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Wa0002.
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Após alguns minutos paralisada pelo choque, a menina agarrou a arma e guardou-a
no bolso dentro de sua capa.
O ar fora do bar chegava a ser congelante, e sua respiração acelerada e quente se
tornava visível. Seu peito subia e descia à medida que seus passos se apertavam
em direção à enorme muralha que antecipava as Torres Divinas. As pessoas que a
encaravam no caminho viraram apenas vultos enquanto seus olhos se enchiam de
lágrimas, e suas mãos tremiam devido ao frio e à ansiedade.
Quando a garota finalmente chegou na muralha e fitou as torres tão grandes que
pareciam sumir no céu escuro, se sentiu aliviada. Ela foi até a pequena brecha do
outro lado do muro e correu pelo campo verde até alcançar uma das cinco
fortalezas, tomando cuidado para não ser percebida pelos muitos guardas.
Ao se deparar com a torre, ela sobe as escadas até a grandiosa porta de entrada e,
com um pouco de dificuldade, a abre.
O interior do palácio é aconchegante e repleto de riquezas, inteiramente adornado
com detalhes dourados e símbolos do Sol. As luzes eram tão intensas que os olhos
chegavam a doer, acostumados com a escuridão do lado de fora. A moça andou em
direção às escadas luxuosas que a levariam ao segundo andar, sujando o chão
limpo e reluzente como um espelho.
O corredor que dava passagem para os quartos era tão exuberante quanto a sala
de entrada, e as portas eram tantas que se perder ali era mais fácil do que encontrar
a porta certa. Porém, uma delas se diferenciava das demais, maior e com mais
detalhes. A garota percorreu o caminho, andando sobre um longo tapete vermelho,
até a mesma, e adentrou o quarto ao tocar na maçaneta gélida. O cômodo estava
escuro, com apenas uma grande cama sendo iluminada pela luz externa. Ela se
aconchegou nos colchões e fechou seus olhos, respirando profundamente antes de
afofar sua capa em busca da carta.
Assim que a encontrou, vislumbrou o objeto por um tempo, deslizando
cuidadosamente seus dedos no metal frio manchado de sangue já seco. O metal
estava moldado para formar uma legenda na parte inferior que dizia “O Sol”, e o
astro era representado em alto-relevo em seu centro, enquanto, na parte superior do
desenho, estava gravado o número 19 em algarismos romanos.
Antes que a menina pudesse tirar qualquer conclusão sobre a peça, um movimento
no quarto tirou sua atenção. Ela se sentou rapidamente, se colocando em estado de
alerta. Uma silhueta se formou em meio à escuridão, e, conforme se aproximava, se
tornava identificável.
一 Aurora 一 disse, e, imediatamente, foi descoberta pela garota. 一 O que diabos
você está fazendo?
Aurora, num pulo, escondeu a arma em meio aos lençóis e se pôs de pé.
一 Você tem noção do quanto me preocupou?
一 Eu estava, hum… 一 tentou encontrar uma desculpa, mas seu breve silêncio
entregou que estaria mentindo ao tentar qualquer tipo de escapatória.
一 Onde você foi?
一 Num bar, mas…
一 Num bar? Se qualquer um te viu, estamos ferradas, Aurora! Estarmos aqui já foi
sorte o bastante, qualquer coisa poderia nos tirar em um piscar de olhos e nos
deixar apodrecendo naquele lugar de novo. Você tem noção disso?
A outra engoliu em seco.
一 Diana, me escute 一 ela disse, vagando os olhos por todos os lugares em
desespero, já sentindo o calor tomar conta de seu corpo e suas mãos suarem. 一
No bar, eu escutei uma coisa… estranha. Não sei. Foi tudo tão rápido. Tinham dois
homens e de repente só um. Sei lá. O que eu quero dizer é que um homem matou o
outro.
Houve um curto silêncio entre as duas. A face desconfiada e preocupada de Diana
deixou o seu rosto, e um suspiro saiu de seus lábios, deixando-os entreabertos.
一 Eu não conseguia pensar. Ele me disse alguma coisa e veio para cima de mim
quando tentei escapar. Eu não sabia o que fazer. Vi um copo e o quebrei. Eu matei
ele, Di. 一 uma lágrima rolou em sua bochecha e seus olhos vazios encaravam suas
próprias mãos.
A outra garota emitiu um suspiro mais profundo desta vez, e se pôs de pé logo em
seguida.
一 Você deixou alguma evidência de que foi você? Algum pertence, alguma marca
ou qualquer coisa que envolva esse homem?
Aurora fitou os lençóis atrás de si. Sabia que já tinha feito merda o suficiente. Sua
irmã estava ali, encobrindo um crime seu, apenas para protegê-la. Ela sabia que, se
contasse da carta, teriam que lidar com outro segredo a ser escondido. Estaria
guardando um dos objetos mais poderosos de Caelum, e estaria mentindo para
Diana. Mas faria tudo isso.
一 Não 一 sibilou um pouco insegura. 一 Não, não deixei. Trouxe todas as minhas
coisas de volta, e, na luta, só toquei nas roupas dele. Joguei o caco de vidro que o
matou fora. Ninguém nos viu.
Diana assentiu com a cabeça e sentou na cama ao lado da irmã, levando suas
mãos à cabeça e entrelaçando os dedos em seus cabelos escuros.
一 Me desculpa, por favor, me desculpa 一 Aurora disse enquanto a puxava para
perto, logo em seguida sendo afastada pela mesma, que se levantou e andou até a
grande porta do quarto.
一 Conversamos amanhã.
Uma brecha de luz invadiu o quarto, cessando no momento em que Diana fechou a
porta e deixou Aurora em meio à escuridão.
CAP 2
Aurora soube desde o primeiro segundo dentro das Torres Divinas que sempre
mesmo em um terreno tão grande como aquele. Desde que adentrou o espaço,
da segurança, tudo o que precisava era sua irmã e a certeza de que estariam a
salvo cercadas pelos muros. Caelum não era um lugar perigoso, mas a liberdade
subestimar a crueldade que corria pelo mundo em apenas dois anos na elite.
A elite não era sua casa, e o sangue divino que corria por suas veias ainda parecia
se ela fosse uma espécie de animal raro e delicado que até então estava enjaulado,
mesmo se sentindo mais presa que nunca somente agora. Agora que as
Aurora sentia falta dos amigos. Sua irmã e algumas servas eram sua única
companhia na maioria dos dias, por mais que já tivesse visto as outras rainhas, uma
ou duas vezes. Ela se recordava da primeira vez, quando as cinco estavam numa
grande sala, esperando pelo ritual de sangue. A sala era tão adornada com detalhes
em dourado que seus olhos acostumados com a escuridão doíam, mas o que
a população estar ciente da sagração dos Deuses, a fonte era guardada por um
vidro fino, revestindo-a como outro cômodo. O teto da sala era aberto, e o Sol
refletia o sangue que jorrava. O sangue era o inexplicável da coisa. A cor era
indescritível, como se mudasse a todo instante, mas podia ser classificada como um
Três batidas ecoaram pelo quarto e Aurora voltou sua atenção à porta. Hory, uma de
à rainha encarar o lado de fora pela janela. O Sol iluminava seu corpo inteiro, mas
sua pele e ele batalhavam pela luz, já que nenhuma sequer sombra a alcançava.
Aurora permaneceu calada, mas uma longa respiração cortou sua quietude.
interpretou como uma pergunta retórica. — Eu estou bem, ok? Não houve nada, é
— O Soberano requer sua presença. Terá uma reunião, acho. As outras rainhas
também vão.
Hory era a única pessoa que tinha a idade de Aurora, e, por isso, ela chegava a
considerá-la sua amiga. Cabelo escuro e liso, por mais que o penteado que fazia
tenha diariamente moldado-o para ficar mais ondulado, seus olhos tinham um
um coelho, assim como seu rosto circular. Quando se conheceram, disseram que
ela veio das redondezas de Venetus, mas, mais tarde, a garota revelaria que
morava em um reino vizinho. Aurora era fascinada pelas histórias contadas por sua
amiga sobre as tradições e festivais de onde vinha, assim como era deslumbrada
pela sua aparência angelical. Angelical era a palavra perfeita para descrevê-la, já
que grande parte de seu encantamento vinha das asas fabulosas em suas costas,
— Não vejo elas há um tempão. O que aconteceu para chamarem as cinco de uma
vez?
— Faço a mínima ideia, mas ouvi que está relacionado às cartas. — Seu sotaque
era forte, e isso tirava um sorriso de Aurora toda vez que conversava com ela.
Hory penteava seus fios castanhos, e um vestido azul-claro afeitado com símbolos
que era quase três vezes maior, mesmo abrigando somente O Soberano e A Corte
Divina. Bem, disso ela não podia contestar, já que sua casa só abrigava a si mesma,
Quando entraram na sala e deram de cara com as outras quatro rainhas, depois de
uma longa caminhada pelo interior do castelo, a imagem que surgiu na mente de
Aurora foi a do dia do Ritual. Ali percebeu que todas elas continuavam as mesmas.
A mesa onde todos se sentavam era gigantesca, pois acomodava as cinco rainhas,
quem era Cerys. Por fim, se levantou: — Vocês todos devem estar cientes dos
uma guerra ainda não foi travada, mas os bombardeios em Venetus e na Floresta
discurso que será recitado por vocês, garotas, para fazermos com que esses
comentários cessem.”
tomou um leve susto com a voz da garota. O som saiu hesitante e baixo no começo,
seu sangue divino fez com que sua aparência fosse preservada, afinal, rumores
— Não se preocupe, Rainha Venus, nossos soldados já estão cuidando das sereias,
“segurança”, “não tenham medo”, “tudo ficará bem” ali e cá. Ela tinha que concordar,
Um dos membros da Corte interrompeu a leitura silenciosa com uma pergunta que
assustou a rainha:
— O que faremos se uma guerra for travada, sua majestade? As cartas seriam a
Estava claro: era só Aurora roubar uma arma sagrada e matar um homem que todos
tocaram no assunto.
Nossas maiores preciosidades que, ainda, não estão em nossas mãos. — Ela faz
uma breve pausa e suas expressões sérias e até um tanto empolgadas com a
discussão dão lugar a um semblante melancólico. — Todos aqui, assim como todos
neste reino, devem saber da história de nossa maior Deusa e minha filha, Liliya. A
tragédia nos deixou um legado, uma ajuda para nós feita mesmo antes deste solo
ser formado. Esse legado está construído como algo que será e já é nossa maior
aquisição, e não é só o que impulsionará Caelum, mas também irá aquecer minha
alma e coração ao ter uma das únicas coisas que Liliya deixou para trás. Digo uma
das únicas coisas porque quero que sempre estamos conscientes que este reino e
seus ancestrais — Ele apontou com a palma das mãos para os para os presentes.