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JOSÉ MARTINS JULIANO EUSTAQUIO

(Organizador)

MEDICINA DO ESPORTE
no futebol
Pesquisa e Práticas Contemporâneas

editora

científica digital
JOSÉ MARTINS JULIANO EUSTAQUIO
(Organizador)

MEDICINA DO ESPORTE
no futebol
Pesquisa e Práticas Contemporâneas

1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2021 - GUARUJÁ - SP
editora

científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org

Diagramação e arte 2021 by Editora Científica Digital


Equipe editorial Copyright© 2021 Editora Científica Digital
Imagens da capa Copyright do Texto © 2021 Os Autores
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(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

M489 Medicina do esporte no futebol [livro eletrônico] : pesquisa e práticas contemporâneas / Organizador José Martins Juliano
Eustaquio. – Guarujá, SP: Científica Digital, 2021.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-89826-74-3
DOI 10.37885/978-65-89826-74-3
1. Medicina esportiva. 2. Futebol – Aspectos médicos. I.Eustaquio, José Martins Juliano.

2021
CDD 617.1

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422


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APRESENTAÇÃO
Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores, estudantes e pesquisadores
que se destacaram e qualificaram as discussões neste espaço formativo. Resulta, também, de movimentos
interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas
áreas do conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior públicas e privadas de
abrangência nacional. Tem como objetivo trazer conhecimentos científicos e práticos que conectem as
Ciências da Saúde e do Esporte com foco no futebol, através da discussão de temas importantes, alguns
ainda pouco abordados na literatura científica, e expostos nesse livro de forma clara e didática. Agradeço
aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o desenvolvimento e conclusão dessa obra.
Espero também que esta obra sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes e profissionais
que atuem de forma direta ou indireta com a prática do futebol, além de demais interessados pela temática.

José Martins Juliano Eustaquio


SUMÁRIO
CAPÍTULO
01
NOÇÕES BÁSICAS DE PRIMEIROS SOCORROS NO FUTEBOL
José Martins Juliano Eustaquio

' 10.37885/210705501.................................................................................................................................................................................... 13

CAPÍTULO
02
AVALIAÇÃO PRÉ-PARTICIPAÇÃO ESPORTIVA NO FUTEBOL

André Gualberto Jafeth Alves; Carla Tavares Felipe Vieira; Celso Furtado de Azevedo Filho; José Martins Juliano Eustaquio

' 10.37885/210705500.................................................................................................................................................................................. 29

CAPÍTULO
03
PRINCIPAIS LESÕES ORTOPÉDICAS NO FUTEBOL

Marcelo de Carvalho Amorim; José Martins Juliano Eustaquio

' 10.37885/210705502...................................................................................................................................................................................45

CAPÍTULO
04
ODONTOLOGIA DO ESPORTE NO FUTEBOL: REVISÃO DA LITERATURA

Cesar Penazzo Lepri; Carla Silva Carvalho; José Martins Juliano Eustaquio

' 10.37885/210705418................................................................................................................................................................................... 63

CAPÍTULO
05
FUTEBOL DE CAMPO E VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA: REVISÃO DA LITERATURA

José Martins Juliano Eustaquio; Octávio Barbosa Neto

' 10.37885/210705519.................................................................................................................................................................................... 74

CAPÍTULO
06
LOMBALGIA NO ATLETA DE FUTEBOL

Anderson Alves Dias; Paulo Sérgio Machado Rodrigues; Luis Fernando de Faria; José Martins Juliano Eustaquio

' 10.37885/210705520.................................................................................................................................................................................. 85
SUMÁRIO
CAPÍTULO
07
FUTEBOL BASEADO EM EVIDÊNCIAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA DO ESPORTE NO BRASIL
Cristiano Diniz da Silva; João Gustavo Claudino; Emerson Silami Garcia

' 10.37885/210705542.................................................................................................................................................................................. 94

CAPÍTULO
08
ESTUDO PROSPECTIVO DAS LESÕES MUSCULARES EM TRÊS TEMPORADAS CONSECUTIVAS DO CAMPEONATO
BRASILEIRO DE FUTEBOL
Gabriel Furlan Margato; Edilson Ferreira Andrade Júnior; Paulo Henrique Schmidt Lara; Jorge Roberto Pagura; Moisés Cohen; Gustavo
Gonçalves Arliani
' 10.37885/210303435................................................................................................................................................................................. 118

CAPÍTULO
09
ESTRESSE, HUMOR E BURNOUT: UM ESTUDO SOBRE ATLETAS DO FUTEBOL FEMININO
Igor Malinosqui Rinaldi; Mayra Grava de Moraes; Carlos Eduardo Lopes Verardi

' 10.37885/210303876................................................................................................................................................................................. 131

CAPÍTULO
10
NÍVEIS DE CONHECIMENTO E DESIDRATAÇÃO EM JOGADORES JUNIORES DE FUTEBOL
Vanessa Machado Lustosa; Fátima Karina Costa de Araújo; Henrilla Mairla Santos de Morais; Fabiane Araújo Sampaio

' 10.37885/210504580.................................................................................................................................................................................153

CAPÍTULO
11
PERCEPÇÕES DE FUTEBOLISTAS PROFISSIONAIS SOBRE FATORES DE RISCO DE LESÕES E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
UTILIZADAS
Henrique Barbosa Ramos; Styllon Ferreira dos Santos; Danilo Reis Coimbra; Renato Siqueira de Souza; Flávio de Jesus Camilo;
Cristiano Diniz da Silva
' 10.37885/210504677................................................................................................................................................................................. 169

CAPÍTULO
12
TOMADA DE DECISÃO NO FUTEBOL SETE: UMA ANÁLISE SOBRE O ÚLTIMO PASSE E A FINALIZAÇÃO
Guilherme Marinho Alves Duarte

' 10.37885/210504693................................................................................................................................................................................ 188


SUMÁRIO
CAPÍTULO
13
COMPOSIÇÃO CORPORAL DE GOLEIROS DAS CATEGORIAS DE BASE DA ELITE DO FUTEBOL MINEIRO
Elano Silva de Magalhães Berto; Flavia Costa Oliveira Magalhães

' 10.37885/210705525................................................................................................................................................................................ 202


CAPÍTULO
14
ANÁLISE QUANTITATIVA DAS AÇÕES DO GOLEIRO DE FUTEBOL

Elano Silva de Magalhães Berto; Flávia Costa Oliveira Magalhães

' 10.37885/210705550.................................................................................................................................................................................213
CAPÍTULO
15
A ESTATURA COMO CRITÉRIO DE SELEÇÃO NA CAPTAÇÃO E FORMAÇÃO DO GOLEIRO DE FUTEBOL DE CAMPO

Elano Silva de Magalhães Berto; Flavia Costa Oliveira Magalhães

' 10.37885/210705552................................................................................................................................................................................ 225

SOBRE O ORGANIZADOR.....................................................................................................................................236

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 237


01
Noções Básicas de Primeiros Socorros
no futebol

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

10.37885/210705501
RESUMO

O futebol é uma das modalidades esportivas mais populares em todo o mundo. O grande
número de praticantes, associado às características técnicas e táticas, o tornam sujei-
to a um grande número de lesões. Por isso, é necessário a capacitação contínua dos
profissionais da saúde que atuam como socorristas em partidas de futebol. Além disso,
por uma série de fatores, observa-se na atualidade um aumento do número de lesões
potencialmente mais graves, com destaque para as concussões. Isso tem ocasionado
preocupação não só dos profissionais da saúde, como também das Instituições que
regulamentam a prática do esporte. No futebol profissional, há uma exigência mínima
de recursos materiais e humanos que garantem maior segurança para os competido-
res, algo não observado no futebol amador. A divulgação de conhecimentos básicos
de primeiros socorros é algo extremamente relevante e deve abranger todo o público
envolvido na modalidade.

Palavras-chave: Primeiros Socorros, Futebol, Medicina Esportiva.

14
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é uma modalidade esportiva com grande potencial para a ocorrência de le-
sões. Essas lesões podem ocorrer tanto por trauma direto, que envolve o contato físico entre
dois corpos, quanto por trauma indireto, que ocorre sem esse contato. Além dessas, existem
também lesões menos comuns, não relacionadas ao mecanismo traumático, causadas por
sobrecarga musculoesquelética (ʻʻoveruseʼʼ).
De uma forma geral, no futebol, as lesões que mais comumente exigem a retirada
do atleta de campo são as de trauma indireto, representadas principalmente pelas lesões
musculares. Já as contusões, que são os traumas diretos entre dois atletas, ocorrem várias
vezes durante um jogo e geralmente não ocasionam maiores preocupações.
Nesse sentido, é importante destacar dois extremos de atendimento no futebol. Quando
um atleta supostamente apresenta uma lesão e em seguida realiza movimentos de uma
forma chamativa, provavelmente o objetivo dele é manipular a situação. Já nas lesões em
que um atleta permanece imóvel no ambiente esportivo, sem esboçar reação de dor e sem
responder aos chamados dos companheiros, provavelmente é uma situação mais grave e
que exige maior atenção e preocupação.
Para quem atua como socorrista em um evento de futebol, principalmente quando é
de forma direta a um time, necessita observar alguns cuidados prévios ao jogo e que po-
dem ajudar na prevenção de lesões e outras intercorrências mais graves. Primeiramente,
é necessário que os atletas retirem todos os adornos, como brincos, alianças, anéis e simi-
lares, antes que iniciem a prática da modalidade. Lesões relacionadas à presença desses
adornos podem ser mais graves e, em último caso, poderão até comprometer a viabilidade
do segmento corporal, como os dedos. Além disso, outra precaução muito importante é a
proibição da utilização de balas ou chicletes concomitantemente à prática esportiva, pelo
risco de comprometimento da via aérea.
Na abordagem ao atleta para atendimento dentro do ambiente esportivo, é sempre im-
portante que o socorrista o aborde na posição ideal, que é com ambos os joelhos apoiados ao
solo (preferencial) ou em posição agachada com um joelho apoiado ao chão (Figura 1). É proi-
bido que esse atendimento seja realizado na posição totalmente agachada, pois não fornece
estabilidade ao socorrista e pode comprometer a segurança do atendimento.
O conhecimento das condutas de primeiros socorros é extremamente importante para
qualquer pessoa que atua em uma partida de futebol, desde membros da comissão técnica
e juízes aos jogadores. O potencial de se realizar um atendimento adequado é muito maior
nos eventos profissionais, devido à presença obrigatória de equipe médica, de ambulância
devidamente equipada e do desfibrilador externo automático (DEA). Em jogos amadores,
geralmente não há profissional de saúde disponível para os atendimentos médicos. Muitas
15
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
vezes, na melhor das hipóteses, o massagista é o único profissional com algum conheci-
mento da área da saúde para realizar os cuidados iniciais a um atleta.
Esse capítulo foi escrito com base nas principais lesões e traumatismos que ocor-
rem no futebol, através de revisão da literatura e da experiência do autor, que apresenta
aproximadamente doze anos de atuação direta como médico do futebol. O objetivo geral
foi descrever, de forma resumida e através de fácil entendimento, as principais lesões e as
condutas necessárias para atuação dos profissionais da saúde na fase aguda do trauma,
dentro de um evento de futebol.

Figura 1. Posição ideal de atendimento a um atleta no ambiente esportivo.

Fonte: Arquivo próprio do autor.

DESENVOLVIMENTO

Materiais básicos de primeiros socorros

Conforme já comentado, em eventos profissionais, atualmente é obrigatório as presen-


ças de no mínimo uma ambulância devidamente equipada, do DEA e de dois profissionais
médicos (um responsável pelo atendimento das equipes e um responsável pelo atendimento
dentro da ambulância).
Porém, principalmente em campeonatos de divisões inferiores, algumas vezes os
fiscais de uma partida não conferem de forma rígida o funcionamento desses itens obriga-
tórios. A simples presença do veículo configurado como ambulância, de um aparelho de
DEA e da presença física do médico permitem que uma partida seja iniciada. Idealmente,
seria necessário que os fiscais de uma partida confiram, antes de seu início, no mínimo a
existência de equipamentos de primeiros socorros dentro da ambulância (através de checklist
específico) e o funcionamento (ou a data de manutenção) dos aparelhos de DEA.

16
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Como itens básicos para o atendimento de primeiro socorros no evento esportivo,
além do DEA, é necessário no mínimo as presenças de materiais de imobilização (prancha
rígida, blocos rígidos de apoio da cabeça, tirantes laterais, colar cervical, talas flexíveis para
membros, ataduras crepom), curativo (soro fisiológico 0,9%, gazes e compressas estéreis,
atadura crepom, fitas adesivas, touca de natação), auxílio à ventilação (cânula de Guedel,
máscara com ambu, dispositivos de barreira para ventilação), aferição de sinais vitais (es-
figmomanômetro, estetoscópio, oxímetro de pulso) e de crioterapia (nas formas de líquido,
barras, cubos ou spray), além de medicamentos gerais tanto por via oral quanto injetáveis
(principalmente analgésicos, antiinflamatórios, antieméticos, antidiarréicos, produtos hemos-
táticos tópicos, colírios hidratantes, dentre outros) de acordo com o permitido pela regulação
do campeonato e materiais completos para sutura.

Principais motivos de atendimento no local do evento esportivo

1. Concussão

• Características principais

A concussão é uma síndrome clínica caracterizada por alterações da função cerebral


e que tipicamente afeta a memória e a orientação, com envolvimento ou não da perda de
consciência. Ocorre após trauma direto na região do crânio, em um movimento típico de
aceleração e desaceleração da caixa craniana e que repercute com alterações fisiológicas
para o sistema nervoso central. A incidência relativa é maior em mulheres, por razões ana-
tômicas, endocrinológicas e fisiológicas (VEDUNG et al., 2020).
É necessário destacar que a perda de consciência ocorre em menos de 10% dos casos
e a sua presença em um período mais prolongado representa uma lesão traumática cerebral
de maior intensidade (McCRORY et al., 2017). Porém, casos graves podem ocorrer mesmo
na ausência de perda da consciência.
A ocorrência de um segundo episódio de concussão, às vezes até de menor intensi-
dade, em pouco tempo de intervalo do primeiro episódio (geralmente nas duas primeiras
semanas), pode desencadear a Síndrome do Segundo Impacto, que apresenta potencial de
causar repercussões cerebrais importantes e até o óbito do atleta (HARMON et al., 2013).
Outro quadro fisiopatológico relacionado à concussão é a Síndrome Pós Concussão,
representada por sinais e sintomas persistentes por períodos curtos (dias ou semanas) ou
até mais longos (meses ou anos). Desses, os mais comuns são cefaléia, tontura, amné-
sia e dificuldade de concentração. A longo prazo, casos isolados ou repetidos (mais co-
muns) de concussão poderão evoluir para um quadro de encefalopatia traumática crônica,

17
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
caracterizada por degenerações neuronais precoces e suas consequentes repercussões
clínicas (HARMON et al., 2013).

• Tratamento

Na presença potencial de um caso de concussão o atendimento ao atleta deve ser feito


de forma imediata, independente da autorização da arbitragem para a entrada do socorrista.
Porém, devido ao crescente conhecimento sobre o tema e pelos protocolos adotados pela
Federação Internacional de Futebol (FIFA, 2021), atualmente há um treinamento contínuo
aos árbitros sobre as condutas a serem adotadas nas situações de concussão. Cabe des-
taque uma normativa experimental, recentemente divulgada pela Federação, que autoriza
a realização de substituições extras nos casos de concussão (FIFA, 2021).
No momento do atendimento, a escala de coma de Glasgow é um parâmetro objetivo
e de fácil aplicabilidade. De forma associada, deve-se avaliar o grau de confusão mental,
com perguntas como ʻʻOnde você está?, Quanto está o jogo?, Qual seu nome?ʼʼ. Além disso,
deve ser feito a pesquisa de sinais e sintomas como cefaléia, tontura, confusão mental, nis-
tagmo e/ou outras alterações visuais, além da avaliação de ferimentos na cabeça e na face
e avaliação de dor na coluna cervical. Caso o atleta tenha dor nesse segmento da coluna,
ou de acordo com a gravidade do trauma, é importante estabilizar esse segmento vertebral
através do colar cervical (HUBERTUS et al., 2019).
Diferentes Federações Internacionais criaram ferramentas práticas para auxiliar o diag-
nóstico da concussão. O Concussion Recognition Tool (CRT) fornece informações para que
o socorrista, médico ou não, realize uma abordagem prática e rápida no primeiro atendimento
ao atleta vítima de concussão (ECHEMENDIA et al., 2017). Já o Sport Concussion Assesment
Tool (SCAT) é uma ferramenta mais completa, utilizada pelo médico ou profissional da saú-
de habilitado em atendimentos de emergência, comumente empregado no vestiário e no
acompanhamento clínico evolutivo do atleta após a concussão (ECHEMENDIA et al., 2017).
Na suspeita de concussão o atleta deve ser retirado de jogo, tanto devido aos prejuí-
zos à sua performance quanto ao risco à sua saúde, independentemente das condições
técnicas ou táticas envolvidas na partida. Esse é um conceito importante e que deve ser
amplamente divulgado para todos aqueles que atuam no esporte. Caso o atleta não aceite
ser substituído, o que é comum de acontecer, a comissão técnica deve assumir a respon-
sabilidade e retirá-lo de jogo.
Após toda a propedêutica de diagnóstico e terapia, muitas vezes complementada na
fase inicial a nível hospitalar, o atleta permanece afastado do esporte por tempo indeter-
minado. As avaliações clínicas seriadas são extremamente importantes como parâmetros
objetivos para considerar a melhora gradativa.
18
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O retorno ao esporte é precedido por atividades realizadas em caráter progressivo,
inicialmente de baixa intensidade e de baixo volume, que avaliam a resposta neurológica do
atleta ao exercício físico. Quando houver respostas clínica e computadorizada satisfatórias
em relação aos parâmetros motor e cognitivo, o atleta estará apto a retornar aos treinamentos
habituais (HUBERTUS et al., 2019).
Devido ao aumento do número de casos de concussão, profissionais da saúde têm
realizado avaliações neurocognitivas de forma profilática e rotineira nos clubes do futebol, até
mesmo em atletas da base, como forma de se estabelecer parâmetros basais comparativos
caso o atleta apresente no futuro uma concussão (WALTZMAN et al., 2019).

2. Ferimento de face

• Características principais

Os ferimentos em face são muito comuns no futebol, principalmente aqueles que en-
volvem a região do supercílio, causados por traumatismos diretos. Outro local anatômico
comum de acometimento é a região nasal, que evolui com epistaxes de diferentes gravidades.
Nesses casos, é essencial a exclusão de quadros associados de concussão, pois nessas
situações é obrigatório proceder à retirada do atleta de jogo (KRUTSCH et al., 2018).

• Tratamento

Os ferimentos de face geralmente evoluem com sangramentos ativos e, nesses casos,


é necessário que ocorra a interrupção do sangramento externo para que o atleta retorne ao
jogo. Além disso, é importante realizar a palpação das superfícies ósseas, na pesquisa de
dor importante ou crepitações, o que sugerem a presença de alguma fratura.
De forma mais imediata, no ambiente esportivo, recomenda-se a compressão do local
com gazes e a colocação de um suporte externo, como uma touca de natação ou ataduras
crepom para os ferimentos externos e uma gaze enrolada sobre o seu eixo nas epistaxes (ou
rinorragias). Devido ao grau de sudorese do atleta, fica difícil a estabilização dos ferimentos
apenas com gazes e fitas adesivas. A interrupção do sangramento externo, independente
do ferimento, permite que o atleta retorne ao jogo.
Assim que houver oportunidade, como no intervalo ou ao final da partida, realiza- se
o tratamento definitivo dos ferimentos, após lavagem do local com soro fisiológico 0,9%.
Aqueles maiores que 1 cm e/ou com sangramento ativo (sem melhora com compressão direta
com gazes) são tratados com a realização de sutura e curativo com gazes e fita adesiva e,
naqueles menores que 1 cm, realiza-se apenas o posicionamento de gazes e fita adesiva,
ambos seguidos por curativos diários.
19
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Para as epistaxes ou rinorragias, recomenda-se a colocação de um dedo de luva com
várias microperfurações preenchido internamente com uma gaze enrolada sobre o seu
eixo. Essa medida servirá para o tamponamento mecânico do sangramento. Caso existam
ampolas de adrenalina no local recomenda-se o seu uso, diluído em soro fisiológico 0,9%,
como medida química para diminuir o sangramento.

3. Traumatismo musculoesquelético fechado

• Características principais

Essas são as lesões mais comuns do futebol (LÓPEZ-VALENCIANO et al., 2020). Nessa
categoria incluem desde traumas mais simples e rotineiros, como as lesões musculares, até
traumas de maior gravidade, como as luxações ou fraturas.
As lesões musculares apresentam-se clinicamente com dor localizada em um segmento
corporal, principalmente coxa e perna. No futebol é típico a imagem do atleta que, durante a
fase de contração excêntrica na corrida, palpa a face posterior da coxa, em referência a uma
lesão de isquiotibiais. Atualmente, termos consagrados representativos de lesão muscular,
como distensão e estiramento, estão em desuso, e no lugar deles recomenda-se o emprego
do termo ruptura muscular (parcial ou total) (MUELLER- WOHLFAHRT et al., 2013).
As entorses, caracterizadas por movimentos rotacionais, geralmente estão associa-
das a lesões articulares, principalmente ligamentares. Além disso, esse mecanismo de
trauma, quando acomete segmentos não articulares, pode desencadear fraturas com mor-
fologia em espiral.
As fraturas assumem diferentes quadros clínicos, de acordo com a gravidade da lesão.
Fraturas incompletas podem até passar desapercebidas pelo atleta no momento do jogo, ao
contrário das fraturas completas que, independentemente da região anatômica acometida,
vão ocasionar dor importante, edema e deformidade local.
Já uma das lesões mais graves desse grupo são as luxações, caracterizadas pela perda
da congruência articular. Clinicamente, o atleta apresenta-se com dor de forte intensidade,
deformidade articular e ausência da amplitude de movimento da articulação. As luxações
necessitam de tratamento o mais precoce possível.

• Tratamento

Para o tratamento dessas lesões, de forma mais imediata, emprega-se o conceito


do protocolo POLICE, representado por carga otimizada e repouso relativo, crioterapia,
compressão e elevação do membro (BLEAKLEY et al., 2012). Outros protocolos foram
criados principalmente para nortear as etapas iniciais de reabilitação dos atletas, porém o
20
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
protocolo POLICE continua como referencial de escolha para o emprego na fase aguda do
trauma esportivo.
Essas medidas físicas e mecânicas são realizadas no intuito de se diminuir o processo
inflamatório e, consequentemente, a dor do atleta. Assim, de uma forma geral, para todas as
lesões musculoesqueléticas fechadas indicam-se as realizações de repouso relativo (com
imobilização provisória nos traumas mais graves), proteção do local (como por exemplo
evitar carga, nas lesões dos membros inferiores) e a aplicação de crioterapia de forma pre-
coce. A crioterapia é feita de forma compressiva e, idealmente, durante 20 minutos seguidos,
em frequência de hora em hora.
As lesões musculares de membros inferiores demandam, preferencialmente, retirada
imediata do atleta de jogo pois, ao contrário, haverá um aumento da gravidade da lesão. Já as
lesões musculares de membros superiores, devido à menor demanda desses segmentos,
permitem que os atletas continuem em jogo, exceto geralmente no caso dos goleiros. Porém,
em situações extremas, de acordo com a necessidade da presença do atleta em jogo e com
adaptações específicas (como evitar corridas nos casos de lesões musculares dos mem-
bros inferiores, por exemplo), pode-se considerar que o atleta continue na partida. Nesse
tipo de lesão, não é necessário a realização de imobilizações externas e recomenda-se a
aplicação de bolsas de gelo (preferencialmente através de compressão) de forma precoce,
para diminuição do processo inflamatório agudo adjacente à lesão.
Nas lesões articulares, que geralmente são causadas por entorse e associadas a le-
sões ligamentares, é importante que o socorrista avalie os graus de instabilidade e derrame
articular (ou edema para as lesões extra-capsulares). De uma forma geral, a instabilidade
representa a presença de lesões ligamentares ou fraturas e o derrame articular reflete a
presença de uma ou mais lesões intra-articulares (ósseas, cartilaginosas, meniscais, capsu-
lares, dentre outras). Nos casos mais leves a continuação do atleta em jogo, apesar de não
ser ideal, é possível, exceto nos casos de dor articular intensa, derrame articular no mínimo
moderado e/ou instabilidade funcional.
Nos casos de sinais clínicos de fraturas, como dor localizada, deformidade, edema e
crepitação, é necessário que o atleta seja substituído. Nas fraturas mais graves, em que
o segmento lesionado encontra-se instável, é necessário que o local seja imobilizado no
ambiente de jogo, no mínimo através de férula metálica para dedos da mão, tipóia para os
membros superiores e tala flexível para os membros inferiores.
As luxações são lesões graves pelo potencial de degeneração articular e, por isso,
exigem redução imediata, realizada por socorrista habilitado. Após a realização da redução
é necessário realizar a imobilização da articulação. No futebol, cabem destaque as luxa-
ções do dedo da mão nos goleiros e do ombro nos atletas de outras posições. A redução
21
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
da luxação do dedo pode ser resolvida no ambiente esportivo, geralmente através de apoio
em ponto proximal da mão e tração em posição distal do dedo. Já a redução da luxação de
ombro exige, na grande maioria das vezes, um ambiente mais reservado, como o vestiário.
Nos casos em que ocorra a redução incruenta com sucesso (pela avaliação clínica), o atleta
poderá até retornar a campo, em situações extremas, desde que não ocorra estresse sobre
o segmento lesionado. Porém, vale destacar que essa conduta de retorno ao jogo não é a
ideal, visto que um exame radiográfico deve ser sempre realizado tanto antes quanto após
uma redução de luxação, seguido por repouso relativo do membro durante algumas semanas.
De uma forma geral, para todo trauma dos membros superiores e cintura escapular,
a realização de uma tipóia simples, com no mínimo uma atadura crepom, é suficiente para
estabilizar provisoriamente o segmento (Figura 2). Nos traumas de membros inferiores de
menor gravidade, orienta-se que o atleta evite carga no membro. Já nos traumas de maior
gravidade é necessário imobilização do membro inferior através de talas flexíveis, que são
estabilizadas com atadura crepom.

Figura 2. Tipóia simples para imobilização de traumas nos membros superiores.

Fonte: Arquivo próprio do autor.

4. Traumatismo musculoesquelético aberto

• Características principais

Esse tipo de trauma envolve, na grande maioria das vezes, ferimentos superficiais em
membros ocasionados por traumas diretos com o corpo do oponente, com objetos do opo-
nente (como as chuteiras) ou até objetos estranhos (como vidros, arames, dentre outros) pre-
sentes no ambiente esportivo. Porém, podem estar relacionados a traumas de maior energia,
caracterizados por exposição de tecidos nobres, como tendões, ligamentos, nervos e ossos.
Devido a ferimentos dessa natureza, o socorrista, ao atender um atleta em campo,
deve estar paramentado com luva de procedimento preferencialmente de cor clara, para
que possa realizar a palpação do segmento lesionado e verificar a presença de algum tipo
22
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de sangramento. Essa medida é extremamente importante para o diagnóstico de ferimentos
em locais do corpo de maior dificuldade de visualização direta.

• Tratamento

No ambiente esportivo, a presença de qualquer ferimento em membro demanda a ne-


cessidade de se realizar um curativo compressivo, com gazes e atadura crepom. Antes da
realização do curativo, é importante realizar a lavagem do ferimento com soro fisiológico 0,9%.
Os ferimentos que ocorrem nos membros superiores são mais satisfatórios para o re-
torno do atleta ao jogo. Quanto aos ferimentos dos membros inferiores, aqueles presentes
na perna são de mais fácil estabilização, devido à presença da vestimenta sobre o curati-
vo. De toda forma, caso o ferimento esteja todo coberto, sem a presença de sangramento
externo, permite-se o retorno do atleta ao jogo.
No momento oportuno, geralmente no intervalo ou ao final da partida, os ferimentos
com tamanho aproximado maior que 1 cm são suturados e cobertos por curativo estéril (com
gazes e fita adesiva ou gazes e atadura crepom).
Nos casos de ferimentos maiores e naqueles em que há exposição de estruturas nobres,
é necessário a realização de curativo compressivo, conforme mencionado anteriormente,
e a substituição do atleta. Caso esteja associado a fratura, o membro deverá ser também
imobilizado e, por ser uma fratura exposta, o atleta deverá ser encaminhado imediatamente
a uma unidade hospitalar.

5. Síncope (mal súbito)

• Características principais

Síncope é a ocorrência da perda de consciência e pode representar uma série de in-


tercorrências clínicas. Diante dessa condição, é necessário realizar a estabilização clínica
do atleta e, em um segundo momento, investigar o seu motivo.
No futebol, cabe destaque a realização do exercício em condições ambientais insa-
tisfatórias, até mesmo no Campeonato Brasileiro da primeira divisão, em que jogos são
realizados às 11 horas. De forma preventiva, em jogos realizados em ambiente quente e
seco, é necessário cuidados com a potencial desidratação e, em ambiente quente e úmido,
o cuidado maior é com o risco de hipertermia. Essa última situação pode desencadear o
surgimento de alterações patológicas relacionadas ao aumento da temperatura corporal,
como fadiga muscular e síncope, e evoluir para condições clínicas mais graves, como a
hipertermia de esforço.

23
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, de uma forma geral, na presença de uma síncope é sempre necessário descartar
uma situação mais grave, que é a parada cardiorrespiratória (PCR). Para essa circunstância,
exige-se a presença de profissionais habilitados na realização do atendimento.

• Tratamento

No caso em que um jogador apresente uma queda ao solo de forma súbita, sem motivo
traumático aparente e sem reação de proteção na queda, o socorrista deve imediatamente
dirigir-se ao atendimento, independente da autorização pela equipe de arbitragem.
Nas situações em que as características do evento e da prática esportiva sejam su-
gestivas de síncope por hipertermia, após avaliação inicial dos sinais vitais, é necessário a
retirada imediata do atleta da partida e o posicionamento em ambiente ventilado, além de
proceder ao resfriamento imediato (DOUMA et al., 2020), através de imersão em água fria
(em torno de 17°C), de preferência sobre fluxo contínuo, e otimização da hidratação, por via
oral ou endovenosa (LUHRING et al., 2016).
O protocolo de atendimento é realizado com base nas diretrizes de 2020 da American
Heart Association para ressuscitação cardiopulmonar (MERCHANT et al., 2020). Logo no
momento do atendimento, o socorrista deve confirmar que o ambiente em que ele se encon-
tra é seguro. Após essa confirmação, ele deve posicionar-se ao lado do atleta, em posição
ajoelhada, e provocar estímulo através de contatos tátil e verbal. Se o atleta apresentar
qualquer tipo de resposta, exclui-se uma situação de PCR, porém é necessário que ele seja
substituído e o motivo da síncope seja investigado. Caso o atleta não responda ou esteja em
respiração agônica (gasping), é necessário que o socorrista direcione alguém para chamar
a ambulância e pedir o desfibrilador (DEA).
Feito isso, o socorrista deverá palpar o pulso carotídeo do atleta durante o período
máximo de 10 segundos. Se o pulso estiver palpável, é necessário avaliar a via aérea do
paciente, na pesquisa de algum corpo estranho. Além disso, é necessário proceder à es-
tabilização da via aérea através da anteriorização da mandíbula ou elevação do mento, à
proteção da coluna cervical e à avaliação dos sinais vitais, como pressão arterial, saturação
periférica de oxigênio, frequência cardíaca, frequência respiratória e resposta neurológica
(escala de coma de Glasgow).
Caso não tenha pulso palpável (ou tenha dúvida sobre a presença de pulso palpável),
inicia-se a ressuscitação cardiopulmonar (RCP), baseada na realização de 30 compressões
torácicas e 02 ventilações, na frequência de 100 a 120 compressões por minuto.
Assim que chegar o DEA, o aparelho deve ser posicionado sobre o tórax do atleta e
apenas no momento da checagem do pulso é que as compressões torácicas devem ser in-
terrompidas. Uma vez feito a checagem do ritmo e observado a necessidade de desfibrilação,
24
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
é importante que todos ao redor do atleta se afastem e, após a desfibrilação, retomam-se
as compressões torácicas nos mesmos ritmo e frequência.
Se a segurança do local de atendimento e os recursos humanos e materiais forem
suficientes, todo o atendimento inicial deve ser feito no ambiente esportivo ou na ambu-
lância presente no local. Para isso, além da realização da RCP, é necessário que a equipe
de socorrista puncione um acesso venoso periférico e inicie a administração das drogas
preconizadas nos casos de PCR. O atleta deverá ser encaminhado à unidade hospitalar,
devidamente posicionado em prancha rígida, no momento em que apresentar estabilização
clínica mínima para o transporte.
O atendimento a um caso de PCR em evento esportivo, de uma forma geral, envolve
uma série de equívocos e expõe a fragilidade estrutural e humana existente, até mesmo em
campeonatos profissionais. Os programas de educação continuada e a profissionalização
cada vez maior da Medicina Esportiva no futebol ajuda a minimizar os erros existentes no
atendimento ao atleta. Além disso, em jogos profissionais, a obrigatoriedade das presenças
mínimas de equipe médica, de uma ambulância e do DEA encurta bastante o tempo de
socorro definitivo.

6. Traumatismo sistêmico/Politraumatismo

• Características principais

Essa classe envolve os casos de traumas no tórax, abdome, pelve, colunas e crânio,
representadas por acidentes de maior energia. A associação de traumatismos em dois ou
mais sistemas orgânicos é conhecida como politraumatismo. Para esses casos, é neces-
sário maior preocupação do socorrista quanto ao potencial da existência de lesões graves.
Essas lesões são causadas por traumas diretos, comumente em jogadas divididas com o
atleta oponente.

• Tratamento

No momento do atendimento é necessário avaliar a segurança do ambiente (para o


socorrista e para o atleta) e executar o passo a passo de atendimento ao politraumatizado
(ABCDE do trauma), baseado nas técnicas sequenciais de avaliação da abertura das vias
aéreas com proteção da coluna cervical, da ventilação, da circulação, do estado neurológico
e da exposição corporal com controle da temperatura.
A avaliação da abertura das vias aéreas é realizada através da responsividade do atle-
ta e, nos casos sem resposta, pela elevação do mento ou anteriorização das mandíbulas,
sempre com a necessidade de proteção da coluna cervical. Nos casos em que o atleta se
25
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
encontre inconsciente, é necessário a colocação da cânula de Guedel para evitar a pos-
teriorização da língua. A ventilação, quando indicada, é realizada através de dispositivos
externos, como boca barreira ou bolsa válvula máscara (ambu).
A circulação é avaliada pela presença de sangramentos visíveis ou potenciais e, no
atleta inconsciente, pela palpação de pulso central. Para avaliação da resposta neurológi-
ca utiliza-se a escala de coma de Glasgow, baseada nas respostas ocular, verbal e mo-
tora. Em locais com baixas temperaturas, é necessário realizar a proteção do atleta com
mantas térmicas.
Na suspeita de qualquer lesão dessa natureza, devido ao potencial de gravidade das
lesões, o atleta deverá ser retirado de jogo em prancha rígida, com os posicionamentos do
colar cervical, dos blocos semirrígidos laterais à cabeça e dos tirantes estabilizadores, além
de imobilização de eventuais traumas associados de membros.
A avaliação dos sinais vitais, como nível de consciência (escala de coma de Glasgow),
frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação periférica de oxigênio, pressão arte-
rial, além das avaliações específicos do local traumatizado, devem ser realizadas de forma
inicial ainda no local do evento esportivo, durante a avaliação primária, e repetidos de forma
seriada até a chegada à unidade hospitalar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As lesões no futebol apresentam incidências cada vez maiores, reflexo da competitivida-


de crescente e do alto volume de partidas, principalmente entre os profissionais. Além disso,
observa-se um aumento de lesões potencialmente mais graves, como as concussões. Por
isso, a comunidade científica tem dedicado atenção no estudo de protocolos de prevenção
de lesões nessa população, cujos benefícios serão expressados tanto na saúde dos atletas
quanto na redução dos custos financeiros gastos nessas situações.
Como no futebol não há uma homogeneidade em relação aos recursos materiais e
humanos entre as classes amadora e profissional, a divulgação de conhecimentos básicos
sobre primeiros socorros é extremamente relevante para a saúde dos atletas. Além disso,
mesmo em campeonatos de divisões superiores, nos quais esses recursos são mais abun-
dantes, observam-se erros comuns durante o atendimento aos atletas, muitas vezes pela
falta de adoção de protocolos e pelo despreparo dos profissionais socorristas.
A atenção à saúde dos atletas, através de capacitações dos profissionais e de melho-
ria dos recursos disponíveis nas partidas de futebol, é reflexo de mudanças políticas das
Instituições que regulamentam o esporte. Essa necessidade tem sido bastante discutida na
atualidade e com certeza irá gerar benefícios importantes para todos que atuam nesse esporte.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
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27
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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28
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
02
Avaliação pré-participação esportiva
no futebol

André Gualberto Jafeth Alves


Clube Atlético Mineiro - Belo Horizonte/MG

Carla Tavares Felipe Vieira


Minas Tênis Clube - Belo Horizonte/MG

Celso Furtado de Azevedo Filho


América Futebol Clube - Belo Horizonte/MG

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

10.37885/210705500
RESUMO

A necessidade da avaliação pré-participação esportiva reflete o lado dicotômico do es-


porte, que atua tanto na prevenção e no tratamento de patologias quanto pode estar
relacionado ao surgimento e à piora de patologias sistêmicas. Essa avaliação fornece aos
profissionais da saúde parâmetros objetivos de elegibilidade e da capacidade funcional
para a prática do exercício físico. No futebol profissional percebe-se a obrigatoriedade
em se realizar essa avaliação de forma rotineira. Porém, no futebol amador ainda não
há essa exigência. O emprego da avaliação pré-participação no futebol em geral, pelo
menos em sua forma mais básica, através de anamnese e de exame físico efetivo, é
uma necessidade prioritária devido ao grande número de adeptos do esporte e à grande
quantidade de patologias subclínicas que podem culminar no surgimento de intercorrên-
cias graves aos praticantes do esporte.

Palavras-chave: Futebol, Exame Médico, Medicina Esportiva.

30
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O exercício físico é um importante recurso não medicamentoso na prevenção de dife-


rentes condições patológicas, como hipertensão arterial sistêmica, doença arterial corona-
riana, diabetes, obesidade, neoplasias, transtornos psiquiátricos, dentre outras. Atualmente,
muito relacionado às limitações de convívio social que a Pandemia pelo COVID-19 propor-
cionou, tem-se observado um aumento exponencial no número de praticantes (JIMÉNEZ-
PAVON et al., 2020).
Normalmente, o exercício físico não provoca eventos cardiovasculares em indivíduos
saudáveis, porém os indivíduos que o realizam em intensidade vigorosa e que tenham alguma
patologia cardiovascular apresentam aumento do risco de evento súbito, que é a principal
causa de morte não traumática no esporte (EMERY et al., 2018).
Os casos de parada cardiorrespiratória (PCR) no futebol são raros, porém causam uma
grande comoção, pois considera-se que os jogadores geralmente são indivíduos sadios e que
exercem uma profissão atribuída ao cuidado à saúde. O caso ocorrido com o atleta Serginho,
do São Caetano, em 2004, motivou uma série de mudanças protocolares de atendimento
em eventos esportivos. Em 2021, novo caso gerou grande repercussão, mas dessa vez
devido ao sucesso do atendimento precoce. Nesse caso, o jogador dinamarquês Christian
Eriksen apresentou uma PCR durante partida da Eurocopa e foi socorrido prontamente e
com sucesso, dentro do evento esportivo.
A incidência de morte súbita pode variar de 0,5 a 2,3 por 100 000 atletas por ano.
Dentre as principais causas em atletas abaixo de 35 anos destacam-se a miocardiopatia
hipertrófica, a displasia arritmogênica do ventrículo direito, a origem anômala das artérias
coronárias, a miocardite, a doença valvar, as síndromes de pré excitação e as doenças do
sistema de condução. Em atletas acima de 35 anos a principal causa é a doença arterial
coronariana (CORRADO et al., 2006).
Para reduzir os riscos de morte súbita relacionada à atividade física, a Sociedade
Americana de Cardiologia, a Sociedade Européia de Cardiologia e, também, a Sociedade
Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, estabeleceram diretrizes para elaboração
de critérios de elegibilidade e desqualificação para atletas competitivos. O Centro Médico e
de Pesquisa da FIFA (F-MARC) também desenvolveu uma avaliação médica pré-participação
(APP) para jogadores de futebol de elite, com testes de reprodutibilidade realizado nos jogado-
res que participaram da Copa do Mundo FIFA em 2006, na Alemanha, e em jogadores de fute-
bol juvenil masculino e feminino no nível de elite internacional (THÜNENKÖTTER et al., 2009).
Além disso, a realização da APP é o momento adequado para entender qual o sta-
tus de saúde e performance do esportista e, a partir daí, planejar uma temporada ou uma

31
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
periodização de treinamento visando otimizar o rendimento e minimizar afastamentos por
lesões ou doenças.
O objetivo geral desse capítulo foi abordar os principais aspectos relacionados à APP
no futebol, de acordo com dados da literatura, e realizar uma abordagem do que é realizado
na prática nas categorias profissional e amadora de futebol.

DESENVOLVIMENTO

A avaliação clínica pré-participação para atividades esportivas deve ser entendida


como uma avaliação médica sistemática, realizada previamente ao treinamento, e periódica,
pois patologias subclínicas podem se manifestar durante algum momento da prática espor-
tiva. Os objetivos principais desta avaliação é a prevenção do desenvolvimento de doenças
do aparelho cardiovascular e da morte súbita, por meio da proibição temporária ou definitiva
da realização de atividades físicas em determinadas patologias, e o tratamento precoce de
condições que possam ser potencialmente fatais e desencadeadas pelo exercício físico
(MARON et al., 2005).
Existem algumas divergências na literatura sobre quais são os métodos mais sensíveis,
específicos e economicamente viáveis para a APP. Nos anos de 2004 e 2005, a Sociedade
Europeia de Cardiologia (ESC) (9) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) (BILLE et al.,
2006) publicaram recomendações muito semelhantes, contrastando com as diretrizes ame-
ricanas, particularmente em relação à inclusão do eletrocardiograma de repouso de 12
derivações (ECG) na triagem primária. A inclusão de ECG é baseado principalmente em
estudos italianos (CORRADO et al., 2006), que evidenciaram uma diminuição significativa
do risco de morte súbita relacionada ao exercício físico.
Idealmente, a APP deve abranger, no mínimo, as avaliações físicas geral, cardiovas-
cular e ortopédica. Caso sejam encontradas alterações, torna-se necessário a realização
de avaliações e exames complementares.

Avaliação pré-participação esportiva básica

1. Avaliação física geral

Todo jogador, antes do início da prática do futebol, em qualquer nível de intensidade,


deve se submeter a exame médico que permita a detecção de alterações que possam com-
prometer a sua saúde. Nessa avaliação serão pesquisados fatores de risco para doenças
e lesões, com foco na investigação de sinais e sintomas sugestivos de doenças cardiovas-
culares, pulmonares e metabólicas e de alterações do aparelho musculoesquelético. Essa
32
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
avaliação pode ser feita de forma efetiva através de um exame físico geral, realizado na
primeira avaliação do jogador.
A avaliação deve ser iniciada com os dados pessoais e epidemiológicos do atleta,
como data de nascimento, nacionalidade e regiões de origem e procedência. Esse dado
é importante, por exemplo, para atletas com origem na Região do Vêneto, na Itália, onde
há maior incidência de displasia arritmogênica do ventrículo direito, e também de algumas
Regiões do Brasil, devido à maior incidência da Doença de Chagas. O histórico pessoal
deve ser completado através do histórico de doenças, histórico de vacinação, uso regular de
medicamentos, histórico de alergias, etilismo e tabagismo, uso de drogas lícitas ou ilícitas,
suplementação ou consumo de demais substâncias que possam configurar como doping,
além da história familiar de doenças e morte súbita (GHORAYEB et al., 2019).
A característica técnica do atleta no futebol, como posição, membro dominante e outras
variações relacionadas ao jogo, devem ser argumentadas e registradas, com objetivo de se
criar um banco de dados para a elaboração de protocolos de prevenção futura de lesões
musculoesqueléticas.
É importante questionar a presença de qualquer sinal ou sintoma relacionado ao esfor-
ço físico, mesmo que antigo, pois essa queixa pode conduzir a alterações patológicas mais
específicas. Uma anamnese adequada pode identificar ou, pelo menos, levar à suspeita de
até 75% dos problemas de saúde relacionados aos atletas (MARON et al., 2015).
Além das avaliações cardiológica e ortopédica, que serão tratadas de forma individua-
lizada, o exame físico inicial deve incluir dados de altura, peso e índice de massa corporal,
palpações da tireóide e de gânglios linfáticos, além de exame físico completo dos sistemas
pulmonar, cardiovascular e abdominal.
Seguindo as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do
Esporte, exames laboratoriais básicos devem ser incluídos na avaliação de rotina, com des-
taque para hemograma completo, glicemia de jejum, uréia e creatinina, lipidograma completo,
ácido úrico, hepatograma (TGO, TGP, gama-GT, bilirrubinas, TAP/INR), perfil do ferro sérico,
exame de urina, exame parasitológico de fezes e diferentes sorologias (GHORAYEB et al.,
2019). Bom exemplo da importância da realização dos exames laboratoriais relaciona-se a
baixas reservas de ferro que pode estar relacionada a importante redução do desempenho,
especialmente nas atletas do sexo feminino.
Quanto aos exames de imagem, a radiografia de tórax nas incidências anteroposterior
e perfil esquerdo também deve ser solicitada, por se tratar de exame de baixo custo e com
capacidade de fornecer informações sobre doenças cardiovasculares, pulmonares e torácica
(GHORAYEB et al., 2019).

2. Avaliação cardiovascular
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Atenção especial deve ser dada ao sistema cardiovascular, uma vez que configura a
principal causa de morte não traumática no esporte (MARON et al., 2005). A avaliação car-
diológica no futebol deve ser realizada por um médico experiente e qualificado para identificar
eventuais sinais clínicos ou sintomas cardiovasculares críticos no esporte.
As recomendações sugerem que, na anamnese, o atleta seja questionado sobre a
presença de dor ou desconforto no tórax induzido por esforço, síncope, pré-síncope, palpi-
tações, dispnéia ou fadiga desproporcional ao grau de esforço. É importante ressaltar que a
síncope inexplicada no atleta deve ser encarada como um episódio de morte súbita abortada
espontaneamente, com necessidade de investigação rigorosa e rápida.
Grande parte dos atletas considerados de risco não apresentam sintomas prévios
e a APP é a única estratégia com potencial de identificar algum distúrbio cardiovascular
(ABBATEMARCO et al., 2016). Isso explica o motivo pelo qual um protocolo de triagem
não rigoroso, baseado apenas na queixa clínica e no exame físico geral, principalmente se
realizado por médico não especialista em Medicina Esportiva, é limitado para identificação
de atletas em risco de morte súbita.
A investigação da história pessoal e familiar é muito importante, pois a grande maioria
das mortes súbitas em jovens atletas é causada por malformações cardíacas congênitas ou
adquiridas, como a cardiomiopatia hipertrófica (CMH), responsável por aproximadamente
um terço dos casos, seguido por origem anômala da artéria coronária, cardiomiopatia ar-
ritmogênica do ventrículo direito (ARVC), miocardites, anomalias do sistema de condução,
síndrome do QT longo e QT curto, síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), dentre ou-
tros (CORRADO et al., 2006). A incidência de commotio cordis, que acontece em corações
estruturalmente normais, apesar de rara, também é de risco no futebol (MENEZES et al.,
2017). Acima de 35 anos de idade, a principal causa de morte súbita em atletas é a doença
arterial coronariana (CORRADO et al., 2006).
No exame físico cardiovascular merecem atenção a presença de mucosas descoradas
(anemia), focos infecciosos clínicos e subclínicos (dentários, por exemplo), doenças sistêmi-
cas ou infecciosas graves, asma brônquica, obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial
sistêmica, doenças renais, alterações da ausculta pulmonar e cardiovascular e situações
especiais como a gravidez (MARON et al., 2007).
Além disso, deve-se ter atenção especial na procura de alguns sinais característicos
e relacionados a doenças cardiovasculares, como presença de sopro cardíaco, terceira ou
quarta bulhas cardíacas, estalidos valvares, alterações na palpação dos pulsos de mem-
bros superiores e inferiores, características físicas de Síndrome de Marfan e assimetrias de
pressão arterial sistêmica nos membros superiores (GHORAYEB et al., 2019).

– Eletrocardiograma (ECG)
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Um dos principais aspectos relacionados à aplicação da APP em nível abrangente é
a relação custo efetividade. A Sociedade Americana de Cardiologia defende apenas a rea-
lização de uma APP básica, através de questionário e exame físico (MARON et al., 2015),
enquanto que a Sociedade Européia de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Medicina do
Exercício e do Esporte, além de associações esportivas como, por exemplo, a Federação
Internacional de Futebol – FIFA e a National Basketball Association – NBA, reforçam o em-
prego rotineiro do eletrocardiograma, com o objetivo de se diminuir a incidência de morte
súbita em atletas (GHORAYEB et al., 2019).
A longa experiência italiana forneceu evidências de que o emprego do ECG de 12
derivações, associado à história e ao exame físico, é eficaz na identificação de doenças
cardiovasculares potencialmente letais em atletas (CORRADO et al., 2007).
O ECG convencional de 12 derivações deve ser realizado com o indivíduo em decú-
bito dorsal, com repouso prévio de no mínimo 5 minutos, obtido no mínimo 24 horas após
a última atividade esportiva e registrado em velocidade de 25 mm/s. Cabe destacar que
algumas anomalias de condução, como as Síndromes do QT longo e curto, Síndrome de
Brugada e Síndromes de pré-excitação (como o Wolff-Parkinson-White) são diagnosticados
especificamente pelo eletrocardiograma.
A interpretação de um ECG de triagem em atletas pode ser desafiadora. Ela requer
treinamento e atenção aos detalhes para diferenciação entre achados sem repercussão
clínica, típica de atletas de melhor performance, e aqueles achados que possam indicar a
presença de patologia cardíaca (SHARMA et al., 2018). As adaptações cardíacas normais
(“fisiológicas”) do treinamento podem levar a achados de ECG que, quando considerados
na população em geral, podem ser considerados patológicos. Isso é mais comum em atle-
tas que realizam programas de treinamento de resistência, mas também está presente em
muitos jogadores de futebol, pois o treinamento e a competição envolvem componentes
físicos intermitentes.
Cerca de 80% dos ECG dos atletas apresentam alterações comuns que não necessitam
investigação complementar, como bradicardia sinusal, bloqueio atrioventricular de primeiro
grau, bloqueio atriovenrticular de 2º grau Mobitz I, distúrbio de condução do ramo direito e
critério de voltagem isolado para hipertrofia do ventrículo esquerdo. Essas alterações são
consequência de adaptação cardiovascular fisiológica secundária ao esforço e não indicam
a presença de doença cardiovascular, o que permite a elegibilidade para a prática de es-
porte competitivo.
Por outro lado, cerca de 5% dos eletrocardiogramas podem apresentar alterações
incomuns, como inversão de onda T, alterações do segmento ST, ondas Q patológicas,
sobrecarga atrial esquerda, bloqueio atrioventricular de 2º grau Mobitz II, pré-excitação
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ventricular, bloqueio de ramo esquerdo ou direito, intervalo QT longo ou curto, alterações
sugestivas de Síndrome de Brugada, hipertrofia ventricular direita e desvio do eixo elétrico.
Essas anormalidades no eletrocardiograma não estão relacionadas ao condicionamento
atlético e devem ser consideradas como uma expressão de possível doença cardiovascular
e risco aumentado de morte súbita, com necessidade de complementação da investigação
(CORRADO et al., 2007).

– Teste ergométrico

O principal objetivo do teste ergométrico, além da investigação de manifestações clí-


nicas, é a medição dos parâmetros relativos à fisiologia do exercício para a avaliação de
estresse e performace física do atleta (LÖLLGEN et al., 2018). Devido ao seu valor prognós-
tico, à ampla disponibilidade e ao baixo custo, o teste ergométrico é considerado importante
método para triagem de atletas antes do início dos exercícios. Além disso, é um teste segu-
ro, caracterizado pelo monitoramento obrigatório e contínuo de parâmetros como pressão
arterial, frequência cardíaca e eletrocardiograma, suficientes para interromper o teste caso
ocorra alguma alteração patológica.
Os achados são influenciados pela escolha do ergômetro e do protocolo de indução
de estresse, uma vez que a especificidade desse parâmetros é importante para a melhor
análise dos resultados. O exame fornece informações importantes para o planejamento e
o monitoramento do treinamento, além de orientação para tratamento quando necessário
(LÖLLGEN et al., 2018).
Dentre as indicações para a sua realização, estão o diagnóstico de doenças latentes
e de possíveis riscos relacionados à prática esportiva, o auxílio no diagnóstico de doenças
cardiovasculares e pulmonares, a investigação de sintomas como dispnéia, dor torácica,
palpitações e tonturas (síncope), a avaliação da capacidade funcional e o monitoramento
otimizado do treinamento tanto aeróbio quanto resistido, importante para a correta prescrição
do exercício (GHORAYEB et al., 2019).

– Teste cardiopulmonar

Para a avaliação de atletas, sempre que possível o teste cardiopulmonar é a opção de


escolha quando comparado ao teste ergométrico convencional, com objetivos de avaliações
da capacidade funcional e da prescrição do exercício. O teste cardiopulmonar, diferente-
mente do teste ergométrico, permite uma análise direta dos gases expirados, o que propicia
uma avaliação mais detalhada. Observação importante é a escolha do ergômetro de melhor
especificidade ao exercício realizado, que no caso do futebol é a esteira.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além dos parâmetros avaliados no teste ergométrico convencional, como alterações
do eletrocardiograma, comportamento da frequência cardíaca no esforço e sua redução na
recuperação e pressão arterial, alguns parâmetros são obtidos apenas no teste cardiopulmo-
nar. Desses, duas variáveis analisadas são extremamente importantes na identificação mais
precisa de possíveis fatores limitantes ao esforço máximo, que são as análises das curvas
e dos valores máximos do pulso de oxigênio (VO2/FC) e dos equivalentes ventilatórios (VE/
VO2 e VE/VCO2) (HERDY et al, 2016).
Para a prescrição de exercícios aeróbicos, os parâmetros mais relevantes são a fre-
quência cardíaca observada em diferentes momentos da avaliação, em especial a de repouso
e as do primeiro e segundo limiares, e a intensidade do esforço na qual ocorrem os limiares
ventilatórios, em especial, o limiar anaeróbico (HERDY et al. 2016).
O consumo de oxigênio (VO2), que constitui o volume de O2 extraído do ar inspirado
pela ventilação pulmonar em um dado período de tempo, tanto em relação ao VO2 máximo
quanto ao VO2 pico, é utilizado para avaliação do condicionamento físico. O limiar anaeróbico
(1º limiar) é determinado pelo momento em que ocorre um aumento não linear da ventilação
pulmonar em relação ao VO2, e o ponto de compensação respiratória (2º limiar) é o mo-
mento da perda de linearidade da relação entre o produto da ventilação e o VCO2. O índice
de anaerobiose, que expressa a relação entre a produção de VCO2 e o VO2, é o melhor
indicador não invasivo de esforço máximo. Quando esse índice está acima de 1, representa
esforço importante e, acima de 1,1, representa esforço máximo (GHORAYEB et al. 2019).
Em resumo, o teste cardiopulmonar é o procedimento de escolha para atletas quando
se deseja obter uma medida precisa da condição aeróbica e da determinação da frequência
cardíaca e dos limiares para prescrição do exercício.

– Ecocardiografia

A ecocardiografia tem papel essencial no diagnóstico diferencial entre doenças relacio-


nadas ao risco de morte súbita em atletas (como a CMH) e a conhecida Síndrome do Coração
de Atleta, que é fisiológica para os praticantes de exercício em intensidades moderada e alta.
Esse exame também pode detectar outras anormalidades relevantes, como disfun-
ção ventricular esquerda (devido à miocardite ou cardiomiopatia dilatada, por exemplo),
valvopatias e dilatação da raiz da aorta. Em casos conhecidos de cardiopatias congênitas,
em especial as de baixa complexidade, em que a prática esportiva de alto rendimento não
está contra-indicada, sua realização periódica auxilia na avaliação evolutiva e no manejo da
condição em questão (GHORAYEB et al., 2019).

– Outros exames cardiovasculares


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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Outros exames podem ser solicitados de forma individualizada, de acordo com alte-
rações prévias encontradas em exames menos complexos. Dentre esses, destacam-se a
monitorização da pressão arterial, o Holter de 24 horas, a cintilografia de perfusão miocárdica
e a ressonância cardíaca, dentre outros.

3. Avaliação ortopédica

As lesões do sistema musculoesquelético representam a maior parte das lesões ob-


servadas em atletas de futebol. Por isso, a prevenção é uma ferramenta essencial empre-
gada nessa modalidade, e é esse o grande foco da APP, através da pesquisa de alterações
anatômicas, biomecânicas e funcionais que possam desencadear o surgimento das lesões.
O médico responsável pela avaliação de atletas deve levar em consideração, além
dos dados observados no exame físico ortopédico, de fatores essenciais como as especi-
ficidades técnicas dos atletas, exemplificado pela posição de jogo, e o histórico de lesões,
considerado esse um dos principais fatores de risco para recidivas.

– Anamnese

A avaliação inicial de um atleta deve conter um histórico completo de seu passado mé-
dico. Além de seus antecedentes pessoais e familiares, toda a história médica relacionada
ao sistema musculoesquelético deve ser obtida. Lesões prévias, especialmente aquelas que
levaram ao afastamento de atividades por períodos superiores a quatro semanas, além de
cirurgias anteriores, devem ser questionadas. O atleta ainda deve ser perguntado sobre a
presença de queixas atuais, doenças prévias e eventuais tratamentos realizados.
A avaliação deve ocorrer em local adequado e com boa iluminação. O atleta deve estar
com vestimenta adequada, o que permite a inspeção de todos os segmentos corporais. O exa-
me físico musculoesquelético deve ser realizado de forma sistematizada e completa, pois
permitirá a avaliação de todos os segmentos e articulações, em poucos minutos. Eventuais
alterações identificadas durante sua realização, além das informações obtidas através da
anamnese, direcionarão para investigações mais detalhadas.

– Coluna vertebral e pelve

A avaliação da coluna vertebral do atleta deve ser iniciada pela inspeção estática e
dinâmica do paciente, na busca de desvios de eixo, deformidades, assimetrias e posturas
antálgicas. As curvaturas fisiológicas da coluna vertebral também devem ser avaliadas, como
lordose cervical, cifose torácica e lordose lombar. Deve ser avaliado também a amplitude de

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
movimento ativa das regiões cervical, torácica e lombossacral. Por fim, avaliamos os reflexos
relacionados às raízes nervosas do plexo braquial e do plexo lombossacral.
A avaliação da pelve do atleta deve ser iniciada pela inspeção estática, para procura
de assimetrias, desnivelamentos pélvicos e cicatrizes. Exame físico específico deve ser
direcionado na pesquisa das principais patologias que acometem essa região, com foco na
sínfise púbica, nas articulações sacroilíacas, nas espinhas ilíacas anteriores e posteriores
e na crista ilíaca.

– Membros superiores

A avaliação estática dos membros superiores é realizada na procura de assimetrias,


deformidades e cicatrizes. O exame físico é seguido pela avaliação da amplitude de movi-
mento do ombro, cotovelo, punho e mão. Essa avaliação costuma apresentar resultados
positivos para os goleiros, porém deve ser realizada em todos os atletas de futebol.
Quanto ao exame físico específico, nos ombros avaliamos a presença de testes para
a Síndrome do Impacto, a condição dos tendões do manguito rotador (supraespinhoso,
infraespinhoso, redondo menor e subescapular) e a estabilidade articular. Quanto aos coto-
velos, é importante a pesquisa de epicondilite (principalmente em goleiros) e da estabilidade
articular. Nos punhos e mãos, é necessário avaliar a presença de síndromes compressivas,
tendinopatias e estabilidade articular.

– Membros inferiores

A avaliação dos membros inferiores inicia-se com a inspeção estática do atleta em


ortostatismo, observando-se a presença de cicatrizes, deformidades, alterações de volume
localizadas, assimetrias de segmento e de eixo e atrofias musculares. Além disso, é impor-
tante avaliar e documentar a amplitude de movimento do quadril, do joelho, do tornozelo e
do pé, e analisar o padrão de marcha.
A força muscular dos membros inferiores, no futebol, deve ser avaliada tanto no exame
físico quanto através de dinamômetros (isocinético ou isométrico). O encontro de assimetrias
anatômicas ou de função (força) do tecido muscular deve ser corrigido com prioridade, pois
é um fator importante relacionado ao surgimento de lesões. Além disso, é comum o encontro
de encurtamentos musculares segmentares, como por exemplo da cadeia muscular posterior
dos membros inferiores, que também exige abordagem específica.
O exame do quadril envolve a realização de testes específicos na investigação de
eventuais patologias intra e extra-articulares. A avaliação dos joelhos é focada na realização
dos testes ligamentares, meniscais e do mecanismo extensor. Já em relação ao exame do
tornozelo e do pé, é necessário a avaliação da estabilidade articular. Todos esses segmentos,
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
no futebol, são sedes frequentes de tendinopatias, por isso os tendões relacionados a essas
articulações devem ser avaliados quanto à presença de dor na movimentação ou na palpa-
ção, além das integridades anatômica e funcional durante os testes específicos.

– Exames complementares

A realização rotineira de exames complementares para avaliação ortopédica na APP


não é indicada, mesmo na presença de cirurgias prévias. Essa solicitação é uma conduta
do médico responsável pelo jogador e deve ser norteada pelos achados da anamnese e
do exame físico.

4. Especifidades da APP no futebol feminino

São inúmeras as publicações e diretrizes que discorrem sobre as melhores estratégias


de triagem para a realização da APP, especialmente visando a prevenção de morte súbita
relacionada ao esporte. Entretanto, é necessário levar em consideração que os riscos rela-
tivos à prática esportiva não estão relacionados apenas às complicações cardiovasculares
e musculoesqueléticas. Também é necessário destacar que existem diferenças biológicas
entre homens e mulheres, e que elas devem ser levadas em consideração nesse momento.
As mulheres apresentam particularidades que desencadeiam diferentes respostas
fisiológicas ao exercício quando comparadas aos homens (ASHLEY et al., 2020). Dentre
essas particularidades, as que mais chamam a atenção são as relacionadas ao biotipo, à
composição corporal, à anatomia e fisiologia cardiovascular e à cinética e composição da
musculatura esquelética.
Mulheres tendem a ter corações menores que os dos homens, principalmente no que diz
respeito ao volume e massa do ventrículo esquerdo. Esse fato implica em menores volume
sistólico e débito cardíaco quando comparado ao sexo masculino. Além disso, as mulheres
têm menos glóbulos vermelhos circulantes, menor hematócrito e menor concentração de
hemoglobina (Hb), o que contribui para um menor consumo máximo de oxigênio (VO2max)
e menor capacidade aeróbica (LEITAO et al., 2000).
A resposta do sistema cardiovascular ao exercício também é diferente, pois a mulher
tem menor atividade simpática e maior atividade parassimpática. Consequentemente, ob-
servam-se maior vasodilatação periférica e maior queda da resistência vascular sistêmica
(RVS) no exercício (ASHLEY et al., 2020).
Outra diferença diz respeito à maior capacidade das mulheres de oxidar lipídios como
fonte de combustível durante exercícios prolongados. Os homens, por sua vez, oxidam mais
proteínas e carboidratos.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Em relação ao sistema musculoesquelético, os homens, em geral, têm maiores massa e
força muscular e maior densidade mineral óssea. Nas mulheres, as características contrárias
contribuem para risco aumentado de fraturas por estresse. No entanto, essas apresentam
menos fadiga muscular e recuperação mais rápida durante os exercícios de resistência.
Os hormônios sexuais desempenham um papel fundamental nessas diferenças fisioló-
gicas entre homens e mulheres. As flutuações hormonais durante o ciclo menstrual podem
impactar no desempenho esportivo e no risco de lesões em atletas do sexo feminino. Além
disso, são suscetíveis a condições como a tríade da mulher atleta (chamada atualmente de
RED-S), a tensão pré-menstrual (TPM) e a incontinência urinária atlética (RUMBALL et al.,
2004). Dessa forma, é importante que a APP da mulher esportista ou atleta tenha enfoque
específico nessas questões.
A avaliação de algumas características do ciclo menstrual, a idade da menarca, da
última menstruação, a presença de amenorreia por mais de 6 meses e o reconhecimento da
relação entre menstruação e desempenho físico, há tempo são objeto de estudo. Embora
vários modelos de questionários tenham sido propostos para avaliação da saúde ginecoló-
gica e nutricional dessas mulheres, ainda não há um padrão validado aceito universalmente.
Essas questões ginecológicas e as particularidades da mulher atleta devem ser ati-
vamente investigadas e não subestimadas durante a APP. Há necessidade de se reservar
uma parte específica da avaliação para as questões inerentes ao organismo feminino, com
investigações ginecológicas e nutricionais específicas e direcionadas, evitando que esses
temas sejam omitidos pelas mulheres ou que seus cuidados sejam subestimados pelos
profissionais envolvidos (RUMBALL et al., 2004).
Em alguns casos, a APP é o único contato da esportista ou atleta com um médico,
aumentando ainda mais a importância dessa avaliação que se torna uma oportunidade de
ouro para rastrear alterações ginecológicas, nutricionais, ósseas e comportamentos de ris-
co. A ocasião é propícia também para levar informações sobre essas particularidades pouco
conhecidas para a própria esportista ou atleta, que precisa entender como identificar sinais
de alerta e como prevenir complicações.
Sendo assim, um questionário direcionado à saúde da mulher deve ser incorporado
à APP feminina, de maneira rotineira, pelo médico do esporte, identificando alterações e
permitindo o encaminhamento para profissional especializado, quando necessário. A compi-
lação dos dados dessas avaliações pelo médico permite estudar tendências, fatores de risco,
resultados de estratégias de acompanhamento e intervenções para otimizar a assistência.
O posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício
sobre atividade física e saúde na mulher acrescenta ainda que é importante a avaliação dos
níveis de ferritina e hemoglobina, levando em consideração que, quando abaixo do normal,
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
indicam carência de ferro e/ou anemia - situações que comprometem o rendimento da mulher
esportista/atleta (LEITAO et al., 2000).
Ainda no que diz respeito aos exames complementares, é preciso considerar as carac-
terísticas hormonais da mulher (antes e após a menopausa) para individualizar as estratégias
de avaliação cardiovascular. Para rastreamento de doença arterial coronariana (DAC) em
mulheres aparentemente saudáveis que apresentam hipoestrogenismo, a realização de teste
ergométrico é aconselhável. Para as mulheres com mais de 35 anos de idade, a avaliação
é considerada mandatória pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício.
Conclui-se, portanto, que a APP é de extrema importância para o esportista e atleta de
ambos os sexos. Nas mulheres, é necessário levar em consideração suas particularidades
biológicas, com vistas a individualizar a avaliação e a conduta e, a partir daí, obter melhores
resultados e mitigar riscos.

5. Realidade da APP no futebol semi-profissional e amador

A realidade da APP no futebol não profissional reflete o que é observado na sociedade


em geral, no qual grande parte dos praticantes e dos dirigentes não a consideram essencial
antes da prática esportiva. Esse cenário tem evoluído em favor da APP, porém de uma forma
muito tímida perante a sua real importância.
Além disso, é comumente observado, nas situações em que são exigidos um atesta-
do médico, a realização de atestado emitido por médico conhecido do atleta, sem a devida
avaliação clínica. É importante destacar que o profissional médico, nessa situação, assume
o risco em eventuais intercorrências que surjam durante a prática esportiva, principalmente
porque forneceu o comprovante de aptidão física sem critérios definidos.
Porém, é importante também considerar a relação econômica e a realidade do nosso
País. A obrigatoriedade de APP com exames complementares tanto pode ser inviável eco-
nomicamente quanto representar uma inibição à prática esportiva. Mas, ao mesmo tempo,
é imensurável o valor da prevenção de uma morte súbita no esporte.
Por isso, é necessário o entendimento global, por parte de todos que atuam no fute-
bol, da importância de se realizar a APP mínima (anamnese e exame físico) em todos os
jogadores de futebol, através de avaliação médica especializada. As situações de morte
súbita no futebol, bastante divulgadas pelos meios de comunicação, infelizmente devem
servir como exemplo para o emprego da APP de forma mais rotineira, assim como é visto
no futebol profissional.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que há discordâncias entre várias Sociedades Médicas sobre a viabilidade


em se realizar alguns exames complementares durante a APP. Porém, em todas elas há o
consenso sobre a importância dessa avaliação em atletas e esportistas.
No futebol profissional já há a obrigatoriedade dos atletas realizarem, além da APP
básica, exames complementares cardiológicos como critérios de pré-participação esporti-
va, em ambos os sexos. Além disso, após a Pandemia por COVID-19, no qual os riscos do
surgimento de patologias como miocardites aumentaram, essa avaliação tornou- se ainda
mais importante.
Já no futebol amador ainda há um desconhecimento geral sobre a importância, no mí-
nimo, de se realizar uma APP básica, através de anamnese e exame físico. Há necessidade
também de maior empenho por parte das Federações que regulamentam essa categoria,
sobre a obrigatoriedade da APP antes da realização esportiva. Portanto, além de toda a
divulgação científica por parte da Comunidade Médica, é necessário maior engajamento
político para que medidas eficazes como a APP sejam empregadas de forma mais abran-
gente no futebol.

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44
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
03
Principais lesões ortopédicas no
futebol

Marcelo de Carvalho Amorim


Hospital MaterDei - Belo Horizonte/MG

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

10.37885/210705502
RESUMO

O futebol é um esporte caracterizado por movimentos biomecânicos e intensidades de


trabalho que predispõem ao surgimento das lesões ortopédicas (ou musculoesqueléti-
cas). Atualmente, são gastos recursos financeiros substanciais no emprego de aparatos
tecnológicos com objetivos de prevenir e diminuir o tempo de recuperação das lesões.
Porém, mesmo assim elas ocorrem e comprometem o rendimento técnico dos times, pois
apresentam altas incidências e potenciais recidivas. O foco dos profissionais que atuam
no futebol deve ser o de controlar preventivamente as variáveis internas e externas rela-
cionadas ao surgimento das lesões. Além disso, o trabalho multidisciplinar, já existente
em times com melhores condições financeiras, é fundamental na recuperação integral
do atleta e retorno cada vez mais precoce à prática esportiva.

Palavras-chave: Futebol, Lesões Esportivas, Medicina Esportiva.

46
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é o esporte mais popular do Mundo, com dados de aproximadamente 265


milhões de jogadores no início do século XXI (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL,
2006). Essa modalidade teve um grande crescimento de praticantes nas últimas décadas, es-
pecialmente nas populações jovem (WATSON et al., 2019) e feminina (LÓPEZ-VALENCIANO
et al., 2021), o que tem levado a um aumento associado das lesões musculoesqueléticas.
Para explicar a gênese das lesões esportivas, atualmente busca-se o entendimento de
uma relação mais abrangente e complexa dos fatores de risco envolvidos, deixando de lado
a clássica teoria do reducionismo (HULME et al., 2015). O paradigma da complexidade, que
deve ser encarado como um avanço do reducionismo, contribui para examinar as lesões
esportivas em termos de rede de relacionamentos e não em fatores isolados (BITTENCOURT
et al., 2016). Sabe-se que, quando se realiza a redução de um problema complexo a unida-
des isoladas, as interações entre eles podem ser negligenciadas e a previsão do desfecho
final pode não ser possível ou pode ser realizado de forma incorreta (BEKKER et al., 2016).
No futebol, fatores como a carga de trabalho, os esforços físicos intermitentes típicos
da modalidade e o alto volume de jogos são de grande relevância na rede de interações
de agentes relacionados à gênese das lesões (ENRIGHT et al., 2020). Vários protocolos
de prevenção de lesões foram publicados até o momento, com destaque para o FIFA 11+
(FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL, 2009), que apresenta resultados significa-
tivos na redução de algumas lesões musculoesqueléticas (NUHU et al., 2021).
O objetivo desse capítulo foi realizar uma revisão da literatura sobre as principais lesões
musculoesqueléticas no futebol e o manejo específico para esse público de atletas.

DESENVOLVIMENTO

As lesões musculoesqueléticas no futebol ocasionam um considerável prejuízo técnico


para os times, no sentido tanto do tempo em que o atleta permanece afastado de treinos e
partidas e do tempo que gasta para atingir os mesmos níveis de performance prévios, o que
naturalmente reflete em altos custos financeiros (EKSTRAND et al., 2013).
Por isso, para que se possa aperfeiçoar as medidas de prevenção das lesões, que é
o grande foco da comunidade científica do futebol na atualidade, é necessário inicialmente
conhecer os principais aspectos clínicos e terapêuticos envolvidos nas lesões mais preva-
lentes da modalidade.
Nesse sentido, sabe-se que a extremidade inferior responde pela maioria das lesões,
tanto em homens quanto em mulheres (HÄGGLUND et al., 2009), e o tipo mais comum é
a lesão muscular. Dentre as lesões articulares, a mais acometida é o joelho, seguida pelo
47
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
tornozelo (LÓPEZ- VALENCIANO et al., 2020). Outra lesão bastante característica do futebol,
devido à dinâmica do esporte, é a osteíte púbica, que geralmente ocasiona uma morbidade
considerável ao atleta.

– Lesões ortopédicas mais comuns do futebol

LESÕES MUSCULARES

As lesões musculares, principalmente pelo seu potencial recidivante, ocasionam um


longo período efetivo de afastamento dos atletas o que, consequentemente, representa um
custo financeiro considerável tanto no esporte profissional quanto no amador.
Elas acometem principalmente os músculos bi ou poliarticulares, com maior porcenta-
gem de fibras de contração rápida (fibras brancas, do tipo II) e ocorrem na fase de contra-
ção excêntrica da musculatura. No futebol, os músculos mais acometidos são, no geral, os
isquiotibiais em primeiro lugar, seguido pelos adutores.
A recorrência de uma lesão muscular é um fator preocupante. Ela ocorre principalmente
nos primeiros meses após a lesão inicial e também nas lesões de menor grau devido, na
maioria dos casos, ao retorno precoce do atleta às atividades esportivas.
Há diferentes tipos de lesão muscular no futebol. A lesão típica é aquela em que o
atleta, na fase de contração excêntrica da corrida, tem uma parada súbita do movimento e
faz a palpação imediata do local lesionado. Para representá-la, nomenclaturas tradicionais
como distensão muscular e estiramento muscular atualmente foram substituídas pelo termo
ruptura muscular, que pode ser parcial, subtotal ou total.
Os outros tipos são melhor representados pela Classificação de Munique, publicada em
2013 (MUELLER-WOHLFAHRT et al., 2013). Nessa, as lesões musculares são inicialmente
divididas em mecanismos direto e indireto. Quanto ao mecanismo indireto, elas podem ser
por alterações funcionais, com os tipos sobrecarga muscular (fadiga e dor muscular tardia)
e desordem neuromuscular, e por alterações estruturais, com os tipos rupturas parcial (leve
e moderada) ou subtotal/total (lesão do ventre muscular e avulsão tendínea). Em relação
ao mecanismo direto, há as lesões por contusão e por laceração. A lesão é considerada
subtotal/total quando há um acometimento de mais do que 50% da espessura das fibras
musculares, pois o prognóstico comporta-se como lesão completa.
A proposta dessa classificação também foi a de fornecer uma estimativa sobre o prog-
nóstico de retorno ao esporte após as lesões. Nesse sentido, para as rupturas parciais de
grau leve, estima-se um retorno aproximado em torno de 14 dias, ao passo que para as
mesmas lesões, porém de grau moderado, o retorno ocorre em torno de 04 a 06 sema-
nas. Já as lesões subtotal/total apresentam um retorno aproximado após 12 semanas da
48
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
lesão. Porém, outros fatores devem ser considerados quando se avalia o tempo de retorno
ao esporte, como anatômicos, funcionais, tratamento realizado, dentre outros.
O diagnóstico pode ser suspeitado através da história clínica e do exame físico, porém
é dependente dos exames de imagem. A radiografia é importante para se realizar o diag-
nóstico diferencial com fraturas por avulsão, essencialmente naqueles casos que acometem
os extremos da musculatura (áreas de origem e inserção tendíneas). Já a ultrassonografia
e a ressonância nuclear magnética (RNM) são os exames de escolha para análise da lesão
muscular. A ultrassonografia é um exame mais barato e de fácil acessibilidade, porém é
dependente do examinador, ao contrário da RNM, que é um exame de maior acurácia diag-
nóstica, porém apresenta alto custo.
A grande maioria dos casos é de tratamento conservador, com prognóstico bom se o
tratamento for realizado de forma adequada. Esse tratamento é focado em um curto período
de anti-inflamatórios (máximo de 72 horas), analgesia e reabilitação.
No futebol profissional, é importante que a reabilitação não seja tão conservadora, para
que a hipotrofia muscular reacional ao redor do segmento lesionado não ocasione maiores
danos funcionais a longo prazo. Assim, associado à reabilitação do complexo muscular lesio-
nado, é importante a manutenção do condicionamento físico e do trofismo dos músculos não
acometidos. Conforme já mencionado, o tempo de tratamento vai depender principalmente
do músculo lesionado e do tipo e do grau da lesão.
O tratamento cirúrgico atualmente é reservado para os casos de fratura por avulsão,
fratura proximal da musculatura dos isquiotibiais, hematoma muscular de grande volume e
lesão muscular extensa em segmento sem musculatura agonista. Para os casos de fratura
por avulsão, é necessário a reinserção do fragmento avulsionado, geralmente através de
parafusos e arruelas. Nos casos de hematomas moderados, pode- se realizar drenagem
guiada por ultrassonografia, seguido ou não pela infiltração de substâncias adjuvantes, para
acelerar o processo cicatricial.
Outras opções de tratamento têm como princípio teórico propiciar uma cicatrização
mais acelerada e efetiva do tecido, como plasma rico em plaquetas, câmara hiperbárica e
terapia por ondas de choque. Porém, ainda não são de uso clínico de rotina.
Durante o período de reabilitação das lesões musculares é importante que o atleta
tenha um suporte nutricional otimizado, principalmente devido às suas recidivas. Nesses
casos, através do trabalho inter e multidisciplinar, é importante a pesquisa de condições
subclínicas que sejam fatores desencadeantes, como infecções dentárias, desbalanços
biomecânicos, alterações metabólicas e/ou nutricionais e lesões prévias sem adequada
cicatrização biológica, dentre outros.

49
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
LESÕES TRAUMÁTICAS DO JOELHO

A entorse é o tipo mais comum de lesão traumática do joelho e ocorre principalmente


através do mecanismo de trauma indireto. Fatores extrínsecos, como os tipos de piso e de
calçado do atleta, são fatores importantes relacionados ao surgimento das entorses.
Na presença de lesões da articulação do joelho, é importante uma avaliação clínica
rápida, dentro do ambiente esportivo, principalmente da estabilidade articular e do estado
neurovascular do membro, pois são condições potencialmente mais graves.
Na fase aguda, essencialmente nos minutos iniciais após a lesão, é possível realizar
um exame físico ligamentar de forma mais efetiva, ao contrário do exame realizado após
algumas horas do trauma que, devido ao derrame articular e à contratura dos isquiotibiais,
torna-se difícil de ser executado.
A ausência de alterações nessa abordagem inicial permite que se complemente o
exame físico do joelho, baseado nos testes específicos para lesões ligamentares, menis-
cais e do aparelho extensor. Se houver alguma lesão intrínseca da articulação do joelho, o
que muitas vezes não é perceptível no primeiro atendimento, o próprio atleta informará sua
incapacidade de retorno à partida.
Dentre essas lesões, esse capítulo aborda as lesões do ligamento cruzado anterior
(LCA), do menisco e do ligamento colateral medial (LCM).

Lesões do ligamento cruzado anterior

As lesões do LCA são muito comuns no futebol e ocorrem por razões multifatoriais,
porém há destaque para a dinâmica do esporte, baseada em movimentos pliométricos e
rotacionais, que são vetores para o surgimento dessa lesão. Em estudo epidemiológico com
jogadores de futebol da primeira divisão da Itália durante sete temporada seguidas, Grassi
et al. mostraram que, em um time com 25 jogadores, ocorreu pelo menos uma lesão do LCA
a cada duas temporadas (GRASSI et al., 2020).
Além disso, essas lesões trazem impactos negativos para os atletas de futebol, inde-
pendentemente do nível de performance. Nesse sentido, é comum que os atletas demorem
algumas temporadas (geralmente de duas a três) para que retornem ao nível satisfatório de
competitividade. Forsythe et al., em estudo de coorte com atletas profissionais de futebol e
21 anos de seguimento, mostrou taxas de retorno ao esporte de 80% (FORSYTHE et al.,
2021). No futebol, essas taxas são altas (acima de 90%), em comparação a outros esportes,
porém as taxas de retorno competitivo são bem mais inferiores e dependem, conforme dito,
do tempo evolutivo das temporadas seguintes (FORSYTHE et al., 2021).

50
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A maioria das lesões ocorrem por mecanismo indireto, em movimentos que envolvem
rotações, mudanças de direção, movimentos de aceleração e desaceleração e saltos. As le-
sões do LCA estão relacionadas a vários fatores de risco modificáveis e não modificáveis,
com destaque para o sexo feminino (com risco 3 vezes maior que no sexo masculino), idade
jovem (pico de 16 a 18 anos), precocidades na participação e na especialização esportiva,
variações anatômicas e funcionais, perfil genético, dentre outros.
No momento da lesão, é comum o atleta apresentar, junto com a entorse do joelho,
estalido (às vezes até audível) e derrame articular (hemartrose). Como destaque, a prin-
cipal causa de hemartrose do joelho pós-traumática, excluindo as fraturas, é a lesão do
LCA. No exame físico específico, várias manobras são úteis para a pesquisa dessa lesão
ligamentar, com destaque para os testes da gaveta anterior e de Lachman, que avaliam a
instabilidade anteroposterior do joelho, e do pivot-shift, que avalia a instabilidade rotacional.
Vale enfatizar que o diagnóstico dessa lesão é clínico, porém exames de imagem são
necessários para o diagnóstico diferencial, no caso das radiografias, e para a pesquisa de
lesões associadas, através da ressonância nuclear magnética (RNM). Embora as radiografias
simples sejam o primeiro passo diagnóstico após o exame físico, com o objetivo principal
de exclusão de alguma fratura associada (principalmente da espinha tibial), a RNM é forte-
mente recomendada como parte da avaliação diagnóstica, devido à suas altas sensibilidade
e especificidade (97% e 100%, respectivamente) (SRI-RAM et al., 2015).
Quanto aos atletas de uma forma geral, com destaque para os jogadores de futebol, o
tratamento preconizado para as lesões do LCA é na maioria das vezes cirúrgico, devido às
características biomecânicas do gesto esportivo que são compartilhadas com as funções
desse ligamento.
Porém, o tratamento não cirúrgico pode ser considerado, principalmente em atletas
amadores, pois atletas respondem de formas diferentes a essa lesão. Nesse sentido, há os
atletas copers, que são aqueles que através de treinamento específico desenvolvem bom
controle articular e são, portanto, bons respondedores ao tratamento conservador, e os não
copers, que apresentam resultados insatisfatórios com esse tipo de tratamento e são mais
dependentes do tratamento cirúrgico (THOMA et al., 2019).
O tratamento cirúrgico consiste na reconstrução do LCA, com utilização de diferentes
técnicas cirúrgicas e tipos de enxertos. Esse procedimento ocorre após a melhora do quadro
inflamatório articular inicial, quando há o retorno da amplitude de movimento ativa, a dimi-
nuição significativa do derrame articular e um bom controle neuromuscular do quadríceps
femoral. Já o tratamento conservador, passado também essa fase inicial inflamatória, é
baseado nos trabalhos de propriocepção e de fortalecimento muscular contínuo do atleta.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O retorno ao esporte, preconizado atualmente, acontece em torno de 09 meses após
o tratamento cirúrgico. Porém, para que ocorra essa liberação, o atleta deve apresentar re-
sultados satisfatórios em diferentes avaliações, como questionários subjetivos, exame físico
com foco na amplitude de movimento e estabilidade articular, testes funcionais e avaliações
psicológicas. Além disso, o atleta deve apresentar déficit de força no membro operado, cuja
avaliação é através de dados antropométricos e de dinamometria, de no máximo 10% em
relação ao membro contralateral. Percebe-se, portanto, que o retorno ao esporte acontece
de modo multifatorial, através de critérios biopsicossociais, e o tempo de pós-operatório é
apenas mais um a ser considerado no momento da alta.
Especialmente no futebol, muitas vezes esse retorno ao esporte ocorre de forma mais
precoce, motivado por pressões externas e pela tradição existente nesse esporte de que o
atleta retorne após 06 meses da cirurgia. Nesse sentido, cabem aos profissionais da saúde
divulgar os conhecimentos científico atuais e, como forma de justificar esse longo período
de recuperação, expor a alta morbidade que o atleta apresentará caso ocorra uma nova
ruptura do ligamento, algo comum nas situações em que não são respeitados o processo
biológico de cicatrização do enxerto e o retorno das valências físicas necessárias para a
prática do futebol.

Lesões meniscais

Pelos mesmos motivos expostos paras as lesões do LCA, com destaque para a dinâ-
mica do futebol, as lesões meniscais não são incomuns, assim como a associação entre
lesões ligamentares e meniscais, com prognóstico mais desfavorável.
As lesões dos meniscos são classificadas principalmente de acordo com a morfolo-
gia e a localização. Quanto à morfologia, as lesões podem ser dos tipos horizontal (divide
o menisco em uma porção superior e outra inferior), vertical ou longitudinal (o menisco é
dividido em uma porção anterior e outra posterior), radial, oblíqua, flap, alça de balde (le-
são vertical completa), complexa (junção de dois ou mais tipos de lesões), raiz meniscal
(inserções meniscais anterior e/ou posterior) e em rampa (desinserção entre o menisco e a
cápsula articular). Quanto à localização, as lesões podem acometer o corno anterior, corpo
e/ou corno posterior do menisco.
As lesões radial e vertical são mais comuns nos meniscos lateral e medial, respecti-
vamente, e ocorrem principalmente nos traumas agudos. Já as lesões em rampa e na raiz
são tipicamente decorrentes de traumas de maior energia, muitas vezes com associação
de lesões do LCA.
O diagnóstico das lesões meniscais é realizado através de história clínica sugestiva, com
relato de entorse do joelho seguida por dor e derrame articular, associado a testes meniscais
52
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
positivos. Esses testes são baseados, em sua maioria, em movimentos rotacionais do joelho
para a pesquisa de dor e de estalido tanto da interlinha articular medial quanto lateral.
Porém, a confirmação das lesões meniscais geralmente é realizada através de exames
de imagem, essencialmente a ressonância nuclear magnética (RNM). Antes desse, como
rotina para as lesões traumáticas do joelho, o primeiro exame de imagem a ser solicitado é
a radiografia, cujo objetivo é a realização de diagnóstico diferencial para exclusão de fratura.
Vale destacar a necessidade de se fazer uma interpretação conjunta entre os achados
da história, do exame físico e dos exames de imagens, pois o número de achados falso posi-
tivos em um exame de RNM é grande, principalmente em jogadores de futebol e referentes
às lesões meniscais e condrais.
O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. As indicações de tratamento con-
servador são para as lesões radiais menores que 03 mm, de espessura parcial, longitudi-
nais menores que 1 cm de extensão, periféricas e estáveis e aquelas degenerativas sem
sintomas mecânicos. Esse tratamento é realizado através de analgesia, reabilitação com
objetivos de melhora clínica e funcional e treinamentos específicos de propriocepção e de
fortalecimento muscular.
Já as lesões que não preenchem os critérios anteriores são de indicação cirúrgica.
Para aquelas lesões instáveis em alça de balde e associadas a bloqueio articular, a cirurgia
deve ser realizada de forma prioritária para evitar complicações crônicas, como degeneração
condral e contratura em flexão do joelho.
As opções cirúrgicas são a meniscectomia parcial, a sutura (reparo), o transplante
meniscal e os substitutos meniscais. As duas primeiras são as mais realizadas em atletas
de futebol, e o ideal é que o princípio de tratamento seja a máxima preservação do menisco,
através de meniscectomia econômica e/ou sutura.
Porém, nesse público específico, é muito comum que eles prefiram procedimentos que
permitam o retorno mais precoce ao esporte, mesmo que isso represente maior morbidade
futura. Esse fato, associado às características das lesões, fazem com que as meniscectomias
sejam os procedimentos mais realizados em atletas de futebol, pois permitem um retorno
mais precoce ao esporte.
O manejo da situação do atleta com lesão meniscal e indicação de tratamento cirúrgico
representa um grande desafio para a equipe de saúde, pois são lesões comuns e muitas
vezes geram condutas discordantes entre o médico e o atleta quanto ao tipo e ao momento
do procedimento.
No caso em que as características da lesão permitem a realização da sutura meniscal,
cabem aos profissionais da saúde que atuam no futebol informar de forma clara e abrangen-
te os riscos e benefícios de se realizar uma cirurgia com retorno mais precoce ao esporte
53
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
(meniscectomia), mas certamente deletéria para o futuro do atleta. Após esse esclarecimento,
deve-se chegar a um consenso e priorizar tanto a opção de tratamento do atleta quanto a
autonomia do médico no aceite ou não em realizar o procedimento.

Lesões do ligamento colateral medial

O ligamento colateral medial (LCM) é, juntamente com o LCA, os dois ligamentos mais
lesionados do joelho. Porém, ao contrário do LCA, a grande maioria dos casos é de trata-
mento conservador (LUNDBLAD et al., 2013).
Essas lesões ocorrem através do mecanismo de estresse em valgo do joelho, movimen-
to esse no qual o LCM atua como restritor primário. O LCM, devido à sua vascularização e
configuração anatômica, apresenta grande potencial de cicatrização após uma lesão parcial,
com bons prognósticos de recuperação total e de estabilidades anatômica e funcional.
O diagnóstico da lesão do LCM pode ser feito de forma confiável através da anamnese,
com história de trauma em valgo do joelho, e do exame físico, através do teste de estresse
em valgo do joelho, que é realizado em extensão total e a 30 graus de flexão. Esse teste
pode evidenciar três padrões de lesões, representados por dor e edema na topografia do
LCM durante a realização do teste nos casos leves (grau I), achados clínicos do grau I com
instabilidade leve nos casos moderados (grau II) e instabilidade grosseira nos casos gra-
ves (grau III), em que há ruptura completa do LCM. Os exames de imagem, conforme já
mencionado, são importantes, com a realização da radiografia para exclusão de fraturas e
a ressonância magnética reservada para os casos de traumas mais severos e pesquisa de
lesões associadas.
Na população em geral, o tratamento preconizado para as lesões graus I e II é o conser-
vador, com reabilitação precoce e treinamentos muscular e proprioceptivo específicos. Já as
lesões de grau III, que geralmente estão associadas a outras lesões ligamentares, podem
ser de tratamento conservador desde que seja feito de forma satisfatória e não evolua para
instabilidade crônica.
O uso de órtese rígida inguinomaleolar, ou similares, é um recurso utilizado nas pri-
meiras semanas (em torno de quatro semanas) após a lesão para neutralizar o estresse na
face medial do joelho e com isso permitir uma cicatrização satisfatória do ligamento, porém
seu uso deve ser otimizado para permitir amplitude de movimento precoce do joelho. Isso é
um conceito fundamental, uma vez que a imobilização por longo período leva a uma cicatri-
zação mais fraca do ligamento e a piores resultados funcionais (CREIGHTON et al., 2005).
Porém, na atualidade há uma tendência de mudança dessa conduta, principalmen-
te em pessoas com maior nível de performance esportiva. Em jogadores de futebol, cujo
nível de exigência biomecânica da articulação do joelho é alto, preconiza-se atualmente o
54
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
tratamento cirúrgico para as lesões grau III e o grande foco de discordância é com relação
às lesões grau II, cujo tratamento conservador ainda é, até o momento, o preconizado na
grande maioria dos casos. Porém, nesse público, quando há indicação de tratamento cirúr-
gico de outras lesões ligamentares do joelho ou quando se observa a presença do menisco
medial ʻʻflutuanteʼʼ, indica-se atualmente no mínimo o reparo das lesões de grau II do LCM
(FUNCHAL et al., 2019).

LESÕES DO JOELHO POR SOBRECARGA

Tendinopatia patelar

A tendinopatia patelar é uma lesão caracterizada principalmente pela sobrecarga do


mecanismo extensor do joelho, comum durante os movimentos executados no futebol, com
repercussões clínicas importantes e alto risco de cronificação (HÄGGLUND et al., 2011).
Algumas alterações biomecânicas são consideradas agentes etiológicos dessa pato-
logia, como aumento do momento abdutor do joelho, maior velocidade de flexão do quadril,
menor velocidade de extensão do quadril, maior velocidade de pronação do pé, dentre outros.
Porém, a sobrecarga de treinamento associado à dinâmica do futebol exerce uma influência
significante para o surgimento da tendinopatia.
A chave da fisiopatologia é a existência de poucos mediadores inflamatórios e muitas
áreas de tendinose, o que reflete especificamente a origem degenerativa da doença. A loca-
lização mais comum ocorre na porção posterior da extremidade proximal do tendão patelar
(KHAN et al., 2002).
Clinicamente, o atleta cursa com queixas de dor em topografia do tendão patelar, prin-
cipalmente nos movimentos de saltos e de aceleração e desaceleração, que geralmente
amenizam ou cessam no repouso. Qualquer teste que sobrecarregue o mecanismo extensor,
como por exemplo uma distalização passiva da patela associado a contração isométrica do
quadríceps, irá causa dor no local do acometimento.
O diagnóstico, muito sugestivo através de história e exame físico, é confirmado através
de exames de imagem, como a radiografia (alterações degenerativas em pólo inferior da
patela), a ultrassonografia (com ou sem doppler) e a ressonância nuclear magnética. A res-
sonância é o exame de maior acurácia diagnóstica, porém como o tendão patelar é uma
estrutura anatômica superficial e devido ao alto custo da ressonância, a ultrassonografia é
considerada um bom exame de imagem nessa investigação.
Em 1973, Blazina et al. classificaram a tendinopatia patelar em quatro graus, de acordo
com o sintoma clínico e sua relação com a performance esportiva. No grau I a dor ocorre
apenas durante a prática esportiva, no grau II a dor aparece no início e no fim do esporte,
55
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
sem comprometer o rendimento, no grau III ocorre dor durante toda atividade física e há
comprometimento do rendimento e no estágio IV há ruptura do tendão patelar. Outras clas-
sificações também foram publicadas para descrever as fases clínicas da patologia, muito
embasadas na classificação de Blazina, porém essa permanece como de bastante utilidade
na rotina diária.
O tratamento preconizado na grande maioria dos casos é o conservador, através de
reabilitação, focada em exercícios excêntricos do mecanismo extensor, e também no con-
trole da carga de treinamento. Terapias alternativas, ainda sem real comprovação científica
de benefícios, também foram estudadas, como terapia por ondas de choque, infiltrações
peritendíneas, câmara hiperbárica, dentre outras.
Para aqueles casos recidivantes ou sem melhora com o tratamento conservador, o
tratamento cirúrgico é indicado. Esse tratamento pode ser realizado tanto por via aberta
quanto por via artroscópica, e em ambos o objetivo principal é realizar o desbridamento do
tecido degenerado.

Doença de Osgood-Schlatter (DOS)

A DOS, que é uma apofisite de tração da tuberosidade anterior da tíbia (TAT), ocorre
mais comumente no sexo masculino, em faixa etária média entre 10 e 15 anos e na popu-
lação fisicamente ativa. Movimentos característicos do futebol, como saltos, aceleração e
desaceleração, mudanças de direção, além do grande volume de exercícios comumente
praticado pela população dessa faixa etária, são fatores predisponentes ao surgimento da
DOS. Além disso, fatores anatômicos como patela alta e músculo reto femoral encurtado
predispõe ao surgimento da patologia (VAISHYA et al., 2016).
A apresentação clínica é caracterizada por dor e edema na topografia da TAT. Esse
quadro clínico é autolimitado, com melhora total após período de repouso relativo, porém cos-
tuma ser recidivante. Em 20 a 30% dos casos, a dor é bilateral e esse é um dado que auxilia
o diagnóstico clínico. A sequela característica da patologia é a protuberância na topografia
da TAT. Além disso, o enxerto do tendão patelar para cirurgia de reconstrução ligamentar
do joelho, em pessoa com passado de DOS, torna- se uma contra-indicação relativa.
O diagnóstico da DOS é clínico, através de dados epidemiológicos característicos
associado a exame físico típico de dor e edema na TAT. Exames de imagem, como ra-
diografia e ressonância nuclear magnética, são solicitados nos casos recidivantes ou para
eventuais diagnósticos diferenciais. Entre esses, podem ser considerados a Síndrome de
Sinding-Larsen-Johansson, a Síndrome de Hoffa, a avulsão ou ruptura do tendão patelar,
a tendinopatia patelar, dentre outros. Porém, o diagnóstico de DOS geralmente é realizado
sem maiores dificuldades.
56
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O tratamento é eminentemente conservador, através de repouso relativo, analgesia
simples e fisioterapia. A reabilitação tem como princípio a realização de treinamentos para
ganho de flexibilidade da cadeia muscular posterior e para a correção de desequilíbrios bio-
mecânicos, além de trabalhos proprioceptivos. Outro fator relevante é o controle do volume
de treinamento, pois a patologia tende a ser recidivante se esse cuidado não for observado.
Para os casos recorrentes, a utilização da terapia de ondas de choque é uma opção
com bons resultados clínicos, porém reservado para adolescentes em fase final de fecha-
mento da placa epifisária.
Técnicas cirúrgicas foram descritas, como por exemplo a ressecção de fragmentos
ósseos na topografia da TAT, mas são indicadas em raríssimas situações. Recente série
de casos descreveu que nenhum dos 280 jogadores com DOS avaliados no estudo foram
submetidos a tratamento cirúrgico (BEZUGLOV et al., 2020).
A grande prevalência da DOS no futebol de base é um dos motivos que expressa
a importância do trabalho de prevenção de lesões na população dessa faixa etária. Esse
trabalho é visto apenas em times de maior relevância estrutural, portanto a grande maioria
dos jogadores dessa categoria carecem de cuidados preventivos e não apresentam controle
de carga no esporte (LOOSE et al., 2019). Apesar de apresentar- se de forma benigna na
grande maioria dos casos, a DOS recidivante poderá comprometer, devido ao longo tempo
cumulativo de afastamento do esporte, componentes técnicos e anatômicos do atleta, com
prejuízos futuros para a performance no futebol.

ENTORSE LATERAL DO TORNOZELO

A entorse lateral do tornozelo é uma das lesões articulares mais comuns no futebol e
apresenta altas taxas de sintomatologia persistente e de recidivas, com consequente mor-
bidade local e queda do rendimento esportivo do atleta.
Essas entorses acontecem principalmente após traumas indiretos, através de rápida
inversão e rotação interna do complexo pé e tornozelo. A fratura mais comumente associada
à entorse lateral do tornozelo é a do maléolo lateral, envolvida principalmente em movimento
de supinação e rotação externa desse complexo.
A avaliação clínica da integridade dos ligamentos laterais do tornozelo, bem como
da sindesmose, é fundamental. Os principais estabilizadores laterais do tornozelo são o
ligamento talo fibular anterior (LTFA), o ligamento calcâneo fibular e o ligamento talo fibular
posterior, e o LTFA é o mais comumente acometido. O teste da gaveta anterior é o mais
sensível para avaliar a ruptura do LTFA (LARKINS et al., 2020).
No exame físico é sempre importante também avaliar a presença de dor na palpação
do maléolo lateral, do maléolo medial, da base do V metatarso e do terço proximal da fíbula.
57
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além disso, no local do ambiente esportivo, a impossibilidade do atleta deambular após a
lesão é um forte indicador da presença de fratura.
A classificação introduzida por Hamilton e Kaikkonen, em 1982, graduou a severida-
de das lesões de I a III. Na prática clínica, apenas a diferença entre uma entorse simples
(grau I) e uma entorse grave (grau III) é relevante, pois o tratamento cirúrgico pode ser
considerado apenas para as instabilidades grosseiras (grau III).
O tratamento da entorse lateral do tornozelo é, na maioria dos casos, conservador,
através da adoção inicial do protocolo POLICE (carga otimizada de acordo com o quadro
clínico, crioterapia, compressão e elevação), para redução da dor e do edema, e de fisio-
terapia precoce. Para os casos de entorse sem fratura, porém com grande limitação física,
está indicado um período curto de imobilização com órtese removível (do tipo Robofoot), mas
com períodos intercalados de ADM ativa no limite da dor e de crioterapia. Longos períodos
de imobilização (acima de sete dias) pode causar uma má cicatrização biológica e sequelas
funcionais (HALABCHI et al., 2020).
O tratamento cirúrgico está indicado, na fase aguda, nos casos de fraturas desviadas
e, nos casos crônicos, nos quadros de instabilidade anatômica e funcional. Após episódios
isolados ou repetitivos de entorse, o atleta pode desenvolver uma instabilidade funcional do
tornozelo, porém não anatômica, cujo tratamento é a reabilitação com ênfase no trabalho
de propriocepção e de fortalecimento muscular.
No futebol, logo após o retorno ao esporte, está bem indicado a utilização de bandagens
flexíveis no tornozelo, através de materiais específicos ou até esparadrapo, para auxiliar na
estabilidade da articulação. Essa estabilidade é muito mais proprioceptiva do que mecânica,
porém parece auxiliar na prevenção de recidivas da entorse (HALABCHI et al., 2020).

OSTEÍTE PÚBICA

A osteíte púbica, mais conhecida no futebol como pubalgia do atleta, é uma afecção
que acomete a região da sínfise púbica e da musculatura adutora, com alta morbidade para
os atletas. Movimentos típicos dos jogadores de futebol, como aceleração e desaceleração,
chutes, rotações, dentre outros, estão envolvidos na gênese da pubalgia.
Sua etiologia ainda não foi totalmente elucidada, porém o desbalanço entre a muscu-
latura do reto abdominal, menos dominante, e a musculatura adutora, mais dominante, é
considerado o principal fator envolvido com a patologia em jogadores de futebol. O fulcro
de ação dessas musculaturas é na região da sínfise púbica, que sofre um desgaste crônico
devido a esse desbalanço muscular, principalmente devido à dinâmica do futebol, o que
ocasiona a longo prazo o início dessa patologia (VIA et al., 2018).

58
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A história clínica sugestiva, associada ao exame físico, fornece fortes indícios da exis-
tência dessa patologia, porém a confirmação ocorre através de exames de imagem. A radio-
grafia é importante para o diagnóstico diferencial, principalmente de patologias intra-articu-
lares, e para a observação de achados frequentes na osteíte púbica, como irregularidades
ósseas tanto na sínfise púbica quanto na tuberosidade isquiática. A ultrassonografia dinâmica
é importante para o diagnóstico diferencial de herniações e a ressonância magnética é o
exame padrão ouro para o diagnóstico da osteíte púbica.
O principal diagnóstico diferencial é com a hérnia do atleta, patologia que cursa com dor
inguinal e é caracterizada por fraqueza da parede posterior do canal inguinal, porém sem ter
a formação de uma hérnia inguinal clássica. O tratamento conservador das duas patologias
tem princípios semelhantes, através das correções de desbalanços musculares e instabilidade
pélvica, porém o tratamento cirúrgico é diferente. Por esse motivo, é sempre importante a
realização de uma ultrassonografia dinâmica para se descartar a existência da hérnia.
O tratamento da osteíte púbica é inicialmente conservador. Para jogadores profissio-
nais, preconiza-se a realização de reabilitação durante período médio de três meses e, para
os atletas amadores, esse tempo pode ser postergado para seis meses. Caso não ocorra
sucesso com o tratamento conservador, está indicado o tratamento cirúrgico.
Na técnica cirúrgica, realizada através de incisão clássica de Pfannenstiel (a mesma da
cesariana), realizam-se ressecção parcial da fáscia abdominal e total do ligamento púbico
superior, desbridamento e microperfurações do disco fibrocartilaginoso interpúbico e do osso
subcondral e tenotomia parcial da musculatura adutora bilateral (SOUSA et al., 2005). A rea-
bilitação, após melhora inicial do pós- operatório, deverá ser focada na correção de dese-
quilíbrios musculares nas regiões lombar, abdominal e pélvica (QUEIROZ et al., 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento das características clínicas e terapêuticas das principais lesões ortopé-


dicas do futebol é importante não só para o manejo adequado, mas também como parâmetro
de monitorização da carga de trabalho e dos protocolos preventivos.
Uma das chaves do sucesso no tratamento das lesões do esporte é a existência de uma
equipe multidisciplinar focada na recuperação integral do atleta e na prevenção da recidiva
das lesões. Isso, em equipes de melhores condições financeiras do futebol profissional, é
uma realidade. Porém, para os outros, ainda é algo de difícil execução, na maioria dos ca-
sos. E essa dificuldade não reflete apenas o fator financeiro, mas também um entendimento
equivocado de que a saúde do atleta não é vista como um investimento.
Apesar de todos os recursos tecnológicos empregados no esporte, as lesões muscu-
loesqueléticas no futebol continuarão a ocorrer, pela própria natureza da modalidade. Porém,
59
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
a atenção dos profissionais que atuam nas Ciências do Esporte e da Saúde deve ser a de
monitorizar potenciais fatores de risco modificáveis, com objetivos de diminuir a incidência e
amenizar as consequências das lesões, como por exemplo através dos diferentes trabalhos
preventivos e do controle das variáveis da carga de trabalho executadas pelos atletas.

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62
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
04
Odontologia do esporte no futebol:
Revisão da Literatura

Cesar Penazzo Lepri


UNIUBE - Universidade de Uberaba

Carla Silva Carvalho


UNIUBE - Universidade de Uberaba

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

10.37885/210705418
RESUMO

A odontologia do esporte é uma especialidade que atua nos cuidados à saúde bucal
dos atletas e que ganha espaço crescente devido à sua relação direta e indireta com a
performance e a saúde geral dos esportistas. Patologias odontológicas, muitas vezes
subclínicas, podem predispor ao surgimento e perpetuação de lesões musculoesquelé-
ticas recidivantes, que ocasionam alta morbidade aos praticantes da modalidade. Essas
lesões, em um esporte tão popular como o futebol, tanto amador quanto profissional,
podem representar um considerável custo financeiro. Por esse motivo, a presença do
profissional odontólogo no futebol é uma realidade e uma necessidade para os que atuam
principalmente no esporte de alto rendimento.

Palavras-chave: Odontologia do Esporte, Medicina Esportiva, Futebol.

64
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

A odontologia do esporte (OE) é uma especialidade em que o cirurgião dentista trabalha


com promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças que afetam a cavidade oral
em atletas (ANDRADE et al., 2017). A OE contribui para que haja condições favoráveis da
saúde bucal, o que resulta em um melhor rendimento durante as competições.
O odontólogo deve-se atentar a problemas como respiração bucal, mau posicionamento
das arcadas, lesões cariosas e não cariosas e doenças periodontais. Esses fatores podem
induzir a um processo inflamatório e interferir na qualidade de vida e bem- estar dos atletas
(ASHLEY et al., 2014).
O objetivo desse capítulo realizar uma revisão da literatura sobre a importância e os
principais aspectos clínicos relacionados à odontologia do esporte no futebol.

DESENVOLVIMENTO

– Histórico e Importância da Odontologia do Esporte

No futebol há uma grande exigência sobre o desempenho físico dos jogadores, que é
um padrão alcançado quando o atleta se encontra saudável, e por esse motivo muitos in-
vestimentos são feitos para que o atleta tenha um alto rendimento nos jogos. Logo, deve-se
prevenir e tratar de forma precoce problemas de saúde geral e bucal com a finalidade de
evitar a queda de performance do jogador (GAY-ESCODA et al., 2011).
A inserção da odontologia na prática do esporte é de grande relevância para que se
tenha um alto desempenho esportivo, pois as patologias da cavidade bucal do atleta são
frequentes (PASTORE et a., 2017). Em um estudo realizado por Rosa et al., 400 jogadores
de futebol do time da Portuguesa foram analisados. Os resultados mostraram que entre
os jogadores do time de base, 71% apresentaram lesões de cárie e 14% focos infecciosos
dentais. Dos jogadores do time profissional, 68% apresentaram lesões de cárie e 23% focos
infecciosos dentais.
A odontologia do esporte foi reconhecida como uma nova especialidade em 2015
(CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2021), mas começou a se integrar ao esporte
brasileiro quando o dentista Mário Trigo passou a acompanhar a seleção brasileira de futebol
nas Copas do Mundo de Futebol de 1958, 1962, 1966 e 1970 (SOARES et al., 2014).
O cirurgião-dentista fazia parte da equipe do time do Fluminense que tinha como téc-
nico Ondino Vieira, e permaneceu lá até o 1946. O médico Hilton Gosling, que na época
fazia parte do Departamento Médico do Fluminense, relatou a dificuldade dos jogadores se
recuperarem das contusões. Com isso, Trigo passou a investigar a relação entre a presença
65
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de focos infecciosos presentes na cavidade oral dos atletas e a melhora das lesões sofridas
pelos jogadores. Ele observou que o seu trabalho aliado à equipe médica possibilitava uma
melhora significativa no desempenho dos jogadores, facilitando a recuperação. Quando
Trigo passou a fazer parte da seleção brasileira como dentista, ele se integrou com o pro-
fessor Chriso Fontes, Diretor da Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do
Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ), para realizar exames clínicos nos
jogadores (PADILHA et al., 2016).
Mário Trigo conta em seu livro “O Eterno Futebol” (2002) que, para a preparação do
campeonato mundial em 1958, na Suécia, houve a necessidade da extração de 118 dentes
dos 33 jogadores. Muitas outras histórias de quando acompanhou a seleção brasileira são
relatadas em sua obra. Depois de Trigo, Carlos Sérgio Araújo (1994, 1998 e 2002) fez parte
da equipe da Seleção Brasileira de Futebol como cirurgião-dentista (COSTA et al., 2015).
A OE vem ganhando cada vez mais espaço. Muitos clubes de futebol se preocupam
em proporcionar acesso à saúde bucal para seus jogadores. Clubes como Atlético Mineiro,
Botafogo, Corinthians, Flamengo, Ceará, Coritiba e São Paulo, dentre outros, oferecem aos
seus atletas um setor específico odontológico (TEIXEIRA et al., 2021).
A especialidade da OE possui uma esfera ampla. Além de englobar traumas e confec-
ções de protetores bucais, também está relacionada à prevenção e tratamento de doenças
bucais, reparação dos tecidos musculares lesionados, vigilância do doping, desordens das
articulações temporomandibulares, alterações respiratórias e outros fatores que possam
diminuir o rendimento do atleta (COSTA, 2009).

– Problemas mais comuns na saúde bucal dos atletas

As doenças bucais podem afetar o desempenho nas atividades e a saúde geral dos
esportistas. Os patógenos presentes em uma inflamação, além de comprometerem a es-
trutura dentária e tecidos de suporte, podem gerar outros problemas, como aterosclerose,
infecções respiratórias e dificuldades da recuperação tecidual, o que afeta a qualidade de
vida e o bem-estar do profissional (TEIXEIRA et al., 2021). A lesão cariosa, erosão dentá-
ria, problemas periodontais, traumas dentários, má oclusão, disfunção temporo-mandibular
(DTM), terceiros molares impactados e pericoronarite são problemas recorrentes encontrados
na cavidade oral do atleta (ASHLEY et al., 2014).

1. Cárie Dentária

A cárie dentária é uma doença bacteriana infecciosa, transmissível e multifato-


rial. A sua ocorrência ocorre pela interação entre fatores determinantes, como hospedeiro,
microbiota, dieta e tempo (HEYMANN et al., 2013). Durante esse processo, acontece um
66
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
desequilíbrio entre a perda e o ganho de minerais, com consequente formação da lesão
cariosa (BATISTA et al., 2020).
Se não tratadas, essas lesões podem ocasionar dor e progressão para alguma infecção
endodôntica ou até mesmo a perda do elemento dental, ambas extremamente prejudiciais ao
esportista. Além disso, esses problemas podem afetar a mastigação e a alimentação, prejudi-
cando o ganho energético dos alimentos e o desempenho esportivo (TEIXEIRA et al., 2021).

2. Doença Periodontal

A doença periodontal se caracteriza como uma patologia de caráter infeccioso e inflama-


tório, de origem bacteriana, que afeta os tecidos de suporte do elemento dental. Atualmente
existem evidências crescentes das associação entre doenças infecto inflamatórias orais e
uma série de inflamações em outros órgãos (PADILHA et al., 2016). Em estudo realizado
por Ionel e colaboradores (2016), a periodontite foi considerada um fator de risco para doen-
ça cardiovascular aterosclerótica. Além disso, existem evidências científicas que a doença
periodontal influencia de forma negativa o processo metabólico responsável pela hipertrofia
muscular, o que pode prejudicar a recuperação tecidual.
A doença periodontal e a doença cárie são problemas que estão relacionados com a
presença de biofilme microbiano. Essas patologias também levam a crescentes níveis de
citocinas no organismo, mais comumente o fator de necrose tumoral (TNF-α) e interlucina-6
(IL-6), que estão envolvidas no surgimento de fadiga muscular no atleta. Além disso, o mús-
culo diminui a sua capacidade de absorção de energia, o que pode facilitar a ocorrência de
lesão muscular ou até mesmo sua recidiva (SOLLEVELD et al., 2015).
Um estudo realizado por Gay-Escoda e colaboradores (2011) teve como objetivo avaliar
o estado da saúde bucal dos jogadores do clube Barcelona (Espanha) e correlacionar com a
incidência de lesões desportivas. Houve uma correlação estatisticamente significante entre o
índice de placa e a profundidade de sondagem com as lesões musculares. Com isso, pode-
-se inferir uma possível influência da doença periodontal no estado de saúde dos jogadores.

3. Trauma Dentário

As atividades esportivas, principalmente devido ao grande contato entre os atletas, são


fatores de risco potenciais para o traumatismo dentário ou orofacial (CAGLAR et al., 2009).
Nos esportes que envolvem velocidade e contato próximo, como o futebol, esse risco é
alto (TOZOGLU et al., 2006). Em um trabalho realizado por Correa e colaboradores (2010)
evidenciou-se que 74,1% dos jogadores já sofreram alguma lesão da cavidade oral e que
59,3% apresentaram avulsões dentárias.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O trauma dentário pode ser evitado através de dispositivos que conferem proteção aos
dentes e periodonto. Os protetores bucais são capazes de absorver o choque na boca, preve-
nindo assim lesões desencadeadas por queda ou golpe na região oral (CAGLAR et al., 2009).

4. Má Oclusão

A oclusão se define como a relação de encaixe dos dentes, ou seja, quando a arcada
dental entra em contato com a arcada antagonista, sem relação com a posição da mandíbula
(STEFANELLO et al., 2006).
Em uma pesquisa realizada por Souza e colaboradores, foi evidenciado que 47% dos
atletas estudados possuíam algum problema relacionado à oclusão, como sobremordida
profunda, mordida aberta, diastemas e apinhamento dental.
A má oclusão pode interferir de forma negativa no desenvolvimento do atleta. Esse
problema pode prejudicar a mastigação e a digestão dos alimentos, o que diminui a absor-
ção de nutrientes e leva à perda de equilíbrio muscular, dores de cabeça e problemas na
articulação temporomandibular. Por isso, torna-se importante que o dentista detecte esse
tipo de problema na cavidade oral do esportista (SOUZA et al., 2011).

5. Disfunção Temporomandibular

A disfunção temporomandibular é um termo usado para englobar uma série de condi-


ções clínicas referentes à musculatura mastigatória ou às articulações temporomandibulares
(PERGAMALIAN et al., 2003). Sintomas típicos podem estar presentes, como dores na área
pré-auricular, na ATM ou nos músculos da mastigação, além de crepitações e assimetrias
durante movimentos mandibulares (FREIWALD et al., 2020).
Alterações psicológicas e situações estressantes se relacionam a problemas que en-
volvem a ATM. Pessoas que apresentam estresse contínuo são mais propensas a terem
tensão muscular e bruxismo, que é um hábito parafuncional, com prejuízo às articulações
da mandíbula (SOLLEVELD et al., 2015).
Para que se tenha êxito no tratamento, é necessário que se descubra a causa. Porém
,de uma forma geral há alívios sintomáticos através de placas miorrelaxantes. No entanto,
é preciso ressaltar que elas não devem ser usadas como única forma de tratamento, mas
sim como parte ou até mesmo como coadjuvante a outras terapias (PORTERO et al., 2009).
Para os esportistas que fazem uso do protetor bucal, é importante a realização de
controles periódicos para verificar o ajuste oclusal e a retenção da placa, já que as interfe-
rências nos protetores podem desencadear apertamento dental e sobrecarregamento da
ATM (TEIXEIRA et al., 2021).

68
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
6. Terceiros Molares Impactados e Pericoronarite

O aumento da prática de esportes leva a um maior risco de traumas faciais e orais. A fra-
tura de algum osso facial é uma injúria grave e comum para atletas. Na mandíbula, o local que
mais ocorre é no ângulo, muito provavelmente devido à presença de um terceiro molar inferior
impactado. Por isso, recomenda-se a remoção profilática desse dente (YAMADA et al.,1998).
A pericoronarite geralmente é associada aos terceiros molares. Quando o dente está
irrompendo forma-se a lacuna pericoronária, que é um espaço entre a coroa dentária e a
mucosa oral. Nessa área ocorre o acúmulo de bactérias e resíduos que acarreta a pericoro-
narite, uma condição inflamatória e dolorosa. A prevenção deste problema está associada
à higienização oral (CAYMAZ et al., 2021).

7. Erosão Dental

O processo de erosão dentária se define como a perda patológica e crônica do tecido


dentário por ácidos intrínsecos e extrínsecos, sem o envolvimento bacteriano (RAMALHO
et al., 2015). Essa condição recebe a atenção de profissionais e pesquisadores, pois a sua
prevalência tem crescido ao longo dos anos devido ao aumento do consumo de bebidas e
alimentos ácidos.
O consumo de bebidas esportivas é um fator de risco para a erosão dentária e o seu
consumo entre atletas é incentivado por nutricionistas e treinadores (PICCININNI et al.,
2017). Esse tipo de bebida possui um grande potencial erosivo e cariogênico por ter baixo
pH e altas concentrações de carboidratos fermentáveis (BRYANT et al., 2011).

– Patologias odontológicas como causa da recidiva de lesões musculoes-


queléticas

No futebol há um grande temor por parte dos atletas e da comissão técnica com a
recidiva de lesões musculoesqueléticas, principalmente lesões musculares, devido a sua
alta incidência e ao consequente tempo de afastamento do esporte. Meios de monitora-
mento preventivo dessas lesões através de questionários subjetivos de esforço, correção
de desbalanços biomecânicos, dosagem de biomarcadores, exames de imagem seriados,
termografia, dentre outros, são empregados de rotina principalmente nos clubes de maior
expressão econômica.
Apesar de todo esse aparato tecnológico empregado no monitoramento preventivo
das lesões, patologias rotineiras ainda são comumente negligenciadas na rotina do futebol
(amador e profissional). Dentre essas patologias, destacam-se as de causas infecciosas da
cavidade bucal, como a cárie dentária e as doenças periodontais, muitas vezes relacionadas
69
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ao surgimento e à perpetuação dessas lesões recidivantes. Conforme já mencionado, essas
doenças infecciosas, que podem ser subclínicas, ocasionam reações imunológicas locais e
sistêmicas que interferem negativamente no processo de cicatrização dos tecidos biológicos
(SOLLEVELD et al., 2015).
E devido à dinâmica do esporte, esse processo é particularmente relevante no futebol.
Nessa modalidade, principalmente se praticada em alta performance, naturalmente o tecido
muscular sofre intensas reações inflamatórias agudas, muitas vezes com perda do balanço
fisiológico em desfavor do processo de reparação tecidual, o que o torna um nicho satisfa-
tório para o surgimento das lesões (PASTORE et al., 2017). Esse mesmo processo também
ocorre nos outros tecidos musculoesqueléticos, porém em menor intensidade.
Na vigência dessas patologias da cavidade oral, as citocinas produzidas no processo
inflamatório irão desencadear, de formas direta e indireta, uma diminuição da performance
funcional musculoesquelética o que, somado a alta carga de trabalho, serão fatores pre-
ponderantes nas recidivas das lesões. Além disso, como fator adjuvante a essa cascata
fisiopatológica e que ajuda a explicar a relação entre doenças odontológicas e recidivas de
lesões, no esporte profissional os atletas estão frequentemente sujeitos a períodos de relativa
imunossupressão humoral e celular, com consequente aumento do catabolismo dos tecidos.
Portanto, as patologias odontológicas não tratadas cursam com uma situação de estado
inflamatório crônico, o que dificulta a reparação tecidual musculoesquelética, que é um pro-
cesso constantemente necessário em um atleta de futebol. Associado a isso, muitas vezes
os atletas não respeitam o período biológico de cicatrização e retornam de forma precoce
ao esporte culminando, portanto, em um círculo vicioso de difícil resolução clínica.
Destaca-se assim a necessidade de uma atenção especial à saúde bucal dos atletas,
através de avaliações seriadas e preventivas. Medidas simples proporcionadas através desse
monitoramento odontológico podem muitas vezes ser mais eficazes do que os potenciais
benefícios gerados por todo o poder tecnológico empregado na melhora da performance e
na prevenção de lesões no futebol.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cirurgião-dentista é um profissional que deve fazer parte da equipe médica de saúde


que acompanha um time de futebol. A função do profissional odontólogo é zelar pela saúde
bucal dos atletas, fazendo com que se diminua a carga de microrganismos que circula para
outras áreas do organismo e prevenir acidentes desportivos.
A odontologia do esporte é necessária, já que interfere no desempenho dos jogadores.
Muitas doenças orais podem comprometer a eficácia mastigatória, gerar problemas respi-
ratórios e diminuir a capacidade de reparação tecidual. Esses fatores podem desencadear
70
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
um maior cansaço no atleta e diminuição da sua concentração, o que atrapalhará a sua
performance durante jogos e competições.
Orienta-se, então, que os jogadores de futebol tenham acesso à especialidade odon-
tológica na equipe de saúde do clube, visto que muitos problemas podem ser evitados com
a avaliação de um profissional capacitado para detectar alterações orais que podem com-
prometer na integridade do atleta.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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73
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
05
Futebol de campo e variabilidade
da frequência cardíaca: Revisão da
Literatura

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

Octávio Barbosa Neto


UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro

10.37885/210705519
RESUMO

O futebol moderno demanda o conhecimento de diferentes parâmetros para o estudo


de recursos com objetivos de melhora da performance e do controle das cargas de trei-
namento. Entre esses parâmetros, destaca-se a variabilidade da frequência cardíaca,
que é a interpretação da influência do sistema nervoso autônomo sobre o sistema car-
diovascular. Nesse sentido, sabe-se que jogadores com maior modulação autonômica
cardíaca (principalmente com maior atividade vagal) demonstram maiores capacidades
funcionais. Assim, sugere-se que o emprego rotineiro da análise da variabilidade da
frequência cardíaca pode ser útil e servir de parâmetro para fisiologistas e treinadores
criarem estratégias de individualização de cargas de treinamento e, com isso, proporcionar
melhora da performance e prevenção de lesões musculoesqueléticas.

Pa l av r a s - c h ave: Fu te b o l, S i s te m a N e r vo s o Au t ô n o m o, Fr e q u ê n c i a Ca r día c a ,
Medicina Esportiva.

75
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

Como um verdadeiro fenômeno, o esporte apresenta várias possibilidades de manifes-


tação e está engajado na cultura universal que agrega a saúde ao bem estar, que serve tanto
à Educação e ao lazer quanto ao esporte de alto rendimento (profissional). Sua prática tem
tal rogativa que cria um verdadeiro espírito esportivo estimulando crianças, jovens, adultos,
idosos e até mesmo portadores de necessidade especiais à sua prática.
Existe um arsenal de comprovação a respeito dos benefícios da prática esportiva,
assim como evidências da relação entre tal prática e a diminuição do risco de morte súbita
em pessoas fisicamente ativas (AUNE et al., 2020).
Dentro deste vasto mundo esportivo, o futebol é indiscutivelmente o esporte com o
maior número de praticantes em todo o mundo. Fundada na cidade de Paris, em 1904, a
Fédération Internationale de Football Association (FIFA) tem atualmente 211 organizações
esportivas privadas associadas e representa o esporte em países e territórios, além de apro-
ximadamente 260 milhões de pessoas no mundo estarem envolvidas direta ou indiretamente
com o esporte (KUNZ et al., 2007).
De forma geral, o futebol tornou-se mais do que um esporte, e a propagação dessa
paixão esportiva está intimamente ligada à sua evolução, que trouxe reformulações nos pa-
drões e nas formas das equipes atuarem, passando também pelas otimizações na preparação
física, nos aspectos fisiológicos e nas partes médica, nutricional e psicológica, permitindo
que o futebol se torne cada vez mais dinâmico e competitivo.
Essas mudanças na modalidade, tanto da dinâmica quanto da competitividade nos
jogos, fizeram com que a exigência física se tornasse cada vez maior. Com isso, as impor-
tâncias da preparação e das avaliações físicas se fizeram notórias e tornaram-se alvos de
pesquisas científicas em busca de aperfeiçoamentos (LOTURCO et al., 2020).
No contexto das adaptações fisiológicas utilizadas para incremento da preparação
física, há destaque nas respostas do sistema nervoso autônomo (SNA) durante o exercício,
avaliadas através da modulação autonômica cardíaca a partir da variabilidade da frequên-
cia cardíaca (VFC), que é um parâmetro sensível a alterações nas cargas de treinamento
e parece ser uma ferramenta importante para a prescrição de treinamento individualizado
(JAVALOYES et al., 2020).
O objetivo desse capítulo foi descrever os potenciais benefícios da utilização mais
rotineira da variabilidade da frequência cardíaca no futebol de campo.

76
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
DESENVOLVIMENTO

Paralelamente a todas as preocupações em torno das capacidades físicas para um


melhor rendimento dos jogadores em campo, existe um considerável corpo literário sobre
os aspectos médicos e fisiológicos do futebol, principalmente por ser uma modalidade com
grande número de participantes e envolver um considerável fluxo financeiro. Porém, a lite-
ratura sobre a influência da VFC no futebol ainda é escassa.
Como os atletas apresentam diferentes aptidões físicas (aptidão aeróbica, flexibilidade,
força e potência musculares, equilíbrio e composição corporal), existe uma controvérsia em
relação à modulação autonômica cardíaca entre eles, em especial em jogadores de futebol
(RODRÍGUEZ-FERNÁNDEZ et al., 2019).
De fato, existem poucos estudos que examinaram as alterações da VFC em jogadores
de futebol (BUCHHEIT et al., 2010; LUCINI et al., 2020). Por exemplo, Buchheit et al. (2010)
relataram que menor coeficiente de variação na VFC diária foram significativamente asso-
ciadas à velocidade aeróbia máxima em um grupo de jovens jogadores de futebol. Porém, é
inegável que o emprego mais rotineiro desse parâmetro autonômico fornecerá informações
importantes para a melhora da performance no esporte.

Modulação Autonômica Cardíaca

O sistema cardiovascular, assim como os demais sistemas, possui uma organização


integrada, caracterizada pela interação de subsistemas, pelas oscilações autossustentáveis
e pelos circuitos de retroalimentação, que respondem a estímulos intrínsecos e extrínsecos,
incluindo o comando central, os mecanismos reflexos e o controle humoral.
Várias são as técnicas disponíveis para a avaliação da função autonômica cardiovas-
cular, dentre as quais podemos citar a medida de catecolaminas circulantes, as respostas
a estímulos estressantes, o teste da função barorreflexa, os registros eletromiográficos de
fibras simpáticas vasomotoras, dentre outras. A maioria dessas técnicas, embora úteis na
avaliação do estado autonômico é, em sua grande maioria, invasiva e de difícil execução
no contexto clínico ambulatorial.
Mais recentemente, para a análise do SNA cardiovascular, softwares específicos têm
sido desenvolvidos para determinar as variações contínuas que ocorrem nos valores dos
ciclos cardíacos normais, detectadas através de registro contínuo computadorizado do ele-
trocardiograma (ECG) ou através de registros do Holter de longa duração.
Reflexos eferentes simpáticos e parassimpáticos atuam sobre o nó sinusal e produzem
modificações dos ciclos P-P do ECG, consequência dos efeitos modulatórios autonômicos
sobre o marcapasso sinusal do coração. Aceita-se que o sistema nervoso parassimpático
77
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
(SNP), através de seus efeitos colinérgicos, seja o maior responsável pela variabilidade dos
ciclos P-P normais. Corroborando esta afirmativa, observa-se que as drogas que produzem
redução dos efeitos vagais, como por exemplo as drogas antimuscarínicas (atropina), redu-
zem de forma evidente e significativa as flutuações dos ciclos cardíacos e as que aumentam
os reflexos vagais (beta bloqueadores) produzem imediato efeito inverso.
Akselrod et al. (1981), foram um dos primeiros grupos de pesquisa a relatarem que
a variabilidade dos parâmetros cardiovasculares contém informações importantes sobre o
controle autonômico da circulação. A quantificação dessas flutuações durante o repouso
proporciona informações sobre a regulação cardiovascular, sem requerer estímulos que
possam interferir com os parâmetros medidos.
Variações cíclicas na VFC são decorrentes dos impulsos parassimpáticos e simpáticos
sobre o coração. Quanto maiores os efeitos parassimpáticos, maiores serão as flutuações.
Uma baixa variabilidade indica a existência de depressão da atividade vagal e/ou exacer-
bação da atividade simpática cardíaca.
Os reflexos autonômicos exercem um papel fundamental sobre todos os mecanismos
regulatórios cardíacos. As propriedades eletrofisiológicas, a dinâmica cardíaca e a função
contrátil são profundamente influenciadas por eles. Em adição, os reflexos autonômicos
podem alterar de forma importante os mecanismos de doença, facilitando o aparecimento
de eventos arrítmicos graves e, muitas vezes, fatais, como a morte súbita.
O sistema nervoso simpático (SNS) exerce um nítido efeito arritmogênico, ao contrário
do SNP, que exerce uma ação inversa. A maioria dos eventos cardíacos acompanha-se
momentaneamente de um aumento da atividade simpática cardíaca. Assim, é possível que
a análise do perfil autonômico cardíaco por meio da análise da VFC represente um elemento
importante para a estratificação de risco em algumas doenças cardíacas.
Dois métodos são normalmente utilizados para a avaliação da VFC. Um explora o
domínio de tempo (DT), através de índices estatísticos extraídos das variações temporais
dos ciclos (expressos normalmente em milisegundos) ou dos percentuais de flutuação ob-
servados em ciclos adjacentes (%). O outro, no domínio da frequência (DF), define e separa,
por meio da análise espectral, as diversas respostas de frequência (Hz) observadas nas
variações das séries temporais de intervalo RR (iRR) de batimentos cardíacos consecutivos
(TASK FORCE, 1996).
A análise da VFC no DT é feita a partir das variações dos ciclos cardíacos considera-
dos normais. São extraídos índices para quantificação da VFC, com o tempo utilizado como
variável. Representam, em sua maioria, valores estatísticos que englobam todo o período
de gravação, ou parte do mesmo. Na maioria dos programas, esses índices somente são
avaliados a partir de um mínimo de cem ciclos sucessivos, mensurados por períodos de
78
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
cinco minutos, desprezando-se automaticamente variações bruscas com valores superiores
a 25% do precedente. Assim, hipoteticamente, são abolidas as alterações consequentes às
ectopias supraventriculares e ventriculares ou a artefatos de registro (TASK FORCE, 1996).
Alguns índices de VFC no DT têm sido amplamente utilizados para estratificação de
risco, por exemplo, no período após o infarto do miocárdio. Na maioria dos pacientes obser-
va- se, nas primeiras 48 horas de evolução do processo agudo, uma progressiva redução
da VFC por depressão da atividade vagal.
A análise da VFC no DF para avaliação da função autonômica cardíaca ganhou um
marcante impulso como um novo e promissor recurso metodológico, não invasivo, de grande
simplicidade e de fácil aplicação em nível ambulatorial ou hospitalar. Este método permite
caracterizar em valores absolutos e relativos os componentes modulatórios simpático e
parassimpático cardíaco e, assim, o balanço funcional entre ambos. Ele consiste na análise
computadorizada da variabilidade espontânea de uma série de iRR do ECG no DF por meio
da análise espectral.

VFC como protocolo de avaliação física no futebol

Existem muitos métodos usados atualmente para monitorar o desempenho e/ou nível
de fadiga dos atletas e suas respostas às cargas de treinamento. Nesse sentido, a VFC tem
sido amplamente utilizada como uma ferramenta não invasiva e que economiza tempo para
monitorar o estado de treinamento e as adaptações fisiológicas em indivíduos sedentários
esportistas e atletas altamente treinados (GRANERO-GALLEGOS et al., 2020).
Em se tratando de desempenho físico, a VFC analisada no período prévio a um pro-
grama de treinamento apresentou relação positiva com o aumento no VO2máx após treina-
mento, em não atletas (HAUTALA et al., 2003), sugerindo que a VFC pode ser importante
preditora do potencial de melhora da aptidão aeróbia. Portanto, pode-se sugerir que a VFC
provavelmente esteja associada a melhoras no desempenho físico, pois existe relação entre
testes de desempenho físico e VO2máx (BANGSBO et al., 2008).
Estudos evidenciaram também que a melhora na resistência aeróbia está associada
positivamente com a modulação autonômica cardíaca de repouso (HAUTALA et al., 2003)
e as mudanças dessa VFC em resposta ao treinamento físico (BOULLOSA et al., 2013).
Índices parassimpáticos no DT e no DF, além de métodos não lineares da VFC, podem
ser implementados de forma eficaz para orientar a prescrição da carga de treinamento
(JAVALOYES et al., 2020).
De fato, Vesterinen et al. (2016) demonstrou que um protocolo de treinamento adapta-
do por medidas diárias de VFC proporcionou ganhos de desempenho superiores do que o
treinamento periodizado tradicional em atletas de resistência. No programa de treinamento
79
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
individualizado aplicado neste estudo, os atletas apenas realizaram sessões de treinamento
de alta intensidade durante os períodos em que a modulação vagal cardíaca estava dentro
dos limites normais e/ou mais altos.
É importante salientar que atletas com maiores níveis parassimpáticos de VFC e ap-
tidão cardiorrespiratória são mais eficazes em realizar e suportar uma determinada carga
de treinamento, com menores oscilações da VFC (NAKAMURA et al., 2016). Essas desco-
bertas levaram pesquisadores a defender a idéia da importância de manter altos níveis de
atividade parassimpática cardíaca em atletas, afim de otimizar as adaptações relacionadas
ao treinamento (VESTERINEN et al., 2016). Isso é especialmente verdadeiro quando se
considera os valores drasticamente mais baixos da VFC encontrados em atletas com ex-
cesso de treinamento.
Outras investigações evidenciaram de forma similar uma associação entre os índi-
ces basais da VFC e a capacidade máxima de sprint, aceleração e capacidade de sprint
repetido, além da capacidade aeróbia, em jovens jogadores de futebol (RODRÍGUEZ-
FERNÁNDEZ et al., 2019).
Embora a literatura mostre uma tendência a uma maior modulação vagal cardíaca em
atletas (PROIETTI et al., 2017), isso não é consenso (BOYETT et al., 2013). Essa contro-
vérsia não é surpreendente, pois é possível que momentos distintos de testes ao longo da
temporada competitiva, ou diferenças entre modalidades esportivas ou ainda especializa-
ções dentro da mesma modalidade, possam ser a razão para essas discrepâncias. Nesse
contexto, um cenário ideal seria a adoção de protocolo de triagem pré-participação de rotina
em jogadores de futebol de elite, repetido consecutivamente, o que proporcionaria uma
oportunidade única para entender o comportamento de algumas dessas variáveis.
Alternativamente, a análise da VFC no período noturno pode ser considerada uma fer-
ramenta mais adequada para o monitoramento do treinamento de futebol, uma vez que ela
não é afetada por fatores como estresse emocional ou nível de hidratação que influenciam
as avaliações de campo da VFC (BOULLOSA et al., 2012).
Os índices de VFC mais comumente usados em configurações esportivas são o desvio
padrão dos intervalos RR (iRR) sucessivos (SDNN) do ECG, que são responsáveis pela
modulação autonômica cardíaca global (ou seja, ramos simpáticos e parassimpáticos) e a
diferença quadrada média de iRR normais sucessivos (RMSSD), que isola a modulação
parassimpática no nodo sinusal. Além disso, as oscilações dos iRR nas bandas de baixa
(Low Frequency - LF) e alta frequências (High Frequency - HF) também têm sido utilizadas
para indicar as atividades predominantemente simpática e parassimpática no nodo sinusal,
respectivamente (TASK FORCE, 1996).

80
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Recentemente, todavia, um estudo envolvendo jogadores de futebol profissional suge-
riu o uso de dois novos índices de VFC. Um deles é escore de estresse, que é uma função
inversa do índice SD2 do Plot de Poincaré (método não linear da VFC), resultando em uma
medida que é diretamente proporcional à atividade simpática. O outro é a relação simpático/
parassimpático, que avalia o equilíbrio entre os dois ramos do sistema autonômico cardíaco.
Embora o significado fisiológico do escore de estresse e da relação simpático/ parassimpá-
tico precise ser esclarecido em investigações futuras, seu cálculo parece ser válido, pois a
dinâmica não linear dos batimentos cardíacos apresenta relações fortes e coerentes com os
índices de VFC no DT, com a vantagem de fornecerem um índice de modulação puramente
simpática e um índice de equilíbrio simpático-vagal.
É reconhecido que a interpretação de qualquer índice de VFC não é direta, especial-
mente se considerarmos o comportamento caótico determinístico da dinâmica da frequência
cardíaca sob interação simpato-vagal exacerbada. É importante notar que é extremamente
difícil isolar completamente a modulação dos ramos simpáticos ou parassimpáticos do SNA
no nodo sinusal por meio dos índices da VFC. Todavia, uma associação clara entre a dimi-
nuição do índice SD2 e a estimulação simpática durante o exercício foi observada (DELA
CRUZ TORRES et al., 2008) e utilizada para propor o escore de estresse. Mais importante,
o bloqueio parassimpático sob baixa interação simpatovagal (através da administração de
baixas doses de atropina), condição fisiológica comum em repouso, resultou em uma ate-
nuação progressiva linear do SD1 (índice mediado pelo vago) enquanto o SD2 permaneceu
inalterado (TULPPO et al., 1996).
A taxa de recuperação da FC (RFC), ou seja, reativação vagal, é outra ferramenta de
monitoramento simples e interessante que também pode identificar adaptações autonômicas
cardíacas associadas ao treinamento físico. Especificamente, uma RFC mais rápida (10-20s)
foi considerada indicativa de adaptações autonômicas específicas para atletas de espor-
tes intermitentes, provavelmente como resultado da recuperação limitada (<30 s) entre os
esforços, com uma RFC mais rápida observada em jovens jogadores de futebol com maior
capacidade aeróbia (OSTOJIC et al., 2011).
Enquanto as avaliações laboratoriais e de campo tradicionais têm sido realizadas em
atletas (Kalapotharakos et al.,2011), jogos curtos (ʻʻsmall-sided gamesʼʼ) têm sido frequen-
temente usados por treinadores para melhorar simultaneamente as capacidades físicas e
técnicas dos jogadores, reproduzindo assim atividades de jogos intermitentes em um am-
biente bem controlado (MASCARIN et al., 2018).
Assim, pode ser sugerido que as adaptações autonômicas cardíacas de treinamento
em jogadores de futebol possam ser refletidas por uma RFC mais rápida (ultracurta) regis-
trada entre esforços durante jogos curtos, uma condição de exercício mais específica do que
81
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
as avaliações tradicionais (MUÑOZ-LÓPEZ et al., 2020). Os resultados de Boullosa et al.
(2013) apoiam a adequação e praticidade tanto da análise da VFC noturna quanto da RFC
ultracurta para avaliação das adaptações autonômicas em jogadores de futebol profissional,
apesar das melhorias pouco claras em parâmetros específicos de desempenho de campo.
Dados recentes do nosso grupo de pesquisa (dados ainda não publicados) demonstra-
ram que jogadores de futebol de campo amador que jogam na posição “lateral” apresentaram
uma maior modulação parassimpática cardíaca de repouso (avaliada pelos métodos lineares
e não lineares da VFC) em comparação aos demais jogadores que jogam em diferentes
posições táticas. Observamos também que esse mesmo grupo de jogadores (laterais) obti-
veram melhores resultados nos testes de performance física (distância percorrida e VO2máx)
após a realização de um teste de esforço físico (Yo-Yo teste de recuperação intermitente
2). Em adição, mostramos uma correlação significativa entre os índices da VFC que avaliam
a modulação parassimpática cardíaca e a performance atlética.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As respostas fisiológicas ao treinamento físico em atletas jogadores de futebol geral-


mente dependem do tipo de treinamento realizado ao longo da temporada. A quantificação
da carga de treinamento é comumente baseada em indicadores de intensidade de esforço
externo (distância, potência, repetições, etc.), bem como internos (consumo de oxigênio, FC,
lactato sanguíneo, índice de esforço percebido, etc.), que possibilita a análise do esforço
físico dos atletas.
A VFC estudada em repouso, durante o exercício e no período de recuperação após
o exercício, evidencia que a atividade autonômica do coração em repouso tem sido parti-
cularmente interessante para abordar as cargas de treinamento físico. Por outro lado, uma
diminuição nos índices vagais da VFC é comumente interpretada como indicadores de estar
aquém da condição física, fadiga crônica ou supertreinamento.
Assim, é possível afirmar que jogadores com maior modulação autonômica cardíaca
(principalmente com maior atividade vagal) demonstram maiores capacidades físicas. Dessa
forma, informações sobre o SNA dos atletas obtidas a partir da análise da VFC podem ser
úteis e servir de parâmetro para fisiologistas e treinadores criarem estratégias de indivi-
dualização de cargas de treinamento e tentar minimizar as diferenças interindividuais entre
modulação autonômica e desempenho físico, além de proporcionar conhecimento para a
prevenção de lesões musculoesqueléticas.

82
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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84
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
06
Lombalgia no atleta de futebol

Anderson Alves Dias


UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Paulo Sérgio Machado Rodrigues


Uberaba Sport Club

Luis Fernando de Faria


UNIUBE - Universidade de Uberaba

José Martins Juliano Eustaquio


UNIUBE - Universidade de Uberaba

10.37885/210705520
RESUMO

A dor lombar é um sintoma de causa multifatorial e que afeta um grande público de


atletas de futebol. Fatores como a dinâmica do esporte, os desequilíbrios de força e de
ativação muscular, os traumas musculoesqueléticos, dentre outros, estão relacionados
ao seu surgimento. A grande maioria dos casos é de causa inespecífica, de prognóstico
excelente e sem a necessidade de investigação diagnóstica. Porém, os quadros de dores
recidivantes ou associados a sinais de alarme, demandam a realização de exames de
imagem complementares. Cada vez mais são estimulados os exercícios que preconizam
a estabilização do segmento do tronco, comuns em todos os protocolos de prevenção
de lesões no futebol.

Palavras-chave: Dor Lombar, Futebol, Medicina Esportiva .

86
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

A lombalgia é uma das principais causas que levam à incapacidade física em atletas.
Ela caracteriza-se por ser mais um sintoma do que uma doença e pode estar relacionado a
uma série de patologias, porém o motivo mais comum é a dor lombar inespecífica (MAHER
et al., 2017). Na população geral, aproximadamente 85% apresentará dor lombar em algum
momento da vida (HOY et al., 2012). No futebol, em torno de 10 a 15% das lesões nos atle-
tas ocorrem na coluna vertebral, o que leva a prejuízos na performance física e, no caso do
futebol profissional, também econômico (PFIRRMANN et al., 2016).
Não há uma relação isolada de causalidade entre o surgimento da dor lombar e a prá-
tica do futebol. Contudo, percebe-se que, no futebol profissional, com o objetivo de atingir
elevados níveis de competição com treinos de alta intensidade, pode haver sobrecarga de
estruturas anatômicas e aumento do risco de lesões musculoesqueléticas na coluna vertebral.
Além disso, a prática desse esporte sem o devido treinamento regular aumenta a incidência
de dor lombar, fato comumente observado nos jogadores amadores (LINEK et al., 2020).
A coluna lombar é um importante segmento de equilíbrio e estabilização corporal, tanto
nas atividades estáticas quanto dinâmicas. Além disso, devido à presença da musculatura
biarticular inserida na coluna vertebral, participa de forma ativa dos movimentos pliométricos
e rotacionais, que são constantes na prática do futebol. Desta forma, qualquer lesão na co-
luna pode desestabilizar a dinâmica postural do atleta (RUHE et al., 2011). Esse segmento
pode sofrer também as consequências de alterações biomecânicas em outras articulações
dos membros inferiores, como devido a uma instabilidade dos quadris (TOJIMA et al., 2020).
O objetivo desse capítulo foi descrever as principais lesões da coluna vertebral obser-
vadas nos atletas de futebol e descrever os princípios de prevenção dessas lesões.

DESENVOLVIMENTO

As causas de lombalgia no atleta de futebol são múltiplas e a equipe médica deve fazer
uma correta avaliação semiológica para se chegar a um diagnóstico correto.
Dados epidemiológicos e clínicos como idade, sexo, antecedentes pessoais, comor-
bidades e fatores de melhora e piora da dor são aspectos essenciais que devem ser pes-
quisados durante a avaliação.
A maioria dos quadros de dor lombar no atleta de futebol não apresenta uma causa pa-
tológica definida, sem definições através do exame físico e dos exames de imagem. Nesses
casos, o diagnóstico de dor lombar inespecífica, geralmente de causa muscular, deve ser
considerado, e eles evoluem de forma satisfatória, com melhora completa em poucos dias.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, outras patologias condicionam dor lombar persistente e comprometem a par-
ticipação nas atividades esportivas. Nesses casos resistentes ao tratamento conservador
inicial, ou relacionados a sinais de alarme como trauma, emagrecimento sem causa justi-
ficada, febre, uso crônicos de corticóides, dentre outros, são necessários exames de ima-
gem complementares.

Principais causas de dor lombar nos atletas de futebol

1. Espondilólise

A espondilólise é definida com um defeito da pars articularis e pode estar associada


à espondilolistese (deslizamento anterior do corpo vertebral sobre a vértebra adjacente).
Ocorre em torno de 85% dos casos ao nível de L5. Existe uma correlação da presença do
defeito com movimentos repetitivos da coluna lombar, o que pode levar a fraturas por stress
na pars articularis. O defeito pode ser unilateral ou bilateral.
Na maioria dos casos é assintomática. Entretanto, a forma sintomática pode apresentar
evolução gradual da dor e ser exacerbada por movimentos de hiperextensão combinado a
rotação da coluna lombar como, por exemplo, em movimento no ar para cabecear a bola.
Pode surgir também após um trauma durante a partida e pode permanecer sintomática mes-
mo no repouso. Geralmente a dor é lombar, mas pode eventualmente apresentar irradiação
para membros inferiores, associado a parestesia.
Quando a dor lombar persiste por mais de 03 a 04 semanas, deve ser investigada por
exames de imagens. A propedêudica diagnóstica é iniciada com a realização de radiografias
nas incidências anteroposterior, perfil da coluna lombar e oblíquas. Nessa última incidên-
cia, pode ser identificado o defeito na pars articularis através do sinal do colar do cachorro
de Le Chapelle (Figura 1). Entretanto, apenas um terço das lesões podem ser diagnostica-
das com radiografias simples. O complemento da investigação é feito através da tomografia
computadorizada da coluna lombar.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 1. Radiografia em incidência oblíqua da coluna lombar, no qual são observados a imagem do cachorro de Le
Chapelle e a fratura da pars articularis.

Fonte: Próprio autor.

Para identificação do tempo de lesão (aguda ou crônica), a cintilografia óssea torna-se


um exame importante. A ressonância nuclear magnética da coluna lombar é outra alternativa
para o diagnóstico, além de permitir analisar com maior acurácia o acometimento neural.
O tratamento geralmente é conservador. Atividades que envolvam extensão da coluna
lombar devem ser evitadas. É preconizado o início precoce de fortalecimento da musculatura
estabilizadora da coluna. Para os atletas com sintomas recidivantes, orienta-se o uso de
colete durante tempo máximo de 12 semanas, de acordo com a evolução do quadro clínico.
O retorno à atividade esportiva deve ser gradual e assistida, assim que o atleta estiver
assintomático. A indicação cirúrgica nas espondilólises associadas a espondilolisteses ocorre
apenas quando há falha de tratamento, que ocorre geralmente nas listeses de alto grau.

2. Síndrome facetária

Nos atletas submetidos a movimentos de extensão da coluna combinados a rotação,


assim como a movimentos explosivos como corrida, há uma maior incidência de sobrecar-
ga dos elementos posteriores, com destaque para as facetas articulares, desencadeando
a chamada Síndrome Facetária. Depois da espondilólise, é a causa mais comum de lom-
balgia no atleta.
Os sintomas são muito parecidos com a da espondilólise sintomática. A contratura da
musculatura profunda da coluna pode estar presente e os exames de imagem geralmente
não mostram alterações significativas, a não ser por alterações inflamatórias nas facetas,
nos casos mais sintomáticos.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O tratamento pode ser realizado com repouso relativo e realização de exercícios leves,
evitando movimentos de rotação e extensão da coluna. O uso de crioterapia e anti-inflama-
tório pode ser aplicado na fase aguda da dor. Em casos refratários ao tratamento, podem
ser realizados bloqueios terapêuticos anestésicos facetários. Os programas de reabilitação
devem ser iniciados o mais precoce possível com fortalecimento da musculatura abdominal,
exercícios antilordóticos e alongamento da cadeia muscular posterior dos membros inferiores.

3. Degeneração Discal e Hérnia discal

A degeneração discal ocorre com elevada frequência em atletas jovens de alta perfor-
mance. As alterações degenerativas são influenciadas pelo tipo de intensidade do esporte,
que condicionam cargas compressivas de graus variáveis ao nível da coluna lombar. Apesar
da alta frequência nos atletas, essas alterações não necessariamente representam queixas
ou sintomas de lombalgia.
A sua incidência, bem como a sintomatologia, aumenta com a idade. O quadro clínico
caracteriza-se por dor mecânica com contratura muscular. Geralmente a dor piora com a
flexão da coluna lombar e melhora com a extensão. Além disso, pode haver irradiação para
membros inferiores, de acordo com a raiz neural irritada pelo processo herniário.
Os níveis mais acometidos são L4/L5 e L5/S1. O diagnóstico é feito através da inves-
tigação radiológica, sendo que a radiografia em perfil pode revelar estreitamento do espaço
intervertebral e da abertura foraminal. O padrão ouro para o diagnóstico é a ressonância
nuclear magnética, que é capaz de identificar processos degenerativos discais com desi-
dratação e herniações.
O tratamento da lombalgia associada a degeneração discal é em sua grande maioria
conservadora. A interrupção do processo causador da dor deve ocorrer na fase inicial, atra-
vés de repouso relativo seguido de programas específicos de reabilitação, com objetivo de
evitar a recorrência da dor. O uso de analgésicos e anti-inflamatórios na fase aguda da dor
é indicado. Nos casos de recorrência da dor, podem ser realizados bloqueios terapêuticos
de dor com infiltração de anestésico, analgésicos e anti- inflamatórios próximo à raiz irritada
pelo processo degenerativo/herniário. O tratamento cirúrgico é indicado apenas na falha do
tratamento conservador ou nos casos em que há alteração neurológica, sendo a microdis-
cectomia o padrão ouro para o tratamento.

4. Lesões na articulação sacroilíaca

A articulação sacroilíaca pode ter sua biomecânica alterada devido às doenças da co-
luna lombar. Esse segmento representa uma região importante para o movimento do corpo,

90
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
pois age como fulcro da força entre o tronco e os membros inferiores. As principais causas
de dor na articulação sacroilíaca estão listadas na Tabela 1.

Tabela 1. Principais causa de acometimento da articulação sacroilíaca.

Causas de acometimento da articulação sacroilíaca

Infecção
Sindrome de Reiter
Doença de Crohn
Artrite psoriática
Espondilite anquilosante
Fratura por estresse do sacro

O quadro clínico de lesão na sacroilíaca geralmente inicia-se com dores lombar e


em topografia dos glúteos, de caráter insidioso e progressivo, e que apresenta piora à ex-
tensão da coluna.
Ao exame clínico, podem apresentar testes de Trendelenburg, Faber e Gaeslen po-
sitivos, além de dor à palpação da articulação sacroilíaca. A avaliação radiológica pode
ser realizada através de tomografia ou cintilografia para avaliação de fratura por estres-
se. Em casos de suspeita de infecção e/ou doença reumatológica, a avaliação laboratorial
com exames de velocidade de hemossedimentação (VHS), fator reumatóide (FR), reação
em cadeia da polimerase (PCR), fator antinuclear (FAN) e antígeno leucocitário humando
B-27 (HLA-B27) deve ser realizada.
Para o tratamento, as atividades que causam dor devem ser interrompidas temporaria-
mente e reiniciadas de forma gradual e progressiva. O tratamento inicial deve incluir criote-
rapia e anti-inflamatórios não esteroidais, além de fisioterapia. Exercícios de estabilização
da pelve e de fortalecimento abdominal devem ser encorajados.

5. Fraturas das placas terminais

Em casos de movimentos de flexão e extensão de forma repetitivas e bruscas, podem


ocorrer lesões das placas terminais. O quadro clínico geralmente é caracterizado por dor
lombar com retificação da lordose e contratura muscular.
No exame de imagem pode ser observados avulsões da região apofisária da vértebra,
em topografia anterossuperior do corpo vertebral na radiografia em perfil. Na ressonância
nuclear magnética pode ser observado processo inflamatório em topografia da placa terminal
e nódulo de Schorml.
O tratamento inicial inclui o uso de anti-inflamatórios associados a analgesia e exercí-
cios de estabilização do core abdominal.

91
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
– Prevenção da dor lombar no futebol

Para prevenção das lesões da coluna no futebol, o atleta deve passar por avaliação
criteriosa para identificação de fatores de risco para lesões e outras doenças musculoes-
queléticas que não tenham sido completamente reabilitadas. Sabe-se, por exemplo, que
atletas de futebol com dor lombar apresentam maior fraqueza isocinética da musculatura
do tronco (HO et al., 2005). Fatores semelhantes a esse devem ser avaliados e corrigidos,
de forma preventiva e terapêutica.
Nos atletas de uma forma geral, com foco nos da base, a frequência e a intensidade da
atividade física devem ser monitoradas com atenção, principalmente devido à especialização
cada vez mais precoce e a sua consequente sobrecarga musculoesquelética.
No futebol, observa-se uma preocupação crescente na necessidade de se diminuir a
incidência de lesões, devido aos prejuízos técnicos e financeiros envolvidos nessa situação.
Por isso, foram criados diferentes protocolos de prevenção de lesões, todos focados na
estabilização neuromuscular dos segmentos lombopélvico e quadris (CORE). Atualmente,
o treinamento isocinético do tronco ganhou destaque como medida de prevenção da dor
lombar em jogadores de futebol (NAMBI et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dor lombar é um sintoma comum na população de jogadores de futebol, principal-


mente pelos movimentos pliométricos e rotacionais exercidos pelos atletas e por outros
desbalanços biomecânicos existentes nessa população. Apesar de apresentar causa multi-
fatorial, esse sintoma pode ser controlado através da adoção de protocolos de prevenção de
lesões, com foco no segmento do CORE e também na execução de treinamento isocinético
da musculatura do tronco.

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8. PFIRRMANN, D.; HERBST, M.; INGELFINGER, P.; SIMON, P.; TUG, S. Analysis of Injury
Incidences in Male Professional Adult and Elite Youth Soccer Players: A Systematic Review.
J Athl Train, v.51, n.5, p.410-24, 2016.

9. RAJNICS, P.; TEMPLIER, A.; SKALLI, W.; LAVASTE, F, ILLÉS T. The Association of Sagittal
Spinal and Pelvic Parameters in Asymptomatic Persons and Patients with Isthmic Spondylo-
listhesis. J Spinal Dis Tech, v.15, n.1, p.24-30, 2010.

10. RUHE, A.; FEJER, R.; WALKER, B. Is there a relationship between pain intensity and postural
sway in patients with non-specific low back pain? BMC Musculoskelet Disord, v.12, 2011.

11. TOJIMA, M.; TAKEI, S.; TORII, S. Factors Associated with Ball Velocity and Low Back Pain
During Kicking in Adolescent Soccer Players. Open Access J Sports Med, v.7, n.11, p.133-
143, 2020.

12. VILLA, F. D.; MANDELBAUM, B. R.; LEMAK, L. J. The Effect of Playing Position on Injury Risk
in Male Soccer Players: Systematic Review of the Literature and Risk Considerations for Each
Playing Position. American journal of orthopedics, v.47, n.10, 2018.

93
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
07
Futebol baseado em evidências:
desafios e perspectivas da ciência
do esporte no Brasil

Cristiano Diniz da Silva


UFJF - Campus Governador Valadares

João Gustavo Claudino


LOAD CONTROL

Emerson Silami Garcia


UFMG

10.37885/210705542
RESUMO

Objetivo: identificar os principais motivos da aplicação incipiente da ciência no fute-


bol. Da mesma forma, apontar as principais barreiras no processo de produção e trans-
ferência de conhecimento, debatendo gargalos de implementação. Por fim, apresentar
um modelo conceitual e recomendações que possam colaborar com a superação desses
desafios e lacunas (“gaps”), trazendo perspectivas para o aprimoramento do futebol
brasileiro. Métodos: adotou-se uma “revisão narrativa da literatura”, de modo a obter
uma síntese sobre o tema. Resultados: 15 trabalhos foram considerados para leitura e
análise. Restrições de tempo e acesso à literatura científica, (pré-)julgamento de que a
maioria das investigações não são aplicáveis, não consideração da real complexidade do
esporte e divergências sobre o real interesse do corpo de treinadores são os principais
“gaps” apontados. Outros “gaps” que repercutem são: ineficiência da comunicação cien-
tífica atual, ausência de provas de eficácia pós implementação ou ausência de eventos
mais específicos para treinadores de elite. Propusemos um modelo conceitual para o
desenvolvimento da ciência do futebol brasileiro a partir desses “gaps”, integrando a “pes-
quisa-aplicação” com a abordagem transdisciplinar em cooperação mútua institucional
(universidades/empresas/clubes/federações/confederações), bem como formas mais
efetivas para transferência do conhecimento, implementação e retroalimentação proces-
sual. Considerações finais: no futebol de alto rendimento ainda existem dogmatismos,
preconceitos, teoricismos e praticismos que precisam ser superados. Esperamos que o
modelo conceitual proposto possa servir de reflexão e diminuição das divergências entre
ciência e mundo real. Aumentar a cientificidade do futebol brasileiro poderá trazer vanta-
gens competitivas, melhora da treinabilidade e manejo da saúde do atleta, performance
e desenvolvimento de todo o ecossistema na indústria do esporte.

Palavras- chave: Futebol, Prática Baseada em Evidências, Pesquisa Transdisciplinar,


Cooperação Técnica, Instituições, Medicina do Esporte.

95
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

A Ciência do Esporte1 e a Ciência do Futebol2 estão em constante evolução. À medida


que novas pesquisas surgem e as experiências ampliam o nosso conhecimento, novas des-
cobertas ou condições hipotéticas se apresentam. A partir da busca de suporte, orientação
e transferência de conhecimento, novos encaminhamentos para a resolução de proble-
mas de forma eficaz podem ser experimentados. Da mesma maneira, a chamada pesquisa
tecnológica, através da inovação, introdução e melhoria dos processos realizados pelos
Departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das maiores empresas de tecnologia
do mundo, também tem ampliado as intervenções aplicadas no esporte (MCCALL et al.,
2016). Esse movimento tem provocado mudanças significativas no corpo de conhecimen-
to do futebol. Consequentemente, mudanças céleres no ambiente e na forma de trabalho
dos pesquisadores, treinadores, fisiologistas, fisioterapeutas, biomecânicos, analistas de
desempenho, bem como do pessoal relacionado ao departamento médico dos clubes, são
também observadas.
Devido ao ambiente de trabalho totalmente moldado na geração de vantagem competi-
tiva e por modi operandi com movimentos rápidos (FUSS; SUBIC; MEHTA, 2008; RAMÍREZ-
LÓPEZ et al., 2020), os profissionais do esporte são desafiados para a vanguarda e, assim,
deveriam atentar-se mais para o que a ciência do esporte tem a oferecer e para o que nós,
pesquisadores, estamos tentando descobrir, confirmar, sumarizar e comunicar. Tal disso-
nância entre o cenário atual de cientificidade e os códigos próprios da intervenção prática
profissional pode ser notada quando os próprios treinadores pronunciam que os cientistas
do esporte e suas publicações têm pouca presença na rotina cotidiana deles, e consideram,
ainda, que a opinião desses estudiosos e seus achados são considerados uma fonte pouco
provável de informação para solução de seus problemas (READE; RODGERS; HALL, 2008).
Portanto, não basta somente desenvolver a Ciência do Futebol e torcer para que os acha-
dos das pesquisas cheguem naturalmente ao campo prático, sem o esforço para que esta
investigação esteja vinculada a um real problema prático ou àquilo que tem transferência ou
aderência à implementação no mundo real. Além do mais, esse papel de integrar a pesquisa
aplicada à prática no futebol ganha contextos maiores de complexidade ao se projetar este

1 Ciência do esporte abrange diversas áreas do conhecimento que visam a entender e otimizar o desempenho esportivo, utilizando o
conhecimento científico e considerando a melhor evidência disponível (VIVEIROS et al., 2015, p. 163).
2 O estudo científico do futebol tem origem nas primeiras pesquisas iniciadas na década de 1960 e concluídas na década de 1970.
Para Bjorn Ekblom, a assim nomeada “ciência do futebol” (football Science, em inglês) é uma área relativamente nova (40 anos). Sua
caracterização se dá em virtude da junção de vários campos do conhecimento científico que compõem o conjunto de saberes contri-
butivos ao desenvolvimento do futebol em particular. Mais detalhamento em: EKBLOM, B. Editorial. Revista Brasileira de Futebol.

96
Viçosa, v. 1, n. 1, p. 1-2, 2008.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


esporte no futuro. Por exemplo, o jogo no alto rendimento está em constante evolução e,
recentemente, tem sido notada uma série de mudanças mais substanciais no seu estilo, na
sua ritmicidade e na ordem sistêmica, requerendo diferentes padrões técnicos e físicos, o
que pode modificar o padrão descritivo das demandas psicofisiológicas, motoras e etiológico
de lesões (NASSIS et al., 2020). Futuras mudanças em regras lançam um cenário ainda
mais desafiador. Consequentemente, esse cenário atual, e principalmente, o que se aproxi-
ma, demanda novas e atualizadas referências para uma tomada de decisão mais assertiva
frente à orientação dos processos de treinamento, de recuperação e de intervenção dentro
da concepção holística, sendo essa premissa também válida nos campos investigativos
(MCCALL, 2021). Assim, o entendimento crítico das informações que se acumulam e a
utilização da “prática baseada em evidências”3 em detrimento do empirismo no esporte de
alto rendimento estará ainda mais em voga no futuro próximo. Tal medida orientadora dos
trabalhos para o movimento de “prática baseada em evidências” será fundamental para uma
melhor programação de treino, redução dos erros e das divergências de carga de treinamento
(i.e., interna x externa) e manejo do risco de lesões, por exemplo (COUTTS, 2017). Outras
diversas gerações de vantagens competitivas poderiam ser citadas pelas inúmeras métricas
manejadas no dia a dia dos treinamentos e competições. Porém, para muitos, há ainda um
grande “gap” na implementação de prevenção de lesões, por exemplo, sugerindo que nessa
área ainda é necessária muita investigação (OWOEYE et al. 2020; FINCH; DONALDSON,
2015). Esses e outros inúmeros motivos reforçam a necessidade de rediscutir problemas
relacionados a carências dos próprios processos investigativos, transferência de conheci-
mentos e dinamicidade contextual e evolutiva dos esportes.
O contexto não linear e caótico do jogo (ARRIAZA-ARDILES et al., 2018), de alta exi-
gência psicofisiológica (DELLAL et al., 2012; DJAOUI et al., 2014) modulada por diferentes
contextos situacionais (AQUINO et al., 2018), constante evolução (NASSIS et al., 2020) e
perspectivas apontando para mudança de regras (RIBEIRO et al., 2020) – por exemplo,
maior número de substituições em uso nesse momento pandêmico da COVID-194 – evi-
dencia a necessidade de atuação multidisciplinar, usando a premissa transformacional da
“pesquisa-aplicação” neste esporte. Assim, justifica-se debater os modelos conceituais de

3 A “prática baseada em evidências” é uma abordagem originalmente utilizada na medicina desde os anos de 1990 em muitos países,
como EUA, Canadá e Reino Unido, que, ajustada ao contexto do esporte, poderia ser descrita como a “integração de conhecimentos
técnicos, valores esportivos, e as melhores provas de investigação relevantes, balizando o processo de tomadas de decisão para a
prestação de serviços diários aos atletas” (COUTTS, 2017).
4 A COVID-19 (do inglês: Coronavirus Disease 2019) é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. Só no Brasil esta doença infectou mais 18 milhões de
pessoas, causando mais de meio milhão de mortes até a data de redação deste capítulo. Para mais informações, consultar: https://

97
www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


investigação científica e como ocorre (e deveria ocorrer) a transferência de conhecimento
no futebol, tendo como objetivo a superação de barreiras (muitas delas pelo teoricismo e
praticismo) e melhorias dos processos de intervenção. Do ponto de vista prático, discutir
este tema relevante poderia lançar premissas que levariam a uma melhor preparação de
todos os profissionais do ecossistema do futebol e daqueles envolvidos com a produção de
conhecimento e de desenvolvimento tecnológico de suporte.
Além de entender essa conjuntura transformacional demandada no futebol brasileiro
e seu seguimento futuro, a compreensão do atual estágio de cientificidade implementado e
dos desafios para sua ampliação é condição mínima para que consigamos acompanhar as
principais escolas futebolística do mundo. Entendemos, ainda, que aceitar a realidade atual
sobre a existência do “gap” entre ciência e prática, com nossas peculiaridades brasileiras,
e debater as perspectivas para que esta superação ocorra é fundamental para que o co-
nhecimento científico desenvolvido nas universidades gere vantagem e oriente tomadas de
decisão no dia a dia do profissional do futebol que está no campo (NASSIS, 2017). Do mes-
mo modo, apresentar alternativas desde a concepção do problema investigativo, refletindo
as necessidades investigativas práticas até o fluxo de como resolvê-la cientificamente, e
comunicar o conhecimento gerado poderiam tornar a implementação da abordagem “prática
baseada em evidência” mais efetiva. Portanto, esperamos que a proposição de um modelo
conceitual possa colaborar para o efetivo desenvolvimento do futebol brasileiro. Da mesma
forma, que possa auxiliar na reflexão de caminhos para a superação das divergências en-
tre teoricismo e praticismo e no lançamento de perspectivas futuras sobre o futebol e seu
contexto de cientificidade. É um debate relevante e de interesse para aqueles profissionais
relacionados às diferentes atuações profissionais no futebol.

OBJETIVO

Analisar o contexto atual de cientificidade no futebol e identificar as principais bar-


reiras no processo de produção e transferência de conhecimento para a prática profissio-
nal. Da mesma forma, debater modelos conceituais propostos na literatura que discutiram
“gaps” entre ciência e sua aplicabilidade. Por fim, apresentar um modelo conceitual mais
funcional das relações entre os interessados no processo, perspectivando o desenvolvimento
da ciência do futebol no contexto brasileiro.

MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste estudo foi adotada uma estratégia metodológica do tipo
“revisão da literatura narrativa”, também denominada de “tradicional”, visando a apurar o
98
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
estado atual de conhecimento, prioridades e limitações, e apontar direções na visão pessoal
do autor (SOUSA et al., 2018). Na sua execução, foram compreendidas quatro etapas: i)
pesquisa (procura e seleção dos estudos); ii) avaliação, iii) síntese e iv) análise. Adotou-se
na etapa de pesquisa uma seleção de literatura por conveniência de avaliação para inclusão
de estudos por vinculação ao tema investigado. Usou-se como palavras-chaves os termos
knowledgetranslation OR translationa research AND evidence-based practice OR practi-
ce-based evidence AND Sport conduzidas por motores de buscas nas bases eletrônicas
PubMed/MEDLINE e Google Acadêmico. Quando oportuno, as referências citadas nos
trabalhos recuperados também apontaram para a identificação de novas fontes. As leituras
e triagens foram direcionadas para os estudos de revisão, surveys, editoriais ou ponto de
vista identificados com a pertinência para o nosso objetivo. Portanto, o manuscrito deveria
trazer à luz o debate sobre o cenário atual de cientificidade na prática profissional no espor-
te, trazendo orientações para a consolidação do suporte científico e a adoção de “práticas
baseadas em evidências”, e debatendo o contexto de produção de conhecimento e sua
transferência-aplicação. Após essas etapas, houve a proposição de um modelo conceitual
espelhando recorrentes recomendações para a superação de “gaps” e integrando outras no-
vas, a fim de colaborar para a mudança de status quo do cenário de cientificidade do futebol.

RESULTADOS

Notou-se, nos últimos cinco anos, principalmente, uma série de artigos recomendando a
necessidade de rediscutir os modelos conceituais atuais de pesquisa-aplicação em Ciência do
Esporte que repercuta também em desdobramentos para a Ciência do Futebol. Compilando
os resultados das buscas, retemos 15 trabalhos para síntese e análise (Quadro 1).

99
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Quadro 1. Estudos considerados em revisão e seus principais apontamentos.

Estudos Principais apontamentos

Apresenta uma proposição de “Modelo de Investigação Aplicada para as


Ciências do Esporte” contendo oito etapas: (i) definição do problema; (ii) in-
vestigação descritiva; (iii) preditores de desempenho; (iv) testes experimen-
tais de preditores; (v) determinantes de preditores-chave de desempenho;
Bishop (2008)
(vi) estudos de eficácia; (vii) exame de barreiras à aceitação; e (viii) estudos
de implementação num contexto desportivo real. O modelo proposto exige,
portanto, uma mudança fundamental na forma como pensam muitos cien-
tistas do esporte sobre o processo de investigação.
A partir da percepção de treinadores, foi observada a existência de lacu-
nas entre o que os treinadores procuram e aquilo que a investigação tem
oferecido, especialmente na área das táticas e estratégias. Os treinadores
Reade, Rodgers e Hall (2008) adotam consultas a seus pares para a tomada de decisão e orientação ou
buscam conferências e eventos específicos para obter novas informações.
Os cientistas esportivos e as suas publicações foram classificadas como im-
provável fonte de informação.
Os profissionais da prática percebem que certas estratégias utilizadas du-
rante todo o treino atlético poderiam melhorar a inclusão de conceitos
das “práticas baseadas em evidências”. Para eles, ainda, os pesquisadores
devem continuar a identificar intervenções educativas eficazes para os trei-
Welch et al. (2014)
nadores atléticos e determinar encaminhamentos para estratégias mais
bem-sucedidas. Currículos didáticos com ênfase na proposição de “prática
baseadas em evidências” precisam ser colocados nas estratégias de forma-
ção de treinadores.
Apresenta as principais barreiras (gaps) a partir da percepção de treinado-
res. As estratégias para remover as barreiras poderiam incluir a gratificação
Verhagen et al. (2014) de cientistas que realizassem uma transferência bem-sucedida dos seus
conhecimentos para a prática através da comunicação direta com os trei-
nadores.
É sugerido que a proposição “working-fast” dos treinadores (em busca de
decisores-chave do tipo “sim e não”; sendo tarefa do pensamento rápido
e intuitivo profissional que opera “no terreno” num ritmo frenético) de-
Mccall et al. (2016) veria interagir com o “working-slow” da equipe pesquisadora (que opera
nos bastidores das tarefas). Assim, fomentar pesquisa e desenvolvimento
(P&D) é essencial, assim como a efetiva comunicação a partir de um grupo
de gestão.
O desenvolvimento de “práticas baseadas em evidências” envolve mui-
tos intervenientes-chave e segue frequentemente um processo iterativo,
incluindo: identificação de questões de investigação relevantes; avaliação
crítica das evidências para a sua validade, impacto e aplicabilidade; desen-
Buchheit (2017)
volvimento de estratégias para implementar as melhores evidências dispo-
níveis na prática contemporânea; avaliação da eficácia da nova prática nos
atletas. Coloca em sugestão a submissão de papers mais relevantes e que
isso deveria ser uma diretriz editorial.
Para encontrar a solução certa, na medida certa, específica (e frequente-
mente única), todos os envolvidos na produção e conhecimento são desa-
fiados para exposição de habilidades em “arte” da aplicação. A manutenção
Ross, Gupta e Sanders (2018) de status quo, por experiências vitoriosas do passado, pode ser um risco
de oportunidade para se atingir o novo patamar de performance ao não
reconhecer os benefícios da mistura da inovação e conhecimentos novos
ou transferíveis.
Embora a quantidade de artigos que estão para ser publicados tenda a au-
mentar, existe, ainda, uma grande lacuna para o profissional, gerando ruído
na quantidade de informação e naquilo que seria realmente útil. Discute
Ardern et al. (2019)
os três passos fundamentais para a efetiva utilização de evidências para a
tomada de decisão de qualidade na prática (pesquisa e acessa; interpreta e
combina com uso prático-contextual).
Apresenta a revisão sobre pontos teóricos da percepção dos treinadores
em reconhecer a predominância de seus conhecimentos sobre aspectos
táticos e técnicos que estão em oposição às linhas investigativas predomi-
nantes (aptidão física e recuperação). As principais barreiras apontadas na
Fullagar et al. (2019)
visão dos treinadores são o tempo curto e questões de investigação que
podem não ser aplicadas ao cenário prático. Maior enfoque na educação/
exposição científica dos treinadores em ambientes acadêmicos pode bene-
ficiar a capacitação dos estudantes (isto é, futuros profissionais).

100
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Estudos Principais apontamentos

Apresenta um modelo com nove passos para conduzir procedimentos in-


vestigativos com maior aplicabilidade prática. O modelo é ancorado na
necessidade de constante apreciação do contexto, adequação e/ou impor-
tância da(s) questão(ões) de investigação para poder realizar a integração
bem-sucedida de investigação na prática. Há proposição de integração de
Jones et al. (2019) clubes desportivos profissionais, órgãos diretivos e escolas para ajudar a
integrar a investigação e prática. Faz apontamentos do processo de forma-
ção do cientista do esporte na perspectiva do “pesquisador-praticante” e
diz que mudanças deveriam ocorrer no processo de sua formação a fim
de permitir mais vivências em ambos os ambientes. Traz a perspectiva de
bolsas de estudos em nível de pós-doutoramento.
Propõe um modelo de formação de cientistas do esporte baseado na prá-
tica com o objetivo de desenvolver o processo de transferência de conhe-
cimento e entrega de desempenho de cientistas do esporte que trabalham
Bartlett e Drust (2020)
no alto rendimento. Traz importantes reflexões para a condução de projetos
de pós-graduação em ciências do esporte com perspectivas para o incentivo
maior ao investigador-prático com desdobramentos para seu efetivo papel.
É sugerido que a reunião de conhecimentos traduzíveis para a prática em
diálogo com a transdisciplinaridade permitiria aos pesquisadores e profis-
sionais “cacem” novas ideias. Para eles, as ciências do esporte precisam
Woods et al. (2020)
encontrar regiões desconhecidas. É sugerido um modelo partindo da abs-
tração de comportamento humano para a visão de “caçador-coletor” de
ideias, que baseia a descoberta de caminhos para orientar a inovação.
A investigação translacional do mundo real orientada por teorias é neces-
sária para complementar cada vez mais o corpo de conhecimento advindos
de pesquisa no esporte, medicina do exercício e fisioterapia desportiva. A
disseminação e implementação é ponto crítico para a compreensão e apli-
Owoeye, Rauvola e Brownson (2020) cação da “prática baseada em evidências”. Profissionais da medicina espor-
tiva, do exercício e fisioterapia esportiva, assim como os investigadores,
precisam adquirir proficiência na investigação e disseminação (I&D), com
considerações para as melhores práticas, o que demanda ir além do estágio
dos ensaios experimentais.
Nos campos profissionais de gestão e negócios foram demonstrados que a
coexistência de cooperação e concorrência entre as empresas pode ter uma
influência positiva sobre o desenvolvimento do conhecimento e medidas
Ramírez-López et al. (2021) de sucesso. Assim, esse mesmo princípio poderia aplicar-se aos campos de
Ciências do Esporte e Medicina. A inclusão de um terceiro e neutro parcei-
ro (ou seja, uma universidade) poderia provavelmente beneficiar todas as
partes interessadas.
São discutidas lições que podem ser aprendidas a partir de alguns erros co-
muns que investigadores cometem no futebol (e no esporte). Aprendendo
com os erros, é possível evitar dogmatismos e preconceitos, aceitar incer-
Mccall (2021) tezas e limitações inerentes ao processo de “investigação excessivamente
interpretada”. É feito um chamado para não “cair na armadilha” de desva-
lorização da pesquisa básica frente à pesquisa aplicada. Afinal, cada uma
tem seu papel.
Fonte: os autores (2021).

Considerando a síntese obtida, propusemos um modelo conceitual (Figura 1), que traz
importantes implementações. A nossa premissa fundamental está inicialmente ancorada
em parcerias integrativas entre Clubes, Universidades, Empresas Tecnológicas voltadas
à metrificação de performance e saúde atlética, e Federações/Confederações num siste-
ma de cooperação mútua a partir do cenário prático, competitivo e guiado pela premissa
da vantagem competitiva. Essa concepção se deve à necessidade de integração desses
facilitadores. Afinal, eles têm interesses e prioridades diferentes, que precisam ser conca-
tenados, principalmente, para o desenvolvimento e busca de soluções práticas (DELLAL
et al., 2012; VERHAGEN et al., 2014; WELCH et al., 2014) para problemas reais que trariam
101
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
benefícios comuns e desenvolvimento. O continuum dessas ações anteriores são geradoras
de inputs para o processo investigativo propriamente dito. A abordagem com visão holística
e transdisciplinar5, impulsionada por problemas investigativos do mundo real e requerendo o
contributo de profissionais e de áreas-suportes, como fisiologia, psicologia, sociologia, epide-
miologia, estatística computacional etc., seguem entremeando ideias para uma interconexão
mais funcional e retroalimentada entre todos os atores envolvidos. Na sequência, o proces-
samento da questão prática a ser resolvida em investigação deverá usar as abordagens
contemporâneas de ciência. Por exemplo, os nossos chamados para a reprodutibilidade e
replicação atentam-se para a demanda de credibilidade das alegações científicas comen-
tadas por Nosek e Errington (2020). A primeira diz respeito ao reteste de uma afirmação ou
achado científico utilizando as mesmas análises e os mesmos dados. Portanto, o estudo
tem alta reprodutibilidade se os resultados do estudo original são confirmados através da
repetição do estudo utilizando os mesmos dados e as mesmas análises. Porém, uma evi-
dência deveria também ser credível segundo o princípio da replicação, em que um estudo
é altamente replicado quando os resultados do estudo original são confirmados através da
repetição do estudo utilizando as mesmas análises, mas recolhendo novos dados. Portanto,
esse movimento reduziria a ênfase em características do estudo e aumentaria a ênfase na
interpretação de possíveis resultados. O objetivo da replicação é, portanto, fazer avançar a
teoria, confrontando o entendimento existente com novas evidências (NOSEK; ERRINGTON,
2020). No seguimento do modelo, nota-se a importância da comunicação para uma efetiva
transferência de conhecimento. Na sequência, deve-se ocorrer a sistematização do processo
de implementação, adaptação e prova de eficácia no mundo real, com feedback da visão e
valores dos atletas (crenças, preferências, preocupações e expectativas individuais), os quais
são, infelizmente, pouco ouvidos ou participativos no processo em nossa cultura esportiva.
Seguindo esse processo, estaria, então, ampliada a chance de uma prática profissional
mais geradora de vantagem, com menor emprego do empirismo e implementação plena da
“prática baseada em evidências”. Por fim, a adoção de “práticas baseadas em evidências”
poderá direcionar o melhor uso do estado da arte e evidências sobre uma determinada prá-
tica, como uma conduta mais segura, de menor custo, geradora de vantagens e assegurada
aderência e resultado final.

5 A investigação transdisciplinar é um tipo de investigação “interdisciplinar que envolve investigadores de diferentes campos que
trabalham com profissionais ao longo de um período de tempo prolongado, implementando quadros conceituais e metodológicos
inovadores para que potencialmente resulte em novas abordagens teóricas”. Mais detalhamento em: POLK, M. Achieving the promise
of transdisciplinarity: a critical exploration of the relationship between transdisciplinary research and societal problem solving. Sustai-

102
nability Science. Berlim, v. 9, n. 4, p. 439-451, 2014.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


Figura 1. Modelo conceitual para desenvolvimento colaborativo da Ciência do Futebol e efetividade de implementação
da “prática baseada em evidências”.

Fonte: os autores (2021).

DISCUSSÃO

O ponto fulcral sintetizado pelo presente ensaio é que, apesar de todo esforço e evo-
lução da Ciência do Esporte, nem toda descoberta recente é plenamente implementada ou
testada em contexto ecológico dinâmico6 (ROSS; GUPTA; SANDERS, 2018). Portanto, o
progresso da inovação na perspectiva de “pesquisa-aplicação” exigirá uma grande mudança
de paradigma. Nota-se, por exemplo, na percepção dos profissionais de campo, a existên-
cia de várias barreiras para a aplicação da ciência no cotidiano do treinamento de atletas.
Divergências entre o teoricismo dos pesquisadores e o praticismo daqueles que estão no
campo são barreiras típicas, se não a maior delas no futebol brasileiro. Uma lista de outros
fatores, como dificuldades ou falta tempo para acessar as publicações (papers e livros),
descrença ou distanciamento da realidade contextual e de infraestrutura apresentadas na

6 Nos últimos anos, tem havido um aumento substancial da popularidade a partir das perspectivas de aquisição de competências
transdisciplinares sustentadas pela “abordagem da dinâmica ecológica”. É uma abordagem holística ao estudo comportamental, uma
vez que considera tanto o agente como o ambiente em que este se baseia e no qual atua ou se reorganiza durante a ação. Isso é
considerado um conceito guia para a inovação na ciência do esporte vigente. Mais detalhamento em: WOODS, C. T. et al. ‘Knowing
as we go’: a hunter-gatherer behavioural model to guide innovation in sport science. Sports Medicine Open, Cham, v. 6, n. 1, p. 1-9,

103
2020.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


investigação em relação a sua como treinadores e profissionais do campo, e até mesmo
por motivos de comunicação ineficiente entre pesquisadores-leitores em seus relatórios e
artigos científicos são barreiras ou “gaps” citados de modo recorrente pelos atores nas mais
diferentes modalidades e apresentados na literatura (READE; RODGERS; HALL, 2008;
VERHAGEN et al., 2014). Portanto, melhorias no processo de comunicação entre pesquisa-
dores e comunidade são necessárias. Maior proficiência e utilização de diferentes fontes para
disseminação em mídias sociais (Instagram, Twitter, Facebook, YouTube, ResearchGate,
WhatsApp, Telegram, Linkedin e SportRχiv, Medium, etc.) podem colaborar na dinamicidade,
acessibilidade e efetividade de comunicação entre os atores, promovendo a criação de uma
cultura esportiva de maior valorização e aplicação da ciência.
O questionamento da translacionalidade7 da pesquisa acadêmica para o ambiente
real não é novo (BISHOP, 2008; FULLAGAR et al., 2019) e talvez seja uma das barreiras
mais difíceis de superar. Até as revisões sistemáticas e as meta-análises que, para muitos,
são provas do mais alto valor de evidência, vêm recebendo críticas por unirem provas de
eficácia de estudos altamente controlados, mas não refletirem com precisão o contexto final
de implementação (FINCH; DONALDSON, 2015). Por isso, no nosso fluxograma, para o
desenvolvimento colaborativo da Ciência do Futebol e das políticas de “práticas baseadas em
evidências”, nós apostamos num sistema de cooperação interinstitucional, em continuum e
retroalimentado a partir da prova de evidências geradas no mundo real. Essa concepção po-
deria colaborar para a superação de “gap” por falta de alinhamento de questões de pesquisa
(aplicada), expectativas e usabilidade dos resultados na prática, o que afugenta os profissio-
nais do campo de qualquer tentativa de aproximação com a ciência (FULLAGAR et al., 2019).
Visando mais resultados práticos, os treinadores estão preocupados em melhorar o
desempenho e, dessa forma, procuram conclusões com encaminhamento de aplicação direta
da investigação. Por outro lado, os cientistas do esporte buscam melhorar o conhecimento
geral sobre aquela área temática, não cumprindo essas expectativas que seriam direta-
mente úteis aos treinadores. Por isso, a superação dessa oposição talvez seja encontrada
por mecanismos de aproximação das instituições interessadas (i.e., clubes/universidades/
federações/confederações/empresas) para a cooperação mútua (RAMÍREZ-LÓPEZ et al.,
2020) e na complementaridade entre a investigação “aplicada” e “básica”, o que ampliaria a
precisão e a eficiência do processo de investigação em curso (MCCALL, 2021).

7 Translacionalidade é discutida na esfera do como as informações e o conhecimento são traduzíveis através de comunicação efetiva

104
e transdisciplinaridade.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


Portanto, esse esforço para uma problemática investigativa mais aplicada (reality
based8) coloca em evidência a necessidade de condução metodológica diferenciada e
respaldada em premissas da pesquisa quantitativa e qualitativa, modelos mistos e, hoje,
naquilo que é chamado e organizado em um campo particular da ciência como “sistema de
complexidade”9. Portanto, resolver e preencher essa lacuna, de ambos os lados da “pesqui-
sa-aplicação”, é uma ambição importante (ROSS; GUPTA; SANDERS, 2018). Por exemplo,
Jones e colaboradores publicaram um editorial no British Journal of Sports Medicine, no
qual compartilharam um bom modelo conceitual em continuum, com nove etapas, papéis e
desafios importantes (o maior deles é a questão de pesquisa) bem definidos para superar e
integrar a pesquisa aplicada à prática (JONES et al., 2019). Visando a superar esses dilemas
e barreiras, nosso modelo conceitual tenta cobrir e apresentar alternativas mais funcionais
para implementação.
Claramente, o nosso modelo concatena e contextualiza o cenário futebolístico e pode
ser inovador para a Ciência do Esporte, Educação Física e Medicina do Esporte aplicada
ao futebol no Brasil. Conforme a transdisciplinaridade exige, os pesquisadores deveriam se
conectar ao contexto do problema prático e envolver-se com as partes interessadas que
“possuem o problema e o seu contexto” (CAREW; WICKSON, 2010). Portanto, na nossa
proposição, a interface de cooperação, competição e busca por vantagem competitiva entre
instituições, pesquisadores e profissionais da prática são bases importantes para a (re)formu-
lação de questões de pesquisa relevantes para input na etapa de processamento investigati-
vo. Na sequência, nota-se o processamento da comunicação, a implementação e o feedback
da evidência na prática, ouvindo e recolhendo os valores dos atletas, ponto este pouco
refletido nas recomendações para o desenvolvimento da Ciência do Esporte na literatura.
Outro obstáculo colocado em superação no nosso modelo conceitual advém da estraté-
gia de disseminação da nova informação gerada no ambiente investigativo. Tradicionalmente
os cientistas desportivos publicam no meio acadêmico: uma fonte de informação que os
treinadores raramente utilizam (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2016). Os treinadores preferem
aprender novas informações através de métodos de comunicação informal, tais como tutoria
e conversas com outros treinadores (READE; RODGERS; HALL, 2008; STOSZKOWSKI;
COLLINS, 2016). Por isso, a comunicação entre os dois grupos (pesquisadores e profissionais)

8 A abordagem “baseado na realidade” é intencionada para o alcance do maior grau de realidade das coisas que podemos alcançar e
sobre a qual podemos construir.
9 Complexidade ou ciência da complexidade, também chamada ciência de sistemas complexos, estuda uma grande coleção de com-
ponentes – interagindo localmente uns com os outros em pequena escala – e como se auto-organizar espontaneamente para exibir
estruturas e comportamentos globais não triviais em escalas maiores. Ambos os conceitos podem ser vistos com mais detalhamento
em: WOODS, C. T. et al. ‘Knowing as we go’: a hunter-gatherer behavioural model to guide innovation in sport science. Sports Medi-

105
cine Open, Cham, v. 6, n. 1, p. 1-9, 2020.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


é ineficiente, e a saída para tal “gap”, conforme apresentada por nosso modelo, é uma maior
integração em que pesquisadores e profissionais caminhem juntos, tornando real a transdis-
ciplinaridade. Essa nossa premissa também vai ao encontro do fato de que temos que gerar
uma relação mútua entre esses dois atores, que poderiam ser considerados os principais
do processo. Na nossa visão, não há divisão em quem “produz e consome” conhecimento.
Assim, através dessa relação estabelecida, ficaria mais fácil a apresentação e propensão para
a procura de novos conhecimentos, encaminhamentos investigativos mais valiosos, inovação
e provas de eficácia, para a, então, adoção efetiva de “práticas baseadas em evidências”.
Outra ação para melhorar a comunicação entre os dois grupos está na ampliação do
espaço educacional, envolvendo a síntese ou a tradução de artigos de revistas e a esti-
mulação de seminários/congressos para debates mais específicos para treinadores. Nesta
última recomendação, deveriam ser estimuladas o aproveitamento da perícia e experiência
dos parceiros, inclusive sobre provas de eficácia, relatos e feedbacks dos atletas, dentro
das estruturas horizontais e verticais para gerar um sistema mais funcional e sustentável
de desenvolvimento e aplicação da ciência no futebol. Diga-se de passagem, caberia aos
periódicos científicos estímulos maiores para publicações com perfis mais práticos. Muitos
periódicos já apresentam essa perspectiva no seu escopo editorial, mas nota-se pouca re-
presentatividade de publicações que tem apelo maior pelos profissionais da prática, como os
“pontos de vista”, os “relatos clínicos” e os “relatos de experiência”, por exemplo, dificultando
a comunicação e implementação. Devido a políticas internas de valoração por produção
acadêmica, há desestímulo a pesquisadores para publicarem nesses formatos por eles
“contarem poucos pontos” nos processos de seleção e fomento para pesquisas. Há ainda o
encaminhamento das produções de conhecimento internas brasileiras para serem avaliadas
por periódicos internacionais em virtude da pouca visibilidade e representatividade do nosso
sistema de publicação e comunicação científica.
Para o pesquisador há pontos positivos, como a reputação frente a editais e órgãos de
fomento. Porém, ao fim do processo de publicação, podem ser acarretados alguns “gaps”,
já discutidos, por profissionais da prática em vários países, mesmo naqueles com notório
desenvolvimento esportivo e histórico de suporte da Ciência do Esporte. No nosso caso,
temos alguns agravantes, como acessibilidade (a maioria dos papers é de acesso restrito,
pagos para acessar), barreira linguística (inglês) e dificuldades interpretativas e de com-
preensão plena devido à redação científica restrita. Portanto, a ampliação de periódicos
com natureza mais aplicada à Ciência do Esporte e ao Futebol no Brasil, e a restruturação
do crivo científico daqueles existentes, assim como a sensibilização dos órgãos de fomento
sobre a necessidade e importância de estudos para provas de eficácia e reconhecimento
ou valorização de publicações com cunhos mais práticos, são importantes recomendações.
106
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Alternativas como essas supracitadas poderiam colaborar para que tornemos viável um sis-
tema de diálogo e estreitamento de relações entre pesquisadores e profissionais brasileiros
visando à capacitação e ao desenvolvimento continuado do conhecimento nesses temas
com aplicação ampliada para toda a sociedade.
No contexto brasileiro, por exemplo, algumas amarras devem ser pontuadas tendo a
preocupação de fomentar o continuum desenvolvimento (ou a recuperação) deste esporte no
Brasil. Inicialmente, cabe lembrar que a investigação sobre treinadores esportivos no Brasil
parece estar a emergir em nível internacional (GALATTI et al., 2016). Salienta-se que essa
profissionalização é relativamente nova (i.e., Bacharéis em Educação Física ou Ciências
do Esporte), e que gerações de profissionais ainda atuantes têm assegurada a sua atuação
como “Treinador Profissional de Futebol” a partir da implementação legal promulgada no
início dos anos de 199010 sem exigência de formação profissionalizante. Outras amarras de-
vem ser superadas desde aquele que ampara o cargo/função da maioria dos pesquisadores
em esporte no Brasil (ponto de vista legal, afinal muitos pesquisadores são vinculados ao
regime empregatício de dedicação exclusiva na esfera estadual ou federal), até a superação
de relações preconceituosas e de aparto na relação pesquisa-clube de futebol no Brasil.
A nossa entidade máxima de futebol, a CBF, iniciou propostas com intenção de ali-
nhavar sistemas mais efetivos de cooperação Clube-Universidade a fim de superar o dog-
matismo e o preconceito que acontecem de ambas as partes (teóricos vs. práticos), o que
tem historicamente impossibilitado enlaces mais produtivos e de desenvolvimento do futebol
brasileiro. Da mesma forma, esta instituição também poderia pensar em premiações e no
fomento à inovação e tecnologia, assim como no alinhamento dos seus cursos de capacita-
ção com dinâmicas investigativas e de suporte da transdisciplinaridade. Tendo foco trans-
disciplinar na “pesquisa-aplicação”, na experimentação e na validação de tecnologias e de
provas de eficácia nos mais variados ecossistemas do futebol, seria efetivada a adoção de
diretrizes conteudistas em disciplinas e na matriz curricular de formação de treinadores e
outros profissionais desta indústria. Essa possibilidade, se ampliada pela CBF, ou pela maior
abertura e formalização dos casos de parcerias em andamento, fomentaria a resolução de
alguns “gaps” na formação de profissionais do futebol, criando um sistema mais efetivo de
cooperação entre as comunidades acadêmicas, clubes e profissionais. A criação de canais
de comunicação rápida para a capacitação continuada por infografia, que tem se mostra-
do efetiva na atualidade, ou o lançamento de um periódico ou um boletim de publicidade
regular, com revisão por pares e com escopo acadêmico/profissional poderiam ser ações

10 Lei 8650/93 | Lei nº 8.650, de 20 de abril de 1993, dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol e dá

107
outras providências.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


idealizadas e realizadas por parcerias. A CBF Academy & Science11, recentemente criada,
poderá atender estas demandas e promover uma maior interação entre todos atores do
processo e alcance de resultados no futuro.
Dentro de cada clube poderiam ser pensadas estratégias próprias para fomentar a
capacitação de seus treinadores. Outro ponto fulcral diz respeito às políticas, protocolos de
intervenção, planejamento de treinos, registro de dados das diferentes fontes, documentação
e estratégias de comunicação, que são comumente ausentes nos clubes ou dependentes de
“pessoas” e não reguladas ou propostas pela instituição, como deveria ser. Conforme apre-
sentado em nosso modelo conceitual, a adoção de integralidade sistêmica poderia absorver
as demandas e preencher as lacunas por meio da solução desses problemas operacionais
e/ou outros sinalizados nos clubes. Um sistema nacional organizado de registro, upload de
dados e compartilhamento de experiências poderia ser pensado em espelhamento daqueles
implementados com a abordagem do The RE-AIM Sports Setting Matrix (RE-AIM SS) para
prevenção de lesões na Austrália, por exemplo (FINCH; DONALDSON, 2010). As empresas
de tecnologia e engenharia do esporte, análise de desempenho e métricas de desempenho ou
monitoramento, Federações e Confederações deveriam estabelecer linhas de investimentos
e fomentos especiais para o desenvolvimento da Ciência do Esporte no Brasil. O mesmo po-
deria ser dito para as agências de fomentos como o CNPq, FAPEMIG PAPERGS, FAPEMA,
FAPESP, CAPES etc., principalmente no tocante à sensibilização de editais sobre provas
de eficácia de evidências na implementação do “mundo real”. Isso possibilitaria uma melhor
entrega dos avanços alcançados dentro do bojo da complexidade do esporte de rendimento
com benefício direto na segurança para a prática esportiva e outras formas de benefícios
para a sociedade, como a promoção da saúde pública, por exemplo, que seria impactada
diretamente ou indiretamente pela implementação do modelo conceitual aqui apresentado.
Exemplo de implementação por iniciativa de projetos voltados à investigação no futebol
envolvendo parceria Universidade-Federações é o Football Research Group. Iniciado na
WIT (Watefford Institute of Techonology, Irlanda), hoje tem conexão com importantes escolas
do futebol internacional. Um exemplo de iniciativa que surgiu recentemente no Brasil com
amplitude nacional e que traz esperançosas perspectivas é o Programa Academia & Futebol,
lançado em agosto de 2020 e desenvolvido por intermédio da Secretaria Nacional de Futebol
e Defesa dos Direitos do Torcedor (SNFDT). O Programa Academia & Futebol12 proporcio-
na a prática do futebol através da instalação de centros de desenvolvimento do futebol em
Universidades e Institutos Federais, bem como apoia a produção e difusão da produção

11 Mais detalhamento em: https://www.cbf.com.br/cbfacademy/pt-br/academy-e-science

108
12 Mais detalhamento em: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/outros/programa-academia-futebol

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


científica, com aporte de recursos para a realização de pesquisas, produção de artigos e
livros, participação dos pesquisadores em congressos e realização de cursos e eventos.
Como exemplificado acima, acreditamos muito que tais parcerias cooperativas entre
Confederação/Federação, Clubes e Universidades, segundo contextos estaduais próprios ou
com alinhamento nacional, seriam uma boa saída para os “gaps” e amarras apresentadas,
principalmente no que tange à pesquisa-aplicação e sua implementação. Algumas ações
isoladas já são notadas, mas na maioria das vezes estão ancoradas no desejo individual de
algum ator das partes interessadas. Infelizmente, parcerias institucionalizadas de maior en-
vergadura, consolidadas e perenes no Brasil são ainda incipientes. Isso vai na contramão de
vários cases de sucessos ao redor do mundo, principalmente ingleses, que tem nas universi-
dades seus parceiros de desenvolvimento cooperativo. Outra superação importante, também
tangenciando as universidades, é a necessidade de melhorias identitárias nos programas e
nos temas investigativos das Ciências do Esporte. Na graduação por exemplo, MILISTETD
et al. (2017) trazem reflexões e pontuam a necessidade de ajustamentos no processo de
aquisição de competências no percurso formativo em ambiente universitário. Para esses
autores, é preciso enveredar a relevância e o uso de pedagogias ativas, baseadas na maior
interação entre os treinadores e o conteúdo em intervenção, usando-se de diferentes bases
de conhecimento para a atuação desse profissional visando à superação do paradigma de
formações, em que os “futuros treinadores são meros receptores” (MILISTETD et al., 2017).
Essas ações poderiam, além desse ponto, ajustar a formação de treinadores esportivos –
para atuação no futebol no Brasil – que possuem nuances distintas daquelas formações
que, tradicionalmente, ocorrem nas Federações Esportivas e Organizações Nacionais de
Esporte em diversos países (LARA-BERCIAL et al., 2016).
Da mesma forma, vale a reflexão de pesquisadores de outros países sobre os processos
de seleção de candidatos na pós-graduação, onde deveria ser evitada a seleção com base
apenas no desempenho acadêmico (BARTLETT; DRUST, 2020). Nessas recomendações,
orienta-se que sejam assegurados atributos especiais ao candidato, devendo ele possuir uma
gama essencial de competências práticas (e interpessoais). Esses atributos são importantes
para lhe permitir o alcance do cumprimento das exigências para os papéis como cientista
do esporte, em conformidade com as necessidades do esporte brasileiro e com alinhamento
contemporâneo a vários programas ao redor do mundo (BARTLETT; DRUST, 2020). Esse
mesmo candidato à cientista do esporte deverá ter capacitação para ser reconhecedor do
contexto interativo com as diretrizes de formação didático-pedagógicas na formação de trei-
nadores (LARA-BERCIAL et al., 2016). Algumas experiências bem-sucedidas apontam que
sejam fomentadas recompensas financeiras ou infraestruturais para aqueles projetos com
efetiva implementação e alcance de resultado na prática. Estratégias com implementação
109
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de sucesso em países como Austrália e EUA em várias modalidades esportivas e, princi-
palmente na Inglaterra, no caso do futebol, poderiam ser usados como ponto de partida.
Esperamos com este ensaio fomentar reflexões sobre o contexto de cientificidade do
futebol brasileiro, uma melhor abordagem de “prática baseada em evidência” e a capacitação
profissional de todos envolvidos no ecossistema. Graças à Ciência, Tecnologia & Inovação
(CT&I), e a diversas reflexões sobre o seu desenvolvimento e aplicação, o corpo de conhe-
cimento e visibilidade sobre a Ciência do Esporte tem crescido rapidamente (VIVEIROS
et al., 2015). Portanto, evoluir com ciência é preciso. Quando se considera o futebol como
um fenômeno de reconhecida aceitação mundial e apelo sociocultural, com extraordinárias
cifras econômicas e valorização enquanto espetáculo e entretenimento, percebe-se a neces-
sidade da máxima profissionalização e inovação visando à geração de vantagem competitiva
(ARDERN et al., 2019). É também esperado que os profissionais minimizem as práticas ou
tomadas de decisão não sistêmica e cientificamente injustificadas, que infelizmente ainda
são comuns no futebol brasileiro (FERNANDES FILHO, 2018). Para os pesquisadores,
vale a reflexão sobre questões relevantes e processos investigativos mais válidos para o
mundo real. Essas premissas aliadas à implementação, incluindo recolha de valores dos
atletas, adaptações no processo, estudos de aderência e provas de eficácia, poderão ser
de grande valia para a efetivação e manutenção da implementação frente à premissa das
“práticas baseadas em evidências”. Esses avanços devem ser coordenados nas diferentes
frentes e todos alinhados aos cenários de desenvolvimento e avanço das áreas correlatas,
principalmente daquelas de mídias e tecnologia (sports technology and sports analitics13),
envolvendo a parte científica e da indústria, dialogando com princípios holísticos e transdis-
ciplinares da economia e engenharia, por exemplo (FUSS; SUBIC; MEHTA, 2008).
Essa necessidade de avançar leva todos os atores desse processo a se aproximarem
da chamada era digital, fazendo uso de agentes tecnológicos e de inovação (TOLEDO;
MAROCOLO, 2020), cunhados como Esporte 4.0 pelos professores Heglison Toledo e
Maurício Bara Filho, em livro recentemente publicado (TOLEDO; BARA FILHO, 2019). Isso
demanda “novos olhares” e uma nova dimensão – já refletida pelos colegas professores
Heglison Toledo, Maurício Bara e Moacir Marocolo, da UFJF, como autores de obras supraci-
tadas – fazendo uso de novos recursos tecnológicos frente às demandas do esporte e refle-
tindo como o conhecimento pode ser produzido, e, principalmente, como essa transformação

13 Sports analytics usa uma combinação de aprendizagem de estatística computacional, análise de vídeo e teoria de jogos para promo-
ver análise preditiva. Tem ganhado popularidade com o aumento do acesso a hardware especializado e portabilidade, permitindo, por
exemplo, a reconstrução de cenários de jogo reais, fornecendo mais feedbacks aos jogadores, melhorando e os capacitando para a
análise teórica do jogo e proposição de estratégias. Mais detalhamento em: TUYLS, K. et al. Game Plan: What AI can do for football,

110
and what football can do for AI. Journal of Artificial Intelligence Research, Loma Vista, v. 71, p. 41-88, 2021.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


seria relevante para aquele profissional de beira de campo que estaria prescrevendo e execu-
tando as rotinas de treinamento e controle de carga, por exemplo (CLAUDINO et al., 2019).
A digitalização e o volume crescente de dados têm oportunizado cada vez mais o
compartilhamento de informações disponibilizadas nas mais diferentes mídias, como sites
de acesso aberto (públicos) ou redes sociais, por exemplo (WUNDERLICH; MEMMERT,
2020). Algumas formas de transferência de conhecimento têm se mostrado bem-sucedidas
(infográficos, preprints etc.) e parecem estar alinhadas com os modos preferenciais dos pro-
fissionais de campo. Há ainda no futebol aqueles dados que são hospedados nas próprias
federações14, trazendo prioritariamente dados sobre estatísticas de jogo coletivo das mais
variadas métricas de performance e até de jogadores individualmente. A indústria da inovação
em controle de carga e análise de jogo tem crescido exponencialmente. Da mesma forma,
nunca como nos dias atuais se compartilhou tantos dados, informações e conhecimentos
sobre a preparação física, análises técnico-táticas e estratégias terapêuticas e nutricionais
– como os agentes ergogênicos – para a ampliação de desempenho ou para a promoção de
uma recuperação eficaz no esporte, principalmente na modalidade mais popular do mundo,
o futebol (MCCALL, 2021).
Nesse sentido, a Ciência do Esporte e a Ciência do Futebol, nos dias atuais, está inter-
conectada com as demais áreas do conhecimento e com toda a cadeia que compõe a indús-
tria do esporte, desde as coberturas esportivas, mídias sociais especializadas e dedicadas
ao tema, e ao complexo e o emergente cenário de Ciências de Dados (REIN; MEMMERT,
2016; WUNDERLICH; MEMMERT, 2020). Por exemplo, atualmente, há um grande esforço
para o desenvolvimento e o uso válido de equipamentos digitais integrados aos corpos dos
esportistas (wearebles thecnology) ou da ampla possibilidade advinda da estatística compu-
tacional de dados via Big Data, Inteligência Artificial e Machine Learning. Contextualizando
por esses cenários supracitados, espera-se hoje que os profissionais do esporte capturem,
processem, analisem e comuniquem internamente em seus clubes e de maneira efetiva as
principais informações “escondidas” nos dados brutos através de modelagens e técnicas
de Inteligência Artificial e Machine Learning, a fim de tratar o fenômeno de forma holística
(CLAUDINO et al., 2019). Conta-se, ainda, com o rápido desenvolvimento e as melhorias
dos processos de análises de jogo em modalidades esportivas coletivas, com pesquisas e

14 No Brasil, a política de uso de dados em sites esportivos e de federações, são regulamentados conforme o disposto na Lei nº 10.671
de 2003, conhecida como “Estatuto do Torcedor”, mais precisamente em seus artigos 11 e 12, no qual a entidade responsável pela
organização da competição, com fulcro na transparência e probidade de suas atividades, tem por obrigação publicar as súmulas de
suas competições em seu site. Ademais, os dados contidos nas Súmulas obedecem a Lei nº 13.709 de 2018 (Lei Geral de Proteção

111
de dados), cumprindo integralmente os princípios do tratamento de dados pessoais.

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


aplicações práticas, utilizando saberes de um amplo espectro de campos, principalmente
da engenharia e da estatística computacional.
Dessa forma, esse profissional precisa estar capacitado para discutir os últimos acha-
dos das ciências para que ele não fique refém da premissa mal-entendida de que mais
medidas e equipamentos mais sofisticados (“high-tech”) é melhor (MEYER, 2017), e/ou faça
uso indiscriminadamente de seus outputs automatizados, sem sequer questionar a valida-
de e confiabilidade de medidas. Em recente publicação, Claudino et al. (2021) chamam a
atenção para a falta de veracidade em ~73% das ferramentas e parâmetros utilizados para
o monitoramento da carga em jogadores profissionais de futebol. Ou seja, as informações
utilizadas nestes estudos não foram verificadas em termos de precisão, qualidade, relevância,
incerteza, confiabilidade e valores preditivos. Para o restante, a veracidade dos dados foi
encontrada para 54% das ferramentas e 23% dos parâmetros. Segundo os pesquisadores
supracitados, isso limita a precisão e impacta na aplicação prática por meio dos resultados
apresentados pelos estudos, podendo gerar erros com alto custo econômico. Para identificar
as melhores ferramentas e parâmetros de monitoramento no futebol é obrigatório focar na
veracidade para identificar os erros. Nessa mesma disposição, esse profissional não pode
sofrer de um provável dogmatismo até então imposto pelo mercado ou posto ou, ainda, da
sensação de excessiva confiança de que processou dados e que “reconheceu algum padrão”
e interpretação de longo alcance. Acordando com Claudino et al. (2021), estas questões de
precisão do ferramental e aparato tecnológico podem ser “gaps” e gerar discrepância entre a
eficácia esperada e aquela real observada no dia a dia do monitoramento de atletas. Portanto,
precisamos de algo a mais, sendo necessário o debate mais profundo da plausibilidade de
explicações biológicas, fisiológicas ou mecânicas claras para a métrica e desfecho colocados
em conexão (MCCALL, 2021), e isso, claramente, só pode ser viável com reflexões sobre
ciência, transferência de conhecimento e real estado de cientificidade no futebol.
Como notado, então, devemos nos empenhar para conseguir o contínuo crescimento
da modalidade. A problemática geral para o desenvolvimento da chamada Ciência do Futebol
apresentada em nosso modelo conceitual deverá seguir o continuum de temas emergentes,
tendo seguimento desde a fisiologia do exercício e do treinamento esportivo aplicadas ao
futebol, modelação de dados (variáveis situacionais e desempenho) até os desdobramen-
tos para melhorias interventivas para treinabilidade, saúde atlética e inovação tecnológica.
Além dessa demanda emergente para a necessidade de entendimento mais profundo no
escopo “pesquisa-aplicação” neste esporte, surge o apelo investigativo para o “football for
health” (BANGSBO et al., 2015). Afinal, o potencial do futebol recreativo em promoção de
aderência à prática sistematizada de exercício/atividade física com importantes implicações/
evidências vem sendo anunciadas de maneira crescente para a saúde pública em adultos
112
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
(MILANOVIC et al., 2019; MADSEN et al., 2020) e jovens (LARSEN et al., 2021). Essa força
tarefa de desenvolvimento poderá andar ladeada com aquela do alto rendimento e explorar
áreas conectas ainda carentes de estudos, principalmente no futebol feminino. Que o efeito
holístico seja sempre primário na evidenciação de descobertas e explicação de fenômenos.
Esperamos que a reflexão oportunizada aqui seja de fundamental interesse para aque-
les na liderança dos processos de produção de conhecimento científico, para aqueles que
exercem a função de treinadores ou que pertencem aos Departamentos de Saúde, de Análise
de Desempenho, de Tecnologia e Ciências de Dados dos clubes. Vale a pena destacar, e
não menos importante, que a apropriação deste debate também pode ser interessante para
a capacitação de gestores de clubes esportivos que buscam aprimoramentos constantes.
Afinal, toda transformação buscada no nosso futebol passa por toda a cadeia envolvida no
processo de produção e transferência de conhecimento no esporte e nas particularidades do
código de implementação na prática cotidiana dentro dos clubes de futebol. Por fim, espera-
mos contribuir com todos aqueles que buscam inovação e que estão atrás da próxima melhor
hipótese investigativa ou balizadora de tomada de decisão sustentada em cientificidade e
em processos rotineiros do dia a dia profissional, oportunizando a geração de vantagens
competitivas e melhor gestão do estado de saúde dos atletas, por exemplo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma transferência de conhecimento científico mais efetiva poderia fornecer contributos


para a resolução de problemas inerentes à prática profissional. No entanto, no esporte de
rendimento ainda existem alguns dogmatismos, preconceitos e lacunas que precisam ser
superados para que isso aconteça. Como desafios para implementação da “prática basea-
da em evidências” encontram-se as “restrições de tempo” dos profissionais da prática, “má
tradução da investigação”, e “investigação não aplicável”. Além disso, as principais lacunas
estão relacionadas às divergências entre as ideias que os treinadores e profissionais de
campo procuram e aquilo que tem sido revelado pela investigação científica esportiva ou
estimulado por corpos diretivos do esporte. Outras repercutem a forma de comunicação dos
pesquisadores (transferência de conhecimento) ou ausência de eventos com propósitos
mais específicos para treinadores de elite. Concatenando esses “gaps”, nós apresentamos
um modelo conceitual que pode ser um primeiro passo para o desenvolvimento do futebol
frente à realidade brasileira. Nele recomendamos uma proposição mais integrativa da “pes-
quisa-aplicação” usando Universidades, Clubes, Empresas, Federações e Confederações
como cooperadores mútuos. Da mesma forma, acreditamos que esses facilitadores e formas
mais efetivas deverão compor estratégias para a transferência de conhecimento, aplicação
prática e retroalimentação processual (ex. opinião e valores dos atletas, treinadores e provas
113
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de eficácia). Para o futebol brasileiro evoluir são demandados processos mais integrativos e
ordenados desde capacitação dos atores, processos investigativos mais holísticos e trans-
disciplinaridade até a efetiva implementação no mundo real, e retroalimentação do processo
com as provas de eficácia. Portanto, precisamos urgentemente debater proposições de
modelos de aplicação da ciência do futebol no Brasil mais funcionais frente ao desenvolvi-
mento e vantagens competitivas já notadas internacionalmente. Os principais interessados
no esporte, incluindo treinadores e pessoal de apoio, atletas, empresas de tecnologia do
esporte e aplicação no esporte, investigadores, Universidades e Federações precisam tra-
balhar em conjunto. Alicerçando esse esforço, se tornará viável a aplicação de descobertas
dos conhecimentos atualizados e relevantes e, consequentemente, o desenvolvimento ou
melhor manejo das evidências balizadoras do processo de tomada de decisão na prática e
crescimento de todo ecossistema do futebol. Por fim, que nunca esqueçamos daquilo que já
dizia o importante e vanguardista cientista dinamarquês do futebol, Jens Bangsbo: “o futebol
não é uma ciência, mas a ciência pode ajudar o futebol”.

AGRADECIMENTOS

À UFJF, campus Governador Valadares, à LOAD CONTROL, e ao grupo GEPCAF


(Grupo de Estudos e Pesquisa em Ciências Aplicadas ao Futebol) pela cooperação,
convivência, e nas proposições para a construção, produção de novos estudos e imple-
mentação de ações.

REFERÊNCIAS
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117
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
08
Estudo prospectivo das lesões
musculares em três temporadas
consecutivas do Campeonato
Brasileiro de Futebol

Gabriel Furlan Margato


CETE - EPM

Edilson Ferreira Andrade Júnior


CETE - EPM

Paulo Henrique Schmidt Lara


CETE - EPM

Jorge Roberto Pagura


FMABC

Moisés Cohen
DOT - EPM

Gustavo Gonçalves Arliani


CETE - EPM

Artigo original publicado em: 2020.


Revista Brasileira de Ortopedia - ISSN 0102-3616.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210303435
RESUMO

Objetivo: Realizar uma avaliação prospectiva das lesões musculares ocorridas durante
as partidas das séries A e B do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino dos anos
de 2016 a 2018. Métodos: Estudo de coorte prospectivo com coleta de dados referentes
às lesões musculares ocorridas durante os jogos oficiais da primeira e segunda divisões
do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino nas temporadas de 2016, 2017 e 2018.
Resultados: O número total de lesões musculares foi de 577 ao longo das 3 tempora-
das, havendo uma redução gradual e anual na incidência delas (219 lesões em 2016,
195 em 2017, e 163 em 2018), com diferença estatística significativa entre os anos de
2016 e 2018. As lesões musculares representaram aproximadamente 35% de todas
as lesões. A incidência das lesões musculares foi 7,66 para cada 1.000 horas de jogo.
Nas 3 temporadas (2016 a 2018), a mais comum foi a lesão muscular dos isquiotibiais
(41,1%, 40,5% e 33,7%, respectivamente). Os laterais foram os mais acometidos, e a
escala de severidade de lesão mais comum foi a moderada (8 a 28 dias). O momento
da partida com maior incidência de lesões foi no período entre 61 e 75 minutos, com um
índice de 19,9%, não havendo diferença estatística em relação aos demais períodos de
jogo. Conclusão: Houve uma incidência de lesões musculares de 7,7 lesões/1.000 h, e
ocorreram predominantemente nos jogos em casa, em defensores (laterais e zagueiros),
com idade média de 28 anos, envolvendo principalmente a musculatura isquiotibial, com
tempo médio de afastamento moderado (8 a 28 dias).

Palavras-chave: Traumatismos em Atletas.

119
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é o esporte mais praticado no Brasil e no mundo. A prática profissional do


futebol pode predispor o atleta ao desenvolvimento de lesões devido à maior exigência física,
além de a uma maior exposição aos fatores de risco, como: número excessivo de jogos e
treinamentos, alta demanda emocional, e presença de lesões prévias.1
Entre as lesões ocorridas em atletas profissionais de futebol, as musculares são as
mais comuns, com uma incidência de aproximadamente 35% a 40%.2 Outro fator importan-
te reside no fato de que, mesmo após a adoção de diversos programas de prevenção de
lesões no futebol, como o da Federação Internacional de Futebol (Fédération Internationale
de Foot-ball Association, FIFA, em francês), FIFA 11 þ , Ekstrand et al,3 num estudo com
acompanhamento de 11 anos, mostraram que, ao contrário das lesões ligamentares, não
houve redução na incidência de lesões musculares neste período. Desta forma, as lesões
musculares vêm sendo amplamente estudadas nos últimos anos devido ao alto impacto
gerado sobre os clubes profissionais tanto do ponto de vista esportivo quanto financeiro.4,5
No Brasil, apesar do aumento do interesse em avaliar as causas de afastamento e as
principais lesões em jogadores profissionais de futebol, ainda se observa uma carência de
trabalhos científicos nesta área, e, principalmente, de estudos centrados em lesões espe-
cíficas deste esporte, como as musculares.
Portanto, o objetivo deste estudo é realizar uma avaliação prospectiva das lesões mus-
culares ocorridas durante as partidas das séries A e B do Campeonato Brasileiro de Futebol
Masculino dos anos de 2016 a 2018.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de coorte prospectivo com coleta de dados referentes às lesões


musculares ocorridas durante os jogos oficiais da primeira e segunda divisões do Campeonato
Brasileiro de Futebol Masculino nas temporadas de 2016, 2017, e 2018. Os dados foram
coletados por meio do portal médico online (portalmedico.cbf.com.br) da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) ao final de cada temporada. Após o término das partidas, o
preenchimento dos questionários de lesões foi realizado pelos médicos responsáveis de
cada clube, devidamente registrados na CBF. Todos os atletas regularmente inscritos no
Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2016, 2017 e 2018, que participaram de pelo
menos 1 jogo do torneio, foram incluídos no trabalho. Os atletas inscritos pelos clubes e
que não atuaram em pelo menos um jogo durante o campeonato foram excluídos do estu-
do. O conceito usado para definir lesão foi o mesmo escolhido por Fuller et al6 no consenso
da FIFA de 2005: “Qualquer reclamação física sustentada por um jogador resultante de uma
120
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
partida de futebol ou treinamento, independente da necessidade de atenção médica ou perda
de tempo nas atividades de futebol”.
O questionário preenchido pelos médicos continha diversas variáveis: posição de atua-
ção no jogo, idade, número de partidas jogadas, e tempo de participação nos jogos. No que
se refere às lesões, incluiu-se o registro de sua ocorrência, a localização, a descrição e
gravidade da lesão, a recidiva, e o momento do campeonato no qual ocorreu a lesão.
As lesões foram classificadas de acordo com a gravidade, isto é, o tempo que o atleta
ficou afastado até o retorno às atividades sem limitações: leves (1 a 3 dias), menores (4 a
7dias), moderadas (8 a 28 dias), maiores (28 dias a 8 semanas), e graves (mais de 8 se-
manas de afastamento).7
Após o retorno do atleta a jogos oficiais, o médico do clube preencheu outro questio-
nário com dados referentes ao desfecho da lesão, como: tempo para retorno ao esporte,
necessidade de intervenção cirúrgica, exames realizados, e severidade da lesão.
O risco de lesão foi calculado conforme consenso elaborado pela FIFA, em que a inci-
dência de lesão é expressa pelo número de lesões por 1.000 horas de exposição (número de
jogos x número de jogadores por partida x duração da partida em horas).6 Logo, a incidência
lesões para cada 1.000 horas de jogo é calculada pela seguinte fórmula:

Incidência ¼ número total de lesões × 1.000 horas / exposição.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos
sob o número 1.660.701, tendo os dados sido cedidos pela CBF.

Análise Estatística

As medidas de tendência central e de dispersão foram expressas em médias e desvios


padrão (DPs) para as variáveis contínuas de distribuição simétrica, e em medianas e valores
mínimo e máximo para as variáveis de distribuição assimétrica. As variáveis categóricas
estão expressas em seus valores absolutos e relativos. A estimativa de diferença entre va-
riáveis categóricas foi realizada pelos testes exato de Fisher e qui-quadrado de Pearson. Foi
calculada a razão de chances (odds ratio, OR, em inglês) para quantificar o risco de lesões
associadas a algumas variáveis de estudo.
Foram utilizados testes estatísticos não paramétricos, pois os dados eram quantitativos
e contínuos. Utilizamos a análise de variância (analysis of variance, ANOVA, em inglês) para
comparar as variáveis quantitativas. O teste de igualdade de duas proporções foi utilizado
para comparar se a proporção de respostas de duas determinadas variáveis e/ou níveis eram
estatisticamente significativos. Valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente
121
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
significativos. Todos os intervalos de confiança (IC) foram estabelecidos ao longo do trabalho
com 95% de confiança estatística.

RESULTADOS

O Campeonato Brasileiro de Futebol contém 20 clubes em cada divisão, que se en-


frentam entre em si ao longo de 38 rodadas por temporada. Em nosso estudo, foram cole-
tados dados dos anos de 2016, 2017 e 2018, contabilizando 2.280 jogos. O número total de
lesões musculares foi de 577 ao longo das 3 temporadas, havendo uma redução gradual e
anual na incidência (219 lesões em 2016, 195 lesões em 2017, e 163 lesões em 2018), com
diferença estatística significativa entre os anos de 2016 e 2018. Como houve um total de
1.663 lesões nas 3 temporadas, as musculares representaram aproximadamente 35% do
total. A incidência das lesões musculares foi de 7,66 para cada 1.000 horas de jogo (Figura
1). Nas 3 temporadas (2016 a 2018), a mais comum foi a lesão muscular dos isquiotibiais
(41,1%, 40,5%, e 33,7%, respectivamente).

Fig. 1. Porcentagem de lesões musculares nas temporadas.

122
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 2. Posição dos jogadores acometidos por lesões musculares.

Em relação à posição em campo dos atletas acometidos por lesões musculares, ob-
servamos uma maior prevalência de lesões nos: laterais (18,5%), zagueiros (18,4%), meio-
-campistas (16,6%), atacantes (14,4%), volantes (10,7%), e goleiros (3,8%) (Figura 2). O grau
de severidade mais comum foi o tipo moderado, com afastamento entre 8 e 28 dias, sendo
a média de afastamento de 15,8 1,6 dias. O grupo muscular mais acometido foi o dos
músculos isquiotibiais. Os atletas acometidos por lesões musculares tinham uma média de
aproximadamente 28 anos. Os clubes mandantes tiveram maior índice de lesão muscular
(54,9%), com significância estatística (p < 0,001). Com relação à localização (distância) da
partida, houve maior prevalência de lesões musculares nos jogos em casa, e quando os
clubes tiveram que percorrer distâncias maiores do que 800 km para o jogo (53,4% e 33,4%,
respectivamente) (Figura 3). A temperatura média nos jogos com lesões musculares foi de
22 °C. Sobre o clima, a maior parte das lesões musculares ocorreu com tempo ensolarado
(38,6%), mas não houve diferença estatística (p ¼ 0,066) em relação às demais condições
climáticas (Figura 4).
O momento da partida com maior incidência de lesões (19,9%) foi entre 61 e 75 mi-
nutos , não havendo diferença estatística em relação aos demais períodos dejogo (Figura
5). Ao longo das 3 temporadas, notamos que a média de lesões por clube foi caindo ao
longo dos anos, pois em 2016 foram 5,92 lesões musculares por clube, contra 5,42 lesões
em 2017, e 4,79 lesões em 2018.

123
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 3. Distribuição das doenças musculares de acordo com a distância da partida.

Fig. 4. Distribuição de lesões musculares de acordo com o clima da partida.

124
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 5. Distribuição das lesões musculares de acordo com o momento da lesão.

Em relação aos turnos do campeonato, nos três anos avaliados, a maior parte das
lesões musculares ocorreu no primeiro turno (Figura 6).

DISCUSSÃO

No Brasil, o futebol é o esporte mais praticado, e a paixão e o fanatismo dos torcedores


por seus respectivos clubes transcendem a razão, sendo este um dos principais motivos da
busca por melhores resultados e da obsessão por títulos.
Logo, a utilização máxima dos atletas é essencial aos clubes de futebol, que são pre-
judicados quando há lesão em seus atletas, inviabilizando-os à prática esportiva.
Em um estudo, Ekstrand et al8 avaliaram 2.299 jogadores de clubes europeus entre
2001 e 2009, e cerca de 1/3 das lesões foram musculares, e as lesões do músculo isquio-
tibial foram a mais comuns, assim como no presente estudo.
Em outro estudo, Ekstrand et al9 avaliaram os jogadores da Liga dos Campeões da
União de Associações de Futebol Europeias (Union of European Football Associations, UEFA,
em inglês) durante 11 anos. Os autores observaram que houve diminuição da taxa de lesões
ligamentares, mas não houve queda na taxa de lesões musculares. No presente estudo,
houve uma queda progressiva nas três temporadas avaliadas. Estudos prévios2,10,11 que
avaliaram o panorama de lesões em jogadores de futebol no Brasil demonstraram que as
lesões musculares são as mais comuns, e uma hipótese que pode ser aventada é que, a partir
desses estudos, houve uma maior preparação por parte dos clubes brasileiros para evitar
lesões musculares, e isso justificaria essa queda nas três temporadas avaliadas no presente
estudo. Outras hipóteses são aventadas, como melhora nas condições dos gramados no
125
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Brasil, clubes buscando elencos maiores, com mais jogadores, para preservar atletas, e o
avanço no uso da tecnologia pelos departamentos médicos dos clubes.

Fig. 6. Comparação de lesões musculares nos turnos do campeonato.

Junge e Dvořák12 avaliaram as lesões ocorridas durante a Copa do Mundo FIFA de


2014 no Brasil; a mais comum foi a lesão muscular na coxa, e os autores recomendaram
intervenções para prevenir lesões nos membros inferiores sem contato, as quais devem
fazer parte da rotina de treinamento dos clubes de futebol.
Ekstrand et al13 realizaram um acompanhamento durante 13 anos em clubes euro-
peus de futebol, e observaram que houve um aumento na taxa de lesões musculares dos
isquiotibiais durante os treinos e manutenção da taxa em relação aos jogos. Os autores
colocaram como hipótese para essa diferença que há uma maior exigência muscular du-
rante os treinamentos. No presente estudo, foram avaliadas apenas as lesões ocorridas
durante os jogos, e houve uma diminuição na incidência de lesões musculares no decorrer
das três temporadas. No estudo de Bengtsson et al14 em que foram avaliadas 14 tempo-
radas consecutivas de clubes da UEFA, os autores encontraram uma média de 9,4 lesões
musculares por 1.000 horas, valor um pouco acima do encontrado no presente estudo (7,66
lesões musculares per 1.000 horas). Outro aspecto abordado no estudo é que houve um
número maior de lesões quando houve menos de três dias de descanso entre as partidas.
Estudos prévios15–18 demonstraram redução de 20% no número de lesões quando houve
mais de 3 dias de descanso entre as partidas. Sinais de fadiga muscular após uma partida
de futebol duram cerca de 72 horas, o que foi demonstrado em estudos prévios.19–22 Isso
pode alterar os movimentos dos jogadores, levando os músculos a funcionar em níveis em
que não estão acostumados, predispondo os atletas a novas lesões. Nas temporadas do
Campeonato Brasileiro em que foram avaliadas as lesões, houve uma média de três dias de 126
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
descanso entre as partidas, valor associado a um maior número de lesões. Além disso, no
presente estudo, foi demonstrado que, em jogos fora de casa a uma distância maior do que
800 km, houve uma incidência maior de lesões. Uma hipótese que pode ser aventada é a
de que nessas partidas os jogadores tiveram menor tempo de descanso e maior desgaste
devido à viagem, e, com isso, apresentaram um número maior de lesões.
No estudo de Buckthorpe et al,23 fez-se uma avaliação sobre as causas das lesões dos
isquiotibiais, que são as mais comuns entre os jogadores de futebol. Os autores apontaram
a importância do fortalecimento da musculatura do core e a integridade do balanço pélvico
para evitar lesões dos isquiotibiais.
No estudo de Eirale,24 demonstrou-se que uma importante ferramenta para a diminuição
da ocorrência de lesões dos isquiotibiais é a detecção de sintomas prodrômicos por parte
dos atletas e/ou preparadores, e a realização de exames que detectam alterações antes do
aparecimento da lesão, como a ressonância magnética e exames laboratoriais.
Ekstrand et al25 avaliaram 35 times de futebol da Europa, e aqueles em que houve
um período de parada no decorrer da temporada apresentaram um menor afastamento de
jogadores por conta de lesões. Pode-se aventar a hipótese de que o menor índice de lesões
em 2018 seja justificado pela parada devido ao período da Copa do Mundo.
No estudo de Jones et al,26 foram avaliados 243 jogadores profissionais do futebol in-
glês, e demonstrou-se que as lesões musculares dos isquiotibiais são as mais frequentes,
correspondendo a 39,5% de todas as lesões musculares e a 16,3% do total das lesões, taxa
semelhante à encontrada no presente trabalho, assim como a escala deseveridade da lesão
moderada (8 a 28 dias), a qual foi a mais comum em ambos os estudos. No estudo de Klein
et al,27 em que foram avaliadas 3 temporadas do campeonato alemão, a mais comum foi a
lesão muscular da coxa, com 23,6% dos casos, e o grau de severidade mais comum foi o
moderado (8 a 28 dias de afastamento).
Em relação ao turno em que ocorreram as lesões musculares, há necessidade de no-
vos estudos que avaliem esse aspecto, pois no presente estudo a maioria delas ocorreu no
primeiro turno, o que não é o mais esperado, uma vez que se sabe as lesões musculares
estão muitas vezes associadas à fadiga muscular, a qual é mais esperada no segundo turno.
As lesões musculares, umas das principais causas de afastamento dos atletas do
âmbito esportivo, vêm sendo amplamente estudadas para a compreensão dos fatores de
risco e o estabelecimento do tratamento adequado. Com esse entendimento, haverá ganho
esportivo, seja dos clubes, dos jogadores, ou do campeonato, que terá seu nível de qualidade
aumentado, e os próprios torcedores também vão se beneficiar, pois verão em campo seus
ídolos, aumentando o ganho financeiro e esportivo dos envolvidos.

127
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
No Brasil, apesar do alto valor financeiro envolvido nas duas principais divisões do
Campeonato Brasileiro de Futebol, nota-se uma carência de estudos sobre as causas de
impedimento à prática esportiva de seus atletas, entre elas as lesões musculares.
Uma limitação do presente estudo é a possibilidade de viés de informação, posto que
as informações podem ter sido modificadas ou até omitidas pelos médicos dos clubes. Além
disso, o estudo avaliou apenas lesões agudas ocorridas durante os jogos, e não avaliou
as lesões sofridas durante o treinamento e as doenças não relacionadas ao esporte. Outra
limitação é que o tempo de exposição foi calculado baseado em 22 jogadores e 90 minutos
por jogo. Um método mais preciso seria considerar os acréscimos ou a duração real de
cada partida e o número de minutos de exposição para cada jogador individualmente. Entre
os pontos fortes, o presente estudo é o primeiro no Brasil a realizar a avaliação de lesões
musculares por três anos no principal campeonato de futebol do país. Além disso, foram
realizadas correlações que podem ser conduzidas em outros estudos para comparação,
e este estudo confirmou certas associações que, apesar de esperadas, não tinham sido
previamente avaliadas.

CONCLUSÃO

As lesões musculares em jogadores de futebol profissional das séries A e B do


Campeonato Brasileiro de Futebol entre os anos 2016 a 2018 corresponderam a 35% das
lesões, com uma incidência de 7,7 /1,000 h, e ocorreram predominantemente nos jogos
em casa, em defensores (laterais e zagueiros), com idade média de 28 anos, envolven-
do principalmente a musculatura isquiotibial, com tempo médio de afastamento modera-
do (8 a 28 dias).
Apesar do avanço nos estudos epidemiológicos e demográficos das lesões no futebol,
concluímos que a literatura carece de novos estudos, e que há margem para novas pesqui-
sas sobre esse tema.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer aos médicos dos clubes e a Confederação Brasileira pela


ajuda para a realização deste trabalho.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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Estresse, humor e burnout: um estudo
sobre atletas do futebol feminino

Igor Malinosqui Rinaldi


UNESP

Mayra Grava de Moraes


UNESP

Carlos Eduardo Lopes Verardi


UNESP

10.37885/210303876
RESUMO

Objetivo: identificar e analisar níveis dos estados de humor e burnout, bem como a
percepção de estresse e recuperação em atletas de futebol do sexo feminino, durante
treinamentos de uma temporada. Metodologia: foi realizado um levantamento de lite-
ratura e da recente produção científica em relação ao tema em psicologia do esporte,
em conseguinte, foi realizada a coleta de dados junto as equipes participantes, por meio
dos Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas (RESTQ-76), de Estados de
Humor de Brunel (BRUMS) e do Questionário de Burnout para Atletas (ABQ) em 59 jo-
gadoras de duas categorias distintas que atuaram no futebol feminino e que competiram
série A1 dos Campeonatos Paulista e Brasileiro Feminino no ano de 2018. Resultados:
os resultados mostraram que não houve diferença das variáveis entre as categorias,
as médias das participantes apresentaram perfil de humor positivo para atletas e que
os níveis médios de estresse e burnout apresentaram valores baixos e a recuperação
revelou escores moderados. Além disso, observou-se associações positivas entre es-
tresse, burnout e humor negativo em muitas dimensões; correlações negativas entre
recuperação e estresse, burnout e humor negativo; e relação positiva entre recuperação
e o fator vigor de humor. Conclusões: conclui-se, portanto, que as associações fortes
entre as variáveis podem auxiliar na compreensão, na prevenção de acometimentos em
saúde psicológica e desempenho esportivo das atletas, no entanto, há necessidade de
mais investigações que permitam ampliar o conhecimento sobre a população estudada
no contexto futebolístico.

Palavras-chave: Estresse, Humor, Burnout, Futebol Feminino.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

Pode-se constatar que há uma crescente preocupação sobre como o esporte é concebi-
do pela perspectiva da psicologia, sobretudo em relação ao reduzido espaço de participação
das mulheres neste contexto, tanto na prática das modalidades (BRAUNER, 2015), quanto
na visibilidade midiática (SOUZA; KNIJNIK, 2007). Acrescenta-se a este fato o movimento de
ascensão das mulheres frente aos diferentes espaços sociais, característico de emancipa-
ção, de aceitação social perante o corpo feminino e correspondente busca pela igualdade de
direitos das mulheres em relação aos homens em diversos ambientes, inclusive no esporte
(GIULIANI, 2007; MARTIN, 2006; RAGO, 2007).
No Brasil, a discussão acadêmica sobre o futebol feminino e seu espaço em relação ao
futebol de homens apareceu inicialmente em trabalhos como os de Souza Júnior e Darido
(2002), Ventura e Hirota (2007) e Santos, Silva e Hirota (2008), aos quais debateram sobre
as situações que condicionam a prática de acordo com as relações de poder e gênero,
as oportunidades oferecidas, os discursos de preconceito e as motivações, indicando a
necessidade de novas perspectivas de promoção ao esporte feminino e de trazer à tona
questionamentos iniciais sobre os aspectos psicológicos envolvidos no futebol de mulheres.
Sobre aspectos psicológicos das mulheres no futebol, Junge e Prinz (2019) detecta-
ram uma prevalência de sintomas de depressão em nível intermediário e de ansiedade em
jogadoras da primeira divisão da Alemanha, os quais são equivalentes ao da população de
outras modalidades em geral e do mesmo sexo. Porém as jogadoras que estavam em divisão
inferior de categoria apresentaram níveis mais elevados que outras populações, verificando
assim, que a menor experiência de jogos está relacionada a maiores escores de sintomas
depressivos e ansiedade. Surgem questionamentos em relação a complexidade deste pro-
blema no que concerne ao espaço que as mulheres têm para se jogar e a qualidade de vida
das mesmas, ou seja, quais os níveis de estresse que as mulheres enfrentam no meio fute-
bolístico e quais as implicações para a saúde e para desempenho esportivo das mesmas.
Atletas de alto rendimento em diferentes esportes do sexo feminino possuem duas
vezes mais chances de apresentarem sintomas depressivos leves a mais graves que atletas
de rendimento do sexo masculino (GORCZYNSKI, 2017), o que sugere a importância de
se investigar a inserção de atletas em diferentes contextos e de diferentes características
biológicas, psicológicas e sociais. Knijnik e Vasconcellos (2016) consideram que mulheres
praticantes de futebol são mais afetadas pelo estresse em relação aos homens nos aspec-
tos relacionados à dificuldade de convivência com o grupo, às pressões e cobranças por
resultados e ao preconceito, porém não há evidências de que as características biológicas
do sexo sejam responsáveis por tais percepções, mas sim que as condições ambientais

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
inerentes aos espaços ocupados pelos homens são preponderantes no desencadeamento
do estresse percebido.
Neste sentido, ainda pode ser observado muitas barreiras que as mulheres enfren-
tam no esporte, que se manifestam na dificuldade em procurar auxílio psicológico devido à
estigmatização sobre o tratamento de distúrbios mentais, na falta de conhecimento sobre
saúde psicológica, nas experiências passadas limitantes ao desenvolvimento, no alto nível
de ocupações e na hipermasculinidade esportiva, bem como à falta de aceitação das mulhe-
res como atletas, à baixa aceitação de sintomas e distúrbios de saúde mental entre atletas
e à elevada dependência econômica (CASTALDELLI-MAIA, 2019). Salvini e Marchi Júnior
(2016) entrevistaram atletas de futebol feminino e descobriram na análise de seus discur-
sos, as dificuldades enfrentadas na modalidade no âmbito nacional, desde a infância até a
vida profissional, inerentes à falta de reconhecimento, ao combate ao preconceito social,
à carência de incentivo mercadológico e à luta pela ampliação do espaço para exercerem
seus direitos que foram adquiridos somente a partir do final dos anos 1970 e início dos anos
1980, data da revogação do Decreto-lei que proibia as mulheres de praticarem esportes que
não estivessem de acordo com sua natureza.
No âmbito esportivo, em consenso, o Comitê Olímpico Internacional (2019) encontrou
nas recentes publicações, distúrbios e sintomas sobre a saúde psicológicas de atletas pro-
fissionais e amadores. Além disso, apontou possíveis maiores fontes de estresse que podem
influenciar a saúde dos atletas, como assédio e abuso, relações entre lesões e performance,
barreiras para o tratamento de distúrbios da saúde, a possibilidade de abandono do esporte
e emergências em problemas psicológicos (REARDON, et al. 2019).
O estresse, portanto, é uma forma de desestabilização entre a pessoa (condições
internas) e o meio ambiente (condições externas) que leva a efeitos negativos ou positivos,
ou seja, o estresse até certo grau pode ser benéfico para manutenção e aperfeiçoamento
das capacidades funcionais (KELLMANN; KALLUS, 2001; SAMULSKI et al., 2009). Assim, o
equilíbrio entre estresse e recuperação pode otimizar a performance esportiva, de tal forma
que o sujeito pode reagir ao estresse de maneira não prejudicial e aumentar o desempenho
no esporte desde que tenha uma recuperação adequada que reequilibre as suas funções
orgânicas e psicológicas (KELLMANN, 2017).
Nas últimas décadas, estudos demonstraram que as implicações dos estados de humor
no rendimento esportivo em atletas podem, a princípio, influenciar de maneira prejudicial o
desempenho esportivo caso o atleta não apresente perfil de humor considerado adequado
(LANE, 2001; LANE; TERRY, 2000; TERRY; LANE, 2000). O humor é dependente de muitas
situações específicas do esporte, como a competição, as demandas estratégicas da moda-
lidade e o ambiente em que é praticado, entretanto, níveis elevados do fator positivo vigor
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
e de baixos escores dos fatores negativos de tensão, fadiga, depressão, raiva e confusão
são características dos estados de humor de atletas que apresentam melhor rendimento
esportivo denominado de perfil de iceberg, ou seja, há variações mais adequadas de humor
para competições esportivas (BRANDIT, 2010; LANE, et al., 2005; GATTI; DE PALO, 2011;
MORGAN, 1980; TERRY, 1995).
Neste sentido, estudos apontam que os estados de humor estão associados ao sucesso
ou ao fracasso no esporte e na saúde do praticante, justificados por percepções alteradas
do humor, biomarcadores de estresse e fatores de recuperação como o sono (CHENNAOUI
et at., 2016). Assim, os mecanismos fisiológicos e emocionais e os comportamentos sociais
específicos fazem parte das demandas de vida de um atleta, sendo o humor uma variável
preditiva do desempenho competitivo e que pode estar associado a estes mecanismos. A má
qualidade de sono, por exemplo, apresenta maior tendência em atletas de nível internacio-
nal que percebem a confusão, depressão e fadiga em níveis mais elevados, ao contrário
daqueles com vigor aumentado e com confusão, fadiga e tensão diminuída, que apresentam
menor associação com o sono ruim (ANDRADE et al., 2019).
O desempenho é uma característica fundamental do contexto esportivo e que está inti-
mamente ligada aos acometimentos da síndrome burnout. Assim, neste ambiente específico,
as pesquisas levaram em conta outros aspectos do desempenho que poderiam estar asso-
ciados aos sintomas da síndrome, dentre elas, as cargas de treinamento, as competições, o
modo de vida esportivo e outras fontes de estresse psicofisiológicos preponderantes para os
profissionais envolvidos no esporte (RAEDEKE, 1997; RAEDEKE; SMITH, 2001). De modo
integrativo das abordagens teóricas sobre burnout no âmbito esportivo, Gutafsson, Kentta
e Hassmén (2011) defendem que o estudo sobre o tema deve ser abordado de maneira
holística e que considere as características de personalidade, de estratégias de enfrenta-
mento e dos fatores ambientais, com a finalidade de auxiliar pesquisadores, treinadores e
atletas a compreenderem os mediadores da síndrome de burnout, como o perfeccionismo,
a motivação, o estresse, o humor e as adaptações psicológicas relacionadas as habilidades
de enfrentamento (GUSTAFSSON; DEFREESE; MADIGAN, 2017).
Dessa maneira, o objetivo da presente pesquisa foi identificar e analisar os níveis de
burnout e estados de humor, bem como a percepção de estresse e recuperação em atletas
de futebol do sexo feminino em fase de treinamento durante o período de competições. Além
disso, comparamos os escores relativos à percepção de estresse e recuperação, estado de
humor e burnout, entre as categorias Adulta e Sub 17 durante o período de competições,
bem como associar os escores relativos à percepção de estresse e recuperação entre os
estados de humor e burnout, durante o período de competições das atletas participantes.

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
MÉTODOS

AMOSTRA

Participaram do estudo 59 atletas de futebol feminino, com média de 20,01±5,02 anos


de idade, pertencentes a dois clubes brasileiros que disputaram o Campeonato Brasileiro da
Série A1 e o Campeonato Paulista Sub17. A amostra foi dividida em duas categorias: Sub17
(26 atletas com 15,73±1,25 anos de idade) e Adulta (33 atletas com 23,39±4,22 anos de idade).

PROCEDIMENTOS

Inicialmente o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da


Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (número do CAAE:
15794613.0.0000.5398). Em seguida, foi realizado contato com três equipes de futebol
feminino que disputam os Campeonatos Brasileiro e Paulista da Primeira Divisão. Destes,
duas equipes aceitaram participar da pesquisa.
Em contato com as atletas, estas, foram informadas sobre a pesquisa, seus objetivos e
sua metodologia. Logo em seguida, receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) com o objetivo de esclarecimento sobre as condições para participação na pesqui-
sa. A condição de participação na pesquisa foi à devolução do TCLE, devidamente assinado
pelo responsável. Os dados foram coletados pessoalmente pelos pesquisadores, logo após
as sessões de treinamento no período do segundo semestre do ano e em temporada compe-
titiva. As atletas que aceitaram a condição para a participação na pesquisa foram orientadas
a responder os questionários, de 30 a 40 minutos após, no próprio local de treinamento.

INSTRUMENTOS

a. Ficha de avaliação sociodemográfica: foram utilizadas as informações referentes a


idade, tempo em competições oficiais (experiência), número de treinos por semana
e número de competições internacionais, nacionais e estaduais. Outras informa-
ções contidas na ficha foram excluídas do estudo por não contemplar o objetivo de
pesquisa.
b. Escala de Humor de Brunel (BRUMS): foi utilizada no presente estudo para permi-
tir uma rápida mensuração dos estados de humor. Validada para o português por
Rohlfs et al. (2008) o BRUMS contém 24 indicadores simples de humor, tais como
as sensações de raiva, disposição, nervosismo e insatisfação que são perceptíveis
pelo indivíduo que está sendo avaliado. Os avaliados respondem como se situam
em relação às tais sensações, de acordo com a escala de 5 pontos (de 0 = nada a
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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
4 = extremamente). São avaliados seis estados subjetivos e transitórios de humor:
Tensão (T), Depressão (D), Raiva (R), Vigor (V), Fadiga (F) e Confusão Mental (C).
Os fatores T, D, R, F e C são considerados fatores negativos e o Vigor classificado
como fator positivo. O Distúrbio Total de Humor (DTH) é dado pela seguinte fórmu-
la: DTH = (T+D+R+F+C) – V + 100 (MORGAN et al., 1987).
c. Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas (RESTQ 76 Sport): consiste
em uma série de afirmações que indicam o estado mental, emocional e o bem-es-
tar físico dos atletas. As respostas foram dadas em uma escala do tipo Likert. 0.
Nunca; 1. Pouquíssimas vezes; 2. Poucas vezes; 3. Metade das vezes; 4. Muitas
vezes; 5. Muitíssimas vezes; 6. Sempre. Este questionário foi desenvolvido para
medir a frequência do estado de estresse atual em conjunto com a frequência de
atividades de recuperação associadas. Para tanto, ele avalia eventos potencial-
mente estressantes e fases de recuperação e suas consequências subjetivas nos
últimos três dias e noites (KELLMANN et al., 2009). Pela variação da escala entre
0 e 6, valores acima de 4 são considerados “altos”, abaixo de 2 são considerados
“baixos” e, entre 2,01 e 3,99, são “moderados”, seja para estresse específico, es-
tresse geral ou recuperação. Os valores das escalas são calculados pelos valores
médios dos respectivos itens. Altos escores nas escalas associadas às atividades
de estresse refletem estresse subjetivo intenso, enquanto altos escores nas esca-
las associadas à recuperação refletem muitas atividades de recuperação (KELL-
MANN et al., 2009).
d. Questionário de Burnout para Atletas (ABQ): validado para o idioma português por
Pires, Brandão e Silva (2006), a partir do instrumento de idioma inglês intitulado
Athlete Burnout Questionnaire (RAEDEKE; SMITH, 2001). O ABQ possui 15 ques-
tões do tipo Likert, sendo 05 para medir a subcategoria exaustão física e emocional
(EFE) (eu estou exausto pelas demandas físicas e emocionais do esporte), sendo
elas as número 2, 4, 8, 10, e 12; 05 para medir a subcategoria desvalorização es-
portiva (DES) (eu tenho sentimentos negativos em relação ao esporte), sendo as
de números 3, 6, 9, 11 e 15; e 05 para medir a subcategoria reduzido senso de re-
alização esportiva (RSR) (não importa o que eu faço, eu não executo como devo),
com as questões número 1, 5, 7, 13 e 14. Cada uma das questões conta com 05
opções de respostas, sendo que o número 1 significa “eu quase nunca me sinto
assim” e no outro extremo, o número 5, que significa “eu me sinto assim a maior
parte do tempo”, sendo as respostas intermediárias as seguintes: “Raramente” (2),
“Algumas vezes” (3) e “Frequentemente” (4).

137
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ANÁLISE DE DADOS

Os dados obtidos foram avaliados quantitativamente, com métodos estatísticos. Foram


efetuados cálculos de estatísticas descritivas (média, mediana, desvio padrão, mínimo, má-
ximo); testes de significância não paramétricos utilizados para comparação de categorias de
jogadoras sub17 e adulta (teste de comparação de duas proporções, teste não paramétrico
de Mann-Whitney para comparação das medianas). Além disso foi utilizado o teste de me-
didas de correlação de Spearman entre as variáveis e aplicado o teste de correlação para
obtenção do coeficiente de determinação R². As correlações mais significativas (p<0,001)
e de maior efeito (r>0,60 ou r>-0,60) bem como as relações com nível de significância de
p<0,05 foram adotadas como critérios de associações médias à fortes (DANCEY; REIDY,
2013; FIELD, 2009). O grau do coeficiente de correlação foi avaliado qualitativamente de
acordo com a proposta de Callegari-Jacques (2003) da seguinte forma: fraca (entre 0,00 e
0,30); regular (entre 0,30 e 0,60); forte (entre 0,60 e 0,90) e muito forte (entre 0,90 e 1,00).

RESULTADOS

Com a finalidade de caracterizar a amostra, na Tabela 1 segue a análise descritiva da


idade, quantidade de treinos semanais, número de competições oficiais na carreira, compe-
tições em níveis estaduais, nacionais e internacionais das atletas por categoria. Observa-se
para todas as variáveis diferenças estatisticamente significativas quando comparadas entre
as categorias Adulta e Sub17.

Tabela 1. Caracterização da amostra por categoria: Idade, número de treinos por semana, número competições estaduais,
nacionais, internacionais e competições oficiais na carreira.

Variável Categoria (n) ±s Md Mín Máx p


Sub17 26 15,73±1,25 16 13 17
Idade <0,001
Adulta 33 23,39±4,22 22 18 33
Sub17 26 3,73±1,28 3 3 7
Treinos por semana <0,001
Adulta 33 6,24±0,90 6 5 8
Sub17 26 1,96±1,21 2 0 4
Competições estaduais <0,001
Adulta 33 7,24±5,31 5 0 20
Sub17 26 0,26±0,60 0 0 2
Competições nacionais <0,001
Adulta 33 4,51±4,00 4 0 15
Sub17 26 0,11±0,32 0 0 1
Competições internacionais <0,010
Adulta 33 1,06±1,69 0 0 5
Sub17 26 1,76±1,24 1,5 0 5
Competições oficiais <0,001
Adulta 33 7,57±4,96 8 0 20

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Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A Tabela 2 apresenta os dados referentes aos estados de humor das atletas, nota-se
que não houve diferença estatisticamente significativa estre as seis dimensões quando
comparadas as duas categorias.

Tabela 2. Estatística descritiva para as seis dimensões dos estados de humor em atletas das categorias Adulta e Sub17 e
valor p resultante da comparação realizada com o Teste Mann-Whitney.

Dimensões Categoria (n) ±s Md Mín Máx p


Sub17 26 4,19±2,81 3,5 0 10
Tensão 0,311
Adulta 33 5,18±3,44 5 0 12
Sub17 26 2,42±3,5 2 0 16
Depressão 0,339
Adulta 33 2,18±3,45 0 0 12
Sub17 26 3,69±3,92 2,5 0 16
Raiva 0,847
Adulta 33 3,87±4,44 2 0 14
Sub17 26 10,96±2,74 11 6 16
Vigor 0,830
Adulta 33 11,15±3,15 11 3 16
Sub17 26 4,64±4,33 3,5 0 14
Fadiga 0,164
Adulta 33 5,45±3,28 4 1 14
Sub17 26 3,50±3,15 3,5 0 16
Confusão 0,363
Adulta 33 3,33±3,79 2 0 15
Sub17 26 107,5±15,98 106 88 166
DTH 0,807
Adulta 33 108,8±16,54 107 89 148
Nota: DTH: Distúrbio Total de Humor.

Entre os seis fatores negativos de humor os escores médios mais elevados foram Fadiga
e Tensão, ambos na categoria Adulta. Entretanto, o Vigor físico para ambas as categorias
apresentou resultado positivo, Adulta (11,15±3,15) e categoria Sub17 (10,96±2,74) respec-
tivamente. O fator Vigor representa estado de animação, excitação, energia e disposição,
o que confere, no caso da realização da prática esportiva, um aspecto essencialmente po-
sitivo para melhor desempenho. Vale ressaltar que baixos níveis dessa dimensão aliados
à elevados escores das dimensões negativas, podem estar relacionados ao desempenho
prejudicado, a fatores ligados ao excesso de treinamento e até mesmo à síndrome de bur-
nout. Não obstante, o valor do distúrbio total de humor (DTH) para a categoria Sub17 foi de
107,53±15,98 e para a Adulta o valor encontrado foi de 108,8±16,54. Tais valores, são tidos
como elevados níveis de DTH, pois se encontram ≥101.
Na Tabela 3, a análise dos dados das dimensões de estresse não mostrou diferenças
significativas entre as categorias, o maior valor médio de 4,05±0,88 esteve presente na
dimensão de Áreas de Recuperação (AR) na categoria Adulta. O menor valor médio ficou
para o fator de Estresse Específico (EE) de 1,88±0,84 presente na categoria Sub17. Deste
modo, observou-se níveis baixos à médios em todas as dimensões de estresse, valores
abaixo ou muito próximos do valor médio da escala (2) e escores considerados médios à
altos para os fatores de recuperação, acima de 2,01.

139
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 3. Estatística descritiva das seis dimensões de estresse e recuperação em atletas de futebol feminino das categorias
Adulta e Sub17 e valor p resultante da comparação do Teste Mann-Whitney.

Dimensões Categoria (n) ±s Md Mín Máx p

Sub17 26 2,02±0,88 1,89 0,18 3,50


Estresse Geral 0,454
Adulta 33 1,92±0,88 1,61 0,57 4,18
Sub17 26 1,88±0,84 1,58 0,75 3,75
Estresse Específico 0,561
Adulta 33 2,04±1,06 1,92 0,58 5,50
Sub17 26 1,95±0,76 1,85 0,76 3,26
Estresse Global 0,957
Adulta 33 1,98±0,92 1,82 0,66 4,84
Sub17 26 3,50±0,69 3,50 2,35 4,80
Recuperação Geral 0,450
Adulta 33 3,65±0,71 3,70 2,30 5,00
Sub17 26 3,76±086 3,56 2,00 5,63
Áreas de Recuperação 0,228
Adulta 33 4,05±0,88 4,13 2,56 5,75
Sub17 26 3,63±0,71 3,44 2,23 5,21
Recuperação Global 0,401
Adulta 33 3,85±0,76 3,84 2,43 5,35

O estresse menor que a recuperação pode representar proteção as atletas no que se


refere a acometimentos relativos ao excesso de treinamento, deste modo, o resultado das
médias para as dimensões de estresse e recuperação se revelaram favoráveis a saúde psi-
cológica às atletas, porém, vale a reserva na análise quando se observa os valores máximos
que indicaram que algumas atletas atingiram valores muito acima da média.
Os índices obtidos das dimensões de burnout são apresentados por categoria na Tabela
4. Os valores médios entre as categorias não indicaram diferenças estatística significativas,
além disso as médias e medianas atingiram valores abaixo de 2,50, no entanto, houve
atletas que atingiram valores máximos próximos de 5, em destaque para a dimensão de
Desvalorização Esportiva (DES) na categoria Sub17. Sabe-se que percepções que refletem
elevados escores para burnout são prejudiciais à saúde do atleta bem como se relaciona
com decréscimo da performance esportiva, portanto de acordo com as médias, os resultados
das amostras representam aspectos positivos em relação à performance esportiva dado as
médias baixas da maioria das atletas analisadas.

Tabela 4. Estatística descritiva das três dimensões da síndrome de burnout em atletas de futebol feminino das categorias
Adulta e Sub17 e valor p resultante da comparação do Teste Mann-Whitney.

Dimensões Categoria (n) ±s Md Mín Máx p

Sub17 26 2,20±0,53 2,14 1,57 3,71


RSR 0,309
Adulta 33 2,07±0,54 1,86 1,29 3,36
Sub17 26 2,06±0,60 2,03 1,36 3,86
EFE 0,227
Adulta 33 1,88±0,63 1,67 1,00 3,50
Sub17 26 1,94±0,77 1,75 1,17 4,50
DES 0,260
Adulta 33 1,78±0,78 1,67 1,00 3,50
Nota: RSR: Reduzido Senso de Realização; EFE: Exaustão Física Emocional; DES: Desvalorização Esportivo.

De acordo com os resultados comparativos entre as categorias Adulta e Sub17 de


atletas de futebol feminino no que se refere as variáveis de estresse e recuperação, humor e
140
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Burnout, não houve diferenças estatisticamente significativas, invalidando a primeira hipótese
de pesquisa. Embora tenham sido identificadas diferenças nas rotinas de treinos, competi-
ções e experiência, é possível presumir que as atletas das diferentes categorias estiveram
em condições que proporcionaram percepções de estresse e recuperação, humor e burnout
de modo muito semelhante. Outra proposta para novas investigações seria analisar se a
organização do futebol feminino, no que se refere nas divisões de categorias, impacta nas
variáveis psicológicas das atletas.
Os resultados mostraram que as correlações significativamente positivas, estiveram
entre: Reduzido Senso de Realização (RSR) e Estresse Específico (EE) (0,72), Exaustão
Física Emocional (EFE) e Estresse Específico (EE) (0,80), Desvalorização Esportiva (DES) e
Estresse específico (EE) (0,61), EFE e Estresse Geral (EGE) (0,47); RSR e Estresse Global
(EGL) (0,60); EFE e EGL. (0,69); DES e EGL (0,44). No que se refere as dimensões de es-
tados de humor as associações positivas estiveram entre EGE e Tensão (0,55), Depressão
(0,69), Raiva (0,79), Fadiga (0,75) e Confusão (0,74); EE e Depressão (0,40), Raiva (0,53),
Fadiga (0,77) e Confusão (0,51); EGL e Tensão (0,44), Depressão (0,53), Raiva (0,67),
Fadiga (0,81) e Confusão (0,63); RSR e Fadiga (0,47) e EFE e Fadiga (0,57).
De acordo com valores encontrados do coeficiente de determinação cabe o destaque
para as variações das dimensões de burnout de EFE, RSR e DES explicadas em 62%, 57%
e 47% da variação do EE respectivamente, que também foi responsável pela variação da
Fadiga em 47%. Além disso, o EGE explicou as variações em 28% da Depressão, 35% da
Confusão, 41% da Fadiga, e 52% da Raiva e o EGL foi responsável pelas variações em
37% da Confusão, 57% da Fadiga e 42% da Raiva. Não houve associações positivas entre
a dimensão de Desvalorização Esportiva (DES) e os fatores negativos de humor, bem como
apenas apareceram relações positivas entre Fadiga e Exaustão Física Emocional (EFE) e
Reduzido Senso de Realização (RSR), apresentado na Figura 1. Além disso, todos os fa-
tores de estresse se relacionaram positivamente com quase todas as dimensões negativas
de humor para categoria Sub17, ou seja, somente o fator de Estresse Específico (EE) não
apresentou associações com a dimensão Tensão, também pode ser observado as relações
dos fatores de estresse com as dimensões da síndrome de burnout.

141
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 1. Associações entre as dimensões de estresse, estados de humor negativos e burnout da categoria sub17.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os estados de humor negativos, o estresse e o burnout se mostraram relacionados


em sua maioria de efeitos regulares e significância elevadas, observou-se que o estresse
protagonizou vinte e uma das vinte e três relações positivas apresentadas com fatores
considerados potencialmente prejudiciais a atletas, em todas as dimensões o estresse so-
mou onze das que possuíam tamanho de efeito e significância mais relevantes, r>0,60 e
p<0,001. Vale destacar que os agentes estressores no ambiente esportivo contribuem para
que o fenômeno seja, por muitas vezes, vinculado com outros sintomas psicológicos con-
traproducentes a esportistas, deste modo, o estresse deve ser levado em consideração na
rotina de treinos e competições para que o humor negativo e a síndrome de burnout sejam
controlados e prevenidos.
As associações negativamente relacionadas mais significativas e de maior efeito es-
tiveram entre RGL e Depressão (-0,62). Como pode ser notado na Figura 2, as dimensões
negativamente relacionadas ficaram entre: RGE e RSR (-0,41), RGE e EFE (-0,46), AR e RSR
(-0,47), AR e EFE (-0,54), AR e DES (-0,46), RG e RSR (-0,42), RGL e EFE (-0,50), AR e
Tensão (-0,43), RG e Tensão (-0,49), RG e Depressão (-0,57), AR e Depressão (-0,51), RG e
Raiva (-0,44), RGL e Raiva (-0,43), RG e Fadiga (-0,50), AR e Fadiga (-0,47), RGL e Fadiga
(-0,55), RG e Confusão (-0,53), AR e Confusão (-0,43), RGL e Confusão (-0,59). A dimen-
são de RGL se relacionou negativamente com as dimensões de burnout em EFE e DES,
a RG ficou negativamente associada ao RSR e EFE, e AR se associou negativamente com
os três fatores de burnout.

142
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 2. Associações entre as dimensões de recuperação em relação aos fatores de burnout e humor da categoria sub17.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Ainda sobre a recuperação, as dimensões de RGL e RG, se relacionaram negativamente


com todos os fatores negativos de humor e positivamente com o fator Vigor; já AR se asso-
ciou negativamente com os fatores Depressão, Confusão e Fadiga, e positivamente com a
dimensão Vigor, para a categoria Sub17. Elevados níveis de recuperação contribuem para
melhor desempenho de atletas, pois reflete o equilíbrio orgânico necessário em relação ao
estresse provocado pelos treinamentos e competições, no caso das atletas que estavam em
período competitivo, os resultados para recuperação e suas associações sugerem benefício
à qualidade de vida e desempenho esportivo das mulheres da amostra.
As associações positivas entre os fatores de recuperação e Vigor permitem afirmar
que a variação e, por vezes, o controle da recuperação alteram em mesma direção que a
disposição ou estado de ânimo das atletas, deste modo, o monitoramento dos intervalos
subsequentes aos treinamentos e competições, do manejo do estresse, do tempo adequado
para o reequilíbrio orgânico frente aos agentes estressores podem influenciar sobremaneira
os estados de humor positivos e consequentemente o desempenho das futebolistas. Assim
sendo, embora as informações obtidas no presente estudo se restrinjam à um grupo es-
pecífico de mulheres futebolistas, é de grande relevância que futuras investigações tratem
a recuperação como variável inseparável do estresse e que a considerem componente
poderoso no controle de outras variáveis vinculadas aos treinamentos e competições, e
que, portanto, pode em grande medida, auxiliar na intervenção profissional para melhora
do desempenho no futebol feminino.
Nas correlações dos fatores que envolvem as variáveis de burnout, estresse, recu-
peração e estados de humor das atletas de futebol feminino da categoria Adulta, pode se
143
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
constatar que os níveis de estresse e burnout estiveram positivamente associados aos
valores de humor negativo, exceto o fator de Tensão para esta categoria. A figura 3 ilustra
as associações positivas, de acordo com o efeito e a significância, encontradas entre as
dimensões de estresse e burnout e em relação aos fatores das variáveis de humor negativo
das atletas da categoria adulta.
A dimensão de EGE explicou, por meio do coeficiente de correlação ao quadrado, 41%
da variação do RSR e 28% da EFE e 75% da variação do fator raiva, 60% da depressão e
36% da confusão. O fator EE foi responsável por 45% da variação do RSR e 34% da EFE
e EGL explicou 47% do relacionamento com o RSR e 34% da EFE. Vale ressaltar que o
Estresse Geral e o Estresse Global estão relacionados a condições mais amplas ineren-
tes ao contexto social e de vida do sujeito, enquanto o Estresse Específico está ligado ao
que é percebido especificamente nas situações das atividades esportivas, deste modo,
pode-se observar que em todas as esferas de estresse, tanto as esportivas quanto as mais
afastadas das atividades do futebol, tiveram associações positivas com outras variáveis
consideradas negativas.

Figura 3. Associações positivas entre as dimensões de estresse, burnout estados de humor negativos da categoria Adulta.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na figura 4 é ilustrada a relação, entre recuperação, estresse, humor e burnout de


acordo com cada dimensão, para esta categoria, é possível afirmar parcialmente que os
escores de recuperação estão negativamente associados com níveis de estresse, de humor
negativo e positivamente relacionados ao fator de humor positivo. Todas as dimensões de
estresse e da síndrome de burnout ficaram negativamente associadas significativamente a
todos os fatores de recuperação, bem como as dimensões Depressão e Raiva se associaram
144
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
negativamente à todas as dimensões de recuperação, porém, o fator confusão associou-se
negativamente apenas com o fator de RGL e os fatores negativos de humor Fadiga e Tensão
não relacionaram-se com a recuperação, além disso, o fator Vigor ficou positivamente rela-
cionado a todas as dimensões de recuperação.

Figura 4. Associações das dimensões de recuperação em relação aos estados de humor e burnout em atletas de futebol
feminino da categoria Adulta.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para a categoria Adulta as dimensões de recuperação se relacionaram negativamente


vinte e oito vezes das trinta manifestadas e conhecidas como benéficas ao desempenho
de atletas, assim sendo, a recuperação exerceu um papel fundamental no que se refere a
proteção a aspectos potencialmente danosos aos sujeitos envolvidos no esporte, pois repre-
senta uma pausa ao estresse prolongado e maneiras de lidar com os agentes estressores e
estados de humor negativos. Assim como na categoria anterior, confirma-se, portanto, que
as associações positivas entre as variáveis que podem prejudicar o desempenho, bem como
as relações negativas entre recuperação e fatores negativos para saúde e performance, e
relações positivas entre as dimensões de recuperação e Vigor representaram resultados
benéficos as atletas, isto é, a variação da recuperação mostrou-se, várias vezes e com gran-
de magnitude significativa, influente nas outras variáveis investigadas, corroborando para a
importância do gerenciamento e a devida atribuição de importância para recuperação nos
treinamentos e competições do futebol feminino.

DISCUSSÃO

A expansão e a popularização recente do futebol feminino, em âmbito mundial, exigem


maior atenção em termos econômicos, sociais e em cuidados sobre a saúde psicológica das
145
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
atletas. Portanto, pesquisas que abordam temas relacionados às variáveis do presente traba-
lho são relevantes no que diz respeito a qualidade das abordagens e métodos profissionais.
Os dados obtidos do presente estudo descreveram cada categoria e revelaram que a
quantidade de treinos e competições foram maiores na Adulta do que na Sub17. Apesar de
não confirmado pelos resultados, tal fato poderia influenciar de maneira diferente cada cate-
goria nas percepções sobre fatores psicológicos, de acordo com a experiência das atletas,
assim como em um estudo de Gustafsson, Kentta e Hassmén (2011) que afirmou que atletas
mais jovens que estiveram propensos a problemas de motivação e perfeccionismo, se encon-
traram mais vulneráveis às percepções de burnout e problemas com a motivação esportiva.
Também não foi possível observar diferenças entre as categorias em relação aos
estados de humor percebidos com os valores médios elevados do fator Vigor e níveis mais
baixos dos fatores negativos para ambas as categorias que se revelaram apropriado ao
desempenho esportivo (DEVONPORT; LANE; HANIN, 2005; MORGAN, 1987). No entanto,
o distúrbio total de humor (DTH) atingiu níveis classificados como elevados. A comparação
entre o Vigor e os outros fatores de humor podem ser úteis para monitorar cargas excessi-
vas de treinamento (KENTTÄ, HASSMÉN; RAGLIN, 2006) bem como identificar um perfil
adequado para o desempenho esportivo em períodos competitivos (MORGAN, 1980).
Os baixos níveis para estresse e síndrome de burnout, além de escores mais eleva-
dos para recuperação são considerados aspectos positivos para performance esportiva
(KELLMANN, et. al. 2009). Destacou-se que as atletas de ambas categorias perceberam bai-
xos níveis de estresse e escores adequados de recuperação, no entanto, houve associações
significativas das variáveis de estresse e recuperação com humor e burnout, Portanto, são
de suma importância que novas investigações busquem identificar os agentes estressores
específicos da modalidade, se as atletas possuem estratégias de manejo e apoio social e
se outras variáveis podem estar associadas ao cotidiano esportivo.
Quando comparadas entre as categorias, as variáveis de estresse, humor e burnout
não demonstraram diferenças significativas para todas as subascalas. Estudos de Verardi
(2008) e de Pires et. al (2019) não encontraram distinções entre o tempo de prática, as ca-
tegorias diferentes e a síndrome de burnout em atletas de futebol masculino, porém Pires
et. al (2019) encontraram associações significativas entre o tempo como atleta federado e
as estratégias de enfrentamento sob pressão, concluindo que, os atletas mais experientes
que apresentaram percepções importantes da síndrome de burnout tenderam a obter melhor
performance e maior capacidade de lidar com o estresse.
No que diz respeito às associações das variáveis de estresse e à síndrome de burnout,
pode ser verificado relações positivas entre elas, especialmente entre as dimensões Estresse
Específico e Estresse Global em relação a algumas dimensões de burnout e humor negativo
146
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
em ambas as categorias analisadas e em todas as subescalas de estresse e burnout na
categoria Adulta. Isso corrobora com o estudo de De Francisco et. al. (2016) que destacaram
que o estresse foi responsável por 43% da variação dos sintomas de burnout em seus acha-
dos, levantando questões sobre qual tipo de estresse é potencialmente prejudicial às atletas.
Para a categoria Sub17, destacou-se a influência, por meio do coeficiente de corre-
lação ao quadrado, do Estresse Específico dimensões de burnout. Já na categoria Adulta,
as dimensões de Estresse Geral Estresse Específico e Estresse Global explicaram muitas
variações dos fatores de burnout bem como dimensões associadas ao humor. Tais resultados
sugerem que o estresse no âmbito esportivo pode estar associado a dimensões de burnout
e a fatores negativos de humor em mulheres atletas de futebol, revelando similaridade ao
que ocorre em outros atletas de outras modalidades expostas à condições estressantes
de atividades que aumentam a vulnerabilidade para acometimentos psicológicos deleté-
rios (HANNA, 2019).
Vale ressaltar que os elementos subjacentes ao esporte e aos treinamentos intensos,
por si, são fontes de estresse que exercem influência sobre desempenho esportivo e reque-
rem a devida atenção sobre a recuperação em atletas (KELLMAN, 2017). No caso do futebol
feminino observado nesse estudo, o estresse percebido, apesar de ter se manifestado em
níveis considerados baixos, exerceu papel relevante diante das associações com outras
variáveis consideradas importantes para a percepção e o comportamento de atletas e que
devem ser levados em consideração nos planejamentos de treinamentos e competições
de profissionais, de modo a evitar o excesso de treinamento e consequências graves ao
desenvolvimento esportivo (DA SILVA; ENUMO; AFONSO, 2016; DE ROSE JUNIOR et.
al., 2004; RAEDEKE; SMITH, 2001). Além disso, os resultados sustentaram a concepção
de que as dimensões da recuperação exercem relacionamentos negativos com estresse e
burnout e associações positivas com o fator Vigor, dado que pode auxiliar no processo de
prevenção da síndrome.
No futebol masculino, por exemplo, Tabei, Fletcher e Goodger (2012) mostraram que
o ambiente pode ser fonte de estresse de acordo com o relacionamento com os colegas e o
estilo de treinamento. Assim, é necessário repensar os planejamentos de treinos, competi-
ções, relacionamentos entre colegas na modalidade e compreender como são concebidos os
fatores psicológicos no contexto esportivo do futebol que se relacionam com o estresse, a re-
cuperação, o humor e a síndrome de burnout (ÁLVAREZ; CASTILLO; MORENO-PELLICER,
2019; MARTÍNEZ-ALVARADO; GUILLÉN; FELTZ, 2016; SMITH; HILL; HALL, 2018).
Na categoria Adulta, os resultados confirmaram parcialmente que os níveis de estresse,
burnout e humor negativo se relacionaram positivamente em quase todas as dimensões e
se relacionaram negativamente com os fatores de recuperação. Além disso, o fator positivo
147
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de humor se relacionou positivamente com todas as dimensões de recuperação. O balanço
adequado entre os níveis de estresse e recuperação importa de maneira determinante para
assistência em saúde e melhora no desempenho esportivo (KELLMANN; KALLUS, 2001).

CONCLUSÃO

Os resultados indicaram, de maneira geral, que apesar das atletas estratificadas por
categorias apresentarem rotinas diferentes no número de treinos, competições e experiências
variadas na carreira futebolística, não foi possível observar diferença entre as categorias para
as variáveis psicológicas investigadas, como o estresse, o humor e o burnout. Em muitas das
dimensões analisadas, revelaram-se médias e medianas consistentemente semelhantes,
assim sendo, e esses achados permitiram analisar aspectos psicológicos que contribuem
no planejamento, no monitoramento, na avaliação de treinos e nas competições para ambas
amostras de categorias Sub17 e Adulta, de modo que reflete implicações importantes ao
rendimento esportivo e à qualidade de vida de mulheres atletas inseridas no futebol.
Tendo em vista que a variável estresse, em quase todos fatores, se relacionou de
maneira marcante com a síndrome de burnout e estados de humor, tal elemento pode ser
considerado epicentro das relações entre as percepções psicológicas em atletas de futebol
feminino da presente pesquisa. Portanto, é de grande relevância que novas investigações,
bem como a atenção de profissionais da área se direcionem para os agentes estressores,
o estresse percebido, a recuperação e quais as implicações destes aspectos em outras
esferas do desenvolvimento humano e desempenho esportivo.
Nesta perspectiva, as contribuições deste trabalho, com as devidas reservas, estão
no âmbito das intervenções profissionais no futebol feminino, em especial nas situações
em que mulheres futebolistas enfrentam e como manejam o estresse percebido por meio
da recuperação, com a finalidade de proteger a saúde psicológica e desenvolvimento das
próximas atividades. Assim sendo, as dimensões de recuperação incluídas na variável de
estresse, são elementos que podem repercutir em inúmeros aspectos de saúde, sociais e
do desempenho em campo.

148
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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152
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
10
Níveis de conhecimento e desidratação
em jogadores juniores de futebol

Vanessa Machado Lustosa


UNIFSA

Fátima Karina Costa de Araújo


UFPI

Henrilla Mairla Santos de Morais


UNIFACEMA

Fabiane Araújo Sampaio


UFPI

10.37885/210504580
RESUMO

Introdução: A desidratação é uma condição fisiológica que decorre de uma prolon-


gada perda hídrica, com consequente elevação da temperatura corporal e redução do
desempenho de atletas. Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento de hidratação e o
grau de desidratação de jogadores juniores de futebol. Métodos: Trata-se de um estudo
transversal, com a participação de 14 jogadores de futebol, nos quais foram avaliados
o percentual de perda de peso após exercício (desidratação relativa), o pH e a densi-
dade da urina além do nível de conhecimento sobre hidratação. A análise estatística foi
realizada por meio do programa SPSS v. 18.0, utilizando um intervalo de confiança de
95%, com nível de significância com p <0,05. Resultados: Verificou-se que 92,85% dos
jogadores apresentaram eutrofia e os valores médios para desidratação relativa, densi-
dade urinária e pH foram de -0,89%, 1034,43, e 5,64, respectivamente. Observaram-se
também níveis de desidratação apresentaram conhecimento regular sobre hidratação.
Conclusão: A desidratação encontrada em jogadores juniores pode ser influenciada por
diferentes posições em campo e pelo esquema tático do jogo.

Palavras-chave: Esportes, Hidratação, Desidratação.

154
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol de campo é um dos esportes que cresce a cada ano, com importantes reper-
cussões no mundo esportivo (FRANCISCO et al.,2020). Essa modalidade é caracterizada
pela disputa entre duas equipes, que contam cada uma com 11 jogadores dos quais 10 são
atletas de linha, divididos em posições de defesa, meio de campo e ataque (HILDAGO et al.,
2015; SILVA et al., 2018).
A desidratação é uma condição fisiológica que decorre de uma prolongada perda
hídrica, o que afeta as funções fisiológicas e térmicas do corpo, levando a complicações e
prejuízos no desempenho esportivo (CAMERINO et al., 2017).
As consequências da desidratação podem ser diminuídas ou até evitadas por meio
de uma adequada hidratação, o que é fundamental para um bom desempenho atléti-
co, especialmente para atletas que realizam atividades intensas e prolongadas no calor
(NÓBREGA et al., 2007).
Estudos demonstraram impactos negativos da desidratação na performance física
dos atletas (SILVA et al., 2018). Na prática da modalidade esportiva a reidratação geral-
mente não é suficiente para compensar os níveis de água perdida devido ao calor gerado
na atividade. Além disso, fatores como as condições ambientais e a inexistência de pausas
regulares nos jogos para a reidratação são fatores que podem exacerbar essa situação
(BALIKIAN et al., 2002).
Para essa adequada reidratação, muitas vezes é necessário a ingestão de líquidos
com diferentes eletrólitos e a introdução de carboidratos (ANDREW E TREVON, 2018).
Essa prescrição deve ser sempre considerada de acordo principalmente com o tempo da
atividade esportiva e as condições climáticas e, no caso do futebol de campo, de acordo
também com as diferentes posições e consequentes demandas no jogo (JOHAN et al., 2015;
CARVALHO T; MARA, 2010.
Devido aos potenciais benefícios que um nível de hidratação adequado propicia aos
atletas, principalmente no Brasil, que é um país tropical, nota-se a necessidade de se es-
tudar e fornecer evidências científicas sobre o tema. Os objetivos do estudo foram avaliar
o grau de desidratação e o nível de conhecimento sobre hidratação em atletas juniores de
futebol de campo.

MÉTODO

Estudo transversal, realizado em um clube de futebol na cidade de Caxias, no estado


do Maranhão, que contou com a participação de 14 jogadores de futebol de campo, do sexo
masculino, com faixa etária entre 16 e 19 anos de idade.
155
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Primeiramente foram avaliadas as condições climáticas por meio da temperatura e
umidade relativa do ar e posteriormente, foram coletados peso e altura dos participantes
para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC). Para a verificação do grau de hidratação
foram coletados a massa corporal antes (MCpré) e após a sessão de treinamento (MCpós)
de cada jogador, identificando sua posição tática no jogo. Para o cálculo da desidratação
relativa foi calculado a diferença entre a MCpré e a MCpós. Caso o resultado da variação
de peso corporal estivesse entre os limites positivos e de perda de 1 kg o atleta era consi-
derado hipohidratado. Continuamente, se as variações fossem de 1 a 3 kg negativos seria
considerado com desidratação mínima, de 3 a 5 kg negativos de desidratação significativa
e maior que 5 kg negativos de desidratação grave (CASA et al., 2000).
A urina foi coletada antes e após o treino para a determinação da densidade por meio
de um refratômetro óptico, e a determinação do pH da urina por foi realizada por meio de
fitas de determinação de pH (Labtest Diagnostica S.A.®). Os estados de hidratação por
meio da densidade da urina foram divididos em hipohidratados (≥1030 sg;), hidratados (1013
a 1029 sg;) e hiperhidratados (1001 a 1012 sg) (CASA et al., 2000). sg: specific gravity:
densidade relativa.
Para a avaliação do conhecimento dos atletas sobre hidratação foi realizado um ques-
tionário (autoadministrado) adaptado de estudo prévio de Brito (2002) e Ferreira (2003), o
qual continha oito perguntas objetivas relacionadas aos hábitos e nível de conhecimento
sobre a temática hidratação. Para análise dos dados, foi utilizada a distribuição da porcen-
tagem obtida em cada resposta, onde foi considerado conhecimento ruim os atletas que
acertaram até 30% do questionário, conhecimento regular os que acertaram de 30% a 50%
do mesmo, conhecimento bom os que acertaram de 50% a 70% do questionário e ótimo os
que acertaram mais que 70%.
Os dados foram organizados em planilhas do Excel®, posteriormente exportados para o
programa SPSS (for Windows® versão 18.0). Os dados foram descritos através de estatística
descritiva e analítica. Os dados quantitativos foram analisados pelo teste de Mann-Whitney).
A normalidade dos dados foi verificada pelo teste Kolmogorov-Smirnov em todas as
variáveis analisadas. Para as variáveis que apresentaram uma distribuição normal foram
utilizados testes paramétricos.
Para caracterização da amostra, foi utilizada análise descritiva, com distribuição da
frequência, cálculo de tendência central (média) e de dispersão (amplitude de variação,
desvio padrão) das variáveis numéricas e para a comparação de média foi utilizada o
teste t de student.
Nas respectivas análises estatísticas, foi utilizado nível de significância de p ≤ 0,05 e nível
de confiança de 95%. O projeto foi aprovado sob o número do CAAE 42339015.1.0000.5554
e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

156
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
RESULTADOS

Os participantes do estudo apresentaram idade média de 17,07 ± 1,07 anos, com


92,85% considerados eutróficos, segundo indicador IMC/ idade). Os valores de peso antes
e após o treino para a determinação da desidratação relativa demonstraram que apenas os
jogadores do lateral direito e esquerdo, volante e o zagueiro 03 estavam desidratados, os
demais jogadores apresentaram euhidratação.
Em relação à densidade urinária antes e após o treino dos jogadores, foi verificado que
apenas quatro jogadores apresentaram quadro de hidratação adequada antes de começar
a partida, sendo eles o goleiro, o zagueiro 02, o atacante e o volante, os demais jogadores
antes de iniciar a partida já revelava desidratação. Evidenciamos que o volante estava hi-
dratado antes de iniciar a partida e no final da mesma apresentou-se desidratado.
Na Tabela 1 estão descritos os valores médios e desvio padrão dos parâmetros densi-
dade urinária pós-treino, desidratação relativa e o ph pré e pós-treinos, onde foi observado
que a desidratação relativa classificou os jogadores como Euhidratado, enquanto a densidade
urinária pós-treino classificou os mesmos como Hipohidratados, houve diferença estatística
entre o pH antes e após a partida (p<0,05), com redução do pH urinário. A temperatura,
sensação térmica e umidade relativa do ar referente ao dia do treino da coleta de dados
estão descritos na Tabela 2.

Tabela 1. Valores médios e desvio padrão da densidade urinária pós-treino, desidratação relativa e o ph pré e pós-treino
dos jogadores de futebol.

Parâmetros Desidratação relativa Densidade urinária pós-treino pH pré-treino pH pós-treino


Média ± DP -0,89 ± 0,47 1034,43 ± 5,42 5,93 ± 0,82* 5,64 ± 0,50*
Mínimo -2 1024 5 5
Máximo -0,3 1041 7 6
*Valores significativamente diferentes entre o pH pré e pós-treino, teste t de Student (p<0,05).

Tabela 2. Distribuição dos valores de médios das variáveis referente as condições climáticas no dia do treinamento.

Parâmetros Temperatura Sensação Térmica Umidade


Média 29ºC 36ºC 72,5%
Mínimo 23ºC 30ºC 50%
Máximo 35ºC 42ºC 95%
Fonte: Dados da pesquisa.

O percentual do nível de conhecimento dos jogadores avaliados foi descrito de acordo


com a ordem das perguntas. Em relação a preocupação dos jogadores em se hidratarem
durante os treinos e competições foi observado que 64,28% e 71,42% dos atletas sempre
se hidratavam durante os treinos e competições, no entanto 28,7% e 28,58% ás vezes rea-
lizavam hidratação no momento do treino e durante as competições e apenas 7,15% quase
nunca se hidratavam durante o treino.
157
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 3. Percentual do Nível de conhecimento sobre hidratação.
Jogadores de Futebol
Nível de Conhecimento
(n) (%)
(%) média de acerto das questões 14 48,9%
Fonte: Dados da pesquisa.

Quando foi abordado sobre a preocupação dos jogadores com o tipo de hidratação
(água ou isotônico), antes, durante ou depois de uma partida, foi demonstrado que 57,2%
dos jogadores se preocupavam com o tipo de hidratação. Onde foi possível observar que
todos os jogadores utilizavam apenas água como fonte de hidratação.
Em relação ao momento ideal do consumo de líquido, 64,28% dos jogadores declararam
que a ingestão deve ser feita antes da sensação de sede, enquanto que 28,57% e 7,15%
acreditam que deve ser realizada somente após a sensação de sede ou muita sede, respec-
tivamente. Quando questionados sobre a importância da hidratação em diferentes estações
do ano, o resultado revelou que 57,2% se preocupavam com a hidratação independente da
estação do ano e 42,8% se preocupavam apenas no verão.
Na Figura 1 são descritos os principais sintomas apresentados pelos jogadores no
momento do treino ou competições devido à desidratação e na Figura 2 é apresentado a
relação entre volume de líquido adequado e a frequência que eles devem consumir. Quanto
ao conhecimento dos jogadores sobre a função dos isotônicos apresentado na Figura 3, foi
observado que 50% deles acertaram qual a principal função do isotônico.

Figura 1. Sintomas relatados pelos jogadores decorrentes da desidratação.

158
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 2. Relação entre tempo e quantidade de líquidos consumidos pelos jogadores.

Figura 3. Conhecimento dos jogadores sobre a função dos isotônicos.

DISCUSSÃO

No presente estudo foi avaliado o grau de desidratação de jogadores de futebol junio-


res e o conhecimento destes sobre a hidratação. Foi observado que eles em sua maioria
apresentaram eutrofia segundo o indicador IMC por idade, condição que pode ter sido fa-
vorecida pelo treino contínuo e bom desenvolvimento físico deles, resultados semelhantes
foram encontrados em outros estudos (PROTEL et al., 2019; ROSA, 2011; PETREÇA;
RUSKE NETO, 2016).
Quanto avaliação do grau de desidratação, um dos métodos utilizados para a verificação
foi a aferição do peso pré e pós-treino, para a determinação do percentual de Desidratação
Relativa (DR%) dos jogadores avaliados. Eles em maior parte apresentaram a classificação

159
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Euhidratados, corroborando com os resultados de Ersoy et al. (2016), Motta e Quintão (2016)
e Alves e Lopes (2021).
Em relação a temperatura e a umidade relativa do ar, as mesmas estavam em condições
favoráveis para a manutenção da hidratação em níveis aceitáveis no dia da avaliação. Por
outro lado, o estudo de Mota et al. (2011) e Borusch et al. (2007), verificaram que a maioria
dos atletas desidrataram em virtude da elevada temperatura no dia do treino.
No presente estudo apenas o volante e os laterais direito e esquerdo demonstraram
desidratação mínima, em virtude de serem posições mais suscetíveis ao desgaste físico e
aumento de temperatura durante a partida. Segundo Ravagnani et al. (2013), os laterais
precisam correr do campo de defesa até o campo de ataque e ainda realizam cruzamentos,
o que favorece o aumento da produção de suor e consequentemente pode levar a desidratar
Com relação à densidade urinária foram encontradas divergências com os dados da
densidade relativa, enquanto que na avaliação de DR%f oi diagnosticado que a maioria dos
atletas estavam Euhidratados ,a densidade urinaria diagnosticou a maioria dos jogadores
em estado de Hipohidratação antes de entrar em campo, e apenas o goleiro, zagueiro 02
e o atacante permaneceram Euhidratados após o treino, esses últimos são jogadores de
posições que realizaram exclusivamente movimentos de curta duração e alta intensidade e
baixo volume de deslocamento quando comparados aos outros atletas (COSTA et al., 2009).
É importante ressaltar que ambos os métodos são válidos para verificar o estado de
hidratação, entretanto, o peso antes e depois do treino avalia apenas mudanças rápidas na
hidratação do atleta, fato este que pode ter influenciado os resultados encontrados. Nóbrega
et al. (2007) também revelou que o estado Euhidratado para jogadores amadores de futsal
por meio do método de DR% e Hipohidratação, segundo a densidade urinária. Enquanto
que os estudos de Nery et al. (2014), Pinto et al. (2014) e Ersoy et al. (2016), a DU não
apresentou diferença significativa entre o pré e pós-treinamento.
Além disso, verificou-se redução do pH urinário após o treino, decorrente principalmente
do aumento na concentração da urina dos atletas investigados, logo também um indicador de
desidratação, este estudo corrobora com os dados encontrados por Protel et al. (2019). A uri-
na naturalmente é ácida, com o pH entre 4,5 e 8, considerada adequada ligeiramente ácido
com valores entre 5.5 a 6.5, superiores ao encontrado nesse estudo (SILVERTHORM, 2010).
Quanto ao nível de conhecimento sobre hidratação observou-se que os jogadores
apresentaram um conhecimento intermediário e no que diz respeito ao hábito de se hidratar
durante os treinamentos e competição, foi observado que grande parte dos avaliados sem-
pre realizaram hidratação. O resultado encontrado por Drumond et al. (2007) demonstrou
que apenas 50% dos participantes dos estudos consumiram líquidos sempre durante os
treinos e competições.
160
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Em relação à preocupação com tipo de hidratação (água ou isotônico) nos momentos
que antecedem, durante e depois de um treinamento e competição, mais que 50% dos jo-
gadores reconheceram a importância de outras bebidas para a hidratação, entretanto, 100%
dos mesmos utilizavam apenas água para hidrata-se, corroborando com estudos anteriores
realizados em adultos e adolescentes futebolistas (SILVA et al., 2011; KURDAK et al., 2010).
Atividades com tempo inferior a 60min de duração, a água é a bebida mais indicada,
porém, atividades que ultrapassam esse período como uma partida de futebol que possui
duração média de 90min, a ingestão de apenas água é insuficiente para a hidratação dos
jogadores (CARVALHO T; MARA, 2010).
A SBME (2003) recomenda para atividades de duração superior a uma hora ou ativida-
des intensas do tipo intermitente mesmo com menos de uma hora a reposição de carboidrato
e sódio, ou seja, a utilização de bebidas com 6% de carboidrato passam a ser mais importante
na recuperação do atleta, além de evitar quadros de hipoglicemia e acelerar a reposição do
glicogênio muscular (CARVALHO T; MARA, 2010; CÂMARA et al., 2017).
No presente estudo a maioria dos jogadores se hidratavam antes da sensação de sede,
resultado semelhante foi encontrado por Prado et al. (2010). Enquanto Ferreira et al. (2009)
encontraram dados preocupantes em atletas de futebol de base, pois a maioria somente se
hidratavam após a sensação de sede.
Assim, os resultados encontrados revelaram a necessidade de sensibilização os es-
portistas, uma vez que iniciar a ingestão de líquidos apenas após a sensação de sede pode
induzir a sérios dados a saúde, pois a literatura afirma que quando o indivíduo sente sede
já se encontra 2% desidratado.
Dentre os sintomas relatados pelos jogadores durante ou após o treino, grande parte
relataram cãibras, seguido por sede muito intensa, dificuldade de concentração e sensação
da perda de força.
No estudo de Drumond et al. (2007), os sintomas mais frequentes foram sede muito
intensa e cãibras, o primeiro indica que o jogador necessita repor seus estoques hídricos,
uma vez que apresenta 2% de desidratação, enquanto que as cãibras também indicam
desidratação e ainda concentrações anormais de eletrólitos séricos. No estudo de Cardoso
et al. (2020) os sintomas mais frequentes foram sede muito intensa seguido por sensação
de perda de forca. A dificuldade na concentração e perda de força podem estar relacionados
à presença de hipoglicemia (GERALDINI et al., 2017).
Portanto, os resultados encontrados nesse estudo indicam que somente a água não
são suficientes para a hidratação dos jogadores avaliados e reforça a importância da repo-
sição adequada hidroeletrolítica.

161
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além disso, deve ocorrer equilíbrio entre o volume e a frequência na ingestão de lí-
quidos. Nossos jogadores apresentaram bom conhecimento sobre este tema, uma vez que
quase metade dos atletas responderam que o consumo de líquidos deve ser de 250 mL
a cada 15 minutos, no entanto, o número de jogadores que não tinham ideia de como se
hidratar ou não sabiam a informação adequada ainda é alarmante.
A SBME (2003) recomenda que a ingestão de água deve ser duas horas antes do jogo
em torno de 250 a 500 mL para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado,
enquanto que durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão nos primeiros 15 minutos
e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.
Em relação à função dos isotônicos, metade dos jogadores sabiam o valor de seu uso,
compreendendo sua verdadeira função, apesar de nenhum deles realizarem a ingestão de
bebida hidroeletrolítica. O modo mais conveniente e eficiente de reposição ocorre por meio
de isotônicos, onde além de promoverem hidratação, apresentam ainda quantidades sufi-
cientes de eletrólitos e carboidratos (REALE et al., 2017).
Nesse sentido, a desidratação presente em alguns jogadores desse estudo pode estar
relacionada ao nível de conhecimento regular desses atletas ou mesmo decorrente da soli-
citação metabólica individual, o que reforça a necessidade de orientações sobre a temática
para o grupo, visando corrigir os hábitos inadequados sobre hidratação.

CONCLUSÃO

A desidratação encontrada nos jogadores foi influenciada por diferentes posições em


campo e esquema tático do jogo, uma vez que apenas atletas com funções de maior solicita-
ção metabólica demonstraram hidratação insuficiente. Além disso, os jogadores apresentaram
nível de conhecimento regular sobre hidratação, que influenciou alguns atletas já entrarem
em campo desidratados e apresentem sintomas característicos dessa condição, sugerindo
a necessidade da utilização de isotônicos e não apenas água durante as atividades intensas
e de duração superior a uma hora.

162
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
APÊNDICE
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO PARA
VERIFICAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PRÁTICA DE HIDRATAÇÃO

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: (___) anos Categoria: (____________)

1. Você tem o costume de hidratar-se durante:

Durante o treinamento:
( ) Nunca
( ) Quase nunca
( ) Ás vezes
( ) Sempre
Durante Competições:
( ) Nunca
( ) Quase nunca
( ) Ás vezes
( ) Sempre

2. Quando você se hidrata, preocupa-se com o tipo de hidratação (água ou isotônicos),


nos momentos que antecedem, durante e depois de um treinamento e competição?

( ) Sim
( ) Não

3. Qual o tipo de solução líquida que você tem o costume de se hidratar?

( ) Água
( ) Isotônicos
( ) Refrescos
( ) Sucos naturais
( ) Coca Cola
( ) Cerveja
( ) Café
( ) Outras _______________________________________________________

4. Quando se deve beber líquidos?

( ) Antes da sensação de sede


163
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
( ) Somente depois de sentir sede
( ) Quando se sente muita sede

5. Sua preocupação quanto à necessidade de hidratar é mais frequente:

( ) No verão
( ) No inverno
( ) Independente da estação
( ) Não me preocupo

6. Durante uma competição ou treinamento, você já apresentou algum destes sinto-


mas?

( ) Sede muito intensa


( ) Dificuldade de concentração
( ) Câimbras
( ) Desmaios
( ) Palidez
( ) Insensibilidade nas mãos e pés
( ) Olhos fundos
( ) Alterações visuais
( ) Sensação de perda de força
( ) Fadiga generalizada
( ) Dor de cabeça
( ) Alucinações
( ) Sonolência
( ) Perda momentânea de consciência
( ) Convulsões
( ) Coma
( ) Interrupção da produção de suor
( ) Interrupção da atividade planificada
( ) Dificuldade de realização de um movimento técnico facilmente realizado em
condições normais.

7. Como você acha que deveria ser feita uma hidratação:

( ) Beber um litro de uma só vez


( ) Beber ¼ litro para cada ¼ de hora
164
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
( ) Beber ½ litro para cada ½ hora
( ) Não tenho ideia

8. Você acredita que o consumo de um isotônico:

( ) Repõe só líquidos
( ) Repõe só eletrólitos
( ) Repõe só energia
( ) Repõe eletrólitos e energia
( ) Hidrata e repõe eletrólitos e energia
( ) Apresenta a mesma função da hidratação com água.

165
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
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168
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
11
Percepções de futebolistas profissionais
sobre fatores de risco de lesões e
estratégias de prevenção utilizadas

Henrique Barbosa Ramos


UFJF - Campus Governador Valadares

Styllon Ferreira dos Santos


UFJF - Campus Governador Valadares

Danilo Reis Coimbra


UFJF - Campus Governador Valadares

Renato Siqueira de Souza


UFJF - Campus Governador Valadares

Flávio de Jesus Camilo


UFJF - Campus Governador Valadares

Cristiano Diniz da Silva


UFJF - Campus Governador Valadares

10.37885/210504677
RESUMO

Objetivo: investigar a percepção de jogadores profissionais de futebol sobre suas percep-


ções a respeito dos fatores de risco e sobre preferências quanto ao uso das estratégias
de prevenção utilizadas nos últimos seis meses. Método: utilizou-se um questionário
anônimo baseado em plataforma on-line (Survey MonkeyTM). Resultados: nossa amostra
contou com 113 jogadores profissionais (23,7 ± 5 anos [18-39]; 6,9 ± 5 anos de carreira)
que retornaram as respostas (taxa= 94,2%). Foi observada prevalência de lesões na
carreira de 80% dos participantes do estudo (taxa de lesão, 1.84 por jogador). Observou-
se também maior faixa etária (p<0,05) e tempo de carreira (p<0,01) naqueles jogadores
com histórico de lesão. Os isquiotibiais (~26,2 %) e a articulação do tornozelo (~24%)
foram os segmentos anatômicos mais acometidos. Quanto ao fator “risco externo à lesão”,
~76,9% dos futebolistas concordam totalmente (43,2%) ou parcialmente (33,7%) sobre
o futebol ser de “alto risco” para lesões; aproximadamente metade dos respondentes
descreveram “desequilíbrio muscular” (48,3%) e “fadiga” (47,1%) como os fatores inter-
nos com maior taxa de concordância total sobre os riscos implicados para lesões em
futebolistas. No que tange às estratégias de prevenção, os atletas se descreveram como
“gostar muito” de minijogos (76%) e de treinos que envolvam a bola (79,2%). Conclusão:
o futebol é percebido pelos próprios atletas como um esporte de alto risco para lesões.
Faixa etária e tempo de carreira são fatores de suscetibilidade à lesão. Notou-se que a
prevalência de lesões musculoesqueléticas são as que mais afetam os jogadores, e que
os membros inferiores são os mais acometidos.

Palavras-chave: Futebol, Fatores de Risco, Prevenção de Lesões, Percepção.

170
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é caracterizado por esforços intermitentes aleatórios e elevada taxa de des-


prendimento de energia para eventos de jogo que exigem aceleração e desaceleração,
como a disputa de bola, preenchimento rápido dos espaços no campo de jogo e oposição
aos adversários (STØLEN et al., 2005). Além disso, no futebol, o contato físico constante
entre os atletas torna eminente o risco de lesão, estando este entre os esportes com maior
prevalência (Junge et al., 2009), sendo reportado aproximadamente cinco (5) lesões para
cada mil horas de treinamento e 30 lesões para cada mil horas de jogo para atletas de elite
(EKSTRAND; WALDÉN; HÄGGLUND, 2004; WALDÉN; HÄGGLUND; EKSTRAND, 2005).
Portanto, órgãos gestores da modalidade e comissões técnicas de clubes têm se mostrado
cada vez mais preocupados com aspectos epidemiológicos do jogo, considerando a incidên-
cia, as causas, a severidade das lesões e as estratégias preventivas nos atletas das mais
diferentes faixas etárias e níveis competitivos, tendo em vista o impacto que esse esporte tem
para a sociedade como meio de lazer e prática de atividade física (FERNANDES et al., 2015).
No futebol a lesão pode ser definida como qualquer queixa física reportada por um
jogador que o impeça de participar plenamente das sessões de treinamento por um ou mais
dias (FULLER et al., 2006). As lesões são classificadas, durante as notificações, quanto
à localização anatômica e aos mecanismos de desfecho (traumático ou overuse [i.e., uso
excessivo]), e se a lesão foi uma recorrência (FULLER et al., 2006). As lesões traumáticas
são ocasionadas por fatores externos relacionados ao ambiente (calçado, bola, condições
climáticas e tipo de gramado) (FULLER et al., 2006; Poulos et al., 2014). As chamadas
lesões por overuse se caracterizam pelo uso excessivo do sistema musculoesquelético,
repercutindo em síndrome dolorosa com início insidioso e sem nenhum trauma ou doença
conhecida (Hagglund et al., 2005). Portanto, essas lesões são geralmente causadas por
motivos intrínsecos, ou seja, relacionados ao atleta, sendo possível observar fatores como
idade, anatomia ou anormalidade biomecânica, fraqueza ou desequilíbrio muscular e fadiga
em interação com programas de treinamentos (FULLER et al., 2006).
Em um estudo retrospectivo com onze clubes da Champions League da temporada
2001-2002 foi demonstrado que 85% das lesões acometeram os membros inferiores e apro-
ximadamente um quarto delas ocorreram durantes os jogos oficiais (23%) devido à entrada
faltosa do adversário (Waldén; Hägglund; Ekstrand, 2005). Esse mesmo estudo, estratificou
a etiologia das lesões, demonstrando que aquelas com origem traumática consistiram majo-
ritariamente em contusões (46%) e entorses (37%) (WALDÉN; HÄGGLUND; EKSTRAND,
2005). As lesões por overuse constituíram 27% do total de lesões, sendo dor lombar (13%),
tendinopatia de Aquiles (12%), dor na virilha relacionada ao adutor (10%) e tendinopatia
patelar (7%) as mais comuns (WALDÉN; HÄGGLUND; EKSTRAND, 2005). A lesão recidiva
171
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
constituiu 15% de todas as lesões, e quase dois terços (61%) delas foram lesões de overuse
(WALDÉN; HÄGGLUND; EKSTRAND, 2005).
Como os fatores preditores para as lesões por overuse são modificáveis, o interesse
principal está no estabelecimento de estratégias de prevenção prioritárias para esse tipo
de lesão a serem implementadas nas rotinas de treinamentos. A literatura científica tem
recomendado modelos teóricos enfatizando que programas de prevenção adequadamente
planejados devem ser implementados como tentativa para redução da incidência de lesões
sem contato no futebol (MEURER; SILVA; BARONI, 2017). Assim, focando nas estratégias
de prevenção e programas de treinamento, a FIFA (Fédération Internationale de Football
Association) criou uma cartilha com métodos de aquecimento (warm-up) específicos para
a prática do futebol que, segundo a entidade, fornece uma rotina de exercícios completos
para prevenir lesões nesse esporte, o chamado FIFA11+ (FERNANDES et al., 2015).
Outros exercícios utilizados tradicionalmente nos programas de prevenção de lesões no
futebol brasileiro envolvem, além de alongamentos, exercícios específicos de aquecimento,
treinamento de força tradicional, treinamento funcional, exercícios para condicionamento
geral, exercícios de equilíbrio/propriocepção, pliometria e exercício nórdico para isquioti-
biais, e outros exercícios excêntricos (MEURER; SILVA; BARONI, 2017). No entanto, uma
recente revisão sistemática apontou que a maioria das percepções e condutas práticas dos
profissionais permanece com um baixo nível de evidência e uma baixa recomendação de
uso das diferentes formas de exercícios, devido aos seus subsequentes e insignificantes
efeitos práticos na redução das taxas de lesão nas equipes da primeira divisão do futebol
inglês (MCCALL et al., 2015). Assim, reduzir a distância entre o que é sugerido pela ciência
e o que é usado na prática se faz necessário.
A eficácia da implementação de medidas preventivas depende da conformidade do
atleta. Por exemplo, no contexto atual, existem apontamentos para uma baixa adesão dos
atletas à implementação de programas preventivos e um comprometimento na qualidade
de execução dos exercícios, o que possivelmente tem limitado seus efeitos para a redu-
ção das taxas de lesões (MCCALL; DUPONT; EKSTRAND, 2016). Assim, para melhorar a
prática baseada em evidências, é requerida uma compreensão sobre as atitudes e crenças
dos jogadores sobre todo o processo e mecanismos de lesão no futebol. Esse processo e
experiência de aprendizagem afetariam a eficácia da adoção e seu sucesso, ao passo que
ele internalizaria processos de aprendizagem e experiências específicas com a introdução
de estratégias preventivas (VAN TIGGELEN et al., 2008).
Dessa forma, conhecendo a magnitude de percepção dos atletas, essa investigação
permitirá a compreensão da percepção dos futebolistas sobre fatores de risco inerentes ao
futebol e à sua prática como profissionais dessa modalidade, assim como sobre as estratégias
172
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de prevenção utilizadas nos clubes. Portanto, a percepção do atleta deve contribuir priorita-
riamente para compreender o contexto específico dos fatores de risco para lesão primária e
secundária (lesão recidiva), e as preferências sobre as estratégias de prevenção de lesão
correntemente usadas individualmente ou coletivamente no futebol profissional.

OBJETIVO

Analisar as percepções de futebolistas profissionais sobre fatores de risco de lesão,


uso e preferência das estratégias de prevenção aplicadas no cotidiano dos seus clubes de
futebol nos últimos seis meses. Como objetivos específicos, o estudo se propõe a carac-
terizar a amostra quanto ao histórico e prevalência de lesão; descrever suas percepções
quanto aos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos à lesão; e graduar as preferências dos
futebolistas quanto aos métodos de prevenção utilizados.

MÉTODOS

O presente estudo foi do tipo exploratório, buscando informações sobre as ocorrências


de lesões dos jogadores na carreira e os fatores de risco associados, e sobre a preferência
por programas/estratégias ou propostas preventivas nos últimos seis meses. Um questio-
nário anônimo foi utilizado, sendo solicitado respostas àqueles consentidos em participar
da pesquisa via web (Survey MonkeyTM)1. O pesquisador recrutador não estava envolvido
nas rotinas de treinamento ou na prática médica dos clubes. Participaram deste estudo
futebolistas profissionais dos clubes de futebol do Modulo I, Modulo II e Segunda Divisão
pertencentes ao Campeonato Mineiro de 2019. Para ser incluído no estudo, o atleta deveria
ter mais de 18 anos, ser jogador profissional de futebol, aceitar participar e retornar o ques-
tionário respondido. Como critério de exclusão, retornar o questionário não preenchido. Este
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de
Fora (CAAE: 03352818.1.00005147, Parecer 3.094.275).
O questionário utilizado foi uma adaptação do instrumento aplicado a jogadores de
futebol de alto rendimento alemão (ZECH; WELLMANN, 2017). Portanto, buscou-se a fun-
damentação para a sua adaptação e desenvolvimento, com base nas evidências atuais de
prevenção de lesões, bem como em modelos teóricos estabelecidos. Na primeira parte,
dados sobre as características dos jogadores (idade, posição de jogo, estatura e peso autor-
reportado) foram coletados. A segunda parte continha questões sobre o histórico pessoal de

173
1 Endereço web da pesquisa: https://pt.surveymonkey.com/r/Y5TCMJ2

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


lesões. Caso os participantes assinalassem “sim” para lesões, eles eram solicitados a relatar
a região anatômica onde ocorreram e em quais circunstâncias (com ou sem contato, jogo ou
treinamento), assim como os fatores intrínsecos associados à época/tempo/cronologia (idade,
período regular de treinamentos sistematizados, diagnóstico de anormalidade biomecânica,
fraqueza ou desequilíbrio muscular) e extrínsecos. Na terceira parte, os participantes foram
convidados a assinalar um autorrelato usando três diferentes escalas, duas do tipo Likert e
uma escala de frequência que compuseram seções do questionário geral.
A primeira escala, do tipo Likert, foi intencionada a mensuração, a magnitude de con-
cordância ou discordância sobre a influência intrínseca (condição física, coordenação motora,
comprometimento muscular, fadiga, dieta, lesão prévia, atenção) aos fatores extrínsecos
(atribuições do risco a outro jogador/contato, qualidade dos equipamentos, calçado e grama-
do) e condições ambientais e climáticas nas lesões, utilizando os descritores “discordo total-
mente”, “discordo parcialmente”, “neutro”, “concordo parcialmente” e “concordo totalmente”.
A segunda escala utilizada, do tipo Likert, avaliou a magnitude de preferência sobre
os programas/propostas e/ou estratégias usuais para prevenção de lesões utilizando os
descritores “odeio”, “não gosto”, “não gosto, nem desgosto”, “gosto pouco”, “gosto muito” e
“desconheço tal proposta”. Por último, foi utilizada a escala do tipo frequência, como propos-
ta para que os participantes da pesquisa relatassem a frequência de uso das estratégias e
exercícios de prevenção de lesões usando os descritores “nenhuma vez”, “uma vez”, “duas
vezes”, “três vezes”, “mais de três vezes” e “desconheço tal proposta”.
O questionário foi testado sobre a validade de seu conteúdo por dois especialistas
no campo da fisioterapia esportiva, preparação física e monitoramento do estado clínico
de atletas. Na sequência, o instrumento foi testado em piloto por três jogadores de futebol
profissionais de fácil acesso que não participaram do estudo.
Os dados foram apresentados como média ± desvio-padrão, mediana e intervalo inter-
quartil (IIQ, percentis 25 e 75), e medidas de frequência epidemiológica. Comparações entre
características demográficas de lesionados e não lesionados foram feitas pelo teste U de
Mann-Whitney. Para a associação entre posição de jogo e histórico de lesões na carreira
esportiva profissional foi utilizado o teste exato de Fisher. Em todos os casos o nível de
significância estatística foi fixado em p<0,05. Todas as análises foram realizadas por lingua-
gem de programação estatística R (versão 4.0.3; R Core Team, R Foundation for Statistical
Computing, Vienna, Austria).

RESULTADOS

Todos os questionários enviados e retornados foram computados via plataforma web


Survey Monkey™. Dos 120 jogadores profissionais de futebol elegíveis para participação
174
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
em seis equipes contactadas do Módulo I e II da Federação Mineira de Futebol, 113 deles
aceitaram participar e retornaram o questionário preenchido (taxa de resposta = 94,2%).
Uma descrição detalhada dos jogadores participantes, em análise por histórico de lesões
na carreira, é fornecida na Tabela 1, abaixo.

Tabela 1. Características demográficas e prevalência de lesões na carreira profissional de futebol.

Ocorrência de lesões na carreira


Variáveis Não Sim p-value2
N= 23 (20%)1 N= 90 (80%)1
Idade (anos) 20,8 ± 5,9 (21 [19,5, 23,0]) 24,2 ± 5,1 (23 [20,2, 28,0]) 0,029
Estatura (cm) 173,8 ± 38,6 (183 [176, 187]) 180,5 ± 6,4 (180 [176, 185]) 0,743
Peso (Kg) 74,0 ± 19,4 (74 [69,0, 85,5]) 77,5 ± 8,4 (76 [71,2, 83,0]) 0,615
Carreira profissional (anos) 3,6 ± 3,8 (3 [2,0, 5,0]) 6,8 ± 5,2 (5,0 [3,0, 11,0]) 0,006
Posição de jogo 0,161
Atacante 6 (26%) 12 (13%)
Goleiro 4 (17%) 10 (11%)
Lateral 4 (17%) 13 (14%)
Meio de Campo 1 (4.3%) 24 (27%)
Volante 2 (8,7%) 10 (11%)
Zagueiro 6 (26%) 21 (23%)
Nota: 1 Estatísticas apresentadas como média±DP (mediana [intervalo interquartil, IIQ; percentis 25 e 75]); n (%). 2 Comparação
realizada por teste U de Mann-Whitney’test (variáveis demográficas) e teste exato de Fisher (associação entre as variáveis “posição
de jogo” e “ocorrência de lesões na carreira”).
Fonte: os autores (2021).

A idade média dos jogadores entrevistados foi de 23,7 ± 5 anos (18 a 39 anos), tendo
6,9 ± 5 anos de carreira profissional. A prevalência de lesões na carreira como jogadores
profissionais foi de 80%. Observou-se idade maior (p<0,05) e maior tempo de carreira pro-
fissional (p<0,01) nos jogadores com histórico de lesão (Tabela 1). Não houve diferença
estatística significativa para estatura e peso entre aqueles jogadores que reportaram ocor-
rência de lesão na carreira e os que não reportaram (p>0,05). Não foi observada associação
estatística entre as posições de jogo e histórico de lesões na carreira (desfecho binário “sim”
e “não”, p>0,05; Tabela 1).
A taxa de lesão foi de 1.84 por jogador ao longo da carreira profissional. No tocante
à distribuição anatômica das lesões, nota-se que a maioria das lesões (~76,5%, Gráfico 1)
ocorreram nos membros inferiores. Dessas, nota-se uma maior frequência de ocorrência na
musculatura isquiotibial (~26,2%, n= 58), na articulação do tornozelo (~24%, n = 53) e no
joelho (~16,7%, n = 37). O quadril/pelve teve uma taxa de lesões de ~7,2% (n = 16).

175
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 1. Distribuição anatômica das lesões em jogadores profissionais de futebol.

Fonte: os autores (2021).

No Gráfico 2, abaixo, observa-se a análise descritiva sobre a percepção dos atletas


quanto aos fatores de riscos internos para lesão em jogadores de futebol profissional. A maio-
ria dos futebolistas concordam totalmente que o “desequilíbrio muscular” (48,3%, n = 42),
seguido de “fadiga decorrente do jogo e treinos” (47,1%, n = 41) e “flexibilidade menor que o
comum” (32,2%, n = 28) predispõem a um risco maior de lesões em futebolistas profissionais.
Foi verificado ainda que o posicionamento autorrelatado para a vertente “condicionamento
cardiovascular menor que o comum” como fator de risco interno predisponente para lesões
no futebol apresentou um quadro aparente sem direcionamento positivo ou negativo de con-
cordância/discordância. A maioria dos respondentes foi de “neutralidade” (39,1%, n = 34),
seguida dos descritores positivos (33,3%, n = 29) e negativos de concordância (27,5%, n =24).

176
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 2. Percepção de jogadores profissionais sobre fatores de riscos internos para lesões no futebol.

Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.

No Gráfico 3, abaixo, é observada a percepção dos jogadores em relação aos fatores


externos para lesão. Para a maioria dos respondentes (43,2%, n = 41), há concordância
quanto ao fato de o futebol ser considerado um “esporte de alto risco” para lesões. Os joga-
dores de futebol também são concordantes, em sua maioria, quanto ao fato de a “disputa de
bola aérea” ser um importante fator de risco para lesão (37,9%, n = 36). Em contrapartida,
a maioria é discordante (totalmente ou parcialmente (71,2%, n = 62) quanto ao fato de que
a “cobrança da torcida” possa ser fator de risco para lesões em futebolistas. A maioria tam-
bém discorda que “jogos decisivos” predispõem a um maior risco de lesão (52,9%, n = 46).

177
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 3. Percepção de jogadores profissionais sobre fatores de riscos externos para lesões no futebol.

Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.

A maioria dos respondentes (~91%) reportaram vivenciar programas estruturados,


estratégias ou formas de treinamentos regulares objetivando a prevenção de lesões no fu-
tebol. No Gráfico 4, abaixo, é observado o resultado descritivo sobre a frequência semanal
de intervenção (nº de sessões/semana) das diferentes propostas de prevenção de lesões
na realidade dos clubes amostrados nos últimos seis meses regressos à nossa pesquisa.
Nota-se que a maioria dos respondentes autorrelataram vivenciar “exercícios específicos
de aquecimento/alongamento conjugados com bola” 85,9% (n = 85) e “alongamentos con-
vencionais” 78,8% (n = 78) mais que três vezes na semana. A maior proporção (18,2%, n
= 18) de desconhecimento para alguma proposta ou programa preventivo apontou para o
“Programa FIFA 11+” (warm-up programme, FIFA’s Medical Assessment and Research
Centre) entre todas as alternativas perguntadas em questionário. Notou-se também que
uma pequena parte dos jogadores autorrelataram não terem sessões de “exercícios sen-
sório-motores” (8,1%, n = 8) ou propostas de treino em “formas de circuito” (7,1%, n = 7)
como parte da programação semanal de treinamento. O treinamento de core, segundo a
percepção dos atletas respondentes, é utilizado como estratégia de prevenção mais de três
vezes na semana (56,6%, n = 55), assim como, também, o treinamento de força (48,5%, n
= 48) e os exercícios em forma de circuito (50,5%, n = 50).

178
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 4. Frequência semanal de intervenção de programas de exercícios, estratégias ou formas de treinamentos
estruturados nos últimos seis meses para prevenção de lesões em jogadores profissionais de futebol.

Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.

Uma descrição proporcional da preferência autorrelatada sobre programas, estratégias


ou formas de treinamento objetivando a prevenção de lesão em futebolistas é apresentada
no Gráfico 5, abaixo. Nota-se que “exercícios em forma de minijogo” foi a proposta mais
frequentemente relatada com o descritor “gosto muito” (76%, n = 73). Porém, por outro lado,
houve considerável taxa de resposta para “desconhecimento desta proposta” (15,6%, n = 15).
Outra proposta ou programa de treinamento também descrita como “gosto muito” (79,2%,
n = 76) foi a de proposição de “exercícios de aquecimento/alongamento conjugados com
bola”. Quando perguntado aos participantes sobre o alongamento convencional, ~29,2% (n
= 28) autorrelataram “gostar muito”, assim como o “treinamento de core” (38,5%, n = 37).

179
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 5. Preferência dos jogadores profissionais de futebol sobre programas de exercícios, estratégias ou formas de
treinamentos para prevenção de lesões.

Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar a magnitude de percepções futebolistas


profissionais sobre fatores de risco de lesão, uso e preferência das estratégias preventivas
em rotinas ou programas de treinamento. A exposição dos dados epidemiológicos, extraídos
a partir dos questionários enviados e retornados, forneceram informações significativas a
respeito das características, histórico de lesões na carreira (com suas regiões anatômicas)
e a percepção dos jogadores referentes aos fatores de riscos internos e externos advindos
da modalidade esportiva. Notou-se alta taxa de jogadores com histórico de lesão e pre-
valência de lesões do tipo musculoesqueléticas, principalmente aquelas que atingem os
membros inferiores.
Pelo fato de o futebol ser um esporte de grande contato e movimentos, e ter grande
duração, tem-se notado considerável prevalência de lesões (PFIRRMANN et al., 2016;
ALMEIDA et al., 2013). Em alinhamento com essas condições de exposição de risco do
futebol, um dos principais achados foi que atletas de futebol são suscetíveis à lesão durante
a carreira (prevalência de 80%), sendo a idade um importante fator de risco. A região de
maior prevalência de lesões foi a de membros inferiores. Esses resultados corroboram o
estudo de Pedrinelli et al. (2013), quando diz que a localização anatômica mais comum para

180
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
lesão são as coxas e os joelhos. O quadril/pelve teve um valor significativo menor de lesões
(~7%), estando em consonância com o estudo de Nascimento e Silva (2017).
Esse cenário descritivo de lesões por segmento corpóreo é reconhecido no futebol.
Assim, a etiologia das lesões, em especial os isquiotibiais, tem mecanismo de lesão ligados
à hiperextensão de quadril com extensão de joelho, correspondente ao movimento do chute,
podendo lesar com maior intensidade a porção proximal do semitendíneo (RAMOS et al.,
2017). Além disso, a absorção de energia elástica durante a contração excêntrica na fase
final da corrida e desaceleração (RAMOS et al., 2017) e no tornozelo deve ser considerada.
Nossos achados, portanto, corroboram estudos prévios no contexto do futebol sul-americano
de elite (PEDRINELLI et al., 2013), brasileiro (BATISTA; COSTA, 2019; CARVALHO, 2009;
COHEN, 1997) e do futebol português (LOPES, 2008, GONÇALVES, 2000). Existe uma
maior preferência dos atletas por programas de prevenção que simule as ações específicas
do futebol e por trabalhos frequentes ao longo do microciclo.
Existem diversas variáveis documentadas na literatura que podem predispor ao desfe-
cho de lesões no futebol, como idade, posição de jogo, histórico de lesões passadas e reci-
divas, além de fatores externos (HAGGLUD et al., 2018; CRISTIANO NETTO, 2019). Nosso
estudo corrobora outras investigações em outros países europeus (ARNASON et al., 2004;
SCHMIDT-OLSEN et al., 1991) e no Brasil (RIBEIRO et al., 2007) que observaram a idade
como um importante fator interno quando considerado o contexto de exposição para risco de
lesões. Estima-se que a cada aumento de um (1) ano na idade, o risco de o atleta vir a sofrer
por incidência de lesão aumenta em 1,78 vezes (HENDERSON et al., 2010). Do ponto de vista
clínico, pode ser considerado que mesmo quando a taxa de prevalência é igual ou maior, os
quadros de lesões nas categorias mais jovens não envolvem afastamentos das atividades
esportivas e podem ter menor número de complicações secundárias (RIBEIRO et al., 2007).
Além disso, o presente estudo demonstrou que existe uma maior prevalência de lesões
em jogadores com mais tempo de carreira profissional – também chamados mais experientes
– e com maior faixa etária – entre 20 e 28 anos. Esse achado está alinhado ao estudo de
Almeida et al. (2013) realizado com atletas profissionais do Clube do Remo (Brasil, estado
do Pará), o qual revelou que, no intervalo entre as idades de 24 e 33 anos, os jogadores
tendem a sofrer com mais lesões. Essa tendência também foi observada por Barbalho et al.
(2017), que considerou no intervalo entre as idades de 24 e 28 anos uma tendência maior
a sofrer com lesões.
Pela característica do futebol, há uma expressiva solicitação física. Em média, 11 km/
jogo são percorridos pelos atletas (MACIEL et al., 2011) em meio a esforços intermitentes
e de elevada intensidade envolvendo, como fonte energética, aproximadamente 90% do
metabolismo aeróbico (GOROSTIAGA et al., 2004), o que somado à técnica dos atletas e
181
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ao fato de ser jogado com os pés (regra do futebol) seria esperado que a prevalência de
lesões ocorresse com maior frequência nos membros inferiores. Assim, afirmar que a região
dos isquiotibiais e tornozelos são as mais suscetíveis às lesões no futebol concorda com
prevalências observadas em outros estudos (BIZZINI et al., 2013; EKSTRAND et al., 2011).
Por exemplo, um estudo realizado por Santos et al. (2007), com atletas profissionais do Sport
Club Recife, mostrou que a região com maior frequência de lesão foi a de membros inferio-
res (75,51%), com destaque para os isquiotibiais/coxa (40,81%). Esses achados também
corroboram o estudo de Cezarino (2018). Outra lesão importante, com alta frequência de
ocorrência, a lesão de tornozelo, reforça o estudo de Abrahão et al. (2009).
No presente estudo, a frequência de lesões no joelho foi 17%, concordando com o
grande número de lesões na articulação do joelho observadas também em árbitros profis-
sionais da Premier League iraniana (MAHDAVI MOHTASHAM et al., 2018). Essa região
anatômica é de grande preocupação do corpo médico e de preparação física dos clubes.
Afinal, a articulação do joelho é uma das mais importantes na prática do futebol, por ser a
responsável pela sustentação, estabilidade corporal e absorção de impacto, além de su-
porte para a execução do gestual técnico do jogo com a bola e sua disputa, às vezes, com
sobrecarga contralateral.
A lesão é um importante fator econômico do esporte. A sua gravidade afasta e pro-
move precocidade de finalização de carreiras esportivas. Observando os achados de outra
pesquisa com nível competitivo semelhante ao de nosso estudo, parece ser consensual
que a prevalência de atletas acometidos por pelo menos uma lesão na carreira no futebol
é de aproximadamente 73% (PINTO, 2018). Os resultados dessa pesquisa se assemelham
ao achado no presente estudo, o qual demonstrou que 80% dos atletas participantes já se
lesionaram. Isso implica dizer o quão é importante que no planejamento de treinos existam
e sejam aplicadas, de maneira correta, as estratégias de prevenção com o intuito de diminuir
tais índices de lesões. Por isso, muito tem-se especulado sobre as abordagens preventivas
para lesões em futebolistas, como os meios e métodos alternativos de treinamento, muitos
em correspondência com o trabalho fisioterápico (RUIVO et al., 2018), até o desenvolvimento
ou aprimoramento tecnológico dos equipamentos de proteção como, por exemplo, chuteiras,
caneleiras e vestimentas (SILVA et al., 2011).
O presente estudo não objetivou prioritariamente e com metodologia adequada (i.e.
tamanho amostral mais ampliado para composição estratificada mais importante) averiguar
o efeito posicional na prevalência de lesões. Mesmo assim, o resultado não demonstrou uma
associação entre lesões na carreira e posição de jogo. No entanto, já existem na literatura
achados comprovando que as posições em campo mais propensas ao desenvolvimento de
lesões seriam os atacantes e os meio-campistas (CARVALHO, 2013; PALACIO et al., 2009;
182
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ZAVARIZE et al., 2013) por serem posições que, por característica, demandam velocidade,
força e mudanças rápidas e bruscas de direção e de aceleração (FARIA et al., 2005).
Implementar e averiguar o lado perceptivo dos atletas poderá aumentar o engajamento
e cuidados individuais, ampliando a higiene e a educação voltada para saúde atlética. Por
isso, a comissão técnica precisa estar atenta aos feedbacks dos atletas quanto à frequência
de uso e às escolhas de quais processos de treinamento e prevenção de lesão implemen-
tar. A aderência à programação semanal de treino é modulada por questões perceptivas
e gosto pessoal. Nesse sentido, quanto à preferência dos atletas sobre as estratégias de
prevenção de lesão, o presente estudo notou que a maioria dos atletas relataram “gostar
muito” de treinos específicos e típicos das ações do futebol. Quando comparada a preferên-
cia dos atletas sobre tais estratégias com a sua utilização/frequência semanal, observou-se
que, em 86% dos treinos, tais métodos são utilizados “mais de três vezes” na semana,
atendendo, assim, à preferência dos jogadores de futebol. Métodos como termoterapia,
cinesioterapia, massoterapia, uso de bandagens carecem de mais evidências, pois, apesar
de serem indicados por estudos da fisioterapia (DOS SANTOS et al., 2020; MARCON, 2015)
como possíveis estratégias de prevenção de lesões, ficaram com uma menor frequência de
uso por parte das equipes médicas dos clubes, talvez por se tratar de times com menores
estruturas e pouco capital/aporte financeiro.
A maior limitação do presente estudo foi não analisar a eficácia dos principais métodos
de prevenção, uma vez que nosso estudo foi do tipo retrospectivo, buscando informações
de lesões dos jogadores nos últimos 6 meses. Apesar de suas limitações, este estudo é
valioso. Através dele foram evidenciadas as principais estratégias de prevenção de lesão
preferidas pelos jogadores. Assim, futuramente poderá auxiliar a equipe médica e prepara-
dores físicos no planejamento dos treinos e verificar se através delas há uma melhoria na
redução da prevalência das lesões.

CONCLUSÃO

O futebol é percebido pelos próprios atletas como um esporte de alto risco para lesões.
Dificilmente um jogador passará por sua carreira sem sofrer algum tipo de lesão, e quanto
maior for o tempo de profissão, mais suscetível ele estará à incidência de lesão. Notou-se
que a prevalência de lesões do tipo musculoesqueléticas são as que mais afetam os joga-
dores, principalmente aquelas que atingem os membros inferiores, com destaque para as
lesões nos isquiotibiais. Quanto às estratégias, métodos e programas de prevenção de lesão,
percebeu-se que nem todos os atletas as conhecem ou possuem uma baixa frequência no
dia a dia dos treinos das equipes pesquisadas.

183
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Partindo disso, juntamente com a compreensão da preferência dos atletas quanto
a tais métodos, medidas interventivas visando a maior aderência poderão ser propostas.
Considera-se a necessidade de novos estudos para que a equipe médica e os preparadores
físicos dos clubes possam avaliar e verificar sua eficácia na prevenção de lesões no futebol.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer imensamente a todos atletas que aceitaram participar desta


pesquisa. Da mesma forma, agradecemos a todos dirigentes, treinadores, preparadores fí-
sicos e demais membros de comissões técnicas que viabilizaram os acessos e contatos no
processo de recrutamento de voluntários. Especial agradecimento ao professor Welington
David e a Jonathas Baltar por intermediarem os primeiros contatos com clubes, setores e
profissionais responsáveis. À UFJF, campus Governador Valadares, e ao grupo GEPCAF
(Grupo de Estudos e Pesquisa em Ciências Aplicadas ao Futebol) pela cooperação, convi-
vência, e nas proposições para a construção e produção de novos estudos. À PROPP, UFJF,
pelo fomento à pesquisa em nossa instituição e conceção de bolsas de iniciação científica
ao discente, primeiro autor desta obra.

FINANCIAMENTO

Essa pesquisa foi possibilitada por meio de uma bolsa de iniciação científica, Edital
05/2018-PROPP/Pesquisa (Edital de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal
de Juiz de Fora).

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187
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12
Tomada de decisão no futebol sete:
Uma análise sobre o último passe e a
finalização

Guilherme Marinho Alves Duarte


ULBRA

10.37885/210504693
RESUMO

A tomada de decisão vem sendo um aspecto cada vez mais influente nas diversas
situações proporcionadas pelo futebol. Uma melhor percepção situacional antecede a
qualidade de execução dos fundamentos, ou seja, as decisões tomadas interferem conse-
quentemente no desempenho das equipes. O objetivo deste trabalho é analisar a tomada
de decisão e as ações técnicas dos jogadores de futebol sete durante o último passe
(UP) e finalização (F). Foram observadas as videogravações de oito jogos disputados
por duas equipes de futebol sete (A e B) em uma competição no estado do RS. Os dados
foram coletados através de um scout técnico. Os resultados evidenciaram o UP mais uti-
lizado pela equipe A (CB com 64,15%), e equipe B (CB com 66,10%). A F mais utilizada,
equipe A (CD com 86,42%) e equipe B (CD com 76,29%). As F terminadas em gols da
equipe A 16,05%, equipe B 15,46%, e as ações conjuntas que terminaram em gols da
equipe A (último passe CB e finalização com CD 61,54%) e equipe B (último passe CB e
finalização com CD 46,67%). Observa-se ainda uma carência de informações científicas
sobre o futebol sete, contudo estes parâmetros corroboram com os autores de estudos
sobre o futebol onze, contribuindo assim para a conscientização dos atletas sobre a
qualidade das suas decisões. Conclui-se que as variáveis contribuem para identificação,
exposição, e avaliação das decisões técnicas, servindo também como aplicação para
o planejamento técnico-tático dos treinadores e aprimoramento da tomada de decisão
de seus jogadores.

Palavras-chave: Tomada de Decisão, Futebol Sete, Ações Técnicas, Scout, Aprimoramento.

189
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

A análise da tomada de decisão dos jogadores torna-se importante para a busca de


soluções e conscientização sobre o desempenho das equipes em competições. O último
passe e a finalização são ações repentinas e de extrema importância para alcançar resultados
satisfatórios. Segundo Gomes e Prudente (2017), o Futebol atual precisa de jogadores mais
inteligentes na tomada de decisão e com um leque variado de soluções de modo a resolver o
problema que aparece no jogo. O Futebol é cada vez mais tático e com uma grande pressão
sobre o portador da bola, o que reduz o tempo e espaço de decisão. Com o propósito de
cumprir os objetivos traçados, foi aplicado um scout técnico, observando uma sequência de
jogos através de videogravações, verificando as ações técnicas e os resultados das decisões
tomadas pelos jogadores de futebol sete. Conforme a análise, podemos expor estes dados
e evidenciar sua importância para o desenvolvimento da modalidade.
No aspecto de treinamento da tomada de decisão e conhecimento científico no FS atual,
observa-se uma carência de estudos e conscientização sobre o esporte. Em consequência
disto é notória uma resistência em receber e aplicar novos métodos de ensino-aprendiza-
gem, partindo do entendimento que no futebol tudo já foi inventado. Para Costa (2018), o
processo da tomada de decisão é complexo e interdependente de diversas variáveis que
interferem na ação final do jogador. Conhecer o objetivo da própria ação é indispensável
para ter sucesso nas decisões do jogo. Esse monitoramento se dá pela realização de um
scout, tendo como base os fundamentos exigidos nestas situações.
Para Cassol e Fernandes (2008) o monitoramento das ações técnicas dos atletas dentro
do jogo é imprescindível, já que permite a automatização de um determinado movimento
e o planejamento de tipos de treinamentos específicos para uma situação de jogo. Estes
parâmetros contribuem diretamente para a conscientização dos atletas sobre a qualidade
de suas decisões. O último passe e a finalização no FS sucede um trabalho específico, o
que interfere na melhor efetividade dos fundamentos.
Sendo assim, o objetivo deste estudo possibilita a identificação das ações técnicas
executadas pelos jogadores, visando agregar conhecimento, apresentando novos resultados,
e incentivando novas pesquisas sobre a tomada de decisão, contribuindo para que o futebol
sete torne-se um esporte cada vez mais dinâmico e extraordinário.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um parecer técnico quantitativo, construído através da observação de oito


videogravações com duração média de 60 minutos, divididos, por sua vez, em dois tem-
pos de 25 minutos cada. Foram coletadas as informações sobre a tomada de decisão dos
190
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
jogadores de duas equipes de futebol sete adultas de rendimento durante o último passe
e finalizações. As equipes são filiadas a Federação de Soccer Society do RS e a CBSS, e
competiram nos jogos da Copa União do Sete no ano de 2015. O evento foi realizado na
cidade de Porto Alegre-RS, disputado nas dependências da MAP sports (bairro Vila Nova).
Dentre os participantes se fizeram presentes jogadores e ex-jogadores profissionais de futebol
de campo e futsal, com faixa etária entre 18 a 35 anos. O instrumento utilizado foi um scout
técnico onde foram registrados a quantidade e variedade das ações sobre os fundamentos
do esporte, conforme a sequência das situações: primeiro, o tipo de passe; segundo, o tipo
de finalização; terceiro, o resultado das finalizações; quarto, as assistências e finalizações
terminadas em gols. Com esta análise foi possível apresentar em tabelas e gráficos as va-
riáveis e seus resultados.
Para a realização deste estudo foram necessários os seguintes instrumentos de traba-
lho: notebook (Samsung, processador Intel Celeron 1,5 GHz, 4GB memória RAM, modelo
NP370E4K); conexão de acesso à ferramenta internet (Wi-Fi velocidade 72,2 Mbps); acesso
à plataforma de vídeos Youtube (https://www.youtube.com/?gl=BR&hl=pt); acesso ao canal
Travinha Esportes; scout técnico exclusivo para coleta de dados (Figura 1).
Estas variáveis foram baseadas nas ações realizadas pelos jogadores durante o últi-
mo passe e finalizações, levando em consideração os fundamentos, as características da
modalidade e as decisões tomadas nestas circunstâncias.

TIPO DE PASSE (TP):

– Curto por baixo (CB): envolve o último passe desferido de curta a média distância
pelo solo (ou mais próximo a ele).
– Curto pelo Alto (CA): envolve o último passe desferido de curta a média distância
pelo alto (nível da cabeça, inclusive arremessos laterais contabilizados como assis-
tências diretas).
– Longo por baixo (LB): envolve o último passe desferido de longa distância pelo solo
(ou mais próximo a ele).
– Longo pelo alto (LA): envolve o último passe desferido de longa distância pelo alto
(nível da cabeça, inclusive arremessos laterais).
– Passe contrário (PC): envolve o passe desferido pelo adversário de forma “involun-
tária” (variável não considerada para análise do último passe, mas para o contexto
do jogo).

191
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
TIPO DE FINALIZAÇÃO (TF):

– Com drible (D): envolve a conclusão a gol antecedida por drible.


– Com chute direto (CD): envolve a conclusão a gol com chute direto (inclusive faltas
e shoot out).
– Com cabeceio (C): envolve a conclusão a gol com cabeceio.

RESULTADO DA FINALIZAÇÃO (RF):

– Para fora (PF): envolve a conclusão a gol desferida para fora da goleira.
– Defesa do goleiro (DG): envolve a conclusão a gol desferida e defendida pelo goleiro
(inclusive conclusões na trave e interceptação de bola pela defesa (dentro da área)).
– Gol (G): envolve a conclusão revertida em gol.

Figura 1. Scout das ações técnicas dos jogadores durante os jogos.

192
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
RESULTADOS

Os resultados foram analisados e apresentados em tabelas e gráficos de acordo com


o número de jogos (equipes A e B, quatro jogos cada, oito jogos no total), os tempos (pri-
meiro e segundo), e as variáveis das situações propostas em sequência. São elas: os “tipos
de passe” (TP): curto por baixo (CB), curto pelo alto (CA), longo por baixo (LB), longo pelo
alto (LA); os “tipos de finalização” (TF): antecedidas por drible (D), com chute direto (CD),
ou cabeceio (C); “resultados da finalização” (RF) e seu desfecho: para fora (PF), defesa do
goleiro (DG), gol (G); e a “efetividade do último passe e finalizações que resultaram em gol”.
As tabelas referem-se a distribuição sequencial de todas as variáveis coletadas no
scout. Os gráficos são os comparativos percentuais das variáveis. A equipe A conquistou
três vitórias e uma derrota (em 4 jogos consecutivamente) sagrando-se vice-campeã da
competição; a equipe B uma derrota e três vitórias (em 4 jogos consecutivamente) sagran-
do-se campeã da competição.

Tabela 1. Distribuição dos tipos de último passe de todos os jogos da equipe A.

TIPO DE PASSE
AÇÃO CB CA LB LA
1º Tempo 17 9 1 0
2º Tempo 17 7 0 2
TOTAL 34 16 1 2
% 64,15% 30,19% 1,89% 3,77%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto.

Tabela 2. Distribuição dos tipos de último passe de todos os jogos da equipe B.

TIPO DE PASSE
AÇÃO CB CA LB LA
1º Tempo 18 11 1 1
2º Tempo 21 5 1 1
TOTAL 39 16 2 2
% 66,10% 27,12% 3,39% 3,39%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto.

193
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 1. Comparativo do último passe equipes A e B.

No Gráfico 1 podemos comparar os percentuais dos tipos de assistências. Os dados


foram coletados no decorrer do 1º e 2º tempo, durante os 4 jogos de cada equipe. Foi ve-
rificado que o último passe mais utilizado foi o CB (64,15% equipe A (34x) - 66,10% equi-
pe B (39x)). Seguidos por CA (30,19% equipe A (16x) – 27,12% equipe B (16x)), LA (3,77%
equipe A (2x) – 3,39% equipe B (2x)), e LB (1,89% equipe A (1x) – 3,39% equipe B (2x)).

Tabela 3. Distribuição dos tipos de finalizações de todos os jogos da equipe A.

TIPO DE FINALIZAÇÃO
AÇÃO D CD C
1º Tempo 6 38 1
2º Tempo 3 32 1
TOTAL 9 70 2
% 11,11% 86,42% 2,47%
Legenda: D = com drible; CD = com chute direto; C = com cabeceio.

Tabela 4. Distribuição dos tipos de finalizações de todos os jogos da equipe B.

TIPO DE FINALIZAÇÃO
AÇÃO D CD C
1º Tempo 7 39 3
2º Tempo 12 35 1
TOTAL 19 74 4
% 19,59% 76,29% 4,12%
Legenda: D = com drible; CD = com chute direto; C = com cabeceio.

194
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 2. Comparativo de finalizações equipes A e B.

No Gráfico 2 podemos observar o comparativo dos percentuais de finalizações. Os da-


dos foram coletados no decorrer do 1º e 2º tempo, durante os 4 jogos de cada equipe. Foi
verificado que a finalização mais utilizada foi com CD (86,42% equipe A (70x) – 76,29%
equipe B (74x)). Seguidos por D (11,11% equipe A (9x) – 19,59% equipe B (19x)) e C (2,47%
equipe A (2x) – 4,12% equipe B (4x)).

Tabela 5. Distribuição do resultado das finalizações de todos os jogos da equipe A.

RESULTADO DA FINALIZAÇÃO

AÇÃO PF DG G
1º Tempo 20 22 3
2º Tempo 12 14 10
TOTAL 32 36 13
% 39,51% 44,44% 16,05%
Legenda: PF = para fora; DG = defesa do goleiro; G = gol.

Tabela 6. Distribuição do resultado das finalizações de todos os jogos da equipe B.

RESULTADO DA FINALIZAÇÃO

AÇÃO PF DG G
1º Tempo 23 20 6
2º Tempo 11 28 9
TOTAL 34 48 15
% 35,05% 49,48% 15,46%
Legenda: PF = para fora; DG = defesa do goleiro; G = gol.

195
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 3. Comparativo do resultado das finalizações equipes A e B.

No Gráfico 3 podemos observar os percentuais do resultado das finalizações. Os dados


foram coletados no decorrer do 1º e 2º tempo, durante os 4 jogos de cada equipe. Foi veri-
ficado que o RF mais ocorrido foi a DG (44,44% equipe A (36x) – 49,49% equipe B (48x)).
Seguidos por PF (39,51% equipe A (32x) – 35,05% equipe B (34x)) e com G (16,05% equi-
pe A (13x) – 15,46% equipe B (15x).

Tabela 7. Distribuição das assistências e finalizações que resultaram em gol de todos os jogos da equipe A.

ASSISTÊNCIAS E FINALIZAÇÕES QUE RESULTARAM EM GOL

TIPO DE PASSE TIPO DE FINALIZAÇÃO

AÇÃO CB CA LB LA D CD C
1º Tempo 3 0 0 0 1 2 0
2º Tempo 6 2 0 0 2 8 0
TOTAL 9 2 0 0 3 10 0
% 81,81% 18,19% 0% 0% 23,08% 76,92% 0%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto; D = com drible; CD = com chute direto; C = com
cabeceio.

196
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 8. Distribuição das assistências e finalizações que resultaram em gol de todos os jogos da equipe B.

ASSISTÊNCIAS E FINALIZAÇÕES QUE RESULTARAM EM GOL

TIPO DE PASSE TIPO DE FINALIZAÇÃO

AÇÃO CB CA LB LA D CD C
1º Tempo 4 1 0 0 0 6 0
2º Tempo 4 2 1 0 1 8 0
TOTAL 8 3 1 0 1 14 0
% 66,66% 25% 8,34% 0% 6,67% 93,33% 0%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto; D = com drible; CD = com chute direto; C = com
cabeceio.

Gráfico 4. Comparativo de assistências e finalizações que resultaram em gol equipes A e B.

No gráfico 4 podemos observar os percentuais de assistências e FG efetivas. Os dados


foram coletados no decorrer do 1º e 2º tempo, durante os 4 jogos de cada equipe. Foi verifica-
do que o resultado mais ocorrido foram os gols por passe CB e finalização com CD (61,54%
equipe A (8x) – 46,67% equipe B (8x)). Seguidos por CB/D (7,69% equipe A (1x)), CA/CD
(20,00% equipe B (3x)), CA/CD (7,69% equipe A (1x)), PC/CD (13,33% equipe B (2x)), CA/D
(7,69% equipe A (1x)), CB/D (6,67% equipe B (1x)), PC/D (7,69% equipe A (1x)), PC/CD
(7,69% equipe A (1x)) LB/CD (6,67% equipe B (1x)), e SO/CD (6,67 % equipe B (1x)). As as-
sistências de passes contrários não foram contabilizadas diretamente, somente as finaliza-
ções por shoot out.
A equipe A conquistou 3 vitórias e 1 derrota (consecutivamente) sagrando-se vice-
-campeã da competição, enquanto a equipe B 1 derrota e 3 vitórias (consecutivamente)
sagrando-se campeã da competição.

DISCUSSÃO

Após a análise das respectivas ações, podemos entender a influência das decisões
tomadas pelos jogadores no desempenho técnico das equipes durante a competição. Devido
197
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
a momentânea carência de estudos sobre a observação das ações técnicas no futebol sete,
fez-se necessário discutir e equiparar informações com o esporte que deu origem a esta
modalidade, o futebol onze.
Conforme Cassol e Fernandes (2008), sobre uma partida de futebol onde são muitas
as valências físicas e técnicas utilizadas pelos atletas, é exigido um ótimo nível de desen-
volvimento de todas essas características por parte dos indivíduos. Não se pode esquecer
que para isso devemos desenvolver métodos que analisem todos estes aspectos. Por isso,
as análises qualitativa e quantitativa dessas ações tornam-se imprescindíveis para a pla-
nificação correta das metodologias que serão empregadas nas sessões de treinamento.
Sendo o scout uma maneira relativamente simples de mensuração e quantificação das ações
ocorridas dentro de uma partida de futebol.
No momento do último passe existiu uma incidência maior pelo passe “curto/baixo”
por ambas as equipes (64,15% equipe A (34x) – 66,10% equipe B (39x)). Sendo também o
passe CB aquele que mais antecedeu as finalizações resultantes em gols (em 81,82% dos
gols da equipe A (9x), assim como 66,66% dos gols da equipe B (8x).
Da mesma forma Manarte (2009), verificou que 88,5% dos passes da seleção es-
panhola (638 passes num total de 721) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 6 jogos
da Eurocopa 2008.
No estudo realizado por Redondo (2016), 60,2% dos passes da seleção portuguesa
Sub-19 (80 passes num total de 133) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 5 jogos do
Campeonato da Europa (Hungria/2014).
De acordo com Alves (2016), 69,01% dos passes da seleção Portuguesa Sub-20
(49 passes num total de 71) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 5 jogos da Copa do
Mundo Sub-20 em 2015.
Conforme Moura (2006), no estudo de quatro partidas entre equipes do campeona-
to brasileiro série A, 46,5% (dos passes que precederam as finalizações) foram do tipo
“curto/médio/baixo”.
Em conformidade com os dados podemos observar a preferência pelo tipo de último
passe “curto/baixo” (de curta ou média distância por baixo), bem como a “carência” na
utilização dos outros tipos de passes. São fundamentos que poderão ser importantes em
determinadas situações do jogo.
No momento da finalização existiu uma incidência maior do “chute direto” por ambas as
equipes (86,42% equipe A (70x) - 76,28% equipe B (74x)). Sendo também com CD o TF que
mais resultou em gols (76,92% equipe A (10x) - 93,33% equipe B (14x)).

198
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
No mesmo sentido Chaves (2010), verificou que o CD teve uma incidência de 87,80%
(72x em 82 finalizações) em uma análise sobre as finalizações da seleção brasileira de fu-
tebol na copa do mundo 2010.
De acordo com Santos et. al (2017), 82,08% das finalizações do Barcelona FC foram
por CD (55x em 67 oportunidades, sendo o CD o TF mais utilizado dentre outros), na análise
complementar dos gols da equipe na Liga Espanhola 2014-2015.
Conforme Moura (2006), no estudo sobre quatro partidas entre equipes do campeo-
nato brasileiro série A, 44,95% das finalizações foram por CD (49x em 109 oportunidades,
sendo CD o TF mais utilizado dentre os outros).
Corroborando com os dados destas decisões técnicas, verificamos a preferência de
finalização pelo chute direto, bem como a “carência” na utilização dos outros tipos de con-
clusão a gol. Estes recursos poderão ser utilizados em determinadas situações de jogo e
estão interligados com a capacidade decisional dos jogadores.
No resultado das finalizações, existiu uma incidência maior da “defesa do goleiro” por
ambas as equipes (44,44% equipe A (36x) – 49,48% equipe B (48x)). Seguidos de conclu-
são “para fora” com 39,51% da equipe A (32x) e 35,05% da equipe B (34). Sendo o RF com
término em “gol” apenas 16,05% da equipe A (13x) e 15,46% da equipe B (15x).
De acordo com o estudo realizado por Chaves (2010), constatou-se os resulta-
dos DG com 26,82% (22x/82), PF com 61,76% (51x/82), e G com 10,97% (9x/82). Já Redondo
(2016), verificou 38,23% das finalizações com DG (13x/34), PF com 41,17% (14x/34),
e G com 20,58% (7x/34).
Da mesma forma Alves (2016), verificou a DG em 42,1% das finalizações (32x/76), PF com
42,1% (32x/76), e G com 15,78% (12/76), a amostra consistiu na análise de cinco jogos da
seleção portuguesa, referente a Copa do Mundo Sub-20, no ano de 2015.
Em consonância com os resultados, podemos observar um baixo índice na efetividade
das finalizações, poucas vezes terminando em gols. Estes aspectos interferem diretamente
no desempenho das equipes em competições, evidenciando a necessidade do treinamento
destas capacidades.
Nas situações conjuntas mais satisfatórias, existiu uma incidência maior das ações
terminando em gol pelo último passe “curto/baixo” com finalização por “chute direto” (61,54%
equipe A (8x) – 46,67% equipe B (8x)).
Corroborando com Neto (2018), onde o TP “curto/médio/baixo” com 50% (17x) foi o
mais satisfatório terminando em gols, na análise dos gols marcados pela seleção brasileira
de futebol nas eliminatórias da copa do mundo 2018.
Estes achados coincidem com o trabalho de Fernandes (1994) apud Campos
(2004), sobre um estudo realizado pelo professor Jairo dos Santos, onde 33% dos gols
199
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
marcados ocorreram com o menor número de ações envolvidas durante a Copa do Mundo
de 1990. Os dados mostram, de maneira indireta, que as situações conjuntas são mais
eficazes quando ocorrem em um pequeno intervalo de tempo, devido ao menor número de
ações envolvidas (MAESTRI, 2010).
Conforme os resultados podemos observar uma “carência” de ações conjuntas ter-
minadas em gols. Demonstrando a importância do trabalho de aprimoramento das ações
técnicas dos jogadores.

CONCLUSÃO

Através dos resultados obtidos foi verificado que a análise contribui para conscientiza-
ção e avaliação das ações e decisões técnicas no futebol sete. Desta forma os treinadores
poderiam dar mais atenção a equipe utilizando-se do scout nestas situações de jogo, apli-
cando ao planejamento técnico-tático sessões de aprimoramento da capacidade decisional
de seus jogadores. Além disso, esta pesquisa demonstra a carência de estudos existente
no FS sobre a observação da capacidade de decisão dos atletas, e o desempenho das
equipes em competições.
No entanto, esses dados referem-se a um evento curto entre equipes recém-formadas
na modalidade. Portanto, sugere-se novas investigações sobre a tomada de decisão dos
jogadores e o seu universo de possibilidades, oportunizando a identificação das ações téc-
nicas, agregando conhecimento, apresentando novos resultados, e servindo de incentivo
para que o futebol sete torne-se um esporte cada vez mais dinâmico e extraordinário.

REFERÊNCIAS
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mundo de futebol de Sub 20. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da Universidade de Coimbra. 2016.

2. Campos, N. M. O. Futebol: Análise quantitativa e qualitativa das ações de recuperação da posse


de bola e uma explanação sobre jogadas de finalização. Monografia. Faculdade de Educação
Física, Universidade Estadual de Campinas. 2004.

3. Cassol, N., Fernandes, M. Como scouts técnico e físico podem ajudar na preparação das equi-
pes de futebol. Universidade do Futebol. 2008. Disponível em: https://universidadedofutebol.
com.br/como-scouts-tecnico-e-fisico-podem-ajudar-na-preparacao-das-equipes-de-futebol/

4. Costa, D. T. Processo de tomada de decisão no esporte: aspectos bioéticos no futebol. Dis-


sertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina.
Porto Alegre. 2018.

200
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
5. Chaves, R. A. H. Análise das finalizações da seleção brasileira de futebol na copa do mundo de
2010. Monografia. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG.
Belo Horizonte. 2010.

6. Fernandes, J. L. Futebol: ciência, arte ou...Sorte! Treinamento para profissionais – Alto rendi-
mento: preparação física, técnica, tática e avaliação. São Paulo. EPU. 1994.

7. Gomes, J. e Prudente, J. Ensino aprendizagem da tomada de decisão no futebol. Seminário


Desporto e Ciência. Universidade da Madeira. Funchal. Portugal. 2017.

8. Maestri, S. F. Scout no futebol: Análise de sequências ofensivas terminadas em gols no Cam-


peonato Paulista de Futebol da série A1 de 2009. Monografia. Faculdade de Educação Física
da Universidade Estadual de Campinas. 2010.

9. Manarte, S. T. O processo ofensivo em equipas de futebol de alto rendimento: análise sequen-


cial do processo ofensivo da seleção espanhola no campeonato da Europa Austria/Suiça 2008.
Monografia. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Portugal. 2009.

10. Moura, A. F. Análise das ações técnicas de jogadores e das estratégias de finalizações no
futebol, a partir do tracking computacional. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual
Paulista. Instituto de Biociências. Departamento de Educação Física. Rio Claro, São Paulo.
2006.

11. Neto, V. F. S. Análise dos gols marcados pela seleção brasileira de futebol nas eliminatórias
da copa do mundo de 2018. Monografia. Universidade Federal do Ceará. Instituto de Educação
Física e Esportes. Curso de Educação Física. Fortaleza, Ceará. 2018.

12. Redondo, M. P. J. Análise das transições ofensivas na última etapa de formação no futebol.
Estudo no escalão de Sub-19. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto
e Educação Física da Universidade de Coimbra. Portugal. 2016.

13. Santos, F. J. L. et al. Análise complementar do gol no futebol através de análise notacional,
análise sequencial e deteção de T-PATTERNS. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São
Paulo. v.9. n.34. p.238-249. ISSN 1984-4956. Set./Out./Nov./Dez. 2017.

201
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
13
Composição corporal de goleiros das
categorias de base da elite do futebol
mineiro

Elano Silva de Magalhães Berto

Flavia Costa Oliveira Magalhães

Artigo original publicado em: 2014


Revista Brasileira de Futsal e Futebol - ISSN 1984-4956.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210705525
RESUMO

Objetivo: Comparar e descrever o percentual de gordura (%G) de atletas praticantes de


futebol de campo, posição goleiro, das categorias de base da elite do futebol mineiro,
segundo a idade cronológica e os clubes que representam. Materiais e Métodos: A amos-
tra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas categorias: sub-14
(n=9), sub-15 (n=9), sub-17 (n=9) e sub-20 (n=9). Foram realizadas avaliações antro-
pométricas para obtenção da idade, peso, IMC, estatura e %G, sendo a última como
objetivo principal do estudo. Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias
de %G dos goleiros. Para efeito de interpretação, foi adotado o nível de significância
de p≤0,05. Resultados: Os goleiros não apresentaram diferença estatisticamente sig-
nificativa quando comparados por categorias. Discussão: Para que os jovens atletas
conquistem um bom desempenho na prática esportiva, como o futebol, é importante ter
um bom desenvolvimento físico. Conclusão: A preparação física nos esportes coletivos
de alto rendimento é elaborada conforme função tática do atleta. Para a função goleiro
o %G não é tão criterioso quanto para outras posições do campo. Contudo, é preciso
estar apto a conseguir executar com precisão suas tarefas em campo. Percebe-se que
há uma preferência na seleção de atletas com menor %G. Nos clubes avaliados essa
característica foi homogênea.

Pa l av r a s - c h ave: Futeb ol, A ntro p ometr ia , C om p os i ç ão C or p oral, Perc entual de


Gordura Corporal.

203
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

A primeira manifestação da prática de futebol no Brasil registrada foi em 1894. O es-


tudante brasileiro Charles Miller retornou da Inglaterra com a intenção de ensinar aos brasi-
leiros tudo que aprendera durante o período em que permaneceu no país europeu. Charles
Miller trouxe junto de sua bagagem duas bolas de couro, um par de chuteiras, camisas e
calções (Mattos, 2002).
O futebol, esporte mais democrático entre todas as modalidades esportivas em todo
o mundo, teve seu início no mesmo ano que o primeiro presidente civil no Brasil tomava
posse – Prudente de Moraes (Witter, 2003).
Joel Rufino dos Santos (1981) declara que desde os primórdios já se observava uma
segregação racial, importante fator à adesão e popularização desse esporte:
O cuidado que os primeiros clubes tiveram ao recrutar estes tapa-buracos é curioso:
não podia ser preto, naturalmente; nem procurado pela polícia. Mulatos serviam desde
que fossem excepcionais com a bola no pé (e como o célebre Carlos Alberto, pudessem
embranquecer com pó de arroz). Ali! Uma coisa importante: tinham que jogar à europeia,
repetindo os movimentos e jogadas ensinadas pelos folhetos ingleses que se vendiam junto
com o material de jogo.
O futebol conquistou imensurável importância na sociedade brasileira. A modalidade,
portanto, foi logo aceita pela nossa população e ganhou adeptos por todo o país, tornando-se,
consequentemente, uma paixão nacional e recebendo a marca de “esporte das multidões”
(Gonçalves e Nogueira, 2006).
Os anos 1930 a 1940, período do Estado Novo, são marcados pela transição dessa
modalidade, com a sedimentação de uma organização profissional, ainda que, guardando
fortes resquícios de amadorismo (Helal, 1997).
O ano de 1950 é um divisor de águas para o futebol, tanto por ser o momento da
retomada do campeonato mundial, depois da Segunda Guerra Mundial, como por ele ser
disputado no Brasil. A derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo fez com que novos
paradigmas fossem impostos.
O Brasil do futebol-arte, democrático e popular passa, nesse momento, por profissio-
nalização e reconhecimento internacional. Futebol e TV fizeram um casamento perfeito e
foi o maior aliado nesse processo. O futebol aparece como projeto familiar, ou seja, uma
atividade conscientemente escolhida (Velho, 1999) e vinculada aos desejos familiares que
um de seus membros possa crescer e alavancar a vida familiar a patamares superiores de
conforto e tranquilidade (Rial, 2006; Torri, Albino e Vaz, 2007).
A partir da derrota do Brasil na copa do Mundo de 1966, realizada na Inglaterra, sur-
ge à preocupação pedagógica em gerir e controlar os hábitos dos jogadores de futebol
204
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
brasileiros. Os treinadores e mídia relatam que o fator primordial da derrota foi o preparo
físico insuficiente e os maus hábitos, vícios e hedonismos dos nossos jogadores.
Essa premente necessidade de combater vícios, tirar os defeitos dos jogadores e
consertar insuficiências é transmitida à criação de categorias de base pelas quais o jogador
jovem que pretende à profissão de atleta deve percorrer (Florenzano, 1998).
Com a modernidade e o desenvolvimento científico o treinamento esportivo passa a
ter um aspecto relevante. É necessário operacionalizar o corpo, tornar possível a alta per-
formance desportiva.
Para que um atleta tenha a possibilidade de atingir o alto desempenho esportivo, seja
em uma modalidade coletiva ou individual, é necessário que durante o seu processo de
formação haja uma preparação específica e planejada, que possibilite uma interação entre
diferentes aspectos, dentre eles: tamanho, forma e estrutura corporal (Williams e Reilly,
2000; Pain e Harwood, 2007).
Contudo, ainda se pergunta qual é o perfil ideal de atleta para ocupar determinada
posição no campo. Segundo McArdle, Katch e Katch (2003), o biótipo do atleta está direta-
mente relacionado com sua capacidade de produção desportiva.
Considerando-se a composição corporal como uma valiosa ferramenta de trabalho
capaz de estimar e quantificar inúmeros fatores de risco à saúde (Petroski e Pires-Neto,
1995), utilizar-se-á dessa variável como a principal referência para identificar alteração no
perfil antropométrico entre as três equipes avaliadas e verificar qual o nível de significância
dessas alterações.
Para Filardo e Neto (2001), os valores da composição corporal são capazes de infor-
mar com certa facilidade e relativa precisão a capacidade física e o atual estado de saúde
do indivíduo. O padrão mínimo do %G para homens é próximo de 6% do peso corporal
(Mcardle, Katch e Katch, 2003).
Conforme sugerem Pollock e Wilmore (2003), tanto para homens e mulheres, respectiva-
mente, a massa de gordura não deve exceder valores entre 20% e 27% do peso corporal total.
De acordo com Prado e colaboradores (2006): ‘A avaliação e a determinação das
características antropométricas (estatura, massa corporal e composição corporal) se faz
essencial para o sucesso de uma equipe não só durante um jogo, mas durante toda a tem-
porada, visto que tais informações podem e devem ser utilizadas pelo treinador para mudar
a função do jogador ou até mesmo mudar a forma tática de toda equipe, com objetivo de
maximizar o desempenho, uma vez que cada posição apresenta características peculiares’.
Para o sucesso de um time é essencial que os goleiros possuam uma estatura privi-
legiada, visto que estes executam um maior número de saltos verticais e, assim, possuem
maiores chances de sucesso.
205
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Em relação à massa corporal, os goleiros mostraram-se mais pesados que as demais
posições do campo. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por diversos autores,
em diversos países, que também obtiveram as mesmas respostas.
O comportamento desta variável parece explicar em parte, além do papel específico
desses atletas, as menores distâncias percorridas por estes durante uma partida.
Após estudo de revisão bibliográfica, constata-se certa carência de publicações en-
volvendo goleiros de futebol.
O presente estudo tem como objetivo, portanto, verificar a composição corporal dos
goleiros pertencentes às categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol
de campo e analisar por categorias, por clube e o grupo como um todo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este é um estudo retrospectivo, descritivo, não randomizado. O mesmo foi realizado com
goleiros que pertencem às categorias de base de três clubes filiados à Federação Mineira
de Futebol (FMF). Suas equipes profissionais disputam competições nacionais e interna-
cionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Confederação
Sul-Americana de Futebol (CSF).
Os atletas após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação
e procedimentos aos quais seriam submetidos concordaram em participar de maneira vo-
luntária do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
estabelecido pelo Conselho Nacional da Saúde (Resolução 196/96 - IV) envolvendo pes-
quisas com seres humanos.

Amostra

A amostra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas categorias:
pré-infantil (sub-14) (n=9), infantil (sub-15) (n=9), juvenil (sub-17) (n=9) e júnior (sub-20) (n=9).

Procedimentos

Para efeito de pesquisa os clubes foram nomeados em: clube “A”, clube “B” e clube
“C”. Foram coletados os dados de três atletas da referida posição por categoria, por clube,
baseando-se na ordem de titularidade, primeiro, segundo e terceiro goleiro. A ordem de titu-
laridade foi informada pelas equipes. Atletas que se encontravam no departamento médico
também foram avaliados.
A coleta de dados foi realizada dentro das instalações dos departamentos de futebol
de base de cada clube, em dias e horários determinados. Foram realizadas avaliações
206
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
antropométricas para obtenção da idade, peso, IMC, %G e estatura, sendo o %G o objetivo
principal desse estudo. No momento da avaliação os atletas seguiram as seguintes reco-
mendações: estar sem calçado e trajando shorts (Filho, 2003).
Para análise da avaliação antropométrica e da composição corporal, os sujeitos foram
submetidos às seguintes variáveis: (I) massa corporal (MC) total em (Kg) e estatura em metros
(m), para cálculo do IMC (índice de massa corporal) razão entre peso corporal e quadrado
da estatura, kg/m², para estas medidas utilizou-se uma balança mecânica com estadiômetro
acoplado, da marca Filizola® 23005 com precisão de 100 gramas, capacidade de 150 quilos
e estadiômetro de 2 metros; (II) medidas de dobras cutâneas, para cálculo percentual de
gordura (%G), empregou-se para tal, o plicômetro da marca Lange®, para medida de dobras
cutâneas, em nove regiões do corpo: tríceps, bíceps, peitoral, subescapular, axilar média,
supra-ilíaca, abdominal, coxa e panturrilha, para o cálculo da estimativa da densidade cor-
poral (DC) usou-se o somatório de sete dobras cutâneas propostas por Jackson e Pollock
para homens. Os valores foram convertidos em %G utilizando a equação proposta por Siri
em 1961 (Filho, 2003).

Análise estatística

Os dados foram processados e analisados por meio do programa Stata versão 11.2
(StataCorp LP). Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias do %G dos golei-
ros. Foi feita uma estatística descritiva composta por média e desvio padrão, valores mínimos
e máximos. Para efeito de interpretação, foi adotado o nível de significância de p≤0,05.

RESULTADOS

Seguem, na Tabela 1, as características antropométricas dos voluntários do presente


estudo. Valores em média e desvio padrão.
A Tabela 2 - apresenta os valores encontrados para variável percentual de gordura
(%G) dos goleiros das categorias de base dos clubes “A”, “B” e “C”. Observa-se que não
houve diferença estatisticamente significativa (p≤0,05).

Tabela 1. Características antropométricas dos goleiros participantes do estudo.

n Idade (anos) Peso (Kg) IMC Estatura (M)


36 16,06 ± 1,8 77,23 ± 9,3 22,42 ± 2,1 1,85 ± 0,05

207
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Percentual de gordura (%G) por categoria dos goleiros avaliados dos clubes “A”, “B” e “C”.

Categoria n Média DP
Pré-infantil (Sub-14) 9 11,1 ± 2,47
Infantil (Sub-15) 9 12,8 ± 2,29
Juvenil (Sub-17) 9 12,3 ± 2,54
Júnior (Sub-20) 9 10,6 ± 2,70
p
Pré-infantil x Infantil 0,143
Pré-infantil x Juvenil 0,394
Pré-Infantil x Júnior 0,746
Infantil x Juvenil 0,731
Infantil x Júnior 0,143
Juvenil x Júnior 0,183
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.

Tabela 3. Percentual de gordura (%G) dos goleiros avaliados por clube.

Clube n Média DP
“A” 12 11,4 ± 2,92
“B” 12 12,3 ± 2,42
“C” 12 11,3 ± 2,41
p
AxB 0,408
AxC 0,967
BxC 0,075
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.

Tabela 4. Percentual de Gordura (%G) dos goleiros participantes do estudo.


n Média DP
36 11,7 ± 2,56
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.

A Tabela 3 apresenta os valores encontrados para variável percentual de gordura (%G)


dos goleiros por clube. A diferença das médias do (%G) dos goleiros dos clubes “A”, “B” e
“C” não é estatisticamente significativa para um α de p≤ 0,05.
A média da variável percentual de gordura (%G) dos goleiros das categorias de base
dos três clubes participantes do estudo está apresentada na Tabela 4.

DISCUSSÃO

Esse estudo teve como objetivo, portanto, verificar a composição corporal dos goleiros
pertencentes às categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo
e analisar por categorias, por clube e o grupo como um todo.
O perfil antropométrico juntamente com a variável %G dos goleiros dos clubes es-
tudados pode ser caracterizado por sua homogeneidade, conforme demonstrado nas ta-
belas 1, 2, 3 e 4.
208
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Os parâmetros de antropometria e composição corporal são importantes na regulação
das modificações promovidas pelo treinamento. O IMC é atualmente um dos indicadores an-
tropométricos mais abordados na avaliação nutricional de um grupo populacional (Rezende,
Rosado, Franceschinni, 2007).
Entretanto o mesmo apresenta baixa sensibilidade para detectar indivíduos com ex-
cesso de gordura corporal. Além disso, os pontos de corte aplicados para o IMC são para
uma faixa etária muito larga (Rezende, Rosado, Franceschinni, 2007).
É importante admitir que o aumento de gordura corporal possa levar ao acréscimo de
peso corpóreo e, portanto, do IMC (Gomes, Anjos, Vasconcelos, 2010).
Porém, o inverso não é verdadeiro, pois o incremento de peso corporal pode relacio-
nar-se ao aumento de massa magra (isenta de gordura), densidade óssea e volume de água
corporal dos atletas (Guedes, 2006).
A coleta das dobras cutâneas para avaliação dessa composição nesse estudo foi
alicerçada na disposição da gordura ao longo do corpo, localizadas principalmente no sub-
cutâneo e distribuídas de forma variada no indivíduo. Portanto, foram coletadas nove pregas
cutâneas e analisadas sete dessas (Guedes, 2006).
A tabela 1 apresenta as características antropométricas da população estudada. Cabe
ressaltar que o estudo foi realizado com goleiros praticantes da modalidade futebol de campo
e pertencentes às categorias de base dos três maiores clubes do estado de Minas Gerais.
Apresentando um quadro atual e fidedigno da amostragem.
Embora tenha aumentado o número de estudos, principalmente para os futebolistas,
é difícil determinar níveis exatos de percentual de gordura para esportistas. Sabe-se que o
excesso de gordura irá exigir um maior dispêndio energético para a realização das diversas
tarefas em um jogo, prejudicando, possivelmente, uma melhor performance do jogador
(Ribeiro e colaboradores, 2011).
Os grupos analisados apresentam características homogêneas em relação ao %G.
A tabela 2 mostrou que os valores de percentual de gordura obtidos pelos jogadores
deste trabalho ficaram dentro dos parâmetros aceitáveis para o alto nível. Pesquisas com
jogadores brasileiros apontam %G entre 6,5 e 12,7% (Fonseca e colaboradores, 2008; Ribeiro
e colaboradores, 2007); com jogadores portugueses, variando de 10,3% a 12,6% (Ribeiro
e colaboradores, 2011); com jogadores do futebol da Islândia, média de 9,9%; e no futebol
do Leste Europeu, média de 10,8% (Ribeiro e colaboradores, 2011).
A tabela 3 também demonstra que o %G apresentados por clube também ficaram
dentro dos parâmetros aceitáveis para o alto nível. O teste t revela que não houve diferença
estatisticamente significativa entre as equipes, corroborando com os achados da literatura.

209
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Na tabela 4 a média do %G do grupo como um todo se mantém em conformidade com
o padrão nacional e internacional.
Segundo Lopes e Neto (1996), as equações de Jackson & Pollock (Martins, 2001) e
Siri (Filho, 2003), descrevem respectivamente, densidade corporal e %G e são amplamente
utilizadas nos estudos científicos (Filho, 2003). Há poucas equações propostas para predizer
os valores de composição corporal em crianças e adolescentes e algumas dessas superes-
timam a gordura corporal em crianças e adolescentes até 17 anos (Lopes e Neto, 1996).
De acordo com os resultados apresentados, pode-se concluir que as características
antropométricas dos jogadores de base das três equipes do futebol mineiro estão dentro
dos padrões aceitáveis para os jogadores profissionais.

CONCLUSÃO

Os resultados do estudo permitem concluir que não houve diferença significante para o
percentual de gordura entre os atletas conforme suas idades e clubes, provavelmente pelo
número limitado da amostra.
Percebe-se que os clubes avaliados apresentam características homogêneas em re-
lação ao %G dos goleiros. O grupo apresentou um baixo percentual de gordura, sendo
satisfatório em comparação com outros estudos, logo permite uma menor demanda fisio-
lógica nos treinos e competições, já que o futebol é um esporte onde a massa corporal é
movida no espaço.
A avaliação antropométrica e da composição corporal revelam a importância da utili-
zação destes dados para escolha da modalidade esportiva, seleção de talentos, prescrição
e monitoramento de treinamentos e auxílio aos treinadores para mudanças na posição dos
jogadores em campo.
Percebe-se que, apesar do crescente número de atletas e trabalhos relacionados ao
futebol, este espaço ainda é vago em se tratando de goleiros. São necessárias coletas de
mais dados para detectar alterações na composição corporal e no desempenho dos atletas.

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212
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
14
Análise quantitativa das ações do
goleiro de futebol

Elano Silva de Magalhães Berto

Flávia Costa Oliveira Magalhães

Artigo original publicado em: 2017


Revista Brasileira de Futsal e Futebol - ISSN 1984-4956.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210705550
RESUMO

O scout é uma ferramenta capaz de relatar aos membros da comissão técnica os prin-
cipais acontecimentos técnico-táticos de uma partida de futebol. Através da análise
estatística dos resultados é possível obter informações interessantes capazes de de-
linear quais as demandas técnicas devem ser priorizadas nos treinamentos. Objetivo:
Identificar e quantificar as principais ações e/ou intervenções do goleiro em partidas
oficiais. Comparar essas ações por jogos e verificar a sua representatividade. Materiais
e Métodos: Foram coletados os dados dos 20 jogos do campeonato estadual que cor-
responderam à participação de goleiros de uma equipe de futebol masculino com idade
de até 15 anos. Um modelo de scout foi desenvolvido exclusivamente para o preenchi-
mento das informações. A coleta de dados foi realizada em tempo real durante os jogos.
Resultados: Defesas (16,06%), saídas de gol (17,34%), reposição de bola (36,19%),
goleiro linha (30,41%). A quantificação do total de defesas foi significativamente inferior
às reposições de bola (p=0,0001) e ao jogo com os pés (p=0,0024), quando compara-
dos. Na comparação entre defesas x demais ações nos jogos considerados como clássico
estadual somente as ações que englobam reposição de bola apresentaram diferença
estatisticamente significativa (p=0,005). Conclusão: Percebe-se que as ações do goleiro
variam de acordo com as exigências da partida. O número de defesas foi estatistica-
mente inferior durante todo o campeonato e, em clássicos, somente para as reposições
de bola. De acordo com o nível de dificuldade dos adversários e a homogeneidade das
equipes o condicionamento em realizar defesas passa a ser essencial. Os resultados do
estudo permitem concluir que o goleiro precisa ser completo.

Palavras-chave: Ações, Goleiro, Representatividade, Scout.

214
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é um fenômeno de impacto social mundialmente constatado (Teoldo,


Guilherme e Garganta, 2015).
A modalidade é considerada como a paixão nacional dos brasileiros e recebe a marca
de esporte das multidões (Berto e Magalhães, 2014a).
Talvez por isso, nos bastidores, as exigências de especialização por parte de todos
os envolvidos são cada vez maiores. A incessante busca pelo refinado conhecimento é ca-
racterizado pela devoção de treinadores e colaboradores a aperfeiçoar o desempenho de
seus atletas (Teoldo, Guilherme e Garganta, 2015).
Atualmente o treinamento de uma equipe é estruturado por métodos e modelos cien-
tificamente validados (Borresen e Lambert, 2009).
O sucesso de um atleta é atribuído por uma resultante multifatorial. Os diferentes com-
ponentes do jogo: físico, técnico, tático e emocional, quando extraídos de forma inteligente,
influenciam positivamente no resultado de uma partida (Quintão e colaboradores, 2013).
Entretanto, existe uma posição na equipe de futebol que necessita de atenção diferente
dos demais atletas (Berto, Magalhães, 2014b; Carlesso, 1981; Gallo e colaboradores, 2010).
Enquanto o objetivo do jogo é marcar gols, o goleiro tem como missão evitá-los.
A difícil missão de evitar os gols da equipe adversária durante a partida exige condições
especiais do atleta que irá ocupar a posição (Carlesso, 1981).
Devido ao seu alto componente decisivo (Moino, 2011), o goleiro se destaca, tanto
quando realiza ações com perfeição, tanto quando aos seus erros. Em determinados lances
da partida pode ser a consumação de uma vitória ou até mesmo a derrota.
Sabendo que o goleiro necessita de capacidades condicionantes e coordenativas,
capacidades físicas e técnicas específicas (Domingues, 1997), o treinador de goleiros pre-
cisa ficar atento aos detalhes que caracterizam a evolução desse atleta. De acordo com
(Drubscky, 2014), existe um consenso na comunidade do futebol para que esses atletas
recebam treinamentos específicos e apropriados. A estruturação do treinamento deve res-
peitar os princípios do treinamento esportivo (Weineck, 2003).
Com a modernização do futebol, os treinamentos dos jogadores de linha passaram
a ser mais dinâmicos e o treinamento de goleiros deve seguir a mesma tendência. Nesse
contexto, o goleiro passou a ter uma função tática de destaque no setor defensivo.
Atuar como líbero e opção extra de referência para as coberturas, exigem do goleiro
uma inteligência tática. O técnico da equipe deverá orientá-lo de acordo com o seu modelo
de jogo. Adaptá-los a jogar com os pés e em funções ousadas fora da área penal é uma
questão de muitos treinamentos (Drubscky, 2014).

215
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, é importante ressaltar que não se pode avaliar um goleiro somente pelos seus
atributos de jogar fora da área ou com os pés, respectivamente. Os principais elementos
técnicos de um goleiro ainda são o jogo com as mãos e a capacidade de realizar saídas de
gol (Drubscky, 2014).
De acordo com achados na literatura Carlesso (1981), Gonçalves e Nogueira (2006)
e Moino (2011) as principais ações defensivas que o goleiro deve dominar são: a pegada
alta no meio, a pegada na altura do peito, o encaixe, a defesa rasteira no meio, a defesa
rasteira nas laterais, a defesa quicando no meio, a defesa quicando nas laterais, a defesa
à meia altura nas laterais, a defesa alta no meio, a defesa alta nas laterais, as saídas nos
cruzamentos e a penalidade.
Para condicionar um atleta a realizar as diversas funções supracitadas, além da ex-
periência pessoal do treinador de goleiros, utiliza-se de recursos como a filmagem de jogos
e treinos (Drubscky, 2014), scouts das partidas (Neto, 2010) (Vendite e colaboradores,
2005), entre outros.
Os registros dos dados de monitoramento de uma partida são denominados de scout
(Neto, 2010). A palavra de origem inglesa (inspecionar ou observar), também pode ser de-
finida como o mapa técnico-tático de uma equipe (Maestri, 2010; Neto, 2010).
Existem modelos de scout em que a finalidade é registrar os acertos e erros de funda-
mento do atleta, totalizando-os (Maestri, 2010).
No futebol brasileiro, diferente de modalidades esportivas como vôlei e basquete, o
uso do scout ainda é recente (Neto, 2010). Segundo Leitão (2001) e Vendite e colaborado-
res (2003), devido à grande concorrência entre os clubes, estudos dessa proporção torna-
ram-se necessários.
O scout é uma ferramenta capaz de relatar aos membros da comissão técnica os princi-
pais acontecimentos técnico-táticos de uma partida de futebol (Vendite e colaboradores, 2003).
O intuito da análise é verificar se a realidade dos jogos está de acordo com o plane-
jado ou não. Através da análise estatística dos resultados é possível obter informações
interessantes capazes de delinear quais as demandas técnicas devem ser priorizadas nos
treinamentos (Vendite e colaboradores, 2003).
Após estudo de revisão, constata-se que publicações envolvendo o goleiro de futebol
são escassas. A carência de estudos dificulta aos pesquisadores, bem como aos profissionais
envolvidos nessa modalidade, o acesso a dados sobre esse atleta. A falta de publicações
releva a importância desse estudo.
Devido a isso o objetivo foi identificar e quantificar as principais ações e/ou interven-
ções do goleiro em partidas oficiais. Comparar essas ações por jogos e verificar a sua
representatividade.
216
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra

Foram coletados os dados dos 20 jogos do campeonato estadual que corresponderam


à participação de goleiros de uma equipe de futebol masculino com idade de até 15 anos.
O campeonato é organizado pela Federação Mineira de Futebol (FMF) e a equipe
profissional do clube estudado participa de competições nacionais e internacionais organi-
zadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Confederação Sul- Americana
de Futebol (CSF).

Procedimentos

Um modelo de scout foi desenvolvido exclusivamente para o preenchimento das in-


formações (Figura 1).

Figura 1. Análise das ações do goleiro durante o jogo.

Observação: As colunas podem ser ajustadas de acordo com o tempo das partidas. Podendo ser formatado em primeiro e
segundo ou tempos corridos.

A coleta de dados foi realizada em tempo real durante os jogos. Ao término da partida
os dados eram repassados para uma planilha do software Microsoft Office Excel versão
2010 para Windows. Posteriormente analisados e armazenados.
As linhas do scout correspondem às ações do goleiro e as colunas ao tempo de
jogo (Figura 1).
As lacunas eram preenchidas de acordo com o tipo de ação e minuto do jogo em que
ocorreu. Dessa maneira, também foi possível quantificar o tempo de intervalo entre as ações,
porém, essa variável foi irrelevante no presente estudo.
As ações dos goleiros foram classificadas de acordo com os tipos de exigências: de-
fesas (pegada, encaixe, entrada, queda curta rasteira frontal, queda curta rasteira diagonal,
217
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
queda curta meia altura frontal, queda curta meia altura diagonal, salto no canto bola rasteira,
salto no canto bola meia altura, salto no canto bola alta, recuperação encobrindo frontal,
recuperação encobrindo diagonal), saídas de gol (frontal rasteira, frontal média, frontal alta,
cruzamento, escanteio, antecipação no abafo, enfrentamento 1x1), reposições (com as mãos
bola curta, com as mãos bola longa, com os pés tipo voleio/quebrada, tiro de meta curto, tiro
de meta longo, bola parada curta, bola parada longa), goleiro linha (chutão, passe, domínio
de bola com passe).

Procedimento estatístico

Os dados foram processados e analisados por meio do programa Stata versão 11.2
(StataCorp LP). Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias das ações. Foi
feita uma estatística descritiva e para efeito de interpretação foi adotado o nível de signifi-
cância de p≤0,05.

RESULTADOS

Os resultados obtidos nesse estudo estão apresentados em forma de tabelas.

Tabela 1. Quantificação das ações do campeonato como um todo.

Jogo Defesas Saídas de Gol Reposição Goleiro Linha Total


1 4 0 3 8 15
2 0 6 5 3 14
3 0 1 6 3 10
4 7 2 10 11 30
5 3 3 8 7 21
6 3 1 3 7 14
7 7 5 9 9 30
8 1 2 2 1 6
9 4 4 7 5 20
10 2 1 1 7 11
H1 2 5 5 7 19
H2 5 5 13 4 27
H3 8 3 16 4 31
H4 2 6 13 8 29
H5 4 7 15 4 30
H6 3 7 9 11 30
H7 4 3 5 19 31
H8 10 5 15 3 33
H9 2 11 20 8 41
H10 4 4 4 13 25
TOTAL 75 81 169 142
467
% 16,06 17,34 36,19 30,41
Legenda: A letra H representa hexagonal.

218
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Quantificação das ações referentes aos jogos da fase de grupos.

Jogo Defesas Saídas de Gol Reposição Goleiro Linha Total


1 4 0 3 8 15
2 0 6 5 3 14
3 0 1 6 3 10
4 7 2 10 11 30
5 3 3 8 7 21
6 3 1 3 7 14
7 7 5 9 9 30
8 1 2 2 1 6
9 4 4 7 5 20
10 2 1 1 7 11
Total 31 25 54 61
171
% 18,13 14,62 31,58 35,67

Tabela 3. Quantificação das ações referentes aos jogos do hexagonal final.

Jogo Defesas Saídas de Gol Reposição Goleiro Linha Total


H1 2 5 5 7 19
H2 5 5 13 4 27
H3 8 3 16 4 31
H4 2 6 13 8 29
H5 4 7 15 4 30
H6 3 7 9 11 30
H7 4 3 5 19 31
H8 10 5 15 3 33
H9 2 11 20 8 41
H10 4 4 4 13 25
Total 44 56 115 81
296
% 14,86 18,92 38,85 27,36
Legenda: A letra H representa hexagonal.
Tabela 4. Comparação das ações entre os confrontos (jogos) da primeira fase.

Confronto (Jogos) p Confronto Jogos) p Confronto (Jogos) p


1x2 0,464 2x3 0,256 3x4 0,025*
1x3 0,281 2x4 0,120 3x5 0,005*
1x4 0,021* 2x5 0,177 3x6 0,286
1x5 0,195 2x6 0,500 3x7 0,005*
1x6 0,318 2x7 0,055* 3x8 0,237
1x7 0,021* 2x8 0,080 3x9 0,015*
1x8 0,159 2x9 0,159 3x10 0,452
1x9 0,257 2x10 0,378
1x10 0,126
4x5 0,076 5x6 0,117 6x7 0,008*
4x6 0,023* 5x7 0,018* 6x8 0,133
4x7 0,500 5x8 0,032* 6x9 0,169
4x8 0,034* 5x9 0,380 6x10 0,107
4x9 0,114 5x10 0,103
4x10 0,031*
7x8 0,005* 8x9 0,006* 9x10 0,133
7x9 0,015* 8x10 0,252
7x10 0,016*
Legenda: * p≤0,05.
219
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 5. Comparação das ações entre os confrontos (jogos) do hexagonal final.
Confronto Confronto
p p Confronto (Jogos) p
(Jogos) (Jogos)
1x2 0,228 2x3 0,237 3x4 0,424
1x3 0,217 2x4 0,375 3x5 0,444
1x4 0,134 2x5 0,195 3x6 0,473
1x5 0,190 2x6 0,388 3x7 0,500
1x6 0,017* 2x7 0,425 3x8 0,302
1x7 0,202 2x8 0,169 3x9 0,231
1x8 0,183 2x9 0,109 3x10 0,377
1x9 0,103 2x10 0,135
1x10 0,216
4x5 0,436 5x6 0,500 6x7 0,467
4x6 0,438 5x7 0,482 6x8 0,422
4x7 0,454 5x8 0,352 6x9 0,221
4x8 0,369 5x9 0,092 6x10 0,252
4x9 0,095 5x10 0,390
4x10 0,381
7x8 0,468 8x9 0,295 9x10 0,230
7x9 0,345 8x10 0,343
7x10 0,202
Legenda: * p≤0,05.

Tabela 6. Comparativo entre as ações classificadas como defesas x demais ações (saídas de gol, reposição e goleiro linha).
Comparativo entre ações p
Defesas x Saídas de gol 0,3624
Defesas x Reposição 0,0001*
Defesas x Goleiro linha 0,0024*
Legenda: * p≤0,05.

Tabela 7. Comparativo entre as ações classificadas como defesas x demais ações (saídas de gol, reposição e goleiro linha)
durante os confrontos (jogos) contra adversários considerados como clássico estadual.

Comparativo entre ações p


Defesas x Saídas de gol 0,390
Defesas x Reposição 0,005*
Defesas x Goleiro linha 0,416
Legenda: * p≤0,05.

DISCUSSÃO

O campeonato mineiro de futebol é a principal competição de base do estado de Minas


Gerais. O campeonato conta com a participação de agremiações esportivas da capital e
interior. No ano de 2015 o sistema de disputa foi dividido em duas fases, fase de grupos e
hexagonal final, jogos de ida e volta em ambas às fases. Dezoito equipes participaram da
competição (FMF, 2015).
A especificidade da posição exige dos treinadores de goleiros uma especialização
relativa a essa área de treinamento (Carlesso, 1981).

220
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Para tal atribuição também é necessário conhecer as demandas técnicas de uma
partida (Gallo e colaboradores, 2010; Moino, 2011). É consistente classificar e quantificar
o total dessas ações durante o período de competição, conforme demostrado na tabela 1.
Tratando-se de goleiros, imagina-se que o maior número de intervenções em uma
partida seja realizando defesas. Após classificar e quantificar as ações durante os jogos
podemos sugerir que essa tendência não é verdadeira. Apenas 18,13% das intervenções na
primeira fase exigiram a utilização desse fundamento, tabela 2. Já no hexagonal final esse
número foi ainda menor, 14,86%, tabela 3.
O futebol brasileiro está passando por uma nova revolução tática (Drubscky, 2014;
Mello, 1999). Alguns clubes possuem características culturais que não permitem que os
treinadores implantem determinados sistemas de jogo, já outros clubes, preferem escalar
suas equipes de acordo com os adversários, dessa forma, não possuem um sistema padrão.
Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que durante um campeonato de futebol é
possível verificar os diferentes sistemas de jogo em ação. O clima e as dimensões do campo
também devem ser levados em consideração (Sneyers, 1992; Weineck, 2000). Portanto, em
cada jogo existe uma particularidade, uma história diferente (Drubscky, 2014). Os detalhes
que envolvem cada partida justificam os resultados de estudos semelhantes em que o total
de ações do goleiro apresentou variação de acordo com os fatores supracitados (Gallo e
colaboradores, 2010; Moino, 2011).
A experiência em acompanhar esse tipo de campeonato nos permite dizer que existe
uma significativa diferença técnica entre os participantes. A fase de grupos talvez seja o pe-
ríodo da competição onde melhor se verifica essa diferença. A heterogeneidade das equipes
foi comprovada de acordo com os resultados da tabela 4. Quinze comparações do total de
ações do goleiro durante os jogos da primeira fase apresentaram um α ≤ 0,05.
O hexagonal final foi montado com as duas melhores equipes de cada chave, essa
forma de disputa e o sistema de pontos corridos permitem que somente as melhores equipes
do campeonato briguem pelo título.
Os equilíbrios técnicos e táticos entre as equipes tornaram os jogos mais homogê-
neos. Ao compará-los, somente um jogo apresentou diferença estatisticamente signifi-
cativa, tabela 5.
O baixo número das ações consideradas defesas durante uma partida de futebol pa-
rece ser uma realidade em todas as categorias. A obediência tática e os fortes esquemas
de marcação dificultam a finalização a gol dos jogares de frente (Drubscky, 2014; Mayer,
1996; Mello, 1999).

221
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
É preciso ficar atento a um importante detalhe: sabendo-se que o número de defesas
pode variar de acordo com a qualidade técnica do adversário (Moino, 2011), durante o jogo
os goleiros poderão vivenciar situações contrárias.
Enquanto o goleiro da equipe mais forte será pouco exigido, o outro defensor será
obrigado a realizar um número maior de intervenções. Diante desse fato os scouts de cada
equipe irão apresentar realidades distintas. Salientamos que os dados coletados foram de
goleiros pertencentes a um clube de elite nacional, validando os números aqui apresentados.
Uma particularidade do presente estudo é em relação ao modelo de scout utilizado.
Foram registradas somente as bolas que atingiram à meta, bolas chutadas pela linha de
fundo não foram computadas. Não foi coletado o total de chutes a gol efetivamente.
Parece estar claro que a utilização das diferentes ações do goleiro em campo: defe-
sas, saídas de gol, reposições e jogo com os pés, variam de acordo com as exigências da
partida. Entretanto, defender sempre foi à marca registrada dos goleiros (Carlesso, 1981).
Na tabela 6 está apresentado o comparativo das ações durante todo o campeona-
to. A representatividade das ações é controversa aos parâmetros que não enfatizam as
outras ações com a mesma importância ao ato de realizar defesas.
A quantificação do total de defesas foi significativamente inferior às reposições de bola
e ao jogo com os pés, quando comparados.
Por último, comparamos as ações dos jogos contra os adversários considerados como
clássico estadual (tabela 7) (Oliveira, 2012; Ribeiro, 2007).
Jogar contra clubes da elite pode oferecer dados próximos da realidade do âmbito na-
cional, norteando os trabalhos dos treinadores de goleiros e demais membros da comissão.
Hipoteticamente foram os jogos H3, H5, H6 e H8.
Os resultados do último comparativo corroboram que o atleta de alto rendimento precisa
saber e estar preparado para realizar seus fundamentos no momento em que é solicitado
(Ataíde e colaboradores, 2015; Weineck, 2003).
Quando comparadas, somente as ações que englobam reposição de bola apresentaram
diferença estatisticamente significativa (p=0,005).
O ato de repor a bola em jogo é uma característica subsequente às outras ações.
Talvez esse seja o principal fator contribuinte para a superioridade numérica dessa variável.

CONCLUSÃO

O referido estudo identificou e quantificou as principais ações e/ou intervenções do


goleiro em partidas oficiais.
Comparou essas ações por jogos e verificou a sua representatividade.
Percebe-se que as ações do goleiro variam de acordo com as exigências da partida.
222
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
As reposições de bola apresentaram valores superiores às demais ações por se tratar
de uma característica subsequente às demais.
O número de defesas foi estatisticamente inferior durante todo o campeonato e, em
clássicos, somente para as reposições de bola.
A participação do goleiro em jogos oficiais não é somente o ato de realizar defesas.
Os números evidenciaram a difusão do jogo com os pés e as exigências em saídas do gol.
De acordo com o nível de dificuldade dos adversários e a homogeneidade das equipes
o condicionamento em realizar defesas passa a ser essencial.
Os resultados do estudo permitem concluir que o goleiro precisa ser completo.

REFERÊNCIAS
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por goleiros para defender a cobrança de pênalti. Universidade do Futebol. 2015. D i s p o n í -
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3. Berto, E.S.M.; Magalhães, F.C.O. Composição corporal de goleiros das categorias de base da
elite do futebol mineiro. Revista Brasileira de Futsal e Futebol. Vol. 6. Núm. 20. 2014b. p.95-
101. Disponível em: <http://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/vi ew/241/221>

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effect on performance. Sports Medicine. 2009. Vol. 39. Núm. 9. p.779-795.

5. Carlesso, R.A. Manual de Treinamento do Goleiro. Rio de Janeiro. Palestra. 1981

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7. Drubscky, R. Universo Tático do Futebol- escola brasileira. 2ª edição. Belo Horizonte. Ricardo
Drubscky de Campos. 2014.

8. Federação Mineira de Futebol (FMF). Manual de competições e regulamentos. Disponível em


<http://fmf.com.br/competicoes/proxjogod.aspx?d=4>. Acesso em 03/12/2015.

9. Gallo, C.R.; Zamai, C.A.; Vendite, L.; Libardi, C. Análise das ações defensivas e ofensivas,
e perfil metabólico da atividade do goleiro de futebol profissional. Revista da Faculdade de
Educação Física da Unicamp. Campinas. Vol. 8. Núm. 1. 2010. p.16-37

10. C. Análise das ações defensivas e ofensivas, e perfil metabólico da atividade do goleiro de
futebol profissional. Revista da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Campinas. Vol.
8. Núm. 1. 2010. p.16-37.

11. Gonçalves, A.G.; Nogueira, R.M.O.; O Treinamento específico para goleiros de futebol: uma
proposta de macrociclo. Estudos. Goiânia. Vol. 33. Núm. 7/8. 2006. p.531-543.
223
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12. Leitão, R.A.A. Futebol Tático: análises qualitativas como ferramentas de avaliação. Monografia.
Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2001.

13. Maestri, F.S. Scout no futebol: análise de sequências ofensivas em gols no Campeonato
Paulista de Futebol da Série A1 de 2009. Monografia. Universidade Estadual de Campinas.
Campinas. 2010.

14. Mayer, R. Fichas de futbol - 120 juegos de ataque y defensa. Barcelona. Hispano Europea.
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15. Mello, R.S. Sistemas e táticas para futebol. Rio de Janeiro. Sprint; 1999.

16. Moino, G.S. Análise tática da exigência de situações de jogo para goleiros jovens. Revista
Brasileira de Futsal e Futebol. Vol. 3. Núm. 8. 2011. p.127-141. Disponível em: <http://www.
rbff.com.br/index.php/rbff/article/view/106/102>

17. Neto, C.P.F. Análise de scout no futebol: fundamentos técnicos individuais da equipe de fute-
bol do Cruzeiro Esporte Clube no primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2010. Monografia.
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2010.

18. Oliveira, C.E.P. Enciclopédia do América. Belo Horizonte. Carlos Eduardo Paiva de Oliveira.
2012.

19. Quintão, R.C. Custódio, I.J.O. Alves, A.L. Claudino, J.G. Quantificação e comparação da carga
externa de diferentes conteúdos de treinamento específicos do futebol em relação ao jogo, uti-
lizando um GPS com acelerômetro. Revista Brasileia de Futebol. Vol. 6. Núm. 1. 2013. p.3-12.

20. Ribeiro, H.; Almanaque do Cruzeiro. Belo Horizonte. Henrique Ribeiro. 2007.

21. Sneyers, J. Futbol - Manual de entrenamiento. Barcelona. Hispano Europea. 1992.

22. Teoldo, I. Guilherme, J. Garganta, J. Para um futebol jogado com ideias: concepção, treina-
mento e avaliação do desempenho tático de jogadores e equipes. Curitiba. Appris. 2015.

23. Vendite, C.C.; Vendite, L.L.; Moraes, A.C.; Scout no futebol: uma análise estatística. Campinas.
Conexões. 2003.

24. Vendite, C.C.; Vendite, L.L.; Moraes, A.C.; Scout no futebol: uma ferramenta para a imprensa
esportiva. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro. Comunicação
e Esporte. 2005. p.1-10.

25. Weineck, J.E. Futebol total: o treinamento físico no futebol. São Paulo. Phorte. 2000.

26. Weineck, J.E. Treinamento ideal. 9ª edição. São Paulo. Manole. 2003.

224
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
15
A estatura como critério de seleção
na captação e formação do goleiro de
futebol de campo

Elano Silva de Magalhães Berto

Flavia Costa Oliveira Magalhães

Artigo original publicado em: 2014


Revista Brasileira de Futsal e Futebol - ISSN 1984-4956.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210705552
RESUMO

Objetivo: Verificar a estatura dos goleiros pertencentes às categorias de base de clubes


formadores e analisar por categorias, por clube e o grupo como um todo. Materiais e
Métodos: A amostra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas
categorias: pré-infantil (n=9), infantil (n=9), juvenil (n=9) e júnior (n=9). Foram realizadas
avaliações antropométricas para obtenção da idade, peso, IMC, %G e estatura, sendo a
última como objetivo principal do estudo. Utilizou-se o teste t para comparar a diferença
das médias de estatura dos goleiros. Para efeito de interpretação, foi adotado o nível de
significância de p≤0,05. Resultados: Os goleiros da categoria pré-infantil apresentaram
média de estatura com diferença estatisticamente significativa (p≤0,05) quando compa-
rado com os goleiros das categorias Juvenil (p=0,018) e Júnior (p=0,004). A diferença
das médias de estatura dos goleiros dos clubes participantes não apresentou valor es-
tatisticamente significativo. Discussão: As categorias iniciais formam a base do futebol
profissional. Preconiza-se que para alcançar o “estrelato” o atleta deve possuir caracte-
rísticas indicadoras para o desempenho esportivo. Conclusão: Existe uma preferência
em selecionar goleiros de alta estatura. Os clubes avaliados apresentam características
homogêneas em relação à estatura dos goleiros e quando comparada como um todo, a
média da estatura tem valor favorável à prática do futebol profissional.

Palavras-chave: Futebol, Estatura, Goleiro, Formação.

226
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO

O futebol é uma modalidade esportiva que faz parte do cotidiano da população brasileira
(Gonçalves e Nogueira, 2006).
O estudante Charles Miller que retornara da Inglaterra em 1894, trouxe junto de sua
bagagem bolas de couro, um par de chuteiras, camisas e calções. Sua intenção era apre-
sentar e ensinar o futebol aos brasileiros (Mattos, 2002).
O futebol foi aceito e logo caiu no gosto da população, ganhou adeptos por todo o
país, surgiram os primeiros clubes, tornando- se, consequentemente uma paixão nacional.
As crianças do Brasil encontram em uma bola de futebol seu brinquedo favorito, enquan-
to jovens e adultos desfrutam do futebol como forma de lazer, vivenciando o jogo praticado
ou na forma de espetáculos, em estádios ou pela televisão (Gonçalves e Nogueira, 2006).
Na década de 1990, o futebol brasileiro viu-se obrigado a se enquadrar de acordo com
os padrões europeus. O interesse pela mídia fez aumentar a mercantilização dos campeo-
natos e como consequência o interesse dos clubes em formar grandes equipes (Magno
e Barboza, 2007).
Atualmente as categorias de base dos grandes clubes têm como principais objetivos
a formação do jogador para servir a equipe profissional e posteriormente serem vendidos
aos clubes estrangeiros de grande expressão (Cruz, 2012).
A busca pelo perfil ideal de atleta torna cada vez mais seletiva os processos de capta-
ção e formação do jogador de futebol. Muito se pergunta qual é o perfil ideal de atleta para
cada posição no campo.
Segundo Paoli, Silva e Soares (2008), mesmo passando por constantes evoluções, o
futebol ainda não apresenta um modelo considerado eficaz para identificação de jogadores.
Nesse sentido, é comum verificar que clubes formatam o seu próprio método de ava-
liação. Em muitas circunstâncias o talento é caracterizado pelas qualidades físicas, técni-
cas e psicológicas.
Outros apostam no jogador de “porte” ainda jovem, o talento é baseado na estatura e
no desenvolvimento físico (Paoli, Silva e Soares, 2008).
Entretanto, existe uma posição na equipe de futebol que necessita de atenções es-
peciais durante o processo de captação. O goleiro de futebol de campo é um atleta com
objetivos e funções extremamente distintas dos demais jogadores, enquanto a proposta
do jogo é marcar gols, o goleiro tenta evitá-los. A difícil missão de evitar os gols da equipe
adversária durante a partida exigem condições especiais do atleta que irá ocupar a posição
(Carlesso, 1981).
Para Gallo e colaboradores (2010), o goleiro tem responsabilidade e importân-
cia vital em uma equipe, sua atuação poderá influenciar diretamente no resultado do
227
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
jogo. Em determinados lances da partida pode ser a consumação de uma vitória ou até
mesmo a derrota. Dizem que todo time começa com um bom goleiro (Carlesso, 1981).
Contudo, o goleiro necessita de capacidades condicionantes e coordenativas, capa-
cidades físicas e técnicas específicas. O goleiro deve dominar seus fundamentos técnicos
(Domingues, 1997).
Encontrar um atleta capaz de defender uma meta com dimensões de 2,44 (m) de altu-
ra x 7,32 (m) de largura (CBF, 2012) e ainda possuir todas as características e qualidades
citadas não é tarefa fácil para os clubes formadores.
Para McArdle, Katch e Katch (2003), a capacidade de executar tarefas de alto desem-
penho desportivo está relacionada ao biótipo do atleta. As medidas antropométricas devem
estar devidamente adequadas à especificidade da função que o atleta ocupa na equipe
(Prado e colaboradores, 2006).
Estudos relatam uma tendência dos goleiros serem os atletas mais altos da equipe
(Gallo e colaboradores, 2010).
Para Voser, Guimarães e Ribeiro (2006), a estatura ideal do goleiro deve ser entre 1,85
(m) até 1,95 (m). Um estudo realizado com dados da copa do mundo de futebol da Alemanha,
no ano de 2006, relata que estiveram presentes 96 goleiros de diversas seleções, sendo
que a média de estatura foi de 1,88 (m) (Gallo e colaboradores, 2010).
Em algumas modalidades esportivas a estatura parece estar ligada diretamente ao
sucesso dos atletas, principalmente no futebol, onde em determinadas posições do campo
essa variável é de suma importância (Penna e colaboradores, 2012).
A estatura é uma variável que está ligada às fases de maturação do adolescente. A ado-
lescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o período que compreende
a faixa etária entre 10 e 19 anos. É nesse período que os jovens apresentam características
sexuais secundárias, ganho acelerado de peso e estatura (Silva, Teixeira e Goldberg, 2003).
Nesse sentido, considerando a estatura como ferramenta importante no processo de
seleção esportiva, a idade cronológica não é reconhecida como indicador temporal adequado,
sabe-se que às modificações promovidas pela maturação podem acontecer em períodos
diferentes em indivíduos do mesmo grupo etário (Silva, Teixeira e Goldberg, 2003).
Para Carvalho e colaboradores (2010), o desenvolvimento ósseo é uma referência
fidedigna na previsão de crescimento dos jovens. A radiografia de mão e punho, a telerra-
diografia de perfil e a radiografia panorâmica dos maxilares são os recursos mais utilizados
pelos médicos especialistas. Após analisar os resultados é possível sugerir a idade fisioló-
gica do paciente.

228
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Talvez o futebol seja a modalidade de esporte coletivo que mais precocemente inicia seu
processo de formação. O modelo ideal de atleta ainda é muito discutido dentro dos clubes, e
curiosamente, o futebol carece de pesquisas científicas relacionadas ao assunto (Cruz, 2012).
Após estudo de revisão bibliográfica, percebe-se que as primeiras publicações sobre
goleiros tiveram início na década de 70 (Carlesso, 1981).
Entretanto, a análise da estatura de praticantes do futebol de alto rendimento é um
tema escasso na literatura (Penna e colaboradores, 2012). A falta de publicações sobre essa
variável releva a importância desse estudo.
O presente estudo tem como objetivo verificar a estatura dos goleiros pertencentes às
categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo e analisar por
categorias, por clube e o grupo como um todo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado com goleiros que pertencem às categorias de base de três clu-
bes filiados à Federação Mineira de Futebol (FMF). Suas equipes profissionais disputam
competições nacionais e internacionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) e pela Confederação Sul- Americana de Futebol (CSF).
Os atletas após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação
e procedimentos aos quais seriam submetidos concordaram em participar de maneira vo-
luntária do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
estabelecido pelo Conselho Nacional da Saúde (Resolução 196/96 - IV) envolvendo pes-
quisas com seres humanos.

Amostra

A amostra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas categorias:
pré-infantil (sub-14) (n=9), infantil (sub-15) (n=9), juvenil (sub-17) (n=9) e júnior (sub-20) (n=9).

Procedimentos

Para efeito de pesquisa os clubes foram nomeados em: clube “A”, clube “B” e clube
“C”. Foram coletados os dados de três atletas da referida posição por categoria, por clube,
baseando-se na ordem de titularidade, primeiro, segundo e terceiro goleiro. A ordem de titu-
laridade foi informada pelas equipes. Atletas que se encontravam no departamento médico
também foram avaliados.
A coleta de dados foi realizada dentro das instalações dos departamentos de futebol
de base de cada clube, em dias e horários determinados. Foram realizadas avaliações
229
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
antropométricas para obtenção da idade, peso, IMC, %G e estatura, sendo a última como
objetivo principal do estudo. No momento da avaliação os atletas seguiram as seguintes
recomendações: estar sem calçado e trajando shorts (Filho, 2003).
A estatura é à distância em linha reta entre a planta dos pés e o ponto mais alto da
cabeça. A aferição foi realizada com o indivíduo em posição ortostática, pés unidos, costas
retas, braços estendidos ao lado do corpo e a cabeça posicionada com o plano de Frankfurt
(Cuppari, 2002).
Utilizou-se uma balança mecânica com estadiômetro acoplado, da marca Filizola®
23005 com precisão de 100 gramas, capacidade de 150 quilos e estadiômetro de 2 metros,
para esta medida (metros), a precisão foi regulada a 0,01 metros.

Análise estatística

Os dados foram processados e analisados por meio do programa Stata versão


11.2 (StataCorp LP). Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias de esta-
tura dos goleiros.
Foi feita uma estatística composta por média e desvio padrão, valores mínimos e má-
ximos. Para efeito de interpretação, foi adotado o nível de significância de p≤0,05.

RESULTADOS

Seguem, na Tabela 1, as características antropométricas dos voluntários do presente


estudo. Valores em média e desvio padrão.
A Tabela 2 apresenta os valores encontrados para variável estatura dos goleiros das
categorias de base dos clubes “A”, “B” e “C”. Observa-se que os goleiros da categoria pré-in-
fantil apresentaram média de estatura com diferença estatisticamente significativa (p≤0,05)
quando comparados com os goleiros das categorias juvenil (p=0,018) e júnior (p=0,004).

Tabela 1. Características antropométricas dos goleiros participantes do estudo.

n Idade (anos) Peso (Kg) IMC Gordura Corporal (%)


36 16,06 ± 1,8 77,23 ± 9,3 22,42 ± 2,1 11,66 ± 2,6

230
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Estatura por categoria dos goleiros avaliados dos clubes “A”, “B” e “C”.

Categoria n Média DP
Pré-infantil (Sub-14) 9 1,81* ± 0,03
Infantil (Sub-15) 9 1,84 ± 0,07
Juvenil (Sub-17) 9 1,88 ± 0,04
Júnior (Sub-20) 9 1,88 ± 0,04
p
Pré-infantil x Infantil 0,199
Pré-infantil x Juvenil 0,018*
Pré-infantil x Júnior 0,004*
Infantil x Juvenil 0,472
Infantil x Júnior 0,306
Juvenil x Júnior 0,558
Legenda: n = Total de indivíduos, DP = Desvio padrão,
*p≤0,05 = diferença estatisticamente significativa na estatu-
ra dos goleiros Pré-infantil quando comparados com Juvenil
(p=0,018) e Júnior (p=0,004).

Tabela 3. Estatura dos goleiros avaliados por clube.

Clube n Média DP
“A” 12 1,83 ± 0,06
“B” 12 1,86 ± 0,06
“C” 12 1,87 ± 0,04
p
AxB 0,377
AxC 0,118
BxC 0,579
Legenda: n=Total de indivíduos, DP = Desvio padrão.

Tabela 4. Estatura dos goleiros dos três clubes participantes do estudo.

n Média DP
36 1,85 ± 0,05
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.

A Tabela 3 apresenta os valores encontrados para variável estatura dos goleiros por
clube. A diferença das médias de estatura dos goleiros dos clubes “A”, “B” e “C” não é es-
tatisticamente significativa para um α de p≤ 0,05.
A média da variável estatura dos goleiros das categorias de base dos três clubes par-
ticipantes do estudo está apresentada na Tabela 4.

DISCUSSÃO

Esse estudo teve como objetivo, portanto, verificar a estatura dos goleiros pertencentes
às categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo e analisar por
categorias, por clube e o grupo como um todo.
O futebol continua passando por transformações (Drubscky, 2003). O jogo exige par-
ticipações coletivas combinadas e treinadas (Forgiarini, Liberali, Almeida, 2010).
231
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Nesse contexto o goleiro se destaca cada vez mais no cenário futebolístico e sua atua-
ção pode ser um alto componente decisivo de uma partida, podendo determinar o sucesso
ou fracasso da equipe (Moino, 2011).
Cada posição em campo exige do atleta características fisiológicas específicas
(Barbanti, 1996).
Segundo Filho (2002), a tipologia física de cada jogador apresenta variações conforme
cada posição no jogo, onde geralmente os goleiros são atletas mais altos do que os joga-
dores de outras posições.
Para os especialistas em treinamento de goleiros, dos clubes estudados, o goleiro alto
leva vantagem em diversas situações de intervenção na partida. Maior cobertura, maior fa-
cilidade para sair do gol em bolas altas lançadas na área e pode chegar mais facilmente em
pontos distantes da meta. No entanto, tem maior dificuldade em defender bolas próximas
do mesmo quando chutadas rasteira.
Ratificando, ainda são poucos os estudos direcionados sobre este atleta. A escas-
sez bibliográfica dificulta o trabalho àquele que queira aprofundar-se neste tema (Piqueras
e Vallet, 2005).
Cabe ressaltar que esta amostragem é composta por 36 goleiros pertencentes às
categorias de base de três grandes clubes do futebol brasileiro, retratando um quadro fide-
digno do estudo. Para Penna e Colaboradores (2012), a categoria de base é o espelho do
esporte profissional.
Com isso, observa-se que no processo de captação e formação do goleiro de futebol
de campo, existe uma tendência em selecionar atletas de maior estatura. Os resultados
corroboram com os estudos que apontam a estatura entre 1,85 (m) e 1,90 (m) como ideal
para o goleiro (Voser, Guimarães e Ribeiro, 2006).
A tabela 1 apresenta as características antropométricas da população estudada. Os va-
lores encontrados são compatíveis com a literatura e estudos referentes a atletas de futebol
de campo (Rosa, 2011).
De acordo com Prado e colaboradores (2006) as características antropométricas são
determinantes para o sucesso de uma equipe. A idade, o peso, o IMC e o %G são variáveis
que interferem no desempenho dos atletas (Rosa, 2011).
A tabela 2 mostrou que a busca por atletas com maturação física mais desenvolvida faz
parte do cotidiano das categorias de base dos clubes estudados. O teste t demonstrou que
a diferença da média de estatura dos goleiros da categoria pré- infantil apresenta diferença
estatisticamente significativa (p≤0,05) quando comparado com goleiros das categorias juvenil
(p=0,018) e júnior (p=0,004). A análise da estatura média de todas as categorias apresentou

232
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
o valor mínimo de 1,81 (m) e máximo de 1,88 (m). Essa tendência também pode ser obser-
vada em outros estudos envolvendo atletas em formação (Penna e colaboradores, 2012).
Logo, parece existir uma unanimidade entre os clubes em selecionar goleiros de alta
estatura. Tal fato pode ser explicado pela necessidade funcional desses jogadores (Ribeiro
e Colaboradores, 2011). A tabela 3 corrobora com essa tendência ao apresentar valores
médios analisados por clube. O clube “C” apresentou maior média, 1,87 (m).
As categorias iniciais formam a base do futebol profissional. Preconiza-se que para
alcançar o “estrelato” o atleta deve possuir características indicadoras para o desempenho
esportivo. O estado de maturação é uma característica importante, atletas com bom desen-
volvimento físico estão na perspectiva do futebol profissional (Paoli, Silva e Soares, 2008).
O processo de avaliação e formação do jogador de base muitas vezes é feito durante
competições (Paoli, 2007).
Talvez por isso a opção em captar goleiros com estágio maturacional mais avançados.
Com base nos estudos supracitados, observa-se que a média (1,85m) da variável estatura
dos goleiros das categorias de base dos três clubes participantes do estudo são favoráveis
ao nível competitivo (Tabela 4).
A variável estatura ainda será tema de muita discussão no meio futebolístico. Na histó-
ria do futebol moderno existem goleiros considerados baixos que conquistaram seu espaço
entre os “grandalhões”. Jorge Campos (1,73m) goleiro destaque da seleção mexicana na
copa de 1994, Cláudio André Margen Taffarel (1,82m) ídolo nacional na década de 1990,
Victor Valdéz (1,83m) atual goleiro do Football Club Barcelona, Harlei de Menezes (1,82m)
ainda fazendo história no Goiás Esporte Clube, são alguns exemplos.
É hipotetizado aos atletas preteridos por baixa estatura a necessidade de desenvolver
habilidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas capazes de promovê-los ao nível com-
petitivo, auxiliando-lhes no que lhes é desfavorável (Penna e colaboradores, 2012).
Percebe-se a importância de pesquisas longitudinais no processo de investigação
das variáveis favoráveis ao processo de captação e formação do goleiro profissional de
futebol de campo.

CONCLUSÃO

Conclui-se que entre os clubes formadores existe uma preferência em selecionar golei-
ros de alta estatura. Os resultados encontrados sugerem a média de 1,81(m) como estatura
mínima para goleiros pertencentes à categoria pré-infantil (sub-14).
Observa-se que a média de estatura cresce de acordo com a evolução da categoria,
apresentando diferença estatisticamente significativa para goleiros da categoria pré-infantil
quando comparados com goleiros das categorias juvenil (sub-17) e júnior (sub-20).
233
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Percebe-se que os clubes avaliados apresentam características homogêneas em re-
lação à estatura dos goleiros.
De acordo com achados do presente estudo, quando comparada como um todo, a média
da estatura tem valor favorável à prática do futebol profissional. Portanto, a estatura deve
ser usada como importante ferramenta de avaliação no processo de captação e formação
do goleiro de futebol de campo.

REFERÊNCIAS
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235
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
SOBRE O ORGANIZADOR

José Martins Juliano Eustaquio


Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba (MG), 2009. Residência em Ortopedia
e Traumatologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba (MG), 2011-2013. Titulo de Especialista em
Ortopedia e Traumatologia pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), 2014. Especialização em Cirurgia
do Joelho pelo Instituto Biocor, Belo Horizonte (MG), 2014. Título de Especialista em Traumatologia do Esporte pela Sociedade
Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), 2014. Titulo de Especialista em Medicina do Esporte e do Exercício
pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício (SBMEE), 2015. Membro do Departamento Médico do Uberaba
Sport Club, desde 2009. Título de Especialista em Cirurgia do Joelho pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ),
2016. Membro do Corpo Clínico e Preceptor da Residência em Ortopedia e Traumatologia do Hospital Mário Palmério, desde
2015. Coordenador da Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia do Hospital Mário Palmério/ Universidade de Uberaba
(MG), desde 2017. Mestre em Educação Física/ Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (2018-2020). Professor do Curso de Medicina da Universidade de Uberaba (UNIUBE).
Membro do Corpo Editorial da Editora Científica. Ex-membro da Comissão de Ensino e Treinamento da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia/ Regional Minas Gerais. Diretor da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte (2019-
2021). Presidente da Seccional do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia/
Regional Minas Gerais (2019,2021). Presidente do V Congresso Mineiro de Medicina do Exercício e do Esporte (2020)..
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1020508459218713

Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas


ÍNDICE REMISSIVO

Símbolos 225, 226, 229, 234, 235

(des)Construção: 237 G
A Goleiro: 175, 214, 218, 219, 220, 223, 226, 234
Ações: 214, 234
H
Antropometria: 203, 211
Hidratação: 166, 168
Atletas: 132, 133, 137, 187, 206, 211, 229, 234,
235 Humor: 132, 136, 137, 139

B I
Burnout: 132, 137, 141, 150, 151, 152 Instituições: 14, 27, 95

C M
Composição Corporal: 202, 223
Medicina do Esporte: 168
D
O
Desidratação: 157, 159, 166
Odontologia do Esporte: 63
E
P
Educação: 72, 76, 105, 107, 117, 149, 150, 151,
152, 166, 185, 186, 187, 200, 201, 211, 212, Percepção: 170, 177, 178
223, 234
Pesquisa Transdisciplinar: 95
Esportes: 191, 201
Prática: 95, 151, 210, 234
Estatura: 175, 207, 223, 226, 231, 235

Estresse: 131, 132, 137, 139, 140, 141, 144, Prevenção de Lesões: 170, 187
146, 147, 149, 150, 151
R
Exercícios: 91
Representatividade: 214
F
S
Fatores de Risco: 170
Scout: 192, 201, 214, 224
Formação: 116, 226, 234, 235

Futebol: 14, 18, 29, 30, 35, 46, 64, 65, 66, 74,
T
75, 86, 94, 95, 96, 99, 103, 104, 106, 107, 108,
Tomada de Decisão: 188
111, 112, 114, 118, 119, 120, 122, 125, 128, 132,
150, 151, 152, 158, 166, 167, 168, 170, 175,
Trauma: 67
184, 185, 186, 187, 190, 200, 201, 202, 203,
204, 206, 210, 211, 212, 213, 217, 223, 224,

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