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O presente caderno foi elaborado pelo Professor, em conjunto com

participação dos alunos, conforme aulas e ainda, com material extra aula,
conforme excertos de obras/julgados, sem nenhum interesse econômico ou
financeiro, apenas para fins didáticos. Por isto, as citações são simples, sem
rigor metodológico, e servem apenas como um guia de orientações e resumo
do que foi visto durante o semestre!
Quaisquer erros, correções , inclusões, por favor, nos avise!!

Sumário
Aula 01 – Apresentação / Introdução ....................................................................................................................... 1

Aula 02 – continuação.................................................................................................................................................. 4

Aula 03 – Conceito (continuação). ............................................................................................................................. 6

Aula 04 – Conteúdo, teorias e elementos.................................................................................................................. 7

Aula 05 – Atos Unilaterais......................................................................................................................................... 12

Aula 06 – Obrigação Positiva de Dar. ..................................................................................................................... 19

Aula 07 – Obrigação Positiva de Dar (continuação) ............................................................................................. 23

Aula 08 – Obrigação Positiva de Dar Coisa Incerta. Obrigações de Fazer. ...................................................... 29

Aula 09 – Obrigações negativas. Astreintes. Obrigações simples, conjuntivas/cumulativas e


disjuntivas/alternativas. ............................................................................................................................................. 33

Aula 10: Classificações quanto: ao tempo de adimplemento; conteúdo/fim; elementos


acidentais; e pluralidade de sujeitos (divisíveis/indivisíveis; fracionárias/solidárias) ................................ 39

Aula 11.A (Leitura Obrigatória) – Adimplemento e Extinção Obrigações. .................................................... 49

Aula 11.B – Inadimplemento das obrigações. Parcial (mora). Total. .............................................................. 54

Aula 01 – Apresentação / Introdução

Bibliografia: CC comentado de coordenação do Min. Peluso; Manuais de Direito


Civil (Washington de Barros Monteiros, Flávio Tartuce, Gustavo Tepedino etc;
Clássicos: Clóvis Beviláqua, Serpa Lopes, Orlando Gomes etc.
Obrigações – Função na sociedade: CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS,
movimentação economia, dentre outros.

Introdução
Todo direito encerra em si sempre uma ideia de obrigação, como antítese
natural – “se há direito, há obrigação; direito e avesso do mesmo tecido”.

Assim, a teoria geral das obrigações versa sobre um velho problema do


Direito (e da sociedade): de um lado, deve-se considerar a liberdade do indivíduo, a
sua independência em face aos demais membros da sociedade e Estado; de outro, a
vida social, com necessário entrelaçamento entre componentes da coletividade, com
surgimento de relações. “Nenhuma sociedade existe sem a ideia de contrato, (...) sem
a cooperação de seus membros” (SERPA LOPES). Por isto, há imperativa
necessidade de existência de relações obrigacionais, seja diretamente decorrendo da
lei ou consequências de convenções livremente pactuadas.

De acordo com Washington de Barros Monteiro, em sentido amplo (lato


sensu), obrigações são “as sombras que os direitos projetam sobre o mundo” – just et
obligatio sunt correlata (à todo direito corresponde uma obrigação).

Ainda, dentro do sentido amplo, encontramos vários outros significados, v.g.:


dever (Art. 24, 27, IV, etc); lados de uma relação jurídica (crédito/débito – tenho uma
“obrigação” em meu favor, devo uma obrigação em desfavor de outrem); causa
geradora do vínculo (ex: realizei uma “obrigação” de venda do bem - contrato). Ainda,
alternativamente, obrigação por vezes é o termo utilizado para o instrumento que dá
vida ou comprova uma obrigação (Ex: Lei Federal 4357/64).

Por outro lado, em sentido estrito (stricto sensu), que são as obrigações
disciplinadas no livro I, da Partes Especial do Código Civil – Direito das Obrigações,
as obrigações possuem um sentido peculiar e próprio: as obrigações são as que
vinculam uma pessoa a outra, através da declaração de vontades e lei, dento por
objeto uma determinada prestação.
Histórico/Evolução do Conceito:
Historicamente, o conceito de obrigações evoluiu ao longo dos tempos – juntamente
com a sociedade. Já nas Institutas (de Justiniano), eram definidas de acordo com o brocardo
Obligatio est juris vinculum, quo necessitate adstringimur alicuius rei solvendae, secundo nostrae civitatis jura
.

OBS: Institutas é o nome dado a uma das partes do Corpus Iuris Civilis (533 DC),
cuja redação foi ordenada por Justiniano, à época imperador do Império Romano do
Oriente), e baseia-se em obra elaborada séculos antes de sua redação, por sua vez chamada
de Institutas de Gaio, cuja data estimada é do ano 160 D.C., apesar de haver divergências
quanto às datas.

Modernamente, o CC brasileiro não define um conceito de obrigações. Assim, para


o estudo, tomemos o conceito de Washington de Barros Monteiro, para quem “Obrigação
é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, cujo
objeto consiste em uma prestação pessoal, econômica, positiva ou negativa, devida
pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento por seu patrimônio.

Disto, destrincha-se o conceito:

-Relação Jurídica: Relação juridicamente exigível e protegida, surgida em


conformidade com o Direito.

Exclui outras obrigações, como por exemplo, religiosas, morais etc. Assim, gratidão,
urbanidade, cortesia, escapam à incidência do direito das obrigações. Não são obrigatórias
pela lei, pois seu adimplemento só pode ser espontâneo, sem possibilidade de incidência de
responsabilidade.
Porém, embora não obrigatórias, obrigações não-jurídicas por vezes são protegidas
pela lei: por exemplo, o Art. 882 dá ao credor o direito de reter pagamento feito
espontaneamente em obrigações naturais/doações remuneratórias (solutio retentio). Ainda,
doações remuneratórias sequer podem ser revogadas (Art. 564, I, CC). OBS: Doação
remuneratória: é a feita em caráter de retribuição por um serviço/vantagem prestado pelo
donatário, cujo preço não pode ser exigido.

Aula 02 – continuação.

-Caráter Transitório:

Satisfeita a prestação, espontânea ou judicialmente, extingue-se a obrigação. Não há


obrigação perpétua! Para melhor compreensão, vale estabelecer um contraponto com os
direitos reais: uma característica marcante é a perpetuidade dos direitos reais (como a
propriedade, por ex, que só se “extingue”, via de regra, pela morte ou vontade da própria
parte de a transmitir), que tendem à vida de seu titular ou até dele se desfazer: “exercer o
direito real é a vida deste direito”, ao passo que, no direito das obrigações, “exercer o direito
é morte deste direito”. A obrigação liga/amarra as partes, o adimplemento
desata/desamarra/libera; extingue o vínculo obrigacional).

-Partes - Duas Pessoas (no mínimo):

O Direito, afinal, versa sobre as relações humanas. Assim, em toda obrigação, como
regra geral, há duas pessoas em posições jurídicas distintas: credor/devedor (obs: Mesmo
nos chamados atos unilaterais, como a promessa de recompensa, haverá duas pessoas:
uma, no momento que estabelece a promessa; e a segunda, indeterminada a princípio, porém
posteriormente é determinada (quem cumpre o requisito para receber a promessa) e irá exigir
o cumprimento da obrigação – promessa. São partes o SA (sujeito ativo) e SP (sujeito
passivo).

-Prestação - Natureza Econômica:

Seu objeto sempre exprime ou é exprimível em um valor pecuniário – deve ser


sempre suscetível de aferição monetária. Ainda que o objeto da obrigação em si não seja
moeda, deve ser exprimível em moeda – por ex, uma obrigação de fazer pode ser exprimida
em um valor pecuniário, mas a obrigação em si é uma conduta humana) –
PATRIMONIALIDADE (NÃO RECAI SOBRE CORPO DO DEVEDOR,.

Atualmente a responsabilidade de uma obrigação recaía sobre o patrimônio de uma


pessoa, como regra geral. Porém, nem sempre foi assim: por exemplo, como visto em aula,
na Lei das Doze Tábuas havia previsão da responsabilidade recair sobre o corpo do devedor,
conforme visto em aula.

Então, especialmente após a edição da lex poetelia papiria, a responsabilidade passou a


recair sobre o patrimônio (e não mais sobre o corpo) do devedor, princípio que vem sendo
adotado em boa parte do mundo contemporâneo. (OBS: Apesar de não se ter uma data
precisa, alguns chegam a dizer que esta lei foi editada no ano 326 antes de Cristo -(cf.
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780199381135.013.8190 - Oxford Classical Dictionary).

No entanto, ainda há episódios pontuais em quem uma dívida pode atingir o corpo
ou direitos da personalidade da pessoa. Sobre o tema ver: CF – Art. 5, LXVII; CC – 391;
CPC – 789. Súmula Vinculante 25 STF e Meios Atípicos de Execução:

*Prisão Civil por dívidas alimentares: caráter persuasivo (“pressão”) e não repressivo
(punitivo); o descumprimento deve ser voluntário/escusável, ou seja, não há prisão se
houver impossibilidade/inescusável de prestar os alimentos.

*Revogação da previsão constitucional de prisão civil do depositário infiel: EC 45 –


Previsão de status constitucional para tratados internacionais de direitos humanos aprovados
com quórum de emenda. STF - Pacto São José de Costa Rica, status de norma “supralegal”.
Efeito paralisante do tratado com relação a matéria infraconstitucional sobre depositário
infiel. Súmula Vinculante 25 STF.

*Meios atípicos de execução – possibilidade de restringir certos aspectos da


personalidade, como suspensão do direito de dirigir, passaporte, dentre outros, em alguns
casos. Sobre o tema sugere-se a leitura:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/14112021-Os-
meios-atipicos-de-execucao-hipoteses--requisitos-e-limites--segundo-o-STJ.aspx
(Sugestão para aprendizado: usar a notícia do STJ, de cunho predominantemente jurídico,
e resumir o tema, elencando em tópicos: Meios Atípicos de Execução: conceito, distinção de meios
típicos, possibilidade, fundamento, exemplos e requisitos!)
Aula 03 – Conceito (continuação).

-Pessoal/Interpartes/Relativas

Pessoal não no sentido de que recai sobre o corpo do devedor, mas sim no sentido
de que está adstrita à pessoa vinculada, não sendo oponível a terceiros (este conceito
também é chamado de relatividade das obrigações). OBS: (Sobre o tema, pesquisar pelo
princípio da “relatividade dos contratos”).

Sobre a pessoalidade das obrigações, porém, há algumas nuances que merecem ser
citadas – em alguns casos específicos, há possibilidade de seus efeitos ultrapassarem a pessoa
das partes, e atingir terceiro, citando-se duas classificações:

Obrigações Reais: Há obrigações que podem advir do fato de determinada pessoa


ser detentora de determinado direito real. Neste caso, diz-se estar diante de obrigações de
caráter misto ou propter rem (“próprias da coisa”), que “acompanham a coisa”, ou ainda,
“ambulatórias”, pois “andam” de pessoa a pessoa, vinculando cada um que venha a se tornar
titular do bem. “Misto” porque não são propriamente reais: não atingem todo e qualquer
terceiro, mas somente aquele que vier a ter uma relação/direitos sobre a coisa; e também
não são propriamente obrigacionais/pessoais, pois o credor pode exigir prestação de
terceiros que com ele não contratou. Exemplos: Obrigações Ambientais sobre imóveis rurais
(Art. 12, Código Florestal, dentre outros); Dívidas condominiais (Art. 1334, I, CC);
Obrigação que tem o dono de coisa perdida de recompensar o descobridor (1.234 CC);
dentre outras.

OBS: Algumas dívidas tributárias, especialmente se alusivas à propriedade do bem,


também possuem características propter rem, no sentido de acompanhar a coisa, porém há
quem diga que não são propriamente obrigações reais, já que decorrem de ramo do Direito
e sistema normativo próprio, com suas próprias regras, princípios etc. Exemplo: (IPTU)
Obrigações com eficácia real: A doutrina ainda aponta que algumas obrigações,
embora inicialmente pessoais, também podem atingir terceiros, normalmente adquirentes, se
atendidos certos requisitos, vg, o direito de preferência e também o direito de vigência do
contrato de locação de imóveis urbanos (somente oponível a terceiros se preenchidos
requisitos, dentre eles, se registrado na matrícula imobiliária – Art. 32 e Art. 8 da Lei de
Locações de Imóveis Urbanos); a cláusula de retrovenda (idem – Art. 507 CC); o direito de
preferência decorrente do contrato de arrendamento rural (Art. 92 do Estatuto da Terra,
sendo os requisitos melhor esclarecidos por seu decreto regulamentador - Art. 22 do Decreto
59566 de 1966) etc.

Aula 04 – Conteúdo, teorias e elementos.

Conteúdo da relação jurídica:


Débito (“schuld”/”debitum) – “dever” - dever de voluntariamente cumprir uma
prestação;

Responsabilidade (“haftung”/”obligatio”) – “responsabilidade” - possibilidade de


alcançar o patrimônio de alguém (normalmente o devedor, porém em certos casos pode
atingir terceiros) para satisfação da obrigação.

Teorias/Embasamento Teórico:
Várias são as teorias que buscam explicar o direito das obrigações.

Monista/Unitária: nas obrigações há uma única relação jurídica: dever de


prestar (conduta) (shuld). Já o inadimplemento e responsabilidade (haftung) seria matéria de
direito processual, pois é necessariamente judicial. Uma crítica a esta teoria é que é incorreta
pois o inadimplemento em si não extingue a obrigação (Art. 308 e seguintes). A obrigação
persiste até ser finalmente extinta, ainda que judicialmente, seja involuntariamente por
determinação judicial (ex: penhora/arrematação de bens), seja por reconhecimento de algum
fato extintivo, impeditivo ou modificativo do direito do credor.
Dualista/Binária: Há sempre duas relações: Uma principal – Responsabilidade (do
patrimônio do devedor); a outra secundária: dever/débito/cumprimento espontâneo da
obrigação. Uma crítica feita a esta teoria é que ela se esquece que há obrigações em que há
débito sem responsabilidade (ex: obrigação já prescrita – não pode ser executada, porém, se
adimplida voluntariamente, não caberá direito à restituição), e também, casos de
responsabilidade sem débito (ex: contrato de fiança, em que o fiador pode ver seu patrimônio
responder por uma obrigação que não lhe cabia cumprir voluntariamente).

Eclética/Mista: A obrigação tem dois elementos (haftung e shuld) essenciais,


mas um completa o outro constituindo uma unidade obrigacional “mista”, com débito e
responsabilidade..

Elementos da Obrigação
-Elemento Imaterial ou espiritual:

Trata-se do vínculo jurídico, o laço virtual que, por força de lei e oriundo de
acordo de vontades, vinculam as partes ao cumprimento de uma prestação. Assim, pelo
vínculo, sujeita-se a esfera de direitos patrimoniais do devedor ao credor. Fundamento –
Art. 391 CC; 789 CPC. OBS: Relembrar dívida por alimentos; depositário infiel
(impossibilidade – SV 25 STF), bem como os meios atípicos de execução!

Além disso, é neste elemento que encontramos o conteúdo da relação jurídica (shuld
e haftung e teorias monista, dualista, eclética)

-Elemento Subjetivo

São as partes, sendo sujeito ativo o credor e sujeito passivo o devedor.

Fundamentos: Personalidade Civil – Art. 2º e outros artigos adiante mencionados.

Quem pode ser credor e / ou devedor?


A princípio, qualquer sujeito de direitos é capaz de contrair direito e obrigações.
Exemplos:

-pessoa maior (por si próprio); -pessoas menores (representados/assistidos,


lembrando casos especiais em que é necessário alvará judicial); -pessoas jurídicas, dentre
outros. Além desses, citem-se alguns casos especiais:

- entes despersonalizados - apenas atos autorizados por lei! como por exemplo a
execução de débitos pelo condomínio, conforme previsão da Lei Federal 4.591/64, ou ainda,
atos praticados pela massa falida, na forma da lei de falências e recuperações.

-Pessoa não existente? – (apenas em casos expressos! como a do Art. 542 (doação
em favor de nascituro), ou ainda, a do Art. 1.799 do CC (cláusula testamentária em favor de
pessoa ainda não concebida/concepturo ou pessoa jurídica em formação).

O elemento subjetivo pode se alterar no curso da relação (por exemplo, cessão de


crédito, assunção de dívida, etc), desde que atendidos certos requisitos, de acordo com o
estudo que será feito de cada um desses institutos.

Pode ser determinado ou determinável (inclusive, no nascimento da obrigação, pode


ser ainda com pessoa a determinar, como por ex, na promessa de recompensa).

Ainda, como já visto, pode haver também alteração nas chamadas obrigações propter
rem, que acompanham a coisa. Relembremos que outro nome para essas obrigações é que
são chamadas também de mistas pois não são reais (na medida que não são oponíveis a
todos, mas tão somente ao titular de um bem) e nem pessoais (na medida em que podem ser
opostas a pessoas que não a contrataram), como por exemplo, débitos tributários incidente
sobre um imóvel, dívidas ambientais, etc.

-Elemento Objetivo:
Consiste na prestação – atividade do devedor de dar, fazer (positivas) ou não fazer
(negativa).

Modernamente, diz-se que as prestações são dinâmicas, na grande maioria dos


contratos as partes são mutuamente credoras e devedoras de prestações, como por
exemplo, em um contrato de compra e venda o vendedor deve uma obrigação de pagar,
porém, uma vez pago o preço, tem um crédito de uma obrigação dar, de receber o imóvel;
já o comprador tem um crédito de pagamento a receber, e, uma vez recebido, tem um débito
de dar (transferir) o bem. Assim, tem-se que a relação crédito-débito, a prestação, é
dinâmica.

Além disso, a prestação é ligada ao objeto estudado na parte geral – atos e negócios
jurídicos. Deve ser lícita, possível, determinada ou determinável e, especificamente para ser
uma obrigação, deve ser economicamente apreciável – se não houver apreciação econômica,
estaremos diante de um dever, e não tecnicamente obrigação (ver artigo de Eros Grau
postado). Exemplo de dever: dever de guarda dos filhos.

Lembrando semestres anteriores:

-lícito – não contraria lei, moral ,bons costumes ou a ordem pública (legalidade do
Art. 5 CF – “pode tudo o que não é proibido”)

-possível: passível de realização pelas “leis naturais” (impossibilidade física - vedado


atos fisicamente impossíveis – Ex: vender imóvel situado no Planeta Mercúrio) e “lei
humana” (impossibilidade jurídica – exemplo, contrair casamento com mais de uma pessoa
ao mesmo tempo).

-determinado ou determinável: individualizado ou possível de individualização


de acordo com critérios previamente estabelecidos.

Fontes da Obrigações:
Fonte é aqui utilizado no sentido figurado, como “origem”. Aqui são estuados fatos
aptos a gerarem obrigações, ou seja, quais fatos criam vínculo de crédito/débito a uma
prestação entre partes.

a) Lei: Fonte primária, da qual deriva todos direitos e deveres. Princípio legalidade
– Art. 5 CF (em uma sociedade republicana, somente seu igual pode lhe impor algum dever.
Assim, o povo , por meio de seus representantes, criam leis, que lhes estabelece direitos e
obrigações).

OBS: Há divergência na doutrina, pois para alguns doutrinadores (ex Orlando


Gomes) a lei seria apenas fonte de deveres, ao passo que somente por vontade das partes
(um fato jurídico) poderia haver obrigações no sentido técnico. Por outro lado, Maria Helena
Diniz defende que a lei pode sim criar obrigação, em sentido técnico, citando como exemplo
o dever dos pais de prestar alimentos aos filhos (decorre de lei, creio que possa ser
considerado dever e obrigação ao mesmo tempo).

b) Contratos – são tidos como fonte principal do direito obrigacional, afirmação com a qual é de
se concordar integralmente. Como exemplos podem ser citadas as figuras tipificadas no Código Civil, tais
como a compra e venda, o contrato estimatório, a doação, a locação, o comodato, o mútuo, a prestação de
serviços, a empreitada, o depósito, o mandato, a comissão, a agência e distribuição, a corretagem, o transporte,
o seguro, a constituição de renda, o jogo e a aposta, a fiança, a transação e o compromisso, bem como algumas
figuras atípicas, não previstas em lei. Somente para fins didáticos, demonstrando que a concepção de contrato
não se confunde com a de obrigação, pode-se conceituar o primeiro, em uma visão clássica ou moderna, como
o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação, modificação e extinção de direitos e deveres com
conteúdo patrimonial. Esse conceito, seguido amplamente na doutrina brasileira, está inspirado no art. 1.321
do Código Civil italiano.

OBS: Inclusive, em manuais mais antigos, a parte de contratos era descrita como
“causa geradora de obrigações” (por ex, Clovis Beviláqua).

c)Os atos ilícitos e o abuso de direito – são fontes importantíssimas do direito


obrigacional,

com enorme aplicação prática. Gerando o dever de indenizar, é forçoso entender que o abuso de direito
(art. 187 do CC) também constitui fonte de obrigações. Ambos os conceitos ainda serão abordados neste
volume da coleção.

d)Os atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito

obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de recompensa, da gestão de
negócios, do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa. Tais institutos jurídicos também serão
estudados neste volume, logo a seguir.

e)Títulos de crédito – são os documentos que trazem em seu bojo, com caráter autônomo, a

existência de uma relação obrigacional de natureza privada. O seu estudo interessa mais ao Direito
de Empresa ou Comercial e merecerá, na presente obra, apenas breves comentários.

(Em itálico – fonte: TARTUCE, Flavio, 2021.)


Aula 05 – Atos Unilaterais.

Introdução – Topografia.
A disciplina desta matéria no CC encontra-se atualmente na parte de
contratos. Porém, creio ser importante um estudo dos atos unilaterais aqui, junto com as
fontes das obrigações, pois, de acordo com Silvio Rodrigues :

“Também o pagamento indevido parece-me mal situado dentro do Código. O


pagamento Indevido e uma secção de um tema mais importante, a saber; o enriquecimento
sem causa. E, ao invés de ser um efeito das obrigações, e uma de suas fontes. O que, alias,
se verifica da mera leitura do art. 964 do Codigo Civil”

Neste mesmo sentido, depreende-se dos ensinamentos de Flávio Tartuce que, ao


lecionar a matéria, a incluiu na parte de “direito das obrigações” e não em contratos.

Como visto em aula, também seguimos este entendimento, pois via de regra os
contratos são exclusivamente negócios jurídicos bilaterais, ao passo que as obrigações podem
surgir de atos de vontade de apenas uma das partes – os chamados atos unilaterais.

Ressalte-se que, via de regra, o vínculo (obrigação) somente surge após acordo de
vontade entre partes (Art. 104, I, CC). Excepcionalmente, porém, o vínculo surgirá com a
manifestação de vontade de uma das partes, somente ocorrendo a manifestação da segunda
parte em momento posterior ao ato jurídico unilateralmente já constituído, e por isto são
chamados de “atos unilaterais”.

Atos unilaterais em espécie:

Promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC);


Conceito: “Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou
gratificar a quem preencha certa condição ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação
de cumprir o prometido” (Art. 854).

A doutrina elenca os seguintes requisitos:

-Capacidade de quem emite a promessa;


-Objeto – Lícito, possível determinado/ável. (Art. 104 CC).

-Publicidade do anúncio.

Presentes os requisitos, aquele que cumprir a condição/serviço, mesmo que de


forma desinteressada (855), fará jus à recompensa (a partir daí, surge a obrigação). Por
exemplo: promessa de recompensa de animal de estimação publicada; pessoa que sequer
sabe da promessa acaba encontrando o animal e devolve ao dono. Conquanto esta pessoa
estivesse totalmente desinteressada na promessa (já que não sabia), fará jus à recompensa.

Revogação: mesma forma em que feita a promessa, antes de realizado o fato


prometido e com mesma publicidade (art. 856).

“No caso de revogação da promessa, se algum candidato de boa-fé tiver feito


despesas, terá direito a reembolso quanto a tais valores. Discute-se se haverá direito à
recompensa se o candidato tiver executado a tarefa a contento, não sabendo da revogação
da estipulação. Pela valorização da boa-fé e pelo que consta do art. 855, entendo que a
resposta não pode ser outra que não a positiva. Nesse sentido, vale citar o Código Civil
português, que estabelece em seu art. 459.º, (parágrafo) 2: “Na falta de declaração em
contrário, o promitente fica obrigado mesmo em relação àqueles que se encontrem na
situação prevista ou tenham praticado o facto sem atender à promessa ou na ignorância dela”
(TARTUCE, Flávio. 2021).

Ainda, em caso de concurso público, as obras premiadas só pertencem ao promitente


se assim estipulado na promessa (860CC) – via de regra, monografias e trabalhos (inclusive
jurídicos) pertencem aos autores, nos termos da Lei de Direitos Autorais (9610/1998).
Porém, conforme CC, é possível prever que os direitos patrimoniais de exploração da obra
passarão a pertence ao promitente.

Outros detalhes (simultaneidade, etc) – Ver CC/Manual à sua escolha.

Gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC);


“Entende-se por gestão de negócios a atuação de um indivíduo, sem autorização do
interessado, na administração de negócio alheio, segundo o interesse e a vontade presumível
de seu dono, assumindo a responsabilidade civil perante este e as pessoas com que trata”
(STOLZE;
PAMPLONA, op cit TARTUCE)

Basicamente, o código atribui responsabilidade ao gestor perante o proprietário


(inclusive por atos fortuitos em alguns casos – Art. 862), e, de outro lado, assegura direito
de reembolso ao gestor das despesas e indenizações que o gestor teve de suportar para
preservação do interesse do gerido. Para melhor compreensão, remeta-se os alunos à uma
leitura do código e manual de direito civil;.

Pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC);


Conceito: Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a
restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a
condição. (Art. 876 CC). Assim, se alguém que deva uma dívida erroneamente deposita
dinheiro em favor de quem não é o credor, o pagamento não possui efeito liberatório (Art.
308 CC), e ainda, quem recebeu tem obrigação de restituir (876CC).

É uma das espécies do enriquecimento sem causa. Havendo pagamento não devido,
há locupletamento sem razão, em detrimento de quem indevidamente pagou.

Prova de erro no pagamento: compete a quem pagou (solvens), e a ação cabível é a


repetição de indébito (actio in rem verso). Assim, deve haver prova do “erro”, deve demonstrar
que pagou por engano, sem nenhuma causa. Excepcionalmente: Súmula 322 STJ – contrato
de abertura de conta corrente não se exige prova do erro” (princípio boa-fé objetiva e
protecionismo do consumidor – afinal, o próprio Banco debita unilateral e automaticamente
valores das contas dos consumidores).

Classificações doutrinárias;

Pois bem, entre os contemporâneos, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho apresentam
duas modalidades de pagamento indevido (Novo curso..., p. 369):

a)Pagamento objetivamente indevido: feito quando nada é devido, havendo erro quanto à existência
ou extensão da obrigação. São exemplos os casos envolvendo débito inexistente ou débito inferior ao valor
pago.
b)Pagamento subjetivamente indevido: feito à pessoa errada, a alguém que não é credor. Em casos
tais, a máxima quem paga mal paga duas vezes não impede a propositura de ação de repetição de indébito,
diante da vedação do enriquecimento sem causa. (TARTUCE, Flavio. 2021)

OBS: Não confundir: Repetição de indébito em virtude de pagamento indevido


(876) com repetição de indébito em virtude de indenização civil (repetição em
DOBRO do indébito”) – Art. 940 CC/42 CDC (relação consumerista).

Prevê o Art. 940 do CC que se alguém demanda por dívida já paga, ficará obrigado
pela restituição em dobro do valor. Trata-se de especial hipótese de responsabilidade civil,
com requisitos próprios, distintos da repetição de indébito em virtude de pagamento
indevido. Por exemplo, para haver responsabilidade civil, deve haver conduta, nexo causal,
dano e, especificamente com relação à devolução em dobro, uma latente má-fé. Já para o
pagamento indevido, a devolução é apenas uma vez, em virtude de erro do solvens (quem
paga), pois efetua pagamento em favor de quem não era seu credor ou por dívida que não
existia/a manor.

OBS: Casos em que NÃO é possível pedir a RESTITUIÇÃO: Muito embora


em alguns casos tecnicamente não fosse possível de ser cobrado o pagamento inicialmente
feito, não cabe o pedido de restituição por pagamento indevido:

882 CC(dívida prescrita – obrigações naturais) – decisão política do legislador de


proteger obrigações morais/naturais;

883 CC: aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral ou proibida –
decisão política do legislador de coibir negociações ilícitas;

815 CC – empréstimo para jogo ou aposta no ato de apostar; - idem ao 882.

588 CC– mútuo feito a menor de idade – proteção ao menor de idade;

591 CC– juros não estipulados (são devidos) – proteção à circulação do crédito como
um todo;

OBS – o 883 é uma “exceção” – normalmente, para configuração do enriquecimento


ilícito/pagamento indevido, é necessário que haja o empobrecimento de uma parte e
respectivo enriquecimento de outra, sem motivo. Assim, no pagamento
indevido/enriquecimento ilícito ordinário há a remoção do enriquecimento mediante
devolução a quem sofreu o empobrecimento. No parágrafo único do 883, no entanto, há
apenas a remoção do enriquecimento – o valor é destinado a instituição, sem, porém,
devolução do valor ao empobrecido.

EXTRA:

Indenização por Frutos acessões, etc – regras do 1213 e 1222.

Indenização Imóvel: regras próprias – quem recebeu indevidamente e alienou –


boafé(879); Má-fé – perdas e danos, conforme Arts. 402 e 404 CC.

Reivindicação do imóvel: apenas possível se - imóvel ainda em poder de quem o


recebeu indevidamente; ou, se quem o recebeu indevidamente o transferiu a título gratuito;
ou se quem recebeu indevidamente o transferiu a terceiro que estava de má-fé

Enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC


Fundamentos: eticidade – equilíbrio patrimonial e pacificação social.

Conceito: Orlando Gomes: * “Há enriquecimento ilícito quando alguém, a


expensas de outrem, obtém vantagem patrimonial sem causa, isto é, sem que a tal vantagem
se funde em dispositivo de lei ou negócio jurídico anterior.”

Regime Jurídico – 884 CC “aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de
outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores
monetários”.

Ainda, o parágrafo único dispõe que se o enriquecimento tiver por objeto coisa
determinada, quem a recebeu é obrigado a restitui-la, e, se a coisa não mais subsistir, a
restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.

Assim, o CC não admite qualquer forma de enriquecimento sem uma causa, já que
em tese acarreta o empobrecimento de alguém também sem causa.

Ressalte-se que havendo pagamento indevido, estar-se-á diante da espécie de mesmo


nome (876 CC) – porém, pode ocorrer enriquecimentos injustos sem que haja
pagamento indevido (884 CC), como por exemplo, a invasão de um imóvel com
finalidade de, no futuro, adquirir sua propriedade por usucapião. Ressalte-se que o
pagamento indevido é uma forma específica de enriquecimento ilícito – já o enriquecimento
sem causa contempla outras formas de enriquecimento indevido, que não o pagamento.

Requisitos de acordo com doutrina tradicional:

-o enriquecimento do accipiens (de quem recebe);

-o empobrecimento do solvens (de quem paga);

-a relação de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento;

-a inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes ou pela lei; e

-a inexistência de ação específica. – Caráter subsidiário do enriquecimento sem causa


(886 CC) – exemplo, empresta bem (que deve ser restituído) e o bem é destruído, com culpa.
Não há enriquecimento, mas sim é hipótese de indenização (188 CC). Por outro lado, se a
pessoa que recebeu o bem em empréstimo, auferindo lucros, e, posteriormente, o bem é
destruído, caberá indenização pelo valor do bem E enriquecimento ilícito pelo lucro auferido
(afinal, não era proprietário e não lhe era dado vender)

Modernamente, a doutrina vem afastando o requisito de que tenha de haver o


empobrecimento da outra parte – Vide Enunciado 35, CJF - A expressão "se enriquecer à
custa de outrem" do art. 886 do novo Código Civil não significa, necessariamente, que deverá
haver empobrecimento. Ver também, abaixo, enunciado 620 CJF.

Assim, em alguns casos, a doutrina vem afastando este requisito, sendo exemplo o
que o denominado “lucro da intervenção” ou lucro ilícito”.

De acordo com SAVI, Sérgio: “ao intervir na esfera jurídica alheia, normalmente
usando, consumindo ou dispondo dos bens e direitos de outrem, o interventor pode vir a
obter um lucro, denominado doutrinariamente de lucro da intervenção. Este benefício
econômico pode ou não decorrer de um ato que também cause, simultaneamente, danos ao
titular do direito. Quando a intervenção não causar danos ou, causando danos, o lucro obtido
pelo ofensor for superior aos danos causados, as regras da responsabilidade civil,
isoladamente, não serão suficientes enquanto sanção pela violação de um interesse
merecedor de tutela”
Assim, o lucro da intervenção pode ser conceituado como o auferido por quem, sem
autorização interfere nos direitos alheios, e, por meio desta interferência, obtém lucro, ainda
que não tenha gerado um empobrecimento material da pessoa que sofreu a intervenção em
seus direitos.

Para a doutrina, o lucro de intervenção não deve ser visto como uma modalidade de
indenização, já que ausente dano, mas sim como de enriquecimento indevido, no sentido de
retirar da esfera jurídica do ofensor/invasor os lucros auferidos por meio da conduta
ofensiva a direitos alheios. Neste sentido: Enunciado

620 CJF. “a obrigação de restituir o lucro da intervenção, entendido como a vantagem patrimonial
auferida a partir da exploração não autorizada de bem ou direito alheio, fundamenta-se na vedação do
enriquecimento sem causa”.

VER TAMBÉM: Leitura do julgado postado na SAVI!!

LEITURA OBRIGATÓRIA – 01-09

Classificações das Obrigações:

De forma resumida, as obrigações podem ser classificadas em:

1) Quanto à natureza do objeto: positivas ou negativas E estas, em


positivas de dar/fazer e negativas (não fazer)
2) Quanto à liquidez do objeto: líquidas ou ilíquidas.
3) Quanto ao objeto da prestação: simples, cumulativas, alternativas
facultativas)
4) Quanto ao tempo do adimplemento: instantânea, diferida e
continuada/periódica.
5) Quanto aos elementos acidentais: pura, condicional, modal, à termo.
6) Quanto ao fim/conteúdo: de meio, resultado ou garantia.
7) Quanto à pluralidade de sujeitos: única ou múltipla (divisível,
indivisível ou solidária).
8) Quanto autonomia/reciprocamente consideradas: principal ou
acessória.
Aula 06 – Obrigação Positiva de Dar.

Obrigações Positivas/Negativas:

Refere-se ao conteúdo da prestação, que pode ser dar, fazer ou não fazer (dare,
facere ou non facere). As duas primeiras são chamadas de positivas, e a segunda sob a
denominação de obrigações negativas (ato de abstenção, pati – aquiescer, permitir).

Via de regra, as obrigações de dar envolvem o destaque de um determinado bem


da esfera de disponibilidade do patrimônio do devedor para a do credor (ex: venda). Já a
de fazer envolve os esforços físicos, morais ou pessoais do devedor (ex: prestação de
serviços).

Já as negativas resultam em uma imposição ao devedor de deixar de praticar um


ato que a princípio lhe era lícito praticar acaso não lhe houvesse se obrigado a uma
abstenção (SERPA LOPES). Ex: Não concorrência em trespasse empresarial (não
concorrência). Além deste sentido, pode significar em um tolerar, ou mais que isso,
permitir uma invasão em seu próprio direito (por ex, em uma servidão de passagem, o
proprietário deve permitir que o proprietário do prédio vizinho passe por sua
propriedade).

Uma grande diferença da obrigação positiva par aa negativa é que a intenção de


pagar (animus solvendi) é menos aparente nesta última – o adimplemento se manifesta pelo
não fazer do devedor. É este o pagamento da obrigação negativa.

Uma outra diferença é sobre a mora: nas positivas, pode ser purgada; já nas
negativas, via de regra, a prática do ato que devia se abster gera automático
inadimplemento absoluto, irremediável (Art. 251)

Obrigação Positiva de Dar.

Pela obrigação de dar, o devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa,


que pode ser certa ou incerta (ver a seguir).

A obrigação de dar em sentido estrito ocorre quando o ato material da entrega


implica em transferência da propriedade da coisa (ex: venda de um automóvel).
Já a obrigação de entregar diz-se de transferência apenas da posse de determinado
bem (ex: aluguel de um imóvel – o locador entrega a posse ao locatário e permanece
como proprietário).

Finalmente, a obrigação de restituir diz-se do dever de devolver a coisa que


recebeu (ex acima, o locatário tem o dever de devolver -restituir- a posse do imóvel após
o fim do contrato de locação). São exemplos: depositários, comodatários, locatários, etc.

Note que nas duas primeiras (dar e entregar) quem tem o dever (devedor) de dar
ou entregar é o proprietário do bem (proprietário é DEVEDOR e quem recebe o bem
é o CREDOR da obrigação de dar/entregar) ao passo que na última (restituir) quem
tem o dever de restituir é quem possui o bem e não é proprietário (proprietário é
CREDOR da obrigação de restituir , e quem está na posse mas não é proprietário é o
DEVEDOR da obrigação de restituir; o proprietário credor que tem o direito de receber

o bem). Isto ocasiona diferença na distribuição de riscos e responsabilidades. É


importante ter isto em mente, pois o Código analisa as responsabilidades à partir
da culpa do devedor, e o estudante deve estar ciente de quem é o devedor em
uma ou outra relação pode mudar (nas obrigações de dar/entregar via de regra o
proprietário é devedor, já nas de restituir é credor).

A obrigação positiva de dar ainda pode ser:

De dar coisa certa (obrigação específica): O objeto é um bem certo e


individualizado.

De dar coisa incerta (obrigação genérica): o devedor compromete-se a entregar


um bem considerado no gênero a que pertence, e não à sua individualidade (ex: obrigação
de entregar 10 sacos de arroz, sem especificação de marca).

Obrigação Positiva de Dar Coisa Certa:

Algumas regras:

A) Vedação do solvere aliud pro alio ou aliud pro alio invito creditori solvi non potest -Art. 313
CC – Credor não é obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa, sem seu consentimento.
Vejam, não é obrigado, mas se houver consenso, se o credor concordar, outra coisa
poderá ser recebida como pagamento da obrigação. Neste caso, opera-se uma forma de
pagamento chamada de “dação em pagamento”, que consiste em forma de adimplemento
em que a obrigação é cumprida mediante pagamento de prestação diversa à inicialmente
convencionada: é possível, porém depende de concordância do credor.

Exemplo de decisão (TARTUCE):

“Rescisão contratual. Loteamento. Pleito fundado na inadimplência contratual da compromissária-vendedora.


Superveniente desapropriação que inviabilizou a entrega do lote adquirido pelo autor. Cabimento da rescisão.
Autor que não é obrigado a aceitar outro lote, ainda que mais valioso. Inteligência do artigo 313 do Código
Civil. Necessária restituição integral e imediata das parcelas pagas. Retorno das partes ao status quo ante.
Descabimento, todavia, da aplicação de multa cominatória diante da ocorrência de caso fortuito. Juros
moratórios, ademais, que devem ser computados a partir da citação. Recurso provido em parte” (TJSP,
Apelação com Revisão 415.544.4/8, Acórdão 4127884, Mogi- Mirim, 6.ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Sebastião Carlos Garcia, j. 15.10.2009, DJESP 24.11.2009).

B) 233 CC - Gravitação Jurídica (acessorium sequitur principale): A obrigação de dar a


coisa certa contempla também os acessórios mesmo que não mencionados, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso (exemplo: em uma loja de
peças de veículo, é natural que sejam vendidas apenas partes do carro e não o carro todo. Já
em uma concessionária, ao adquirir um automóvel, é natural que venha equipado com rodas,
motor etc).. OBS: Lembrar da parte geral do código civil: Acessórios seguem o principal. Já
as pertenças não seguem a sorte do principal (Pertenças: Art. 93 do CC - Conceito. Não
seguem a sorte do principal – non sequitur - Art. 94 CC).

Assim, na venda de uma casa, salvo disposição em contrário, não estarão


contempladas as pertenças (móveis, sofás, camas, etc). No entanto, demais acessórios são
transmitidos junto com o principal (ex: hipoteca, servidões, frutos, benfeitorias, acessões, etc
– por exemplo, o encanamento da casa, instalações elétricas).

Ainda, as partes podem convencionar diferentemente (233 CC – “salvo se o contrário


resultar do título”) – Exemplo: compra e venda do imóvel, porém convencionando-se que um
bem acessório (ex: uma benfeitoria, como uma banheira externa) será levantado (extraído)
do bem. Assim, apenas se houver previsão expressa, poderá o vendedor vender o imóvel e
levar consigo o acessório.

Inversamente, também é possível fazer a venda de um bem e estipular,


diferentemente, quanto a pertenças – neste caso, é possível estipular que SEGUIRÃO o
principal. Por exemplo, “compra e venda porteira fechada” – neste caso, até mesmo bens
móveis e pertenças seguirão a sorte do principal. Ou ainda,

C) Transferência da propriedade: tradição (art. 237 CC). Princípio CC – res perit


domino

Perda da coisa – após celebração do negócio é possível que a coisa venha a perecer
ou se deteriore.

O perecimento da coisa significa sua perda total, e pode ser

-Natural: Se a coisa perde suas qualidades essenciais (ex: morte do animal).]

-Jurídica: Se a coisa perde valor, ou ainda, torna-se inalienável. (ex: uma jóia que venha
a se partir; um bem compromissado à venda que venha a ser desapropriado).

CONSEQUÊNCIAS DA PERDA DA COISA:

A) Se a perda da coisa ocorrer após a tradição (CONTRATOS) –

Deve se ter em mente que, uma vez entregue a coisa, a obrigação de dar está
concluída , adimplida e extinta! Remanesce a contrapartida válida – o pagamento do
preço, não sendo necessário, pelo direito das obrigações, fazer restituição de valores!

Subsiste a obrigação do adquirente efetuar o pagamento, ainda que ele adquirente não
tenha tido culpa pela perda (res perit domino – a coisa perece para o dono, o dono deve
suportar os prejuízos). Ex: relógio, já em posse do comprador, é furtado. Subsiste a obrigação
de pagar o preço. Se houver culpa anterior do alienante, mas a perda se deu após a
tradição, por ex, um vício no objeto, o caso é resolvido pelas regras dos vícios redibitórios
(Art. 441 e ss do CC) ou evicção (447), que são atinentes ao direito dos contratos e serão
oportunamente estudados. Nestes casos, já tendo havido tradição, a obrigação de dar já
foi adimplida pelo alienante, cabendo tão somente ao adquirente a obrigação de
pagar o preço.

B) Por outro lado, se a perda da coisa ocorrer antes da tradição (DIR


OBRIGAÇÕES):
Extingue-se a obrigação, pois não pode existir sem objeto. Todavia, um estudo
importante é sobre a distribuição de responsabilidades:

-Perda da coisa antes da tradição sem culpa do devedor: a obrigação se resolve e o


alienante/devedor deve restituir eventual preço recebido (Art. 234, in limine) (res perit domino
como não houve tradição, a coisa ainda pertence ao devedor/alienante, então ele irá amargar
o prejuízo)

OBS: Mesmo sem culpa do devedor, por ex, caso fortuito ou coisa maior, mas estava
em mora (Art. 399) ou , mesmo sem estar em mora, se pactuaram cláusula expressa de
responsabilidade por caso fortuito ou força maior (Art. 393) o devedor será obrigado a arcar
com as perdas e danos.

-Perda da coisa antes da tradição com culpa do devedor: o devedor deve restituir
eventual preço recebido e arcará com perdas e danos (indenização) (Art. 234, in fine).

Aula 07 – Obrigação Positiva de Dar (continuação)

Além da perda, pode ocorrer a deterioração da coisa, que é a perda parcial,


diminuição de qualidades não essenciais, que possam diminuir o valor ou o uso/qualidade
do bem.

Neste caso, se a deterioração ocorrer após a tradição (responsabilidade contratual),


sem culpa do devedor/alienante, o comprador/credor ainda sim deverá pagar o preço, por
conta do res perit domino. Por outro lado, havendo culpa do devedor, o caso será regido pelas
regras dos vícios redibitórios.

Por outro lado, se a deterioração do bem ocorrer antes da tradição, poderá se dar:
-Sem culpa do devedor: credor pode: a) optar pela extinção do contrato, recebendo
o que eventualmente pagou (e o devedor suporta o prejuízo da deterioração – res perit domino)
ou; b) receber a coisa no estado que se encontra, com abatimento proporcional do preço (art.
235)

-Com culpa do devedor: o credor pode as mesmas opções A e B, porém possui


direito a reclamar, em um ou outro caso, indenização por perdas e danos (Art. 236)
OBS: Elevação dos riscos – responsabilidade por perdas e danos, ainda que
não haja culpa:

Via de regra, se há perda do bem, antes da tradição, por FORÇA MAIOR (irresistível)
ou CASO FORTUITO (imprevisível ou de efeitos imprevisíveis), a princípio trata-se de
hipótese de perda SEM CULPA do devedor/alianente.

Excepcionalmente, porém, se houver previsão contratual (393) ou se o


devedor/alienante estiver em MORA (atraso - 399), poderá responder por perdas e
danos mesmo em casos fortuitos ou força maior.

Mora – chamada também de inadimplemento PARCIAL. Mais comumente


relacionada ao ATRASO, ou seja, em descumprimento quanto ao TEMPO de pagamento,
porém também pode estar relacionada em descumprimento quanto ao lugar e modo (ex:
eram duas parcelas, de mesmo valor, e pagou em três, com valores diversos). O conceito
encontra-se no Art. 394

O que diferencia a mora (parcial) de um inadimplemento total/absoluto, é que na


mora ainda é interessante para o credor receber a prestação, ainda que em atraso ou de forma
diversa da contratada. Um exemplo clássico é o da contratção de vestido de noiva, que
convencionam ser entregue três semanas antes do casamento. Caso a vendedora entregue o
vestido em duas semanas antes do casamento, estará em MORA, pois apesar de estar
atrasada, o vestido ainda pode ser interessante à compradora. Porém, se deixar para entregar
uma semana APÓS o casamento, não será mora, mas sim inadimplemento absoluto, pois a
compradora possivelmente não terá mais interesse algum em receber o vestido.

Uma das consequências da mora, além de poder ensejar os chamados encargos


moratórios (como juros e multa), é ampliar a responsabilidade do devedor, como viso no
Art. 399, fazendo com que excepcionalmente o devedor responda por perdas e danos
mesmo em casos fortuitos ou força maior (“sem culpa”).

Ainda, há uma exceção da exceção: se o devedor lograr provar que não teve culpa
na mora (afinal, é requisito para configuração da mora a culpa do devedor), não irá responder
por caso fortuito ou força maior. Ainda, uma outra exceção: se provar que o prejuízo
aconteceria ainda que tivesse cumprido sua prestação no tempo /modo/lugar correto, ou
seja, sem mora, ficará isento desta responsabilidade (399, in fine). Um exemplo clássico é o
da venda de gado, feita por vizinhos de pasto, que vem a sofrer uma enchente. A enchente
seria o caso fortuito. Assim, o vizinho que vendeu uma cabeça de gado e não entregou no
tempo correto e veio a perder a cabeça de gado em virtude da enchente, deveria responder
por perdas e danos, mesmo “sem culpa”, pois estava em mora e nesta hipótese responde por
caso fortuito. No entanto, se provar que o gado vendido viria a perecer ainda que tivesse
entregado no prazo avençado, pois o pasto do vizinho também sofreu uma enchente, ficaria
ilidida sua responsabilidade. Um exemplo contemporâneo é a perda de bens em um mesmo
prédio/bairro em virtude de descargas elétricas.

Cômodos (melhoramentos da obrigação) e Riscos da coisa/preço Obrigação de


Dar: - seguem a mesma lógica acima. Até a data da tradição, os riscos da coisa correm por
conta do alienante/devedor, e os riscos do preço por conta do adquirente/credor. Se o
credor/adquirente não anuir com o aumento do preço em virtude de acréscimos, o
devedor/alienante pode desfazer a obrigação. (Art. 237 – até a tradição a coisa pertence ao
devedor, com seus melhoramentos e acrescidos, pelo qual poderá exigir aumento de preço –
“cômodos” da obrigação – commodum ejus esse debet, cujus et periculum – “a vantagem deve ser
daquele de quem é o perigo). Ex: Animal que venha a ter cria.

RESUMO: obrigações de dar.


-Perda da coisa, após tradição, sem culpa do alienante: o adquirente deverá
suportar o prejuízo.

-Perda da coisa, após tradição, com culpa do alienante: o adquirente deverá valer-
se dos institutos aplicáveis, conforme a relação seja civil (contratos) ou consumerista (CDC),
sem prejuízo da responsabilidade civil. Exemplos: vícios redibitórios, evicção, indenização,
etc.

-Perda da coisa antes da tradição, sem culpa do devedor/alienante: a obrigação se


resolve e o alienante/devedor deve restituir eventual preço recebido (Art. 234, in limine).
“Princípio” res perit domino – o proprietário amarga o prejuízo da coisa que (ainda) é sua.

-Perda da coisa antes da tradição, com culpa do devedor: o devedor deve restituir
eventual preço recebido e, adicionalmente, arcará com perdas e danos (indenização)
(Art. 234, in fine).
-Deterioração do bem ocorrer antes da tradição, sem culpa do devedor: credor
pode: a) optar pela extinção do contrato, recebendo o que eventualmente pagou (e o devedor
suporta o prejuízo da deterioração – res perit domino) ou; b) receber a coisa no estado que se
encontra, com abatimento proporcional do preço (art. 235). Já, se houver culpa, serão
adicionalmente devidos perdas e danos.

Por fim, lembrar dos casos de ampliação da responsabilidade pela perda da


coisa em caso de convenção contratual expressa (393) ou mora (399), em que o
devedor responde por perdas e danos mesmo em casos fortuitos ou força maior, e de
quando, mesmo nestes casos, não irá responder (ausência de culpa na mora e se
provar que o dano aconteceria ainda que tivesse entregue a coisa sem mora).

(RESUMO – in FLAVIO TARTUCE).


Obrigação Positiva de Restituir

A restituição significa em devolver a coisa ao proprietário. É normalmente assumida


nos contratos de depósito, comodato, locação..

Semelhante à obrigação de dar, pode ocorrer o perecimento ou deterioração da coisa antes


ou após a restituição. Se o perecimento se der após a restituição, sem culpa do
restituinte/devedor, ocorre res perit domino, amargando o proprietário/recebedor o
prejuízo. Caso haja culpa anterior á devolução que venha a causar prejuízos, o caso será
resolvido pelas regras de responsabilidade civil (indenização).

Por outro lado, se o perecimento se der antes da restituição, extingue-se a obrigação que
não pode subsistir sem objeto, porém com as possíveis consequências:

-Sem culpa do devedor/daquele que deve restituir: a obrigação se resolve, sem


maiores consequências. Não arca sequer com perdas e danos – res perit domino (ainda que o
devedor estivesse na posse do bem, o proprietário era o credor que iria receber este bem em
devolução, e deverá amargar os prejuízos). Ex: A empresta o carro para B e, sem culpa de B,
o veículo é furtado, sem descuidos, apenas em virtude de caso fortuito. A obrigação se resolve
sem maiores consequências, e A deverá suportar o prejuízo (Art. 238)

OBS: Exceção: No comodato, há também a previsão do art. 583. Isto porque está
usando um bem gratuitamente e o proprietário não terá chance de salvá-lo. Assim, aquele
que deve restituir, ainda que sem culpa, virá a responder nesta específica hipótese.

-Com culpa do devedor/daquele que deve restituir: Se a coisa perecer antes da


entrega, havendo culpa do devedor, deverá pagar não só o valor do bem, mas também as
perdas e danos (Art. 239). Cabe ressaltar aqui o exemplo do automóvel, em que A empresta
o carro para B, e B, com culpa, o bate em um poste. Deverá pagar não só o carro, mas todos
os prejuízos decorrentes de sua conduta. Ainda, há decisões que condenam também o
proprietário a ressarcir os danos causados a terceiro, que deverá valer-se então de direito de
regresso contra quem estava em posse do bem.. Há outros casos previstos em lei que seguem
o aqui disposto – Ex: ARt. 1995 CC – reposição de bens sonegados.

Poderá, ainda, ocorrer a deterioração da coisa. Semelhantemente à perda, se a


deterioração se der sem culpa do devedor, o credor deve recebê-la no estado em que se
encontra, sem maiores consequências. Porém, sendo culpado, segue a regra do Art. 239 (deve
devolver, arcando com a diferença de deterioração mais perdas e danos). Se os danos forem
significativos, a ponto de comprometer o uso da coisa, aplica-se a regra do 238 (o credor
poderá rejeitar a coisa e exigir seu valor e indenização)

Ainda, a regra sobre os melhoramentos consta do Art. 241 e 242: se houver


melhoramentos à coisa, sem trabalho do devedor, o credor irá lucrar, recebendo a coisa sem
qualquer necessidade de indenização (regra dos “cômodos” da obrigação). Se, por outro lado,
houver trabalho do devedor, as regras regem-se pelas benfeitorias de boa ou má fé (Art. 1219
do CC).

Assim, sobre os melhoramentos da coisa nos casos de obrigação de restituir: 1) Se


sobrevieram sem trabalho do devedor, o ganho é do proprietário (241 CC); 2) Porém, se
houver contribuição por parte do devedor, em homenagem à vedação de enriquecimento
ilícito, a indenização será regida pelas regras do possuidor de boa-fé – vedação de
enriquecimento ilícito – Art. 1.219 CC - Direito à indenização e à retenção da coisa pelas
benfeitorias necessárias e úteis. No que concerne às voluptuárias, o devedor poderá levantálas
desde que isso não gere diminuição do valor da coisa principal e que o sujeito passivo da
obrigação tenha agido de boa-fé. Se de má-fé, somente tem direito a indenização por
benfeitorias necessárias. Não há direito retenção. Ainda, na má-fé, não há direito a
indenização pelas úteis e voluptuárias. Frutos: 1.214 a 1.216 CC.

OBS: A boa-fé aqui é a subjetiva (Art. 1201 CC), porém há doutrina (TARTUCE)
que entende que pode ser também considerada a objetiva, que é extraída do comportamento
do devedor – dever de conduta leal.

Aula 08 – Obrigação Positiva de Dar Coisa Incerta. Obrigações de Fazer.

Obrigação Positiva de Dar Coisa Incerta

Aqui, a coisa é indicada pelo gênero e quantidade. A prestação é relativamente indeterminada


no início, mas é possível determiná-la pelo ato de escolha.

Requisitos, cumulativos (não basta indicar somente um, devem ser indicados os
dois).

-indicação do gênero (bens/seres semelhantes);

-indicação da quantidade (unidade de medida)

Nesta obrigação, há uma fase de escolha. Nesta fase escolhe-se um/alguns dentre
os bens incertos para serem entregues ao adquirentes, ou seja, os bens incertos tornam-se
certos nesta fase. No silêncio do negócio, a escolha compete ao devedor (alienante) -
(Art. 244) e somente vincula as partes após a cientificação do credor (adquirente) da
escolha (Art. 245).

Após isto, o devedor não pode mais alterar de forma unilateral a obrigação. O
momento em que o credor é cientificado pelo devedor da escolha é chamado de
CONCENTRAÇÃO da obrigação/débito. Após a concentração, as regras que regem a
obrigação são as da obrigação de dar coisa certa. (Art. 245)
Critério da escolha: se a escolha for feita pelo devedor, deve ser seguido o princípio
do meio-termo: deve escolher pela média, nem o melhor, nem o pior. (EX: Sacos de Arroz
de qualidade A, B ou C – deve entregar a B). Se porém, a escolha por convenção das partes
couber ao credor, poderá escolher a melhor ou pior (Art. 244 – há quem entenda o contrário).

Perecimento da coisa antes da escolha é irrelevante. Princípio do genus non perit –


o gênero não perece (Art. 246), exceto se a coisa pertencer a gênero limitado e houver
perecimento de todas elas (obs: obrigação de dar coisa genérica com gênero limitado é
chamada de “obrigação quase certa”)

Obrigação Positiva de Fazer.

A prestação consiste em um ato do devedor ou serviço deste. Qualquer forma de


atividade humana, lícita e possível, pode constituir objeto da obrigação.

Semanticamente, pode se entender que toda obrigação de dar, é, na verdade, uma


obrigação de fazer (sendo esta gênero e aquela espécie). E assim, há quem critique esta
classificação..

Realmente, obrigação de dar é também de fazer. Porém há diferenças que justificam


a diferença de tratamento. Uma consiste na entrega de coisa certa ou incerta; ao passo que a
segunda é um ato ou serviço do devedor; porém, na obrigação de fazer, se tiver de
primeiramente confeccionar a coisa, a entrega é mera consequência do fazer e a obrigação é
de fazer.

Outra diferença, na obrigação de dar a pessoa do devedor não é a princípio relevante


(importante é o objeto e não a pessoa). Porém, na de fazer, a personalidade do obrigado é
importante (índole, correção, etc), inclusive por vezes “personalíssima” (obra de determinado
pintor, show de determinado artista). e a correção da outra parte contratante.

Podem ser simples ou complexas (um só ato ou diversos atos, ligados porém pelo
mesmo vínculo).

Podem ser infungíveis/personalíssimas (intuitu personae) por circunstâncias do


negócio (cantor, pintor de quadros) e também por convenção das partes (ex: contratação
advogado, engenheiro, médico para atos específicos sem possibilidade de substituição–
embora existam muitas pessoas tecnicamente capacitadas, o credor não admite substituição)
e podem ser fungíveis (realizável por outras pessoas).

Descumprimento da obrigação de fazer:

Pode se dar pela impossibilidade de prestação (com ou sem culpa do devedor) ou por
recusa do devedor.

Impossibilidade Sem culpa do devedor– obrigação resolvida.

Ex: de Impossibilidade: cantor perde a voz em virtude de uma cirurgia. Obrigação


fica resolvida (“ad impossibilita nemo tenetur” – ninguém é obrigado ao impossível).

Impossibilidade Com culpa ou Recusa do devedor:Art. 247 CC e seguintes.

Prestação infungíveis – gera perdas e danos (247 e 248) - A prestação infungível não
é substituível, é contratada com vistas à pessoa do devedor (ex: cantor, pintor de quadros,
time de futebol que se recusa a se exibir em determinada ocasião conforme ajuste; etc).

Prestações fungíveis – Pode gerar perdas e danos, ou ainda execução por terceiro,
sem prejuízo das perdas e danos – Art. 249 – execução por terceiro à custa do devedor: credor
pode solicitar que outro faça, exigindo as custas do devedor (inclusive sendo ressarcido
posteriormente).

Autotutela: ver parágrafo único Art. 249 CC – o devedor pode ordenar a execução
por terceiros independente de autorização judicial em casos de urgência. O que é urgência? O
CC não define, sendo a lacuna preenchida pela doutrina/jurisprudência. Para VENOSA:
“imagine-se na hipótese da contratação de empresa para fazer a laje de concreto de um prédio, procedimento que requer
tempo e época precisos. Caracterizadas a recusa e a mora bem como a urgência, aguardar uma decisão judicial, ainda
que liminar, no caso concreto, poderá causar prejuízo de difícil reparação”

DECISÃO SOBRE A AUTOTUTELA:


“Apelação cível – Ação de cobrança cumulada com pedido indenizatório – Seguro de veículo
– Aviso de sinistro informado à seguradora – Mora injustificada no cumprimento da
obrigação contratual de custear o conserto do veículo – Reparos contratados pelo próprio
segurado em oficina não credenciada da seguradora – Restituição dos valores pela seguradora
– Cabimento – Dano moral – Descabimento no caso de mero inadimplemento contratual –
Cabimento da indenização por lucros cessantes devidamente comprovados. Uma vez
demonstrado nos autos a demora injustificada da seguradora em proceder ao
conserto do veículo segurado, após noticiado o sinistro, resta justificada a conduta
da segurada em providenciar, por conta, o conserto do caminhão em outra oficina,
máxime em se tratando de automóvel utilizado para transporte de cargas, o qual serve de
subsistência para a demandante. Inteligência do art. 249, parágrafo único, do CC/02, e art.
18, § 1.º, I, §§ 3.º e 4.º, do CDC. Restituição, pela seguradora, da íntegra dos valores
despendidos pela segurada, uma vez estarem dentro do limite de cobertura.
Cabimento da condenação da seguradora ao pagamento dos lucros cessantes, pelo tempo em
que restou a segurada desprovida do veículo, descontado o período de trinta dias, necessário
à liquidação do sinistro. Segundo jurisprudência assentada nesta Câmara, o mero
inadimplemento contratual não enseja a condenação da seguradora ao pagamento de
indenização por danos morais, havendo a parte de demonstrar a ocorrência concreta de abalo
moral e prejuízo de ordem extrapatrimonial. Apelação parcialmente provida. Recurso adesivo
parcialmente provido” (TJRS, Acórdão 70015650724, Porto Alegre, 6.ª Câmara Cível, Rel. Des.
Liége Puricelli Pires, j. 30.10.2008, OERS 25.11.2008, p. 23).

Por que não cabe exigir a prestação por terceiros nas obrigações de fazer
infungíveis? Oras, sendo um fazer infungível, somente a pessoa inicialmente obrigada
pode prestá-lo, sendo contra o direito coagir alguém a realizar um fazer manu militari, com
sacrifício de sua liberdade. Por outro lado, o descumprimento da obrigação irá gerar
dever de indenizar, por perdas e danos (inclusive multa contratual, por ex). Além disso,
o descumprimento inescusável (por exemplo, não vou cumprir a obrigação que somente
eu posso cumprir “por que não quero”) irá influenciar na indenização em caso de
eventuais perdas e danos.

OBS: Em casos específicos, em que o fazer consiste em uma emissão de


declaração de vontade, a sentença judicial poderá fazer as vezes do cumprimento
da obrigação (a “sentença” servirá como a declaração que não foi dada pelo devedor).
Ex: adjudicação compulsória ( CC 1418 – recusa/impossibilidade de outorgar a escritura
definitiva); ou ainda, outros casos (CPC – 501. Ex: escola de línguas que faliu/encerrou
atividades e aluno que concluiu o curso não conseguiu o certificado – a sentença fez as
vezes do certificado, como se fosse a declaração da escola de conclusão do curso).
DOUTRINA critica o CPC e restringe sua aplicação somente quando a obrigação de
declarar vontade for FUNGÍVEL, pois juiz não pode sub-rogar-se ao devedor em
prestações infungíveis, como por exemplo, escrever uma ópera prometida pelo
compositor. O nome dado a estas espécies de determinação judicial é chamado de
“execução específica” ou in natura (ação cominatória – CPC 497) e são possíveis sempre que
não induzir o constrangimento corporal/coação material à liberdade do devedor.

Aula 09 – Obrigações negativas. Astreintes. Obrigações simples,


conjuntivas/cumulativas e disjuntivas/alternativas.

Obrigações de Negativas (de não fazer) – obligatio ad non faciendum

É aquela em que o devedor se compromete a não praticar certo ato, que


poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado.

A ideia é que o devedor se abstenha da prática ou tolere algum ato.


Exemplos: Servidão - 1.383 CC; são comuns também em alguns contratos;
ex: na locação, o proprietário não pode obstar a posse do locatário; ao passo que o
locatário deve respeitar cláusula contratual de não se estabelecer comercialmente em
locação puramente residencial.

Para ser válida, no entanto, é necessário que não restrinja exageradamente,


excessivamente, a atividade do devedor a ponto de sacrificar-lhe sua liberdade e que
respeite seus direitos fundamentais. Por exemplo, promessa de nunca se casar; não
praticar uma religião; não trabalhar.

Semelhante à de fazer são as responsabilidades das de não fazer (Art. 250 CC).
A inadimplência ocorre no exato momento em que se pratica o ato cuja prática
lhe era defesa.

Sem culpa – resolve a obrigação (Ex: servidão de passagem, obrigado a não


criar embaraço para vizinho passar; porém, autoridade determina ordem de fechar a
passagem, em virtude de interesse público).

Com culpa - Se praticar o ato que se obrigou a não fazer, pode ser compelido
a desfazê-lo, sem prejuízo de indenização (Art. 251 pu). - “obrigação de não fazer
permanente” – podem ser desfeitas.
Porém, há atos que não podem ser desfeitos por implicarem em coação física
ou por ser impossível o desfazimento. (obrigação de não fazer transeunte – ou
instantânea). (Ex: revelar segredo industrial). Nestes casos, caberá somente perdas e
danos (que devem ser apuradas com máximo rigor em repressão à deslealdade com
que se houve do devedor infiel).

Não há outra alternativa. Inclusive, a inadimplência dá-se no momento em


que se executa o ato – Art. 390 (não há sequer mora – a mora é o próprio
inadimplemento).

Execução/Julgamento: Art. 822/497 e ss do CPC.

Astreintes:

É na esfera das obrigações de fazer/não fazer que se encontra lugar para as


astreintes – multa cominatória diária¸pecuniária, por dia de atraso no cumprimento da
obrigação. (CPC: Art. 814).

A multa deve ser de montante tal que constranja o devedor a cumprir a


obrigação.

Nada impede que as partes, contratualmente, já estipulem a multa e seu valor,


mas caberá sempre ao juiz colocá-la em seus devidos parâmetros. Essa multa deverá
ter um limite temporal, embora a lei não o diga, sob pena de transformar-se em
obrigação perpétua. Decorrido o prazo mínimo de imposição diária, essa constrição
perderá seu sentido, devendo a situação resolver-se em perdas e danos para se colocar
um fim à demanda.

Possibilidade de Autotutela: Art. 251 CC – deve ser interpretado com cuidado


(Ex: não poderá “calar’ quem revelou o segredo industrial). Cabível o 197 do CC
(abuso de direito)

Classificação quanto ao objeto/modo de execução.

As obrigações podem ser simples, cumulativas, alternativas ou facultativas.

Simples: possui um objeto singular (venda de um automóvel; um cavalo, etc).


Porém, as obrigações também podem ter objetos compostos ou plural. De acordo com o modo
de cumprimento do objeto plural, as obrigações podem ser:

Conjuntiva/Cumulativa: os objetos compostos são evidenciados com o uso da


palavra “E”. Deve ser entregue um cavalo E um automóvel. Há mais de uma prestação e o
devedor somente se libera cumprindo todas elas. As obrigações conjuntivas e simples não
possuem regramento específico e são regidas pelas regras gerais das obrigações de dar/fazer.
Exemplo comum: Art. 22 e 23 da Lei 8245/1991

Pela estrutura obrigacional desse contrato, o locador é obrigado a entregar o imóvel,


[e] a garantir o seu uso pacífico e a responder pelos vícios da coisa locada, dentre outros
deveres. O locatário é obrigado a pagar o aluguel e os encargos, [e] a usar o imóvel conforme
convencionado e a não modificar a forma externa. Pode-se perceber uma série de prestações
de naturezas diversas (dar, fazer e não fazer), de forma cumulada. O descumprimento de um
desses deveres pode gerar o inadimplemento obrigacional.

Obrigações Disjuntivas/Alternativas: objetos compostos são evidenciados com


o uso da palavra OU. Deve ser entregue um cavalo OU um automóvel. Há mais de uma
prestação e o devedor se libera cumprindo apenas uma delas.

Possuem tratamento especial – Art. 252 a 256 do CC. Brocardo: “plures sunt in
obligatione, una autem in solutione, ou seja, “várias são as obrigações, no entanto uma a solve”
(solver = quitar, pagar, cumprir)

A grande utilidade da obrigação alternativa é aumentar a possibilidade de


adimplemento por parte do devedor, aumentando as garantias do credor, ampliando, assim,
a liberdade de negociar das partes.

A obrigação alternativa permite combinar as obrigações de dar, fazer e não fazer.


Pode incluir os mais variados objetos na prestação, pode representar abstenções. Assim
sendo, pode ser estipulada, por exemplo, a obrigação alternativa de não se estabelecer
comercialmente em determinada área, ou pagar quantia mensal, caso ocorra tal
estabelecimento.

A quem cabe a escolha ? 252 – Ao devedor, salvo disposição em contrário (podem estipular
credor ou terceiro pra escolher). Antes da escolha (concentração) o credor não pode exigir
nenhuma das prestações. Não pode escolher receber parte em uma ou parte em outra (Art.
252, §1);

Pluralidade de devedores/credores com direito de escolha: lei fala em unanimidade;


Venosa deveria ser a maioria; não escolhido, concentração cabe ao juiz (252, §3).

Acréscimos (“cômodos”) Sofridos pelas Coisas na Obrigação Alternativa

O Código também não trata do assunto. A coisa, ou as coisas, objeto das prestações
na obrigação alternativa, podem sofrer acréscimos/melhoramentos (cômodos) e aumentar
de valor, após a avença.

Para Venosa: Por aplicação dos princípios gerais, podem ser admitidos os seguintes
aspectos para os cômodos (acréscimos) na obrigação alternativa:

a) se todas as coisas sofreram acréscimo, o credor deve pagar o maior


volume daquela que ele ou o devedor escolher; se não se chegar a esta solução, o
devedor pode dar como extinta a obrigação (res perit domino invertido – risco
da coisa do devedor, lucro tb)
b) se alguma das coisas aumentou de valor e a escolha couber ao
devedor, poderá ele cumprir a obrigação entregando a de menor valor; se a
escolha couber ao credor, deverá ele contentar-se com a escolha da que não
sofreu melhoramentos, ou, então, se escolher a coisa de maior valor, pagar a
diferença

Após a escolha, torna-se obrigação simples/única e segue as regras da obrigação de


dar/fazer/não fazer.

Perecimento de todas prestações, sem culpa do devedor, resolve obrigação – Art.


256.

Perecimento/inexequibilidade de uma das prestações, sem culpa do devedor ou com


culpa e porém escolha couber ao devedor: subsiste quanto a outra – Art. 253.

Vários exemplos poderiam ser figurados: o devedor compromete-se a vender um imóvel urbano ou um rural:
vende um imóvel a terceiro (impossibilidade voluntária) ou o imóvel sofre desapropriação (impossibilidade não
voluntária) de um; continuará o devedor obrigado a entregar o outro. Destarte, a impossibilidade de oferecer
uma das prestações pode ser de natureza jurídica ou de natureza física, o que não altera a solução legal.
De uma das prestações, com culpa o devedor e escolha for do devedor:
responsabilidade é de pagar a última que se impossibilitou, mais perdas e danos. Por
ex, há culpa do devedor na impossibilidade da primeira prestação, há uma escolha da lei na
última; e concentrando-se na última, esta vindo a impossibilitar, o devedor responde por esta,
com perdas e danos.

Porém, se a escolha for do credor e perecer todas as prestações, o credor pode reclamar
qualquer uma delas, além de perdas e danos (Art. 254). De uma das prestações, com
culpa do devedor, e escolha couber ao credor: o credor poderá exigir a prestação subsistente
ou o valor da outra, com perdas e danos.

Resumo responsabilização:

Perda de prestações alternativas:

De apenas alguma das prestações, sem culpa do devedor ou com culpa do


devedor mas a escolha pertencer ao devedor: subsiste quanto a remanescente (253)

De todas as prestações, com culpa do devedor e escolha couber ao devedor:


indenização regulada pelo valor da que por último se impossibilitou (Art. 254), com
perdas e danos.

De todas as prestações, com culpa do devedor e escolha couber ao credor: o


credor poderá reclamar o valor de qualquer das duas, com indenização.

De uma das prestações, com culpa do devedor, e escolha couber ao credor: o


credor poderá exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos.

Ainda, para Maria Helena Diniz, não se aplica o meio termo nas obrigações alternativas – as
coisas já estão determinadas, cabendo apenas sua escolha às partes, que podem escolher a
pior e / ou melhor.

Diferenças entre obrigação alternativa e de dar coisa incerta:

Na obrigação de dar coisa incerta, a coisa é indicada pelo gênero, e não


especificamente; na obrigação alternativa, os objetos são especificados, porém podem ser
mais de um. Exemplificando, se João promete entregar um automóvel popular, eis uma
obrigação de dar coisa incerta. Porém, se João promete entregar um de seus três automóveis
(marcas/modelos X Y ou Z), estaremos diante de obrigação alternativa, pois os veículos
foram previamente individualizados.

Lembrando, ainda, que a distinção é importante, pois na obrigação de dar coisa incerta
há o brocardo genus non perit, de modo que a perda de um ou alguns dos automóveis populares
do devedor não resolverá a obrigação, quer haja ou não culpa, porque os veículos podem ser
obtidos em outros lugares (obs: há divergências quanto à perda de TODOS os bens),
permanecendo em vigor o dever de entregá-lo. De outro lado, na obrigação alternativa, a
perda de todos os veículos provoca a extinção da obrigação, sem prejuízo da indenização, se
houver culpa e conforme visto acima.

Na obrigação de dar coisa incerta, a escolha em regra é do devedor, porém é vinculada


pelo princípio do “meio termo”, na obrigação alternativa, ele pode escolher qualquer das
prestações, tanto a pior quanto a melhor, pois já foram determinadas de antemão.

Obrigações Facultativas.

Não reguladas no CC/02, mas lícita sua criação por vontade das partes (autonomia
das partes).

A obrigação facultativa, também conhecida como obrigação com faculdade alternativa, é


formada com vistas à apenas uma prestação apenas, a lei ou o contrato, autoriza o devedor,
e apenas ele, a substituir a prestação por outra. Uma dica para “decorar” é considerar a
obrigação facultativa como “uma carta na manga” do devedor, pois permite que o devedor,
possa substituir, a seu critério, a única prestação combinada por outra.

Um exemplo é o da seguradora de automóveis: ela se obriga e tem o dever de custear


o reparo do automóvel danificado, porém se reserva ao direito de, a seu critério, entregar um
novo automóvel ao segurado (ou seu valor) ao invés de efetuar o reparo (“perda total”).

Nessas obrigações, há uma prestação principal, que constitui o verdadeiro objeto da


obrigação, e uma acessória ou subsidiária. Essa segunda prestação constitui um meio de
liberação que o contrato reconhece ao devedor
Uma diferença sutil da alternativa é que, a perda da coisa/prestação sem culpa ocasiona a
extinção da obrigação, ainda que a prestação opcional esteja disponível, com consequente
liberação do devedor. Porém, se houver perda por culpa do devedor, o credor poderá cobrar:
valor da prestação + perdas e danos ou cumprimento da prestação substitutiva que ainda
subsiste (Art. 234, 2º parte, CC, por analogia). Por outro lado, na alternativa, perecendo a
principal, ainda que sem culpa do devedor, o credor poderá exigir a subsidiária de imediato

Aula 10: Classificações quanto: ao tempo de adimplemento;


conteúdo/fim; elementos acidentais; e pluralidade de sujeitos
(divisíveis/indivisíveis; fracionárias/solidárias)

Quanto ao tempo do adimplemento:


Nesta classificação, podem ser instantâneas/transeuntes/isoladas: cumpridas em
um só momento, por um só ato ou fato. Exemplo: entrega de uma garrafa de refrigerante.
Esta classificação ainda é subdividida: podem ser instantâneas com cumprimento imediato
(cumprida imediatamente, no mesmo momento de seu surgimento – acordo de vontades.
Exemplo: compra de uma bicicleta com pagamento à vista) ou de execução diferida (ocorre
de uma vez só, porém em momento diverso da constituição da obrigação, no futuro).
Exemplo:: cheque “pós datado”; compra da bicicleta com pagamento em uma única parcela
após 30 dias.

Por outro lado, as obrigações podem não ser cumpridas em um só ato, mas sim por
meio de vários atos, que se prolongam no tempo. Trata-se de obrigações
periódicas/permanentes/contínuas/trato sucessivo: são cumpridas sucessivamente,
arrastando-se no tempo, isto é, ou seja, por meio de mais de um ato ou fato. Exemplo:
pagamento de aluguéis; pensão de alimentos.

Importância da classificação: Nas obrigações contínuas ou de trato sucessivo prazo


de prescrição incide sobre cada prestação isolada e não sobre a obrigação fundamental. Ex:
206, §3º do CC – prevalece que flui à partir do vencimento de CADA prestação mensal.
Além disso, há institutos são aplicados à uma ou outra modalidade obrigacional desta
classificação, como por exemplo, a teoria da imprevisão (Art. 317 CC), ou ainda, da resolução
por onerosidade excessiva (Art. 479 CC)

*Importante: Negócios realizados sob condição, se forem constituídos por obrigação de


execução continuada ou periódica, o implemento da condição não afeta os atos já praticados,
desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e observada a boa-fé. Por
exemplo: Paulo doa a Pedro uma casa, sob condição suspensiva de Pedro graduar-se na
faculdade (ou seja, enquanto não se graduar a doação não tem eficácia). Convencionam,
ainda, que até Pedro graduar-se, deve pagar aluguel a Paulo. Uma vez graduado, há o
implemento da condição e Pedro torna-se proprietário da casa. E os aluguéis do período?
Paulo deverá devolver aluguéis? NÃO! Até o implemento da condição, a obrigação periódica
era válida e eficaz, de modo que uma vez implementada a condição não se afetam os atos
pretéritos.

Classificação quanto ao conteúdo/fim.

Obrigações de meio: o objeto/prestação é a atuação diligente do devedor e não o


resultado da obrigação; a vontade das partes é que o devedor se comprometa a utilizar os
esforços adequados para atingir meta desejada e não propriamente atingi-la. O
inadimplemento (e indenização) demandam prova de culpa no modo de proceder, não
bastando demonstrar que o resultado não foi atingido. Ex: Profissionais da saúde (médicos,
dentistas etc. - em regra) e advogados.

Obrigações de resultado: O objeto da obrigação é o resultado em si. A vontade da


parte é obter o resultado e o devedor também se obriga a efetivamente entregar o resultado
(exemplos: compra e venda – transmitir a propriedade; prestador de serviço – empreiteiro,
mecânico, etc, e, finalmente, de acordo com jurisprudência contemporânea, os atos de
profissionais de saúde desde que com fins puramente estéticos!). Para inadimplemento (e
indenização) basta, a princípio, demonstrar que o resultado não foi entregue.

Obrigações de garantia: Pode ser entendida a partir da ideia de obrigação de meio.


É uma obrigação que visa a eliminar riscos de um negócio jurídico principal. Por ex: contrato
de segurança: devedor se obriga a proteger a incolumidade da pessoa/bem; não assegura que
pessoa/bem sejam preservados, mas sim compromete-se a usar os meios necessários para
que isto ocorra. O inadimplemento, quer resultado ocorra ou não, é verificado comparandose
o padrão dos serviços prestados. Outro exemplo, é o contrato de seguro, que pode abranger
até mesmo responsabilidade por caso fortuito (ex: dolo de terceiro) ou força maior. O
contrato de fiança também é uma modalidade de contrato de garantia, porém só abrange caso
fortuito/força maior se partes expressamente previrem.

Classificação quanto aos elementos acidentais:

Pura ou simples: produzem efeitos desde logo;

Condicional: eficácia é subordinada a evento futuro e incerto;

Modal; gravada ou com encargo: há imposição de encargo a uma das partes (ex:
doação de imóvel para nele o donatário edificar sua habitação).

A termo: sua eficácia subordina-se a evento futuro e certo.

Classificação Quanto à Pluralidade de Sujeitos:

Simples/Única: Há apenas um credor e um devedor. A princípio será


indivisível, ainda que prestação seja divisível (art. 314 do CC).

Múltiplas: Há mais de um credor ou devedor.

Podem ser divisíveis ou indivisíveis (de acordo com natureza da prestação) ou


ainda, fracionárias ou solidárias (de acordo com vontade das partes/previsão legal).

Obrigações Divisíveis: A obrigação se divide em tantas quantas forem os


credores/devedores (art. 257 CC) - concursu partes fiunt.

Regras:

*Na divisibilidade ativa (mais de um credor), cada credor somente pode exigir
uma parcela do débito (Ex: José deve R$ 900,00 para Bruno, Clésio e Denis. Cada
credor pode cobrar somente seu quinhão (R$ 300,00 cada um). OBS: O devedor não
deve pagar a dívida toda a um só, sob pena de continuar devendo aos demais!
*Na divisibilidade ativa (mais de um credor), se um credor recusar sua parte
alegando que deve receber toda a dívida, poderá ser constituído em mora, sofrer
consignação em pagamento, etc..

*Na divisibilidade passiva (mais de um devedor), há mais de um devedor, cada


qual obrigado por uma parcela do débito (Ex: Arthur, Bruno e Clésio devem R$
900,00 a Denilson. Denilson é credor de toda a dívida, mas somente pode cobrar R$
300,00 de cada um dos devedores).

*Outros aspectos importantes:

-Interrupção de prescrição por um credor ou contra um devedor não


aproveita aos demais/não interrompe contra os demais (art. 204 CC)

-MODOS DE PAGAMENTO/ADIMPLEMENTO/EXTINÇÃO
OBRIGAÇÃO: Remissão (perdão), transação, novação, compensação e confusão
não se estendem aos demais credores/não aproveita aos demais devedores. (262 CC)

-Anulabilidade de apenas um/alguns dos credores/devedores não aproveita


aos demais (177 CC, in fine)

Obrigações Indivísiveis:

É a obrigação que, normalmente pela natureza da prestação, deve ser


cumprida por inteiro; não é possível cumprir-se de forma fracionada!

De acordo com o CC, a indivisão pode ser:

*física/natural/econômica (estrutura do objeto: um veículo, uma casa


construída que não possa ser dividida sem perda de substância ou valor, o exemplo
clássico da jóia que, uma vez dividida perde valor, etc);

*convencional (ex: cláusula de indivisibilidade);

*legal/jurídica (fisicamente poderia ser dividido, mas lei proíbe: ex: Lei
Parcelamento Solo Urbano – Lei 6766, Art. 4, II);

*Na indivisibilidade ativa há vários credores, e todos podem juntos exigir


cumprimento integral da obrigação, ou, isoladamente, mas neste caso devendo
prestar caução ao devedor (Ex: A vende carro para B, C e D. Exonera-se pagando
(ENTREGANDO) o veículo a todos junto ou a um só, mas deve exigir caução –
Art. 260).

*Se o devedor pagar a apenas um credor, os demais podem dele exigir


quantidade em dinheiro equivalente quota que lhe caiba (Art. 261). Por isto que pode
exigir caução se for pagar a um só, para garantir-se contra os demais credores.

*Na indivisibilidade passiva há vários devedores que respondem pelo integral


cumprimento da obrigação (ex: A, B e C devem carro para D.). Credor pode exigir
de qualquer um deles o cumprimento total da obrigação.

*Na indivisibilidade passiva quem paga se sub-roga nos direitos do credor


(caso de sub-rogação legal – 259, p.u.).

*Na indivisibilidade passiva o credor não pode se recusar a receber de algum


dos devedores, sob pena de ser constituído em mora.

*Tanto na indivisibilidade ativa quanto passiva: A remissão da dívida feita por


apenas um credor ou a apenas um devedor, a obrigação não fica extinta, mas os
credores exigirão a obrigação e deverão reembolsar o valor do devedor perdoado
(Art. 262).

*Suspensão/Interrupção de prescrição por um credor ou contra um devedor


respectivamente favorece/prejudica os demais credores e devedores (Art. 204 CC).
*A anulabilidade se estende a todos (Art. 177).

Obrigações solidárias: (Art. 264 e ss CC)

São as obrigações em que, havendo mais de um credor ou devedor, cada um deles


poderá exigir (solidariedade ativa – mais de um credor solidário) ou ser obrigado
(solidariedade passiva – mais de um devedor solidário) à dívida toda (Art. 264 CC).

Além do aspecto jurídico da possibilidade de cobrar/ser obrigado pela totalidade da


dívida, na prática a solidariedade auxilia na concreção de negócios, ao facilitar pagamentos e
cobranças.
A solidariedade NÃO se presume (Art. 265): depende necessariamente de da lei
(solidariedade legal/pura/perfeita/própria) ou vontade das partes (solidariedade
convencional/imperfeita/imprópria/correaidade ou obrigações correais).

A solidariedade convencional, assim, resulta de previsão no título da obrigação, seja


ele contrato, testamento, ou qualquer outro. Também pode ser estipulada após o negócio,
por ato separado, por vontade das partes (compromisso posterior de instituição da
solidariedade)

Solidariedade legal: é a prevista em lei. Seguem alguns exemplos de solidariedade


legal:

-Responsabilidade Civil Extracontratual – Ilícito Civil (Art. 942, p.u, do Código Civil
– autores, co-autores e responsáveis por fato de terceiros).

-Relação de Consumo: CDC, Art. 7, p.u.

-Grupos econômicos e relação trabalhista: CLT, Art. 2º, §2.

-Lei de Locações - Art. 2.

-Avalistas/Endossantes, de acordo com as regras do Direito Cambial;

-Coação: autor da coação e beneficiado, em alguns casos (Art. 154 CC);

-Comodato – Art 585

-Mandantes conjuntos, contra o mandatário: (680 CC).

-Fiança conjunta (829 – ENTRE FIADORES!! Entre fiador e devedor principal, ver
a observação a seguir).

-Testamenteiros (Art. 1.986 CC) OBS:

Casos especiais:

-Fiador/Devedor principal: Em regra, não há solidariedade (Art. 827) entre o fiador


e o devedor principal. Porém, pode haver se as partes assim convencionarem, o que
normalmente ocorre! É extremamente comum nos contratos garantidos por fiança que as
partes aponham a cláusula de “renúncia ao benefício de ordem”, tornando assim o fiador
solidário ao devedor principal. Assim, embora na prática seja comum que haja solidariedade
entre devedor e fiador, isto ocorre por consenso das partes, e não por força de lei
propriamente dito (Art. 828), e trata-se de uma solidariedade convencional. Ressalte-se, no
entanto, que havendo mais um fiador, haverá via de regra solidariedade entre eles! (Art. 829).

-Conta Bancária Conjunta: A conta bancária (contrato de depósito) conjunta pode


ser chamada de solidária, porém deve ser esclarecido que a solidariedade é entre o banco
(depositário) contra os titulares (depositantes). Em regra, qualquer um dos depositantes
(titulares) podem movimentar toda a conta, em virtude de serem solidários!! Sendo solidários,
cada um deles pode, em regra, exigir do Banco a totalidade do saldo (obs: não é que tenha
direito a totalidade do saldo; poderá vir a ser obrigado a prestar contas pelo outro co-titular,
mas o banco não responderá por entregar a um dos titulares solidários a totalidade do saldo!)

Por isto, sendo solidária apenas entre cotitulares x instituição financeira, não é
solidária contra terceiros (a dívida de um dos co-titulares não pode ensejar a penhora de todo
o saldo; deve ser excluído a quota do saldo pertencente ao outro co-titular). Neste sentido:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ALCANCE DE


PENHORA DE VALORES DEPOSITADOS EM CONTA
BANCÁRIA CONJUNTA SOLIDÁRIA. A penhora de
valores depositados em conta bancária conjunta
solidária somente poderá atingir a parte do numerário
depositado que pertença ao correntista que seja sujeito
passivo do processo executivo, presumindo-se, ante a
inexistência de prova em contrário, que os valores
constantes da conta pertencem em partes iguais aos
correntistas. De fato, há duas espécies de contrato de conta
bancária: a) a conta individual ou unipessoal; e b) a conta conjunta ou
coletiva. A conta individual ou unipessoal é aquela que possui titular
único, que a movimenta por si ou por meio de procurador. A conta
bancária conjunta ou coletiva, por sua vez, pode ser: b.1)
indivisível - quando movimentada por intermédio de todos os seus
titulares simultaneamente, sendo exigida a assinatura de todos,
ressalvada a outorga de mandato a um ou a alguns para fazê-lo -; ou
b.2) solidária - quando os correntistas podem movimentar a
totalidade dos fundos disponíveis
isoladamente. Nesta última espécie (a conta conjunta solidária),
apenas prevalece o princípio da solidariedade ativa e
passiva em relação ao banco - em virtude do contrato de
abertura de conta-corrente -, de modo que o ato praticado por um dos
titulares não afeta os demais nas relações jurídicas e obrigacionais com
terceiros,
devendo-se, portanto, afastar a solidariedade passiva dos
correntistas de conta conjunta solidária em suas relações
com terceiros (REsp 13.680-SP, Quarta Turma, DJ
16/11/1992). Isso porque a solidariedade não se presume, devendo
resultar da vontade da lei ou da manifestação de vontade inequívoca das
partes (art. 265 do CC). Nessa linha de entendimento, conquanto a
penhora de saldo bancário de conta conjunta seja admitida pelo
ordenamento jurídico, é certo que a constrição não pode se dar em
proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da obrigação,
devendo ser preservado o saldo dos demais cotitulares. Além disso, na
hipótese em que se pretenda penhorar valores depositados em conta
conjunta solidária, dever-se-á permitir aos seus titulares a comprovação
dos valores que integram o patrimônio de cada um, sendo certo que, na
ausência de provas nesse sentido, presumir-se-á a divisão do saldo em
partes iguais (AgRg no AgRg na Pet 7.456-MG, Terceira Turma, DJe
26/11/2009). REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 22/4/2014

Obrigações solidárias Ativas:

*São as que possuem mais de um credor e qualquer um deles pode exigir a dívida por
inteiro, como se fosse um só credor (Art. 267). Semelhantemente às indivisíveis, um devedor
pode pagar a apenas um dos credores. Porém, diferentemente das obrigações indivisíveis,
não há obrigação de cercar-se se cautelas para proteger os demais credores, como é obrigado
a fazer nas indivisíveis (art 260).

Porém, somente pode fazer desta forma até ser demandado em juízo (Art. 268)
(“prevenção judicial” nas obrigações solidárias, devendo a obrigação ser satisfeita em favor de
quem moveu a ação).

*Pagamento recebido/Remissão/Novação/Compensação concedidos, inclusive


parcialmente, por um credor: extingue a dívida total ou parcialmente (se parcialmente
concedido) Neste caso, a dívida subsiste quanto ao remanescente, que permanece solidário.
(EX: A deve a B e C R$ 2.000,00, e há solidariedade ativa. B e C fazem jus, portanto, a R$
1.000,00 cada um, mas cada um deles pode cobrar os R$ 2.000,00 (e então prestar contas dos
R$ 1.000,00 ao outro credor). Se B aceitar receber R$ 1.000,00, a dívida é abatida neste valor,
e o mesmo B poderá cobrar os R$ 1.000,00 restantes!. (Art. 269). Observação: O credor que
receber, que remitir, compensar ou novar o débito fica responsável perante os demais
credores pelo débito originário se não foi autorizado pelos demais credores a assim agir.

*Falecimento dos credores solidários: Se um credor solidário falecer, não subsiste a


solidariedade entre seus herdeiros. Cada herdeiro somente poderá demandar o valor que lhe
couber (sua quota da dívida). (Somente poderá exigir a totalidade da obrigação neste caso se
a obrigação for indivisível - e o devedor aqui poderá se cercar de cuidados quanto ao
pagamento do Art. 260). – Art. 270 CC. A este fenômeno é dado o nome de refração do crédito.
*Na impossibilidade de os credores receberem, convertendo-se a prestação em perdas
e danos, subsiste a solidariedade (Art. 271) (OBS: É diferente para as indivisíveis! Nas
obrigações indivisíveis, a conversão em perdas e danos retira o caráter de indivisibilidade –
Art. 263 CC).

*Recebimento/quitação/perdão por um credor: ele responde aos outros pelos


quinhões que lhes couber e esta obrigação entre os credores (relação interna) é fracionária e não
solidária!

*Prescrição: Interrupção por um credor aproveita aos demais (Art. 204, §1), porém,
a suspensão da prescrição em favor de um credor não aproveita aos demais (Art. 201 – exceto
se indivisível). OBS: A interrupção efetuada contra devedor solidário envolve demais e
herdeiros!!

*Mora: a constituição do devedor em mora por um dos credores aproveita aos demais
porém, a recusa injustificada no recebimento da dívida de um dos credores ou em fornecer
quitação implica em mora do credor que também estende-se aos demais!

*Exceções pessoais: a um credor solidário não pode o devedor opor exceções


pessoais que tenha contra outro! (Art. 273). Exceções são defesas (Ex: compensação). Se um
credor lhe cobra, deve pagar toda a dia, restando ao devedor indenizar ação específica contra
o credor contra o qual dispunha de exceção pessoal. EX Loureiro (CC Comentado C.
Peluso):

Caso, por exemplo, A, B e C sejam credores solidários de Y e somente A o tenha


coagido a firmar o instrumento de confissão de dívida, sem que a coação seja conhecida
pelos demais, Y não poderá invocar o defeito em ação ajuizada por B. Desse modo,
poderá este receber a integralidade da dívida, cabendo a Y ajuizar ação ante o coator
A, para receber o que indevidamente pagou. Não poderá, porém, invocar a coação de
A em relação a B, autor da ação.

Solidariedade Passiva:
*Ocorre quando há mais de um devedor e qualquer um deles pode pagar/ser
compelido a pagar a totalidade da dívida. Assim, embora existam vários devedores, para o
credor cada um deles é como se fosse único, e conforme lhe convier pode optar entre receber
a dívida de um só deles ou de todos. E ainda, a ação proposta contra um deles não implica
em renúncia à solidariedade. A este respeito:

Concretizando muito bem a regra, concluiu o Superior Tribunal de


Justiça que o beneficiário do DPVAT – seguro obrigatório de veículos –
, “ “pode acionar qualquer seguradora integrante do grupo para
receber a complementação da indenização securitária, ainda que o
pagamento administrativo feito a menor tenha sido efetuado por seguradora diversa. A
jurisprudência do STJ sustenta que as seguradoras integrantes
do consórcio do seguro DPVAT são solidariamente responsáveis
pelo pagamento das indenizações securitárias, podendo o
beneficiário reclamar de qualquer uma delas o que lhe é devido.
Aplica-se, no caso, a regra do art. 275, caput e parágrafo único, do CC, segundo a
qual o pagamento parcial não exime os demais obrigados solidários quanto ao restante
da obrigação, tampouco o recebimento de parte da dívida induz a renúncia da
solidariedade pelo credor” (STJ, REsp 1.108.715/PR, Rel. Min. Luiz Felipe
Salomão, j. 15.05.2012, publicado no Informativo n. 497 (Fonte: TARTUCE).

OBS: DPVAT = Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre

* Pagamento realizado/Remissão/Novação/Compensação, recebidos inclusive


parcialmente, por um devedor: extingue a dívida total ou parcialmente. Neste caso, a dívida
subsiste quanto ao remanescente, que permanece solidário.

(EX: A e B devem a C R$ 2.000,00, e há solidariedade passiva. A e B devem, portanto,


R$ 1.000,00 cada um, mas cada um deles pode vir a ser compelido a pagar os R$ 2.000,00. C
aceita receber R$ 1.000,00 de B. A dívida é abatida neste valor, e o mesmo B poderá vir a ser
demandado dos R$ 1.000,00 restantes!). (Art. 275). Observação: O devedor que pagar fica
tem direito de exigir de cada um dos co-devedores sua quota parte e divide-se por todos a do
insolvente (Art. 283).

*Falecimento dos devedores solidários: Se um devedor solidário falecer, não subsiste


a solidariedade entre seus herdeiros; porém, todos reunidos PODEM ser considerados um
devedor solidário! Cada herdeiro somente poderá ser demandado pelo valor que lhe couber
(sua quota da dívida) No entanto, se reunidos, podem ser considerados como se fossem um
só devedor solidário. (Art. 276 CC. A este fenômeno é dado o nome de refração do débito)
*Qualquer convenção ou obrigação adicional estipulada entre um devedor solidário
e credor não pode agravar situação dos outros sem consentimento destes.

*Na impossibilidade de os devedores cumprirem a obrigação com culpa de um


devedor, subsiste a solidariedade de pagar o valor equivalente, porém somente o culpado
responde pelas perdas e danos (Art. 279).

*Se a dívida solidária interessar a exclusivamente um devedor, responde ele por toda
ela para com o devedor que a pagar. (Ex: contrato bancário em que o garantidor é devedor
solidário, mas o mútuo é feito no interesse do mutuário; contrato de locação urbana , com
fiança, sem benefício de ordem, em que o fiador quita o débito). Neste caso, o garantidor e
fiador não cobram somente quota parte, mas sim toda a dívida.

*Mora: todos devedores respondem pelos juros da mora; porém o culpado responde
aos outros pela obrigação acrescida.

* Prescrição: Interrupção contra um dos devedores solidários, envolve os demais e


seus herdeiros. Porém, a interrupção contra um dos herdeiros do devedor solidário não
prejudica outros herdeiros ou devedore, salvo se for indivisível (Art. 204, §2).

*Exceções pessoais: o devedor demandado pode opor ao credor as exceções pessoais


que lhe couber, porém não lhe aproveita as exceções pessoais de outro devedor! (Art. 281 –
inverso da regra vista acima sobre solidariedade ativa).

Aula 11.A (Leitura Obrigatória) – Adimplemento e Extinção


Obrigações.
Adimplemento Obrigações.

Do pagamento:

Para Caio Mário, o pagamento é “o fim normal da obrigação”, porém, não é o único,
havendo outras formas de se extinguir uma obrigação: “a) pela execução forçada; b) pela satisfação
direta ou indireta, como por exemplo, na compensação; c) pela extinção sem caráter satisfatório, como na
impossibilidade da prestação sem culpa do devedor ou na remissão de dívida” .

De outro lado, cite-se que o pagamento pode ser direto, indireto ou anormal. No
primeiro caso, corresponde à própria prestação originalmente prevista; no segundo, resulta
de outros institutos, como por exemplo, a consignação, compensação, etc. Já adimplemento
anormal ocorre nas hipóteses de extinção sem cumprimento, como por exemplo, no caso de
perecimento do bem sem culpa do devedor, prescrição, nulidade, etc.

Assim, o modo mais comum de extinção das obrigações ocorre pelo pagamento
direto - também chamado de solução (“solver”), cumprimento, adimplemento, implemento
ou satisfação da obrigação.

Quem deve pagar (solvens):

Art. 304 a 307 CC. Via de regra é o devedor. Há possibilidade, entretanto, de outras
pessoas pagarem a dívida (terceiros)

Pagamento por terceiro interessado: quem possuir interesse patrimonial na


extinção da dívida (ex: o fiador, avalista ou herdeiro). O terceiro interessado que pagar a
dívida automaticamente sub-roga-se nos direitos do credor, com transferência de todas as
ações, exceções e garantias (SUBROGAÇÃO LEGAL – Art. 346, III). Apesar de ser uma
forma de extinção da obrigação, é também uma forma de transmissão do crédito do credor
originário para o terceiro interessado. Isto por que o devedor não cumpriu sua obrigação,
embora o credor tenha recebido a satisfação de seu crédito. Assim, “continua” a dever, porém
agora sob nova relação jurídica, por sub-rogação, ao terceiro interessado.

OBS: Interesse patrimonial não é interesse afetivo! Pai que paga dívida de filho , segundo
Tartuce, é terceiro não interessado.

O pagamento também pode se dar por terceiro não interessado, e normalmente


pode se dar de duas formas:

-O terceiro não interessado paga em seu próprio nome. Neste caso, tem direito de ser
reembolsado pelo devedor. Vale apontar que se pagar a dívida antes de vencida, somente tem
direito ao reembolso após o vencimento (305 ,p.u. CC).

-O terceiro interessado faz o pagamento em nome e conta do devedor, sem oposição


deste. Neste caso, não possui direito algum, é como se fosse uma doação, ato de liberalidade
(Art. 304, p.u c/c Art. 305)

A quem deve se pagar (accipiens)


Como regra geral, é o credor. Pode ser feito ao representante com poderes para
receber (sem poderes: somente terá validade depois de ratificado pelo credor ou havendo
prova de que reverteu em seu proveito) – Art. 308, CC.

Credor putativo (aquele que na imaginação do devedor, na aparência, teria poderes


para recebr): é válido, desde que haja boa fé do devedor. (ex: locação paga à imobiliária após
o locador romper contrato com a imobiliário, sem avisar o locatário. Enquanto o locatário
não for notificado, os pagamentos feito à quem não tem poder para receber (imobiliária)
serão válidos com base no 309 CC.)

Objeto do pagamento: A prestação (com anuência do credor, é possível receber


objeto diverso do originalmente contratado, ocorrendo a DAÇÃO EM PAGAMENTO –
Art. 356. Observa regras próprias – 356 e seguintes).

OBS: Art. 317 – IMPREVISÃO –

“Por isso é que preferimos o termo revisão contratual por fato superveniente, diante de uma
imprevisibilidade somada a uma onerosidade excessiva. Na visão clássica, são os requisitos
para a revisão contratual, por esse caminho:

a)O contrato deve ser bilateral (sinalagmático) e oneroso (presente a remuneração).

b)O contrato deve ser comutativo, aquele em que as partes já sabem quais são as prestações,
não sendo possível rever contrato aleatório, pois o risco é da essência do negócio.
Entretanto, é possível rever a parte comutativa de um contrato aleatório (v.g., prêmio de
um seguro).

c) O contrato deve ser de execução diferida ou continuada (trato sucessivo), não sendo
possível, em regra, rever o contrato instantâneo de execução imediata.

d)Presença de um motivo imprevisível.

e)Presença de uma desproporção negocial, onerosidade excessiva ou quebra do ponto de


equilíbrio do sinalagma
obrigacional.” (TARTUCE)

Da Prova do Pagamento

Art. 320 – QUITAÇÃO – requisitos no caput.

Art. 321: Devolução do título (Art. 324)


Art. 319: Devedor NÃO É OBRIGADO A PAGAR se não lhe for dada a quitação (mora
do credor!) – inclusive pode ser motivo para consignação em pagamento! (Art. 335, I,
CC).

Do lugar do pagamento:

Regra: Art. 327 – domicílio do devedor (obrigação quesível ou quérable)

Exceção: há estipulação expressa do local, diferente do domicílio do devedor –


normalmente, o domicílio do credor (obrigação portável ou portable)

Do tempo do pagamento:

Vencimento: momento em que obrigação passa a ser exigível e devedor deva efetuar o
pagamento. Lembrar dos conceitos de obrigação instantânea, diferida ou periódica. Regra:
não havendo prazo, é instantânea (Art. 331 CC) . É normalmente um termo (evento futuro
e certo), podendo ser termo certo (exemplo, dia/data de vencimento), ou termo
incerto (exemplo: pagarei o restante do preço do imóvel o dia em que for concluído o
procedimento de retificação de área).

Vencimento Antecipado: Art. 333 do Código Civil. (rol exemplificativo: pode decorrer de
convenção das partes).

Consignação em Pagamento:

Conceito: É forma de pagamento indireto, consistente em um depósito efetuado pelo


sujeito passivo da obrigação, da prestação, liberando-se de um dever assumido face a um
credor. Ocorre conforme o Art. 334 e ss do código civil, podendo ser judicial ou extrajudicial,
conforme Art. 539 do CPC.

Por exemplo, no depósito extrajudicial, não havendo impugnação, o devedor


considera-se liberado da obrigação.

Cabimento: Art. 335 CC. Rol exemplificativo – cabe em outras hipóteses.

O art. 335 do CC/2002 traz um rol de situações em que a consignação poderá ocorrer:
a)Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar a receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma
(hipótese de mora accipiendi, mora no recebimento – causa subjetiva, pessoal).
b)Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidas (hipótese de mora
accipiendi – causa subjetiva).

c)Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, for declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil (outra causa subjetiva, relacionada com o sujeito ativo da obrigação).

d)Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento (também causa subjetiva,
denominada dúvida subjetiva ativa, uma vez que o devedor não sabe a quem pagar).

e)Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a consignação). (TARTUCE)

Procedimento: Art. 539 e seguintes do CPC.

Pagamento com sub-rogação:

A sub-rogação da´se sempre que uma pessoa ocupa a posição de outra em


determinada relação jurídica, como previsto nos Arts. 346 e 347 do Código Civil.

Pode ser legal, ou seja, emana da lei (Art. 346) ou convencional, decorrendo de vontade das
partes (Art. 347)

Apesar de ser uma forma de pagamento indireto e de extinção de obrigação, ela cria
uma nova relação jurídica entre o devedor e quem efetuou o pagamento por sub-rogação.
Difere da cessão de crédito pois na cessão é a mesma obrigação, apenas se alterando-se
sujeitos; já a sub-rogação há quitação, há extinção da dívida originária.

Como consequencia, transfere ao novo credor todos os direitos da obrigação primitiva (Art.
349).

Imputação ao pagamento:

Imputar significa indicar, apontar. Serve para o caso de haver várias obrigações entre as
mesmas partes, e, ao efetuar o pagamento, a pessoa indica qual das obrigações está saldando.
É direito do devedor indicar qual está saldando, se todas forem líquidas e vencidas. Se não
indicar, observar as regras do Art. 347 e seguintes do CC.

Dação em pagamento; visto acima (Art. 356 e ss)


Novação (Art. 360 e ss)

É um pagamento indireto em que substitui-se a obrigação anterior, diversa da


primeira. Nasce para substituir a obrigação anterior, e a extingue.

São elementos: existência de obrigação anterior (obrigação novada); convenção de uma nova
obrigação (novadora), e a intenção de novar (animus novandi) que pode ser expresso ou tácito,
porém sempre inequívoco.

Compensação: (Art. 368 e ss).

Ocorre na situação em que duas pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras
umas das outras, extinguindo-se as obrigações até o ponto em que se equivalerem (Art. 368
CC). É forma de pagamento indireto.

Confusão (Art. 368 e ss CC): Quando se reúne, na mesma pessoa, a relação de crédito e
de débito. Por ex: Devedor é único sucessor do credor e sobrevém a morte deste último. Fica
extinta a obrigação, pelo pagamento indireto denominado confusão.

Remissão de dívida: (art. 368 CC).

É o perdão da dívida. É ato bilateral, pois exige a aceitação do devedor. Não pode prejudicar
terceiros.

Aula 11.B – Inadimplemento das obrigações. Parcial (mora). Total.


MORA: Texto enviado na semana.

PERDAS E DANOS

Art.. 402 do CC

DANOS EMERGENTES OU POSITIVOS: o que a parte lesada efetivamente


perdeu. Pode ser conceituado como prejuízo, certo e atual, efetivamente experimentado
pelo credor, em virtude de ação ou omissão do devedor. A indenização poderá in natura, ou
seja, específica, com restauração efetiva do prejuízo (exemplo: substituição da coisa que
deteriorada antes da tradição) ou então, genérica, consistente em valor em dinheiro
equivalente ao prejuízo para suficiente reparação.
LUCROS CESSANTES OU NEGATIVOS: o que a parte lesada, em virtude do
inadimplemento, deixou de ganhar (“frustração do lucro”, “lucro futuro” – Ex: lucro que
o taxista deixou de auferir em virtude da não entrega do veículo comprado)..

Art. 403 - Em um ou outro caso, Lei exige dano efetivo; a princípio, não há dano
hipotético ou eventual. Dano efetivo é efetiva diminuição patrimonial da parte lesada.

**Outros Danos:

Perda de uma chance: Segundo Tartuce: “ A perda de uma chance está caracterizada quando a
pessoa vê frustrada uma expectativa, uma oportunidade futura, que, dentro da lógica do razoável, ocorreria
se as coisas seguissem o seu curso normal. (...) os critérios para a perda de uma chance “partem da constatação
da existência de ‘chances sérias e reais’, pois ‘a teoria da perda de uma chance encontra o seu limite no caráter
de certeza que deve apresentar o dano reparável’. Por essa razão, a chance perdida deve representar ‘muito
mais que uma simples esperança subjetiva’, cabendo ao réu a sua prova e ao juiz o dever de averiguar quão
foi efetivamente perdida a chance com base na ciência estatística, recorrendo ao auxílio de perícia técnica. Além
do mais, a sua quantificação segue uma regra fundamental – obedecida também nas espécies de dano moral
pela perte d’une chance –, qual seja: a reparação da chance perdida pela vítima, não devendo ser igualada à
vantagem em que teria resultado esta chance, caso ela tivesse se realizado, pois nunca a chance esperada é igual
a certeza realizada” (TARTUCE)

**Danos Morais: Art. 186 CC – Prevê violação ou dano, ainda que exclusivamente moral,
como ilícito e aplica-se à responsabilidade extracontratual ou aquiliana. De outro lado, o Art.
402, ao versar sobre responsabilidade contratual, nada fala sobre dano moral. Assim, sob o
prisma do direito civil-constitucional, entende-se de forma majoritária que é possível a
reparação de dano moral com base em responsabilidade contratual, com fundamento no Art.
5, V e X da CF/88.

DOS JUROS:

Um dos efeitos da inadimplência, seja relativa (mora) ou absoluta, são os juros. Estão
disciplinados nos Arts. 406 e 407 do CC/02. Juros é o rendimento do capital.
Pode ser definido como “preço pago pelo uso de capital alheio”. Silvio Rodrigues
explica os fundamentos para os juros, dizendo que de um lado é a remuneração ao credor
que fica privado de seu capital, e de outro, compreende também o risco que incorre o credor
de não receber seu capital, que está sendo usado por outra pessoa, de volta.

Sua natureza jurídica, via de regra, é de fruto civil e, assim sendo, são acessórios (CC
– Art. 92) e se a quitação for dada sem os ressalvar, presumem-se pagos (Art. 323) Quanto

à natureza, podem ser de duas espécies:

-Juros Compensatórios/Remuneratórios: São os que remuneram o uso de capital alheio,


como por exemplo, em casos de mútuos onerosos (“empréstimos, financiamentos”), ou
ainda, em casos de inadimplência. Dependem de previsão contratual.

-Juros Moratórios: Consistem em indenização devida pelo atraso (mora) no cumprimento


da obrigação. Independem de previsão contratual.

Ex: João empresta a José R$ 1.000,00, para serem pagos em 30 dias, com juros de 0,1% ao
mês. Assim, em 30 dias, devem ser pagos R$ 1.001,00, a título de juros compensatórios (“de
normalidade”). Após o vencimento, passam a incidir então os juros moratórios, que podem
ser diferentes,

Quanto à origem, os juros podem ainda ser:

-Convencionais: fixados por vontade das partes. Podem ser compensatórios e também os
moratórios. Em uma outra outra hipótese, não podem exceder ao dobro da taxa legal. (Art.
1, D. 22626/33 – “Lei de Usura”) Parte da doutrina entende que a taxa legal é a SELIC
(Fixada conforme política do BACEN) e parte entende que é a do CTN c/c Lei de Usura
(1% ao mês; assim, os limites seriam 2% ao mês ou 24% ao ano, sendo esta a corrente
majoritária – a crítica é que a Selic varia e ela tem natureza híbrida, é um misto de correção
monetária e juros, além de possuir certa imprevisão e não permitir, com segurança, quais
serão os encargos). Há julgados, aparentemente isolados, que já consideraram a SELIC!! (STJ,
REsp 792.760/PE, de 2006!)

-Legais: Fixados por força de lei – Ex: juros moratórios não convencionados, ou se forem
sem taxa estipulada (Art. 406 c/c Art. 591 – “mútuo oneroso ou feneratício”). Os juros legais
coincidem com o valor dos juros utilizados pela Fazenda Nacional, prevalecendo que sejam
de 1% ao mês (há a mesma discussão quanto à Selic, lembrando que a Selic pode ultrapassar
1% ao mês) – neste sentido, enunciado 20 CJF (A taxa de juros moratórios a que se refere o
art. 406 é a do art. 161, § 1.º, do Código Tributário Nacional, ou seja 1% (um por cento) ao
mês. “. Ver também: Toda discussão envolvendo a Súmula Vinculante nº 7 STF!

OBS: Instituições financeiras NÃO se sujeitam à lei de usura! (Súmula 596 STF). Assim
não se submetem a estes limites!! Ainda, a Súmula 283 do STJ equipara empresa
administradora de cartão de crédito à instituição financeira.

Na opinião de Tartuce, estas súmulas são criticadas: “Em suma, é lamentável o teor da Súmula
596 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual as instituições bancárias, como integrantes do sistema
financeiro nacional, não estão sujeitas à Lei de Usura. Também não há como concordar com o teor da Súmula
283 do Superior Tribunal de Justiça, que prevê que “as empresas administradoras de cartão de crédito são
instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei
de Usura”. Compreendemos que a Lei de Usura está em total sintonia com a proteção dos vulneráveis
(consumidores e aderentes contratuais), constante do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil.(...)
Assim, na minha opinião doutrinária, deve ser a Súmula 596 do Supremo Tribunal Federal imediatamente
cancelada, tendo em vista a emergência do princípio da função social dos contratos, com o qual não pode
conviver.”

OBS 2: Lei complementar 167/2019

Trata de “Empresa Simples de Crédito (ESC)”Trata-se de PJ de âmbito municipal ou distrital,


com atuação exclusiva no município de sua sede ou limítrofes, destinada à realização de
empréstimos, financiamentos e de desconto de títulos de créditos, exclusivamente com
recursos próprios, tendo como contrapartes microempreendedores individuais,
microempresas e empresas de pequeno porte.

Não se aplica a lei de usura e o 591 do CC às ESCs, de acordo com o Art. 5, §4 desta lei: “§
4º Não se aplicam à ESC as limitações à cobrança de juros previstas no Decreto nº 22.626, de 7 de abril
de 1933 (Lei da Usura), e no art. 591 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).”

Para Tartuce: “O objetivo, parece-me, foi de regularizar, em muitas situações, as atividades locais de
agiotas.”

Contagem:
Juros simples: incidem apenas sobre o capital principal.

Juros compostos (anatocismo, juros sobre juros, juros frugíferos ou capitalização


dos juros): incidem sobre o principal e juros já acumulados. A lei de usura e Sumula 121 do
STF proíbem o anatocismo. Porém, em alguns casos, são possíveis: Por exemplo, cédulas de
crédito rural/industrial – Sum. 93 STJ. Ou ainda, anualmente, conforme Art. 591 do CC.

Assim, é sobre os juros vencidos há mais de um ano há também a incidência de juros (os
juros vencidos há mais de um ano incorporam-se no capital).

Termo Inicial/Início de Fluência:

Juros compensatórios: conforme contrato.

Juros moratórios: à partir da constituição do devedor em mora.

Nas obrigações líquidas em dinheiro, incidem desde a data de vencimento, por força
da mora ex re (“atraso da coisa”, ou ainda dies interpellat pro homine - a data interpela pelo
homem) (Em. 428 CJF); ao passo que em caso de juros ainda não líquidos, incidem desde a
data da citação consoante o Art. 405 do CC – necessária a notificação, mora ex persona – “atraso
da pessoa”)

Obrigações de não fazer: devidos desde o dia que devedor executa o ato que deveria se abster
(Art. 390).

Atos ilícitos: via de regra, desde a data de prática do ato (trata-se de obrigação ilíquida com
juros incidentes ainda antes da citação). (Súmula 54 STJ)

Honorários Advocatícios

No assunto perdas e danos, os honorários advocatícios integram as perdas e danos (404 e


389 CC)..

Vale ressaltar o Enunciado n. 161 CJF: “apenas têm cabimento quando ocorre efetiva
atuação profissional do advogado”. A ideia é evitar a usurpação da função da advocatícia por
pessoas inidôneas e até de empresas de cobranças, que por vezes cobram valores a títulos de
honorários advocatícios mesmo sem que haja a atuação de um advogado.
Porém, quais são os honorários devidos? Os do CPC (sucumbenciais) ou os
contratuais (convencionados pelas partes?) O principal questionamento é o seguinte: esses
honorários são os sucumbenciais, previstos no CPC (fixados pelo Juiz); ou são os contratuais,
geralmente cobrados pelos advogados para ingresso da ação?

Há divergências:

STJ 1: “os valores pagos ao advogado contratado integram as perdas e danos, os quais
devem ser ressarcidos quando provada a imprescindibilidade da ação e a razoabilidade do
valor pago” (STJ, AgRg no REsp 1.354.856/MG)

STJ 2: A Segunda Seção do STJ já se pronunciou no sentido de ser incabível a


condenação da parte sucumbente aos honorários contratuais despendidos pela vencedora.
(STJ, AgRg no REsp 1.374.369/RS).

Na doutrina, o tema também não é pacífico. Ainda, há o enunciado 426 CJF, que
aparenta indicar um posicionamento pela primeira corrente, porém não é incisivo sobre o
assunto: “Os honorários advocatícios previstos no art. 389 do Código Civil não se
confundem com as verbas de sucumbência, que, por força do art. 23 da Lei 8.906/94,
pertencem ao advogado”

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