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Os Aspectos Humanos Da Empresa Huehvx
Os Aspectos Humanos Da Empresa Huehvx
PREFÁCIO
Em 1954, a Alfred P. Sloan Foundation concedeu uma bolsa a Alex Bavelas e a mim com o
propósito de estudarmos essas ideias mais pormenorizadamente. Bavelas interessava-se
acima de tudo por experiências laboratoriais, enquanto que eu me concentrava na indústria.
Mas um e outro tínhamos uma finalidade comum: uma teoria de gestão mais adequada à
realidade.
O nosso estudo ainda não terminou, mas este livro baseia-se nele e constitui em grande
parte o resultado da questão levantada por Sloan e da oportunidade que a Alfred P.
Sloan Foundation nos proporcionou. Parece-me evidente que a preparação dos dirigentes,
na medida em que de preparação se trata, apenas em grau relativamente pequeno é resultado
de esforços positivos das direcções para aperfeiçoar a sua eficiência. Em bem maior
grau, éo resultado da compreensão directiva quanto à natureza da sua tarefa e de todas
as políticas e práticas existentes que servem de base a essa compreensão. A maneira
como uma empresa é orientada determina em grande parte a escolha do «potencial» humano
ao seu serviço e o desenvolvimento das suas possibilidades. Seguimos um caminho errado
ao procurarmos estudar o desenvolvimento da gestão em termos da engrenagem formal de
programas com esse rótulo.
Sem o mais pequeno intuito de menosprezar o valor do trabalho já realizado para aperfeiçoar
a escolha de indivíduos dotados de potencial dirigente, cheguei à conclusão de que a
solução de alguns dos nossos problemas mais prementes ainda não foi encontrada. Mesmo
que dispuséssemos de métodos que nos habilitassem a seleccionar, com absoluta eficiência,
homens novos, aptos a tornar-se dirigentes do mais alto nível, a vantagem prática para
a indústria, nas condições actuais, seria mínima.
Não tenho possibilidade de agradecer pessoalmente todo o auxílio que me foi prestado
na elaboração deste livro. Durante vinte anos foram muitos os colegas de profissão, no
passado e no presente, e muitos os amigos íntimos com cargos directivos que me incitaram,
aconselharam e inspiraram. Não posso atribuir-lhes a responsabilidade do que escrevi
, mas ensinaram-me quase tudo quanto hoje estou convencido que sei a respeito de gestão
de empresas, de sociologia e das relações entre uma e outra.
Esforcei-me por defender o anonimato das empresas onde procurei exemplos que apoiam as
minhas afirmações. Mas desejaria patentear fundo reconhecimento pelo tempo que cerca
de trinta antigos bolseiros Sloan e mais de uma centena de dirigentes das suas empresas
puseram ao dispor de Mr. Alfred e de mim próprio para responder aos nossos inquéritos,
pela franqueza com que o fizeram e pelo interesse com que acompanharam o nosso trabalho.
Estou ainda muito grato a Patrícia Macpherson, minha secretária. Se não fora a paciência
e boa vontade com que escreveu e voltou a escrever estas páginas, reviu cópias e tornou
a rever, este livro não teria chegado ao último capítulo.
Finalmente, para a Alfred P. Sloan Foundation, e para Mr. Sloan pessoalmente, os meus
sinceros agradecimentos, não apenas pela bolsa que tornou este livro possível mas também
pela liberdade que tive de conduzir ao seu objectivo os meus nem sempre inteligíveis
interesses.
A gestão e os conhecimentos científicos
Nesta ordem de ideias, as nossas possibilidades actuais variam bastante. São notáveis
sob alguns pontos de vista. Bastará apontarmos actos correntes, como marcar um encontro,
assinar um contrato de compra, fazer uma chamada telefónica internacional, pedir a um
subordinado que prepare um relatório, reservar quarto num hotel, deitar uma carta no
correio. Literalmente, de milhares de maneiras, prevemos com elevado grau de exactidão
o que outras pessoas devem fazer e orientamos o seu comportamento a fim de que as
nossas acções conduzam aos resultados desejados.
Não é menos exacto, no entanto, que outras tentativas de previsão e orientação são
inadequadas. Muitos dos grandes problemas sociais do nosso tempo reflectem esta situação:
a delinquência juvenil, o crime, a elevada percentagem de acidentes de estrada, os
conflitos entre patrões e operários, a guerra fria.
Partilho com alguns colegas da convicção de que as ciências sociais poderiam contribuir
mais eficientemente do que o fazem para o progresso da gestão das empresas, no que toca
ao seu aspecto humano. Evidentemente, são muita as razoes por que os progressos têm
sido lentos. Algumas dizem respeito às próprias ciências sociais: ainda estão na
adolescência, em comparação com as ciências físicas; os conhecimentos são isolados e
dispersos; falta-lhes precisão; muitos problemas de importância premente ainda são
motivo de controvérsia. No entanto, se compararmos a situação de hoje com a de há trinta
anos, somos obrigados a admitir que já se progrediu muito. Actualmente, as ciências
sociais constituem um recurso preciso para os dirigentes, muito embora ainda estejam
longe da maturidade.
Não quero dizer com isto que nós, sociólogos, tenhamos o direito de ignorar a nossas
responsabilidades, mas apenas que a posição do dirigente de empresa relativamente às
ciências sociais não virá a ser diferente da do engenheiro relativamente às ciências
físicas ou do médico relativamente à química ou à biologia. O profissonal poderá não
ser cientista, mas deverá estar preparado para se servir dos conhecimentõs do
conhecimentos científicos.
Os dirigentes têm-se mostrado, por outros motivos, pouco inclinados a aplicar as ciências
sociais. Dois desses motivos são particularmente importantes. O primeiro écada dirigente
considerar-se, naturalmente, o seu próprio sociólogo. O contacto pessoal que tem tido
com outros indivíduos ao longo de toda a sua vida é tão rico em experiência que não
sente necessidade de consultar seja quem for sobre o comportamento humano. Considera
quase sempre os conhecimentos dos sociólogos como teóricos e sem qualquer relação com
as realidades que a ele se apresentam, ao passo que os seus, baseados na experiência,
são práticos e úteis.
Pode haver concepções teóricas mais ou menos adequadas, mas não se pode tomar uma decisão
ou assentar numa linha de acção directiva sem se ser influenciado por ideias adequadas
ou não. O valor que normalmente se atribui à conveniência de ser prático significa,
na realidade: <<Aceitemos as minhas ideias teóriacas, sem discussão ou teste». A prática
corrente de se proceder sem exame explícito das ideias teóricas conduz, por vezes, a
inconsistências notáveis no comportamento de quem dirige.
Por exemplo, um dirigente afirma que delega nos seus subordinados. Interrogado, exprime
opiniões como estas: «As pessoas têm de aprender a assumir responsabilidades», ou «Pode
decidir melhor quem tiver mais contacto com a situação». No entanto, preparou as coisas
de maneira a dispor de informações constantes e pormenorizadas acerca do procedimento
dos seus subordinados e utiliza-as para os controlar e «inspirar» as suas decisões. E
diz: «Sou o responsável e por isso tenho de saber como é que as coisas correm».
Não vê inconsistência no seu procedimento, nem admite várias outras ideias que estão
implícitas: «Não é possível confiar nas pessoas», ou «Na realidade, eles não podem
resolver tão bem como eu». Com uma das mãos, e em conformidade com certas ideias, delega;
com a outra, e de acordo com outras ideias, toma atitudes que têm por efeito anular a
primeira. Não só não admite as contradições que decorrem da sua atitude, como, se lhas
apontarmos, é muito provável que as refute.
Uma razão igualmente importante do insucesso dos dirigentes na utilização eficiente dos
conhecimentos das ciências sociais provém de uma interpretação errada da natureza do
controle no que respeita ao comportamento humano. Em engenharia o controle consiste na
adaptação à lei natural. Isto quer dizer que não se tenta obrigar a natureza a adaptar-se
ao que pretendemos. Por exemplo: não abrimos canais na previsão de que a água correrá
de baixo para cima; não utilizamos petróleo para apagar um incêndio. Ao projectarmos
um motor de combustão interna, admitimos e temos em atenção a circunstância de que os
gases aquecidos se expandem; não tentamos obrigá-los a comportar-se doutra maneira. No
que toca aos fenómenos físicos, o controle implica a escolha de meios apropriados à
natureza dos fenómenos em causa.
Do ponto de vista humano a situação é idêntica, mas não raras vezes abrimos canais para
obrigar a água a subir um monte. Muitos dos nossos esforços para controlar o comportamento,
longe de representarem uma adaptação selectiva, são uma violação directa da natureza
humana. Consistem em tentar obrigar pessoas a proceder segundo a nossa própria vontade
, sem consideração pela lei natural. Tal como em engenharia, não podemos contar com os
resultados que pretendemos se não procedermos da maneira conveniente.
Os planos de estímulo individual são um bom exemplo das tentativas para controlar o
comportamento que não tem a «lei natural» na devida consideração— neste caso, o
comportamento humano no meio industrial.
Contudo, os planos de incentivo não têm em conta várias outras caraoteríticas sobejamente
demonstradas do comportamento no meio industrial: (2) a maior parte dos indivíduos
deseja igualmente a aprovação dos seus camaradas e, se necessário, desiste do aumento
de salário para a conseguir; (2) as garantias dos patrões não convencem os trabalhadores
de que os bónus de estímulo serão inalteráveis, por muito que produzam; (3) o engenho
do trabalhador médio é suficiente para inutilizar qualquer sistema de controle elaborado
pelos dirigentes.
Todos estes resultados saem caros, bem como as contramedidas dos dirigentes para os
combater (maior actividade burocrática, medidas de controle complicadas, acréscimo de
vigilância, concessões no capítulo dos salários, descontos em tempo útil, etc.). Se
fossem calculados os encargos totais com a aplicação do programa de incentivo — tanto
directos como indirectos — verificar-se-ia, frequentemente, que somam mais do que o
total dos lucros resultantes do aumento da produtividade. Sem dúvida, o plano de incentivo
típico será de eficiência limitada, como método de controle, se tiver como finalidade
levar os seres humanos a orientarem os seus esforços para objectivos organizacionais.
Evidencia-se frequentemente outro ponto fraco nas tentativas dos dirigentes para
controlarem o comportamento humano. Quando não conseguimos os resultados que pretendemos,
temos tendência para procurar a causa em toda a parte, excepto onde geralmente se
encontra: na escolha de métodos de controle não apropriados. O engenheiro não censura
a água por correr de cima para baixo, e não de baixo para cima, nem os gases por se
expandirem e não se contraírem, quando aquecidos. No entanto, quando os
indivíduos não reagem da máneira desejada às decisões dos dirigentes, a tendência normal
é para a censura. Procura-se a explicação do sucedido na estupidez deles, na falta de
cooperação deles, ou na indolência deles, e não na incapacidade dos dirigentes para
escolher os meios de controle apropriados.
Previsão e controle eficientes são tão essenciais à tarefa da gestão como à da engenharia
ou da medicina. Para aperfeiçoarmos a nossa capacidade para organizar e dirigir o esforço
humano, com vista a objectivos económicos, teremos não só de admitir esta realidade mas
também de reconhecer e rectificar alguns sofismas comuns nestes assuntos.
O comportamento humano é previsível, mas, como nas ciências físicas, a previsão correcta
depende do acerto das ideias teóricas em que se baseia. Na realidade, não háprevisão
sem teoria: todas as decisões e acções dos dirigentes assentam em concepções quanto ao
comportamento. Se Adoptarmos a posição da avestruz relativamente às nossas convicções
, com a ideia errada de que estamos «a ser práticos» ou de que «dirigir é uma arte», o
nosso progresso no caminho dos aspectos humanos da empresa será realmente lento. Só
aprofundando e comprovando as nossas ideias teóricas poderemos esperar torná-las mais
adequadas, eliminar inconsistências e melhorar as nossas qualidades de previsão.
A liberdade de dirigir, que era timbre da gestão de uma empresa, tem sido progressivamente
cercada na nossa sociedade durante os últimos cem anos. A legislação respeitante ao
trabalho de menores, ao emprego de mulheres, as indemnizações aos trabalhadores, os
contratos colectivos e muitos outros assuntos reflectem as preocupações da sociedade
quanto à ética da gestão. Há quem considere estes problemas partindo do princípio de
que todas as restrições às funções directivas são ilógicas e lute cegamente contra elas.
Há uma ou duas gerações, isto era bastante típico da gestão industrial. Outra tendência
épara uma sensibilidade maior aos valores humanos e para exercer autodomínio mediante
um código de ética positivo e consciente. É esta tendência que caracteriza a noção da
«responsabilidade social» dos dirigentes, de que tanto se fala hoje.
Muito embora alguns dirigentes de empresas manifestem uma compreensão crescente destes
problemas e façam esforços sinceros para conformar o seu procedimento com os princípios
éticos, ainda teremos de avançar muito para que a ética da gestão possa tornar-se
comparável à da medicina, por exemplo. São muitos os casos em que práticas essencialmente
não éticas são passadas em claro ou defendidas por meio de racionalizações.
Façamos agora a comparação entre esta atitude e a seguida nos testes psicológicos e
diagnósticos clínicos das personalidades de dirigentes em potência para efeitos de
colocação. Não queremos referir-nos à selecção inicial, mas às práticas administrativas
que interessam à carreira dos indivíduos depois de terem sido admitidos na organização
.
Há muitos anos que nos cursos de dirigentes são ensinadas teorias formais de organização
e o assunto tem sido tratado em muitos livros. Os princípios de base da organização —
estrutura hierárquica, autoridade, unidade de direcção, especialização nas várias
tarefas, divisão em «staff» e «line» (1), extensão do controle, igualdade de
responsabilidade e autoridade, etc. — incluem uma série logicamente persuasiva de
ideias que têm exercido profunda influência, durante várias gerações, no comportamento
dos dirigentes. Embora assentem muito mais em especulação de gabinete do que em
investigação empírica, o que se tem escrito sobre o assunto dá a impressão de que estes
princípios clássicos não admitem discussão. (O manual para um programa de treino de uma
empresa importante sugere que o instrutor indique por analogias e exemplos que os
princípios de organização são como as leis da física).
(1) «Staff»: pessoal dos serviços funcionais, ou seja, dos órgãos encarregados de prestar
serviços e consultas ao pessoal dos serviços operacionais.
«Line»: pessoal dos serviços operacionais.
Métodos de influência
A primeira coisa a notar no tocante à autoridade é que ela apenas constitui uma das
várias formas de influência social ou controle. A coerção física directa é de todas a
mais forte e primitiva. Ainda há poucos séculos era a bem dizer universal e hoje ainda
nos acontece recorrer a ela, embora o seu uso seja limitado por proibições sociais na
nossa cultura actual. A coerção física é um meio legítimo de controle social em diversas
formas de comportamento criminal; ocorre ocasionalmente em conflitos de trabalho graves,
e é corrente da parte dos pais, na educação dos filhos pequenos. Hoje atribuímos parte
subtancial do orçamento nacional para impedir a sua aplicação mais assustadora: a guerra.
A persuasão, nos seus muitos aspectos, representa outro meio de controle social. No
sector das vendas, em que a autoridade e a coerção física são evidentemente descabidas
, confiamos principalmente neste género de influência. Na gestão de uma empresa, consultas
e discussões substituem, pelo menos parcialmente, a autoridade pela persuasão. Nalguns
tipos de relações, mas não em todos, põe-se a hipótese do recurso à autoridade ou mesmo
àcoerção física, se a persuasão se mostrar ineficiente. Esta situação é frequente nas
relações de trabalho e no terreno internacional. Nas organizações industriais os
dirigentes não raras vezes usam o eufemismo de «vender» uma ideia ou uma modalidade de
acção a alguém quando ambas as partes sabem perfeitamente que, se a persuasão não der
resultado, haverá que recorrer à autoridade como meio de controle. Nas relações
autênticas de vendas não é possível o recurso à autoridade quando a persuasão falha. O
caso é totalmente diferente!
Todos estes métodos de controle social são relativos; nenhum é absoluto. A eficiência
de uma determinada forma de controle é função de várias outras variantes. O controle
eficiente consiste nas «adaptações selectivas» a essas variantes. O engenheiro não abre
canais para que a água corra de baixo para cima; o vendedor não dá ordens ao cliente;
o chefe de departamento não dá directivas ao presidente da direcção; uma nação em guerra
não oferece auxílio profissional ao inimigo; os pais não dão conselhos ao filho de um
ano de idade.
As limitações da autoridade
Quer isto dizer que, actualmente, as relações no âmbito do emprego implicam sensivelmente
menos dependência do que há meio século. A possibilidade de escolha das relações e de
escolha dos meios de satisfazer necessidades e alcançar objectivos permitem que se ponha
termo a determinadas situações de emprego com menores prejuízos. Por outro lado, a
dependência ainda é mais reduzida pela negociação de várias limitações da liberdade dos
dirigentes para exercerem a autoridade quanto aos despedimentos.
Este fenómeno da atenuação da dependência nas relações sociais não é limitado inteiramente
à indústria. Vejamos, por exemplo, o que sucedeu nos últimos 50 anos, nos Estados Unidos,
na situação da mulher em relação ao casamento, ou do primogénito adolescente na família.
Houve tendência para admitir mais prontamente nestas relações o efeito da dependência
atenuada na validade da autoridade como meio de controle social. O significado da
modificação paralela nas relações do emprego — dentro do corpo dirigente ou entre este
e o trabalhador— tem sido menos bem compreendido.
Menos evidentes, mas de igual modo eficientes para contrabalançar as intenções das
entidades dirigentes, são, por exemplo, a indiferença perante os objectivos da organização,
os níveis baixos de produção, as formas engenhosas de comportamento defensivo e a
recusa de aceitar responsabilidades. A verdade é que estes fenómenos se tornaram de tal
modo familiares que a maior parte dos dirigentes, na prática diária, tem tendência para
confiar cada vez menos no exercício da autoridade pessoal, excepto em situações de crise,
quando todos os outros métodos se revelam inoperantes. Quanto mais alto for o nível
de organização, mais esta situação se torna evidente. É relativamente raro o uso de
ordens nos escalões directivos mais elevados. Não era esta a situação há cinquenta ou
mesmo vinte e cinco anos.
A interdependência nas organizações implica mais do que a dependência vertical nos dois
sentidos; também implica uma dependência lateral. A interdependência écaracterística
das relações 'staff-line'. É característica, igualmente, das relações entre muitos
departamentos da 'line' (sobretudo quando a produção de um departamento é absorvida por
outro), e ainda das relações entre qualquer grupo de subordinados que dependem de um
chefe comum. A competição com vista à influência, posição e reconhecimento de méritos,
que é tão frequente nestes grupos, reflecte a interdependência inerente à situação.
Por outro lado, a indústria é um órgão económico da sociedade de todos nós. Tem como
finalidade primordial servir o bem-comum. Não existe fonte sobre-humana de autoridade;
não há qualquer base sólida para se esperar que o indivíduo sacrifique os seus objectivos
ou necessidades pessoais a favor da organização (excepto, possivelmente, em condições
de crise), e não se encontra maneira eficiente de impor semelhante presunção, se a
houver.
No actual meio industrial dos Estados Unidos os dirigentes vivem num estado de relações
de dependência parcial. A autoridade como meio de influência não é certamente inútil,
mas em muitos casos mostra-se menos apropriada do que a persuasão ou o auxílio profissional.
Contar exclusivamente com a autoridade encoraja as contramedidas, a produção mínima,
quando não a rebelião aberta. A dependência — como no caso do adolescente na família
— não é suficientemente grande para garantir a aceitação da autoridade.
A psicologia da dependência
Uma das razões por que estas limitações da eficiência da autoridade não são tão bem
admitidas como seria de esperar consiste em que a dependência implica reacções emocionais
bastante enraizadas. De certo ponto de vista, a situação de dependência dá satisfação.
Agrada-nos que cuidem de nós, sentimo-nos em segurança. Doutro ponto de vista, conduz
à frustração. Ser dependente é ser limitado na liberdade, sujeito a influências tidas
frequentemente por arbitrárias e injustas.
O mesmo acontece com o dirigente de empresa. Por vezes, poderá desempenhar o papel de
chefe de um grupo de subordinados; noutras ocasiões, ser membro de um grupo de empregados
da sua própria categoria. Poderáactuar como mestre, ser levado a tomar decisões, impor
disciplina, prestar auxílio, dar conselhos ou pareceres, ou limitar-se simplesmente
ao papel de observador. Quando ajuda um subordinado a analisar um problema e a resolvê
-lo, os métodos que emprega para influir no ânimo do subordinado são muito diferentes
daqueles de que se serve tratando-se de um problema disciplinar. A própria natureza da
relação varia com a modificação das circunstâncias. Por outro lado, o chefe de um
departamento adopta atitudes diferentes segundo trata com o chefe doutro departamento,
com o seu superior imediato ou com um superior de um escalão bastante mais elevado na
organização.
O grau de maleabilidade nas funções dos dirigentes que seria mais indicado para exercer
influência no comportamento é limitado não só pelas atitudes e ideias teóricas do próprio
dirigente mas, de igual modo, pela expectativa dos seus subordinados. Também estes
tendem a adoptar a ideia corrente de que um chefe é um chefe. A posição formal que o
superior ocupa na hierarquia da organização e a ênfase na autoridade como sendo o método
directorial de influência tornam difícil que os subordinados aceitem e correspondam ao
chefe como colega ou conselheiro. Sóno caso de o dirigente ser francamente sensível
às exigências das atitudes que lhes cumpre tomar e, por outro lado, explícito quanto
às que entende vincar, poderão os subordinados aprender a corresponder devidamente. Não
raras vezes estes se sentem consideràvelmente embaraçados quando um chefe, depois de
se mostrar constantemente autoritário nos seus contactos com eles, se torna subitamente
«colaborador», sem tentar explicar o próprio esforço para modificar a sua atitude.
Por todas estas razões, seria de concluir que a autoridade, hoje, não é um método de
controle apropriado em que a indústria dos Estados Unidos possa confiar exclusivamente
quando o propósito dos dirigentes é influir no comportamento para realizar os objectivos
organizacionais. É óbvio que a autoridade não pode ser posta com-pletamente de parte.
Em determinadas circunstâncias poderá tornar-se essencial, mas para promover a colaboração
é, na melhor das hipóteses, um meio bastante precário.
No longo decurso da História verificaram-se duas transições essenciais no que respeita
ao meio primordial de controlar o comportamento humano no âmbito organizacional. A
primeira foi a transição da força física pura para a confiança na autoridade formal.
Demorou séculos. Hoje ainda temos tendência para confiarmos na força, quando falham
outros meios de exercer influência. Esta transição evoluiu sensivelmente mais nos Estados
Unidos e na Europa Ocidental do que noutras partes do Mundo. Ao nível das relações
internacionais, é evidente que não temos os pés muito seguros na escala da transição
que vai da força primitiva a formas de influência «mais elevadas».
A segunda transição esboçou-se há um século, pelo menos, e tem raízes fundas no passado.
Mas ainda hoje se encontra longe de terminada. Em política interna o autoritarismo é
suspeito; na educação das crianças tem havido algumas tentativas audaciosas, mas admite-se
hoje que a confiança exclusiva na autoridade gera mais problemas do que aqueles que
resolve; nas organizações religiosas, a autoridade tem menos força do que antigamente;
e na nossa cultura actual, os maridos deixaram de poder confiar na autoridade para
orientarem o comportamento das esposas.
Uma das grandes dificuldades que se levantam decorre da circunstância de estarmos longe
de ver para onde caminhamos. Ensina-nos a experiência que a abdicação não é a antítese
apropriada do autoritarismo e que a solução não está no simples meio termo entre os
dois extremos.
Se a autoridade for o único meio que o dirigente de empresa tiver ao seu dispor, não
poderá alimentar grandes esperanças de alcançar os objectivos que pretende, mas não se
segue que deva abandoná-la. Haverá ocasiões em que precisará dela, quando outros meios
não servirem para o fim a alcançar.
Temos hoje pelo menos conhecimentos básicos que nos permitem distinguir diversas formas
de influência e reconhecer algumas das condições em que cada uma delas é apropriada.
Estes conhecimentos — embora limitados —têm aplicações importantes para a gestão
industrial.
A Teoria X: As ideias tradicionais de direcção e controle
1. O ser humano médio não gosta intrinsecamente de trabalhar e trabalha o menos que
pode.
Esta noção tem raízes fundas. O castigo de Adão e Eva, por haverem comido o fruto da
Arvore da Ciência, foi a sua expulsão do Paraíso para um mundo onde tinham de trabalhar
para viver. A insistência da gestão da empresa na produtividade, no conceito de «uma
jornada de trabalho justa», nos inconvenientes da manutenção de trabalho desnecessário
e da restrição da produção, nas recompensas ao trabalho eficiente — embora tenha
lógica em termos dos objectivos da empresa— reflecte a convicção subconsciente de que
os dirigentes têm de contrariar uma tendência humana inerente para fugir ao trabalho.
A maior parte dos dirigentes teria por indiscutível a evidência desta teoria.
2. Devido a esta característica humana de desagrado pelo trabalho, a maior parte das
pessoas precisam de ser coagidas, vigiadas, orientadas, ameaçadas com castigos, a fim
de serem levadas a fazer o devido esforço para se alcançarem os objectivos da organização.
O desagrado pelo trabalho é tão forte que o mero prometimento de recompensas não basta
, geralmente, para o vencer. Os indivíduos aceitam as recompensas e pedem constantemente
outras mais elevadas, mas estas, por si sós, não produzirão o esforço necessário. O
único meio eficiente será a ameaça de castigo.
O conhecimento mais perfeito das ciências sociais, nos últimos vinte e cinco anos,
permitiu a reformulação de um certo número de ideias acerca da natureza humana e do
comportamento humano no âmbito organizacional, esclarecendo assim algumas inconsistências
inerentes àTeoria X. Se bem que esta reformulação seja, evidentemente, experimental,
proporciona uma base melhor para a previsão e controle do comportamento humano na
indústria.
As ideias gerais que se seguem acerca da motivação são um tanto simplistas. Se abordássemos
todos os predicados que seriam necessários a um tratamento verdadeiramente adequado,
os factores essenciais que são particularmente significativos para a gestão tornar-se-iam
confusos. Estas ideias gerais não deturpam os factos, mas passam em claro algumas
complexidades do comportamento humano que têm relativamente pouca importância para as
finalidades que pretendemos atingir.
O homem é um animal insatisfeito - quando consegue, a satisfação de uma das suas
necessidades, logo outra a substitui. Este processo não tem fim. Vai do nascimento até
à morte. O homem envida continuamente esforços - trabalha, se o leitor preferir —
para conseguir aquilo de que precisa.
Uma necessidade satisfeita não é motivadora de comportamento! Este facto tem significado
profundo. A Teoria X não o reconhece e é consequentemente ignorado no método convencional
de dirigir indivíduos. Voltarei a este ponto mais adiante. De momento, limitar-me-ei a
citar um exemplo ..Pense o leitor na sua própria necessidade de ar. A menos que seja
privado de ar, este não tem efeito motivador apreciável no seu comportamento.
No entanto, a não ser que o homem esteja numa situação de dependência em que receie ser
arbitrariamente privado dos seus direitos, não pede segurança. Do que precisa é da
«garantia mais justa possível». Desde que apróprtenha por certa, sente-se absolutamente
disposto a aceitar riscos. Mas, sentindo-se ameaçado ou dependente, a sua maior necessidade
é de protecção e de segurança.
Será escusado insistir muito, dado que cada trabalhador industrial se encontra numa
situação de dependência, pelo menos relativa, em que a sua necessidadede garantia pode
assumir importância considerável. As acções administrativas arbitrárias, o comportamento
que suscita incerteza quanto à continuidade do emprego ou reflecte favoritismo ou
discriminação, uma orientação imprevisível—podem ser fortes motivadores da necessidade
de garantias no âmbito do emprego, em todos os escalões, do operário ao director-adjunto.
Por outro lado, a necessidade de garantias dos chefes de serviço são frequentemente
suscitadas pela sua dependência de cima para baixo ou lateral. Razão de peso para se
acentuarem prerrogativas dos chefes de serviço e se definir bem a autoridade de cada
um.
Ao contrário das necessidades do nível mais baixo, estas raramente são satisfeitas: o
homem procura indefinidamente maior satisfação destas necessidades, desde que começam
a tornar-se importantes para ele. Contudo, não se manifestam usualmente de maneira
significativa antes que as necessidades fisiológicas, de garantia e sociais estejam
razoavelmente satisfeitas. Há excepções a esta generalização, sobretudo quando, além
da rude privação das necessidades fisiológicas, a dignidade humana é espezinhada. As
revoluções políticas são frequentemente o resultado de serem contrariadas as necessidades
sociais e do ego tanto como as fisiológicas.
A teoria de motivação do «pão numa mão e pau na outra», que acompanha a Teoria X,
funciona razoavelmente em determinadas circunstâncias. Os meios para satisfazer as
necessidades fisiológicas e (numa certa medida) as necessidades de garantia do homem
podem ser proporcionados ou retirados pelos dirigentes. O próprio emprego é um desses
meios, como o são os salários, as condições de trabalho e outros benefícios. Por estes
meios, o indivíduo pode ser controlado enquanto lutar pela subsistência. O homem tende
a viver só para o pão, quando o pão escasseia.
Mas a teoria do «pão numa mão e pau na outra» deixa de ter qualquer efeito quando o
homem alcança um nível de subsistência adequado e é motivado essencialmente por
necessidades mais elevadas. A direcção não pode proporcionar ao homem respeito próprio
ou o respeito dos seus camaradas, ou a satisfação de necessidades decorrentes das
exigências próprias. Podemos criar condições que o encoragem e tornem apto a procurar
estas satisfacções pelos seus próprios meios, mas também podemos contrariar as suas
possibilidades não lhe proporcionando essas mesmas condições.
Mas esta criação de condições não é controle na acepção habitual do termo; não
parece ser um sistema particularmente bom para o comportamento de quem dirige. E, assim,
os dirigentes encontram-se numa situação estranha. O elevado nível de vida proporcionado
pela tecnologia do nosso tempo é inteiramente adequado quanto à satisfação das
necessidades fisiológicas e de garantia. A única excepção significativa é quando os
métodos de gestão não suscitam confiança em «termos razoáveis»— e, portanto, quando
as necessidades de garantia são contrariadas. Mas, ao tornarem possível a satisfação
das necessidades dos graus menos elevados, os dirigentes privam-se da possibilidade de
usar os meios de controle em que as noções convencionais da Teoria X os ensinaram a
confiar: recompensas, prometimentos, estímulos ou ameaças e outras práticas coercivas.
A filosofia de gestão mediante direcção e controle — sem olhar a que seja aura ou
branda — é imprópria para motivar, porque as necessidades humanas em que assenta são
relativamente pouco importantes na nossa sociedade de hoje como motivadoras de
comportamento. Direcção e controle têm valor limitado para motivar indivíduos cujas
necessidades primordiais são sociais e
egoístas.
Na educação das crianças, admite-se que as estratégias de controle dos pais têm de ser
modificadas progressivamente para se adaptarem às capacidades e características em
evolução da pessoa humana, à medida que se desenvolve da infância para a idoneidade.
De certo modo, a gestão industrial reconhece que o adulto humano possui uma capacidade
constante de aprender e desenvolver-se. Temos um exemplo nas muitas actividades correntes
no âmbito do treino e aperfeiçoamento da gestão. Contudo, nas suas teorias básicas de
orientação dos recursos humanos, os dirigentes parecem ter chegado à conclusão de que
o ser humano médio é permanentemente travado no seu desenvolvimento no dealbar da
adolescência. A Teoria X baseia-se no mínimo denominador comum humano: o trabalhador
fabril do passado. Como Chris Argyris descreve dramaticamente em Personalidade e
Organização, as estratégias de gestão convencionais para a organização, direcção e
controle dos recursos humanos da empresa convêm admiravelmente mais às capacidades e
características da criança do que do adulto.
A análise precedente poderá parecer a alguns exageradamente dura. Nos últimos vinte e
cinco anos não teremos feito modificações de vulto na orientação dos recursos humanos
da indústria? Não teremos admitido a importância dos seres humanos e modificado, por
consequência, de maneira vital, a estratégia de gestão? Os aperfeiçoamentos que desde
os anos vinte foram introduzidos na administração do pessoal e nas relações de trabalho
não terão valor algum?
Não se põe em dúvida que nas últimas duas ou três décadas os progressos foram importantes.
Neste período, os aspectos humanos da empresa tornaram-se numa das maiores preocupações
de quem dirige. Um enorme número de políticas, programas e práticas, virtualmente
desconhecidos há trinta anos, tomaram-se correntes. A situação do empregado industrial
— operário, profissional ou dirigente — melhorou a um ponto que o seu colega dos
anos vinte dificilmente poderia imaginar. Regra geral, os responsáveis pela gestão
adoptaram um certo número de valores sensivelmente mais humanitários; esforçaram-se com
êxito por tratar os seus empregados de maneira mais equitativa e generosa. Reduziram
sensivelmente as dificuldades económicas, eliminaram as formas mais agudas da guerra
industrial, proporcionaram um ambiente de trabalho em geral seguro e agradável, mas
fizeram tudo isto sem alterar a sua teoria fundamental de gestão. Aqui e além há excepções,
e são importantes; apesar de tudo, as noções da Teoria X continuam a predominar em
toda a nossa economia.
Agora, que o sector dirigente recuperou prestígio e força, tornou-se óbvio que a tendência
para uma gestão «branda» foi mais uma reacção temporária e relativamente superficial
do que uma modificação geral de concepções fundamentais ou estratégia básica. Além disso,
muito embora os progressos realizados nos últimos vinte e cinco anos sejam substanciais,
chegaram ao ponto ern que o ritmo começa a afrouxar. As possibilidades tácticas das
estratégias de gestão convencionais foram a bem dizer exploradas completamente, e serão
improváveis novos desenvolvimentos significativos salvo modificações essenciais da
teoria.
As noções da Teoria Y
Têm sido poucas as inovações sensacionais na teoria das ciências sociais em comparação
com as verificadas nas ciências físicas, no último meio século. No entanto, a acumulação
de conhecimentos relativamente ao comportamento humano em muitos sectores especializados
tornou possível a formulação de certo número de generalizações, que permitem o princípio
modesto de uma nova teoria, no que respeita à orientação dos recursos humanos. Algumas
destas ideias foram esboçadas no que dissemos sobre motivação, no Capítulo III. Outras,
que passaremos a referir como Teoria Y, são estas:
2. Controle exterior e ameaça de castigo não são os únicos meios ãe suscitar esforços
no sentido dos objectivos organizacionais. O homem praticará a auto-orientação e o
autocontrole, ao serviço dos objectivos que se empenhou em alcançar.
4. O ser humano médio aprende, em condições apropriadas, não só a aceitar, mas a procurar
responsabilidades. A recusa de responsabilidades, a ausência de ambição e a ênfase na
segurança são, regrageral, resultados da experiência, e não características inerentes
à natureza humana.
A validade das noções da Teoria Y não é definitiva. No entanto, são bastante mais
consistentes com os conhecimentos que temos das ciências sociais do que as noções da
Teoria X. Muito provavelmente serão aperfeiçoadas, trabalhadas, modificadas, à medida
que forem surgindo novos conhecimentos, mas é improvável que sejam inteiramente postas
em causa.
À primeira vista, a aceitação destas noções poderá não parecer particularmente difícil
. Contudo, na prática, não é fácil transpor as suas implicações. São um repto a muitos
hábitos directivos de pensar e agir que estão profundamente enraizados.
O princípio da integração
Houve quem dissesse que os peixes são os últimos a descobrir a água. O «ambiente
psicológico» da gestão industrial — como a água para o peixe — faz de tal maneira
parte da vida organizacional que nem sequer damos por ele. Algumas características da
nossa sociedade, e a vida organizacional como parte dela, encontram-se de tal modo
estabelecidas, são tão penetrantes, que não conseguimos imaginar que possam ser diferentes.
O resultado é que grande número de políticas e de práticas, de decisões e de modalidades
de relações só poderiam ser apa- j rentemente — o que são.
Entre estas características da vida organizacional de hoje, nos Estados Unidos, conta-se
a atitude directiva (filha da Teoria X) relativamente ao quadro social na organização
industrial. Parte-se, a bem dizer, de forma quase indiscutível, do princípio de que as
necessidades organizacionais têm precedência sobre as necessidades individuais dos
seus membros. A base do contrato de emprego é que, em troca das recompensas oferecidas
, indivíduo aceitará direcção e controle exteriores. A própria ideia de integração e
autocontrole é estranha à nossa maneira de pensar acerca das relações no trabalho. E,
assim, a tendência é para a rejeitar pura e simplesmente (porque socialista, ou anarquista,
ou incompatível com a natureza humana) ou para a desvirtuar inconscientemente até se
adaptar às concepções existentes.
Os membros da direcção que o escolheram para o novo cargo tiveram em atenção certo
número de candidatos possíveis. Mas aquele homem salienta-se entre todos eles de tal
forma que a escolha natural é a indicada. Há algum tempo que o seu trabalho está a ser
acompanhado atentamente e não se põe praticamente a questão de apurar se possui as
qualificações necessárias, não apenas para o novo cargo, mas para outros ainda mais
elevados. O facto de se dispor de candidato tão apreciável é motivo de verdadeira
satisfação.
O homem sente-se aterrado. Não quer o lugar que lhe oferecem. O que pretende, como ele
o diz, é ser «o melhor dos melhores gerentes regionais da empresa». Aprecia o contacto
directo com os seus subordinados, e não está interessado num cargo de orientação da
organização. Ele e a mulher gostam do ambiente em que vivem, num meio pequeno, e a
nenhum deles agradam as condições de vida e as obrigações sociais que os esperam na
cidade onde a sede está instalada.
Manifesta a sua maneira de sentir com toda a energia possível, mas as suas objecções
não são atendidas. São de tal ordem as necessidades da organização que a recusa de
aceitar a promoção seria impensável. Os superiores dizem de si para si que, evidentemente,
uma vez instalado no novo cargo, acabará por reconhecer que foi essa a melhor das
soluções. E, por isso mesmo, é transferido.
Passados dois anos, encontra-se em situação ainda mais elevada na sede da empresa, e
fala-se de que não tardará a ser promovido a director--adjunto da organização. Aos
amigos, o homem declara-se imensamente infeliz e descontente. Ele (e a mulher) «dariam
tudo» para voltarem à situação que tinham dois anos atrás.
No contexto das noções que são moeda corrente na Teoria X, a maior parte das promoções
e transferências provêm de decisões unilaterais. As necessidades da organização têm
prioridade automática e são praticamente indiscutíveis. Mesmo quando as finalidades
pessoais dos empregados são tomadas em relativa consideração, parte-se do princípio de
que as vantagens de ordenado e situação lhes darão satisfação. Se um indivíduo recusa
a promoção ou a transferência proposta, sem apresentar razões imperativas de saúde ou
crise familiar grave, será considerado como estando a prejudicar o seu futuro, com a
sua atitude «egoísta». Com efeito, é muito raro que a direcção dê ao pessoal oportunidade
para ser parte autêntica e activa em decisões semelhantes, muito embora estejam em causa
os seus objectivos pessoais mais importantes. Em contrapartida, as implicações da Teoria
Y permitem concluir que a organização será provavelmente lesada se ignorar as necessidades
e os objectivos do pessoal. Ao tomar decisões unilaterais, tratando-se de promoções,
os dirigentes não utilizam da maneira mais eficaz os recursos humanos ao seu dispor.
Nas ciências físicas, há muitos fenómenos teóricos que não podem ser realizados na
prática. Citaremos como exemplos o zero absoluto e o váculo perfeito. Outros, como a
energia nuclear, os aviões a jacto e os voos espaciais do homem, foram reconhecidos
teoricamente possíveis muito antes de se tornarem realizáveis. Esta circunstância não
torna a teoria menos útil. Se não fossem as nossas convições teóricas, nem sequer
estaríamos tentando hoje desenvolver os meios para os voos espaciais humanos. Na realidade,
se não fosse o desenvolvimento das teorias da Física nos últimos cento e cinquenta
anos, ainda estaríamos dependentes do cavalo, da carroça e dos navios à vela, como meios
de transporte. Virtualmente, todos os desenvolvimentos significativos derivam da
formulação da teoria atinente.
Tem-se dito frequentemente que dispomos hoje de todos os conhecimentos precisos para
resolvermos virtualmente todo e qualquer problema que possa levantar-se, e que os
progressos industriais mais notáveis dos próximos cinquenta anos se situarão no âmbito
dos aspectos humanos da empresa. Contudo, estes progressos serão improváveis enquanto
os dirigentes continuarem a organizar, a dirigir e a controlar os recursos humanos na
base de noções — tácitas ou explícitas — como as da Teoria X. A inovação autêntica,
em contraste com os retoques e emendas das actuais estratégias de gestão, requer, em
primeiro lugar, a aceitação de noções menos limitativas acerca da natureza dos recursos
humanos que procuramos controlar e, em segundo lugar, a disposição para uma adaptação
selectiva às implicações contidas nessas novas noções. A Teoria Y é um convite à inovação.
A gestão por integração e autocontrole
A estratégia de que vamos falar nas páginas que se seguem é uma aplicação da Teoria Y.
Tem por fim incitar à integração, criar uma situação em que o subordinado possa alcançar
melhor os seus próprios objectivos, fazendo convergir o seu esforço para as finalidades
da empresa. Trata-se de uma tentativa deliberada para ligar o aperfeiçoamento da
capacidade de gestão à satisfação das necessidades do grau mais elevado do ego e da
auto-realização. Trata-se, portanto, de um caso especial e em nada típico da noção
convencional de gestão por objectivos.
Harry Evans é o director-adjunto para assuntos do pessoal numa empresa industrial com
20 fábricas em vários locais do Middle West e o Sul dos Estados Unidos. A empresa é
administrada com determinação e é financeiramente próspera; está a desenvolver-se
rapidamente mediante a aquisição de empresas menos importantes e a expansão de novos
mercados para os seus produtos.
Evans foi introduzido na empresa há três anos pelo director-geral, que entendia que os
serviços relacionados com o pessoal da organização precisavam de ser reforçados. Uma
das suas preocupações era o departamento do pessoal, qualquer coisa parecida com um
«enteado» desde a sua criação no princípio dos anos de quarenta. No seu entender, a
direcção precisava'de muito auxílio e orientação nesse sector para se desempenhar bem
da sua missão.
Tom Harrison dirige o departamento do pessoal hápouco mais de um ano. Evans escolheu-o
entre vários candidatos. Muito embora não tivesse a formação profissional de alguns
dos seus colegas, pareceu prometer bastante como dirigente. Tem pouco mais de 40 anos,
é inteligente, ambicioso, tem personalidade, é activo e tem dez anos de experiência
na administração de pessoal.
Alguns meses depois de Harrison ter ocupado o novo cargo, as impressões de Evans a seu
respeito eram as seguintes:
1. Está demasiadamente empenhado em causar boa impressão nos superiores, o que prejudica
a sua actuação. Esforça-se excessivamente para ver de que lado sopra o vento, e navega
em conformidade. Aceita as incumbências mais triviais de qualquer membro da direcção,
o que causa boa impressão, mas pouco faz para reforçar a sua actividade quanto ao
pessoal. Nada tem feito para modificar a suposição um tanto ingénua dos seus superiores
no sentido de que a administração do pessoal pode ser delegada num departamento
especializado. («Resolva você os problemas do pessoal e nós atenderemos ao negócio»).
2. Harrison é um dirigente que não satisfaz, com bastante surpresa de Evans, porquanto
lhe havia parecido desempenhar-se bem de responsabilidades de chefia mais limitadas.
Utiliza os subordinados mais como moços de recados do que como auxiliares e está demasiado
pronto a impor-lhes as suas próprias ideias práticas e outras ditadas pelo senso comum
, sobre a maneira como as coisas devem ser feitas, não atendendo aos conhecimentos
profissionais especializados dos subordinados. Está ansioso por reorganizar o departamento,
atribuindo responsabilidades essenciais a homens como ele, com experiência prática mas
escasso treino profissional.
Tudo isto se somava, na opinião de Evans, a uma noção inadequada da natureza do trabalho
de orientação do pessoal e da função que compete ao departamento respectivo dentro da
empresa. Admitia que o facto de a direcção aceitar a orientação prática de Harrison
tinha valor, mas entendia que as necessidades autênticas da empresa não seriam realizadas
se a direcção não adoptasse um ponto de vista inteiramente diverso quanto à função em
causa. De modo nenhum desejava substituir Harrison, porque estava convencido da sua
competência para desempenhar o cargo com eficácia, mas reconhecia que sem auxílio
Harrison não poderia dar boa conta do cargo que lhe fora confiado. A estratégia que
adoptou compreendia os quatro passos que a seguir enumeramos:
A lista dos requisitos que Harrison apresentou subsequentemente a Evans, para discussão,
era esta:
1. Organização do departamento.
3. Produtividade do departamento:
«A dificuldade que vamos encontrar, provavelmente, na discussão das suas ideias é que,
se eu discordar delas, V. sentirá a necessidade de aceitar o que eu disser, porque sou
o seu chefe. Quero ajudá-lo a completar uma lista com a qual fiquemos ambos absolutamente
ísatisfeitos, mas nada poderei fazer se V. perfilhar simplesmente as minhas ideias ou
se eu não as exprimir com receio de o influenciar. Portanto, faça o possível por pensar
em mim como um colega de quem a experiência e os conhecimentos estão ao seu dispor —
não como chefe. Estou convencido de que poderemos resolver quaisquer divergências que
venham a surgir».
O factor mais significativo dessas discussões não foi o respectivo conteúdo mas a
redefinição dos papéis a que deu lugar. Evan conseguiu, mais pela sua atitude do que
pelas suas palavras, incutir no ânimo de Harrison a ideia essencial de que não queria
desempenhar o papel convencional do chefe, mas antes, na medida do possível, o do
consultor que punha todos os seus conhecimentos e experiência à disposição de Harrison
, com a convicção de que tinham um interesse comum autêntico em que Harrison se salientasse
no seu cargo.
À medida que começou a aperceber-se da atitude de Evans e a ter confiança nela, Harrison
modificou por completo a noção do seu próprio trabalho. Em vez de tentar descobrir,
como seria natural em circunstâncias convencionais, como era que Evans queria que ele
definisse o seu serviço, o que era que Evans queria que ele fizesse, o que era que Evans
aprovaria ou desaprovaria, Harrison começou a pensar por si próprio. Além disso, com
esta noção mais esclarecida de liberdade quanto ao papel que lhe cabia desempenhar (e
com o apoio franco de Evans), começou a considerar os seus próprios subordinados não
como «simples trabalhadores» mas como fontes de auxílio e a utilizá-los nesta qualidade.
O resultado, por muito improvável que possa parecer à primeira vista, foi uma modificação
drástica da maneira como Harrison encarava a sua própria pessoa e o seu trabalho. A
verdadeira natureza desta mudança nas discussões com Evans e com os seus subordinados
revelou-se na lista da suas responsabilidades, tal como passou a compreendê-las:
1. Organização do departamento.
a. Investigação do meio.
a. Solução de problemas.
b. Planeamento de estratégias.
c. Estudos especializados.
5. Aperfeiçoamento pessoal.
O processo que este passo implica é semelhante, embora mais limitado no seu alcance,
ao descrito tão inteligentemente por Drucker como a descoberta «do que é da nossa conta».
Do ponto de vista da direcção e considerando a organização como um todo, esta experiência
é, frequentemente, muito instrutiva. Poderá ser não menos exacta num âmbito limiado
como este, sobretudo se o superior conseguir, como é o caso de Evans, incitar o subordinado
a pensar o seu trabalho numa atitude criadora.
Esta fase é de planeamento, mas, uma vez mais, o processo é aquele em que o subordinado
é incitado a assumir responsabilidades quanto ao seu próprio trabalho. O processo
convencional é aquele em que os objectivos são determinados pelos escalões superiores
e impostos aos escalões inferiores da organização. O fundamento lógico, neste caso, é
que só os escalões mais elevados dispõem dos conhecimentos necessários ao planeamento.
Isto é exacto numa certa medida, mas há uma diferença importante entre o género de
planeamento em que um grupo central determina pormenorizadamente o que cada divisão ou
departamento deve fazer, e aquele em que o grupo central comunica o que se supõe serem
os objectivos gerais convenientes e pede a cada unidade que determine em que poderá
contribuir.
Foi esta a lista de objectivos a alcançar que Harrison apresentou a Evans, para discussão:
Sobre estes pontos, será elaborado um plano com atribuição de responsabilidade e prazos
de execução. Creio ser possível completarmos o estudo dentro de seis meses, mas um
relatório e os planos subsequentes ainda não estarão provavelmente completados em
Setembro.
4. Aperfeiçoamento pessoal:
b. Sinto que não adquiri ainda toda a competência necessária para o cargo de dirigente
. Chegam-me aos ouvidos rumores de que alguns membros do meu pessoal não estão satisfeitos
comigo, como chefe. Gostaria de fazer qualquer coisa a este respeito, mas tenho dúvidas
quanto à maneira mais conveniente de agir.
Estou a trabalhar nalguns dos projectos referidos, e creio que poderei desenvolver
algumas ideias sobre a maneira de orientarmos este departamento.
Uma vez que as relações de trabalho entre os dois homens ficaram bem assentes nas
discussões iniciais, chegaram a uma fase de boa colaboração. Evans considerou o primeiro
objectivo como primordial, um daqueles que poderia constituir a base de uma concepção
inteiramente nova do papel que o departamento deveria desempenhar. Entendeu, igualmente,
que esse objectivo poderia ser extremamente educativo para Harrison, desde que fosse
encarado com compreensão e ideias largas. Nesta conformidade, passou muitas horas
ajudando Harrison a pensar a sua estratégia para determinar as necessidades da empresa
no capítulo da administração do pessoal. Harrison começou a compenetrar-se de que este
projecto era um meio que lhe permitiria trabalhar para alcançar todos os outros objectivos
da sua lista.
Dada a natureza da função do pessoal e dos problemas particulares que Harrison teria
de resolver, os objectivos a alcançar não se prestavam a uma medição quantitativa, como
poderia suceder num processo de produção. Apesar disso, Harrison, orientado por Evans,
preparou um plano pormenorizado, com etapas específicas, a executar no espaço de seis
meses. Evans empenhou-se em que Harrison dipusesse de uma base para apreciar as suas
próprias realizações, findo o período determinado.
Evans levantou a questão das relações profissionais entre ambos no período subsequente
. E disse: «Não quero tomar a atitude de fiscalizar o seu trabalho de semana a semana.
Conheço os seus planos e tenho inteira confiança em que fará todo o possível por
alcançar os seus objectivos. Por outro lado, quero que se sinta apto a pedir conselho,
se necessário. De certo ponto de vista, parece-me que a minha experiência poderá ser-lhe
útil. Poderíamos combinar reunirmo-nos, por sua iniciativa, sempre que o desejar — não
para me apresentar um relatório do que está a fazer, mas para discutirmos qualquer
problema em que entenda que o meu auxílio lhe possa ser vantajoso, ou para qualquer
revisão dos seus planos». Deste modo, Evans ajudou Harrison ainda mais a compenetrar-se
do papel que pretendia desempenhar como funcionário superior e, ao mesmo tempo, a definir
as suas responsabili-dades como subordinado.
3.° passo. O período subsequente. Uma vez que se trata neste caso, mais de uma estratégia
de gestão do que de uma técnica de administração do pessoal, o período entre o
estabelecimento dos objectivos e a avaliação das realizações é tão importante como os
dois primeiros passos. O que suceder nesse período dependerá de circunstâncias peculiares.
O que se pretende é promover o aperfeiçoamento do subordinado: a sua competência
acrescida, a sua total aceitação da responsabilidade (auto-orientação e autocontrole),
a sua capacidade para realizar a integração entre os requisitos organizacionais e os
seus próprios objectivos pessoais.
(1) Fazer surgir em toda a empresa uma noção mais adequada da função da administração
do pessoal e (2) desenvolver um departamento competente, capaz de proporcionar dirigentes
e apoio profissional a todos os escalões da chefia no respeitante àquela função. Entendeu
que, como resultado dos passos l e 2 da sua estratégia, também Harrison se empenhava
em alcançar os objectivos fixados. Por outro lado estava convencido de que o projecto
de Harrison para dar satisfação às necessidades da empresa no âmbito da administração
do pessoal — como haviam sido finalmente postas — era altamente prometedor. Mas pensou
que devia estar particularmente atento a dois pontos: primeiro, não esperar obter de
mais nem demasiado depressa. A situação da empresa nada tinha de crítica e, portanto,
não havia necessidade de um programa de choque. O projecto de Harrison era certamente
uma experiência muito valiosa para ele e para o seu pessoal.
Segundo ponto: Evans admitiu que, para se obterem os melhores resultados, teria de
refrear a sua tendência natural para intervir e orientar o projecto. Harrison praticaria
erros; na fase actual de aprendizagem não conseguiria muito provavelmente avaliar toda
a projecção da tarefa. Contudo, Evans decidiu que haveria maior vantagem em limitar a
sua influência às ocasiões em que Harrison solicitasse o auxílio.
E assim fez. A sua confiança em Harrison provou ser justificada. Ele e o seu pessoal
abordaram o projecto com mais talento e compreensão do que Evans imaginaria possível,
e começaram a compreender com bastante rapidez as verdadeiras dimensões do problema.
Um dia, Harrison procurou-o para lhe dizer que haviam decidido ampliar os seus
conhecimentos através de visitas a vários centros universitários, a fim de tirarem
proveito dos pontos de vista de vários professores conceituados. Haviam planeado, também,
tirar a prova das suas novas ideias comparando-as com a experiência de várias empresas.
Depois deste encontro e da prova que assim obteve da expansão dos horizontes intelectuais
de Harrison e da maneira como tirara proveito dos recursos que os seus subordinados
representavam, Evans não teve mais preocupações. Deitar-lhe-ia a mão se «descarrilasse
», mas não previa semelhante necessidade.
4." passo. Auto-apreciação. Nos fins de Agosto, Harrison lembrou a Evans (e não
vice-versa!) que os seis meses tinham expirado. «Quando é que precisa do relatório?»,
perguntou. A resposta de Evans foi que não era precisamente um relatório que pretendia
, mas uma avaliação do próprio Harrison acerca do que tinha feito em relação aos
objectivos que a si mesmo havia imposto seis meses antes. E afirmou: «Isso poderá dar-lhe
uma base para os planos a executar nos seis meses que se seguem».
Uma semana mais tarde, Harrison apresentou estes apontamentos a Evans, para discussão:
Apreciação em 1 de Setembro
b. Apreciei devidamente como a sua maneira de fixar objectivos contribuiu para o meu
aperfeiçoamento, e estou a tentar empregá-la em relação a cada um dos meus subordinados.
Penso ainda que o planeamento referido em 2 é um magnífico meio de acção para o
departamento. Falei com vários funcionários da empresa B... que usam este sistema e
fiquei entusiasmado com as suas possibilidades na nossa própria empresa.
4. Aperfeiçoamento pessoal.
Tudo quanto posso dizer é que aprendi mais nos últimos seis meses que nos cinco anos
anteriores.
5. Organização do Departamento.
Nada fiz nesta ordem de ideias. Presentemente, não se me afigura muito importante.
Sentimo-nos capazes de planear o nosso trabalho como departamento de forma razoável sem
recorrermos a novos métodos. Talvez seja necessário rever este ponto nos próximos seis
meses, mas, primeiro, há outras coisas mais importantes a fazer. 6.
6. Comentário de ordem geral.
Concordaram em adiar a discussão dos planos de Harrison para os seis meses seguintes,
até à sessão em que Evans devia encontrar-se com todo o departamento e que duraria um
dia inteiro. «Então, disse Harrison, desejo conversar consigo a respeito da nova
definição das minhas responsabilidades, em que já estou a trabalhar.»
Não raras vezes, o início da gestão mediante integração e autocontrole começa por um
indivíduo que desenvolve a sua própria estratégia e descobre o valor desta. Os subordinados
não tardam a imitar-lhe o exemplo e, passado pouco tempo, outros em seu redor começam
a fazer perguntas e a considerar as suas próprias aplicações da ideia. Se os passos
iniciais forem dados por um dirigente ao nível dos escalões mais altos da organização,
o desenvolvimento da ideia poderá ser mais rápido, mas o processo pode começar em
qualquer escalão. À medida que o interesse vai sendo evidenciado por outros, o departamento
de pessoal1 não raras vezes terá de resolver o problema de convencer a direcção de que
não se trata de nova fantasia ou processo para eliminar pretensões ao restabelecimento
da engrenagem formal tantas vezes considerado como o único requisito necessário para
um novo programa pessoal.
Esta maneira de proceder não acarreta nova série de obrigações além dos encargos
administrativos já existentes. Trata-se, acima de tudo, de uma maneira diferente de
desempenhar as responsabilidades existentes — de «orientar o negócio». Ainda não conheci
nenhum chefe de empresa que, tendo aplicado eficazmente esta estratégia de gestão, se
queixe do tempo que ela requer. Alguns dizem: «Se não é esta a missão primordial do
dirigente, qual será?
Uma crítica da apreciação do comportamento
2. Direcção e controle diários pelo superior nos limites da descrição formal do cargo
. O superior atribui tarefas, fiscaliza a maneira como são executadas e, naturalmente,
espera-se que reconheça umbom trabalho e faça a crítica das deficiências, corrija erros
e resolva as dificuldades do dia-a-dia.
Existe já batante experiência quanto à maneira como esta estratégia geral tende a
traduzir-se na prática. Em que medida satisfaz os fins que pretende alcançar? Vejamos.
A descrição de cargo
Em primeiro lugar, as descrições formais dos cargos põem ao dispor da direcção um quadro
bem arrumado da organização e a convicção tranquilizadora de que as pessoas sabem o que
se espera delas. Estabelecem cadeias formais de comando e delimitam a autoridade, de
modo que uns empregados não interfiram nas atribuições doutros. As descrições de cargo
são uma base para um esquema de classificação equitativa de ordenados desde que se
admita que, na melhor das hipóteses, apenas dão uma imagem aproximada da realidade. No
entanto, não constituem um sistema objectivo de indicar às pessoas o que devem fazer.
Na hierarquia administrativa, é duvidoso que qualquer cargo seja desempenhado de maneira
idêntica por dois funcionários, ou pelo mesmo funcionário durante muito tempo. Não só
as condições mudam, mas, de igual modo, muda a competência e as qualidades de cada um,
bem como a sua percepção de prioridades. As empresas utilizariam uma percentagem menor
do que a que utilizam hoje dos seus recursos humanos se os dirigentes se cingissem às
suas descrições de cargos de preferência a qualquer outro método.
As organizações que se esforçam realmente por utilizar descrições de cargos para efeitos
de controle (o funcionalismo público, por exemplo) acabam por deixar estabelecer-se
uma atitude administrativa, cujo propósito primordial é inutilizar o sistema. O
malabarismo com as descrições de cargo por chefes de serviço que pretendem levar por
diante uma ideia sua — contratar um indivíduo determinado que não tem as aptidões
precisas para o serviço que se lhe destina, fazer um ajuste de ordenado ou legitimar
uma promoção — é fenómeno corrente nessas organizações. Os bons sistemas tornam-se
frequentemente ineficazes devido a tais contramedidas.
As dimensões de um cargo administrativo não podem ser definidas com exactidão para um
empregado determinado, numa série de circunstâncias determinada e em determinada ocasião.
Entre as variantes que influem na «forma» do cargo contam-se:
1. A maneira como superiores, subordinados e colegas desempenham os serviços que
lhes competem. A posição de um director-adjunto responsável pelodepartamento de vendas
, por exemplo, será sensivelmente diferente consoante o director-geral da organização
tiver tido a maior parte da sua experiência nesse sector, ou na investigação ou na
produção.
Vejamos agora em que medida o próprio processo de apreciação conduz aos fins em vista.
Um destes fins é administrativo: os resultados da apreciação são utilizados para
atribuição de ordenados, promoção, transferência, descida de posto e despedimento.
Também neste caso surgem dificuldades.
Em primeiro lugar, o problema da variação nos critérios de diferentes juizes nunca foi
solucionado completa-mente, nem conseguimos eliminar os efeitos das inclinações e
preconceitos de quem faz apreciações. Estas variações entre juizes serão maiores ou
menores segundo o método particular de apreciação utilizado (quando implica apreciações
múltiplas, por exemplo) e o treino de quem julga, mas, em qualquer caso, são substanciais.
A resposta dada num formulário de apreciação à pergunta: «Como é que A se tem portado
?», é tanto função da bagagem psicológica do superior como da actuação do subordinado.
Se pegarmos nestes elementos bastante discutíveis e tentarmos utilizá-los para elaborar
discriminações significativas entre indivíduos, para efeitos de atribuição de ordenados
e promoções, poderemos apresentar um quadro interessante, mas que em pouco corresponde
à realidade.
Finalmente, é relativamente fácil provar como difere a maneira como os chefes de serviço
apreciam o trabalho dos seus subordinados conforme as suas apreciações se destinam ou
não a finalidades administrativas.
Uma empresa utilizou apreciações formais durante vários anos, simplesmente numa base
de consulta entre o superior e os seus subordinados. Os formulários de apreciação eram
conservados num arquivo central, mas subentendia-se que não seriam aproveitados para
qualquer finalidade administrativa.
Resta ainda outro aspecto do contacto, para apreciação, como meio de comunicação. Desde
que a maior parte das apreciações implicam uma estimativa, feita pelo superior, de
atitudes e características pessoais, além do comportamento objectivo, a situação contém
um convite inerente à invasão da personalidade do subordinado. Porque reconhecem o
melindre da situação, muitas direcções aconselham o superior a utilizar a entrevista,
neste caso, com o propósito de «dar conselhos».
É lícito afirmar categoricamente que raros chefes de serviço têm a competência necessária
para praticarem psi-coterapia. Além disso, a situação da entrevista para efeitos de
apreciação, em que o superior desempenha O papel de juiz, é a menos propícia para dar
conselhos. As relações eficientes no capítulo dos conselhos são aquelas em que o
conselheiro é par*e neutra, que não critica nern elogia e se empenha exclusivamente em
promover a saúde e o bem-estar do cliente. Tentar dar conselhos numa entrevista formal
para efeitos de apreciação é uma ilusão tão grande como seria tentar subornar a vítima
durante um assalto à mão armada. Um chefe de serviço, quando emite juízos a respeito
de um subordinado, sugere que este precisa de modificar o seu comportamento em certos
aspectos, e, evidentemente, um e outro pensam que o superior pode aplicar medidas
correctivas ao subordinado se este não se modificar. Sem dúvida, a situação não é
favorável a dar conselhos que sejam ouvidos, muito embora o superior tenha conhecimentos
profundos de psicoterapia. O papel de juiz e o papel de conselheiro são incompatíveis.
Por último, atentemos na finalidade de motivação da apreciação. A ideia ditada pelo bom
senso é que, indicando a um indivíduo o ponto em que está a fraquejar, proporciona-se-lhe
motivação eficiente para se modificar. Mas o certo é que não reagirá assim, excepto no
caso de aceitar o juízo negativo e concordar com ele. Já vimos que esta possibilidade
é bastante pouco provável. Façamos o contraste entre a situação em que um subordinado
aprecia o seu próprio comportamento relativamente a objectivos específicos que se
empenhou em alcançar háuns meses atrás e a situação em que ouve o superior fazendo a
apreciação do seu comportamento em comparação com os seus próprios métodos e objectivos.
No último caso, o ambiente é propício à racionalização, àdefensiva, â incapacidade de
compreender, às reacções no sentido de que o superior está a ser injusto ou arbitrário.
Estas condições não conduzem a uma motivação autêntica.
Será de recordar que muitos chefes de serviço, norteados por concepções como as da
Teoria Y, inventaram adaptações dos processos de apreciação convencionais que evitam
um certo número das dificuldades apontadas anteriormente.
Citaremos como exemplo uma dessas adaptações, simples e relativamente eficaz. O chefe
dos serviços técnicos numa grande organização fabril, que tem um programa de apreciação
típico, distribui cópias do formulário de apreciação aos seus subordinados, todos os
semestres, com este comentário: «Por que não havia de ser V. a preencher este papel,
baseando-se no conhecimento que tem do seu próprio comportamento nestes últimos meses?
Pela minha parte, preencherei outro exemplar a seu respeito. Se estivermos de acordo,
não teremos que nos preocupar muito com a entrevista para efeitos de apreciação. Se
não estivermos de acordo, poderemos conversar sobre a maneira de eliminar as nossas
diferenças de opinião».
É evidente que esta «habilidade», nas mãos de um praticante da Teoria X, seria uma arma
verdadeiramente devastadora! Empregada por este homem, à luz da sua filosofia de gestão,
constitui uma contramedida bastante eficiente ao impacto da engrenagem da apreciação
tal como é utilizada na empresa a que pertence.
As concepções teóricas conduzem muito naturalmente a dizer ao pessoal o que é que deve
fazer, a ajuizar do seu comportamento, a recompensá-lo ou puni-lo, e ao emprego de
processos como os usados na apreciação do comportamento. O facto de esses processos
terem um resultado relativamente positivo deverá certamente ser lançado no activo das
possibilidades de adaptação dos seres humanos. O ponto que mais interessa, no entanto,
é que a estratégia de gestão em que se inspirar não é especialmente apropriada para
controlar o comportamento humano no âmbito da indústria dos nossos dias. Sem dúvida, a
estratégia da gestão, mediante integração e autocontrole, é mais aconselhável para
adultos inteligentes e tem maiores probabilidades de conduzir ao desenvolvimento,
aprendizagem e comportamento aperfeiçoados.
A atribuição de ordenados e promoções
Não será de admirar se, chegado a esta altura, o leitor fizer esta pergunta: «Está tudo
muito certo, mas o que nos diz dos problemas práticos relacionados com a atribuição de
ordenados e promoções? É muito bonito eliminar os formalismos e incitar os chefes de
empresa a evitarem a tarefa espinhosa de formarem juízos a respeito dos seus subordinados.
Mas como deverão ser tomadas as decisões necessárias relativamente a problemas,
transferências, despedimentos? Como é que decidiremos quem merece aumento de ordenado
ou uma gratificação, e por que valor? Auto-apreciação significará autodetermina, ao
quanto a proventos e colocação?
Estas perguntas são legítimas. Para que tenham respostas, parciais pelo menos, será
necessário examinar o método convencional de atribuição de ordenados e salários e de
promoção e colocação.
Como vimos, a existência de uma situação de emprego integral, o nível de vida relativamente
elevado, a mobilidade considerável da população e a presença de várias formas de
legislação social tendem a atenuar um tanto, hoje em dia, o grau de dependência dos
empregados. O dinheiro é essencial para satisfazer muitas necessidades, mas o indivíduo
está hoje menos dependente de um sóchefe do que no passado.
Mas a pergunta mais importante é esta: quanto dinheiro é necessário para tornar efectivo
o contrato de trabalho? Evidentemente, a questão é relativa de vários pontos de vista.
A quantidade de dinheiro necessária é, em primeiro lugar, relativa à concorrência do
mercado do trabalho e às condições económicas em geral, incluindo o custo de vida, o
sistema de contribuições e impostos, etc. Em segundo lugar é relativa à importância do
emprego em causa na hierarquia dos empregos da organização. Em terceiro lugar, é
relativa à contribuição do indivíduo, porque a «produtividade» dos indivíduos no mesmo
trabalho é variável.
O êxito de quem dirige em proceder com equidade mediante o uso da noção de medida varia
segundo a natureza dos problemas em causa. Na determinação de escalões gerais de ordenados
e salários relativos a condições
económicas, deparamos com alguns problemas difíceis, que são atenuados, mas não resolvidos,
por processos sistemáticos. Estudos do mercado, índices do custo de vida, e políticas
como a que consiste em proporcionar vantagens económicas «iguais ou melhores do que a
média»aumentam, evidentemente, o grau de aceitação. No entanto, questões como a do
«saber pagar» da empresa e «da justa parte nos lucros da empresa» atribuída aos empregados
não se prestam à determinação por fórmulas. O que na realidade determina um critério
de medida éafinal o ajuste contratual individual ou colectivo.
Dentro da organização, a determinação de ordenados e salários diferenciados para cargos
particulares faz-se hoje, regra geral, mediante planos de classificação de ordenados e
salários que se baseiam em tentativas sistemáticas para medir a importância dos cargos
em causa. Os dirigentes têm sido razoavelmente bem sucedidos neste capítulo. Existem,
no entanto, algumas faltas de equidade que parece não haver possibilidade de eliminar
com os métodos actuais de classificação. Por exemplo, a diferença entre os salários dos
trabalhadores dos escalões mais altos e os dos escalões mais baixos dos contramestres
é fonte constante de conflitos. Torna-se difícil classificar certos cargos, como o do
investigador científico ou o do dirigente de alto nível. Por vezes, as condições do
mercado suscitam faltas de equidade intransponíveis (a inflação corrente do preço do
mercado para técnicos com cursos superiores afecta fortemente a estrutura dos ordenados)
.
São raros os planos de avaliação dos méritos que tentam sequer alcançar este grau de
precisão científica. Normalmente a estimativa constitui uma série de variáveis que são
simplesmente supostas, sem qualquer teste que permita a correlação com a contribuição
em geral para a empresa. São apreciadas pelo superior do indivíduo, pesadas (ou não)
consoante regras arbitrárias e combinadas de maneira a dar uma «medida» geral do
rendimento. O exame elementar da maior parte destes planos basta para levantar sérias
dúvidas quanto à sua validade.
Temos ainda, como complicação final, que os planos de apreciação de méritos são empregados
para efeito de diferenciações não substanciais, mas mínimas, entre indivíduos. Um poderá
receber um aumento de 3 %, outro de 6 %, outro de 10 %. Como já dissemos, é possível
que o erro provável de avaliação da maior parte dos planos de apreciação seja várias
vezes maior que as diferenciações feitas na sua aplicação. Talvez seja igualmente justo
que a direcção se esforce por guardar sigilo quanto aos resultados da aplicação destes
planos!
Conclusão. São estas as conclusões que me parecem razoáveis no que respeita à atribuição
de ordenados:
(1) O estudo de Herzberg, Mausner e Snyderman, a que nos referimos anteriormente, apoia
a conclusão a que chegamos neste parágrafo. Notam os AÃ. que quando o ordenado era
factor de insatisfação, estava associado à «falta de equidade do sistema de ordenados
dentro da empresa, referindo-se quase sempre esta atitude mais a aumentos de ordenado
do que a níveis absolutos. O que estava em causa era o sistema de atribuição de ordenados,
um sistema em que os aumentos eram conseguidos à custa de grande esforço, ou aprovados
demasiado tarde, ou em que as diferenciações entre empregados recém-contratados e
empregados com anos de experiência no cargo eram demasiado pequenas». Por outro lado,
os aumentos de ordenado eram motivo de satisfação nomeadamente quando acompanhavam bons
desempenhos de cargos. E os AÃ. afirmam: «Seria de concluir que, como factor de atitudes
no âmbito do trabalho, o ordenado tem maior potencial para suscitar a insatisfação do
que a satisfação no desempenho de um cargo». Herzberg, Mausner, e Snyderman. The
Motivation to Work, pp. 82-83.
Esta conclusão não implica que as recompensas económicas sejam destituídas de valor. A
implicação é que uma estrutura de ordenados justa proporciona as melhores recompensas
económicas, mas que os nossos esforços para conseguir maior «produtividade», mediante
o emprego de pequenos incrementos de recompensas económicas dentro dessa mesma estrutura,
não têm sido particularmente eficientes.
Além disso, embora se registem progressos, ainda estamos muito longe de saber sequer
quais devem ser as habilitações capazes de garantir êxito directivo na maioria dos
cargos, sem falarmos já da possibilidade de as apreciarmos. Finalmente, desde que
características de personalidade e factores de ajuste emocional são considerados tão
importantes como factores de experiência, treino, perícia e capacidade intelectual,
temos de encarar o problema de ética a que nos referimos sucintamente no Capítulo I.
Levanta-se realmente a questão da ética do emprego de dados particulares e pessoais (em
contraste com os dados «públicos» sobre actuação, aperfeiçoamento educacional, etc.),
para atribuir promoções e colocações.
2. Os testes sejam utilizados como auxiliares da selecção, e não como base única de
apreciação (é fácil conseguir a aprovação verbal deste princípio, mas é difícil mante-la
na prática, porque a tendência é para confiar nos resultados dos testes. Esta é umadas
razões por que a participação dos dirigentes nesse estudo tem muita importância).
3. Não se modifique a noção de desempenho «bom»e «deficiente». (Uma vez que todo o
método assenta na apreciação original dos candidatos pelos dirigentes, os testes fazem
a discriminação unicamente em termos deste critério. Se os requisitos do cargo se
modificarem, ou os dirigentes mudarem de ideias sobre aquilo que constitui um desempenho
«bom»,os testes tornar-se-ão inúteis, sendo necessário recomeçar o estudo.)
Este sistema de investigação, bastante complexo, não elimina a apreciação dos dirigentes
na atribuição de promoções e colocações. No entanto, o uso de normas e testes uniformizados
(sem tais métodos «por medida»), como base de selecção para o desempenho de cargos
directivos complexos, tornou-se bastante corrente. Muitas firmas comerciais oferecem
serviços deste género. O menos que poderemos dizer é que a evidência da validade destes
métodos é duvidosa. (Mais uma razão para atentarmos na ética das práticas directivas
neste sector. É provável que o dirigente sinta uma certa responsabilidade ao fazer
juízos subjectivos que se reflectem na carreira de um semelhante. Quase todos nós
hesitamos um tanto quando se trata de «fazer as vezes de Deus». No entanto, desde que
haja possibilidade de assentar a decisão numa determinação «científica», torna-se
demasiado fácil alijar essa responsabilidade.)
Quer se empreguem testes ou não, há garantias sobre a concepção dos métodos susceptíveis
de contribuir para melhorar a validade dos juízos dos dirigentes e que contribuirão
para proteger o indivíduo contra as consequências de preconceitos, apreciações deficientes
e outros factores. Contam-se entre as melhores dessas garantias os métodos de utilização
de apreciações de grupo, desde que sejam elaborados cuidadosamente.
O papel do indivíduo. A maior modificação que se torna necessário introduzir nas práticas
habituais no que respeita a promoções e colocações — se quisermos utilizar o princípio
de integração — talvez seja a da relação do «candidato» para com o processo utilizado
. Hoje em dia o candidato tende a ser um peão no tabuleiro de xadrez da organização.
Não raras vezes se fazem planos relativamente à sua carreira, que podem exercer efeitos
profundos nas suas finalidades e necessidades mais importantes. No entanto, é muito
provável que não tenha voz nesses planos e os ignore por completo até à decisão definitiva.
Por outro lado, as necessidades da organização têm uma prioridade que a bem dizer quase
não permite consideração pelas necessidades do «candidato». Quando as suas finalidades
e necessidades merecem alguma consideração, é muito provável que seja no sentido
paternalista de decidir «o que é que lhe convém».
Numa troca de impressões com um chefe de serviço dois escalões acima, que teve interesse
e influência na sua carreira, inquiri se alguma vez tinham pensado nele para um cargo
da 'line'. A resposta foi categórica: «De maneira nenhuma! O forte dele é a técnica».
Há anos que urra empresa adoptou o sistema de perguntar periodicamente a cada dirigente:
«Está candidato a outro cargo? Se a resposta épositiva, fica considerado disponível
para qualquer vaga que possa interessá-lo. Se negativa, é excluído de tal eventualidade,
sem que isso o prejudique. Evidentemente, ser-lhe-á feita a mesma pergunta dentro de
um ano ou dois, e é possível que, então, a sua opinião seja diferente. De qualquer modo,
a decisão parte dele.
Durante os quatro anos aproximadamente que o sistema vigorou, apenas dois casos foram
remetidos ao conselho de revisão. Num deles, a minha decisão foi apoiada, noutro rejeitada.
Entendi que este mecanismo constituía valioso elemento de fiscalização da falibilidade
dos juízos administrativos; por muito curioso que pareça, a decisão rejeitada contribuiu
mais para reforçar do que para enfraquecer a minha posição na faculdade. Sem dúvida, a
própria existência deste modo de proceder, embora usado em raras circunstâncias,
atenuava os sentimentos de dependência nas relações e facilitava-me a tarefa de tratar
situações delicadas.
1. O ajuste dos indivíduos aos cargos — pelo menos aonível dos cargos directivos —
não pode ser umprocesso mecânico porque:
a. Os requisitos dos cargos são mais dinâmicos doque estáticos; modificam-se em função
de muitas variáveis da situação.
3. O princípio de integração exige do indivíduo uma acção mais activa do que passiva
na atribuição de promoções e colocações. Pelo menos, os dados que o interessado tiver
possibilidade de apresentar quanto aos seus interesses, objectivos e qualificações
poderão ser utilizados a fim de o habilitarem a tornar-se candidato activo às oportunidades
de promoção na maior parte das circunstâncias. Os seus objectivos e necessidades —
vistos por ele mesmo, e não simplesmente por terceiros — podem ter influência nas
decisões que se reflectem na sua carreira.
Addendum
Não tenho soluções fáceis a sugerir para os problemas éticos que resultam do emprego
de dados fornecidos por testes e diagnósticos clínicos de personalidade com fins
administrativos. O assunto é extremamente complexo, mas um certo número de comentários
serão oportunos.
Primeiro, afigura-se-me que é possível fazer-se a distinção entre dados fornecidos por
testes relativos às aptidões e capacidades intelectuais, por um lado, e, por outro,
os relativos às características de personalidade. Sem dúvida, a apreciação dos segundos
ainda é muito primitiva, mas o que de sobremaneira interessa, neste caso, é apurar se
a direcção tem qualquer direito moral a invadir a personalidade. A preocupação legítima
da direcção é o rendimento do pessoal. Evidentemente, este rendimento é influenciado
por características de personalidade e ajuste, mas o que é de perguntar é se a direcção
tem direito a ir além do rendimento, até à diagnose das suas causas, guando estas causas
são pessoais e privadas.
A gestão mediante integração e autocontrole pode revestir-se de muitas formas. Uma das
menos conhecidas é o Plano Scanlon. Inspirando-se no seu interesse profundo pela
cooperação sindicato-patronal, o falecido Joseph Scanlon elaborou uma estratégia de
colaboração que tem dado resultados sólidos, tanto em termos económicos como humanos,
em certo número de empresas industriais. Scanlon faleceu em 1956. O seu trabalho está
a ser prosseguido inteligentemente, no MIT, pelo seu amigo íntimo e sucessor, Frederick
Lesieur.
Este método de comparticipação das economias mediante redução dos custos utiliza uma
relação entre o custo do total do potencial humano da organização e uma medida de
produção, como o total das vendas ou o valor acrescido pela fabricação. O segundo termo
nesta relação só poderá ser apurado depois de considerável estudo e análise da empresa
em causa, e é relativamente típico da situação. Dá-se, naturalmente, uma margem para
produtos compostos, inventário, trabalho em curso, etc. Na maior parte das empresas
tem-se adoptado este sistema proporcional em condições relativamente estáveis durante
períodos de tempo consideráveis. De um modo geral, as flutuações acentuadas resultam
de grandes modificações tecnológicas ou económicas.
Esta relação não é considerada como uma medida exacta, infalível e permanente. Para a
sua determinação faz-se uma análise cuidada dos relatórios financeiros da empresa, com
uma boa dose de senso comum e bastante discussão mútua. Está sujeita a modificar-se
de longe em longe, segundo as circunstâncias aconselhem; a história das empresas Scanlon
indica que estas modificações, quando necessárias, não levantam dificuldades de maior.
Por outro lado, os empregados em regime do Plano Scanlon estão aptos a apurar directamente
os resultados das várias modificações e inovações que o seu interesse no bónus estimula,
e portanto a observar a ligação entre o seu comportamento e o rendimento organizacional.
Temos, por consequência, uma compensão autêntica e esclarecida da economia da firma,
adquirida por experiência directa. A educação económica do pontencial de trabalho nunca
levanta problemas numa fábrica Scanlon.
Participação efectiva
Se o Plano Scanlon de nada mais constasse do que desta medida de eficiência organizacional
e do bónus, haveria razão para chamar as atenções para ele, devido às características
atrás referidas, mas, fundamentalmente, não passaria doutro exemplo das muitas variedades
de planos de incentivo e partilha de lucros que, hoje em dia, existem na indústria. A
característica que acima de tudo distingue o Plano Scanlon é a aliança deste incentivo
com outra característica: um método formal que proporciona uma oportunidade a cada
membro da organização para contribuir com a sua inteligência e o seu talento, além do
esforço físico, para o aperfeiçoamento da eficiência da organização. Temos, assim, o
princípio de integração na prática: o meio pelo qual são proporcionadas excelentes
oportunidades a cada membro da organização para satisfazer as suas necessidades mais
elevadas, mediante esforços dirigidos para os objectivos da empresa.
Ao mesmo tempo que esta engrenagem proporciona meios de avaliação e acção, as formalidades
são mínimas.
Numa empresa, em reunião departamental, foi levantada a questão da economia que poderia
resultar do emprego de empilhadores. Com base nesta discussão, um grupo de empregados
que para isso se ofereceram apresentou, três meses mais tarde, um estudo completo das
economias que se poderiam realizar e uma recomendação para a compra de empilhadores,
baseada num exame detalhado dos custos iniciais e de manutenção dos vários tipos
existentes no mercado. O director da empresa declarou, a propósito, que teria tido de
pagar uns milhares de dólares a um consultor estranho à empresa por uma análise igualmente
circunstanciada e competente.
Há centenas de exemplos, nas empresas que adoptaram o Plano Scanlon, de melhoria das
relações entre grupos funcionais, verificada a seguir à aplicação do Plano. Daremos um
só exemplo para apontar o género de situações que se verificam.
Visto que os técnicos, como todos os seres humanos, são falíveis, ocorriam, efectivamente,
erros. Os operários compraziam-se malèvolamente em seguir os planos à risca, muito
embora soubessem que estavam a colaborar num erro dispendioso para a empresa. Uma
expressão corrente dos operários, quando uma peça de equipamento saía da oficina para
ser entregue ao cliente, era: «Ela aívai — e voltará». A completa ausência de confiança
entre operários e técnicos e vice-versa tinha como resultado uma atitude agressiva de
todos para com a organização em geral.
A modificação destas relações tornou-se evidente uns anos depois de o Plano ter começado
a ser aplicado. Os negócios da empresa estavam por baixo, as condições económicas gerais
eram deficientes, tendo havido alguns despedimentos. No fim da Primavera, a empresa
recebeu uma encomenda substancial, mas os projectos a executar para a sua realização
demorariam alguns meses. Se se mantivesse a prática corrente da empresa, de fechar a
fábrica durante as férias do Verão, daria como resultado uma perda de tempo adicional
para os operários, até estarem concluídos os projectos para execução da nova encomenda
. Dada a situação, sugeriu-se ao «comité» de selecção que os técnicos alterassem os
seus planos de férias (que incluíam, naturalmente, marcações de viagens, aluguer de
casas de Verão, etc.), a fim de poderem trabalhar nos projectos durante o período normal
de férias. O «comité» de selecção achou a ideia excelente, mas lembrou que os técnicos
em caso algum concordariam com a alteração dos seus planos de férias. A resposta do
grupo de operários que havia apresentado a sugestão foi simples e directa: «Já falámos
com os técnicos e eles concordaram em alterar os seus planos desde que o «comité»
aprove a ideia».
Nem sempre é tranquila a atmosfera numa empresa do Plano Scanlon. Surgem discussões,
desacordos, diálogos acalorados. Mas a característica que os distingue é
que são quase sempre centrados no problema da melhoria do rendimento. A todos os níveis,
os indivíduos empenham-se no êxito da empresa, e este empenho vai muito além do interesse
pelas recompensas económicas prometidas. Há integração autêntica, empenho autêntico em
alcançar os objectivos da organização, porque representam a melhor maneira de os membros
alcançarem os seus objectivos individuais, quer se relacionem com necessidades biológicas
de base, necessidades sociais, egoístas ou de auto-realização. A aliança das duas
características centrais do Plano Scanlon permite uma oportunidade notável de conseguir
a satisfação de todos os géneros de necessidades humanas. Mas, porque os seres humanos
diferem nos seus objectivos e nas suas percepções sobre a melhor maneira de os alcançar,
verifica-se um desacordo normal, saudável, quanto aos métodos e meios, A característica
de participação do Plano ajuda os chefes da empresa a descobrir o valor autêntico dos
recursos humanos da organização e, com o tempo, suscita um grau de confiança «de cima
para baixo» que é extraordinariamente diferente do que verificamos nas empresas em geral.
Nem sempre são fáceis estas modificações da atitude dos dirigentes da empresa. Nos
níveis inferiores da chefia, nomeadamente nos sectores da 'line', torna-se frequentemente
necessário aprender uma árdua lição. Não é fácil para o encarregado adaptar-se ao que
poderá parecer-lhe uma desagradável quebra de autoridade. Tem de enfrentar francamente
a sua dependência de cima para baixo e lateralmente.
Como atrás dissemos, o Plano, quando aplicado, tende a resolver muitos dos problemas
típicos das relações 'staff-line'. Se é certo que a princípio há bastantes desacordos
e discussões, a confiança mútua e a colaboração entre 'staff e 'line' acabam, em geral
, por se desenvolver.
Os grupos 'staff tornam-se mais recursos da organização do que polícias. O Plano não
distingue entre grupos «produtivos» e grupos «encargos».
O Plano Scanlon não pode ser posto em prática na base de fórmulas, teorias ou programas
convencionais. É realmente um modo de vida, com infinitas variações apropriadas às
circunstâncias de cada empresa. As empresas Scanlon revelam a presença inspiradora de
concepções relativas ao comportamento humano que se assemelham às da Teoria Y. O princípio
de integração é diariamente confirmado na prática.
Algumas perguntas
São várias as perguntas, ainda sem resposta, que dizem respeito a uma aplicação mais
lata desta filosofia de gestão, e que merecem ser atendidas. Em primeiro lugar, o Plano
tem sido aplicado até agora quase sempre em empresas relativamente pequenas, com umas
escassas centenas de empregados. O maior exemplo conhecido é o de uma empresa com 8000
empregados. O estudo da maneira como o Plano funciona indica que a sua aplicação numa
grande organização levantaria dificuldades evidentes. Contudo, existe a possibilidade
de utilizar o método Scanlon à escala de «centros de lucro» divisionários, que são
hoje comuns nas grandes empresas descentralizadas.
Outra questão diz respeito à relação do Plano Scanlon com as condições económicas gerais.
Algumas das primeiras aplicações das ideias Scanlon situaram-se no auge da Depressão,
em empresas que se encontravam falidas ou à beira da falência. Logo os críticos desta
filosofia se apressaram a afirmar que os esforços de intensa colaboração observados
eram função da acentuada motivação dos empregados a fim de defenderem os seus empregos
. E chegavam à conclusão de que o Plano Scanlon poderia dar resultados em condições
económicas de severa depressão, mas não teria certamente êxito em. tempos de grande
prosperidade. Depois da guerra, o Plano tem florescido em empresas francamente prósperas.
Alegaram, então, os críticos que, evidentemente, era de esperar que o Plano fosse bem
sucedido desde que as recompensas financeiras fossem substanciais, mas que o caso seria
bem diferente numa depressão!
Tem-se dito com frequência que as empresas orientadas eficientemente e que registam
resultados favoráveis procederiam erradamente adoptando o Plano Scanlon, porque as
possibilidades de melhorar uma relação «custo do total do potencial humano-produtividade»
convenientemente elaborada seriam ínfimas. Os directores executivos de empresas que
adoptaram o Plano ficaram, por isso, extremamente surpreendidos ao verificarem
melhorias substanciais — não ínfimas. Num caso, o director-geral negou-se pura e
simplesmente a acreditar que havia uma melhoria da ordem dos 20 por cento até reexaminar
circunstanciadamente todos os elementos em que o cálculo se baseava. Tinha a certeza
absoluta de que a sua empresa era dirigida tão eficientemente que o máximo possível
seria uma melhoria de dois ou três por cento.
Outra questão ainda refere-se ao problema de «vender» esta filosofia a uma organização
. Há muito que suponha que o êxito do Plano deve ser atribuído directamente à personalidade
notável de Joseph Scanlon, e que a filosofia não poderia ter sido vendida e não seria
exequível, sem a sua influência directa. Hoje em dia, contam-se muitas empresas Scanlon
cujos membros nunca chegaram a conhecer Joe Scanlon. Os planos foram pótos em prática
durante a última doença de Joe depois do seu falecimento. Fred Lesieur também é,
facto, uma personalidade notável, mas uma personalidade diferente de Joe, e trabalha
à sua maneira.
Torna-se desnecessária uma personalidade marcante algures em cada situação para suscitar
a boa vontade inicial em assumir os riscos decorrentes desta nova filosofia de gestão.
Evidentemente, tamanha modificação da filosofia de gestão não será possível sem um
orientador competente. A experiência tem mostrado que a personalidade requerida existia
na organização e tomou a orientação a seu cargo, enquanto que Scanlon ou Lesieur
desempenhavam os papéis de catalisador, mestre, consultor e, nalguns casos, crítico
rigoroso.
A filosofia Scanlon tem dado resultados auspiciosos, tanto nas fábricas sindicadas como
não sindicadas. A presença de um sindicato eficiente seria factor positivo no êxito do
Plano. Proporciona um ambiente formal de comunicação e discussão nas primeiras etapas
, sobretudo no que respeita ao desenvolvimento da proporção «custo do total do potencial
humano-produtividade». Proporciona uma pressão de certo modo mais organizada para manter
a direcção «no seu lugar» à medida que a aplicação do Plano se desenvolve. É uma garantia
de que não haverátendência para tentar substituir os bónus por uma estrutura de salários
concorrente. Embora tenha sido expressa ocasionalmente a opinião de que talvez a execução
satisfatória deste plano obviasse a necessidade de contratos colectivos, a experiência
não tem confirmado esta previsão. Pelo contrário, as direcções de empresas Scanlon que
estão sindicadas tendem a mostrar-se mais positivas quanto ao valor dos contratos
colectivos, em bases sãs, do que muitas direcções doutras empresas na mesma situação.
É bastante significativa a completa ausência de preocupação da parte das direcções
Scanlon quanto ao problema das prerrogativas do dirigentes. A protecção da sua autoridade
não é preocupação essencial. A confiança nos seus próprios empregados é de tal ordem
que não sentem necessidade de defender o seu «direito a orientar o negócio». Considerando
o género de integração que caracteriza estas empresas, a questão de controle, no sentido
tradicional, perde todo o significado.
Nas discussões que se travam nas Conferências do Plano Scanlon, no MIT, os dirigentes
de empresas dispostos em princípio a adoptar o Plano formulam regularmente perguntas a
propósito dos possíveis desastres que poderiam verificar-se se alterações tecnológicas
ou económicas viessem a tornar necessária uma modificação da «relação» e os empregados
não concordassem com ela, ou se os empregados explorassem em seu proveito o acesso à
informação respeitante à situação económica da empresa, ou se viesse a verificar-se un
i diversidade doutras possibilidades de incursão dos empregados nas prerrogativas dos
dirigentes.
Em conclusão, será interessante notar que o problema das diferenças individuais nas
recompensas económicas aliado às contribuições individuais para o êxito da empresa deixa
de ser um problema nestas organizações. Muitas têm abandonado os planos de incentivo
individual no processo de adopção da filosofia Scanlon. Nalguns casos, manifestaram-se
receios de que, nas novas condições, os grandes produtores baixassem o rendimento. Ora
bem, não só estes receios não foram confirmados, como o nível geral de produtividade,
medido em termos técnico-industriais, aumentou em quase todos os casos. A tarefa
proverbial de vender frigoríficos aos esquimós seria fácil comparada com a tarefa de
vender um plano de incentivo tradicional, ou um plano de avaliação de méritos, à maior
parte das empresas Scanlon. Equidade e motivação realizam-se graças a meios mais
apropriados.
169
Uma perspectiva da participação
A participação é uma das ideias mais mal compreendidas de quantas surgiram no campo das
relações humanas. É louvada por uns, condenada por outros e posta em prática com êxito
considerável por alguns. As diferenças de apreciação entre os seus paladinos e detractores
são a bem dizer tão grandes como entre os dirigentes dos países para além da Cortina
de Ferro e os do Mundo Livre, quando empregam o termo «democracia».
Alguns defensores da participação dão a ideia de que se trata de uma fórmula mágica,
capaz de eliminar conflitos e desacordos, estando muito perto de resolver todos os
problemas de gestão. Tais entusiastas parecem convencidos de que as pessoas estão tão
desejosas por participar como as crianças por guloseimas. Dão a impressão de ser uma
fórmula que pode ser utilizada por qualquer dirigente sem atender à sua competência,
que nenhuma preparação é virtualmente necessária para a sua aplicação e que pode
desabrochar repentinamente e transformar as relações industriais de um dia para o outro.
Por outro lado, certos críticos da participação vêem nela uma forma de abdicação
administrativa, uma ideia perigosa que minará as prerrogativas dos dirigentes e quase
certamente deixará de poder ser controlada. É um conceito que, na sua opinião, se amolda
exclusivamente à gestão «branda». Faz perder tempo, baixar a eficiência e enfraquecer
a autoridade administrativa.
Um quarto grupo de dirigentes aplica a participação com êxito, mas não a considera
panaceia ou fórmula mágica. Não partilha do entusiasmo desenfreado dos primeiros nem
dos receios dos segundos. Recusar-se-ia redondamente a empregar a participação como
habilidade administrativa.
Entre todos estes grupos existe um acordo bastante generalizado —e, no meu entender,
incorrecto— de que a participação se aplica a grupos e não a indivíduos. Nenhum deles
parece considerá-la como relacionando-se de qualquer modo com a delegação. Vendo bem
as coisas, o nome é diferente! Muitos dos maiores entusiastas da delegação não vêem
qualquer interesse na participação.
Considerando tudo isto, não será para admirar que um número razoável de dirigentes
criteriosos encare a questão com bastante cepticismo.
O emprego efectivo da participação é consequência de um ponto de vista administrativo
que tem confiança nas potencialidades dos subordinados, conhecimento da dependência «de
cima para baixo» e empenho em evitar algumas das consequências negativas da ênfase na
autoridade pessoal. É consistente com a Teoria Y — com a gestão mediante integração e
autocontrole. Consiste basicamente em criar oportunidades em condições convenientes
para que as pessoas influam nas decisões que lhes dizem respeito. Esta influência poderá
ir de muito pequena a muito grande.
Suponhamos que um chefe de serviço tomou uma decisão que interessa aos seus subordinados.
As circunstâncias são tais que, no seu entender, o impedem de permitir que participem
na decisão, mas empenha-se em convencê-los a aceitá-la do melhor grado possível. Poderia
organizar uma reunião para lhes dar conhecimento da decisão e das razões em que se
baseia, proporcionando-lhes uma oportunidade para fazerem perguntas. O seu objectivo
seria pôr a decisão à prova, verificar se é aceitável. Se chegar à conclusão de que
suscita acentuado melindre, poderá sentir-se tentado a modificá-la, de preferência a
arriscar possibilidades de vir a ser sabotada. Se a oposição não for grande, os
subordinados terão tido pelo menos uma oportunidade para compreender a razão por que
tomou a decisão em causa e esclarecer alguns aspectos que lhes pareçam obscuros. Uma
discussão como esta — em circunstâncias que permitam autêntica interacção — implica
um grau limitado de participação.
Um terceiro exemplo em que a participação seria maior ainda: quando um superior discute
uma decisão pendente com os subordinados, antes de a tornar definitiva. Neste caso,
estaria pronto a estudar a possibilidade de modificar a decisão proposta, ou de
substituí-la por outra, em conformidade com as considerações expostas na discussão.
Continuaria a ser ele a tomar a decisão, mas esta teria a discussão em conta.
Qualquer dos exemplos que acabámos de citar poderia ocorrer em qualquer nível de uma
organização. A participação não é limitada às relações entre um encarregado e os seus
trabalhadores. Poderá verificar-se entre um director-geral e a sua comissão executiva.
Por outro lado, havendo muitas decisões directivas que interessem a um só subordinado
, a participação é tão aplicável ao indivíduo como ao grupo. O género de participação
a utilizar variará segundo o nível da organização, assim como os outros factores já
referidos.
Gostaria de saber o que é causa e o que é efeito, nestes casos. As direcções que mais
se preocupam com as suas prerrogativas parecem, em geral, encontrar a maior dificuldade
em protegê-las. É possível, pelo menos, que esta atitude de suspeita, quase paranóica,
tenha tendência para suscitar interferência nas prerrogativas da direcção, para criar
alvos a que os empregados apontam prontamente. A sucessão dos acontecimentos nalgumas
empresas equivale a uma autoprofecia: a direcção prevê que determinados factos vão
dar-se e comporta-se de tal maneira que, na realidade, acabam por dar-se. Então a
direcção inverte a causa e o efeito na sua interpretação do sucedido.
De qualquer modo, há actualmente tantos casos em que a participação tem sido usada com
êxito, e sem que tenha enfraquecido sensivelmente a competência da direcção para
administrar, que não vejo qualquer razão válida para preocupações quanto ao problema
das prerrogativas da direcção. A única conclusão a que me parece lícito chegar é que
seria preferível que as direcções que se preocupam acima de tudo com a protecção do seu
poder e da sua autoridade não pensassem mais em participação.
É por de mais evidente que a participação, nos termos que acabamos de expor, está
plenamente de acordo com a teoria geral de todo este livro. Atendendo à interdependência
característica da organização industrial, justifica-se a modificação da natureza
unilateral típica do processo de tomar decisões. A participação, empregada com crietério,
segundo muitas modalidades diferentes, que dependem das circunstâncias, é um auxiliar
nesta ordem de ideias. Trata-se de um processo que difere muito pouco da delegacão no
seu carácter essencial. Com efeito, a participação é um caso especial de delegação em
que o subordinado obtém maior controle e maior liberdade de opção, relativamente à sua
própria responsabilidade. O tempo participação é aplicado usualmente à maior influência
do subordinado em assuntos que se situam na esfera das responsabilidades do seu superior.
Quando estes assuntos lhe dizem respeito e ao seu trabalho — quando há interdependência
— parece razoável que tenha oportunidade de exercer uma certa influência. Por exemplo
, o método de fixar objectivos, de que tratámos no Capítulo V, implica, simultaneamente,
delegação e participação. As ideias atinentes a estes dois conceitos não se excluem
mutuamente, são complementares.
Vista por este prisma, a participação não é panaceia, manobra insidiosa, burla ou ameaça.
Empregada criteriosamente, e com compreensão, é concomitante natural da gestão mediante
integração e autocontrole.
O clima directivo
para dizer às pessoas o que devem fazer, para determinar se o fazem e para administrar
recompensas e castigos. Desde que uma concepção essencial é que as pessoas devem ser
levadas a fazer o que é necessário para o êxito da empresa, a atenção é naturalmente
orientada para as técnicas de direcção e controle.
Por outro lado, a Teoria Y coduz a uma preocupação quanto à natureza das relações, a
criação de um ambiente que estimule empenho em contribuir para os objectivos da organização
A primeira resposta que ocorre poderá ser: as políticas e os métodos da empresa, como
são habitualmente descritos num manual para novos empregados. Evidentemente, são
importantes, mas a correlação entre a qualidade das relações e uma série determinada
de políticas que interessam o pessoal é relativamente pequena. As empresas que aplicam
todos os programas e práticas da praxe poderão ter relações excelentes ou muito pouco
satisfatórias. Determinados programas e práticas, nalgumas empresas, poderão tornar-se
Uma vez que o subordinado depende do superior, ésensível a uma vasta série de factores
, que influem na sua maneira de prever a medida em que será bem sucedido no esforço
para alcançar os seus objectivos. Mais importante do que a existência de políticas
determinadas ou das declarações formais que às mesmas se referem, são as provas da
maneira como são administradas. O comportamento diário do superior imediato e doutras
entidades altamente colocadas na organiação revela alguma coisa das suas concepções
quanto à gestão, que tem. significado fundamental.
pais, que nos indicavam que «tudo corria pelo melhor» nessas relações. As próprias
crianças, muito pequenas ainda, são extraordinariamente sensíveis a manifestações,
absolutamente inconscientes, das atitudes de aceitação ou rejeição por parte dos pais.
Compreende-se que assim seja, dada a extrema dependência da infância e da meninice.
No sentido psicológico, o que está em causa é a sobrevivência.
Embora admitindo que a dependência do subordinado é bem menor nas relações do emprego,
não deixa de ser exacto que a sua capacidade para alcançar os objectivos próprios é
materialmente influenciada pelas atitudes dos superiores. Porá constantemente em prática
a sua habilidade para interpretar o clima das relações, ajuizando das oportunidades de
alcançar os seus objectivos. O clima émais significativo do que o género de direcção
ou o «estilo» pessoal do superior. O chefe poderá ser autocrático ou democrático,
expansivo e cordial, ou distante e introvertido, acessível ou rebarbativo, mas estas
característicãs pessoais são menos significativas do que as atitudes mais profundas a
que os seus subordinados reagem.
O encarregado das oficinas de uma pequena empresa fabril era o protótipo do chefe
«brutamontes». Tratava os operários grosseiramente, era autoritório, ameaçador, portava-se
Estudado o caso, as conclusões foram interessantes. Era tido por «um tipo às direitas»
, que tratava os seus homens com escrupulosa justiça. A despeito da rudeza superficial
, interessava-se com sinceridade e entusiasmo pelos seus subordinados. Quando tinham
preocupações — quer se tratasse de simples questão de alguns dólares para «aguentar»até
ao dia do pagamento, ou de uma crise familiar — ajudava-os como se fosse a coisa mais
natural desta vida, sem suscitar o sentimento desagradável que produz uma atitude
paternalista.
E, o que era ainda mais importante, todos sabiam que estava pronto a bater-se pelos
seus homens, em qualquer ocasião em que entendesse que não tinham sido tratados com
equidade pelos superiores mais altamente colocados. Os operários falavam com admiração
de duas ocasiões, no espaço de dez anos, em que ele entrara impetuosamente no gabinete
do patrão máximo, para exigir a alteração de uma decisão, porque era injusta
para «os seus rapazes». Quando numa delas não foi atendido, despediu-se imediatamente,
pôs o chapéu na cabeça e abalou. O superior foi atrás dele até ao portão, e acabou por
capitular.
Se bem que, possivelmente, este homem deixasse um tanto a desejar no que respeita às
concepções apropriadas de uma boa gestão, foi, no entanto, bem sucedido, desenvolvendo
e mantendo a confiança dos subordinados na sua pessoa. A sua atitude de chefia transpôs
autoritarismo, condescendência, paternalismo, energia e equidade e todos os outros
«estilos» de gestão, para criar uma certeza emocional profunda e satisfatória de
tratamento justo.
nos escalões de que depende na organização. Não basta que o subordinado seja estimado
pelo seu superior, é preciso que este possa fazer alguma coisa por ele. Se o chefe não
puder exercer suficiente influência relativamente a decisões sobre aumentos de salários,
não podem ter confiança em obter um tratamento justo de um chefe que é incompetente.
Temos, nesta ordem de ideias, um exemplo interessante ocorrido numa fábrica que trabalhava
económicas importantes, poderia esperar qualquer compensação em troca. Insistiu com ele
O director-geral não se deixou convencer. No seu entender, uma vez feita uma concessão
deste género, era praticamente impossível retirá-la. No entanto, foi persuadido a
tentar a experiência. Quando o fez, quase no termo das negociações, ficou bastante
surpreendido ao ver que o sindicato concordava, a bem dizer sem discussão. Negociou--se
nova cláusula de promoções, dando ao mérito cem por cento de peso na determinação destas.
A antiguidade continuou a ser um factor, além do mérito, mas apenas na redução do número
Parece-nos explicação plausível desta situação que os operários, ameaçados pela aplicação
que, para eles, fazia sentido: estrita antiguidade (medida puramente objectiva, não
sujeita a apreciações pessoais). No entanto, quando as condições se modificaram de tal
sorte que os mesmos operários passaram a confiar autenticamente em que seriam tratados
com equidade pelos dirigentes, aceitaram de boa vontade uma política da qual esta forma
não merece confiança absoluta provoca ansiedade. É óbvio que nem técnicas, nem fórmulas,
nem qualquer género particular de chefia podem, por si, satisfazer esta necessidade.
As técnicas que são empregadas como «manobras» podem, por outro lado, destruir a confiança
rapidamente.
Recordo-me que uma vez, há anos, acompanhei um chefe do serviço de produção numa visita
à sua fábrica, e que reparei na maneira como exibia a sua memória, cumprimentando pelo
nome próprio e fazendo perguntas a respeito da família a umas boas dezenas de operários.
A despeito do tom caloroso, toda esta exibição tinha aspecto de falta de sinceridade
— e as minhas suspeitas confirmaram--se, uma semana mais tarde, quando o pessoal da
fábrica confiou por maioria esmagadora a defesa dos seus interesses a um sindicato
militante, e soube por um organizador sindical que um factor primordial que influiu na
votação foi a hostilidade violenta àquele chefe de serviço.
por bastante acanhada. Está convencido, por outro lado, de que a maior parte das pessoas
são inerentemente preguiçosas, preferem que outros pensem por elas, desejam uma direcção
forte. Pensa que estão dispostas a explorar em seu proveito as relações do emprego, a
não ser que sejam vigiadas de perto e dirigidas com firmeza. Numa palavra, é fiel adepto
da Teoria X.
É óbvio que esta orientação teórica se reflectirá de muitas e variadas formas no seu
comportamento diário em relação aos subordinados. Não é menos óbvio que, desmascarando
as suas atitudes, estes terão esperanças relativamente limitadas quanto às possibilidades
de alcançarem os seus objectivos, num regime de relações em que estão dependentes dele
.
Durante um período de alguns meses, um grupo de operários de uma fábrica apresentou uma
nada tinha a ver com o assunto que figurava como motivo das reivindicações, mas com o
facto de que o comportamento do seu chefe os levava a pensar que ele os considerava
«estúpidos como portas» e «lixo debaixo dos seus pés». Os homens tinham a convicção de
que nada conseguiriam apresentando reivindicações contra as características altamente
intangíveis do comportamento do chefe, e, por isso mesmo, manifestavam a sua reacção
violenta pondo em causa assuntos descabidos mas tangíveis.
Quando o chefe do departamento do pessoal discutiu a questão com o chefe dos operários
, este acabou por dizer: «Creio bem que é isso mesmo que penso a respeito deles, mas
não imagino o que terei feito para o demonstrar. Sabia que isso dificultaria a minha
tarefa, e por isso mesmo disfarcei a minha maneira de sentir, mesmo quando se tornaram
incómodos com as suas reivindicações».
Vejamos agora um chefe de serviço que adopta uma série de atitudes em contraste com
estas. Forma urna opinião relativamente elevada sobre a inteligência e capacidade do
ser humano médio. Poderá saber perfeitamente que é dotado de uma competência substancial,
mas não se considera membro de um escol limitado. Para ele, a maior parte dos seres
humanos têm verdadeira capacidade para se aperfeiçoarem e desenvolverem, para assumirem
desonestas ou antagónicas. Sabe que existem indivíduos deste género, mas espera não
encontrar muitos no seu caminho. Numa palavra, inspira-se na Teoria Y.
O clima das relações criadas por este dirigente será sensivelmente diferente. Entre
outras coisas, praticará, provavelmente, uma delegação real, proporcionando portanto
aos subordinados oportunidades para desenvolverem as suas próprias capacidades, sob a
sua orientação. Por outro lado, há-de utilizá-los como recursos que contribuam para o
ajudarem a resolver os problemas do departamento. O seu emprego da participação será
revelador da confiança que põe neles.
3. Sair da reunião com uma solução melhor doque aquela por que tinha começado.
Talvez seja agora evidente que o clima altamente importante das relações
superior-subordinado é determinado, não por políticas ou normas, nem pelo estilo pessoal
do superior, mas pelas manifestações subtis, e não raras vezes inteiramente inconscientes,
da sua concepção intrínseca de gestão e das suas ideias a respeito dos indivíduos em
geral. As políticas e normas de administração de pessoal mais bem gizadas e elaboradas
, o treino mais perfeito nas técnicas de supervisão, o conhecimento de todos os segredos
O que esteve implícito em toda esta discussão foi que o superior, no regime de relações
hostil. Além disso, certas personalidades são pura e simplesmente incompatíveis por
motivos que nenhuma das partes poderá remediar grandemente. Mesmo usando as melhores
normas de selecção e colocação, uma situação destas poderá apresentar-se a qualquer
dirigente.
De modo geral, nas relações superior-subordinado, a dependência é maior «de baixo para
cima» do que «de cima para baixo». Quer isto dizer que o superior exerce maior influência
do que o subordinado na natureza das relações. Nalguns casos, situações que se afiguram
Há anos visitei uma grande empresa onde as relações sindicato-patronais tinham sido más
durante muito tempo, até que, uns dois anos antes da minha visita, se modificaram
notavelmente para melhor. A razão da minha visita era que a empresa tinha sido indicada,
A história que a direcção desta empresa me contou era tão simples que seria inacreditável,
se não houvesse provas concretas da sua veracidade. A empresa havia sido atormentada
por um sindicato violentamente hostil. Os dirigentes sindicais locais, eleitos pela
minoria dos membros que se dava ao trabalho de votar nas eleições, eram os piores
«elementos perturbadores» da empresa. Os contratos colectivos eram uma farsa, centenas
de reivindicações eram exploradas ao máximo, sem se atender ao seu valor, as greves
de iniciativa local eram fenómeno corrente, a restrição da produção generalizava-se.
para ajudar os dirigentes dos escalões médio e inferior a compreender e a adoptar esta
filosofia na sua prática diária.
colectivos foram conduzidas com boa fé e numa atmosfera cordata, as greves de iniciativa
Note-se que a direcção continuava intrigada e um tanto incrédula com esta evolução dos
acontecimentos. Só me ocorreu, então, o comentário tão atilado de Clinton Golden: «De
um modo geral, os dirigentes acabam por ter o género de relações de trabalho que
merecem».
dos dirigentes, não apenas relativamente a políticas, normas e técnicas, mas também no
tocante a aspectos subtis do seu comportamento dia a dia, que determinam o «clima» das
relações humanas. Estas manifestações diárias de teoria e atitude, por sua vez,
reflectem-se nas esperanças dos subordinados quanto à possibilidade de realizarem as
suas aspirações e satisfazerem as suas necessidades mediante a sua qualidade de membros
Outro princípio essencial é que a autoridade tem de ser igual à responsabilidade. Uma
vez que a 'line' necessita de determinados serviços para cumprir as suas responsabilidades,
tem de exercer autoridade sobre eles.
Estes princípios poderão ser reconhecidos formalmente nos mapas da organização e nos
guias de cargo, mas não seria possível deduzi-los do estudo das realidades da vida
organizacional! Todos os membros que dirigem sectores da 'line', médios ou inferiores,
estão sujeitos a influências de grupos 'staff' que, psicologicamente, não podem ser
diferenciadas da autoridade exercida pelos seus superiores da 'line'.
Hoje em dia, o clima das relações 'staff - 'line' não reflecte com frequência a qualidade
da confiança mútua descrita no Capítulo X. Correntemente, os dirigentes da 'line'
consideram os grupos 'staff mais como um «tropeço» do que como uma fonte de colaboração.
Consideram-nos preocupados com as suas especialidades acanhadas, ao ponto de não se
interessaram pela prosperidade do negócio como um todo. Têm os pareceres do 'staff por
geralmente impraticáveis, usualmente uniformes. Um chefe de serviço da 'line', que
tentava resolver problemas difíceis levantados pelas relações sindicato-patronais, dizia:
» Não quero nada com gente do 'staff. Ajudar-me-iam a estoirar...»
Por outro lado, os grupos 'staff não têm, frequentemente, melhor opinião da 'line'.
Vêem os dirigentes da 'line' como que preocupados exclusivamente com a preservação da
sua autoridade e independência, não sabendo apreciar convenientemente as qualificações
profissionais e as realizações dos grupos do 'staff, e sendo intrinsecamente hostis a
mudanças e aperfeiçoamentos.
Não raras vezes, estas atitudes são acompanhadas de críticas e ditos, mais ou menos
bem-humorados, cuja hostilidade pouco ou nada é dissimulada. Evidentemente, háexcepções,
mas, regra geral, as relações 'staff - 'line' estão longe de ser ideais. Em conversa
particular com membros de qualquer dos grupos, um comentário casual a respeito do outro
basta, muitas vezes, para desencadear uma torrente de apreciações desagradáveis,
intercaladas com «veja lá se aturava isto...». Nestesi casos, um _termo que nos ocorre
frequentemente é o de «bode expiatório».
São muitos os factores que causam esta situação bastante insatisfatória. Um dos mais
importantes, no meu entender, relaciona-se com a opinião crescente entre os dirigentes
da 'line' de que a autoridade é inadequada como meio exclusivo de controle. Contudo,
esta opinião situa-se mais ao nível da prática do que da teoria, o que acarreta grandes
dificuldades.
O dirigente de nível elevado, que se orienta pela Teoria X, está geralmente apto a
aceitar a ideia de delegação, mas, ao pô-la em prática, vê-se diante de uma perda do
controle em que se baseia toda a sua concepção de gestão. Sente-se tolhido diante da
possibilidade de serem tomadas decisões insatisfatórias; a produtividade poderá baixar
, ele mesmo poderá ser dominado pelas circunstâncias. Uma vez que não tem verdadeira
confiança nos seus subordinados, estes receios são justificados.
Como em geral acaba por descobrir, há felizmente uma maneira de sair do dilema. Pode
delegar e, ao mesmo tempo, manter o controle. Escusa de se apoiar na autoridade no
sentido directo, se puder atribuir a uma terceira pessoa a responsabilidade (1) para
garantir que os subordinados se mantenham dentro dos limites da política estabelecida
e (2) para reunir e apresentar elementos que lhe permitam saber o que se passa, e
intervir a tempo antes que a situação venha a tornar-se séria.
Nesta conformidade, começa por utilizar grupos do 'staff, da contabilidade, uo pessoal
e dos serviços técnicos, para elaborarem e estabelecerem um sistema de controle directivo.
Quando adopta uma política, incumbe o pessoal apropriado da responsabilidade de elaborar
as normas necessárias e verificar que estas são postas em prática. (Vendo bem as coisas,
tomou a decisão essencial; os especialistas que se encarreguem dos pormenores. Além
disso, não pode passar o tempo a preocupar-se em saber se as normas específicas são
acatadas; os seus interesses concentram-se nas políticas e nos resultados. Que o 'staff
«coordene» a aplicação).
Como dirigente cumpre-lhe saber como as coisas correm. Não pode abdicar, mesmo quando
delega. Se puder contar com relatórios diários sobre determinados aspectos cruciais da
operação, e com relatórios semanais e mensais sobre outros aspectos, ficará apto, com
pequena perda de tempo (e sem necessidade de dominar seja quem for, à moda autoritária
antiga) a delegar, sem perder a capacidade para dirigir e controlar.
Agora, as coisas tendem a entrar na ordem. Deixou de exercer autoridade directa, apertada,
nos seus subordinados. Delegou neles. Dirige mediante uma política; as decisões são
tomadas no local da acção; os seus subordinados têm liberdade para cometer erros. Isto
não implica risco, porque dispõe de um grupo de esj~ 3cialistas que acompanham atentamente
todos os aspectos importantes das operações. Pode entregar-se à solução de problemas
de maior vulto, à formulação de políticas, aos aspectos mais importantes da gestão,
porque as coisas estão «bem controladas». Se qualquer coisa não é o que devia ser, o
'staff atenderá a que seja corrigida, ou dar-lhe-á conhecimento da situação, de maneira
a poder intervir antes que se complique.
Uma situação satisfatória —ou uma mascarada? —dependerá das concepções teóricas do
leitor. Existem manuais, artigos e empresas consultoras, destinados a contribuir para
a elaboração deste género de estratégia da gestão, equipados com mapas de controle e
sinais coloridos. Evidentemente, haverá que contar com certas consequências. O 'staff
transformou-se num corpo policial, exercendo por. procuração a autoridade directa
«cedida»pela line'. Surgirão contramedidas de género conhecido, mas serão apontadas ao
'staff e, porque este não égrandemente temido nem respeitado, as contramedidas poderão
ser ainda mais eficientes do que se fossem dirigidas contra a gestão da 'line'. As
investigações têm provado, numa grande medida, que os dirigentes dos escalões médio e
inferior tendem a desenvolver mecanismos de protecção que, embora mais trabalhosos e
consideràvel-mente mais caros para a organização, são psicologicamente idênticos aos
dos operários para inutilizarem a aplicação de planos de incentivos individuais.
As despesas não serão pequenas: os dirigentes dos escalões intermédios não tardarão a
elaborar os seus próprios mecanismos independentes de recolha de dados (utilizando o
tempo dos empregados de escritório) para terem a certeza de que ficarão sabendo o que
se passa, tanto pelo menos como o 'staff. O 'staff' despenderá muitas horas-homens para
despistar anomalias que já foram descobertas e rectificadas na origem. Serão elaborados
métodos engenhosos para contrariar as normas de controle do 'staff, e este terá muito
que fazer, elaborando outras em compensação daquelas. Os antagonismos entre a 'line' e
o 'staff' não permitirão o género de colaboração que é essencial para o alcance dos
objectivos da organização (Exemplos como os referidos no Capítulo VIII, dos empregados
que «executaram os projectos» com cinismo, porque sabiam que, procedendo assim, o
resultado seria um produto incapaz, multiplicar-se-ão repetidas vezes a vários níveis
da gestão). Os controles que o superior, mediante as suas acções, indicar que considera
importantes serão objecto de cuidadosa atenção dos subordinados; outros serão ignorados.
Se despesas como estas forem compensadas pelos lucros, este género de «delegação e con
:ole» terá uma certa viabilidade. Os seres humanos têm um poder de adaptação surpreendente.
Na realidade, porem, são poucas as práticas de gestão com tantas consequências negativas
para a organização, como esta de atribuir respponsabilidades de controle ao 'staff.
Quer esta minha análise das razões que a explicam esteja correcta ou não, a prática (em
diversos graus e formas) está muito generalizada.
Estou convencido de que estes fenómenos são em grande parte responsáveis pelo «efeito
de concertina» que ocorre frequentemente nas grandes empresas. Primeiro, há um movimento
acentuado para a descentralização. Poucos anos depois, uma vez verificadas as consequências
que atrás descrevemos, os responsáveis resolvem que a situação evoluiu em sentido
desfavorável, e dá-se uma travagem geral na direcção da centralização. A incapacidade
para controlar centralmente uma grande e complexa organização conduz, passado algum
tempo, a nova tentativa de descentralização. Há indicações de que este ciclo se verificou,
igualmente, na indústria soviética, embora as manifestações aparentes fossem diferentes.
A lógica que apoia a estratégia de controle atrás apontada é tão subtilmente persuasiva
que se torna difícil discuti-la: cada chefe de serviço é responsável pelos resultados
dentro do sector da organização que está a seu cargo. Tem de prestar contas aos seus
superiores. Evidentemente, só poderá desempenhar-se desta responsabilidade (1) se tiver
conhecimento do que se passa na sua unidade e (2) se se achar apto a corrigir o que não
estiver certo.
Esta lógica é inatacável para quem aceitar as concepções da Teoria X, no sentido de que
a maior parte das pessoas têm de ser mandadas fazer o que é necessário para o êxito da
organização, de que não aceitarão voluntariamente assumir responsabilidades, e de que
são limitadas em capacidade. A gestão mediante direcção e control leva inevitàvelmete
a estratégia idênticas às que acabamos de apontar.
O dirigente industrial trata com adultos que apenas são parcialmente dependentes. Podem
— e não deixarão de o fazer — exercer um notável engenho para inutilizar as finalidades
de qualquer forma de controle exterior que os choque. No entanto, podem — e fazem-no
— aprender a exercer autodirecção e autocontrole em condições apropriadas. É dever do
dirigente ajudá-los a descobrir objectivos, que sejam simultaneamente consistentes com
as necessidades da organização e com os seus próprios objectivos pessoais, e proceder
de maneira a suscitar um verdadeiro empenho em alcançar esses objectivos. Além disso,
deverá ajudá-los a alcançar esses mesmos objectivos: proceder como mestre, consultor,
colega, e só raras vezes como chefe autoritário. Não os ajudará, se tentar conservar
nas suas mãos a direcção e o controle; limitar-se-á a dificultar o seu desenvolvimento
e a incitá-los a tomarem reacções negativas contra ele. Tão-pouco os ajudará a alcançar
os objectivos da organização se criar uma força de polícia, que lhe apresente os
relatórios das suas averiguações e assuma, em parte ou no todo, a tarefa do controle.
Isto poderá desviar o ressentimento, mas intensificará as consequências negativas.
No sector das vendas a retalho, principalmente nestes últimos anos, certas modificações
da atitude da gestão têm dado ensejo a experiências que são instrutivas. Um certo número
de empresas que executam encomendas por correspondência e alguns grandes armazéns
aboliram normas complicadas para fiscalizar as devoluções de mercadorias pelos clientes.
Verificou-se que a grande maioria dos clientes são suficientemente honestos, pelo que
se torna bastante menos dispendioso substituir sem discussão uma encomenda devolvida
do que manter complicados sistemas de investigação e fiscalização. Evidentemente, há
pessoas desonestas. Mas o que está em causa é saber se fica mais económico manter um
sistema para tratar com a grande maioria das pessoas honestas ou adoptar um sistema
para tratar com meia dúzia de desonestas. Nesta ordem de ideias, pelo menos, os dados
são claros: a primeira estratégia é economicamente superior.
E o «staff»?
A utilização inapropriada pelos dirigentes da 'Une' dos grupos ' staff é apenas uma das
muitas causas das relações 'staff'-'line', pouco satisfatórias. Outra, talvez de não
menor importância, é a ideia que os especialistas do 'staff tendem a fazer da sua própria
missão. Muito embora sejam hoje bem maiores as exigências quanto às ciências sociais
no «curriculum» dos diplomados pelo ensino médio, o técnico, ou o contabilista, ou o
especialista em assuntos de pessoal, entra, regra geral, na indústria, com escassa
compreensão do difícil papel que deverá desempenhar, para se tornar membro eficaz de
um grupo 'staff.
A sua educação foi centrada no conteúdo da especialidade que escolheu e nos respectivos
métodos e técnicas. Os problemas complexos que decorrem da utilização eficiente, numa
organização, dos seus conhecimentos e competência especializada raras vezes foram
abordados sequer. Regra geral, desconhece em absoluto as suas atitudes e relações
profissionais.
Não tardará a verificar, naturalmente, que muitos dos seus colegas na organização não
são pessoas sensatas. Além de não se impressionarem, como deveriam, com a sua competência,
não raras vezes contestam os resultados objectivos dos seus estudos científicos, ou
recusam-se a adoptar as suas técnicas de modelo mais recente.
Passado pouco tempo, chegará à conclusão de que muitos dirigentes da 'line' são estúpidos,
não se preocupam bastante com a prosperidade da organização, apenas se interessam pela
defesa da sua autoridade e independência.
Neste estado de espírito, aceita com o maior dos prazeres a incumbência de elaborar um
sistema de medidas para controle da acção do dirigentes da 'line'. Se for contabilista
ou técnico, dará, provavelmente, largas à uniformização e a regras e normas muito bem
delineadas. A função coordenadora é o seu prato forte. No seu entender, tem uma
oportunidade para reduzir às justas proporções os elementos subjectivos, imprevisíveis
, no comportamento humano, e conseguir o género de direcção e controle que melhorará
realmente a eficicácia da empresa. Agora, poderá tirar proveito da sua educação e dos
seus talentos. E finalmente (e inconscientemente) descobre maneira de meter na ordem
quem não sabe apreciar ou compreender os valores do seu campo especializado.
Sem dúvida, não é esta a situação geral, mas é suficientemente vulgar para suscitar
grandes dificuldades nas relações 'staff'-'line'. A Teoria X, para uma imensidade de
especialistas do 'staff, é uma teoria que satisfaz. Explica o mundo organizacional como
eles o vêem. A gestão mediante direcção e controle é um modo de vida natural, não apenas
em relação aos seus subordinados na função 'staff, mas no que toca às suas relações com
os escalões inferior e médio da chefia da 'line'.
O poder do «staff»
O mais curioso de tudo isto é que é o 'staff, e não a 'line', que começa a representar
o verdadeiro poder na organização industrial moderna. De maneira absolutamente
independente da sua função de controle tradicional, os grupos 'staff são quem dá a
possibilidade aos dirigentes de resolver os problemas cada vez mais complexos do mundo
de hoje — nos sectores financeiro, técnico, científico, legislativo, económico e
humano. Os conhecimentos e o treino adquiridos nas suas especialidades, as suas técnicas
para analisar e solucionar problemas, são absolutamente essenciais para o êxito da
empresa moderna.
Afinal de contas, o famoso País das Fadas, onde Alice se perdeu, naó era tão estranho
como poderia parecer...
Como melhorar a colaboração «staff»-«line»
O problema a resolver consiste em criar uma atmosfera de confiança mútua à volta das
relações 'staff'-'line', que incite à colaboração com o propósito de alcançar os
objectivos da organização, de preferência a uma luta de guerrilhas. Para que esse clima
exista, é necessário que tanto a 'line' como o 'staff se compenetrem de que muitas das
suas tentativas actuais para influir no comportamento de outros equivalem a abrir
canais para que a água corra do sopé para o cimo do monte. As modificações necessárias
não poderão verificar-se enquanto as concepções de base forem as da Teoria X. Como
tivemos ocasião de notar, até mesmo as ideias úteis, corrió as de delegação e
descentralização, são completamente deformadas quando se aplicam neste âmbito teórico.
No que toca à 'line', a maior parte das alterações da estratégia que a Teoria Y implica,
discutidas noutro capítulo deste volume, são atinentes às relações com o 'staff. Existem,
porém, duas considerações adicionais que se aplicam com especial significado a estas
relações. A primeira diz respeito ao princípio tradicional de que a autoridade tem de
ser igual à responsabilidade.
Uma vez mais, a lógica é impecável: nenhum indivíduo pode ser legitimamente considerado
responsável por coisas que não pode controlar. No entanto, como já vimos, a ideia de
que pode controlá-las mediante o uso de autoridade é falaz. Já vimos o que é que acontece
quando o dirigente se nega a admitir a interdependência decorrente das suas relações
com os subordinados. As consequências são idênticas quando a interdependência entre o
'staff e a 'line' não é reconhecida.
Este atrito, que é frequente entre os dirigentes dos escalões inferiores da 'line',
responsáveis pela produção, e os responsáveis pela manutenção, provém, pelo menos em
parte, da frustração dos primeiros ao verem-se incapazes de exercer autoridade no pessoal
encarregado da manutenção do equipamento pelo qual respondem. No entanto, segundo a
minha própria experiência, a existência deste atrito nada tem a ver com a circunstância
de a manutenção funcionar como 'staff (e, neste caso, o encarregado da manutenção possui
teoricamente a autoridade necessária) ou fazer parte de um departamento técnico da
'line', separado (e, neste caso, o encarregado da produção não tem autoridade sobre o
pessoal encarregado da manutenção do equipamento). Os raros casos que conheço de
colaboração autêntica entre estes grupos incluem exemplos dos dois tipos de relações
formais.
O princípio de autocontrole
A utilização que o dirigente fizer dos grupos 'staff no contexto da Teoria Y acentuará
o princípio de autocontrole. Considerará o 'staff como um recurso para toda a organização;
consequentemente, não tentará obter dele uma colaboração que possa, de qualquer modo,
ameaçar simultaneamente, os seus subordinados (como seria o caso se os utilizasse como
polícias).
Esta concepção é radical. Significa, por exemplo, que o gerente de uma divisão terá ao
seu dispor dados relativos à divisão, mas não acerca das funções individuais e dos
departamentos que a compõem. Poderá desejar ter conhecimento de dados a respeito da
divisão como um todo, numa base diária; poderá querer um certo número de resultados,
ou informações, sobre muitos aspectos da produtividade da divisão. Poderá orientar-se
de acordo com as suas próprias preferências, desde que não peça pormenores da produtividade
dos seus subordinados individualmente. Em contrapartida, os seus subordinados procederão
da mesma forma, cada qual revendo as informações que considerar importantes para controle
do seu próprio trabalho, mas não do trabalho dos seus subordinados.
Se estes dados sumários indicarem ao dirigente que háqualquer coisa que está a correr
mal na unidade da organização pela qual é responsável, pedirá a colaboração, não do
'staff mas dos seus subordinados, a fim de analisar o problema e corrigi-lo. Não incumbirá
«polícias» do 'staff da missão de localizarem o «culpado». Se os subordinados dispuserem
de elementos para controle dos seus próprios cargos, será muito provável que já tenham
dado pelo mal e corrigido a dificuldade pelos seus próprios meios, ou procurado ajuda
para o fazerem.
A maior parte dos dirigentes pensará, quase certamente, que os métodos deste género são
absurdamente restritivos. No entanto são apresentados assim para tornar absolutamente
claras as implicações do conceito de autocontrole. Na prática poderão ser aceites mais
como ideais do que como exigências positivas.
O autocontrole é um conceico relativo, não absoluto. Poderá ser maior ou menor, segundo
uma diversidade de circunstâncias. Um subordinado cuja nomeação é recente não está apto,
evidentemente, a assumir a responsabilidade de completo autocontrole. Portanto, ele e
os seus superiores poderão assentar na discussão frequente dos dados pormenorizados
que interessam à sua produtividade. Quando qualquer fase da produtividade da organização
assume temporariamente importância primordial, poderá haver necessidade de reduzir o
grau normal de autocontrole. Nestas condições, um superior poderáchegar a entendimento
com os seus subordinados para discutirem imediatamente com ele quaisquer alterações
de vulto relativas a esta variante.
Um dos resultados mais importantes do emprego crescente pela indústria dos especialistas
do 'staff, nos últimos vinte anos, tem sido o desenvolvimento de uma «informação
tecnológica» muito completa. Dispomos, hoje, de métodos de apreciação e reunião de dados
e de análise que seriam tidos por inconcebíveis há um quarto de século. Estes
aperfeiçoamentos exercem enorme influência. Além disso, é lícito esperar, de futuro,
um aperfeiçoamento ainda mais espectacular.
A tragédia está na maneira como a força decorrente deste aumento de conhecimentos tem
sido mal aproveitada. Estamos a desperdiçar os próprios fins que essa força nos permitiria
alcançar, principalmente porque nos falta a capacidade para nos compenetrarmos das
concepções básicas. O controle é tido superficialmente como um conceito simples e prático,
quando, na realidade, é excessivamente complexo.
A estratégia de controle que a Teoria Y implica coloca o 'staff numa posição muito
diferente da que ocupa presentemente. A verdadeira posição (que suscitaria diferentes
perspectivas futuras tanto da parte do 'staff como da 'line') representa uma condição
crucial para um clima de confiança mútua, em que os dois grupos possam colaborar
eficientemente para o alcance dos objectivos da empresa.
O papel adequado de qualquer grupo 'staff (com exclusão de alguns, como seja o departamento
de previsões económicas, cujas relações são relativamente limitadas) é proporcionar
ajuda profissional a todos os escalões de gestão. Nalguns casos, como acontece no campo
técnico, o auxílio é prestado essencialmente a uma ou duas funções, por exemplo: produção
e vendas. Noutros casos, como os da contabilidade e do pessoal, o auxílio é prestado a
todas as outras funções.
A natureza hierárquica da organização tem tido tendência para concentrar a atenção na
ajuda dada ao escaIão de que os grupos 'staff dependem directamente. Para os membros
desses grupos, as recompensas e os castigos partem dali. Por outro lado, o prestígio e
categoria são tanto maiores quanto maior for o nível da «ligação». Nas grandes empresas,
onde há grupos 'staff na sede e nas divisões regionais, é da maior importância que os
primeiros reconheçam e aceitem as suas responsabilidades de prestar ajuda a iodos os
escalões da gestão.
A prestação de ajuda profissional é um processo subtil e complexo. Talvez o ponto mais
crítico — e o mais difícil de ter presente com clareza — é que a ajuda é sempre
definida pelo que a recebe. Tomar uma decisão relativamente a alguém porque «é melhor
para ele», ou porque «é para o bem da organização», talvez exerça influência nele, mas
não lhe presta ajuda, a não ser que seja essa a interpretação do interessado. Os grupos
'staff da sede têm tendência para racionalizar os efeitos de muitas das suas actividades
nas divisões regionais da organização, de maneira paternalista, e, por consequência,
não se apercebem de que estão a basear-se em métodos de controle impróprios. Quando a
influência não dá os resultados previstos, temos a reacção habitual: os que recebem
«ajuda»são tidos por resistentes, estúpidos, indiferentes às necessidades da organização,
etc. A prestação de auxílio, como qualquer outra forma de controle ou influência,
requer adaptação apropriada à lei natural. Neste caso, uma característica importante
da «lei natural» é que a ajuda édefinida por quem a recebe.
Vejamos, sucintamente, quatro géneros de auxílio que o grupo 'staff típico será chamado
a prestar. Devemos recordar que, em qualquer deles, o auxílio é definido por quem o
recebe.
A ideia original do cliente sobre a casa que pre-! tende poderá ser absolutamente
simplista, talvez irrealizável, nalguns casos desnecessariamente dispendiosa. No entanto,
se o arquitecto tomar uma atitude condescendente ou autoritária em relação às ideias
do cliente, este poderá prescindir dos seus serviços (a não ser que tenha um prestígio
tão grande que o cliente o aceite em qualquer caso).
Por outro lado, se o arquitecto aceitar simplesmente as ideias iniciais do cliente, sem
atender ao seu mérito, não servirá o fim para o qual foi contratado. A integração
necessária torna-se possivel desde que haja relações de confianca mútua e habilidade
da parte do arquitecto, não só como profissional mas também como conselheiro.
Um colega do departamento do pessoal de uma empresa fabril foi procurado por vários
dirigentes de um departamento técnico que desejavam que os seus subordinados pudessem
frequentar um curso de leitura rápida. E alegaram: Os subordinados não davam vencimento
à documentação que se amontoava nas suas secretárias, porque não eram suficientemente
rápidos na respectiva leitura. O meu colega convenceu aqueles dirigentes a discutirem
o assunto mais a fundo com ele. Na discussão, assentaram em que haveria vantagem em
analisar a situação mais circunstanciadamente, e assim fizeram, auxiliados por ele. E
chegaram a estas conclusões: o problema não era falta de capacidade de leitura, mas má
distribuição dos cargos, ideia errada dos subordinados sobre o que se esperava deles
e outros aspectos das relações entre aqueles dirigentes e os seus subordinados. A
capacidade de leitura era um factor de pouca importância.
Enquanto que alguns grupos 'staff —um departamento económico é um bom exemplo — se
dedicam especialmente ao planeamento de estratégias em contacto com a direcção do escalão
superior, outros prestam este género de auxílio profissional em bem menor escala do que
seria lícito esperar deles. Por exemplo, são muitos os grupos 'staff que se preocupam
tanto com a administração de planos e programas e com a «extinção de incêndios» que não
cumprem convenientemente esta responsabilidade particular. Outros mostram-se relutantes
em assumir os riscos que decorrem dos esforços tendentes a convencer os seus superiores
de que as suas diagnoses e receitas, elaboradas sem o auxílio profissional do 'staff,
não raras vezes são inadequadas. Hoje em dia, é possível ir-se muito longe na educação
dos dirigentes de níveis mais elevados, mediante auxílio profissional competente no
planeamento de estratégias. Neste caso, a analogia arquitecto-cliente é particularmente
apropriada. Muito do que se tem dito, ultimamente, por exemplo, a propósito da «falência»
da administração de pessoal poderá ser válido precisamente nesta ordem de ideias.
Neste género de auxílio profissional (em contraste com o planeamento de estratégias com
a direcção), o perigo reside em que os grupos 'staff se esquecem facilmente de que os
seus contactos com os dirigentes dos escalões médio e inferior o auxílio é definido por
quem o solicita. Um dos passatempos predilectos dos grupos da sede édecidir, de dentro
da sua torre de marfim, qual o género de auxílio de que os sectores regionais da
organização precisam, e projectar e estabelecer programas para atender a essas
«necessidades». Torna-se então necessário levar as direcções regionais a aceitar o
auxílio prestado, e o 'staff passa a desempenhar um papel diferente: o de convencer os
dirigentes dos escalões médio e irferior a utilizar os programas. Emprega-se
frequentemente o termo «vender» para qualificar este processo, mas o poder dos grupos
'staff na sede (em virtude do seu acesso directo à direcção central) é de tal ordem que
os dirigentes regionais não raras vezes o interpretam como um processo de «pegar ou
largar». As visitas dos membros do 'staff da sede aos sectores regionais destinam-se,
com frequência, única e exclusivamente, a vender estes programas elaborados pela sede,
ou a verificar se os adoptaram ou não.
Este género de auxílio é uma das razões por que o termo «tropeço» é aplicado tão
frequentemente aos grupos 'staff. Pela mesma razão, o amigo a que atrás me referi receava
que o 'staff o ajudasse a estoirar. Por isso, também, muitos dos programas gizados pelo
'staff, que são «comprados» pela direcção, têm resultados medíocres nos sectores regionais.
O auxílio para resolver problemas em todos os escalões da gestão —prestado com competência
e compreensão— é a maneira indicada para suscitar a confiança da 'line' no 'staff. Mas,
hoje em dia, a capacidade necessária e a compreensão do que representa a prestação
deste género de auxílio são, infelizmente, raras, da parte dos especialistas do 'staff
. Nalguns sectores, a educação profissional começa a orientar o ensino nestas bases,
mas a sua necessidade parece nem sequer ser reconhecida na maior parte das escolas
técnicas ou comerciais.
Por exemplo, um membro do departamento do pessoal poderá ser solicitado pela direcção
a pronunciar-se sobre as qualificações ou sobre o com-portamente de um «cliente» em
qualquer escalão mais baixo da organização. Ou poderá, no decurso do seu trabalho
profissional, adquirir a convicção de que um gerente determinado está a prejudicar
grandemente a organização, porque não possui as qualificações necessárias para o
desempenho do cargo.
O mesmo princípio —de que o 'staff' presta auxílio unicamente para efeitos de autocontrole
— aplica-se ao que habitualmente se chama «coordenação», e que significa na realidade
policiamento da organização relativamente às políticas e normas. O auxílio poderá
consistir em informar um indivíduo de que se desviou da linha traçada, ou de que uma
acção projectada seria contrária à política —mas com plena compreensão de ambas as
partes de que o membro 'staff não transmitirá os seus conhecimentos ou opinião seja a
quem for.
Parece-nos oportuna mais uma consideração a propósito do 'staff' e dos meios de controle:
a máxima uniformização não tem necessariamente como resultado a máxima eficiência.
Estas duas variáveis têm uma correlação menos elevada do que muitos especialistas
profissionais imaginam. Na realidade, haverá muito a dizer antes de se definir a meta
da uniformização mínima do comportamento humano que seja consistente com a com-fpetência
para orientar a organização. Esta ideia acaba por contrariar rapidamente as finalidades
e as práticas, nomeadamente de quem trabalha no sector da compilação de dados. Contudo
, o essencial é que a decisão destinada a alcançar os objectivos da organização seja
simultâneamente (1) técnica e cientificamente sã e (2) executada por indivíduos. Se
perdermos a segunda condição de vista, ou se partimos ingenuamente da ideia de que as
pessoas podem ser levadas a executar quaisquer decisões desde que sejam tecnicamente
sãs, correremos sério risco de diminuir em vez de aumentar a eficiência da organização
.
O sistema elaborado pela firma em questão era uma maravilha de eficiência. Compreendia
diversos volumes de listas de peças e normas, e pessoal numeroso para administrar o
programa. Um ano depois de entrar em vigor, os investimentos haviam baixado para o
número desejado.
Numa série de trocas de impressões que tive nessa época com os dirigentes regionais dos
escalões médio e inferior, senti-me pura e simplesmente assombrado com a condenação
veemente do sistema e da maneira como estava a ser executado. Citaram-me positivamente
dúzias de exemplos de despesas substanciais mas desnecessárias que, em resultado do
dito sistema, a organização suportava. Regras e normas que pouco ou nada tinham em
consideração as condições locais, e não proporcionavam praticamente oportunidade alguma
ao exercicio da apreciação da gestão, davam resultados de ordem vária, altamente
insatisfatórios.
Evidentemente, muitos dos gerentes em causa estavam descontentes, vendo a sua liberdade
de acção cerceada e a maneira como se tornavam rigorosas certas práticas a que não
estavam habituados. Mas os exemplos apontados indicavam claramente que o que estava em
causa era bem mais importante. Ouvi dizer com frequência: «se a direcção central não
se preocupa mais do que isto com o esbanjamento e a ineficácia, por que haveríamos nós
de preocupar-nos?» Muitos homens competentes e sinceros manifestaram esta opinião de
uma maneira ou outra: «É certo que, algumas vezes, fomos perdulários, mas não há dúvida,
de que tínhamos interesse na prosperidade da empresa. Poderíamos ter-lhes indicado
muitas maneiras de reduzir o inventário das peças, que continuariam a permitir-nos
trabalhar eficazmente. Mas, agora,, estamos completamente manietados, e chegámos
àconclusão de que nada podemos fazer para modificar estas regras impraticáveis. A gente
da sede não quer dar-nos ouvidos. Portanto, vivemos segundo essas regras, e arranjamos
processos — por vezes bem caros — de as iludirmos. E começamos a sentir que tanto
nos dá que a empresa ganhe como perca.
Quando expus estas reacções dos sectores regionais à direcção central, não foram tomadas
em consideração por serem «manifestações de irritação características de sujeitos cujo
desleixo fora corrigido». O sistema de controle tinha sido elaborado por uma boa empresa;
a sua instalação custou imenso dinheiro; os resultados, em termos numéricos, eram
precisamente os que se pretendiam. E nada mais havia a dizer.
Resumo
Para se criar um clima de confiança mútua nas relações 'staff' - 'line', em que seja
possível a colaboração para alcançar os objectivos da organização, são precisas várias
condições:
Poderá não parecer viável a tentativa de criar um clima de relações 'staff - 'line'
dentro da organização, nos moldes do que é característico das boas relações
profis-sional-cliente na vida particular; no entanto é o que se torna essencialmente
necessário, \penas é possível no contexto da Teoria Y.
Em conclusão
Estamos agora aptos a considerar duas perguntas cheias de interesse, a propósito das
relações 'staff-'line'. Primeira, qual a resposta ao ponto controverso de quem exerce
autoridade e sobre quem?
Na base do que atrás sugerimos, os princípios tradicionais que definem a função 'staff
desaparecem. As relações profissional-cliente são interdependentes; nenhuma das partes
exerce positivamente autoridade sobre a outra, embora haja influência nos dois sentidos.
O dirigente, como cliente, depende dos conhecimentos especializados e da capacidade
do profissional, mas se tentar obter o auxílio de que precisa por métodos autoritários
contrariará os seus propósitos. Não é possível conseguir mediante ordens o esforço de
imaginação, de criação, que distingue o profissional competente do empregado de
escritório convencido dos seus méritos. O dirigente que considera os membros do 'staff
como lacaios prontos a executar as suas ordens nunca poderá obter deles auxílio
profissional. Por outro lado, o dirigente que se considera um cliente que utiliza os
conhecimentos e as capacidades de especialistas profissionais não tentará chegar aos
fins que pretende apoiando-se na sua autoridade sobre eles.
Por sua vez, o profissional depende dos seus clientes. A não ser que estes aceitem e
utilizem o seu auxílio, não terá valor para a organização e, portanto, não haverá
justificação para o seu emprego. Mas, se tentar impor «auxílio» autoritariamente
(directamente, ou aceitando dos seus superiores atribuições de controle e
responsabilida-des de coordenação), colocar-se-á no papel de polícia, que é absolutamente
incompatível com a sua função profissional.
Segunda pergunta: o que é que sucedeu à distinção entre 'line' e 'staff? Em consequência
do nosso estudo sobre a tarefa da direcção da 'line', nos capítulos anteriores deste
volume, tornou-se evidente que as funções mais próprias do dirigente em relação aos
seus subordinados são as de mestre, auxiliar profissional, colega e consultor. Apenas
em grau limitado desempenhará o papel de chefe autoritário. O dirigente da 'line' que
se esforça por proceder no contexto da Teoria Y estabelecerá relações com os seus
subordinados, superiores e colegas, muito semelhantes às do profissional relativamente
aos seus clientes. Será mais um membro profissional do 'staff (embora de maneira mais
geral do que especializada) e menos um dirigente tradicional da line'.
Dentro da organização, as várias funções diferem em muitos pontos (no número doutras
funções com as quais se relacionam, por exemplo), mas não especialmente em termos da
distinção tradicional 'staff'-'line'. Todos os dirigentes, tanto da 'line' como do
'staff, têm responsabilidades na colaboração com outros membros da organização com vista
ao alcance dos objectivos desta. Cada um pela sua parte se empenha em (1) colocar os
seus recursos em conhecimentos, capacidades e experiência ao dispor dos outros; (2)
obter auxílio dos outros para o desempenho das suas próprias responsabilidades e (3)
controlar o seu próprio cargo. Cada um deles tem responsabilidades simultaneamente da
'line' e do 'staff.
Uma das consequências deste método é o significado mais acentuado que o grupo dirigente
adquire em cada escalão da organização. Uma grande parte do trabalho do dirigente —
da 'line' ou do 'staff — requer a sua colaboração com outros dirigentes num regime de
relações em que a autoridade pessoal e o poder têm de ser subordinados às exigências
do trabalho, para que os objectivos da organização sejam alcançados. Uma colaboração
eficaz deste género é prejudicada, e não facilitada, pelas distinções tradicionais entre
'line' e 'staff. O que se pretende é utilizar as contribuições de todos os recursos
humanos disponíveis para conseguir as melhores decisões, soluções de problemas, ou
estratégias de acção.
Os capítulos anteriores deste livro tentam responder às perguntas que fazemos acima.
Os conhecimentos que decorrem do estudo das ciências sociais ajudam a esclarecer ainda
melhor estas e outras perguntas referentes àchefia na indústria. As respostas não são
definitivas. Ainda temos muito que aprender. Mas a evidência acumulada permite-nos
sugerir, com grande margem de probabilidade de acerto, algumas deduções possíveis entre
muitas outras.
Até aos anos de trinta, foi opinião corrente que a chefia era propriedade do indivíduo
, que apenas um número limitado de pessoas possuíam as capacidades e os traços pessoais
que as habilitavam a tornar-se dirigentes. Além disso, supunha-se que capacidades e
traços pessoais eram bens mais herdados do que adquiridos.
No entanto, o estudo das ciências sociais, neste campo, depois dos anos de trinta tomou
novos rumos. Alguns sociólogos começaram a interessar-se pelo estudo do comportamento,
além das características pessoais dos dirigentes. E, como resultado, surgiram ideias
absolutamente novas acerca da natureza da chefia.
Nos últimos vinte anos, os estudos neste campo têm sido prolíficos. Um sumário recente
enuncia 111 referências, seis das quais anteriores a 1930. Na base deste trabalho,
poderemos apontar, com razoável certeza, certo número de ideias gerais sobre a chefia.
Entre elas, as que se seguem são particularmente significativas para a gestão de
empresas.
Até dentro de uma mesma actividade, como a industrial, circunstâncias diferentes requerem
características de chefia diferentes. Provam-no bem as comparações de dirigentes
industriais de mérito reconhecido, em períodos históricos diferentes, culturas diferentes,
indústrias diferentes ou mesmo em empresas diferentes. As condições de chefia numa
empresa de formação recente, em luta para marcar a sua posição, por exemplo, diferem
muito das necessárias a uma firma importante, bem estabelecida.
Muitas das caracteríscas que têm sido consideradas essenciais para o dirigente não
contribuem na realidade para diferenciar o chefe eficiente dos que o não são. De facto
, algumas — integridade, ambição, capacidade de julgamento, por exemplo — devem
encontrar-se não no chefe apenas, mas em qualquer membro eficiente de uma organização.
É sem dúvida exacto que alguns dirigentes de nomeada, em qualquer sector, têm sido
pessoas excepcionalmente dotadas, mas estes chefes proeminentes diferem sensivelmente
uns dos outros nas suas forças e fraquezas. Não possuem um padrão de características
de chefia em comum. Não existem provas concretas, até à data, de que não haja uma gama
básica universal de qualificações pessoais para a chefia. No entanto, poucos dos
sociólogos que nos últimos anos mais estudaram o problema considerariam prometedora a
possibilidade de novas investigações neste campo. Pelo contrário, as investigações dos
últimos vinte anos levam-nos à conclusão de que temos de olhar para além das qualificações
pessoais do chefe para compreendermos o significado da chefia.
A chefia é uma relação
Conhecemos actualmente pelo menos quatro variáveis principais em relação com a chefia:
(1) as características do chefe; (2) as atitudes, necessidades e outras características
pessoais dos subordinados imediatos; (3) as características da organização, como as
suas finalidades, a sua estrutura, a natureza dos trabalho^ a executar; (4) o ambiente
social, económico e político. As características pessoais necessárias ao comportamento
eficiente de um chefe variam de acordo com outros factores.
Esta conclusão é importante. Significa que as qualidades de chefia não são propriedade
do indivíduo, mas uma relação complexa entre estas variáveis. Fica assim resolvido um
velho debate: se é o chefe que faz a história ou a , história que faz o chefe. Dentro
de certos limites, uma e outra afirmação são verdadeiras.
Hoje, a indústria precisa de um tipo de chefe muito diferente do de 1900. De igual modo,
os dirigentes actuais ajudam a moldar as organizações industriais que, amanhã,
necessitarão de pessoas muito diferentes deles nas posições de responsabilidade.
Mesmo não havendo um padrão único das características do dirigente, seria pelo menos
admissível a existência de certo número de características universais da relação entre
o dirigente e os outros factores situacionais que são essenciais a um ideal de esforço
humano organizado em qualquer situação. Mas é duvidoso. Vejamos, por exemplo, a relação
de um dirigente industrial com um grupo de empregados indígenas num país subdesenvolvido,
por um lado, e com um grupo de operários norte-americanos, membros de um sólido sindicato
internacional, por outro lado. Além disso, muito embora a investigação indique, em
conclusão, que tais requisitos universais existem, haverá sempre mais de uma maneira
de os satisfazer. Por exemplo, se a «confiança mútua» entre dirigente e dirigidos é
condição universal, não há dú< da de que existem muitas maneiras de promover e manter
essa confiança.
As conclusões dos estudos feitos até à data sugerem, portanto, que é mais conveniente
considerar a chefia como tuna relação entre o chefe e a situação, do que como um padrão
universal de características na posse de certas pessoas. As diferenças de condições
para uma chefia eficiente em situações diferentes são mais notáveis do que as semelhanças.
Além disso, os estudo- na matéria acentuam a importância das capacidades e atitudes
de chefia que podem ser adquiridas, e não são, portanto, características que nascem com
o indivíduo.
Nas ciências físicas tem sucedido frequentemente que o que era tido por propriedade
inerente dos objectos —gravidade, por exemplo, ou magnetismo, ou massa — provou ser
uma relação complexa entre factores internos e externos. O mesmo se verifica nas ciências
sociais, e a chefia mais não é do que um exemplo.
Qual a implicação prática para a gestão destas conclusões dos estudos das ciências
sociais no campo da chefia? Em primeiro lugar, se aceitarmos o ponto de vista de que a
chefia consiste numa relação entre o dirigente,, os seus subordinados, a organização
e o meio social, e se reconhecermos que estes factores situacionais estão sujeitos a
alterações substanciais com o decorrer do tempo,, teremos de admitir que não estamos
aptos a predizer as características pessoais necessárias à chefia de que uma organização
precisará dentro de dez ou vinte anos. Mesmo podendo enunciar os cargos a preencher,
não poderemos definir adequadamente as características essenciais dos indivíduos a quem
deverão ser confiados esses cargos.
Por consequência, uma das tarefas essenciais da gestão é proporcionar uma existência
heterogénea de recursos humanos, dos quais possam ser apurados indivíduos para satisfazerem
uma diversidade de condições, específicas mas não previsíveis.
Isto é uma desilusão para quem esperava que os resultados da investigação lhe
proporcionassem métodos pelos quais ficaria apto a escolher hoje os directores de am .
nhã. É, por outro lado, um alívio para quem receava as consequências da tendência do
«príncipe herdeiro», no que respeita à evolução da gestão. Comporta, além destas, outras
implicações práticas razoavelmente importantes.
Poder-se-á alegar que a realização intelectual do indivíduo, medida pelas notas elevadas
em todas as disciplinas, é prova de motivação e disposição para o trabalho. Talvez seja
exacto—no âmbito académico—, mas é prova, igualmente, de disposição para se conformar
com as exigências absolutamente arbitrárias do sistema educacional. Há poucas razões
para se Concluir que uma motivação elevada e trabalho intenso na escola são os melhores
prenúncios de motivação e esforço na vida subsequente. São muitos os exemplos que provam
exactamente o contrário.
Por outro lado, o processo de apurar recursos heterogéneos tem de ser contínuo; nunca
chega a completar-sé. Poucos seres humanos conseguem realizar todas as suas potencialidades
de desenvolvimento, muito embora alguns possam atingir um limite prático, relativamente
a determinadas capacidades. Cada indivíduo tem as suas características próprias, e é
esta singularidade que devemos encorajar e alimentar constantemente, se estivermos
verdadeiramente interessados em apurar dirigentes para a indústria de amanhã.
Quarta implicação: a política de promoção da empresa deveria ser orientada por forma a
que todos estes recursos heterogéneos fossem efectivamente tomados em consideração,
quando se abrem vagas. De pouco valerá evidenciar uma vasta gama de talentos, se apenas
um pequeno e possivelmente limitado segmento constituir o campo de candidatos, ao
tratar-se de preencher uma posição determinada.
Finalmente, se a chefia é uma função — uma relação complexa entre chefe e situação —
devemos esclarecer bem que nem todos os candidatos prometedores são membros em potência
para a direcção. Certos indivíduos em certas empresas tornar-se-ão dirigentes fora de
série como contramestres ou encarregados de oficinas. Muito deles não seriam chefes
eficientes na direcção, pelo menos nas circunstâncias que prevalecem na empresa.
Se atentarmos a fundo nas implicações resultantes dos estudos nesta matéria, avaliaremos
devidamente estas pessoas. Procuraremos habilitá-las a desenvolverem ao máximo as suas
potencialidades na função que melhor possam desempenhar. E encontraremos maneiras de
as recompensar que lhes darão a certeza de que consideramos a chefia fora de série, em
qualquer nível, como uma coisa preciosa.
Programas de aperfeiçoamento dos dirigentes
Houve tempo em que era voz corrente que o aperfeiçoamento das qualidades de chefia era
um processo automático que pouca atenção requeria. Pensava-se que o funcionamento
normal da organização industrial permitiria que a nata viesse à superfície, tornando-se
visível e podendo ser retirada quando necessário. À medida que formos considerando o
assunto, tornar-se-á evidente que há bastante a dizer em abono desta teoria, desde que
se criem as condições necessárias para que a nata venha àsuperfície. Contudo, a maioria
das direcções de grandes empresas puseram esta teoria de parte e adoptaram outra
orientação. Depois da segunda guerra mundial, principalmente, assistimos a um
desenvolvimento sem exemplo de programas e actividades para aperfeiçoamento das qualidades
de chefia, em todo o mundo ocidental. Hoje, é raro encontrarmos uma empresa importante
ou mesmo média que não teinha o seu programa formal e um quadro de pessoal para a sua
aplicação.
Se concordamos em que esse aperfeiçoamento não pode ser deixado inteiramente ao acaso,
há várias alternativas a considerar. Muitas empresas têm adoptado uma delas, que poderá
ser qualificada como uma «técnica de fabrico». Os dirigentes não articularam a sua
filosofia nestes termos, mas atentaram no problema como sendo um problema de produção.
Atribuíram a algumas pessoas a tarefa técnica de gizarem um programa e construírem a
engrenagem necessária, com a finalidade de produzir o necessário abastecimento de talento
dirigente. A evidência desta filosofia está aparente em toda a parte. Temos inventários
de dirigentes, mapas de substituição, dotados de números e cores, uma engrenagem formal
para recrutar e seleccionar talento de chefia em potência, programas especiais de
doutrinação para novos candidatos, programas de apreciação, rotação de cargos e uma
imensidade de actividades de treino. A produção de talento dirigente é em si mesma uma
actividade de vulto.
Esta filosofia técnica de aperfeiçoamento dos dirigentes anda de mãos dadas com a gestão
mediante direcção e controle. As necessidades da organização sobrepõem-se a todas as
outras. Os indivíduos são seleccionados, orientados, apreciados, transferidos, promovidos,
mandados tirar cursos — tudo isto dentro de uma engrenagem administrativa que pouca
voz activa lhes permite no desenvolvimento da sua própria carreira. O conceito de
integração não é tanto ignorado como considerado automático. Evidentemente, os homens
«dotados de potencial» querem ir para diante, adquirir uma boa posição, obter recompensas
económicas, melhorar de situação. Portanto, deveriam receber de braços abertos todos
os programas e actividades que se destinassem a satisfazer as suas necessidades.
A maior parte das pessoas quer realmente as coisas que os programas de aperfeiçoamento
de chefia proporcionam. Contudo, cada indivíduo é singular em termos da sua capacidade,
dos seus interesses e objectivos, dos seus talentos. O método técnico de aperfeiçoamento
faz muito quanto a ele e a favor dele, mas, regra geral, partindo da, noção tácita de
que o que é bom para a organização é bom para ele. As características, singularmente
individuais, mutuamente adaptáveis do processo de integração tendem, por este sistema,
a ser esquecidas.
Outro método de aperfeiçoamento de chefia lembra, por vezes, um método agrícola. Em vez
de fabricar talento, «cultiva-o». A ideia fundamental em que o método assenta é que o
indivíduo crescerá até se tornar no que é capaz de ser, desde que nos seja possível
criar as condições convenientes para esse crescimento. Este método acentua menos as
técnicas de fabrico e mais o controle do clima e da fertilidade do solo e dos processos
de cultura.
Evidentemente, uma indústria que se desenvolve a passos largos, que se caracteriza por
uma inovação tecnológica substancial e constante, representa, para o desenvolvimento
do talento de chefia, ambiente diferente do de uma indústria estática ou em retrocesso
, a braços com dificuldades económicas sérias, e na qual a inovação tecnológica é escassa.
As opiniões poderão divergir quanto ao grau em que a direcção pode influir nestas
vastas características do meio, mas é indiscutível que influem na natureza e na percentagem
do desenvolvimento das qualidades de chefia.
Tive ocasião de observar de perto esta diferença, aquando de uma recente visita de
poucos dias a duas empresas. Primeiro visitei a divisão regional de uma grande empresa
, que está a fabricar um dos novos mísseis balísticos intercontinentais. Os homens que
formam esta organização são novos; sentem-se muitíssimo entusiasmados com a iniciativa
que o seu trabalho representa. A tecnologia da indústria está a desenvolver-se tão
rapidamente que se torna quase impossível acompanhar-lhe o ritmo. As modificações e as
inovações — algumas revolucionárias — são a bem dizer diárias. O crescimento é rápido,
e as oportunidades de promoção e de novas experiências ultrapassam as possibilidades
de serem acompanhadas. A bem dizer, ninguém parecia convencido de «estar bem assente
no seu lugar», e, no entanto, era evidente que a organização estava a fazer bom trabalho,
o moral era elevado, e que o pessoal se encontrava em pleno desenvolvimento.
Depois segui directamente para a sede de uma grande empresa ferroviária. O contraste
no ambiente deixou-me pensativo durante muitos dias. Os dirigentes com quem falei
demonstraram pouco ou nenhum do entusiasmo ou do espírito de iniciativa que eram tão
evidentes na outra organização. Regra geral, exprimiram opiniões cépticas quanto às
oportunidades de crescimento e expansão; falaram das normas rígidas da organização e
da ausência de espírito de iniciativa. Muito embora sentissem um entusiasmo fundamental
pelos caminhos de ferro, pareceu-me que se baseava mais no passado romântico do que no
futuro. As promoções e oportunidades de novos cargos eram tidas como essencialmente
dependentes de vagas abertas por morte ou reforma. Sem dúvida, o clima para desenvolver
talentos de chefia nestas condições não é ideal, muito embora esta empresa esteja a
envidar esforços sinceros e razoavelmente eficazes para vencer as suas dificuldades
económicas e melhorar o nível geral da sua capacidade administrativa.
Por exemplo, uma estrutura de organização centralizada, com linhas rígidas entre
departamentos e funções, e muitos escalões hierárquicos, cerceia ao dirigente individual
as oportunidades de assumir responsabilidades, de experimentar ideias novas, de fazer
apreciações. Uma estrutura desta natureza limita o crescimento. Temos aqui um dos
argumentos essenciais a favor da descentralização de vasta margem de controle, tal como
é inerente às organizações do tipo horizontal. Uma organização descentralizada proporciona
um ambiente em que o indivíduo, porque assume maior responsabilidade pelo seu próprio
comportamento, obtém recompensas intrínsecas, sob a forma de satisfações do ego e de
auto-realização que, por seu turno, o incitam a assumir uma responsabilidade ainda maior
e, portanto, a desenvolver-se.
Será a empresa orientada de maneira a que o dirigente individual seja recompensado por
dedicações mesquinhas e esforços concentrados exclusivamente em melhorar execução da
sua função particular, ou é recompensado atendendo ao comportamento que contribui para
os objectivos da organização como um todo? Naturalmente, a direcção está interessada
em que os seus subordinados se preocupem com o negócio, de um modo geral; mas as
recompensas e os castigos aplicados (em conformidade com o tipo de estrutura, os critérios
de comportamento, a política e os sistemas de controle, e com a maneira de proceder e
as atitudes do chefe e dos colegas) poderão ter efeito contraproducente. Haverá
aprendizagem, mas não crescimento no sentido que se pretende.
Quais são as recompensas previstas para o indivíduo que resolve prosseguir uma carreira
no 'staff, ou para o investigador excepcional que não está interessado em entrar na
chefia da investigação? Será a estrutura dos salários de tal sorte que ofereça recompensas
comparáveis para o 'staff e para a 'line' em qualquer escalão? Por exemplo, limita o
ordenado do investigador a não ser que aceite um lugar de chefia? E, para além do salário,
quais são as atitudes predominantes da empresa em relação aos cargos que não sejam os
da chefia da 'line'? Serão estes considerados um «fardo», modalidade de segunda ordem
do «trabalho activo»? A organização tanto precisa de indivíduos que se desenvolvam na
direcção da competência profissional especializada, como daqueles destinados a serem
chefes de alto nível da 'line'. As recompensas e os castigos—tanto formais como informais—
serão de molde a estimular estas duas formas de crescimento?
Vejamos, agora, qual o critério seguido para as promoções. Será a promoção considerada
como a única medida autêntica da eficiência do indivíduo? Nalgumas empresas, o ambiente,
nas atitudes e na prática, é de tal ordem que o indivíduo sem probabilidades de promoção
é tido por um falhado. Diz-se que «tem falta de potencial», ou que «chegou ao máximo
das suas possibilidades». Além desta atitude, em si, ser deprimente, as recompensas
para o desenvolvimento ulterior — ordenado, situação, apreciação, etc. — não existem
(a engrenagem formal não consegue abranger estas excepções). Isto, a despeito da
probabilidade de que, se existissem recompensas apropriadas, ele poderia continuar a
progredir e a aumentar a sua contribuição para a organização, no seu nível actual. O
indivíduo que, por razões pessoais, não está interessado em subir mais degraus na escada
da organização, mas deseja melhorar notavelmente a sua contribuição para a empresa, ao
nível a que se encontra hoje, terá possibilidade de se manter ali, sem se arriscar a
ser punido, de muitas e subtis maneiras por ter feito semelhante opção?
Numa organização em que a promoção é a única medida da eficiência, a maior parte dos
empregados são orientados para o cargo que esperam desempenhar a seguir. Naturalmente,
querem ser promovidos, afim de provar quanto valem, e, portanto, o seu comportamento
no cargo que ocupam baseia-se exclusivamente nas coisas que poderão contribuir para
deixarem de o exercer ! Também isto e aprendizagem em resultado de recompensas e castigos,
mas será crescimento no sentido que a direcção pretende?
Haverá aquilo que Larry Appley tão apropriadamente qualificou de «eliminação oportuna
dos incompetentes .»? Esta modalidade de" punição tem efeitos consideráveis, não apenas
nos indivíduos que possam ser convidados a sair da organização, mas nos que ficarem. É
uma indicação dos padrões de comportamento da chefia, do género de comportamento que
será recompensado.
Ainda há outra política que, com as práticas que lhe são inerentes, influi materialmente
no aperfeiçoamento profissional: a da rotação de cargos, destinada a permitir ao indivíduo
uma gama de experiência mais vasta e a pôr a sua competência à prova. A maneira como
este princípio é aplicado difere grandemente de uma empresa para outra, e as diferenças
na sua aplicação levam a recompensas e castigos absolutamente diferentes.
Numa empresa, os chefes de serviço são transferidos tão rapidamente de cargo para cargo,
através de uma extensa área geográfica, que qualificam correntemente, entre eles, esta
rotação de «gerência de mala na mão». A consequência deste género de rotação não é o
desenvolvimento profissional que a direcção pretende. O indivíduo toma conta de um cargo
sabendo de antemão que, muito provavelmente, o desempenhará por pouco tempo. Não assume
inteira responsabilidade pelas funções que exerce; preocupa-se, apenas, em manter as
coisas em ordem até ser substituído. Não faz inovações, não se arrisca, numa palavra,
não age como um chefe de serviço, mas como se fosse um assistente «actuando» durante a
ausência temporária do titular do cargo.
No outro extremo, situam-se as empresas que utilizam o princípio de rotação apenas num
sentido muito limitado. A rotação é confinada a transferências dentro de um departamento
ou função, pelo menos até que o indivíduo chegue a uma situação relativamente, elevada
. Quando surge uma oportunidade para desempenhar uma função diferente, poderá ter passado
os quarenta anos e encontrar-se num cargo bastante compensador. A não ser que baixe de
posto, a transferência colocá-lo-á num lugar de responsabilidade noutro departamento
ou função. Não raras vezes esta situação comporta riscos. Será objecto de fortes pressões.
Mas o que ainda é mais importante éque, provavelmente, não estará apto a assegurar no
novo cargo a chefia e a orientação que requer a organização que dele depende. Terá de
ser empurrado pelos subordinados. Se, porventura, recusar esta forma de auxílio, e
tentar uma modalidade de chefia autocrática, será muito provável que caia em erros
sérios. Entretanto, a organização que dele depende sofrerá os efeitos da situação,
sobretudo se a rotação nesse cargo for frequente.
O comportamento do superior de quem passa a depender é um dos factores que mais influem
no desenvolvimento do indivíduo que muda de cargo para cargo. O novo chefe poderá fazer
da rotação autêntica experiência de aprendizagem para o empregado, mas, para tanto,
deverádedicar-lhe tempo e atenção consideráveis. E não é natural que assim proceda, a
não ser que, por sua vez, os seus superiores lhe reconheçam n esforços e o recompensem
devidamente. Mais adiante desenvolveremos esta ideia. Por agora bastará perguntar se
quem aplica programas de rotação de cargos terá em atenção este importante factor de
desenvolvimento.
É certo que a rotação de cargos pode ser um meio eficiente de proporcionar oportunidades
para o desenvolvimento dos dirigentes. Dependerá da ocasião em que o indivíduo é
transferido, do cargo que passa a desempenhar, por quanto tempo, sob que género de
controle e da medida em que as suas próprias ambições profissionais são tomadas em
consideração. Todos estes aspectos da aplicação de programas de rotação implicam
recompensas e punições importantes. Supor que a rotação em si é significativa, deixando
à sorte os factores apontados seráo mesmo que utilizar uma engrenagem de maneira a
contribuir provavelmente mais para dificultar do que para facilitar o fim em vista.
No contexto mais vasto do clima criado pela política e práticas da empresa, a estrutura
da organização e a filosofia geral, situa-se o ambiente criado pelo superior imediato
de cada dirigente. Como vimos no Capítulo X, o clima destas relações é crítico. Talvez
seja a influência mais importante a que o aperfeiçoamento da chefia está sujeito.
Todos os contactos entre superior e subordinado têm como resultado uma aprendizagem
qualquer para o se gundo (também deveria acarretar aprendizagem para o primeiro, mas
isso é outro assunto). Quando o chefe dá uma ordem, pede a execução de um trabalho,
repreende, elogia, orienta uma entrevista para apreciação de resultados, corrige um
erro, preside a uma reunião do seu pessoal, trabalha com os subordinados na resolução
de um problema, decide aumentar os ordenados, discute uma promoção possível, ou empreende
qualquer outra acção conjunta, ensina-lhes alguma coisa. As atitudes, os hábitos, as
expectactivas dos subordinados serão acentuados ou modificados em certa medida, em
resultado de cada contacto com o chefe. Esta é a razão por que ,«o treino no próprio
cargo» assume tão grande importância. E é a razão, também, por que os resultados da
aprendizagem em
aulas são frequentemente desanimadores. A experiência do dia-a-dia no próprio cargo que
se desempenha é tão grande que tende a obnubilar o que se pode aprender noutros sectores.
A maior parte das Universidades acentua em especial, como parte da sua política de
promoções, duas responsabilidades essenciais dos membros das suas Faculdades: ensino e
investigação. Embora reconhecendo que os indivíduos nem sempre são igualmente competentes
nos dois sectores, a política formal indica geralmente que serão promovidos aqueles que
evidenciarem qualidades notáveis num deles e pelo menos satisfatórias no outro.
Alguns dirigentes de empresas, cônscios da sua dependência de cima para baixo, prestam
realmente grande atenção ao desenvolvimento dos subordinados, mesmo quando os seus
esforços não são reconhecidos nem recompensados «pelos patrões». São os primeiros a
reconhecer que a sua própria capacidade para dirigir depende em grande parte do
comportamento dos que estão abaixo deles. Outros, que não reconhecem esta dependência
descendente (e são a maioria) preocupam-se mais cum o seu próprio comportamento e com
as suas próprias recompensas e castigos, do que com o desenvolvimento dos subordinados
. A falar verdade, receiam os subordinados demasiado competentes — afligem-se com a
ideia de que os seus pontos fracos sejam postos a claro. Esta orientação de autoprotecção
suscita um clima que, em vez de facilitar, levanta obstáculos ao desenvolvimento
profissional.
Talvez seja agora evidente a razão por que o método «de fabrico» no desenvolvimento da
chefia é menos eficaz do que seria para desejar: faz convergir as atenções da gestão
para objectivos que não são os indicados. Os próprios programas formais poderão ter
efeitos negativos, se o ambiente em si não for dos que conduzem ao desenvolvimento
profissional. Estão de acordo com isto as conclusões dos investigadores, segundo as
quais os programas de treino em aulas serão ineficazes se as matérias ensinadas não
forem apoiad' s pelo ambiente diário no local do trabalho. O mesmo se verifica quanto
aos resultados obtidos com qualquer outra forma de «engrenagem»de aperfeiçoamento de
chefia. Se quisermos melhorar o talento de chefia, teremos de atentar nas condições que
lhe dizem respeito. Algumas são complicadas e dificilmente influenciáveis, outras saltam
à vista e prestam-se a modificações, uma vez convenientemente estudadas.
A função do pessoal especializado no aperfeiçoamento da chefia
Se existir um departamento especializado incumbido do aperfeiçoamento da chefia nas
bases sugeridas pela Teoria Y, é evidente que uma das suas actividades essenciais terá
carácter profissional: planeamento de estratégias com a direcção. Este departamento
interessar-se-ápela atmosfera da organização, tanto no plano geral como no particular.
Estudará a política e as práticas da empresa e tentará auxiliar os dirigentes a
compreender quanto uma e outras significam para o desenvolvimento profissional, de tal
sorte que a estrutura da organização, a política da empresa e o comportamento dia a
dia dos responsáveis contribuam para o aperfeiçoamento do talento de chefia.
A segunda incumbência desse pessoal será a de prestar conselhos e auxílio aos dirigentes
que se esforçam por cumprir as suas responsabilidades quanto ao melhoramento profissional
dos seus subordinados. Este auxílio não poderá ser imposto à organização nem «vendido»
a esta. Um pessoal competente ver-se-á solicitado, em condições apropriadas, a desempenhar
esta tarefa. O auxílio que estiver preparado para dar raras vezes terá aspecto de
minuciosos processos formais ou de cursos de treino «enlatados». Constituirá um auxílio
para que os dirigentes — individual ou colectivamente — descubram e utilizem os meios
que melhor permitam a realização das suas necessidades. A analogia do arquitecto em
relação ao cliente, referida no Capítulo XII, é particularmente oportuna;" rieste caso
.
Passados dois anos, os efeitos desta única actividade tornaram-se evidentes. Alguns dos
chefes que, dois ou três anos atrás, se mostravam recalcitrantes e mesmo adversários
da própria ideia passaram a solicitar o auxílio do pessoal especializado no aperfeiçoamento
da chefia. Os dirigentes directamente dependentes do director verificaram que não lhes
seria possível desempenhar-se desta responsabilidade sem porem em prática um processo
idêntico entre os seus próprios subordinados, e, deste modo, o valor da responsabilidade
pelo aperfeiçoamento da chefia começou a ser compreendido na organização de cima para
baixo. Os próprios dirigentes aprenderam bastante, à medida que se empenhavam em assumir
a nova responsabilidade.
O método não precisava de grande engrenagem formal. Cada dirigente era incitado a
desenvolver os seus próprios métodos para apresentação da sua análise ao director, e
dos seus processos pessoais de trabalho com os subordinados a fim de melhorar o seu
nível. Os membros do pessoal especializado no aperfeiçoamento da chefia estavam prontos
e dispostos a prestar auxílio profissional a quem o solicitasse.
A experiência desta empresa contribui para reforçar uma ideia geral decorrente das
minhas observações no campo do aperfeiçoamento da chefia: não existe praticamente relação
entre o volume de programas formais e de engrenagem criados para esse fim e as realizações
das organizações neste capítulo. Chego mesmo a pensar que essa correlação pode ser
negativa! Programas e processos não suscitam promoção de chefia, porque não é possível
«produzir» chefes como se produzem produtos. Tudo quanto podemos esperar, é «cultivá-los»,
e esta cultura depende menos das ferramentas que empregamos do que do ambiente criado
. Se este ambiente for realmente propício, talvez a tarefa essencial consista em conservar
a terra bem lavrada e arrancar as ervas darinhas.
Nenhuma actividade será provavelmente mais indicada para suscitar um ambiente que conduza
ao desenvolvimento da chefia do que o método de fixar objectivos», descrito no Capítulo
V. No entanto, como verificámos ao discutirmos o assunto, o que está em causa é uma
teoria de chefia, não uma fórmula ou um processo mecânico. A concepção de chefia mediante
integração e autocontrole não poderá ser aplicada satisfatoriamente como programa padrão
e impingida à direcção, mas um pessoal profissional competente poderá ajudar a direcção
a descobrir o seu valor. Procedendo assim, não haverá que arrostar com a tarefa árdua
de convencer a direcção a tornar a sua missão mais pesada ainda. Pelo contrário, a
direcção ficará apta a proceder de maneira que contribuirá melhor para o alcance dos
objectivos da organização e, ao mesmo tempo, fomentará o desenvolvimento dos subordinados.
Se, graças à orientação da direcção, o ambiente e as condições do terreno forem propícios
ao «crescimento», a nata virá à superfície, no sentido em que os chefes de serviço
individuais, em toda a organização, se empenharão num processo de autodesenvolvimento
que levará à realização das suas potencialidades. E, assim, a gestão efectiva da empresa
e o aperfeiçoamento do talento de chefia tornar-se-ão uma única actividade integrada,
e os dirigentes deixarão de precisar de resolver o conflito entre estas duas
responsabilidades.
Como adquirir aptidões de chefia em cursos
O ambiente em que o indivíduo trabalha é o factor que maior influência exerce no seu
aperfeiçoam nto. Se este ambiente não for de natureza a contribuir para o seu
desenvolvimento profissional, nada do que fizemos a seu favor terá efeito positivo. Por
isso mesmo o método de «cultivo» do desenvolvimento das qualidades de chefia é preferível
ao de «fabrico». Este conduz, entre outras coisas, à expectativa nada realista de que
podemos criar e desenvolver dirigentes por meio de cursos.
Um colega meu disse, certa vez, que a finalidade principal da educação formal, para o
dirigente, era aumentar a sua capacidade para aprender através da experiência. Pela
minha parte, acrescentaria outra finalidade: aumentar a sua capacidade para auxiliar
os subordinados a aprenderem através da experiência, isto é, habilitá-lo a aprender
como se cria um ambiente capaz de contribuir para o desenvolvimento de outros.
Alguns dos contramestres mais novos e mais ambiciosos pediram para serem recebidos pelo
director do departamento do pessoal, a fim de lhe exporem esta preocupação: sentiam que
a sua competência de chefia não aumentava em ritmo suficiente para acompanhar as
necessidades da situação. Pensavam que o futuro das suas carreiras na empresa seria
prejudicado se não adquirissem maior competência como dirigentes. O trabalho inicial
que se fez para tentar ajudar aqueles homens desenvolveu-se numa variedade de actividades
de cultura fortemente solicitadas pela maior parte do grupo.
Talvez seja interessante mencionar que a primeira destas actividades não foi um curso
de treino, mas uma série de reuniões destinadas a esclarecer convenientemente as
responsabilidades dos contramestres. À medida que as reuniões se realizavam, os
participantes iam aumentando e acabaram por exceder grandemente o grupo inicial. O
resultado foi uma declaração das responsabilidades dos contramestres, aprovada, a bem
dizer, sem alterações, pela direcção da empresa. Todos os interessados nesta actividade
aprenderam imenso, embora nenhum deles — nem sequer o director do pessoal — a
considerasse um «curso de treino». O mesmo se verificou com város outros projectos
empreendidos ulteriormente pelos mesmos contramestres, com o apoio de elementos do
departamento do pessoal.
Esta forma de educação para o dirigente é importante, não só como estímulo à inovação,
mas como condição de adaptação a um mundo que evolui constantemente. A educação do
dirigente deveria ser um processo contínuo, e poderá ser ajudada periodicamente mediante
a sua participação nesses programas de ensino formais. Por outro lado, algum tempo
depois de haver terminado os estudos e de tomar contacto csm algumas das realidades da
vida da organização, encontrar-se-á frequentemente apto a aprender muito mais do que
lhe seria possível anteriormente. Nós, que leccionamos nestes programas, fazemos
correntemente a verificação de que os chefes experientes comprendem e assimilam a matéria
dos cursos com facilidade bem maior do que os estudantes que ainda não tiveram grande
contacto com o mundo industrial.
Finalmente, convém reconhecer que as actividades alheias às lições, numa aula, constituem
parte significativa de muitos destes programas universitários. Em primeiro lugar, tem
muito interesse a necessidade que os frequentadores destes cursos têm de reservar grande
parte do seu tempo a leituras de um género de que muito provavelmente se desabituaram
desde que terminaram os estudos. Muitos participantes nestes programas contam que a
experiência lhes reacendeu o interesse pelas ideias intelectuais, e que, uma vez de
regresso a casa, passaram a ler muito mais obras do género intelectual do que nos anos
anteriores. Seguem-se actividades como, por exemplo, a excursão dos Bolseiros da
Fundação Sloan a Washington, durante o ano em que frequentam o MIT (Massa-chusets
Institute of Technology). Naquela cidade, têm ocasião de trocar impressões com funcionários
superiores dos departamentos executivo, legislativo e judicial do nosso governo. E
adquirem, em consequência, uma perspectiva e visão das relações indústria-governo que
dificilmente adquiririam exclusivamente nos cursos teóricos. Noutro programa executivo
do MIT, os participantes no curso têm várias oportunidades de contacto com os serviços
de investigação universitária, nalguns dos sectores técnicos e científicos mais importantes,
explorando com eles as fronteiras da cultura e da investigação, e vendo com os seus
próprios olhos alguns dos desenvolvimentos futuros mais prováveis e susceptíveis de
interessar a gestão da indústria. Também isto ocorre fora do ambiente das salas de aula
e constitui uma experiência que não seria fácil realizar fora do meio universitário.
Muitas empresas que têm despendido verbas enormes com o envio de dirigentes a cursos
universitários começam a adquirir do valor real da experiência. A «estimativa» do impacto
deste género de educação nos chefes de empresas tem sido motivo de muita discussão, nos
últimos anos. E há um perigo autêntico em que a insistência nessa estimativa nos leve
a tentar fazer apreciaçoes erradas e a falsear, consequentemente, o valor autêntico da
cultura universitária. A finalidade da maior parte destes cursos universitários
generalizados não é, nem deve ser, a aplicação prática directa dos conhecimentos
adquiridos ao cargo de chefia. Não pretendem dar respostas a problemas ou tricas do
negócio. Destinam-se a dar ideias mais largas aos dirigentes acerca do cargo que
desempenham, a esclarecer algumas das suas ideias feitas e a torná-los mais aptos a
aprenderem com a experiência do seu trabalho, já que terão adquirido uma compreensão
mais realista das causas e efeitos que os defrontam. A medida em que este género de
educação tiver resultados vantajosos não se revelará em modificações imediatas e óbvias
do seu comportamento. Muito provavelmente, o acréscimo de cultura reflectir-se-á de
maneiras bastante subtis, de que talvez nem os próprios interessados se apercebam.
Apesar de tudo, estas mudanças de percepção reflectem-se no comportamento, e algumas
vezes de modo profundo. Sem dúvida, é natural que a direcção queira poder apreciar os
resultados dos programas universitários no desenvolvimento da chefia, mas será conveniente
que se compreendam as finalidades destes programas de modo a fazer juízos apropriados.
Chegou a altura de perguntar quem é que deve frequentar estes cursos e quando. É de
ponderar, a propósito, a integração entre as necessidades individuais dos dirigentes,
a disposição para aprender, e a experiência anterior, por um lado, e os requisitos da
organização, por outro. Não precisamos de atender ao problema numa base de massa ou de
tratar o indivíduo como uma peça de xadrez.
Para o desempenho do seu cargo, o dirigente não precisa de grande variedade de Aptidões
manuais correntes. Poderemos citar como exemplos destas aptidões: aprender a conduzir
um automóvel, a manejar um torno, a jogar o golfe, a tocar um instrumento musical, a
escrever à máquina. O estudante de ciências adquire um certo número de aptidões mediante
a aplicação de métodos científicos, nos seus trabalhos de laboratório.
Será útil olhar para este género de aprendizagem quando tratarmos dos conhecimentos de
interacção social, que, para os dirigentes da indústria, têm grande importância. Os
dois géneros de aprendizagem têm muitos pontos em comum, muito embora a aptidão manual
se adquira com facilidade bastante maior.
Para se adquirir uma aptidão manual é preciso prática, ou seja, a experiência actual
acompanhada pela anterior. A simples aprendizagem a título de experiência poderádar
bons e rápidos resultados se for convenientemente orientada, mas o indivíduo não poderá
aprender se não praticar e receber indicações acerca do êxito dos seus esforços. Regra
geral, neste género de aprendizagem, as indicações são relativamente directas e imediatas:
por exemplo, no golfe, a bola desvia-se do caminho que deveria seguir, ou o «hn» em
vez do «nh» aparecem na folha de papel introduzida na máquina de escrever. O trabalho
correcto do mestre, isento de esforço, significa evidentemente um nível de execução em
que todas as regras são cumpridas, a bem dizer inconscientemente, e no qual muitos
actos originariamente descontínuos se fundiram num todo.
Grande parte do trabalho dos dirigentes consiste em resolver problemas. Estes incluem
a organização das suas actividades e das dos seus subordinados, o planeamento (em
circunstâncias antecipadas ou não), a escolha das suas próprias estratégias de chefia
e uma vasta gama de outras actividades que implicam decisões. São necessárias aptidões
para diagnosticar problemas, adquirir e interpretar dados importantes, elaborar e
comprovar soluções alternativas e reunir antecedentes relativos à eficiência tanto da
solução como do processo empregado para chegar ao fim em vista. Estas aptidões podem
ser melhoradas, e os cursos são um dos métodos utilizados com este objectivo.
Uma grande empresa procedeu a um estudo, que não foi publicado, no qual se concluía que
a maneira como um dirigente procedia para com os erros dos seus subordinados era o
factor mais importante para se determinar se a sua delegação neles tinha verdadeiramente
eficiência — se aprendiam a assumir a responsabilidade das suas próprias realizações.
Este género de educação poderá fazer-se nos cursos mediante a colaboração dos próprios
interessados. O comportamento dos participantes no exercício de solucionar problemas
é observado directamente e torna-se subsequentemente objecto de discussão crítica.
Embora seja exacto que a representação de um papel não corresponde à vida real, é curioso
notar-se que assume aspectos surpreendentemente reais quando desempenhada nas condições
apropriadas. Por outro lado, proporciona ensinamentos, porque é uma situação «segura»
(as consequências são limitadas à sala do curso), em que os interessados podeTi praticar
formas de comportamento que talvez não estejam dispostos a adoptar na vida real. Além
disso, o «papel» poderá ser desempenhado mais de uma vez, a fim de comprovar métodos
diversos, o que proporcionará oportunidades para criar antecedentes que, no desempenho
de um cargo, raras vezes se verificam.
Outro método ainda, que permite maior visão e compreensão, se não melhora directamente
a aptidão para resolver problemas, é a comparação, em condições determinadas, com as
ideias de terceiros que têm de resolver problemas do mesmo género. Como já disemos, os
dirigentes de várias empresas e diferentes indústrias que frequentam durante algumas
semanas programas universitários aprendem muito em discussões uns com os outros, fora
das aulas. Os assuntos discutidos no curso incitam àexposição de pontos de vista e
permuta de experiência que bem pode ser motivo de aprendizagem para todos aqueles que
ainda não conhecem todas as soluções propostas.
Citaremos outro método, o «clínico», que tem dado bons resultados na aquisição de
conhecimentos deste género: um grupo de dirigentes relacionados de muito perto (um chefe
de departamento e os seus subordinados, por exemplo), encontra-se com um «monitor»,
para estudarem em conjunto os problemas que, no desempenho dos seus cargos, se esforçam
correntemente por resolver. Assim, o «monitor» tem oportunidade de os ajudar a fazer
uma crítica, não apenas dos problemas, mas dos métodos que utilizam para a sua solução
, adquirindo os alunos compreensão dos «processos» que usam para resolver problemas e
para aumentar a aptidão em relação a eles.
Cada ser adulto tem uma história bastante complexa de experiência neste campo, e os
conhecimentos adicionais são profundamente influenciados por essa história. A partir
da infância, a capacidade para alcançar as suas finalidades próprias e satisfazer
necessidades — a sua «sobrevivência social» — tem sido função das suas aptidões para
exercer influência em terceiros. Estão em causa correntes emotivas profundas (necessidades
inconscientes como as que se relacionam com a dependência e a contra-dependência).
Possui um grande «investimento do ego» nos seus conhecimentos e capacidades nesta área
, e as defesas que levantou para proteger esse investimento são fortes e psicologicamente
complexas.
Bem se poderá dizer da maioria de todos nós que, quando em situações organizacionais
estão em causa os nossos superiores ou subordinados, reagimos (inconscientemente, é
claro) a necessidades internas, receios e esperanças, em maior medida do que agimos em
relação àsituação propriamente dita.
Tentamos exercer autoridade ou conseguir aceitação, orientar ou assumir um papel de
menor importância, lutar ou recuar, para evidenciar os nossos talentos ou dissimular
os nossos pontos fracos —não tanto porque assim o exige a situação mas mais pela nossa
própria maneira de ser.
É verdadeiramente difícil adquirir novas aptidões de interacção social no contexto
destes factores. As palestras para efeitos de inspiração, ou a discussão dos princípios
de controle, ou ainda as conferências sobre as relações humanas, podem proporcionar-nos
palavras novas, talvez uma visão diferente do comportamento de terceiros, mas raras
vezes mais do que novas racionalizações com que defender o nosso comportamento presente.
A intensidade do investimento do próprio ego nos conhecimentos que possuímos e nas
acções presentes é suficientemente grande para urdir as nossas concepções de maneira a
ajustarem-se às necessidades.
Mas, o que é mais importante ainda, é que, regra geral, são escassas as noções de valor
autêntico que temos do impacto do nosso comportamento em terceiros. Quando não procedem
como nós queremos, é fácil censurar a estupidez deles, a maneira de ser deles, as
peculiaridades deles. Só em condições extremas, os nossos subordinados tentam sequer
dizer-nos a maneira como o nosso comportamento os afecta. Quando, algumas vezes, os
nossos superiores fazem uma tentativa deste género, temos dificuldade em compreender
qual será a sua finalidade, e na maior parte dos casos discordamos da maneira coma
apreciam as nossas atitudes. Acima de tudo, este género de apreciações não é geralmente
considerado de bom gosto na maior parte dos ambientes sociais. Em compensação, o nosso
comportamento é discutido pelos colegas quando não estamos presentes, e não podemos,
portanto, colher ensinamentos.
Finalmente, com o investimento do ego que todos nós temos nas nossas actuais aptidões
de interacção social, e com as defesas que erguemos para proteger a nossa féna sua
validade, raras vezes nos sentimos fortemente motivados a modificar a nossa maneira de
ser. Inconscientemente, receamos um malogro inevitável se «experimentarmos» comportamentos
que diferem materialmente daquele que aprendemos com tanta dificuldade e durante tão
longo tempo. Aceitamos, evidentemente, uma pequena inovação ou técnica de somenos
importância, mas não uma grande modificação estratégica que implique a aquisição de
aptidões novas e desusadas.
Nenhum dos métodos de ensino que descrevemos tem por resultado modificações autênticas
das aptidões de interacção social. Um indivíduo ou outro poderá ter falhado ou esbarrado
com dificuldades tão frequentemente que se sentirá disposto a adquirir novas aptidões.
Os indivíduos cujas aptidões já são idênticas às que estão a ser ensinadas poderão
torná-las um pouco mais completas. Mas não são estes os resultados que se pretendem.
No entanto, atendendo a que os padrões sociais se modificam de tal sorte que a doença
mental deixa de ser considerada como a única justificação para p psicoterapia esta
modalidade de educação tende a ser utilizada em maior escala. Grupos de sociólogos,
como os da Clínica Menninger, preconizam aplicações de psicoterapia a problemas de
chefia. Dirigentes individuais, que sentem necessidade de auxílio, começam a convencer
-se com menos dificuldade do que no passado a procurarem-no mediante consultas e terapia
psicológicas. Nos próximos dez ou vinte anos, assistiremos, provavelmente, a evoluções
notáveis nesta ordem de ideias.
O outro método consta de uma forma de treino «laboratorial» que foi desenvolvido nos
últimos doze anos por certo número de sociólogos, membros do National Training Laboratory
for Group Development, de Washington. Esta organização, que depende da Associação
Nacional de Educação, promove uma série de programas anuais em diversos pontos do país
. Os programas são dirigidos por sociólogos, alguns deles professores universitários,
outros profissionais que trabalham em empresas privadas e outros ainda empregados em
organizações oficiais, industriais ou sociais. Todos eles participaram activamente com
o National Training Laboratory no desenvolvimento dos seus métodos ou em investigações
neste campo.
O fulcro deste método para aperfeiçoar as aptidões de interacção social é o Grupo «T»
(treino). Consta de uns dez a quinze indivíduos e um monitor, que se reúnem durante uma
série de períodos sucessivos. Geralmente os programas são dados em duas semanas, em que
o Grupo «T» tem reuniões diárias de duas horas. O próprio grupo proporciona os temas
de ensino através da for" ia de comportamento dos participantes nas reuniões. Este
comportamento inclui interacções sociais de todos os géneros utilizados pelos indivíduos
para desenvolverem a sua compreensão (1) do impacto sobre terceiros da sua maneira de
proceder, (2) das suas reacções ao comportamento de terceiros e (3) dos fenómenos da
actividade em grupo e respectivo significado. Uma vez que a participa^ cão no Grupo «T
» implica prática e experiência anterior, de uma só natureza, há oportunidade para
melhorar as aptidões de interacção social.
Num Grupo «T», a experiência anterior reveste-se de importância especial, porque difere
sensivelmente da que é regra geral apresentada quando situações de grupo estão em causa.
Essa experiência é exposta pelo monitor, mas é, acima de tudo, permutada pelos
participantes no treino. As «regras do jogo» estabelecidas pelo grupo são importantes.
Orientados pelo monitor, os participantes acabam geralmente por distinguir as diferenças
entre a prestação de auxílio e a tentativa para controlar ou punir um membro entre
analisar e interpretar a adaptação de um membro (que é coisa proibida) e informá-lo do
impacto que causa em terceiros. Não raras vezes, observa-se o desenvolvimento de elevado
grau de sensibilidade e aptidão, que se desenvolve nestes grupos à medida que os
participantes se auxiliam mutuamente a aprender.
Como é lógico, o Grupo «T» destina-se a facilitar os géneros de comportamento que mais
possam contribuir para o conhecimento da interacção social. Certos aspectos das
actividades diárias em grupo são atenuados ou mesmo suprimidos. Por exemplo, o monitor
não assume a chefia que um grupo de «estudantes» esperaria normalmente. O que dá ern
resultado uma espécie de «vácuo de autoridade» e uma grande dose de comportamento que,
àmedida que o tempo passa, se transforma na base da aprendizagem. Não existe agenda,
excepto a que o próprio grupo determina. Não existem normas de trabalho em grupo (como
as Roberfs Rules o f Order), excepto as que o próprio grupo resolve adoptar.
Se, como poderá suceder, a experiência do Grupo «D»lhe revelar o que está a fazer aos
outros e a ele mesmo, poderá, em resultado, melhorar consideràvelmente a sua aptidão
para a interacção social. No entanto, ficaria com a impressão de fazer figura de parvo
se, de regresso ao emprego, dissesse aos colegas que tinha aprendido as consequências
de falar de mais. Sentiria maior dificuldade ainda em expor o seu caso, se houvesse
compreendido verdadeiramente a significação intrincada desse comportamento na sua
modificação.
Esta modalidade de educação nada tem de misteriosa. Apenas é original na medida em que
se destina a suscitar condições em que os interessados podem — se quiserem— melhorar
o seu conhecimento e o dos outros, e as suas aptidões para a interacção social. Tende,
na realidade, a demonstrar impressionantemente como é difícil e complexo aprender a
fundo coisas simples. Portanto, ao descrevê-la, é muito provável que o participante não
consiga dar uma ideia muito exacta. Contudo, a crescente procura de oportunidades para
conseguir este género de educação prova que as suas consequências são autenticamente
significativas.
Note-se, a propósito, que as críticas no sentido de que estes programas são exemplos
de «mentalidade de grupo», que criam subserviência e conformidade com pressões sociais
, que minam o individualismo e sufocam o espírito criador, baseiam-se numa ignorância
absoluta dos métodos de educação em causa. Praticamente, todas as pessoas que participaram
nos programas do NTL darão testemunho do contrário. Aprende-se a influência que a pressão
de grupos pode ter, mas, ao mesmo tempo, aprende-se o valor que podem ter os recursos
de um grupo para a realização das aspirações de cada indivíduo. Por outro lado, aprende-se
alguma coisa da maneira de contrariar aquela influência e utilizar as características
apontadas em segundo lugar.
Como no caso da psicoterapia, estes métodos de treino laboratorial nas aptidões para
interacção social serão grandemente completados e aperfeiçoados nos próximos anos. No
entanto, já evidenciaram amplamente o seu valor.
Em resumo
O que contribuiu para explicar esta situação anómala foram as relações existentes entre
o director do departamento e os vários dirigentes, tanto da 'line' como do 'staff, que
dependiam dele. Hácerca de dois anos que desempenhava aquele cargo, e havia criado um
notável espírito de equipa no grupo em questão. Trabalhavam em conjunto e manifestavam
ao mesmo tempo um grande empenho em alcançar os objectivos fixados em comum e um elevado
grau de colaboração informal com vista ao êxito da sua tarefa. Parecia não atribuírem
grande valor aos limites formais entre as suas res-ponsabilidades. O que acima de tudo
lhes interessava era fazerem um trabalho eficiente com os meios que entenaiam serem
os mais apropriados. O resto da organização do departamento reflectia as atitudes destes
homens.
Um estudo sobre grupos de directores chegou à conclusão de que 85 por cento das
comunicações dentro dos grupos se faziam individualmente entre os subordinados e o
superior, e 15 por cento, apenas, lateralmente, entre os subordinados. Muitos dos
dirigentes que falam das suas «equipas» de subordinados ficam aterrados ao verificarem
como é baixo o nível actual de colaboração entre eles e como é elevado o grau de
suspeita e antagonismo recíprocos. No entanto, e regra geral, são estes mesmos dirigentes
que suscitam as próprias condições que, se fossem conhecidas, os aterrariam. E procedem
assim porque manejam os indivíduos, em vez de os ajudarem a formar um grupo autêntico.
O indivíduo ou o grupo?
A questão dos grupos na chefia de empresas tende a provocar muitos melindres. Há os que
não têm qualquer espécie de inclinação para o trabalho em grupo e parecem convencidos
de que uma organização pode funcionar satisfatoriamente na base de relações entre pares
de indivíduos. Em muitas empresas, por exemplo, os «comités»são escassamente apreciados
e tornam-se objecto de comentários pouco elogiosos.
William H. Whyte, da revista Fortune, no seu Organisation Man, vai ainda mais longe.
Alega que a actividade em grupo tem o efeito de nivelar inferiormente os indivíduos,
impõe conformidade e rejeita a expressão do individualismo, anula a actividade criadora
e, de modo geral, dificulta e limita a actividade humana.
Estas ideias negam as realidades da vida organizacional. A verdade é que muitas actividades
não podem, positivamente, ser desenvolvidas, nem muitos problemas solucionados, numa
base individual ou mediante relações de duas pessoas. O problema do grupo contra o
indivíduo de modo nenhum é um problema de alternativa. Há actividades que são próprias
do indivíduo, outras que são próprias do par de indivíduos e outras próprias de grupos
mais vastos. Nas condições convenientes, o esforço em grupo pode ter vantagens positivas.
Por outro lado, quando ignoramos a necessidade de acção em grupo e tentamos resolver
certos problemas em termos de relações de um indivíduo com outro, as consequências
poderão ser seriamente negativas.
Nos últimos vinte anos, porém, envidaram-se esforços intensivos com vista a estudos
eficientes sobre o comportamento em grupo, e os resultados começam a ser verdadeiramente
compensadores. Kurt Lewin e os seus colaboradores iniciaram este trabalho nos anos de
trinta, fazendo a eles próprios uma série de perguntas científicas bem ponderadas: Qual
o comportamento dos grupos orientados directamente para uma tarefa, e em que é que este
comportamento difere (se é que difere) do comportamento noutras situações? Haverá
variantes peculiares às forças que intervêm em situações de grupo? Neste caso, quais
as consequências?
Acontece frequentemente que um novo campo de estudo, porque evidencia achados que põem
em causa convicções assentes de longa data e inspiradas emotivamente, suscita considerável
hostilidade. A intensidade das reacções provocadas pelo estudo de Darwin sobre a evolução
atenuou-se gradualmente com o tempo, e hoje consideramos que este campo é ligítimo e
cientificamente respeitável. Para as gerações mais novas torna-se bastante difícil fazer
uma ideia da intensidade dos sentimentos provocados, há meio século, pelas soluções
apresentadas por Darwin. No entanto, alguns dos nossos contemporâneos ainda se recordam
do julgamento Scopes, no Tenessee que, durante algum tempo, encheu os jornais, de lés
a lés. A psicanálise de Preud suscitou hostilidades que ainda hoje não se dissiparam
por completo. O campo da dinâmica tem enfrentado dificuldades semelhantes.
Era natural que os primeiros investigadores, à medida que verificaram que havia
características do esforço em grupo que distinguiam esta forma de actividade humana das
outras, fizessem convergir a sua atenção para situações práticas. Começaram por perguntar
o que era que as pessoas poderiam fazer para se tornarem mais eficientes, quando em
grupos. À medida que este campo de aplicação se desenvolvia, houve, naturalmente, quem
o subestimasse e houve, também, quem se dispusesse a explorar a descoberta por sua
própria conta. Enfim, houve que arrostar com as reacções de quem receava que a ênfase
no comportamento em grupo viesse a minar a sua autoridade. E a dinâmica de grupo adquiriu
má fama.
Tentemos alhear-nos por momentos das nossas ideias feitas — pró ou contra — relativamente
às actividades em grupo, e considerar em termos comezinhos alguns dos aspectos
característicos de um grupo eficiente e bem organizado. Ocasionalmente, tomamos contacto
com uma equipa dirigente, ou com uma série de reuniões de pessoal ou de comissões,
realmente eficientes. O que é que distingue estes grupos doutros menos satisfatórios?
4. Cada membro escuta o que os outros dizem! A discussão não dá o aspecto de saltitar
de uma ideia para outra, sem relação entre elas. Todas as ideias são atendidas. As
pessoas não receiam parecer idiotas ao exporem uma sugestão original, muito embora toque
as raias da audácia.
Por outro lado, não existe «tirania da minoria». Os indivíduos que discordam não dão
ideia de tentarem dominar o grupo ou de manifestarem hostilidade. O seu desacordo é
expressão de uma diferença de opinião autêntica, e esperam ser escutados, a fim de se
tentar encontrar uma solução.
Algumas vezes surgem desacordos de base que não podem ser resolvidos. Mas o grupo entende
possível viver com eles, aceitando-os se bem que não permitindo que contrariem os seus
esforços. Em condições determinadas, a acção será adiada, a fim de permitir novo estudo
de uma solução pelos membros do grupo. Outras vezes, quando não há possibilidade de
aplanar o desacordo e a acção é necessária, esta será decidida, mas com a garantia e o
reconhecimento de que fica sujeita a revisão ulterior.
6. A maior parte das decisões são tomadas por uma espécie de consenso em que é evidente
que todosos membros estão de acordo sobre a generalidade do assunto e dispostos a ir
para a frente. No entanto, é escassa a tendência dos indivíduos que contrariam a acção,
para manterem a sua oposiçãosó para eles, permitindo, por consequência, que um consenso
aparente disfarce um autêntico desacordo.
As votações formais são mínimas: o grupo não aceita uma simples maioria como base
apropriada para acção.
9. Uma vez decidida uma acção, as atribuições são distribuídas claramente, e aceites.
10. O presidente do grupo não o domina, nem, pelo contrário, o grupo se lhe submete
indevidamente. Na realidade, à medida que observamos a situação, verificamos que a
chefia se desloca de tempos a tempos, conforme as circunstâncias. Atendendo aos seus
conhecimentos ou experiência, vários membros são considerados, ocasionalmente, como
«recursos» para o grupo. Os membros utilizam-nos nesta qualidade e eles passam, entretanto,
a desempenhar papéis de chefia.
Há escassas provas de luta pelo poder dentro do grupo. O que está em causa não é quem
tem mais autoridade, mas sim a maneira de executar o trabalho.
11. O grupo tem consciência do seu próprio trabalho. Detém-se frequentemente para
examinar as condições em que o faz, ou qualquer factor que possa levantar dificuldades
à sua realização. O problema poderá ser o modo de agir, ou um indivíduo cujo comportamento
prejudica a realização dos objectivos do grupo. Seja o que for, tudo é discutido
francamente até se encontrar uma solução.
Tem-me sido muito grato fazer parte, por diversas vezes, do grupo das seis ou oito
pessoas que presidem aos programas de treino patrocinados pelo National Training
Laboratory. Nunca deixo de me sentir impressionado com a demonstração de eficiência da
acção em grupo feita pelos colegas que se retinem para elaborar o programa.
E o mais interessante é que cada grupo tem uma composição diferente. Alguns dos seus
membros podem ter trabalhado juntos anteriormente, mas há sempre vários membros novos.
Poucos minutos depois da reunião começar, sentem-se tanto membros do grupo como se
dele fizessem parte hámuitos anos.
2. Alguns dos circunstantes tentam dominar a discussão. Não raras vezes, os seus
argumentos afastam-se da matéria debatida. Poucos se esforçampor conservar o grupo no
bom caminho.
3. Pelo que se ouve dizer, torna-se difícil apurar qualé a tarefa do grupo ou que
objectivos pretendealcançar. Podem ter sido expostos inicialmente pelopresidente, mas
nada prova que o grupo compreenda ou aceite uma finalidade comum. Pelo contrário,
é quase sempre evidente que pessoas diferentes têm objectivos diferentes, particulares
e pessoais, que se esforçam por alcançar dentro dogrupo e que estes se contrariam
frequentemente uns aos outros e contrariam a tarefa do grupo.
4. As pessoas não ouvem realmente o que as outras dizem. As ideias são ignoradas
e atropeladas.A discussão salta de uma coisa para outra com escassa coerência e
sem sentido de orientação numa via determinada. Picamos com a impressãode que se
fala muito para fazer efeito — as pessoas fazem discursos obviamente mais destinados
a impressionar alguém do que a contribuir para a tarefa empreendida.
Em conversa com os membros do grupo, finda a reunião, verificamos que não exprimiram
ideias ou sentimentos com receio de serem criticados ou tidos por idiotas. Alguns pensam
que quem preside à reunião ou os seus próprios colegas estão constantemente a fazer
apreciações a seu respeito, em termos da estimativa das contribuições que prestam, e
por isso mesmo medem com extremo cuidado as palavras antes de as dizerem.
5. Regra geral, o grupo não tenta resolver os desacordos satisfatoriamente. Estes poderão
ser suprimidos por completo se quem dirige a reunião receia conflitos. Por outro
lado, poderão levar auma guerra aberta, o que terá por consequência o domínio de um
subgrupo por outro. Poderão ainda ser «resolvidos» por votação em que umamaioria muito
pequena ganha a partida, e uma minoria grande fica completamente céptica.
7. As decisões relativas à acção tendem a ser pouco explícitas —ninguém sabe realmente
quem é que vai fazer e o quê. Mesmo quando se atribuem responsabilidades, surgem
frequentemente dúvidas consideráveis quanto ao seu desempenho.
8. Subentende-se que quem preside à reunião é quem dá ordens. Poderá ser fraco ou forte
na matéria,mas senta-se sempre «à cabeceira da mesa».
11. O grupo tende a evitar qualquer discussão da sua própria «manutenção». Não raras
vezes, finda areunião, discute-se muito o que não estava certo e porquê, mas não é
hábito levantar estes assuntose toma-los na devida consideração durante a própria reunião,
quando poderiam ser solucionados.
Por que será que tantos grupos dão o aspecto de caberem melhor neste exemplo do que no
primeiro? As razões são várias. Em primeiro lugar, quase todos nós confiamos pouco na
acção em grupo. A nossa experiência com grupos realmente satisfatórios tem sido tão
limitada que não temos noções claras do que ela poderá ser. Em segundo lugar, poucos
entre nós temos conhecimentos suficientes do que é importante para o bom funcionamento
em grupo. Ignoramos as conclusões da investigação corrente acerca das condições
essenciais para que as operações em grupo sejam eficazes, e, por isso mesmo, as nossas
tentativas para melhorar um grupo determinado nem sempre são as mais apropriadas.
Por detrás de todos estes factores, encontra-se frequentemente uma atitude mais funda,
associada à Teoria X: a chefia mediante direcção e controle é prejudicada pela eficiência
do trabalho em grupo. O princípio de «dividir para governar» é eminentemente aconselhável
a quem pretende exercer autoridade pessoal sobre os subordinados. É o melhor processo
de os dominar. Mas, se o superior admitir a existência da intricada interdependência
que caracteriza a indústria moderna, e se estiver menos interessado em autoridade pessoal
do que na criação de
condições que permitam a utilização dos recursos humanos ao seu dispor, com o fim de
realizar as finalidades da organização, empenhar-se-á em construir um grupo forte.
Reconhecerá que o maior empenho em alcançar os objectivos da organização e a melhor
colaboração para lhes dar realidade requerem géneros de interacção característicos, que
apenas podem encontrar-se num ambiente de grupo altamente éificaz. De facto, apenas um
ambiente de grupo poderá desencorajar a discussão e a adopção de decisões em muitos
assuntos que prejudicam a sua organização. Dará plena expressão à ideia de «equipa»,
com todas as implicações presentes no caso de uma actividade desportiva.
O grupo de trabalho assim encarado torna-se uma unidade da organização tão importante
como o indivíduo. Os dois não se contrariam. Num grupo verdadeiramente eficiente, o
indivíduo encontra algumas das suas maiores satisfações. Mediante o trabalho de equipa
e a actividade em grupo, podem ser solucionados muitos dos difíceis problemas
organizacionais de coordenação e controle. No entanto, haverá que atender a um certo
número de condições para que estes valores se realizem.
Terceira, teremos de aprender a fazer a distinção entre as actividades que são próprias
dos grupos e as que o não são.
Na medida em que estas condições existem, poderemos fazer um certo número de descobertas
interessantes. Por exemplo:
4. Numa equipa de chefia eficiente, os aspectos da competição «cão e gato», que são
positivamente hostis à realização dos objectivos da organização, podem ser grandemente
atenuados pelo desenvolvimento da «unidade de propósitos», sem diminuição da motivação
individual.
Não me parece provável que venha a ser rápida a transição da nossa concepção de uma
empresa cujo padrão sejam as relações individuais, para outra cujo padrão sejam as
relações entre grupos. Precisamos de aprender muito e pôr de parte demasiados preconceitos.
Mas estou convencido de que essa transição é inevitável, com o decorrer do tempo. Não
poderemos manter a longo prazo a esperança de orientar a empresa complexa, interdependente
e baseada na colaboração que é a empresa industrial dos nossos dias, baseando-nos na
premissa, inteiramente alheia à realidade, de que ela assenta em relações individuais.
O preço desta atitude — embora na sua maior parte dissimulado e não admitido — é
totalmente injustificável. Quando algumas direcções de empresas começarem a descobrir
as vantagens, tanto económicas como psicológicas, do trabalho em equipa verdadeiramente
eficaz, as consequências do achado constituirão estímulo suficiente para acelerar a
transição.
As modas vão como vêm. O facto fundamental da capacidade do homem para colaborar com
os seus semelhantes em grupo há-de sobreviver às modas e acabar por ser reconhecido.
Então, e só então, a chefia da empresa descobrirá em que medida não apreciava
convenientemente o verdadeiro potencial dos recursos humanos ao seu dispor.
CONCLUSÃO
Embora alguns leitores possam achar a comparação descabida, vivemos numa época em que
o progresso da teoria das ciências sociais permitirá inovações que, presentemente, são
inconcebíveis. Algumas constituirão modificações máximas da organização e chefia da
empresa económica. A capacidade do ser humano médio para a criação, o aperfeiçoamento,
a colaboração, a produtividade (em toda a acepção da palavra) é bem maior do que
admitimos hoje. Se não destruirmos a vida neste planeta antes de descobrirmos a maneira
de permitir que o homem utilize a sua capacidade para criar um mundo em que possa viver
em paz, é possível que o próximo meio século seja portador das modificações sociais
mais notáveis da História da Humanidade.
Hoje em dia, os dirigentes encontram sérias dificuldades nas suas tentativas para inovar,
relativamente aos aspectos humanos da empresa, em consequência de inadequadas teorias
convencionais de organização. Baseando-se em concepções não válidas e limitadoras do
comportamento humano, estas teorias tapam-nos os olhos a muitas possibilidades de
invenção, da mesma forma que as teorias da ciência físicas de há cinquenta anos impediam
a própria percepção da possibilidade do radar ou das viagens espaciais.
Não importa muito que a chefia da empresa aceite as concepções da Teoria Y. Elas
correspondem a interpretações dadas por um homem aos conhecimentos correntes das ciências
sociais, e hão-de ser modificadas — possivelmente suplantadas — por novos conhecimentos,
dentro de curto prazo. Mas é importante que a chefia da empresa abandone concepções
limitadoras, como as da Teoria X, a fim de que as invenções futuras relativas aos
aspectos humanos da empresa sejam algo mais do que modificações mínimas de concepções
já obsoletas do esforço humano organizado.
Concepções teóricas, como as da Teoria Y, implicam um certo número de condições que não
são viáveis na prática (como o vácuo perfeito, na teoria física). Isto não representa
obstáculo; estimula a invenção e a descoberta. Concepções como as da Teoria X não nos
propõem qualquer padrão, excepto o das realizações presentes e, por isso mesmo, incitam-nos,
como Joe Scanlon gostava de dizer, a «olhar para o passado, de costas para o futuro».
Não é propósito deste livro convencer quem dirige a escolher entre a Teoria X e a Teoria
Y. Pretende, antes, levá-lo ao convencimento de que a teoria é importante, incitá-lo a
rever as suas concepções e a torná-las explícitas. Procedendo assim, abrirá uma porta
para o futuro. O possível resultado seria, nas próximas décadas, uma modificação dos
aspectos humanos da empresa, comparável à que se verificou na tecnologia nos últimos
cinquenta anos.