou dos Yanomamis), pois 0s relatos dos episédios cruciais de sua vida mesclam inextricavelmente histéria pessoal e destino coletivo. Significa dizer que o “eu-n6s lirico- politico” capta a expressiio e a forma indigenas nas suas miltiplas manifestagdes. Segundo Costa e Xucunt- Kariri 2014); Essa simbiose entre “eu” e “nbs” nto significa a dilvigto da autoria ao ponto de a perdermos de vista, mas sim uma autoria que se realiza na ambivaléncia dos efeitas desses dois extremos. Nessas historias nfo hi um “eu” absoluto, posto que sempre surge mediado, ‘ow mesmo implicado, no “nés” narrativo, Tampouco se pode dizer que a autoria coletiva seja absoluta, pois bi um reconhecimento na apresentagio das abras de que se trata de una versio da histéria de um povo dentre outras versGes, mediadis em lingua portnguesa ‘Por um antropélogo, Por vezes, parece que a narrativa ¢distante do préprio narrador, que simplesmente relata algo do passado, aparentemente desconexo a sua historia de vida, mas «em outras oportunidades o texto ¢ recheado de referéneias biogrificas, pelo fato de o mito ser constituinte do proprio narrador, que relata a sua vida por meio da historia de seu cla E essa ambivaléncia entre a primeira pessoa e a terceira pessoa do singular que sugere 0 6 @ ampliagdo da nog3o de género autobiogrifico, da qual falamos, mas também a desmontagem da ideia de um eu individuo individualizante, (COSTA E XUCURU- KARIRI, 2014, p. 96, grifo nosso) ‘No que se refere & autoria, seja em termos de narrador (Davi Kopenawa) junto ao antropélogo (Brice Albert), ou de autoria individual (Daniel Munduruku, Olivio Jekupé) vemos que, 0 que Costa e Xucurt-Kariri chamam de ambivaléncia entre a primeira pessoa do singular e a primeira pessoa do plural, _pensada em termos autobiogrificos e no seu alargamento conceitual, é uma énfase na desmontagem da ideia de um ev individuo individualizante, solitario e descontextualizado, Esse postulado nos leva a refletir acerca da recepedo das producdes de win tinico autor na relacdo com o coletivo étnico da tradigao ancestral, a0 ‘nds’, tal como pudemos ver em alguns exemplos acima, Consideragoes Finais A tradigao ancestral © a violencia historica sao apresentadas, neste texto, como matéria para autoexpressio, autovalorizagao, resisténcia e re-existéncia via literatura como critica que se faz necessaria a0 presente, No primeiro capitulo, observamos que nas tradigdes orais do povo araweté e do povo maxakali encontram-se tm elevado caréter estético nos cantos, nos rituais, que justfiam uma qualidade literaria, 230 BOITATA, Londrina, n, 24, ago-dez 2017 -ntpsuifojs.ve! brtevistasluelindex.phprbottata/aricle!iew/32958123097 158 05112123, 08:50 PDFs viewor Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL — ISSN 1980-4504 reforgando o argumento de que hi literatura em sociedades orais. Essa matéria, quando passada para 0 impresso, quando os indigenas adotam ferramentas antes de uso quase exclusivas dos “brancos”, traduz-se no livro, em diferentes formas de expresso como crénica, (auto)biografia, meméria, ficedo, etc., no sentido de autoexpressio ¢ luta. Isto &, trazendo como marca sua alteridade e apresentando caracteristicas préprias a sua tradicdo, tais como as pessoas ‘eu-nés’ e 0 predicado “lirico-politico’, conceituados como termos capazes de legitimar algumas das caracteristicas dessa literatura emergente, A breve sistematizacio da literatura indigena contemporinea, o mito transcrito, a literatura adveniente de projetos pedagégicos ¢ a literatura assinalada por escritores como sendo de cariter individual (desde si mesmos), faz um panorama dessas diferentes formas que se acumulam nessa conjuntura literdria. Desse modo, nosso objetivo foi fortalecer a voz indigena por meio de comentitios criticos acerca de sua produc, que, apresentando suas hhistérias ancestrais (sua oralidade), também aproveitam para denunciar o despejo, a exclusto ¢ a morte, ou seja, a violéneia histérica Tais matérias, advenientes da cultura e da histéria indigena no pais, possibilitam, como argumenta Behr, a revisdo das nogdes de literatura, buscando perceber como as diferentes expresses reversas & nogo ocidentalizada também podem ser postuladas como “literatura” ligadas 4 prdpria culrura, Os escritos contra~ hegeménicos ocupam um espaco de tenstio, mas é nessa tensAo, diz Dalcastagné (2012), que se constrdi o mundo do conhecimento, fugindo ao mito da homogeneidade que se supde compor a literatura brasileira, REFERENCIAS ‘© que vocd precisa saber sobre os povos indigenas no Brasil de hoje. 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