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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE SAÚDE E BIOCIÊNCIAS


CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOLOGIA JURÍDICA

NATAXA BOBATO PEPLOW

ASPECTOS QUANTITATIVOS DA LESÃO CORPORAL NAS DELEGACIAS DA


MULHER DE CURITIBA E DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.

CURITIBA
2014
1

NATAXA BOBATO PEPLOW

ASPECTOS QUANTITATIVOS DA LESÃO CORPORAL NAS DELEGACIAS DA


MULHER DE CURITIBA E DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.

Monografia apresentada ao Curso de Pós-


graduação Lato Sensu em Psicologia Jurídica
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
como requisito para obtenção do grau de
Especialista.

Orientador (a): Profª. Drª. Priscilla Placha Sá.

CURITIBA
2014
2

FICHA CATALOGRÁFICA
3

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

_____________________________________

____________________________________

Cidade, ____ de ________ de 2014.


4

RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo analisar quantitativamente a violência doméstica


que acomete as mulheres, mais estritamente, a violência física (lesão corporal) em
duas Delegacias de Polícia Civil do Estado do Paraná. Para este estudo foram
selecionadas as Delegacias Especializadas de Proteção à Mulher das cidades de
Curitiba e São José dos Pinhais. Após a coleta dos dados, a leitura de artigos, livros,
foi aplicada a análise dos dados encontrados. Os dados apontaram que os números,
quanto a lesão corporal, estão diminuindo em ambas a Delegacias. Através de
pesquisas bibliográficas, procurou-se encontrar os possíveis motivos para que
mulheres vítimas de violência doméstica não denunciassem as agressões.
Encontrou-se que, não poder retirar a queixa, medo, vergonha, punição branda,
dependência financeira, preocupação com a criação dos filhos, entre outros, são
possíveis justificativas para que mulheres vítimas não denunciassem seu agressor.
É importante salientar que, foi possível verificar alguns os motivos pelos quais as
vítimas não comunicam a agressão às autoridades policiais, mas não há como saber
o que causou uma diminuição em relação a tal comunicação. Em suma, foram
destacas possíveis motivos para tal diminuição dos Boletins de Ocorrências, todavia
para saber com exatidão os reais motivos para a queda nos números de B.O.s nas
Delegacias Especializadas de Proteção a Mulher na cidade de Curitiba e São José
dos Pinhais, seria necessária uma pesquisa extremamente aprofundada, com o
objetivo de descobrir o real motivo desta diminuição.

Palavras-chave: Delegacia da Mulher. Lesão Corporal. Números da Violência.


5

ABSTRACT

This work aims to analyze quantitatively the domestic violence that affects women
more strictly, physical violence (bodily injury) in two Police Stations Civil Police of the
state of Paraná. For this study were selected from the Special Police Protection to
Women in the cities of Curitiba and São José dos Pinhais. After collecting the data,
reading articles, books, analysis of the data was applied. The data showed that the
numbers, as the injury, are decreasing in both the Police. Through literature
searches, we tried to find the possible reasons for women victims of domestic
violence not to report the assaults. It was found that, not being able to withdraw the
complaint, fear, shame, lenient punishment, financial dependence, preoccupation
with raising children, among others, are possible explanations for women victims not
to report their abuser. Importantly, it was possible to check some reasons why victims
do not report the assault to law enforcement, but there is no way to know what
caused a decrease in respect of such communication. In short, possible reasons for
this decrease were Bulletins Events destacas, however to accurately know the real
reasons for the decline in numbers of BOs in the Special Police to Protect Women in
Curitiba and São José dos Pinhais would require a extremely thorough research in
order to discover the real reason for this decrease.

Keywords: Police Woman. Bodily Injury. Numbers of Violence.


6

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – DELEGACIAS DE ATENDIMENTO ESPECIALIZADO ÀS MULHERES


NO PARANÁ................................................................................................................9

TABELA 2 – TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.....................................15

TABELA 3 – REGISTRO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.............................................................18

TABELA 4 – REGISTRO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL NA DELEGACIA DA MULHER EM CURITIBA....................................21

TABELA 5 – COMPARAÇÃO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL ENTRE JAN A OUT/13 E JAN A OUT/2014 EM SÃO JOSÉ DOS
PINHAIS.....................................................................................................................22
7

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – REGISTRO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL ENTRE OS ANOS 2007 A 2013 EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.........19

GRÁFICO 2 – REGISTRO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL POR MESES EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS......................................19

GRÁFICO 3 – REGISTRO DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA DE LESÃO


CORPORAL ENTRE OS ANOS 2007 A 2013 EM CURITIBA..................................22

GRÁFICO 4 – CILCO DA VIOLÊNCIA......................................................................26

GRÁFICO 5 – O QUE AS VÍTIMAS FIZERAM APÓS A ÚLTIMA AGRESSÃO


SOFRIDA?.................................................................................................................30

GRÁFICO 6 – O QUE LEVAR A MULHER A NÃO DENUNCIAR A AGRESSÃO À


POLÍCIA.....................................................................................................................35
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

B.O Boletim de ocorrência


B.O.s Boletins de ocorrências
DEAM Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres
DEPOL Delegacia de Polícia
DP Delegacia de Polícia
ed. Edição
Ed. Editor
f. Folha
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS Organização Mundial de Saúde
p. Página
PR Paraná
PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná
SIBI Sistema Integrado de Bibliotecas
SJP São José dos Pinhais
SPM Secretaria de políticas para as Mulheres
STF Superior Tribunal Federal
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
2 FALANDO SOBRE GÊNERO...................................................................................3
3 CONTEXTO HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER..........................7
4 LESÃO CORPORAL...............................................................................................16
5 MATERIAL E MÉTODO..........................................................................................17
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................18
6.1 DELEGACIA DA MULHER – SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.....................................18
6.2 DELEGACIA DA MULHER – CURITIBA..............................................................20
7 POR QUE OS NÚMEROS ESTÃO CAINDO?........................................................22
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................38
9 REFERÊNCIAS.......................................................................................................42
1

1 INTRODUÇÃO

Uma vez que a Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e

seus processos mentais, ela sempre buscará um conhecimento objetivo, baseado

em fatos empíricos, incorporar em suas práticas ações voltadas ao enfrentamento

dos danos resultantes da violência sofrida pelas mulheres.

Esse trabalho tem como objetivo analisar quantitativamente a violência

doméstica que acomete as mulheres, mais estritamente, a violência física (lesão

corporal) em duas Delegacias de Polícia Civil do Estado do Paraná. Foram

selecionadas a Delegacia Especializada de Proteção à Mulher das cidades de

Curitiba e São José dos Pinhais.

Este estudo de caráter quantitativo explora o assunto da violência doméstica

quantos aos números de Boletins de Ocorrência registrados nessas Delegacias

supracitadas, no que concerne ao delito tipificado pelo Código Penal Brasileiro como

“lesão corporal” (artigo 129). Após a coleta dos dados, a leitura de artigos, livros, foi

aplicada a análise de dados que tiveram por base textos sobre a temática “violência

doméstica”.

Para Serafim e Saffi (2012), a palavra violência veio do latim, violentia, e

significa o ato de exercer de forma violenta contra o direito natural, gerando

constrangimento sobre certo indivíduo por obrigá-lo a praticar algo contra a sua

vontade.

A violência, via de regra, é um problema social e um fenômeno histórico que

se caracteriza de muitas formas na sociedade brasileira e no resto do mundo. A

escravidão (primeiro com os índios e depois, especialmente, com a mão de obra


2

africana), a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias antes e depois

da independência, somados a um Estado caracterizado pelo autoritarismo

burocrático, contribuíram para o aumento da violência que atravessa a história

Brasileira.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), caracteriza a violência como o uso

intencional da força física ou poder, contra si próprio, contra outro indivíduo, ou

contra um grupo ou comunidade que possa resultar em morte, lesão, dano psíquico,

problemas de desenvolvimento ou privação (BRASIL, 2007).

Levantar e compreender os Boletins de Ocorrência de lesões corporais de

mulheres atendidas nas Delegacias das Mulheres no Estado do Paraná, mais

especificamente em São José dos Pinhais – PR e Curitiba – PR, pode contribuir para

fornecer subsídios e aprimorar o atendimento, no geral, e principalmente a essa

população vulnerável.
3

2 FALANDO SOBRE GÊNERO

É de suma importância citar neste trabalho as questões de gênero, a fim de

conhecer e compreender melhor a violência que acomete as mulheres. Dentro do

contexto histórico, no decorrer na modernidade capitalista, com a grande

desigualdade entre homens e mulheres, pesquisadoras feministas, sobretudo a partir

da segunda metade do século XX, criticaram o conceito de gênero a fim de analisar

tais desigualdades, contribuindo para romper com antigos paradigmas.

O conceito de gênero foi incorporado pelo feminismo e pela produção

acadêmica sobre mulheres nos anos 1970 e, desde então, tem sido interpretado de

formas distintas por diferentes correntes do feminismo.

Compreender o gênero é, portanto, apreendê-lo como uma construção social

e, consequentemente histórica que pode sofrer mudanças ao longo do tempo e de

acordo com cada localidade ou até mesmo dentro de um mesmo espaço, conforme

a cultura, a crença, etc.

Quando se fala em gênero, é importante salientar o conceito de sexo, onde

este vai englobar as diferenças biológicas entre homens e mulheres, enquanto que o

conceito de gênero considera as relações construídas social e historicamente entre

os gêneros:

[...] gênero não pretende significar o mesmo que sexo, ou seja, enquanto
sexo se refere à identidade biológica de uma pessoa, gênero está ligado à
sua construção social como sujeito masculino ou feminino. Não se trata
mais de focalizar apenas as mulheres como objeto de estudo, mas sim os
processos da feminilidade e masculinidade, ou os sujeitos femininos e
masculinos (LOURO, 1996, p. 09).
4

A historiadora Joan Scott, autora considerada referência nos estudos

feministas, contribuiu enormemente para a quebra do determinismo biológico,

principalmente em duas categorias: o gênero como elemento constitutivo das

relações sociais, baseado nas diferenças perceptíveis entre os sexos; e o gênero

como forma básica de representar relações de poder em que as representações

dominantes são apresentadas como naturais e inquestionáveis (ROCHA, 2010).

Outro pensamento muito importante nas relações de gênero é o “patriarcado”,

defendido por Saffioti:

[...] no exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de


determinar a conduta das categorias sociais nomeadas, recebendo
autorização ou, pelo menos, tolerância da sociedade para punir o que se
lhes apresenta como desvio (SAFFIOTI, 2001, p. 115).

É notável que tal conceito aborda uma relação que oprime a mulher, com o

intuito de conquistar privilégios na esfera econômica, política e social. O patriarcado

está presente na sociedade moderna legitimando a subordinação da categoria social

mulheres em todas as esferas: na discriminação salarial, na segregação política, no

âmbito do espaço público etc:

[...] “As mulheres são vistas como ligadas ao mundo da casa, ao doméstico
e ao cuidado dos filhos. A capacidade corporal feminina relacionada à
reprodução da espécie humana delimita o espaço da mulher na vida em
sociedade; seu papel social de “cuidadora” confere-lhe uma posição
hierárquica inferior em relação aos homens publicamente ativos e
provedores” (SAYÃO, 2003, p. 123).

Desde a infância as pessoas são criadas conforme seu sexo e há distinções

nessas criações. Meninos brincam de carrinhos e meninas brincam de bonecas;

meninas usam cor de rosa e meninos azul; meninos ajudam seus pais e meninas

suas mães no trabalho doméstico; homens mandam, mulheres obedecem. Os


5

padrões de comportamentos, enraizados nas culturas, são perpetuados e

transmitidos de geração em geração. E esses comportamentos transmitidos são

reproduzidos cotidianamente e naturalizados, como já disse Joan Scott.

A divisão dos papéis e das tarefas tanto para homens quanto para mulheres é

definida através de condutas distintas, reforçando o poder do homem e tirando o

poder da mulher. Michelle Perrot assinala que:

[...] a mulher foi criada para a família e as coisas domésticas. Mãe e dona
de casa, esta é sua vocação, e nesse caso ela é benéfica para a sociedade
inteira. [...] Os homens são, na verdade, os senhores do privado e, em
especial, da família, instância fundamental, cristal da sociedade civil, que
eles governam e representam dispostos a delegar às mulheres a gestão do
cotidiano (PERROT, 1998, p. 9-10).

Os homens, sempre colocaram sua autoridade nas mulheres, caracterizando

uma dominação. O autor francês, Pierre Bourdieu, contribuiu de forma relevante

para o campo da sociologia, e este realizou um grande estudo sobre a dominação

masculina.

Bourdieu afirma que as mulheres são dominadas pelo poder masculino,

resultado daquilo que o autor denomina de violência simbólica, uma violência quase

invisível às suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias

puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou mais precisamente do

desconhecimento. Em contrapartida ao ponto de vista de Bourdieu, Michelle Perrot

afirma que este poder masculino sobre as mulheres possibilita às mesmas a

conquista de poderes, rejeitando veementemente a tese de que elas sejam

absolutamente dominadas (SAYÃO, 2003).

A violência simbólica se origina através de símbolos e signos culturais, em

especial no reconhecimento do domínio exercido por certas pessoas. Todavia, a


6

violência simbólica nem é percebida como um tipo de violência, mas como uma

espécie de interdição, com base em um respeito que “naturalmente” se pratica de

um para o outro. Dessa forma, impor a submissão às mulheres, pode ser

considerada como violência simbólica, que de forma muito sutil, sem utilizar a força

física, vai induzindo a uma situação de violência (SAYÃO, 2003).

Bourdieu diz que a violência simbólica se dá através do consentimento do

dominado, e para que haja uma transformação dessa estrutura, além do

conhecimento, é indispensável um trabalho educativo que venha desconstruir

afirmativas de que o homem é superior à mulher.

Destarte, pensar gênero significa pensar em processos históricos onde os

papéis construídos são constantemente reconstruídos. Assim, cabe a todos que

compõe esse processo, desconstruir padrões de comportamento que trilham na

lógica da exaltação masculina e submissão feminina próprios da sociedade

capitalista.
7

3 CONTEXTO HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Não é de hoje que foram construídos os avanços da luta pelo fim da violência

contra as mulheres. No Brasil, muitas mulheres denunciam e tentam dar visibilidade

a essa situação. Movimentos feministas reivindicavam por direitos democráticos,

como direito ao voto, divórcio, educação e trabalho.

O movimento feminista pode ser compreendido como um movimento social de

cunho político onde o objetivo é conquistar a igualdade de direitos entre homens e

mulheres e acabar com a relação desigual estabelecida socialmente entre ambos.

Tem origem na Revolução Francesa, onde as mulheres passaram a reivindicar maior

visibilidade e espaço para suas manifestações. Alguns direitos foram conquistados

mediante muita luta, destacando o direito ao divórcio, à educação, entre outros

A Nova Zelândia foi o primeiro país a conceder o direito ao voto às mulheres e

este momento histórico ocorreu no ano de 1893 e em 1940, foi fundada a Federação

de Mulheres do Brasil, considerada de “esquerda” e que organizava politicamente as

mulheres, além de investir na cultura. (SOUZA, 2013).

A exemplo frente aos direitos das mulheres no Brasil, o ex Presidente da

República, Getúlio Vargas, no ano de 1932, decretou o direito ao voto secreto a

todas as mulheres brasileiras, todavia, com a Ditadura Vargas, entre os anos de

1937-1945, a articulação dessas reivindicações foi diluída. As mulheres votariam,

efetivamente, em 1946 (AVELAR, 2002).

Outro fator é o surgimento da pílula anticoncepcional transformando-se em

um divisor de águas para as mulheres e proporcionando-lhes mais liberdade sobre

seu próprio corpo. Estes acontecimentos fizeram da década de 1960 um marco, pois
8

a sexualidade passou a ser discutida publicamente através de revistas e programas

de televisão (CEDIM, 2012 apud Souza, 2013).

Em 1975, a ONU declara o Ano Internacional da Mulher, “pelo impacto que já

se fazia sentir do feminismo europeu e norte-americano, favorecendo a discussão da

condição feminina no cenário internacional” (SARTI, 2004, p. 36).

Exatamente no ano de 1980, houve a criação do serviço, o SOS (save our

soul) Mulher nas cidades de São Paulo e Campinas, que se caracterizava como o

primeiro serviço específico de atendimento às mulheres em situação de violência no

Brasil (TAUBE, 2002).

Nos anos que se seguiram, foram surgindo encontros feministas, criação de

conselhos, para promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a

mulher e assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais

do país. As mulheres, além de procurar seu espaço na política e economia do país,

foram unindo-se a fim de combater a violência contra a mulher.

Tal união foi fruto da Convenção de Belém do Pará no ano de 1994, com o

objetivo de para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Esse

instrumento é o mais importante documento jurídico já elaborado sobre a violência

contra a mulher. Trata dos direitos protegidos, dos deveres do Estado e dos

mecanismos de proteção às mulheres (CAMPOS, 2003).

Em 1985, foi criada a primeira Delegacia Especializada de Atendimento às

Mulheres (DEAM) na cidade de São Paulo, com a atribuição de investigar os vários

crimes cometidos contra as mulheres (BRASÍLIA, 2010).

Atualmente, o Estado do Paraná consta com dezesseis (16) Delegacias

Especializadas no Atendimento à Mulher em situação de violência doméstica e


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familiar, sendo:

Tabela 1 – Delegacias de Atendimento Especializado às Mulheres no Paraná


Unidade Cidade
Delegacia da Mulher Apucarana
Delegacia da Mulher Araucária
Delegacia da Mulher Campo Mourão
Delegacia da Mulher Cascavel
Delegacia da Mulher Curitiba
Delegacia da Mulher Foz do Iguaçu
Delegacia da Mulher Guarapuava
Delegacia da Mulher Jacarezinho
Delegacia da Mulher Londrina
Delegacia da Mulher Maringá
Delegacia da Mulher Paranavaí
Delegacia da Mulher Pato Branco
Delegacia da Mulher Ponta Grossa
Delegacia da Mulher e do Adolescente São José dos Pinhais
Delegacia da Mulher Toledo
Delegacia da Mulher Umuarama
Fonte: Site da Polícia Civil (www.pc.pr.gov.br).

No ano de 2003, foi criada a Secretaria Especial de Políticas para as

Mulheres, de âmbito federal, com o objetivo de formular, coordenar e articular

políticas que promovam a igualdade entre mulheres e homens. A partir desta

Secretaria foi criado o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, com o

compromisso de enfrentar as desigualdades através de ações e políticas públicas,

no combate a estas e outras desigualdades sociais. E essas ações foram definidas a

partir dos debates estabelecidos na I Conferência Nacional de Políticas para as

Mulheres em 2004 (BRASILIA, 2005).

Um serviço público muito importante na causa do atendimento à mulher em

situação de risco, foi à criação de uma Central que atende a uma antiga demanda

dos movimentos feministas e das mulheres. Em 2005 foi criado a Central de


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Atendimento à Mulher – Ligue 180, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres

(SPM) com o objetivo de orientar mulheres em situação de violência sobre seus

direitos e onde buscar ajuda, e o serviço funciona 24 horas por dia (BRASÍLIA,

2007a):

[…] desde a sua criação, a Central tem apresentado um aumento


significativo no volume de ligações recebidas e de atendimentos realizados.
Entre 2005 e 2007, houve um crescimento de 1.200% no total de
atendimentos realizados, que passou de quase 15 mil, no primeiro ano de
funcionamento do serviço, para cerca de 205 mil, em 2007. Essa evolução
se dá não só em função das melhorias metodológicas e tecnológicas
implementadas ao longo dos dois primeiros anos de funcionamento da
Central (inclusive do aumento do horário e do número dos pontos de
atendimento), mas também pela sanção da Lei Maria da Penha e pela
divulgação massiva do serviço (BONETTI, PINHEIRO & FERREIRA, 2008,
p. 3).

Além de encaminhar os casos para os serviços especializados, a Central

fornece orientações e alternativas para que a mulher se proteja do agressor.

Aa cidade de Curitiba-PR conta com um serviço extremamente importante

para o acompanhamento e atenção à mulher vítima de violência doméstica. Trata-se

do “Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência

Doméstica” pertencente à Secretaria de Justiça do Estado do Paraná –

Coordenadoria dos Direitos da Cidadania – e é resultado dos esforços do Conselho

Estadual da Mulher do Paraná com as demais instituições e entidades que atuam

nesta área, que articularam seus serviços para a consolidação de uma Rede de

Atendimento às mulheres em situação de vulnerabilidade social, em função da

violência de gênero.

Este centro constitui-se em um espaço estratégico da política nacional de

enfrentamento à violência contra as mulheres e visa à ruptura da situação de

vulnerabilidade e a construção da cidadania, por meio de ações globais e


11

acompanhamento interdisciplinar, psicológico, social, jurídico, de orientação e

informação, de forma continuada e especializada.

O Crmulher, como é popularmente chamado, tem como objetivos imediatos

assegurar o atendimento e acompanhamento psicológico, social e jurídico à mulher

em situação de violência, que proporcione à superação da violência ocorrida e

contribua para o seu fortalecimento e o resgate de sua cidadania. O público alvo do

Centro de Referência são mulheres acima de 18 anos, residentes em Curitiba e

Região Metropolitana, em situação de violência doméstica.

Resultado das pressões do movimento feminista e de direitos humanos, em

agosto de 2006 foi aprovada a Lei nº. 11.340, objetivando combater a violência

doméstica. Tal Lei institui mecanismos de coerção da violência doméstica e familiar

contra a mulher, determinando a criação dos Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher, assim como medidas de prevenção e proteção da violência

(DIAS, 2010).

O Brasil, por meio da Lei 11.340/2006, apresenta um sistema normativo

complexo e progressista que tem por objetivo concretizar os princípios

constitucionais da igualdade e da dignidade humana. Essa Lei é formada por 46

artigos, sendo dividida em sete capítulos.

A Lei 11.340/2006, também conhecida como “Lei Maria da Penha”, tem esse

nome em homenagem a uma mulher que lutou por quase 20 anos para que seu

agressor fosse condenado pelas agressões cometidas. Maria da Penha Maia

Fernandes, biofarmacêutica cearense, hoje com 69 anos, fez da sua tragédia

pessoal uma bandeira de luta pelos direitos da mulher. O seu agressor, o professor

universitário de economia Marco Antonio Herredia Viveros, era também o seu marido
12

e pai de suas três filhas. Na época ela tinha 38 anos e suas filhas idades entre 6 e 2

anos.

Na primeira tentativa de assassinato, em 1983, Viveros atirou em suas costas

enquanto ainda dormia, alegando que tinha sido um assalto. Depois do disparo, foi

encontrado na cozinha, gritando por socorro. Dizia que os ladrões haviam escapado

pela janela. Maria da Penha foi hospitalizada e ficou internada durante quatro

meses. Voltou ao lar paraplégica e mantida isolada. Foi nessa época que aconteceu

a segunda tentativa de homicídio: o marido a empurrou da cadeira de rodas e tentou

eletrocutá-la embaixo do chuveiro.

Marco Viveros foi a júri popular duas vezes: a primeira, em 1991, quando os

seus advogados anularam o julgamento. Já na segunda, em 1996, o réu foi

condenado a dez anos e seis meses, mas recorreu.

Com a ajuda de diversas ONGs, Maria da Penha enviou o caso para a

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), pela demora injustificada em

não se dar uma decisão ao caso. Após as tentativas de homicídio, Maria da Penha

começou a atuar em movimentos sociais contra violência e impunidade e hoje é

coordenadora de Estudos, Pesquisas e Publicações da Associação de Parentes e

Amigos de Vítimas de Violência (APAVV) no Ceará.

A história de Maria da Penha pode ser conhecida na biografia que escreveu

em 1994, intitulada “Sobrevivi... Posso contar”. Atualmente ela atua junto à

Coordenação de Políticas para as Mulheres da prefeitura de Fortaleza e é

considerada símbolo contra a violência doméstica por ter batizado a Lei de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher.


13

O processo de criação desta lei e os seus resultados mostram uma

articulação próxima entre o governo e os movimentos feministas. Deve-se salientar

que a lei incorpora propostas feministas, mas, também confere irrefutável hegemonia

a uma forma de violência contra mulheres, qual seja, a “violência doméstica e

familiar contra a mulher”, concebida como uma “violação dos direitos humanos das

mulheres” e como uma forma de violência “baseada no gênero” (Art. 6).

Um ano após a criação da Lei Maria da Penha, foi criado o Pacto Nacional de

Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Uma iniciativa do governo federal

com o objetivo de prevenir e enfrentar todas as formas de violência contra as

mulheres (BRASÍLIA, 2007b).

O Governo do Estado do Paraná por meio da Secretaria de Estado da Justiça,

Cidadania e Direitos Humanos (SEJU), visando garantir o cumprimento de seu

objetivo de implementar as políticas de enfrentamento à violência contra as

mulheres, disponibilizou, através do site:

<http://www.dedihc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=98> o

MODELO – Proposta de Acordo de Cooperação Governamental para Consolidação

do Pacto Nacional, a fim de fomentar e subsidiar os municípios paranaenses que

tenham interesse em aderir ao Pacto.

Neste mesmo ano de 2007, foi realizado a II Conferência Nacional de

Políticas para as Mulheres, onde foi avaliada a implementação do Plano Nacional de

Políticas para as Mulheres e discutido a participação das mulheres nos espaços de

poder em um ambiente democrático, integrado por governos e sociedade civil

(BRASÍLIA, 2007b).
14

Para efeitos da lei, a violência doméstica contra a mulher é “qualquer ação ou

omissão que baseada no gênero cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou

psicológico e dano moral ou patrimonial à mulher”, e que pode ser praticada por

pessoas com ou sem vínculo familiar, que são ou se consideram aparentados,

unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa, inclusive as

esporadicamente agregadas. É um fenômeno complexo provocado por uma

multiplicidade de fatores, que afeta não apenas as vítimas, mas seus familiares e a

sociedade como um todo (BRASIL, 2006).

Na própria Constituição Federal há dispositivos que visam assegurar à

proteção a mulher: como no art.226, § 8º, da Constituição Federal de 1988, que

estabelece: "O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos

que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas

relações”.

Vale ressaltar também a diferença entre a violência intrafamiliar e violência

doméstica. O Ministério da Saúde (2000 apud GOVERNO DO ESTADO DO

PARANÁ, 2006) descreve como violência intrafamiliar “toda ação ou omissão que

prejudique o bem estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao

pleno desenvolvimento de outro membro da família”. Pode acorrer dentro ou fora de

casa por algum integrante da família, incluindo pessoas que passam a assumir

função parental, sem laços sanguíneos, e em relação de poder a outra. Já na

violência doméstica podem ser inclusos outros membros da família, sem função

parental, que convivam no espaço doméstico. Incluem-se indivíduos que trabalham

dentro da casa, pessoas que convivem esporadicamente, agregados, etc.


15

As formas de violência contra a mulher, segundo a Lei 11.340/2006 são:

física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.

Tabela 2 – Tipos de violência contra a mulher


Física Psicológica Moral Sexual Patrimonial
Qualquer Qualquer conduta Qualquer conduta Qualquer conduta Conduta que configure
conduta que que cause dano que configure que a constranja a retenção, subtração,
ofenda a emocional e calúnia, presenciar, a destruição de objetos,
integridade ou diminuição da difamação ou manter ou a instrumentos de
saúde corporal. auto estima ou injúria. participar de trabalho, documentos,
que lhe relação sexual bens, valores et
prejudique e não desejada,
perturbe o pleno mediante
desenvolvimento intimidação,
ou que vise ameaça, coação
degradar ou ou uso da força
controlar ações etc.
etc.
Fonte: BRASIL, 2006.

Segundo a OMS (2002), a violência pode ser classificada em três categorias:

a) violência dirigida contra si mesmo (auto infligida); b) violência interpessoal que

são classificadas em dois âmbitos: violência intrafamiliar ou doméstica, ou seja,

entre parceiros íntimos ou membros da família; e violência comunitária, que é aquela

que ocorre no ambiente social em geral, entre conhecidos e desconhecidos; e c)

violência coletiva, que engloba atos violentos que acontecem nos âmbitos

macrossociais, políticos e econômicos, caracterizados pela dominação de grupos e

do estado.

Mas o tema violência doméstica contra a mulher tem ganhado grande foco

em decorrência de suas estatísticas. Segundo uma pesquisa realizada pela

Fundação Perseu Abramo (2001 apud BRASIL, 2007a), a cada 15 segundos uma

mulher é agredida no Brasil e consequentemente a cada ano são mais de 2 milhões

de mulheres vítimas de violência, sendo que a maioria não faz a denúncia.

A mesma Fundação realizou outra pesquisa no ano de 2004, relatando que

em 187 municípios, (19%) das mulheres admitiu ter sofrido violência por parte de
16

algum homem; (11%) afirmaram ter sofrido espancamentos com cortes, marcas ou

fraturas; e (8%) foram ameaçadas por arma de fogo (GOMES; MINAYO; SILVA,

2005 apud BRASIL, 2007).

4 LESÃO CORPORAL

Lesão corporal é caracterizada como violência física e segundo o Código

Penal Brasileiro, em seu Art. 129, é considerada como ofender a integridade corporal

ou a saúde de outrem.

Dentre as ocorrências mais frequentes de agressão está a lesão corporal

dolosa e os maus-tratos. A lesão corporal pode se apresentar de diversas maneiras:

agressões físicas (socos, chutes, tapas, violência sexual) ou agressões com

qualquer tipo de objeto que possa machucar ou prejudicar a saúde da pessoa. A

lesão corporal pode ser de natureza leve ou grave conforme prevê o Código Penal

Brasileiro.

A lesão corporal de natureza leve é aquela que não causa grande ofensa à

integridade corporal, embora, possa deixar também um trauma psicológico na vítima.

É considerada lesão corporal de natureza grave, conforme art. 129 do Código Penal

Brasileiro, a agressão que resulta: incapacidade para as ocupações habituais por

mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou

função; aceleração de parto; incapacidade permanente para o trabalho. Vale

ressaltar que a pena para a prática deste tipo de crime é aumentada quando é

perpetrada no âmbito doméstico.


17

No crime de lesão corporal, a materialidade é fornecida pelo Auto de Exame

de Corpo de Delito, realizado pelo Instituto Médio Legal. É no IML que, através do

exame realizado por um perito legal, pode se constatar a lesão, bem como seu grau

(leve ou grave).

Meza et al. (2001) apud Garbin et al (2006), entendem que a violência física

contra a mulher se expressa cotidianamente no âmbito familiar como consequência

de uma luta de poderes onde, ela se mostra em um plano inferior ao do homem,

sendo que há anos a mulher tem começado a questionar as práticas discriminatórias

que as situam em um nível inferior.

5 MATERIAL E MÉTODO

A proposta da presente pesquisa consistiu no levantamento e apreciação dos

dados referentes aos Boletins de Ocorrência registrados por mulheres das cidades

de São José dos Pinhais (SJP) e Curitiba, ambas no Estado do Paraná, cuja infração

penal seria a lesão corporal (segundo a definição do Art. 129 do Código Penal

Brasileiro, atualmente em vigor).

Os dados nos Boletins de Ocorrência foram coletados nos meses de maio e

junho de 2014, na Delegacia da Mulher e do Adolescente da cidade São José dos

Pinhais. Foram analisados apenas B.O.s que continham lesão corporal entre os

anos de 2007 a 2013.

É importante destacar que, para esta pesquisa, apenas foi considerada a

lesão corporal. Todavia, quando é registrado um boletim de ocorrência, é possível

haver junto à lesão corporal outra infração de natureza distinta, como por exemplo:
18

ameaça, calúnia, desobediência à ordem judicial, perturbação da tranquilidade, vias

de fato, entre outras.

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 DELEGACIA DA MULHER – SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

A amostra coletada, entre os anos de 2007 a 2013, mostra que foram

registrados 4.721 boletins de ocorrência como lesão corporal, em SJP, durante

esses 7 anos.

Tabela 3 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal da Delegacia da Mulher de São José
dos Pinhais.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTAL MÉDIA
Janeiro 33 42 52 56 78 97 51 409 58,43
Fevereiro 23 48 60 62 86 65 50 394 56,29
Março 40 55 73 73 79 61 57 95 62,57
Abril 46 35 58 46 94 46 61 386 55,14
Maio 40 48 47 58 100 59 53 405 57,86
Junho 30 48 45 66 82 37 43 351 50,14
Julho 32 22 39 60 66 56 43 318 45,43
Agosto 58 58 28 67 64 66 51 392 56,00
Setembro 48 70 63 74 60 49 52 416 59,43
Outubro 46 63 48 62 68 73 45 405 57,86
Novembro 35 63 72 80 67 64 49 430 61,43
Dezembro 53 69 56 60 66 45 39 388 55,43
TOTAL 484 621 641 764 910 718 594 4.732 56,33
MÉDIA 40,33 51,75 53,42 63,67 73,83 59,83 49,50
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.

É possível verificar na tabela supracitada que, até o ano de 2011 os números

quanto a lesão corporal subiram consideravelmente, aproximando-se do dobro, em

relação a 2007. Todavia, após 2011 os registros diminuíram substancialmente.


19

Gráfico 1 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre os anos 2007 a 2013 em São
José dos Pinhais.

Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
É evidente, equitativamente, que os meses de março e novembro são os

meses em que a Delegacia da Mulher de São José dos Pinhas – PR mais registra

casos de violência doméstica.

Gráfico 2 –Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal por meses em São José dos Pinhais.
20

Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.

As possibilidades para que os meses março e novembro sejam os mais altos,

quanto a números, podem estar relacionados com datas em que a mulher está em

maior evidência. Em 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher e,

nesta época é explícito a intensidade de anúncios, campanhas, exposições, para a

valorização da mulher, bem como a coibição da violência que a comete. Já no mês

de novembro, é comemorado o Dia da Não Violência Contra a Mulher, mais

especificamente dia 25 de novembro.

O dia da “Não Violência Contra a Mulher”, surgiu em homenagem às irmãs

Mirabal, que por lutarem contra a ditadura no seu país, foram vítimas de violência,

sendo brutalmente assassinadas numa estrada a caminho de casa, no dia 25 de

novembro de 1960 (PEREIRA, 2012).

6.2 DELEGACIA DA MULHER – CURITIBA

Os dados referentes à Delegacia da Mulher de Curitiba, mostraram-se

semelhantes aos dados da Delegacia de São José dos Pinhais, no entanto, em

maior proporção, uma vez que a cidade de Curitiba possui mais habitantes que SJP.
21

Tabela 4 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal da Delegacia da Mulher em Curitiba.


2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTAL MÉDIA
Janeiro 156 171 159 196 206 169 131 1188 169,71
Fevereiro 109 137 152 188 191 150 125 1052 150,29
Março 171 184 198 178 189 108 108 1136 162,29
Abril 195 135 189 200 153 102 101 1075 153,57
Maio 154 136 172 146 173 102 100 983 140,43
Junho 107 128 120 133 171 102 79 840 120,00
Julho 111 158 89 157 145 118 88 866 123,71
Agosto 125 155 123 188 216 121 104 1032 147,43
Setembro 135 187 137 211 158 123 101 1052 150,29
Outubro 179 196 174 189 211 128 90 1167 166,71
Novembro 191 175 228 217 181 117 99 1208 172,57
Dezembro 179 155 207 213 199 144 113 1210 172,86
TOTAL 1812 1917 1948 2216 2193 1484 1239 12.809
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.

Elaborando uma comparação para ambas as cidades, verifica-se que para a

Delegacia da Mulher de Curitiba foram registrados 12.809 Boletins de Ocorrência de

lesão corporal entre 2007 a 2013, e na cidade de São José dos Pinhais foram

registrados 4.732 B.O.s. para os mesmos anos.

Segundo dados do IBGE, BRASIL (2013), Curitiba teve uma população

estimada para o ano de 2013 de 1.848.946 habitantes e estimou-se 287.792

habitantes para São José dos Pinhais. Analisando os dados, proporcionalmente, fica

evidente que em São José dos Pinhais houve um maior número de B.O.s,

registrados em comparação às mulheres da cidade de Curitiba.

Os dados também revelam que na Delegacia da Mulher em Curitiba, os

números de registros de lesão corporal diminuíram após o ano de 2010.


22

Gráfico 3 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre os anos 2007 a 2013 em
Curitiba.

Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.

7 PORQUE OS NÚMEROS ESTÃO CAINDO?

Para esta pesquisa o ano de 2014 não foi computado, uma vez que a amostra

escolhida foi apenas a de anos completos, ainda assim, entre janeiro a outubro do

ano 2014 é possível verificar que os registros continuam diminuindo na cidade de

São José dos Pinhais.

Tabela 5 – Comparação de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre Janeiro a Outubro de 2013
e 2014.
Janeiro a Outubro 2013 Janeiro a Outubro 2014
Delegacia da Mulher SJP 461 307

Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
23

Houve uma queda de (33%) dos registros quanto à lesão corporal em SJP

entre os meses de janeiro a outubro do ano de 2014 em comparação ao ano 2013.

Vale ressaltar que apesar dos números estarem diminuindo, o Estado do Paraná,

segundo a SPM (2013), é o terceiro em número de assassinato de mulheres no

Brasil.

A partir do momento em que a mulher sofre a primeira agressão, ela precisa

denunciar seu agressor, pois “o registro de uma queixa constitui a primeira

providência em caso de agressão contra a mulher” (AZEVEDO, 1995, p. 33).

Assim a violência deixa de ser um fenômeno doméstico e passa a ser um

fenômeno social. Mas a questão da violência dentro dos lares, nem sempre é

denunciada.

No ano de 2010 e 2011 a autora deste trabalho teve a oportunidade de

realizar uma pesquisa no Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação

de Violência Doméstica, na cidade de Curitiba, sobre o perfil das mulheres e seus

agressores que passaram pelo serviço de atendimento.

Neste levantamento, com 109 fichas de registro de atendimento, todas

pertencentes ao ano de 2011, foram observados alguns fatores interessantes.

Apenas 66,1% (sessenta e seis vírgula um por cento) dos boletins de ocorrência por

mulheres agredidas foram registrados na Delegacia da Mulher, sendo que 33,9%

(trinta e três vírgula nove por cento) das vítimas não denunciou o agressor. Como se

observa, embora não estivessem aparentes os motivos, percebe-se que a maioria

das vítimas não denuncia o seu agressor.

A pesquisa teve como objetivo caracterizar o perfil da violência contra a

mulher, no Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência


24

Doméstica na cidade de Curitiba, durante o ano de 2011. Prevaleceu entre elas o

seguinte padrão: mulheres de cor branca (78,9%); faixa etária de 30 a 39 anos de

idade (36,7%); em uma união estável (38,5%); em um emprego formal (36,8%); com

ensino fundamental completo (48,6%); com a família provida pelo casal (39,4%).

Predominou a violência psicológica (92,7%), seguida da violência física (66,1%),

sendo que os principais agressores são os companheiros (42,2%); a maioria delas

conviveu entre 3 a 5 anos (23,9%) com o agressor, e se submeteu a violência entre

0 a 02 anos (26,6%). Restou constatado que o maior tempo de relação da vítima

com o agressor não reduziu a possibilidade de ser violentada, e sim, culminou na

repetição da violência por todo o período, durante muitos anos. Dos agressores,

30,2% é usuário de álcool; predominou entre os agressores aqueles que possuem

emprego formal (38,5%); a faixa etária entre 30 a 39 anos (33%); a cor branca

(70,4%); mais da metade (54,4%) possui apenas ensino fundamental.

Um dos motivos para que a vítima ainda permaneça no âmbito da violência, é

a necessidade de preparação para garantir sua segurança e autossuficiência

material, pois por falta de recursos financeiros, de um local seguro e pela esperança

que seu companheiro mude, são os principais motivos para manter o vínculo com o

mesmo (SOARES, 1999):

[…] os motivos que mantêm as mulheres inseridas nos contextos do


relacionamento violento são: a convivência com o medo, a dependência
financeira e a submissão, até o momento em que decidem realizar a
denúncia, e passam por cima do sentimento de pena do marido, do tempo
de vida juntos e da anulação durante o relacionamento (SOUZA & ROS,
2006, p. 513).

Um dos motivos para que as mulheres vitimadas procurem as delegacias

especializadas de atendimento à mulher envolve a esperança de melhora de


25

comportamento, ou, como muitas das vítimas costuma dizer: “de ele tomar vergonha

na cara” e de “resolver alguma coisa” ou de propiciar uma ocasião para amedrontar

o parceiro quanto às possíveis implicações de uma próxima agressão, pelo fato de

ele já estar envolvido como suspeito em uma ocorrência policial. Assim, imensas

expectativas são depositadas no recurso à DEAM, na possibilidade de a intervenção

policial conter o acusado (BRANDÃO, 2006).

Para a Barnett (2000), os princípios morais são uma das razões para a

permanência da mulher no lar violento. Algumas mulheres preocupam-se com a

imagem negativa de ser divorciada e com o estigma social associada às divorciadas.

O medo, segundo Silva (1992), também as impedem de se protegerem de

seus agressores, que por sua vez aguentem ser violentadas durante muitos anos,

mantendo o ciclo da violência impune.

A psicóloga americana Lenore Walker propôs o conhecimento de uma relação

violenta a partir de uma perspectiva sistêmica e dinâmica. A autora defende a

existência de três fases que, geralmente, são vivenciadas por mulheres que sofrem

violência e que, contribuem de alguma forma, para que permaneçam na relação por

muito tempo: é o denominado ciclo da violência.


26

Gráfico 4: Ciclo da violência

TENSÃO EXPLOSÃO

LUA DE MEL

Fonte: http://apav.pt/vd/index.php/vd/o-ciclo-da-violencia-domestica

Walker defende a existência de três fases: (1) Construção da Tensão:

começam os incidentes menores, uma tendência a considerar os fatos como se

estivessem sob o controle e uma aceitação por meio de explicações racionais. (2)

Tensão máxima: ocorre o descontrole da situação e as agressões são levadas ao

máximo. Nesse momento pode haver uma reconfiguração relacional, chegando a

separação, intervenção de terceiros ou manutenção da relação violenta. (3) Lua de

mel: ocorre uma reestruturação do relacionamento. O agressor relata desejo de

mudança, promessa de que não haverá mais violência e restabelece a relação

conjugal (GUIMARÃES; SILVA; MACIEL, 2007). Vale ressaltar que este ciclo tende a

se repetir.

Um estudo realizado por Bruschi, Paula & Bordin (2006), para estimar a

prevalência de violência conjugal física ao longo da vida em mulheres brasileiras,


27

levantou que, o tapa é o principal meio de violência contra a mulher (32,6%), seguido

de soco (17,5%), espancamento (15,2%), uso/ameaça de uso de arma (13,9%) e

chute (10,6%), sendo possível a ocorrência de agressões múltiplas. Considerando

os grupamentos de comportamentos agressivos, verificou-se que 33,7% das

mulheres sofreram algum tipo de violência física por parte do marido/companheiro,

dos quais 65,5% foram caracterizados como violência grave. A violência grave

(22,1%) foi mais frequente que a violência não grave, como o tapa (10,5%). Todavia,

todas as mulheres que sofreram violência grave ao longo da vida também foram

agredidas por tapa por parte do marido/companheiro.

Frente o estudo acima, foi observado pelos pesquisadores que as mulheres

vítimas de violência grave procuraram múltiplas fontes de ajuda, porém mais

frequentemente a ajuda de pessoas da própria família (47,4%), da família do

companheiro (36,8%) e amigos (31,6%). As que procuraram ajuda da polícia foram

36,8%; curandeiros, benzedeiras ou pais de santo 21,1%; e líderes religiosos 10,5%

também foram procurados, seguida das organizações de proteção à mulher/abrigos

(10,5%), centro de saúde (5,3%) e ambulatório de saúde mental (5,3%). As que

nunca procuraram nenhum tipo de ajuda é percebido em 15,8% das vítimas

estudadas. Quando a violência não foi grave, as mulheres procuraram ajuda

principalmente da própria família (55,6%) e da família do companheiro (11,1%), além

de líderes religiosos (11,1%). Entre as mulheres que sofreram violência não grave

44,4% não procuram ajuda (BRUSCHI; PAULA & BORDIN, 2006).

Em uma pesquisa desenvolvida por Deslandes (1999), com 72 mulheres que

foram vítimas de violência doméstica, as agressões físicas atingiram, sobretudo, a

face e a cabeça em 27 casos, em 21 casos atingiram os braços e a mão, pois as


28

mesmas colocaram a mão para proteger a face, em 10 casos atingiram o corpo

inteiro, em 4 casos foram o tórax, e os outros 4, foram atingidos os membros

inferiores. O uso da força é o meio mais usado pelos agressores em 70% das

agressões, 21% usaram algum tipo de instrumento para agredir. A região dos olhos e

da mandíbula foram as mais atingidas, sendo necessário atendimento médico

especializado.

É sabido que, nos serviços de saúde, a mulher vitimada que busca socorro

médico sente muita vergonha e medo de revelar a origem de suas lesões

(HARTIGAN, 1997; TUESTA, 1997 apud DESLANDES; GOMES & DA SILVA, 2000),

o que justifica os números quanto à relativa baixa denúncia dos agressores.

Manuais de identificação da violência doméstica são elaborados com o

objetivo de ajudar profissionais de saúde para que intervenções feitas com as

vítimas sejam precisas e adequadas, e que possam atuar com prevenção a esta

questão social (SALBER; TALIAFERRO, 1994).

Um dos motivos da ocorrência da violência física é o rompimento na relação

hierárquica estabelecida entre os gêneros, uma vez que “na medida em que o poder

é essencialmente masculino e a virilidade é aferida, frequentemente, pelo uso da

força, estão reunidas nas mãos dos homens as condições básicas para o exercício

da violência” (SAFFIOTI, 1998, p. 57).

Segundo Saffioti (1994) apud Magalhães (2005), pesquisas demonstram que

o aumento da violência se dá pela não denúncia vinculada à impunidade. Entretanto,

essa compreensão ainda não é de pleno conhecimento das vítimas e da sociedade

em geral.
29

Brandão (2006), realizou um estudo frente a problemática do enfrentamento

público da violência contra a mulher, e levantou a partir de 32 mulheres vitimadas,

que recorreram à DEAM, que a palavra “violência” apareceu poucas vezes em seus

vocabulários. As categorias nativas que identificam os atos agressivos dos parceiros

são “ignorâncias”, “graças” ou “gracinhas”, e o modo deles as perturbarem são

“encarnar” ou “encarnação”, “ficar infernizando”, “botar pilha”, no sentido de deixá-las

“esquentadas”, provocando-lhes “irritação”.

Em um estudo realizado por Santi; Nakano; Lettiere (2010), com um grupo de

57 mulheres, sobre a percepção da situação de violência sobre o suporte e apoio

recebido em seu contexto social, revelou que, a busca por ajuda ocorre, a princípio,

em seu próprio meio social mais próximo, junto à família e à rede de amigos, o que,

para elas, por vezes, nem sempre é ajuda, mas uma violência, por se sentir invadida

em sua privacidade.

Corroborando com os autores citados, sob o enfoque da não denúncia da

violência doméstica, cabe citar algumas pesquisas atualizadas que revelam os

motivos para que as mulheres não denunciem seus agressores.

O portal de notícias do Senado Federal, durante vários anos, realizou - e

ainda realiza - pesquisas sobre a violência doméstica. Analisando os dados do

portal, cabe citá-los, a fim de descobrir os motivos da queda de denúncias

registradas nas delegacias deste estudo.

No ano de 2005 uma pesquisa realizada com 16.433.682 mulheres

brasileiras, pelo DataSenado, verificou que 17% delas declararam já ter sofrido

algum tipo de violência doméstica. Deste total, mais da metade (55%) afirmaram ter

sofrido violência física – lesão corporal. A pesquisa também apurou a atitude das
30

vítimas após a última agressão. As respostas foram as seguintes: procurou ajuda da

família (22%), procurou ajuda de amigos (6%), procurou uma delegacia comum

(16%), procurou uma delegacia da mulher (22%), silenciou-se (19%) e não sabe ou

não respondeu (15%) (BRASIL, 2005).

Gráfico 5 – O que as vítimas fizeram após a última agressão sofrida?

Fonte: BRASIL (2005).

Perceba que, apenas 36% das entrevistadas procurou alguma Delegacia

após a agressão, o restante preferiu outros meios para tentar lidar com a violência

que as acometeu.

Em 2007, passados dois anos da pesquisa acima, realizou-se uma segunda

versão da mesma, constatando que apenas 40% das vítimas de violência doméstica

tomou a iniciativa de registrar um boletim de ocorrência nas delegacias comuns ou

delegacias da mulher. As demais optaram por não tomar nenhuma atitude ou

procuraram ajuda apenas de familiares e amigos (BRASIL, 2007b).


31

No ano de 2009, o instituto de pesquisa do DataSenado ouviu as mulheres a

respeito da Lei Maria da Penha com mais profundidade. E nesta pesquisa encontrou

alguns dos motivos que desestimulam a mulher de recorrer ao sistema de justiça

criminal para enfrentar seus agressores:

[…] a principal delas é o “medo do agressor”, na percepção de 78% das


entrevistadas em pergunta de múltipla escolha. O dado é revelador porque o
medo se sobressai expressivamente em relação às demais razões. As
outras opções – “vergonha”, “não garantir o próprio sustento” e “punição
branda” – atingiram percentuais abaixo de 10%. Outros motivos foram
citados por 16% das mulheres. A análise desses dados não deixa dúvida de
que o medo é o principal obstáculo na luta contra a violência doméstica e
familiar (BRASIL, 2009, p. 2).

Outro dado que chama a atenção na mesma pesquisa, é a opinião de 62%

das entrevistadas, que afirmam que as mulheres não denunciam o agressor, por não

poderem, futuramente, retirar a acusação após registro (BRASIL, 2009).

É importante salientar, também, as principais mudanças que ocorreram na Lei

11.340/06, para tentar compreender o motivo da queda no número de registros de

boletins de ocorrências. O Art.1º da referida Lei cria mecanismos para coibir e

prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher nos termos do § 8º do art.

226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas

de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e

Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados

pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de

Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de

assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Já

o Art. 33. institui que os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

poderá ser acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e do serviço


32

de assistência judiciária. No Art. 41. está previsto que aos crimes praticados com

violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista,

não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (Lei que dispõe sobre os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais), artigo este que será melhor discutido abaixo.

Já na Constituição da República de 1988 o direito da mulher é assegurado: a

assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando

mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

A Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica

e familiar contra a mulher, teve sua constitucionalidade analisada por meio do

julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 19, na qual a

Advocacia-Geral da União-AGU sustentou pela sua constitucionalidade. A partir

desse julgamento, sobressaíram os seguintes resultados: considerou-se

constitucional a lei e ao Ministério Público foi reconhecido o direito de atuar nos

casos de crimes de lesão contra as mulheres independentemente da representação

da vítima. O Supremo Tribunal Federal (STF) interpretou a Lei Maria da Penha

conforme a Constituição, que diz em seu artigo 226, parágrafo 8º: “O Estado

assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,

criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. O

julgamento encerrou os questionamentos sobre o conflito dos artigos 1º, 33 e 41 da

Lei e garantiu a existência de ações contra os agressores mesmo quando a queixa é

retirada ou não é feita pelas próprias vítimas.

Como os delitos domésticos não podem ser considerados de pequeno

potencial ofensivo, impositivo que a tutela assegurada pela Lei se torne afetiva,

cabendo ao agente ministerial assumir a Ação Penal. Dias (2012) destaca, ainda,
33

que é um ônus que não cabe ser imposto “a quem conseguiu romper a barreira do

silêncio, venceu o medo e buscou proteção estatal”.

Como a decisão foi proferida em sede de Ação Direta de

Inconstitucionalidade, tem caráter vinculante e eficácia contra todos (erga omnes),

quer dizer que nenhuma pessoa, nem a justiça e nem qualquer órgão da

administração pública federal, estatal ou municipal podem deixar de respeitá-la, sob

pena de sujeitar-se a procedimento de reclamação perante o STF, que poderá anular

o ato administrativo ou cassar a decisão judicial que afronte o decidido.

Assim, mais uma vez a Corte Maior da Justiça deste país comprovou sua

magnitude e enorme sensibilidade, ao impor verdadeira correção de rumos à Lei que

logrou revelar uma realidade que todos insistiam em não ver: que a violência contra

a mulher é o crime mais recorrente e o Estado não pode ser cúmplice da

impunidade.

O Art. 16, da Lei Maria da Penha, contém uma disposição muito polêmica: a

condição para a renúncia das vítimas. “Nas ações penais públicas condicionadas à

representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à

representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal

finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”.

O artigo acima prevê que é possível voltar atrás, desde que o Promotor de

Justiça não tenha oferecido à denúncia e o juiz a recebido. Em outras palavras, é

possível desistir até o momento em que o processo não tenha sido instaurado. É

importante salientar que, nos crimes de Ação Penal Pública incondicionada, como:

homicídio tentado ou consumado, lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de

morte, entre outros, independe de qualquer condição, ou seja, não é preciso que a
34

vítima ou outro envolvido queira ou autorize a propositura da ação, tampouco é

irrelevante a oposição por parte da vítima ou de qualquer outra pessoa a ação penal.

Para tanto, a vítima deve procurar a Delegada de Polícia, o Ministério Público

ou ir até ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, informando a

decisão de se retratar, ou seja, retirar a representação formulada. Se a ação penal

não tiver sido iniciada, será marcada uma audiência com o juiz, presente também o

Ministério Público, onde a vítima, depois de esclarecida das consequências do seu

ato, se mantiver a sua decisão de não dar continuidade ao processo contra o

agressor, o inquérito policial será arquivado.

Atualmente, também, o que tem se discutido com maior veemência sobre a

Lei 11.340/06, é o que diz respeito a ação penal nos crimes de lesão corporal leve. A

lesão corporal leve, fora do âmbito doméstico, tramita nas disposições contidas na

Lei Nº. 9.099/1995, estando “condicionado” à representação da vítima. Todavia,

quando se estende para o âmbito doméstico, não será apreciado na órbita dos

Juizados Especiais, nem dependerá de representação, sendo a ação

“incondicionada”, conforme atual entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal

Federal.

Segue a decisão na íntegra: “O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do

Relator, julgou procedente a ação direta para, dando interpretação conforme aos

artigos 12, inciso I, e 16, ambos da Lei Nº 11.340/2006, assentar a natureza

incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a

extensão desta” (BRASIL, 2012).

A partir da decisão proferida pela Suprema Corte, em fevereiro de 2012, as

lesões corporais leves, dentro do âmbito doméstico, tornam-se incondicionadas, ou


35

seja, não há necessidade de manifestação de vontade da vítima ou de outra pessoa,

não cabendo, por consequência, qualquer tipo de arrependimento que possibilite a

extinção dos procedimentos que visem a punição do agressor. Arrisca-se a afirmar

que esta decisão explica, em boa parte, o motivo da queda no número de registros

dos boletins de ocorrência, entre os anos 2011 e 2012, em ambas as Delegacias

deste estudo.

Em 2013, a pesquisa do DataSenano continuou e levantou outros números

interessantes: 66% das mulheres entrevistadas afirmaram que, nos últimos anos, a

violência doméstica contra a mulher aumentou; 63% das entrevistadas relaram que

as mulheres que sofrem agressão denunciam o fato na minoria das vezes; de 1.352

mulheres entrevistadas, 256 (19%), já foi vítima de violência doméstica e o tipo de

violência mais sofrido por elas, foi a física (65%); e apenas 23% procurou denunciar

seu agressor a alguma delegacia de polícia (BRASIL, 2013). Veja o gráfico abaixo, o

motivo das mesmas não denunciarem o fato a polícia,

Gráfico 6 – O que levar a mulher a não denunciar a agressão à polícia.

Fonte: BRASIL (2013).


36

O principal motivo para as mulheres escolherem alternativas distintas à

denúncia formal é a preocupação com a criação dos filhos, fator apontado por 31%

das entrevistadas; em seguida, o medo de vingança do agressor (20%); seguido da

vergonha da agressão e acreditar que seria a última vez (12%); 5% apontaram com

a dependência financeira para não denunciar seu agressor; e 3% acredita que não

existe punição (BRASIL, 2013).

Corroborando os dados acima, segundo Schraiber (2002) e Brandão (1998)

apud Jong (2008), pesquisas apontam uma subnotificação da violência contra a

mulher, pois não utilizam os recursos legais para defender-se do agressor, e quando

o fazem, desistem da denúncia.

Um outro dado revelador, que caminha paralelamente com a resistência em

denunciar o agressor, é o fato da vítima não se separar maritalmente do mesmo. O

Instituto Patrícia Galvão realizou uma pesquisa para avaliar a percepção sobre

violência e assassinatos de mulheres e encontrou alguns dados importantes. A

vergonha, o medo de ser assassinada, a preocupação com os filhos, a dependência

financeira, o pedido de desculpas do marido, acreditar que o amor pode mudá-lo,

gostar de apanhar, respectivamente, são argumentos para não se separar de seu

agressor (GALVÃO, 2006).

Souza e Ros (2006) mostraram o motivo de a mulher agredida não sair do

relacionamento e, verificam vários fatores. A dependência emocional do

companheiro e a necessidade de ter alguém como “referência” levam a mulher à

submissão e a sujeição às agressões; a criação dos filhos é outro fator importante,

pois, muitas vezes as mulheres acreditam ser necessária a presença da “figura

paterna” na educação; e a falta de apoio de amigos e parentes também contribui


37

para que as vítimas não denunciem seus companheiros.

É inadmissível que em pleno século XXI ainda exista a violência doméstica

contra a mulher, e em números tão assustadoramente altos. Conhecer os dados é o

primeiro passo para combater a violência doméstica. Compreender as causas das

agressões e, principalmente, para as omissões das vítimas é crucial para que se

tenha efetivas nas políticas públicas que garantam efetividade no combate e

repressão aos crimes de violência doméstica.

O homem já foi considerado o “chefe” da família, os escravos eram bens

móveis, com o intuito velado de abafar a sexualidade feminina, o adultério praticado

por uma mulher era considerado crime, e as filhas se fossem "ingratas" com o pai,

podiam ser deserdadas. Por outro lado, ainda durante a regência de D. Pedro I foi

outorgado um dispositivo que primava pela não violência familiar, sem fazer

distinção entre os direitos de homens e mulheres. Apesar deste avanço histórico,

cultural e legislativo, as agressões continuam. Ainda se observa resquícios da

mentalidade machista em que o homem por vezes ainda se considera “proprietário”

de sua mulher e filhas, e continua agredindo aquelas que mais deviam amar.

Enfim, um dos crimes mais antigos do mundo e um dos mais encobertos é a

violência contra as mulheres, poderemos um dia erradica-la?


38

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por que muitas mulheres ainda se calam diante das diversas formas de

violência a que são submetidas por seus maridos? Por que sofrem caladas? Por que

não os denunciam? Quando se depara com notícias e relatos dessa espécie, as

pessoas costumam ser movidas principalmente por dois sentimentos simultâneos:

repúdio ao agressor e indignação pelo sofrimento da vítima. Entretanto, para superar

o senso comum, o profissional ou acadêmico deve alicerçar seus pensamentos em

bases teóricas e no pragmatismo, lançando-se a perscrutar as causas, os motivos,

os reflexos e as consequências acerca do silencio da mulher vítima de violência

doméstica.

A Lei Maria da Penha, Lei que representa uma grande conquista dos

movimentos feministas em busca da erradicação, prevenção e punição da violência

contra a mulher, continua gerando resultados positivos em prol da defesa das

mulheres brasileiras. Graças a ela, aliada aos mecanismos sociais, cada vez mais

acessíveis, políticas públicas para aumento das informações sobre os direitos das

mulheres e reforços nos instrumentos de combate aos abusos, dão subsídios para

que ocorra a denúncia. Entretanto, apenas a Lei, e os instrumentos supra citados,

não são suficientes para que as mulheres efetivamente compreendam que são

vítimas de grave injúria pessoal.

Após analisar a amostra de dados e a partir das leituras para a confecção

desta pesquisa, mostrou-se surpreendente que, apesar do aperfeiçoamento dos

mecanismos de proteção, os números de registro de ocorrência, quanto à lesão

corporal, estão diminuindo nas Delegacias da Mulher de Curitiba e São José dos
39

Pinhais. Foram destacados possíveis motivos para tal, todavia o presente trabalho

apresenta questões indiciárias, não resolvendo em definitivo o problema,

evidentemente pelo fato de que se trata de questão altamente complexa, em que

não há uma, mas sim, várias causas e soluções possíveis. Há que se tomar o

presente estudo como ponto de partida para avanços, buscando conhecer cada fator

que possa influenciar nos motivos para estar havendo uma queda no número de

registro de B.O.s nas Delegacias Especializadas de Proteção a Mulher na cidade de

Curitiba e São José dos Pinhais. Com tais resultados, continua e simultaneamente

apreender e empreender novas formas de avanço social da problemática.

Embora o reconhecimento dos direitos seja o primeiro passo na luta contra a

violência doméstica a mulher, este modelo não pode ser relegado ao segundo plano,

tampouco tornar-se meramente simbólico. Se as lutas e reinvindicações garantiram

direitos e garantias individuais às mulheres em um primeiro momento, há que se

continuar avançando, especialmente com o fito de trazer maior aplicabilidade às

normas legais.

Atualmente, é inelutável que a mulher está mais protegida legalmente,

entretanto, são vários motivos para que mulheres vítimas de violência doméstica não

denunciem as agressões e a superação deste problema deve fazer parte do plano

de realização dos direitos no plano concreto.

Investigações do foro psicológico têm procurado lançar luz sobre a aparente

passividade das mulheres perante a violência sofrida no âmbito doméstico e

conjugal. A preocupação com a criação dos filhos, o medo de vingança do agressor,

a vergonha da agressão, acreditar que seria a última vez, dependência financeira do

agressor, não acreditar que exista punição, não poder se retratar da representação,
40

medo, vergonha, não se verem como vítimas, deixar-se dominarem pelo

companheiro, são possíveis justificativas para que mulheres vítimas não denunciem

o seu agressor.

É evidente, também, que os motivos das mulheres se manterem na relação

marital com o agressor, são semelhantes aos motivos das mesmas não denunciarem

o mesmo.

Facilmente a vítima encontra explicações, justificativas para o comportamento

do parceiro. Acreditar que é uma fase que vai passar, por conta de estresse, excesso

de trabalho, problemas financeiros, entre outros, tem sido bastante pernicioso no

quadro da violência. Compreender que, enquanto mulher agredida, é vítima de

injustificável violência, também é essencial para o aumento da repressão. Contudo,

muitas vezes a vítima questiona primeiramente as suas próprias atitudes, o que,

embora importante, dificilmente poderá servir de apoio para concluir que, afinal, é ela

quem deve ter mudanças comportamentais.

As pesquisas mostram que as mulheres que buscaram agradar seus

agressores, ser mais compreensivas ou simplesmente melhores parceiras voltaram

a ser agredidas. Afastar-se dos amigos, submeter-se à vontade do agressor, usando

roupas por ele permitidas ou deixar de se maquiar para não desagradá-lo também

são situações em que o problema, embora possa ficar latente, provavelmente,

apenas será protelado. E, durante essa fase de pseudo “lua de mel”, enquanto as

violências físicas podem diminuir, o abalo psicológico, por outro lado, é aumentado.

A vítima passa a viver constantemente assustada, não sabendo quando será o

próximo acesso de fúria, e tenta não fazer nada que desagrade o parceiro. Fica,

entretanto, insegura e completamente dependente do agressor. Anula a si própria,


41

seus desejos, sonhos de realização pessoal, objetivos.

Em entrevista realizada pela BBC Brasil (2013) com a historiadora Mary Del

Priori, a respeito das mulheres brasileiras, afirmou-se que as mulheres brasileiras

deste último século conquistaram o direito de votar, tomar anticoncepcionais, usar

biquíni e a independência profissional. Entretanto, ainda hoje são vítimas de seu

próprio machismo. Muitas mulheres não conseguem se ver fora da órbita do homem

e são dependentes da aprovação e do desejo masculino. “Sempre apostei que as

mulheres não deveriam buscar ser um homem de saias, mas apostar em sua

diferença e singularidade. As marcas do gênero, segundo sociólogos, são a

criatividade, a diplomacia, capacidade de dialogar, etc.”.

Essa violência nefasta, de múltiplas causas, é protegida pelo segredo,

mantido em um verdadeiro ciclo em que a mulher não se sente vítima, o que faz

desaparecer a figura do agressor. Mas o silêncio não gera nenhuma barreira, a falta

de um limite faz com que a violência se exacerbe. O homem testa seus limites de

dominação. Quando a agressão não gera reação, aumenta a agressividade. Por

isso, mais do que nunca, é chegada a hora de produzir políticas públicas que

resultem no rompimento do pacto de silêncio e acima de tudo, que façam as

mulheres vítimas de violência doméstica se enxergarem como vítimas que

efetivamente são, e denunciem seus agressores, logo à primeira agressão.


42

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