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Cálculo Integral

de uma Variável
Canal Matemática Universitária

O canal Matemática Universitária é um projeto sem fins lucrativos do


Professor Renan que contém, no momento desta publicação, mais de 1000
vídeos de conteúdo universitário e disponibilizados de graça.
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e se inscreva para dar suporte ao canal!
Cálculo Integral
de uma Variável
Renan Edgard Brito de Lima
Professor do Departamento de Matemática
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA

Os vídeos deste livro estão organizados na página do QR code acima.


À minha esposa, Mary.
À minha filha, Elisabeth.
Aos meus pais, Jorge e Fátima.
Sumário

Prefácio ix

1 Introdução ao Cálculo Integral 1


1.1 Arquimedes e o Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 A Visão Física do Conceito de Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Integrais de Polinômios e o Cálculo de Área . . . . . . . . . . . . . . . 11

Apêndice do Capítulo 1 19
1.A Fermat e o Cálculo de Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2 Integrais 22
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2 Revisão de Cálculo Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição . . . . . . . . . . . . 33
2.5 Integração por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.6 Integração de Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria . . . . . . . . . . . . . . 49
2.8 Aplicações de Integral na Física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.9 Integrais Impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

3 Discussão mais Avançada de Integrais 78


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.2 Definição de Funções por meio de Integrais . . . . . . . . . . . . . . . 80
3.3 Frações Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.4 Substituições Especiais e as Funções Hiperbólicas . . . . . . . . . . . 96
3.5 O Teorema de Liouville para Funções Elementares . . . . . . . . . . . 104

Apêndice do Capítulo 3 113


3.A Integral - o Método de Darboux . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
3.B Continuidade Uniforme e Integrabilidade por Riemann . . . . . . . . 123

Índice Remissivo 129


Prefácio

Estrutura do Livro

O livro foi originalmente projetado para ser um e-book, em que é possível ter uma
leitura confortável em tablets, computadores e celulares. Mas com o tempo veio a ideia
da criação do QR code que encaminha para uma lista de vídeos no youtube.

Figura 1: QR code que direciona para todos os vídeos deste livro no Youtube.

Este livro conta com 74 videoaulas, produzidas pelo próprio ator, que complementam
a explicação. Tais vídeos estão disponíveis de graça no Youtube e pode ser acessado em
www.youtube.com/c/MatematicaUniversitariaProfRenan. Este canal do Youtube con-
tém mais de 1.000 vídeos e de vários assuntos de matemática a nível universitário.
Apesar de o livro ter um apelo comercial, a proposta é que seja um livro muito barato
e os recursos obtidos sejam utilizados para o Canal Matemática Universitária. O autor
acredita muito em uma educação inclusiva e, acredito, que será relativamente fácil en-
contrar o formato e-book deste material de graça. Mesmo assim, peço que compre o livro
para obter recursos e pagar editores de vídeos, equipamentos e designers. Peço também
que se inscreva no canal www.youtube.com/c/MatematicaUniversitariaProfRenan.
Este livro contempla a parte de integração de funções de uma variável e é interessante
que o estudante tenha acesso ao primeiro livro que é chamado Cálculo Diferencial I. No
site www.clubedeautores.com.br/livro/calculo-diferencial-i se encontra a versão
e-book e no site https://clubedeautores.com.br/livro/calculo-diferenciali, a ver-
são impressa do livro de Cálculo Diferencial I, tendo a opção de adquirir colorido ou
preto e branco.
x Matemática Universitária

O motivo de ter escrito o livro de integral separado do diferencial é que não é neces-
sário ter conhecimento pleno de todo o conceito de derivadas para trabalharmos com a
integração e, no início dos cursos de física mecânica, é comum mencionar o conceito de
integração. É possível organizar este material em volume único, mas acredito que seja
mais agradável estudar separadamente.
Tomei a decisão de colocar, em cada seção, poucos exercícios para que o estudante
não fique muito tempo preso em um determinado assunto. Acredito que, futuramente,
pode-se acrescentar exercícios por outras mídias, como um site específico ou se pode uti-
lizar as listas de exercícios de uma faculdade. Pelo mesmo motivo, evitei colocar desafios
nos capítulos 1 e 2 e preferi que os exercícios sejam um guia para que o estudante de-
senvolva a lógica matemática esperada da seção. Algumas seções do capítulo 3 possuem
alguns exercícios complicados. Pretendo, com o tempo, acrescentar soluções dos exercí-
cios no canal, mas provavelmente em alguma área paga (e barata). O motivo é que acho
importante que o estudante tente resolver o exercício e deixar a solução disponível e de
graça pode desestimular o estudante a tentar resolvê-los.
Além das seções usuais, o livro contam com seções de apêndice do capítulo. Cada
seção do apêndice é uma leitura opcional e tem caráter informativo. Por esta razão, não
acrescentamos exercícios no final destas seções.
Um fato curioso é que o cálculo integral tem uma história muito mais rica que o cál-
culo diferencial. Para termos uma ideia, costuma-se, no cálculo diferencial, enfatizar o
embate entre Newton e Leibniz sobre quem seria o pai do cálculo, no cálculo integral há
mais discussão da evolução das ideias matemática, até chegar o nível do cálculo. Não é
exagero falar que os avanços do cálculo integral começaram antes de cristo, com o mé-
todo da exaustão.
Um outro exemplo histórico interessante é observar que no meu livro de cálculo di-
ferencial é contado um pouco a história da criação dos logaritmos criado por Napier e,
posteriormente, por algum motivo, decidiu-se calcular a derivada da função logaritmo.
O logaritmo foi criado apenas como uma ferramenta para fazer contas monstruosas, mas
1
ganhou apelo geométrico ao se estudar a área da região sob o gráfico da função y = .
x
Há algumas menções históricas no decorrer deste livro. Sinta-se encorajado e incenti-
vado a procurar na internet e um bom ponto de partida é o site da Wikipedia.
Além disso, o autor incentiva (e muito!) o uso de softwares para verificar respostas e
auxiliar nos estudos. No caso da integral, costumo utilizar a versão gratuita do Wolfram,
que pode ser acessado em https://www.wolframalpha.com/. Acredito que a principal
vantagem deste software é o número de escritas alternativas para uma função, especial-
mente trigonométricas.
Outro software bastante interessante é o Geogebra CAS Calculator, disponível para
android, mas também pode ser acessado em https://www.geogebra.org/cas?lang=pt.
CAS significa Computer Algebra System e, ao contrário da solução numérica, o computador
fornece a solução simbólica. Por exemplo, f (x) = x2 é simbólico.
Eu revisei este livro 6 vezes e, pela minha experiência, terão alguns pequenos erros,
principalmente de concordância gramatical. Quem encontrar, por favor, envie um e-
mail para matematicauniversitariarenan@gmail.com, com a localização do erro. Farei as
devidas correções e enviarei a versão corrigida.

Renan Brito de Lima


Professor do Departamento de Matemática
Instituto Tecnológico da Aeronáutica
C APÍTULO

1 Introdução ao Cálculo Integral

1.1 Arquimedes e o Cálculo de Área

O problema das áreas foi um objeto de estudo de grande interesse pelos Gregos anti-
gos. Eles sabiam trabalhar com o cálculo de área de polígonos e círculos, mas era consi-
derado insolúvel o cálculo de área de outras figuras, tais como regiões parabólicas.
y

Figura 1.1: Arquimedes foi capaz de cálcular esta área com o método da exaustão.

Com a técnica conhecida como método da exaustão, Arquimedes foi capaz de calcular
algumas regiões mais gerais, mas por quase 2000 anos, este método era um ato isolado
deste grande gênio. Uma das aplicações mais conhecidas é a estimativa do número π.
Arquimedes notou que o comprimento do círculo era um valor entre o perímetro do
polígono regular inscrito e do polígono regular circunscrito ao círculo e, quanto maior o
número de lados, melhor tínhamos para a estimativa de π.

(a) 4 lados inscrito (b) 6 lados (c) 12 lados (d) 24 lados

Figura 1.2: A área do polígono inscrito se aproxima da área do círculo.

Neste caso acima, Arquimedes não trabalhou com áreas e, sim, com perímetros. Ele
utilizou fórmulas de perímetro conhecidas na época, calculou o perímetro dos polígonos
2 Matemática Universitária

inscritos e circunscritos de 96 lados e chegou à notável aproximação

223 22
<π< .
71 7
Usando uma calculadora para efetuar as duas divisões, encontramos as duas primeiras
casas decimais de π, a saber π ' 3, 14. A princípio, pode parecer que teríamos uma
aproximação com mais casas decimais, mas o nosso olho não consegue ver diferença de
um centésimo da área. Por exemplo, na figura 1.2 letra (d), há 24 espaços em brancos que,
quando somado sua área, e supondo o raio 1 cm nos fornece um valor de 0, 03 cm2 . Pegue
este valor e divide por 24 e por isso que nosso olho não consegue perceber a diferença.
Ao leitor que estiver com a versão e-book, sugerimos dar um grande zoom para ver o
espaçamento.
Além da aproximação de π, Arquimedes encontrou a área da região delimitada pela
parábola e a reta secante (ver figura 1.1).
Em torno de 1630, com o surgimento da geometria analítica, a comunidade científica
europeia, com destaque para Fermat e Pascal, continuaram o desenvolvimento do mé-
todo da exaustão a partir de onde Arquimedes parou. Fermat encontrou um argumento
elegante para calcular a área da região delimitada pelo gráfico y = xn e as retas x = 0 e
x = b, com b arbitrário (ver figura 1.3). A forma que Fermat calculou esta área é feita no
apêndice deste capítulo.
y
y = xn

x
b

Figura 1.3: Área calculada por Fermat com um método bastante elegante.

No período de 1630 até 1680, houve muitas ideias pontuais para o cálculo de área das
mais diversas figuras. Coube a Leibniz e a Newton a tarefa de recolher e unificar estas
ideias em uma teoria. O principal resultado é o que hoje chamamos de O fundamental do
cálculo, que afirma que se uma área pode ser computada pelo método da exaustão, então
pode ser computado usando o processo de antiderivação ou, com o nome mais conhecido,
integração. Este teorema é um dos pilares da Teoria do Cálculo.
Houve, literalmente, uma guerra entre Newton e Leibniz sobre quem seria o grande
inventor do Cálculo, com graves acusações de plágio. Atualmente, após muita inves-
tigação dos manuscritos, é de consenso entre os historiadores que não houve plágio e,
portanto, o Cálculo tem dois pais. Newton foi quem descobriu o Cálculo primeiro, mas
Leibniz foi o primeiro a publicar os resultados.
Renan Lima 3

1.2 A Visão Física do Conceito de Integral

Sugerimos a nossa videoaula Introdução com Física ao Conceito de Integral. Con-


vidamos o leitor a assistir duas vezes a esta aula, a primeira antes de começar a leitura
desta seção e a segunda após terminar a leitura, pois as ideias apresentadas no vídeo são
muito importantes, mas exigem um tempo de reflexão.
Antes de falarmos do conceito de integral, faremos uma breve explicação da notação
sigma para somatórios. Dados números a1 , · · · , an , a sua soma é denotada por
n
X
ai = a1 + a2 + . . . + an .
i=1

A letra grega Σ (sigma maiúsculo) corresponde à nossa letra S. A notação acima se lê o


somatório de i = 1 até n de ai . A letra i é chamada de índice do somatório, mas é apenas
uma letra auxiliar e pode ser usada qualquer outra letra. Por exemplo, 1 + 2 + 3 + 4 pode
ser representada pela notação sigma nas seguintes formas:
4
X 4
X
i ou k.
i=1 k=1

Vamos fazer alguns exemplos e esperamos que o leitor entenda o padrão.


7
X
i2 = 12 + 22 + 32 + 42 + 52 + 62 + 72 ,
i=1
X4 4
X
(k + 1)2 = 22 + 32 + 42 + 52 = (i + 1)2 ,
k=1 i=1
4
X k 1 2 3 4
= + + + ,
k+1 2 3 4 5
k=1
X5
(−1)i = −1 + 1 − 1 + 1 − 1,
i=1
5
X
(−1)i+1 = 1 − 1 + 1 − 1 + 1.
i=1

Não há necessidade de o índice começar pelo 1, por exemplo


5
X 4
X
2 2 2 2 2
k =2 +3 +4 +5 = (k + 1)2 .
k=2 k=1

Voltando para o conceito de integral, considere um motorista dirigindo o carro em


linha reta e que tenha apenas acesso ao velocímetro. Suponha que o carro parte da po-
sição de repouso, acelera até um certo ponto e depois desacelera até parar. Desejamos
encontrar um procedimento para calcular a distância percorrida pelo veículo, supondo
que temos um mapeamento preciso da velocidade em cada instante t em 0 a 60 segundos.
Para fixar as ideias, supomos que colocamos um sensor no velocímetro e que a função
t(60 − t)
que modela a velocidade do veículo é dada por v(t) = , em que t é dado em
30
segundos e v é dada por m/s. Observe que o veículo não anda em movimento uniforme
4 Matemática Universitária

e nem em movimento uniformemente variável como estamos acostumados no ensino


médio.
v(m/s)

30 ~v
s0 st f
b b

∆s
t(s)
30 60 Figura 1.5: O veículo anda para a direita.
t(60 − t)
Figura 1.4: Gráfico da função v(t) = .
30

Para resolvermos um problema desta natureza, começamos com os casos mais sim-
ples e, aos poucos, complexificamos o problema. Supomos que o movimento do carro
seja uniforme, isto é, com velocidade instantânea constante v. A distância percorrida
∆st0 →tf no intervalo de t0 a tf é dada por
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(tf − t0 ) = v∆t.
Considere o referencial conforme a figura 1.5. Se v > 0, então s(tf ) se encontra à direita
de s(t0 ); se v < 0, então s(tf ) está à esquerda de s(t0 ). A expressão |v|∆t é a área do
retângulo de altura |v| e base de tamanho ∆t.

v(m/s) v(m/s)

v tf
t0
t(s)
t(s)
t0 tf
v

s(t0 ) s(tf ) s(tf ) s(t0 )

∆s > 0 ∆s < 0
(a) Caso v > 0. (b) Caso v < 0.

Figura 1.6: Estudo de casos pela fórmula ∆s = v∆t e a sua relação com a área sob o gráfico.

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme com velocidade v1 nos
instantes t0 até t1 e, no instante t1 , ganha um impulso, de modo que de t1 até tf , tenha
velocidade constante v2 . A distância percorrida é dada por
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 ,
em que ∆t1 = t1 − t0 e ∆t2 = tf − t1 . Note que se v1 > 0 e v2 > 0, então ∆st0 →tf é a área
da região entre o gráfico da velocidade e o eixo t, com t0 ≤ t ≤ tf .
v(m/s)

v2

v1

t(s)
t0 t1 tf

Figura 1.7: Movimento subdividido em dois movimentos retilíneos uniformes.


Renan Lima 5

Supomos agora que o carro anda em movimento uniforme em 3 partes distintas do


trecho, com velocidade v1 entre t0 e t1 ; v2 entre t1 e t2 ; v3 entre t2 e tf . A distância
percorrida é dada por
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →tf = v1 ∆t1 + v2 ∆t2 + v3 ∆t3 ,
em que ∆t1 = t1 − t0 e ∆t2 = t2 − t1 e ∆t3 = tf − t2 . A distância percorrida é a área da
região entre o gráfico da velocidade (caso v1 , v2 , v3 > 0) e o eixo t, com t0 ≤ t ≤ tf .
v(m/s)

v2

v1
v3
t(s)
t0 t1 t2 tf

Figura 1.8: Movimento subdividido em três movimentos retilíneos uniformes.

Consideremos agora um movimento não uniforme, em que v é uma função qualquer


de t. Para fixar as ideias, vamos supor que v(t) ≥ 0. Imaginemos o intervalo [t0 , tf ]
subdividido em um grande número de pequenos intervalos [t0 , t1 ], [t1 , t2 ], · · · , [tn−1 , tn ].
Por exemplo, se tf = t3 , dividimos o intervalo [t0 , tf ] em 3 subintervalos.
Em cada um dos intervalos [ti , ti+1 ], escolhemos ci , tal que v(ci ) seja o representante
marcado no velocímetro do carro. Daí, ∆sti−1 →ti ' v(ci )∆ti e, portanto,
∆st0 →tf = ∆st0 →t1 + ∆st1 →t2 + ∆st2 →t3 + . . . + ∆stn−1 →tf
' v(c1 ) ∆t1 + v(c2 )∆t2 + v(c3 )∆t3 + . . . + v(cn )∆tn .

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 tf t0 t1 tf
(a) Gráfico genérico de v(t). (b) Caso tf = t2 .
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 tf t0 t1 t2 t3 tf
(c) Caso tf = t3 . (d) Caso tf = t4 .

Figura 1.9: A soma das áreas do retângulo para o caso que escolhemos ci = ti .
6 Matemática Universitária

Passando para a notação sigma, temos


n
X
∆st0 →tf ' v(ci )∆ti .
i=1

Se os subintervalos [ti−1 , ti ] forem suficientemente pequenos, podemos supor que a


velocidade do carro seja constante em cada um dos seus pontos. Isto significa que, se
olharmos o velocímetro por menos de um segundo, parece que o velocímetro está parado.
Matematicamente, à medida que as subdivisões ∆ti ficam menores, mais preciso será
o valor do deslocamento total e espera-se, pelo método de exaustão, que o somatório
convirja para o valor real do deslocamento total.

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(a) Divisão em 8 pedaços iguais. (b) Divisão em 16 pedaços iguais.
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
tf tf
(c) Divisão em 32 pedaços iguais. (d) Divisão em 64 pedaços iguais.

Figura 1.10: A soma da área dos retângulos se confunde com a área sob o gráfico se a medida dos subin-
tervalos [ti−1 , ti ] forem "pequenos suficientes".

Utilizaremos, portanto, a seguinte notação, criada por Leibniz,


Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆st0 →tf = v(t)dt.
t0
R
O símbolo de integral é uma deformação do S de soma.
t(60 − t)
Voltemos ao nosso exemplo inicial v(t) = . As figuras abaixo mostram o
30
n
X
comportamento da expressão v(ci )∆ti cada vez que trabalhamos com ∆ti menor, em
i=1
que o ci é o ponto médio do intervalo [ti−i , ti ].
Renan Lima 7

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 60 t0 t1 t2 t3 60
c1 c2 c3 c1 c2 c3 c4
(a) Divisão em 3 pedaços iguais (b) Divisão em 4 pedaços iguais
v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
t0 t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7
60 60
c1 c2 c3 c4 c5 c6 c7 c8
(c) Divisão em 8 pedaços iguais (d) Divisão em 64 pedaço iguais

Figura 1.11: Escolhemos ci como sendo o ponto médio do intervalo [ti−1 , ti ].

Geometricamente, significa que o deslocamento total é a área da região delimitada


pelo gráfico de v, o eixo t e as retas t = t0 e t = tf . Veremos no exemplo 1.3.13 que a
resposta é 1.200 m.
No caso de a velocidade ficar negativa em um intervalo, podemos pensar que o veí-
culo está andando de marcha-ré, mas independentemente, vale a fórmula
Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = v(t)dt.
t0
v(m/s)

Geometricamente, a integral calcula a di-


ferença entre a área de cima e a área de baixo.
tf
t(s)
Área, geometricamente falando, é sempre
um número positivo. A integral só tem
a interpretação geométrica de área se a
função v(t) satisfaz v(t) ≥ 0 para todo
t ∈ [t0 , tf ].

Para frente Para frente


marcha-ré marcha-ré

Pela mesma lógica, temos a seguinte relação entre a aceleração e a velocidade


Z tf
v(tf ) − v(t0 ) = a(t)dt.
t0

Uma pequena aplicação destas ideias é resolver um exercício com movimento retilíneo
uniformemente variado (sem aplicação de fórmula).
8 Matemática Universitária

Exemplo 1.2.2: Suponha que um carro, partindo do repouso, se desloca com aceleração
constante de 2 m/s2 no intervalo 0 a 10 segundos. Qual é o deslocamento total?
Lembremos que um veículo partir do repouso significa que v0 = 0. Lembremos a
fórmula aprendida no ensino médio de movimento retilíneo uniformemente acelerado

at2
s(t) = s0 + v0 t + = s0 + t2 .
2
Fazendo t = 10, temos que ∆s = s(10) − s0 = 100 metros. Vamos encontrar a mesma
resposta, mas aplicando as ideias desta seção.
Como a(t) > 0, temos que ∆v0→t é a área da região delimitada pelo gráfico de a(t) (em
relação ao tempo) e pelas retas t = 0, "t = t" e o eixo t.
a(m/s2 )

t(s)
t 10
Figura 1.12: Gráfico da aceleração com o tempo.

Daí, chegamos a fórmula ∆v0→t = 2t.


Como ∆v0→t = v(t) − v0 e v0 = 0, temos v(t) = 2t. Como v(t) ≥ 0 para todo t ∈ [0, 10],
temos que ∆s0→10 é a área da região delimitada pelo gráfico de v(t), o eixo t e as retas
t = 0 e t = 10.
v(m/s)

20

t(s)
10
Figura 1.13: A reta v(t) = 2t.

b×h 10 × 20
Temos, portanto, que ∆s0→10 = = = 100 metros.
2 2
Renan Lima 9

Exercícios
1. Encontre o valor da soma de cada um dos itens abaixo.

5
X 6
X 100
X
a) i2 b) 2j c) 3
i=1 j=1 k=1

10
X 151
X 100
X
(−1)n (−1)k 1 + (−1)k

d) e) f)
n=1 k=1 k=1

4
X 8
X 10
X
k 2
g) k h) i i) (−2)n−2
k=1 i=3 n=5

2. Passe os somatórios abaixo para a notação sigma.

a) 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 b) 1 − 3 + 5 − 7 + 9 − 11

c) 23 + 33 + 43 + 53 + . . . + 203 d) 24 + 25 + 26 + . . . + 215

1 1 1 1 1 3 5 7 9 11
e) + + + ... + f) + + + + +
2 3 4 10 1 2 3 4 5 6
1 1 1 1 1
g) − + − + h) 32 − 42 + 52 − 62 + 72 − 82
2 4 6 8 10

3. Suponha que um carro com velocidade de 10 m/s acelera por 5 segundos com ace-
leração constante de 3 m/s2 . Qual o deslocamento total neste intervalo?

4. Suponha que uma particula parte do repouso e com aceleração dada, no SI, pela
equação a(t) = 2t + 3. Encontre a velocidade da partícula no instante em que t = 5
segundos.
10 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

a) 55 b) 126 c) 300

d) 0 e) −1 f) 100

g) 288 h) 199 i) 168

Exercício 2

Nesta questão, há várias soluções possíveis. Vamos apresentar duas delas em cada item.
6
X 5
X
a) (2k − 1) ou (2k + 1)
k=1 k=0

6
X 5
X
k+1
b) (−1) (2k − 1) ou (−1)k (2k + 1)
k=1 k=0

19
X 20
X
c) (n + 1)3 ou n3
n=1 n=2

12
X 15
X
d) 2n+3 ou 2n
n=1 n=4

9 10
X 1 X1
e) ou
i+1 i
i=1 i=2

6 5
X 2i − 1 X 2i + 1
f) ou
i i+1
i=1 i=0

5 6
X (−1)j+1 X (−1)j
g) ou
2j (2j − 2)
j=1 j=2

5
X 6
X
j 2
h) (−1) (j + 3) ou (−1)j+1 (j + 2)2
j=0 j=1

Exercício 3
∆s = 87, 5 m

Exercício 4
v(5) = 40 m/s
Renan Lima 11

1.3 Integrais de Polinômios e o Cálculo de Área

Vimos na seção anterior uma motivação com a física para o cálculo de integrais e
Z b
introduzimos a notação de Leibniz f (t)dt. Neste caso, a variável t é apenas uma letra
a
auxiliar e pode ser mudada por qualquer outra letra:
Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

O objetivo desta seção é resolver algumas integrais polinomiais de forma rápida.

Teorema 1.3.1: Fórmulas Básicas

Sejam f, g : [a, b] → R funções integráveis, então

Z b 
Z b Z b
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Z b 
Z b Z b
2. f (x) − g(x) dx = f (x) dx − g(x) dx.
a a a
Z b Z b
3. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.
a a
Z b
4. k dx = k(b − a).
a
b
bn+1 − an+1
Z
5. xn dx = , em que n ∈ N.
a n+1

Demonstração:
As provas dos itens 1, 2, 3 e 4 serão feitas com o devido rigor no capítulo 3. Para o leitor
se convencer da validade, verifique, por exemplo, para o item 3 que
n
X n
X
kf (ci )∆xi = k f (ci )∆xi .
i=1 i=1

A demonstração (feita por Fermat) do item 5 se encontra no apêndice deste capítulo.

b
b
xn+1 bn+1 an+1
Z
n .
Para organização, no item 5, escrevemos x dx = = −
a n+1 n+1 n+1
a
Z 2
Exemplo 1.3.2: Vamos calcular 2x2 dx.
1
 
2
2 2
x3 23 13
Z Z    
7 14
2x2 dx = 2 x2 dx = 2  =2 − =2 = .
1 1 3 3 3 3 3
1
12 Matemática Universitária

Z 5
x2 − x dx.

Exemplo 1.3.3: Vamos calcular
0
Z 5 Z 5 Z 5 Z 5 Z 5
2 2 2

x − x dx = x dx + −x dx = x dx − x dx
0 0 0 0 0
5 5
x3 x2 53 03 52 02
   
= − = − − −
3 2 3 3 2 2
0 0
125 25 175
= − = .
3 2 6

Definição 1.3.4: Primitivas de Polinômios

Seja f : R → R polinômio. Dizemos que o polinômio F é primitiva de f se para todo


a, b ∈ R, tem-se
Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a

xn+1
Exemplo 1.3.5: O polinômio F (x) = é uma primitiva de f (x) = xn .
n+1
xn+1
O polinômio G(x) = +1 é também primitiva de f , pois G(b)−G(a) = F (b)−F (a).
n+1
xn+1
Mais geralmente, todo o polinômio da forma + C, com C ∈ R é primitiva de f .
n+1

Exemplo 1.3.6: O polinômio F (x) = x é primitiva do polinômio constante f (x) = 1.


Todo polinômio da forma x + C é primitiva da f .

Exemplo 1.3.7: A função F (x) = x3 é primitiva da função f (x) = 3x2 . Todo polinômio
da forma x3 + C, com C ∈ R é primitiva de f .

Teorema 1.3.8: Propriedade das Primitivas

Sejam f, g polinômios e F, G as primitivas de f e g, respectivamente. Então

1. F + G é primitiva de f + g. 2. kF é primitiva de kf , onde k ∈ R.

Demonstração:
Z b 
1. Seja H(x) = F (x)+G(x), Queremos provar que f (x)+g(x) dx = H(b)−H(a).
a
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx
a a a
= F (b) − F (a) + G(b) − G(a) = H(b) − H(a).

2. Seja H(x) = kF (x), então


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx = k(F (b) − F (a)) = H(b) − H(a).
a a
Renan Lima 13

x3 x2
Exemplo 1.3.9: Todo polinômio da forma F (x) = − + C, com C ∈ R, é primitiva
3 2
de f (x) = x2 − x, feita no exemplo 1.3.3 (verifique!).

É possível mostrar que se F (x) é uma primitiva da f , então todas as primitivas de f


são da forma F (x) + C, com C ∈ R. Veremos no capítulo 2 a demonstração deste fato.
Usaremos a notação Z
f (x) dx = F (x) + C,

para representar todas as primitivas de f . Chamamos de Integral indefinida de f e,


muitas vezes, chamamos apenas de integral de f . O teorema 1.3.8 diz que vale
Z Z Z

f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.

Este resultado pode ser generalizado para um número finito de termos, isto é, dados
f , g e h, temos que
Z Z Z Z

f (x) + g(x) + h(x) dx = f (x) dx + g(x) dx + h(x) dx.

Recomendamos a nossa videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas - Polinômios.


Neste vídeo, fazemos 4 exemplos de integração com polinômios, em que vamos naturali-
zando o teorema 1.3.8. Colocaremos alguns exemplos para que o leitor observe o padrão.
Exemplo 1.3.11:
xn+1
Z
1. xn dx = + C.
n+1
x4 x3
Z
x3 + x2 dx =

2. + + C.
4 3
x5 x4 x3
Z
5x4 − 4x3 + 3x2 dx = 5 ·

3. −4· +3· + C.
5 4 3
Podemos simplificar a expressão acima e, temos, portanto
Z
5x4 − 4x3 + 3x2 dx = x5 − x4 + x3 + C.


x4 x3 x4
Z
2x3 − 6x2 dx = 2 · − 2x3 + C.

4. −6· +C =
4 3 2

No começo desta seção, vimos que, para integrais definidas, a variável da função não
tem importância, isto é,
Z b Z b Z b
f (t)dt = f (x)dx = f (u)du.
a a a

Quando trabalhamos com integral indefinida, devemos manter a variável de integração.

t3
Z Z
4u3 − 3u2 + 2 du = u4 − u3 + 2u + C,
2
 2

1. t − 2t dt = − t + C, 2.
3
2v 5
Z
2v 4 − 6v 2 + 6v − 1 dv = − 2v 3 + 3v 2 − v + C.

3.
5
14 Matemática Universitária

O próximo exemplo é feito na videoaula Aplicação de Integral - Movimento Retilíneo.


Exemplo 1.3.12: Considere uma partícula andando em movimento retilíneo uniforme-
mente variado com s(0) = s0 , v(0) = v0 e aceleração constante a. Temos que v(t) é
primitiva de a. Por outro lado, sabemos que
Z
a dt = at + C.

Logo v(t) = at + C para algum C. Fazendo t = 0, temos que v0 = v(0) = a.0 + C = C


e isso mostra que
v(t) = v0 + at.
t2
Z

Integrando novamente, temos que v0 + at dt = v0 t + a · + C.
2
at2
Daí, s(t) = C + v0 t + para algum C ∈ R. Fazendo t = 0, temos que C = s0 . Logo
2
at2
s(t) = s0 + v0 t + .
2

Exemplo 1.3.13: Suponha que a velocidade do veículo no intervalo de [0, 60] seja dada
t(60 − t)
pela função v(t) = , em que t é medido em segundos e v é medida em m/s. O
30
deslocamento total é dado por
60 60 60
t(60 − t)
Z Z Z
1
∆s = v(t) dt = dt = (60t − t2 ) dt
0 0 30 30 0

60
t2 t3 602 603
   
1 1
= 60 · − = 60 · −
30 2 3 30 2 3
0

603
   
1 1 12
= − = 2 × 60 = 1200.
30 2 3 6

Logo o veículo deslocou 1.200 metros.

n
X
Vimos na seção 1.2 que dado f : [a, b] → R, trabalhamos com a soma f (ci )∆xi ,
i=1
onde {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de [a, b] em n pedaços e ∆xi = xi − xi−1 .
Se para todo i, o tamanho ∆xi fosse cada vez menor, esperamos que o somatório convirja
Z b
para um valor real que denotamos por f (x) dx. Mais ainda, se f (x) ≥ 0 para todo
a
x ∈ [a, b], então f (ci )∆xi é a área do retângulo de base ∆xi e altura f (ci ) e a soma destas
áreas converge para a área da região delimitada pelo gráfico de f , o eixo x e as retas x = a
e x = b.
v(m/s) v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s) t(s)

Figura 1.14: A soma das áreas dos retângulos


Renan Lima 15

O interessante da notação de Leibniz é que f (x) pode ser pensada como altura do
retângulo, enquanto dx como a medida da base. Esta medida pode ser interpretada como
distância infinitesimal, que significa que é tão pequena quanto se queira.

Sugerimos a nossa videoaula Exemplos de Cálculo de Área. Avisamos que este vídeo
tem um pequeno erro no terceiro exemplo. Consegue encontrar o erro?
Exemplo 1.3.14: Vamos encontrar a área da região delimitada pela parábola y = x2 , o
eixo x e as retas x = 1 e x = 3.
y y

y = x2

x2
x x
1 3 1 dx 3
(a) Esboço da região. (b) Retângulo de "base infinitesimal".

Figura 1.15: A região e o pensamento do retângulo.

É importante imaginarmos o retângulo com base infinitesimal. Vemos que a altura é x2


a base é dx. Temos que a área é dada por
3
3
x3 33 1
Z
2 26
x dx = = − = .
1 3 3 3 3
1

Exemplo 1.3.15: Vamos encontrar a área da região delimitada pela parábola y = x2 e


pela reta y = 4.
y y
y=4 y=4 dx
4 − x2

y = x2 y = x2

x x
−2 2 −2 2
(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura 4 − x2

Figura 1.16: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe na figura que a altura do retângulo é sempre a parte de cima subtraída com a
parte de baixo, então a altura é dada por 4 − x2 e a base é dx. Para encontrar os limites
de integração, precisamos encontrar os pontos de interseção da parábola y = x2 e a
reta y = 4 e, para isso, basta igualar as duas expressões: y = x2 = 4, e daí, x = ±2.
Logo a área da região é dada por
2
2
x3
     
−8
Z
2
 8 32
4−x dx = 4x − = 8− − −8 − = .
−2 3 3 3 3
−2
16 Matemática Universitária

Exemplo 1.3.16: Vamos determinar a área da região delimitada pela curva y = x3 e


pela reta y = x restrita ao 1º quadrante.
y y

dx

x − x3
y=x

−1 y = x3 −1
x x
1 x 1

(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x − x3 .

Figura 1.17: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Observe que a altura do retângulo é x − x3 e o lado é dx. Para encontrar os limites de


integração, basta igualar x = x3 . Temos então que

x3 − x = 0 ⇒ x(x2 − 1) = 0.

As raízes são, portanto, x = 0, x = 1 e x = −1. Como x ≥ 0, vemos que os limites de


integração são x = 0 e x = 1. Temos que a área é
1
1
x2 x4 02 04
Z      
3 1 1 1
(x − x ) dx = − = − − − = .
0 2 4 2 4 2 4 4
0

Exemplo 1.3.17: Vamos encontrar a área da região delimitada pelo eixo x e a parábola
y = x2 − 1.
y y

dx
x x
1 1
1 − x2

−1 −1

y = x2 − 1 y = x2 − 1

−1 −1
(a) Esboço da região. (b) O retângulo tem altura x2 − 1.

Figura 1.18: A região de integração e o pensamento do retângulo infinitesimal.

Pela figura, observe que o eixo x está acima da parábola e a equação desta reta é dada
por y = 0. Logo, a função de cima é y = 0, a função de baixo é y = x2 − 1 e x varia de
−1 até 1. Temos, portanto,
1
1 1
x3
Z Z
2 2
0 − (x − 1) dx = 1 − x dx = x −
−1 −1 3
−1
(−1)3
   
1 2 2 4
= 1− − −1 − = + = .
3 3 3 3 3
Renan Lima 17

Exercícios
1. Resolva cada uma das integrais definidas.
Z 3 Z 1 Z 4
2
a) 2x dx b) (4x3 + 2x + 3) dx c) (2x2 + 3x) dx
1 0 0
Z 4 Z 2 Z 2
d) (x3 − 2x) dx e) (v 4 − 2v + 1) dv f) (2x + 1)2 dx
2 1 −1
Z −1 Z 1 Z 3
g) (t2 + 1)2 dt h) (x5 − 2x3 + 3x) dx i) (u + 1)3 du
−2 −1 −2

2. Resolva cada uma das integrais indefinidas abaixo.


Z Z
2
a) (5x + 7x + 1) dx b) (x3 − 3x2 − 5x + 2) dx
Z Z
5 4 3
c) (t − t + 2t − 1) dt d) (3t3 + 2)2 dt
Z Z
2 3
e) (u − 1) du f) (w + 1)(w2 − w + 1) dw

3. Uma partícula tem como equação da velocidade dada por v(t) = (t+1)(t+2)(t+3),
em que t é dado em segundos e v em m/s.
a) Encontre o deslocamento total da partículo de t = 0 até t = 4 segundos.
b) Encontre o deslocamento total da partícula de t = 1 até t = 3 segundos.
c) Suponha que a posição inicial da partícula seja s0 = 5 m. Encontre a equação
geral do movimento da partícula.

4. Uma partícula tem como equação da aceleração dada por a(t) = 6t − 4. Sabendo
que v0 = 2 e s0 = 1, encontre a equação posição. Todas as unidades estão em SI
(Sistema Internacional - metros, segundos, etc).

5. Encontre a área das regiões descritas em cada um dos itens abaixo.

a) Região delimitada pelas retas y = 0, x = 2, x = 3 e pela parábola y = 3x2 .

b) Região delimitada pelas retas y = 2x, y = −1 e x = 1.

c) Região delimitada pela parábola y = 2x2 + 1 e pela reta y = 3.

d) Região delimitada pela parábola y = x2 − 4x e o eixo x.

e) Região delimitada pelas parábolas y = x2 − 4 e y = −2x2 + 8

f) Região delimitada pela cúbica y = x3 e pelas retas x = 0, x = 1 e y = −1.


18 Matemática Universitária

Respostas
Sugerimos o Geogebra CAS Calculator, disponível para android, mas também pode ser
acessado em https://www.geogebra.org/cas?lang=pt.
Exercício 1
52 200
a) b) 5 c)
3 3
21
d) 48 e) f) 21
5
178 255
g) h) 0 i)
15 4

Exercício 2
5x3 7x2 x4 5x2
a) + +x+C b) − x3 − + 2x + C
3 2 4 2
t6 t5 t4 9t7
c) − + −t+C d) + 3t4 + 4t + C
6 5 2 7
u7 3u5 w4
e) − + u3 − u + C f) +w+C
7 5 4

Exercício 3

a) s0→4 = 304 m

b) s1→3 = 128 m
t4 11t2
c) s(t) = + 2t3 + + 6t + 5
4 2

Exercício 4

s(t) = 1 + 2t − 2t2 + t3
Exercício 5
9 8
a) 19 u.a. b) u.a. c) u.a.
4 3
32 5
d) u.a. e) 32 u.a. f) u.a.
3 4
Apêndice do Capítulo 1

19
20 Matemática Universitária

1.A Fermat e o Cálculo de Áreas

Esta seção pode ser melhor apreciado pelo leitor como uma segunda leitura e dei-
xamos como um apêndice do capítulo. Nesta seção, vamos mostrar que vale a fórmula
Z b
bk+1 ak+1
xk = − com as ideias de Fermat. Para termos uma visão histórica, Fermat
a k+1 k+1
nasceu em 1607 e faleceu em 1667, enquanto Newton nasceu em 1642 e criou o cálculo aos
24 anos de idade, em 1667.
O trabalho de Fermat foi tão impressionante, que muitos historiadores consideram
que Fermat foi o pai da Geometria Analítica (ao invés de Descartes) e também o verda-
deiro criador do cálculo. Apesar do incrível trabalho e de ter tido várias ideias fascinantes,
Fermat não percebeu o teorema fundamental do cálculo, que foi descoberto, independente-
mente por Leibniz e Newton.
A fórmula acima foi provada, historicamente, caso a caso com o valor de k especifi-
cado. O caso k = 1 é a conhecida área do triângulo, enquanto o caso k = 2 foi provada
por Arquimedes, com o método da exaustão. Cavalieri conseguiu demonstrá-la para os
casos k = 3 até o caso k = 9, mas era um método geométrico extremamente trabalhoso
que falhou para o caso k = 10. Pascal demonstrou o caso geral.
Fermat conseguiu simplificar a demonstração desta fórmula, utilizando apenas pro-
gessões geométricas. Vamos a esta demonstração interessante em que começamos fa-
zendo o caso em que a = 0.
Fixe um valor r tal que 0 < r < 1 e divida o intervalo (0, b] em infinitos subintervalos
da forma [rb, b], [r2 b, rb], . . . , [rn b, rn−1 b], . . .. Em cada subintervalo In = [rn b, rn−1 b], seja
Rn a área do retângulo de base In e altura (rn b)k . As figuras abaixo mostram como a
serão feitas as aproximações da área por retângulos para vários valores da razão.

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b R3R2 R1
b
(a) r = 0, 5 (b) r = 0, 7

v(m/s) v(m/s)

t(s) t(s)
b b
(c) r = 0, 9 (d) r = 0, 95

Figura 1.19: A soma das áreas dos retângulos se aproximam á medida que r se aproxima de 1.
Renan Lima 21

Para cada n, a área do retângulo Rn é dada pela expressão

Rn = (rn−1 b − rn b)rkn bk = bk+1 rn (1 − r)rkn = bk+1 (1 − r)(rk+1 )n

Temos, portanto,

R1 + R2 + . . . + Rn + . . . = bk+1 (1 − r)[1 + rk+1 + (rk+1 )2 + . . . + (rk+1 )n + . . .]


1
Lembrando a fórmula da soma infinita (1 + q + q 2 + . . . + q n + . . .) = , se −1 < q < 1
1−q
e substituindo q por rk+1 , temos

bk+1 (1 − r)
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . =
1 − rk+1
A soma finita de uma progressão geométrica é dada por

rk+1 − 1 1 − rk+1
1 + r + r2 + . . . + rk = = ,
r−1 1−r
daí, temos que

bk+1
R1 + R2 + . . . + Rn + . . . = .
1 + r + r2 + r3 + . . . + rk

À medida que r se aproxima de 1, a soma das áreas dos retângulos se aproxima me-
lhor da área da região abaixo do gráfico de f (x) = xk em x = 0 até x = b e, portanto, é
razoável esperar que se substituirmos r = 1 na expressão da soma da área, então
b
bk+1 bk+1
Z
xk dx = = .
0 1 + 1 1 + 12 + 13 + . . . + 1k k+1

A fórmula do item 5 do teorema 1.3.8 pode ser deduzida por interpretação geomé-
trica. Por exemplo se 0 < a < b, temos que
b b a
bk+1 ak+1
Z Z Z
k k
x dx = x dx − xk dx = − .
a 0 0 k+1 k+1

O caso a < 0, deixamos como exercício ao leitor. Será necessário separar os casos em que
k é par e k é impar.

É importante observar que, com as devidas modificações, a demonstração de Fermat


funciona para os casos em que k ∈ Q e k 6= −1.
Z
1
O caso k = −1 não funciona e o estudo da integral dx foi a principal motivação
x
de estudar função logaritmo do ponto de vista do cálculo.
Caso o leitor se indague se Fermat tinha percebido que a sua demonstração funcionava
para k ∈ Q e k 6= −1, a resposta é sim! Ele fez todos os casos em um único artigo!
C APÍTULO

2 Integrais

2.1 Introdução

Vimos no capítulo 1 que se tivermos o gráfico da função velocidade por tempo, então
o cálculo da posição pode ser feita, essencialmente, por cálculo de áreas da região delimi-
tada entre o eixo t e o gráfico da função v. Devemos apenas tomar cuidado com o sinal,
dependendo se v(t) < 0 ou v(t) ≥ 0. Por outro lado, se uma partícula tem a equação
do movimento dada pela função s(t), então a equação da velocidade v(t) é dada pela
derivada de s(t). Mais precisamente, vale a fórmula
ds
v(t) = .
dt
ds
O interessante da notação de Leibniz é a possibilidade de pensar, informalmente,
dt
como fração e, portanto, a distância infinitesimal é dada por
ds = v(t) dt.
Mais ainda, a soma dos deslocamentos infinitesimais é dada por
Z tf
s(tf ) − s(t0 ) = ∆s = v(t) dt.
t0
Por conta deste raciocínio, fica bastante intuitivo que áreas podem ser calculadas via
processo de antiderivação. Este é o teorema fundamental do cálculo, percebido por Leibniz
e Newton, independentemente!
Quando aprendemos a calcular as derivadas, vimos as regras de derivação, tais como
a regra do produto e a regra da cadeia. No cálculo integral, estas regras se transformam
em técnicas de integração. Por conta disso, na seção 2.2, faremos uma revisão do cálculo di-
ferencial, destacando as ideias e os resultados principais que utilizaremos para o cálculo
integral.
Na seção 2.3, veremos com detalhe o teorema fundamental do cálculo. A intuição
dada pela física é muito importante, mas também é importante entendermos quais são as
hipóteses exigidas da função a ser integrada.
Nas seções 2.4 e 2.5 , aprenderemos a calcular diversas integrais, começando com as
primitivas elementares, seguindo para as técnicas da substituição e de integração por
partes. A seção 2.6 é dedicada para integração, utilizando as duas técnicas.
Nas seções 2.7 e 2.8, faremos algumas aplicações de integrais tais como cálculo de
comprimento de arco, volume de sólido de revolução, cálculo de trabalho, massa e centro
de massa. Finalmente, na seção 2.9, estenderemos o conceito de integral e estudaremos
as chamadas integrais impróprias.
Renan Lima 23

2.2 Revisão de Cálculo Diferencial

Nesta seção, revisaremos os conceitos de cálculo diferencial. Começamos com con-


ceito de continuidade, que está relacionado se o gráfico da função possui saltos verticais.

Definição 2.2.1: Continuidade

Dada uma função f : [a, b] → R.

1. f é contínua em x0 ∈ (a, b) se lim f (x) = f (x0 ).


x→x0

2. f é contínua em a se lim f (x) = f (a).


x→a+

3. f é contínua em b se lim f (x) = f (b).


x→b−

Dizemos que f é contínua se ela é contínua em todos os pontos do seu domínio.

Lista de funções contínuas

• Polinomiais • Exponenciais • Trigonométricas

• Raízes enésimas • Logarítmicas • Trigonométricas inversas.

Teorema 2.2.3: Propriedades básicas de funções contínuas

Se f e g são funções contínuas, então

3. f ◦ g é contínua.
1. f + g é contínua.
f
2. f · g é contínua. 4. é contínua.
g

2
Exemplo 2.2.4: A função h(x) = e−x é contínua pois é a composição das funções
f (x) = ex com g(x) = −x2 .
2
A função f (x) = ex cos x é contínua pois é composição e multiplicação de funções
contínuas.

1
Exemplo 2.2.5: A função f (x) = é uma função contínua, pois divisão de funções
x
contínuas é contínua. Note que x0 = 0 não pertence ao domínio de f .

Para discutir a continuidade de f em um ponto x0 ∈ R é necessário que x0 esteja no


domínio de f . Sugerimos a videoaula Introdução ao Conceito de Continuidade.

A importância do conceito de continuidade reside, em dois teoremas, o teorema do


valor intermediário e o teorema de Weierstrass. Recomendamos a videoaula Teorema de
Bolzano e o Teorema do Valor Intermediário.
24 Matemática Universitária

Teorema 2.2.7: Teorema do Valor Intermediário e de Weierstrass

Seja f : [a, b] → R contínua.

1. (TVI) Fixe d pertencente ao intervalo aberto definido por f (a) e f (b), então
existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d.

2. (Weierstrass) f admite pontos de máximo e mínimo global em [a, b]. Mais pre-
cisamente, existem xm , xM ∈ [a, b] tais que

f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ) para todo x ∈ [a, b].

Agora que sabemos que todas as funções elementares são contínuas, vamos trabalhar
com as funções derivadas. Dizemos que a função f é derivável em x0 se existe o limite
f (x0 + h) − f (x0 )
lim e, caso o limite exista, denotamos por f 0 (x0 ). Dizemos que f é
h→0 h
derivável se ela for derivável em todos os pontos do seu domínio.
Geometricamente, f : (a, b) → R é derivável se em cada ponto (x0 , f (x0 )) do gráfico
possui reta tangente. Destacamos dois casos possíveis para que uma função não seja
derivável em x0 ∈ (a, b).

1. Quando o gráfico de f salta em x0 .

lim f (x0 + h) 6= lim f (x0 + h).


h→0− h→0+

2. Quando o gráfico de f possui um bico, isto é,

f (x0 + h) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )


lim 6= lim .
h→0− h h→0 + h

y y

x x
x0 x0

Figura 2.1: f é descontínua em x0 . Figura 2.2: o gráfico da f faz um bico em x0 .

Avisamos que há também o caso em que lim |f 0 (x)| = +∞


x→x0

df
Dada uma função f derivável, a função derivada é denotada por . Esta notação foi
dx
introduzida por Leibniz por causa da seguinte expressão.

df ∆f f (x0 + ∆x) − f (x0 ) f (x0 + h) − f (x0 )


f 0 (x) = = lim = lim = lim .
dx ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x h→0 h
Para problemas de modelagem de equação, é comum pensar df e dx como incrementos
infinitesimais. Recomendamos a nossa videoaula A Intuição da Notação de Leibniz.
A tabela abaixo contém um resumo das fórmulas de derivação.
Renan Lima 25

Fórmulas de Derivadas Regras de Derivação

(xp )0 = pxp−1 , p ∈ R (f + g)0 = f 0 + g 0


(sen x)0 = cos x
(f − g)0 = f 0 − g 0
(cos x)0 = − sen x
(tg x)0 = sec2 x
(cf )0 = cf 0 , onde c ∈ R
(sec x)0 = sec x tg x
(ex )0 = ex (f ◦ g)0 = (f 0 ◦ g) · g 0
1
(ln x)0 = (f · g)0 = f 0 · g + f · g 0
x
f 0 · g − g0 · f
 
1 f
(arctg x)0 = =
1 + x2 g g2

Com a tabela acima, podemos encontrar a derivada das mais diversas funções.
Exemplo 2.2.8: A primeira fórmula de derivação é a regra do tombo, (xp )0 = pxp−1 .
Recomendamos a video-aula Derivada da Soma e a Derivada de Polinômios.

1. Se f (x) = 5x = 5x1 , então f 0 (x) = 5x1−1 = 5x0 = 5.

2. Se f (x) = x2 , então f 0 (x) = 2x2−1 = 2x.

3. Se f (x) = x2 − 3x, então f 0 (x) = 2x − 3.

3x(3/2)−1 3x1/2
4. Se f (x) = x3/2 , então f 0 (x) = = .
2 2
√ 1 x−1/2 1
5. Se f (x) = x = x1/2 , então f 0 (x) = x(1/2)−1 = = √ .
2 2 2 x
!
1 5x2/3
6. Se f (x) = 5 − 3x5/3 = x−5 − 3x5/3 , então f 0 (x) = −5x−6 − 3 . Temos,
x 3
−5
então f 0 (x) = 6 − 5x2/3 .
x
7. Se f (x) = xπ , então f 0 (x) = πxπ−1 .
1 √ √ √
8. Se f (x) = √ = x− 2, então f 0 (x) = − 2 x− 2−1 .
x 2

Exemplo 2.2.9: A derivada de f (x) = x3 ln x é, pela regra do produto, dada por

df
= (x3 )0 ln x + x3 · (ln x)0
dx
1
= 3x2 · ln x + x3 · = 3x2 ln x + x2 .
x

Exemplo 2.2.10: A derivada da função f (x) = ex sen x é, pela regra do produto,

df
= (ex )0 sen x + ex · (sen x)0
dx
= ex sen x + ex cos x.
26 Matemática Universitária

Para mais exemplos com a regra do produto, sugerimos assistir às nossas videoaulas
Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas e também Derivada das Funções
Exponenciais e Logarítmicas.
A regra do quociente não será necessária para a integração. A regra da cadeia costuma
ser a regra de derivação mais complicada para aprender, por isso, sugerimos a videoaula
Regra da Cadeia - Enunciado e Exemplos. Para exemplos que mistura regra da cadeia e
regra do produto, sugerimos a aula Exemplos utilizando a Regra da Cadeia e também a
aula Exemplos de Derivação com Funções Trigonométricas Inversas. Vamos fazer mais
alguns exemplos.
Exemplo 2.2.11: Considere a função f (x) = (x2 + 3x + 1)3 e tome y = x2 + 3x + 1, então
f (x) = y 3 e pela regra da cadeia

df df dy
= · = 3y 2 (2x + 3) = 3(x2 + 3x + 1)2 (2x + 3).
dx dy dx

Exemplo 2.2.12: Para derivarmos a função f (x) = arctg(x3 ), utilizamos a regra da


cadeia, com y = x3 e f (y) = arctg y.

df df dy 1 2 3x2 3x2
= · = · (3x ) = = .
dx dy dx 1 + y2 1 + (x3 )2 1 + x6
3
Exemplo 2.2.13: Para derivarmos a função f (x) = xe−x , vamos trabalhar com a regra
do produto e a regra da cadeia.

df 3 3 3 3
= (x)0 · e−x + x · (e−x )0 = e−x + x · (−3x2 e−x )
dx
3 3 3
= e−x − 3x3 e−x = (1 − 3x3 )e−x .

O teorema qualitativo para o conceito de derivadas é o teorema do valor médio.

Teorema 2.2.14: Teorema do Valor Médio

Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em (a, b). Então existe c ∈ R tal que

f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a

Seja s : [t0 , tf ] → R a função que descreve a posição de uma partícula em movimento


retilíneo e que não sofra colisão ou impulso durante o intervalo considerado. A veloci-
dade média da partícula é dada por
s(tf ) − s(t0 )
vm = .
tf − t0

O teorema do valor médio diz que existe tc ∈ (t0 , tf ) tal que vm = s0 (tc ). Em outras
palavras, em algum momento a velocidade instantânea é igual à velocidade média.
Geometricamente, f 0 (c) é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no
ponto (c, f (c)) e, conforme demonstrado pela videoaula Equação da Reta, o coeficiente
f (b) − f (a)
angular da reta que passa pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) é dada por . O
b−a
teorema do valor médio diz que existe um ponto c ∈ (a, b) tal que a reta tangente ao
gráfico de f em x = c é paralela à reta secante que liga os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)).
Renan Lima 27

f (a) b

f (b) b

x
a c b

Figura 2.3: Reta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 ).

Finalizamos a seção com uma consequência do teorema do valor médio que vamos
precisar para a integração.

Corolário 2.2.15: Diferença constante

Se f, g : [a, b] → R são funções contínuas em [a, b] e derivável em (a, b) tais que


f 0 (x) = g 0 (x) para todo x ∈ (a, b). Então existe C ∈ R tal que f (x) = g(x) + C para
todo x ∈ [a, b]. Em particular, se f 0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b), então f é constante
em [a, b].

Demonstração:
Fixe x ∈ (a, b]. Pelo teorema do valor médio, existe cx ∈ (a, x) tal que

f (x) − f (a) = f 0 (cx )(x − a).

Por hipótese, f 0 (cx ) = 0 e, portanto, f (x) − f (a) = 0. Se escrevermos f (a) = C, provamos


que f (x) = C para todo x ∈ [a, b].
Considere a função auxiliar h(x) = f (x) − g(x). Temos que h0 (x) = 0 para todo x ∈ (a, b)
e, pelo resultado anterior, existe C ∈ R tal que h(x) = C para todo x ∈ [a, b]. Concluímos
daí que f (x) = g(x) + C para todo x ∈ [a, b].
28 Matemática Universitária

Exercícios
1. Derive cada uma das funções abaixo.

a) f (x) = x2 sen x b) f (x) = 3 3 x + 2x3 − 2

4 5
c) f (x) = −√ d) f (x) = tg x · ln x
x x

e) f (x) = ex sec x f) f (x) = xex sen x

g) f (x) = ex + e−x h) f (x) = (3x + 2)5

i) f (x) = (x2 + 8x + 1)7 j) f (x) = sen(ln x)



k) f (x) = cos( x) l) f (x) = cos4 (x)

3
n) f (x) = e x
2
m) f (x) = e−x


q
o) f (x) = x + x p) f (x) = arcsen(x + 1)

q) f (x) = arctg(x2 ) r) f (x) = arctg( x)

2. Seja f : [a, b] → R contínua e sejam m e M o máximo e mínimo globais de f . Mostre


que Im f = [m, M ], isto é, para todo d ∈ [m, M ], existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = d.

Respostas

Exercício 1
1
a) 2x sen x + x2 cos x b) √
3
+ 6x2
x 2

4 5 tg x
c) − 2
+ √ d) sec2 x · ln x +
x 2x x x
e) ex sec x(1 + tg x) f) ex (sen x + x sen x + x cos x)

g) ex − e−x h) 15(3x + 2)4


cos(ln x)
i) 14(x + 4)(x2 + 8x + 1)6 j)
x

sen x)
k) − √ l) −4 cos3 (x) sen x
2 x
√3
−x2 e x
m) −2xe n) √3
3 x2
 
1 1 1
o) p √ · 1+ √ p) √
2 x+ x 2 x −x2 − 2x
2x 1
q) r) √
1 + x4 2 x(1 + x)
Renan Lima 29

2.3 Teorema Fundamental do Cálculo

Nesta seção, trataremos de um dos teoremas mais importante: o teorema fundamen-


tal do cálculo. Seja f : [a, b] → R função contínua. Definimos
Z a
f (t)dt = 0.
a
Z x
Para cada x ∈ [a, b], considere a função A(x) = f (t) dt. Temos que A(x) está bem
a
definida, isto é, para cada x ∈ [a, b], é possível determinar unicamente A(x). As figuras
abaixo mostram a função A(x) para diversos valores de x.
y y y
y = f (t) y = f (t) y = f (t)

A(x1 ) A(x2 ) A(b)

t t t
a x1 b a x2 b a b

Figura 2.4: O valor de A(x) coincide coma área sob a curva de y = f (t) se f (t) ≥ 0 para todo t.

y y y
y = f (t)
y = f (t) y = f (t)

área=A1 área=A1 área=A1

área=B área=A2

t x2 t t
a x1 b a b a b
área=A3

(a) A(x1 ) = A1 (b) A(x2 ) = A1 − B (c) A(b) = A1 − A2 + A3

Figura 2.5: O valor de A(x) é a área acima do eixo x menos a área de baixo.

Exemplo 2.3.1: Defina A(x) a área da região delimitada por y = 0, y = t e a reta t = x.


Na figura abaixo, vemos que A(x) é a área do triângulo de base x e altura x.

y=t Portanto, a função A(x) é dada por


x
x2
Z
A(x) = t dt = .
0 2
A(x)
t
x

Recomendamos a nossa videoaula Teorema Fundamental do Cálculo - Parte 1. A


aula faz um bom resumo do que pretendemos fazer ao longo do texto. Para termos
interpretação geométrica de área, vamos supor que f (t) ≥ 0 para todo t.
30 Matemática Universitária

Fixe x ∈ (a, b). A ideia pensada por Leibniz foi considerar dx como incremento infini-
tesimal e considerar o retângulo de base no intervalo [x, x + dx] e altura f (x).
y y
y = f (t) y = f (t)

f (x)
A(x)
dA

t t
a x b a xdx b

Figura 2.6: Interpretação geométrica que Leibniz teve para o teorema fundamental do cálculo.

Considere dA a variação da área. Como a distância é infinitesimal, podemos conside-


rar f (t) constante igual à f (x) no intervalo [x, x + dx] e, portanto dA = f (x)dx. Com este
dA
pensamento, vemos que = f (x).
dx
Embora a ideia do parágrafo anterior esteja correta, há algumas imprecisões na ar-
gumentação. Por exemplo, o leitor, se estiver desatento, não percebe que foi utilizada a
continuidade da função f .

Teorema 2.3.2: 1º Fundamental do Cálculo


Z x
Seja f : [a, b] → R contínua e defina A : [a, b] → R por A(x) = f (t) dt. Então A(x)
a
dA
é derivável e vale = f (x).
dx

Demonstração:
A demonstração deste resultado pode ser encontrada em Demonstração do Teorema Fun-
damental do Cálculo. Avisamos que a demonstração acima utiliza um resultado técnico
que pode ser vista na nossa videoaula Teorema do Valor Médio para Integrais.

Definição 2.3.3: Primitiva de uma Função

Seja f uma função cont́inua. Dizemos que F é primitiva de f , se F 0 (x) = f (x) para
todo x no domínio de f .

A definição acima é muito útil por conta do 2º teorema fundamental do cálculo e,


portanto, recomendamos a nossa videoaula 2◦ Teorema Fundamental do Cálculo.

Teorema 2.3.4: 2º Fundamental do Cálculo

Se f é contínua em [a, b] e se F é qualquer primitiva de f , então


Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a
Renan Lima 31

Demonstração:
Z x
Seja A(x) = f (t) dt. Pelo 1º teorema fundamental do cálculo, temos que A(x) é primi-
a
tiva de f . Como F também é primitiva de f , temos que F 0 (x) = A0 (x) para todo x ∈ [a, b]
e, pelo corolário 2.2.15, existe C ∈ R tal que F (x) = A(x) + C. Logo
Z b
F (b) − F (a) = (A(b) + C) − (A(a) + C) = A(b) = f (t) dt.
a

Exemplo 2.3.5: Temos que sen x é primitiva de cos x e, portanto,


y
π y = cos x
π
2
Z
2 x
cos x dx = sen x π
0 2
0
π
sen − sen 0 = 1.
2 Figura 2.7: Área calculada no exemplo

Finalizamos a seção calculando algumas derivadas de funções definidas por integral.


Recomendamos a nossa videoaula Derivando uma Função dada por Integral
Z x2
2
Exemplo 2.3.6: Considere A(x) = e−t dt. Para calcular a expressão A0 (x), deve-
0
mos utilizar o teorema fundamental do cálculo e a regra da cadeia.
2 2
Seja F (x) primitiva de e−x . Temos que F 0 (x) = e−x . Pelo 2º teorema fundamental do
cálculo, temos que
Z x2
2
A(x) = e−t dt = F (x2 ) − F (0).
0

Logo, fazendo y = x2 , temos, pela regra da cadeia,

dF dy 2 2 2
A0 (x) = · = e−y .2x = e−(x ) 2x.
dy dx
4
Arrumando as contas, temos que A0 (x) = 2xe−x .
Z x2 p

Exemplo 2.3.7: Seja A(x) = 1 − t2 dt e seja F (x) a primitiva de 1 − x2 , isto é,
√ x3
0 2
F (x) = 1 − x . Pelo 2º teorema fundamental do cálculo,

A(x) = F (x3 ) − F (x2 ).

Se tomarmos y = x3 e z = x2 , então, pela regra da cadeia, concluímos que

dF dy dF dz p p
A0 (x) = · − · = 1 − y 2 .2x − 1 − z 2 .3x2
dy dx dz dx
p p
= 2x 1 − x4 − 3x2 1 − x6 .
32 Matemática Universitária

Exercícios
1. Derive cada uma das funções abaixo.
Z x Z x
−t
a) A(x) = e dt b) A(x) = sen(t2 ) dt
2 π
Z 1+x2   Z x
1 3
c) A(x) = sen dt d) A(x) = et dt
1 t −x
Z x+1 p Z cos x
1
e) A(x) = √
1+ t2 dt f) A(x) = dt
x sen x 1 − t2
Z x √ Z x
2
g) A(x) = x · (tg t) dt h) A(x) = e−t dt
0 −x

Respostas

Exercício 1

a) A0 (x) = e−x b) A0 (x) = sen(x2 )


 
0 1
c) A (x) = 2x sen d) A0 (x) = 0
1 + x2

0
p 1+x
2
e) A (x) = x + x + 2 − √ f) A0 (x) = − sec x − cossec x
2 x

Z x √ 2
g) A0 (x) = x tg( x) + (tg t) dt h) A0 (x) = 2e−x
0
Renan Lima 33

2.4 Primitivas Imediatas e a Técnica de Substituição

Na seção 2.3, vimos o teorema fundamental do cálculo em que estabelece uma cone-
xão entre o processo de antiderivação e o processo de cálculo de área. A função resultante
da antiderivação é chamada de primitiva. Mais ainda, fixada uma função f contínua, en-
tão se F é uma primitiva de f , então todas primitivas são da forma F (x) + C com C ∈ R.
Z
Escrevemos f (x) dx para representar todas as primitivas de f e recomendamos a
videoaula Primitivas Imediatas para introdução do assunto.
x2
Z
Exemplo 2.4.1: Temos que x dx = + C.
2
Z
Como (e ) = e , temos que ex dx = ex + C.
x 0 x

Para as integrais definidas, a variável da função não tem importância, isto é,


Z b Z b Z b
f (t) dt = f (x) dx = f (u) du.
a a a

Quando trabalhamos com integral indefinida, devemos manter a variável de integração.


Exemplo 2.4.2:
Z
1. 3t2 − 2t dt = t3 − t2 + C.
Z
2. 4u3 − 3u2 + 2 du = u4 − u3 + 2u + C.
Z
3. ev dv = ev + C.

Tabela de Primitivas Imediatas

xp+1
Z Z
p 1
x dx = + C, se p ∈ R e p 6= −1 dx = ln |x| + C
p+1 x
Z Z
1
dx = arctg x + C ex dx = ex + C
1 + x2
Z Z
sen x dx = − cos x + C cos x dx = sen x + C
Z Z
2
sec x dx = tg x + C sec x tg x dx = sec x + C

Sugerimos a videoaula Primeiros Exemplos de Primitivas - Polinômios.



Z
1
Exemplo 2.4.3: Vamos calcular x dx. Trabalharemos com p = na tabela acima.
2

√ x(1/2)+1 x3/2 2x3/2


Z Z
x dx = x1/2 dx = +C = +C = + C.
(1/2) + 1 3/2 3

Destacamos duas propriedades para integrais indefinidas (ver seção 1.2).


34 Matemática Universitária

Z Z Z
1. f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.

Z Z
2. kf (x) dx = k f (x) dx, em que k ∈ R.

Para os próximos exemplos, sugerimos a videoaula Primitivas não tão Imediatas.

x2 + 1
Z
Exemplo 2.4.4: Vamos calcular dx. Note que o integrando não está na tabela
x
acima e, portanto, precisamos modificar a expressão. O truque é separar o numerador,
isto é,
x2 + 1 x2 1 1
= + =x+ .
x x x x
1
Note que as funções f (x) = x e g(x) = estão na tabela acima e, portanto,
x
Z 2
x2
Z  
x +1 1
dx = x+ dx = + ln |x| + C.
x x 2

Z
1
O leitor pode está se perguntando o porquê dx = ln |x| + C ao invés de ln x + C.
x
1
O motivo é que o domínio de ln x é (0, +∞), enquanto o domínio de é R − {0}. Por
x
exemplo, se o resultado da integral fosse ln x, teríamos
−1
Z −1
1
dx = ln x = ln(−1) − ln(−2).
−2 x
−2

Isso é um absurdo!
d ln(−x) 1 1
Note que para x < 0, temos pela regra da cadeia = · (−1) = .
dx −x x

Z
Exemplo 2.4.6: Vamos calcular a integral tg2 x dx. Para tanto, precisamos aplicar a
fórmula tg2 x = sec2 x − 1. Esta fórmula é específica e pode ser interessante pensar na
seguinte lógica
sen2 x 1 − cos2 x 1 cos2 x
tg2 x = = = − .
cos2 x cos2 x cos2 x cos2 x
1
Como sec2 x = , temos que tg2 x = sec2 x − 1 e, portanto,
cos2 x
Z Z Z Z
tg2 x dx = (sec2 x − 1) dx = sec2 x dx − 1 dx = tg x − x + C.

Vimos na seção 2.2 a regra da cadeia (f ◦ g(x))0 = f 0 (g(x)) · g 0 (x), e, temos, portanto,
a seguinte fórmula
Z Z
0 0
f (g(x)).g (x) dx = (f ◦ g(x))0 dx = f ◦ g(x) + C.
Renan Lima 35

A fórmula acima se chama técnica da substituição e a forma que operamos é a seguinte:


Faça a substuição u = g(x), então du = g 0 (x) dx, escreva a igualdade
Z Z
0 0
f (g(x)).g (x) dx = f 0 (u) du

e integramos em relação à variável u. No final, devemos voltar para a variável x. Reco-


mendamos assistir à nossa videoaula Introdução à Técnica de Integração por Substituição
para entendermos o procedimento.
Z
Exemplo 2.4.7: Vamos calcular e2x dx.
du
Façamos u = 2x, então du = 2 dx, ou seja, dx = e, daí, temos
2
e2x
Z Z Z
2x udu 1 1
e dx = e = eu du = eu + C = + C.
2 2 2 2
Z
Exemplo 2.4.8: Para calcular x cos(x2 ) dx, façamos u = x2 , então du = 2x dx, daí,
du
temos que = x dx e, portanto,
2
sen(x2 )
Z Z Z
2 2
 du sen u
x cos(x ) dx = cos(x ) x dx = cos u = +C = + C.
2 2 2
Z
ln x 1
Exemplo 2.4.9: Para calcular a integral dx, façamos u = ln x. Temos du = dx
x x
e, daí
u2 (ln x)2
Z Z Z
ln x 1
dx = ln x · dx = u du = +C = + C.
x x 2 2

Exemplo 2.4.10: Para integrarmos a função f (x) = 2x , devemos passar, primeira-


mente, para a base e, isto é, 2x = ex ln 2 . Fazendo a substituição u = x ln 2, temos
du = (ln 2) dx. Daí,

eu 2x
Z Z
du
2x dx = eu · = +C = + C.
ln 2 ln 2 ln 2

Recomendamos a videoaula Fazendo Substituição Linear para Resolver Integrais e


também Exemplos de Resolução de Integrais por Substituição.
Z
Exemplo 2.4.11: Vamos calcular tg x dx. Note que, a princípio, não temos nenhuma
sen x
substituição óbvia e, portanto, é interessante utilizar a fórmula tg x = . Façamos
cos x
u = cos x, então du = − sen x dx e, portanto,
Z Z Z
1 1
tg x dx = · sen x dx = − du = − ln |u| + C = − ln | cos x| + C
cos x u
1
Como vale a fórmula ln(a−1 ) = − ln a e | cos x|−1 = = | sec x|, podemos tam-
| cos x|
bém escrever Z
tg x = ln | sec x| + C.
36 Matemática Universitária

Teorema 2.4.12: Técnica da Substituição de Integrais Definidas

dg
Suponha que f e g 0 (x) = sejam contínuas, então
dx
Z b Z g(b)
0
f (g(x))g (x) dx = f (u) du.
a g(a)

Demonstração:
Seja F a primitiva de f , então F (g(x)) é a primitiva de F 0 (g(x)).g 0 (x), daí, pelo 2º teorema
fundamental do cálculo, temos
b g(b)
Z b Z g(b)
0
f (g(x))g (x) dx = F (g(x)) = F (g(b)) − F (g(a)) = F (u) = f (u) du
a g(a)
a g(a)

Z 5√
Exemplo 2.4.13: Vamos calcular 3x + 1 dx.
0
1
Façamos u = 3x + 1, então du = 3 dx e dx = du. Note que, quando x = 0, temos que
3
u = 1 e, quando x = 5, temos que u = 16. Daí,
Z 5√ Z 16 √ Z 16
1 1
3x + 1 dx = u · du = u1/2 du
0 1 3 3 1

16 16
1 u3/2 2
= · = u3/2
3 3 9
1 1
2
2  2
= 163/2 − 13/2 = · 63 = 14.
9 9
5√ Z
Exemplo 2.4.14: Do exemplo anterior, 3x + 1 dx é possível que se resolva primei-
0

Z
ramente a integral indefinida 3x + 1 dx e, depois, colocamos os limites de integra-
ção.
Façamos u = 3x + 1, temos que du = 3 dx e, portanto,
√ √ 1
Z Z Z
1
3x + 1 dx = u · du = u1/2 du
3 3

1 u3/2 2 2
= · = u3/2 = (3x + 1)3/2 .
3 3 9 9
2
Daí, temos que
5
Z 5√
2
3x + 1 dx = (3x + 1)3/2
0 9
0
2  3/2 3/2
 2
= 16 − 1 = · 63 = 14.
9 9
Renan Lima 37

Exercícios
1. Integre cada uma das funções abaixo.
Z √ Z
7 1
a) x3 dx b) √
3
dx
x
√ √
Z   Z
1
c) x+ 2 dx d) x(1 + x) dx
x

x2 + 3x − 1 1 + cos2 t
Z Z
e) dx f) dt
x3 cos2 t
2. Calcule cada uma das integrais definidas.
Z 5 Z −2
1 1
a) dx b) dx
4 x −3 x
4 π/4
1 + cos2 t
Z Z
1+x
c) √ d) dt
1 x 0 cos2 t
π/4 π/4
1 + cos2 x 1 + sen2 t
Z Z
e) dx f) dt
0 cos2 x 0 cos2 t
3. Determine as integrais indefinidas. Use a técnica da substituição se achar necessá-
rio.

ln2 x
Z Z
a) dx b) cos(2x) dx
x
Z Z p
3x+1
c) e dx d) x 1 − x2 dx
Z √ Z
sen x
e) √ dx f) x(1 + x)100 dx
x

Z Z
x
e) x 1 − x dx f) √ dx
x+1
Z Z
1 x
g) dx h) dx
4 + x2 1 + x2
Z Z
x 1
i) dx j) dx
1 + x4 x2 + 2x + 2
Z Z
x
k) 3 dx l) 3x ex dx

ex
Z Z
2
m) x tg(x ) dx n) dx
1 + e2x
38 Matemática Universitária

Respostas

Exercício 1

3√
7
7 x10 3
a) +C b) x2 + C
10 2
√ √
2 x3 1 2x x(3x + 5)
c) − +C d) +C
3 x 15
3 1
e) ln |x| − + 2 +C f) tg t + t + C
x 2x

Exercício 2
   
5 2
a) ln b) ln
4 3
20 4+π
c) d)
3 4
4+π 8−π
e) f)
4 4

Exercício 3
(ln x)3 sen(2x)
a) +C b) +C
3 2
p
e3x+1 (1 − x2 )3
c) +C d) − +C
3 3
√ (x + 1)102 (x + 1)101
e) −2 cos( x) + C f) − +C
102 101
1 x ln(1 + x2 )
g) · arctg +C h) +C
2 2 2
arctg(x2 )
i) +C j) arctg(x + 1) + C
2
3x 3x ex
k) +C l) +C
ln 3 1 + ln 3
ln | sec(x2 )|
m) +C n) arctg(ex ) + C
2
Renan Lima 39

2.5 Integração por Partes


Vimos na seção anterior que o processo inverso da regra da cadeia é chamada de
técnica da substituição. Nesta seção, vamos estudar o processo inverso da regra do produto
de derivadas, que chamamos de integração por partes.
A ideia da dedução da fórmula é bem simples! Se f, g : [a, b] → R são funções de
classe C 1 , isto é, possuem derivadas contínuas, então a regra do produto diz que

(f · g)0 (x) = f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x).

Observando que f · g é primitiva de (f · g)0 e integrando a igualdade acima, temos


b
Z b Z b
0 0 0
[f (x) · g(x) + f (x).g (x)] dx = (f · g) (x) dx = f (x)g(x) .
a a
a

Arrumando a expressão acima, temos


Z b b Z b
f (x) · g 0 (x) dx = f (x)g(x) − f 0 (x) · g(x) dx.
a a
a

Teorema 2.5.1: Integração por Partes

Sejam f, g funções de classe C 1 , então


Z Z
f (x)g 0 (x) dx = f (x).g(x) − f 0 (x)g(x) dx.

Recomendamos a nossa videoaula Introdução a Integração por Partes para verificar


os primeiros exemplos e entender como funciona as contas.

Se escrevermos u = f (x), v = g(x) e utilizarmos a notação de diferencial du = f 0 (x) dx


e dv = g 0 (x) dx, então a fórmula acima fica
Z Z
u dv = uv − v du.

Z
Exemplo 2.5.3: Para integrar xex dx, devemos utilizar integração por partes. Faça-
mos u = x e dv = ex , temos que
Z u dv u v Z v du
u = x ⇒ du = dx, Daí, x x x
x e dx = x e − e dx
v = ex ⇒ dv = ex dx.
= xex − ex + C.

Ao aplicar a integração por partes, deve-se checar que a nova integral seja mais fácil de
resolver que o primeiro caso. No exemplo anterior, se escolhêssemos u = ex e dv = x,
então teríamos
v v
u dv u du
u= ex ⇒ du = dx, x2 x2 x
Z Z
x x
x2 e x dx = e − e dx.
v= ⇒ dv = xdx. 2 2
2
Neste caso, a nova integral é mais complicada de calcular que a primeira.
40 Matemática Universitária

Z
Exemplo 2.5.5: Vamos calcular x2 cos x dx. Vamos utilizar integração por partes.

Z u dv u v v du
u = x2 ⇒ du = 2x dx,
Z
2 2
x cos x dx = x sen x − sen x · 2x dx.
v = sen x ⇒ dv = cos x dx.
Z
Note que 2x sen x dx não é primitiva elementar, mas aparenta ser uma integral mais
fácil de resolver. Vamos utilizar integração por partes de novo.

Z u dv u v Z v du
u = 2x ⇒ du = 2 dx,
2x sen x dx = 2x (− cos x ) − (− cos x) · 2 dx.
v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.
Organizando as contas, temos
Z Z
2x sen x dx = −2x cos x + 2 cos x dx = −2x cos x + 2 sen x + C.

Finalmente, temos que


Z Z 
2 2
x cos x dx = x sen x − 2x sen x dx Note o parênteses

= x2 sen x − (−2x cos x + 2 sen x + C) para não errar o sinal


2
= x sen x + 2x cos x − 2 sen x − C.

A resposta acima está correta, mas, para manter o padrão, pode-se trocar −C por +C.
Z
x2 cos x dx = x2 sen x + 2x cos x − 2 sen x + C.

Z
Exemplo 2.5.6: Para calcular x2 ln x dx, vamos utilizar integração por partes.

1 v v du
u = ln x ⇒ du = dx, u dv u
x3 x3
Z Z
x 1
ln x x2 dx = ln x · − · dx.
x3 3 3 x
v= ⇒ dv = x2 dx.
3

x3 x2 x3 ln x x3
Z Z
Logo x2 ln x dx = ln x − dx = − + C.
3 2 3 6

Para mais exemplos, recomendamos a videoaula Exemplos de Integração por Partes.


Z
Exemplo 2.5.7: Vamos calcular arctg x dx. A ideia é derivar arctg x.
du
1 u dv u v Z v
u = arctg x ⇒ du = dx,
Z
1
1 + x2 arctg x dx = arctg x · x − x· dx.
1 + x2
v=x ⇒ dv = dx.
Z
x
Para a integral dx, usamos a substituição u = 1 + x2 e, portanto, du = 2x dx.
1 + x2
Daí,
ln |u| ln(1 + x2 )
Z Z
x 1
dx = du = + C = + C.
1 + x2 2u 2 2
Renan Lima 41

É interessante notar que 1 + x2 > 0 para todo x e, por isso, |1 + x2 | = 1 + x2 . Logo

ln(1 + x2 )
Z Z
x
arctg x dx = x arctg x − dx = x arctg x − − C.
1 + x2 2
A resposta acima está correta, mas é comum colocar como resposta final

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C.
2

O último estilo de exemplo é quando a nova integral é parecida com o primeiro.


Z
Exemplo 2.5.8: Vamos calcular e2x sen x dx com a integração por partes.

u dv u v v du
u = e2x ⇒ du = 2e2x dx, Z Z
2x 2x 2x
e sen x dx = e · (− cos x) − (− cos x) · 2e dx.
v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.

Z Z
2x 2x
Melhorando a expressão acima, temos e sen x dx = −e cos x + 2 e2x cos x dx.
Vamos utilizar integração por partes de novo.

u dv u v v du
u = e2x ⇒ du = 2e2x dx, Z Z
2x 2x 2x
e cos x dx = e · sen x − sen x · 2e dx.
v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z
Para facilitar a visualização, denote I = e2x sen x dx. Temos então

Z Z 
2x 2x 2x
I= e sen x dx = −e cos x + 2 cos x dx e

= −e2x cos x + 2 e2x sen x − 2I = −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I




Logo I = −e2x cos x + 2e2x sen x − 4I. Isolando o I, temos

5I = −e2x cos x + 2e2x sen x.

−e2x cos x + 2e2x sen x


E, portanto, I = + C.
5
Z
ln x
Exemplo 2.5.9: Vimos no exemplo 2.4.9 como calcular dx usando a substituição
x
u = ln x. Vamos resolvê-la utilizando integração por partes.
1 dv du
u = ln x ⇒ du = dx, Z u u v Z v
x 1 1
1 ln x dx = ln x · ln x − ln x · dx
v = ln x ⇒ dv = dx. x x
x
Z
ln x
Façamos I = dx e, portanto, I = ln2 x − I. Isolando o I e não esquecendo de
x
colocarmos +C na resposta final, concluímos que

ln2 x
Z
ln x
dx = I = + C.
x 2
42 Matemática Universitária

Exercícios
1. Integre cada uma das funções a seguir.
Z Z
a) x cos x dx b) x2 cos x dx
Z Z
c) x sen(2x) dx d) ln(1 + x) dx
Z Z
e) ln(3x + 2) dx f) (ln x)2 dx
Z Z
g) ex cos x dx h) e3x sen x dx
Z Z
i) e3x sen 2x dx j) xex cos x dx


Z Z
x
k) cos(ln x) dx l) e dx

2. Calcule as integrais definidas.

2
1 e Z π
4 cos √x dx
Z Z
a) xe−x dx b) ln x dx c)
0 1 0

Z 1 Z π Z e2
d) 2 arcsen x dx e) 3 cos(3x) · cos(4x) dx f) (ln x)3 dx
0 0 1

Respostas

Exercício 1

a) x sen x + cos x + C b) (x2 − 2) sen x + 2x cos x + C


sen(2x) − 2x cos(2x)
c) +C d) (x + 1) ln(1 + x) − x + C
4
(3x + 2) ln(3x + 2)
e) −x+C f) x((ln x)2 − 2 ln x + 2) + C
3
ex sen x + ex cos x 3e3x sen x − e3x cos x
g) +C h) +C
2 10
3e3x sen(2x) − 2e3x cos(2x) (x − 1)ex sen x + xex cos x
i) +C j) +C
13 2
x sen(ln x) + x cos(ln x) √ √
k) +C l) 2( x − 1)e x + C
2

Exercício 2
e−2
a) b) 1 c) π − 2
e
√ √
π 3 2 3
d) +1− e) f) 6 + 2e2
12 2 7
Renan Lima 43

2.6 Integração de Funções Trigonométricas

Como funções trigonométricas possuem muitas fórmulas simetrias, é natural que, ao


integrarmos funções que sejam multiplicação de funções trigonométricas, existirem vá-
rias formas de resolver a integral. Para relembrarmos de algumas fórmulas, sugerimos a
nossa videoaula [Revisão] - Fórmulas Trigonométricas.

Fórmulas Trigonométricas com Senos e Cossenos

sen(α ± β) = sen α cos β ± sen β cos α cos(α ± β) = cos α cos β ∓ sen α sen β

sen 2x = 2 sen x cos x cos 2x = 2 cos2 x − 1 = 1 − 2 sen2 x

(sen kx)0 = k cos kx (cos kx)0 = −k sen kx


Z Z
cos(kx) sen(kx)
sen(kx) dx = − +C cos(kx) dx = − +C
k k

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β cos(α + β) + cos(α − β) = 2 cos α cos β

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α cos(α + β) − cos(α − β) = −2 sen α sen β

Sugerimos que as fórmulas de prostaférese sempre sejam deduzidas, pois são fór-
mulas fáceis de errar o sinal. Por exemplo, no primeiro quadro, temos duas fórmulas
compactadas, a saber

sen(α + β) = sen α cos β + sen β cos α, (1)


sen(α − β) = sen α cos β − sen β cos α. (2)

Somando as equações (1) e (2), temos que

sen(α + β) + sen(α − β) = 2 sen α cos β.

Da mesma forma, subtraindo as equações (1) e (2), temos

sen(α + β) − sen(α − β) = 2 sen β cos α.

Para resolução de várias integrais, recomendamos a videoaula Integração de Fun-


ções Trigonométricas - Senos e Cossenos. Vamos resolver mais alguns exemplos para
entendermos o procedimento.
Z
Exemplo 2.6.1: Vamos calcular cos3 x dx.

Escreva cos3 x = cos2 x · cos x = (1 − sen2 ) · cos x e façamos a substituição u = sen x,


então du = cos x dx. Daí,
Z Z Z
cos x dx = (1 − sen x) cos x dx = (1 − u2 ) du
3 2

u3 sen3 x
=u− + C = sen x − + C.
3 3
44 Matemática Universitária

Avisamos que é possível calcular a integral acima por partes. Mais precisamente,

u = cos2 x ⇒ du = −2 sen x cos x dx,

v = sen x ⇒ dv = cos x dx.

Z u dv u v Z v du
2 2
cos x cos xdx = cos x · sen x − sen x · (−2 sen x cos x) dx
Z
= cos2 x · sen x + 2 sen2 x cos x dx.

Façamos I = cos3 x e utilizamos a fórmula sen2 x = 1 − cos2 x, temos que


Z Z
2 2 2
I = cos x · sen x + 2 (1 − cos x) cos x dx = cos x · sen x + 2 cos x dx − 2I.

Concluímos daí que Z


2
3I = cos x · sen x + 2 cos x dx.

Isso mostra que


cos2 x · sen x 2 sen x
I= + + C.
3 3

Exemplo 2.6.2: Dado n ≥ 2, a fórmula de recorrência das integrais de potências de


seno é dada pela seguinte fórmula

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z Z
n
sen x dx = − + (sen x)n−2 dx.
n n
A demonstração deste resultado é via integração por partes.

u = senn−1 x ⇒ du = (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx,

v = − cos x ⇒ dv = sen x dx.

Z u dv u v Z v du
n−1 n−1
sen x sen x dx = sen x · (− cos x) −(− cos x) · (n − 1)(sen x)n−2 cos x dx
Z
n−1
= −(sen x) · cos x + (n − 1) (sen x)n−2 cos2 x dx.
Z
Daí, utilizando que cos2 x =1− sen2 x e escrevendo In = senn x dx, temos

In = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)(In−2 − In ).

Reorganizando as contas acima, temos que

nIn = −(sen x)n−1 cos x + (n − 1)In−2 .

Concluímos que

(sen x)n−1 cos x n − 1


Z
In = − + (sen x)n−2 dx.
n n
Renan Lima 45

Z
Exemplo 2.6.3: Para calcular a integral de sen2 x dx, basta utilizar a fórmula acima
para n = 2. Temos, portanto,

− sen x cos x 1
Z Z
2
sen x dx = + 1 dx
2 2
− sen x cos x + x
= + C.
2

Um método alternativo para a resolução da integral deste exemplo é utilizar a fórmula


1 − cos 2x
cos 2x = 1 − 2 sen2 x e, portanto, sen2 x = . Daí,
2
Z Z  
1 cos 2x x sen 2x
sen2 x dx = − dx = − + C.
2 2 2 4
Z
Exemplo 2.6.4: Vamos calcular sen6 x dx, com a fórmula de recorrência acima.

(sen x)5 cos x 5


Z Z
6
sen x dx = − + sen4 x dx
6 6
(sen x)5 cos x 5 (sen x)3 cos x 3
 Z 
=− + − + (sen2 x) dx
6 6 4 4
5 3
sen x cos x 5 sen x cos x 5
Z
=− − + sen2 x dx
6 24 8
sen5 x cos x 5 sen3 x cos x 5 sen x cos x 5x
=− − − + + C.
6 24 16 16
Z
Exemplo 2.6.5: Para integrarmos sen(5x) cos(4x) dx, utilizamos a fórmula de pros-
sen(9x) + sen(x)
taférese que diz que sen(5x) cos(4x) = . Daí, temos
2
Z Z  
sen(9x) + (sen x)
sen(5x) cos(4x) dx = dx
2
 
1 cos 9x cos 9x cos x
= − − cos x + C = − − + C.
2 9 18 2

Também é possível
Z resolvermos a integral acima utilizando partes, do mesmos moldes
que a integral e2x sen x dx, vista no exemplo 2.5.8.

Outra fórmula com bastante simetrias interessantes são integrais do tipo tg x e sec x.
Sugerimos decorar as seguintes fórmulas

sec2 x = 1 + tg2 x,
Z
sec2 x dx = tg x + C,
Z
sec x dx = ln | sec x + tg x| + C.

Recomendamos as videoaulas Integrais de Funções Trigonométricas - Função Secante


e Integrais de Funções Trigonométricas - Função Tangente para entender melhor
Z os pro-
cedimentos adotados. Na videoaula, explicamos a dedução da fórmula de sec x dx.
46 Matemática Universitária

Z
Exemplo 2.6.6: Considere secn x dx com n > 2. Temos que

u = secn−2 x ⇒ du = (n − 2)(sec x)n−3 · (sec x · tg x) dx,

v = tg x ⇒ dv = sec2 x dx.

Z u dv u v Z v du
n−2 2 n−2
sec x sec x dx = sec tg x · (n − 2)(sec x)n−2 · tg x dx
x · tg x −
Z
= (sec x)n−2 · tg x − (n − 2) (sec x)n−2 · tg2 x dx.
Z
Daí, utilizando que tg2 x = sec2 x − 1 e escrevendo In = secn x dx, temos

In = (sec x)n−2 · tg x − (n − 2)(In − In−2 ).

Reorganizando as contas acima, temos que

(n − 1)In = (sec x)n−2 · tg x + (n − 2)In−2 .

Concluímos que

(sec x)n−2 · tg x n − 2
Z
In = + (sec x)n−2 dx.
n−1 n−1
Z
Exemplo 2.6.7: Para resolvermos sec3 x dx, vamos utilizar fórmula de recorrência
acima para n = 3,

sec x · tg x 1
Z Z
sec3 x dx = + sec x dx
2 2
sec x · tg x 1
= + ln | sec x + tg x| + C.
2 2
Z
Exemplo 2.6.8: Vamos resolver sec4 x dx de duas formas distintas; a primeira forma
é utilizarmos a fórmula de recorrência acima para n = 4,

sec2 x · tg x 2
Z Z
4
sec x dx = + sec2 x dx
3 3
sec2 x · tg x 2 tg x
= + + C.
3 3
A segunda resolução é utilizarmos a igualdade sec2 x = tg2 x + 1 e fazermos a substi-
tuição u = tg x, daí, du = sec2 x dx e, portanto,
Z Z Z
sec4 x dx = sec2 x sec2 xdx = (tg2 x + 1) · sec2 x dx

u3 tg3 x
Z
= u2 + 1 du = +u+C = + tg x + C.
3 3

Finalmente para integrar as funções que aparecem tangentes, em geral, usamos uma
sen x
das transformações tg x = ou tg2 x = sec2 x − 1.
cos x
Renan Lima 47

Z Z
Exemplo 2.6.9: No exemplo 2.4.11, fizemos tg x dx. Vamos agora fazer tg3 x dx.

sen3 x sen2 x
Z Z Z
3
tg x dx = dx = sen x dx
cos3 x cos3 x
1 − cos2 x
Z
= · sen x dx.
cos3 x
Façamos a substituição u = cos x e, portanto, du = − sen x dx. Daí,

1 − u2
Z 2
u −1
Z Z
3
tg x dx = 3
(−du) = du
u u3
Z
1 1 1
= − 3 du = ln |u| + 2 + C
u u 2u
1 sec2 x
= ln | cos x| + 2
+ C = ln | cos x| + + C.
2 cos x 2
Z
A dedução da fórmula de recorrência de tgn x dx é um pouco mais simples se com-
parado com as fórmulas de recorrência das potências de seno e das potências da secante.
Z
Exemplo 2.6.10: Seja In = tgn x dx, em que n ≥ 2. Temos, portanto,
Z Z Z
n n−2 2
In = tg x dx = tg x · tg x d = tgn−2 x · (sec2 x − 1) dx
Z Z
n−2 2
= tg x sec x dx − tgn−2 x dx
Z
= tgn−2 x sec2 x dx − In−2 .

Para resolvermos a integral que falta, façamos u = tg x, então du = sec2 x dx. Daí,

un−1
Z Z
tgn−2 x sec2 x dx = un−2 du = +C
n−1
tgn−1 x
= + C.
n−1
Concluimos, portanto, a fórmula de recorrência

tgn−1 x
Z Z
n
tg x dx = − tgn−2 x dx.
n−1
48 Matemática Universitária

Exercícios
1. Calcule as integrais das funções trigonométricas abaixo.
Z Z
2
a) sen (3x) dx b) cos4 x dx
Z Z
2
c) cos x sen x dx d) sen2 x cos2 x dx
Z Z
2
e) cos 2x sen x dx f) sen5 x cos4 x dx
Z Z
2
g) tg x sec x dx h) tg x sec2 x dx
Z Z
3 2 sec x
i) tg x sec x dx j) dx
tg2 x

2. Mostre a seguinte fórmula de recorrência para os cossenos


cosn−1 x · sen x n − 1
Z Z
n
cos x dx = + cosn−2 x dx.
n n

3. Sejam m, n números inteiros não nulos, mostre as seguintes igualdades.


Z π
a) cos(mx) · cos(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
b) sen(mx) · sen(nx) dx = 0, se n 6= m.
−π
Z π
c) cos(mx) · cos(nx) dx = π, se n = m.
−π
Z π
d) sen(mx) · sen(nx) dx = π, se n = m.
−π
Z π
e) sen(mx) · cos(nx) dx = 0, para todo n, m ∈ N.
−π

Respostas

Exercício 1
x sen(6x) 3x sen(2x) sen(4x)
a) − +C b) + + +C
2 12 8 4 32
(sen x)3 x sen(4x)
c) +C d) − +C
3 8 32
−x sen(2x) sen(4x) (cos x)9 2(cos x)7 (cos x)5
e) + − +C f) − + − +C
4 4 32 9 7 5
(sec x) tg x − ln | sec x + tg x| (tg x)2
g) +C h) +C
2 2
(tg x)4
i) +C j) − cossec(x) + C
4
Renan Lima 49

2.7 Soma de Riemann e Aplicações na Geometria

Vimos na seção 1.2 a importante lógica de soma de áreas de retângulos de bases infini-
tesimais para o cálculo de área em regiões mais gerais. Este pensamento foi simplesmente
revolucionário e algumas adaptações desta ideia geram aplicações muito interessantes.
Começamos, portanto, revisitando a soma de áreas de retângulos e a formulação de Rie-
mann para uma função integrável.
Considere f : [a, b] → R uma função real limitada, isto é, o gráfico de f está contido
em algum retângulo. Dividimos o intervalo [a, b] em n pedaços iguais. Mais precisa-
mente, considere uma partição

P = {x0 = a, x1 , x2 , · · · , xn−1 , xn = b}

i
de n + 1 pontos, com xi = a + para i = 0, 1, 2, . . . , n. Para cada i, escolha ci ∈ [xi−1 , xi ]
n
e tome ∆xi = xi+1 − xi , considere a soma
n
X f (c1 ) + . . . + f (cn )
f (ci )∆xi = f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + . . . + f (cn )∆xn = .
n
i=1

Definição 2.7.1: Integral de Riemann


n
X
Dizemos que f é integrável em [a, b] se lim f (ci )∆xi existe e possui o mesmo
n→+∞
i=1
valor independentemente da escolha de ci . Neste caso, denotamos,
Z b n
X
f (x) dx = lim f (ci )∆xi .
a n→+∞
i=1

A definição de Soma de Riemann é complicada e é bastante trabalhoso demonstrar,


via definição, se uma determinada função é integrável ou não. Discutiremos melhor esta
parte técnica no último capítulo. Precisamos apenas de um resultado básico interessante.

Teorema 2.7.2: Integrabilidade de Funções Contínuas

Toda função contínua em [a, b] é integrável.

Do ponto de vista teórico, é interessante permitir que os intervalos ∆x1 , . . . ∆xn não
sejam necessariamente de mesmo tamanho. Um dos motivos para esta flexibilização é
que, se exigíssemos mesmo tamanho, temos dificuldades técnicas em demonstrar que
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c

em que c é um ponto qualquer do intervalo (a, b). Lembremos que precisamos deste
resultado para o o feorema fundamental do cálculo. Em contrapartida, com a flexibili-
zação do tamanho dos intervalos, a definição de Soma de Riemann fica um pouco mais
sobrecarregada.
50 Matemática Universitária

A importância geométrica da soma de Riemann é que ela é uma excelente aproxima-


ção da área sob o gráfico da curva a medida que o termo ∆x for suficientemente pequeno.
Além disso, as "medidas"f (x) e dx podem ser pensadas como Ras medidas da altura e da
base, respectivamente, de um retângulo, enquanto o símbolo pode ser pensado como
um somatório. As figuras abaixo nos fornecem a ideia de aproximação por área.

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) Área que queremos calcular. (b) Subdivisão em 4 retângulos. (c) Subdivisão em 8 retângulos.
y y

y = f (x) y = f (x)

f (x)
x x
dx
(d) Subdivisão em 64 retângulos. (e) O retângulo infinitesimal.

Modificando um pouco a integral de Riemann, podemos ter aplicações geométricas


bem interessantes. Imagine um retângulo ABCD dentro do espaço e rotacionamos em
torno do eixo AB. A figura gerada será o cilindro e é fácil calcular o seu volume. Para
quem tiver dificuldade em visualização, sugerimos olhar as figuras abaixo.

B B B B

A A A A

B B B

A A A

Figura 2.8: O retângulo ao rotacionar gera o cilindro de altura igual o segmento AB.
Renan Lima 51

Para uma exposição do cálculo de volume de sólidos de revolução, recomendamos a


videoaula Volume de Sólidos de Revolução - Método dos Discos Cilíndricos. Considere
a função f : [a, b] → R contínua com f ≥ 0 e desejamos calcular o volume do sólido de
revolução ao gráfico da f em torno do eixo x. Ver figura abaixo.
y y

y = f (x) y = f (x)

x x

Figura 2.9: O sólido obtido pela revolução do gráfico de f .

Para encontrarmos o volume, considere o retângulo de base infinitesimal de base dx


e altura f (x). Rotacionando este retângulo em torno do eixo x, ele se transforma um
cilindro de altura dx e raio f (x).
y y

y = f (x) y = f (x)
f (x)

f (x)

x x
dx

dx

Figura 2.10: O retângulo infinitesimal se transformando em cilindro.

Como o volume de um cilindro de altura h e raio r é dada por πhr2 , então o volume
do cilindro da figura acima é dada por πf (x)2 dx. A mesma ideia de soma de área de
retângulos para encontrar a área sob o gráfico funciona para a soma dos volumes do
cilindro para encontrarmos o volume do sólido de revolução e não é difícil de concluir
Z b
que o volume do sólido de revolução é dada por π [f (x)]2 dx.
a

y y y

y = f (x) y = f (x) y = f (x)

x x x

(a) 4 cilindros (b) 12 cilindros (c) 20 cilindros


52 Matemática Universitária

Pensando em soma de Riemann, considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} par-


tição do intervalo [a, b] em n pedaços iguais e escolha ci = xi . Considere o cilindro
obtido pela revolução em torno do eixo x de largura ∆xi e altura f (ci ). Temos que o
volume deste cilindro é dado por π[f (ci )]2 ∆xi . Somando todos os cilindros, temos que
Xn
π [f (ci )]2 ∆xi . Temos, pela mesma explicação dada acima, que a soma de Riemann
i=1
acima converge para o volume do sólido de revolução ao gráfico da f em torno do eixo x
e temos, portanto,
Z b
V =π [f (x)]2 dx.
a

Exemplo 2.7.4: Para calcularmos o volume V da região de interior a esfera de raio R,


lembremos na geometria analítica, que a equação do círculo de centro (0, 0) e raio R é
dada pela equação x2 + 2 2
py = R . Em particular, a parte de cima do círculo é o gráfico
da função f (x) = y = R2 − x2 .
y y
p p
f (x) = R 2 − x2 f (x) = R 2 − x2

x x
−R R −R R

Figura 2.11: A esfera é gerada pela rotação do semicículo em torno do eixo x.

A esfera de raio R é o sólido de revolução ao gráfico de f (x) em torno do eixo x e,


portanto,
Z R Z R
2
V =π [f (x)] dx = π (R2 − x2 ) dx
−R −R
R
x3 R3 R3 4πR3
     
2 3 3 .
=π R x− =π R − − −R + =
3 3 3 3
−R

Exemplo 2.7.5: O volume V do cone reto de altura h e raio da base r pode ser encon-
trada pela rotação da reta f (x) = ax com 0 ≤ x ≤ h com um parâmetro a adequado de
modo que o sólido obtido pela revolução do gráfico de f em torno do eixo x seja um
cone de altura h e base r.
y y
f (x) = ax f (x) = ax

ah = r ah = r

x x
h h

Figura 2.12: A geratriz do cone é a reta.


Renan Lima 53

r
Deve-se exigir que f (h) = ah = r e, portanto, a = . O volume V do cone é dado por
h
h
h
r 2 x3 r 2 h3 πr2 h
Z  
rx 2
V =π dx = π =π = .
0 h 3h2 3h2 3
0

É possível fazer várias modificações do problema de volumes de sólido de revolução.


Para volumes de sólido de revolução em uma região entre dois gráficos, recomendamos
a videoaula Volume de Sólido de Revolução - Parte 2. Para a troca do eixo de rotação
para outras retas, sugerimos a videoaula Volume de Sólido de Revolução - Parte 3.
O cálculo de volume e de área não são as únicas aplicações geométricas de integral.
Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e desejamos encontrar o comprimento da
curva do gráfico da função f . Sugerimos a videoaula Comprimento de Arco.
y
y = f (x)

Figura 2.13: A curva que queremos encontrar o comprimento.

A ideia para encontrar o comprimento da curva é dividir a curva em pedaços peque-


nos e aproximamos estes pedaços‘ por segmentos de retas e somamos os comprimentos
dos segmentos de reta. As figuras abaixo ilustram a ideia.

y y b
y
b

y = f (x) P1 y = f (x) P1 y = f (x)


b

P2
b b b

b
b b
P0 P0 b
P0 b

b
P2 P3
b
P2 b P5 P7
b P3
b
P7 P10
b

P1 P6 b

b P4 b b

P4 P5 P8
P3 b

P6 b

P9
x x x
x0 x1 x2 x3 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x 7 x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8 x9 x10
(a) 3 segmentos. (b) 7 segmentos. (c) 10 segmentos.
y y
b b

b
b
y = f (x) y = f (x)
b
b

b
b b
b
b

b b
b
b
b b
b

b b

x x

(d) 20 segmentos. (e) 50 segmentos.

Figura 2.14: Em geral, softwares de plotagem de gráficos utilizam entre 50 a 500 segmentos.
54 Matemática Universitária

A medida que subdividimos em segmentos menores espera-se que as aproximações


ficam cada vez mais precisas de modo que em um processo de limite, encontremos o
comprimento da curva.
Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] em n pedaços
iguais. Sejam Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva. Temos que o comprimento
Ci = Pi−1 Pi é dado por
p p
Ci = (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 = (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 .
A soma dos comprimentos é dada por
n
X n p
X
Ci = (∆xi )2 + (f (xi ) − f (xi−1 )2 .
i=1 i=1

Para transformar a soma acima em uma soma de Riemann, utilizaremos o teorema do


valor médio 2.2.14 que diz que para cada i, existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal que
f (xi ) − f (xi−1 ) = f 0 (ci )(xi − xi−1 ) = f 0 (ci )∆xi .
Daí,
n
X n p
X n p
X
Ci = (∆xi )2 + (f 0 (ci )∆xi )2 = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
i=1 i=1 i=1
Finalmente, espera-se que o comprimento da curva é dada por
X n p Z bp
C = lim 1 + f 0 (ci )2 ∆xi = 1 + [f 0 (x)]2 dx.
n→∞ a
i=1

Transformamos um problema de calcular comprimento em um problema de integração.


Em geral, é bastante complicado integrar a função e será necessário calcular a integral
por métodos numéricos. Por exemplo, se desejamos encontrar o comprimento do gráfico
do seno para x = 0 até x = 2π, devemos calcular a integral
Z 2π p
C= 1 + (cos x)2 dx.
0
Há métodos numéricos para integração muito mais eficazes que calcular via soma de
Riemann, então é um problema resolvível. Utilizando o software Geogebra, encontramos
o valor C ' 3, 8202.
Uma outra aplicação de integral é calcular a área lateral de uma superfície de re-
volução. Para encontrarmos a fórmula, precisamos de um resultado bem específico de
geometria espacial que se se considerarmos o tronco circular reto de raio maior R, raio
(r + R)
menor r e segmento lateral L, então a sua área lateral é dada pela fórmula 2πL .
2

L
R


r

Figura 2.15: Tronco circular reto de segmento lateral L e de raios de tamanho r e R.


Renan Lima 55

A dedução desta fórmula de área lateral pode ser encontrada no final da videoaula
r+R
Área Lateral de Sólido de Revolução. O motivo de escrevermos r̄ = é que o seg-
2
mento r̄ é o raio do círculo do meio do tronco.
Seja f : [a, b] → R uma função de classe C 1 e seja S a superfície de revolução obtida
pelo rotação do gráfico de f em torno do eixo x e desejamos encontrar a fórmula de área
lateral desta superfície.
Faremos a aproximação do gráfico de f por segmentos Pi−1 Pi , conforme feito no com-
primento de arco e rotacionamos Pi−1 Pi obtendo vários troncos circulares retos e faremos
a soma das áreas laterais do tronco.
y y
y = f (x)
b
b

P0 b P3
b

P2
P1

x x

(a) 3 segmentos. (b) Rotação de 3 segmentos.


y y y
b
y = f (x)
b P1 b
b

P0 b P7
b
P2 b P5
P4 b
P3
P6
x x x

(c) 7 segmentos. (d) Rotação de 7 segmentos. (e) Rotação de 20 segmentos.

Figura 2.16: Quanto mais segmentos traçados, melhor é a aproximação para a área lateral.

Seja, portanto, P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} uma partição de [a, b] em n pedaços


iguais. Seja Pi = (xi , f (xi )) pontos do gráfico da curva. Vimos na dedução da fórmula
de comprimento de arco que existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal que o comprimento Li de Pi−1 Pi é
dado por p
Li = 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .

f (xi−1 ) + f (xi )
A área lateral do tronco gerado pelo segmento Pi−1 Pi é dada por 2πLi
2
f (xi−1 ) + f (xi )
e, como f é contínua, existe di ∈ (xi−1 , xi ) tal que f (di ) = . Finalmente,
2
temos que a soma das áreas dos troncos é dada por
n n
X f (xi−1 ) + f (xi ) X p
2πLi = 2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi .
2
i=1 i=1

Apesar de a soma acima não ser uma soma de Riemann (pois há ci e di na soma
Z b p
acima), é razoável esperar que a soma acima convirja para 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a
56 Matemática Universitária

Infelizmente, há uma pequena imprecisão na parte do razoável e na verdade a área


lateral de uma superfície arbitrária tem que ser colocado como definição e depois verificar
se não há inconsistências com as fórmulas de áreas de superfícies conhecidas.

Definição 2.7.6: Área Lateral de Sólido de Revolução

Se f for uma função de classe C 1 e não-negativa em [a, b], então a área da superfície
de revolução gerada pela rotação ao gráfico de f entre x = a e x = b em torno do eixo
x é dada por
Z b p
S = 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Exemplo 2.7.7: Vamos calcular a área da superfície da esfera


√ de raio R. Lembremos
que a superfície pode ser gerada pelo gráfico de f (x) = R − x2 em torno do eixo x.
2

x x2
Como f 0 (x) = − 2 , temos que (f 0 (x))2 = e, portanto,
R − x2 R2 − x2

x2 R2 R2
1 + (f 0 (x))2 = 1 + = = .
R 2 − x2 R 2 − x2 f (x)2

Logo temos que


s
R R
R2
Z p Z
S = 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx = 2π f (x) dx
−R −R f (x)2
Z R
= 2π R dx = 4πR2 .
−R

n
X p
É possível mostrar que a soma 2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi converge para o mesmo
i=1
valor independentemente das escolhas de ci , di ∈ (xi−1 , xi ). Este resultado é demons-
trado no teorema 3.B.9. Mesmo mostrando este resultado, ainda sim, não é possível
deduzir com o devido rigor o conceito de área lateral e devemos se contentar com o é
razoável.
Em cursos mais avançados de integral, é possível expor a área lateral de uma superfície
de revolução de forma rigorosa com o conceito de integral de superfície.

Finalizamos a seção recomendando dois vídeos Volume de Sólido - Método das Cas-
cas Cilíndricas e também Exemplos de Volumes de Sólidos de Revolução com Cascas
Cilíndricas.
Renan Lima 57

Exercícios
1. Calcule a área da região definida abaixo.
π
a) A região limitada pelos gráficos de f (x) = sen x e g(x) = cos x com 0 ≤ x ≤ .
4
b) A região limitada por f (x) = x3 − 2x2 + x + 2 e pela reta tangente ao gráfico da
função f em x = 0.

2. Calcule o volume do sólido de revolução em torno do eixo x das regiões abaixo.


a) Da região limitada por y = x2 e y = 0, com 1 ≤ x ≤ 2.
b) Da região limitada por y = sen x e y = 0, com 0 ≤ x ≤ π.
c) Da região limitada por y = x2 e y = 4.

d) y = x − 2 com 2 ≤ x ≤ 4 e y ≥ 0.
π
e) Da região limitada por f (x) = sen x, g(x) = cos x com 0 ≤ x ≤ .
4

ex + e−x
3. Calcule o comprimento de arco do gráfico de cosh x = com 0 ≤ x ≤ 2.
2

4. Calcule, utilizandos as fórmulas de integral desta seção, a área lateral do cone cir-
cular reto de raio r e altura h.

5. Calcule a área lateral do sólido de revolução obtido pela rotação em torno do eixo
x da região limitada pelo gráfico de y = x3 , com 0 ≤ x ≤ 1.

Respostas

Exercício 1
√ 4
a) 2−1 b)
3
Exercício 2
31π π2 256π π
a) b) c) d) 2π e)
5 2 5 2
Exercício 3
e2 − e−2
2
Exercício 4
p
πr2 h2 + r2

Exercício 5

(10 10 − 1)π
27
58 Matemática Universitária

2.8 Aplicações de Integral na Física

Na seção 1.2, vimos uma aplicação de integral para descrever a equação do movi-
mento retilíneo e, em particular, vimos no exemplo 1.3.12 da seção 1.3 que a equação
at2
geral do movimento retilíneo uniformemente acelerado é dada por s(t) = s0 + v0 t + .
2
Veremos outras aplicações interessantes e a importância em visualizar as somas infi-
nitesimais. Um dos conceitos bastante utilizado na física é o conceito de trabalho.

Definição 2.8.1: Trabalho

Se uma força constante de magnitude F for aplicada na direção e sentido do movi-


mento de um objeto e se este objeto se desloca a uma distância d, definimos o trabalho
W realiza pela força sobre o objeto como sendo
W = F · d.
Se uma força constante de magnitude F for aplicada na mesma direção, mas em
sentido contrário ao movimento de um objeto e este objeto se desloca a uma distância
d, definimos o trabalho W realizado pela força sobre o objeto como sendo
W = −F · d.

Como o sinal do trabalho depende se a força está freando ou acelerando o objeto é,


muitas vezes interessante utilizar a linguagem vetorial.
~v ~v

F~ F~

(a) Trabalho W > 0 (b) Trabalho W < 0.

Figura 2.17: A força está acelerando o descolamento em (a) e freando em (b).

Em geral, a força não é constante e, neste sentido, precisamos estender o conceito de


trabalho para forças mais gerais. Pedimos para que o leitor tenha em mente a Lei de
Hooke: F~ = −kx · x̂ para força massa mola, em que o nosso referencial é o ponto de
equilíbrio da mola. O sinal de negativo diz que a força da mola é sempre restauradora,
apontando sempre para o ponto de equilíbrio.

O
F~ x̂

O
x>0

F~

O
x<0
Figura 2.18: A força que a mola exerce sobre o bloco sempre aponta para o centro.
Renan Lima 59

Nesta seção, vamos utilizar a seguinte notação: F~ indica o vetor força, com direção,
sentido e magnitude e F apenas a parte escalar, com sinal. Em outras palavras, F~ = F · x̂.

Definição 2.8.2: Forças Conservativas

Dizemos que uma força unidimensional F~ é conservativa, se ela depende apenas da


posição da partícula. Mais precisamente, se F~ = F · x̂ vale a fórmula F = F (x).

Com um referencial fixado (e portanto com um sistema de coordenadas), suponha que


um objeto seja submetido a uma força variável dada por F~ (x) = F (x) · x̂. Suponha, para
simplificar as ideias, que F~ (x) aponta para a mesma direção e sentido do movimento e
desejamos calcular o trabalho W realizado pela força sobre o objeto, quando este se move
de x = a até x = b.
Subdividiremos o intervalo [a, b] em pequenos pedaços de tal modo que a força apli-
cada a este objeto pode ser pensada como constante. Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b}
partição de [a, b] em n pedaços iguais e seja ci ∈ (xi−1 , xi ) um representante de tal modo
que Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi . Temos que

Wa→b = Wx0 →x1 + Wx1 →x2 + . . . + Wxn−2 →xn−1 + Wxn−1 →xn


Xn Xn
= Wxi−1 →xi = F (ci )∆xi .
i=1 i=1

Fazendo o limite, temos, portanto,


Z b
Wa→b = F (x) dx.
a

Exemplo 2.8.3: No nosso exemplo da figura de massa mola, o trabalho realizado da


força F (x) = −kx · x̂ para deslocar de b até 0 é dada por
0
0
x2 kb2
Z
Wb→0 = −kx dx = −k · = .
b 2 2
b

O trabalho realizado por esta mesma força para deslocar de x = 0 até x = b é dada por
b
kb2
Z
W0→b = −kx dx = − .
0 2

Logo, temos que W0→b + Wb→0 = 0, como era de se esperar!

Exemplo 2.8.4: Pela 3ª Lei de Newton, temos que F~Res = m · ~a. No caso do movimento
unidimensional, que tenha apenas a componente horizontal, temos que F~Res = FRes · x̂.
Vamos calcular o trabalho realizado pela força resultante de uma partícula se movendo
em linha reta com equação do movimento s(t), s(t0 ) = a e s(tf ) = b e na integral
abaixo, faremos a mudança de variável x = s(t), então dx = s0 (t) dt = v(t) dt. Daí,
tf
b s(tb ) tf
v2 mvf2 mv02
Z Z Z
0 0 .
W = FRes (x) dx = mv (t) dx = mv (t)v(t) dt = m = −
a s(t0 ) t0 2 2 2
t0
60 Matemática Universitária

mv 2
Por causa da fórmula acima, definimos a energia cinética do trabalho por K = .
2
Sugerimos a videoaula Aplicação na Física - Trabalho e Energia.
Se a força for conservativa, o teorema fundamental do cálculo diz que F (x) possui
primitiva e, portanto, existe uma função U (x) tal que

dU
= −F (x).
dx
O motivo do sinal ficará claro nos exemplos abaixo. A função U (x) é chamada de energia
mvf2 mv02
potencial da força F . Denotando por Kf = , K0 = , Uf = U (b) = U (s(tf )) e
2 2
U0 = U (a) = U (s(t0 )), temos
Z b Z b
Kf − K0 = FRes dx = F (x) dx = −(Uf − U0 ).
a a
Isto mostra que
Kf + Uf = K0 + U0 .
Definimos, portanto, a energia mecânica do movimento como a soma da energia cinética
com a energia potencial, isto é, E = K + U e o resultado acima diz que, se a força é
conservativa, então a energia mecânica no movimento unidimensional se conserva.
Na Física, costuma-se escolher um referencial para chamar de energia potencial 0.
Por exemplo, a energia potencial 0 da mola costuma ser no ponto de equilíbrio da mola.
Exemplo 2.8.5: A energia potencial da mola em x = b é dada por
b b
kb2
Z Z
−F (x) dx = kx dx = .
0 0 2

Uma das forças conhecidas é força que a gravidade exerce sob o nosso corpo

F (x) = −mg · ŷ,

em que g ' 9, 8 m/s2 é a constante gravitacional e m é a massa do corpo.


Exemplo 2.8.6: Se considerarmos que a Energia 0 é dada na altura 0 e, então, a energia
potencial de um objeto na altura h (e na mesma linha vertical) é dada por
Z h
mg dx = mgh.
0

O interessante de trabalharmos com a linguagem vetorial é que não precisamos ficar


analisando cada caso, para onde está o movimento e, portanto, fica mais fácil calcular o
trabalho. O próximo exemplo explica um pouco melhor outro motivo para trabalharmos
com a linguagem vetorial.
Exemplo 2.8.7: A força de atrito é uma força bastante complicada e o modelo mais
simples é a fórmula F~at = ±µ|N | x̂, em que |N | é a magnitude do vetor normal e
µ é uma constante que depende da superfície e também do objeto. Em geral, este
coeficiente µ é encontrado experimentalmente.
Neste modelo, a força de atrito, apesar da magnitude constante, não é uma força con-
servativa! O motivo disso é que o sinal depende da velocidade do objeto, isto é, se o
objeto estiver se movendo para a direita, então F~at = −µ|N | x̂. Se estiver se movendo
para a esquerda, então F~at = µ|N | x̂.
Renan Lima 61

Uma outra aplicação interessante é o cálculo de massa e centro de massa de um sis-


tema de objetos. Sugerimos a nossa videoaula Massa e Centro de Massa.
Considere um fio bem fino não homogêneo de comprimento L, isto é, suponha que a
massa do não está equitativamente distribuída ao longo do fio. Crie eixos de coorde-
nados, de modo que o fio se encontre na posição horizontal e fique no intervalo [0, L],
conforme a figura abaixo.

x
0 L

Seja m(x) a massa do fio de [0, x]. A densidade do fio ρ(x) no ponto x é, por definição,
m(x + ∆x) − m(x)
ρ(x) = lim .
∆x→0 ∆x
dm
Em notação de Leibniz, ρ = . Dizemos que o fio é homogêneo se a densidade linear
dx
for constante. Se a densidade linear do fio é ρ(x), a massa total M é dada pela fórmula
Z L
M= ρ(x) dx.
0

Exemplo 2.8.8: Um fio de comprimento L tem densidade linear constante λ, então a


sua massa é dada por
Z L
M= λ dx = λL.
0
Caso a densidade linear seja dada por ρ(x) = x, então a sua massa é dada por
L
L2
Z
M= x dx = ·
0 2

Para encontrar o centro de massa de um sistema de partículas, o caso mais simples é


uma alavanca com massa desprezível e suspensa por um suporte (ver figura abaixo) em
que colocamos dois objetos de massas distintas em cada extremidade da alavanca.

d1
d2
m1
m2

Figura 2.19: Alavanca em equilíbrio com dois blocos de massa em cada extremidade.

Supondo que o suporte seja móvel, queremos encontrar o ponto exato em que a ala-
vanca fique em equilíbrio na horizontal. É conhecido do ensino médio que o suporte tem
que ser colocado em um ponto em que se deve satisfazer a fórmula

m1 d1 = m2 d2 .

Criando um sistema de coordenadas, suponha que as massas m1 e m2 estejam loca-


lizados em c1 e c2 , respectivamente e considere xG a coordenada x do centro de massa,
62 Matemática Universitária

que também é conhecido como centro de gravidade. Temos, portanto,


m1 (xG − c1 ) = m2 (c2 − xG ),
m1 xG + m2 xG = m1 c1 + m2 c2 ,
m1 c1 + m2 c2
xG = .
m1 + m2

Suponha que temos dois blocos de massas m1 , m2 a uma distância d1 e d2 á esquerda


em relação ao suporte e um bloco de massa m3 a uma distância d3 em relação ao suporte,
conforme figura abaixo.
d1
d3
d2
m1
m2 m3

A alavanca estará em equilíbrio se m1 d1 + m2 d2 = m3 d3 . Criando um sistema de


coordenadas, suponha que as massas m1 , m2 e m3 estejam localizados em c1 , c2 e c3 , res-
pectivamente, e considere xG a coordenada x do centro de massa, então
m1 (xG − c1 ) + m2 (xG − c2 ) = m3 (c3 − xG ),
m1 xG + m2 xG + m3 xG = m1 c1 + m2 c2 + m3 c3 ,
m1 c1 + m2 c2 + m3 c3
xG = .
m1 + m2 + m3

Se tivermos n partículas com massas m1 , m2 , · · · , mn localizados em c1 , c2 , · · · , cn e se


xG é o centro de massa, então com as mesmas contas no caso anterior, temos que
n
X
mi ci
i=1
xG = n
.
X
mi
i=1

Suponha que tenhamos uma distribuição contínua de massa. Por exemplo, suponha
que a barra da alavanca não tenha massa desprezível e desejamos encontrar o seu centro
de massa.
xG
c1 c2 c3 c4 c5

∆m1 ∆m2 ∆m3 ∆m4 ∆m5

dm
Seja m(x) a massa da alavanca do início da alavanca até o ponto x e seja ρ(x) =
dx
a densidade linear. Dividimos a alavanca em n pedaços iguais e cada pedaço tem massa
∆mi = ρ(ci )∆xi . Pelo que foi provado na parte anterior do texto, temos que
n
X n
X
ci ∆mi ci ρ(ci )∆xi
i=1 i=1
xG ' n = n
,
X X
∆mi ρ(ci )∆xi
i=1 i=1
Renan Lima 63

daí, fazendo mais um processo de limite em que podemos supor que cada ∆xi fique
suficientemente pequeno, concluímos, portanto,
Z L
xρ(x) dx
xG = Z0 L
.
ρ(x) dx
0

Exemplo 2.8.9: Caso a densidade de uma corrente de comprimento L seja constante λ,


vimos no exemplo 2.8.8 que sua massa é dada por λL. Para encontrarmos o centro de
massa, podemos supor que a lâmina esteja posta de tal modo que fique sobre o eixo x
no intervalo [0, L] e, portanto,
L L
λL2
Z Z
xρ(x) dx = λx dx = .
0 0 2

O seu centro de massa é


λL2
2 λL2 L
= = ,
λL 2λL 2
que é o resultado esperado! Isto é, o centro de massa se encontra na metade da lâmina!

Exemplo 2.8.10: Caso a função densidade de uma corrente de comprimento L seja


L2
dado por ρ(x) = x, vimos no exemplo 2.8.8 que sua massa é dada por . Para encon-
2
trarmos o centro de massa xG , calculamos, primeiramente, a integral
L L
L3
Z Z
xρ(x) dx = x2 dx = .
0 0 3

Logo, temos que


L3
3 L3 2 2L
xG = = · 2 = .
L2 3 L 3
2

Exemplo 2.8.11: Considere um sistema de massas m1 , m2 , m3 , localizados em x1 , x2 e


x3 , respectivamente. Considere M1 = m1 + m2 , seja CG o centro de massa do sistema
m1 e m2 . Seja xG o centro de massa do sistema m1 , m2 e m3 .
Vamos demonstrar que o centro de massa do sistema M1 , m3 é xG . Em outras palavras,
é possível calcular o centro de massa por partes. Note, primeiramente, que CG e xG
são dadas pela fórmula
x1 m1 + x2 m2 x1 m1 + x2 m2
CG = = ,
m1 + m2 M1

x1 m1 + x2 m2 + x3 m3
xG = .
M1 + m3
Temos que o centro de massa do sistema M1 , m3 é dada por
x1 m1 + x2 m2
· M1 + x3 m3
CG M 1 + x 3 m 3 M1
= = xG .
M1 + m3 M1 + m3
64 Matemática Universitária

Considere agora um sistema de partículas m1 , . . . , mn localizados nas coordenadas


do plano (x1 , y1 ), (x2 , y2 ), · · · , (xn , yn ). O centro de massa CG = (xG , yG ) do sistema é
definida por
n
X n
X
xi m i yi m i
i=1 i=1
xG = n
, yG = n
.
X X
mi mi
i=1 i=1

Pretendemos estender as ideias do cálculo de centro de massa para regiões X do


plano com densidade constante. Quando a densidade é constante, o centro de massa é
chamado de centroide e também é conhecido como o centro geométrico.
Utilizaremos a intuição de que o centroide do retângulo é exatamente o centro do
retângulo. É possível demonstrar este resultado com a definição acima e passar para o
caso contínuo, mas acreditamos que o resultado é suficientemente intuitivo e que não
é tão difícil imaginar a sua demonstração. Em outras palavras, considere o retângulo
R = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}. O centro de massa (xG , yG ) é dada por

a+b c+d
xG = , yG = .
2 2

Sejam f, g : [a, b] → R em que f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b] e seja X a região entre
os dois gráficos. Mais precisamente, X = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}.

y y

y = g(x) y = g(x)

g(ci )

X b

f (ci )
y = f (x) y = f (x)
x x
xi−1 xi
(a) Região X. (b) Centroide do retângulo Ri .

Para encontrar o centroide, utilizaremos o princípio do exemplo 2.8.11, em que pode-


mos subdividir em regiões e calcular o centro de massa separadamente.
xi−1 + xi
Considere uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} e seja ci = o centroide
2
do intervalo [xi−1 , xi ]. O centroide do retângulo
 Ri definida pelo retângulo [xi−1 , xi ] ×
f (ci ) + g(ci )
[f (ci ), g(ci )] é dado por ci , . A massa do retângulo Ri é dada por ρ· f (ci )−
 2
(g(ci ) ∆xi , em que ρ é a densidade (superficial) da região X. O centroide (xn , yn ) da
união dos retângulos R1 , · · · , Rn é
n n  
X  X f (ci ) + g(ci ) 
ci ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
2
i=1 i=1
xn = n
, yn = n
.
X  X 
ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi ρ · g(ci ) − f (ci ) ∆xi
i=1 i=1
Renan Lima 65

Finalmente, eliminando o ρ e fazendo o limite para n indo ao infinito, concluímos que


o centroide (xG , yG ) da região X é dada por
Z b Z b
1
[g(x)]2 − [f (x)]2 dx

x(g(x) − f (x)) dx
2
xG = Za b , yG = a
Z b
.
 
g(x) − f (x) dx g(x) − f (x) dx
a a
Z b 
Note que g(x) − f (x) dx é a área da região X.
a

Exemplo 2.8.12: Considere a região delimitada pela parábola y = x2 e pela reta y = 1.


Calcularemos as coordenadas do centroide.
y

x
−1 1

Figura 2.20: A região e o seu centroide.

Os pontos de interseção da parábola e reta são (−1, 1) e (1, 1). A área é dada por
1
1
x3
Z
2 4
(1 − x ) dx = x − = .
−1 3 3
−1

Para encontrar o numerador de xG , devemos calcular a seguinte integral


1
1 1
x2 x4
Z Z
2 3
x(1 − x ) dx = (x − x ) dx = − = 0.
−1 −1 2 4
−1

Logo, xG = 0. Analogamente, para encontrar o numerador de yG , devemos calcular a


seguinte integral
1
1 1
x5
Z Z  
1 2 2 21 41 4
(1 − (x ) ) dx = (1 − x ) dx = x− = .
2 −1 2 −1 2 5 5
−1

Logo,
4/5 4 3 3
yG = = · = .
4/3 5 4 5
 
3
Logo o centroide é 0, .
5
66 Matemática Universitária

Exercícios
1. Sabendo que a força é dada por f (x) · x̂, calcule o trabalho realizado pela força,
sabendo que a partícula se desloca de x = a até x = b dados em cada um dos itens
abaixo (considere as unidades no sistema internacional de medida).
a) f (x) = 2, a = 1, b = 3 b) f (x) = x2 , a = 6, b = 3
1
c) f (x) = ln x, a = 1, b = e d) f (x) = − , a = 2, b = 1
x2

2. Um corpo de massa m é lançado verticalmente. Suponha que a força resultante que


atua sobre o corpo é a gravitacional FRes = −g · ŷ, em que g é uma constante dada
por g ' 9, 8m/s2 . Sejam y(t) e v(t) a altura e a velocidade, respectivamente, do
corpo no instante t.

a) Mostre a relação de Torriceli [v(t)]2 = [v(0)]2 − 2g(y(t) − y(0)).

b) Calcule o maior valor possível de y(t) − y(0), em função da velocidade inicial.

3. Suponha que o fio esteja sobre o eixo x com 0 ≤ x ≤ 4 e que sua densidade linear
seja ρ(x) = x3 . Encontre as coordenadas do centro de massa.

4. Encontre o centroide de cada uma das figuras abaixo.

a) X = {(x, y) ∈ R2 / 1 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ x2 }

b) X = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

c) X = {(x, y) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ 1, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 1}

d) X = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1}

5. Mostre que o centroide de um triângulo retângulo é o baricentro do triângulo.

6. Mostre que o centroide do triângulo qualquer é o baricentro do triângulo.

7. Sejam f, g : [a, b] → R contínuas e tal f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b]. Considere
X = {(x, y) ∈ R2 / a ≤ x ≤ b, f (x) ≤ y ≤ g(x)}. O teorema de Pappus afirma
que o volume do sólido de revolução obtida pela rotação em torno do eixo x do
conjunto X é igual o produto da área de X pelo comprimento da circunferência
descrita pelo centro de massa de X. Demonstre o teorema de Pappus!

8. Calcule o volume do sólido obtido pela rotação do círculo x2 + (y − 2)2 = 1 em


torno do eixo x.
Renan Lima 67

Respostas

Exercício 1
a) 4J ( J = Joule, que corresponde a força de 1 Newton por deslocamento de 1 metro.)
1
b) −63J c) 1J d) J
2

Exercício 2
(v(0))2
b)
2g

Exercício 3
16
a) xG =
5

Exercício 4
     
45 93 2 2 2
a) , b) 0, c) , d) (0, 0)
28 70 3π 3π 3π

Exercício 8

2π 2
68 Matemática Universitária

2.9 Integrais Impróprias

Na definição de integrais, consideramos a função do integrando contínua em um in-


tervalo fechado e limitado. Iremos estender a definição de integral para os seguintes
casos

• Funções com intervalo do tipo [a, +∞), (−∞, b] ou (−∞, +∞).

• Funções que não são limitadas.

A integral imprópria é uma extensão natural das integrais próprias e aparece natu-
ralmente na física e no estudo de probabilidade e estatística. Um exemplo na física é se
considerarmos a Lei da Gravitação Universal
mM
F~ = −G 2 · r̂.
r
Se calcularmos a energia potencial gravitacional, na escala astronômica, da Terra sobre
uma partícula do espaço de massa m a uma distância r1 da Terra, que tem massa M , e,
convencionando que a energia potencial 0 é para todas as partículas a uma distância r0
da Terra, temos que
r1
Z r1
mM GmM GmM GmM
U (r1 ) = − −G · 2 dr = − = − .
r0 r r r0 r1
r0

Devido a natureza complicada de escolher um referencial fixo para ser o nível 0, costuma-
GmM
se escolher o +∞ e, daí, temos U (r1 ) = − . Em outras palavras, foi calculado que
r1
Z r1 Z +∞
mM mM mM
− G 2 dr = G 2 dr = −G .
+∞ r r1 r r1
Há duas complicações teóricas omitidas neste texto. A primeira é que para as fórmulas
acimas estarem devidamente justificadas, precisa-se mostrar que as forças radiais são
conservativas. Isto faz parte de um curso de integrais de linha, que é normalmente
dado no terceiro período de uma graduação.
A segunda complicação é mostrar que a atração gravitacional da Terra sobre uma par-
tícula externa de massa m fornece o mesmo resultado se supormos que toda a massa
M da Terra estivesse concentrada no seu centro de massa.

Vimos na seção 2.7 que o comprimento de arco do gráfico de uma função f : [a, b] → R
de classe C 1 é dada por
Z bp
1 + [f 0 (x)]2 dx.
a
Se formos calcular, como teste, o comprimento do semicírculo de raio x2 √
+ y 2 = 1 com
y ≥ 0, devemos considerar a função f : [−1, 1] → R dada por f (x) = 1 − x2 e daí,
−x
f 0 (x) = √ e, portanto,
1 − x2
Z 1r Z 1r
x2 1
1+ 2
dx = dx.
−1 1 − x −1 1 − x2
1
O comprimento da semicírculo é a área do gráfico da função g(x) = √ .
1 − x2
Renan Lima 69

A integral acima é arcsen x e é considerada uma primitiva imediata. É possível, por-


tanto, mostrar que é π. Há algumas tecnicalidades na parte escrita, que será suprida
nesta seção. De qualquer forma, sugerimos a nossa videoaula Um Exemplo Natural de
Integrais Impróprias - Comprimento de Arco.
y

1
f (x) = √
1 − x2

x
−1 1

Figura 2.21: A área da região acima é π.

Definição 2.9.2: Integral Imprópria no Infinito

Seja f : [a, +∞) → R função integrável. Definimos


Z +∞ Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a b→+∞ a

Se g : (−∞, b] → R função integrável. Definimos


Z b Z b
g(x) dx = lim g(x) dx.
−∞ a→−∞ a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos limites exis-


tem e é finito. Caso contrário, dizemos que a integral é divergente.

Caso a função f : [a, +∞) → R é positiva, então temos a interpretação geométrica


de área de uma região ilimitada. Apesar da região ser ilimitada, a área pode ser finita.
Vamos resolver alguns exemplos para entendermos a ideia.
Z +∞
dx
Exemplo 2.9.3: Vamos analisar . Temos que
1 x
Z +∞ Z b
1 dx
dx = lim
1 x b→+∞ 1 x

= lim (ln |b| − ln |1|) = +∞.


b→+∞
Z +∞
dx
Em particular, diverge.
1 x
y

1
f (x) =
x
x
1

Figura 2.22: A área da região é infinita.


70 Matemática Universitária

Z +∞
1
Exemplo 2.9.4: Vamos analisar dx. Temos que
1 x2
Z +∞ Z b
dx dx
= lim
1 x2 b→+∞ x2
1 
−1
= lim + 1 = 1.
b→+∞ b
Z +∞
1
Em particular, dx converge para o valor 1.
1 x2
y

1
f (x) =
x2
x
1

Figura 2.23: A área da região é finita.

Z 0
Exemplo 2.9.5: Vamos analisar cos x dx. Temos que
−∞
Z 0 Z 0
cos x dx = lim cos x dx = lim sen a.
−∞ a→−∞ a a→−∞

Z 0
Como não existe lim sen a, concluímos que cos x dx diverge.
a→−∞ −∞

Z +∞
1
Exemplo 2.9.6: Vamos analisar a convergência de dx para todo p ∈ R. Mais
1 xp
precisamente, vamos mostrar que

1

Z +∞
1 ,  se p > 1,
dx = p−1
1 xp
se p ≤ 1.

+∞,

O caso p = 1 foi visto no exemplo 2.9.3. Supomos que p 6= 1, então


b
+∞ b  
−1
Z Z
1 1 1 1
dx = lim dx = lim = lim − .
1 xp b→+∞ 1 x p b→+∞ (p − 1)xp−1 b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1
1

1
Finalmente, note que se p − 1 > 0, então lim = 0 e, portanto,
b→+∞ bp−1
 
1 1 1
lim − = .
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1 p−1

1
Se p < 1, então lim = lim b1−p = +∞. Isso mostra que se p < 1, então
b→+∞ bp−1 b→+∞
 
1 1
lim − = +∞.
b→+∞ p − 1 (p − 1)bp−1
Renan Lima 71

Z +∞
A nomenclatura de integral imprópria se deve ao fato de f (x) dx não está neces-
a
sariamente bem definida, necessitando de uma análise cuidadosa para discutir a sua
existência ou, equivalentemente, a sua convergência.

Definição 2.9.8: Integral Imprópria com Integrando Não-Limitado

Seja f : (a, b] → R função contínua com lim f (x) = ±∞, definimos


x→a+
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a ε→0+ a+ε

Se g : [a, b) → R função integrável com lim g(x) = ±∞, definimos


x→b−
Z b Z b−ε
g(x) dx = lim g(x) dx.
a ε→0+ a

Dizemos que a integral imprópria é convergente se os seus respectivos limites exis-


tem e é finito. Caso contrário, dizemos que a integral é divergente.

Z 1
1
Exemplo 2.9.9: Vamos analisar dx. Temos que
0 x
Z 1 Z 1
1 1 
dx = lim dx = lim ln 1 − ln ε = +∞.
0 x ε→0+ ε x ε→0 +

Z 1
1
Logo dx diverge.
0 x
Z 1
1
Exemplo 2.9.10: Vamos analisar √ dx. Temos que
0 x
1
Z 1 Z 1 √ √
1 1
√ dx = lim √ dx = lim 2 x = lim (2 − 2 ε) = 2.
0 x ε→0+ ε x ε→0 + ε→0+
ε
Z 1
1
Logo √ dx converge para 2.
0 x

y y

1
1 f (x) = √
f (x) = x
x
x x
1 1
(a) A área da região é infinita. (b) A área da região é finita.

Figura 2.24: Área pode ser finita ou infinita.


72 Matemática Universitária

Finalmente, destacamos uma última definição de integral imprópria e deixamos as


outras adaptações para o leitor.

Definição 2.9.11: Integral Imprópria

Se h : [a, c) ∪ (c, b] → R função contínua e ilimitada, definimos


Z b Z c Z c
h(x) dx = h(x) dx + h(x) dx,
a a b
Z b
onde cada uma das integrais são impróprias. Dizemos que h(x) dx converge se
a
cada uma das integrais da direita for finita.
Seja f : (a, +∞) → R função contínua com lim f (x) = ±∞. Definimos
x→a+
Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Dizemos que a integral imprópria converge se as duas integrais correspondentes con-


vergem, independente da escolha de c > a.
Se g : R → R é integrável, definimos
Z +∞ Z c Z +∞
g(x) dx = g(x) dx + g(x) dx.
−∞ −∞ c

Dizemos que a integral imprópria converge, se as duas integrais correspondentes


convergem, independente da escolha de c ∈ R.

Z +∞
1
Exemplo 2.9.12: Vamos analisar dx. Escolha c > 0, então
0 x2
Z +∞ Z c Z +∞
1 1 1
dx = dx + dx.
0 x2 0 x 2
c x2

Temos que
c
c c  
−1
Z Z
1 1 1 1
dx = lim dx = lim = lim − = +∞.
0 x2 ε→0+ ε x2 ε→0+ x ε→0+ ε c
ε
Z +∞
1
Logo dx diverge.
0 x2
Z +∞
Se f : (0, +∞) → R é uma função contínua. É possível demonstrar que f (x) dx
Z 1 Z +∞ 0

converge se e somente se as integrais f (x) dx e f (x) dx. O motivo disso é que


Z c 0 1

para qualquer c > 0, temos que f (x) dx = F (c) − F (1) em que F é uma primitiva
Z c Z c1 Z c
de f e, portanto, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
0 1 1
Renan Lima 73

Em vários problemas, é bastante complicado dizer se uma integral imprópria con-


verge ou diverge e, caso convirja, é mais complicado ainda encontrar o seu valor. O crité-
rio da comparação é um resultado bastante útil para discutir a convergência da integral
sem precisar calculá-la.

Teorema 2.9.14: Critério da Comparação

Sejam f, g : [a, +∞) → R funções integráveis e positivas com f (x) ≤ g(x) para todo
x ∈ [a, +∞).
Z +∞ Z +∞
• Se f (x) dx diverge, então g(x) dx diverge.
a a
Z +∞ Z +∞
• Se g(x) dx converge, então f (x) dx converge.
a a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na nossa videoaula Demonstração do Critério da Compa-
ração para Integrais Impróprias.

O teorema é bastante intuitivo se interpretarmos geometricamente o conceito de inte-


gral como área como pode ser visto pela figura 2.25
y

g(x)
f (x)
x
a

Figura 2.25: Se a área de verde for finita, então a área tracejada é finita.
Se a área tracejada é infinita, então a área de verde é infinita.

É importante verificar que as funções f e g sejam positivas. A parte complicada deste


resultado é encontrar a função que faz a comparação. Sugerimos a videoaula Introdução
ao Critério da Comparação para Integrais Impróprias. Para exemplos mais complicados,
sugerimos videoaula Exemplos para Critério de Comparação para Integrais Impróprias.
Z +∞
2 + sen x
Exemplo 2.9.15: Vamos analisar a convergência da integral dx. Lem-
1 x2
bremos que −1 ≤ sen x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + sen x ≤ 3 e, dividindo tudo por x2 ,
concluímos
1 2 + sen x 3
2
≤ 2
≤ 2.
x x x
Z +∞
3
Sabendo que 2
dx converge, então, para utilizar o critério da comparação, de-
1 x Z +∞
2 + sen x 3 2 + sen x
vemos tomar f (x) = 2
e g(x) = 2 e, portanto, converge.
x x 1 x2
74 Matemática Universitária

Z +∞
2 + cos x
Exemplo 2.9.16: Vamos analisar a convergência da integral dx. Lem-
1 x
bremos que −1 ≤ cos x ≤ 1 e, portanto, 1 ≤ 2 + cos x ≤ 3 e, dividindo tudo por x,
concluímos
1 2 + cos x 3
≤ ≤ .
x x x
Z +∞
1
Sabendo que dx diverge, então, para utilizar o critério da comparação, deve-
1 x Z +∞
1 2 + cos x 2 + cos x
mos tomar f (x) = e g(x) = e, portanto, diverge.
x x 1 x
Z +∞
2
Exemplo 2.9.17: Considere a integral f (x) = e−x dx. Como eu ≥ 1 + u > u para
0
1 1
todo u ≥ 0. Portanto, e−u = u ≤ para todo u ≥ 0 e, daí, fazendo u = x2 , temos,
e 1+u
2 1
e−x ≤ .
1 + x2
Sabemos que
Z +∞
1  π
2
dx = lim arctg(b) − arctg(0) = .
0 1+x b→+∞ 2

Para o leitor que tiver dúvida no cálculo


 π πdo  limite da função arcotangente, esboçamos
o gráfico da tangente no intervalo − , .
2 2

Há um teste bem simples para provar a divergência de uma integral imprópria.

Teorema 2.9.18: Teste de Divergência

Seja f : [a, +∞) → R integrável e suponha que lim f (x) = L tal que L 6= 0 ou
x→+∞
Z +∞
L = ±∞, então f (x) dx diverge.
a

Demonstração:
A demonstração pode ser vista na videoaula Demonstração do Teste da Divergência.
Vamos escrever o caso em que lim f (x) = +∞. Como f cresce indefinidamente, existe
x→+∞
Z +∞
um ponto c tal que f (x) > 1 para todo x ∈ [c, +∞). Como 1 dx = +∞, então, pelo
Z +∞ c

critério da comparação, f (x) dx diverge.


c

+∞
x−1 x−1
Z
Exemplo 2.9.19: A integral dx diverge pois lim = 1.
1 x−6 x→+∞ x − 6

Para funções gerais, em que há uma oscilação do sinal, existe um teste muito útil que
é o teste do módulo. Sugerimos a videoaula Teste do Módulo para Integrais Impróprias.
Renan Lima 75

Teorema 2.9.20: Teste do Módulo


Z +∞ Z +∞
Seja f : [a, +∞) → R integrável tal que f (x) dx converge. Então f (x) dx
a a
converge.

Demonstração:
A demonstração se encontra na videoaula Demonstração do Teste do Módulo. Vamos
reproduzi-la aqui.
Z +∞
Como 0 ≤ f (x) + |f (x)| ≤ 2|f (x)| e como 2 f (x) dx converge, então, pelo critério
Z +∞ a

da comparação, f (x) + |f (x)| dx converge. Daí,
a
Z +∞ Z +∞ 
Z +∞
f (x) dx = f (x) + |f (x)| dx − f (x) dx
a a a

converge, pois é a soma de integrais impróprias que convergem.


Z +∞
sen x
Exemplo 2.9.21: A integral imprópria dx converge, pois, para todo x ≥ 1,
1 x2
temos
sen x | sen x| 1
2
= 2
≤ 2.
x x x
+∞ Z +∞
| sen x|
Z
1
Como 2
dx converge, então pelo critério da comparação, dx con-
1 x Z +∞ 1 x2
sen x
verge e, pelo teste do módulo, concluímos que dx converge.
1 x2

Finalizamos a seção com algumas observações.

Observações
Z +∞
• Tomando f (x) = sen(x2 ), é possível demonstrar que f (x) dx converge, em-
0
bora não exista lim f (x). Observe, na hipóteses do teorema 2.9.18, é exigido
x→+∞
que lim f (x) = L, podendo L ser finito ou infinito.
x→+∞
Z +∞
sen x
• É possível mostrar que se f (x) = , então f (x) dx é convergente, mas
x 1
Z +∞
f (x) dx é divergente. Logo, não existe uma espécie de recíproca do teo-
1
rema 2.9.20.

• É necessário utilizar a integração por partes para demonstrar as observações an-


teriores. Para o leitor que tiver curioso, sugerimos a videoaula Exemplos mais
Complicados de Integrais Impróprias.
76 Matemática Universitária

Exercícios
1. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem e, caso convirja, calcule o
seu valor.
Z +∞ Z 1 Z +∞
dx dx
a) e−3x dx b) 5/6
c)
1 0 x e x ln x
Z +∞ Z +∞ Z +∞
dx
d) 2
e) e−x sen x dx f) ex cos x dx
e x(ln x) 0 0

2. Seja f : [a, +∞) → R uma função contínua. O valor médio de f em [a, +∞) é
Z t
1
definido por lim f (x) dx.
t→+∞ t − a a

a) Encontre o valor médio de f (x) = cos x em [0, +∞).

b) Encontre o valor médio de f (x) = arctg x no intervalo de [0, +∞).


Z +∞
c) Se f (x) dx converge, então o valor médio de f é 0.
a

Z +∞
d) Se f (x) dx diverge e lim f (x) = L, então o valor médio de f é L.
a x→+∞

3. Discuta se as integrais abaixo convergem ou divergem.


Z +∞ Z ∞
dx 1
a) 4
b) √ dx
1 x +1 2
3
x −1
Z +∞ Z +∞
2 + cos x 2 + cos x
c) 2
dx d) dx
1 x 0 x2

1
4. O trompete de Gabriel é formado pela rotação do eixo x do gráfico y = , com
x
x ∈ [1, +∞). Mostre que a região delimitada pelo trompete tem volume finito, mas
área lateral infinita.
Conclusão: É fácil pintar a parte interna do trompete, basta encher de tinta, mas é
difícil pensar em um mecanismo para pintar a parte externa do trompete.

5. Sabendo que a transformada de Laplace da função f : [0, +∞) → R é definida por


Z +∞
F (s) = e−st f (t) dt, faça o que se pede em cada um dos itens abaixo.
0

k
a) Mostre que F (s) = é a transformada de Laplace da função constante f (x) = k.
s

b) Encontre a transformada de Laplace da funções f (t) = e3t , g(t) = t e h(t) = sen t.

c) Se existem M, k ∈ R tais que |f (t)| ≤ M ekt para todo t ≥ 0, então a integral


imprópria F (s) converge para todo s > k.
2
d) Mostre que não existe a transformada de Laplace de f (t) = et .
Renan Lima 77

Respostas

Exercício 1
1
a) b) 6 c) Diverge
3e3
1
d) 1 e) f) Diverge
2

Exercício 2
π
a) 0 b)
2

Exercício 3

a) Converge b) Converge

c) Converge d) Diverge

Exercício 4
1 1 1
b) F (s) = , G(s) = 2 e H(s) =
s−3 s 1 + s2
C APÍTULO

3 Discussão mais Avançada de


Integrais

3.1 Introdução

No capítulo 2, houve uma discussão mais ampla de integração e que aparecem com
bastante frequência para os alunos de engenharia. As únicas exceções, com direito a uma
boa discussão, seriam as aplicações geométricas tais como volume de sólido de revolução
e também o critério de comparação para integrais impróprias.
As aplicações geométricas são muito interessantes pois o leitor é convidado a utilizar
as ideias de soma de Riemann. Tais ideias são muito utilizadas na física e na química
com linguagem ligeiramente específica para o assunto. Por exemplo, na seção 2.8, vimos
exatamente as mesmas ideias serem aplicadas para o cálculo de trabalho, massa e centro
de massa.
Talvez um pouco mais polêmico é o critério de comparação para integrais impróprias.
A ideia de encontrar uma função comparadora e de, certa forma, estudar a velocidade
1
de decaimento de uma função do estilo α quando x → +∞ para discutir se a integral
x
associada converge ou diverge são ideias idênticas para séries numéricas. Mais precisa-
mente, observar, com certa intuição como as funções se comportam assintoticamente é
frequentemente utilizado em diversas áreas aplicadas. Além disto, o critério da compa-
ração pode ser pensado como um dos resultados bases para encontrar uma família de
funções que admitem a Transformada de Laplace, que é uma técnica de resolução de equa-
ções diferenciais muito utilizadas na Engenharia, com um bom destaque para a teoria do
controle.
O critério da comparação é mais polêmico pelo fato que é possível encontrar uma fa-
mília que admite Transformada de Laplace via uma exposição de uns 20 a 30 minutos,
com a função comparadora específica. Na parte de séries numéricas, o estudante é con-
vidado a refletir assintotaticamente de forma bastante natural. Por esta razão, o critério
da comparação foi colocado, propositalmente, como o último assunto do capítulo 2.
Finalmente, o objetivo deste capítulo é estudar assuntos mais específicos do cálculo
e que, provavelmente por tradição, estão na ementa da maioria dos cursos de cálculo
integral. A seção 3.2 estuda funções definidas por integrais e fazemos uma
Z xbreve digres-
dt
são histórica para reconstrução da função logaritmo definida por ln x = . Com as
1 t
mesmas ideias, estudaremos a função gama.
Nas seções 3.3 e 3.4, estudaremos técnicas específicas de integração, a saber, frações
parciais e algumas substituições especiais, tais como a substituição trigonométrica, a
substituição universal e a substituição por hiperbólicas. Estas técnicas aumentam a quan-
Renan Lima 79

tidade de funções que conseguimos integrar, mas são muito mais específicas e, em geral,
menos utilizadas que a substituição (geral) e a integração por partes.
A técnica de frações parciais é de natureza algébrica em que estuda funções racionais,
P (x)
isto é, funções do tipo f (x) = em que P e Q são polinômios. Esta teoria algébrica
Q(x)
é bastante utilizado na Transformada de Laplace e também faz parte de algoritmos de
computação simbólica para o cálculo de integração.
As substituições especiais, principalmente a trigonométrica, sãoZ técnicas que resol-
p
vem muitos problemas na física, em que aparece integrais do tipo R2 − x2 dx. Em
geral, os livros de física conseguem "esconder" tais integrais ao trabalhar diretamente
com coordenadas polares na modelagem do problema. Destacamos também a substitui-
ção hiperbólica pois ela é equivalente à substituição trigonométrica.
O uso de software deve ser estimulado para os alunos e, acredito, que seja interessante
introduzir alguns resultados matemáticos que faz parte da base teórica para a implemen-
tação e criação destes softwares. Por conta disso, a seção 3.5 é uma breve introdução a
integrais Liouvillianas, que é um dos resultados base para a implementação de algoritmo
simbólico para resolução de integrais.
Exemplos de softwares que resolvem integrais, simbolicamente as integrais, são Wol-
fram, Geogebra, Sage e o pacote numpy do Python. Novamente, a técnica de frações
parciais tem um contexto interessante para esta implementação, especialmente o algo-
ritmo de divisão de polinômios.
As seções 3.A e 3.B apresentam o conceito de integral de forma rigorosa, com uma vi-
são voltada de uma parte de um curso de análise real. Provamos, rigorosamente, todas as
propriedades de integrais e mostramos que toda função que contínua é integrável via Ri-
emann. Com tais resultados, demonstramos, com o devido rigor, o teorema fundamental
do cálculo.
80 Matemática Universitária

3.2 Definição de Funções por meio de Integrais

Seja f : R → R função contínua e fixado a ∈ R, podemos construir uma função


F : R → R dada por Z x
F (x) = f (t) dt.
a

Pelo teorema fundamental do cálculo, F é derivável e vale F 0 (x) = f (x). Veremos na


seção 3.5 que, com o processo de integrais, é possível criar novas funções de natureza
diferente dos logaritmos, exponenciais, trigonométricas ou polinomiais, isto é, cria-se
uma função que não é elementar.
Nesta seção, vamos nos dedicar a dois tipos especiais de funções. A primeira delas
já é uma conhecida nossa, mas será estudada novamente do ponto de vista histórico. A
outra função é a que chamamos de função gama e será uma extensão da função fatorial.
Em um curso de cálculo diferencial, estudamos a função exponencial, definimos a
função logaritmo como a inversa da função exponencial e, para encontrar a fórmula de
1 x

derivadas, definimos o número de Euler e = lim 1+ , sendo que uma parte razo-
x→+∞ x
avelmente complicada é demonstrar que este limite existe. Este caminho de construção
do logaritmo como inversa da função exponencial é devido a Euler no seu livro Introduc-
tion to the Analysis of the Infinite em 1748.
Historicamente, a função logaritmo foi criada antes da função exponencial, via uma
construção abstrata por John Napier em 1614. Em 1649, Alfons de Sarasa, discípulo do
jesuíta Grégorie de Saint-Vincent, relacionou os logaritmos com a quadratura da hipér-
1
bole, em que mostrou que a área A(t) sob o gráfico da hipérbole y = , de t = 1 até x = t
x
satisfaz
A(st) = A(s) + A(t).

Devido a esta fórmula, Saint-Vincent nomeou tal função como logaritmo hiperbólico.
Apenas por curiosidade, Saint-Vincent resolveu o paradoxo de Zeno de Aquiles e a Tar-
taruga, mostrando que os intervalos temporais formavam uma progressão geométrica de
razão menor que 1 e, portanto, tinha soma finita.
Para situarmos historicamente o leitor, estamos em 1649 e a criação do cálculo por
Newton ocorreu em 1667, sendo que o grande divulgador, que popularizou o cálculo, foi
Leibniz em torno de 1680.
1
Em 1668, Mercator percebeu que pode ser visto como a soma limite de uma pro-
x
gressão geométrica com primeiro termo sendo 1 e razão −(x − 1), em outras palavras,

1 1
= = 1 − (x − 1) + (x − 1)2 − (x − 1)3 + . . . + (−1)n (x − 1)n + . . .
x 1 + (x − 1)

e o cálculo da área funciona bem no intervalo (0, 2), pois |x − 1| < 1. Com esta ideia, ele
utilizou a fórmula de área de Fermat (ver seção 1.A) e que a área é dada por uma série
infinita
(t − 1)2 (t − 1)3 (t − 1)4 (t − 1)n+1
(t − 1) − + − + . . . + (−1)n + ...
2 3 4 n+1
E, com esta visão, ele percebeu que se t ∈ (0, 1), então o valor seria negativo e, portanto,
é interessante considerar trabalhar com a área sob a hipérbole com sinal.
Renan Lima 81

Z t
1
Em notação atual, eles estudaram a função A(t) = dx. Euler estudou a função
1 x
e percebeu que o número e = 2, 71828... é o ponto que faz a área ser 1. Ele chamou o
logaritmo com esta base de logaritmo natural.
Um dos objetivos desta seção é, a partir da definição acima, provar todas as pro-
priedades básicas do logaritmo natural. Vamos também aceitar o fato que xr está bem
definida para todo x > 0 e r ∈ Q. Mais ainda, vamos considerar que sabemos derivar
tais funções. Para convencer o leitor que não é um grande pedido, recomendamos a vi-
deoaula [Revisão] - Funções Exponenciais - Parte 1 - Definindo nos Inteiros, a videoaula
[Revisão] - Funções Exponenciais - Parte 2 - Definindo nos Racionais e também Demons-
tração da Derivada de xρ , com ρ Racional.

Definição 3.2.1: Logaritmo Natural

O logaritmo natural de x, denotado por ln x é definido por


Z x
1
ln x = dt, x > 0.
1 t
Z x Z 1
1 1
Usaremos a convenção que se 0 < x < 1, então dt = − dt e que ln(1) = 0.
1 t x t

1
Como a função f (x) = é contínua em (0, +∞), então, pelo teorema fundamental
x
1
do cálculo, ln x é derivável e vale (ln x)0 = ·. Mais ainda, como (ln x)0 > 0, então ln x é
x
uma função estritamente crescente e, em particular, f é injetiva.
Z 1
1
Como ln 1 = dt = 0 e ln x é uma função crescente, então, em particular, ln x < 0
1 t
se 0 < x < 1 e ln x > 0 se x > 1.

Teorema 3.2.2: Propriedades Algébricas do Logaritmo

Sejam a, b > 0 e r ∈ Q, então vale as seguintes propriedades.

1. ln(a · b) = ln a + ln b,
b
2. ln = ln b − ln a,
a
3. ln ar = r ln a.

Demonstração:
1. Fixe a > 0 e considere a função f (x) = ln(ax), então, pela regra da cadeia, temos
que
1 1
f 0 (x) = .x = .
ax x
1
Como f (x) e ln x são primitivas de , então existe C ∈ R tais que f (x) = ln x + C.
x
Daí, ln a = f (1) = ln 1 + C = C e, portanto, f (x) = ln x + ln a. Substituindo x por b,
temos a demonstração da propriedade.
82 Matemática Universitária

2. Pelo item 1, temos que ln(ax) − ln a = ln x para todo x ∈ (0, +∞). Basta, portanto,
b
substituir x = .
a
3. Considere f (x) = ln xr , então, pela regra da cadeia, temos

1 r
f 0 (x) = · rxr−1 = = r(ln x)0 .
xr x
Logo existe C > 0 tal que f (x) = r ln x + C. Como f (1) = ln 1r = 0, temos que
C = 0. O resultado segue substituindo x por a.

Teorema 3.2.3: Proriedades do Logaritmo

1. lim ln x = +∞,
x→+∞

2. lim ln x = −∞,
x→0+

3. A imagem de ln x é R.

Demonstração:
1. Como ln é crescente, basta mostrar que ln não é uma função limitada, isto é, para
todo M > 0, exibir um x > 0 tal que ln x > M .
Como ln 2 > 0, existe N ∈ N suficientemente grande tal que N · ln 2 > M . Tome
x = 2N , temos, portanto,

ln x = ln 2N = N · ln 2 > M.

Isso mostra que y = ln x não é uma função limitada.


1
2. Façamos a mudança de variável x = e quando x → 0+ , temos que t → +∞. Daí,
t
 
1
lim ln x = lim ln ln = lim ln 1 − ln t = lim − ln t = −∞.
x→0 + t→+∞ t t→+∞ t→+∞

3. Como ln x é contínua, pelos itens 1 e 2 e pelo teorema do valor intermediário, te-


mos que, para todo y ∈ R, existe x ∈ (0, +∞) tal que ln x = y. Para quem tiver
dificuldade em entender esta argumentação, sugerimos a videoaula Aplicação do
Teorema de Bolzano - Todo Polinômio Ímpar possui Raiz Real.

Definição 3.2.4: Número de Euler

O número de Euler, denotado por e, é o único número real que satisfaz ln e = 1.

O teorema 3.2.3 diz que a função ln : (0, +∞) → R é bijetiva. Considere, portanto,
a sua inversa exp : R → (0, +∞), que chamamos de função exponencial. Logo vale que
ln(exp x) = x para todo x. Por conta disso, é natural escrever exp x = ex , pois

ln ex = x ln e = x · 1 = x.
Renan Lima 83

1
Como (ln x)0 = > 0, então, pelo teorema da função inversa, a função ex é derivável e,
x
pela regra da cadeia, temos

1 x 0
1 = (x)0 = (ln ex )0 = (e ) .
ex
Daí (ex )0 = ex .
Como ex é a inversa de ln x, temos também que eln x = x e, daí, como temos a fórmula
Como ln ar = r ln a para todo r ∈ Q, temos que ar = er ln a . Podemos, finalmente, definir
a exponenciação via número real.

Definição 3.2.5: Função Exponencial

Seja a > 0 e r ∈ R, definimos ar por

ar = er ln a .

Deixaremos como exercício para o leitor a demonstração as propriedades algébricas da


função exponencial. Mais precisamente,
• ap aq = ap+q , • (ap )q = apq ,
ap
• = ap−q , • (ap ) · (bp ) = (ab)p .
aq

Para o leitor que estiver com dificuldades em demonstrar tais resultados, acreditamos
que a aula [Revisão] - Função Logaritmo possa ajudar. Nesta aula, provamos, por exem-
plo, a identidade ln(a.b) = ln a + ln b baseado na fórmula ea+b = ea · eb . Só pensar de
forma inversa.
Em particular, para todo r ∈ R, temos que a função f (x) = xr é derivável e vale
r r
(xr )0 = (er ln x )0 = er ln x · = xr · = rxr−1 .
x x
A mesma ideia vale para a função f (x) = ax . Temos que

(ax )0 = (ex ln a )0 = ex ln a · ln a = ax · (ln a).

Finalmente, pelo mesmo argumento, a função ax é injetiva e tem imagem (0, +∞) e, por-
tanto, é inversível. Definimos, então, loga x como a função inversa de ax . Em particular,
temos que loge x = ln x.
Esperamos que, com esta breve exposição, convencemos o leitor que é possível extrair
propriedades e ter uma boa descrição de função definidas por integrais. Para encontrar-
mos valores, são necessários métodos numéricos com auxílio de softwares.
Uma função bastante utilizada em Probabilidade e Estatística é a função erro, deno-
tado por erf(x), ela é definida por
Z x
2 2
erf(x) = √ e−t dt.
π 0

Ela é uma função crescente e limitada (ver exemplo 2.9.17). A parte mais complicada é
demonstrar que lim erf(x) = 1.
x→+∞
84 Matemática Universitária

−1

Figura 3.1: Gráfico da função erro.

Em estudos da difração das ondas de luz, Fresnel encontrou as seguintes funções


x
πt2
Z  
S(x) = sen dt,
0 2
Z x
πt2
 
C(x) = cos dt.
0 2

Estas funções, atualmente, são chamadas de funções seno e cosseno de Fresnel.

y y
S(x) C(x)

0.5 0.5

x x

−0.5 −0.5

(a) Função seno de Fresnel. (b) Função cosseno de Fresnel.

Figura 3.2: Gráfico das funções de Fresnel.

Não é necessário que a variável x esteja no integrando. Uma família de função bas-
tante utilizado na área de sinais (telecomunicações) são as funções de Bessel. Por exem-
plo, uma das representações possíveis para a função de Bessel de ordem 0, denotado por
J0 (x), é
1 π
Z

J0 (x) = cos x sen θ dθ.
π 0

y
1.0

0.5

x
−28 −24 −20 −16 −12 −8 −4 4 8 12 16 20 24

−0.5

Figura 3.3: Função de Bessel de ordem 0. A escala dos eixos estão diferentes.

Outra função bastante famosa definida por ideais de integrais é a função gama Γ.
Renan Lima 85

Definição 3.2.6: Função Gama

A função Gama é definida por


Z +∞
Γ(t) = xt−1 e−x dx.
0

A função gama é definida via uma integral imprópria e, portanto, devemos tomar
muito cuidado com a sua análise. Recomendamos a videoaula Função Gama e a Exten-
são do Fatorial. Começamos encontrando uma região em que Γ está bem definida.

Teorema 3.2.7: Domínio da Função Gama

Para todo t > 0, a integral imprópria Γ(t) converge.

Demonstração:
Fixemos t > 0. Observe que se t < 1, então a função xt−1 e−x não é limitada próximo de
0 e, portanto, é interessante separarmos em duas integrais.
Z 1 Z +∞
Escrevemos Γ(t) = xt−1 e−x dx + xt−1 e−x dx. Para a primeira integral, observe
0 1
que e−x ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1] e, portanto, xt−1 e−x ≤ xt−1 para x ∈ [0, 1]. Como,
1
1
xt
Z
t−1 1 1 1
x dx = lim = − lim εt = .
0 ε→0+ t t t ε→0+ t
ε

note que lim εt = 0. pois t > 0, então, pelo critério da comparação (ver teorema 2.9.14),
ε→0+
Z 1
xt−1 e−x dx converge.
0

Para a segunda integral imprópria, seja n ∈ N tal que n ≥ t + 1. Temos que xn ≥ xt+1
xn xt+1 1 n!
para todo x ≥ 0. Como ex ≥ ≥ , então e−x = x ≤ t+1 . Daí,
n! n! e x
n!xt−1 n!
xt−1 e−x ≤ t+1
≤ 2.
x x
Z +∞ Z +∞
n!
Como 2
dx converge, então, pelo critério da comparação, xt−1 e−x dx con-
1 x 1
verge. Isso mostra que Γ(t) converge para t > 0.

Teorema 3.2.8

A função Gama é uma extensão do fatorial. Mais precisamente,

1. Vale Γ(t + 1) = t · Γ(t) para todo t > 0.

2. Γ(n + 1) = n! para todo n ∈ N ∪ {0}.


86 Matemática Universitária

Demonstração:
Z +∞ Z b
1. Observe que Γ(t + 1) = xt e−x dx = lim xt e−x . Integrando por partes,
0 b→+∞ 0
fazendo f (x) = xt , então f 0 (x) = txt−1 e g(x) = −e−x , com g 0 (x) = e−x , temos
b
Z b Z b Z b
t −x t −x
xe dx = −x e + txt−1 e−x dx − bt e−b + t · xt−1 e−x dx.
0 0 0
0

Tome n > t + 1, então, seguindo o procedimento da demonstração do teorema


n!
3.2.7, que |bt e−b | < , portanto, pelo Teorema do Confronto, lim |bt e−b | = 0 e,
b b→+∞
daí, lim bt e−b = 0. Concluímos que
b→+∞

Z b Z b
Γ(t + 1) = lim xt e−x dx = lim t xt−1 dx = t · Γ(t).
b→+∞ 0 b→+∞ 0

Z +∞
2. Temos que Γ(1) = e−x dx = 1 = 0! e, utilizando a propriedade do item 1),
0
temos que Γ(n + 1) = n.Γ(n). Supomos, por indução que Γ(k + 1) = k!, temos que
Γ(k + 2) = (k + 1)Γ(k + 1) = (k + 1).k! = (k + 1)! e o item 3 está provado.

Teorema 3.2.9
  Z +∞
1 2
Vale a seguinte igualdade: Γ =2 e−x dx.
2 0

Demonstração:
Z +∞ −x

 
1 e 1
Como Γ = √ dx, basta fazer a substituição u = x, então du = √ dx.
2 0 x 2 x
Quando x → 0, temos que u → 0 e quando x → +∞, temos que u → +∞ e, daí,
  Z +∞ Z +∞
1 −x dx 2
Γ = 2e √ =2 e−u du.
2 0 2 x 0


 
1
Aceitando o fato que lim erf(x) = 1, temos que Γ = π.
x→+∞ 2
Uma outra aplicação de Integral imprópria é a Transformada de Laplace. Dado uma fun-
ção f : [0, +∞) → R contínua e com mais algumas restrições, definimos a Transformada
de Laplace de f , denotado por L(f (t)) por
Z +∞
L(f (t))(s) = e−st f (t) dt.
0

Esta transformada é muito utilizado pela Engenharia para resolver um bom leque de
sistemas de equações diferenciais. Para o leitor que gostaria de ver como funciona o
procedimento, sugerimos a videoaula Aplicação de Integral Imprópria - Transformada
de Laplace.
Renan Lima 87

Exercícios
ln x
1. Mostre que para todo a > 0, a 6= 1 e x ∈ R, temos que loga x = .
ln a

2. Utilizando o gráfico da função do


√ seno de Fresnel S(x), mostre que o máximo global
de S(x) é atingido quando x = 2.

Z π Z π
3. Mostre que vale a igualdade cos(x sen θ) dx = cos(x cos θ) dx.
0 0

Z +∞ Z 1
4. Mostre que Γ(t) = (ln x)t−1 dx = (− ln x)t−1 dx.
0 0


     
1 3 7
5. Utilizando que Γ = π, encontre o valor de Γ eΓ .
2 2 2

6. Seja A : (0, +∞) → R função derivável satisfazendo A(st) = A(s) + A(t) para todo
s, t > 0. Se A(x) não é a função nula, mostre que A(x) = loga x, para algum a > 0.

Respostas

Exercício 5
  √   √
3 π 7 15 π
Γ = eΓ =
2 2 2 8

Exercício 6

Dica: Derive em relação à t, encontrando uma nova equação entre s, t e A0 . Faça uma
escolha adequada para s.
88 Matemática Universitária

3.3 Frações Parciais

Nesta seção, discutiremos um procedimento algébrico que é conhecida como frações


parciais. Costuma-se usar esta técnica para a Transformada de Laplace, que é estudado
em cursos de Equações Diferenciais Ordinárias. Por exemplo, é fácil verificar que
1 1 1
= −
(x − 1)(x − 2) x−1 x−2
e, portanto,
Z Z  
dx 1 1
= − dx = ln |x − 1| − ln |x − 2| + C.
(x − 1)(x − 2) x−1 x−2
1
A questão é que se aparecer uma integral do tipo , é interessante buscar
(2x − 3)(3x − 2)
métodos para separar o denominador. Em outras palavras, queremos encontrar A, B ∈ R
tais que
1 A B 2 3
= + , para todo x 6= , .
(2x − 3)(3x − 2) 2x − 3 3x − 2 3 2

Desenvolvendo a expressão da direita da equação acima, temos que


1 (3x − 2)A + (2x − 3)B (3A + 2B)x + (−2A − 3B)
= = .
(2x − 3)(3x − 2) (3x − 2)(2x − 3) (3x − 2)(2x − 3)

Eliminando o denominador, queremos encontrar A, B ∈ R tais que


2 3
(3A + 2B)x + (−2A − 3B) = 1, para todo x 6= , .
3 2

Para os dois polinômios serem iguais, todos os coeficientes deve ser iguais e, portanto,

3A + 2B = 0,
−2A − 3B = 1.
Para quem tiver dificuldades em resolver sistemas lineares, recomendamos as vídeo-
aulas Sistema Linear 2x2 e também Fórmula da Inversa de Matriz 2x2. Resolvendo o
2 3
sistema, temos A = e B = − e, portanto,
5 5
1 2 3
= − .
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)
Concluímos que
Z Z  
dx 2 3
= − dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)

ln |2x − 3| − ln |3x − 2|
= .
5
Para as duas últimas integrais, é necessário fazer a substituição u = 2x − 3 e também
v = 3x − 2, deixamos os detalhes para o leitor.
Para uma introdução do assunto, sugerimos a nossa videoaula Introdução a Frações
Parciais. Alem dela, sugerimos a videoaula Frações Parciais - Fazendo as Contas mais
Rápidas, que será o tema desta seção. Dividiremos a técnica de frações parciais em 3
casos.
Renan Lima 89

Teorema 3.3.1: Frações Parciais - Caso Raízes Reais de Multiplicidade 1

Sejam α1 , . . . , αn números reais distintos, k 6= 0, Q(x) = k(x−α1 )(x−α2 )·. . .·(x−αn )


e P (x) polinômio com grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . An tais que

P (x) A1 A2 An
= + + ... + .
(x − α1 ) · (x − α2 ) · . . . · (x − αn ) x − α1 x − α2 x − αn

Mais ainda, temos que


(x − αi )P (x)
Ai = lim para i = 1, · · · , n.
x→αi Q(x)
Z
dx
Exemplo 3.3.2: Vamos calcular . Como o grau do numerador é 0 e o
(2x − 3)(3x − 2)
do denominador é 2, podemos aplicar o teorema acima que diz que existem A, B ∈ R
tais que
1 A B
= + .
(2x − 3)(3x − 2) 3x − 2 2x − 3
1 2 1 3
Temos que A = lim = − e B = lim = . Concluímos que
x→ 23 2x − 3 5 x→ 2 3x − 2
3 5
Z  
−2
Z
dx 3
= + dx
(2x − 3)(3x − 2) 5(2x − 3) 5(3x − 2)

− ln |2x − 3| + ln |3x − 2|
= .
5

x2 − 3x + 1
Z
Exemplo 3.3.3: Considere dx. Como 2 = grau(P ) e 3 = grau(Q),
x(x − 1)(x − 2)
podemos aplicar o teorema 2.3.2, que diz que existem A, B, C ∈ R tais que

x2 − 3x + 1 A B C
= + + .
x(x − 1)(x − 2) x x−1 x−2
Temos que

x2 − 3x + 1 1
A = lim = ,
x→0 (x − 1)(x − 2) 2
x2 − 3x + 1
B = lim = 1,
x→1 x(x − 2)

x2 − 3x + 1 1
C = lim =− .
x→2 x(x − 1) 2

Daí, temos que

x2 − 3x + 1
Z Z  
1 1 1
dx = + − dx
x(x − 1)(x − 2) 2x x − 1 2(x − 2)

ln |x| ln |x − 2|
= + ln |x − 1| − .
2 2

Não esqueça de checar a hipótese que grau(P ) < grau(Q).


90 Matemática Universitária

Teorema 3.3.5: Frações Parciais - Caso Raízes com Multiplicidade

Sejam α ∈ R e m > 0 inteiro. Suponha que Q(x) = (x − α)m .Q1 (x) com Q1 (α) 6= 0
e grau(P ) < grau(Q), então existem A1 , . . . , Am ∈ R e um polinômio P1 (x) com
grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) P (x) A1 A2 Am P1 (x)


= = + + ... + + .
Q(x) (x − α)m Q1 (x) x − α (x − α)2 (x − α)m Q1 (x)

Mais ainda, temos que

(x − α)m P (x) P (α)


Am = lim = .
x→α Q(x) Q1 (α)

O resultado acima é um refinamento do teorema 3.3.1 para o caso m = 1. Sugerimos a


nossa videoaula Frações Parciais - Raízes com Multiplicidade
Z
2x + 3
Exemplo 3.3.6: Vamos calcular a integral dx. Note que o grau do
(x − 1)2 (x − 2)2
numerador é 1 e o grau do denominador é 4. Aplicando o teorema 3.3.5, existem
A, B ∈ R e um polinômio P1 (x) de grau ≤ 1 tais que

2x + 3 A B P1 (x)
2 2
= + 2
+ .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) (x − 2)2

Aplicando novamente o teorema 3.3.5, existem C, D ∈ R tais que

P1 (x) C D
2
= + .
(x − 2) x − 2 (x − 2)2

Juntando todas as informações, temos que

2x + 3 A B C D
2 2
= + 2
+ + .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) x − 2 (x − 2)2

É possível achar com rapidez os coeficientes de B e D, utilizando a fórmula do limite,

(x − 1)2 (2x + 3) 2x + 3
B = lim 2 2
= lim = 5,
x→1 (x − 1) (x − 2) x→1 (x − 2)2

(x − 2)2 (2x + 3) 2x + 3
D = lim 2 2
= lim = 7.
x→2 (x − 1) (x − 2) x→2 (x − 1)2

É possível encontrar A e C de várias formas. Uma delas é desenvolver o lado direito e


igualando os coeficientes como feito no início da seção

2x + 3 A(x − 1)(x − 2)2 + 5(x − 2)2 + C(x − 1)2 (x − 2) + 7(x − 1)2


= .
(x − 1)2 (x − 2)2 (x − 1)2 (x − 2)2

Outra forma é substituir vários valores para x, por exemplo, tomando x = 0 e x = 3,


encontrando o sistema
3 C 7
(x = 0) = −A + 5 − + ,
4 2 4
7 A 5
(x = 3) = + + C + 7.
4 2 4
Renan Lima 91

O terceiro método e que dá um pouco mais de segurança em fazermos as contas é


isolar o A e C, desenvolvendo a expressão de forma cuidadosa.

A C 2x + 3 5 7
+ = 2 2
− 2

x−1 x−2 (x − 1) (x − 2) (x − 1) (x − 2)2
2x + 3 − 5(x − 2)2 − 7(x − 1)2
=
(x − 1)2 (x − 2)2
2
−12x + 36x − 24
=
(x − 1)2 (x − 2)2
−12(x − 1)(x − 2) −12
= = .
(x − 1)2 (x − 2)2 (x − 1)(x − 2)

Estamos nas condições de aplicar o teorema 3.3.1 e, portanto,

−12 −12
A = lim = 12, C = lim = −12.
x→1 x−2 x→2 x−1
Daí,
2x + 3 12 5 12 7
2 2
= + 2
− + .
(x − 1) (x − 2) x − 1 (x − 1) x − 2 (x − 2)2
Finalmente, temos que
Z
2x + 3 5 7
2 2
dx = 12 ln |x − 1| − − 12 ln |x − 2| − .
(x − 1) (x − 2) x−1 x−2

Teorema 3.3.7: Frações parciais - Caso Raízes Complexas

Seja Q(x) = (x2 + ax + b)m · Q1 (x) em que as raízes de Q1 (x) são diferentes das raízes
de x2 + ax + b. Então existem A1 , B1 , A2 , B2 , · · · , Am , Bm ∈ R e um polinômio P1 (x)
com grau(P1 ) < grau(Q1 ) tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B 2 Am x + Bm P1 (x)
= 2 + 2 +. . .+ 2 + .
(x2 m
+ ax + b) Q1 (x) x + ax + b (x + ax + b) 2 (x + ax + b)m Q1 (x)

Recomendamos a nossa videoaula Frações Parciais - Caso Raízes Complexas não-


Reais e para entender melhor as contas do próximo exemplo, sugerimos que assista ao
último exemplo da nossa videoaula Fazendo Substituição Linear para Resolver Integrais.
Z
dx
Exemplo 3.3.8: Vamos calcular 2
. Pelo teorema 3.3.7, temos que
x(x − 4x + 8)

1 A Bx + C
= + 2 ,
x(x2 − 4x + 8) x x − 4x + 8
x 1
em que A = lim = . Daí, temos
x→0 x(x2 − 4x + 8) 8

Bx + C 1 1 8 − (x2 − 4x + 8)
= − =
x2 − 4x + 8 2
x(x − 4x + 8) 8x 8x(x2 − 4x + 8)

−x2 + 4x −x + 4
= = .
8x(x2 − 4x + 8) 8(x2 − 4x + 8)
92 Matemática Universitária

Eliminando o denominador, temos que

8Bx + 8C = −x + 4.
1 4
Logo, B = − e C = . Temos, portanto, que
8 8
 
1 1 1 −x + 4
= + .
x(x2 − 4x + 8) 8 x x2 − 4x + 8

Daí,
Z 
−x + 4
Z Z
dx 1 dx
= + dx
x(x2 − 4x + 8) 8 x x2 − 4x + 8
 
−x + 4
Z
1
= ln |x| + dx .
8 x2 − 4x + 8

Para a última integral, observe que o vértice da parábola é o ponto (2, 4) e, façamos a
substituição u = x − 2 e du = dx. Temos que

−x + 4 −u + 2
Z Z Z Z
u du 2 du
2
dx = 2
du = − 2 + .
x − 4x + 8 u +4 u +4 u2 + 4

A primeira integral é resolvida fazendo a substituição y = u2 + 4 e dy = 2u du. Daí,

ln |y| ln(u2 + 4)
Z Z
u du dy
− 2 =− =− +C =− + C.
u +4 2y 2 2

A segunda integral é resolvida utilizando a substituição u = 2y e du = 2 dy. Temos


que
Z Z Z
2 du 4 dy dy
= =
u2 + 4 4y 2 + 4 y2 + 1
u
= arctg y + C = arctg + C.
2
Lembrando que u = x − 2, temos, finalmente, que
" #
ln x2 − 4x + 8
 
x−2
Z
dx 1
= ln |x| − + arctg + C.
x(x2 − 4x + 8) 8 2 2

Ax + B
O caso para m 6= 1 é ainda mais complicado, mas é possível resolver
(x2
+ ax + b)m
com uma fórmula de recorrência ou também via substituição trigonométrica que será um
dos temas da seção 3.4. A fórmula e os passos da fórmula será deixado como exercício
desta seção.
O último caso que falta é quando o grau do numerador é maior que o denominador.

Teorema 3.3.9: Caso Grau do Numerador maior que a do Denominador

Se grau(P ) ≥ Q(x), existem polinômios S(x) e r(x), com grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) r(x)
= S(x) + .
Q(x) Q(x)
Renan Lima 93

Apesar de o livro ter relatado como teorema, é apenas uma consequência direta da
divisão Euclidiana para polinômios. Recomendamos a videoaula [Revisão] - Divisão de
dois Polinômios para lembrarmos como fazemos a divisão e também a nossa videoaula
Frações Parciais - Caso grau do Numerador é maior ou igual ao do Denominador.
O algoritmo de divisão diz que é possível encontrar, de forma única, polinômios S(x)
e r(x) com grau(r) < grau(Q) tais que

P (x) = S(x)Q(x) + r(x).

Chamamos de r(x) de resto da divisão. Dividimos a equação acima por Q(x), temos que

P (x) S(x)Q(x) + r(x) r(x)


= = S(x) + .
Q(x) Q(x) Q(x)

Vamos aplicar o procedimento acima em um exemplo.


x3
Z
Exemplo 3.3.10: Vamos calcular dx. Utilizando o algoritmo de divi-
(x − 1)(x − 2)
são entre x3 e x2 − 3x − 2, temos que

x3 = (x + 3)(x2 − 3x + 2) + (7x − 6).

x3 7x − 6
Logo 2
= x+3+ 2 . Utilizando a técnica de frações parciais, temos
x − 3x + 2 x − 3x + 2
7x − 6 7x − 6 A B
= = + ,
x2 − 3x + 2 (x − 1)(x − 2) x−1 x−2
7x − 6 7x − 6
em que A = lim = −1 e B = lim = 8 e, portanto,
x→1 x − 2 x→2 x − 1

x3
Z  
−1
Z Z
8
dx = (x + 3) dx + + dx
(x − 1)(x − 2) x−1 x−2
x2
= + 3x − ln |x − 1| + 8 ln |x − 2| + C.
2

Para o leitor interessado, a demonstração destes resultados de frações parciais se en-


contra na videoaula Demonstração das Frações Parciais. A demonstração é bem algé-
brica, mas usa apenas o algoritmo de divisão de polinômios. Faremos uma demonstração
alternativa na seção 3.5.
94 Matemática Universitária

Exercícios
1. Calcule as integrais.
Z Z
dx x
a) b) dx
x2 − x x2 − 5x + 6
Z 2
x − 3x + 1
Z
1
c) dx d) dx
x3 − x x3 − x2
Z Z
1 1
e) 3
dx f) dx
x (x − 1) x2 (x − 1)2
Z Z
1 4x
g) dx h) dx
x(x − 1)2 (x − 2)2 (x + 1)(x2 + 1)
Z Z
4x 2x + 3
i) dx j) dx
(x + 1)2 (x2 + 1) x4 + x2
Z Z
x x
k) dx l) dx
(x + 1)(x2 + 4) (x + 1)(x2 − 4x + 5)
x3
Z Z
1
m) dx n) dx
(x + 1)(x2 − 4x + 5)
2 (x − 1)(x + 3)
x4 + 1 x4 + 1
Z Z
o) dx p) dx
x(x2 + 1) x4 + x2

Z
Ax + B
2. O objetivo deste exercício é integrarmos funções da forma dx
(x2 + bx + c)m
para m ≥ 2 em que ∆ = b2 − 4c < 0.

a) Fazendo
Z uma substituição linear,
Z conforme feito no exemplo 3.3.8, transforme a
Ax + B Eu + F
integral 2 m
dx em du, com E, F ∈ R.
(x + ax + b) (u2 + 1)m
Z
x
b) Integre, com uma substituição simples, a função dx.
(x2 + 1)m

1 (1 + x2 ) − x2 1 x2
c) Considere = = − .
(x2 + 1)m (x2 + 1)m (x2 + 1)m−1 (x2 + 1)m

x2 dx
Z
x
Integre por partes, considerando f (x) = x e g 0 (x) = 2 .
(x2+ 1)m (x + 1)m
Z
dx
Se Im = , conclua a fórmula de recorrência
(x2 + 1)m
x 2m − 3
Im = + · Im−1 .
2(m − 1)(x2 + 1)m−1 2m − 2

3. Integre as funções abaixo.


Z Z
x+1 1
a) dx b) dx
(x2 + 1)3 (x − 1)(x2 − 2x + 5)2
Renan Lima 95

Respostas

Exercício 1

a) ln |x − 1| − ln |x| + C

b) 3 ln |x − 3| − 2 ln |x − 2| + C
5 ln |x + 1| ln |x − 1|
c) − − ln |x| + C
2 2
1
d) ln |x − 1| − ln |x| + +C
x
1 1
e) ln |x − 1| − ln |x| + + 2 +C
x 2x
1 1
f) 2 ln |x| − 2 ln |x − 1| − − +C
x x−1
ln |x| 5 ln |x − 2| 1 1
g) + ln |x − 1| − − − +C
4 4 x − 1 2(x − 2)

h) −2 ln(x + 1) + ln(x2 + 1) + 2 arctg x + C


2
i) + 2 arctg(x) + C
x+1
3
j) − ln(x2 + 1) + 2 ln |x| − − 3 arctg(x) + C
x
ln(x2 + 4) ln |x + 1| 2 x
k) − + arctg +C
10 5 5 2
1
ln(x2 − 4x + 5) − 2 ln |x + 1| + 14 arctg(x − 2) + C

l)
20
ln(x2 + 1) − ln(x2 − 4x + 5) arctg x + arctg(x − 2)
m) + +C
16 8
x2 − 4x ln |x − 1| + 27 ln |x + 3|
n) + +C
2 4
x2
o) − ln(x2 + 1) + ln |x| + C
2
1
p) x − − 2 arctg(x) + C
x

Exercício 3
3x3 + 5x − 2 3 arctg x
a) + +C
8(x2 + 1)2 8
1 ln |x − 1| ln(x2 − 2x + 5)
b) + − +C
8(x2 − 2x + 5) 16 32
96 Matemática Universitária

3.4 Substituições Especiais e as Funções Hiperbólicas

Para encontrarmos a área do círculoZde raio R, utilizando integrais, essencialmente,


p
devemos resolver a integral da forma R2 − x2 dx. É uma integral razoavelmente
mais complicada e, para resolvermos, é importante utilizarmos a substituição x = R sen θ
e, portanto, dx = R cos θ dθ e vemos a mágica
p p p
R2 − x2 = R2 − R2 sen2 θ = R 1 − sen2 θ = R| cos θ|.
π π
Além disso, se θ varia de − até , então x varia de −R até R, que é o domínio da
√ 2 2
função R2 − x2 . Como cos θ ≥ 0 e, portanto, | cos θ| = cos θ. Em resumo, temos que
Z p Z Z
R2 − x2 dx = R cos θ · (R cos θ) dθ = R2 cos2 θ dθ.

Temos uma pequena Z sutileza no processo acima, por exemplo, se, por algum motivo,
p
desejamos calcular x R2 − x2 dx, faríamos a substituição u = R2 − x2 e, portanto,
Z p Z √
2 2
u
du = −2x dx. Daí, x R − x dx = − du.
2
Note a diferença da substituição u = R2 − x2 (u = u(x)) e x = R sen θ (x = x(θ)). Em
geral, é possível fazer uma substituição da forma x = g(t), desde que g seja uma função
bijetiva e faremos a substituição inversa
Z Z
f (x) dx = f (g(t))g 0 (t) dt.

Nesta seção, trataremos de três substituições especiais: a substituição trigonométrica, a


substituição universal e a substituição hiperbólica. Para a substituição trigonométrica,
devemos escolher uma das três substituições: x = sen θ, x = tg θ e x = sec θ. A es-
colha depende da expressão do integrando e exige um tempo de atenção do estudante.
Sugerimos que assista à videoaula Introdução à Substituição Trigonométrica.

Expressão Identidade trigonométrica Substituição


π π
R 2 − x2 cos2 θ = 1 − sen2 θ x = R sen θ, −
≤x≤
2 2
π π
R 2 + x2 sec2 θ = 1 + tg2 θ x = R tg θ, − < x <
2 2
π 3π
x2 − R 2 tg2 θ = sec2 θ − 1 x = R sec θ, 0 ≤ θ < ou π ≤ θ <
2 2
Z
1
Exemplo 3.4.1: Vamos calcular a primitiva imediata dx utilizando a substi-
1 + x2
tuição trigonométrica. Para tanto, considere x = tg θ e dx = sec2 θ dθ. Daí,

sec2 θ dθ sec2 θ dθ
Z Z Z Z
dx
= = = dθ = θ + C.
1 + x2 1 + tg2 θ sec2 θ
Como x = tg θ, temos que θ = arctg x e, portanto,
Z
dx
= arctg x + C.
1 + x2
Renan Lima 97

A escolha dos intervalos de θ em cada


p uma das substituições
√ acima, é para sumir o
módulo na 2 2
 raiz
π π
quadrada. Por exemplo, 1 + tg θ = sec θ = sec θ, pois sec θ > 0 para
todo θ ∈ − , . Vamos ao exemplo do início da seção.
2 2
Z p
Exemplo 3.4.2: Para calcular R2 − x2 dx, façamos a substituição x = R sen θ e,
portanto, dx = R cos θ dθ e daí,
Z p Z Z  
2 2 2 2 2 cos 2θ + 1
R − x dx = R cos θ dθ = R dθ
2
   
2 sen 2θ θ 2 sen(2 arcsen x) arcsen x
=R + +C =R + + C.
4 2 4 2

É possível melhorar (e muito!) a expressão √ sen(2 arcsen√x) = sen 2θ. Para isso, observe
que sen 2θ = 2 sen θ cos θ e que cos θ = 1 − sen 2θ = 1 − x2 , pois cos θ ≥ 0. Logo,

sen 2θ = 2x 1 − x2 e, portanto,

2 x 1 − x2 + arcsen x

R
Z p
2 2
R − x dx = + C.
2

Para encontrarmos a inversa, utilizamos o artifício de desenhar um triângulo auxi-


liar. Por exemplo, se x = tg θ, então olhando o triângulo auxiliar do meio da figura 3.4,
1
então cos θ = √ . Para ajudar na logica da construção de cada um dos triângulos,
1 + x2
sugerimos a videoaula Substituição Trigonométrica - O Triângulo Auxiliar.

√ √
x R x R 2 + x2 x2 − R 2 x

θ θ θ

R 2 − x2 R R
(a) x = R sen θ. (b) x = R tg θ. (c) x = R sec θ.

Figura 3.4: O triângulo auxiliar para cada uma das substituições.

Z
1
Exemplo 3.4.3: Vamos calcular √
dx. Para tanto, faremos a substituição
x2
4 + x2
trigonométrica x = 2 tg θ e, portanto, dx = 2 sec2 θ dθ. Daí,
Z Z
1 1
√ dx = p · (2 sec2 θ) dθ
2
x 4+x 2 2
4 tg θ 4 + 4 tg θ 2

sec2 θ
Z Z Z
sec θ cos θ
= 2 dθ = 2 dθ = dθ.
4 tg θ sec θ 4 tg θ 4 sen2 θ

Fazendo a substituição u = sen θ, temos que


Z
cos θ du 1 1
2
dθ = 2 = − +C =− + C.
4 sen θ 4u 4u 4 sen θ
98 Matemática Universitária

Utilizando o triângulo auxiliar, temos que


x
sen θ = √ e, portanto,
4 + x2 √
x 4 + x2

4 + x2
Z
dx
√ =− + C.
x2 4 + x2 4x θ

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exemplos com Substituição Trigonomé-


tricas não tão Diretas. Algumas vezes é necessário completar quadrado e sugerimos a
nossa videoaula Substituição Trigonométrica - Completamento de Quadrados. Façamos
um exemplo para entendermos o procedimento.
Z p
Exemplo 3.4.4: Vamos calcular x2 − 6x + 8 dx. O vértice da parábola se encontra
no ponto (3, −1) e, portanto, considere a substituição u = x − 3 e du = dx e, portanto,
Z p Z p
2
x − 6x + 8 dx = u2 − 1 du.

Fazendo a substituição u = sec θ, temos que du = sec θ tg θ dθ e, daí,


Z p Z Z
u − 1 du = tg θ · tg θ sec θ dθ = tg2 θ sec θ dθ
2

Z
Utilizando a igualdade tg2 θ = sec2 θ − 1 e a fórmula encontrada para sec3 x dx no
exemplo 2.6.7, temos que
Z Z Z Z
2 3 3
sec θ tg θ dθ = (sec θ − sec θ) dθ = sec θ dθ − sec θ dθ

sec θ · tg θ 1
Z Z
= + sec θ dθ − sec θ dθ
2 2

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
= − + C.
2 2
Passando para a variável u e utilizando o triângulo auxiliar, temos que

sec θ · tg θ ln | sec θ + tg θ|
Z p
u2 − 1 du = − +C
2 2

u2 − 1 u
√ √
u u2 − 1 ln |u + u2 − 1|
= − + C. θ
2 2
1
Lembrando que u = x − 3, temos, finalmente que
√ √
− 2 − 6x + 8 ln x − 3 + x2 − 6x + 8
Z p
(x 3) x
x2 − 6x + 8 dx = − + C.
2 2

Em geral, a substituição trigonométrica transforma frações de polinômios em inte-


grais trigonométricas. O interessante que também é possível transformar integrais tri-
gonométricas por frações de polinômios. Por exemplo, supomos que desejamos integrar
Renan Lima 99

Z
sen x
dx. Um método, bastante engenhoso, descoberto por Weierstrass é
3 cos x + 4 sen x x
fazer a substituição u = tg .
2
A ideia é notar que
x x x   x 
cos x = cos2 − sen2 = cos2 1 − tg2
2  2 x 2 2
2 x 2
1 − tg 1 − tg 2
= x 2 = 2 = 1 − u .
x
sec2 1 + tg2 1 + u2
2 2
Analogamente, temos que
x
x x x x 2 tg 2u
sen x = 2 sen cos = 2 tg cos2 =  2x  = .
2 2 2 2 sec2 1 + u2
2
Além disso, note que
x
sec2 1 + u2 2 du
du = 2 dx = dx ⇒ dx = .
2 2 1 + u2
x
A substituição u = tg é também conhecida como substituição universal.
2
Z
2
Exemplo 3.4.5: Vamos calcular dx. Para isso, usaremos a substi-
x 2 − cos x + 2 sen x
tuição u = tg . Temos que
2
Z Z
1 1 2du
dx = · 2
2 − cos x + 2 sen x 1 − u2 2u u +1
2− 2 +2· 2
u +1 u +1
Z Z
2 du 2 du
= =
2u2 + 2 − 1 + u2 + 4u 3u2 + 4u + 1
Z
2 du
=
(3u + 1)(u + 1)
Z  
3 1
= − du (por frações parciais)
3u + 1 u + 1
= ln |3u + 1| − ln |u + 1| + C
x x
= ln 3 tg + 1 − ln tg + 1 + C.
2 2

A última substituição especial que pretendemos falar nesta seção é a que chamamos
substituição hiperbólica. A ideia desta substituição é transformar frações de polinômios
em funções exponenciais e, de certa forma, imita bastante as integrações de funções tri-
gonométricas.
Sugerimos a videoaula Funções Hiperbólicas - Por que o Nome Hiperbólicas? para o
leitor interessado na nomenclatura de funções hiperbólicas.
100 Matemática Universitária

Definição 3.4.6: Funções Hiperbólicas

As funções seno hiperbólico, cosseno hiperbólico, tangente hiperbólico e secante hi-


perbólico são definidas por

ex − e−x senh x ex − e−x


senh x = , tanh x = = x ,
2 cosh x e + e−x
ex + e−x 1 2
cosh x = , sech x = = x .
2 cosh x 2 + e−x

y y y

x x x

−1

(a) Gráfico de senh x. (b) Gráfico de cosh x. (c) Gráfico de tanh x.

Figura 3.5: Gráficos de algumas funções hiperbólicas.

As fórmulas algébricas das funções hiperbólicas são bem parecidas com as fórmulas
das funções trigonométricas. Vamos citar algumas delas.

Teorema 3.4.7: Algumas Identidades de Funções Hiperbólicas

Vale as seguintes identidades.


• cosh x + senh x = ex ,
• (cosh x)0 = senh x,
• cosh x − senh x = e−x ,
• (tanh x)0 = sech2 x,
2 2
• cosh x − senh x = 1,
• senh(x + y) = senh x · cosh y + senh y · cosh x,
• sech2 x = 1 − tanh2 x,
• cosh(x + y) = cosh x · cosh y + senh x · senh y.
• (senh x)0 = cosh x,

Demonstração:
É deixada como exercício para o leitor.
Z
Exemplo 3.4.8: Vamos calcular tanh x dx. A resolução é bem parecida com a de
Z
tan x dx do exemplo 2.4.11. Basta fazer u = cosh x e, portanto, du = senh x dx, daí,
Z Z Z
senh x du
tanh x dx = dx = = ln |u| + C
cosh x u
= ln | cosh x| + C = ln(cosh x) + C. (pois cosh x ≥ 0, ∀x ∈ R.)
Renan Lima 101

Como a função cosh : [0, +∞) → [1, +∞) é bijetora, então possui inversa, que deno-
tamos por arccosh x. Vamos organizar tudo em uma definição.

Definição 3.4.9: Funções Hiperbólicas Inversas

• Definimos arcsenh : R → R como a inversa de senh x.

• Definimos arccosh : [1, +∞) → [0, +∞) como a inversa de cosh x.

• Definimos arctanh : (−1, 1) → R como a inversa de tanh x.

Temos expressões bem fechadas e interessantes das funções arco hiperbólicas.

Teorema 3.4.10: Fórmulas das Funções Hiperbólicas Inversas

Vale as seguintes relações para todo x no respectivo domínio da função


p
arcsenh x = ln(x + x2 + 1),
p
arccosh x = ln(x + x2 − 1),
 
1 1+x
arctanh x = · ln .
2 1−x

Demonstração:
Vamos provar apenas a fórmula do arcsenh x e deixamos o restante como exercício.
ey − e−y
Seja y = arcsenh x, então x = senh y = . Daí,
2
ey − 2x − e−y = 0.

Multiplicando a expressão por ey , temos que

e2y − 2xey − 1 = 0.

Façamos u = ey , temos, portanto, a equação quadrática

u2 − 2xu − 1 = 0.

Daí, pela fórmula quadrá tica, temos



y 2x ± 4x2 + 4 p
e =u= = x ± x2 + 1.
2

Como x − x2 + 1 < 0 e ey > 0, concluímos que
p
ey = x + x2 + 1.

Aplicando o logaritmo natural na equação acima, temos


p
y = ln ey = ln x + x2 + 1 .

102 Matemática Universitária

Todas as integrais resolvíveis por substituição trigonométrica pode ser resolvido por
substituição por funções hiperbólicas.
Z
dx
Exemplo 3.4.11: A integral √ pode ser resolvida via substituição x = tg θ,
1 + x2

dx = sec2 θ dθ e também, sec θ = 1 + x2 . Daí,

sec2 θ dθ
Z Z Z
1
√ dx = = sec θ dθ
1 + x2 sec θ
p 
= ln | sec θ + tan θ| + C = ln x + 1 + x2 + C.

Outra forma
p é utilizando x = senh u e, portanto, dx = cosh u du e, lembrando que
cosh u = 1 + senh2 u, temos
Z Z
1 cosh u du p 
√ dx = = u + C = arcsenh x + C = ln x + 1 + x2 + C.
1 + x2 cosh u
Z p
Exemplo 3.4.12: Considere a integral x2 − 1 dx com restrição para x ≥ 1.

Com a substituição trigonométrica, vimos a sua resolução no exemplo 3.4.4, após mu-
dar para a variável u. Temos que
Z p p 1 p
x2 − 1 dx = x x2 − 1 − ln |x + x2 − 1| + C
2
p 1 p 
= x x2 − 1 − ln x + x2 − 1 + C. (pois x ≥ 1)
2

√ das funções hiperbólicas, façamos x = cosh u, u ≥ 0, então


Utilizando as identidades
dx = senh u du e, como x2 − 1 = senh u, temos
2
e − e−u
Z p Z Z  u
x2 − 1 dx = senh2 u du = du
2
Z
1 1
= (e2u − 2 + e−2u ) du = (e2u − 4u − e−2u ) + C.
4 8

Como cosh u + senh u = eu e cosh u − senh u = e−u , temos que

1 2u 1
(e − 4u − e−2u ) = senh u + cosh u)2 − 4u − (cosh u − senh u)2

8 8
1  senh u cosh u u
= 4 senh u cosh u − 4u = − .
8 2 2
Concluímos que

x x2 − 1 1
Z p
2
x −1= − arccosh x + C
2 2

2
x x −1 1 p
= − ln(x + x2 − 1) + C.
2 2
Renan Lima 103

Exercícios
1. Calcule as integrais abaixo.
x2 dx x2 dx
Z Z Z
dx
a) √ b) c)
1 − x2 (1 + x2 )3/2 (x2 + 4)2
Z Z Z
dx dx dx
d) e) √ f) √
(x2 − 1)3/2 x2 − 9 9x2 + 4
Z Z Z p
x dx dx
g) √ h) i) x2 − 4x + 8 dx
2
x − 2x + 5 x(x2 + 4)
Z Z Z
dx 5 dx
j) k) l) sec x dx
3 − cos x 3 sen x + 4 cos x

2. Faça a substituição x = y n para n adequado.


Z Z Z √
dx dx x
a) √3
b) √4
√ c) √ dx
1+ x x+ x 1+ 3x

Respostas

Exercício 1

arcsen x − x 1 − x2 p x
a) +C b) ln(x + x2 + 1) − +C
2 x2 +1
  x 
1 2x x
c) + arctg +C d) − √ +C
16 x2 + 4 2 x2
−1
 
p 1 3x
e) ln |x + x2 − 9| + C f) arcsenh +C
3 2
ln |x| ln(x2 + 4)
 
p
2
x−1
g) x − 2x + 5 + arcsenh +C h) − +C
2 4 8
√ √ √
(2 − x) x2 − 4x + 8
 
x−2 2  x 
i) + 2 arcsenh +C j) · arctg 2 tg +C
2 2 2 2
x
x x tg +1
k) ln 1 + 2 tg − ln tg −2 +C l) ln 2
x +C
2 2 tg −1
2
Exercício 2

3x2/3 √ √
a) − 3 3 x + 3 ln | 3 x + 1| + C
2
√ √ √
b) 2 x − 4 4 x + 4 ln( 4 x + 1) + C
√ √6
6x 6 x 6 x5 √ √ √
c) − + 2 x − 6 6 x + 6 arctg( 6 x) + C
7 5
104 Matemática Universitária

3.5 O Teorema de Liouville para Funções Elementares

Com as técnicas de integração desenvolvidas nas seções anteriores, o leitor deve ter
reparado alguns pequenos padrões na resposta final, tais como, se integrarmos uma fun-
ção do tipo P (x)ex , com P polinômio, então espera-se que a resposta final deve ser da
forma Q(x).ex + C, em que Q(x) é outro polinômio. Da mesma forma, se integrarmos
a função exponencial funções que aparecem senos e cossenos, espera-se que a integral
também tenha senos e cossenos na sua expressão. Vimos no exemplo 2.5.8 que
−e2x cos x + 2e2x sen x
Z
e2x sen x dx = + C.
5
Vamos fazer mais um exemplo e de certa forma verificar que temos algum padrão na
fórmula de integral.
Z
Exemplo 3.5.1: Vamos calcular x sen(ln x) dx. Considere a substituição u = ln x,
1
então du = dx e, portanto, dx = x du = eu du. Daí,
x
Z Z Z
x sen(ln x) dx = e (sen u) e du = e2u sen u du
u u

−e2u cos u + 2e2u sen u


= +C
5
−x2 cos(ln x) + 2x2 sen(ln x)
= + C.
5

Note que a fórmula final aparece as expressões trigonométricas, com o mesmo argumento
ln x, e multiplicado por polinômios. Note ainda que a resolução da integral acima não é
óbvia, em que utilizamos uma substituição mágica. Avisamos que é possível resolver o
exemplo acima utilizando apenas integral por partes.
Antes de continuar a leitura, propomos que o leitor tente resolver dois exercícios de
integração, a saber.
Z  
x−1 x
Z
−x2
1. e dx, 2. e dx.
x2

O primeiro exemplo é uma pequena adaptação da Integral Gaussiana, que também


é conhecida como a Integral de Euler-Poisson. Esta integral aparece com frequência
na área de estatística e probabilidade e, portanto, é bastante aplicada na Mecânica
Quântica e Mecânica Estatística.
O segundo exemplo é artificial e está sendo usado apenas para fins didáticos.

Recomendamos a nossa videoaula Funções que não possuem Primitivas Elementa-


res. Neste vídeo, há uma pequena imprecisão para os objetivos desta seção, pois funções
definidas por partes não será considerado uma função elementar.
Uma função é dita racional se ela pode ser escrita como fração de polinômios. Uma
função é dita possuir expressão algébrica se ela pode ser obtida via operações de soma, sub-
tração, multiplicação, divisão, composição e raízes enésimas de polinômios. Por exem-
plo, todas as funções abaixo possuem expressões algébricas.

p x2 + 3x − 2 2
p
3 x+1
2
f (x) = x + 1, f (x) = , f (x) = x − 3 + x − 13 , √
f (x) = 3 .
x4 + 2 x3 + 2
Renan Lima 105

Sabemos que se f (x) admite expressão algébrica, então a sua derivada f 0 (x) possui
expressão algébrica, mas não vale a recíproca. Por exemplo,
ln(x2 + 1)
Z
x
dx = + C.
x2 + 1 2

Uma função é dita ter expressão elementar se ela pode ser obtida via adição, multi-
plicação, divisão e composição de funções algébricas, trigonométricas e suas inversas,
exponenciais e logarítmicas. São exemplos de funções com expressão elementar

ln x 4
x cos xesen x
f (x) = arctg(ln x), f (x) = , f (x) = √ .
sen2 (ex ) 3
x2 + 1
O enunciado geral do teorema de Liouville está fora do escopo do livro e iremos enunciar
um pequeno subcaso. Como a demonstração é muito técnica e utiliza estruturas algébri-
cas tais como extensão de corpos, a demonstração será totalmente omitida neste livro.

Teorema 3.5.3: Teorema de Liouville

Seja f (x) = P (x)eQ(x) , em que P e Q são funções racionais. Se f (x) é uma função que
possui primitiva elementar, então
Z
P (x)eQ(x) dx = R(x)eQ(x) + C,

em que R(x) é uma função racional.

Para aplicar o teorema 3.5.3, precisaremos, extensivamente, do algoritmo de divisão


de polinômios. Faremos uma breve revisão de polinômios e recomendamos assistir à
nossa videoaula [Revisão] - Divisão de dois Polinômios.
Um polinômio P (x) de grau n é dada pela expressão
P (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , em que an 6= 0.
Dizemos que P (x) é um polinômio mônico se an = 1.

Teorema de D’Alembert

Se P (x) um polinômio de grau n e α é raiz do de P (x), isto é, P (α) = 0, então existe


um polinômio Q(x) de grau n − 1 tal que P (x) = (x − α) · Q(x).

O teorema de D’Alembert é um teorema de álgebra/algoritmo de computação, então


é válido para α ∈ C, mas exige que Q(x) possua coeficientes complexos. Se P (x) é
polinômio com coeficientes reais e α ∈ C − R é raiz de P (x), então α é raiz de P (x).
Aplicando duas vezes o teorema de D’Alembert, então P (x) = (x − α)(x − α)Q(x).
Escreva α = a + bi com a, b ∈ R, temos que α = a − bi, e, portanto,
P (x) = (x − α)(x − α)Q(x) = x2 − 2ax + (a2 + b2 ) Q(x).


Mais ainda, pelo algoritmo de divisão, temos que Q(x) tem coeficientes reais.
Seja α ∈ C raiz de P (x). Dizemos que α é raiz de multiplicidade r se existe um
polinômio Q(x), com Q(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r Q(x). O teorema fundamental da
álgebra diz que se P (x) tem grau n, então P (x) admite exatamente n raízes complexas,
contada com multiplicidade. Vamos precisar de alguns resultados básicos.
106 Matemática Universitária

Teorema 3.5.5: Consequências da Divisão de Polinômios

Sejam P (x) e Q(x) polinômios com coeficientes reais e α ∈ C uma raiz de multiplici-
dade r do polinômio P (x), então

  
1. grau P (x) · Q(x) = grau P (x) + grau Q(x) .

2. α é raiz de multiplicidade de r − 1 do polinômio P 0 (x).

3. Existem R(x) e S(x) polinômios com coeficientes reais, sem raízes em comum,
P (x) R(x)
com S(x) mônico, tais que = .
Q(x) S(x)

Demonstração:
1. Escreva P (x) = an xn +an−1 xn−1 +. . .+a1 x+a0 e Q(x) = bm xm +bm−1 xm−1 +· · ·+b0
com an , bm 6= 0. Multiplicando os dois polinômios, temos que

P (x) · Q(x) = an bm xn+m + termos de grau ≤ n + m − 1.


  
Como an bm 6= 0, temos que grau P (x) · Q(x) = n + m = grau P (x) + grau Q(x) .

2. Seja α raiz de multiplicidade r de P (x). Então, por definição, existe R(x) polinômio
com R(α) 6= 0 tal que P (x) = (x − α)r R(x). Derivando, utilizando a regra do
produto, temos

P 0 (x) = r(x − α)r−1 R(x) + (x − α)r R0 (x)


= (x − α)r−1 rR(x) + (x − α)R0 (x)


= (x − α)r−1 S(x),

onde S(x) = rR(x) + (x − α)R0 (x). Note que S(α) = rR(α) 6= 0 e isso mostra que
P 0 (x) possui α com raiz de multiplicidade r − 1.

3. Suponha que P (x) e Q(x) possui uma raiz em comum α. Se α é real, podemos
P (x) P1 (x)
escrever P (x) = (x − α)P1 (x) e Q(x) = (x − α)Q1 (x). Logo = . Se α for
Q(x) Q1 (x)
complexa não real, então P (x) = (x − α)(x − α)P1 (x) e Q(x) = (x − α)(x − α)Q1 (x)
P (x) P1 (x)
e temos que = . Em ambos os casos, construímos polinômios P1 e Q1
Q(x) Q1 (x)
P (x) P1 (x)
com coeficientes reais e com grau menor que P e Q tais que = .
Q(x) Q1 (x)
Se P1 (x) e Q1 (x) não possui raiz em comum, então finalizamos o algoritmo. Caso
contrário, repetimos o argumento do parágrafo anterior. e encontramos polinômios
P2 (x) e Q2 (x) de graus menores que P1 e Q1 , respectivamente, e com coeficientes
P1 (x) P2 (x)
reais tais que = Como o número de raízes em comum do polinômio
Q1 (x) Q2 (x)
é finita, em algum momento o algoritmo termina e encontramos polinômios R1 (x)
P (x) R1 (x)
e S1 (x) tais que = .
Q(x) S1 (x)
Escolha um número real k tal que S(x) = kS1 (x) seja um polinômio mônico e con-
P (x) R(x)
sidere R(x) = kR1 (x). Temos, portanto, = .
Q(x) S(x)
Renan Lima 107

O objetivo do próximo exemplo é para que o leitor verifique que a solução da inte-
gral se torna praticamente um algoritmo. Fazer as devidas comparações com grau de
polinômio costuma ser uma tarefa tediosa e é fácil errar alguma conta.
Z  
x−1 x
Exemplo 3.5.6: Vamos calcular e dx. Pelo teorema de Liouville, caso a
x2
integral possui primitiva elementar, então, pelo teorema 3.5.5, existem P (x) e Q(x)
polinômios sem raízes m comum, com Q(x) mônico, tais que
0
P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) x P (x) x
  
x−1 x P (x) x
e = e = ·e + ·e
x2 Q(x) (Q(x))2 Q(x)

P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x) x


= ·e .
(Q(x))2

Logo, temos que

(x − 1)Q2 (x) = x2 (P 0 (x)Q(x) − P (x)Q0 (x) + P (x)Q(x)).

Passando as expressões com Q(x) para o lado esquerdo da equação acima, temos

Q(x) (x − 1)Q(x) − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −x2 P (x)Q0 (x).



(3.1)

Supomos que Q(x) admita uma raiz α ∈ C tal que α 6= 0 e seja r sua multiplicidade.
Então α é raiz com multiplicidade pelo menos r polinômio do lado esquerdo da equa-
ção 3.1 e, pelo item 2 do teorema 3.5.5 e, pelo fato de P (α) 6= 0, temos que α é de
multiplicidade r − 1 de −x2 P (x)Q0 (x), que é o lado direito da equação 3.1. Absurdo!
Isto mostra que α = 0 é o único candidato a raiz de Q(x). Pelo fato de Q(x) ser mônico,
temos que Q(x) = xn para algum n ≥ 0. Substituindo na equação 3.1, temos

xn (x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −nxn+1 P (x).




Portanto,
(x − 1)xn − x2 P 0 (x) − x2 P (x) = −xP (x). (3.2)

Como P (0) 6= 0, α = 0 é raiz de −xP (x) com multiplicidade 1. Olhando a parte


esquerda da equação 3.2, concluímos imediatamente que n = 1.
Finalmente, dividindo a equação 3.1 por x, temos

x − 1 − xP 0 (x) − xP (x) = −P (x).

Daí,
P (x)(x − 1) = x − 1 − xP 0 (x). (3.3)
Supomos que grau(P (x)) = n ≥ 1, então o lado esquerdo da equação 3.3 tem grau
n + 1 e o lado direito tem grau n. Um absurdo.
Logo P (x) tem grau 0 e, portanto, é constante igual a k. Substituindo P (x) = k na
equação 3.3, temos k(x − 1) = x − 1 e, portanto, k = 1. Provamos que P (x) = 1,
Q(x) = x e, daí,
ex
Z  
x−1 x
e dx = + C.
x2 x

Sugerimos o leitor utilizar softwares para o cálculo da integral acima e, caso o soft-
ware permita, solicite a solução passo a passo.
108 Matemática Universitária

Teorema 3.5.7
Z
Seja p(x) um polinômio de grau ≥ 2, então ep(x) dx não possui expressão elementar.

Demonstração:
Z
Suponha que ep(x) dx possua expressão elementar, então pelo teorema de Liouville,
existem polinômios R(x) e S(x), sem raízes em comum e S(x) mônico tais que
 0
p(x) R(x) p(x)
e = e .
S(x)

Derivando a expressão da direita, temos que

R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) p(x) R(x) 0


ep(x) = e + · p (x)ep(x) .
S 2 (x) S(x)

Eliminando o termo de ep(x) e desenvolvendo as contas, temos

S 2 (x) = R0 (x)S(x) − R(x)S 0 (x) + R(x)S(x)p0 (x).

Reorganizando os termos que aparece S(x) em um lado, temos que

S(x) · R0 (x) + R(x)p0 (x) − S(x) = R(x)S 0 (x).



(3.4)

Supomos que grau(S(x)) > 0, então, pelo teorema fundamental da álgebra, S(x) possui
raiz α ∈ C de multiplicidade r > 0. Por outro lado, α não é raiz R(x) e α é raiz de S 0 (x)
de multiplicidade r − 1. Analisando a equação 3.4, concluímos que α é raiz do polinômio
direito da igualdade com multiplicidade r − 1 e α é raiz com multiplicidade pelo menos
r do lado esquerdo da igualdade.
Isso mostra que grau (S(x)) = 0 e, portanto, S(x) é uma função constante. Como S(x) é
mônico, então S(x) = 1 para todo x. Substituindo na equação 3.4, temos que

R(x)p0 (x) = −1 − R0 (x).

E a igualdade é impossível, pois

grau(R(x)p0 (x)) = grau(R(x)) + grau (p0 (x)) > grau(1 − R0 (x)).

Na última desigualdade, precisamos usar que grau p0 (x) ≥ 1 para evitar o caso de R(x)


ser
Z constante. Temos, portanto, uma constradição. Logo, a única possibilidade é que
ep(x) dx não é uma função com expressão elementar!

Z x
2
Em particular, não existe expressão elementar para a Integral Gaussiana e−t dt.
0

A função Integral Gaussiana está bem definida! Ela é a função área sob a curva da fun-
2
ção f (t) = e−t . O que foi provado é que esta função não possui expressão elementar.
Em outras palavras, é uma nova fórmula!
Renan Lima 109

O teorema de Liouville (caso geral) é importante para a implementação de sistema de


computação simbólica para a resolução de integrais. O resultado mais robusto que temos
hoje é o método de Risch, que é um algoritmo de tomada de decisão se uma determinada
função possui (ou não) primitiva elementar e fornece a resposta final.
A implementação deste método é bastante complicada e é usado em vários aplica-
tivos, tais como Wolfram, Maple, WxMaxima, Sage (com o pacote Numpy). Todos en-
contraram em poucos segundos, a menos de algum pequeno problema na notação, o
ex
resultado .
x
É possível ainda enganar o computador com substituições complicadas. Dependendo
do programa que utilizar, pode não resolver
Z p
(x cos x + sen x) 1 + (x sen x)2 dx,

tal integral é resolvida com a substituição u = x sen x.


Reiteramos que o teorema de Liouville é muito mais geral que contado aqui e é um
resultado que utiliza argumentos
√ algébricos e, portanto, é interessante que trabalhe em
C ao invés de R. Seja i = −1 a unidade imaginária, então para todo x ∈ R, temos as
seguintes fórmulas devido a Euler.

eix − e−ix
eix = sen x + i cos x, sen x = ,
2i
eix + e−ix
 
1 1 + ix
cos x = , arctg x = ln .
2 2i 1 − ix
1 1 1
Note que 2
= + , e, portanto, com esta visão, a fórmula abaixo
1+x 2(1 + ix) 2(1 − ix)
faz um pouco mais de sentido.

ln(1 + x2 )
Z
arctg x dx = x arctg x − + C,
2
Z Z
em que utilizamos a propriedade simbólica if (x) dx = i f (x) dx.
Z
Exemplo 3.5.9: Vamos calcular e2x sen x dx com as fórmulas de Euler. Temos

eix − e−ix
Z Z Z
2x 2x 1
e(2+i)x − e(2−i)x dx

e sen x dx = e · dx =
2i 2i
!
1 e(2+i)x e(2−i)x e2x (2 − i)eix − (2 + i)e−ix
 
= − +C = +C
2i 2+i 2−i 2i 5

e2x  ix
· 2(e − eix ) − i(eix + e−ix ) + C

=
10i
e2x 2e2x sen x − e2x cos x
= · [4i sen x − 2i cos x] + C = + C.
10i 5

Esperamos que o leitor note a similaridade das funções hiperbólicas vista na seção
3.4 e as funções trigonométricas. Finalizamos a seção aproveitando o teorema 3.5.5 e
provamos o teorema das frações parciais.
110 Matemática Universitária

Teorema 3.5.10: Frações Parciais

Sejam P (x) e Q1 (x) polinômios com coeficientes complexos e α ∈ C satisfazendo


Q1 (α) 6= 0. Entõa existem A1 , · · · , Am ∈ C e um polinômio P1 (x) tais que

P (x) A1 Am P1 (x)
m
= + ··· + m
+ . (3.5)
(x − α) Q1 (x) x−α (x − α) Q1 (x)

Caso os coeficientes P e Q tenham coeficientes reais e α ∈ R, então Ai ∈ R e P1 (x)


tem coeficientes reais.

Demonstração:
A demonstração do resultado geral se encontra na videoaula Demonstração das Frações
P (α)
Parciais. Vamos fazer uma demonstração alternativa. Seja Am = e defina
Q1 (α)

F (x) = P (x) − Am · Q1 (x).

Temos que F (α) = 0 e pelo teorema de D’Alembert, existe um polinômio Pm (x) tal que
F (x) = Pm (x).(x − α). Daí,

P (x) = Am · Q1 (x) + F (x) = Am · Q1 (x) + Pm (x)(x − α).

Daí,

P (x) Am Q1 (x) Pm (x)(x − α) Am Pm (x)


= + = + .
(x − α)m Q1 (x) (x − α)m Q1 (x) (x − α)m Q1 (x) (x − α)m (x − α)m−1 Q1 (x)

Note que se P (x), Q1 (x) possuem coeficientes reais e se α ∈ R, então Am ∈ R e Pm (x)


possui coeficientes reais.
Pm (x)
Utilizando o mesmo argumento para a fração , encontramos Am−1 ∈ C
(x − α)m−1 Q1 (x)
e um polinômio Pm−1 (x) tais que

Pm (x) Am−1 Pm−1 (x)


= + .
(x − α)m−1 Q1 (x) (x − α)m−1 (x − α)m−2 Q1 (x)

Daí,
P (x) Am−1 Am Pm−1 (x)
= + + .
(x − α)m Q1 (x) (x − α)m−1 (x − α)m (x − α)m−2 Q1 (x)
Novamente, se tudo estiver no domínio dos reais, então Am−1 ∈ R e Pm−1 (x) possui coe-
ficientes reais. Argumentando, indutivamente, encontramos A1 , · · · , Am e um polinômio
P1 (x) tais que

P (x) A1 Am P1 (x)
= + ··· + + .
(x − α)m Q1 (x) x−α (x − α)m Q1 (x)

Corolário 3.5.11

Na notação do teorema 3.5.10, suponha que grau(P (x)) < m + grau(Q1 (x)), então
grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).
Renan Lima 111

Demonstração:
Se grau(P1 (x)) ≥ grau(Q1 (x)), então multiplicando a equação 3.5 por (x − α)m · Q1 (x),
temos que
P (x) = A1 (x − α)m−1 Q1 (x) + A2 (x − α)m−1 Q1 (x) + . . . + Am .Q1 (x) + (x − α)m P1 (x).

Como grau((x−α)m P1 (x)) ≥ m+grau(Q(x)) e como os outros polinômios que aparecem


no somatório acima tem grau, no máximo, (m − 1) + grau(Q1 (x)), concluimos que

grau(P (x)) ≥ m + grau(Q1 (x)).

Uma contradição. Logo grau(P1 (x)) < grau(Q1 (x)).

Corolário 3.5.12

Na notação do teorema 3.5.10, se P (x) e Q1 (x) são polinômios com coeficientes reais
e suponha que as duas raízes de x2 + ax + b, com a, b ∈ R sejam raízes complexas e
não reais. Então existem A, B ∈ R e polinômio P1 (x) com coeficientes reais tais que
P (x) Ax + B P (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x + ax + b) Q1 (x)

Demonstração:
Escreva x2 + ax + b = (x − α)(x − α), em que α ∈ C − R. Aplicando duas vezes o teorema
3.5.10, existem C, D ∈ C e um polinômio P1 (x) com coeficientes complexos tais que

P (x) C D P1 (x)
= + +
(x2 + ax + b)Q1 (x) (x − α) (x − α) Q1 (x)
C(x − α) + D(x − α) P1 (x)
= 2
+ .
x + ax + b Q1 (x)

Multiplicando a equação acima por (x2 + ax + b)Q1 (x) = (x − α).(x − α)Q1 (x), temos a
seguinte igualdade entre polinômios,
P (x) = C(x − α)Q1 (x) + D(x − α)Q1 (x) + (x2 + ax + b)P1 (x).
P (α) P (α)
Fazendo x = α, temos que C = e, analogamente, D = = C. A última
Q1 (α) Q1 (α)
igualdade decorre do fato de os polinômios P (x) e Q1 (x) possuírem coeficientes reais.
Finalmente, tome A = C +C e B = −C ·α−C ·α. Utilizando as propriedades de números
complexos, temos que A = A e B = B. A última igualdade entre conjugados se deve a
propriedade que z · w = z · w para quaisquer z, w ∈ C. Logo A, B ∈ R e, portanto,

P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + .
(x2 + ax + b)Q1 (x) x + ax + b Q1 (x)

Não é difícil concluir que P1 (x) possui coeficientes reais.

O caso geral, em que o denominador é da forma (x2 + ax + b)m Q1 (x), não é uma
consequência direta do teorema 3.5.10, mas é possível também adaptar a argumentação
da demostração do teorema e provar este caso. Outro jeito é utilizar o resultado da
videoaula Demonstração das Frações Parciais e utilizar a divisão Euclidiana.
112 Matemática Universitária

Exercícios
1. Encontre a primitiva das funções abaixo.
Z −x
e (−2x2 + x + 6)
Z
x + 1 −x
a) e dx b) dx
x2 x3
2
(−8x3 + 10x2 + 5)e−x
Z Z
−x2 3 2
c) e (−2x − 6x + 3) dx d) dx
x2

(x − k)ex
Z
2. Se k 6= 1, mostre que dx não possui primitiva elementar.
x2

Z
3. Se P (x) e Q(x) são polinômios e se P (x)eQ(x) dx possui primitiva, então ela é da
formaZR(x)eQ(x) , em que R(x) é polinômio. Conclua que se grau (Q) ≥ grau (P ),
então P (x)eQ(x) dx não possui primitiva elementar.

ex
Z
4. Se P (x) é um polinômio não constante, mostre que dx não possui primitiva
p(x)
elementar.

Z Z Z
x dx
5. Mostre que as integrais ee dx, e ex ln x dx não possuem primitivas ele-
ln x
mentares.

6. Mostre que existem A1 , B1 , · · · , Am , Bm ∈ R tais que

P (x) A1 x + B1 A2 x + B2 Am x + B m
= 2 + 2 + ... + 2 ,
(x2
+ ax + b) m x + ax + b (x + ax + b) 2 (x + ax + b)m

em que P polinômio com grau P (x) < 2m e a, b, ∈ R.

7. Sejam P (x) e Q(x) polinômios com coeficientes reais, a, b ∈ R tais que α ∈ C − R é


raiz de x2 + ax + b. Se Q(α) 6= 0, mostre que existem A, B ∈ R e polinômio P1 (x)
com coeficientes reais, tais que

P (x) Ax + B P1 (x)
= 2 + 2 .
(x2 m
+ ax + b) Q(x) (x + ax + b) m (x + ax + b)m−1 Q(x)
 
Conclua que se grau P (x) < grau Q(x) + 2m, então
 
grau P (x) < grau Q(x) + (2m − 2).

Respostas
Sugerimos o uso de softwares para a verificação de suas respostas.
Apêndice do Capítulo 3

113
114 Matemática Universitária

3.A Integral - o Método de Darboux

Nesta seção, será exposto, de forma a rigorosa, a definição de integral como o limite
de um somatório. Vimos na seção 2.7 uma definição simplificada de Soma de Riemann
em que subdividimos os intervalos em pedaços iguais. É possível expor totalmente via
soma de Riemann, mas vamos abordar um método mais simplificado, devido a Darboux,
sobre a definição de integral. A motivação do método de Darboux pode ser encontrado
na aula Introdução com Física ao Conceito de Integral.
Apesar disso, é bastante provável que o excesso de notação traga bastante dificulda-
des a alunos em primeiro contato com a versão rigorosa de integral e não há problema
algum em entender apenas as duas primeiras páginas, aceitar os resultados básicos desta
seção (por exemplo, integral da soma é a soma da integral). Pode ser interessante também
estudar a seção seguinte, que acreditamos ser mais amigável.
Para evitarmos algumas tecnicalidades, vamos supor que f : [a, b] → R é contínua,
mas deixamos claro que toda parte básica da definição pode ser obtida supondo que f é
uma função limitada e não necessariamente contínua.

Definição 3.A.1: Partição

Uma partição P em n pedaços no intervalo [a, b] é um conjunto de n + 1 pontos, no


qual um deles é o ponto a e o outro deles é o ponto b.

Escrevemos P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} em que x0 < x1 < . . . < xn e tomamos


∆xi = xi − xi+1 . Note que a partição P define n subintervalos Ri = [xi−1 , xi ] e o com-
primento do intervalo Ri é ∆xi . Dizemos que a partição P de n pedaços é regular se
b−a
∆xi = para todo i = i, . . . , n.
n
Do ponto de vista teórico, apesar da notação ficar bem mais carregada, é interessante
que a partição não seja necessariamente regular. Por exemplo, dados f : [a, b] → R e
c ∈ (a, b), a igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c

fica bem mais simples de demonstrar a ponto de valer a pena este esforço inicial.

Definição 3.A.2: Soma Superior e Soma Inferior

Sejam f : [a, b] → R função contínua e P = {a = x0 , x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b].


Para cada intervalo Ri = [xi−1 , xi ], sejam mi e Mi o menor e o maior valor, respecti-
vamente, de f em Ri . A soma superior S(f, P) e a soma inferior s(f, P) são definidas
por
n
X n
X
S(f, P) = Mi ∆xi , s(f, P) = mi ∆xi ,
i=1 i=1

em que ∆xi = xi − xi−1 .


Renan Lima 115

Note que o teorema de Weierstrass 2.2.7 garante as existências de Mi e mi . Além


disso, como mi ∆xi ≤ Mi ∆xi para todo i, temos que s(f, P) ≤ S(f, P). Precisaremos de
um refinamento desta desigualdade.

Teorema 3.A.3

Na notação desta seção, se P ⊆ Q, então

s(f, P) ≤ s(f, Q) e S(f, P) ≥ S(f, Q).

Em particular, se P ⊆ Q, então S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P).

Demonstração:
Vamos provar que s(f, P) ≤ s(f, Q). A outra desigualdade é análoga. Faremos, inicial-
mente, o caso em que Q contém apenas um ponto a mais e tal ponto esteja entre xk−1 e
xk , isto é,

P = {x0 = a, x1 , · · · , xn },
Q = {x0 = a, x1 , · · · , xk−1 , t, xk , · · · , xn }.

Sejam m0 e m00 o mínimo global de f em [xk−1 , t] e [t, xk ], respectivamente. Como mk é o


mínimo global de [xk−1 , xk ], então, temos que mk ≤ m0 e mk ≤ m00 . Daí,

mk ∆xk = mk (xk − xk−1 ) = mk (xk − t) + mk (t − xk−1 ) ≤ m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 )

Como s(f, Q) − s(f, P) = m0 (xk − t) + m00 (t − xk−1 ) − mk ∆xk ≥ 0, concluímos que


s(f, Q) ≥ s(f, P).
Para o caso geral, supomos que Q − P = {t1 , · · · , tk }, isto é, Q possui k elementos a mais
que P. Defina P1 = P ∪ {t1 }, P2 = P1 ∪ {t2 } e assim sucessivamente, até termos Pk = Q,
logo criamos uma sequência de partições P, P1 , P2 , · · · , Pk = Q em que Pj+1 possui um
ponto a mais de Pj . Pelo que foi provado no item anterior, temos

s(f, P) ≤ s(f, P1 ) ≤ s(f, P2 ) ≤ . . . ≤ s(f, Q).

Para a desigualdade S(f, Q) − s(f, Q) ≤ S(f, P) − s(f, P), basta ver que
    
S(f, P) − s(f, P) − S(f, Q) − s(f, Q) = S(f, P) − S(f, Q) + s(f, Q) − s(f, P) ≤ 0.

A última desigualdade se deve ao fato de os termos dentro dos colchetes serem negativos.

Corolário 3.A.4

Se P e R são duas partições de [a, b], então s(f, P) ≤ S(f, R).

Demonstração:
Seja Q = P ∪ R. Como P ⊆ Q e R ⊆ Q, então, pelo teorema 3.A.3, temos que

s(f, P) ≤ s(f, Q) ≤ S(f, Q) ≤ S(f, R).


116 Matemática Universitária

Teorema 3.A.5

Sejam f : [a, b] → R função e m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b].
Se P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} é uma partição de [a, b], então

m(b − a) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ M (b − a).

Demonstração:
n
X
Escreva s(f, P) = mi ∆xi , onde mi é o menor valor de f em [xi−1 , xi ] e ∆xi = xi −xi−1 .
i=1
Temos, por hipótese que m ≤ mi para todo i e, portanto,
n
X n
X n
X
m(b − a) = m · ∆xi = m∆xi ≤ mi ∆xi = s(f, P).
i=1 i=1 i=1

A demonstração S(f, P) ≤ M (b − a) é análoga e deixamos como exercício.

Considere X = {s(f, P) / P partição de [a, b]}. Pelo teorema 3.A.5, X é um conjunto


limitado superiormente e, portanto, admite o supremo sup X (sugerimos a videoaula
Axioma do Supremo). Analogamente, Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]} é limitado
inferiormente e, portanto, existe inf Y . Sugerimos a videoaula Axioma do Ínfimo.

Ao leitor que entendeu a construção, esperamos que fique claro que toda construção
do método de Darboux pode ser feita supondo que f : [a, b] → R seja apenas uma
Xn n
X
função limitada, com S(f, P) = Mi ∆xi e s(f, P) = mi ∆xi , em que
i=1 i−1

Mi = sup{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]},


mi = inf{f (x), x ∈ [xi−1 , xi ]}.

Definição 3.A.7: Funções integráveis


Z b
Seja f : [a, b] → R função limitada. Definimos a integral superior f (x) dx por
a

Z b
f (x) dx = inf{S(f, P) / P partição de [a, b]}
a

Analogamente, a integral inferior é o supremo da soma inferior, isto é,


Z b
f (x) dx = sup{s(f, P) / P partição de [a, b]}
a

Z b Z b
Dizemos que f é integrável se f (x) dx = f (x) dx. Neste caso, denotamos
a a
Z b Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = f (x) dx.
a a a
Renan Lima 117

Se f é integrável, então para toda partição P de [a, b], temos


Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P),
a
Z b
mais ainda f (x) dx é o único número com tal propriedade.
a
Com a definição de integral superior e integral inferior, as propriedades de integrais
são consequências diretas de estudos iniciais de um curso padrão de análise na reta. Para
alguns exercícios iniciais do Axioma do Supremo, sugerimos a videoaula Exercícios Teó-
ricos do Axioma do Supremo. Uma pequena adaptação destas ideias, temos

Teorema 3.A.8

Sejam X, Y ⊆ R conjuntos limitados não vazios tais que para todo x ∈ X e para todo
y ∈ Y , tem-se x ≤ y, então sup X ≤ inf Y .

Demonstração:
Se provarmos que b = inf Y é uma cota superior do conjunto X, então como sup X é a
menor cota superior, temos que sup X ≤ inf Y .
Supomos que b não é cota superior de X. Então existe x ∈ X tal que b < x. Como
b = inf Y é a maior cota inferior, então x não é conta inferior de Y e, portanto, existe
y ∈ Y tal que y < x. Contrariando a hipótese do conjunto X e Y .

Corolário 3.A.9
Z b Z b
Se f : [a, b] → R função limitada, então f (x) dx ≤ f (x) dx.
a a

Demonstração:
Tome X = {s(f, P) / P partição de [a, b]} e Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]}, temos
que X e Y são não vazios, o corolário 3.A.4 diz que para todo x ∈ X e y ∈ Y , tem-se
x ≤ y e pelo teorema 3.A.8, temos
Z b Z b
f (x) dx = sup X ≤ inf Y = f (x) dx.
a a

Teorema 3.A.10

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios tais que para todo x ∈ X e todo y ∈ Y , tem-se
x ≤ y. São equivalentes

1. sup X = inf Y .

2. Para todo ε > 0, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que y − x < ε.


118 Matemática Universitária

Demonstração:
ε
(1. ⇒ 2.) Supomos que sup X = inf Y = b. Dado ε > 0, então b − não é cota superior
2
ε
de X e, portanto, existe x ∈ X tal que b − < x.
2
ε ε
Analogamente, b + não é cota inferior de X e, portanto, existe y ∈ Y tal que y < b + .
2 2
Logo temos que
ε ε
b− <x≤y <b+ .
2 2
Daí,  ε  ε
y−x< b+ − b+ = ε.
2 2

(2. ⇒ 1.) Pelo teorema 3.A.8, tem-se sup X ≤ inf Y . Supomos que sup X < inf Y e tome
ε = inf Y − sup X > 0. Então dado x ∈ X e y ∈ Y , temos que x ≤ sup X < inf Y ≤ y. Daí,

y − x ≥ inf Y − sup X = ε,

contrariando a hipótese de 2). Isso mostra que sup X = inf Y .

Corolário 3.A.11: Critério de Darboux para Integrabilidade

Seja f : [a, b] → R função limitada, então f é uma função integrável em [a, b] se e


somente para todo ε > 0, existe uma partição P de [a, b] tal que

S(f, P) − s(f, P) < ε.

Demonstração:
Sejam X = {s(f, P) / P partição de [a, b]} e Y = {S(f, P) / P partição de [a, b]}.
Suponha que f é integrável em [a, b]. então sup X = inf Y e como x ≤ y para todo x ∈ X
e y ∈ Y . Dado ε > 0, então pelo teorema 3.A.10, existem partições Q e R de [a, b] tais que
x = s(f, Q) ∈ X e y = s(f, R) ∈ Y satisfazendo que y − x < ε. Tome P = Q ∪ R, então
Q ⊆ P e R ⊆ P. Pelo teorema 3.A.3, temos que

s(f, Q) ≤ s(f, P) ≤ S(f, P) ≤ S(f, R).

Daí,
S(f, P) − s(f, P) ≤ S(f, R) − s(f, Q) < ε.

Supomos que para todo ε > 0, existam x = s(f, P) ∈ X e y = S(f, P ∈)Y tais que
y −x < ε. Então, pelo teorema 3.A.10, temos que sup X = inf Y e, portanto, f é integrável.

Teorema 3.A.12

Se A ⊆ X são conjuntos não vazios e limitados, então inf X ≤ inf A ≤ sup A ≤ sup X.
Além disso, suponha que para todo x ∈ X, exista a ∈ A tal que a ≥ x. Então
sup A = sup X.
Analogamente, se para todo x ∈ x, existe a ∈ A tal que a ≤ x, então inf X = inf Y .
Renan Lima 119

Demonstração:
Para demonstrar que inf X ≤ inf A, basta mostrar que β = inf X é cota inferior de A.
Dado a ∈ A. Como A ⊆ X, temos que a ∈ X. Como β é cota inferior de X, temos que
β ≤ a e isso mostra que β é cota inferior de A.
Analogamente, é possível mostrar que sup X é cota superior de A.
Suponha, além de A ⊆ X, tem-se também que para todo x ∈ X, existe a ∈ A tal que
a < x. Seja β = inf X e dado ε > 0, vamos demonstrar que β + ε não é cota inferior de A.
Como β + ε não é cota inferior de X, existe x ∈ X tal que x < β + ε. Por hipótese, existe
a ∈ A tal que a ≤ x e, portanto, β + ε não é cota inferior de X. Utilizando que β é cota
inferior de A, concluímos, por definição de ínfimo, que β = inf A.

Corolário 3.A.13

Sejam f : [a, b] → R função limitada e c ∈ (a, b). Se X = {s(f, P) /P partição de [a, b]}
e A = {s(f, P) / P partição de [a, b] com c ∈ P}. Então sup A = sup X.
O enunciado é análogo para as somas superiores.

Demonstração:
Claramente temos que A ⊆ X. Além disso, dado x = s(f, P) ∈ X, considere Q = P ∪ {c}
e a = s(f, Q) ∈ A, então, pelo teorema 3.A.3, temos que x < a e, pelo teorema 3.A.12,
concluímos que sup A = sup X.

Teorema 3.A.14

Sejam X, Y ⊆ R limitados e não vazios e defina X + Y = {x + y /x ∈ X e y ∈ Y }.


Então X +Y é limitado e vale sup(X +Y ) = sup X +sup Y e inf(X +Y ) = inf X +inf Y .

Demonstração:
A demonstração pode ser encontrada em Exercício 1 envolvendo o Supremo. Vamos
reproduzi-la aqui.
Seja a = sup X e b = sup Y . Dado z ∈ X + Y , então, pela definção de X + Y , existem
x ∈ X e y ∈ Y tais que z = x + y. Como x ≤ a e y ≤ b, temos que z ≤ a + b e isso mostra
que a + b é cota superior de X + Y . Precisamos provar que a + b é a menor cota superior
ε ε
de X + Y . Dado ε > 0, então a − e b − não são, respectivamente, cotas superios de X
2 2
e Y e, portanto, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que
ε
a− < x ≤ a,
2
ε
b − < y ≤ b.
2
Somando as duas, temos que a + b − ε < x + y e, como x + y ∈ X + Y , temos que a + b − ε
não é cota superior. Isso mostra que a+b é o supremo de X, como queríamos demonstrar.
A demonstração que inf(X + Y ) = inf X + inf Y é deixada como exercício.
120 Matemática Universitária

Corolário 3.A.15

Sejam f : [a, b] → R e c ∈ (a, b). Então f é integrável em [a, b] se e somente se f é


integrável [a, c] e em [c, b]. Mais ainda, vale a seguinte igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Demonstração:
Note que se P1 e P2 são partições de [a, c] e [c, b] respectivamente, então P = P1 ∪ P2 é
partição de [a, b] e vale
s(f, P) = s(f, P1 ) + s(f, P2 )
S(f, P) = S(f, P1 ) + S(f, P2 ).

Sejam X = {s(f, P1 ) / P1 partição de [a, c]}, Y = {s(f, P2 ) / P2 partição de [c, b]}.


Então X + Y = {s(f, P) / P é partição de [a, b] com c ∈ P}. Pelo corolário 3.A.13, temos
Z b
sup(X + Y ) = f (x) dx.
a

Pelo teorema 3.A.14, concluímos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Analogamente, temos que


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Suponha que f é integrável em [a, b]. Então, pelas igualdades acimas, temos
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c a c

Z c Z c Z b Z b
Como f (x) dx ≤ f (x) dx e f (x) dx ≤ f (x) dx, a igualdade acima só é possível
a a c c
se f é integrável em [a, c] e em [c, b], simultaneamente e vale, portanto, a fórmula.
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Reciprocamente, se f é integrável em [a, c] e em [c, b], então


Z b Z c Z b Z c Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx.
a a c a c a

Isto mostra que f é integrável em [a, b].

Por conta deste teorema, é interessante, algebricamente falando, definir


Z a Z b
f (x) dx = − f (x) dx.
b a
Renan Lima 121

Com esta definição, vale a fórmula


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c

mesmo que c > b ou c < a, desde que f é integrável em todos os intervalos considerados.

Teorema 3.A.16

Sejam X ⊆ R conjunto limitado e não vazio, k ∈ R e kX = {kx / x ∈ X}.


• Se k ≥ 0, então inf(kX) = k inf X e sup(kX) = k sup X.

• Se k < 0, então inf kX = k sup X e sup(kX) = k inf X.

Demonstração:
Vamos demonstrar apenas o caso que inf kX = k sup X se k < 0 e deixaremos os outros
como exercício. Seja b = sup X. Vamos mostrar, primeiramente, que kb é cota inferior do
conjunto kX.
Dado y ∈ kX, então existe x ∈ X tal que y = kx. Como b é cota superior de X, tem-se
x ≤ b. Além disso, como k < 0, então y = kx ≥ kb e, portanto, kb é cota inferior de kX.
Dado ε > 0. Vamos mostrar que kb + ε não é cota inferior de kX. Como k < 0, temos
ε ε
que b + < b não é cota superior de X e, portanto, existe x ∈ X tal que b + < x. Daí,
k k
kb + ε > kx e kx ∈ kX.

Corolário 3.A.17

Seja f : [a, b] → R função integrável e k ∈ R, então vale


Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx.
a a

Demonstração:
Faremos apenas o caso k < 0 e deixaremos o caso k ≥ 0 como exercício.
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} partição de [a, b] e mi = inf{f (x) /x ∈ [xi−1 , xi ]}.
Então pelo teorema 3.A.16, temos que kmi = sup{kf (x) / x ∈ [xi−1 , xi ]}. Logo

S(kf, P) = ks(f, P).

Como esta igualdade é válida para qualquer partição P, concluímos, pelo teorema 3.A.16
Z b Z b Z b
kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx.
a a a

Z b Z b Z b
Analogamente, temos kf (x) dx = k f (x) dx = k f (x) dx. Logo
a a a

Z b Z b Z b
kf (x) dx = kf (x) dx = k f (x) dx.
a a a
122 Matemática Universitária

Teorema 3.A.18: Integrabilidade da soma

Sejam f, g : [a, b] → R funções integráveis em [a, b], então f + g é integrável em [a, b]


e vale Z b Z b Z b

f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a

Demonstração:
Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b] e defina

mi = inf{f (x) + g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },


m0i = inf{f (x) / xi−1 ≤ x ≤ xi },
m00i = inf{g(x) / xi−1 ≤ x ≤ xi }.

Defina, da mesma forma, os valores de Mi , Mi0 e Mi00 . É fácil se convencer que

mi ≥ m0i + m00i e Mi ≤ Mi0 + Mi00 .

O motivo de não valer necessariamente a igualdade é porque não temos garantia que o
mínimo da f e da g ocorrem exatamente no mesmo ponto x. Portanto, temos que

s(f, P) + s(g, P) ≤ s(f + g, P),


S(f, P) + S(g, P) ≥ S(f + g, P).

Vamos organizar a escrita para aplicar os resultados anteriores da seção. Defina:

X = {s(f, P) / P partição de [a, b]},


Y = {s(g, P) / P partição de [a, b]},
Z = {s(f + g, P) / P partição de [a, b]}.

Foi provado que para cada a ∈ X + Y , existe um z ∈ Z tal que a ≤ z. É fácil concluir que

sup(X + Y ) ≤ sup Z.

Finalmente, pelo teorema 3.A.14, concluímos


Z b Z b Z b 
f (x) dx + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx.
a a a

Z b 
Z b Z b
Analogamente, prova-se que f (x) + g(x) dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Como f e g são funções integráveis, provamos que
Z b Z b Z b 
Z b 
Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx ≤ f (x) + g(x) dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a a a a

Logo,
Z b 
Z b 
Z b Z b
f (x) + g(x) dx = f (x) + g(x) dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a a
Renan Lima 123

3.B Continuidade Uniforme e Integrabilidade por Riemann

Nesta seção, vamos continuar a discussão de funções integráveis. Mostraremos que


toda função contínua é integrável e, além disso, caso a função possui um número finito
de descontinuidades, então é integrável. Além dela, após isso, definiremos com precisão
a soma de Riemann e a integral via soma de Riemann e provaremos que se a função é con-
tínua, então o método de Darboux e o método de Riemann chegam ao mesmo resultado,
pelo menos para funções contínuas.
Além disso, provaremos o teorema fundamental do cálculo e vários outros resultados
menores, mas interessante, de integração. O resultado chave que será utilizado é conhe-
cido como continuidade uniforme.

Teorema 3.B.1: Continuidade Uniforme

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que para
todo x, y ∈ [a, b], com |x − y| < δ, tem-se |f (x) − f (y)| < ε.

Demonstração:
Dado ε > 0. Para fixar as ideias, façamos a seguinde definição temporária. Dizemos que
f é ε-admissível no intervalo I, se existe δ > 0 tal que para todo x, y ∈ I,

se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < ε.

Considere X = {c ∈ [a, b] / f é ε-admissível em [a, c]}. Claramente X é um conjunto


limitado e a ∈ X. Além disso, note que se c ∈ X e dado c1 com a < c1 < c, então c1 ∈ X.
Em particular, se β = sup X, então β − δ ∈ X para todo δ > 0 com β − δ > a. O objetivo
é demonstrar que β ∈ X e que β = b.
Supomos que β ∈ / X, então, como f é contínua em β, existe δ1 > 0 tal que se |x − β| < δ1 ,
ε
então |f (x) − f (β)| < . Logo, se |x − β| < δ1 e |y − β| < δ1 , então
2
ε ε
|x − y| = |(x − β) − (y − β)| ≤ |x − β| + |y − β| < + = ε.
2 2
Portanto, f é ε-admissível em (β − δ1 , β + δ1 ).
   
δ1 δ1
Como f é ε-admissível em a, β − , existe δ2 > 0 tal que se x, y ∈ a, β − e sa-
2 2 
δ1
tisfazem |x − y| < δ2 , então |f (x) − f (y)| < ε. Finalmente, tome δ = min , δ2 e
2
dados x, y ∈ [a, β + δ1 ) com |x − y| < δ. Para fixar as ideias, supomos que y < x. Vamos
demonstrar que |f (x) − f (y)| < ε. Temos duas possibilidades para y.

• Se y ∈ (β − δ1 , β + δ1 ), como x > y, temos que x ∈ (β − δ1 , β + δ1 ) e, portanto, pelo


que foi provado no início, |y − x| < ε.
 
δ1 δ1
• Supomos que y ∈ a, β − ⊆ X. Se x ∈
/ X, então x ≥ β e, como x − y < δ ≤
2 2
δ1
concluímos que y > β − , o que é absurdo. Logo x ∈ X. Como y ∈ Y e δ ≤ δ2 ,
2
então |f (x) − f (y)| < ε.
124 Matemática Universitária

δ1
Isso mostra que f é ε-admissível em [a, β + δ1 ) e, em particular, β + ∈ X, o que é
2
absurdo, pois β = sup X.
Falta provar que β = b. Supomos que β < b, então repetindo o argumento anterior, existe
δ
δ > 0, tal que β + δ < b e que f é ε-admissível em [a, β + δ). Em particular, β + ∈ X e
2
contradiz que β é uma cota superior de X.

O conceito de continuidade uniforme é um resultado bem técnico e bem sutil de en-


tender. Esperamos que a demonstração do próximo teorema explique a necessidade do
conceito de continuidade uniforme.

Teorema 3.B.2: Toda função contínua é integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua, então f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Dado ε > 0. Construiremos uma partição P tal que, na notação da seção anterior, tem-
se S(f, P) − s(f, P) < ε e a integrabilidade é uma consequência direta do critério de
Darboux para integrabilidade, ver corolário 3.A.11.
Pelo teorema 3.B.1, f é uniformemente contínua em [a, b] e, portanto, existe δ > 0 tal
que para todo x, y ∈ [a, b], tem-se
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
1
Seja n ∈ N tal que < δ e considere P = {x0 = a, x1 , · · · , xn } uma partição regular de
n
n pedaços. Pelo teorema de Weierstrass, temos, para cada i, pontos αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais
que f (αi ) = mi e f (βi ) = Mi , em que mi e Mi é, respectivamente, o mínimo e máximo
1
global de f em [xi−1 , xi ]. Note que como xi −xi−1 = < δ, então |αi −βi | < δ e, portanto,
n
n
X n
X
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
b−a b−a
i=1 i=1

Corolário 3.B.3

Seja f : [a, b] → R função limitada, mas descontínua apenas em b. Então f é integrável


em [a, b]. O mesmo enunciado é válido se f for limitada e descontínua apenas em a.

Demonstração:
Como f é limitada, existem m, M tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b]. Dado
ε > 0, suficientemente pequeno e seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 , xn = b} de [a, b]. A
ε
ideia é escolher xn−1 suficientemente próximo de b de modo que (M − m)∆xn < e
2
utilizamos o fato que f é integrável em [a, xn−1 ], pois f é contínua.
Renan Lima 125

ε
Defina, portanto, c = b− e exija a restrição que ε é pequeno suficiente de modo
2(M − m)
que xn−1 > a. Como f é contínua em [a, c], então pelo teorema 3.B.2, existe uma partição
ε
Q = {x0 = a, x1 , · · · , xn−1 = c} tal que S(f, Q) − s(f, Q) < . Defina P = Q ∪ {b}, então
2
P é partição de [a, b] e vale

S(f, P) − s(f, P) = [S(f, Q) − s(f, Q)] + (Mn − mn )∆xn ,

em que b = xn , Mn e mn é, respectivamente, o supremo e o ínfimo de f em [xn−1 , xn ].


Daí,
ε ε ε
S(f, P) − s(f, P) < + (M − m)(b − c) < + = ε.
2 2 2
Logo, pelo critério de integrabilidade de Darboux, f é integrável em [a, b].

Corolário 3.B.4

Seja f : [a, b] → R função limitada com um número finito de descontinuidades, então


f é integrável em [a, b].

Demonstração:
Sejam ci , com i = 1, · · · , n e ci−1 < ci , os pontos de descontinuidade da f . Pelo corolário
3.B.3, temos que f é integrável em [a, c1 ], [c1 , c2 ], · · · , [cn , b]. Aplicando o corolário 3.A.15
diversas vezes, temos que f é integrável em [a, b].

O resumo da história é que funções descontínuas podem ser integráveis. O próximo


teorema diz que funções definidas por integrais são sempre contínuas. Lembremos que
toda construção de f ser integrável depende de f ser limitada.

Teorema 3.B.5: Continuidade da Função Definida por Integral


Z x
Seja f : [a, b] → R função integrável e defina F (x) = f (t) dt, então F é contínua.
a

Demonstração:

Seja x0 ∈ (a, b). Devemos provar que lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Como f é limitada, existem m, M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b].
Utilizando a observação após o corolário 3.A.15, temos que
Z x Z x0 Z x
F (x) − F (x0 ) = f (x) dx − f (x) dx = f (x) dx.
a a x0

Pelo teorema 3.A.5, temos

m(x − x0 ) ≤ F (x) − F (x0 ) ≤ M (x − x0 ).

Como lim m(x − x0 ) = lim M (x − x0 ) = 0, o teorema do Confronto garante que


x→x0  x→x0
lim F (x) − F (x0 ) = 0.
x→x0

Uma pequena adaptação da demonstração do teorema 3.B.5, provamos o teorema


fundamental do cálculo.
126 Matemática Universitária

Teorema 3.B.6: Teorema Fundamental do Cálculo


Z x
Seja f : [a, b] → R função contínua, então F (x) = f (t) dt é derivável e vale que
a
F 0 (x) = f (x) para todo x.

Demonstração:
Fixemos x ∈ [a, b) e seja h > 0, suficientemente pequeno. Vamos estimar o valor de
F (x + h) − F (x)
. Temos que
h
Z x+h Z x
1 x+h

F (x + h) − F (x)
Z
1
= f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
h h a a h x

Pelo teorema de Weierstrass, f : [x, x + h] → R possui mínimo e máximo global e escre-


vemos f (ch ) = mh e f (Ch ) = Mh , respectivamente, em que ch , Ch ∈ [x, x + h]. Como
mh ≤ f (t) ≤ Mh para todo t ∈ [x, x + h], então pelo teorema 3.A.5,
Z x+h
mh · h ≤ f (t) dt ≤ Mh · h.
x

Daí,
A(x + h) − A(x)
f (ch ) ≤ ≤ f (Ch ).
h
Como f é contínua, temos que lim ch = lim f (Ch ) = f (x) e, pelo teorema do con-
h→0+ h→0+
fronto, concluímos que
x+h
F (x + h) − f (x)
Z
1
lim = lim f (t) dt = f (x).
h→0 + h h→0 + h x

De forma análoga, se x ∈ (a, b], temos que


x
A(x + h) − A(x) −1
Z
lim = lim f (t) dt = f (x).
h→0 − h h→0 − h x+h

Encerraremos a seção falando um pouco da soma de Riemann e um pouco de sua


equivalência com o método de Darboux na definição de integração e, no final, faremos
uma pequena aplicação teórica do método da demonstração da soma de Riemann. Suge-
rimos que o leitor assista novamente à nossa videoaula Soma de Riemann.

Lembremos que uma partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} de [a, b] em n pedaços


não é necessariamente regular, isto é, ∆xi = xi − xi−1 pode depender do i. Neste sentido,
precisaremos medir, de alguma forma, o tamanho dos intervalo para que possamos usar
a expressão a partição P é suficientemente fina.

Definição 3.B.7: Norma de uma Partição

Seja P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição do intervalo [a, b]. A norma da parti-


ção P denotada por P é o maior comprimento dos seus subintervalos ∆xi . Mais
precisamente,
P = max{∆x1 , ∆x2 , · · · , ∆xn }
Renan Lima 127

Em particular, temos que P < δ se e somente se ∆xi < δ para todo i.


Seja f : [a, b] → R integrável e P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} partição de [a, b]. Para
todo ci ∈ [xi−1 , xi ], tem-se
n
X
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P).
i=1

O interessante de trabalhar com a integral de Riemann é a ideia de que se o tamanho dos


intervalos forem suficientemente pequenos, então espera-se que tenhamos uma aproxi-
mação adequada da integral, independentemente da escolha dos pontos de ci .

Teorema 3.B.8: Riemann integrável

Seja f : [a, b] → R função contínua. Então para todo ε > 0, existe um δ > 0 tal que
para toda partição P = {x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] com P| < δ, tem-se
n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε,
i=1 a

independentemente da escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ].

Demonstração:
A demonstração é bem semelhante com a do teorema 3.B.2 que diz que toda função con-
tínua é integrável. Dado ε > 0. Pela continuidade uniforme de f em [a, b], existe δ > 0 tal
que para todo x, y ∈ [a, b], temos
ε
se |x − y| < δ, então |f (x) − f (y)| < .
b−a
Considere P = {x0 , x1 , · · · , xn } partição de [a, b] com ∆xi < δ e seja ci ∈ [xi−1 , xi ]. Pelo
teorema de Weierstrass, temos, para cada i, pontos αi , βi ∈ [xi−1 , xi ] tais que f (αi ) = mi
e f (βi ) = Mi , em que mi e Mi é o mínimo e máximo global, respectivamente, de f em
[xi−1 , xi ]. Como xi − xi−1 < δ, então |αi − βi | < δ e, portanto,
n
X n
X
S(f, P) − s(f, P) = (Mi − mi )∆xi = (f (βi ) − f (αi ))∆xi
i=1 i=1
n n
X ε ε X
< ∆xi = ∆xi = ε.
b−a b−a
i=1 i=1

Como mi ≤ f (ci ) ≤ Mi para todo i, temos que


n
X
s(f, P) ≤ f (ci )∆xi ≤ S(f, P),
i=1
Z b
s(f, P) ≤ f (x) dx ≤ S(f, P).
a

Com a desigualdade acima, temos finalmente que


n
X Z b
f (ci )∆xi − f (x) dx < ε.
i=1 a
128 Matemática Universitária

Na seção 2.7, ao deduzir a fórmula da área lateral de uma superfície de revolução


gerada pelo gráfico da função f de classe C 1 em torno do eixo x e limitada ao intervalo
[a, b] vimos que apareceu uma adaptação da soma de Riemann
n
X p
2π f (di ) 1 + [f 0 (ci )]2 ∆xi ,
i=1

em que ci , di ∈ [xi−1 , xi ] para todo i e fizemos a observação que o somatório acima con-
Z b p
verge, independentemente das escolhas de ci e di , para 2π f (x) 1 + [f 0 (x)]2 dx.
a

Teorema 3.B.9

Seja f, g : [a, b] → R funções contínuas. Então para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que
para toda partição P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} de [a, b] com |P| < δ e para qualquer
conjuntos de pontos ci , di ∈ [xi−1 , xi ], tem-se
n
X Z b
f (ci )g(di )∆xi − f (x)g(x) dx < ε.
i=1 a

Demonstração:
Dado ε > 0. Como f é contínua, então existe M > 0 tal que |f (x)| ≤ M para todo
x ∈ [a, b]. Como g é uniformemente contínua em [a, b], existe δ1 > 0 t al que para todo
x, y ∈ [a, b] satisfazendo
ε
se |x − y| < δ1 , então |g(x) − g(y)| < .
2M (b − a)

Como f · g é contínua, então pelo teorema 3.B.8, existe δ2 > 0 tal que para toda partição
P = {x0 = a, x1 , · · · , xn = b} com |P| < δ2 e para qualquer escolha de ci ∈ [xi−1 , xi ],
n Z b
X ε
tem-se f (ci )g(ci )∆xi − f (x)g(x) dx < . Tome δ = min{δ1 , δ2 }.
a 2
i=1

Seja P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} partição de [a, b] com |P| < δ e sejam ci , di ∈ [xi−1 , xi ]


temos que
n
X n
X n
X
f (ci )g(ci )∆xi − f (ci )g(di )∆xi ≤ f (ci ) · (g(ci ) − g(di )) ∆xi
i=1 i=1 i=1
n
X ε ε
< M. ∆xi = .
2M (b − a) 2
i=1

n
X n
X Z b
Sejam A = f (ci )g(di ) ∆xi , B = f (ci )g(di ) ∆xi e C = f (x)g(x)dx. Temos, pela
i=1 i=1 a
desigualdade triangular,
ε ε
|A − C| = |(A − B) + (B − C)| ≤ |A − B| + |B − C| < + = ε.
2 2
Índice Remissivo

A I
aplicação de integral integral
área, 15 imprópria, 69
área lateal de sólido de revolução, 56 Darboux, 116
centro de massa, 63 indefinida, 13, 33
comprimento de arco, 53 Riemann, 49, 127
massa, 61
movimento retilíneo, 14 M
trabalho, 59 Mercator, 80
volume de sólido de revolução, 51
Arquimedes, 1 N
número de Euler, 82
C
P
centro
partição
de gravidade, 62
definição, 114
de massa, 62
norma, 127
geométrico, 64
primitiva de uma função, 12, 30
centroide, 64
continuidade, 23
S
continuidade uniforme, 123
soma
de Riemann, 49
E inferior, 114
energia superior, 114
cinêtica, 60 somatório, 3
mecânica, 60
potencial, 60 T
Euler, 80 técnica de integração
frações parciais, 89, 110
F partes, 39
fórmula de recorrência substituição, 35
cosseno, 48 substituição hiperbólica, 102
secante, 46 substituição trigonométrica, 96
seno, 44 substituição universal, 99
tangente, 47 teorema
Fermat, 20 1º fundamental do cálculo, 30, 126
função valor intermediário, 24
algébrica, 104 2º fundamental do cálculo, 30
Bessel de ordem 0, 84 valor médio, 26
elementar, 105 Weierstrass, 24
erro, 83 D’Alembert, 105
exponencial, 83 decomposição em frações parciais, 110
gama, 85 Liouville, 105
hiperbólica, 100 Pappus, 66
hiperbólica inversa, 101 transformada de Laplace, 76
logaritmo natural, 81 trompete de Gabriel, 76

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