AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉC.
XX
módulo 7 - unidade 1 | 20.09 -
1.1) UM NOVO EQUILÍBRIO GLOBAL
● Primeira Guerra Mundial (1914 - 11 de
novembro de 1918) → vitória da
Tríplice Entente (Reino Unido, França,
Rússia e EUA); derrota da Tríplice
Aliança (Alemanha, Império
Austro-Húngaro e Itália).
● A Conferência de Paz iniciou-se em
janeiro de 1919 em Paris.
> Apenas os vencedores estiveram
presentes:
- Clemenceau (França);
- Lloyd George (Grã-Bretanha);
- Wilson (EUA).
> Os “14 pontos” de Wilson serviram
de base às negociações:
- Diplomacia transparente;
- Liberdade de navegação e de trocas;
- Redução dos armamentos;
- Respeito pelas nacionalidades;
- Evacuação das tropas alemãs da
Bélgica;
- Criação de uma liga de nações.
↪ Foram assinados vários
acordos de paz:
- Tratado de Versalhes
(Alemanha);
- Tratado de
Saint-Germain-en-Lay
e (Áustria);
- Tratado de Trianon
(Hungria);
- Tratado de Neuilly
(Bulgária);
- Tratado de Sèvres
(Império Otomano).
● Surge uma nova geografia política e
uma nova ordem internacional.
A Geografia política após a Primeira Guerra
Mundial. A Sociedade das Nações
● Os tratados de paz conduziram a uma
profunda transformação do mapa da
Europa e do Médio Oriente:
> Império Russo → URSS (União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas):
↪ Deixa de exercer poder sobre a
Finlândia, a Estónia, a Letónia
e a Lituânia.
> Impérios autocráticos
desmembrados (Impérios Alemão,
Austro-Húngaro e Otomano);
> Nascimento de novos países de
acordo com o princípio das
nacionalidades, com constituições
democráticas liberais e sistemas
parlamentares → estados-nação;
> Império Austro-Húngaro:
↪ A Áustria, a Hungria, a
Checoslováquia, a Jugoslávia
e a Polónia tornam-se estados
independentes.
> Império Otomano:
↪ Síria e Líbano passam a
mandatos da França;
↪ Mesopotâmia, Palestina,
Transjordânia e Egito passam a
mandatos da Grã-Bretanha;
↪ Nascimento da Arábia Saudita
como estado independente;
> Recomposição de fronteiras:
ampliação de território para os países
vencedores (França, Bélgica, Itália,
Dinamarca, Roménia e Grécia) e
perdas territoriais muito fortes para os
países vencidos (Áustria, Bulgária e
nova Turquia);
● O Tratado de Versalhes foi baseado na
culpabilidade da Alemanha pela
guerra:
- Perda de 1/7 do seu território
(Prússia Oriental separada
pelo corredor de Dantzig);
- Perda de 1/10 da sua
população;
- Perda das suas frotas
mercantes e marinha de
guerra;
- As minas de carvão do Sarre
foram entregues, por um
período de 15 anos, à França;
- Confisco dos investimentos
alemães no estrangeiro;
 - Perda das colónias na África e
no Pacífico;
- Impossibilidade de ter
artilharia pesada;
- Foi condenada a pagar
pesadas indeminizações aos
vencedores;
- O exército foi reduzido a 100
mil homens.
* Os EUA não assinaram o Tratado de
Versalhes
● Para além das alterações geográficas,
a Europa viu o seu mapa político
modificado: aumento dos regimes
republicanos e das democracias
parlamentares.
● O Presidente norte-americano Wilson
propõe em 1919 a criação de uma liga
de nações, a Sociedade das Nações
(SDN), que tinha como objetivos:
- Desenvolver a paz e a cooperação
entre as nações;
- Evitar o recurso à guerra pela
promoção do desarmamento;
- A resolução pacífica dos conflitos
com recurso à arbitragem e a um
órgão judicial, o Tribunal Internacional
de Justiça.
> Ficou acordado de que:
↪ todos os estados membros
deveriam respeitar a
integridade territorial e a
independência recíproca;
↪ qualquer estado que
infringisse qualquer um dos
princípios seria sancionado;
↪ a agressão a algum dos países
membros implicaria a
intervenção de todos na
defesa do país agredido.
> A sede da SDN estabeleceu-se na
cidade suíça de Genebra.
> A SDN foi um motivo de esperança
para os povos.
● Razões do fracasso da SDN:
- Condições humilhantes
impostas aos vencidos;
- Exclusão dos países
derrotados da SDN;
- Recursos humanos e
financeiros insuficientes para
manter a paz e a integridade
territorial dos países;
- Política de sanções
indefinida;
- Descontentamento de
alguns países vencedores com
as compensações, chamadas
reparações de guerra (como é
o caso da Itália e Portugal);
- Os novos estados
debateram-se com problemas
de nacionalidades e de
minorias étnicas;
- Os EUA não ratificaram o
Tratado de Versalhes e não
fizeram parte da SDN;
- Os republicanos dominaram
o Congresso americano e
defenderam uma política
isolacionista;
- Apoiando-se nos ideais
económicos de Keynes,
contrapuseram-se à
construção dos países
vencedores à custa dos
vencidos.
1.1.2) A DIFÍCIL RECUPERAÇÃO DA EUROPA
E A DEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO AOS EUA
● A Primeira Guerra Mundial afetou as
economias nacionais de forma
diferente.
O declínio da Europa
● A Primeira Guerra Mundial deixou uma
Europa arruinada:
- perdas humanas durante a guerra;
- desemprego e pobreza;
- campos, cidades, fábricas, minas e
frotas destruídas;
- finanças desorganizadas.
● A reconversão da economia europeia
dependeu dos capitais americanos e
das reparações de guerra pagas pela
Alemanha aos vencedores.
● Os países europeus recorreram a
empréstimos vindos dos Estados
Unidos. Incapazes de os cobrir e
continuando compradores de bens e
serviços americanos, desequilibraram
a balança comercial e aumentaram os
respetivos défices.
● Para minimizar as dívidas, os estados
emitiram moeda. A circulação de uma
maior quantidade de notas, conjugada
com a diminuição na produção
provocou o aumento dos preços.
 ● A recuperação económica europeia foi
● A fraqueza das moedas fez-se sentir alcançada por meio dos créditos
pelo abandono do padrão-ouro (Gold fornecidos pelos EUA. Empréstimos
Standard) e consequente alargados foram concedidos à Europa
inconvertibilidade das moedas. Em desde 1924.
1920, a Europa enfrentou uma inflação > A dependência da Europa face aos
galopante. Estados Unidos estava aclamada.

● Entre 1925 e 1929, viveram-se os anos

Inflação: aumento generalizado dos preços
de bens e serviços; implica diminuição do
poder de compra da moeda. A inflação é
medida pelos índices de preços.
de prosperidade nos EUA e os “felizes
anos 20” na Europa, caracterizados
por um clima de otimismo e confiança
no capitalismo liberal.

● A situação atingiu contornos ainda

mais graves entre os vencidos da
guerra (com destaque para a
Alemanha).

A ascensão dos Estados Unidos e a

recuperação europeia

● Os Estados Unidos tornaram-se em

1919 na primeira potência mundial.

● Uma grande parcela dos stocks do

ouro mundial concentrava-se em
território americano.

● Graças à redução da procura externa ,

a economia americana atravessou
uma pequena crise entre 1920-21.

● Desenvolveram-se os métodos de
racionalização do trabalho
(Taylorismo) nos EUA e na Europa.

● Cresceu a concentração capitalista

empresarial.

● A Europa procurava estabilidade

monetária. Em abril/maio de 1922, na
Conferência de Génova, o
padrão-ouro foi substituído pelo Gold
Exchange Standard - na falta de
reservas de ouro, uma moeda passaria
a ser convertida noutra moeda
considerada forte porque convertida
em ouro.

● Em 1925, a libra tinha voltado a ser

convertível em ouro (o dólar nunca
deixou de o ser).
 A crise dos valores tradicionais
1.4) MUTAÇÕES NOS COMPORTAMENTOS E
NA CULTURA
Transformações na vida urbana:
No século XX surgem grandes cidades com
milhões de habitantes. Nos países mais
industrializados a população urbana superou
a rural.
A urbanização maciça contribuiu
decisivamente para profundas
transformações na vida e nos valores da
civilização ocidental.
A nova sociabilidade
● Nas grandes metrópoles, a vida é
condicionada pelo individualismo e
pelo anonimato.
● A cultura tende para a
estandardização e massificação.
● Nos tempos livres a população
dirige-se aos cafés, cinemas, salões
de baile, etc.
A emancipação feminina
● O crescimento/a proliferação da
classe média e a melhoria do nível de
vida levaram a uma nova cultura de
ócio, que a cidade incentiva,
fornecendo distrações diversificadas.
● O prazer produzido pelo consumo e a
ânsia pelo divertimento são
privilegiados em detrimento do
trabalho.
● A convivência entre os sexos torna-se
mais livre e ousada.
● As mulheres frequentam festas, vivem
e viajam sozinhas e usam o cabelo “à
garçonne”.
● O desenvolvimento dos transportes
públicos e do automóvel facilitam as
deslocações.
● A prática desportiva toma lugar nos
hábitos do quotidiano.
● Nos anos vinte a vida acelera; as
populações urbanas procuram viver
de forma frenética e ruidosa.
● Surge um novo conceito de família
(casamento por amor,
institucionalização do divórcio,
divulgação de métodos contracetivos).
● A brutalidade da Primeira Guerra
Mundial pôs um fim à época de
otimismo e crença nos progressos
científicos do começo do século XX.
● O conflito mundial resultou na morte
de nove milhões de pessoas e
desencadeou uma gravíssima crise
económica.
● Espalhou-se um sentimento de
descrença no futuro e pessimismo.
Sobrevém a convicção de que o
mundo jamais voltaria a ser o que era.
● Eleva-se uma crise de consciência.
As condutas sociais deixam de seguir
um padrão rígido.
> Instala-se um clima de anomia
social (ausência de normas aceites
pela sociedade; os valores que ditam a
regra de conduta são relativos;
características de sociedades em
mudança).
● O movimento feminista deu os
primeiros passos em meados do séc.
XIX. As mulheres lutaram pelo direito à
propriedade, pela tutela dos filhos e
pelo acesso à educação e a um
emprego socialmente valorizado.
● No início do séc. XX organizaram-se os
movimentos sufragistas.
> Destacou-se o protesto liderado pela
britânica Emmeline Pankhurst.
> Em Portugal inaugurou-se, em 1909
a Liga Republicana das Mulheres
Portuguesas e, mais tarde, em 1911, a
Associação de Propaganda Feminista.
↪ Carolina Beatriz Ângelo foi a
primeira mulher a votar em
Portugal.
● As reivindicações feministas
enfrentaram uma forte oposição e
foram até mesmo motivo de troça por
parte dos poderes políticos e da
própria sociedade maioritariamente
conservadora.
● A guerra reverteu esta situação. Com
os homens na frente de batalha,
muitas mulheres acederam a variados
trabalhos. Estas demonstraram que
eram capazes de substituir os homens
nas mais diversas profissões. Por
outro lado passaram a receber um
salário, o que lhes atribui alguma
independência económica.
 ● Nas décadas seguintes ao conflito, as
mulheres ganharam, na grande parte
dos países ocidentais, o direito de
intervir na política.
● A luta pela efetiva igualdade de
géneros foi longa e difícil e ainda hoje
não se dá como completa.
A descrença no pensamento positivista e as
novas conceções científicas
● No século XVIII (Iluminismo), a razão
era a via direta para o progresso e
felicidade humanas.
> Acreditava-se na existência de um
universo ordenado e harmónico.
↪ Foi num contexto de otimismo
e confiança na razão e na
ciência que Auguste Comte
desenvolveu o Positivismo
(séc. XIX), segundo o qual
apenas os conhecimentos
obtidos pela observação e
análise rigorosa tinham valor.
● No início do séc. XX, pensadores
ocidentais contestaram este quadro
de racionalidade, assumindo uma
reação antipositivista:
> Na Filosofia, Henri Bergson defende
haver realidades que escapam às leis
físicas e matemáticas. Para obter
conhecimento profundo apela,
acompanhando o raciocínio, à
utilização de uma outra via - a
intuição.
↪ O intuicionismo de Bergson foi
uma corrente que libertou o
conhecimento das regras
rígidas do racionalismo.
> Na História, a objetividade dos factos
foi substituída por uma visão subjetiva
e interpretativa do passado, em que a
personalidade do historiador afeta o
estudo dos projetos (Benedetto
Croce).
> Na Física, Max Planck descobriu que
o átomo não é a unidade mais
pequena da Natureza (microfísica,
novo campo de estudos) e que as
trocas de energia não são contínuas,
mas sim divididas em minúsculos
“pacotes” a que chama quantum
(teoria quântica).
> Em 1905, Einstein revolucionou a
Física. A sua Teoria da Relatividade
demonstrou que o espaço, o tempo e
o movimento não são absolutos, mas
relativos entre si e que para além das
três dimensões: comprimento, altura e
espessura, os objetos têm também a
dimensão do tempo.
↪ As descobertas de M. Planck e
Einstein revelaram a existência de um
mundo regido pela imprevisibilidade.
Chocaram toda a comunidade
científica que teve de reconhecer que
o Universo era mais instável do que
até aí se pensava e a verdade
científica menos universal do que se
tinha acreditado. Abriu-se uma nova
conceção de ciência: o relativismo.
Relativismo: nova conceção de ciência, que
aceita o mistério, a desordem e a
probabilidade como partes que fazem parte
do conhecimento. Rejeita o determinismo
racionalista fundado na clareza, na ordem e
na previsibilidade de todos os fenómenos.
● ‌ mbora tal mudança tenha
E
representado um avanço, contribuiu
para abalar a confiança na ciência e no
progresso, agravando a crise de
consciência da civilização ocidental.
As conceções psicanalíticas
● ‌ reud compreendeu que, sob o
F
estado hipnótico, os pacientes
se recordavam de
pensamentos, factos e
desejos que haviam esquecido
(reprimido) por serem
demasiado penosos ou
socialmente condenáveis.
● ‌Freud concluiu que existe
uma zona obscura e irracional
na mente humana, que o
indivíduo não controla e da
qual não tem consciência, mas
que se manifesta, a toda a
hora, no comportamento – o
inconsciente.
Psicanálise: método psicoterapêutico que
explora o inconsciente do indivíduo, com vista
a encontrar os recalcamentos reprimidos no
inconsciente e que condicionam o
comportamento.
● ‌ egundo Freud, o psiquismo
S ●
humano estrutura-se em três
níveis distintos:
★ O consciente (Ego) –
pequena parte da
mente (“a extremidade
visível do iceberg”);
★ O subsconsciente
(Superego) –
sentimentos de culpa
(sexo, sonhos, religião)
que podem passar
para o consciente;
Foi uma revolução nas conceções que
definiam o Homem como um ser
exclusivamente obediente à razão,
capaz de controlar racionalmente
todos os seus impulsos através da sua
vontade.
↪ A psicanálise impactou a
quebra das normas sociais nos
anos vinte, assim como deu
origem ao movimento artístico
surrealista.

★ O inconsciente (Id) –
camada profunda, rica
e significativa mas
dificilmente
penetrável.

● ‌ sta teoria explicava, também,

E
que as neuroses são resultado
do recalcamento, no
inconsciente, de recordações,
pensamentos desagradáveis e
desejos que a pessoa não
tinha podido satisfazer no
passado, devido a restrições
da moral social.

● ‌ reud criou um novo método

F
terapêutico para tratar as
neuroses, assente na
interpretação dos sonhos e na
livre associação de ideias que
deviam fluir naturalmente à
mente do doente com a ajuda
do médico.
> Os recalcamentos, trazidos à
consciência, eram então
analisados e racionalizados,
libertando o paciente dos seus
complexos e neuroses.
1.2) A IMPLANTAÇÃO DO
MARXISMO-LENINISMO NA RÚSSIA: A
CONSTRUÇÃO DO MODELO SOVIÉTICO
Marxismo-leninismo: termo criado após a
morte de Lenine, mentor e líder do marxismo
na Rússia, para designar a adaptação feita por
ele das ideias de Marx e Engels à realidade
russa, país economicamente atrasado, rural e
com estruturas feudalizantes.
Caracterizou-se por ressaltar:
- o papel do proletariado na conquista
do poder pela via revolucionária;
- a identificação do Estado com o
Partido Comunista;
- o recurso à força e à violência na
concretização da ditadura do
proletariado.
● Em 1917, a Rússia viveu uma revolução
que fez do país o primeiro Estado
socialista do mundo. Em Marx
buscaram os revolucionários a
inspiração. Em Lenine encontraram o
grande responsável pela
implementação dos princípios
marxistas. As suas ideias e a sua ação
deram corpo ao chamado
marxismo-leninismo.
Revolução Russa
● Antecedentes:
> POLÍTICOS: vasto Império
autocrático liderado pelo Czar Nicolau
II, com apoio da Igreja Católica
Ortodoxa;
> ECONÓMICOS: economia feudal e
insuficiente; os camponeses (85% da
população) viviam miseravelmente
cultivando terras de grandes senhores
e latifundiários;
> SOCIAIS: operariado embora escasso
possui condições de trabalho e de vida
muitíssimo duras, o que origina ações
reivindicativas; burguesia e nobreza
liberal desejam a abertura política e a
modernização do país;
> Contestação política: ideias
socialistas ganham força entre a
população russa.
↪ socialistas-revolucionários
reclamam a partilha de terras;
↪ sociais-democratas, divididos
em bolcheviques (maioria) e
mencheviques (minoria);
↪ constitucionais-democratas
são adeptos do
parlamentarismo ocidental.
> Derrota na Guerra Russo-Japonesa
(1904): disputa pela Manchúria;
> Domingo Sangrento (1905): primeira
tentativa de derrube do regime
czarista; em S.Petersburgo
camponeses e operários lutaram por
melhores condições de trabalho e de
vida; resposta do governo: extrema
violência e repressão;
> Participação na 1ª Guerra Mundial:
desde 1914, como elemento da
Entente, contribuiu para que se
gerasse um sentimento anticzarista, já
que as derrotas na frente – onde os
soldados desertavam ou se
auto-mutilavam para não combaterem
– eram constantes.
↪ A desorganização económica,
a falta de géneros e a fome
levaram a manifestações e
greves;
↪ Os liberais e os socialistas
denunciaram a incompetência
do czar e dos seus ministros.
● No ano de 1917 ocorreram as mais
famosas revoluções da História Russa:
a Revolução de Fevereiro e a
Revolução de Outubro.
● Entre 23 a 27 de fevereiro sucedeu-se
uma manifestação liderada,
inicialmente, por mulheres, em
Petrogrado, que protestavam contra o
aumento do preço do pão.
> A este protesto juntaram-se
operários e camponeses reunidos
numa assembleia popular denominada
Soviete;
> Mais tarde o exército acabou por
aderir à causa. Na sequência deste
acto, da tomada do Palácio de Inverno
e do apelo do Soviete de Petrogrado, o
movimento popular ganhou um
caráter político;
> Czar Nicolau II, desprovido de
qualquer apoio, abdica o trono a 2 de
Março e a Rússia torna-se numa
república.
● Criou-se um Governo Provisório,
dirigido por Lvov e depois por
Kerensky, determinado na instauração
de uma democracia parlamentar e na
continuação da guerra com a
Alemanha.
● Como os Sovietes tinham a massa
popular do seu lado, mas também
existia um governo no poder, diz-se
que a Rússia vivia um período de
dualidade de poderes.
Sovietes: conselho ou comitê formado por
delegados de camponeses, operários,
soldados e marinheiros. Os Sovietes tiveram
origem em 1905 como corpos da revolução
das massas populares.
● Lenine apresentou à assembleia de
mencheviques e bolcheviques as
“Teses de Abril” nas quais defendia
algumas das linhas orientadoras da
ação política revolucionária.
> Lenine liderava os bolcheviques
contra a fracção dos mencheviques;

> Lenine lança a palavra de ordem:

todo o poder aos sovietes.

> Os sovietes apelavam à retirada

imediata da guerra, ao derrube do
Governo Provisório, à entrega do
poder aos sovietes e à confiscação da
grande propriedade (estas
reivindicações estavam incluídas nas
“Teses de Abril”).

Da democracia dos sovietes ao centralismo
democrático
● O novo Governo iniciou funções com a
publicação de decretos
revolucionários:
- abolição, sem indemnizações, do
direito à propriedade privada;
- distribuição de terras pelos
camponeses;
- controlo operário nas fábricas;
- direito de autonomia e
independência dos povos do império
russo.
● Abandono do conflito mundial → paz
separada com a Alemanha, Tratado de
Brest-Litovsk a 3 de março de 1918.
> Inúmeras perdas: regiões bálticas
(Estónia, Letónia e Lituânia), Polónia,
Ucrânia e Finlândia.
● Quais os motivos da guerra civil?
- proprietários e operários criaram
obstáculos à aplicação dos decretos;
- o regresso de 7 milhões de soldados;
- inflação e criminalidade;
- débil adesão da população russa ao
projeto bolchevique.
● A objeção ao bolchevismo resultou
numa guerra civil (1918-20).
> Os mencheviques apoiados pelas
potências ocidentais reuniram-se à
volta do Exército Branco para
enfrentar o já existente Exército
Vermelho, dos bolcheviques.
> Os confrontos terminaram devido a
desentendimentos internos entre
mencheviques e ao receio da
população em regressar ao passado.
> Desfecho da guerra: vitória dos
bolcheviques; 10 milhões de mortes
pelo frio, fome, epidemias e
ferimentos.
Ditadura do proletariado: regime político
teorizado por Marx e por Lenine como um
período de transição até à abolição de todas
as classes e a instauração de uma sociedade
sem classes.
Comunismo: estado mais avançado do
socialismo; segundo Marx o proletariado
deveria assumir todo o poder político, com o
objetivo de eliminar as estruturas da
sociedade burguesa e do sistema capitalista.
● Lenine viu-se obrigado a esquecer a
democracia dos sovietes e tomar
medidas enérgicas excepcionais
(conhecidas por “comunismo de
guerra”) para garantir o
abastecimento da população e do
exército vermelho:
- requisição dos excedentes agrícolas
aos camponeses;
- nacionalização dos bancos, do
comércio interno e externo e da frota
mercante;
- ao Estado cabia a distribuição de
bens conforme os novos critérios de
justiça social;
- o trabalho passou a ser obrigatório
dos 16 aos 50 anos e os salários
atribuídos conforme o rendimento;
- aposta na promoção cultural;
- imposição de uma política de partido
único, o Partido Comunista e proibição
dos restantes partidos políticos;
- criação de uma polícia política, a
Tcheca (1917) e instauração de um
clima de terror através de depurações,
julgamentos e execuções sumárias.
● Quais as causas do recuo na
política económica?
- a produção agrícola desceu
para metade;
- os camponeses produziam
apenas para consumo próprio;
- a produção industrial
diminuiu ¾;
- os caminhos de ferro e a
extração mineira estavam
parados;
- a miséria provocou 3 milhões
de mortos.
● Em 1921, Lenine opta por fazer um
recuo estratégico. A nova política
económica (NEP) consistiu num
conjunto de medidas liberalizadoras
da economia com recurso ao
capitalismo:
- as requisições das colheitas foram
substituídas por impostos em
géneros;
- a coletivização agrária foi suspensa;
- os agricultores puderam produzir e
vender livremente os excedentes (a
produção do trigo duplicou);
- as empresas com menos de 20
operários foram entregues aos donos;
- permitiu-se a entrada de capitais,
técnicos e produtos estrangeiros;
- acabou-se com o trabalho
obrigatório;
- atribuíram-se prémios de
produtividade.
 ● A abertura, ainda que parcial, ao
capitalismo suscitou críticas. A
criação de uma nova classe média
burguesa de proprietários rurais
abastados (kulaks) e pequenos
comerciantes (nepmen) provocou um
sentimento de ódio por parte dos
bolcheviques e do Partido Comunista.
1.3) A REGRESSÃO DO DEMOLIBERALISMO
Demoliberalismo: sistema político de
democracia parlamentar, fundado nos
princípios liberais formulados nos séculos
XVIII e XIX, na qual a soberania é atribuída pelo
povo a órgãos representativos, reinando-se
pelo princípio da maioria e pelo respeito da
vontade popular por via de eleições.
● Nos anos que se seguiram à Primeira
Guerra Mundial, a Europa, em
profundas dificuldades económicas,
questionou o liberalismo político e a
democracia parlamentar.
> Neste contexto desenvolveram-se
contestações, greves e movimentos
revolucionários.
> A revolução bolchevique na Rússia
serviu como incentivo a uma
radicalização social e política na
Europa.
● Em março de 1919 fundou-se, em
Moscovo, a III Internacional, também
denominada de Internacional
Comunista ou Komintern.
> Tinha como principais objetivos:
dirigir o movimento operário
internacional e universalizar o modelo
comunista soviético.
> Para os bolcheviques russos, que
sofriam boicote dos países
capitalistas, a internacionalização da
revolução comunista era uma
condição necessária para a
sobrevivência da sua revolução.
> Internamente eliminou as correntes
reformistas dentro do Partido
Comunista e aplicou a depuração
(visto que a revolução socialista
europeia deveria ser conduzida por
partidos comunistas fiéis ao
marxismo-leninismo).
Radicalização social e política
● Os regimes demoliberais europeus
mostraram-se incapazes de encontrar
respostas eficazes a travar o clima de
contestação generalizada e as forças
sociais e políticas tendem a
radicalizar-se.
> Na Alemanha (República de Weimar),
os espartaquistas (fação radical do
Partido Social-Democrata)
organizaram, em 1919, uma insurreição
em Berlim com o objetivo de instaurar
um regime comunista idêntico ao
soviético.
> Esta onda revolucionária de
inspiração marxista alastrou a outros
países:
- Hungria;
- Itália (os camponeses ocuparam
terras incultas; a greve dos
metalúrgicos em Turim desencadeou
uma vaga de ocupação de fábricas)
- Reino Unido e França (vaga grevista
atingiu os transportes ferroviários;
ação dos sindicatos catalães)
> Em consequência destas lutas, os
trabalhadores conseguem algumas
conquistas sociais e laborais, mas,
rapidamente, o poder político apoiado
nas forças militares e na alta
burguesia, receando o caos e a
expansão do bolchevismo no
continente europeu, reprime com
violência a contestação
revolucionária.
A emergência de autoritarismos
● O medo do bolchevismo, a inflação, a
instabilidade política e a incapacidade
de resolução da crise económica
fizeram com que a classe média
perdesse toda a confiança no Estado
liberal.
> Assim, a burguesia proprietária e
financeira e a classe média
tornaram-se adeptas da direita
conservadora e nacionalista que
defendia soluções autoritárias, um
poder forte capaz de garantir a
estabilidade, a paz social, a riqueza e a
dignidade.
● Em 1922, Mussolini comandou a
Marcha sobre Roma dos “camisas
negras” (milícias fascistas) e
pressionou o rei Vítor Manuel III a
nomeá-lo chefe do Executivo. O
fascismo ficou, desde 1925,
implantado na Itália, passando a servir
de modelo a muitos outros países
europeus:
↪ Na Espanha, em 1923, Miguel
Primo de Rivera instaurou uma
ditadura militar;
 ↪ Outros regimes autoritários
instalaram-se na Hungria, na
Bulgária, na Turquia, na Grécia,
em Portugal, na Polónia, na
Lituânia, na Jugoslávia e na
Áustria.
↪ A Alemanha assistiu, em 1923,
ao Golpe de Estado (putsch)
de Hitler, em Munique, dirigido
contra a República
democrática de Weimar. O
golpe fracassou, mas ao
mesmo tempo o partido nazi
ganhava cada vez mais
adeptos.
1.5) PORTUGAL NO PRIMEIRO
PÓS-GUERRA
- As dificuldades económicas e a instabilidade
política e social; a falência da 1ª República
Parlamentarismo: sistema político de
carácter representativo, em que o poder
legislativo é confiado ao parlamento,
instituição de que depende a ação e a
estabilidade do poder executivo.
Anticlericalismo: rejeição da influência
dominante das instituições religiosas.
Laicização: separação da Igreja e do Estado.
● Primeira República (1910-1926) -
legislação:
> Igualdade social: abolição de todos
os privilégios de nascimento
(títulos…);
> Laicismo e anticlericalismo:
- Estado deixa de ser católico;
- Igualdade das várias religiões;
- Registo Civil obrigatório
(nascimentos, casamentos,
óbitos);
- Divórcios;
- Nacionalização dos bens da Igreja,
expulsão das ordens religiosas, luta
contra os Jesuítas;
- Laicização do ensino.
↪ reformas educativas a favor da
alfabetização e do ensino superior
> Justiça social: direito à greve,
descanso ao domingo, fixação do
horário de trabalho.
● Descontentamento face às medidas
da 1ª República:
- Igreja (alvo da política anticlerical
republicana);
- Monárquicos (interessados em
restaurar a monarquia);
- Classes médias e operariado
(descontentes com o agravamento
das condições/custo de vida).
● Parlamentarismo “puro” ➜
Instabilidade governativa: 7 eleições
para o Congresso; 8 eleições para a
Presidência; 45 governos.
↪ queda de governos;
↪ agitação social;
↪ levantamentos militares;
↪ descrédito do regime
parlamentar.
● Entrada na Primeira Guerra Mundial
(março de 1916) - consequências:
- Elevadas baixas militares;
- Falta de bens de consumo;
- Racionamento;
- Produção industrial em queda;
- Diminuição das receitas / Aumento
das despesas;
- Subida do custo de vida e do
desemprego;
- Agravamento da dívida pública;
- Aumento do défice da balança
comercial;
- Contestação social (classes médias -
perda do poder de compra, medo do
bolchevismo; operariado - greves
anarcossindicalistas, atentados
bombistas).
● 1915: General Pimenta de Castro
instala ditadura militar.
● A dezembro de 1917, Sidónio Pais
ocupou a Rotunda:
- Dissolveu o Congresso;
- Proibiu os partidos republicanos da
1ª República;
- Fundou um partido único (Partido
Nacional Republicano);
- Destituiu o Presidente da República,
Bernardino Machado;
- Instaurou uma ditadura de cariz
conservador e autoritário.
 > O programa político sidonista tinha
como objetivos:
- retirar o poder ao Partido
Democrático de Afonso Costa e à
“República Velha”;
- pôr fim à participação de Portugal
na Primeira Guerra Mundial;
- instaurar a “República Nova”.
↪ apoios de grandes
proprietários, alta burguesia,
setores católicos e
republicanos unionistas.

> dezembro de 1918: assassinato de

Sidónio Pais e regresso à “República
Velha”.

● Após a morte de Sidónio Pais:

- o país viveu um ambiente de guerra
civil (1919) em Lisboa e no Norte;
- os monárquicos proclamaram a
“Monarquia do Norte” no Porto (durou
um mês);
- instabilidade governativa (contínua
sucessão de Governos);
- 1921: Noite sangrenta (assassinato
do chefe do Governo, António Granjo).

● A oposição aproveitou as fraquezas da

República para se organizar:
- Oposição do clero (Igreja fundou o
Centro Católico Português, em 1915;
aparições de Fátima em 1917);
- Oposição da alta burguesia (criaram,
em 1922, a União dos Interesses
Económicos; ameaçados pelo
aumento dos impostos);
- Insatisfação das classes médias
(procuravam um governo forte que
restaurasse a ordem e lhes devolvesse
o desafogo económico).

● 28 de maio de 1926: o General Gomes

da Costa, a partir de Braga, liderou
uma insurreição militar que
rapidamente obteve apoio em todo o
país.
↪ Provocou a queda do poder
democrático, a dissolução do
Parlamento e a instauração de
uma ditadura militar.
↪ O Almirante Mendes
Cabeçadas, encarregue de
formar um novo governo,
concentrou o poder nas suas
mãos.