Você está na página 1de 32

Marília de Dirceu

Tomaz Antônio Gonzaga

Autor Árcade
Minas Gerais
Tomaz Antônio Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga foi um dos importantes


escritores do movimento árcade no Brasil. Ele é
patrono da cadeira 37 da Academia Brasileira de
Letras (ABL).

Além de poeta, ele foi ativista político, advogado,


juiz e participou da Inconfidência Mineira, em
Minas Gerais.
"Gonzaga é dos raros poetas brasileiros, e
certamente o único entre os árcades, cuja vida
amorosa tem algum interesse para a compreensão
da obra. Marília de Dirceu é um poema de lirismo
amoroso tecido à volta duma experiência concreta
– a paixão, o noivado e a separação de Dirceu
(Gonzaga) e Marília (Maria Dorotéia Joaquina de
Seixas).“

Antônio Cândido
Apaixonou-se por Maria Doroteia Joaquina de Seixas
Brandão, a pastora Marília. Inspirado em sua própria
história de amor, escreveu sua obra mais importante:
Marília de Dirceu.

Resolve pedir a mão de sua amada em casamento.


Mas estava envolvido na Inconfidência Mineira e foi
acusado de conspiração, sendo preso no Rio de
Janeiro.

Permaneceu recluso cerca de 3 anos e seu casamento


foi anulado. Foi transferido para a África para cumprir
sua sentença (pena de degredo). Ali exerceu a
profissão de advogado e juiz da alfândega.
O Arcadismo
Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,


Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
O Arcadismo

Contextos:

No campo histórico, o arcadismo dialogou com a


Inconfidência Mineira, movimento separatista que
teve vários poetas neoclássicos como líderes. A
obra dos árcades brasileiros pode ser dividida em
“poemas líricos”, “obras satíricas” e “literatura
épica”
O Arcadismo

Colônia;
Ciclo o Ouro;
Derrama;
Inconfidência Mineira

ILUMINISMO FRANCÊS
Conhecimento
Arcadismo no Brasil

Exaltação da natureza
Valorização do cotidiano e da vida simples,
pastoril e no campo (bucolismo)
Crítica a vida nos centros urbanos
Modelo clássico
Linguagem simples
Utilização de pseudônimos
Objetividade

Temas simples:

Amor, vida, casamento, paisagem


Fugere Urbem (fugir da cidade);
Inutilia Truncat (cortar o inútil);
Aurea Mediocritas (mediocridade áurea/vida
comum);
Locus Amoenus (refúgio ameno/agradável)
Carpe diem (aproveitar o dia):

Para os árcades, para que o homem atingisse a


plenitude, era necessário viver o presente, em
harmonia com a natureza, como um pastor de
ovelhas ou um vaqueiro. A vida simples do campo
e a possibilidade do ócio produtivo, ou seja, do
respeito à necessidade de descanso para produzir
grandes obras, eram muito valorizados no
neoclassicismo.
Locus amoenus (lugar ameno):

Como uma espécie de resposta ao preceito


anterior (fugere urbem), o locus amoenus aponta
para o campo, espaço bucólico, como sendo o
ideal para que o homem encontre sua plenitude,
longe das ilusões e conflitos criados pela cidade.
A poesia árcade defendia que apenas no campo
podia-se obter a verdadeira felicidade.
Essa ideia, segundo Antonio Candido, vem dos
sentimentos de frustração que a burguesia viveu
na cidade.
A vida natural no campo era o ideal da relação
humana, o campo era o bem perdido, o cenário
idílico¹. Assim, os árcades propunham uma fuga
da cidade, para se aproveitar a vida (carpe diem)
vivendo num local aprazível (locus amoenus) que
era o campo (ambiente bucólico), de maneira
simples (áureas mediocritas), descartando todas
as coisas desnecessárias e inúteis (inutillia
truncat), inclusive na poesia
Essa ideia de vida natural se relaciona com o ideal
do filósofo francês, Rousseau: o mito do homem
cordial, na figura do bom selvagem, que não foi
corrompido pelos vícios da cidade.

Eu-lírico: Pastor
Musa inspiradora
“Marília de Dirceu” (1792)

Obra essencial do arcadismo brasileiro, o extenso


poema autobiográfico Marília de Dirceu foi
composto pelo poeta luso-brasileiro Tomás
Antônio Gonzaga.

Poemas;
Lirismo;
Pseudônimos
“Marília de Dirceu” (1792)

É a lírica amorosa mais popular da literatura de


língua portuguesa

Em Marília de Dirceu, há a refinada simplicidade


neoclássica: uma dicção aparentemente direta e
espontânea, cheia de imagens graciosas e de
alegorias mitológicas; um ritmo agradável,
suavizado pelos versos curtos, pela alternância
de decassílabos e hexassílabos, pelo uso do refrão
e dos versos brancos.
O poema, dividido em três partes, foi escrito e
divulgado em diferentes momentos da vida do
escritor. A publicação saiu em 1792 (primeira
parte), em 1799 (segunda parte) e em 1812
(terceira parte).

LIRAS

Em termos de estilo literário, a escrita mescla


características do arcadismo com uma emoção
pré-romântica.
Os versos de Marília de Dirceu fazem referência
ao amor proibido de Maria Joaquina Dorotéia
Seixas e do poeta, que se vê refletido nos versos
como o pastor Dirceu.

Dirceu é, portanto, sujeito lírico de Gonzaga, e


canta seu amor pela pastora Marília, sujeito lírico
de Maria Joaquina. Era uma convenção da altura
cultuar as musas como sendo pastoras.
Marília de Dirceu é um longo poema lírico e
narrativo. Escrito em versos, a linguagem
utilizada é simples.

Quanto à estrutura, a obra está dividida em três


partes, com um total de 80 liras e 13 sonetos.

Primeira parte: composta por 33 liras que foram


publicadas em 1792.
Segunda parte: composta por 38 liras que foram
publicadas em 1799.
Terceira parte: composta por 9 liras e 13 sonetos
que foram publicadas em 1812.
Os protagonistas da história são os pastores de
ovelhas: Marília e Dirceu. Ele representa a voz do
poema (eu-lírico).

No livro, são evocados frequentemente elementos


identificados com a vida no campo, estratégia
inspirada na tradição Greco-latina.
A jovem é idealizada pela sua beleza, assim como
o cenário onde os dois se encontram.

A paisagem bucólica do campo é igualmente


louvada:

É bom, minha Marília, é bom ser dono


De um rebanho, que cubra monte e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho e mais que um trono.
O pastoralismo:

Era frequente na criação literária da época. Os


poetas criavam pseudônimos e se identificavam
com pastores a fim de estabelecer uma nobre
simplicidade, deixando de lado as diferenças
sociais e a hipocrisia que acreditavam residir nas
cidades.
A convenção da época ilustrava sempre a amada como
sendo branca (Marília tinha as faces cor da neve), com
o rosto perfeito, o cabelo frequentemente loiro (os
cabelos são uns fios d’ouro). Bela por dentro e por
fora, Marília não só é um exemplo de beleza como
também de gentileza.

Noto, gentil Marília, os teus cabelos.


E noto as faces de jasmins e rosas;
Noto os teus olhos belos,
Os brancos dentes, e as feições mimosas;
Quem faz uma obra tão perfeita e linda,
Minha bela Marília, também pode
Fazer os céus e mais, se há mais ainda.
Aspira-se uma vida tranquila, equilibrada e feliz
no cenário campestre, singelo e simplório, em
sintonia com os que estão ao redor.

Os pastores que habitam este monte


Respeitam o poder de meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha
O amor é tão forte que o eu-lírico imagina a vida inteira ao
lado da amada e planeja até a própria morte, com um
sepultamento conjunto dos corpos, lado a lado.

Dirceu aspira que o seu amor seja exemplo para os


pastores que ficam:

Depois que nos ferir a mão da morte,


Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos que nos deram estes.”
Estrutura do poema
A primeira parte do poema celebra a pastora Marília
como musa e reúne textos escritos antes da prisão.

Já a segunda parte, que continua a louvar a pastora


Marília, condensa os poemas escritos durante a
prisão.

A terceira parte contém poemas que possuem Marília


como musa ao lado de outras pastoras também
igualmente louvadas. Essa reunião contempla poemas
que Gonzaga escreveu antes de conhecer a sua paixão,
quando ele apenas começava a ser um árcade
treinando as convenções da escrita do movimento.
A natureza torna-se, portanto, uma forte
característica, a qual é descrita em diversos
momentos. No entanto, esse amor não pode ser
consumado, visto que Dirceu foi exilado de seu
país.

Na primeira parte da obra, o foco maior é a


exaltação da beleza de sua amada e da natureza.
Parte I, Lira I

“Os teus olhos espalham luz divina,


A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Na segunda parte, o tom de solidão já começa a aparecer, uma
vez que o eu-lírico vai para a prisão. Isso porque Dirceu esteve
envolvido no movimento da Inconfidência Mineira, em Minas
Gerais.

Parte II, Lira I

“Nesta cruel masmorra tenebrosa


Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.

Vejo, Marília, sim, e vejo ainda


A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes”
Por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e solidão é
notório.

Exilado na África, o eu-lírico revela a saudade que sente de sua amada:


Parte III, Lira IX

“Chegou-se o dia mais triste


que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Ímpio Fado, que não pôde


os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”

Você também pode gostar