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Políticas Públicas Voltadas À Participação e Controle Social Nas Ies Públicas
Políticas Públicas Voltadas À Participação e Controle Social Nas Ies Públicas
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo conhecer as políticas públicas voltadas à gestão
participativa nas instituições públicas federais de educação superior. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, exploratória e documental que buscou maior compreensão sobre um tema pouco
explorado na literatura. As ideias de participação e controle social estão relacionadas: a
participação social visa o direcionamento das ações do governo por meio da deliberação
conjunta e o controle social visa o monitoramento e avaliação destas ações por parte dos
cidadãos. Este estudo demonstrou as políticas públicas pertinentes às IES públicas federais
relativas às audiências públicas, conferências de políticas públicas, Conselhos gestores de
políticas públicas, Ouvidorias, Serviços de Informações ao Cidadão (SICs) e portais da
Transparência, que são mecanismos de controle social de iniciativa do Ente Público. Essa
investigação contribui com a gestão universitária ao identificar e descrever as políticas
públicas de participação e controle social nas IES públicas, favorecendo a análise de possíveis
melhorias tanto nas políticas estruturantes quanto nas diretrizes operativas.
Palavras chave: Gestão universitária; Políticas públicas; Participação social; Controle social;
IES pública.
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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MATOS, 2012; SECCHI, 2013). Nesse sentido, Dias e Matos (2012) conceituam politics
como “conjunto de interações que definem múltiplas estratégias entre atores para melhorar
seu rendimento e alcançar certos objetivos” (DIAS; MATOS, 2012, p. 2). Policy, por sua vez,
relaciona-se com a realização de ações que afetam o sistema político e social (DIAS;
MATOS, 2012) ou, em outras palavras, com orientações para decisão e ação (SECCHI,
2013). Como tradução de policy, política significa “ação do governo. Constitui atividade
social que se propõe a assegurar, [...], a segurança externa e a solidariedade interna de um
território específico, garantindo a ordem e providenciando ações que visam atender às
necessidades da sociedade” (DIAS; MATOS, 2012, p. 2). Os autores concluem que todas as
diferentes interpretações de política remetem de algum modo à ideia de poder.
Assim como a palavra política, a expressão políticas públicas (public policy) possui
diversas concepções, geralmente baseadas no papel do governo diante da sociedade. Secchi
(2013) declara que a expressão políticas públicas vincula-se ao sentido do termo policy. No
mesmo sentido, Dias e Matos (2012) declaram que o termo política, quando inserido no
contexto de políticas públicas, deve ser interpretado como conjunto de atividades que
evidenciam relações de poder.
De acordo com Secchi (2013, p. 1): “Políticas públicas tratam do conteúdo concreto e
do conteúdo simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas
decisões”.
Políticas públicas podem ser definidas como conjunto de diretrizes e ações elaboradas
com a finalidade de enfrentar e solucionar problemas públicos ou, ainda, são orientações à
atividade ou à passividade (DIAS; MATOS, 2012; SECCHI, 2013). Dias e Matos (2012)
conceituam políticas públicas como a “gestão dos problemas e das demandas coletivas através
da utilização de metodologias que identificam as prioridades, racionalizando a aplicação de
investimentos e utilizando o planejamento como forma de se atingir os objetivos e metas
predefinidos” (p. 14).
Dentro da conceituação de políticas públicas, dois aspectos são assinalados por Dias e
Matos (2012): primeiramente, que tais políticas se referem a problemas públicos, significando
isso que o problema necessita estar localizado na esfera pública. Em segundo lugar, como
resultado de atividades políticas, as políticas públicas envolvem decisões políticas.
Reforçando esse segundo aspecto, Oliveira (2010) conceitua políticas públicas como
“decisões políticas sobre a priorização dos recursos públicos na satisfação das necessidades
dos vários grupos sociais” (p. 5).
Para Heidemann (2014, p. 33): “a definição de política pública inclui ao mesmo tempo
dois elementos-chave, a saber: ação e intenção”. Assim, para haver política pública é
necessária a dríade ação e intenção, ou seja, é necessário haver ações que materializem uma
intenção deliberada, mas não necessariamente explicitada. Embora não obrigatória, essa
explicitação favorece a comunicação e o entendimento entre governo e cidadãos. No mesmo
sentido, Secchi (2013) assegura que políticas públicas possuem dois elementos essenciais,
quais sejam: a intencionalidade pública, o propósito para a definição da política pública; e a
resposta, resolução de um problema público.
Não obstante definir políticas públicas, Secchi (2013) afirma que qualquer
conceituação do termo é arbitrária tendo em vista que não há um consenso quanto a essa
definição. Segundo o autor, essa falta de consenso seria decorrente de uma diversidade de
respostas quanto a fatores básicos os quais denomina de “nós conceituais”.
O primeiro nó se refere a quem elabora as políticas públicas. Segundo a abordagem
estatista (estadocêntrica), a elaboração das políticas públicas é exclusividade de atores
estatais, ou seja, a personalidade jurídica dos atores que elaboram as políticas determina se
essas políticas são ou não “públicas”. Do outro lado, a abordagem multicêntrica assevera que
o que adjetiva uma política como pública é o caráter público do problema a ser enfrentado,
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isto é, o que determina o caráter público de uma política é a sua intenção de solucionar
problemas públicos, independente da personalidade jurídica do tomador de decisão (SECCHI,
2013). Nessa seara, Secchi (2013) diferencia políticas públicas de políticas governamentais,
as quais seriam as políticas elaboradas pelos órgãos e atores governamentais. Nesse contexto,
as políticas públicas abrangeriam além da perspectiva de políticas governamentais, tendo em
vista que o governo não seria o único ator a desenvolver políticas públicas (HEIDEMANN,
2009 apud SECCHI, 2013).
O segundo nó conceitual refere-se às divergências de entendimento entre os estudiosos
da área quanto a considerar ou não a ausência de ação (inação) por parte do governo como
política pública, ou seja, considerar ou não a intencionalidade de não fazer nada, as omissões
e as negligências como políticas públicas. Secchi (2013) opina que em diversas situações o
que ocorre é a falta de política pública visando resolver determinado problema e sugere que
casos de omissão ou negligência sejam considerados somente como falta de inserção do
problema na agenda formal e declara ainda que considerando “política como diretriz é
bastante difícil aceitar a omissão como forma de política pública” (SECCHI, 2013, p.6).
O terceiro nó conceitual refere-se à divergência na interpretação quanto à amplitude
das políticas públicas, ou seja, refere-se à falta de consenso quanto às políticas públicas
englobarem: a) somente macrodiretrizes estratégicas (conjuntos de programas ou diretrizes
estruturantes) consistindo, então, as diretrizes de nível intermediário e operacional apenas
elementos operativos das políticas públicas; ou b) englobarem diretrizes de todos os níveis,
estratégico, intermediário e operacional (diretrizes estruturantes, programas, planos e
projetos) (SECCHI, 2013).
Quanto à materialização das políticas públicas, Secchi (2013, p.11) declara:
Política pública é um conceito abstrato que se materializa por meio de instrumentos
variados [...] Políticas públicas tomam forma de programas públicos, projetos, leis,
campanhas publicitárias, esclarecimentos públicos, inovações tecnológicas e
organizacionais, subsídios governamentais, rotinas administrativas, decisões
judiciais, coordenação de ações de uma rede de atores, gasto público direto,
contratos formais e informais com stakeholders, entre outros.
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A participação está relacionada à igualdade de participação na tomada de decisões, o
que pressupõe igualdade de poder de decisão (PATEMAN, 1992). Dessa forma, a
participação social, ou participação cidadã, está associada ao poder, ao controle e a
democracia (SALM; MENEGASSO, 2010).
Roberts (2004) define participação cidadã como o processo pelo qual os servidores
públicos e os membros da sociedade (não ocupantes de cargos públicos) compartilham o
poder de tomada de decisões substantivas relacionadas à comunidade.
Arnstein (2002) fornece uma tipologia de participação a qual define os diferentes
graus de participação (SALM; MENEGASSO, 2010). A tipologia proposta por Arnstein
(2002) apresenta oito tipos de participação, representados em formato de escada. Cada degrau
dessa escada corresponde à amplitude ou nível de poder do cidadão em decidir sobre as ações
governamentais (ARNESTEIN, 2002; SALM; MENEGASSO, 2010).
Trata-se de uma escada com degraus crescentes de poder do cidadão sobre as decisões
estatais, partindo dos níveis caracterizados pela ausência de participação até as categorias
marcadas pelos altos níveis de participação. Os degraus inferiores dessa escada (1 e 2) são a
manipulação e a terapia, que se referem aos níveis de não participação e descrevem situações
de pseudoparticipação (ARNESTEIN, 2002; PATEMAN, 1992).
Os degraus 3, 4 e 5 da escada englobam o que Salm e Menegasso (2010) denominam
de poder simbólico (tokenism) do cidadão sobre o Estado. O degrau 3 (informação) refere-se
ao fornecimento de informações aos cidadãos; o degrau 4 (consulta) consiste na realização de
consultas pela gestão pública à sociedade visando a obtenção de informações, contudo sem
garantia alguma de que as informações e opiniões dos cidadãos serão consideradas; já no
degrau 5 (pacificação) há concessão de um nível um pouco maior de poder aos cidadãos que
passam a ter certa influência, ainda que limitada, sobre a atividade estatal (ARNESTEIN,
2002; SALM; MENEGASSO, 2010).
Nos degraus mais altos da escada de participação estão os níveis de poder do cidadão
sobre o Estado. No degrau 6, parceria, é possível aos cidadãos a negociação de igual para
igual com o Estado. Os últimos degraus do topo da escada são a delegação de poder e o
controle cidadão; nestes níveis os cidadãos têm grande poder nos fóruns de tomada de
decisões ou até mesmo detêm o poder gerencial por completo (ARNESTEIN, 2002). Os
níveis de poder cidadão contêm traços do modelo ideal de participação e estão associados ao
empowerment da comunidade. Esses três níveis de participação exigem transparência das
ações realizadas pela gestão pública, de modo que possibilite o monitoramento contínuo do
Estado pelo cidadão (SALM; MENEGASSO, 2010).
O monitoramento da Administração Pública pela sociedade é denominado pela Escola
Nacional de Administração Pública (ENAP, 2015a) de controle social. Este controle, em
conjunto com o controle institucional exercido pela própria Administração, tem como
objetivo verificar se a atividade estatal está atendendo à finalidade pública, à legislação e aos
princípios constitucionais da Administração Pública.
É importante esclarecer que participação e controle social são ideias fortemente
relacionadas:
por meio da participação na gestão pública, os cidadãos podem intervir na tomada da
decisão administrativa, orientando a Administração para que adote medidas que
realmente atendam ao interesse público e, ao mesmo tempo, podem exercer controle
sobre a ação do Estado, exigindo que o gestor público preste contas de sua atuação
(ENAP, 2015b, p. 5).
Assim, enquanto a participação social visa o direcionamento das ações do governo por
meio da deliberação conjunta, o controle social visa o monitoramento e avaliação destas
ações. Por meio do controle social, os cidadãos podem controlar os representantes e
governantes não somente nas eleições, mas também durante o mandato e, além disso, o
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controle social pode ser empregado em qualquer etapa da atividade estatal, desde a
formulação de políticas até a prestação dos serviços públicos (PINHO; SACRAMENTO,
2009).
A Constituição Federal (CF) promulgada em 1988 oportunizou, institucionalizou e
legitimou a participação dos cidadãos na formulação e gestão de políticas públicas (ENAP,
2015a; PINHO; SACRAMENTO, 2009; SACRAMENTO; PINHO, 2007). A CF/88 versa
sobre a participação da sociedade na saúde (Art. 198º, inciso III), na assistência social (Art.
204º, inciso II) e na educação (Art. 205º e Art. 206º, inciso VI) (PINHO; SACRAMENTO,
2009).
Também a LRF fortaleceu a participação cidadã, dado que definiu em seu Art. 48º que
a transparência pública se certifica inclusive por meio da participação da sociedade na
elaboração e discussão dos planos orçamentários e de ações (SACRAMENTO; PINHO,
2007).
Desde a promulgação da Constituição de 1988 foram instituídos diversos mecanismos
visando concretizar a participação da cidadania na Administração Pública tais como
conselhos, orçamentos participativos e plebiscitos (PINHO; SACRAMENTO, 2009;
SACRAMENTO; PINHO, 2007).
Tais mecanismos consistem em políticas públicas que integram a forma de controle
que a Enap (2015a; 2015b) denomina de controle social de iniciativa do Ente Público. São
mecanismos desta forma de controle social: audiências; conferências de políticas públicas;
Conselhos gestores de políticas públicas; Ouvidorias; Serviços de Informações ao Cidadão
(SICs); e portais da Transparência. O quadro 1 apresenta os mecanismos de controle da
Administração Pública relativos tanto ao controle institucional quanto ao controle social.
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O modelo democrático-participativo preocupa-se em incentivar a organização da
sociedade civil e promover a participação ativa e maior envolvimento dos cidadãos na
formulação, implementação e controle das políticas públicas (MATIAS-PEREIRA, 2014).
Apesar dos diversos mecanismos para o controle social e do fato deste constituir-se em
uma exigência legal, a maior barreira para a concretização da transparência pública no Brasil
consiste na resistência dos gestores públicos à promoção de uma gestão participativa e à
abertura de espaços para o controle efetivo (SACRAMENTO; PINHO, 2007).
Segundo Sacramento e Pinho (2007, p. 60): “Trata-se, portanto, de um lento
aprendizado onde a construção de uma nova cultura em substituição a cultura conservadora e
fortemente enraizada, tanto no governo como na sociedade, certamente levará tempo”. Para os
autores, entre obstáculos e avanços na direção da transparência e de uma gestão participativa
efetiva ainda há muito progresso a ser realizado sendo necessário esforço tanto por parte dos
gestores públicos quanto por parte da sociedade.
A participação, nas instituições universitárias, é um conceito multidimensional que
envolve espaços políticos, acadêmicos, culturais, esportivos e cooperativos (VIRGILI LILLO;
GANGA CONTRERAS; FIGUEROA AILLAÑIR, 2015).
3. METODOLOGIA
4. RESULTADOS
A constituição brasileira (CF/88) prevê, em seus arts. 205º e 206º, Inc. VI, a
participação da sociedade na educação, tanto básica como superior. O Art. 205º versa que:
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL,
1988). Já o inciso VI do Art. 206º, traz como princípio da gestão do ensino a: “VI - gestão
democrática do ensino público, na forma da lei”
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Referindo-se à educação superior pública e à participação social, o Art. 56º da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) define que: “As instituições públicas de
educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de
órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade
institucional, local e regional” (BRASIL, 1996).
Como demonstrado pela Enap (2015a), são mecanismos de controle social de
iniciativa do Ente Público: audiências; conferências de políticas públicas; Conselhos gestores
de políticas públicas; Ouvidorias; Serviços de Informações ao Cidadão (SICs); e portais da
Transparência. As políticas públicas relativas a esses mecanismos serão descritas a seguir.
Audiências
Embora sem foco específico nas políticas de educação, a gestão participativa por meio
da realização de audiências públicas está prevista tanto na CF/88 quando na LRF (BRASIL,
1988; 2000). A LBD, por sua vez, legisla somente acerca da realização de audiências para
tratar de políticas relativas à educação de comunidades indígenas (BRASIL, 1996).
Visando promover a participação e controle social na educação, atender a LFR quanto
à realização de audiências e ainda alcançar a sua meta 20, relativa à ampliação dos níveis de
investimento público em educação pública, o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado
pela Lei n.º 13.005/2014, apresenta como estratégia 20.4:
fortalecer os mecanismos e os instrumentos que assegurem, nos termos do parágrafo
único do art. 48 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a transparência
e o controle social na utilização dos recursos públicos aplicados em educação,
especialmente a realização de audiências públicas, a criação de portais eletrônicos de
transparência e a capacitação dos membros de conselhos de acompanhamento e
controle social do Fundeb [...] (BRASIL, 2014).
Conferências e Fóruns
Muito antes da promulgação da Constituição cidadã (CF/88), a Lei n.º 378/1937 já
instituíra a Conferência Nacional de Educação (Conae). Segundo o Ministério da Educação, a
“Conferência Nacional de Educação - CONAE é um espaço democrático aberto pelo Poder
Público para que todos possam participar do desenvolvimento da Educação Nacional”
(BRASIL, 2018b).
Na Conae 2010, deliberou-se pela criação do Fórum Nacional de Educação (FNE). O
Fórum Nacional de Educação, de caráter permanente, foi criado pela Portaria n.º 1.407/2010
do Ministério da Educação e, posteriormente, instituído pela Lei n.º 13.005/2014, que aprova
o PNE (BRASIL, s.d.).
De acordo com o Ministério da Educação, o “Fórum Nacional de Educação (FNE) é
um espaço de interlocução entre a sociedade civil e o Estado brasileiro” (BRASIL, s.d.). Ou
seja, o FNE, assim como o Conae, consiste em um espaço de articulação entre o governo e a
sociedade civil que permite que a sociedade participe na formulação, implementação e
controle das políticas públicas relativas à educação (MATIAS-PEREIRA, 2014).
O Art. 5º da Lei n.º 13.005/2014 prevê que o Fórum Nacional de Educação, em
conjunto com o Ministério da Educação, com as comissões de Educação da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal e com o Conselho Nacional de Educação, realize o
monitoramento contínuo e avaliações periódicas em relação à execução e cumprimento das
metas do PNE.
A mesma lei estipula, em seu Art. 6º, § 2º, que: “As conferências nacionais de
educação realizar-se-ão com intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo de
avaliar a execução deste PNE e subsidiar a elaboração do plano nacional de educação para o
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decênio subsequente” (BRASIL, 2014). Segundo o caput do mesmo artigo, cabe ao Fórum
Nacional de Educação a articulação e coordenação das conferências nacionais e a articulação
entre as “conferências nacionais de educação com as conferências regionais, estaduais e
municipais” (BRASIL, 2014).
Conselhos
A constituição de um conselho direcionado a educação consta no § 1º, do Inc. IX, do
Art. 9º da LDB: “§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação,
com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei” (BRASIL,
1996).
Entretanto, lei publicada no ano anterior, 1995, já menciona o Conselho Nacional de
Educação e suas atribuições. Em seu Art. 1º, a Lei nº 9.131/1995 alterou os arts. 6º, 7º, 8º e 9º
da Lei nº 4.024/1961. Com isso, o § 1º do Art. 6º da referida lei passou a ter a seguinte
redação: “§ 1º No desempenho de suas funções, o Ministério da Educação e do Desporto
contará com a colaboração do Conselho Nacional de Educação e das Câmaras que o
compõem” (BRASIL, 1995).
O Conselho Nacional de Educação (CNE) é composto pelas Câmaras de Educação
Básica e de Educação Superior. A seleção dos membros das Câmaras é disposto no caput e
parágrafos do Art. 8º da Lei nº 4.024/1961. A participação da sociedade no CNE está previsto
nos arts. 7º e 8º da Lei nº 4.024/1961 (atualizado pela Lei nº 9.131/1995), da seguinte forma:
Art. 7º. O Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação
Básica e de Educação Superior, terá atribuições normativas, deliberativas e de
assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a
assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional.
[…]
Art. 8º.
§ 1º A escolha e nomeação dos conselheiros será feita pelo Presidente da República,
sendo que, pelo menos a metade, obrigatoriamente, dentre os indicados em listas
elaboradas especialmente para cada Câmara, mediante consulta a entidades da
sociedade civil, relacionadas às áreas de atuação dos respectivos colegiados.
[…]
§ 4º A indicação, a ser feita por entidades e segmentos da sociedade civil, deverá
incidir sobre brasileiros de reputação ilibada, que tenham prestado serviços
relevantes à educação, à ciência e à cultura (BRASIL, 1995).
Ouvidorias
A criação de Ouvidorias, outro mecanismo de controle social, está previsto no § 7º do
Art. 103-B da CF/88. Segundo esse parágrafo:
§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de
justiça, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado
contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares,
representando diretamente ao Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 1988).
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Portaria nº 1.864/2016 do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da
União. O referido programa tem como finalidade “coletar dados e produzir informações
acerca da satisfação dos usuários de políticas e serviços públicos prestados pelo Poder
Executivo federal” (BRASIL, 2016).
A Lei nº 13.460/2017, conhecida como Código de Defesa do Usuário do Serviço
Público, dispõe sobre “normas básicas para participação, proteção e defesa dos direitos do
usuário dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela administração pública”
(BRASIL, 2017). Para cumprimento de suas diretrizes, a lei define as atribuições tanto das
Ouvidorias públicas quanto dos Conselhos de Usuários.
O Decreto nº 9.492/2018 regulamenta o Código de Defesa do Usuário do Serviço
Público e institui o Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo federal aplicável a todos os
órgãos da administração pública direta e indireta e institui a Rede Nacional de Ouvidorias,
cuja adesão é voluntária. Entretanto, o sistema informatizado mantido pelo órgão central do
Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo federal é de uso obrigatório pelos órgãos e
entidades da administração pública federal direta e indireta (BRASIL, 2018a). No mesmo
sentido, a Instrução Normativa nº 19/2018 regulamenta o “recebimento exclusivo de
manifestações de ouvidoria por meio das unidades do Sistema de Ouvidoria do Poder
Executivo federal” (BRASIL, 2018c).
Portais da Transparência
A instituição do Portal da Transparência do Poder Executivo Federal foi definida pelo
Decreto nº 5.482/2005 que trata também da disponibilização de informações pelas instituições
públicas federais por meio da rede mundial de computadores (BRASIL, 2005). Conforme os
arts. 1º e 2º do decreto, o portal eletrônico tem por finalidade divulgar dados e informações
orçamentárias e financeiras detalhadas, relativas aos gastos efetuados, aos repasses de
recursos federais, às operações de descentralização de recursos, às operações de crédito feitas
pelas instituições oficiais de fomento e às licitações, contratos e convênios (BRASIL, 2005).
5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como finalidade conhecer as políticas públicas voltadas à gestão
participativa nas instituições públicas federais de educação superior.
Democracia e participação estão intimamente relacionadas, constituindo-se a
participação no pilar fundamental da governança democrática (VIRGILI LILLO; GANGA
CONTRERAS; FIGUEROA AILLAÑIR, 2015).
A consecução de uma gestão participativa efetiva no Brasil depende do rompimento de
barreiras e resistências à promoção de um modelo democrático- participativo de gestão e
depende também da construção de uma cultura na qual gestores públicos e cidadãos valorizem
a participação efetiva. Não obstante a existência de entraves, sobretudo culturais e
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comportamentais, à participação na gestão pública, esse trabalho evidenciou diversos esforços
do ente público no sentido de promover o envolvimento da sociedade na realização do bem
público.
Assim, neste estudo foram demonstradas as políticas públicas pertinentes às IES
públicas federais relativas às audiências públicas, conferências de políticas públicas,
Conselhos gestores de políticas públicas, Ouvidorias, Serviços de Informações ao Cidadão
(SICs) e portais da Transparência, que são mecanismos de controle social de iniciativa do
Ente Público. No entanto, ao fomentar o emprego de novos mecanismos de gestão e a
inclusão de novos atores no processo decisório, a gestão pública deve precaver-se contra a
cooptação ou limitação da participação, o que levaria a pseudoparticipação ou a níveis de
participação mínima.
Esse estudo contribui com a gestão universitária ao identificar e descrever as políticas
públicas de participação e controle social nas IES públicas, favorecendo a análise de possíveis
melhorias tanto nas políticas estruturantes quanto nas diretrizes operativas.
Novos estudos podem ser realizados para verificar se os mecanismos analisados estão
sendo aplicados nas IES públicas e, em caso afirmativo, se são efetivos. Também pode ser
estudado se os gestores públicos que atuam em IES são resistentes à promoção de uma gestão
participativa, como sugere a literatura.
REFERÊNCIAS
11
_______. Decreto nº 5.482, de 30 de junho de 2005. Dispõe sobre a divulgação de dados e
informações pelos órgãos e entidades da administração pública federal, por meio da Rede
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12
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