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Desigualdades Educacionais no Brasil: Entre a Garantia Constitucional e os

Desafios para a Democratização do Acesso e Qualidade

A Constituição Federal de 1988 estabelece, nos artigos 205 e 206, o direito


universal ao ensino público gratuito e de qualidade para todos os brasileiros. No
entanto, a realidade revela uma lacuna entre essa garantia formal e a efetiva
qualidade do ensino, especialmente nas camadas sociais mais vulneráveis. A falta
de acesso a uma educação de qualidade perpetua a exclusão desses indivíduos do
sistema econômico, contribuindo para as desigualdades sociais. As disparidades
educacionais, por sua vez, têm implicações diretas nas desigualdades econômicas,
influenciando a oferta de trabalho qualificado e os diferenciais salariais entre grupos.

A Constituição Federal de 1988 assegura em seus artigos 205 e 206 que é direito
de todos o acesso ao ensino público gratuito e com padrão de qualidade (BRASIL,
1988 citado por Sampaio; Oliveira, 2015). De acordo com a constituição federal e
seus artigos, logo imaginamos que de fato existe uma lei que garante que todos os
brasileiros sem interferência de classes terão seus direitos de ter acesso ao ensino
gratuito e de qualidade, porém, ao nos depararmos com a realidade, percebemos
que o ensino está garantido, mas e a qualidade? A população de classe social baixa
ainda sofre com a falta de acesso educacional de qualidade, e como isso é crítico
para essa população, que muitas vezes são excluídos do sistema econômico, sendo
excluídos do próprio sistema e marcados pela desigualdade entre as classes e
direitos entre elas. Além disso, as desigualdades educacionais podem contribuir
para o aumento das desigualdades econômicas por meio da corrida entre educação
e tecnologia, que define a demanda por trabalho qualificado, enquanto a educação
determina a oferta de pessoas com certas habilidades. Se a demanda por
trabalhadores com certo nível de qualificação é grande, porém sua oferta é
pequena, o diferencial do salário desse grupo será grande em relação ao salário de
outros grupos de trabalhadores (Filho; Kirschbaum, 2015 citado por Sampaio;
Oliveira, 2015). Dito isso, podemos perceber que o nível de educação que um
indivíduo tem na escola, principalmente, é o que vai contribuir para as ofertas de
trabalho, o salário que também irá implicar diretamente em suas oportunidades. Mas
se o indivíduo não tiver essa educação de qualidade, o que irá aumentar a
desigualdade dessas populações menos favorecidas no país. Para falar mais sobre
a desigualdade na educação e desigualdades sociais, temos as três dimensões da
desigualdade social defendida por Marcel Crahay (2000), que estabelece as três
tipos de desigualdade no acesso à educação e como o poder público propõe um
ideal educacional visando a redução da desigualdade, examinando inclusive como
elas são encaradas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela lei n.
13.005/2014 (BRASIL, 2014). E, por fim, Oliveira e Araújo (2005) examinam os
indicadores utilizados para medir qualidade educacional ao longo do tempo para a
discussão desse conceito. Também serão analisados os indicadores utilizados para
medir as dimensões da desigualdade educacional. Resumindo, em cada dimensão,
busca-se responder às seguintes perguntas:

- Qual é a concepção de igualdade associada?


- Quais as políticas públicas que visam a reduzi-la?
- Quais os indicadores utilizados para medi-la?

Os resultados da primeira pergunta, desigualdade de acesso, de acordo com 2015,


Oliveira et al., 2013 citado por Sampaio; Oliveira, 2015), essa concepção defende
que a ação pedagógica deve ser proporcional aos méritos e potencialidades dos
indivíduos, aceitando que apenas os alunos que com maiores potencialidades
devem ser tratados melhor e receber mais. A igualdade que ele menciona seria
referente à frequência escolar dos alunos, e menciona que no final da década de
1980, cerca de 48% das crianças que ingressaram na primeira série reprovaram e
2% abandonaram a escola. A década seguinte foi marcada por políticas que
buscavam regularizar o fluxo no Ensino Fundamental. É possível afirmar que a
progressão na trajetória escolar ainda está dentro do conceito de igualdade de
oportunidades.

A segunda concepção de igualdade educacional se baseia no tratamento igual para


todos os alunos, onde as condições de oferta de ensino são uniformes. Políticas
como o Fundef e o Fundeb buscaram equalizar gastos e redistribuir recursos entre
os estados e municípios, mas não resolveram completamente as desigualdades
regionais. Além das políticas financeiras, há um esforço para uniformizar o ensino,
com programas como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e o
Programa Mais Educação. O Plano Nacional de Educação busca padronizar a oferta
educacional, definindo diretrizes pedagógicas, infraestrutura mínima e formação
adequada para os professores. Indicadores revelam desigualdades na infraestrutura
das escolas, com diferenças entre regiões. É evidente a necessidade de políticas
que reduzam tais discrepâncias. É um ciclo complexo: a universalização do ensino
não resulta necessariamente na democratização completa. A exclusão educacional
é postergada para estágios posteriores, novas formas de diferenciação entre os
alunos surgem e as desigualdades educacionais se deslocam no tempo e no
espaço, mantendo raízes profundas nas diferenças sociais. Resolver uma dimensão
da desigualdade pode muitas vezes dar origem a novas disparidades.

Ademais, outros fatores que contribuem significativamente para o fracasso e evasão


escolar, presentes em nosso cotidiano, estão relacionados a aspectos sociais. Um
dos aspectos fundamentais é a influência do ambiente familiar, onde problemas
familiares podem desmotivar o aluno em seu percurso educacional. A falta de apoio
e responsabilidades, como o ingresso precoce no mercado de trabalho, muitas
vezes por necessidade financeira, pode resultar na desmotivação do indivíduo para
prosseguir com os estudos, culminando, por vezes, no abandono escolar. Além
disso, é essencial considerar os fatores intraescolares e extraescolares que podem
afetar diretamente o desempenho do aluno. Desde a qualidade do trabalho
pedagógico até aspectos sociais, como a condição socioeconômica e familiar, todos
desempenham um papel crucial. A situação de vulnerabilidade social, as
dificuldades de acesso à escola e a falta de engajamento escolar são, sem dúvida,
algumas das principais causas da evasão escolar. Sob a ótica da Psicologia, é
importante ressaltar que o fracasso escolar não apenas impacta o desenvolvimento
individual, mas também contribui para o aumento das disparidades educacionais e
sociais. Ilustrando esse panorama, os últimos dados de uma pesquisa do IBGE
revelam que, entre os 50 milhões de pessoas com idades entre 14 e 29 anos,
aproximadamente 10 milhões (20%) não concluíram alguma das etapas da
Educação Básica. A Educação Básica é essencial não apenas para o pleno
exercício dos direitos individuais, mas também desempenha um papel crucial para o
desenvolvimento econômico do país e para a integração do indivíduo no meio
social.

A motivação desempenha um papel fundamental no processo de aprendizagem


escolar. Se a motivação estiver ausente, o aprendizado é comprometido. Neste
cenário, onde os fatores desmotivadores superam as fontes de inspiração discutidas
anteriormente, a falta de motivação dos estudantes emerge como um dos principais
desafios no contexto do ensino-aprendizagem. Como enfrentar a questão da falta de
motivação dos estudantes e criar condições que os envolvem nas atividades de
aprendizagem, incentivando-os a persistir nas tarefas? Essa é uma indagação
central.

A motivação, nesse contexto, é influenciada por uma série de fatores, incluindo as


características individuais dos alunos, as práticas dos professores, os desejos e
aspirações dos pais, familiares e colegas de sala, entre outros. Logo, a motivação
para a aprendizagem escolar é complexa, envolvendo uma interação recíproca
entre diversos elementos. Wallon destaca que, ao abordarmos a motivação na
aprendizagem escolar, não podemos negligenciar apenas a motivação do aluno; é
crucial considerar também a motivação do professor, pois esta influencia o interesse
dos alunos, sendo uma emoção de caráter contagioso como também a motivação
para a criação de atividades que irá motivar seus alunos.

Nesse contexto, é de suma importância que tanto os professores quanto o governo


se aprofundem nessas questões. O envolvimento ativo do governo e dos
educadores é essencial para enfrentar não apenas a falta de motivação, mas
também para gerar profissionais qualificados. Reconhecendo a importância de uma
abordagem abrangente, torna-se evidente que investir na motivação da população
para continuar os estudos. Isso não apenas contribui para a formação de
profissionais capacitados, mas também abre oportunidades, reduzindo as
disparidades educacionais no país e proporcionando a todos os cidadãos igualdade
de acesso à educação.
Em síntese, a complexidade das desigualdades educacionais no Brasil permeia
desde a garantia formal da Constituição Federal até as disparidades regionais e
sociais presentes na infraestrutura escolar. A busca pela igualdade de
oportunidades no acesso à educação enfrenta desafios que vão além das políticas
financeiras, exigindo uma abordagem abrangente que considere tanto as dimensões
institucionais quanto as intraescolares e extraescolares.

O ciclo complexo da universalização do ensino revela que a democratização


completa ainda é um objetivo a ser alcançado, visto que novas formas de
diferenciação entre os alunos surgem, mantendo raízes profundas nas diferenças
sociais. A evasão escolar, influenciada por fatores familiares, sociais e
motivacionais, destaca a necessidade urgente de medidas que atuem na prevenção
dessas causas.

Nesse contexto, a motivação emerge como peça-chave no processo de


aprendizagem, sendo influenciada por uma teia complexa de fatores individuais,
sociais e pedagógicos. O envolvimento ativo dos professores e do governo torna-se
crucial para enfrentar não apenas a falta de motivação, mas também para gerar
profissionais qualificados e reduzir as disparidades educacionais. Investir na
motivação da população não apenas contribui para o desenvolvimento econômico
do país, mas também abre portas para igualdade de acesso à educação,
alinhando-se a um caminho de progresso social e individual.
Referências:

PNAD Educação 2019: Mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não
completaram o ensino médio | Agência de Notícias. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-n
oticias/releases/28285-pnad-educacao-2019-mais-da-metade-das-pessoas-de-25-a
nos-ou-mais-nao-completaram-o-ensino-medio>. Acesso em: 3 dez. 2023.

SOUZA, A. R. et al. (orgs.) Políticas Educacionais: conceitos e debates. 3. ed.


Curitiba: Appris, 2016.

OLIVEIRA, R. P.; ADRIÃO, T. Gestão, financiamento e direito à educação: Análise


da LDB e da Constituição Federal. São Paulo: Xamã, 2001.

SAMPAIO, G. T. C.; OLIVEIRA, R. L. P. DE. Dimensões da desigualdade


educacional no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação,
v. 31, n. 3, p. 511–530, 2015.

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