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Na segunda visita a Coleção Livro de Artista UFMG, propus-me a imergir em

algumas obras. Foram lidos cinco títulos, “I prelibri = prebooks = vorbücher =


prelivres”, “Mit anderen Augen schauen.”, “Libro illeggibile MN 1.” todos de Bruno
Munari. A leitura dos livros de artista de Munari se deu por sugestão da orientadora
e me despertou a curiosidade, visto que Munari é um autor referência no campo do
design.
Também foram manuseadas “12x9” de Alvaro de Sá e “Amor e Felicidade no
casamento” de Jonathas de Andrade e Yana Kahn. Estes dois últimos, se deu por
escolha da pesquisadora através da leitura de “O livro de artista e a enciclopédia
visual”, de Amir Brito Cadôr.

MUNARI, Bruno. I prelibri = prebooks = vorbücher = prelivres . 5. ed. [Mantova]:


Maurizio Corraini, 2013. 12 v.
Bruno Munaris Books Hybridization Against Linear Thinking. Disponível em:
<http://the-publishing-lab.com/es/features/view/135/bruno-munaris-books-
hybridization-against-linear-thinking>. Acesso em: 18 jun. 2018.
I prelibri. Disponível em: <https://colecaolivrodeartista.wordpress.com/2016/03/10/i-
prelibri/>. Acesso em: 18 jun. 2018

I prelibri (Pré-livros), de Munari foi a primeira obra que me propus a consultar. Talvez por
ser a maior de todas, dentre os 5 livros disposto e pela afinidade com o autor, já conhecido
em alguns estudos da área do design.

Livros Selecionados para Leitura


Fonte: Arquivo da Autora
(2018)

Ao tirar a proteção fiquei surpreendida com a obra. Parecia uma espécie de livro infantil,
que despertava a curiosidade de uma criança devido as cores. Não é um livro pensado para
ser observado e sim para a interação lúdica e imaginativa. Logo percebi que também eram
vários livretos em um livro só. Tal fato me deixou surpresa no primeiro instante, pois
esperava um livro que parecesse mais com o livro que é utilizado como suporte para
escrita, um livro ordinario. Vale lembrar que Cadôr (2016, p.322) apud Carrión (2008, p.165)
ressalta que “os primeiros livros de artista “intencionalmente se pareciam com livros
ordinários, para enfatizar o fato de que apesar de sua intenção artística, eles eram,
basicamente, livros”. Há uma comunicação plurisensorial, “Así nacieron los ‘libros ilegibles’,
llamados así porque en ellos no hay nada que leer, pero hay mucho que conocer a través
de los sentidos”. Comunica através de cores, materiais e forma.

“Conservar el espíritu de la infancia dentro de uno durante toda la vida quiere decir
conservar la curiosidad por conocer, el placer de comprender, el deseo de comunicar.” B. M.
[1]

Fonte: colecaolivrodeartista.wordpress.com
2016
Pesquisando sobre a obra em questão no blog colecaolivrodeartista.wordpress.com,
encontrei a seguinte descrição

Os Prelibri, um volume cultuado hoje, foram publicados pela primeira vez pela editora
Danese em 1980. Eles formam uma série de 12 pequenos livros (10 x 10 cm) para as
crianças que ainda não aprenderam a ler e escrever, projetados para caber em suas
mãos e montados usando diferentes tipos de materiais, cores e encadernações. Eles
oferecem uma variedade de estímulos, sensações e emoções que surgem a partir da
combinação de percepções e imagens: “devem dar a sensação de que os livros são
realmente feitos desta maneira, e contêm surpresas. A cultura decorre das surpresas de
verdade, das coisas até então desconhecidas” (Bruno Munari).

A questão do material e da encadernação chamou bastante a minha


atenção. Fato que até me proporcionou um certo desconforto. Seria um
mal do designer a preocupação em desvendar o material mais do que o
conteúdo em si?
Libro 1

- Páginas preenchidas com uma linha vermelha


- Encadernação manual

Libro 2

- Flip-Book (?)
- Encadernado com grampo

Libro 3

- Flip-Book?
- Encadernado com grampo
- “brinca” com a forma; remeteu-me muito ao livro “Principios de Forma e Desenho” de Wong, que estudamos
para a disciplina PPF II nos critérios de organização no espaço pictórico.
Livro 4

- Semelhante a um bloco de notas, com páginas em cores diferentes (sempre branca e uma outra cor), “sem
ter nada escrito”. Tal observação me lembro uma indagação de Ulisses Carrión “(...) o livro mais bonito e
perfeito do mundo/é um livro com as páginas em branco.”
- Encadernação com espiral

Livro 5

- Encadernação com cola (?)


- flip book?
- Encadernação lombada quadrada

Libro 6

- Semelhante ao 4, porém com capa mais grossa


- Encadernado com espiral

Libro 7
- Folha tipo velcro
- Encadernação em espiral

Libro 8

- Folha tipo velcro


- Encadernação artesanal/costura

Libro 9

- A madeira é a folha
- encadernação manual
- conteúdo: “jogo” com linhas

Libro 10
- Encadernação manual
- “brincadeira” da transparência da página/gato-rato. Jogo de sobreposição e transparência.
Libro 11

- Sensação olfativa bem marcante. Pude perceber a real importância de estar em contato direto com a obra.
- Encadernação lombada quadrada (?)
- Jogo de sobreposição. Transparência que cria uma impressão cinética.

Libro 12

- Livro tátil
- Páginas em tecido morim
- Novamente me lembrou o livro “Princípios de Forma e Desenho” de Wong, que estudamos para a disciplina
PPF II nos critérios de organização no espaço pictórico.

“Munari concebía las herramientas propias del diseño gráfico —color, forma, tensión
espacial, ritmo visual— como los elementos de una forma de comunicación sensorial que
creía objetiva y universal, comprensible por cualquier persona independientemente de su
edad o su cultura de procedencia.”
“No es de extrañar que todo lo anterior le llevara a centrar su atención en el marco
visual y material que ha envuelto tradicionalmente a las formas de narración escrita: el
objeto libro. Munari desarrolló durante toda su vida una larga exploración del potencial
comunicativo de los elementos materiales formales y paratextuales de los libros. Una
línea de investigación que no entendía como alternativa a la comunicación escrita, sino
como algo íntimamente vinculado a esta, una forma de ampliar su alcance.”

MUNARI, Bruno. Libro illeggibile MN 1. 7. ed. Mantova: Maurizio Corraini, [2009]. [26] p.
Libro illeggibile. Disponível em:
<https://colecaolivrodeartista.wordpress.com/2012/04/30/bruno-munari-libro-
illegibile/>. Acesso em: 20 jun. 2018

O livro é feito com encadernação manual. Não há textos ou imagens, novamente Munari dialoga com as
possibilidades da forma. Os papéis coloridos que compõem o livro são cortados de várias maneiras, formando
diferentes composições.

Fonte: colecaolivrodeartista.wordpress.com
2012
MUNARI, Bruno. Mit anderen Augen schauen. Heidelberg: Wunderhorn, c2006. 25 f. soltas

Fonte: colecaolivrodeartista.wordpress.com
2015

- Livro de desenho com várias folhas soltas


- Brinca com a forma: sempre 3 circunferências (nem sempre do mesmo tamanho) criam uma espécie de
máscara.
- várias rostos, mudando as cores dos olhos. Espécie de jogo.
Fonte: colecaolivrodeartista.wordpress.com
2015

Nota sobre Munari:


Foi interessante ver várias livros de artista do mesmo autor. No Munari,
pude perceber os jogos com a questão da forma e contraforma, muito
estudado no campo do design.

SÁ, Álvaro de. 12 x 9 : Álvaro de Sá ; arte-final: R. Sorribas. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1967. [12] p.

- 12 historias dispostas em 9 quadrados


- Dialogos utilizando figuras geometricas
- Linguagem de Historias em Quadrinhos
Sobre o uso do formato, vale ressaltar Cadôr (2016, p.322) “os artistas procuram imitar os livros comuns,
usando um determinado gênero como referência, como revistas em quadrinhos ou dicionários”.

ANDRADE, Jonathas de; PARENTE, Yana; KAHN, Fritz. Amor e felicidade no casamento. [Recife: Ed. dos
autores, 2008]. 1 luva com 5 cartazes

- livro com vários cartazes (fascículos) enumerados e dobrados guardados em uma luva
- espécie de fotolivro
- publicado em vários fascículos e depois agrupados em caixa-luva

Cadôr (2016, p. 322) apud Chartier (1994, p.35) “A escolha do formato pode ser determinante para um artista
do livro, que não pode ignorar “a maneira pela qual as formas físicas - por meio das quais os textos são
transmitidos aos seus leitores (ou ouvintes) - afetam o processo de construção do sentido”.

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