Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Violencia Domestica e Familiar
Violencia Domestica e Familiar
CURITIBA
2014
1
CURITIBA
2014
2
FICHA CATALOGRÁFICA
3
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
_____________________________________
____________________________________
RESUMO
ABSTRACT
This work aims to analyze quantitatively the domestic violence that affects women
more strictly, physical violence (bodily injury) in two Police Stations Civil Police of the
state of Paraná. For this study were selected from the Special Police Protection to
Women in the cities of Curitiba and São José dos Pinhais. After collecting the data,
reading articles, books, analysis of the data was applied. The data showed that the
numbers, as the injury, are decreasing in both the Police. Through literature
searches, we tried to find the possible reasons for women victims of domestic
violence not to report the assaults. It was found that, not being able to withdraw the
complaint, fear, shame, lenient punishment, financial dependence, preoccupation
with raising children, among others, are possible explanations for women victims not
to report their abuser. Importantly, it was possible to check some reasons why victims
do not report the assault to law enforcement, but there is no way to know what
caused a decrease in respect of such communication. In short, possible reasons for
this decrease were Bulletins Events destacas, however to accurately know the real
reasons for the decline in numbers of BOs in the Special Police to Protect Women in
Curitiba and São José dos Pinhais would require a extremely thorough research in
order to discover the real reason for this decrease.
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
2 FALANDO SOBRE GÊNERO...................................................................................3
3 CONTEXTO HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER..........................7
4 LESÃO CORPORAL...............................................................................................16
5 MATERIAL E MÉTODO..........................................................................................17
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................18
6.1 DELEGACIA DA MULHER – SÃO JOSÉ DOS PINHAIS.....................................18
6.2 DELEGACIA DA MULHER – CURITIBA..............................................................20
7 POR QUE OS NÚMEROS ESTÃO CAINDO?........................................................22
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................38
9 REFERÊNCIAS.......................................................................................................42
1
1 INTRODUÇÃO
supracitadas, no que concerne ao delito tipificado pelo Código Penal Brasileiro como
“lesão corporal” (artigo 129). Após a coleta dos dados, a leitura de artigos, livros, foi
aplicada a análise de dados que tiveram por base textos sobre a temática “violência
doméstica”.
constrangimento sobre certo indivíduo por obrigá-lo a praticar algo contra a sua
vontade.
Brasileira.
contra um grupo ou comunidade que possa resultar em morte, lesão, dano psíquico,
especificamente em São José dos Pinhais – PR e Curitiba – PR, pode contribuir para
população vulnerável.
3
acadêmica sobre mulheres nos anos 1970 e, desde então, tem sido interpretado de
acordo com cada localidade ou até mesmo dentro de um mesmo espaço, conforme
este vai englobar as diferenças biológicas entre homens e mulheres, enquanto que o
os gêneros:
[...] gênero não pretende significar o mesmo que sexo, ou seja, enquanto
sexo se refere à identidade biológica de uma pessoa, gênero está ligado à
sua construção social como sujeito masculino ou feminino. Não se trata
mais de focalizar apenas as mulheres como objeto de estudo, mas sim os
processos da feminilidade e masculinidade, ou os sujeitos femininos e
masculinos (LOURO, 1996, p. 09).
4
É notável que tal conceito aborda uma relação que oprime a mulher, com o
[...] “As mulheres são vistas como ligadas ao mundo da casa, ao doméstico
e ao cuidado dos filhos. A capacidade corporal feminina relacionada à
reprodução da espécie humana delimita o espaço da mulher na vida em
sociedade; seu papel social de “cuidadora” confere-lhe uma posição
hierárquica inferior em relação aos homens publicamente ativos e
provedores” (SAYÃO, 2003, p. 123).
meninas usam cor de rosa e meninos azul; meninos ajudam seus pais e meninas
A divisão dos papéis e das tarefas tanto para homens quanto para mulheres é
[...] a mulher foi criada para a família e as coisas domésticas. Mãe e dona
de casa, esta é sua vocação, e nesse caso ela é benéfica para a sociedade
inteira. [...] Os homens são, na verdade, os senhores do privado e, em
especial, da família, instância fundamental, cristal da sociedade civil, que
eles governam e representam dispostos a delegar às mulheres a gestão do
cotidiano (PERROT, 1998, p. 9-10).
masculina.
resultado daquilo que o autor denomina de violência simbólica, uma violência quase
violência simbólica nem é percebida como um tipo de violência, mas como uma
considerada como violência simbólica, que de forma muito sutil, sem utilizar a força
capitalista.
7
Não é de hoje que foram construídos os avanços da luta pelo fim da violência
este momento histórico ocorreu no ano de 1893 e em 1940, foi fundada a Federação
seu próprio corpo. Estes acontecimentos fizeram da década de 1960 um marco, pois
8
soul) Mulher nas cidades de São Paulo e Campinas, que se caracterizava como o
Tal união foi fruto da Convenção de Belém do Pará no ano de 1994, com o
contra a mulher. Trata dos direitos protegidos, dos deveres do Estado e dos
familiar, sendo:
situação de risco, foi à criação de uma Central que atende a uma antiga demanda
direitos e onde buscar ajuda, e o serviço funciona 24 horas por dia (BRASÍLIA,
2007a):
nesta área, que articularam seus serviços para a consolidação de uma Rede de
violência de gênero.
agosto de 2006 foi aprovada a Lei nº. 11.340, objetivando combater a violência
(DIAS, 2010).
A Lei 11.340/2006, também conhecida como “Lei Maria da Penha”, tem esse
nome em homenagem a uma mulher que lutou por quase 20 anos para que seu
pessoal uma bandeira de luta pelos direitos da mulher. O seu agressor, o professor
universitário de economia Marco Antonio Herredia Viveros, era também o seu marido
12
e pai de suas três filhas. Na época ela tinha 38 anos e suas filhas idades entre 6 e 2
anos.
enquanto ainda dormia, alegando que tinha sido um assalto. Depois do disparo, foi
encontrado na cozinha, gritando por socorro. Dizia que os ladrões haviam escapado
pela janela. Maria da Penha foi hospitalizada e ficou internada durante quatro
meses. Voltou ao lar paraplégica e mantida isolada. Foi nessa época que aconteceu
Marco Viveros foi a júri popular duas vezes: a primeira, em 1991, quando os
não se dar uma decisão ao caso. Após as tentativas de homicídio, Maria da Penha
considerada símbolo contra a violência doméstica por ter batizado a Lei de Violência
que a lei incorpora propostas feministas, mas, também confere irrefutável hegemonia
familiar contra a mulher”, concebida como uma “violação dos direitos humanos das
Um ano após a criação da Lei Maria da Penha, foi criado o Pacto Nacional de
<http://www.dedihc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=98> o
(BRASÍLIA, 2007b).
14
omissão que baseada no gênero cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial à mulher”, e que pode ser praticada por
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa, inclusive as
multiplicidade de fatores, que afeta não apenas as vítimas, mas seus familiares e a
relações”.
PARANÁ, 2006) descreve como violência intrafamiliar “toda ação ou omissão que
casa por algum integrante da família, incluindo pessoas que passam a assumir
violência doméstica podem ser inclusos outros membros da família, sem função
violência coletiva, que engloba atos violentos que acontecem nos âmbitos
do estado.
Mas o tema violência doméstica contra a mulher tem ganhado grande foco
Fundação Perseu Abramo (2001 apud BRASIL, 2007a), a cada 15 segundos uma
em 187 municípios, (19%) das mulheres admitiu ter sofrido violência por parte de
16
algum homem; (11%) afirmaram ter sofrido espancamentos com cortes, marcas ou
fraturas; e (8%) foram ameaçadas por arma de fogo (GOMES; MINAYO; SILVA,
4 LESÃO CORPORAL
Penal Brasileiro, em seu Art. 129, é considerada como ofender a integridade corporal
ou a saúde de outrem.
lesão corporal pode ser de natureza leve ou grave conforme prevê o Código Penal
Brasileiro.
A lesão corporal de natureza leve é aquela que não causa grande ofensa à
É considerada lesão corporal de natureza grave, conforme art. 129 do Código Penal
ressaltar que a pena para a prática deste tipo de crime é aumentada quando é
de Corpo de Delito, realizado pelo Instituto Médio Legal. É no IML que, através do
exame realizado por um perito legal, pode se constatar a lesão, bem como seu grau
(leve ou grave).
Meza et al. (2001) apud Garbin et al (2006), entendem que a violência física
5 MATERIAL E MÉTODO
dados referentes aos Boletins de Ocorrência registrados por mulheres das cidades
de São José dos Pinhais (SJP) e Curitiba, ambas no Estado do Paraná, cuja infração
penal seria a lesão corporal (segundo a definição do Art. 129 do Código Penal
Pinhais. Foram analisados apenas B.O.s que continham lesão corporal entre os
haver junto à lesão corporal outra infração de natureza distinta, como por exemplo:
18
esses 7 anos.
Tabela 3 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal da Delegacia da Mulher de São José
dos Pinhais.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 TOTAL MÉDIA
Janeiro 33 42 52 56 78 97 51 409 58,43
Fevereiro 23 48 60 62 86 65 50 394 56,29
Março 40 55 73 73 79 61 57 95 62,57
Abril 46 35 58 46 94 46 61 386 55,14
Maio 40 48 47 58 100 59 53 405 57,86
Junho 30 48 45 66 82 37 43 351 50,14
Julho 32 22 39 60 66 56 43 318 45,43
Agosto 58 58 28 67 64 66 51 392 56,00
Setembro 48 70 63 74 60 49 52 416 59,43
Outubro 46 63 48 62 68 73 45 405 57,86
Novembro 35 63 72 80 67 64 49 430 61,43
Dezembro 53 69 56 60 66 45 39 388 55,43
TOTAL 484 621 641 764 910 718 594 4.732 56,33
MÉDIA 40,33 51,75 53,42 63,67 73,83 59,83 49,50
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
Gráfico 1 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre os anos 2007 a 2013 em São
José dos Pinhais.
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
É evidente, equitativamente, que os meses de março e novembro são os
meses em que a Delegacia da Mulher de São José dos Pinhas – PR mais registra
Gráfico 2 –Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal por meses em São José dos Pinhais.
20
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
quanto a números, podem estar relacionados com datas em que a mulher está em
Mirabal, que por lutarem contra a ditadura no seu país, foram vítimas de violência,
maior proporção, uma vez que a cidade de Curitiba possui mais habitantes que SJP.
21
lesão corporal entre 2007 a 2013, e na cidade de São José dos Pinhais foram
habitantes para São José dos Pinhais. Analisando os dados, proporcionalmente, fica
evidente que em São José dos Pinhais houve um maior número de B.O.s,
Gráfico 3 – Registro de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre os anos 2007 a 2013 em
Curitiba.
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
Para esta pesquisa o ano de 2014 não foi computado, uma vez que a amostra
escolhida foi apenas a de anos completos, ainda assim, entre janeiro a outubro do
Tabela 5 – Comparação de Boletins de Ocorrência de lesão corporal entre Janeiro a Outubro de 2013
e 2014.
Janeiro a Outubro 2013 Janeiro a Outubro 2014
Delegacia da Mulher SJP 461 307
Fonte: Coleta realizada nos sistemas de informação da Delegacia com autorização dos respectivos
responsáveis.
23
Houve uma queda de (33%) dos registros quanto à lesão corporal em SJP
Vale ressaltar que apesar dos números estarem diminuindo, o Estado do Paraná,
Brasil.
fenômeno social. Mas a questão da violência dentro dos lares, nem sempre é
denunciada.
Apenas 66,1% (sessenta e seis vírgula um por cento) dos boletins de ocorrência por
(trinta e três vírgula nove por cento) das vítimas não denunciou o agressor. Como se
idade (36,7%); em uma união estável (38,5%); em um emprego formal (36,8%); com
ensino fundamental completo (48,6%); com a família provida pelo casal (39,4%).
repetição da violência por todo o período, durante muitos anos. Dos agressores,
emprego formal (38,5%); a faixa etária entre 30 a 39 anos (33%); a cor branca
material, pois por falta de recursos financeiros, de um local seguro e pela esperança
que seu companheiro mude, são os principais motivos para manter o vínculo com o
comportamento, ou, como muitas das vítimas costuma dizer: “de ele tomar vergonha
ele já estar envolvido como suspeito em uma ocorrência policial. Assim, imensas
Para a Barnett (2000), os princípios morais são uma das razões para a
seus agressores, que por sua vez aguentem ser violentadas durante muitos anos,
existência de três fases que, geralmente, são vivenciadas por mulheres que sofrem
violência e que, contribuem de alguma forma, para que permaneçam na relação por
TENSÃO EXPLOSÃO
LUA DE MEL
Fonte: http://apav.pt/vd/index.php/vd/o-ciclo-da-violencia-domestica
estivessem sob o controle e uma aceitação por meio de explicações racionais. (2)
conjugal (GUIMARÃES; SILVA; MACIEL, 2007). Vale ressaltar que este ciclo tende a
se repetir.
Um estudo realizado por Bruschi, Paula & Bordin (2006), para estimar a
levantou que, o tapa é o principal meio de violência contra a mulher (32,6%), seguido
dos quais 65,5% foram caracterizados como violência grave. A violência grave
(22,1%) foi mais frequente que a violência não grave, como o tapa (10,5%). Todavia,
todas as mulheres que sofreram violência grave ao longo da vida também foram
de líderes religiosos (11,1%). Entre as mulheres que sofreram violência não grave
inferiores. O uso da força é o meio mais usado pelos agressores em 70% das
agressões, 21% usaram algum tipo de instrumento para agredir. A região dos olhos e
especializado.
É sabido que, nos serviços de saúde, a mulher vitimada que busca socorro
(HARTIGAN, 1997; TUESTA, 1997 apud DESLANDES; GOMES & DA SILVA, 2000),
vítimas sejam precisas e adequadas, e que possam atuar com prevenção a esta
hierárquica estabelecida entre os gêneros, uma vez que “na medida em que o poder
força, estão reunidas nas mãos dos homens as condições básicas para o exercício
em geral.
29
que recorreram à DEAM, que a palavra “violência” apareceu poucas vezes em seus
recebido em seu contexto social, revelou que, a busca por ajuda ocorre, a princípio,
em seu próprio meio social mais próximo, junto à família e à rede de amigos, o que,
para elas, por vezes, nem sempre é ajuda, mas uma violência, por se sentir invadida
em sua privacidade.
brasileiras, pelo DataSenado, verificou que 17% delas declararam já ter sofrido
algum tipo de violência doméstica. Deste total, mais da metade (55%) afirmaram ter
sofrido violência física – lesão corporal. A pesquisa também apurou a atitude das
30
família (22%), procurou ajuda de amigos (6%), procurou uma delegacia comum
(16%), procurou uma delegacia da mulher (22%), silenciou-se (19%) e não sabe ou
após a agressão, o restante preferiu outros meios para tentar lidar com a violência
que as acometeu.
versão da mesma, constatando que apenas 40% das vítimas de violência doméstica
respeito da Lei Maria da Penha com mais profundidade. E nesta pesquisa encontrou
das entrevistadas, que afirmam que as mulheres não denunciam o agressor, por não
o Art. 33. institui que os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
de assistência judiciária. No Art. 41. está previsto que aos crimes praticados com
não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (Lei que dispõe sobre os
Juizados Especiais Cíveis e Criminais), artigo este que será melhor discutido abaixo.
A Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica
conforme a Constituição, que diz em seu artigo 226, parágrafo 8º: “O Estado
potencial ofensivo, impositivo que a tutela assegurada pela Lei se torne afetiva,
cabendo ao agente ministerial assumir a Ação Penal. Dias (2012) destaca, ainda,
33
que é um ônus que não cabe ser imposto “a quem conseguiu romper a barreira do
quer dizer que nenhuma pessoa, nem a justiça e nem qualquer órgão da
Assim, mais uma vez a Corte Maior da Justiça deste país comprovou sua
logrou revelar uma realidade que todos insistiam em não ver: que a violência contra
impunidade.
O Art. 16, da Lei Maria da Penha, contém uma disposição muito polêmica: a
condição para a renúncia das vítimas. “Nas ações penais públicas condicionadas à
O artigo acima prevê que é possível voltar atrás, desde que o Promotor de
possível desistir até o momento em que o processo não tenha sido instaurado. É
importante salientar que, nos crimes de Ação Penal Pública incondicionada, como:
morte, entre outros, independe de qualquer condição, ou seja, não é preciso que a
34
irrelevante a oposição por parte da vítima ou de qualquer outra pessoa a ação penal.
não tiver sido iniciada, será marcada uma audiência com o juiz, presente também o
Lei 11.340/06, é o que diz respeito a ação penal nos crimes de lesão corporal leve. A
lesão corporal leve, fora do âmbito doméstico, tramita nas disposições contidas na
quando se estende para o âmbito doméstico, não será apreciado na órbita dos
Federal.
Relator, julgou procedente a ação direta para, dando interpretação conforme aos
que esta decisão explica, em boa parte, o motivo da queda no número de registros
deste estudo.
interessantes: 66% das mulheres entrevistadas afirmaram que, nos últimos anos, a
violência doméstica contra a mulher aumentou; 63% das entrevistadas relaram que
as mulheres que sofrem agressão denunciam o fato na minoria das vezes; de 1.352
violência mais sofrido por elas, foi a física (65%); e apenas 23% procurou denunciar
seu agressor a alguma delegacia de polícia (BRASIL, 2013). Veja o gráfico abaixo, o
denúncia formal é a preocupação com a criação dos filhos, fator apontado por 31%
vergonha da agressão e acreditar que seria a última vez (12%); 5% apontaram com
a dependência financeira para não denunciar seu agressor; e 3% acredita que não
mulher, pois não utilizam os recursos legais para defender-se do agressor, e quando
Instituto Patrícia Galvão realizou uma pesquisa para avaliar a percepção sobre
por uma mulher era considerado crime, e as filhas se fossem "ingratas" com o pai,
podiam ser deserdadas. Por outro lado, ainda durante a regência de D. Pedro I foi
outorgado um dispositivo que primava pela não violência familiar, sem fazer
de sua mulher e filhas, e continua agredindo aquelas que mais deviam amar.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por que muitas mulheres ainda se calam diante das diversas formas de
violência a que são submetidas por seus maridos? Por que sofrem caladas? Por que
doméstica.
A Lei Maria da Penha, Lei que representa uma grande conquista dos
mulheres brasileiras. Graças a ela, aliada aos mecanismos sociais, cada vez mais
acessíveis, políticas públicas para aumento das informações sobre os direitos das
mulheres e reforços nos instrumentos de combate aos abusos, dão subsídios para
não são suficientes para que as mulheres efetivamente compreendam que são
corporal, estão diminuindo nas Delegacias da Mulher de Curitiba e São José dos
39
Pinhais. Foram destacados possíveis motivos para tal, todavia o presente trabalho
não há uma, mas sim, várias causas e soluções possíveis. Há que se tomar o
presente estudo como ponto de partida para avanços, buscando conhecer cada fator
que possa influenciar nos motivos para estar havendo uma queda no número de
Curitiba e São José dos Pinhais. Com tais resultados, continua e simultaneamente
violência doméstica a mulher, este modelo não pode ser relegado ao segundo plano,
normas legais.
entretanto, são vários motivos para que mulheres vítimas de violência doméstica não
agressor, não acreditar que exista punição, não poder se retratar da representação,
40
companheiro, são possíveis justificativas para que mulheres vítimas não denunciem
o seu agressor.
marital com o agressor, são semelhantes aos motivos das mesmas não denunciarem
o mesmo.
do parceiro. Acreditar que é uma fase que vai passar, por conta de estresse, excesso
embora importante, dificilmente poderá servir de apoio para concluir que, afinal, é ela
roupas por ele permitidas ou deixar de se maquiar para não desagradá-lo também
apenas será protelado. E, durante essa fase de pseudo “lua de mel”, enquanto as
violências físicas podem diminuir, o abalo psicológico, por outro lado, é aumentado.
próximo acesso de fúria, e tenta não fazer nada que desagrade o parceiro. Fica,
Em entrevista realizada pela BBC Brasil (2013) com a historiadora Mary Del
próprio machismo. Muitas mulheres não conseguem se ver fora da órbita do homem
mulheres não deveriam buscar ser um homem de saias, mas apostar em sua
mantido em um verdadeiro ciclo em que a mulher não se sente vítima, o que faz
desaparecer a figura do agressor. Mas o silêncio não gera nenhuma barreira, a falta
de um limite faz com que a violência se exacerbe. O homem testa seus limites de
isso, mais do que nunca, é chegada a hora de produzir políticas públicas que
9 REFERÊNCIAS
CAMPOS, Carmen Hein de. Juizados Especiais Criminais e seu déficit teórico. Rev.
Estud. Fem., Florianópolis, v. 11, n. 1, Jun 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2003000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 Out. 2014.
GADONI, Lila Maria Costa; ZUCATTI, Ana Paula Noronha; DELL’AGLIO, Débora
Dabosco. Violência contra a mulher: levantamento dos casos atendidos no setor de
psicologia de uma delegacia para a mulher. Estudos Psicologia, v. 28, n. 2, p. 219-
27, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n2/09.pdf>. Acesso em:
21 jul. 2014.
GARBIN, Cléa Adas Saliba et al. Violência doméstica: análise das lesões em
mulheres. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 12, p. 2567-2573, 2006.
LOURO, Guacira L. Nas redes do conceito de gênero. In: LOPES M.J.M; MEYER
D.E.; WALDOW V.R. (Orgs.). Gênero e Saúde, Porto Alegre, Artes Médicas, 1996.
DIAS, Maria Berenice. Repórter da revista Consultor Jurídico. Maria da Penha: uma
lei Constitucional e Incondicional. Jus Navegandi, Terezina, ano 17, nº3172, 8 de
março de 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21243> Acesso 22
Nov. 2014.
SOUZA, Patrícia Alves De; ROS, Marco Aurélio Da. Os motivos que mantêm as
mulheres vítimas de violência no relacionamento violento. Rev. de Ciências
Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 40, p. 509-527, Outubro de 2006. Disponível
em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/17670/16234>.
Acesso em: 05 nov. 2014.
SANTI, Liliane Nascimento de; NAKANO, Ana Márcia Spanó; LETTIERE, Angelina.
Percepção de mulheres em situação de violência sobre o suporte e apoio recebido
em seu contexto social. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 19, n. 3, Set.
2010 . Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
07072010000300002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 Nov. 2014.
46
SILVA, Marlise Vinagre. Violência contra a mulher: quem mete a colher? São
Paulo: Cortez, 1992. p. 180.