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CARTILHA

DIGITAL
Ecossistema de
Transformação Social
CHILDFUND BRASIL

Diretor
Mauricio Cunha

Conselho Fiscal
Coordenador: Rogério Magalhães

Membro: Alexandre Brenand

Membro: Maria Isabel Queiroz

Membro: Karla Jeanny Falcão Carioca

Conselho de Administração
Presidente: Elisabete Waller Alves

Vice Presidente: Luiz Alexandre de Medeiros Araújo

Membro: Valseni José Pereira Braga

Membro: Maria Heloísa Albuquerque Macedo Simão

Membro: Patricia Helena Fonseca Garcia

Membro: Paula Scandiuzzi Bichuete

Redação e Organização
Maria Leolina Couto Cunha

Projeto Gráfico:
Agência UP Business

Cunha, Maria Leolina Couto

Cartilha Digital - Etapa 1 do Selo Childfund Brasil de Proteção à Infância. Projeto ecossistema
de igrejas protetoras da criança / Maria Leolina Couto Cunha: CHILDFUND BRASIL, 2023.
SUMÁRIO

Sobre o ChildFund ....................................................................................................................................................................4

Sobre Apadrinhamento.........................................................................................................................................................8

Sobre a Campanha de Advocacy “Criança é pra ser cuidada”.................................................................9

Apresentação .................................................................................................................................................................................10

Introdução .......................................................................................................................................................................................11

Violência doméstica na modalidade maus-tratos físicos ...........................................................................12

1. Marco conceitual...........................................................................................................................................................13

2. Marco histórico...............................................................................................................................................................14

3. Desconstrução de mitos.........................................................................................................................................16

4. Principais características........................................................................................................................................19

5. Fatos geradores dos maus-tratos físicos ...................................................................................................20

6. Perfil do agressor..........................................................................................................................................................21

7. Perfil da vítima................................................................................................................................................................21

8. Sinais identificadores dos maus-tratos físicos.......................................................................................22

9. O que diz a lei.................................................................................................................................................................26

Violência doméstica na modalidade abuso sexual..........................................................................................27

1. Marco conceitual...........................................................................................................................................................28

2. Marco histórico...............................................................................................................................................................31

3. Desconstrução de mitos.........................................................................................................................................31

4. Métodos usados no abuso sexual...................................................................................................................33

5. Principais características .......................................................................................................................................34

6. Perfil da família incestogênica .........................................................................................................................35

7. Perfil do agressor..........................................................................................................................................................36

8. Perfil da vítima...............................................................................................................................................................37

9. Sinais identificadores do abuso sexual.......................................................................................................39

10. Dicas para pais e professores do departamento infantil............................................................40

Violência doméstica na modalidade abuso psicológico..............................................................................42

1. Marco conceitual ..........................................................................................................................................................43

2. Pilares da saúde emocional ...............................................................................................................................43

2.1. Pilar da valorização..................................................................................................................................................43

2.2. Pilar da aceitação ....................................................................................................................................................47

2.3. Pilar da segurança...................................................................................................................................................51


Sobre ChildFund
Somos uma organização humanitária que trabalha pelos direitos das crianças, pelo desen-
volvimento social e pela superação da pobreza. Fazemos parte do ChildFund International, que
integra a rede global pela infância, chamada ChildFund Alliance. Proteger as crianças e dar a elas
oportunidades de transformação é o que fazemos todos os dias!

Todos os anos, apoiamos, só no Brasil, mais de 100 mil pessoas – crianças, suas famílias e a
comunidade onde vivem. Nossa missão é possibilitar que todas as crianças cresçam saudáveis,
instruídas e protegidas, a fim de que possam alcançar todo o seu potencial.

Fazemos muito todos os dias, mas ainda, há muito o que fazer: 21,9 milhões* de crianças
vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil e esse número vem aumentando drasticamente a
cada dia.

*Fonte: IBGE/PNAD Contínua 2019 (Crianças e adolescentes até 14 anos)

Missão

• Apoiar o desenvolvimento de crianças em situação de privação, exclusão e vulnerabilidade


social, tornando-as capazes de realizar melhorias em suas vidas e dando a elas oportuni-
dade de se tornarem jovens, adultos, pais e líderes que conferirão mudanças sustentáveis
e positivas às comunidades.

• Mobilizar pessoas e instituições para que atuem na valorização, na proteção e na promoção


dos direitos das crianças na sociedade.

• Enriquecer a vida dos apoiadores através da defesa à nossa causa.

Valores

• Promover resultados positivos para as crianças.

• Demonstrar integridade, abertura e honestidade, incluindo a administração de todos os


recursos.
• Preservar o respeito e o valor do indivíduo.

• Defender a diversidade de pensamento e a experiência.

• Promover a inovação e o desafio.

• Estabelecer relações e colaborar proativamente.

Visão

Um mundo em que todas as crianças tenham seus direitos respeitados e alcancem seu potencial.

[4]
O ChildFund

Organização humanitária
global que trabalha pela
proteção infantil e
desenvolvimento social.
CE

PI PB

BA

GO
24 países com
mais de 16 milhões
MG
de pessoas apoiadas
no mundo.

SP

Temos 56 anos de Estamos em 07


atuação no Brasil e estados brasileiros,
83 anos de atuação no presentes em 769
mundo. Somos mais comunidades
antigos que a ONU. carentes.

Atendemos mais 50 mil familias Prestamos conta


de 58 mil crianças, beneficiadas com elaborando Relatos
adolescentes e nossos programas Anuais de
jovens brasileiros. de cuidado e Sustentabilidade
proteção. nos padrões do GRI,
desde 2015.
[5]
Premiações

Somos líder em assistência social no Brasil, tendo sido eleitos como a melhor ONG
para crianças e adolescentes, por três vezes consecutivas. Além disso, estamos entre
as 100 melhores ONGs do país, há seis anos consecutivos.

[6]
Nosso trabalho é
voltado para dois
eixos principais:

Proteção Infantil Desenvolvimento


Social

Os programas e projetos são desenvolvidos com enfoque nos direitos


das crianças e adolescentes e o objetivo de contribuir também para o
desenvolvimento comunitário

Junto com parceiros locais, trabalhamos com projetos pensandos


para cada ciclo de vida e buscamos também o fortalecimento das políti-
cas públicas, mobilizando os atores iteressados para potencializar a inter-
venção social.

[7]
Apadrinhamento
Desde 1966 no Brasil, o ChildFund Brasil é uma organização que elabora e monitora programas
e projetos sociais para transformar vidas. Só é possível realizar esta transformação com o apoio dos
padrinhos e madrinhas que investem nas vidas de milhares de crianças e adolescentes pelo Brasil.

Ao contribuir com o ChildFund Brasil, você também se torna responsável pela transformação
social de milhares de crianças, adolescentes e jovens em situação de privação, exclusão e vulnera-
bilidade. Tudo isso por R$2,23 por dia.

Mais sobre o apadrinhamento financeiro de uma criança


Quando alguém decide apadrinhar através do ChildFund Brasil, um APADRINHE
novo horizonte se abre para uma criança.

Os responsáveis por essa mudança são chamados de padrinho ou


madrinha - pessoas que se dispõem a doar um valor mínimo de R$ 2,23
ao dia, mas também, caso desejem, podem escrever cartas ou até visitar
a criança que está sendo auxiliada. O futuro da criança ou adolescente é
garantido por meio do acesso a programas que incentivarão que ele se
torne um agente de mudanças da própria realidade.

Apadrinhe uma criança e dê início a um processo maravilhoso de Informações


transformações na vida destes pequenos. Dê a eles a chance de serem Apadrinhamento:

adultos saudáveis, cidadãos responsáveis e pessoas mais felizes. (31) 98793-5884

“Caros Amigos do ChildFund Brasil, “Foi uma experiência única conhe-


lá se vão mais de 25 anos de apadrinha- cer minha princesa! Nossos afilhados
mento, nesses anos tive a sorte de ter não precisam simplesmente de 60
em minha vida três crianças que apa- reais por mês, mas sim de um pouco
drinhei. Quero deixar aqui o meu agra- de atenção e carinho. Quando cheguei
decimento ao ChildFund Brasil, por me para conhecê-la a primeira coisa que
proporcionarem a alegria e a satisfação ela me agradeceu foi pelas cartinhas!”
de poder ajudar o meu semelhante e
parabenizo-os, pelo trabalho humani-
tário que fazem com nossas crianças.” Cristiane Rezende Vallim

Evandro Luiz

[8]
Campanha de Advocacy ChildFund Brasil

Uma campanha nacional de prevenção de violências contra crianças

Muita coisa pode acontecer a uma criança quando não estamos cuidando. Maus-tratos. Abu-
sos. Exploração sexual pela internet.

O Brasil ficou em primeiro lugar, entre 13 países, no Índice de Risco de Violência Contra Crian-
ças*. Grande parte dessas violências acontece em casa, praticadas por pessoas próximas. Entre os
meninos e meninas com idades de 10 a 12 anos, 67% não se sentem suficientemente protegidos
contra a violência**. O percentual mundial é de 40%. Um quadro grave e perturbador.
A prevenção é o melhor caminho para transformar essa realidade. Por isso, o ChildFund está
realizando a campanha “Criança é pra ser Cuidada” a fim de mobilizar toda a sociedade para pro-
teger as crianças de qualquer tipo de violência.

Toda criança tem o direito a uma vida digna, cercada de cuidados e proteção. Só assim poderá
desenvolver todo o seu potencial e adquirir as ferramentas para construir o seu futuro.

As violências contra as crianças roubam esse potencial. Criam medo, culpa, desconfiança e
fazem a criança se fechar para o mundo.

Como fazemos isso? Mobilizamos o poder público, tomadores de decisão e toda a sociedade
em prol de políticas públicas e leis que previnam essa realidade.

Por meio de ações educativas, ensinamos famílias o que fazer concretamente para prevenir os
diversos tipos de violência.

Levamos esse conhecimento às principais pessoas que formam o mundo da criança: pais, res-
ponsáveis, cuidadores e professores, entre outras.

Além disso, com palestras e oficinas do nosso programa Infância Saudável e Protegida, ensina-
mos ações concretas de prevenção a pais, responsáveis, cuidadores e professores.

Quanto mais pessoas a campanha alcançar, mais crianças estarão


seguras. E o seu apoio é fundamental. Precisamos de recursos para
levar esse conhecimento ao máximo possível de pessoas. Doe
agora para o ChildFund.

Seu cuidado previne violências.

Águeda Barreto
Coordenadora de Advocacy
Advocacy Coordinator
ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
Fone: +55 (31) 3279-7410 | (31) 9 91904441

[9]
Apresentação
Prefácio à Cartilha

O ChildFund Brasil assumiu o combate à violência contra a criança e o adolescente, em suas


diversas formas e manifestações, como sua bandeira prioritária de mobilização social e incidência
política.

Sabemos que a criança é o público vulnerável que mais sofre violências e violações de direitos
em nosso país, e que estamos falando de um fenômeno complexo, com origens e implicações cul-
turais, econômicas, psicológicas e sociais, e por isso mesmo, tão difícil de ser combatido. Mais grave
ainda é constatar que cerca de 80% dos casos de violência acontecem no ambiente doméstico,
isto é, justamente no espaço que deveria ser de cuidado, amor e proteção.

Não podemos mais aceitar essa realidade cruel em que crianças permanecem vítimas de toda
sorte de maus-tratos, abuso e exploração sexual, violência psicológica e institucional! Mas sabemos
que esta batalha só será vencida com a participação e o engajamento de todos, numa verdadeira
cruzada pela proteção de infância.

Nesse sentido, o ChildFund está formando e mobilizando um amplo ecossistema de institui-


ções aliançadas e comprometidas com as crianças brasileiras, especialmente aquelas em con-
dição de privação, exclusão e vulnerabilidade. Conclamamos a toda a sociedade, famílias, Poder
Público, instituições sociais, igrejas, empresas, a seguirmos juntos nesta jornada em prol de uma
infância mais segura, feliz e protegida. Esta Cartilha é um degrau a mais neste esforço, e contamos
com cada um para não apenas conhecer seu conteúdo, mas também disseminá-lo.

Boa leitura!

Mauricio Cunha

Diretor de País

ChildFund Brasil

[ 10 ]
Introdução
A violência doméstica contra crianças e adolescentes (VDCA) está presente em nosso cotidia-
no. Suas formas mais recorrentes são os abusos físicos, sexuais e psicológicos. Embora exista des-
de os tempos mais antigos, poucos conhecem a intensidade e abrangência desse fenômeno. Tal
desconhecimento acaba por alimentar e incentivar mais ainda o ciclo de violência e impunidade.

A maioria, quando confrontada com a violência intrafamiliar, não sabe como agir. O silêncio
parece a melhor saída, já que se envolver num terreno tão perigoso e conflitante, poderá trazer
consequências negativas.

Mais comum do que se pensa, a violência intrafamiliar contra o público infantojuvenil é uma
prática silenciosa que atinge diariamente milhares de crianças e adolescentes. Por tratar-se de um
fenômeno próprio do ambiente doméstico, esse tipo de violência é de difícil constatação. O volu-
me de denúncias não condiz com a realidade. Muitos autores comparam as estatísticas existentes
apenas como uma ponta de um grande iceberg.

A lei do silêncio domina a relação incestuosa e a manutenção do segredo é motivada por


diferentes fatores. Geralmente fazem parte desse complô de silêncio o agressor, seu cônjuge e a
vítima. Quando o agressor é o pai, na maioria das vezes a mãe tem consciência do que está acon-
tecendo, entretanto demora ou se recusa admitir os claros sinais da prática incestuosa devido ao
medo.

O artigo 227, CF/88 afirma ser dever da família, da sociedade e do Estado colocar crianças e
adolescentes a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

A igreja, nesse contexto, possui um importante papel de influenciar a sociedade, principal-


mente no que diz respeito a desconstrução de mitos e costumes, que são usados para legitimar
condutas abusivas.

Esperamos que os conhecimentos aqui compartilhados possam contribuir para prevenir e en-
frentar a violência doméstica, estimulando a adoção de boas práticas voltadas para o fortaleci-
mento dos vínculos familiares e a proteção de crianças e adolescentes.

Leolina Cunha

[ 11 ]
Violência doméstica na
modalidade
MAUS-TRATOS FÍSICOS
contra crianças e adolescentes

[ 12 ]
Marco Conceitual:

Conceito de Violência Doméstica na modalidade maus-tratos físicos contra crianças e


adolescentes

AÇÃO ou OMISSÃO
disciplinar ou punitiva

Tendo como Tendo como


POLO ATIVO POLO PASSIVO

parentes
crianças

pais

adolescentes
responsáveis

PROVOCANDO IMPLICANDO

lesões transgressão de
poder, dever de
proteção do adulto
sofrimento físico

numa
podendo chegar coisificação
até a morte da infância

[ 13 ]
Marco Histórico:

A violência doméstica física em crianças e adolescentes sempre contou com a conivência da


sociedade. Sua prática remonta a idade antiga e as justificativas que buscam legitimá-la estão
fundamentadas em ideias historicamente constituídas.

De acordo com Lloyd deMause (1975):

“A história da infância é um pesadelo para o qual, recentemente, começamos a


despertar. Quanto mais regressamos na História, mais reduzido é o nível de cuida-
do com as crianças, e maior é a probabilidade de que houvessem sido assassina-
das, aterrorizadas e abusadas sexualmente.”

Para compreendermos o quadro de violência física em crianças e adolescentes na atualidade é


preciso estudar a história de nossos antepassados e traçar uma linha do tempo mostrando o curso
percorrido dessa violência no decorrer dos séculos.

Idade Antiga
Sacrifício a Moloch
(2000 a.c a 1500 a.c)

Era comum, nas nações vizinhas a Israel, os pais queimarem os próprios filhos em holocausto a
Moloch, deus dos amonitas, que tinha corpo humano e cabeça de touro. Ele exigia o sacrifício de
crianças em troca de boas colheitas e prosperidade

O fato de ser oferecida em sacrifício ritualístico, sem nenhuma censura da sociedade, mostrar
o pouco valor que a vida de uma criança tinha naquela época.

Entretanto esse costume era condenado pela lei mosaica:

“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Também dirás aos filhos de Israel: Qual-
quer que, dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam em Israel, der
da sua semente a Moloch, certamente morrerá; o povo da terra o apedrejará com
pedras.” Levítico, 20: 1,2.

Para Refletir:
Simbolicamente, na atualidade ainda existem pais sacrificando seus
filhos a Moloch? Como?

Idade Média
Séc.V (desde 476) – Séc. XV

Philippe Ariès relata que até o século XII o conceito de infância ainda não tinha sido descober-
to. A sociedade da idade média não fazia distinção entre infância e fase adulta. Essa diferenciação
começou a existir apenas do fim do século XVII.

[ 14 ]
Curiosidade da Idade Média:

Era comum tomar banho numa única tina cheia de água quente.

1º Lugar: Chefe da família tomava banho na água limpa.

2º Lugar: Os outros homens da casa, por ordem de idade.

3º Lugar: As mulheres, por idade e, depois as crianças.

4º Lugar: Os bebês eram os últimos a tomar banho.

Quando chegava a vez dos bebês a água já estava tão suja que era possível “perder” um bebê lá
dentro. Por causa desse costume, ainda hoje ouvimos o ditado: “Não jogue o bebê fora junto com
a água suja do banho”.

Para Refletir:
De acordo com o Mestre Jesus, qual o valor de uma criança?

E traziam-lhe criancinhas para que lhes tocasse, mas os discípulos


repreendiam aos que lhos traziam. Jesus, porém, vendo isto,
indignou-se e disse-lhes: deixai vir as criancinhas a mim e não as
impeçais, porque das tais é o reino de Deus Em verdade vos digo
que qualquer que não receber o reino de Deus como uma criança,
de maneira nenhuma entrará nele. E, tomando-as em seus braços
e impondo-lhes as mãos, as abençoou. Mc10:13-16

Idade Moderna
Séc.XV (desde 1453) – Séc. XVIII (até 1789)

Segundo ARIÉS,1981:

“A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua evolução pode
ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os
sinais de seu desenvolvimento tornaram-se particularmente numerosos e signifi-
cativos a partir do fim do séc XVI e durante o séc XVII“

Logo que deixavam os “cueiros”, as crianças vestiam modelos de roupas iguais aos dos adultos.
Somente no fim do século XVII, o traje infantil começou a ser usado. É importante destacar que
inicialmente só as crianças do sexo masculino puderam fazer uso do traje infantil, sendo que no
século XVIII as meninas também alcançaram o mesmo privilégio.

[ 15 ]
Idade Contemporânea
Séc.XVIII (desde 1789) – Séc. XXI

No século XIX, surgiu uma preocupação mais consistente com a criança, passando a mesma
a ser encarada como um ente importante da família e possuidora de valor. Essa nova forma de
enxergar a criança se deveu ao surgimento de ciências como a psicologia, psicanálise e pediatria,
que se firmaram como formas autônomas de saber e cujo um dos principais objetos de estudo era
o público infantil.

Não obstante aos avanços mencionados, foi também nesse período, durante a Revolução In-
dustrial, que as crianças sofreram brutais explorações, sendo costume trabalharem 16 horas diárias
nas fábricas presas a correntes a fim de se evitar que fugissem.

Em 1896, nasceria em Nova York o embrião do DIREITO TUTELAR DA CRIANÇA , por meio de
um caso concreto de maus-tratos físicos de uma menina de 09 (nove) anos, chamada Mary Ann.
Todos sabiam que os pais de Mary a maltratavam de forma bárbara, porém ninguém tinha cora-
gem de intervir.

A situação chegou a um extremo, que a Sociedade Protetora dos Animais


de Nova York, entrou na Justiça para defender a infante. Esse episódio exer-
ceu grande influência no surgimento do “Direito Tutelar de Menores”, tidos
até então como bens de família. A partir dessa decisão do judiciário ameri-
cano abriu-se um precedente para que as crianças e adolescentes vítimas de
violência passassem a ser objetos de proteção do Estado.

Após o emblemático caso de Mary Ann, começaram a ser criadas as legislações voltadas para
promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, e nos séculos XX e XXI surgiram códi-
gos e Estatutos em todo o mundo. No Brasil, as principais legislações nesse sentido foram o Código
de Menores (já revogado) e o Estatuto da Criança e do Adolescentes (em vigência).

Desconstrução de mitos
Mitos são convicções que, mesmo diante de provas concretas ao contrário, continuam sendo
aplicados por desinformação ou pretensões ocultas. É importante destacar que todos nós somos
frutos das crenças e costumes do meio em que vivemos.

Considerados verdades absolutas, os mitos são transmitidos por sucessivas gerações. Romper
esse ciclo, se constitui uma tarefa árdua, exigindo de cada um de nós coragem para quebrar para-
digmas e enxergar o mundo sob uma nova perspectiva.

Mito da Criança Malvada


Acredita-se que, ao nascer, a criança traz dentro de si uma índole perversa que precisa ser do-
mada o mais cedo possível. A teologia cristã-judaica reforça esse mito. Santo Agostinho, um dos
pais da igreja, afirmava que:

Toda criança é uma pessoa má em potencial e deve ser submetida a castigos cor-
porais moderados e severos, para que possa ter um crescimento adequado e uma

[ 16 ]
personalidade boa, do mesmo modo como uma árvore para crescer frondosa e
retilínea deve estar amarrada ao poste. (Santos, 1987: 24)

O mito da criança malvada, vem sendo apregoado desde a antiguidade. A ideia de que a crian-
ça nasce com o mal dentro de si, alimenta a crença de que precisa ser domada por meio da vara
a fim de não se rebelar.

Entretanto, tal pensamento nada tem a ver com as ordenanças de Deus. Quando observamos
as palavras de Jesus, vemos que em momento algum ele incentivou a ideia de que as crianças
são pessoas más em potencial e devem ser submetidas a castigos corporais moderados e severos.
Ao contrário disso, seu conceito sobre o caráter e a índole das crianças era elevadíssimo, ao ponto
de dizer que o padrão para se entrar no céu era ser puro de coração como as crianças.

Mt 18: 1-3

Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o


maior no Reino dos céus?” Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e
disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como
crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.

Mito da bondade absoluta dos pais


É a crença de que todos os pais e mães amam seus filhos de forma incondicional, natural e
instintiva. A realidade tem demonstrado que nem toda mãe tem dentro de si o amor maternal, da
mesma forma, nem todo pai possui estrutura emocional para exercer a paternidade.

A MATERNAGEM e a PATERNAGEM estão longe de ser sentimentos automáticos. Eles são sen-
timentos CONSTRUÍDOS, ALIMENTADOS e DESENVOLVIDOS diariamente.

[ 17 ]
Mito da família perfeita
Muitos alimentam a falsa crença de que a família é por natureza harmoniosa e imune a con-
tendas ou defeitos. A verdade é que as relações familiares são marcadas pela diferença de gênero
(masculino X feminino) e pela diferença de geração (crianças X adultos X idosos).

As diferenças de GÊNERO e de GERAÇÃO produzem muitos conflitos dentro do espaço do-


méstico, principalmente por tratar-se de um território essencialmente privado e secreto.

Essa realidade é especialmente preocupante para o público infantojuvenil. De acordo com


balanço publicado em 2021 pelo Disque 100, do total de 309.311 notificações que o serviço rece-
beu, 101.186 foram denúncias de violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes.,
sendo que:

60.652 45.443
denúncias denúncias

Agressão/vias de fato Aconteceram na casa


Lesão corporal onde residiam a
Maus tratos vítima e o suspeito
Tortura física

25.781 7.655 3.364


denúncias denúncias denúncias

AGRESSOR: AGRESSOR: AGRESSOR:


Mãe Pai Madrasta/ Padrasto

Para Refletir:
Para a proteção das crianças e adolescentes é fundamental investir
no fortalecimento dos vínculos familiares. Como sua igreja tem
realizado essa tarefa?

[ 18 ]
Principais Características:
Agressores mais comuns
PAIS/MÃES:

De acordo com Azevedo e Guerra (2000):

BIOLÓGICOS

ADOTIVOS

PADRASTO/MADRASTA

70% das agressões são de pais biológicos.

O cônjuge que agride mais é a mãe.

O pai causa lesões mais graves nos filhos

Síndrome do bode expiatório

A maioria dos agressores de violência física elege um determinado filho como alvo principal
para receber maus-tratos.

Caso concreto: Garoto é torturado pela mãe desde 08 anos. “Desejo boa
sorte pra ela, mas não quero ver nunca mais”. A frase, de um garoto de 15 anos
para sua mãe, pode parecer cruel, mas só pra quem não conhece a história de
OS. Desde os 08 anos, OS. é torturado por sua mãe, M.A., presa desde o ano
passado por maus-tratos ao filho. M.A. cravou uma chave de fenda do céu da
boca de OS., cortou sua orelha esquerda, arrancou parte de seus dentes com
alicate e, de tanto chutar seu estômago, o intestino de O.S. rompeu-se. Motivo
de tanta violência: OS. se parece com uma meia-irmã, filha de seu pai fora do
casamento com M.A.. Os outros três irmãos, que não se parecem com a meia-
-irmã, nunca foram molestados ou torturados por M.A.. (Folha de São Paulo,
09/12/1995, página 03).

Natureza repetitiva do fenômeno


De acordo com Azevedo e Guerra (2000) a reincidência decorrente da FALTA DE DENÚNCIA
é de 50 a 60%.

Evolução gradual da violência


Antes de uma lesão grave ou óbito ocorrem lesões mais leves que não foram denunciadas.

[ 19 ]
Os agressores geralmente são pessoas normais
Mais do que questões associadas a quadros psiquiátricos ou psicológicos graves, o agressor
tem seu comportamento influenciado pela cultura.

Cumplicidade silenciosa entre os membros da família


Nos casos de maus-tratos físicos contra crianças e adolescentes, normalmente ocorre a cum-
plicidade silenciosa dos membros da família, que hostilizam e buscam dificultar qualquer tipo de
intervenção voltada para proteger a vítima.

Sobre o sexo e a idade das vítimas


As vítimas de maus tratos são de ambos os sexos.

Existe uma maior incidência de vítimas do sexo feminino na adolescência.

A faixa etária dos 07 aos 13 anos é a mais atingida pela violência física.

Idade média para vítimas do sexo feminino é de 10 anos.

Idade média para vítimas do sexo masculino é de 08 anos.

Fatos Geradores:

Crianças cujo Vínculo com os pais foi


interrompido devido a parto prematuro
ou hospitalizações prolongadas

Baixa resistência ao stress dos pais

Filhos não desejados

Causas da violência Pais que quando criança foram vítimas


doméstica física de violência doméstica
em crianças e
adolescentes
Crianças adotadas por motivos egoístas

Crianças portadoras de doenças crônicas

Problemas psicológicos e psiquiátricos

Abuso de drogas e/ ou álcool

[ 20 ]
Perfil do Agressor:
• Vê a criança como um objeto de sua propriedade;

• Apenas 10% dos agressores físicos apresentam perturbações psiquiátricas graves.

• Demora em buscar atendimento médico ou mesmo hospitalização quando a vítima se


encontra gravemente ferida.

• Culpa a criança pelos problemas da família;

• Mente quando confrontado sobre a causa da lesão da criança;

• Descreve a criança como preguiçosa, de má índole e causadora de problemas;

• Cobra da criança desempenho físico e/ou intelectual acima de sua capacidade;

• Possui histórico de violência em sua própria infância;

• Defende a aplicação de disciplina severa;


• Faz uso indevido de drogas e/ou álcool;

• Raramente acompanha as vacinas ou comparece em reuniões escolares;

• Demonstra pouca paciência com o comportamento próprio das crianças;

• Possui geralmente temperamento autoritário e controlador.

Perfil da Vítima:
• Teme exageradamente os pais;

• Possui excessiva preocupação em agradar;

• Está sempre em estado de alerta;

• Sofre habitualmente de mudanças severas de humor;

• Busca chegar cedo à escola e dela sair bem mais tarde;

• Falta frequentemente a escola;


• Fica tensa e apreensiva quando outra criança começa a chorar;

• Manifesta comportamentos extremos: agressividade ou timidez excessiva;

• Apresenta baixo rendimento escolar;

• Tentativa de ocultamento das lesões;

• Alega sofrer agressões dos pais;

• Fugas constantes de casa;

• Baixa autoestima;

• Isolamento e tristeza;

• Quando examinada pelo médico, aparenta indiferença, apatia, tristeza ou reage com medo
excessivo, como alguém que busca se defender de uma agressão.

[ 21 ]
Sinais identificadores de maus-tratos:
Preste muita atenção:

O cuidado na identificação das lesões é de suma importância. Além de observar o histórico de


vida da criança e o comportamento de cada membro de sua família, é necessário examinar se os
hematomas, fraturas, cortes, arranhões, que ela traz consigo, são originários de práticas de maus-
-tratos ou provenientes de brincadeiras e acidentes provocados naturalmente.

Lesões identificadas por exame externo:

Equimoses e hematomas múltiplos, localizados em várias partes do corpo, com diferentes


formas e dimensões, podendo apresentar diferentes estágios de evolução em decorrência de te-
rem sido causados em momentos diversos.

• Equimoses: manchas arroxeadas de menor gravidade.


• Hematomas: manchas e lesões provocadas por impactos fortes na pele, com rompimento
de vasos sanguíneos e subsequente derramamento de sangue.

Ex: Equimoses com a forma de “marcas de dedos” nos braços e tórax, provocadas por movi-
mentos bruscos e violentos.

Ex: Hematoma palpebral (olho arroxeado)

Lacerações labiais com arrancamento do freio labial e/ou ferimento das gengivas, chegando
inclusive à perda de dentes.

Ferimentos que deixam na pele a marca dos objetos que os produziu.

Tipos de objetos mais comuns: vara, chicote, fio elétrico, corda, fivela, cinto, cabide, escova de
cabelo, raquetes, barra de ferro, pedaço de pau, mãos, dedos, nós dos dedos, solado de chinelo ou
sapato, colher, faca, garfo, etc.

Ferimentos causados pelo uso de corda, fio ou corrente para prender mãos, pés ou pescoço.

Caso concreto: Garotos eram mantidos acorrentados pelo pai. Dois irmãos,
de oito e nove anos, foram encontrados anteontem pela polícia de Guaianazes,
zona leste de São Paulo, presos a correntes fechadas por cadeados. M.S.S., 8,
R.S.S., 9, moram com a família. A mãe dos garotos disse aos policiais que o
marido “é um pouco violento”. Segundo ela, seu marido costuma aplicar casti-
gos físicos nos meninos e colocá-los ajoelhados sobre grãos de milho, além de
amarrá-los. As crianças foram entregues à mãe. (Folha de São Paulo, 18/12/1993,
página 3, caderno Cotidiano).

Presença de mordidas humanas ou equimoses circulares produzidas por sucção (chupões),


localizadas geralmente nas bochechas, tórax, abdome, nádegas e coxas.

Atenção: Caso as mordidas e equimoses localizem-se em regiões como mamas ou parte


interna das coxas, a hipótese de abuso sexual deve ser averiguada.

[ 22 ]
Caso concreto: Pai é suspeito de morder e bater em bebê de 8 meses em
Laranjal Paulista. A Polícia Civil de Laranjal Paulista (SP) investiga um suposto
caso de agressão contra um bebê de 08 meses. O autor do crime seria o pai da
criança, que está foragido. O bebê deu entrada na Santa Casa de Tietê (SP), uma
cidade vizinha, no sábado (28) às 23h50, com hematomas nas pernas e com
mordidas na bochecha. Após os exames, os médicos teriam constatado que
eram agressões. A mãe da criança registrou um boletim de ocorrência contra o
marido. (G1 Globo, 02/03/2015)

Ferimentos da mucosa oral provenientes da ação de obrigar a criança a comer à força, por
meio da introdução brusca e violenta de colher na boca.

Ferimentos na cabeça causados por arrancamento de mechas de cabelo.

Orelha de boxeador ou orelha em couve-flor: Lesões recentes ou presença de deformidades


na região externa das orelhas já cicatrizadas, provenientes de lacerações traumáticas da cartilagem.

Ferimentos produzidos por instrumentos perfurocortantes (faca, punhal, espeto, etc) usados
geralmente com requinte de perversidade, mas não com a finalidade de matar.

Ferimentos em diferentes estágios de cicatrização que aparecem geralmente em grupo,


provocados por espancamentos constantes.

Queimaduras:

Geralmente a queimadura acidental apresenta forma irregular devido a reação que temos
de afastar o corpo imediatamente do instrumento causador do dano. Já as queimaduras pro-
venientes de maus-tratos, além de profundas, são bem delineadas.

Tipos de queimaduras:

a) Queimadura em forma de luva:

É produzida na mão ao ser mergulhada em líquido quente.

b) Queimadura em forma de bota:

Produzida no pé ao ser mergulhado em líquido quente.

c) Queimadura de cigarro:

Geralmente produzida em série e localizada em regiões do corpo que ficam escondidas e


cobertas (genitais, nádegas, mamilos, sola dos pés, etc).

Caso concreto: Uma mulher de 28 anos foi presa, na tarde de quarta-feira


(22), por queimar o filho de um ano e meio com bituca de cigarro, em Castro,
na região dos Campos Gerais do Paraná. De acordo com a Polícia Civil, a mãe
vai responder por maus tratos, tortura e abandono de menor. Além das mar-
cas de cigarro, a criança foi encontrada desnutrida e desidratada. O menino
está internado em um hospital da cidade e segue sob a responsabilidade do
Conselho Tutelar.... “A criança estava desnutrida, desidratada e com marcas de
cigarro pelo corpo. Provavelmente, ela apagava o cigarro no filho ou cutucava a
criança com o cigarro aceso para ela parar de chorar” A conselheira revela que
este é o segundo filho retirado da guarda da mãe. No primeiro caso, a criança
também sofreu maus tratos. “O problema é que ela está grávida do terceiro
filho. Nós vamos acompanhar a gravidez e possivelmente, retirar o filho dela
ao nascer devido ao histórico que a mãe possui”, explica. (G1 Globo, 23/01/2014)

[ 23 ]
d) Queimadura localizada na região genital e nádegas:

Esse tipo de queimadura geralmente é provocada por imersão em líquido quente.

e) Queimaduras provocadas por líquidos quentes:

O agressor atira o líquido quente propositadamente sobre a criança. Esse tipo de queima-
dura se caracteriza por atingir várias áreas do corpo, atingindo comumente a face e a parte
posterior do ombro.

Caso concreto: Criança de 05 anos pede comida à mãe que joga feijão
quente no rosto do filho. Um casal teria iniciado às 17h uma discussão na
casa onde moram... A briga se estendeu até por volta das 22h20min e foi no-
tada por grande parte dos vizinhos que preferiram não se intrometer. Após
este horário, o filho do casal teria pedido para a mãe comida, dizendo que
estava com fome. A mãe enlouquecida pegou uma panela com feijão quen-
te e jogou no rosto do menino. A Polícia Militar foi chamada e teve que inva-
dir a casa e arrombar um dos cadeados da porta para libertar a criança que
ainda estava em poder dos pais. Assustado e ferido, o garoto foi levado pela
polícia até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para cuidados médicos.
O Conselho Tutelar foi chamado e acompanha o caso. Os pais do menino
estão presos na Polícia Civil. (TL Notícias, 07/02015)

f) Queimaduras localizadas nas dobras de cotovelo, pescoço ou axilas:

Esse tipo de queimadura deve levantar suspeitas de maus-tratos por afetar áreas que difi-
cilmente são queimadas acidentalmente.

g) Queimaduras que retratam as formas dos objetos que as produziu:

Exemplos: ferro elétrico, chapa de fogão, colher, faca, garfo, fundo de frigideira, tampa de
panela, lâmpadas, etc.

Caso concreto: Z.O.C., de seis anos, foi torturada no Rio pelo seu padras-
to, J.M.P., de 22 anos, que a queimou nas nádegas, coxas e pés, com um ferro
de passar roupa. Na delegacia de polícia, ele explicou que a garota mexeu no
despertador, fazendo com que perdesse a hora. Além de queimar a menina,
colocou sal sobre os ferimentos “para arder bastante”. A mãe de Z.O.C. estava
viajando e por isso ela buscou ajuda de uma vizinha que a levou ao posto poli-
cial. (O Estado de São Paulo).

Lesões identificadas por exame interno:


Fraturas

a) Fraturas de crânio: podem adquirir forma estrelada ou “em mapa mundi”.


b) Fraturas mal explicadas no nariz, rosto, braços, pernas, que, pela ausência de tra-
tamento ortopédico correto, podem consolidar-se causando uma deformidade.

[ 24 ]
Caso concreto: Criança de 04 meses tem braços e nariz fraturados pelo pró-
prio pai. Policiais do Posto de Comando Avançado 04 (Seis Bocas) prenderam na
tarde de ontem o desocupado G.I.S. minutos depois dele ter agredido sua filha, a
pequena R. I. C., de quatro meses, que teve os dois braços e o nariz quebrados e
sofreu várias escoriações.... Perguntado pelo motivo que o levou a agredir a crian-
ça, G.I. limitou-se a afirmar que nada tinha a declarar. (Jornal Diário do Nordeste,
16/11/1995, página17).

c) Fraturas de costelas geralmente causadas por impactos violentos causados por chutes e ar-
remesso do corpo sobre superfícies planas.

d) Fraturas de bacia, são muito raras em crianças e geralmente decorrem de impactos violentos.

Roturas

a) Roturas viscerais localizadas no fígado, baço, rim, intestino, etc, ocasionadas geralmente por
socos e chutes na parede abdominal.

Fique em estado de alerta quando presenciar:

Lesões no rosto com fratura do maxilar:

Ex: Podem acontecer em decorrência de tapas ou socos.

Fratura nos dois ombros em crianças abaixo de 07 anos:

Ex: Sacudir a criança violentamente segurando-a pelos braços.


Lesões incompatíveis com a idade da criança:

Ex: Fraturas e quedas em bebês que ainda não andam.

Fratura de crânio bilateral:


Ex: Criança jogada contra a parede ou espancada várias vezes.
Múltiplas Lesões ou fraturas em diferentes estágios de cicatrização.

Uma injustificável demora na busca de atendimento médico para a criança.

Tipos de Síndromes:
Síndrome do Bebê Sacudido

É uma lesão cerebral gravíssima, ocasionada geralmente em crianças de até 02 anos de idade,
devido a fortes sacudidas em seu corpo. A brutalidade desses impactos acaba por comprometer a
massa encefálica que se desloca bruscamente em decorrência da violência.

ATENÇÃO: Os sinais da síndrome podem ser evidenciados por meio de hemorragias em re-
giões do cérebro, contusões, edema de sistema nervoso central, hemorragia de retina, fratura da
calota craniana, sangramento nas membranas que cobrem o cérebro (Hematoma subdural), va-
riação no nível de consciência, irritabilidade, sonolência, convulsões, paralisias, problemas respira-
tórios, hipoventilação, coma e morte.

[ 25 ]
Síndrome de Munchausen

O responsável pela criança, geralmente a mãe, mente sistematicamente acerca do estado de


saúde do próprio filho. Inventando doenças, os pais induzem a equipe médica a submeter a criança
à exaustivos e dolorosos exames, comprometendo progressivamente sua integridade psicológica e
física. Portadores de um distúrbio mental, tais pais ou responsáveis pela criança têm por objetivo
induzirem os médicos ao erro, fazendo com que os mesmos adotem tratamentos desnecessários,
cada vez mais agressivos. Para isso chegam a injetar urina, fezes, veneno no corpo dos pequenos
indefesos. A prática de adulterar o material colhido para exames clínicos é também muito usada.

Suspeite quando identificar:

Pais que se queixam exageradamente da fragilidade da saúde do filho, dizendo-se extrema-


mente preocupados, afirmando de forma exibicionista como são grandes os seus esforços para
cuidar do mesmo;

Criança, cuja doença não apresenta um diagnóstico claro e que não reage ao tratamento
médico;

Contradição flagrante entre as histórias relatadas pelo agressor sobre os sintomas da doença
da criança e o diagnóstico encontrado pelo médico e/ou apontado pelos exames clínicos;

Melhora significativa sempre que a criança é afastada do agressor, vindo a recair logo que
passa a conviver de novo com o mesmo;

Insistência acerca da severidade da doença da criança, discordando do diagnóstico do mé-


dico, sempre exigindo novos exames.

O que diz a lei:


De acordo com a Lei 13.431/17, a violência física, pode ser entendida como a ação infligida à
criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofri-
mento físico.

A Lei 13.010/2014, mais conhecida pelo nome “Lei Menino Bernardo”, estabeleceu o direito da
criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de trata-
mento cruel ou degradante.

Para a legislação brasileira, o castigo físico é uma ação de natureza disciplinar ou punitiva apli-
cada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em sofrimento físico
ou lesão.

Marco legal da violência física:

Maus-tratos: Art. 136. CP

Tortura: Lei nº 9.455/97

Lei Menino Bernardo: Lei 13.010/2014

ECA: Art. 18-A, parágrafo único, inciso I da Lei nº 8.069/90

Sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de vio-


lência: Lei 13.431/17

[ 26 ]
Violência doméstica
na modalidade
ABUSO SEXUAL
contra crianças e adolescentes

[ 27 ]
Marco Conceitual

O abuso sexual contra crianças e adolescentes é uma relação adultocêntrica marcada pela re-
lação desigual de poder. Pode acontecer dentro do ambiente doméstico ou fora dele, porém sem
a intenção da compra de sexo. O autor da agressão pode ser pessoa conhecida ou desconhecida
da vítima. Quando o abuso acontece dentro da família, o fenômeno é também conhecido como
“incesto” ou “abuso sexual intrafamiliar” e o agressor mantém vínculos de consanguinidade, afini-
dade ou responsabilidade legal com a vítima.

Conceito de Violência Doméstica na modalidade abuso sexual em Crianças e Adolescentes

Todo ato de
NATUREZA ERÓTICA

COM ou SEM COM ou SEM


contato físico uso de força

Tendo como Tendo como


POLO ATIVO POLO PASSIVO

Adulto crianças

Adolescentes
adolescentes
mais velho

UNIDO POR VÍNCULOS

Consanguinidade Afinidade Responsabilidade

Pais Padrasto Guarda

Avós Madrasta Tutela/ Curatela

Tios, etc Cunhado, etc Adoção

De acordo com ALLENDER (1999), o abuso sexual pode ocorrer com ou sem contato físico e
ambas as modalidades variam quanto ao grau de intensidade e dano.

[ 28 ]
Hipóteses de Abuso sexual SEM contato físico

Colocar a vítima em contato com ECA, Art. 241-D


materiais pornográficos.
Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qual-
Ex: revistas, filmes ou sites quer meio de comunicação, CRIANÇA, com o fim
de com ela praticar ato libidinoso:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa

Deixar a vítima presenciar relações CP, Art. 218-A


sexuais ou atos libidinosos.
Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca-
Ex: Agressor se masturba na frente torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção
da vítima carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer
lascívia própria ou de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Olhar de forma lasciva partes do ECA - Art. 232


corpo da vítima causando-lhe
Submeter criança ou adolescente sob sua autori-
constrangimento.
dade, guarda ou vigilância a vexame ou a cons-
Ex: Agressor obriga a vítima a tirar a trangimento:
roupa na sua frente.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Hipóteses de Abuso sexual COM contato físico (1).


Contato Sexual Gravíssimo
24% DAS VÍTIMAS
Relação genital (com ou sem violência)
Sexo anal (com ou sem violência)
Sexo oral (com ou sem violência)

Contato Sexual Grave


40% DAS VÍTIMAS
Contato manual com os órgãos sexuais descobertos, com ou sem penetração de dedos (for-
çada ou não)
Contato com os seios desnudos (forçado ou não)
Simulação de relação sexual inter-femoral (forçado ou não)

Contato Sexual Menos Grave


36% DAS VÍTIMAS
Beijos eróticos (forçados ou não)
Toque sexualizado:
Nádegas, coxas, pernas, ou genitais e seios cobertos.

[ 29 ]
IMPORTANTE VOCÊ SABER!!!
Estupro de Vulnerável - Art. 217, A, CP

Ter conjunção carnal ou praticar outro ATO LIBIDINOSO com MENOR DE 14 ANOS.

Pena - reclusão, de 8 anos a 15 anos

§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave

Pena - reclusão, de 10 a 20 anos

§ 4º Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 a 30 anos

ATENÇÃO:
Para que ocorra estupro é desnecessário a existência de contato fí-
sico entre a vítima e o autor da agressão. O pressuposto do crime de
estupro é o envolvimento corporal da vítima no ato libidinoso.

Exemplo1:

O agressor obriga a vítima a se auto masturbar.

Exemplo 2:

O agressor obriga a vítima a ter envolvimento carnal com terceiros


ou com animais.

ATENÇÃO:
Existe o crime de estupro na modalidade OMISSÃO.

Exemplo:

Mãe que não esboça nenhuma reação para impedir que seu compa-
nheiro obrigue a filha menor de idade a ter com ele relação sexual.

CP, Art, 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o emitente


devia e podia agir para evitar o resultado.

O DEVER DE AGIR INCUMBE A QUEM:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do re-


sultado.

[ 30 ]
Marco Histórico
A mitologia grega aborda o tema do abuso sexual com extraordinária variedade de detalhes.
Seu principal deus, Zeus, tinha intensa atividade sexual com deusas, ninfas, homens, mulheres e
animais. Sua vida amorosa teve início com sua irmã Hera, configurando, nesse caso, a prática do
abuso sexual na modalidade incesto.

Quando analisamos o contexto histórico da sociedade greco-romana, verificamos em que o


incesto e o uso de crianças como objetos sexuais eram comuns.

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Um exemplo famoso de abuso sexual de crianças foi protagonizado a

rie
pelo imperador Tibério Cláudio Nero César, que era pedófilo, e tinha por

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costume recrutar crianças para lhe servir sexualmente em cerimônias

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uyen / Wikim
pervertidas e lascivas. Suetônio conta que o imperador costumava ba-
nhar-se na companhia de crianças em uma piscina particular, “fazendo
de conta” que elas eram peixinhos. Um desses peixinhos foi seu sobrinho-
-neto, Calígula, que posteriormente tornou-se imperador, vindo a chocar

e dia
a sociedade romana pelo grau de crueldade e perversão sexual durante

Co
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seu governo.
on
s

O incesto também foi relatado na Bíblia. Ló, sobrinho de Abraão, teve relações sexuais com
suas duas filhas.

O que a Bíblia diz sobre a prática do incesto:

“Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe; não
lhe descobrirás a nudez. Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai;
é nudez de teu pai. A nudez da tua irmã, filha de teu pai ou filha de tua
mãe, nascida em casa ou fora de casa, a sua nudez não descobrirás. A
nudez da filha do teu filho ou da filha de tua filha, a sua nudez não des-
cobrirás, porque é tua nudez. Não descobrirá a nudez da filha da mulher
de teu pai, gerada de teu pai; ela é tua irmã. A nudez da irmã do teu pai
não descobrirás; ela é parenta do teu pai. A nudez da irmã de tua mãe
não descobrirás; pois ela é parenta de tua mãe. A nudez do irmão de teu
pai não descobrirás; não te chegarás à sua mulher, ela é sua tia. A nudez
de tua nora não descobrirás; ela é mulher de teu filho, não lhe descobri-
rás a nudez. A nudez da mulher de teu irmão não descobrirás; é a nudez
de teu irmão. A nudez de uma mulher e de sua filha não descobrirás; não
tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua filha para lhe descobrir.” (Lv 18: 7-17)

Desconstrução de mitos
A prática do abuso sexual se fortalece e muitas vezes é legitimada pela crença em mitos. Mitos
são mentiras travestidas de verdade. Em outras palavras, são crenças que, apesar de não apre-
sentarem provas concretas, continuam sendo aplicadas por ignorância ou pretensões ideológicas
ocultas.

[ 31 ]
Considerados verdades absolutas, romper com os mitos constitui tarefa árdua, exigindo cora-
gem para quebrar paradigmas e assumir uma nova forma de ver o mundo.

MITO 1. O abusador sexual é um psicopata, um mostro.


85% a 90% agressores sexuais são pessoas conhecidas das crianças e adolescen-
tes (4):

30% são pais

60% são conhecidos

MITO 2. Vitimização sexual de crianças é algo raro e jamais acontecerá com


meus próprios filhos.
01 menina em 05, ou seja, 20% e 01 menino em 10,

ou seja, 10%, serão vítimas de abuso sexual antes de completarem 18 anos (5).

MITO 3. Crianças inventam que são vítimas de abuso sexual


92% falam a verdade. Apenas 8% inventam. E ¾ das histórias inventadas são in-
duzidas por adultos (4).

“Num dia de verão quando eu tinha sete anos, eu estava trabalhando na cozinha
com mamãe. À minha maneira tentei dizer a mamãe que papai estava me ferindo.
Mas mamãe não se preocupou. Ela gritou comigo por até pensar qualquer coisa
má sobre papai e disse que jamais queria ouvir outra palavra de mim sobre o as-
sunto. Ela simplesmente esquivou-se, dando de ombros. Ela não me amava. Não
se importava com o que acontecia comigo, e isso me arrasou. Ninguém se impor-
tava. Ninguém me amava. Ninguém me queria. Eu desejava morrer. Já não havia
nenhuma razão para ter esperança, porque se mamãe não podia ajudar, então
quem poderia? “

LANGBERG (2002) (11)

MITO 4. O tempo se encarrega de curar todos os males


A vítima não esquecerá o abuso sexual com o passar do tempo. É importante,
dependendo do tipo e gravidade do abuso sexual, busca ajuda terapêutica.

MITO 5. Quando a vítima não esboçar resistência aos avanços sexuais do


agressor, na realidade não existe abuso sexual
A criança ou o adolescente NUNCA devem ser vistos como culpados. A reação
depende do MÉTODO empregado pelo agressor, que pode oscilar entre o sadismo,
ameaça ou indução da vontade.

[ 32 ]
Métodos usados no abuso sexual
SADISMO
O agressor, para se satisfazer sexualmente, necessita provocar dor na vítima. Esta dor pode ser
física ou emocional:

Dor física: espancamento, queimaduras, etc.

Dor emocional: humilhar, imprimir pânico, etc.

Intensidade pode variar de níveis:

a) Simples fantasia

b) Tortura e flagelação bárbara.

“Eu tinha de fazer tudo que ele me mandava. Muitas vezes isso significava
que ele colocava seu pênis ou outros instrumentos dentro de mim. Se eu fosse
“boazinha”, então a situação ia melhorar. Se eu não fizesse as coisas exata-
mente como ele queria, ele urinava em mim. Até me fez comer o excremento
dele quando eu não era boazinha. Mas descobri que, à medida que o tempo
passava, eu nunca conseguia ser suficientemente boazinha. Muitas vezes ele
me violentava de todas as maneiras possíveis e depois ia embora, deixando-
-me para “que me limpasse” a fim de poder entrar novamente em casa.” LAN-
GBERG (2002) (11)

AMEAÇA
Apesar de não usar a violência física, o método de ameaçar a vítima mostra-se extremamente
eficaz e cruel. A criança é crédula por natureza e leva a sério as palavras dos adultos. O abuso sexual
mediante ameaça causa grande sofrimento psicológico. Geralmente as ameaças têm como alvo a
própria pessoa da vítima ou de seus entes queridos.

INDUÇÃO DA VONTADE
Quanto mais habilidade tiver o agressor, mais esse método será utilizado para iludir a vítima. A
indução da vontade geralmente é feita por meio da oferta de presentes, promessas e concessões
de privilégios.

De acordo com SAFFIOTTI (1995):

... nas classes mais pobres, o pai joga a filha numa cama, põe uma faca, um ca-
nivete, um revólver, a arma que tiver, ao lado da cama e estupra a filha e diz: ‘Se
você abrir a boca, eu mato você, mato a sua mãe, todos os seus irmãos.’ A menina
vive sob ameaça concreta. Agora, é muito pior nas camadas privilegiadas. Não se
ameaça com revólver nem com faca. Não há ameaça. O que há é um processo de
sedução que, ao meu ver, é muito mais deletério para a saúde emocional da crian-
ça que a ameaça grave. Porque o pai vai seduzindo, ele vai avançando nas carícias
– eu digo o pai porque é a figura mais frequente, mas isso não impede que seja o
avô, o tio, o primo, o irmão, etc. – e é muito difícil para uma criança distinguir entre
a ternura e o afago com fins genitais.

[ 33 ]
ATENÇÃO:
A criança ou adolescente, seja qual for o método usado para praticar
o abuso sexual, não podem ser considerados culpados em hipótese
alguma. A culpa deverá sempre recair sobre a pessoa do adulto que
tem o dever e o poder de proteger a vítima. Isso se justifica plena-
mente devido a peculiar condição de ser humano ainda em desen-
volvimento atribuida às crianças e adolescentes, não tendo, portan-
to, ainda maturidade, nem estrutura psicológica suficiente, para se
defenderem das investidas sedutoras do agressor.

Principais características:
Abuso de Poder:
O agressor tem superioridade física, social, psicológica e legal em relação a criança ou adoles-
cente vitimizado.

Traição da Confiança

Por tratar-se de abuso sexual intrafamiliar, o agressor é uma pessoa conhecida da vítima. Pode
ser parente (incesto) ou amigo da família.

Violência Psicológica

Seja qual for o método usado, a violência psicológica sempre estará presente no abuso sexual.

Sigilo da Vítima

O silêncio da vítima é provocado pelo MEDO relacionado:

Segurança pes- Reprovação de Ficar longe da Prejudicar as pessoas Ninguém acre-


soal terceiros família que ama ditar na história
do abuso
Abusador diz: Abusador diz: Abusador diz: Abusador diz: Abusador diz:

“se você contar “se você contar “se você contar, “se você contar, eu “Ninguém dará
para alguém eu vão ficar zanga- vão te mandar mato seus pais” crédito a você”
te mato” dos com você” embora de casa”

Mesmo nível sócio econômico

A situação financeiro-cultural da família não é determinante para a ocorrência ou não do abu-


so sexual. Entretanto, quanto maior for o poder aquisitivo dessa família, mais alto e eficaz será o
muro de silencio em torno da violência praticada.

[ 34 ]
IMPORTANTE VOCÊ SABER!!!

Abuso sexual se inicia na faixa etária entre 06 a 12 anos (11), ficando mais frequente dos
08 a 12 anos (4).
75% das mulheres que tiveram seus filhos abusados sexualmente, foram também
abusadas sexualmente em suas próprias infâncias (12).
Agressores sexuais de crianças que sofrem distúrbios psiquiátricos são uma minoria (12).
20% a 35% dos agressores sexuais de crianças e adolescentes foram também abusa-
dos sexualmente em suas próprias infâncias (12).
35% das famílias incestogênicas abusam de álcool. (12).
De acordo com os dados do Disque 100, em toda sua série histórica, a maioria dos
abusadores sexuais é do sexo masculino e suas vítimas do sexo feminino (14).

Perfil da família incestogênica:


São características das famílias incestogênicas:
a) Padrões de dominação e submissão:

A estrutura familiar mais frequente no abuso sexual é a patriarcal rígida.

Quando meu pai vinha do serviço à noite, nosso sofrimento era maior. Nem bem
chegava e já começava a nos surrar. Na maioria das vezes, não sabíamos nem o
porquê de estarmos apanhando. O que sabíamos era que meu pai não gostava
de nos ver brincar. Na verdade, a gente nunca podia fazer nada. Falar era motivo
de surra; chorar era motivo de surra; tudo o que fazíamos era motivo de surra. AN-
DRADE (1998)

b) Problemas sexuais:

O relacionamento sexual nas famílias incestogênicas é disfuncional. Muitas vezes acontece de


um dos parceiros não estar sexualmente ativo para o outro devido a questões de ordem moral,
doenças ginecológicas ou físicas, ausência em decorrência de atividade profissional ou depressão.

“Meu pai obrigou minha mãe a manter relações sexuais quando ela ainda estava
no período de dieta. Ela sentia muita dor e tinha nojo do marido.” ANDRADE (1998)

c) Isolamento social:

O isolamento social da maioria das famílias incestogênicas é muito acentuado e os estranhos


são tratados com desconfiança.

d) Ausência de limites:
A vítima de incesto, não tem direito à privacidade. Sua intimidade é invadida sistematicamen-
te pelo agressor, sendo seu corpo objeto de violência física e sexual.

[ 35 ]
e) Confusão de papéis:

No incesto tipo “pai e filha”, geralmente a filha assume as funções da mãe, desempenhando
as tarefas domésticas, e o pai passa a tratar a filha como esposa substituta, esperando que ela lhe
proporcione gratificação sexual e apoio emocional.

f) Uso de drogas ilícitas e abuso de álcool:

De acordo com MARSHALL (1990), 35% das famílias incestogênicas abusam de álcool.

Grau de risco das famílias incestogênicas:


Todos os casos de abuso sexual requerem prioridade e uma rápida intervenção. En-
tretanto, para que se faça um adequado monitoramento dos casos concretos, é im-
portante atentar para os graus de risco que as famílias incestogênicas apresentam.

De acordo com o protocolo da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de


Risco para a Violência do Município de Curitiba, Paraná (13) , quanto ao risco, podemos classificar
as famílias incestogênicas:

a) Família de Risco leve:

Bom relacionamento entre seus membros;

Reconhece a agressão sexual como um erro e tem meios de evitar a reincidência;

Assume a defesa da vítima.

b) Família de Risco moderado:

Responsável único e sem condições de sustento da criança ou adolescente;

Histórico de abuso sexual com outros membros da família;

Não reconhece a agressão sexual como um risco.

c) Família de Risco grave:

Apresenta histórico familiar de violência sexual crônica;

Esboça indiferença, sinais de rejeição ou desprezo.

Responsável pela criança é agressivo;

Impede o acesso da rede de proteção à criança ou ao adolescente.

Perfil do agressor:
Agressor incestogênico:

É muito possessivo e proíbe a criança de se relacionar socialmente;

[ 36 ]
São pessoas aparentemente normais;

Relacionamento conjugal marcado por crises e problemas;

Abuso de drogas e/ou álcool;

O agressor geralmente é imaturo, egoísta, sem estrutura emocional para construir relaciona-
mentos saudáveis;

Culpa a criança ou o adolescente de promiscuidade e sedução;

Acredita que o relacionamento sexual com sua criança é forma de amor familiar;

Quando descoberto, nega veementemente o abuso.

Usa de autoridade, manipulação ou superioridade física para subjugar a vítima.

Agressor amigo ou conhecido da família:

Pessoa de aparência normal, geralmente amável.

Gosta de ficar com a criança longe da vigilância de outros adultos.

Usa de manipulação, presentes ou violência para conseguir o que quer.

Medo de relacionamento e intimidade com outros adultos.

Usa do efeito surpresa para efetuar o abuso.

Pode ser dependente de drogas e/ou álcool.

Pode ter problemas emocionais graves.

Perfil da vítima:
Segundo a Classificação de Duncan & Baker (apud Azevedo e Guerra (2000)), o perfil da criança
e do adolescente vítimas de abuso sexual apresenta as seguintes características:

Perfil vítima: Até 4 anos

Violências mais comuns: Indicadores físicos: Indicadores psicológicos:

• Estimulação genital/ • Inflamação, equimoses • Desenhos sexualizados;


anal; e fissuras vulvares/anais;
• Perturbação do sono;
• Tentativa de felação; • Hemorragia anal e ge-
• Medo de homens;
nital;
• Tentativa de penetração.
• Insegurança/
• Corrimento vaginal;
• apego excessivo;
• Doenças sexualmente
• Comportamento ou
• transmissíveis, incluindo
brincadeiras sexuais
gonorreia faríngea.
• Inapropriadas.

[ 37 ]
Perfil vítima: De 4 a 6 anos

Violências mais comuns: Indicadores físicos: Indicadores psicológicos:

• Felação; • Fissuras e equimoses • Limpeza compulsiva;


vulvares/anais;
• Masturbação; • Destruição simbólica re-
• Hemorragia vaginal e petida dos pais;
• Penetração digital;
anal;
• Acessos de raiva;
• Penetração sexual simu-
• DST (Gonorreia faríngea)
lada • Conhecimento sexual:
• Diarreia; brincadeiras, discurso e
desenhos;
• Constipação intestinal.
• Perturbações no sono.

Perfil vítima: De 7 a 12 anos

Violências mais comuns: Indicadores físicos: Indicadores psicológicos:

• Felação; • Diâmetro aumentado • Perturbações no sono


do orifício himenal ou
• Masturbação; • Fracasso escolar;
ausência hímen;
• Penetração digital; • Mudanças de humor;
• Canal vaginal alargado;
• Relação sexual; • Segredo/Ansiedade;
• Inflamação, equimoses
• Exibicionismo. ou fissuras anal/vaginal; • Mentiras, furto e condu-
ta incendiária;
• DST (Gonorreia farín-
gea); • Vontade excessiva agra-
dar;
• Infecções urinária repe-
tidas; • Assume papel maternal;
• Diarreias/Enurese; • Tentativas de suicídio;
• Enxaqueca; • Aparência pseudoma-
dura.
• Asma emocional

• Desordens do apetite.

[ 38 ]
Perfil vítima: De 13 anos ou mais

Violências mais comuns: Indicadores físicos: Indicadores psicológicos:

• Felação; • Gravidez • Relacionamentos po-


bres;
• Masturbação; • DST (Gonorreia farín-
gea); • Abuso de drogas/álcool;
• Relação sexual;
• Solicita orientação • Promiscuidade;
• Exibicionismo.
• quanto ao uso de • Automutilação;

• contraceptivos; • Depressão/desespero;

• Anorexia nervosa; • Estados fóbicos/ com-


pulsivos;
• Ingestão compulsiva de
• Assume papel maternal;
• Alimentos.
• Abusa sexualmente

• de outras crianças.

Sinais identificadores de abuso sexual:


Roupas rasgadas ou manchadas com sangue;

Erupções na pele, vômitos e dores de cabeça sem explicação médica;

Dificuldade em caminhar devido a inchaço ou sangramento no ânus ou vagina;

Doenças sexuais;

Autoflagelação;

Desagrado ao ficar sozinha(o) com alguém;

Regressão a comportamento muito infantil voltando a fazer as necessidades fisiológicas na


roupa, chupar dedo, choro excessivo;

Ideias e tentativas de suicídio;

Depressões crônicas;

Distúrbios no sono: medo do escuro, gritos;

Vítima de exploração sexual;

Toxicomania e alcoolismo;

Distúrbio no aprendizado;

Masturbação visível e contínua;

Conhecimento sexual inapropriado para idade.

[ 39 ]
Dicas para pais e professores do
departamento infantil:
Vamos relacionar a seguir, uma série de dicas que os pais e os professores do departamento
infantil da igreja, podem e devem TRANSMITIR para as crianças que estejam sob sua responsabi-
lidade.

DICA 1: Todas as partes do seu corpinho foram feitas por Deus e são importantes. Cada uma de-
las têm uma função específica. Entretanto, existem algumas PARTES QUE SÃO ÍNTIMAS e ninguém,
MESMO UMA PESSOA CONHECIDA, pode tocar nessas partes ÍNTIMAS de forma sexualizada.

DICA 2: Receber carinho é bom demais, entretanto, caso alguém acaricie seu corpo, e esse to-
que deixar você com MEDO, CULPA ou VERGONHA, DIGA NÃO e busque contar o que aconteceu
para um adulto da sua confiança.

DICA 3: Caso um adulto ou adolescente mais velho, acariciar seu corpo e pedir para que você
guarde segredo, NÃO GUARDE ESSE SEGREDO. Procure um adulto da sua confiança e relate o que
ocorreu.
DICA 4: Infelizmente, nem todas as pessoas são de confiança e algumas podem querer men-
tir e enganar você. Elas fingem ser boazinhas quando estão na presença de outras pessoas, mas
podem virar um VERDADEIRO LOBO MAU, ao ficarem sozinhas na sua companhia. Não se deixe
intimidar, CONTE O QUE ESTÁ ACONTECENDO para alguém de confiança.

DICA 5: Fique ESPERTO e busque conversar com um adulto da sua confiança se alguém abor-
dar você para:

Exibir revistas, filmes ou sites pornográficos;

Convidar você para assistir pessoas se tocando sensualmente;

Narrar histórias pornográficas;

Mostrar de forma erotizada os órgãos genitais para você;

Beijar ou tocar seu BUMBUM, VAGINA, PÊNIS, COXAS, PERNAS, SEIOS, ou qualquer outra
parte do seu corpo, de forma que deixe você constrangido.

DICA 6: Diante de um abuso sexual, compreenda que o SILÊNCIO É O SEU PIOR INIMIGO. O
agressor poderá dar presentes, ameaçar ou até bater em você, tudo com o objetivo de que FIQUE
CALADO e guarde SEGREDO sobre o que aconteceu. Ele precisa do seu silêncio para continuar o
abuso. Coragem, você não tem do que se envergonhar. DENUNCIE!!! A CULPA NÃO É SUA.

DICA 7: Nem sempre é bom obedecer aos adultos. Caso alguém queira tocar seu corpo de for-
ma erotizada, diga NÃO e busque se afastar dessa pessoa imediatamente. Conte para um adulto
de confiança o que aconteceu.

DICA 8: Se ficar desacompanhado em casa, não abra a porta para ninguém e tome cuidado,
quando atender o telefone, para não dar a informação de que está sozinho.

DICA 9: Jamais aceite presentes ou convites para passear na companhia de pessoas estranhas;

DICA 10: Nunca aceite em ser fotografado SEM ROUPAS ou EM POSIÇÕES SEXUALIZADAS;

ATENÇÃO para essas dicas sobre a internet:

DICA 11: Fique ALERTA quando for navegar pela internet para não entrar sozinho em salas de
bate papo;
[ 40 ]
DICA 12: Caso, acidentalmente, você acesse uma página com conteúdo pornográfico, SAIA
imediatamente;

DICA 13: Jamais converse online com pessoas desconhecidas;

DICA 14: Nunca compareça sozinho para encontros presenciais com pessoas que conheceu
virtualmente. Melhor evitar esse tipo de “amizade”.

DICA 15: Não diga onde mora e nem dê seu e-mail nas suas redes sociais;

DICA 16: NÃO POSTE fotos que identifiquem sua residência e nem sua escola.

Onde Denunciar e Buscar Ajuda:


Diante de um caso concreto de abuso sexual contra crianças e adolescentes você pode notifi-
car o fato para os seguintes canais de denúncia:

Disque 100

Conselho Tutelar da sua cidade


Polícia Militar (190)

Ministério Público Estadual

Delegacia Especializada em Crimes contra Crianças e Adolescentes

Delegacia Comum (nos casos de ausência de delegacia especializada)

Sobre o Aplicativo SABE:


A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – SNDCA, em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com apoio da Fundação Abrinq, da Childhood
Brasil e da Editora Caqui., criou o Aplicativo SABE – Conhecer, aprender e proteger. O SABE é um
lugar seguro e confiável onde as crianças e adolescentes podem obter informações sobre seus di-
reitos e aprenderem a se proteger de várias modalidades de violência, inclusive a sexual.

O APP se encontra disponível para ser baixado em seu celular.

https://play.google.com/store/apps/details?id=br.gov.mmfdh.sabe

[ 41 ]
Violência doméstica
na modalidade
ABUSO PSICOLÓGICO
contra crianças e adolescentes

[ 42 ]
Marco Conceitual:
O abuso psicológico se faz presente em toda e qualquer forma de violência, sendo uma de
suas principais características a relação desigual de poder entre o autor da agressão e sua vítima.

A Lei 13.431/17, em seu Art. 4º, inciso II, alínea “a”, conceitua violência psicológica como:

qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à


criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, ma-
nipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, ridicularização, indiferença,
exploração ou intimidação sistemática ( bullying ) que possa comprometer seu
desenvolvimento psíquico ou emocional;

Por não deixar marcas físicas, esse fenômeno muitas vezes é ignorado, porém seus efeitos são
devastadores. A criança, pela sua peculiar condição de ser humano em desenvolvimento, é in-
defesa a esse tipo de ataque. A rejeição, o isolamento, o medo, as humilhações, dependendo da
gravidade, podem produzir feridas na alma da vítima, influenciando negativamente a forma de
enfrentar os desafios e de se relacionar com as demais pessoas na fase adulta.

Pilares da saúde emocional:


É muito recompensador ajudar uma criança ou adolescente a crescer de forma saudável e
plena. Acreditamos que a maioria dos pais quer de verdade que seus filhos sejam felizes, porém
muitos deles não sabem como tornar isso possível. Às vezes, os traumas vivenciados na própria in-
fância são reproduzidos de forma inconsciente na pessoa daqueles que mais amam, ou seja, seus
próprios filhos.

Um ser humano saudável emocionalmente, precisa sentir-se valorizado, aceito e seguro. As


crianças e adolescentes, mais do que ninguém, necessitam que esses três pilares se façam presen-
tes em suas vidas, para poderem desfrutar de uma boa autoestima e amadurecerem preservados
do jugo do abuso psicológico.

Passaremos a seguir a abordar quais ATITUDES os pais, parentes e responsáveis legais precisam
adotar a fim de desenvolverem os pilares da VALORIZAÇÃO, ACEITAÇÃO e SEGURANÇA na vida de
suas crianças e adolescentes.

Pilar da VALORIZAÇÃO
Como criar e fortalecer o sentimento de valorização em uma criança ou adolescente:

Dando amor incondicional


As humilhações, o descaso, as variadas formas de maus-tratos sofridos por uma criança, são ori-
ginados na maioria das vezes por pais despreparados, estressados e cheios de sentimentos nega-
tivos. O fato gerador de uma baixa autoestima, quer seja em adultos ou crianças, está diretamente
relacionado à ausência de amor incondicional por parte dos pais.

O amor incondicional é um pré-requisito para que o ser humano ame a si mesmo.


Mas o que é amor incondicional? Qual o sentido exato dessa expressão? Amar in-
condicionalmente é amar “apesar de”. É amar sem limites, sem condições, é gostar

[ 43 ]
de alguém, não pelo que a pessoa produz ou faz, mas sim pelo que ela é. Amar
incondicionalmente é transpor barreiras, é amar apesar dos defeitos e falhas.

Apesar de amarem muito os filhos alguns pais se acostumam a demonstrar esse amor somen-
te quando os mesmos conseguem se sobressair em alguma atividade ou levar a cabo alguma
tarefa. A demonstração do amor fica condicionada ao que a criança é capaz de realizar e não ao
que ela é em sua individualidade. Essa forma de interagir, apesar de bastante comum, é profun-
damente nociva para a criança, que desde cedo passa a nutrir o sentimento de que seus pais só a
amarão se obtiver bons resultados nas mais variadas áreas de sua vida.

Um exemplo clássico de amor incondicional está retratado nas sagradas escrituras, na história
do filho pródigo.

Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte
dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço,
ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vi-
vendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e
ele começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e
este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que
os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores
de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu
pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda lon-
ge, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse:
Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, dis-
se aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias
nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu
filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Lc 15: 11-24

É fundamental que os pais externem o amor que sentem pelos filhos seja qual for a situação.

Para Refletir:
E você, como está tratando seu filho? Com amor incondicional?

Dedicando tempo e atenção de qualidade


Certo dia estava participando de um evento e durante o discurso de boas-vindas a an-
fitriã pegou o microfone e disse:
Queridos colegas, eu tenho 20 anos de trabalho dedicados ao estado. Hoje sou uma mulher
sem marido, que não viu os filhos crescerem e que se encontra completamente cansada e frustra-
da, e o pior de tudo, é que não vejo as pessoas reconhecerem todo meu esforço. Sinto-me decep-
cionada. Quero lhes dar um conselho: nunca sigam o meu exemplo, não vale a pena. Desperdicei
oportunidades maravilhosas de estar na companhia de meus filhos, de conhecê-los melhor, de
ser mãe, amiga e companheira deles. Hoje tenho a sensação de que corri atrás do vento.

As crianças medem o amor e o tamanho da importância que têm para seus pais
por meio do tempo e do grau de atenção que recebem deles.

[ 44 ]
Muitos filhos são vítimas de abuso psicológico, quando o ativismo dos pais faz com que não
exista um relacionamento de intimidade entre eles. Algumas vezes, a sobrecarga de compromis-
sos faz com que os pais se tornem, com o passar dos anos, figuras inatingíveis para seus filhos, que
com um sentimento profundo de desamparo se sentem rejeitados e preteridos na escala de prio-
ridade dos genitores.

Um advogado muito bem sucedido disse:

O melhor presente que já ganhei foi num Natal, quando meu pai me deu uma caixinha.
Dentro dela havia um bilhete que dizia: “Meu filho, este ano eu lhe darei 365 horas, uma hora
todos os dias após o jantar. Elas são suas. Vamos conversar sobre o que você quiser, vamos onde
você quiser, brincar do que você quiser brincar. Vai ser uma hora para você! “O meu pai não só
cumpriu a promessa” disse ele, “mas a renovou a cada ano, e foi o melhor presente que já ga-
nhei na vida. Eu sou o resultado do tempo que ele dedicou a mim.

Tão importante quanto dedicar tempo para os filhos é observar a QUALIDADE desse tempo.
De nada adianta o pai passar o final de semana em casa, se em vez de desfrutar da companhia
dos filhos e da esposa, prefere se distrair diante da televisão, lavar o carro ou ler aquele livro de 400
páginas durante o dia inteiro.

A criança que recebe tempo e atenção da parte daqueles que ama, tem seu tanque emocional
abastecido e goza de excelente autoestima. O hábito de conversar com os filhos, mesmo que seja
por alguns minutos diários, dando aos mesmos oportunidade para se expressarem, brincarem e
se relacionarem de forma agradável, produz frutos maravilhosos. Vale a pena cultivar momentos
de convívio familiar.

Para Refletir:
E você, tem dedicado um tempo de qualidade para seu filho? Ou
está ocupado demais para desfrutar da companhia dele?

Respeitando o ritmo da criança e do adolescente


Nossa sociedade é profundamente competitiva. Assim que os filhos nascem os pais passam a
alimentar grandes planos e realizações para eles. Existem três áreas em que os pais esperam que
os filhos os superem:

ACÚMULO DE BENS
BELEZA INTELIGÊNCIA MATERIAIS

BELEZA

O desejo dos pais é tão intenso, no sentido de que seus filhos vençam na vida, que a criança
hoje em dia quase não tem tempo para curtir sua infância.

Conheci uma certa senhora cujo filho de oito anos de idade só tinha permissão
para brincar durante meia hora por dia. O resto do tempo era preenchido por au-
las de judô, piano, natação, basquete, inglês, computação e os deveres da escola.
O resultado disso foi uma sobrecarga de tarefas onde a criança ficou estressada e
deprimida devido ao acúmulo de atividades impostas a ela.

[ 45 ]
O ritmo de desenvolvimento da criança deve ser respeitado. Os pais precisam controlar a própria
ansiedade e permitir que seus filhos vivenciem com liberdade e leveza cada etapa de suas vidas.

Para Refletir:
E você, como está lidando com seu filho? Está respeitando o ritmo
de desenvolvimento ou superlotando a agenda dele de atividades?

Respeitando o seu poder de decisão


Poder tomar decisões faz parte do desenvolvimento do ser humano. Quanto mais chances der-
mos a criança para que exerça seu poder de escolha, mais ela se tornará independente e madura.

Embora muitas vezes a criança ainda não esteja preparada para governar sua própria vida
sozinha é fundamental que os pais incentivem a capacidade de escolha dos filhos para que gra-
dativamente desenvolvam auto confiança, tornando-se na idade adulta pessoas acostumadas a
tomarem decisões com segurança.

Os pais podem começar a delegar gradativamente o poder de decisão para seus filhos, até
sentir que eles já estão maduros para arcar com responsabilidades maiores.

Exemplos práticos:

Criança de três anos de idade:

– Filho, você gostaria de tomar seu leite com ou sem Nescau ?

Criança de sete anos:

– Carlinhos, vou deixar suas cinco melhores camisas de sair em cima da cama, escolha qual a
que você quer usar para ir à igreja.

Poder tomar parte no processo de escolha da própria vida é fundamental.

Conheci uma família onde a criação dos filhos era extremamente castradora. Eles tinham
três filhos. Dois homens e uma mulher. A menina morava perto da minha casa e costumáva-
mos brincar juntas em minha infância. O tempo foi passando e nós fomos crescendo. Cresceu
também a repressão dos pais sobre minha pobre amiga, que chamarei aqui de Maria. Ela só
tinha permissão de sair de casa para escola. Não tinha amigos nem vida social. Aos vinte anos
Maria estava tão sufocada que um dia amanheceu lavando as mãos compulsivamente e em
meio a uma crise de nervos teve que ser internada em um hospital psiquiátrico. Hoje, já com
quase quarenta anos, Maria ainda mora com seus pais. Não casou, não se formou, não teve
chance de errar, nem de acertar, nunca correu riscos, porém não amadureceu, vive em uma
redoma protegida pelos pais e entorpecida por remédios receitados por seu psiquiatra.

Para Refletir:
E você, deixa seus filhos fazerem escolhas? Ou toma todas as
decisões por eles?

[ 46 ]
Deixando a criança desempenhar tarefas, a fim de que se sinta útil e necessária
Todo ser humano gosta de ser útil e necessário no ambiente em que vive. A criança se sente
importante e com a autoestima alimentada quando é convidada a ajudar no desempenho de
alguma tarefa doméstica. Ela se sente valorizada e responsável. Os pais, entretanto, devem buscar
agir com paciência quando delegarem tarefas para seus filhos executarem. Às vezes o adulto age
com grosseria e sem nenhum tato, tomando a frente da criança, que está se esforçando para de-
sempenhar aquilo que lhe foi pedido.

RYZEWSKI e BERETTA (1994) relatam um caso típico acerca do que acabamos de comentar:

O novo dever de Jenifer é pôr a mesa. Na primeira vez a mãe lhe dá uma mão, mostra-lhe
onde colocar os talheres, os pratos, os copos e os guardanapos. No outro dia as duas põem a
mesa juntas, só para certificar-se de que Jenifer tem a ideia certa do que fazer. Até agora tudo
bem. Mas no terceiro dia vai por a mesa sozinha. Ela joga os talheres ao lado de cada prato a
esmo. Esquece de colocar a pimenta na mesa para seu pai. Coloca os guardanapos em cima
dos pratos, ao invés de ao lado de cada prato como a sua mãe lhe ensinou. A mãe reclama: “A
sua memória é do tamanho de um rabo de ovelha”. Vai até a mesa, passa por cima da coitada
da Jenifer e põe a mesa da maneira correta. “Pronto”, diz a mãe, “É assim que se faz”. Jenifer olha
para sua mãe com os olhos cheios de lágrimas.

Atitudes como essas fazem com que a criança se sinta incompetente e fracassada em cumprir
a missão a ela confiada, ficando com uma rachadura em sua autoestima. É importante deixar a
criança completar em paz aquilo que foi incumbida de fazer.

Pilar da ACEITAÇÃO

A criança que é sempre criticada, aprende a condenar.

A criança que é sempre hostilizada, aprende a agredir.

A criança que é sempre ridicularizada, aprende a ser tímida.

A criança que é sempre envergonhada, aprende a sentir culpa.

A criança tratada com tolerância, aprende a ser paciente.

A criança que é encorajada, aprende a ser confiante.

A criança que é elogiada, aprende a apreciar.

A criança que recebe um tratamento imparcial, aprende a ser justa.

A criança que vive em segurança, aprende a Ter fé.

A criança que é aprovada, aprende a gostar de si mesma.

A criança que vive em meio à aceitação e amizade, aprende a descobrir o amor no mundo.
Doronthy Law Nolte

O sentimento de aceitação é básico para o desenvolvimento da personalidade de todo ser


humano. A criança quando nasce, tem na família seu primeiro referencial e modelo. Logo, se o
ambiente doméstico é repleto de amor e carinho, ela se sentirá feliz, valorizada e forte.

[ 47 ]
Fatores que geram sentimentos de NÃO aceitação:

Críticas constantes

A crítica quando feita de forma construtiva tem seu espaço e faz parte do processo de amadu-
recimento de todos nós. Entretanto, principalmente quando se tratar de uma criança ou adoles-
cente, ela deve ser feita com amor, cuidado e moderação.

Os pais muitas vezes, na ânsia de corrigir seus filhos, acabam por sobrecarregá-los com co-
branças intermináveis. É sabido que o ser humano fixa sua atenção mais profundamente nas ex-
periências desagradáveis do que nas bem sucedidas. Logo, uma criança que só escuta críticas de
seus pais e não recebe créditos pelas coisas positivas que realiza, experimentará um sentimento
profundo de rejeição e frustração.

Cuidado ao criticar sistematicamente seu filho. Tal hábito pode gerar nele uma personalidade
medrosa e insegura, tornando-o incapaz de encarar desafios e confiar no próprio potencial para
vencer os embates da vida.

Para Refletir:
Você tem criticado muito seu filho? Essas críticas são construtivas ou
expressam apenas seu grau de insatisfação em relação a ele?

Exigir da criança um desempenho acima de suas forças

Muitos pais anseiam em ter como filho uma “criança-modelo”. Geralmente exigem que tirem a
nota máxima em todas as disciplinas na escola, escolhendo seus amigos e até mesmo seu futuro
profissional.

Sem perceberem, sonham para os filhos, coisas que eles próprios não conseguiram realizar em
suas vidas, vendo nos mesmos uma projeção do próprio eu, como se tivessem uma segunda chan-
ce de planejar a própria existência. Entretanto, tais imposições são extremamente castradoras,
fazendo com que a criança pense que não é aceita pelo que ela é, passando a vivenciar os sonhos
e expectativas de outra pessoa.

Tomei conhecimento de uma tragédia familiar que retrata bem o que acabamos de comen-
tar. Vou chamar a mãe de “Maria” e seu filho de “Carlinhos”. Maria era mãe solteira, trabalhava
em uma máquina de costura o dia todo a fim de proporcionar ao filho único, Carlinhos, uma
educação de qualidade. Ela era extremamente exigente com a criança. Sempre que ele chegava
em casa com uma nota 9, ela dizia: - Carlinhos na próxima vez quero ver um 10. Quando ele tirava
uma nota 10, ela dizia: - Você não fez mais do que a sua obrigação Carlinhos, pois só vive para es-
tudar. O tempo passou, e Carlinhos cresceu e foi prestar o vestibular de medicina, pois era sonho
de sua mãe que ele fosse um médico. No dia do resultado do vestibular, Carlinhos foi até a banca
de revista comprar o jornal para ver o resultado do exame e verificou com grande pesar na alma
que não tinha conseguido passar na tão sonhada faculdade de medicina. Angustiado, chegou
em casa e escreveu um bilhete de despedida para mãe se matando logo em seguida. No bilhete
estava escrito: “Mãe, sinto muitíssimo por tê-la decepcionado. Seu filho, Carlinhos”

[ 48 ]
Fazer comparações acerca do desempenho das crianças

Existe um ditado popular que diz: “Até os dedos da mão são diferentes”. Na prática esse ditado
está correto, pois é fato que não existem duas pessoas iguais.

Somos equipados com uma variedade imensa de dons naturais. Uns têm mais aptidão para
música, já outros para trabalhar com números e outros com esporte. O leque é bem extenso.

Tal constatação nos leva a pensar como é extremamente injusto comparar o desempenho de
um filho com outro. Logo, se um se destaca nas artes plásticas, o outro pode vir a se destacar na
culinária, não tendo como medir qual deles é o mais dotado de talentos.

Entretanto, infelizmente, os pais gostam de comparar o progresso de seus filhos entre si e ao


de outras crianças. A mãe vê o filho da vizinha e já faz suas comparações. Sua “cria” precisa se nive-
lar ou superar as demais que a rodeiam. Essa necessidade em estar sempre comparando a inteli-
gência, beleza e desenvoltura da criança, pode gerar ansiedade dentre outros déficits emocionais.

Na ânsia de alcançar a superioridade, a criança acaba desenvolvendo sentimentos de inferio-


ridade. Ela sente rejeição quando não consegue se sobressair nos esportes ou no curso de línguas
achando que sua capacidade é defasada. Entretanto, é preciso que os pais entendam e ensinem
seus filhos que cada um de nós é inferior em algumas áreas em relação a outras pessoas. Por outro
lado, cada um de nós possui pontos positivos em que nos sobressaímos acima da média.

Para Refletir:
Você costuma comparar seus filhos? Ou reforça a ideia de que cada
um deles é único e especial?

Fatores que geram sentimentos de aceitação


Declare seu amor verbalmente

Muitos pais externam seu amor mais através de ações do que com palavras. A casa arrumada,
a roupa lavada, o pagamento da mensalidade do colégio em dia, a compra do vestido novo, tudo
isso é indício do cuidado e dedicação que os pais geralmente têm pelos seus filhos.

Entretanto, apesar do alto preço que os pais pagam para sustentar seus filhos com dignidade,
só isso não basta. A criança precisa escutar o amor que seus pais sentem por ela de forma verba-
lizada. É muito importante ouvir o “eu te amo” ou expressões do tipo: “ filho você é valioso(a) para
mim”; “ Filha(o) você está muito bonita nesse vestido”.

Tudo isso me faz lembrar minha própria história de vida. Meu pai sempre foi um homem
de quem me orgulhei muito. Responsável, nunca deixou que faltasse nada dentro de casa. O
que eu quisesse, e estivesse dentro de suas condições financeiras, ele se esforçava para me dar.
Entretanto, devido o corre-corre de sua rotina sempre agitada e cheia de compromissos, nunca
tive muito tempo com ele durante minha infância e adolescência. Um dia, já casada e com 30
anos de idade, eu e ele tivemos tempo de parar e conversar um pouco. Num diálogo despreten-
sioso ele disse algo que encheu meu coração de felicidade. Ele me olhou com muito carinho e
me perguntou: “Você sabe qual foi o dia mais feliz da minha vida?” Eu respondi: “Não, qual foi?”
Ele falou sorrindo meigamente: “O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que você nasceu!”

Não espere 30 anos para abrir seu coração para seu filho(a). Fale! Expresse todo seu amor hoje
mesmo, amanhã pode ser tarde demais.

[ 49 ]
Para Refletir:
Você já falou que ama seu filho hoje?

Elogie sempre que possível

Palavras são sementes que podem destruir ou edificar a autoestima de qualquer ser humano.
Se quisermos ter crianças felizes e cheias de autoconfiança, que se sintam aceitas e amadas em
seu ambiente familiar é fundamental semear palavras positivas em suas mentes e corações.

Dicas sobre como elogiar seus filhos:

O elogio deve ser feito de acordo com a idade:

Seja honesto no seu elogio:

Ex: Se a criança é “nariguda”, não mencione seu nariz, mas sim a beleza de seus olhos.

Não faça elogios que lembrem defeitos ou falhas:

Ex: Eu nunca imaginei que você conseguisse passar no vestibular, mas você passou.

Não exagere na demonstração de entusiasmo:

Ex: Você passará tranquilamente no vestibular de medicina. Confiamos em você !!!

A Bíblia fala que tudo que o homem plantar certamente colherá. Resta os pais fazerem um
autoexame e verificarem o que estão semeando. Palavras de vida ou palavras de morte na vida de
seus filhos.

Receba bem os amigos de seu filho

As amizades são importantíssimas para uma criança. O ambiente doméstico deve ser um lu-
gar de conforto e segurança onde ela se sinta com liberdade para trazer seus amigos.

Às vezes a criança sente receio de aprofundar seus relacionamentos, pois já sabe que não terá
a permissão dos pais para convidar seus coleguinhas a virem até sua casa. Pior do que isso é quan-
do os amigos o visitam e acabam ouvindo críticas, repreensões ou “cara feia”.

Manter uma atitude amistosa em relação aos amigos de nossos filhos gera neles o sentimento
de que são aceitos e amados por nós.

Para Refletir:
Seu filho pode trazer os amigos para brincar em casa? Como você
recebe os amigos do seu filho?

Fale a verdade, não use mascaras.

Um relacionamento verdadeiro precisa ser construído na sinceridade. Entretanto admitir fa-


lhas e defeitos diante dos filhos é visto por muitos pais como um sinal de enfraquecimento da
autoridade. Achamos esse entendimento equivocado e acreditamos que a mentira provoca mais
estragos na relação pais e filhos do que benefícios.

[ 50 ]
Um pai contou que o filho chegou em casa com nota baixa em álgebra. “Quando terminei
minha conversa com ele, meu filho deve ter pensado que sempre tirei dez em álgebra na escola”,
disse ele, “Mas, na verdade, quais são os fatos? Depois de ter completado um semestre de álgebra
o professor me chamou e disse: Você é tão fraco na matéria, que vou passá-lo de ano só para me
ver livre de você.’ Ao pretender ser tão superior, dei a meu filho um sentimento de desesperança.
Se tivesse sido honesto e lhe dito que sabia o que estava passando, porque eu também tivera difi-
culdade em álgebra, teria dado esperança a meu filho (9).

O melhor método de aprendizagem é dando o exemplo. Ou seja, quando o adulto confessa seus
erros, sua atitude humilde e corajosa, ensina a criança a copiar a mesma postura diante da vida.

Pilar da SEGURANÇA
Toda criança necessita de segurança. Essa é uma de suas necessidades mais básicas, sendo
sua ausência uma forma severa de abuso psicológico. Vamos abordar alguns fatores que, quando
acontecem dentro do ambiente doméstico, produzem angústia e instabilidade, prejudicando seu
desenvolvimento saudável.

Fatores que geram sentimentos de insegurança

Desentendimento entre os pais

Nada desestrutura mais uma criança do que perceber um ambiente de ódio e hostilidade en-
tre seus pais. Os pais são aqueles que ela mais ama e depende, sendo natural que se sinta insegura
e magoada com as constantes brigas e desavenças dentro do ambiente doméstico.

Se por um lado, presenciar constantes cenas de violência entre os pais é prejudicial, crescer
alienado, sem perceber que faz parte de todo relacionamento surgirem diferenças e conflitos,
também não é saudável.

As brigas fazem parte do relacionamento familiar e não devem ser mascaradas. O importante
é que as crianças percebam que, apesar das diferenças existentes entre seus pais, o amor que os
une é suficientemente maduro para resolvê-las.
Os conflitos, quando superados com amor dentro do ambiente doméstico, ajudam os filhos a
amadurecerem e se prepararem melhor para enfrentarem a vida.

Ausência de limites

Os limites nos dão uma prazerosa sensação de segurança. A criança que percebe nos pais
firmeza e definição clara no modo de agir, se sente feliz e acolhida. O fato de se ter uma família
permissiva, onde não existem regras, causa na criança um sentimento profundo de instabilidade
e insegurança.

Com relação à questão dos limites gostaríamos de enfatizar a importância de se adotar um


padrão justo e estável quanto a sua aplicação. Ressaltamos isso por percebermos que muitos pais
colocam limites de forma intempestiva para os filhos, provocando com isso mais confusão e an-
gústia, do que a segurança e estabilidade.

Podemos citar como exemplos do que acabamos de afirmar pais que: quando estão de bom
humor ou sobre o efeito do álcool, adotam uma atitude permissiva e condescendente em relação
aos filhos e quando sóbrios ou zangados, descontam todo seu estresse e fúria na pessoa de suas
crianças. Quando isso acontece, a criança fica confusa, perdendo o parâmetro para discernir o que
é certo e o que é errado, já que em algumas situações, pelo mesmo comportamento, é repreendi-

[ 51 ]
da ou até mesmo corrigida fisicamente e em outras ocasiões os pais simplesmente não ligam para
seu comportamento anteriormente castigado.

É interessante destacar o fato das crianças e adolescentes “aparentemente” resistirem à de-


marcação de limites. Entretanto, é importante os pais perceberem que essa resistência é apenas
superficial.

Na verdade, quando analisamos mais profundamente a questão, percebemos que, se os limi-


tes colocados forem justos e aplicados com coerência, eles serão bem absorvidos.

Uma mocinha de 17 anos achava difícil acreditar que Deus a amava, porque não podia mais
confiar no amor humano. Certo dia na casa de uma amiga, ela viu a mãe beijar a filha e dizer: “Olhe,
querida, espero que esteja de volta às 11 horas. Não se atrase. Vou ficar esperando você.” Como se
recebesse uma facada no coração, ela ficou imaginando por que sua mãe nunca parecia se im-
portar onde ela estava ou quando iria voltar para casa. Para descobrir se a família realmente se
interessava por ela, resolveu ficar fora até tão tarde que eles se preocupassem com seu bem-estar
ou talvez chamassem a polícia. A jovem foi a um espetáculo noturno. Depois foi para uma estação
de ônibus e encolheu-se num banco, cansada e desejando ansiosamente estar na cama. Quase de
manhã finalmente chegou em casa, fazendo bastante barulho na esperança de que alguém ou-
visse. Ninguém perguntou quem era. Ninguém deu atenção. Na hora do café ninguém perguntou
onde estivera a noite inteira. Ela tinha a sua resposta! Com essa mágoa profunda no coração estava
se arrastando pela vida (9).

Nada machuca mais do que a indiferença daqueles que amamos.

Pressionados pelo ativismo, os pais abrem mão totalmente do controle que deveriam ter so-
bre seus filhos. Tal comportamento em vez de repercutir positivamente, causa uma sensação de
profundo desamparo e insegurança. Os filhos tratados com excesso de permissividade pelos pais
convivem com o sentimento de que não são amados, pois raciocinam: quem ama cuida.

Fatores que geram sentimentos de segurança


O que promove segurança na vida de uma criança:

Observar que seus pais têm um bom relacionamento conjugal;

Sentir o amor de seus pais por meio de palavras e toques tais como: abraços e expressões
carinhosas;
Sobre a importância do toque, de acordo Dr. Frederic Burke, um pediatra de Washington, D. C.,
que ressalta a importância dos pais ninarem o bebê.

Eu recomendo uma cadeira de balanço”, diz ele. “A maioria das mães compreende que o bebê
precisa ser tocado, acariciado, abraçado e ouvir palavras carinhosas” O Dr. Burke continua: “Todas
essas coisas são agradáveis, suaves e reforçam a segurança da criancinha ... Acredito firmemente
que o fato de sentir as mãos e os braços amorosos dos pais fica impresso na mente dela; e embora
aparentemente esquecido, ele tem uma tremenda influência sobre o ego da criança e o tipo de
adolescente em que vai tornar-se.

Ter uma rotina regular a seguir dentro do ambiente doméstico. Ou seja, hora para dormir,
tomar café, almoçar, etc;

Desfrutar do sentimento de pertencimento, sabendo que é um importante e amado mem-


bro da família;

Ser escutado por seus pais com atenção:

[ 52 ]
Vivemos num mundo tão agitado que muitas vezes nos falta tempo e disposição para ouvir de
verdade o que nossos filhos têm a nos dizer.

Entretanto uma das melhores formas de demonstrar que eles são amados, fazendo com que
se sintam seguros é dando uma chance para que se comuniquem de forma plena conosco.

É natural do ser humano se expor apenas quando percebe que está em um terreno seguro.
Uma criança pode aprender desde muito cedo que não deve confiar nos adultos.

Isso geralmente ocorre quando:

É ridicularizada quando tenta contar algum segredo que para ela tem grande significado;

Sente indiferença e pouca atenção nas vezes que busca se comunicar e compartilhar seus
dilemas e dúvidas;

Percebe quando vai abrir sua intimidade que vai escandalizar e ser julgada com severidade.

Todo ser humano, ao ser rejeitado, tende a se fechar. Entretanto, quando um filho encontra
em seus pais um ouvido amigo em que possa dividir seus bons e maus momentos, seus êxitos e
fracassos, ele crescerá com uma constante sensação de segurança e que poderá sempre contar
com o apoio e amor de sua família.

Para Refletir:
Você conversa com seu filho? Ele tem liberdade para falar aberta-
mente com você sobre qualquer assunto?

[ 53 ]
Referências Bibliográficas:
1. ALLENDER, Dan. Lágrimas secretas: cura para vítimas de abuso sexual na infância. São Paulo:
Mundo Cristão, 1999

2. ARIÈS, Phillipe. História Social da Criança e da Família. Trad. Dara Flaksman, 2a edição. Rio de
Janeiro: Guanabara. Koogan, 1981

3. ANDRADE, Fabiana Pereira de. Labirintos do incesto: o relato de uma sobrevivente. Editora
Escrituras. 1998

4. AZEVEDO & GUERRA. Telecurso de Especialização na Área da Violência Doméstica Contra


Crianças e Adolescentes. São Paulo: Lacri/USP, 2000.

5. AZEVEDO, M.A.; GUEERRA, V.N.A., (2007). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno po-
der. São Paulo: Iglu. 2ª Edição.

6. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União,
Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

7. BRASIL. Lei 13.431, de 04 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da


criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, Brasília, 4 abr. 2017.

8. DEMAUSE, L. (org.) (1975). The history of childhood. New York: Harper Torchbooks.

9. DRESCHER, John M. Sete necessidades básicas da criança [livro eletrônico] / John M. Dres-
cher; traduzido por Neyd Siqueira. — São Paulo: Mundo Cristão, 2013.

10. FRANK, Jan. Uma porta de esperança. Editora Candeia, São Paulo. 1994

11. LANGBERG, Diana Mandt. Abuso Sexual – aconselhando vítimas: tradução Werner Fuchs,
Curitiba: Editora Evangélica Esperança. Título do original: Counseling Survivors of Sexual Abuse,
Tyndale House, Wheaton. 2002

12. MARSHALL,W.L.,D.R.Laws e H. E. Barbaree. Handbook of Sexual Assault, Plenum Press, New


York. 1990

13. SAFFIOTTI, Heleieth. A exploração sexual de meninas e adolescentes: aspectos históricos e


conceituais. In: BONTEMPO, Enza Bosetti et alli (org.). Exploração sexual de meninas e adolescen-
tes no Brasil. Brasília: UNESCO/CECRIA, 1995.

14. PAINEL DE DADOS DA OUVIDORIA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Disponível em:


<https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh/painel-de-dados>. Acesso em: 9 jan. 2023.

15. PROTOCOLO DA REDE DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE


RISCO PARA A VIOLÊNCIA/ organização Hedi Martha Soeder Muraro; equipe técnica Bruna Tro-
vão...[et al.]; co-autores Andrea da Silva Sant’Ana...[et al.]. – 3. ed. rev. e atual. – Curitiba: Secretaria
Municipal da Saúde, 2008.

16. RYZENWSKI, Luiz A., BERETTA, Mara Z., RYZENWSKI, Maria V. Filhos positivos – como motivar
suas crianças. Porto Alegre – RS: Lar Publicações, 1994.

[ 54 ]
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