Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Medicina Do Esporte: No Futebol
Medicina Do Esporte: No Futebol
(Organizador)
MEDICINA DO ESPORTE
no futebol
Pesquisa e Práticas Contemporâneas
editora
científica digital
JOSÉ MARTINS JULIANO EUSTAQUIO
(Organizador)
MEDICINA DO ESPORTE
no futebol
Pesquisa e Práticas Contemporâneas
1ª EDIÇÃO
editora
científica digital
2021 - GUARUJÁ - SP
editora
científica digital
O conteúdo dos capítulos e seus dados e sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores. É permitido o download e compartilhamento desta obra desde que no formato
Acesso Livre (Open Access) com os créditos atribuídos aos respectivos autores, mas sem a possibilidade
de alteração de nenhuma forma ou utilização para fins comerciais.
Esta obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0
Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).
M489 Medicina do esporte no futebol [livro eletrônico] : pesquisa e práticas contemporâneas / Organizador José Martins Juliano
Eustaquio. – Guarujá, SP: Científica Digital, 2021.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-89826-74-3
DOI 10.37885/978-65-89826-74-3
1. Medicina esportiva. 2. Futebol – Aspectos médicos. I.Eustaquio, José Martins Juliano.
2021
CDD 617.1
Direção Editorial
Reinaldo Cardoso
João Batista Quintela
Editor Científico
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Assistentes Editoriais
Erick Braga Freire
Bianca Moreira
Sandra Cardoso
Bibliotecário
Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422
Jurídico
Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852
editora
científica digital
CONSELHO EDITORIAL
Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras
Robson José de Oliveira Flávio Aparecido De Almeida
Universidade Federal do Piauí, Brasil Faculdade Unida de Vitória, Brasil
editora
científica digital
CONSELHO EDITORIAL
editora
científica digital
CONSELHO EDITORIAL
Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Réia Sílvia Lemos da Costa e Silva Gomes
Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Brasil Universidade Federal do Pará, Brasil
Maria Luzete Costa Cavalcante António Bernardo Mendes de Seiça da Providência Santarém
Universidade Federal do Ceará, Brasil Universidade do Minho, Portugal
editora
científica digital
CONSELHO EDITORIAL
editora
científica digital
APRESENTAÇÃO
Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores, estudantes e pesquisadores
que se destacaram e qualificaram as discussões neste espaço formativo. Resulta, também, de movimentos
interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas
áreas do conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior públicas e privadas de
abrangência nacional. Tem como objetivo trazer conhecimentos científicos e práticos que conectem as
Ciências da Saúde e do Esporte com foco no futebol, através da discussão de temas importantes, alguns
ainda pouco abordados na literatura científica, e expostos nesse livro de forma clara e didática. Agradeço
aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o desenvolvimento e conclusão dessa obra.
Espero também que esta obra sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes e profissionais
que atuem de forma direta ou indireta com a prática do futebol, além de demais interessados pela temática.
' 10.37885/210705501.................................................................................................................................................................................... 13
CAPÍTULO
02
AVALIAÇÃO PRÉ-PARTICIPAÇÃO ESPORTIVA NO FUTEBOL
André Gualberto Jafeth Alves; Carla Tavares Felipe Vieira; Celso Furtado de Azevedo Filho; José Martins Juliano Eustaquio
' 10.37885/210705500.................................................................................................................................................................................. 29
CAPÍTULO
03
PRINCIPAIS LESÕES ORTOPÉDICAS NO FUTEBOL
' 10.37885/210705502...................................................................................................................................................................................45
CAPÍTULO
04
ODONTOLOGIA DO ESPORTE NO FUTEBOL: REVISÃO DA LITERATURA
Cesar Penazzo Lepri; Carla Silva Carvalho; José Martins Juliano Eustaquio
' 10.37885/210705418................................................................................................................................................................................... 63
CAPÍTULO
05
FUTEBOL DE CAMPO E VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA: REVISÃO DA LITERATURA
' 10.37885/210705519.................................................................................................................................................................................... 74
CAPÍTULO
06
LOMBALGIA NO ATLETA DE FUTEBOL
Anderson Alves Dias; Paulo Sérgio Machado Rodrigues; Luis Fernando de Faria; José Martins Juliano Eustaquio
' 10.37885/210705520.................................................................................................................................................................................. 85
SUMÁRIO
CAPÍTULO
07
FUTEBOL BASEADO EM EVIDÊNCIAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA DO ESPORTE NO BRASIL
Cristiano Diniz da Silva; João Gustavo Claudino; Emerson Silami Garcia
' 10.37885/210705542.................................................................................................................................................................................. 94
CAPÍTULO
08
ESTUDO PROSPECTIVO DAS LESÕES MUSCULARES EM TRÊS TEMPORADAS CONSECUTIVAS DO CAMPEONATO
BRASILEIRO DE FUTEBOL
Gabriel Furlan Margato; Edilson Ferreira Andrade Júnior; Paulo Henrique Schmidt Lara; Jorge Roberto Pagura; Moisés Cohen; Gustavo
Gonçalves Arliani
' 10.37885/210303435................................................................................................................................................................................. 118
CAPÍTULO
09
ESTRESSE, HUMOR E BURNOUT: UM ESTUDO SOBRE ATLETAS DO FUTEBOL FEMININO
Igor Malinosqui Rinaldi; Mayra Grava de Moraes; Carlos Eduardo Lopes Verardi
CAPÍTULO
10
NÍVEIS DE CONHECIMENTO E DESIDRATAÇÃO EM JOGADORES JUNIORES DE FUTEBOL
Vanessa Machado Lustosa; Fátima Karina Costa de Araújo; Henrilla Mairla Santos de Morais; Fabiane Araújo Sampaio
' 10.37885/210504580.................................................................................................................................................................................153
CAPÍTULO
11
PERCEPÇÕES DE FUTEBOLISTAS PROFISSIONAIS SOBRE FATORES DE RISCO DE LESÕES E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
UTILIZADAS
Henrique Barbosa Ramos; Styllon Ferreira dos Santos; Danilo Reis Coimbra; Renato Siqueira de Souza; Flávio de Jesus Camilo;
Cristiano Diniz da Silva
' 10.37885/210504677................................................................................................................................................................................. 169
CAPÍTULO
12
TOMADA DE DECISÃO NO FUTEBOL SETE: UMA ANÁLISE SOBRE O ÚLTIMO PASSE E A FINALIZAÇÃO
Guilherme Marinho Alves Duarte
' 10.37885/210705550.................................................................................................................................................................................213
CAPÍTULO
15
A ESTATURA COMO CRITÉRIO DE SELEÇÃO NA CAPTAÇÃO E FORMAÇÃO DO GOLEIRO DE FUTEBOL DE CAMPO
SOBRE O ORGANIZADOR.....................................................................................................................................236
10.37885/210705501
RESUMO
O futebol é uma das modalidades esportivas mais populares em todo o mundo. O grande
número de praticantes, associado às características técnicas e táticas, o tornam sujei-
to a um grande número de lesões. Por isso, é necessário a capacitação contínua dos
profissionais da saúde que atuam como socorristas em partidas de futebol. Além disso,
por uma série de fatores, observa-se na atualidade um aumento do número de lesões
potencialmente mais graves, com destaque para as concussões. Isso tem ocasionado
preocupação não só dos profissionais da saúde, como também das Instituições que
regulamentam a prática do esporte. No futebol profissional, há uma exigência mínima
de recursos materiais e humanos que garantem maior segurança para os competido-
res, algo não observado no futebol amador. A divulgação de conhecimentos básicos
de primeiros socorros é algo extremamente relevante e deve abranger todo o público
envolvido na modalidade.
14
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
O futebol é uma modalidade esportiva com grande potencial para a ocorrência de le-
sões. Essas lesões podem ocorrer tanto por trauma direto, que envolve o contato físico entre
dois corpos, quanto por trauma indireto, que ocorre sem esse contato. Além dessas, existem
também lesões menos comuns, não relacionadas ao mecanismo traumático, causadas por
sobrecarga musculoesquelética (ʻʻoveruseʼʼ).
De uma forma geral, no futebol, as lesões que mais comumente exigem a retirada
do atleta de campo são as de trauma indireto, representadas principalmente pelas lesões
musculares. Já as contusões, que são os traumas diretos entre dois atletas, ocorrem várias
vezes durante um jogo e geralmente não ocasionam maiores preocupações.
Nesse sentido, é importante destacar dois extremos de atendimento no futebol. Quando
um atleta supostamente apresenta uma lesão e em seguida realiza movimentos de uma
forma chamativa, provavelmente o objetivo dele é manipular a situação. Já nas lesões em
que um atleta permanece imóvel no ambiente esportivo, sem esboçar reação de dor e sem
responder aos chamados dos companheiros, provavelmente é uma situação mais grave e
que exige maior atenção e preocupação.
Para quem atua como socorrista em um evento de futebol, principalmente quando é
de forma direta a um time, necessita observar alguns cuidados prévios ao jogo e que po-
dem ajudar na prevenção de lesões e outras intercorrências mais graves. Primeiramente,
é necessário que os atletas retirem todos os adornos, como brincos, alianças, anéis e simi-
lares, antes que iniciem a prática da modalidade. Lesões relacionadas à presença desses
adornos podem ser mais graves e, em último caso, poderão até comprometer a viabilidade
do segmento corporal, como os dedos. Além disso, outra precaução muito importante é a
proibição da utilização de balas ou chicletes concomitantemente à prática esportiva, pelo
risco de comprometimento da via aérea.
Na abordagem ao atleta para atendimento dentro do ambiente esportivo, é sempre im-
portante que o socorrista o aborde na posição ideal, que é com ambos os joelhos apoiados ao
solo (preferencial) ou em posição agachada com um joelho apoiado ao chão (Figura 1). É proi-
bido que esse atendimento seja realizado na posição totalmente agachada, pois não fornece
estabilidade ao socorrista e pode comprometer a segurança do atendimento.
O conhecimento das condutas de primeiros socorros é extremamente importante para
qualquer pessoa que atua em uma partida de futebol, desde membros da comissão técnica
e juízes aos jogadores. O potencial de se realizar um atendimento adequado é muito maior
nos eventos profissionais, devido à presença obrigatória de equipe médica, de ambulância
devidamente equipada e do desfibrilador externo automático (DEA). Em jogos amadores,
geralmente não há profissional de saúde disponível para os atendimentos médicos. Muitas
15
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
vezes, na melhor das hipóteses, o massagista é o único profissional com algum conheci-
mento da área da saúde para realizar os cuidados iniciais a um atleta.
Esse capítulo foi escrito com base nas principais lesões e traumatismos que ocor-
rem no futebol, através de revisão da literatura e da experiência do autor, que apresenta
aproximadamente doze anos de atuação direta como médico do futebol. O objetivo geral
foi descrever, de forma resumida e através de fácil entendimento, as principais lesões e as
condutas necessárias para atuação dos profissionais da saúde na fase aguda do trauma,
dentro de um evento de futebol.
DESENVOLVIMENTO
16
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Como itens básicos para o atendimento de primeiro socorros no evento esportivo,
além do DEA, é necessário no mínimo as presenças de materiais de imobilização (prancha
rígida, blocos rígidos de apoio da cabeça, tirantes laterais, colar cervical, talas flexíveis para
membros, ataduras crepom), curativo (soro fisiológico 0,9%, gazes e compressas estéreis,
atadura crepom, fitas adesivas, touca de natação), auxílio à ventilação (cânula de Guedel,
máscara com ambu, dispositivos de barreira para ventilação), aferição de sinais vitais (es-
figmomanômetro, estetoscópio, oxímetro de pulso) e de crioterapia (nas formas de líquido,
barras, cubos ou spray), além de medicamentos gerais tanto por via oral quanto injetáveis
(principalmente analgésicos, antiinflamatórios, antieméticos, antidiarréicos, produtos hemos-
táticos tópicos, colírios hidratantes, dentre outros) de acordo com o permitido pela regulação
do campeonato e materiais completos para sutura.
1. Concussão
• Características principais
17
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
caracterizada por degenerações neuronais precoces e suas consequentes repercussões
clínicas (HARMON et al., 2013).
• Tratamento
2. Ferimento de face
• Características principais
Os ferimentos em face são muito comuns no futebol, principalmente aqueles que en-
volvem a região do supercílio, causados por traumatismos diretos. Outro local anatômico
comum de acometimento é a região nasal, que evolui com epistaxes de diferentes gravidades.
Nesses casos, é essencial a exclusão de quadros associados de concussão, pois nessas
situações é obrigatório proceder à retirada do atleta de jogo (KRUTSCH et al., 2018).
• Tratamento
• Características principais
Essas são as lesões mais comuns do futebol (LÓPEZ-VALENCIANO et al., 2020). Nessa
categoria incluem desde traumas mais simples e rotineiros, como as lesões musculares, até
traumas de maior gravidade, como as luxações ou fraturas.
As lesões musculares apresentam-se clinicamente com dor localizada em um segmento
corporal, principalmente coxa e perna. No futebol é típico a imagem do atleta que, durante a
fase de contração excêntrica na corrida, palpa a face posterior da coxa, em referência a uma
lesão de isquiotibiais. Atualmente, termos consagrados representativos de lesão muscular,
como distensão e estiramento, estão em desuso, e no lugar deles recomenda-se o emprego
do termo ruptura muscular (parcial ou total) (MUELLER- WOHLFAHRT et al., 2013).
As entorses, caracterizadas por movimentos rotacionais, geralmente estão associa-
das a lesões articulares, principalmente ligamentares. Além disso, esse mecanismo de
trauma, quando acomete segmentos não articulares, pode desencadear fraturas com mor-
fologia em espiral.
As fraturas assumem diferentes quadros clínicos, de acordo com a gravidade da lesão.
Fraturas incompletas podem até passar desapercebidas pelo atleta no momento do jogo, ao
contrário das fraturas completas que, independentemente da região anatômica acometida,
vão ocasionar dor importante, edema e deformidade local.
Já uma das lesões mais graves desse grupo são as luxações, caracterizadas pela perda
da congruência articular. Clinicamente, o atleta apresenta-se com dor de forte intensidade,
deformidade articular e ausência da amplitude de movimento da articulação. As luxações
necessitam de tratamento o mais precoce possível.
• Tratamento
• Características principais
Esse tipo de trauma envolve, na grande maioria das vezes, ferimentos superficiais em
membros ocasionados por traumas diretos com o corpo do oponente, com objetos do opo-
nente (como as chuteiras) ou até objetos estranhos (como vidros, arames, dentre outros) pre-
sentes no ambiente esportivo. Porém, podem estar relacionados a traumas de maior energia,
caracterizados por exposição de tecidos nobres, como tendões, ligamentos, nervos e ossos.
Devido a ferimentos dessa natureza, o socorrista, ao atender um atleta em campo,
deve estar paramentado com luva de procedimento preferencialmente de cor clara, para
que possa realizar a palpação do segmento lesionado e verificar a presença de algum tipo
22
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de sangramento. Essa medida é extremamente importante para o diagnóstico de ferimentos
em locais do corpo de maior dificuldade de visualização direta.
• Tratamento
• Características principais
23
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, de uma forma geral, na presença de uma síncope é sempre necessário descartar
uma situação mais grave, que é a parada cardiorrespiratória (PCR). Para essa circunstância,
exige-se a presença de profissionais habilitados na realização do atendimento.
• Tratamento
No caso em que um jogador apresente uma queda ao solo de forma súbita, sem motivo
traumático aparente e sem reação de proteção na queda, o socorrista deve imediatamente
dirigir-se ao atendimento, independente da autorização pela equipe de arbitragem.
Nas situações em que as características do evento e da prática esportiva sejam su-
gestivas de síncope por hipertermia, após avaliação inicial dos sinais vitais, é necessário a
retirada imediata do atleta da partida e o posicionamento em ambiente ventilado, além de
proceder ao resfriamento imediato (DOUMA et al., 2020), através de imersão em água fria
(em torno de 17°C), de preferência sobre fluxo contínuo, e otimização da hidratação, por via
oral ou endovenosa (LUHRING et al., 2016).
O protocolo de atendimento é realizado com base nas diretrizes de 2020 da American
Heart Association para ressuscitação cardiopulmonar (MERCHANT et al., 2020). Logo no
momento do atendimento, o socorrista deve confirmar que o ambiente em que ele se encon-
tra é seguro. Após essa confirmação, ele deve posicionar-se ao lado do atleta, em posição
ajoelhada, e provocar estímulo através de contatos tátil e verbal. Se o atleta apresentar
qualquer tipo de resposta, exclui-se uma situação de PCR, porém é necessário que ele seja
substituído e o motivo da síncope seja investigado. Caso o atleta não responda ou esteja em
respiração agônica (gasping), é necessário que o socorrista direcione alguém para chamar
a ambulância e pedir o desfibrilador (DEA).
Feito isso, o socorrista deverá palpar o pulso carotídeo do atleta durante o período
máximo de 10 segundos. Se o pulso estiver palpável, é necessário avaliar a via aérea do
paciente, na pesquisa de algum corpo estranho. Além disso, é necessário proceder à es-
tabilização da via aérea através da anteriorização da mandíbula ou elevação do mento, à
proteção da coluna cervical e à avaliação dos sinais vitais, como pressão arterial, saturação
periférica de oxigênio, frequência cardíaca, frequência respiratória e resposta neurológica
(escala de coma de Glasgow).
Caso não tenha pulso palpável (ou tenha dúvida sobre a presença de pulso palpável),
inicia-se a ressuscitação cardiopulmonar (RCP), baseada na realização de 30 compressões
torácicas e 02 ventilações, na frequência de 100 a 120 compressões por minuto.
Assim que chegar o DEA, o aparelho deve ser posicionado sobre o tórax do atleta e
apenas no momento da checagem do pulso é que as compressões torácicas devem ser in-
terrompidas. Uma vez feito a checagem do ritmo e observado a necessidade de desfibrilação,
24
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
é importante que todos ao redor do atleta se afastem e, após a desfibrilação, retomam-se
as compressões torácicas nos mesmos ritmo e frequência.
Se a segurança do local de atendimento e os recursos humanos e materiais forem
suficientes, todo o atendimento inicial deve ser feito no ambiente esportivo ou na ambu-
lância presente no local. Para isso, além da realização da RCP, é necessário que a equipe
de socorrista puncione um acesso venoso periférico e inicie a administração das drogas
preconizadas nos casos de PCR. O atleta deverá ser encaminhado à unidade hospitalar,
devidamente posicionado em prancha rígida, no momento em que apresentar estabilização
clínica mínima para o transporte.
O atendimento a um caso de PCR em evento esportivo, de uma forma geral, envolve
uma série de equívocos e expõe a fragilidade estrutural e humana existente, até mesmo em
campeonatos profissionais. Os programas de educação continuada e a profissionalização
cada vez maior da Medicina Esportiva no futebol ajuda a minimizar os erros existentes no
atendimento ao atleta. Além disso, em jogos profissionais, a obrigatoriedade das presenças
mínimas de equipe médica, de uma ambulância e do DEA encurta bastante o tempo de
socorro definitivo.
6. Traumatismo sistêmico/Politraumatismo
• Características principais
Essa classe envolve os casos de traumas no tórax, abdome, pelve, colunas e crânio,
representadas por acidentes de maior energia. A associação de traumatismos em dois ou
mais sistemas orgânicos é conhecida como politraumatismo. Para esses casos, é neces-
sário maior preocupação do socorrista quanto ao potencial da existência de lesões graves.
Essas lesões são causadas por traumas diretos, comumente em jogadas divididas com o
atleta oponente.
• Tratamento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
26
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
1. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaque das diretrizes de RCP e ACE de 2020 da
American Heart Association. Disponível em: https://cpr.heart.org/-/media/cpr- files/cpr-gui-
delines-files/highlights/hghlghts_2020eccguidelines_portuguese.pdf. Acesso em: 23 jul. 2021.
2. BLEAKLEY, C.M.; GLASGOW, P.; MACAULEY, D.C. PRICE needs updating, should we call
the POLICE? British Journal of Sports Medicine, v.46, p.220-221, 2012.
3. DOUMA, M.J.; AVES, T.; ALLAN, K.S.; BENDALL, J.C.; BERRY, D.C.; CHANG, W.; EPSTEIN,
J.; HOOD, N.; SINGLETARY, E.M.; ZIDEMAN, D.; LIN, S. First aid cooling techniques for heat
stroke and exertional hyperthermia: a systematic review and meta-analysis. Resuscitation,
v. 148, p. 173-190, 2020.
4. ECHEMENDIA, R.J; MEEUWISSE, W.; MCCRORY, P. et al. The Sport Concussion Assessment
Tool 5th Edition (SCAT5). British Journal Of Sports Medicine, v.51, n.11 p. 848-850, 2017.
6. FIFA to trial concussion substitutes at Fifa club world cup. Disponível em: https://www.
fifa.com/tournaments/mens/clubworldcup/qatar2020/news/fifa-to-trial- concussion-substitutes-
-at-fifa-club-world-cuptm. Acesso em: 23 jul. 2021.
7. HARMON, K.G; DREZNER, J.A.; GAMMONS, M.; GUSKIEWICZ, K.M.; HALSTEAD, M.; HER-
RING, S.A.; KUTCHER, J.; PANA, A.; PUTUKIAN, M.; ROBERTS, W.O. American Medical
Society for Sports Medicine position statement: concussion in sport. British Journal Of Sports
Medicine, v. 47, n. 1, p. 15-26, 2013.
9. KRUTSCH, V.; GESSLEIN, M.; LOOSE, O.; WEBER, J.; NERLICH, M.; GAENSSLEN, A.;
BONKOWSKY, V.; KRUTSCH, W. Injury mechanism of midfacial fractures in football causes
in over 40% typical neurological symptoms of minor brain injuries. Knee Surgery, Sports
Traumatology, Arthroscopy, p. 1295-1302, 2017.
10. LÓPEZ-VALENCIANO, A.; RUIZ-PÉREZ, I.; GARCIA-GÓMEZ, A.; VERA- GARCIA, F.J.; CROIX,
M.; MYER, G.D.; AYALA, F. Epidemiology of injuries in professional football: a systematic re-
view and meta-analysis. British Journal Of Sports Medicine, v. 54, n. 12, p. 711-718, 2019.
11. LUHRING, K.E.; BUTTS, C.L.; SMITH, C.R.; BONACCI, J.A.; YLANAN, R.C.; GANIO, M.S.;
MCDERMOTT, B.P. Cooling Effectiveness of a Modified Cold-Water Immersion Method After
Exercise-Induced Hyperthermia. Journal Of Athletic Training, v. 51, n. 11, p. 946-951, 2016.
12. NAEMT. Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado. ed. 9. Porto Alegre: Artmed, 2020.
13. MCCRORY, P.; MEEUWISSE, W.; DVORAK, J. et al. Consensus statement on concussion
in sport—the 5thinternational conference on concussion in sport held in Berlin, October 2016.
British Journal Of Sports Medicine, p. 836-847, 2017.
14. MERCHANT, R.M.; TOPJIAN, A.A.; PANCHAL, A.R.; CHENG, A.; AZIZ, K.; BERG, K.M.; LA-
VONAS, E.J.; MAGID, D.J. Part 1: executive summary. Circulation, v. 142, n. 162, Epub. 2020.
27
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
15. MUELLER-WOHLFAHRT, H.; HAENSEL, L.; MITHOEFER, K.; EKSTRAND, J.; ENGLISH,
B.; MCNALLY, S.; ORCHARD, J.; VAN DIJK, C.N.; KERKHOFFS, G.M.; SCHAMASCH, P.;
BLOTTNER, D.; SWAERD, L.; GOEDHART, E.; UEBLACKER, P.; Terminology and classifica-
tion of muscle injuries in sport: the munich consensus statement. British Journal Of Sports
Medicine, v. 47, n. 6, p. 342- 350, 2012.
16. VEDUNG, F.; HÄNNI, S.; TEGNER, Y.; JOHANSSON, J.; MARKLUND, N. Concussion incidence
and recovery in Swedish elite soccer — Prolonged recovery in female players. Scandinavian
Journal Of Medicine & Science In Sports, v. 30, n. 5, p. 947-957, 2020.
17. WALTZMAN, D.; SARMIENTO, K. What the research says about concussion risk factors and
prevention strategies for youth sports: a scoping review of six commonly played sports. Journal
Of Safety Research, v. 68, p. 157-172, 2019.
28
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
02
Avaliação pré-participação esportiva
no futebol
10.37885/210705500
RESUMO
30
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
31
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
periodização de treinamento visando otimizar o rendimento e minimizar afastamentos por
lesões ou doenças.
O objetivo geral desse capítulo foi abordar os principais aspectos relacionados à APP
no futebol, de acordo com dados da literatura, e realizar uma abordagem do que é realizado
na prática nas categorias profissional e amadora de futebol.
DESENVOLVIMENTO
2. Avaliação cardiovascular
33
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Atenção especial deve ser dada ao sistema cardiovascular, uma vez que configura a
principal causa de morte não traumática no esporte (MARON et al., 2005). A avaliação car-
diológica no futebol deve ser realizada por um médico experiente e qualificado para identificar
eventuais sinais clínicos ou sintomas cardiovasculares críticos no esporte.
As recomendações sugerem que, na anamnese, o atleta seja questionado sobre a
presença de dor ou desconforto no tórax induzido por esforço, síncope, pré-síncope, palpi-
tações, dispnéia ou fadiga desproporcional ao grau de esforço. É importante ressaltar que a
síncope inexplicada no atleta deve ser encarada como um episódio de morte súbita abortada
espontaneamente, com necessidade de investigação rigorosa e rápida.
Grande parte dos atletas considerados de risco não apresentam sintomas prévios
e a APP é a única estratégia com potencial de identificar algum distúrbio cardiovascular
(ABBATEMARCO et al., 2016). Isso explica o motivo pelo qual um protocolo de triagem
não rigoroso, baseado apenas na queixa clínica e no exame físico geral, principalmente se
realizado por médico não especialista em Medicina Esportiva, é limitado para identificação
de atletas em risco de morte súbita.
A investigação da história pessoal e familiar é muito importante, pois a grande maioria
das mortes súbitas em jovens atletas é causada por malformações cardíacas congênitas ou
adquiridas, como a cardiomiopatia hipertrófica (CMH), responsável por aproximadamente
um terço dos casos, seguido por origem anômala da artéria coronária, cardiomiopatia ar-
ritmogênica do ventrículo direito (ARVC), miocardites, anomalias do sistema de condução,
síndrome do QT longo e QT curto, síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), dentre ou-
tros (CORRADO et al., 2006). A incidência de commotio cordis, que acontece em corações
estruturalmente normais, apesar de rara, também é de risco no futebol (MENEZES et al.,
2017). Acima de 35 anos de idade, a principal causa de morte súbita em atletas é a doença
arterial coronariana (CORRADO et al., 2006).
No exame físico cardiovascular merecem atenção a presença de mucosas descoradas
(anemia), focos infecciosos clínicos e subclínicos (dentários, por exemplo), doenças sistêmi-
cas ou infecciosas graves, asma brônquica, obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial
sistêmica, doenças renais, alterações da ausculta pulmonar e cardiovascular e situações
especiais como a gravidez (MARON et al., 2007).
Além disso, deve-se ter atenção especial na procura de alguns sinais característicos
e relacionados a doenças cardiovasculares, como presença de sopro cardíaco, terceira ou
quarta bulhas cardíacas, estalidos valvares, alterações na palpação dos pulsos de mem-
bros superiores e inferiores, características físicas de Síndrome de Marfan e assimetrias de
pressão arterial sistêmica nos membros superiores (GHORAYEB et al., 2019).
– Eletrocardiograma (ECG)
34
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Um dos principais aspectos relacionados à aplicação da APP em nível abrangente é
a relação custo efetividade. A Sociedade Americana de Cardiologia defende apenas a rea-
lização de uma APP básica, através de questionário e exame físico (MARON et al., 2015),
enquanto que a Sociedade Européia de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Medicina do
Exercício e do Esporte, além de associações esportivas como, por exemplo, a Federação
Internacional de Futebol – FIFA e a National Basketball Association – NBA, reforçam o em-
prego rotineiro do eletrocardiograma, com o objetivo de se diminuir a incidência de morte
súbita em atletas (GHORAYEB et al., 2019).
A longa experiência italiana forneceu evidências de que o emprego do ECG de 12
derivações, associado à história e ao exame físico, é eficaz na identificação de doenças
cardiovasculares potencialmente letais em atletas (CORRADO et al., 2007).
O ECG convencional de 12 derivações deve ser realizado com o indivíduo em decú-
bito dorsal, com repouso prévio de no mínimo 5 minutos, obtido no mínimo 24 horas após
a última atividade esportiva e registrado em velocidade de 25 mm/s. Cabe destacar que
algumas anomalias de condução, como as Síndromes do QT longo e curto, Síndrome de
Brugada e Síndromes de pré-excitação (como o Wolff-Parkinson-White) são diagnosticados
especificamente pelo eletrocardiograma.
A interpretação de um ECG de triagem em atletas pode ser desafiadora. Ela requer
treinamento e atenção aos detalhes para diferenciação entre achados sem repercussão
clínica, típica de atletas de melhor performance, e aqueles achados que possam indicar a
presença de patologia cardíaca (SHARMA et al., 2018). As adaptações cardíacas normais
(“fisiológicas”) do treinamento podem levar a achados de ECG que, quando considerados
na população em geral, podem ser considerados patológicos. Isso é mais comum em atle-
tas que realizam programas de treinamento de resistência, mas também está presente em
muitos jogadores de futebol, pois o treinamento e a competição envolvem componentes
físicos intermitentes.
Cerca de 80% dos ECG dos atletas apresentam alterações comuns que não necessitam
investigação complementar, como bradicardia sinusal, bloqueio atrioventricular de primeiro
grau, bloqueio atriovenrticular de 2º grau Mobitz I, distúrbio de condução do ramo direito e
critério de voltagem isolado para hipertrofia do ventrículo esquerdo. Essas alterações são
consequência de adaptação cardiovascular fisiológica secundária ao esforço e não indicam
a presença de doença cardiovascular, o que permite a elegibilidade para a prática de es-
porte competitivo.
Por outro lado, cerca de 5% dos eletrocardiogramas podem apresentar alterações
incomuns, como inversão de onda T, alterações do segmento ST, ondas Q patológicas,
sobrecarga atrial esquerda, bloqueio atrioventricular de 2º grau Mobitz II, pré-excitação
35
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ventricular, bloqueio de ramo esquerdo ou direito, intervalo QT longo ou curto, alterações
sugestivas de Síndrome de Brugada, hipertrofia ventricular direita e desvio do eixo elétrico.
Essas anormalidades no eletrocardiograma não estão relacionadas ao condicionamento
atlético e devem ser consideradas como uma expressão de possível doença cardiovascular
e risco aumentado de morte súbita, com necessidade de complementação da investigação
(CORRADO et al., 2007).
– Teste ergométrico
– Teste cardiopulmonar
36
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além dos parâmetros avaliados no teste ergométrico convencional, como alterações
do eletrocardiograma, comportamento da frequência cardíaca no esforço e sua redução na
recuperação e pressão arterial, alguns parâmetros são obtidos apenas no teste cardiopulmo-
nar. Desses, duas variáveis analisadas são extremamente importantes na identificação mais
precisa de possíveis fatores limitantes ao esforço máximo, que são as análises das curvas
e dos valores máximos do pulso de oxigênio (VO2/FC) e dos equivalentes ventilatórios (VE/
VO2 e VE/VCO2) (HERDY et al, 2016).
Para a prescrição de exercícios aeróbicos, os parâmetros mais relevantes são a fre-
quência cardíaca observada em diferentes momentos da avaliação, em especial a de repouso
e as do primeiro e segundo limiares, e a intensidade do esforço na qual ocorrem os limiares
ventilatórios, em especial, o limiar anaeróbico (HERDY et al. 2016).
O consumo de oxigênio (VO2), que constitui o volume de O2 extraído do ar inspirado
pela ventilação pulmonar em um dado período de tempo, tanto em relação ao VO2 máximo
quanto ao VO2 pico, é utilizado para avaliação do condicionamento físico. O limiar anaeróbico
(1º limiar) é determinado pelo momento em que ocorre um aumento não linear da ventilação
pulmonar em relação ao VO2, e o ponto de compensação respiratória (2º limiar) é o mo-
mento da perda de linearidade da relação entre o produto da ventilação e o VCO2. O índice
de anaerobiose, que expressa a relação entre a produção de VCO2 e o VO2, é o melhor
indicador não invasivo de esforço máximo. Quando esse índice está acima de 1, representa
esforço importante e, acima de 1,1, representa esforço máximo (GHORAYEB et al. 2019).
Em resumo, o teste cardiopulmonar é o procedimento de escolha para atletas quando
se deseja obter uma medida precisa da condição aeróbica e da determinação da frequência
cardíaca e dos limiares para prescrição do exercício.
– Ecocardiografia
3. Avaliação ortopédica
– Anamnese
A avaliação inicial de um atleta deve conter um histórico completo de seu passado mé-
dico. Além de seus antecedentes pessoais e familiares, toda a história médica relacionada
ao sistema musculoesquelético deve ser obtida. Lesões prévias, especialmente aquelas que
levaram ao afastamento de atividades por períodos superiores a quatro semanas, além de
cirurgias anteriores, devem ser questionadas. O atleta ainda deve ser perguntado sobre a
presença de queixas atuais, doenças prévias e eventuais tratamentos realizados.
A avaliação deve ocorrer em local adequado e com boa iluminação. O atleta deve estar
com vestimenta adequada, o que permite a inspeção de todos os segmentos corporais. O exa-
me físico musculoesquelético deve ser realizado de forma sistematizada e completa, pois
permitirá a avaliação de todos os segmentos e articulações, em poucos minutos. Eventuais
alterações identificadas durante sua realização, além das informações obtidas através da
anamnese, direcionarão para investigações mais detalhadas.
A avaliação da coluna vertebral do atleta deve ser iniciada pela inspeção estática e
dinâmica do paciente, na busca de desvios de eixo, deformidades, assimetrias e posturas
antálgicas. As curvaturas fisiológicas da coluna vertebral também devem ser avaliadas, como
lordose cervical, cifose torácica e lordose lombar. Deve ser avaliado também a amplitude de
38
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
movimento ativa das regiões cervical, torácica e lombossacral. Por fim, avaliamos os reflexos
relacionados às raízes nervosas do plexo braquial e do plexo lombossacral.
A avaliação da pelve do atleta deve ser iniciada pela inspeção estática, para procura
de assimetrias, desnivelamentos pélvicos e cicatrizes. Exame físico específico deve ser
direcionado na pesquisa das principais patologias que acometem essa região, com foco na
sínfise púbica, nas articulações sacroilíacas, nas espinhas ilíacas anteriores e posteriores
e na crista ilíaca.
– Membros superiores
– Membros inferiores
– Exames complementares
40
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Em relação ao sistema musculoesquelético, os homens, em geral, têm maiores massa e
força muscular e maior densidade mineral óssea. Nas mulheres, as características contrárias
contribuem para risco aumentado de fraturas por estresse. No entanto, essas apresentam
menos fadiga muscular e recuperação mais rápida durante os exercícios de resistência.
Os hormônios sexuais desempenham um papel fundamental nessas diferenças fisioló-
gicas entre homens e mulheres. As flutuações hormonais durante o ciclo menstrual podem
impactar no desempenho esportivo e no risco de lesões em atletas do sexo feminino. Além
disso, são suscetíveis a condições como a tríade da mulher atleta (chamada atualmente de
RED-S), a tensão pré-menstrual (TPM) e a incontinência urinária atlética (RUMBALL et al.,
2004). Dessa forma, é importante que a APP da mulher esportista ou atleta tenha enfoque
específico nessas questões.
A avaliação de algumas características do ciclo menstrual, a idade da menarca, da
última menstruação, a presença de amenorreia por mais de 6 meses e o reconhecimento da
relação entre menstruação e desempenho físico, há tempo são objeto de estudo. Embora
vários modelos de questionários tenham sido propostos para avaliação da saúde ginecoló-
gica e nutricional dessas mulheres, ainda não há um padrão validado aceito universalmente.
Essas questões ginecológicas e as particularidades da mulher atleta devem ser ati-
vamente investigadas e não subestimadas durante a APP. Há necessidade de se reservar
uma parte específica da avaliação para as questões inerentes ao organismo feminino, com
investigações ginecológicas e nutricionais específicas e direcionadas, evitando que esses
temas sejam omitidos pelas mulheres ou que seus cuidados sejam subestimados pelos
profissionais envolvidos (RUMBALL et al., 2004).
Em alguns casos, a APP é o único contato da esportista ou atleta com um médico,
aumentando ainda mais a importância dessa avaliação que se torna uma oportunidade de
ouro para rastrear alterações ginecológicas, nutricionais, ósseas e comportamentos de ris-
co. A ocasião é propícia também para levar informações sobre essas particularidades pouco
conhecidas para a própria esportista ou atleta, que precisa entender como identificar sinais
de alerta e como prevenir complicações.
Sendo assim, um questionário direcionado à saúde da mulher deve ser incorporado
à APP feminina, de maneira rotineira, pelo médico do esporte, identificando alterações e
permitindo o encaminhamento para profissional especializado, quando necessário. A compi-
lação dos dados dessas avaliações pelo médico permite estudar tendências, fatores de risco,
resultados de estratégias de acompanhamento e intervenções para otimizar a assistência.
O posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício
sobre atividade física e saúde na mulher acrescenta ainda que é importante a avaliação dos
níveis de ferritina e hemoglobina, levando em consideração que, quando abaixo do normal,
41
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
indicam carência de ferro e/ou anemia - situações que comprometem o rendimento da mulher
esportista/atleta (LEITAO et al., 2000).
Ainda no que diz respeito aos exames complementares, é preciso considerar as carac-
terísticas hormonais da mulher (antes e após a menopausa) para individualizar as estratégias
de avaliação cardiovascular. Para rastreamento de doença arterial coronariana (DAC) em
mulheres aparentemente saudáveis que apresentam hipoestrogenismo, a realização de teste
ergométrico é aconselhável. Para as mulheres com mais de 35 anos de idade, a avaliação
é considerada mandatória pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício.
Conclui-se, portanto, que a APP é de extrema importância para o esportista e atleta de
ambos os sexos. Nas mulheres, é necessário levar em consideração suas particularidades
biológicas, com vistas a individualizar a avaliação e a conduta e, a partir daí, obter melhores
resultados e mitigar riscos.
42
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ABBATEMARCO, J.R.; BENNETT, C.; BELL, A.J.; DUNNE, L.; MATSUMURA, M. Application
of pre-participation cardiovascular screening guidelines to novice older runners and endurance
athletes. Sage Open Medicine, v. 4, p. 1-8, 2016.
2. BASSETT, A.J.; AHLMEN, A.; ROSENDORF, J.M.; ROMEO, A.A.; ERICKSON, B.J.; BISHOP,
M.E. The Biology of Sex and Sport. Jbjs Reviews, v. 8, n. 3, 2020.
3. BILLE, K.; FIGUEIRAS, D.; SCHAMASCH, P.; KAPPENBERGER, L.; BRENNER, J.I.; MEI-
JBOOM, F.J.; MEIJBOOM, E.J. Sudden cardiac death in athletes: the lausanne recommen-
dations. European Journal Of Cardiovascular Prevention & Rehabilitation, v. 13, n. 6, p.
859-875, 2006.
4. CORRADO, D.; BASSO, C.; PAVEI, A.; MICHIELI, P.; SCHIAVON, M.; THIENE, G. Trends in
Sudden Cardiovascular Death in Young Competitive Athletes After Implementation of a Pre-
participation Screening Program. Jama, v. 296, n. 13, p. 1593- 1601, 2006.
6. EMERY, M.S.; KOVACS, R.J. Sudden Cardiac Death in Athletes. Jacc: Heart Failure, v. 6, n.
1, p. 30-40, 2018.
43
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
7. GHORAYEB, N.; STEIN, R.; DAHER, D.J.; SILVEIRA, A.D.; RITT, L.E.F.; SANTOS, D.; SIER-
RA, A.P.; HERDY, A.; ARAðJO, C.; COLOMBO, C.S. The Brazilian Society of Cardiology and
Brazilian Society of Exercise and Sports Medicine Updated Guidelines for Sports and Exercise
Cardiology - 2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.112, n.3, p. 326-368, 2019.
8. HERDY, A.H.; RITT, L.E.F.; STEIN, R.; MILANI, M.; MENEGHELO, R.S.; FERRAZ, A.; HOSSRI,
C.A.; ALMEIDA, A.; FERNANDES-SILVA, M. Cardiopulmonary Exercise Test: fundamentals,
applicability and interpretation. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.107, n.5, p. 467-481,
2016.
10. LEITÃO, M.B.; LAZZOLI, J.K.; OLIVEIRA, M.A.; NÓBREGA, A.C.; SILVEIRA, G.G.; CARVALHO,
T.; FERNANDES, E.; LEITE, N.; AYUB, A.; MICHELS, G. Posicionamento oficial da Sociedade
Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde na mulher. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, v. 6, n. 6, p. 215-220, 2000.
11. LÖLLGEN, H.; LEYK, D. Exercise Testing in Sports Medicine. Deutsches Aerzteblatt Online,
p. 409-416, 2018.
12. MARON, B.J.; ZIPES, D.P. Introduction: eligibility recommendations for competitive athletes
with cardiovascular abnormalities: general considerations. Journal Of The American College
Of Cardiology, v. 45, n. 8, p. 1373-1375, 2005.
13. MARON, B.J.; THOMPSON, P.D.; ACKERMAN, M.J.; BALADY, G.; BERGER, S.; COHEN, D.;
DIMEFF, R.; DOUGLAS, P.S.; GLOVER, D.W.; HUTTER, A.M. Recommendations and Consi-
derations Related to Preparticipation Screening for Cardiovascular Abnormalities in Competitive
Athletes: 2007 update. Circulation, v. 115, n. 12, p. 1643-1655, 2007.
14. MARON, B.J.; LEVINE, B.D.; WASHINGTON, R.L.; BAGGISH, A.L.; KOVACS, R.J.; MARON,
M.S. Eligibility and Disqualification Recommendations for Competitive Athletes With Cardio-
vascular Abnormalities: task force 2. Circulation, v. 132, n. 22, p. 267-272, 2015.
15. MENEZES, R.G.; FATIMA, H.; HUSSAIN, S.; AHMED, S.; SINGH, P.K.; KHAROSHAH, M.;
MADADIN, M.; RAM, P.; PANT, S.; LUIS, S.A. Commotio cordis: a review. Medicine, Science
And The Law, v. 57, n. 3, p. 146-151, 2017.
16. RUMBALL, J.S.; LEBRUN, C.M. Preparticipation Physical Examination. Clinical Journal Of
Sport Medicine, v. 14, n. 3, p. 153-160, 2004.
17. SHARMA, S.; DREZNER, J.A.; BAGGISH, A.; PAPADAKIS, M.; WILSON, M.G.; PRUTKIN,
J.M.; LAGERCHE, A.; ACKERMAN, M.J.; BORJESSON, M.; SALERNO, J.C. International re-
commendations for electrocardiographic interpretation in athletes. European Heart Journal,
v. 39, n. 16, p. 1466-1480, 2017.
18. THÜNENKÖTTER, T.; SCHMIED, C.; GRIMM, K.; DVORAK, J.; KINDERMANN, W. Precom-
petition Cardiac Assessment of Football Players Participating in the 2006 FIFA World Cup
Germany. Clinical Journal Of Sport Medicine, v. 19, n. 4, p. 322- 325, 2009.
44
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
03
Principais lesões ortopédicas no
futebol
10.37885/210705502
RESUMO
46
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
LESÕES MUSCULARES
49
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
LESÕES TRAUMÁTICAS DO JOELHO
As lesões do LCA são muito comuns no futebol e ocorrem por razões multifatoriais,
porém há destaque para a dinâmica do esporte, baseada em movimentos pliométricos e
rotacionais, que são vetores para o surgimento dessa lesão. Em estudo epidemiológico com
jogadores de futebol da primeira divisão da Itália durante sete temporada seguidas, Grassi
et al. mostraram que, em um time com 25 jogadores, ocorreu pelo menos uma lesão do LCA
a cada duas temporadas (GRASSI et al., 2020).
Além disso, essas lesões trazem impactos negativos para os atletas de futebol, inde-
pendentemente do nível de performance. Nesse sentido, é comum que os atletas demorem
algumas temporadas (geralmente de duas a três) para que retornem ao nível satisfatório de
competitividade. Forsythe et al., em estudo de coorte com atletas profissionais de futebol e
21 anos de seguimento, mostrou taxas de retorno ao esporte de 80% (FORSYTHE et al.,
2021). No futebol, essas taxas são altas (acima de 90%), em comparação a outros esportes,
porém as taxas de retorno competitivo são bem mais inferiores e dependem, conforme dito,
do tempo evolutivo das temporadas seguintes (FORSYTHE et al., 2021).
50
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A maioria das lesões ocorrem por mecanismo indireto, em movimentos que envolvem
rotações, mudanças de direção, movimentos de aceleração e desaceleração e saltos. As le-
sões do LCA estão relacionadas a vários fatores de risco modificáveis e não modificáveis,
com destaque para o sexo feminino (com risco 3 vezes maior que no sexo masculino), idade
jovem (pico de 16 a 18 anos), precocidades na participação e na especialização esportiva,
variações anatômicas e funcionais, perfil genético, dentre outros.
No momento da lesão, é comum o atleta apresentar, junto com a entorse do joelho,
estalido (às vezes até audível) e derrame articular (hemartrose). Como destaque, a prin-
cipal causa de hemartrose do joelho pós-traumática, excluindo as fraturas, é a lesão do
LCA. No exame físico específico, várias manobras são úteis para a pesquisa dessa lesão
ligamentar, com destaque para os testes da gaveta anterior e de Lachman, que avaliam a
instabilidade anteroposterior do joelho, e do pivot-shift, que avalia a instabilidade rotacional.
Vale enfatizar que o diagnóstico dessa lesão é clínico, porém exames de imagem são
necessários para o diagnóstico diferencial, no caso das radiografias, e para a pesquisa de
lesões associadas, através da ressonância nuclear magnética (RNM). Embora as radiografias
simples sejam o primeiro passo diagnóstico após o exame físico, com o objetivo principal
de exclusão de alguma fratura associada (principalmente da espinha tibial), a RNM é forte-
mente recomendada como parte da avaliação diagnóstica, devido à suas altas sensibilidade
e especificidade (97% e 100%, respectivamente) (SRI-RAM et al., 2015).
Quanto aos atletas de uma forma geral, com destaque para os jogadores de futebol, o
tratamento preconizado para as lesões do LCA é na maioria das vezes cirúrgico, devido às
características biomecânicas do gesto esportivo que são compartilhadas com as funções
desse ligamento.
Porém, o tratamento não cirúrgico pode ser considerado, principalmente em atletas
amadores, pois atletas respondem de formas diferentes a essa lesão. Nesse sentido, há os
atletas copers, que são aqueles que através de treinamento específico desenvolvem bom
controle articular e são, portanto, bons respondedores ao tratamento conservador, e os não
copers, que apresentam resultados insatisfatórios com esse tipo de tratamento e são mais
dependentes do tratamento cirúrgico (THOMA et al., 2019).
O tratamento cirúrgico consiste na reconstrução do LCA, com utilização de diferentes
técnicas cirúrgicas e tipos de enxertos. Esse procedimento ocorre após a melhora do quadro
inflamatório articular inicial, quando há o retorno da amplitude de movimento ativa, a dimi-
nuição significativa do derrame articular e um bom controle neuromuscular do quadríceps
femoral. Já o tratamento conservador, passado também essa fase inicial inflamatória, é
baseado nos trabalhos de propriocepção e de fortalecimento muscular contínuo do atleta.
51
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O retorno ao esporte, preconizado atualmente, acontece em torno de 09 meses após
o tratamento cirúrgico. Porém, para que ocorra essa liberação, o atleta deve apresentar re-
sultados satisfatórios em diferentes avaliações, como questionários subjetivos, exame físico
com foco na amplitude de movimento e estabilidade articular, testes funcionais e avaliações
psicológicas. Além disso, o atleta deve apresentar déficit de força no membro operado, cuja
avaliação é através de dados antropométricos e de dinamometria, de no máximo 10% em
relação ao membro contralateral. Percebe-se, portanto, que o retorno ao esporte acontece
de modo multifatorial, através de critérios biopsicossociais, e o tempo de pós-operatório é
apenas mais um a ser considerado no momento da alta.
Especialmente no futebol, muitas vezes esse retorno ao esporte ocorre de forma mais
precoce, motivado por pressões externas e pela tradição existente nesse esporte de que o
atleta retorne após 06 meses da cirurgia. Nesse sentido, cabem aos profissionais da saúde
divulgar os conhecimentos científico atuais e, como forma de justificar esse longo período
de recuperação, expor a alta morbidade que o atleta apresentará caso ocorra uma nova
ruptura do ligamento, algo comum nas situações em que não são respeitados o processo
biológico de cicatrização do enxerto e o retorno das valências físicas necessárias para a
prática do futebol.
Lesões meniscais
Pelos mesmos motivos expostos paras as lesões do LCA, com destaque para a dinâ-
mica do futebol, as lesões meniscais não são incomuns, assim como a associação entre
lesões ligamentares e meniscais, com prognóstico mais desfavorável.
As lesões dos meniscos são classificadas principalmente de acordo com a morfolo-
gia e a localização. Quanto à morfologia, as lesões podem ser dos tipos horizontal (divide
o menisco em uma porção superior e outra inferior), vertical ou longitudinal (o menisco é
dividido em uma porção anterior e outra posterior), radial, oblíqua, flap, alça de balde (le-
são vertical completa), complexa (junção de dois ou mais tipos de lesões), raiz meniscal
(inserções meniscais anterior e/ou posterior) e em rampa (desinserção entre o menisco e a
cápsula articular). Quanto à localização, as lesões podem acometer o corno anterior, corpo
e/ou corno posterior do menisco.
As lesões radial e vertical são mais comuns nos meniscos lateral e medial, respecti-
vamente, e ocorrem principalmente nos traumas agudos. Já as lesões em rampa e na raiz
são tipicamente decorrentes de traumas de maior energia, muitas vezes com associação
de lesões do LCA.
O diagnóstico das lesões meniscais é realizado através de história clínica sugestiva, com
relato de entorse do joelho seguida por dor e derrame articular, associado a testes meniscais
52
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
positivos. Esses testes são baseados, em sua maioria, em movimentos rotacionais do joelho
para a pesquisa de dor e de estalido tanto da interlinha articular medial quanto lateral.
Porém, a confirmação das lesões meniscais geralmente é realizada através de exames
de imagem, essencialmente a ressonância nuclear magnética (RNM). Antes desse, como
rotina para as lesões traumáticas do joelho, o primeiro exame de imagem a ser solicitado é
a radiografia, cujo objetivo é a realização de diagnóstico diferencial para exclusão de fratura.
Vale destacar a necessidade de se fazer uma interpretação conjunta entre os achados
da história, do exame físico e dos exames de imagens, pois o número de achados falso posi-
tivos em um exame de RNM é grande, principalmente em jogadores de futebol e referentes
às lesões meniscais e condrais.
O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. As indicações de tratamento con-
servador são para as lesões radiais menores que 03 mm, de espessura parcial, longitudi-
nais menores que 1 cm de extensão, periféricas e estáveis e aquelas degenerativas sem
sintomas mecânicos. Esse tratamento é realizado através de analgesia, reabilitação com
objetivos de melhora clínica e funcional e treinamentos específicos de propriocepção e de
fortalecimento muscular.
Já as lesões que não preenchem os critérios anteriores são de indicação cirúrgica.
Para aquelas lesões instáveis em alça de balde e associadas a bloqueio articular, a cirurgia
deve ser realizada de forma prioritária para evitar complicações crônicas, como degeneração
condral e contratura em flexão do joelho.
As opções cirúrgicas são a meniscectomia parcial, a sutura (reparo), o transplante
meniscal e os substitutos meniscais. As duas primeiras são as mais realizadas em atletas
de futebol, e o ideal é que o princípio de tratamento seja a máxima preservação do menisco,
através de meniscectomia econômica e/ou sutura.
Porém, nesse público específico, é muito comum que eles prefiram procedimentos que
permitam o retorno mais precoce ao esporte, mesmo que isso represente maior morbidade
futura. Esse fato, associado às características das lesões, fazem com que as meniscectomias
sejam os procedimentos mais realizados em atletas de futebol, pois permitem um retorno
mais precoce ao esporte.
O manejo da situação do atleta com lesão meniscal e indicação de tratamento cirúrgico
representa um grande desafio para a equipe de saúde, pois são lesões comuns e muitas
vezes geram condutas discordantes entre o médico e o atleta quanto ao tipo e ao momento
do procedimento.
No caso em que as características da lesão permitem a realização da sutura meniscal,
cabem aos profissionais da saúde que atuam no futebol informar de forma clara e abrangen-
te os riscos e benefícios de se realizar uma cirurgia com retorno mais precoce ao esporte
53
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
(meniscectomia), mas certamente deletéria para o futuro do atleta. Após esse esclarecimento,
deve-se chegar a um consenso e priorizar tanto a opção de tratamento do atleta quanto a
autonomia do médico no aceite ou não em realizar o procedimento.
O ligamento colateral medial (LCM) é, juntamente com o LCA, os dois ligamentos mais
lesionados do joelho. Porém, ao contrário do LCA, a grande maioria dos casos é de trata-
mento conservador (LUNDBLAD et al., 2013).
Essas lesões ocorrem através do mecanismo de estresse em valgo do joelho, movimen-
to esse no qual o LCM atua como restritor primário. O LCM, devido à sua vascularização e
configuração anatômica, apresenta grande potencial de cicatrização após uma lesão parcial,
com bons prognósticos de recuperação total e de estabilidades anatômica e funcional.
O diagnóstico da lesão do LCM pode ser feito de forma confiável através da anamnese,
com história de trauma em valgo do joelho, e do exame físico, através do teste de estresse
em valgo do joelho, que é realizado em extensão total e a 30 graus de flexão. Esse teste
pode evidenciar três padrões de lesões, representados por dor e edema na topografia do
LCM durante a realização do teste nos casos leves (grau I), achados clínicos do grau I com
instabilidade leve nos casos moderados (grau II) e instabilidade grosseira nos casos gra-
ves (grau III), em que há ruptura completa do LCM. Os exames de imagem, conforme já
mencionado, são importantes, com a realização da radiografia para exclusão de fraturas e
a ressonância magnética reservada para os casos de traumas mais severos e pesquisa de
lesões associadas.
Na população em geral, o tratamento preconizado para as lesões graus I e II é o conser-
vador, com reabilitação precoce e treinamentos muscular e proprioceptivo específicos. Já as
lesões de grau III, que geralmente estão associadas a outras lesões ligamentares, podem
ser de tratamento conservador desde que seja feito de forma satisfatória e não evolua para
instabilidade crônica.
O uso de órtese rígida inguinomaleolar, ou similares, é um recurso utilizado nas pri-
meiras semanas (em torno de quatro semanas) após a lesão para neutralizar o estresse na
face medial do joelho e com isso permitir uma cicatrização satisfatória do ligamento, porém
seu uso deve ser otimizado para permitir amplitude de movimento precoce do joelho. Isso é
um conceito fundamental, uma vez que a imobilização por longo período leva a uma cicatri-
zação mais fraca do ligamento e a piores resultados funcionais (CREIGHTON et al., 2005).
Porém, na atualidade há uma tendência de mudança dessa conduta, principalmen-
te em pessoas com maior nível de performance esportiva. Em jogadores de futebol, cujo
nível de exigência biomecânica da articulação do joelho é alto, preconiza-se atualmente o
54
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
tratamento cirúrgico para as lesões grau III e o grande foco de discordância é com relação
às lesões grau II, cujo tratamento conservador ainda é, até o momento, o preconizado na
grande maioria dos casos. Porém, nesse público, quando há indicação de tratamento cirúr-
gico de outras lesões ligamentares do joelho ou quando se observa a presença do menisco
medial ʻʻflutuanteʼʼ, indica-se atualmente no mínimo o reparo das lesões de grau II do LCM
(FUNCHAL et al., 2019).
Tendinopatia patelar
A DOS, que é uma apofisite de tração da tuberosidade anterior da tíbia (TAT), ocorre
mais comumente no sexo masculino, em faixa etária média entre 10 e 15 anos e na popu-
lação fisicamente ativa. Movimentos característicos do futebol, como saltos, aceleração e
desaceleração, mudanças de direção, além do grande volume de exercícios comumente
praticado pela população dessa faixa etária, são fatores predisponentes ao surgimento da
DOS. Além disso, fatores anatômicos como patela alta e músculo reto femoral encurtado
predispõe ao surgimento da patologia (VAISHYA et al., 2016).
A apresentação clínica é caracterizada por dor e edema na topografia da TAT. Esse
quadro clínico é autolimitado, com melhora total após período de repouso relativo, porém cos-
tuma ser recidivante. Em 20 a 30% dos casos, a dor é bilateral e esse é um dado que auxilia
o diagnóstico clínico. A sequela característica da patologia é a protuberância na topografia
da TAT. Além disso, o enxerto do tendão patelar para cirurgia de reconstrução ligamentar
do joelho, em pessoa com passado de DOS, torna- se uma contra-indicação relativa.
O diagnóstico da DOS é clínico, através de dados epidemiológicos característicos
associado a exame físico típico de dor e edema na TAT. Exames de imagem, como ra-
diografia e ressonância nuclear magnética, são solicitados nos casos recidivantes ou para
eventuais diagnósticos diferenciais. Entre esses, podem ser considerados a Síndrome de
Sinding-Larsen-Johansson, a Síndrome de Hoffa, a avulsão ou ruptura do tendão patelar,
a tendinopatia patelar, dentre outros. Porém, o diagnóstico de DOS geralmente é realizado
sem maiores dificuldades.
56
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O tratamento é eminentemente conservador, através de repouso relativo, analgesia
simples e fisioterapia. A reabilitação tem como princípio a realização de treinamentos para
ganho de flexibilidade da cadeia muscular posterior e para a correção de desequilíbrios bio-
mecânicos, além de trabalhos proprioceptivos. Outro fator relevante é o controle do volume
de treinamento, pois a patologia tende a ser recidivante se esse cuidado não for observado.
Para os casos recorrentes, a utilização da terapia de ondas de choque é uma opção
com bons resultados clínicos, porém reservado para adolescentes em fase final de fecha-
mento da placa epifisária.
Técnicas cirúrgicas foram descritas, como por exemplo a ressecção de fragmentos
ósseos na topografia da TAT, mas são indicadas em raríssimas situações. Recente série
de casos descreveu que nenhum dos 280 jogadores com DOS avaliados no estudo foram
submetidos a tratamento cirúrgico (BEZUGLOV et al., 2020).
A grande prevalência da DOS no futebol de base é um dos motivos que expressa
a importância do trabalho de prevenção de lesões na população dessa faixa etária. Esse
trabalho é visto apenas em times de maior relevância estrutural, portanto a grande maioria
dos jogadores dessa categoria carecem de cuidados preventivos e não apresentam controle
de carga no esporte (LOOSE et al., 2019). Apesar de apresentar- se de forma benigna na
grande maioria dos casos, a DOS recidivante poderá comprometer, devido ao longo tempo
cumulativo de afastamento do esporte, componentes técnicos e anatômicos do atleta, com
prejuízos futuros para a performance no futebol.
A entorse lateral do tornozelo é uma das lesões articulares mais comuns no futebol e
apresenta altas taxas de sintomatologia persistente e de recidivas, com consequente mor-
bidade local e queda do rendimento esportivo do atleta.
Essas entorses acontecem principalmente após traumas indiretos, através de rápida
inversão e rotação interna do complexo pé e tornozelo. A fratura mais comumente associada
à entorse lateral do tornozelo é a do maléolo lateral, envolvida principalmente em movimento
de supinação e rotação externa desse complexo.
A avaliação clínica da integridade dos ligamentos laterais do tornozelo, bem como
da sindesmose, é fundamental. Os principais estabilizadores laterais do tornozelo são o
ligamento talo fibular anterior (LTFA), o ligamento calcâneo fibular e o ligamento talo fibular
posterior, e o LTFA é o mais comumente acometido. O teste da gaveta anterior é o mais
sensível para avaliar a ruptura do LTFA (LARKINS et al., 2020).
No exame físico é sempre importante também avaliar a presença de dor na palpação
do maléolo lateral, do maléolo medial, da base do V metatarso e do terço proximal da fíbula.
57
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além disso, no local do ambiente esportivo, a impossibilidade do atleta deambular após a
lesão é um forte indicador da presença de fratura.
A classificação introduzida por Hamilton e Kaikkonen, em 1982, graduou a severida-
de das lesões de I a III. Na prática clínica, apenas a diferença entre uma entorse simples
(grau I) e uma entorse grave (grau III) é relevante, pois o tratamento cirúrgico pode ser
considerado apenas para as instabilidades grosseiras (grau III).
O tratamento da entorse lateral do tornozelo é, na maioria dos casos, conservador,
através da adoção inicial do protocolo POLICE (carga otimizada de acordo com o quadro
clínico, crioterapia, compressão e elevação), para redução da dor e do edema, e de fisio-
terapia precoce. Para os casos de entorse sem fratura, porém com grande limitação física,
está indicado um período curto de imobilização com órtese removível (do tipo Robofoot), mas
com períodos intercalados de ADM ativa no limite da dor e de crioterapia. Longos períodos
de imobilização (acima de sete dias) pode causar uma má cicatrização biológica e sequelas
funcionais (HALABCHI et al., 2020).
O tratamento cirúrgico está indicado, na fase aguda, nos casos de fraturas desviadas
e, nos casos crônicos, nos quadros de instabilidade anatômica e funcional. Após episódios
isolados ou repetitivos de entorse, o atleta pode desenvolver uma instabilidade funcional do
tornozelo, porém não anatômica, cujo tratamento é a reabilitação com ênfase no trabalho
de propriocepção e de fortalecimento muscular.
No futebol, logo após o retorno ao esporte, está bem indicado a utilização de bandagens
flexíveis no tornozelo, através de materiais específicos ou até esparadrapo, para auxiliar na
estabilidade da articulação. Essa estabilidade é muito mais proprioceptiva do que mecânica,
porém parece auxiliar na prevenção de recidivas da entorse (HALABCHI et al., 2020).
OSTEÍTE PÚBICA
A osteíte púbica, mais conhecida no futebol como pubalgia do atleta, é uma afecção
que acomete a região da sínfise púbica e da musculatura adutora, com alta morbidade para
os atletas. Movimentos típicos dos jogadores de futebol, como aceleração e desaceleração,
chutes, rotações, dentre outros, estão envolvidos na gênese da pubalgia.
Sua etiologia ainda não foi totalmente elucidada, porém o desbalanço entre a muscu-
latura do reto abdominal, menos dominante, e a musculatura adutora, mais dominante, é
considerado o principal fator envolvido com a patologia em jogadores de futebol. O fulcro
de ação dessas musculaturas é na região da sínfise púbica, que sofre um desgaste crônico
devido a esse desbalanço muscular, principalmente devido à dinâmica do futebol, o que
ocasiona a longo prazo o início dessa patologia (VIA et al., 2018).
58
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A história clínica sugestiva, associada ao exame físico, fornece fortes indícios da exis-
tência dessa patologia, porém a confirmação ocorre através de exames de imagem. A radio-
grafia é importante para o diagnóstico diferencial, principalmente de patologias intra-articu-
lares, e para a observação de achados frequentes na osteíte púbica, como irregularidades
ósseas tanto na sínfise púbica quanto na tuberosidade isquiática. A ultrassonografia dinâmica
é importante para o diagnóstico diferencial de herniações e a ressonância magnética é o
exame padrão ouro para o diagnóstico da osteíte púbica.
O principal diagnóstico diferencial é com a hérnia do atleta, patologia que cursa com dor
inguinal e é caracterizada por fraqueza da parede posterior do canal inguinal, porém sem ter
a formação de uma hérnia inguinal clássica. O tratamento conservador das duas patologias
tem princípios semelhantes, através das correções de desbalanços musculares e instabilidade
pélvica, porém o tratamento cirúrgico é diferente. Por esse motivo, é sempre importante a
realização de uma ultrassonografia dinâmica para se descartar a existência da hérnia.
O tratamento da osteíte púbica é inicialmente conservador. Para jogadores profissio-
nais, preconiza-se a realização de reabilitação durante período médio de três meses e, para
os atletas amadores, esse tempo pode ser postergado para seis meses. Caso não ocorra
sucesso com o tratamento conservador, está indicado o tratamento cirúrgico.
Na técnica cirúrgica, realizada através de incisão clássica de Pfannenstiel (a mesma da
cesariana), realizam-se ressecção parcial da fáscia abdominal e total do ligamento púbico
superior, desbridamento e microperfurações do disco fibrocartilaginoso interpúbico e do osso
subcondral e tenotomia parcial da musculatura adutora bilateral (SOUSA et al., 2005). A rea-
bilitação, após melhora inicial do pós- operatório, deverá ser focada na correção de dese-
quilíbrios musculares nas regiões lombar, abdominal e pélvica (QUEIROZ et al., 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. BEKKER, S.; CLARK, A.M. Bringing complexity to sports injury prevention research: from sim-
plification to explanation. Br. J. Sports Med., v. 50, n. 24, p. 1489-1490, 2016.
2. BEZUGLOV, E. N.; TIKHONOVA, А. А.; CHUBAROVSKIY, Ph. V.; REPETYUK, А. D.; KHAI-
TIN, V. Y.; LAZAREV, A. M.; USMANOVA, E. M.. Conservative treatment of Osgood-Schlatter
disease among young professional soccer players. International Orthopaedics, v. 44, n. 9,
p. 1737-1743, 2020.
4. BLAZINA, M.E.; KERLAN, R.K.; JOBE, F.W.; CARTER, V.S.; CARLSIN, G.J. Jumper’s knee.
Orthop Clin North Am, v.4, n.3, p.665-678, 1973.
5. CREIGHTON, R.A.; SPANG, J.T.; DAHNERS, L.E.. Basic Science of Ligament Healing. Sports
Medicine And Arthroscopy Review, v. 13, n. 3, p. 145-150, 2005.
6. EKSTRAND, J. Keeping your top players on the pitch: the key to football medicine at a profes-
sional level. British Journal Of Sports Medicine, v. 47, n. 12, p. 723-724, 2013.
7. ENRIGHT, K.; GREEN, M.; HAY, G.; MALONE, J.J. Workload and Injury in Professional Soccer
Players: role of injury tissue type and injury severity. International Journal Of Sports Medi-
cine, v. 41, n. 02, p. 89-97, 2019.
8. FIFA 11+. Um programa de aquecimento complete para prevenir lesões no futebol. 2009.
Disponível em: https://www.f- marc.com/files/downloads/workbook/11plus_workbook_ptbr.pdf.
Acesso em: 24 jul. 2021.
10. FUNCHAL, L.F.Z.; ASTUR, D.C.; ORTIZ, R.; COHEN, M. The Presence of the Arthroscopic
“Floating Meniscus” Sign as an Indicator for Surgical Intervention in Patients With Combined
Anterior Cruciate Ligament and Grade II Medial Collateral Ligament Injury. Arthroscopy: The
Journal of Arthroscopic & Related Surgery, v. 35, n. 3, p. 930-937, 2019.
11. GRASSI, A.; MACCHIAROLA, L.; FILIPPINI, M.; LUCIDI, G.A.; DELLA VILLA, F.; ZAFFAGNINI,
S. Epidemiology of Anterior Cruciate Ligament Injury in Italian First Division Soccer Players.
Sports Health: A Multidisciplinary Approach, v. 12, n. 3, p. 279-288, 2019.
60
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12. HÃGGLUND, M.; WALDÉN, M.; EKSTRAND, J. Injuries among male and female elite football
players. Scandinavian Journal Of Medicine & Science In Sports, v. 19, n. 6, p. 819-827, 2009.
13. HÄGGLUND, M.; ZWERVER, J.; EKSTRAND, J.. Epidemiology of Patellar Tendinopathy in
Elite Male Soccer Players. The American Journal Of Sports Medicine, v. 39, n. 9, p. 1906-
1911, 2011.
14. HALABCHI, F.; HASSABI, M. Acute ankle sprain in athletes: clinical aspects and algorithmic
approach. World Journal Of Orthopedics, v. 11, n. 12, p. 534-558, 2020.
15. HAMILTON, W.G. Sprained Ankles in Ballet Dancers. Foot & Ankle, v. 3, n. 2, p. 99-102, 1982.
16. HULME, A.; FINCH, C.F. From monocausality to system thinking: a complementary and alter-
native conceptual approach for better understanding the development and prevention of sports
injury. Inj. Epidemiol., v. 2, n. 1, p. 31-42, 2015.
17. KHAN, K.M.; COOK, J.L.; KANNUS, P.; MAFFULLI, N.; BONAR, S.F. Time to abandon the
“tendinites” myth. British Medical Journal, v.324, n.7338, p. 626-627, 2002.
18. KUNZ, M. 265 million playing football. FIFA Magazine. p.11–13, 2007.
19. LÓPEZ-VALENCIANO, A.; RUIZ-PÉREZ, I.; GARCIA-GÓMEZ, A.; VERA- GARCIA, F.J.; CROIX,
M.; MYER, G.D.; AYALA, F. Epidemiology of injuries in professional football: a systematic re-
view and meta-analysis. British Journal Of Sports Medicine, v. 54, n. 12, p. 711-718, 2019.
21. LOOSE, O.; FELLNER, B.; LEHMANN, J.; ACHENBACH, L.; KRUTSCH, V.; GERLING, S.;
JANSEN, P.; ANGELE, P.; NERLICH, M.; KRUTSCH, W. Injury incidence in semi-professional
football claims for increased need of injury prevention in elite junior football. Knee Surgery,
Sports Traumatology, Arthroscopy, v. 27, n. 3, p. 978-984, 2018.
22. LUNDBLAD, M.; WALDÉN, M.; MAGNUSSON, H.; KARLSSON, J.; EKSTRAND, J. The UEFA
injury study: 11-year data concerning 346 mcl injuries and time to return to play. British Journal
Of Sports Medicine, v. 47, n. 12, p. 759- 762, 2013.
23. MUELLER-WOHLFAHRT, H.; HAENSEL, L.; MITHOEFER, K.; EKSTRAND, J.; ENGLISH,
B.; MCNALLY, S.; ORCHARD, J.; VAN DIJK, C.N.; KERKHOFFS, G.M.; SCHAMASCH, P;
BLOTTNER, D.; SWAERD, L.; GOEDHART, E.; UEBLACKER, P. Terminology and classifica-
tion of muscle injuries in sport: the munich consensus statement. British Journal Of Sports
Medicine, v. 47, n. 6, p. 342-350, 2012.
24. NUHU, A.; JELSMA, J.; DUNLEAVY, K.; BURGESS, T. Effect of the FIFA 11+ soccer specific
warm up programme on the incidence of injuries: a cluster-randomised controlled trial. Plos
One, v. 16, n. 5, 2021.
25. QUEIROZ, R.D. de; CARVALHO, R.T. de; SZELES, P.R.Q.; JANOVSKY, C.; COHEN, M. Re-
torno ao esporte após tratamento cirúrgico de pubeíte em jogadores de futebol profissional.
Revista Brasileira de Ortopedia, v. 49, n. 3, p. 233-239, 2014.
26. SRI-RAM, K.; SALMON, L. J.; PINCZEWSKI, L. A.; ROE, J. P.. The incidence of secondary
pathology after anterior cruciate ligament rupture in 5086 patients requiring ligament recons-
truction. The Bone & Joint Journal, v. 95-, n. 1, p. 59-64, 2013.
61
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
27. SOUSA, J.P.; FALLOPA, F.; SIQUEIRA JÚNIOR, D; CRUZ, A.R. Tratamento cirúrgico da
pubalgia em jogadores de futebol profissional. Rev Bras Ortop. v.40, n.10, p.601–607, 2005.
28. THOMA, L.M.; GRINDEM, H.; LOGERSTEDT, D.; AXE, M.; ENGEBRETSEN, L.; RISBERG,
M.A.; SNYDER-MACKLER, L. Coper Classification Early After Anterior Cruciate Ligament
Rupture Changes With Progressive Neuromuscular and Strength Training and Is Associated
With 2-Year Success: the delaware-oslo acl cohort study. The American Journal Of Sports
Medicine, v. 47, n. 4, p. 807-814, 2019.
29. VAISHYA, R.; AZIZI, Ahmad T.; AGARWAL, A.K.; VIJAY, V. Apophysitis of the Tibial Tuberosity
(Osgood-Schlatter Disease): a review. Cureus, v.8, n.9, p. 1-9, 2016.
30. VIA, A.G.; FRIZZIERO, A.; FINOTTI, P.; OLIVA, F.; RANDELLI, F.; MAFFULLI, N. Management
of osteitis pubis in athletes: rehabilitation and return to training : a review of the most recent
literature. Open Access Journal Of Sports Medicine, v. 10, p. 1-10, 2018.
31. WATSON, A.; MJAANES, J.M. Soccer Injuries in Children and Adolescents. Pediatrics, v.
144, n. 5, 2019.
62
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
04
Odontologia do esporte no futebol:
Revisão da Literatura
10.37885/210705418
RESUMO
A odontologia do esporte é uma especialidade que atua nos cuidados à saúde bucal
dos atletas e que ganha espaço crescente devido à sua relação direta e indireta com a
performance e a saúde geral dos esportistas. Patologias odontológicas, muitas vezes
subclínicas, podem predispor ao surgimento e perpetuação de lesões musculoesquelé-
ticas recidivantes, que ocasionam alta morbidade aos praticantes da modalidade. Essas
lesões, em um esporte tão popular como o futebol, tanto amador quanto profissional,
podem representar um considerável custo financeiro. Por esse motivo, a presença do
profissional odontólogo no futebol é uma realidade e uma necessidade para os que atuam
principalmente no esporte de alto rendimento.
64
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
No futebol há uma grande exigência sobre o desempenho físico dos jogadores, que é
um padrão alcançado quando o atleta se encontra saudável, e por esse motivo muitos in-
vestimentos são feitos para que o atleta tenha um alto rendimento nos jogos. Logo, deve-se
prevenir e tratar de forma precoce problemas de saúde geral e bucal com a finalidade de
evitar a queda de performance do jogador (GAY-ESCODA et al., 2011).
A inserção da odontologia na prática do esporte é de grande relevância para que se
tenha um alto desempenho esportivo, pois as patologias da cavidade bucal do atleta são
frequentes (PASTORE et a., 2017). Em um estudo realizado por Rosa et al., 400 jogadores
de futebol do time da Portuguesa foram analisados. Os resultados mostraram que entre
os jogadores do time de base, 71% apresentaram lesões de cárie e 14% focos infecciosos
dentais. Dos jogadores do time profissional, 68% apresentaram lesões de cárie e 23% focos
infecciosos dentais.
A odontologia do esporte foi reconhecida como uma nova especialidade em 2015
(CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2021), mas começou a se integrar ao esporte
brasileiro quando o dentista Mário Trigo passou a acompanhar a seleção brasileira de futebol
nas Copas do Mundo de Futebol de 1958, 1962, 1966 e 1970 (SOARES et al., 2014).
O cirurgião-dentista fazia parte da equipe do time do Fluminense que tinha como téc-
nico Ondino Vieira, e permaneceu lá até o 1946. O médico Hilton Gosling, que na época
fazia parte do Departamento Médico do Fluminense, relatou a dificuldade dos jogadores se
recuperarem das contusões. Com isso, Trigo passou a investigar a relação entre a presença
65
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
de focos infecciosos presentes na cavidade oral dos atletas e a melhora das lesões sofridas
pelos jogadores. Ele observou que o seu trabalho aliado à equipe médica possibilitava uma
melhora significativa no desempenho dos jogadores, facilitando a recuperação. Quando
Trigo passou a fazer parte da seleção brasileira como dentista, ele se integrou com o pro-
fessor Chriso Fontes, Diretor da Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do
Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ), para realizar exames clínicos nos
jogadores (PADILHA et al., 2016).
Mário Trigo conta em seu livro “O Eterno Futebol” (2002) que, para a preparação do
campeonato mundial em 1958, na Suécia, houve a necessidade da extração de 118 dentes
dos 33 jogadores. Muitas outras histórias de quando acompanhou a seleção brasileira são
relatadas em sua obra. Depois de Trigo, Carlos Sérgio Araújo (1994, 1998 e 2002) fez parte
da equipe da Seleção Brasileira de Futebol como cirurgião-dentista (COSTA et al., 2015).
A OE vem ganhando cada vez mais espaço. Muitos clubes de futebol se preocupam
em proporcionar acesso à saúde bucal para seus jogadores. Clubes como Atlético Mineiro,
Botafogo, Corinthians, Flamengo, Ceará, Coritiba e São Paulo, dentre outros, oferecem aos
seus atletas um setor específico odontológico (TEIXEIRA et al., 2021).
A especialidade da OE possui uma esfera ampla. Além de englobar traumas e confec-
ções de protetores bucais, também está relacionada à prevenção e tratamento de doenças
bucais, reparação dos tecidos musculares lesionados, vigilância do doping, desordens das
articulações temporomandibulares, alterações respiratórias e outros fatores que possam
diminuir o rendimento do atleta (COSTA, 2009).
As doenças bucais podem afetar o desempenho nas atividades e a saúde geral dos
esportistas. Os patógenos presentes em uma inflamação, além de comprometerem a es-
trutura dentária e tecidos de suporte, podem gerar outros problemas, como aterosclerose,
infecções respiratórias e dificuldades da recuperação tecidual, o que afeta a qualidade de
vida e o bem-estar do profissional (TEIXEIRA et al., 2021). A lesão cariosa, erosão dentá-
ria, problemas periodontais, traumas dentários, má oclusão, disfunção temporo-mandibular
(DTM), terceiros molares impactados e pericoronarite são problemas recorrentes encontrados
na cavidade oral do atleta (ASHLEY et al., 2014).
1. Cárie Dentária
2. Doença Periodontal
3. Trauma Dentário
67
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O trauma dentário pode ser evitado através de dispositivos que conferem proteção aos
dentes e periodonto. Os protetores bucais são capazes de absorver o choque na boca, preve-
nindo assim lesões desencadeadas por queda ou golpe na região oral (CAGLAR et al., 2009).
4. Má Oclusão
A oclusão se define como a relação de encaixe dos dentes, ou seja, quando a arcada
dental entra em contato com a arcada antagonista, sem relação com a posição da mandíbula
(STEFANELLO et al., 2006).
Em uma pesquisa realizada por Souza e colaboradores, foi evidenciado que 47% dos
atletas estudados possuíam algum problema relacionado à oclusão, como sobremordida
profunda, mordida aberta, diastemas e apinhamento dental.
A má oclusão pode interferir de forma negativa no desenvolvimento do atleta. Esse
problema pode prejudicar a mastigação e a digestão dos alimentos, o que diminui a absor-
ção de nutrientes e leva à perda de equilíbrio muscular, dores de cabeça e problemas na
articulação temporomandibular. Por isso, torna-se importante que o dentista detecte esse
tipo de problema na cavidade oral do esportista (SOUZA et al., 2011).
5. Disfunção Temporomandibular
68
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
6. Terceiros Molares Impactados e Pericoronarite
O aumento da prática de esportes leva a um maior risco de traumas faciais e orais. A fra-
tura de algum osso facial é uma injúria grave e comum para atletas. Na mandíbula, o local que
mais ocorre é no ângulo, muito provavelmente devido à presença de um terceiro molar inferior
impactado. Por isso, recomenda-se a remoção profilática desse dente (YAMADA et al.,1998).
A pericoronarite geralmente é associada aos terceiros molares. Quando o dente está
irrompendo forma-se a lacuna pericoronária, que é um espaço entre a coroa dentária e a
mucosa oral. Nessa área ocorre o acúmulo de bactérias e resíduos que acarreta a pericoro-
narite, uma condição inflamatória e dolorosa. A prevenção deste problema está associada
à higienização oral (CAYMAZ et al., 2021).
7. Erosão Dental
No futebol há um grande temor por parte dos atletas e da comissão técnica com a
recidiva de lesões musculoesqueléticas, principalmente lesões musculares, devido a sua
alta incidência e ao consequente tempo de afastamento do esporte. Meios de monitora-
mento preventivo dessas lesões através de questionários subjetivos de esforço, correção
de desbalanços biomecânicos, dosagem de biomarcadores, exames de imagem seriados,
termografia, dentre outros, são empregados de rotina principalmente nos clubes de maior
expressão econômica.
Apesar de todo esse aparato tecnológico empregado no monitoramento preventivo
das lesões, patologias rotineiras ainda são comumente negligenciadas na rotina do futebol
(amador e profissional). Dentre essas patologias, destacam-se as de causas infecciosas da
cavidade bucal, como a cárie dentária e as doenças periodontais, muitas vezes relacionadas
69
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ao surgimento e à perpetuação dessas lesões recidivantes. Conforme já mencionado, essas
doenças infecciosas, que podem ser subclínicas, ocasionam reações imunológicas locais e
sistêmicas que interferem negativamente no processo de cicatrização dos tecidos biológicos
(SOLLEVELD et al., 2015).
E devido à dinâmica do esporte, esse processo é particularmente relevante no futebol.
Nessa modalidade, principalmente se praticada em alta performance, naturalmente o tecido
muscular sofre intensas reações inflamatórias agudas, muitas vezes com perda do balanço
fisiológico em desfavor do processo de reparação tecidual, o que o torna um nicho satisfa-
tório para o surgimento das lesões (PASTORE et al., 2017). Esse mesmo processo também
ocorre nos outros tecidos musculoesqueléticos, porém em menor intensidade.
Na vigência dessas patologias da cavidade oral, as citocinas produzidas no processo
inflamatório irão desencadear, de formas direta e indireta, uma diminuição da performance
funcional musculoesquelética o que, somado a alta carga de trabalho, serão fatores pre-
ponderantes nas recidivas das lesões. Além disso, como fator adjuvante a essa cascata
fisiopatológica e que ajuda a explicar a relação entre doenças odontológicas e recidivas de
lesões, no esporte profissional os atletas estão frequentemente sujeitos a períodos de relativa
imunossupressão humoral e celular, com consequente aumento do catabolismo dos tecidos.
Portanto, as patologias odontológicas não tratadas cursam com uma situação de estado
inflamatório crônico, o que dificulta a reparação tecidual musculoesquelética, que é um pro-
cesso constantemente necessário em um atleta de futebol. Associado a isso, muitas vezes
os atletas não respeitam o período biológico de cicatrização e retornam de forma precoce
ao esporte culminando, portanto, em um círculo vicioso de difícil resolução clínica.
Destaca-se assim a necessidade de uma atenção especial à saúde bucal dos atletas,
através de avaliações seriadas e preventivas. Medidas simples proporcionadas através desse
monitoramento odontológico podem muitas vezes ser mais eficazes do que os potenciais
benefícios gerados por todo o poder tecnológico empregado na melhora da performance e
na prevenção de lesões no futebol.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ASHLEY, P; IORIO, A di; COLE, E; A TANDAY; NEEDLEMAN, I. Oral health of elite athletes
and association with performance: a systematic review. British Journal Of Sports Medicine,
v. 49, n. 1, p. 14-19, 11 nov. 2014.
3. BRYANT, S.; MCLAUGHLIN, K.; MORGAINE, K.; DRUMMOND, B.. Elite Athletes and Oral
Health. International Journal Of Sports Medicine, v. 32, n. 09, p. 720-724, 2011.
4. CAYMAZ, M.G.; BUHARA, O. Association of Oral Hygiene and Periodontal Health with Third
Molar Pericoronitis: a cross-sectional study. Biomed Research International, v. 2021, p. 1-7,
2021.
7. CORREA, M. B.; SCHUCH, H. S.; COLLARES, K.; HALLAL, P. C.; DEMARCO, F. F. Survey
on the occurrence of dental trauma and preventive strategies among Brazilian professional
soccer players. J Journal of applied oral science, v.18, n.6, p. 572-576, 2010.
8. COSTA, S.S. Odontologia desportiva na luta pelo reconhecimento. Rev Odontol Univ São
Paulo. v.21. n.2, p.162-8, 2009.
9. COSTA, R.M; RIOS RIBEIRO, N.C; TUNES, U.R; ROCHA, M.N.D; LAGO, M.S. Odontoclínica:
simulação de gestão em clínica odontológica em um curso de graduação em Odontologia.
Revista da ABENO. v.15, n.1, p.77-85, 2015.
11. GAY-ESCODA, C.; VIEIRA-DUARTE-PEREIRA, D.M.; ARDEVOL, J.; PRUNA, R.; FERNAN-
DEZ, J.; VALMASEDA-CASTELLON, E.. Study of the effect of oral health on physical condition
of professional soccer players of the Football Club Barcelona. Medicina Oral Patología Oral
y Cirugia Bucal, p. 436-439, 2011. 71
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12. IONEL, A.; LUCACIU, O.; BONDOR, C.; MOGA, M.; ILEA, A.; FEURDEAN, C.; BUHățEL, D.;
HURUBEANU, L.; CÂMPIAN, R. S. Assessment of the relationship between periodontal di-
sease and cardiovascular disorders: a questionnaire-based study. Medicine And Pharmacy
Reports, v. 89, n. 4, p. 534-541, 2016.
13. PADILHA, C.; NAMBA, E. L. Introdução A Odontologia do Esporte. In: NAMBA, E. L.; PADILHA,
C. Odontologia do Esporte: Um novo caminho. Uma nova especialidade. [S.I.]: Editora
Ponto. 2014. p.32-53.
14. PASTORE, G.U.; MOREIRA, M.; BASTOS, R.; GALOTTI, M.; LEONARDI, M. F. P. Odontologia
do Esporte – Uma proposta inovadora. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 23, n.
2, p. 147-151, 2017.
15. PERGAMALIAN, A.; RUDY, T.; ZAKI, H.; GRECO, C. M. The association between wear facets,
bruxism, and severity of facial pain in patients with temporomandibular disorders. The Journal
Of Prosthetic Dentistry, v. 90, n. 2, p. 194-200, 2003.
16. PICCININNI, P.; CLOUGH, A.; PADILLA, R.; PICCININNI, G. Dental and Orofacial Injuries.
Clinics in Sports Medicine. v.36, n.2 , p.369-405, 2017.
18. RAMALHO, K.M.; HSU, C.S.; FREITAS; P.M. de; ARANHA, A.C.C.; ESTEVES-OLIVEIRA,
M.; ROCHA, R.G.; EDUARDO, C.P. Erbium Lasers for the Prevention of Enamel and Dentin
Demineralization: a literature review. Photomedicine and Laser Surgery, v. 33, n. 6, p. 301-
319, 2015.
19. ROSA, A.F., ROSA, S.B., SILVA, P.R.S., ROXO, C.D.M., TEIXEIRA, A.A.A., VISCONTI, A.M..
Estudo descritivo de alterações verificadas em 400 jogadores de futebol. Rev Bras Med Es-
porte, v.5, n.2, p.55-8, 1999.
20. SOARES, P.V.; TOLENTINO, A.B.; MACHADO, A.C.; DIAS, R.B.; COTO, N. P. Sports dentis-
try: a perspective for the future. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n.
2, p. 351-358, abr. 2014.
21. SOLLEVELD, H.; GOEDHART, A.; VANDEN BOSSCHE, L. Associations between poor oral
health and reinjuries in male elite soccer players: a cross-sectional self-report study. BMC
Sports Science, Medicine and Rehabilitation, v.7, n.1, 2015.
22. SOUZA, L.A. de; ELMADJIAN, T.R.; DIAS, R. B. e; COTO, N.P.. Prevalence of malocclusions
in the 13-20-year-old categories of football athletes. Brazilian Oral Research, v. 25, n. 1, p.
19-22, 2011.
23. STEFANELLO, T. D.; JUCÁ, R. L. L.; LODI, R. L. Estudo comparativo de possíveis desequi-
líbrios posturais em pacientes apresentando má oclusão de classe I, II e III de Angle, através
da plataforma de baropodometria. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama,
v. 10, n. 3, p. 139-143, set./dez. 2006.
24. TEIXEIRA, K. G.; BODANESE, A.; BANDEIRA, J. K. P.; REZENDE, M. The importance of
Sports Dentistry in the athlete’s performance. Research, Society and Development, [S. l.],
v. 10, n. 3, 2021. Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/13683.
Acesso em: 24 jun. 2021.
72
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
25. TOZOGLU, S.; TOZOGLU, U. A one-year review of craniofacial injuries in amateur soccer
players. J Craniofac Surg. v.17, p.825-7, 2006.
26. YAMADA, T.; SAWAKI, Y.; TOHNAI, I.; TAKEUCHI, M.; UEDA, M. A study of sports-related
mandibular angle fracture: relation to the position of the third molars. Scand J Med Sci Sports,
v.8, p.116-9, 1998.
73
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
05
Futebol de campo e variabilidade
da frequência cardíaca: Revisão da
Literatura
10.37885/210705519
RESUMO
Pa l av r a s - c h ave: Fu te b o l, S i s te m a N e r vo s o Au t ô n o m o, Fr e q u ê n c i a Ca r día c a ,
Medicina Esportiva.
75
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
76
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
DESENVOLVIMENTO
Existem muitos métodos usados atualmente para monitorar o desempenho e/ou nível
de fadiga dos atletas e suas respostas às cargas de treinamento. Nesse sentido, a VFC tem
sido amplamente utilizada como uma ferramenta não invasiva e que economiza tempo para
monitorar o estado de treinamento e as adaptações fisiológicas em indivíduos sedentários
esportistas e atletas altamente treinados (GRANERO-GALLEGOS et al., 2020).
Em se tratando de desempenho físico, a VFC analisada no período prévio a um pro-
grama de treinamento apresentou relação positiva com o aumento no VO2máx após treina-
mento, em não atletas (HAUTALA et al., 2003), sugerindo que a VFC pode ser importante
preditora do potencial de melhora da aptidão aeróbia. Portanto, pode-se sugerir que a VFC
provavelmente esteja associada a melhoras no desempenho físico, pois existe relação entre
testes de desempenho físico e VO2máx (BANGSBO et al., 2008).
Estudos evidenciaram também que a melhora na resistência aeróbia está associada
positivamente com a modulação autonômica cardíaca de repouso (HAUTALA et al., 2003)
e as mudanças dessa VFC em resposta ao treinamento físico (BOULLOSA et al., 2013).
Índices parassimpáticos no DT e no DF, além de métodos não lineares da VFC, podem
ser implementados de forma eficaz para orientar a prescrição da carga de treinamento
(JAVALOYES et al., 2020).
De fato, Vesterinen et al. (2016) demonstrou que um protocolo de treinamento adapta-
do por medidas diárias de VFC proporcionou ganhos de desempenho superiores do que o
treinamento periodizado tradicional em atletas de resistência. No programa de treinamento
79
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
individualizado aplicado neste estudo, os atletas apenas realizaram sessões de treinamento
de alta intensidade durante os períodos em que a modulação vagal cardíaca estava dentro
dos limites normais e/ou mais altos.
É importante salientar que atletas com maiores níveis parassimpáticos de VFC e ap-
tidão cardiorrespiratória são mais eficazes em realizar e suportar uma determinada carga
de treinamento, com menores oscilações da VFC (NAKAMURA et al., 2016). Essas desco-
bertas levaram pesquisadores a defender a idéia da importância de manter altos níveis de
atividade parassimpática cardíaca em atletas, afim de otimizar as adaptações relacionadas
ao treinamento (VESTERINEN et al., 2016). Isso é especialmente verdadeiro quando se
considera os valores drasticamente mais baixos da VFC encontrados em atletas com ex-
cesso de treinamento.
Outras investigações evidenciaram de forma similar uma associação entre os índi-
ces basais da VFC e a capacidade máxima de sprint, aceleração e capacidade de sprint
repetido, além da capacidade aeróbia, em jovens jogadores de futebol (RODRÍGUEZ-
FERNÁNDEZ et al., 2019).
Embora a literatura mostre uma tendência a uma maior modulação vagal cardíaca em
atletas (PROIETTI et al., 2017), isso não é consenso (BOYETT et al., 2013). Essa contro-
vérsia não é surpreendente, pois é possível que momentos distintos de testes ao longo da
temporada competitiva, ou diferenças entre modalidades esportivas ou ainda especializa-
ções dentro da mesma modalidade, possam ser a razão para essas discrepâncias. Nesse
contexto, um cenário ideal seria a adoção de protocolo de triagem pré-participação de rotina
em jogadores de futebol de elite, repetido consecutivamente, o que proporcionaria uma
oportunidade única para entender o comportamento de algumas dessas variáveis.
Alternativamente, a análise da VFC no período noturno pode ser considerada uma fer-
ramenta mais adequada para o monitoramento do treinamento de futebol, uma vez que ela
não é afetada por fatores como estresse emocional ou nível de hidratação que influenciam
as avaliações de campo da VFC (BOULLOSA et al., 2012).
Os índices de VFC mais comumente usados em configurações esportivas são o desvio
padrão dos intervalos RR (iRR) sucessivos (SDNN) do ECG, que são responsáveis pela
modulação autonômica cardíaca global (ou seja, ramos simpáticos e parassimpáticos) e a
diferença quadrada média de iRR normais sucessivos (RMSSD), que isola a modulação
parassimpática no nodo sinusal. Além disso, as oscilações dos iRR nas bandas de baixa
(Low Frequency - LF) e alta frequências (High Frequency - HF) também têm sido utilizadas
para indicar as atividades predominantemente simpática e parassimpática no nodo sinusal,
respectivamente (TASK FORCE, 1996).
80
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Recentemente, todavia, um estudo envolvendo jogadores de futebol profissional suge-
riu o uso de dois novos índices de VFC. Um deles é escore de estresse, que é uma função
inversa do índice SD2 do Plot de Poincaré (método não linear da VFC), resultando em uma
medida que é diretamente proporcional à atividade simpática. O outro é a relação simpático/
parassimpático, que avalia o equilíbrio entre os dois ramos do sistema autonômico cardíaco.
Embora o significado fisiológico do escore de estresse e da relação simpático/ parassimpá-
tico precise ser esclarecido em investigações futuras, seu cálculo parece ser válido, pois a
dinâmica não linear dos batimentos cardíacos apresenta relações fortes e coerentes com os
índices de VFC no DT, com a vantagem de fornecerem um índice de modulação puramente
simpática e um índice de equilíbrio simpático-vagal.
É reconhecido que a interpretação de qualquer índice de VFC não é direta, especial-
mente se considerarmos o comportamento caótico determinístico da dinâmica da frequência
cardíaca sob interação simpato-vagal exacerbada. É importante notar que é extremamente
difícil isolar completamente a modulação dos ramos simpáticos ou parassimpáticos do SNA
no nodo sinusal por meio dos índices da VFC. Todavia, uma associação clara entre a dimi-
nuição do índice SD2 e a estimulação simpática durante o exercício foi observada (DELA
CRUZ TORRES et al., 2008) e utilizada para propor o escore de estresse. Mais importante,
o bloqueio parassimpático sob baixa interação simpatovagal (através da administração de
baixas doses de atropina), condição fisiológica comum em repouso, resultou em uma ate-
nuação progressiva linear do SD1 (índice mediado pelo vago) enquanto o SD2 permaneceu
inalterado (TULPPO et al., 1996).
A taxa de recuperação da FC (RFC), ou seja, reativação vagal, é outra ferramenta de
monitoramento simples e interessante que também pode identificar adaptações autonômicas
cardíacas associadas ao treinamento físico. Especificamente, uma RFC mais rápida (10-20s)
foi considerada indicativa de adaptações autonômicas específicas para atletas de espor-
tes intermitentes, provavelmente como resultado da recuperação limitada (<30 s) entre os
esforços, com uma RFC mais rápida observada em jovens jogadores de futebol com maior
capacidade aeróbia (OSTOJIC et al., 2011).
Enquanto as avaliações laboratoriais e de campo tradicionais têm sido realizadas em
atletas (Kalapotharakos et al.,2011), jogos curtos (ʻʻsmall-sided gamesʼʼ) têm sido frequen-
temente usados por treinadores para melhorar simultaneamente as capacidades físicas e
técnicas dos jogadores, reproduzindo assim atividades de jogos intermitentes em um am-
biente bem controlado (MASCARIN et al., 2018).
Assim, pode ser sugerido que as adaptações autonômicas cardíacas de treinamento
em jogadores de futebol possam ser refletidas por uma RFC mais rápida (ultracurta) regis-
trada entre esforços durante jogos curtos, uma condição de exercício mais específica do que
81
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
as avaliações tradicionais (MUÑOZ-LÓPEZ et al., 2020). Os resultados de Boullosa et al.
(2013) apoiam a adequação e praticidade tanto da análise da VFC noturna quanto da RFC
ultracurta para avaliação das adaptações autonômicas em jogadores de futebol profissional,
apesar das melhorias pouco claras em parâmetros específicos de desempenho de campo.
Dados recentes do nosso grupo de pesquisa (dados ainda não publicados) demonstra-
ram que jogadores de futebol de campo amador que jogam na posição “lateral” apresentaram
uma maior modulação parassimpática cardíaca de repouso (avaliada pelos métodos lineares
e não lineares da VFC) em comparação aos demais jogadores que jogam em diferentes
posições táticas. Observamos também que esse mesmo grupo de jogadores (laterais) obti-
veram melhores resultados nos testes de performance física (distância percorrida e VO2máx)
após a realização de um teste de esforço físico (Yo-Yo teste de recuperação intermitente
2). Em adição, mostramos uma correlação significativa entre os índices da VFC que avaliam
a modulação parassimpática cardíaca e a performance atlética.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
82
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
1. AKSELROD, S.; GORDON, D.; UBEL, F. A.; SHANNON, D. C.; BERGER, A. C.; COHEN, R.
J. Power spectrum analysis of heart rate fluctuation: a quantitative probe of beat-to-beat car-
diovascular control. Science, v.213, n4504, p.220-22, 1981.
2. AUNE, D.; SCHLESINGER, S.; HAMER, M.; NORAT, T.; RIBOLI, E. Physical activity and the
risk of sudden cardiac death: a systematic review and meta-analysis of prospective studies.
BMC Cardiovasc Disord, v.20, n.1, p.318, 2020.
3. BANGSBO, J.; IAIA, F.; KRUSTRUP, P. The Yo-Yo intermittent recovery test: A useful tool for
evaluation of physical performance in intermittent sports. Sports Med, v.38, n.1, p.37-51, 2008.
4. BOULLOSA, D. A.; ABREU, L.; TUIMIL, J. L.; LEICHT, A. S. Impact of a soccer match on the
cardiac autonomic control of soccer referees. Eur J Appl Physiol, v.112, p.2233-2242, 2012.
5. BOULLOSA, D. A.; ABREU, L.; NAKAMURA, F. Y.; MUNOZ, V. E.; DOMINGUEZ, E.; LEICHT,
A. S. Cardiac autonomic adaptations in elite Spanish soccer players during preseason. Int J
Sports Physiol Perform, v.8, p.400-409, 2013.
6. BUCHHEIT, M.; MENDEZ-VILLANUEVA, A.; QUOD, M. J.; POULOS, N.; BOURDON, P. De-
terminants of the variability of heart rate measures during a competitive period in young soccer
players. Eur J Appl Physiol, v.109, p.869-878, 2010.
7. DELA CRUZ TORRES, B.; LÓPEZ LÓPEZ, C.; NARANJO ORELLANA, J. Analysis of heart rate
variability at rest and during aerobic exercise: a study in healthy people and cardiac patients.
Br J Sports Med, v.42, n.9, p.715-20, 2008.
9. HAUTALA, A. J.; MAKIKALLIO, T. H.; KIVINIEMI, A.; LAUKKANEN, R. T.; NISSILA, S.; HUI-
KURI, H. V.; TULPPO, M. P. Cardiovascular autonomic function correlates with the response
to aerobic training in healthy sedentary subjects. Am J Physiol Heart Circ Physiol, v.285,
p.1747-1752, 2003.
10. JAVALOYES, A.; SARABIA, J. M.; LAMBERTS, R. P.; PLEWS, D.; MOYA- RAMON, M. Training
Prescription Guided by Heart Rate Variability Vs. Block Periodization in Well-Trained Cyclists.
J Strength Cond Res, v.34, n.6, p.1511-1518, 2020.
12. KUNZ, M. 265 million playing football. FIFA Magazine, p.10-5, 2007.
13. LOTURCO, I.; PEREIRA, L. A.; REIS, V. P.; BISHOP, C.; ZANETTI, V.; ALCARAZ, P. E.; FREI-
TAS, T. T.; MCHUIGAN, M. R. Power training in elite young soccer players: Effects of using
loads above or below the optimum power zone. J Sports Sci, v.38, n.11- 12, p.1416-1422, 2020.
14. LUCINI, D.; FALLANCA, A.; MALACARNE, M.; CASASCO, M.; GALIUTO, L.; PIGOZZI, F.;
GALANTI, G.; PAGANI, M. Streamlining Analysis of RR Interval Variability in Elite Soccer
Players: Preliminary Experience with a Composite Indicator of Cardiac Autonomic Regulation.
Int J Environ Res Public Health, v.17, n.6, p.1844, 2020.
83
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
15. MASCARIN, R. B.; DE ANDRADE, V. L.; BARBIERI, R. A.; LOURES, J. P.; KALVA-FILHO, C.
A.; PAPOTI, M. Dynamics of Recovery of Physiological Parameters After a Small-Sided Game
in Women Soccer Players. Front Physiol, v.9, p.887, 2018.
16. MUÑOZ-LÓPEZ, A.; NARANJO-ORELLANA, J. Individual versus team heart rate variability
responsiveness analyses in a national soccer team during training camps. Sci Rep, v.10, n.1,
p.11726, 2020.
17. NAKAMURA, F. Y.; PEREIRA, L. A.; RABELO, F. N.; FLATT, A. A.; ESCO, M. R.; BERTOLLO,
M.; LOTURCO, I. Monitoring weekly heart rate variability in futsal players during the preseason:
the importance of maintaining high vagal activity. J Sports Sci In Press, 2016.
18. OSTOJIC, S. M.; STOJANOVIC, M. D.; CALLEJA-GONZÁLEZ, J. Ultra shortterm heart rate
recovery after maximal exercise: relations to aerobic power in sportsmen. Chin J Physiol,
v.54, p.105-110, 2011.
19. PROIETTI, R.; DI FRONSO, S.; PEREIRA, L. A.; BORTOLI, L.; ROBAZZA, C.; NAKAMURA,
F. Y. et al. Heart rate variability discriminates competitive levels in professional soccer players.
J Strength Cond Res, v.31, n.6, p.1719-25, 2017.
21. TASK Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing
and Electrophysiology. Guidelines: heart rate variability: standards of measurement, physiolo-
gical interpretation, and clinical use. Circulation, v.93, n.5, p.354-81, 1996.
22. TULPPO, M. P.; MÄKIKALLIO, T. H.; TAKALA, T. E.; SEPPÄNEN, T.; HUIKURI, H. V. Quanti-
tative beat to-beat analysis of heart rate dynamics during exercise. Am J Physiol, v.271, n.2,
p.244-52, 1996.
23. VESTERINEN, V.; NUMMELA, A.; HEIKURA, I.; LAINE, T.; HYNYNEN, E.; BOTELLA, J.;
HAKKINEN, K. Individual Endurance Training Prescription with Heart Rate Variability. Med Sci
Sports Exerc, v.48, p.1347-1354, 2016.
84
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
06
Lombalgia no atleta de futebol
10.37885/210705520
RESUMO
86
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
A lombalgia é uma das principais causas que levam à incapacidade física em atletas.
Ela caracteriza-se por ser mais um sintoma do que uma doença e pode estar relacionado a
uma série de patologias, porém o motivo mais comum é a dor lombar inespecífica (MAHER
et al., 2017). Na população geral, aproximadamente 85% apresentará dor lombar em algum
momento da vida (HOY et al., 2012). No futebol, em torno de 10 a 15% das lesões nos atle-
tas ocorrem na coluna vertebral, o que leva a prejuízos na performance física e, no caso do
futebol profissional, também econômico (PFIRRMANN et al., 2016).
Não há uma relação isolada de causalidade entre o surgimento da dor lombar e a prá-
tica do futebol. Contudo, percebe-se que, no futebol profissional, com o objetivo de atingir
elevados níveis de competição com treinos de alta intensidade, pode haver sobrecarga de
estruturas anatômicas e aumento do risco de lesões musculoesqueléticas na coluna vertebral.
Além disso, a prática desse esporte sem o devido treinamento regular aumenta a incidência
de dor lombar, fato comumente observado nos jogadores amadores (LINEK et al., 2020).
A coluna lombar é um importante segmento de equilíbrio e estabilização corporal, tanto
nas atividades estáticas quanto dinâmicas. Além disso, devido à presença da musculatura
biarticular inserida na coluna vertebral, participa de forma ativa dos movimentos pliométricos
e rotacionais, que são constantes na prática do futebol. Desta forma, qualquer lesão na co-
luna pode desestabilizar a dinâmica postural do atleta (RUHE et al., 2011). Esse segmento
pode sofrer também as consequências de alterações biomecânicas em outras articulações
dos membros inferiores, como devido a uma instabilidade dos quadris (TOJIMA et al., 2020).
O objetivo desse capítulo foi descrever as principais lesões da coluna vertebral obser-
vadas nos atletas de futebol e descrever os princípios de prevenção dessas lesões.
DESENVOLVIMENTO
As causas de lombalgia no atleta de futebol são múltiplas e a equipe médica deve fazer
uma correta avaliação semiológica para se chegar a um diagnóstico correto.
Dados epidemiológicos e clínicos como idade, sexo, antecedentes pessoais, comor-
bidades e fatores de melhora e piora da dor são aspectos essenciais que devem ser pes-
quisados durante a avaliação.
A maioria dos quadros de dor lombar no atleta de futebol não apresenta uma causa pa-
tológica definida, sem definições através do exame físico e dos exames de imagem. Nesses
casos, o diagnóstico de dor lombar inespecífica, geralmente de causa muscular, deve ser
considerado, e eles evoluem de forma satisfatória, com melhora completa em poucos dias.
87
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, outras patologias condicionam dor lombar persistente e comprometem a par-
ticipação nas atividades esportivas. Nesses casos resistentes ao tratamento conservador
inicial, ou relacionados a sinais de alarme como trauma, emagrecimento sem causa justi-
ficada, febre, uso crônicos de corticóides, dentre outros, são necessários exames de ima-
gem complementares.
1. Espondilólise
88
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 1. Radiografia em incidência oblíqua da coluna lombar, no qual são observados a imagem do cachorro de Le
Chapelle e a fratura da pars articularis.
2. Síndrome facetária
89
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
O tratamento pode ser realizado com repouso relativo e realização de exercícios leves,
evitando movimentos de rotação e extensão da coluna. O uso de crioterapia e anti-inflama-
tório pode ser aplicado na fase aguda da dor. Em casos refratários ao tratamento, podem
ser realizados bloqueios terapêuticos anestésicos facetários. Os programas de reabilitação
devem ser iniciados o mais precoce possível com fortalecimento da musculatura abdominal,
exercícios antilordóticos e alongamento da cadeia muscular posterior dos membros inferiores.
A degeneração discal ocorre com elevada frequência em atletas jovens de alta perfor-
mance. As alterações degenerativas são influenciadas pelo tipo de intensidade do esporte,
que condicionam cargas compressivas de graus variáveis ao nível da coluna lombar. Apesar
da alta frequência nos atletas, essas alterações não necessariamente representam queixas
ou sintomas de lombalgia.
A sua incidência, bem como a sintomatologia, aumenta com a idade. O quadro clínico
caracteriza-se por dor mecânica com contratura muscular. Geralmente a dor piora com a
flexão da coluna lombar e melhora com a extensão. Além disso, pode haver irradiação para
membros inferiores, de acordo com a raiz neural irritada pelo processo herniário.
Os níveis mais acometidos são L4/L5 e L5/S1. O diagnóstico é feito através da inves-
tigação radiológica, sendo que a radiografia em perfil pode revelar estreitamento do espaço
intervertebral e da abertura foraminal. O padrão ouro para o diagnóstico é a ressonância
nuclear magnética, que é capaz de identificar processos degenerativos discais com desi-
dratação e herniações.
O tratamento da lombalgia associada a degeneração discal é em sua grande maioria
conservadora. A interrupção do processo causador da dor deve ocorrer na fase inicial, atra-
vés de repouso relativo seguido de programas específicos de reabilitação, com objetivo de
evitar a recorrência da dor. O uso de analgésicos e anti-inflamatórios na fase aguda da dor
é indicado. Nos casos de recorrência da dor, podem ser realizados bloqueios terapêuticos
de dor com infiltração de anestésico, analgésicos e anti- inflamatórios próximo à raiz irritada
pelo processo degenerativo/herniário. O tratamento cirúrgico é indicado apenas na falha do
tratamento conservador ou nos casos em que há alteração neurológica, sendo a microdis-
cectomia o padrão ouro para o tratamento.
A articulação sacroilíaca pode ter sua biomecânica alterada devido às doenças da co-
luna lombar. Esse segmento representa uma região importante para o movimento do corpo,
90
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
pois age como fulcro da força entre o tronco e os membros inferiores. As principais causas
de dor na articulação sacroilíaca estão listadas na Tabela 1.
Infecção
Sindrome de Reiter
Doença de Crohn
Artrite psoriática
Espondilite anquilosante
Fratura por estresse do sacro
91
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
– Prevenção da dor lombar no futebol
Para prevenção das lesões da coluna no futebol, o atleta deve passar por avaliação
criteriosa para identificação de fatores de risco para lesões e outras doenças musculoes-
queléticas que não tenham sido completamente reabilitadas. Sabe-se, por exemplo, que
atletas de futebol com dor lombar apresentam maior fraqueza isocinética da musculatura
do tronco (HO et al., 2005). Fatores semelhantes a esse devem ser avaliados e corrigidos,
de forma preventiva e terapêutica.
Nos atletas de uma forma geral, com foco nos da base, a frequência e a intensidade da
atividade física devem ser monitoradas com atenção, principalmente devido à especialização
cada vez mais precoce e a sua consequente sobrecarga musculoesquelética.
No futebol, observa-se uma preocupação crescente na necessidade de se diminuir a
incidência de lesões, devido aos prejuízos técnicos e financeiros envolvidos nessa situação.
Por isso, foram criados diferentes protocolos de prevenção de lesões, todos focados na
estabilização neuromuscular dos segmentos lombopélvico e quadris (CORE). Atualmente,
o treinamento isocinético do tronco ganhou destaque como medida de prevenção da dor
lombar em jogadores de futebol (NAMBI et al., 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ANDERSEN, L. B.; WEDDERKOPP, N.; LEBOEUF-Y, C. Association between back pain and
physical fitness in adolescents. Spine, v.31, n.15, p.1740-1744, 2006.
2. AUVINEN, J.; TAMMELIN, T.; TAIMELA, S.; ZITTING, P.; KARPPINEN, J Associations of
physical activity and inactivity with low back pain in adolescents. Scandinavian Journal of
Medicine & Science in Sports, v.18, p.188-194, 2008.
3. HO, C. W.; CHEN, L. C.; HSU, H. H.; CHIANG, S.L.; LI, M.H.; JIANG, S.H.; TSAI, K.C. Isokinetic
muscle strength of the trunk and bilateral knees in young subjects with lumbar disc herniation.
Spine, v.30, p.528-33, 2005.
92
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
4. HOY, D.; BAIN, C.; WILLIAMS, G.; MARCH, L.; BROOKS, P.; BLYTH, F.; WOOLF, A.; VOS,
T.; BUCHBINDER, R. A systematic review of the global prevalence of low back pain. Arthritis
Rheum, v.64, p.2028-37, 2012.
6. MAHER, C.; UNDERWOOD, M.; BUCHBINDER, R. Non-specific low back pain. Lancet, v.18,
p.736-747, 2017.
7. NAMBI, G.; ABDELBASSET, W.K.; ALQAHTANI, B.A.; ALRAWAILI, S.M.; ABODONYA, A.M.;
SALEH, A.K. Isokinetic back training is more effective than core stabilization training on pain
intensity and sports performances in football players with chronic low back pain: A randomized
controlled trial. Medicine (Baltimore), v.99, n.21, e20418, 2020.
8. PFIRRMANN, D.; HERBST, M.; INGELFINGER, P.; SIMON, P.; TUG, S. Analysis of Injury
Incidences in Male Professional Adult and Elite Youth Soccer Players: A Systematic Review.
J Athl Train, v.51, n.5, p.410-24, 2016.
9. RAJNICS, P.; TEMPLIER, A.; SKALLI, W.; LAVASTE, F, ILLÉS T. The Association of Sagittal
Spinal and Pelvic Parameters in Asymptomatic Persons and Patients with Isthmic Spondylo-
listhesis. J Spinal Dis Tech, v.15, n.1, p.24-30, 2010.
10. RUHE, A.; FEJER, R.; WALKER, B. Is there a relationship between pain intensity and postural
sway in patients with non-specific low back pain? BMC Musculoskelet Disord, v.12, 2011.
11. TOJIMA, M.; TAKEI, S.; TORII, S. Factors Associated with Ball Velocity and Low Back Pain
During Kicking in Adolescent Soccer Players. Open Access J Sports Med, v.7, n.11, p.133-
143, 2020.
12. VILLA, F. D.; MANDELBAUM, B. R.; LEMAK, L. J. The Effect of Playing Position on Injury Risk
in Male Soccer Players: Systematic Review of the Literature and Risk Considerations for Each
Playing Position. American journal of orthopedics, v.47, n.10, 2018.
93
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
07
Futebol baseado em evidências:
desafios e perspectivas da ciência
do esporte no Brasil
10.37885/210705542
RESUMO
95
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
1 Ciência do esporte abrange diversas áreas do conhecimento que visam a entender e otimizar o desempenho esportivo, utilizando o
conhecimento científico e considerando a melhor evidência disponível (VIVEIROS et al., 2015, p. 163).
2 O estudo científico do futebol tem origem nas primeiras pesquisas iniciadas na década de 1960 e concluídas na década de 1970.
Para Bjorn Ekblom, a assim nomeada “ciência do futebol” (football Science, em inglês) é uma área relativamente nova (40 anos). Sua
caracterização se dá em virtude da junção de vários campos do conhecimento científico que compõem o conjunto de saberes contri-
butivos ao desenvolvimento do futebol em particular. Mais detalhamento em: EKBLOM, B. Editorial. Revista Brasileira de Futebol.
96
Viçosa, v. 1, n. 1, p. 1-2, 2008.
3 A “prática baseada em evidências” é uma abordagem originalmente utilizada na medicina desde os anos de 1990 em muitos países,
como EUA, Canadá e Reino Unido, que, ajustada ao contexto do esporte, poderia ser descrita como a “integração de conhecimentos
técnicos, valores esportivos, e as melhores provas de investigação relevantes, balizando o processo de tomadas de decisão para a
prestação de serviços diários aos atletas” (COUTTS, 2017).
4 A COVID-19 (do inglês: Coronavirus Disease 2019) é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. Só no Brasil esta doença infectou mais 18 milhões de
pessoas, causando mais de meio milhão de mortes até a data de redação deste capítulo. Para mais informações, consultar: https://
97
www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases.
OBJETIVO
MÉTODOS
Para o desenvolvimento deste estudo foi adotada uma estratégia metodológica do tipo
“revisão da literatura narrativa”, também denominada de “tradicional”, visando a apurar o
98
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
estado atual de conhecimento, prioridades e limitações, e apontar direções na visão pessoal
do autor (SOUSA et al., 2018). Na sua execução, foram compreendidas quatro etapas: i)
pesquisa (procura e seleção dos estudos); ii) avaliação, iii) síntese e iv) análise. Adotou-se
na etapa de pesquisa uma seleção de literatura por conveniência de avaliação para inclusão
de estudos por vinculação ao tema investigado. Usou-se como palavras-chaves os termos
knowledgetranslation OR translationa research AND evidence-based practice OR practi-
ce-based evidence AND Sport conduzidas por motores de buscas nas bases eletrônicas
PubMed/MEDLINE e Google Acadêmico. Quando oportuno, as referências citadas nos
trabalhos recuperados também apontaram para a identificação de novas fontes. As leituras
e triagens foram direcionadas para os estudos de revisão, surveys, editoriais ou ponto de
vista identificados com a pertinência para o nosso objetivo. Portanto, o manuscrito deveria
trazer à luz o debate sobre o cenário atual de cientificidade na prática profissional no espor-
te, trazendo orientações para a consolidação do suporte científico e a adoção de “práticas
baseadas em evidências”, e debatendo o contexto de produção de conhecimento e sua
transferência-aplicação. Após essas etapas, houve a proposição de um modelo conceitual
espelhando recorrentes recomendações para a superação de “gaps” e integrando outras no-
vas, a fim de colaborar para a mudança de status quo do cenário de cientificidade do futebol.
RESULTADOS
Notou-se, nos últimos cinco anos, principalmente, uma série de artigos recomendando a
necessidade de rediscutir os modelos conceituais atuais de pesquisa-aplicação em Ciência do
Esporte que repercuta também em desdobramentos para a Ciência do Futebol. Compilando
os resultados das buscas, retemos 15 trabalhos para síntese e análise (Quadro 1).
99
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Quadro 1. Estudos considerados em revisão e seus principais apontamentos.
100
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Estudos Principais apontamentos
Considerando a síntese obtida, propusemos um modelo conceitual (Figura 1), que traz
importantes implementações. A nossa premissa fundamental está inicialmente ancorada
em parcerias integrativas entre Clubes, Universidades, Empresas Tecnológicas voltadas
à metrificação de performance e saúde atlética, e Federações/Confederações num siste-
ma de cooperação mútua a partir do cenário prático, competitivo e guiado pela premissa
da vantagem competitiva. Essa concepção se deve à necessidade de integração desses
facilitadores. Afinal, eles têm interesses e prioridades diferentes, que precisam ser conca-
tenados, principalmente, para o desenvolvimento e busca de soluções práticas (DELLAL
et al., 2012; VERHAGEN et al., 2014; WELCH et al., 2014) para problemas reais que trariam
101
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
benefícios comuns e desenvolvimento. O continuum dessas ações anteriores são geradoras
de inputs para o processo investigativo propriamente dito. A abordagem com visão holística
e transdisciplinar5, impulsionada por problemas investigativos do mundo real e requerendo o
contributo de profissionais e de áreas-suportes, como fisiologia, psicologia, sociologia, epide-
miologia, estatística computacional etc., seguem entremeando ideias para uma interconexão
mais funcional e retroalimentada entre todos os atores envolvidos. Na sequência, o proces-
samento da questão prática a ser resolvida em investigação deverá usar as abordagens
contemporâneas de ciência. Por exemplo, os nossos chamados para a reprodutibilidade e
replicação atentam-se para a demanda de credibilidade das alegações científicas comen-
tadas por Nosek e Errington (2020). A primeira diz respeito ao reteste de uma afirmação ou
achado científico utilizando as mesmas análises e os mesmos dados. Portanto, o estudo
tem alta reprodutibilidade se os resultados do estudo original são confirmados através da
repetição do estudo utilizando os mesmos dados e as mesmas análises. Porém, uma evi-
dência deveria também ser credível segundo o princípio da replicação, em que um estudo
é altamente replicado quando os resultados do estudo original são confirmados através da
repetição do estudo utilizando as mesmas análises, mas recolhendo novos dados. Portanto,
esse movimento reduziria a ênfase em características do estudo e aumentaria a ênfase na
interpretação de possíveis resultados. O objetivo da replicação é, portanto, fazer avançar a
teoria, confrontando o entendimento existente com novas evidências (NOSEK; ERRINGTON,
2020). No seguimento do modelo, nota-se a importância da comunicação para uma efetiva
transferência de conhecimento. Na sequência, deve-se ocorrer a sistematização do processo
de implementação, adaptação e prova de eficácia no mundo real, com feedback da visão e
valores dos atletas (crenças, preferências, preocupações e expectativas individuais), os quais
são, infelizmente, pouco ouvidos ou participativos no processo em nossa cultura esportiva.
Seguindo esse processo, estaria, então, ampliada a chance de uma prática profissional
mais geradora de vantagem, com menor emprego do empirismo e implementação plena da
“prática baseada em evidências”. Por fim, a adoção de “práticas baseadas em evidências”
poderá direcionar o melhor uso do estado da arte e evidências sobre uma determinada prá-
tica, como uma conduta mais segura, de menor custo, geradora de vantagens e assegurada
aderência e resultado final.
5 A investigação transdisciplinar é um tipo de investigação “interdisciplinar que envolve investigadores de diferentes campos que
trabalham com profissionais ao longo de um período de tempo prolongado, implementando quadros conceituais e metodológicos
inovadores para que potencialmente resulte em novas abordagens teóricas”. Mais detalhamento em: POLK, M. Achieving the promise
of transdisciplinarity: a critical exploration of the relationship between transdisciplinary research and societal problem solving. Sustai-
102
nability Science. Berlim, v. 9, n. 4, p. 439-451, 2014.
DISCUSSÃO
O ponto fulcral sintetizado pelo presente ensaio é que, apesar de todo esforço e evo-
lução da Ciência do Esporte, nem toda descoberta recente é plenamente implementada ou
testada em contexto ecológico dinâmico6 (ROSS; GUPTA; SANDERS, 2018). Portanto, o
progresso da inovação na perspectiva de “pesquisa-aplicação” exigirá uma grande mudança
de paradigma. Nota-se, por exemplo, na percepção dos profissionais de campo, a existên-
cia de várias barreiras para a aplicação da ciência no cotidiano do treinamento de atletas.
Divergências entre o teoricismo dos pesquisadores e o praticismo daqueles que estão no
campo são barreiras típicas, se não a maior delas no futebol brasileiro. Uma lista de outros
fatores, como dificuldades ou falta tempo para acessar as publicações (papers e livros),
descrença ou distanciamento da realidade contextual e de infraestrutura apresentadas na
6 Nos últimos anos, tem havido um aumento substancial da popularidade a partir das perspectivas de aquisição de competências
transdisciplinares sustentadas pela “abordagem da dinâmica ecológica”. É uma abordagem holística ao estudo comportamental, uma
vez que considera tanto o agente como o ambiente em que este se baseia e no qual atua ou se reorganiza durante a ação. Isso é
considerado um conceito guia para a inovação na ciência do esporte vigente. Mais detalhamento em: WOODS, C. T. et al. ‘Knowing
as we go’: a hunter-gatherer behavioural model to guide innovation in sport science. Sports Medicine Open, Cham, v. 6, n. 1, p. 1-9,
103
2020.
7 Translacionalidade é discutida na esfera do como as informações e o conhecimento são traduzíveis através de comunicação efetiva
104
e transdisciplinaridade.
8 A abordagem “baseado na realidade” é intencionada para o alcance do maior grau de realidade das coisas que podemos alcançar e
sobre a qual podemos construir.
9 Complexidade ou ciência da complexidade, também chamada ciência de sistemas complexos, estuda uma grande coleção de com-
ponentes – interagindo localmente uns com os outros em pequena escala – e como se auto-organizar espontaneamente para exibir
estruturas e comportamentos globais não triviais em escalas maiores. Ambos os conceitos podem ser vistos com mais detalhamento
em: WOODS, C. T. et al. ‘Knowing as we go’: a hunter-gatherer behavioural model to guide innovation in sport science. Sports Medi-
105
cine Open, Cham, v. 6, n. 1, p. 1-9, 2020.
10 Lei 8650/93 | Lei nº 8.650, de 20 de abril de 1993, dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol e dá
107
outras providências.
108
12 Mais detalhamento em: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/outros/programa-academia-futebol
13 Sports analytics usa uma combinação de aprendizagem de estatística computacional, análise de vídeo e teoria de jogos para promo-
ver análise preditiva. Tem ganhado popularidade com o aumento do acesso a hardware especializado e portabilidade, permitindo, por
exemplo, a reconstrução de cenários de jogo reais, fornecendo mais feedbacks aos jogadores, melhorando e os capacitando para a
análise teórica do jogo e proposição de estratégias. Mais detalhamento em: TUYLS, K. et al. Game Plan: What AI can do for football,
110
and what football can do for AI. Journal of Artificial Intelligence Research, Loma Vista, v. 71, p. 41-88, 2021.
14 No Brasil, a política de uso de dados em sites esportivos e de federações, são regulamentados conforme o disposto na Lei nº 10.671
de 2003, conhecida como “Estatuto do Torcedor”, mais precisamente em seus artigos 11 e 12, no qual a entidade responsável pela
organização da competição, com fulcro na transparência e probidade de suas atividades, tem por obrigação publicar as súmulas de
suas competições em seu site. Ademais, os dados contidos nas Súmulas obedecem a Lei nº 13.709 de 2018 (Lei Geral de Proteção
111
de dados), cumprindo integralmente os princípios do tratamento de dados pessoais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
1. ARDERN, C. L.; DUPONT, G.; IMPELLIZZERI, F. M. et al. Infographic. unravelling confusion
in sports medicine and science practice: a systematic approach. British Journal of Sports
Medicine, London, v. 53, n. 13, p. 835-836, 2019.
2. ARDERN, C. L.; DUPONT, G.; IMPELLIZZERI, F. M. et al. Unravelling confusion in sports medi-
cine and sports science practice: a systematic approach to using the best of research and prac-
tice-based evidence to make a quality decision. British Journal of Sports Medicine, London,
v. 53, n. 1, p. 50-56, 2019.
4. BARTLETT, J. D.; DRUST, B. A framework for effective knowledge translation and performance
delivery of sport scientists in professional sport. European Journal of Sport Science, Oxon, p.
1-9, 2020.
114
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
5. BISHOP, D. An applied research model for the sport sciences. Sports Medicine, Auckland,
v. 38, n. 3, p. 253-263, 2008.
7. CAREW, A. L.; WICKSON, F. The TD wheel: a heuristic to shape, support and evaluate trans-
disciplinary research. Futures, Amsterdam, v. 42, n. 10, p. 1146-1155, 2010.
9. CLAUDINO, J. G.; CARDOSO FILHO, C. A.; BOULLOSA, D. et al. The role of veracity on the
load monitoring of professional soccer players: a systematic review in the face of the Big Data
Era. Applied Sciences, Basel, v. 11, n. 14, p. 6479, 2021.
11. DELLAL, A.; DA SILVA, C. D.; HILL-HAAS, S. et al. Heart-rate monitoring in soccer: interest
and limits during competitive match-play and training - practical application. The Journal of
Strength and Conditioning Research, Champaign, v. 26, n. 10, p. 2890-2906, 2012.
12. DJAOUI, L.; WONG, D. P.; PIALOUX, V. et al. Physical activity during a prolonged congested
period in a top-class european football team. Asian Journal of Sports Medicine, Tehran, v.
5, n. 1, p. 47-53, 2014.
14. FINCH, C. F.; DONALDSON, A. A sports setting matrix for understanding the implementation
context for community sport. British Journal of Sports Medicine, London, v. 44, n. 13, p.
973-978, 2010.
15. FULLAGAR, H. H. K.; MCCALL, A.; IMPELLIZZERI, F. M. et al. The translation of sport science
research to the field: a current opinion and overview on the perceptions of practitioners, rese-
archers and coaches. Sports Medicine, Auckland, v. 49, n. 12, p. 1817-1824, 2019.
16. FUSS, F. K.; SUBIC, A.; MEHTA, R. The impact of technology on sport - new frontiers. Sports
Technology, Richmond, v. 1, p. 1-2, 2008.
17. GALATTI, L.; BETTEGA, O. B.; Brasil, V. Z. et al. Coaching in brazil sport coaching as a pro-
fession in brazil: an analysis of the coaching literature in brazil from 2000-2015. International
Sport Coaching Journal, Champaign, v. 3, n. 3, p. 316-331, 2016.
18. JONES, B.; TILL, K.; EMMONDS, S. et al. Accessing off-field brains in sport; an applied rese-
arch model to develop practice. British Journal of Sports Medicine, London, v. 53, n. 13, p.
791-793, 2019.
115
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
19. LARA-BERCIAL, S.; ABRAHAM, A.; COLMAIRE, P. et al. The international sport coaching
bachelor degree standards of the international council for coaching excellence. International
Sport Coaching Journal, Champaign, v. 3, n. 3, p. 344-348, 2016.
20. MCCALL, A. Research in football: evolving and lessons we can learn from our mistakes. Science
and Medicine in Football, Oxfordshire, p. 1-3, 2021.
21. MCCALL, A.; DAVISON, M.; CARLING, C. et al. Can off-field ‘brains’ provide a competitive
advantage in professional football? British Journal of Sports Medicine, London, v. 50, n. 12,
p. 710-712, 2016.
22. MEYER, T. How much scientific diagnostics for high-performance football? Science and Medicine
in Football, Oxfordshire, p. 95, 2017.
23. MILISTETD, M.; GALATTI, L. R.; COLLET, C. et al. Formação de treinadores esportivos: orien-
tações para a organização das práticas pedagógicas como componente curricular. Journal of
Physical Education, Maringa, v. 28, n. 1, p. 2849, 2017.
24. NASSIS, G. P. Leadership in science and medicine: can you see the gap. Science and Medi-
cine in Football, Oxfordshire, v. 1, n. 3, p. 195-196, 2017.
25. NASSIS, G. P.; MASSEY, A.; JACOBSEN, P. et al. Elite football of 2030 will not be the same
as that of 2020: preparing players, coaches, and support staff for the evolution. Scandinavian
Journal of Medicine & Science in Sports, Copenhagen, v. 30, n. 6, p. 962-964, 2020.
26. NOSEK, B. A.; ERRINGTON, T. M. What is replication? Plos Biology, San Francisco, v. 18,
n. 3, p. e3000691, 2020.
28. RAMÍREZ-LÓPEZ, C.; TILL, K.; BOYD, A. et al. Coopetition: cooperation among competitors to
enhance applied research and drive innovation in elite sport. British Journal of Sports Medici-
ne, London, p. 522-523, 2021.
29. READE, I.; RODGERS, W.; HALL, N. Knowledge transfer: how do high performance coaches
access the knowledge of sport scientists? International Sport Coaching Journal, Champaign,
v. 3, n. 3, p. 319-334, 2008.
30. REIN, R.; MEMMERT, D. Big data and tactical analysis in elite soccer: future challenges and
opportunities for sports science. SpringerPlus, Switzerland, v. 5, n. 1, p. 1410, 2016.
31. ROSS, E.; GUPTA, L.; SANDERS, L. When research leads to learning, but not action in high
performance sport. Progress in Brain Research, Amsterdam, v. 240, p. 201-217, 2018.
33. STOSZKOWSKI, J.; COLLINS, D. Sources, topics and use of knowledge by coaches. Journal
of Sports Sciences, London, v. 34, n. 9, p. 794-802, 2016.
116
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
34. TOLEDO, H. C.; BARA FILHO, M. G. Esporte 4.0: uma realidade na era digital. São Paulo:
Nova Literarte, 2019. 161 p.
35. TOLEDO, H. C.; MAROCOLO, M. Ciência e tecnologia aliadas ao esporte. Arquivo de Ciên-
cias do Esporte, Uberaba, v. 7, n. 2, p. 55-56, 2020.
36. VERHAGEN, E.; VOOGT, N.; BRUINSMA, A. et al. A knowledge transfer scheme to bridge
the gap between science and practice: an integration of existing research frameworks into a
tool for practice. British Journal of Sports Medicine, London, v. 48, n. 8, p. 698-701, 2014.
37. VIVEIROS, L.; MOREIRA, A.; BISHOP, D. et al. Ciência do esporte no brasil: reflexões sobre o
desenvolvimento das pesquisas, o cenário atual e as perspectivas futuras. Revista Brasileira
de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 163-175, 2015.
38. WELCH, C. E.; HANKEMEIER, D. A.; WYANT, A. L. et al. Future directions of evidence-based
practice in athletic training: perceived strategies to enhance the use of evidence-based practice.
Journal of Athletic Training, Lafayette, v. 49, n. 2, p. 234-244, 2014.
39. WOODS, C. T.; ROBERTSON, S.; RUDD, J. et al. ‘knowing as we go’: a hunter-gatherer
behavioural model to guide innovation in sport science. Sports Medicine Open, Cham, v. 6,
n. 1, p. 52, 2020.
117
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
08
Estudo prospectivo das lesões
musculares em três temporadas
consecutivas do Campeonato
Brasileiro de Futebol
Moisés Cohen
DOT - EPM
10.37885/210303435
RESUMO
Objetivo: Realizar uma avaliação prospectiva das lesões musculares ocorridas durante
as partidas das séries A e B do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino dos anos
de 2016 a 2018. Métodos: Estudo de coorte prospectivo com coleta de dados referentes
às lesões musculares ocorridas durante os jogos oficiais da primeira e segunda divisões
do Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino nas temporadas de 2016, 2017 e 2018.
Resultados: O número total de lesões musculares foi de 577 ao longo das 3 tempora-
das, havendo uma redução gradual e anual na incidência delas (219 lesões em 2016,
195 em 2017, e 163 em 2018), com diferença estatística significativa entre os anos de
2016 e 2018. As lesões musculares representaram aproximadamente 35% de todas
as lesões. A incidência das lesões musculares foi 7,66 para cada 1.000 horas de jogo.
Nas 3 temporadas (2016 a 2018), a mais comum foi a lesão muscular dos isquiotibiais
(41,1%, 40,5% e 33,7%, respectivamente). Os laterais foram os mais acometidos, e a
escala de severidade de lesão mais comum foi a moderada (8 a 28 dias). O momento
da partida com maior incidência de lesões foi no período entre 61 e 75 minutos, com um
índice de 19,9%, não havendo diferença estatística em relação aos demais períodos de
jogo. Conclusão: Houve uma incidência de lesões musculares de 7,7 lesões/1.000 h, e
ocorreram predominantemente nos jogos em casa, em defensores (laterais e zagueiros),
com idade média de 28 anos, envolvendo principalmente a musculatura isquiotibial, com
tempo médio de afastamento moderado (8 a 28 dias).
119
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos
sob o número 1.660.701, tendo os dados sido cedidos pela CBF.
Análise Estatística
RESULTADOS
122
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 2. Posição dos jogadores acometidos por lesões musculares.
Em relação à posição em campo dos atletas acometidos por lesões musculares, ob-
servamos uma maior prevalência de lesões nos: laterais (18,5%), zagueiros (18,4%), meio-
-campistas (16,6%), atacantes (14,4%), volantes (10,7%), e goleiros (3,8%) (Figura 2). O grau
de severidade mais comum foi o tipo moderado, com afastamento entre 8 e 28 dias, sendo
a média de afastamento de 15,8 1,6 dias. O grupo muscular mais acometido foi o dos
músculos isquiotibiais. Os atletas acometidos por lesões musculares tinham uma média de
aproximadamente 28 anos. Os clubes mandantes tiveram maior índice de lesão muscular
(54,9%), com significância estatística (p < 0,001). Com relação à localização (distância) da
partida, houve maior prevalência de lesões musculares nos jogos em casa, e quando os
clubes tiveram que percorrer distâncias maiores do que 800 km para o jogo (53,4% e 33,4%,
respectivamente) (Figura 3). A temperatura média nos jogos com lesões musculares foi de
22 °C. Sobre o clima, a maior parte das lesões musculares ocorreu com tempo ensolarado
(38,6%), mas não houve diferença estatística (p ¼ 0,066) em relação às demais condições
climáticas (Figura 4).
O momento da partida com maior incidência de lesões (19,9%) foi entre 61 e 75 mi-
nutos , não havendo diferença estatística em relação aos demais períodos dejogo (Figura
5). Ao longo das 3 temporadas, notamos que a média de lesões por clube foi caindo ao
longo dos anos, pois em 2016 foram 5,92 lesões musculares por clube, contra 5,42 lesões
em 2017, e 4,79 lesões em 2018.
123
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 3. Distribuição das doenças musculares de acordo com a distância da partida.
124
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Fig. 5. Distribuição das lesões musculares de acordo com o momento da lesão.
Em relação aos turnos do campeonato, nos três anos avaliados, a maior parte das
lesões musculares ocorreu no primeiro turno (Figura 6).
DISCUSSÃO
127
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
No Brasil, apesar do alto valor financeiro envolvido nas duas principais divisões do
Campeonato Brasileiro de Futebol, nota-se uma carência de estudos sobre as causas de
impedimento à prática esportiva de seus atletas, entre elas as lesões musculares.
Uma limitação do presente estudo é a possibilidade de viés de informação, posto que
as informações podem ter sido modificadas ou até omitidas pelos médicos dos clubes. Além
disso, o estudo avaliou apenas lesões agudas ocorridas durante os jogos, e não avaliou
as lesões sofridas durante o treinamento e as doenças não relacionadas ao esporte. Outra
limitação é que o tempo de exposição foi calculado baseado em 22 jogadores e 90 minutos
por jogo. Um método mais preciso seria considerar os acréscimos ou a duração real de
cada partida e o número de minutos de exposição para cada jogador individualmente. Entre
os pontos fortes, o presente estudo é o primeiro no Brasil a realizar a avaliação de lesões
musculares por três anos no principal campeonato de futebol do país. Além disso, foram
realizadas correlações que podem ser conduzidas em outros estudos para comparação,
e este estudo confirmou certas associações que, apesar de esperadas, não tinham sido
previamente avaliadas.
CONCLUSÃO
CONFLITO DE INTERESSES
AGRADECIMENTOS
128
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
1. Arliani GG, Lara PHS, Astur DC, Pedrinelli A, Pagura JR, Cohen M. Orthopaedics injuries in
male professional football players in Brazil: a prospective comparison between two divisions.
Muscles Ligaments Tendons J 2018;7(03):524–531
2. Netto DC, Arliani GG, Thiele ES, Cat MNL, Cohen M, Pagura JR. Prospective Evaluation of
Injuries occurred during the Brazilian Soccer Championship in 2016. Rev Bras Ortop (Sao
Paulo) 2019; 54(03):329–334
4. Eirale C, Tol JL, Farooq A, Smiley F, Chalabi H. Low injury rate strongly correlates with team
success in Qatari professional football. Br J Sports Med 2013;47(12):807–808
6. Fuller CW, Ekstrand J, Junge A, et al. Consensus statement on injury definitions and data col-
lection procedures in studies of football (soccer) injuries. Br J Sports Med 2006;40(03):193–201
7. Arliani GG, Belangero PS, Runco JL, Cohen M. The Brazilian Football Association (CBF) model
for epidemiological studies on professional soccer player injuries. Clinics (São Paulo) 2011;66
(10):1707–1712
9. Ekstrand J, Hägglund M, Waldén M. Injury incidence and injury patterns in professional football:
the UEFA injury study. Br J Sports Med 2011;45(07):553–558
10. Arliani GG, Lara PHS, Astur DC, Pedrinelli A, Pagura JR, Cohen M. Prospective evaluation
of injuries occurred during a professional soccer Championship in 2016 in São Paulo, Brazil.
Acta Ortop Bras 2017;25(05):212–215 de Moraes ER, Arliani GG, Lara PHS, da Silva EHR,
Pagura JR, Cohen M. Orthopedic injuries in men’s professional soccer in Brazil: prospective
comparison of two consecutive seasons 2017/2016. Acta Ortop Bras 2018;26(05):338–341
11. Junge A, Dvořák J. Football injuries during the 2014 FIFA World Cup. Br J Sports Med
2015;49(09):599–602
12. Ekstrand J, Waldén M, Hägglund M. Hamstring injuries have increased by 4% annually in men’s
professional football, since 2001: a 13-year longitudinal analysis of the UEFA Elite Club injury
study. Br J Sports Med 2016;50(12):731–737
13. Bengtsson H, Ekstrand J, Waldén M, Hägglund M. Muscle injury rate in professional football is
higher in matches played within 5 days since the previous match: a 14-year prospective study
with more than 130 000 match observations. Br J Sports Med 2018;52 (17):1116–1122
14. Bengtsson H, Ekstrand J, Waldén M, Hägglund M. Match injury rates in professional soccer
vary with match result, match venue, and type of competition. Am J Sports Med 2013;41(07):
1505–1510
129
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
15. Dupont G, Nedelec M, McCall A, McCormack D, Berthoin S, Wisløff U. Effect of 2 soccer matches
in a week on physical performance and injury rate. Am J Sports Med 2010;38(09):1752–1758
16. Della Villa F, Mandelbaum BR, Lemak LJ. The Effect of Playing Position on Injury Risk in Male
Soccer Players: Systematic Review of the Literature and Risk Considerations for Each Playing
Position. Am J Orthop 2018;47(10):. Doi: 10.12788/ ajo.2018.0092
17. Carling C, McCall A, Le Gall F, Dupont G. The impact of short periods of match congestion on
injury risk and patterns in an elite football club. Br J Sports Med 2016;50(12):764–768
19. Fatouros IG, Chatzinikolaou A, Douroudos II, et al. Time-course of changes in oxidative stress
and antioxidant status responses following a soccer game. J Strength Cond Res 2010;24(12):
3278–3286
20. Mohr M, Draganidis D, Chatzinikolaou A, et al. Muscle damage, inflammatory, immune and
performance responses to three football games in 1 week in competitive male players. Eur J
Appl Physiol 2016;116(01):179–193
21. Nedelec M, McCall A, Carling C, Legall F, Berthoin S, Dupont G. The influence of soccer playing
actions on the recovery kinetics after a soccer match. J Strength Cond Res 2014;28(06):1517–
1523
22. Buckthorpe M, Gimpel M, Wright S, Sturdy T, Stride M. Hamstring muscle injuries in elite foo-
tball: translating research into practice. Br J Sports Med 2018;52(10):628–629
23. Eirale C. Hamstring injuries are increasing in men’s professional football: every cloud has a
silver lining? Br J Sports Med 2018;52 (23):1489
24. Ekstrand J, Spreco A, Davison M. Elitefootball teams that do not have a winter break lose on
average 303 player-days more per season to injuries than those teams that do: a comparison
among 35 professional European teams. Br J Sports Med 2019;53(19):1231–1235
25. Jones RN, Greig M, Mawéné Y, Barrow J, Page RM. The influence of short-term fixture con-
gestion on position specific match running performance and external loading patterns in English
professional soccer. J Sports Sci 2019;37(12):1338–1346
26. Klein C, Luig P, Henke T, Platen P. Injury burden differs considerably between single teams
from German professional male football (soccer): surveillance of three consecutive seasons.
Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2019;•••;. Doi: 10.1007/s00167-019-05623-y
130
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
09
Estresse, humor e burnout: um estudo
sobre atletas do futebol feminino
10.37885/210303876
RESUMO
Objetivo: identificar e analisar níveis dos estados de humor e burnout, bem como a
percepção de estresse e recuperação em atletas de futebol do sexo feminino, durante
treinamentos de uma temporada. Metodologia: foi realizado um levantamento de lite-
ratura e da recente produção científica em relação ao tema em psicologia do esporte,
em conseguinte, foi realizada a coleta de dados junto as equipes participantes, por meio
dos Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas (RESTQ-76), de Estados de
Humor de Brunel (BRUMS) e do Questionário de Burnout para Atletas (ABQ) em 59 jo-
gadoras de duas categorias distintas que atuaram no futebol feminino e que competiram
série A1 dos Campeonatos Paulista e Brasileiro Feminino no ano de 2018. Resultados:
os resultados mostraram que não houve diferença das variáveis entre as categorias,
as médias das participantes apresentaram perfil de humor positivo para atletas e que
os níveis médios de estresse e burnout apresentaram valores baixos e a recuperação
revelou escores moderados. Além disso, observou-se associações positivas entre es-
tresse, burnout e humor negativo em muitas dimensões; correlações negativas entre
recuperação e estresse, burnout e humor negativo; e relação positiva entre recuperação
e o fator vigor de humor. Conclusões: conclui-se, portanto, que as associações fortes
entre as variáveis podem auxiliar na compreensão, na prevenção de acometimentos em
saúde psicológica e desempenho esportivo das atletas, no entanto, há necessidade de
mais investigações que permitam ampliar o conhecimento sobre a população estudada
no contexto futebolístico.
132
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
Pode-se constatar que há uma crescente preocupação sobre como o esporte é concebi-
do pela perspectiva da psicologia, sobretudo em relação ao reduzido espaço de participação
das mulheres neste contexto, tanto na prática das modalidades (BRAUNER, 2015), quanto
na visibilidade midiática (SOUZA; KNIJNIK, 2007). Acrescenta-se a este fato o movimento de
ascensão das mulheres frente aos diferentes espaços sociais, característico de emancipa-
ção, de aceitação social perante o corpo feminino e correspondente busca pela igualdade de
direitos das mulheres em relação aos homens em diversos ambientes, inclusive no esporte
(GIULIANI, 2007; MARTIN, 2006; RAGO, 2007).
No Brasil, a discussão acadêmica sobre o futebol feminino e seu espaço em relação ao
futebol de homens apareceu inicialmente em trabalhos como os de Souza Júnior e Darido
(2002), Ventura e Hirota (2007) e Santos, Silva e Hirota (2008), aos quais debateram sobre
as situações que condicionam a prática de acordo com as relações de poder e gênero,
as oportunidades oferecidas, os discursos de preconceito e as motivações, indicando a
necessidade de novas perspectivas de promoção ao esporte feminino e de trazer à tona
questionamentos iniciais sobre os aspectos psicológicos envolvidos no futebol de mulheres.
Sobre aspectos psicológicos das mulheres no futebol, Junge e Prinz (2019) detecta-
ram uma prevalência de sintomas de depressão em nível intermediário e de ansiedade em
jogadoras da primeira divisão da Alemanha, os quais são equivalentes ao da população de
outras modalidades em geral e do mesmo sexo. Porém as jogadoras que estavam em divisão
inferior de categoria apresentaram níveis mais elevados que outras populações, verificando
assim, que a menor experiência de jogos está relacionada a maiores escores de sintomas
depressivos e ansiedade. Surgem questionamentos em relação a complexidade deste pro-
blema no que concerne ao espaço que as mulheres têm para se jogar e a qualidade de vida
das mesmas, ou seja, quais os níveis de estresse que as mulheres enfrentam no meio fute-
bolístico e quais as implicações para a saúde e para desempenho esportivo das mesmas.
Atletas de alto rendimento em diferentes esportes do sexo feminino possuem duas
vezes mais chances de apresentarem sintomas depressivos leves a mais graves que atletas
de rendimento do sexo masculino (GORCZYNSKI, 2017), o que sugere a importância de
se investigar a inserção de atletas em diferentes contextos e de diferentes características
biológicas, psicológicas e sociais. Knijnik e Vasconcellos (2016) consideram que mulheres
praticantes de futebol são mais afetadas pelo estresse em relação aos homens nos aspec-
tos relacionados à dificuldade de convivência com o grupo, às pressões e cobranças por
resultados e ao preconceito, porém não há evidências de que as características biológicas
do sexo sejam responsáveis por tais percepções, mas sim que as condições ambientais
133
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
inerentes aos espaços ocupados pelos homens são preponderantes no desencadeamento
do estresse percebido.
Neste sentido, ainda pode ser observado muitas barreiras que as mulheres enfren-
tam no esporte, que se manifestam na dificuldade em procurar auxílio psicológico devido à
estigmatização sobre o tratamento de distúrbios mentais, na falta de conhecimento sobre
saúde psicológica, nas experiências passadas limitantes ao desenvolvimento, no alto nível
de ocupações e na hipermasculinidade esportiva, bem como à falta de aceitação das mulhe-
res como atletas, à baixa aceitação de sintomas e distúrbios de saúde mental entre atletas
e à elevada dependência econômica (CASTALDELLI-MAIA, 2019). Salvini e Marchi Júnior
(2016) entrevistaram atletas de futebol feminino e descobriram na análise de seus discur-
sos, as dificuldades enfrentadas na modalidade no âmbito nacional, desde a infância até a
vida profissional, inerentes à falta de reconhecimento, ao combate ao preconceito social,
à carência de incentivo mercadológico e à luta pela ampliação do espaço para exercerem
seus direitos que foram adquiridos somente a partir do final dos anos 1970 e início dos anos
1980, data da revogação do Decreto-lei que proibia as mulheres de praticarem esportes que
não estivessem de acordo com sua natureza.
No âmbito esportivo, em consenso, o Comitê Olímpico Internacional (2019) encontrou
nas recentes publicações, distúrbios e sintomas sobre a saúde psicológicas de atletas pro-
fissionais e amadores. Além disso, apontou possíveis maiores fontes de estresse que podem
influenciar a saúde dos atletas, como assédio e abuso, relações entre lesões e performance,
barreiras para o tratamento de distúrbios da saúde, a possibilidade de abandono do esporte
e emergências em problemas psicológicos (REARDON, et al. 2019).
O estresse, portanto, é uma forma de desestabilização entre a pessoa (condições
internas) e o meio ambiente (condições externas) que leva a efeitos negativos ou positivos,
ou seja, o estresse até certo grau pode ser benéfico para manutenção e aperfeiçoamento
das capacidades funcionais (KELLMANN; KALLUS, 2001; SAMULSKI et al., 2009). Assim, o
equilíbrio entre estresse e recuperação pode otimizar a performance esportiva, de tal forma
que o sujeito pode reagir ao estresse de maneira não prejudicial e aumentar o desempenho
no esporte desde que tenha uma recuperação adequada que reequilibre as suas funções
orgânicas e psicológicas (KELLMANN, 2017).
Nas últimas décadas, estudos demonstraram que as implicações dos estados de humor
no rendimento esportivo em atletas podem, a princípio, influenciar de maneira prejudicial o
desempenho esportivo caso o atleta não apresente perfil de humor considerado adequado
(LANE, 2001; LANE; TERRY, 2000; TERRY; LANE, 2000). O humor é dependente de muitas
situações específicas do esporte, como a competição, as demandas estratégicas da moda-
lidade e o ambiente em que é praticado, entretanto, níveis elevados do fator positivo vigor
134
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
e de baixos escores dos fatores negativos de tensão, fadiga, depressão, raiva e confusão
são características dos estados de humor de atletas que apresentam melhor rendimento
esportivo denominado de perfil de iceberg, ou seja, há variações mais adequadas de humor
para competições esportivas (BRANDIT, 2010; LANE, et al., 2005; GATTI; DE PALO, 2011;
MORGAN, 1980; TERRY, 1995).
Neste sentido, estudos apontam que os estados de humor estão associados ao sucesso
ou ao fracasso no esporte e na saúde do praticante, justificados por percepções alteradas
do humor, biomarcadores de estresse e fatores de recuperação como o sono (CHENNAOUI
et at., 2016). Assim, os mecanismos fisiológicos e emocionais e os comportamentos sociais
específicos fazem parte das demandas de vida de um atleta, sendo o humor uma variável
preditiva do desempenho competitivo e que pode estar associado a estes mecanismos. A má
qualidade de sono, por exemplo, apresenta maior tendência em atletas de nível internacio-
nal que percebem a confusão, depressão e fadiga em níveis mais elevados, ao contrário
daqueles com vigor aumentado e com confusão, fadiga e tensão diminuída, que apresentam
menor associação com o sono ruim (ANDRADE et al., 2019).
O desempenho é uma característica fundamental do contexto esportivo e que está inti-
mamente ligada aos acometimentos da síndrome burnout. Assim, neste ambiente específico,
as pesquisas levaram em conta outros aspectos do desempenho que poderiam estar asso-
ciados aos sintomas da síndrome, dentre elas, as cargas de treinamento, as competições, o
modo de vida esportivo e outras fontes de estresse psicofisiológicos preponderantes para os
profissionais envolvidos no esporte (RAEDEKE, 1997; RAEDEKE; SMITH, 2001). De modo
integrativo das abordagens teóricas sobre burnout no âmbito esportivo, Gutafsson, Kentta
e Hassmén (2011) defendem que o estudo sobre o tema deve ser abordado de maneira
holística e que considere as características de personalidade, de estratégias de enfrenta-
mento e dos fatores ambientais, com a finalidade de auxiliar pesquisadores, treinadores e
atletas a compreenderem os mediadores da síndrome de burnout, como o perfeccionismo,
a motivação, o estresse, o humor e as adaptações psicológicas relacionadas as habilidades
de enfrentamento (GUSTAFSSON; DEFREESE; MADIGAN, 2017).
Dessa maneira, o objetivo da presente pesquisa foi identificar e analisar os níveis de
burnout e estados de humor, bem como a percepção de estresse e recuperação em atletas
de futebol do sexo feminino em fase de treinamento durante o período de competições. Além
disso, comparamos os escores relativos à percepção de estresse e recuperação, estado de
humor e burnout, entre as categorias Adulta e Sub 17 durante o período de competições,
bem como associar os escores relativos à percepção de estresse e recuperação entre os
estados de humor e burnout, durante o período de competições das atletas participantes.
135
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
MÉTODOS
AMOSTRA
PROCEDIMENTOS
INSTRUMENTOS
137
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ANÁLISE DE DADOS
RESULTADOS
Tabela 1. Caracterização da amostra por categoria: Idade, número de treinos por semana, número competições estaduais,
nacionais, internacionais e competições oficiais na carreira.
138
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
A Tabela 2 apresenta os dados referentes aos estados de humor das atletas, nota-se
que não houve diferença estatisticamente significativa estre as seis dimensões quando
comparadas as duas categorias.
Tabela 2. Estatística descritiva para as seis dimensões dos estados de humor em atletas das categorias Adulta e Sub17 e
valor p resultante da comparação realizada com o Teste Mann-Whitney.
Entre os seis fatores negativos de humor os escores médios mais elevados foram Fadiga
e Tensão, ambos na categoria Adulta. Entretanto, o Vigor físico para ambas as categorias
apresentou resultado positivo, Adulta (11,15±3,15) e categoria Sub17 (10,96±2,74) respec-
tivamente. O fator Vigor representa estado de animação, excitação, energia e disposição,
o que confere, no caso da realização da prática esportiva, um aspecto essencialmente po-
sitivo para melhor desempenho. Vale ressaltar que baixos níveis dessa dimensão aliados
à elevados escores das dimensões negativas, podem estar relacionados ao desempenho
prejudicado, a fatores ligados ao excesso de treinamento e até mesmo à síndrome de bur-
nout. Não obstante, o valor do distúrbio total de humor (DTH) para a categoria Sub17 foi de
107,53±15,98 e para a Adulta o valor encontrado foi de 108,8±16,54. Tais valores, são tidos
como elevados níveis de DTH, pois se encontram ≥101.
Na Tabela 3, a análise dos dados das dimensões de estresse não mostrou diferenças
significativas entre as categorias, o maior valor médio de 4,05±0,88 esteve presente na
dimensão de Áreas de Recuperação (AR) na categoria Adulta. O menor valor médio ficou
para o fator de Estresse Específico (EE) de 1,88±0,84 presente na categoria Sub17. Deste
modo, observou-se níveis baixos à médios em todas as dimensões de estresse, valores
abaixo ou muito próximos do valor médio da escala (2) e escores considerados médios à
altos para os fatores de recuperação, acima de 2,01.
139
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 3. Estatística descritiva das seis dimensões de estresse e recuperação em atletas de futebol feminino das categorias
Adulta e Sub17 e valor p resultante da comparação do Teste Mann-Whitney.
Tabela 4. Estatística descritiva das três dimensões da síndrome de burnout em atletas de futebol feminino das categorias
Adulta e Sub17 e valor p resultante da comparação do Teste Mann-Whitney.
141
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 1. Associações entre as dimensões de estresse, estados de humor negativos e burnout da categoria sub17.
142
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 2. Associações entre as dimensões de recuperação em relação aos fatores de burnout e humor da categoria sub17.
Figura 3. Associações positivas entre as dimensões de estresse, burnout estados de humor negativos da categoria Adulta.
Figura 4. Associações das dimensões de recuperação em relação aos estados de humor e burnout em atletas de futebol
feminino da categoria Adulta.
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
Os resultados indicaram, de maneira geral, que apesar das atletas estratificadas por
categorias apresentarem rotinas diferentes no número de treinos, competições e experiências
variadas na carreira futebolística, não foi possível observar diferença entre as categorias para
as variáveis psicológicas investigadas, como o estresse, o humor e o burnout. Em muitas das
dimensões analisadas, revelaram-se médias e medianas consistentemente semelhantes,
assim sendo, e esses achados permitiram analisar aspectos psicológicos que contribuem
no planejamento, no monitoramento, na avaliação de treinos e nas competições para ambas
amostras de categorias Sub17 e Adulta, de modo que reflete implicações importantes ao
rendimento esportivo e à qualidade de vida de mulheres atletas inseridas no futebol.
Tendo em vista que a variável estresse, em quase todos fatores, se relacionou de
maneira marcante com a síndrome de burnout e estados de humor, tal elemento pode ser
considerado epicentro das relações entre as percepções psicológicas em atletas de futebol
feminino da presente pesquisa. Portanto, é de grande relevância que novas investigações,
bem como a atenção de profissionais da área se direcionem para os agentes estressores,
o estresse percebido, a recuperação e quais as implicações destes aspectos em outras
esferas do desenvolvimento humano e desempenho esportivo.
Nesta perspectiva, as contribuições deste trabalho, com as devidas reservas, estão
no âmbito das intervenções profissionais no futebol feminino, em especial nas situações
em que mulheres futebolistas enfrentam e como manejam o estresse percebido por meio
da recuperação, com a finalidade de proteger a saúde psicológica e desenvolvimento das
próximas atividades. Assim sendo, as dimensões de recuperação incluídas na variável de
estresse, são elementos que podem repercutir em inúmeros aspectos de saúde, sociais e
do desempenho em campo.
148
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
1. ÁLVAREZ, O.; CASTILLO, I.; MORENO-PELLICER, R. Transformational parenting style, au-
tonomy support, and their implications for adolescent athletes burnout. Psychosocial Inter-
vention, 28(2), 91–100. 2019.
2. ANDRADE, A.; BEVILACQUA, G.; CASAGRANDE, P.; BRANDT, R.; COIMBRA, D.; Sleep
quality associated with mood in elite athletes, The Physician and Sportsmedicine, 2019.
3. BRANDIT, R.; VIANA, M. da S.; SEGATO, L.; ANDRADE, A. Estados de humor de velejadores
durante o Pré-Panamericano. Motriz, Rio Claro, v.16 n.4 p.834-840, out./dez. 2010.
7. CHENNAOUI, M.; BOUGARD, C.; DROGOU, C.; LANGRUME, C.; MILLER, C.; GOMEZ-
-MERINO, D.; VERGNOUX, F. Stress Biomarkers, Mood States, and Sleep during a Major
Competition: “Success” and “Failure” Athlete’s Profile of High-Level Swimmers. Frontiers in
Physiology, n. 7, v. 94, 2016.
8. DANCEY, C. P.; REIDY, J. Estatística sem matemática para Psicologia. 5ª ed. Artmed: São
Paulo. 2013.
10. DE FRANCISCO, C.; ARCE, C.; VÍLCHEZ, M.; VALES, Á. Antecedents and consequences of
burnout in athletes: Perceived stress and depression. International journal of clinical and
health psychology. 16(3), 239–246, 2016.
11. DE ROSE JUNIOR, D.; SATO, T. C.; SELINGARDI, D.; BETTENCOURT, E. L.; BARROS,
J. C. T. S.; FERREIRA, M. C. M. Situações de jogo como fonte de “stress” em modalidades
esportivas coletivas. Revista Brasileira Educação Física e Esporte, São Paulo, v.18, n.4,
p.385-395, 2004.
12. DEVONPORT, T. J., LANE, A. M., HANIN, Y. L. Emotional States of athletes prior to perfor-
mance-induced injury. Journal Of Sports Science & Medicine, 4(4), 382–394, 2005.
13. FIELD, A. Descobrindo a estatística usando o SPSS. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
14. GATTI, R.; DE PALO, E. F. An update: salivary hormones and physical exercise. Scandinavian
Journal of Medicine & Science in Sports, n.21, p. 157–169, 2011.
149
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
16. GORCZYNSKI, P. F.; COYLE, M.; GIBSON, K. Depressive symptoms in high-performance
athletes and non-athletes: a comparative meta-analysis British Journal of Sports Medici-
ne, 51:1348-1354, 2017.
17. GUSTAFSSON, H.; DEFREESE, J. D.; MADIGAN, D. J. Athlete burnout: review and recom-
mendations. Current Opinion in Psychology, 16:109–113, 2017.
18. GUSTAFSSON, H.; KENTTA, ¨ G.; HASSMÉN, P. Athlete burnout: an integrated model and
future research directions. International Review of Sport and Exercise Psychology. 4:3-24.
2011.
19. Hanna L. G.; Schnell, A. Mayer, J. Thiel, A. Risk profiles for athlete burnout in adolescent elite
athletes: a classification analysis. Psychology of sport and exercise. Vol 41, 2019, p. 130-141.
20. JUNGE A.; PRINZ B. Depression and anxiety symptoms in 17 teams of female football players
including 10 German first league teams British Journal of Sports Medicine, 53:471-477, 2019.
21. KELLMANN, M.; KALLUS, K. W. Recovery-stress questionnaire for athletes: use manual.
Champaign, Illinois. Human Kinetics, 2001.
22. KELLMANN, M.; KALLUS, W. K.; SAMULSKI, D. M.; COSTA, L. O. P.; SIMOLLA, R. A. P. Ques-
tionário de stress e recuperação para atletas (RESTQ-76 Sport): manual do usuário. Belo
Horizonte: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 2009.
23. KELLMANN, M. Overtraining and Burnout in Sports. Reference Module in Neuroscience and
Biobehavioral Psychology. 2017.
24. KENTTÄ, G.; HASSMÉN, P.; RAGLIN, J.S. Mood state monitoring of training and recovery in
elite kayakers. European Journal Sport Science. 6:245-53, 2006.
26. LANE, A. M.; TERRY, P. C. The nature of mood: development of a conceptual model with a
focus on depression. Journal Applied Sport Psychology, v. 12, n. 1, p. 16-33, 2000.
27. LANE, A. M. Relationships between perceptions of performance expectations and mood among
distance runners: the moderating effect of depressed mood. Journal Science Medicine and
Sports, v. 4, n. 1, p. 116-128, Mar. 2001.
28. LANE, A. M.; WHYTE, G. P.; TERRY, P. C.; NEVILL, A. M. Mood, self-set goals and exami-
nation performance: the moderating effect of depressed mood. Personality and Individual
Differences, 39(1), 143–153, 2005.
29. MARTIN, E. A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução. Rio de Janeiro: Ga-
ramond, 2006.
31. MORGAN, W. P. Test Of Champions: The Iceberg Profile. Psychology Today, 14, 92-99,
101-108, 1980.
150
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
32. Morgan, W. P.; Brown, D. R.; Raglin, J. S.; O’Connor, P. J.; Ellickson, K.A. Psychological Mo-
nitoring Of Overtraining And Staleness. Br Journal Sports Med. 21:107-14. 1987.
33. PIRES, D.; BRANDÃO, M.; da SILVA, C. Validação do questionário de burnout para atletas.
Revista da Educação Física/UEM. 17. 10.4025/reveducfisv17n1p27-36. 2006.
35. RAEDEKE, T. D. Is athlete burnout more than just stress? A sport commitment perspective.
Journal of Sport and Exercise Psychology, 19, 396–417. 1997.
36. RAEDEKE, T.; SMITH, A. Development and preliminary validation of an athlete Burnout me-
asure. Journal of Sport and Exercise Psychology, Champaign, v.23, n.4, p.281-306, 2001.
37. RAGO, M. Trabalho Feminino e Sexualidade. História das mulheres no Brasil. IN: PRIORE,
Mary Del (Org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, p. 578-606, 2007.
38. REARDON, C.L.; HAINLINE, B.; ARON, C. M. BARON, D. BAUM, A. L. BINDRA, A. BUDGETT,
R. CAMPRIANI, N. CASTALDELLI-MAIA, J. M. CURRIE, A. DEREVENSKY, J. L. GLICK, I. D.
GORCZYNSKY, P. Mental health in elite athletes: International Olympic Committee consensus
statement. British Journal of Sports 53:667-699, 2019.
39. ROHLFS, I. P. M.; ROTTA, T. M.; LUFT, C. D. B.; CARVALHO, T.; KREBS, R. J.; ANDRADE
A. A escala de humor de Brunel (BRUMS): instrumento para detecção precoce da síndrome
do excesso de treinamento Revista Brasileira de Medicina do Esporte,14(3):176-81, 2008.
40. SALVINI, L.; MARCHI JÚNIOR, W. “Guerreiras de chuteiras” na luta pelo reconhecimento:
relatos acerca do preconceito no futebol feminino brasileiro. Revista Brasileira de Educação
Física e Esporte, Abr-Jun; 30(2): 303-11, 2016.
41. SAMULSKI, D. M.; NOCE, F.; CHAGAS, M. H. Estresse. En D. M. Samulski (Ed.), Psicologia
do Esporte: Conceitos e novas perspectivas. São Paulo: Manole, p. 231-264, 2009.
42. SANTOS, L. B.; SILVA, T. D. da.; HIROTA, V. B. Mulher No Esporte: Uma Visão Sobre no
Futebol. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 7 (3): 119-125, 2008. Disponível
em: http://web-a-ebscohost.ez87.periodicos.capes.gov.br/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=1&-
sid=ce4af156-c332-48d4-aecc-d80c3c82069d%40sessionmgr4007. Acesso em set 2019.
43. SMITH, E. P.; HILL, A. P.; HALL, H. K. Perfectionism, burnout and depression in youth soccer
players: A longitudinal study. Journal of Clinical Sport Psychology. 2018.
44. SOUZA JÚNIOR, O. M.; DARIDO, S. A prática do futebol feminino no ensino fundamental.
Motriz, Rio Claro, v. 08, n. 01, p. 01-09, jan./abr. 2002.
45. SOUZA, J.; KNIJNIK, J. A mulher invisível: gênero e esporte em um dos maiores jornais diários
do Brasil. Revista Brasileira De Educação Física E Esporte, 21(1), 35-48, 2007.
46. TABEI, Y.; FLETCHER, D.; GOODGER, K. The Relationship between Organizational Stres-
sors and Athlete Burnout in Soccer Players. Journal of Clinical Sport Psychology, 6(2),
146–165. 2012.
47. TERRY, P. C. The efficacy of mood state profiling among elite performers: a review and syn-
151
thesis. Sport Psychology, v. 9, n. 3, p. 309-324,1995.
49. VENTURA, T. S.; HIROTA, V. B. Futebol e Salto Alto: Por que não? Revista Mackenzie de
Educação Física e Esporte, 6 (3): 155-162, 2007. Disponível em: . Acesso em ago 2019.
152
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
10
Níveis de conhecimento e desidratação
em jogadores juniores de futebol
10.37885/210504580
RESUMO
154
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
O futebol de campo é um dos esportes que cresce a cada ano, com importantes reper-
cussões no mundo esportivo (FRANCISCO et al.,2020). Essa modalidade é caracterizada
pela disputa entre duas equipes, que contam cada uma com 11 jogadores dos quais 10 são
atletas de linha, divididos em posições de defesa, meio de campo e ataque (HILDAGO et al.,
2015; SILVA et al., 2018).
A desidratação é uma condição fisiológica que decorre de uma prolongada perda
hídrica, o que afeta as funções fisiológicas e térmicas do corpo, levando a complicações e
prejuízos no desempenho esportivo (CAMERINO et al., 2017).
As consequências da desidratação podem ser diminuídas ou até evitadas por meio
de uma adequada hidratação, o que é fundamental para um bom desempenho atléti-
co, especialmente para atletas que realizam atividades intensas e prolongadas no calor
(NÓBREGA et al., 2007).
Estudos demonstraram impactos negativos da desidratação na performance física
dos atletas (SILVA et al., 2018). Na prática da modalidade esportiva a reidratação geral-
mente não é suficiente para compensar os níveis de água perdida devido ao calor gerado
na atividade. Além disso, fatores como as condições ambientais e a inexistência de pausas
regulares nos jogos para a reidratação são fatores que podem exacerbar essa situação
(BALIKIAN et al., 2002).
Para essa adequada reidratação, muitas vezes é necessário a ingestão de líquidos
com diferentes eletrólitos e a introdução de carboidratos (ANDREW E TREVON, 2018).
Essa prescrição deve ser sempre considerada de acordo principalmente com o tempo da
atividade esportiva e as condições climáticas e, no caso do futebol de campo, de acordo
também com as diferentes posições e consequentes demandas no jogo (JOHAN et al., 2015;
CARVALHO T; MARA, 2010.
Devido aos potenciais benefícios que um nível de hidratação adequado propicia aos
atletas, principalmente no Brasil, que é um país tropical, nota-se a necessidade de se es-
tudar e fornecer evidências científicas sobre o tema. Os objetivos do estudo foram avaliar
o grau de desidratação e o nível de conhecimento sobre hidratação em atletas juniores de
futebol de campo.
MÉTODO
156
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
RESULTADOS
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão da densidade urinária pós-treino, desidratação relativa e o ph pré e pós-treino
dos jogadores de futebol.
Tabela 2. Distribuição dos valores de médios das variáveis referente as condições climáticas no dia do treinamento.
Quando foi abordado sobre a preocupação dos jogadores com o tipo de hidratação
(água ou isotônico), antes, durante ou depois de uma partida, foi demonstrado que 57,2%
dos jogadores se preocupavam com o tipo de hidratação. Onde foi possível observar que
todos os jogadores utilizavam apenas água como fonte de hidratação.
Em relação ao momento ideal do consumo de líquido, 64,28% dos jogadores declararam
que a ingestão deve ser feita antes da sensação de sede, enquanto que 28,57% e 7,15%
acreditam que deve ser realizada somente após a sensação de sede ou muita sede, respec-
tivamente. Quando questionados sobre a importância da hidratação em diferentes estações
do ano, o resultado revelou que 57,2% se preocupavam com a hidratação independente da
estação do ano e 42,8% se preocupavam apenas no verão.
Na Figura 1 são descritos os principais sintomas apresentados pelos jogadores no
momento do treino ou competições devido à desidratação e na Figura 2 é apresentado a
relação entre volume de líquido adequado e a frequência que eles devem consumir. Quanto
ao conhecimento dos jogadores sobre a função dos isotônicos apresentado na Figura 3, foi
observado que 50% deles acertaram qual a principal função do isotônico.
158
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Figura 2. Relação entre tempo e quantidade de líquidos consumidos pelos jogadores.
DISCUSSÃO
159
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Euhidratados, corroborando com os resultados de Ersoy et al. (2016), Motta e Quintão (2016)
e Alves e Lopes (2021).
Em relação a temperatura e a umidade relativa do ar, as mesmas estavam em condições
favoráveis para a manutenção da hidratação em níveis aceitáveis no dia da avaliação. Por
outro lado, o estudo de Mota et al. (2011) e Borusch et al. (2007), verificaram que a maioria
dos atletas desidrataram em virtude da elevada temperatura no dia do treino.
No presente estudo apenas o volante e os laterais direito e esquerdo demonstraram
desidratação mínima, em virtude de serem posições mais suscetíveis ao desgaste físico e
aumento de temperatura durante a partida. Segundo Ravagnani et al. (2013), os laterais
precisam correr do campo de defesa até o campo de ataque e ainda realizam cruzamentos,
o que favorece o aumento da produção de suor e consequentemente pode levar a desidratar
Com relação à densidade urinária foram encontradas divergências com os dados da
densidade relativa, enquanto que na avaliação de DR%f oi diagnosticado que a maioria dos
atletas estavam Euhidratados ,a densidade urinaria diagnosticou a maioria dos jogadores
em estado de Hipohidratação antes de entrar em campo, e apenas o goleiro, zagueiro 02
e o atacante permaneceram Euhidratados após o treino, esses últimos são jogadores de
posições que realizaram exclusivamente movimentos de curta duração e alta intensidade e
baixo volume de deslocamento quando comparados aos outros atletas (COSTA et al., 2009).
É importante ressaltar que ambos os métodos são válidos para verificar o estado de
hidratação, entretanto, o peso antes e depois do treino avalia apenas mudanças rápidas na
hidratação do atleta, fato este que pode ter influenciado os resultados encontrados. Nóbrega
et al. (2007) também revelou que o estado Euhidratado para jogadores amadores de futsal
por meio do método de DR% e Hipohidratação, segundo a densidade urinária. Enquanto
que os estudos de Nery et al. (2014), Pinto et al. (2014) e Ersoy et al. (2016), a DU não
apresentou diferença significativa entre o pré e pós-treinamento.
Além disso, verificou-se redução do pH urinário após o treino, decorrente principalmente
do aumento na concentração da urina dos atletas investigados, logo também um indicador de
desidratação, este estudo corrobora com os dados encontrados por Protel et al. (2019). A uri-
na naturalmente é ácida, com o pH entre 4,5 e 8, considerada adequada ligeiramente ácido
com valores entre 5.5 a 6.5, superiores ao encontrado nesse estudo (SILVERTHORM, 2010).
Quanto ao nível de conhecimento sobre hidratação observou-se que os jogadores
apresentaram um conhecimento intermediário e no que diz respeito ao hábito de se hidratar
durante os treinamentos e competição, foi observado que grande parte dos avaliados sem-
pre realizaram hidratação. O resultado encontrado por Drumond et al. (2007) demonstrou
que apenas 50% dos participantes dos estudos consumiram líquidos sempre durante os
treinos e competições.
160
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Em relação à preocupação com tipo de hidratação (água ou isotônico) nos momentos
que antecedem, durante e depois de um treinamento e competição, mais que 50% dos jo-
gadores reconheceram a importância de outras bebidas para a hidratação, entretanto, 100%
dos mesmos utilizavam apenas água para hidrata-se, corroborando com estudos anteriores
realizados em adultos e adolescentes futebolistas (SILVA et al., 2011; KURDAK et al., 2010).
Atividades com tempo inferior a 60min de duração, a água é a bebida mais indicada,
porém, atividades que ultrapassam esse período como uma partida de futebol que possui
duração média de 90min, a ingestão de apenas água é insuficiente para a hidratação dos
jogadores (CARVALHO T; MARA, 2010).
A SBME (2003) recomenda para atividades de duração superior a uma hora ou ativida-
des intensas do tipo intermitente mesmo com menos de uma hora a reposição de carboidrato
e sódio, ou seja, a utilização de bebidas com 6% de carboidrato passam a ser mais importante
na recuperação do atleta, além de evitar quadros de hipoglicemia e acelerar a reposição do
glicogênio muscular (CARVALHO T; MARA, 2010; CÂMARA et al., 2017).
No presente estudo a maioria dos jogadores se hidratavam antes da sensação de sede,
resultado semelhante foi encontrado por Prado et al. (2010). Enquanto Ferreira et al. (2009)
encontraram dados preocupantes em atletas de futebol de base, pois a maioria somente se
hidratavam após a sensação de sede.
Assim, os resultados encontrados revelaram a necessidade de sensibilização os es-
portistas, uma vez que iniciar a ingestão de líquidos apenas após a sensação de sede pode
induzir a sérios dados a saúde, pois a literatura afirma que quando o indivíduo sente sede
já se encontra 2% desidratado.
Dentre os sintomas relatados pelos jogadores durante ou após o treino, grande parte
relataram cãibras, seguido por sede muito intensa, dificuldade de concentração e sensação
da perda de força.
No estudo de Drumond et al. (2007), os sintomas mais frequentes foram sede muito
intensa e cãibras, o primeiro indica que o jogador necessita repor seus estoques hídricos,
uma vez que apresenta 2% de desidratação, enquanto que as cãibras também indicam
desidratação e ainda concentrações anormais de eletrólitos séricos. No estudo de Cardoso
et al. (2020) os sintomas mais frequentes foram sede muito intensa seguido por sensação
de perda de forca. A dificuldade na concentração e perda de força podem estar relacionados
à presença de hipoglicemia (GERALDINI et al., 2017).
Portanto, os resultados encontrados nesse estudo indicam que somente a água não
são suficientes para a hidratação dos jogadores avaliados e reforça a importância da repo-
sição adequada hidroeletrolítica.
161
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Além disso, deve ocorrer equilíbrio entre o volume e a frequência na ingestão de lí-
quidos. Nossos jogadores apresentaram bom conhecimento sobre este tema, uma vez que
quase metade dos atletas responderam que o consumo de líquidos deve ser de 250 mL
a cada 15 minutos, no entanto, o número de jogadores que não tinham ideia de como se
hidratar ou não sabiam a informação adequada ainda é alarmante.
A SBME (2003) recomenda que a ingestão de água deve ser duas horas antes do jogo
em torno de 250 a 500 mL para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado,
enquanto que durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão nos primeiros 15 minutos
e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.
Em relação à função dos isotônicos, metade dos jogadores sabiam o valor de seu uso,
compreendendo sua verdadeira função, apesar de nenhum deles realizarem a ingestão de
bebida hidroeletrolítica. O modo mais conveniente e eficiente de reposição ocorre por meio
de isotônicos, onde além de promoverem hidratação, apresentam ainda quantidades sufi-
cientes de eletrólitos e carboidratos (REALE et al., 2017).
Nesse sentido, a desidratação presente em alguns jogadores desse estudo pode estar
relacionada ao nível de conhecimento regular desses atletas ou mesmo decorrente da soli-
citação metabólica individual, o que reforça a necessidade de orientações sobre a temática
para o grupo, visando corrigir os hábitos inadequados sobre hidratação.
CONCLUSÃO
162
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
APÊNDICE
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO PARA
VERIFICAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PRÁTICA DE HIDRATAÇÃO
Durante o treinamento:
( ) Nunca
( ) Quase nunca
( ) Ás vezes
( ) Sempre
Durante Competições:
( ) Nunca
( ) Quase nunca
( ) Ás vezes
( ) Sempre
( ) Sim
( ) Não
( ) Água
( ) Isotônicos
( ) Refrescos
( ) Sucos naturais
( ) Coca Cola
( ) Cerveja
( ) Café
( ) Outras _______________________________________________________
( ) No verão
( ) No inverno
( ) Independente da estação
( ) Não me preocupo
( ) Repõe só líquidos
( ) Repõe só eletrólitos
( ) Repõe só energia
( ) Repõe eletrólitos e energia
( ) Hidrata e repõe eletrólitos e energia
( ) Apresenta a mesma função da hidratação com água.
165
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
REFERÊNCIAS
1. ANDREW, J. C e TREVOR, N. S. Nutritional Peak Week and Competition Day Strategies of
Competitive Natural Bodybuilders. Sports Nutritions, v 24, n 6 p 126, 2018.
2. ALVES, R.F.; LOPES P.R.N.R. Hidratação no futebol infantil. Rev Bras Futebol, v. 14, n. 1,
35 – 47, 2021.
4. BORUSCH, E et al. Desidratação em jogadores de futebol juniores. Rev Bras Nutr Esp, v.1,
n.4, p.01-10, 2007.
6. CÂMARA, J.T. et al. Chydration with maltodextrin vs. a regional beverage: effects on the
performance of soccer players hidratação com maltodextrina vs. bebida regional: efeitos no
desempenho de jogadores de futebol. Rev Bras Med Esporte, v.23, n.3, 2017.
8. CARVALHO, T; MARA, T.S. Hidratação e nutrição no esporte. Rev Bras Med Esporte, v.16,
n.2, p.144-8, 2010.
9. CASA, D.J et al. NATA: National Athletics Trainer´s Association Position Statement. J Athl
Train, v.35, n.2, p.212-24, 2000.
10. COSTA, I.T et al. Princípios táticos do jogo de futebol: conceitos e aplicação. Motriz, v.15,
n.3, p.657-68, 2009.
11. DRUMOND, M.G et al. Hidratação em atletas adolescentes – hábitos e nível de conhecimento.
Rev Bras Nutr Esp, v.1, n.2, p.76-93, 2007.
12. ERSOY, N et al. Assessment of hydration status of elite young male soccer players with diffe-
rent methods and new approach method of substitute urine strip. J Int Soc Sports Nutr, v.13,
n.1, p.34, 2016.
14. FERREIRA, F.G. Nível de conhecimento dos atletas universitários da UFV sobre a hidra-
tação no exercício. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Educação,
2003.
15. FERREIRA, F.G et al. Nível de conhecimento e práticas de hidratação em atletas de futebol de
categoria de base. Rev Bras Cineantropom Desempenho Humano, v.11, n.2, p.202-9, 2009.
19. JOHAN B, et al. Efeitos da suplementação de carboidratos sobre desempenho físico e me-
tabólico em jogadores de futebol treinados e não treinados. Rev Bras Nutr Esp, v.9, n.54,
p.544-52, 2015.
20. KURDAK, S.S et al. Hydration and sweating responses to hot-weather football competition.
Scand J Med Sci Sports, v.20, n.3, p.133-9, 2010.
21. MOTTA. G.J et al. Nível de desidratação e temperatura corporal em jogadores de futebol de
campo sub-18 durante um treino. Col Pesq Edu Fís, v.10, n.1, p.121-6, 2011.
22. MOTTA, M.A.S; QUINTÃO, D.F. Nível de desidratação e estratégias nutricionais utilizadas
antes e durante o treino de futebol de um grupo de adolescentes de Espera Feliz-MG. Rev
Bras Nutr Esp, v.10, n.59, p.518-23, 2016.
23. NERY, F et al. Nível de desidratação após treinamento de ciclismo indoor. Rev Bras Med
Esporte, v.20, n.4, p.320-5, 2014.
24. NOBREGA, M.M et al. A desidratação corporal de atletas amadores de futsal. Rev Bras Pres
Fisiol Exercício, v.1, n.5, p.24-36, 2007.
25. PETREÇA, D.R; RUSKE NETO, H.A. Perfil de composição corporal em atletas de base das
modalidades de futsal e futebol de campo. Rev Saude Pesq, v.9, n.1, p.127-35, 2016.
27. PINTO, I.F.S et al. Avaliação da perda hídrica e do grau de conhecimento em hidratação de
atletas de futebol americano. Rev Bras Nutr Esp, v.8, n.45. p.171-179, 2014.
28. PRADO, E.S et al. Conhecimento das práticas de hidratação dos atletas de vôlei de praia do
estado de Sergipe. Rev Bras Ci Mov, v.18, n.3, p.29-34, 2010.
29. RAVAGNANI, F.C.P et al. Perfil físico das diferentes posições de jogadores de futebol. Rev
Bras Ci Mov, v.21, n.2, p.11-8, 2013.
30. REALE, R.; SLATER, G.; BURKE, LM. Acute-weight-loss strategies for combat sports and
applications to olympic success. Int. J. Sports Physiol. Perform. 12, p.142-151, 2017.
31. ROSA, A.S.P. Comparação do perfil antropométrico: peso, altura e imc de atletas do santos
futebol clube profissional e sub-20. Rev Bras Futsal Futebol, v.3, n.8, p.123-6, 2011.
32. SILVA, M.R et al. Efeito do suplemento hidroeletrolítico na hidratação de jogadores juniores
de futebol. Rev Bras Med Esporte, v.17, n.5, p.339-43, 2011.
33. SILVA, R.P et al. Fluid balance of elite Brazilian youth soccer players during consecutive days
of training. J Sport Sci, v.29, n.7, p.725-32, 2011.
167
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
34. SILVA, T.S et al. Hidratação em atividades físicas de longa duração: uma revisão. Salusvita,
v. 37, n. 1, p. 119-137, 2018.
35. SILVERTHORM, D.V. Fisiologia humana uma abordagem integrada. 5a ed. São Paulo:
Artmed; 2010.
36. Sociedade Brasileira de Medicina do esporte (SBME). Modificações dietéticas, reposição hídri-
ca, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos
para a saúde. Rev Bras Med Esporte, v.9, n.2, p.43-56, 2003.
37. TREVISAN, A.A; MAIA, J.B.A; PAULA, D.A.P; ALBERTINI, A.M; CAMPOS, M.V.A; MIGUEL,
H. Análise da perda hídrica em atletas de futsal feminino. Rev Bras Futebol, v.8, n.2, p.43-
50, 2017.
168
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
11
Percepções de futebolistas profissionais
sobre fatores de risco de lesões e
estratégias de prevenção utilizadas
10.37885/210504677
RESUMO
170
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
MÉTODOS
173
1 Endereço web da pesquisa: https://pt.surveymonkey.com/r/Y5TCMJ2
RESULTADOS
A idade média dos jogadores entrevistados foi de 23,7 ± 5 anos (18 a 39 anos), tendo
6,9 ± 5 anos de carreira profissional. A prevalência de lesões na carreira como jogadores
profissionais foi de 80%. Observou-se idade maior (p<0,05) e maior tempo de carreira pro-
fissional (p<0,01) nos jogadores com histórico de lesão (Tabela 1). Não houve diferença
estatística significativa para estatura e peso entre aqueles jogadores que reportaram ocor-
rência de lesão na carreira e os que não reportaram (p>0,05). Não foi observada associação
estatística entre as posições de jogo e histórico de lesões na carreira (desfecho binário “sim”
e “não”, p>0,05; Tabela 1).
A taxa de lesão foi de 1.84 por jogador ao longo da carreira profissional. No tocante
à distribuição anatômica das lesões, nota-se que a maioria das lesões (~76,5%, Gráfico 1)
ocorreram nos membros inferiores. Dessas, nota-se uma maior frequência de ocorrência na
musculatura isquiotibial (~26,2%, n= 58), na articulação do tornozelo (~24%, n = 53) e no
joelho (~16,7%, n = 37). O quadril/pelve teve uma taxa de lesões de ~7,2% (n = 16).
175
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 1. Distribuição anatômica das lesões em jogadores profissionais de futebol.
176
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 2. Percepção de jogadores profissionais sobre fatores de riscos internos para lesões no futebol.
Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.
177
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 3. Percepção de jogadores profissionais sobre fatores de riscos externos para lesões no futebol.
Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.
178
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 4. Frequência semanal de intervenção de programas de exercícios, estratégias ou formas de treinamentos
estruturados nos últimos seis meses para prevenção de lesões em jogadores profissionais de futebol.
Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.
179
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 5. Preferência dos jogadores profissionais de futebol sobre programas de exercícios, estratégias ou formas de
treinamentos para prevenção de lesões.
Fonte: os autores (2021). O tamanho amostral apresentado, em cada item, diverge do tamanho amostral total por diferentes taxas
de respostas retornadas para cada um.
DISCUSSÃO
180
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
lesão são as coxas e os joelhos. O quadril/pelve teve um valor significativo menor de lesões
(~7%), estando em consonância com o estudo de Nascimento e Silva (2017).
Esse cenário descritivo de lesões por segmento corpóreo é reconhecido no futebol.
Assim, a etiologia das lesões, em especial os isquiotibiais, tem mecanismo de lesão ligados
à hiperextensão de quadril com extensão de joelho, correspondente ao movimento do chute,
podendo lesar com maior intensidade a porção proximal do semitendíneo (RAMOS et al.,
2017). Além disso, a absorção de energia elástica durante a contração excêntrica na fase
final da corrida e desaceleração (RAMOS et al., 2017) e no tornozelo deve ser considerada.
Nossos achados, portanto, corroboram estudos prévios no contexto do futebol sul-americano
de elite (PEDRINELLI et al., 2013), brasileiro (BATISTA; COSTA, 2019; CARVALHO, 2009;
COHEN, 1997) e do futebol português (LOPES, 2008, GONÇALVES, 2000). Existe uma
maior preferência dos atletas por programas de prevenção que simule as ações específicas
do futebol e por trabalhos frequentes ao longo do microciclo.
Existem diversas variáveis documentadas na literatura que podem predispor ao desfe-
cho de lesões no futebol, como idade, posição de jogo, histórico de lesões passadas e reci-
divas, além de fatores externos (HAGGLUD et al., 2018; CRISTIANO NETTO, 2019). Nosso
estudo corrobora outras investigações em outros países europeus (ARNASON et al., 2004;
SCHMIDT-OLSEN et al., 1991) e no Brasil (RIBEIRO et al., 2007) que observaram a idade
como um importante fator interno quando considerado o contexto de exposição para risco de
lesões. Estima-se que a cada aumento de um (1) ano na idade, o risco de o atleta vir a sofrer
por incidência de lesão aumenta em 1,78 vezes (HENDERSON et al., 2010). Do ponto de vista
clínico, pode ser considerado que mesmo quando a taxa de prevalência é igual ou maior, os
quadros de lesões nas categorias mais jovens não envolvem afastamentos das atividades
esportivas e podem ter menor número de complicações secundárias (RIBEIRO et al., 2007).
Além disso, o presente estudo demonstrou que existe uma maior prevalência de lesões
em jogadores com mais tempo de carreira profissional – também chamados mais experientes
– e com maior faixa etária – entre 20 e 28 anos. Esse achado está alinhado ao estudo de
Almeida et al. (2013) realizado com atletas profissionais do Clube do Remo (Brasil, estado
do Pará), o qual revelou que, no intervalo entre as idades de 24 e 33 anos, os jogadores
tendem a sofrer com mais lesões. Essa tendência também foi observada por Barbalho et al.
(2017), que considerou no intervalo entre as idades de 24 e 28 anos uma tendência maior
a sofrer com lesões.
Pela característica do futebol, há uma expressiva solicitação física. Em média, 11 km/
jogo são percorridos pelos atletas (MACIEL et al., 2011) em meio a esforços intermitentes
e de elevada intensidade envolvendo, como fonte energética, aproximadamente 90% do
metabolismo aeróbico (GOROSTIAGA et al., 2004), o que somado à técnica dos atletas e
181
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ao fato de ser jogado com os pés (regra do futebol) seria esperado que a prevalência de
lesões ocorresse com maior frequência nos membros inferiores. Assim, afirmar que a região
dos isquiotibiais e tornozelos são as mais suscetíveis às lesões no futebol concorda com
prevalências observadas em outros estudos (BIZZINI et al., 2013; EKSTRAND et al., 2011).
Por exemplo, um estudo realizado por Santos et al. (2007), com atletas profissionais do Sport
Club Recife, mostrou que a região com maior frequência de lesão foi a de membros inferio-
res (75,51%), com destaque para os isquiotibiais/coxa (40,81%). Esses achados também
corroboram o estudo de Cezarino (2018). Outra lesão importante, com alta frequência de
ocorrência, a lesão de tornozelo, reforça o estudo de Abrahão et al. (2009).
No presente estudo, a frequência de lesões no joelho foi 17%, concordando com o
grande número de lesões na articulação do joelho observadas também em árbitros profis-
sionais da Premier League iraniana (MAHDAVI MOHTASHAM et al., 2018). Essa região
anatômica é de grande preocupação do corpo médico e de preparação física dos clubes.
Afinal, a articulação do joelho é uma das mais importantes na prática do futebol, por ser a
responsável pela sustentação, estabilidade corporal e absorção de impacto, além de su-
porte para a execução do gestual técnico do jogo com a bola e sua disputa, às vezes, com
sobrecarga contralateral.
A lesão é um importante fator econômico do esporte. A sua gravidade afasta e pro-
move precocidade de finalização de carreiras esportivas. Observando os achados de outra
pesquisa com nível competitivo semelhante ao de nosso estudo, parece ser consensual
que a prevalência de atletas acometidos por pelo menos uma lesão na carreira no futebol
é de aproximadamente 73% (PINTO, 2018). Os resultados dessa pesquisa se assemelham
ao achado no presente estudo, o qual demonstrou que 80% dos atletas participantes já se
lesionaram. Isso implica dizer o quão é importante que no planejamento de treinos existam
e sejam aplicadas, de maneira correta, as estratégias de prevenção com o intuito de diminuir
tais índices de lesões. Por isso, muito tem-se especulado sobre as abordagens preventivas
para lesões em futebolistas, como os meios e métodos alternativos de treinamento, muitos
em correspondência com o trabalho fisioterápico (RUIVO et al., 2018), até o desenvolvimento
ou aprimoramento tecnológico dos equipamentos de proteção como, por exemplo, chuteiras,
caneleiras e vestimentas (SILVA et al., 2011).
O presente estudo não objetivou prioritariamente e com metodologia adequada (i.e.
tamanho amostral mais ampliado para composição estratificada mais importante) averiguar
o efeito posicional na prevalência de lesões. Mesmo assim, o resultado não demonstrou uma
associação entre lesões na carreira e posição de jogo. No entanto, já existem na literatura
achados comprovando que as posições em campo mais propensas ao desenvolvimento de
lesões seriam os atacantes e os meio-campistas (CARVALHO, 2013; PALACIO et al., 2009;
182
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
ZAVARIZE et al., 2013) por serem posições que, por característica, demandam velocidade,
força e mudanças rápidas e bruscas de direção e de aceleração (FARIA et al., 2005).
Implementar e averiguar o lado perceptivo dos atletas poderá aumentar o engajamento
e cuidados individuais, ampliando a higiene e a educação voltada para saúde atlética. Por
isso, a comissão técnica precisa estar atenta aos feedbacks dos atletas quanto à frequência
de uso e às escolhas de quais processos de treinamento e prevenção de lesão implemen-
tar. A aderência à programação semanal de treino é modulada por questões perceptivas
e gosto pessoal. Nesse sentido, quanto à preferência dos atletas sobre as estratégias de
prevenção de lesão, o presente estudo notou que a maioria dos atletas relataram “gostar
muito” de treinos específicos e típicos das ações do futebol. Quando comparada a preferên-
cia dos atletas sobre tais estratégias com a sua utilização/frequência semanal, observou-se
que, em 86% dos treinos, tais métodos são utilizados “mais de três vezes” na semana,
atendendo, assim, à preferência dos jogadores de futebol. Métodos como termoterapia,
cinesioterapia, massoterapia, uso de bandagens carecem de mais evidências, pois, apesar
de serem indicados por estudos da fisioterapia (DOS SANTOS et al., 2020; MARCON, 2015)
como possíveis estratégias de prevenção de lesões, ficaram com uma menor frequência de
uso por parte das equipes médicas dos clubes, talvez por se tratar de times com menores
estruturas e pouco capital/aporte financeiro.
A maior limitação do presente estudo foi não analisar a eficácia dos principais métodos
de prevenção, uma vez que nosso estudo foi do tipo retrospectivo, buscando informações
de lesões dos jogadores nos últimos 6 meses. Apesar de suas limitações, este estudo é
valioso. Através dele foram evidenciadas as principais estratégias de prevenção de lesão
preferidas pelos jogadores. Assim, futuramente poderá auxiliar a equipe médica e prepara-
dores físicos no planejamento dos treinos e verificar se através delas há uma melhoria na
redução da prevalência das lesões.
CONCLUSÃO
O futebol é percebido pelos próprios atletas como um esporte de alto risco para lesões.
Dificilmente um jogador passará por sua carreira sem sofrer algum tipo de lesão, e quanto
maior for o tempo de profissão, mais suscetível ele estará à incidência de lesão. Notou-se
que a prevalência de lesões do tipo musculoesqueléticas são as que mais afetam os joga-
dores, principalmente aquelas que atingem os membros inferiores, com destaque para as
lesões nos isquiotibiais. Quanto às estratégias, métodos e programas de prevenção de lesão,
percebeu-se que nem todos os atletas as conhecem ou possuem uma baixa frequência no
dia a dia dos treinos das equipes pesquisadas.
183
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Partindo disso, juntamente com a compreensão da preferência dos atletas quanto
a tais métodos, medidas interventivas visando a maior aderência poderão ser propostas.
Considera-se a necessidade de novos estudos para que a equipe médica e os preparadores
físicos dos clubes possam avaliar e verificar sua eficácia na prevenção de lesões no futebol.
AGRADECIMENTOS
FINANCIAMENTO
Essa pesquisa foi possibilitada por meio de uma bolsa de iniciação científica, Edital
05/2018-PROPP/Pesquisa (Edital de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal
de Juiz de Fora).
REFERÊNCIAS
1. ABRAHÃO, G. S. et al. Incidência das lesões ortopédicas por segmento anatômico associado
à avaliação da frequência e intensidade da dor em uma equipe de futebol amador. Brazilian
Journal of Biomotricity, Itaperuna, v. 3, n. 2, p. 152-158, 2009.
3. ARNASON, A. et al. Risk factors for injuries in football. The American Journal of Sports
Medicine, Baltimore, v. 32, suppl. 1, p. 5-16, 2004.
10. COHEN, M. et al. Lesões ortopédicas no futebol. Revista Brasileira de Ortopedia, São Paulo,
v. 32, n. 12, p. 940-944, 1997.
11. CRISTIANO NETTO, D. et al. Avaliação prospectiva das lesões esportivas ocorridas durante
as partidas do Campeonato Brasileiro de Futebol em 2016. Revista Brasileira de Ortopedia,
São Paulo, v. 54, n. 3, p. 329-334, 2019.
12. DOS SANTOS AFONSO, M. et al. Fisioterapia desportiva no programa de prevenção de lesão
no futebol profissional. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista , v. 9,
n. 3, p. e72932434-e72932434, 2020.
13. Ekstrand, J.; Waldén, M.; Hägglund, M. Risk for injury when playing in a national football team.
Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, Copenhagen, v. 14, n. 1, p. 34-38,
2004.
14. FARIA, L. F.; PAIVA, V. H. Incidência de lesões em jogadores de futebol profissional do Uberaba
Sport Clube no campeonato mineiro módulo II 2005. In: IV Workshop em Fisiologia do Exercício
da UFSCar. Anais... UFSCar: São Carlos, 2005.
15. FERNANDES, A. A. et al. The “FIFA 11+” warm-up programme for preventing injuries in soccer
players: a systematic review. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 28, n. 2, p. 397-405,
2015.
16. Fuller, C. W. et al. Consensus statement on injury definitions and data collection procedures in
studies of football (soccer) injuries. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports,
Copenhagen, v. 16, n. 2, p. 83-92, 2006.
18. GOROSTIAGA, E. M. et al. Strength training effects on physical performance and serum hormo-
nes in young soccer players. European Journal of Applied Physiology, Berlin, v. 91, n. 5-6,
p. 698-707, 2004.
19. HÄGGLUND, M. et al. Re-injuries in professional football: the UEFA Elite Club Injury Study.
In: Return to Play in Football. Springer, Berlin, Heidelberg, 2018. p. 953-962.
20. HAGGLUND, M. Methods for epidemiological study of injuries to professional football players:
developing the UEFA model. British Journal of Sports Medicine, London, v. 39, n. 6, p.
340-346, 2005.
185
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
21. HENDERSON, G.; BARNES, C. A.; PORTAS, M. D. Factors associated with increased propen-
sity for hamstring injury in English Premier League soccer players. Journal of Science and
Medicine in Sport, Bursa, v. 13, n. 4, p. 397-402, 2010.
22. JUNGE, A. et al. Sports injuries during the summer Olympic Games 2008. American Journal
of Sports Medicine, Baltimore, v. 37, n. 11, p. 2165-2172, 2009.
24. MACIEL, W. P.; CAPUTO, E. L.; SILVA, M. C. Distância percorrida por jogadoras de futebol
de diferentes posições durante uma partida. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
Brasília, v. 33, n. 2, p. 465-474, 2011.
25. MARCON, C. A. Atuação fisioterapêutica nas principais lesões musculares que acometem
os jogadores de futebol de campo. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio
Ambiente, Ariquemes, v. 6, n. 1, p. 81-98, 2015.
26. McCall, A. et al. Injury risk factors, screening tests and preventative strategies: a systematic
review of the evidence that underpins the perceptions and practices of 44 football (soccer)
teams from various premier leagues. British Journal of Sports Medicine, London, v. 49, n.
9, p. 583-589, 2015.
27. MCCALL, A.; DUPONT, G.; EKSTRAND, J. Injury prevention strategies, coach compliance
and player adherence of 33 of the UEFA elite club injury study teams: a survey of teams’ head
medical officers. British Journal of Sports Medicine, London, v. 50, n. 12, p. 725-730, 2016.
28. MEURER, M. C.; SILVA, M. F.; BARONI, B. M. Strategies for injury prevention in Brazilian foo-
tball: perceptions of physiotherapists and practices of premier league teams. Physical Therapy
in Sport, Edinburgh, v. 28, p. 1-8, 2017.
29. MOHTASHAM, H. M.; SHAHRBANIAN, S.; KHOSHROO, F. Epidemiology and history of knee
injury and its impact on activity limitation among football premier league professional referees.
Journal of Injury and Violence Research, Los Angeles, v. 10, n. 1, p. 45, 2018.
31. PALACIO, E. P.; CANDELORO, B. M.; LOPES, A. A. Lesões nos jogadores de futebol profis-
sional do Marília Atlético Clube: estudo de coorte histórico do Campeonato Brasileiro de 2003
a 2005. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 31-35, 2009.
32. PEDRINELLI, A. et al. Estudo epidemiológico das lesões no futebol profissional durante a
Copa América de 2011, Argentina. Revista Brasileira de Ortopedia, São Paulo, v. 48, n. 2,
p. 131-136, 2013.
33. PFIRRMANN, D. et al. Analysis of injury incidences in male professional adult and elite youth
soccer players: a systematic review. Journal of Athletic Training, Dallas, v. 51, n. 5, p. 410-
424, 2016.
186
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
35. POULOS, C. C. et al. The perceptions of professional soccer players on the risk of injury from
competition and training on natural grass and 3rd generation artificial turf. BMC Sports Science,
Medicine and Rehabilitation, London, v. 6, n. 1, p. 11, 2014.
36. RAMOS, G. A. et al. Reabilitação nas lesões musculares dos isquiotibiais: revisão da literatu-
ra. Revista Brasileira de Ortopedia, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 11-16, 2017.
37. RIBEIRO, R. N. et al. Prevalência de lesões no futebol em atletas jovens: estudo comparativo
entre diferentes categorias. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo,
v. 21, n. 3, p. 189-194, 2007.
38. RUIVO, R.; PINHEIRO, V.; A RUIVO, J. Prevenção de lesões no futebol: Bases científicas e
aplicabilidade. Revista de Medicina Desportiva Informa, São Mamede de Infesta, v. 9, n. 2,
p. 16-19, 2018.
39. SANTOS, R. M. B et al. Analise Epidemiológica das Lesões em Atletas de Futebol professional
do Sport Club do Recife em 2007. Revista digital Efdeportes, Buenos Aires, 2009.
40. SCHMIDT-OLSEN, S. et al. Injuries among young soccer players. The American Journal
Sports Medicine, Walthan, v. 19, n. 3, p. 273-275, 1991.
41. SILVA, L. M. da. Seleção de materiais e design em produtos esportivos: estudo do perfil
interno de caneleiras personalizadas. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Minas, Me-
talúrgica e de Materiais) – Universidade de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2011.
42. STØLEN, T. et al. Physiology of soccer: an update. Sports Medicine, Auckland, v. 35, n. 6,
p. 501-536, 2005.
43. VAN TIGGELEN, D. et al. Effective prevention of sports injuries: a model integrating efficacy,
efficiency, compliance and risk-taking behaviour. British Journal of Sports Medicine, London,
v. 42, n. 8, p. 648-652, 2008.
44. WALDÉN, M. et al. Regional differences in injury incidence in European professional foo-
tball. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, Copenhagen, v. 23, n. 4, p.
424-430, 2013.
45. Waldén, M.; Hägglund, M.; Ekstrand, J. UEFA champions league study: a prospective study
of injuries in professional football during the 2001–2002 season. British Journal of Sports
Medicine, London, v. 39, p. 542-546, 2005.
46. ZAVARIZE, S. F. et al. Incidência de lesões musculoesqueléticas nas equipes base de futebol
da Associação Atlética Ponte Preta. Saúde e Desenvolvimento Humano, Canoas, v. 1, n.
2, p. 37-46, 2013.
47. ZECH, A.; WELLMANN, K. Perceptions of football players regarding injury risk factors and
prevention strategies. PLoSOne, San Francisco, v. 12, n. 5, p. e0176829, 2017.
187
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12
Tomada de decisão no futebol sete:
Uma análise sobre o último passe e a
finalização
10.37885/210504693
RESUMO
A tomada de decisão vem sendo um aspecto cada vez mais influente nas diversas
situações proporcionadas pelo futebol. Uma melhor percepção situacional antecede a
qualidade de execução dos fundamentos, ou seja, as decisões tomadas interferem conse-
quentemente no desempenho das equipes. O objetivo deste trabalho é analisar a tomada
de decisão e as ações técnicas dos jogadores de futebol sete durante o último passe
(UP) e finalização (F). Foram observadas as videogravações de oito jogos disputados
por duas equipes de futebol sete (A e B) em uma competição no estado do RS. Os dados
foram coletados através de um scout técnico. Os resultados evidenciaram o UP mais uti-
lizado pela equipe A (CB com 64,15%), e equipe B (CB com 66,10%). A F mais utilizada,
equipe A (CD com 86,42%) e equipe B (CD com 76,29%). As F terminadas em gols da
equipe A 16,05%, equipe B 15,46%, e as ações conjuntas que terminaram em gols da
equipe A (último passe CB e finalização com CD 61,54%) e equipe B (último passe CB e
finalização com CD 46,67%). Observa-se ainda uma carência de informações científicas
sobre o futebol sete, contudo estes parâmetros corroboram com os autores de estudos
sobre o futebol onze, contribuindo assim para a conscientização dos atletas sobre a
qualidade das suas decisões. Conclui-se que as variáveis contribuem para identificação,
exposição, e avaliação das decisões técnicas, servindo também como aplicação para
o planejamento técnico-tático dos treinadores e aprimoramento da tomada de decisão
de seus jogadores.
189
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
– Curto por baixo (CB): envolve o último passe desferido de curta a média distância
pelo solo (ou mais próximo a ele).
– Curto pelo Alto (CA): envolve o último passe desferido de curta a média distância
pelo alto (nível da cabeça, inclusive arremessos laterais contabilizados como assis-
tências diretas).
– Longo por baixo (LB): envolve o último passe desferido de longa distância pelo solo
(ou mais próximo a ele).
– Longo pelo alto (LA): envolve o último passe desferido de longa distância pelo alto
(nível da cabeça, inclusive arremessos laterais).
– Passe contrário (PC): envolve o passe desferido pelo adversário de forma “involun-
tária” (variável não considerada para análise do último passe, mas para o contexto
do jogo).
191
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
TIPO DE FINALIZAÇÃO (TF):
– Para fora (PF): envolve a conclusão a gol desferida para fora da goleira.
– Defesa do goleiro (DG): envolve a conclusão a gol desferida e defendida pelo goleiro
(inclusive conclusões na trave e interceptação de bola pela defesa (dentro da área)).
– Gol (G): envolve a conclusão revertida em gol.
192
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
RESULTADOS
TIPO DE PASSE
AÇÃO CB CA LB LA
1º Tempo 17 9 1 0
2º Tempo 17 7 0 2
TOTAL 34 16 1 2
% 64,15% 30,19% 1,89% 3,77%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto.
TIPO DE PASSE
AÇÃO CB CA LB LA
1º Tempo 18 11 1 1
2º Tempo 21 5 1 1
TOTAL 39 16 2 2
% 66,10% 27,12% 3,39% 3,39%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto.
193
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 1. Comparativo do último passe equipes A e B.
TIPO DE FINALIZAÇÃO
AÇÃO D CD C
1º Tempo 6 38 1
2º Tempo 3 32 1
TOTAL 9 70 2
% 11,11% 86,42% 2,47%
Legenda: D = com drible; CD = com chute direto; C = com cabeceio.
TIPO DE FINALIZAÇÃO
AÇÃO D CD C
1º Tempo 7 39 3
2º Tempo 12 35 1
TOTAL 19 74 4
% 19,59% 76,29% 4,12%
Legenda: D = com drible; CD = com chute direto; C = com cabeceio.
194
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 2. Comparativo de finalizações equipes A e B.
RESULTADO DA FINALIZAÇÃO
AÇÃO PF DG G
1º Tempo 20 22 3
2º Tempo 12 14 10
TOTAL 32 36 13
% 39,51% 44,44% 16,05%
Legenda: PF = para fora; DG = defesa do goleiro; G = gol.
RESULTADO DA FINALIZAÇÃO
AÇÃO PF DG G
1º Tempo 23 20 6
2º Tempo 11 28 9
TOTAL 34 48 15
% 35,05% 49,48% 15,46%
Legenda: PF = para fora; DG = defesa do goleiro; G = gol.
195
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Gráfico 3. Comparativo do resultado das finalizações equipes A e B.
Tabela 7. Distribuição das assistências e finalizações que resultaram em gol de todos os jogos da equipe A.
AÇÃO CB CA LB LA D CD C
1º Tempo 3 0 0 0 1 2 0
2º Tempo 6 2 0 0 2 8 0
TOTAL 9 2 0 0 3 10 0
% 81,81% 18,19% 0% 0% 23,08% 76,92% 0%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto; D = com drible; CD = com chute direto; C = com
cabeceio.
196
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 8. Distribuição das assistências e finalizações que resultaram em gol de todos os jogos da equipe B.
AÇÃO CB CA LB LA D CD C
1º Tempo 4 1 0 0 0 6 0
2º Tempo 4 2 1 0 1 8 0
TOTAL 8 3 1 0 1 14 0
% 66,66% 25% 8,34% 0% 6,67% 93,33% 0%
Legenda: CB = curto/baixo; CA = curto/alto; LB = longo/baixo; LA = longo/alto; D = com drible; CD = com chute direto; C = com
cabeceio.
DISCUSSÃO
Após a análise das respectivas ações, podemos entender a influência das decisões
tomadas pelos jogadores no desempenho técnico das equipes durante a competição. Devido
197
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
a momentânea carência de estudos sobre a observação das ações técnicas no futebol sete,
fez-se necessário discutir e equiparar informações com o esporte que deu origem a esta
modalidade, o futebol onze.
Conforme Cassol e Fernandes (2008), sobre uma partida de futebol onde são muitas
as valências físicas e técnicas utilizadas pelos atletas, é exigido um ótimo nível de desen-
volvimento de todas essas características por parte dos indivíduos. Não se pode esquecer
que para isso devemos desenvolver métodos que analisem todos estes aspectos. Por isso,
as análises qualitativa e quantitativa dessas ações tornam-se imprescindíveis para a pla-
nificação correta das metodologias que serão empregadas nas sessões de treinamento.
Sendo o scout uma maneira relativamente simples de mensuração e quantificação das ações
ocorridas dentro de uma partida de futebol.
No momento do último passe existiu uma incidência maior pelo passe “curto/baixo”
por ambas as equipes (64,15% equipe A (34x) – 66,10% equipe B (39x)). Sendo também o
passe CB aquele que mais antecedeu as finalizações resultantes em gols (em 81,82% dos
gols da equipe A (9x), assim como 66,66% dos gols da equipe B (8x).
Da mesma forma Manarte (2009), verificou que 88,5% dos passes da seleção es-
panhola (638 passes num total de 721) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 6 jogos
da Eurocopa 2008.
No estudo realizado por Redondo (2016), 60,2% dos passes da seleção portuguesa
Sub-19 (80 passes num total de 133) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 5 jogos do
Campeonato da Europa (Hungria/2014).
De acordo com Alves (2016), 69,01% dos passes da seleção Portuguesa Sub-20
(49 passes num total de 71) foram do tipo “curto/médio/baixo”, em 5 jogos da Copa do
Mundo Sub-20 em 2015.
Conforme Moura (2006), no estudo de quatro partidas entre equipes do campeona-
to brasileiro série A, 46,5% (dos passes que precederam as finalizações) foram do tipo
“curto/médio/baixo”.
Em conformidade com os dados podemos observar a preferência pelo tipo de último
passe “curto/baixo” (de curta ou média distância por baixo), bem como a “carência” na
utilização dos outros tipos de passes. São fundamentos que poderão ser importantes em
determinadas situações do jogo.
No momento da finalização existiu uma incidência maior do “chute direto” por ambas as
equipes (86,42% equipe A (70x) - 76,28% equipe B (74x)). Sendo também com CD o TF que
mais resultou em gols (76,92% equipe A (10x) - 93,33% equipe B (14x)).
198
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
No mesmo sentido Chaves (2010), verificou que o CD teve uma incidência de 87,80%
(72x em 82 finalizações) em uma análise sobre as finalizações da seleção brasileira de fu-
tebol na copa do mundo 2010.
De acordo com Santos et. al (2017), 82,08% das finalizações do Barcelona FC foram
por CD (55x em 67 oportunidades, sendo o CD o TF mais utilizado dentre outros), na análise
complementar dos gols da equipe na Liga Espanhola 2014-2015.
Conforme Moura (2006), no estudo sobre quatro partidas entre equipes do campeo-
nato brasileiro série A, 44,95% das finalizações foram por CD (49x em 109 oportunidades,
sendo CD o TF mais utilizado dentre os outros).
Corroborando com os dados destas decisões técnicas, verificamos a preferência de
finalização pelo chute direto, bem como a “carência” na utilização dos outros tipos de con-
clusão a gol. Estes recursos poderão ser utilizados em determinadas situações de jogo e
estão interligados com a capacidade decisional dos jogadores.
No resultado das finalizações, existiu uma incidência maior da “defesa do goleiro” por
ambas as equipes (44,44% equipe A (36x) – 49,48% equipe B (48x)). Seguidos de conclu-
são “para fora” com 39,51% da equipe A (32x) e 35,05% da equipe B (34). Sendo o RF com
término em “gol” apenas 16,05% da equipe A (13x) e 15,46% da equipe B (15x).
De acordo com o estudo realizado por Chaves (2010), constatou-se os resulta-
dos DG com 26,82% (22x/82), PF com 61,76% (51x/82), e G com 10,97% (9x/82). Já Redondo
(2016), verificou 38,23% das finalizações com DG (13x/34), PF com 41,17% (14x/34),
e G com 20,58% (7x/34).
Da mesma forma Alves (2016), verificou a DG em 42,1% das finalizações (32x/76), PF com
42,1% (32x/76), e G com 15,78% (12/76), a amostra consistiu na análise de cinco jogos da
seleção portuguesa, referente a Copa do Mundo Sub-20, no ano de 2015.
Em consonância com os resultados, podemos observar um baixo índice na efetividade
das finalizações, poucas vezes terminando em gols. Estes aspectos interferem diretamente
no desempenho das equipes em competições, evidenciando a necessidade do treinamento
destas capacidades.
Nas situações conjuntas mais satisfatórias, existiu uma incidência maior das ações
terminando em gol pelo último passe “curto/baixo” com finalização por “chute direto” (61,54%
equipe A (8x) – 46,67% equipe B (8x)).
Corroborando com Neto (2018), onde o TP “curto/médio/baixo” com 50% (17x) foi o
mais satisfatório terminando em gols, na análise dos gols marcados pela seleção brasileira
de futebol nas eliminatórias da copa do mundo 2018.
Estes achados coincidem com o trabalho de Fernandes (1994) apud Campos
(2004), sobre um estudo realizado pelo professor Jairo dos Santos, onde 33% dos gols
199
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
marcados ocorreram com o menor número de ações envolvidas durante a Copa do Mundo
de 1990. Os dados mostram, de maneira indireta, que as situações conjuntas são mais
eficazes quando ocorrem em um pequeno intervalo de tempo, devido ao menor número de
ações envolvidas (MAESTRI, 2010).
Conforme os resultados podemos observar uma “carência” de ações conjuntas ter-
minadas em gols. Demonstrando a importância do trabalho de aprimoramento das ações
técnicas dos jogadores.
CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos foi verificado que a análise contribui para conscientiza-
ção e avaliação das ações e decisões técnicas no futebol sete. Desta forma os treinadores
poderiam dar mais atenção a equipe utilizando-se do scout nestas situações de jogo, apli-
cando ao planejamento técnico-tático sessões de aprimoramento da capacidade decisional
de seus jogadores. Além disso, esta pesquisa demonstra a carência de estudos existente
no FS sobre a observação da capacidade de decisão dos atletas, e o desempenho das
equipes em competições.
No entanto, esses dados referem-se a um evento curto entre equipes recém-formadas
na modalidade. Portanto, sugere-se novas investigações sobre a tomada de decisão dos
jogadores e o seu universo de possibilidades, oportunizando a identificação das ações téc-
nicas, agregando conhecimento, apresentando novos resultados, e servindo de incentivo
para que o futebol sete torne-se um esporte cada vez mais dinâmico e extraordinário.
REFERÊNCIAS
1. Alves, C. J. R. Estudo das ações ofensivas que antecedem o golo: análise do campeonato do
mundo de futebol de Sub 20. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da Universidade de Coimbra. 2016.
3. Cassol, N., Fernandes, M. Como scouts técnico e físico podem ajudar na preparação das equi-
pes de futebol. Universidade do Futebol. 2008. Disponível em: https://universidadedofutebol.
com.br/como-scouts-tecnico-e-fisico-podem-ajudar-na-preparacao-das-equipes-de-futebol/
200
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
5. Chaves, R. A. H. Análise das finalizações da seleção brasileira de futebol na copa do mundo de
2010. Monografia. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG.
Belo Horizonte. 2010.
6. Fernandes, J. L. Futebol: ciência, arte ou...Sorte! Treinamento para profissionais – Alto rendi-
mento: preparação física, técnica, tática e avaliação. São Paulo. EPU. 1994.
10. Moura, A. F. Análise das ações técnicas de jogadores e das estratégias de finalizações no
futebol, a partir do tracking computacional. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual
Paulista. Instituto de Biociências. Departamento de Educação Física. Rio Claro, São Paulo.
2006.
11. Neto, V. F. S. Análise dos gols marcados pela seleção brasileira de futebol nas eliminatórias
da copa do mundo de 2018. Monografia. Universidade Federal do Ceará. Instituto de Educação
Física e Esportes. Curso de Educação Física. Fortaleza, Ceará. 2018.
12. Redondo, M. P. J. Análise das transições ofensivas na última etapa de formação no futebol.
Estudo no escalão de Sub-19. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências do Desporto
e Educação Física da Universidade de Coimbra. Portugal. 2016.
13. Santos, F. J. L. et al. Análise complementar do gol no futebol através de análise notacional,
análise sequencial e deteção de T-PATTERNS. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São
Paulo. v.9. n.34. p.238-249. ISSN 1984-4956. Set./Out./Nov./Dez. 2017.
201
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
13
Composição corporal de goleiros das
categorias de base da elite do futebol
mineiro
10.37885/210705525
RESUMO
203
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Este é um estudo retrospectivo, descritivo, não randomizado. O mesmo foi realizado com
goleiros que pertencem às categorias de base de três clubes filiados à Federação Mineira
de Futebol (FMF). Suas equipes profissionais disputam competições nacionais e interna-
cionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Confederação
Sul-Americana de Futebol (CSF).
Os atletas após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação
e procedimentos aos quais seriam submetidos concordaram em participar de maneira vo-
luntária do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
estabelecido pelo Conselho Nacional da Saúde (Resolução 196/96 - IV) envolvendo pes-
quisas com seres humanos.
Amostra
A amostra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas categorias:
pré-infantil (sub-14) (n=9), infantil (sub-15) (n=9), juvenil (sub-17) (n=9) e júnior (sub-20) (n=9).
Procedimentos
Para efeito de pesquisa os clubes foram nomeados em: clube “A”, clube “B” e clube
“C”. Foram coletados os dados de três atletas da referida posição por categoria, por clube,
baseando-se na ordem de titularidade, primeiro, segundo e terceiro goleiro. A ordem de titu-
laridade foi informada pelas equipes. Atletas que se encontravam no departamento médico
também foram avaliados.
A coleta de dados foi realizada dentro das instalações dos departamentos de futebol
de base de cada clube, em dias e horários determinados. Foram realizadas avaliações
206
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
antropométricas para obtenção da idade, peso, IMC, %G e estatura, sendo o %G o objetivo
principal desse estudo. No momento da avaliação os atletas seguiram as seguintes reco-
mendações: estar sem calçado e trajando shorts (Filho, 2003).
Para análise da avaliação antropométrica e da composição corporal, os sujeitos foram
submetidos às seguintes variáveis: (I) massa corporal (MC) total em (Kg) e estatura em metros
(m), para cálculo do IMC (índice de massa corporal) razão entre peso corporal e quadrado
da estatura, kg/m², para estas medidas utilizou-se uma balança mecânica com estadiômetro
acoplado, da marca Filizola® 23005 com precisão de 100 gramas, capacidade de 150 quilos
e estadiômetro de 2 metros; (II) medidas de dobras cutâneas, para cálculo percentual de
gordura (%G), empregou-se para tal, o plicômetro da marca Lange®, para medida de dobras
cutâneas, em nove regiões do corpo: tríceps, bíceps, peitoral, subescapular, axilar média,
supra-ilíaca, abdominal, coxa e panturrilha, para o cálculo da estimativa da densidade cor-
poral (DC) usou-se o somatório de sete dobras cutâneas propostas por Jackson e Pollock
para homens. Os valores foram convertidos em %G utilizando a equação proposta por Siri
em 1961 (Filho, 2003).
Análise estatística
Os dados foram processados e analisados por meio do programa Stata versão 11.2
(StataCorp LP). Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias do %G dos golei-
ros. Foi feita uma estatística descritiva composta por média e desvio padrão, valores mínimos
e máximos. Para efeito de interpretação, foi adotado o nível de significância de p≤0,05.
RESULTADOS
207
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Percentual de gordura (%G) por categoria dos goleiros avaliados dos clubes “A”, “B” e “C”.
Categoria n Média DP
Pré-infantil (Sub-14) 9 11,1 ± 2,47
Infantil (Sub-15) 9 12,8 ± 2,29
Juvenil (Sub-17) 9 12,3 ± 2,54
Júnior (Sub-20) 9 10,6 ± 2,70
p
Pré-infantil x Infantil 0,143
Pré-infantil x Juvenil 0,394
Pré-Infantil x Júnior 0,746
Infantil x Juvenil 0,731
Infantil x Júnior 0,143
Juvenil x Júnior 0,183
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.
Clube n Média DP
“A” 12 11,4 ± 2,92
“B” 12 12,3 ± 2,42
“C” 12 11,3 ± 2,41
p
AxB 0,408
AxC 0,967
BxC 0,075
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.
DISCUSSÃO
Esse estudo teve como objetivo, portanto, verificar a composição corporal dos goleiros
pertencentes às categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo
e analisar por categorias, por clube e o grupo como um todo.
O perfil antropométrico juntamente com a variável %G dos goleiros dos clubes es-
tudados pode ser caracterizado por sua homogeneidade, conforme demonstrado nas ta-
belas 1, 2, 3 e 4.
208
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Os parâmetros de antropometria e composição corporal são importantes na regulação
das modificações promovidas pelo treinamento. O IMC é atualmente um dos indicadores an-
tropométricos mais abordados na avaliação nutricional de um grupo populacional (Rezende,
Rosado, Franceschinni, 2007).
Entretanto o mesmo apresenta baixa sensibilidade para detectar indivíduos com ex-
cesso de gordura corporal. Além disso, os pontos de corte aplicados para o IMC são para
uma faixa etária muito larga (Rezende, Rosado, Franceschinni, 2007).
É importante admitir que o aumento de gordura corporal possa levar ao acréscimo de
peso corpóreo e, portanto, do IMC (Gomes, Anjos, Vasconcelos, 2010).
Porém, o inverso não é verdadeiro, pois o incremento de peso corporal pode relacio-
nar-se ao aumento de massa magra (isenta de gordura), densidade óssea e volume de água
corporal dos atletas (Guedes, 2006).
A coleta das dobras cutâneas para avaliação dessa composição nesse estudo foi
alicerçada na disposição da gordura ao longo do corpo, localizadas principalmente no sub-
cutâneo e distribuídas de forma variada no indivíduo. Portanto, foram coletadas nove pregas
cutâneas e analisadas sete dessas (Guedes, 2006).
A tabela 1 apresenta as características antropométricas da população estudada. Cabe
ressaltar que o estudo foi realizado com goleiros praticantes da modalidade futebol de campo
e pertencentes às categorias de base dos três maiores clubes do estado de Minas Gerais.
Apresentando um quadro atual e fidedigno da amostragem.
Embora tenha aumentado o número de estudos, principalmente para os futebolistas,
é difícil determinar níveis exatos de percentual de gordura para esportistas. Sabe-se que o
excesso de gordura irá exigir um maior dispêndio energético para a realização das diversas
tarefas em um jogo, prejudicando, possivelmente, uma melhor performance do jogador
(Ribeiro e colaboradores, 2011).
Os grupos analisados apresentam características homogêneas em relação ao %G.
A tabela 2 mostrou que os valores de percentual de gordura obtidos pelos jogadores
deste trabalho ficaram dentro dos parâmetros aceitáveis para o alto nível. Pesquisas com
jogadores brasileiros apontam %G entre 6,5 e 12,7% (Fonseca e colaboradores, 2008; Ribeiro
e colaboradores, 2007); com jogadores portugueses, variando de 10,3% a 12,6% (Ribeiro
e colaboradores, 2011); com jogadores do futebol da Islândia, média de 9,9%; e no futebol
do Leste Europeu, média de 10,8% (Ribeiro e colaboradores, 2011).
A tabela 3 também demonstra que o %G apresentados por clube também ficaram
dentro dos parâmetros aceitáveis para o alto nível. O teste t revela que não houve diferença
estatisticamente significativa entre as equipes, corroborando com os achados da literatura.
209
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Na tabela 4 a média do %G do grupo como um todo se mantém em conformidade com
o padrão nacional e internacional.
Segundo Lopes e Neto (1996), as equações de Jackson & Pollock (Martins, 2001) e
Siri (Filho, 2003), descrevem respectivamente, densidade corporal e %G e são amplamente
utilizadas nos estudos científicos (Filho, 2003). Há poucas equações propostas para predizer
os valores de composição corporal em crianças e adolescentes e algumas dessas superes-
timam a gordura corporal em crianças e adolescentes até 17 anos (Lopes e Neto, 1996).
De acordo com os resultados apresentados, pode-se concluir que as características
antropométricas dos jogadores de base das três equipes do futebol mineiro estão dentro
dos padrões aceitáveis para os jogadores profissionais.
CONCLUSÃO
Os resultados do estudo permitem concluir que não houve diferença significante para o
percentual de gordura entre os atletas conforme suas idades e clubes, provavelmente pelo
número limitado da amostra.
Percebe-se que os clubes avaliados apresentam características homogêneas em re-
lação ao %G dos goleiros. O grupo apresentou um baixo percentual de gordura, sendo
satisfatório em comparação com outros estudos, logo permite uma menor demanda fisio-
lógica nos treinos e competições, já que o futebol é um esporte onde a massa corporal é
movida no espaço.
A avaliação antropométrica e da composição corporal revelam a importância da utili-
zação destes dados para escolha da modalidade esportiva, seleção de talentos, prescrição
e monitoramento de treinamentos e auxílio aos treinadores para mudanças na posição dos
jogadores em campo.
Percebe-se que, apesar do crescente número de atletas e trabalhos relacionados ao
futebol, este espaço ainda é vago em se tratando de goleiros. São necessárias coletas de
mais dados para detectar alterações na composição corporal e no desempenho dos atletas.
REFERÊNCIAS
1. Filardo, R.D.; Neto, C.S.P. Indicadores Antropométricos e da Composição Corporal de Ho-
mens e Mulheres entre 20 e 39,9 anos de Idade. Revista Brasileira de Cineantropometria &
Desenvolvimento Humano. Vol. 3. Núm. 1. 2001. p. 55-62.
7. Guedes, D.P. Recursos Antropométricos para Análise da Composição Corporal. Revista Bra-
sileira de Educação Física e Esporte. Vol. 20. Núm. 5. 2006. p. 115-19.
8. Helal, R. Passes e Impasses: Futebol e Cultura de Massa no Brasil. Petrópolis. Vozes. 1997.
9. Lopes, A.S.; Neto, C.S.P. Composição Corporal e Equações Preditivas da Gordura em Crian-
ças e Jovens. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. Vol. 1. Núm. 4. 1996. p. 38-42.
10. Martins, A.L. Análise da Composição Corporal e do Índice de Massa Corporal de Indivíduos
de 18 a 50 anos. Caderno Saúde Coletiva. Vol. 9. 2001. p. 97-110.
11. Mattos, A. enciclopédia do Futebol Brasileiro e Mundial. Belo Horizonte. Editora Leitura. 2002.
12. McArdle, W. D.; Katch, F. I.; Katch, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desem-
penho Humano. 5ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2003.
13. Pain, M.A.; Harwood, C. The Performance Environment of the England Youth Soccer Teams.
J Sports Sci, Vol. 25, Núm.12, 2007, p.1307-1324.
14. Petroski, E.L.; Pires-Neto, C.S. Validação de Equações Antropométricas para Estimativa da
Densidade Corporal em Mulheres. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. Vol. 1. Núm.
1. 1995. p. 65-73.
15. Pollock, E.L.; Wilmore, J.H. Exercício Físico na Saúde e na Doença. Avaliação e Prescrição
para prevenção e Reabilitação. Rio de Janeiro. Medsi. 2003.
16. Rezende, F.; Rosado, L.; Franceschinni, S. Revisão Crítica dos Métodos Disponíveis para
Avaliar a Composição Corporal em Grandes Estudos Populacionais e Clínicos. Archivos Lati-
noamericanos de Nutrición, Vol. 57, 2007, p. 327-334.
18. Ribeiro R.S.; Dias, D.F.; Claudino, J.G.O.; Gonçalves, R. Análise do Somatotipo e Condicio-
namento Físico entre Atletas de Futebol de Campo Sub-20. Motriz Revista Educação Física.
Vol. 13. Núm. 4. 2007. p. 280-287.
19. Ribeiro, F.; Matos, D. G.; Aidar, F. J.; Matos, J. A. B.; Marins, J. C. B.; Silva, A. J.; Reis, V. M.
Características Cineantropométricas de Jogadores de Futebol Profissional de Minas Gerais:
Comparações entre as Diferentes Posições. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. Vol. 9.
Núm. 30. 2011. p. 9-16.
20. Santos, J. R. Historia Política do Futebol Brasileiro. São Paulo: Brasiliense (Coleção tudo é
história). 1981.
211
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
21. Torri, D.; Albino, B. S.; Vaz, A. F. Sacrifícios, Sonhos, Indústria Cultural: Retratos da Educa-
ção do Corpo no Esporte Escolar. Educação e Pesquisa. São Paulo. Vol. 33. Núm. 3. 2007.
p. 499-512.
22. Velho, G. Projeto e Metamorfose: Antropologia das Sociedades Complexas. Rio de Janeiro.
Jorge Zahar. 1999.
23. Williams, A.M.; Reilly, T. Talent Identification and Development in Soccer. J Sports Sci. Núm.
18. 2000. p.657-667.
24. Witter, J. S. Futebol: Um Fenômeno Universal do Século XX. Revista USP. São Paulo. Núm.
58. 2003. p.161-168.
212
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
14
Análise quantitativa das ações do
goleiro de futebol
10.37885/210705550
RESUMO
O scout é uma ferramenta capaz de relatar aos membros da comissão técnica os prin-
cipais acontecimentos técnico-táticos de uma partida de futebol. Através da análise
estatística dos resultados é possível obter informações interessantes capazes de de-
linear quais as demandas técnicas devem ser priorizadas nos treinamentos. Objetivo:
Identificar e quantificar as principais ações e/ou intervenções do goleiro em partidas
oficiais. Comparar essas ações por jogos e verificar a sua representatividade. Materiais
e Métodos: Foram coletados os dados dos 20 jogos do campeonato estadual que cor-
responderam à participação de goleiros de uma equipe de futebol masculino com idade
de até 15 anos. Um modelo de scout foi desenvolvido exclusivamente para o preenchi-
mento das informações. A coleta de dados foi realizada em tempo real durante os jogos.
Resultados: Defesas (16,06%), saídas de gol (17,34%), reposição de bola (36,19%),
goleiro linha (30,41%). A quantificação do total de defesas foi significativamente inferior
às reposições de bola (p=0,0001) e ao jogo com os pés (p=0,0024), quando compara-
dos. Na comparação entre defesas x demais ações nos jogos considerados como clássico
estadual somente as ações que englobam reposição de bola apresentaram diferença
estatisticamente significativa (p=0,005). Conclusão: Percebe-se que as ações do goleiro
variam de acordo com as exigências da partida. O número de defesas foi estatistica-
mente inferior durante todo o campeonato e, em clássicos, somente para as reposições
de bola. De acordo com o nível de dificuldade dos adversários e a homogeneidade das
equipes o condicionamento em realizar defesas passa a ser essencial. Os resultados do
estudo permitem concluir que o goleiro precisa ser completo.
214
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
215
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Porém, é importante ressaltar que não se pode avaliar um goleiro somente pelos seus
atributos de jogar fora da área ou com os pés, respectivamente. Os principais elementos
técnicos de um goleiro ainda são o jogo com as mãos e a capacidade de realizar saídas de
gol (Drubscky, 2014).
De acordo com achados na literatura Carlesso (1981), Gonçalves e Nogueira (2006)
e Moino (2011) as principais ações defensivas que o goleiro deve dominar são: a pegada
alta no meio, a pegada na altura do peito, o encaixe, a defesa rasteira no meio, a defesa
rasteira nas laterais, a defesa quicando no meio, a defesa quicando nas laterais, a defesa
à meia altura nas laterais, a defesa alta no meio, a defesa alta nas laterais, as saídas nos
cruzamentos e a penalidade.
Para condicionar um atleta a realizar as diversas funções supracitadas, além da ex-
periência pessoal do treinador de goleiros, utiliza-se de recursos como a filmagem de jogos
e treinos (Drubscky, 2014), scouts das partidas (Neto, 2010) (Vendite e colaboradores,
2005), entre outros.
Os registros dos dados de monitoramento de uma partida são denominados de scout
(Neto, 2010). A palavra de origem inglesa (inspecionar ou observar), também pode ser de-
finida como o mapa técnico-tático de uma equipe (Maestri, 2010; Neto, 2010).
Existem modelos de scout em que a finalidade é registrar os acertos e erros de funda-
mento do atleta, totalizando-os (Maestri, 2010).
No futebol brasileiro, diferente de modalidades esportivas como vôlei e basquete, o
uso do scout ainda é recente (Neto, 2010). Segundo Leitão (2001) e Vendite e colaborado-
res (2003), devido à grande concorrência entre os clubes, estudos dessa proporção torna-
ram-se necessários.
O scout é uma ferramenta capaz de relatar aos membros da comissão técnica os princi-
pais acontecimentos técnico-táticos de uma partida de futebol (Vendite e colaboradores, 2003).
O intuito da análise é verificar se a realidade dos jogos está de acordo com o plane-
jado ou não. Através da análise estatística dos resultados é possível obter informações
interessantes capazes de delinear quais as demandas técnicas devem ser priorizadas nos
treinamentos (Vendite e colaboradores, 2003).
Após estudo de revisão, constata-se que publicações envolvendo o goleiro de futebol
são escassas. A carência de estudos dificulta aos pesquisadores, bem como aos profissionais
envolvidos nessa modalidade, o acesso a dados sobre esse atleta. A falta de publicações
releva a importância desse estudo.
Devido a isso o objetivo foi identificar e quantificar as principais ações e/ou interven-
ções do goleiro em partidas oficiais. Comparar essas ações por jogos e verificar a sua
representatividade.
216
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
MATERIAIS E MÉTODOS
Amostra
Procedimentos
Observação: As colunas podem ser ajustadas de acordo com o tempo das partidas. Podendo ser formatado em primeiro e
segundo ou tempos corridos.
A coleta de dados foi realizada em tempo real durante os jogos. Ao término da partida
os dados eram repassados para uma planilha do software Microsoft Office Excel versão
2010 para Windows. Posteriormente analisados e armazenados.
As linhas do scout correspondem às ações do goleiro e as colunas ao tempo de
jogo (Figura 1).
As lacunas eram preenchidas de acordo com o tipo de ação e minuto do jogo em que
ocorreu. Dessa maneira, também foi possível quantificar o tempo de intervalo entre as ações,
porém, essa variável foi irrelevante no presente estudo.
As ações dos goleiros foram classificadas de acordo com os tipos de exigências: de-
fesas (pegada, encaixe, entrada, queda curta rasteira frontal, queda curta rasteira diagonal,
217
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
queda curta meia altura frontal, queda curta meia altura diagonal, salto no canto bola rasteira,
salto no canto bola meia altura, salto no canto bola alta, recuperação encobrindo frontal,
recuperação encobrindo diagonal), saídas de gol (frontal rasteira, frontal média, frontal alta,
cruzamento, escanteio, antecipação no abafo, enfrentamento 1x1), reposições (com as mãos
bola curta, com as mãos bola longa, com os pés tipo voleio/quebrada, tiro de meta curto, tiro
de meta longo, bola parada curta, bola parada longa), goleiro linha (chutão, passe, domínio
de bola com passe).
Procedimento estatístico
Os dados foram processados e analisados por meio do programa Stata versão 11.2
(StataCorp LP). Utilizou-se o teste t para comparar a diferença das médias das ações. Foi
feita uma estatística descritiva e para efeito de interpretação foi adotado o nível de signifi-
cância de p≤0,05.
RESULTADOS
218
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Quantificação das ações referentes aos jogos da fase de grupos.
Tabela 6. Comparativo entre as ações classificadas como defesas x demais ações (saídas de gol, reposição e goleiro linha).
Comparativo entre ações p
Defesas x Saídas de gol 0,3624
Defesas x Reposição 0,0001*
Defesas x Goleiro linha 0,0024*
Legenda: * p≤0,05.
Tabela 7. Comparativo entre as ações classificadas como defesas x demais ações (saídas de gol, reposição e goleiro linha)
durante os confrontos (jogos) contra adversários considerados como clássico estadual.
DISCUSSÃO
220
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Para tal atribuição também é necessário conhecer as demandas técnicas de uma
partida (Gallo e colaboradores, 2010; Moino, 2011). É consistente classificar e quantificar
o total dessas ações durante o período de competição, conforme demostrado na tabela 1.
Tratando-se de goleiros, imagina-se que o maior número de intervenções em uma
partida seja realizando defesas. Após classificar e quantificar as ações durante os jogos
podemos sugerir que essa tendência não é verdadeira. Apenas 18,13% das intervenções na
primeira fase exigiram a utilização desse fundamento, tabela 2. Já no hexagonal final esse
número foi ainda menor, 14,86%, tabela 3.
O futebol brasileiro está passando por uma nova revolução tática (Drubscky, 2014;
Mello, 1999). Alguns clubes possuem características culturais que não permitem que os
treinadores implantem determinados sistemas de jogo, já outros clubes, preferem escalar
suas equipes de acordo com os adversários, dessa forma, não possuem um sistema padrão.
Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que durante um campeonato de futebol é
possível verificar os diferentes sistemas de jogo em ação. O clima e as dimensões do campo
também devem ser levados em consideração (Sneyers, 1992; Weineck, 2000). Portanto, em
cada jogo existe uma particularidade, uma história diferente (Drubscky, 2014). Os detalhes
que envolvem cada partida justificam os resultados de estudos semelhantes em que o total
de ações do goleiro apresentou variação de acordo com os fatores supracitados (Gallo e
colaboradores, 2010; Moino, 2011).
A experiência em acompanhar esse tipo de campeonato nos permite dizer que existe
uma significativa diferença técnica entre os participantes. A fase de grupos talvez seja o pe-
ríodo da competição onde melhor se verifica essa diferença. A heterogeneidade das equipes
foi comprovada de acordo com os resultados da tabela 4. Quinze comparações do total de
ações do goleiro durante os jogos da primeira fase apresentaram um α ≤ 0,05.
O hexagonal final foi montado com as duas melhores equipes de cada chave, essa
forma de disputa e o sistema de pontos corridos permitem que somente as melhores equipes
do campeonato briguem pelo título.
Os equilíbrios técnicos e táticos entre as equipes tornaram os jogos mais homogê-
neos. Ao compará-los, somente um jogo apresentou diferença estatisticamente signifi-
cativa, tabela 5.
O baixo número das ações consideradas defesas durante uma partida de futebol pa-
rece ser uma realidade em todas as categorias. A obediência tática e os fortes esquemas
de marcação dificultam a finalização a gol dos jogares de frente (Drubscky, 2014; Mayer,
1996; Mello, 1999).
221
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
É preciso ficar atento a um importante detalhe: sabendo-se que o número de defesas
pode variar de acordo com a qualidade técnica do adversário (Moino, 2011), durante o jogo
os goleiros poderão vivenciar situações contrárias.
Enquanto o goleiro da equipe mais forte será pouco exigido, o outro defensor será
obrigado a realizar um número maior de intervenções. Diante desse fato os scouts de cada
equipe irão apresentar realidades distintas. Salientamos que os dados coletados foram de
goleiros pertencentes a um clube de elite nacional, validando os números aqui apresentados.
Uma particularidade do presente estudo é em relação ao modelo de scout utilizado.
Foram registradas somente as bolas que atingiram à meta, bolas chutadas pela linha de
fundo não foram computadas. Não foi coletado o total de chutes a gol efetivamente.
Parece estar claro que a utilização das diferentes ações do goleiro em campo: defe-
sas, saídas de gol, reposições e jogo com os pés, variam de acordo com as exigências da
partida. Entretanto, defender sempre foi à marca registrada dos goleiros (Carlesso, 1981).
Na tabela 6 está apresentado o comparativo das ações durante todo o campeona-
to. A representatividade das ações é controversa aos parâmetros que não enfatizam as
outras ações com a mesma importância ao ato de realizar defesas.
A quantificação do total de defesas foi significativamente inferior às reposições de bola
e ao jogo com os pés, quando comparados.
Por último, comparamos as ações dos jogos contra os adversários considerados como
clássico estadual (tabela 7) (Oliveira, 2012; Ribeiro, 2007).
Jogar contra clubes da elite pode oferecer dados próximos da realidade do âmbito na-
cional, norteando os trabalhos dos treinadores de goleiros e demais membros da comissão.
Hipoteticamente foram os jogos H3, H5, H6 e H8.
Os resultados do último comparativo corroboram que o atleta de alto rendimento precisa
saber e estar preparado para realizar seus fundamentos no momento em que é solicitado
(Ataíde e colaboradores, 2015; Weineck, 2003).
Quando comparadas, somente as ações que englobam reposição de bola apresentaram
diferença estatisticamente significativa (p=0,005).
O ato de repor a bola em jogo é uma característica subsequente às outras ações.
Talvez esse seja o principal fator contribuinte para a superioridade numérica dessa variável.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. Ataíde, E.C.; Bragaglia, F.A.; Costa, I.M.; Manini, J.L.; Marinho, N.F.S. Estratégias utilizadas
por goleiros para defender a cobrança de pênalti. Universidade do Futebol. 2015. D i s p o n í -
vel em: <http://universidadedofutebol.com.br/estrategia s-utilizadas-por-goleiros-para-defen-
der-a- cobranca-de-penalti/>. Acesso em 05/01/2016.
2. Berto, E.S.M.; Magalhães, F.C.O. A Estatura como critério de seleção na captação e formação
do goleiro de futebol de campo. Revista Brasileira de Futsal e Futebol. Vol. 6. Núm. 20. 2014a.
p.88-94. Disponível em: <http://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/vi ew/240/220>
3. Berto, E.S.M.; Magalhães, F.C.O. Composição corporal de goleiros das categorias de base da
elite do futebol mineiro. Revista Brasileira de Futsal e Futebol. Vol. 6. Núm. 20. 2014b. p.95-
101. Disponível em: <http://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/vi ew/241/221>
4. Borresen, J.; Lambert, M.I. The quantification of training load, the training response and the
effect on performance. Sports Medicine. 2009. Vol. 39. Núm. 9. p.779-795.
7. Drubscky, R. Universo Tático do Futebol- escola brasileira. 2ª edição. Belo Horizonte. Ricardo
Drubscky de Campos. 2014.
9. Gallo, C.R.; Zamai, C.A.; Vendite, L.; Libardi, C. Análise das ações defensivas e ofensivas,
e perfil metabólico da atividade do goleiro de futebol profissional. Revista da Faculdade de
Educação Física da Unicamp. Campinas. Vol. 8. Núm. 1. 2010. p.16-37
10. C. Análise das ações defensivas e ofensivas, e perfil metabólico da atividade do goleiro de
futebol profissional. Revista da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Campinas. Vol.
8. Núm. 1. 2010. p.16-37.
11. Gonçalves, A.G.; Nogueira, R.M.O.; O Treinamento específico para goleiros de futebol: uma
proposta de macrociclo. Estudos. Goiânia. Vol. 33. Núm. 7/8. 2006. p.531-543.
223
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
12. Leitão, R.A.A. Futebol Tático: análises qualitativas como ferramentas de avaliação. Monografia.
Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2001.
13. Maestri, F.S. Scout no futebol: análise de sequências ofensivas em gols no Campeonato
Paulista de Futebol da Série A1 de 2009. Monografia. Universidade Estadual de Campinas.
Campinas. 2010.
14. Mayer, R. Fichas de futbol - 120 juegos de ataque y defensa. Barcelona. Hispano Europea.
1996.
15. Mello, R.S. Sistemas e táticas para futebol. Rio de Janeiro. Sprint; 1999.
16. Moino, G.S. Análise tática da exigência de situações de jogo para goleiros jovens. Revista
Brasileira de Futsal e Futebol. Vol. 3. Núm. 8. 2011. p.127-141. Disponível em: <http://www.
rbff.com.br/index.php/rbff/article/view/106/102>
17. Neto, C.P.F. Análise de scout no futebol: fundamentos técnicos individuais da equipe de fute-
bol do Cruzeiro Esporte Clube no primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2010. Monografia.
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2010.
18. Oliveira, C.E.P. Enciclopédia do América. Belo Horizonte. Carlos Eduardo Paiva de Oliveira.
2012.
19. Quintão, R.C. Custódio, I.J.O. Alves, A.L. Claudino, J.G. Quantificação e comparação da carga
externa de diferentes conteúdos de treinamento específicos do futebol em relação ao jogo, uti-
lizando um GPS com acelerômetro. Revista Brasileia de Futebol. Vol. 6. Núm. 1. 2013. p.3-12.
20. Ribeiro, H.; Almanaque do Cruzeiro. Belo Horizonte. Henrique Ribeiro. 2007.
22. Teoldo, I. Guilherme, J. Garganta, J. Para um futebol jogado com ideias: concepção, treina-
mento e avaliação do desempenho tático de jogadores e equipes. Curitiba. Appris. 2015.
23. Vendite, C.C.; Vendite, L.L.; Moraes, A.C.; Scout no futebol: uma análise estatística. Campinas.
Conexões. 2003.
24. Vendite, C.C.; Vendite, L.L.; Moraes, A.C.; Scout no futebol: uma ferramenta para a imprensa
esportiva. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro. Comunicação
e Esporte. 2005. p.1-10.
25. Weineck, J.E. Futebol total: o treinamento físico no futebol. São Paulo. Phorte. 2000.
26. Weineck, J.E. Treinamento ideal. 9ª edição. São Paulo. Manole. 2003.
224
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
15
A estatura como critério de seleção
na captação e formação do goleiro de
futebol de campo
10.37885/210705552
RESUMO
226
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
O futebol é uma modalidade esportiva que faz parte do cotidiano da população brasileira
(Gonçalves e Nogueira, 2006).
O estudante Charles Miller que retornara da Inglaterra em 1894, trouxe junto de sua
bagagem bolas de couro, um par de chuteiras, camisas e calções. Sua intenção era apre-
sentar e ensinar o futebol aos brasileiros (Mattos, 2002).
O futebol foi aceito e logo caiu no gosto da população, ganhou adeptos por todo o
país, surgiram os primeiros clubes, tornando- se, consequentemente uma paixão nacional.
As crianças do Brasil encontram em uma bola de futebol seu brinquedo favorito, enquan-
to jovens e adultos desfrutam do futebol como forma de lazer, vivenciando o jogo praticado
ou na forma de espetáculos, em estádios ou pela televisão (Gonçalves e Nogueira, 2006).
Na década de 1990, o futebol brasileiro viu-se obrigado a se enquadrar de acordo com
os padrões europeus. O interesse pela mídia fez aumentar a mercantilização dos campeo-
natos e como consequência o interesse dos clubes em formar grandes equipes (Magno
e Barboza, 2007).
Atualmente as categorias de base dos grandes clubes têm como principais objetivos
a formação do jogador para servir a equipe profissional e posteriormente serem vendidos
aos clubes estrangeiros de grande expressão (Cruz, 2012).
A busca pelo perfil ideal de atleta torna cada vez mais seletiva os processos de capta-
ção e formação do jogador de futebol. Muito se pergunta qual é o perfil ideal de atleta para
cada posição no campo.
Segundo Paoli, Silva e Soares (2008), mesmo passando por constantes evoluções, o
futebol ainda não apresenta um modelo considerado eficaz para identificação de jogadores.
Nesse sentido, é comum verificar que clubes formatam o seu próprio método de ava-
liação. Em muitas circunstâncias o talento é caracterizado pelas qualidades físicas, técni-
cas e psicológicas.
Outros apostam no jogador de “porte” ainda jovem, o talento é baseado na estatura e
no desenvolvimento físico (Paoli, Silva e Soares, 2008).
Entretanto, existe uma posição na equipe de futebol que necessita de atenções es-
peciais durante o processo de captação. O goleiro de futebol de campo é um atleta com
objetivos e funções extremamente distintas dos demais jogadores, enquanto a proposta
do jogo é marcar gols, o goleiro tenta evitá-los. A difícil missão de evitar os gols da equipe
adversária durante a partida exigem condições especiais do atleta que irá ocupar a posição
(Carlesso, 1981).
Para Gallo e colaboradores (2010), o goleiro tem responsabilidade e importân-
cia vital em uma equipe, sua atuação poderá influenciar diretamente no resultado do
227
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
jogo. Em determinados lances da partida pode ser a consumação de uma vitória ou até
mesmo a derrota. Dizem que todo time começa com um bom goleiro (Carlesso, 1981).
Contudo, o goleiro necessita de capacidades condicionantes e coordenativas, capa-
cidades físicas e técnicas específicas. O goleiro deve dominar seus fundamentos técnicos
(Domingues, 1997).
Encontrar um atleta capaz de defender uma meta com dimensões de 2,44 (m) de altu-
ra x 7,32 (m) de largura (CBF, 2012) e ainda possuir todas as características e qualidades
citadas não é tarefa fácil para os clubes formadores.
Para McArdle, Katch e Katch (2003), a capacidade de executar tarefas de alto desem-
penho desportivo está relacionada ao biótipo do atleta. As medidas antropométricas devem
estar devidamente adequadas à especificidade da função que o atleta ocupa na equipe
(Prado e colaboradores, 2006).
Estudos relatam uma tendência dos goleiros serem os atletas mais altos da equipe
(Gallo e colaboradores, 2010).
Para Voser, Guimarães e Ribeiro (2006), a estatura ideal do goleiro deve ser entre 1,85
(m) até 1,95 (m). Um estudo realizado com dados da copa do mundo de futebol da Alemanha,
no ano de 2006, relata que estiveram presentes 96 goleiros de diversas seleções, sendo
que a média de estatura foi de 1,88 (m) (Gallo e colaboradores, 2010).
Em algumas modalidades esportivas a estatura parece estar ligada diretamente ao
sucesso dos atletas, principalmente no futebol, onde em determinadas posições do campo
essa variável é de suma importância (Penna e colaboradores, 2012).
A estatura é uma variável que está ligada às fases de maturação do adolescente. A ado-
lescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o período que compreende
a faixa etária entre 10 e 19 anos. É nesse período que os jovens apresentam características
sexuais secundárias, ganho acelerado de peso e estatura (Silva, Teixeira e Goldberg, 2003).
Nesse sentido, considerando a estatura como ferramenta importante no processo de
seleção esportiva, a idade cronológica não é reconhecida como indicador temporal adequado,
sabe-se que às modificações promovidas pela maturação podem acontecer em períodos
diferentes em indivíduos do mesmo grupo etário (Silva, Teixeira e Goldberg, 2003).
Para Carvalho e colaboradores (2010), o desenvolvimento ósseo é uma referência
fidedigna na previsão de crescimento dos jovens. A radiografia de mão e punho, a telerra-
diografia de perfil e a radiografia panorâmica dos maxilares são os recursos mais utilizados
pelos médicos especialistas. Após analisar os resultados é possível sugerir a idade fisioló-
gica do paciente.
228
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Talvez o futebol seja a modalidade de esporte coletivo que mais precocemente inicia seu
processo de formação. O modelo ideal de atleta ainda é muito discutido dentro dos clubes, e
curiosamente, o futebol carece de pesquisas científicas relacionadas ao assunto (Cruz, 2012).
Após estudo de revisão bibliográfica, percebe-se que as primeiras publicações sobre
goleiros tiveram início na década de 70 (Carlesso, 1981).
Entretanto, a análise da estatura de praticantes do futebol de alto rendimento é um
tema escasso na literatura (Penna e colaboradores, 2012). A falta de publicações sobre essa
variável releva a importância desse estudo.
O presente estudo tem como objetivo verificar a estatura dos goleiros pertencentes às
categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo e analisar por
categorias, por clube e o grupo como um todo.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado com goleiros que pertencem às categorias de base de três clu-
bes filiados à Federação Mineira de Futebol (FMF). Suas equipes profissionais disputam
competições nacionais e internacionais organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) e pela Confederação Sul- Americana de Futebol (CSF).
Os atletas após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação
e procedimentos aos quais seriam submetidos concordaram em participar de maneira vo-
luntária do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
estabelecido pelo Conselho Nacional da Saúde (Resolução 196/96 - IV) envolvendo pes-
quisas com seres humanos.
Amostra
A amostra foi composta por 36 indivíduos do sexo masculino, divididos nas categorias:
pré-infantil (sub-14) (n=9), infantil (sub-15) (n=9), juvenil (sub-17) (n=9) e júnior (sub-20) (n=9).
Procedimentos
Para efeito de pesquisa os clubes foram nomeados em: clube “A”, clube “B” e clube
“C”. Foram coletados os dados de três atletas da referida posição por categoria, por clube,
baseando-se na ordem de titularidade, primeiro, segundo e terceiro goleiro. A ordem de titu-
laridade foi informada pelas equipes. Atletas que se encontravam no departamento médico
também foram avaliados.
A coleta de dados foi realizada dentro das instalações dos departamentos de futebol
de base de cada clube, em dias e horários determinados. Foram realizadas avaliações
229
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
antropométricas para obtenção da idade, peso, IMC, %G e estatura, sendo a última como
objetivo principal do estudo. No momento da avaliação os atletas seguiram as seguintes
recomendações: estar sem calçado e trajando shorts (Filho, 2003).
A estatura é à distância em linha reta entre a planta dos pés e o ponto mais alto da
cabeça. A aferição foi realizada com o indivíduo em posição ortostática, pés unidos, costas
retas, braços estendidos ao lado do corpo e a cabeça posicionada com o plano de Frankfurt
(Cuppari, 2002).
Utilizou-se uma balança mecânica com estadiômetro acoplado, da marca Filizola®
23005 com precisão de 100 gramas, capacidade de 150 quilos e estadiômetro de 2 metros,
para esta medida (metros), a precisão foi regulada a 0,01 metros.
Análise estatística
RESULTADOS
230
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Tabela 2. Estatura por categoria dos goleiros avaliados dos clubes “A”, “B” e “C”.
Categoria n Média DP
Pré-infantil (Sub-14) 9 1,81* ± 0,03
Infantil (Sub-15) 9 1,84 ± 0,07
Juvenil (Sub-17) 9 1,88 ± 0,04
Júnior (Sub-20) 9 1,88 ± 0,04
p
Pré-infantil x Infantil 0,199
Pré-infantil x Juvenil 0,018*
Pré-infantil x Júnior 0,004*
Infantil x Juvenil 0,472
Infantil x Júnior 0,306
Juvenil x Júnior 0,558
Legenda: n = Total de indivíduos, DP = Desvio padrão,
*p≤0,05 = diferença estatisticamente significativa na estatu-
ra dos goleiros Pré-infantil quando comparados com Juvenil
(p=0,018) e Júnior (p=0,004).
Clube n Média DP
“A” 12 1,83 ± 0,06
“B” 12 1,86 ± 0,06
“C” 12 1,87 ± 0,04
p
AxB 0,377
AxC 0,118
BxC 0,579
Legenda: n=Total de indivíduos, DP = Desvio padrão.
n Média DP
36 1,85 ± 0,05
Legenda: n=Total de indivíduos, DP=Desvio padrão.
A Tabela 3 apresenta os valores encontrados para variável estatura dos goleiros por
clube. A diferença das médias de estatura dos goleiros dos clubes “A”, “B” e “C” não é es-
tatisticamente significativa para um α de p≤ 0,05.
A média da variável estatura dos goleiros das categorias de base dos três clubes par-
ticipantes do estudo está apresentada na Tabela 4.
DISCUSSÃO
Esse estudo teve como objetivo, portanto, verificar a estatura dos goleiros pertencentes
às categorias de base de clubes formadores da modalidade futebol de campo e analisar por
categorias, por clube e o grupo como um todo.
O futebol continua passando por transformações (Drubscky, 2003). O jogo exige par-
ticipações coletivas combinadas e treinadas (Forgiarini, Liberali, Almeida, 2010).
231
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Nesse contexto o goleiro se destaca cada vez mais no cenário futebolístico e sua atua-
ção pode ser um alto componente decisivo de uma partida, podendo determinar o sucesso
ou fracasso da equipe (Moino, 2011).
Cada posição em campo exige do atleta características fisiológicas específicas
(Barbanti, 1996).
Segundo Filho (2002), a tipologia física de cada jogador apresenta variações conforme
cada posição no jogo, onde geralmente os goleiros são atletas mais altos do que os joga-
dores de outras posições.
Para os especialistas em treinamento de goleiros, dos clubes estudados, o goleiro alto
leva vantagem em diversas situações de intervenção na partida. Maior cobertura, maior fa-
cilidade para sair do gol em bolas altas lançadas na área e pode chegar mais facilmente em
pontos distantes da meta. No entanto, tem maior dificuldade em defender bolas próximas
do mesmo quando chutadas rasteira.
Ratificando, ainda são poucos os estudos direcionados sobre este atleta. A escas-
sez bibliográfica dificulta o trabalho àquele que queira aprofundar-se neste tema (Piqueras
e Vallet, 2005).
Cabe ressaltar que esta amostragem é composta por 36 goleiros pertencentes às
categorias de base de três grandes clubes do futebol brasileiro, retratando um quadro fide-
digno do estudo. Para Penna e Colaboradores (2012), a categoria de base é o espelho do
esporte profissional.
Com isso, observa-se que no processo de captação e formação do goleiro de futebol
de campo, existe uma tendência em selecionar atletas de maior estatura. Os resultados
corroboram com os estudos que apontam a estatura entre 1,85 (m) e 1,90 (m) como ideal
para o goleiro (Voser, Guimarães e Ribeiro, 2006).
A tabela 1 apresenta as características antropométricas da população estudada. Os va-
lores encontrados são compatíveis com a literatura e estudos referentes a atletas de futebol
de campo (Rosa, 2011).
De acordo com Prado e colaboradores (2006) as características antropométricas são
determinantes para o sucesso de uma equipe. A idade, o peso, o IMC e o %G são variáveis
que interferem no desempenho dos atletas (Rosa, 2011).
A tabela 2 mostrou que a busca por atletas com maturação física mais desenvolvida faz
parte do cotidiano das categorias de base dos clubes estudados. O teste t demonstrou que
a diferença da média de estatura dos goleiros da categoria pré- infantil apresenta diferença
estatisticamente significativa (p≤0,05) quando comparado com goleiros das categorias juvenil
(p=0,018) e júnior (p=0,004). A análise da estatura média de todas as categorias apresentou
232
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
o valor mínimo de 1,81 (m) e máximo de 1,88 (m). Essa tendência também pode ser obser-
vada em outros estudos envolvendo atletas em formação (Penna e colaboradores, 2012).
Logo, parece existir uma unanimidade entre os clubes em selecionar goleiros de alta
estatura. Tal fato pode ser explicado pela necessidade funcional desses jogadores (Ribeiro
e Colaboradores, 2011). A tabela 3 corrobora com essa tendência ao apresentar valores
médios analisados por clube. O clube “C” apresentou maior média, 1,87 (m).
As categorias iniciais formam a base do futebol profissional. Preconiza-se que para
alcançar o “estrelato” o atleta deve possuir características indicadoras para o desempenho
esportivo. O estado de maturação é uma característica importante, atletas com bom desen-
volvimento físico estão na perspectiva do futebol profissional (Paoli, Silva e Soares, 2008).
O processo de avaliação e formação do jogador de base muitas vezes é feito durante
competições (Paoli, 2007).
Talvez por isso a opção em captar goleiros com estágio maturacional mais avançados.
Com base nos estudos supracitados, observa-se que a média (1,85m) da variável estatura
dos goleiros das categorias de base dos três clubes participantes do estudo são favoráveis
ao nível competitivo (Tabela 4).
A variável estatura ainda será tema de muita discussão no meio futebolístico. Na histó-
ria do futebol moderno existem goleiros considerados baixos que conquistaram seu espaço
entre os “grandalhões”. Jorge Campos (1,73m) goleiro destaque da seleção mexicana na
copa de 1994, Cláudio André Margen Taffarel (1,82m) ídolo nacional na década de 1990,
Victor Valdéz (1,83m) atual goleiro do Football Club Barcelona, Harlei de Menezes (1,82m)
ainda fazendo história no Goiás Esporte Clube, são alguns exemplos.
É hipotetizado aos atletas preteridos por baixa estatura a necessidade de desenvolver
habilidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas capazes de promovê-los ao nível com-
petitivo, auxiliando-lhes no que lhes é desfavorável (Penna e colaboradores, 2012).
Percebe-se a importância de pesquisas longitudinais no processo de investigação
das variáveis favoráveis ao processo de captação e formação do goleiro profissional de
futebol de campo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que entre os clubes formadores existe uma preferência em selecionar golei-
ros de alta estatura. Os resultados encontrados sugerem a média de 1,81(m) como estatura
mínima para goleiros pertencentes à categoria pré-infantil (sub-14).
Observa-se que a média de estatura cresce de acordo com a evolução da categoria,
apresentando diferença estatisticamente significativa para goleiros da categoria pré-infantil
quando comparados com goleiros das categorias juvenil (sub-17) e júnior (sub-20).
233
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
Percebe-se que os clubes avaliados apresentam características homogêneas em re-
lação à estatura dos goleiros.
De acordo com achados do presente estudo, quando comparada como um todo, a média
da estatura tem valor favorável à prática do futebol profissional. Portanto, a estatura deve
ser usada como importante ferramenta de avaliação no processo de captação e formação
do goleiro de futebol de campo.
REFERÊNCIAS
1. Barbanti, V. J. Treinamento Físico: Bases Científicas. 3ª edição. CLR Balieiro. 1996.
3. Carvalho, A. C. A.; Simões, C. C.; Pinho, C.; Oliveira, L. S. A. F.; Crusoé-Rebello, L.; Campos,
S. F. Métodos de análise da maturação óssea e estimativa da idade. Revista de Ciências Mé-
dicas e Biológicas. Salvador. Vol. 9. Núm. 1. 2010. p. 95-103.
11. Forgiarini, E. F.; Liberali, R.; Almeida, R. A. As Manobras Ofensivas que Originam Situações
de Gols no Futebol. Revista Brasileira de Futsal e Futebol. São Paulo. Vol. 2. Núm. 4. 2010.
p. 14-18.
12. Gallo, C.R.; Zamai, C.A.; Vendite, L.; Libardi, C. Análise das Ações Defensivas e Ofensivas,
e Perfil Metabólico da Atividade do Goleiro de Futebol Profissional. Revista da Faculdade de
Educação Física da UNICAMP. Campinas, Vol. 8. Núm. 1. 2010. p. 16-37.
14. Magno, A.; Barbosa, A. O futebol e a Sociedade Global: Uma Reavaliação de Identidade.
Revista Sociedade e Cultura. Vol. 10. Núm. 2. 2007. p. 173-186.
15. Mattos, A. enciclopédia do Futebol Brasileiro e Mundial. Belo Horizonte. Editora Leitura. 2002.
234
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
16. McArdle, W. D.; Katch, F. I.; Katch, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desem-
penho Humano. 5ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2003.
17. Moino, G. S. Análise Tática da Exigência de Situações de Jogo para Goleiros Jovens. Revista
Brasileira de Futsal e Futebol. São Paulo. Vol. 3. Núm. 8. 2011. p. 127-141.
19. Paoli, P. B.; Silva, C. D.; Soares, A. J. G. Tendência Atual da Detecção, Seleção e Formação
de Talentos no Futebol Brasileiro. Revista Brasileira de Futebol. Vol. 1. Núm. 2. 2008. p. 38-52.
20. Penna, E. M.; Ferreira, R. M.; Costa, V. T.; Santos, B. S.; Moraes, L. C. C. A. Relação Entre
Mês de Nascimento e Estatura de Atletas do Mundial de Futebol Sub 17. Revista Brasileira de
Cineantropometria e Desempenho Humano. Vol. 14. Núm. 2. 2012.
21. Prado, W. L.; Botero, J. P.; Guerra, R. L. F.; Rodrigues, C. L.; Cuvello, L. C.; Dâmasco, A. R.
Perfil Antropométrico e Ingestão de Macronutrientes em Atletas Profissionais Brasileiros de
Futebol, de Acordo com suas Posições. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 12.
Núm. 2. 2006. p. 61-65.
22. Piqueras, P. G.; Vallet, C. C. Entrenamiento Integrado Del Portero de Fútbol Através de sus
Acciones Técnico Tácticas Ofensivas. Disponível em: <http://www.portalfitness.com>. Acesso
em: 10/03/2013.
23. Ribeiro, F.; Matos, D. G.; Aidar, F. J.; Matos, J. A. B.; Marins, J. C. B.; Silva, A. J.; Reis, V.
M. Características Cineantropométricas de Jogadores de Futebol Profissional de Minas Gerais:
Comparações entre as Diferentes Posições. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. Vol. 9.
Núm. 30. 2011. p. 9-16.
24. Rosa, A. S. P. Comparação do Perfil Antropométrico: Peso, Altura e IMC de Atletas do Santos
Futebol Clube Profissional e Sub-20. Revista Brasileira de Futsal e Futebol. São Paulo. Vol.
3. Núm. 8. 2011 p. 123-126.
25. Silva, C. C.; Teixeira, A. S.; Goldberg, T. B. O Esporte e suas Implicações na Saúde Óssea
de Atletas Adolescentes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 9. Núm. 6. 2003. p.
426-432.
26. Voser, R. C.; Guimarães, M. G. V.; Ribeiro, E. R. Futebol: história, técnica e treino de goleiro.
Porto Alegre. EDIPUCRS. 2006.
235
Medicina do Esporte no Futebol: pesquisa e práticas contemporâneas
SOBRE O ORGANIZADOR
(des)Construção: 237 G
A Goleiro: 175, 214, 218, 219, 220, 223, 226, 234
Ações: 214, 234
H
Antropometria: 203, 211
Hidratação: 166, 168
Atletas: 132, 133, 137, 187, 206, 211, 229, 234,
235 Humor: 132, 136, 137, 139
B I
Burnout: 132, 137, 141, 150, 151, 152 Instituições: 14, 27, 95
C M
Composição Corporal: 202, 223
Medicina do Esporte: 168
D
O
Desidratação: 157, 159, 166
Odontologia do Esporte: 63
E
P
Educação: 72, 76, 105, 107, 117, 149, 150, 151,
152, 166, 185, 186, 187, 200, 201, 211, 212, Percepção: 170, 177, 178
223, 234
Pesquisa Transdisciplinar: 95
Esportes: 191, 201
Prática: 95, 151, 210, 234
Estatura: 175, 207, 223, 226, 231, 235
Estresse: 131, 132, 137, 139, 140, 141, 144, Prevenção de Lesões: 170, 187
146, 147, 149, 150, 151
R
Exercícios: 91
Representatividade: 214
F
S
Fatores de Risco: 170
Scout: 192, 201, 214, 224
Formação: 116, 226, 234, 235
Futebol: 14, 18, 29, 30, 35, 46, 64, 65, 66, 74,
T
75, 86, 94, 95, 96, 99, 103, 104, 106, 107, 108,
Tomada de Decisão: 188
111, 112, 114, 118, 119, 120, 122, 125, 128, 132,
150, 151, 152, 158, 166, 167, 168, 170, 175,
Trauma: 67
184, 185, 186, 187, 190, 200, 201, 202, 203,
204, 206, 210, 211, 212, 213, 217, 223, 224,
editora
científica digital