Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Revisaotaxonomicaespecies Xavier 2022
Revisaotaxonomicaespecies Xavier 2022
NATAL
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Iuri Goulart Baseia
Orientador(a)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
______________________________________
Prof. Dr. Felipe Wartchow
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
______________________________________
Dr. Alexandre Gonçalves dos Santos e Silva Filho
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
À Júlia e à minha família, com amor, que
sempre estiveram ao meu lado me apoiando
neste crescimento na carreira acadêmica.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Quél., com descrições morfológicas completas para o estado do Paraná. Já na região Centro-
Oeste há apenas um registro, P. rickenii Hora (BONONI et al., 2017), enquanto que para a
Região Nordeste quatro espécies foram reportadas: P. acuminatus (P. Kumm.) Quél., P.
antillarum, P. cyanescens e P. papilionaceus (ALVES & CAVALCANTI, 1996;
WARTCHOW et al., 2010; NEVES et al., 2013; MELO et al., 2016; XAVIER et al., 2019).
Os estudos taxonômicos do gênero para a região Nordeste são escassos, e não existem
registros publicados para a Região Norte do Brasil.
são descritos (THIELE et al., 2021). Algumas características morfológicas como cor,
superfície do píleo e tamanho do estipe, ainda que distinguíveis, podem ser muito variadas
devido à influência ocasional de fatores ambientais no desenvolvimento do fungo o que
dificulta ainda mais o consenso entre os taxonomistas do gênero (HALAMA, 2014). Além
disso, dentro de Panaeolus s.l. podem ser provavelmente encontrados “complexos de
espécies”, os organismos podem representar mais de uma espécie com limites que não são
facilmente distinguíveis somente com estudos morfológicos (STRUCK et al., 2018; HU et al.,
2020).
Fonte: Fotografias de coletas do autor, Neves et al. (2013, p. 45) e Silva-Filho et al.
(2019, p. 8).
Legenda: A: P. cinctulus (subgen. Panaeolus), em solo adubado; B: P. antillarum
(subgen. Anellaria), em esterco; C: P. cyanescens (subgen. Copelandia), em
gramado de jardim; D: P. sylvaticus, encontrado em madeira e folhiço.
Diante do valor biológico e cultural desse importante grupo taxonômico, que conta
com um conhecimento de sistemática filogenética ainda em desenvolvimento. Podemos
entender que, as espécies de Panaeolus s.l. demandam por amplas revisões taxonômicas para
que se tornem suficientemente catalogadas, e as suas diferenças morfológicas em populações
de novas localidades sejam bem conhecidas e comparadas com o sistema taxonômico vigente.
Sendo assim, busca-se corrigir os erros na identificação e encontrar possíveis novidades
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
Fries (1838):
Kummer (1871):
Foi em seu trabalho “O guia da ciência dos cogumelos” que o micologista Paul
Kummer descreveu o gênero Coprinarius (Fr.) P. Kumm., combinando espécies que até então
estavam dentro de Panaeolus sensu Fries (1838). Segundo as regras nomenclaturais, o gênero
Coprinarius teria prioridade em relação ao nome posteriormente publicado Panaeolus (Fr.)
Quél.. Entretanto, devido ao uso comum, Panaeolus foi considerado um nome conservado
(nomen conservandum) (TURLAND et al., 2018).
Agaricus tr. Coprinarius Fr., Systema Mycologicum 1: 11, 300 (1821).
Coprinarius (Fr.) P. Kumm., Der Führer in die Pilzkunde: 20, 68 (1871).
Quélet (1872):
Foi com o micologista Lucien Quélet (1872) que o táxon se estabeleceu como um
gênero à parte, como escreveu em sua obra “Os cogumelos do Jura e Vosges”. Na diagnose
original, apresentou como uma das principais características do grupo as lamelas variegadas,
manchadas. A etimologia de Panaeolus vem da língua grega “panaiolos” (παναιολοσ) que
significa: “de cores variadas, com brilhos” (LIDDELL et al., 1940).
19
Gillet (1874):
Karsten (1879):
Petter A. Karsten dividiu as espécies até então posicionadas dentro de Panaeolus (Fr.)
Quél. e as distribuiu em mais de um gênero. O gênero Anellaria P. Karst. contendo aquelas
que apresentam anel, enquanto Chalymmota P. Karst. foi designado para as espécies que
possuem a margem do píleo apendiculada (resquícios de véu parcial). O autor manteve o
nome Panaeolus para as espécies que não apresentam resquício algum de véu nos basidiomas.
Anellaria P. Karst., Bidrag till Kännedom av Finlands Natur och Folk 32: 517 (1879).
Chalymmota P. Karst., Bidrag till Kännedom av Finlands Natur och Folk 32: 518
(1879).
Morgan (1907):
Earle (1909):
20
Bresadola (1912):
Maire (1933):
Heim (1957):
Ola’h (1969):
Bon (1970):
Clémençon (1976):
Heinz Clémençon utilizou pela primeira vez métodos da taxonomia numérica para
avaliar o posicionamento de Panaeolus s.l.. Segundo as suas análises a hipótese de
posicionamento em Coprinaceae seria a mais adequada devido as maiores similaridades na
morfologia. Além disso, o autor afirma que a subfamília compartilha mais relações de
23
Singer (1986):
Panaeoloideae Singer, Annls mycol. 34(4/5): 340 (1936) (nom. inval., Art. 39.1,
TURLAND et al., 2018).
Young (1989):
Gerhardt (1996):
O micólogo alemão Ewald Gerhardt defendeu a sua tese de doutorado com uma
monografia sobre a taxonomia dos gêneros Panaeolus e Panaeolina. Na história bibliográfica
25
do grupo não houve trabalho mais elucidativo acerca das questões taxonômicas. Gerhardt
(1996) ajudou a solucionar centenas de interpretações nominais confusas, reconhecendo 32
táxons em seu sistema de Panaeoloideae Singer, que distinguia os gêneros Panaeolus e
Panaeolina. Além disso, descreveu os subgêneros de Panaeolus s.l. (subgen. Anellaria e
subgen. Copelandia) observando corretamente as regras nomenclaturais. Sua monografia
seguiu a interpretação de Singer (1986) acerca do posicionamento no nível de família. O autor
criou o novo termo “sulphidia” para designar o tipo específico de cistídio de conteúdo interno
(gloeocistídio), que ocorre nas laterais das lamelas de algumas das espécies de Panaeolus, que
são diferentes dos crisocístídios de Stropharia, ao apresentarem coloração naturalmente
amarelada e se tornarem fortemente vermelhos em reação com a sulfovanilina. Também
aponta em seu trabalho que Copelandia é um nome ilegítimo na categoria de gênero, pois
possui o mesmo tipo (Agaricus papilionaceus Bull.) que o nome conservado Panaeolus.
Atualmente Copelandia é um nome válido na categoria de subgênero, tipificado com
Agaricus cyanescens Berk. & Broome por autoria de Gerhardt (1996) (VOTO & ANGELINI,
2021). A importância do seu trabalho reside no fato do autor ter analisado materiais tipo em
escala mundial, servindo de referência indispensável para os estudos morfológicos sobre o
gênero.
Panaeolus subgen. Anellaria (P. Karst.) Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 22
(1996).
Panaeolus subgen. Copelandia (Bres.) Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 32
(1996).
Panaeolus sect. Guttulati Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 105 (1996).
Panaeolus sect. Laevispora Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 70 (1996).
Panaeolus sect. Verrucispora Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 65 (1996).
Stamets (1996):
como os autores Singer (1986) e Gerhardt (1996). Sua obra, longe de ser um tratado
taxonômico sobre o gênero é na verdade, um compilado de informações úteis para micólogos
profissionais ou amadores, acerca da identificação taxonômica e das concentrações de
psilocibina e psilocina nos basidiomas de Panaeolus e outros gêneros psilocibínicos.
Os mesmos autores do artigo Hopple & Vilgalys (1994), publicam mais um estudo
filogenético sobre o gênero Coprinus e táxons relacionados, mas desta vez utilizando métodos
de análise da parcimônia de Wagner e dados de sequências nucleares da subunidade maior do
ribossomo (nrLSU). O gênero Coprinus aparece como um grupo polifilético nos filogramas,
separado em três clados distintos. Sequências de Panaeolus s.l. formam um grupo
monofilético bem suportado pelos valores de bootstrap e, ao contrário dos resultados
anteriores em Hopple & Vilgalys (1994), um grupo irmão de representantes da família
Bolbitiaceae.
zonas de coloração diferente). Com tudo isso, concluem por não interpretar Panaeolina como
um gênero distinto assim como Gerhardt (1996), pois apesar dos basidiósporos serem
verrucosos suas espécies ainda possuem características em comum a todos os Panaeolus.
Portanto, realizaram uma nova combinação de Panaeolina na categoria de subgênero.
Panaeolus subgen. Panaeolina (Maire) Bon & Courtec. (2003).
lato aparece como um grupo monofilético bem suportado dentro do “clado Agaricoide”,
representado pelos autores como o “clado Panaeoleae”, e se posiciona ao lado do “clado
Tubarieae” (= Tubariaceae Vizzini) assim como nos resultados em Bodensteiner et al. (2004).
basidiomas de P. cinctulus. Em visão de cima o píleo é sempre orbicular e suas margens retas,
ou involutas em espécimes mais antigos (p. ex. P. papilionaceus). A superfície do píleo é lisa
e glabra, nunca estriada, geralmente seca, com exceção de espécies do subgen. Anellaria, que
têm a superfície oleosa ou víscida ao longo de seu desenvolvimento (p. ex. P. antillarum, P.
semiovatus) (OLA’H, 1969; WATLING & GREGORY, 1987; GERHARDT, 1996). Em
basidiomas mais secos e antigos o píleo pode vir a se tornar fortemente areolado ou reticulado
(Figura 04). As cores do píleo costumam variar em diversos tons de castanho (KORNERUP
& WANSCHER, 1978, p. 4–6).
Algumas espécies exibem cores mais claras como: branco (4A1), branco amarelado
(4A2), amarelo claro (4A4, 4A5), amarelo acinzentado (4B2), bege (4C3); enquanto outras
têm cores mais escuras: oliva (3E3), marrom oliva (4D3, 4D4, 4D5), laranja acinzentado
(5B3), ocre (6D4), marrom ferrugem (6E8), marrom chocolate (6F4), marrom escuro (6F5,
6F6). A higrofaneidade do píleo se refere à mudança de cor em relação ao seu grau de
umidade, várias espécies de Panaeolus s.l. apresentam tal propriedade, chegando a formar
uma faixa de cor mais escura próxima às margens, na medida em que o píleo vai se tornando
mais seco (p. ex. P. acuminatus, P. cinctulus, P. fimicola, P. foenisecii) (GERHARDT, 1996).
Grande parte dos Panaeolus s.l. não possui véu ao longo do desenvolvimento de seus
basidiomas. Somente algumas espécies possuem anel bem desenvolvido ou margem
apendiculada ao redor do píleo, que podem ser facilmente distintos ou efêmeros: P. africanus
Ola'h, P. cyanoannulatus Atri, M. Kaur & Amand. Kaur, P. cylindrosporus E. Ludw., P.
microspermus (Natarajan & Raman) Voto, P. papilionaceus, P. papilionaceus var.
parvisporus Ew. Gerhardt, P. rubricaulis Petch, P. semiovatus, e P. venezolanus Guzmán
(GERHARDT, 1996; VOTO & ANGELINI, 2021; VOTO, 2021).
inseridas no estipe de maneira adnata ou adnexa (nunca livres), são finas, próximas umas das
outras e possuem um formato cuneiforme em corte transversal, com as margens discolores,
brancas, devido à presença de abundantes queilocistídios hialinos (SINGER, 1986;
GERHARDT, 1996). Em espécies como P. guttulatus e P. sylvaticus, uma característica
taxonômica importante é a presença de pequenas gotas de líquido amarelado que são
excretadas pelas margens das lamelas.
são geralmente lenticulares (em forma de lente), ou seja, achatados em suas faces abaxial e
adaxial. Gerhardt (1996) considera o “achatamento” dos basidiósporos um caractere
taxonômico relevante, as medidas do comprimento, da largura e da profundidade devem ser
sempre aferidas, para que seja realizada uma comparação adequada entre os espécimes.
Outros caracteres importantes são o formato, a presença de ornamentações, a opacidade e a
cor dos basidiósporos quando montados em solução de hidróxido de potássio ou ácido
sulfúrico. As morfologias possíveis dos basidiósporos variam de tipicamente limoniformes,
ovoides, piriformes, ou romboides. Em algumas espécies as paredes laterais dos basidiósporos
são distintamente paralelas ou subhexagonais em visão frontal. Os poros germinativos são
sempre bem desenvolvidos, facilmente visualizados, podendo variar em ápices truncados a
fortemente protusos, e posicionados de maneira central ou excêntrica em relação ao eixo de
simetria.
marrom escura; essas foram as principais evidências que levaram Gerhardt (1996) a
interpretar o grupo como um gênero a parte. Os basidiósporos em Panaeolina não sofrem
clareamento em solução de hidróxido de potássio (KOH) (GERHARDT, 1996). O teste dos
basidiósporos em ácido sulfúrico concentrado é útil para diferenciar Panaeolus s.l. de outros
gêneros facilmente confundidos durante a identificação, a subfamília Panaeoloideae, se
diferencia das subfamílias Coprinoideae e Psathyrelloideae no sistema taxonômico de Singer
(1986), ao apresentar lamelas não deliquescentes e basidiósporos que não descolorem em
ácido sulfúrico concentrado.
Os basídios em Panaeolus s.l. são em sua maioria clavados e tetrasporados, também
podem ser mais inflados, largamente clavados (Figura 06). Existem espécies que produzem
basídios constantemente bisporados em seus basidiomas, P. bisporus (Malençon & Bertault)
Ew. Gerhardt, enquanto outras podem conter variações no número de esterigmas por basídio
dentro do mesmo basidioma, como por exemplo, bisporados a tetrasporados, em P.
cyanescens, ou uni-, bi- a tetrasporados, em P. foenisecii (Pers.) J. Schröt.. Há uma tendência
de que basídios unisporados a bisporados produzam esporos ligeiramente maiores do que os
dos basídios trisporados ou tetrasporados, por isso é importante que em espécimes com
excessiva variação nas medidas sejam anotados os valores atípicos e se realizem um maior
número de medições, entre 40 a 50 por espécime (GERHARDT, 1996). O subhimênio em
Panaeolus s.l. é distintamente do tipo celular, composto por camadas de hifas infladas (Figura
06).
De um modo geral, podem-se diferenciar tipos morfológicos básicos entre os
basidiósporos do gênero, Gerhardt (1996) observou um total de 11 morfotipos. Morfotipo
panaeolina (Figura 07, A): basidiósporos de superfície ornamentada claramente distinta,
transparentes, e não lenticulares. Morfotipo olivaceus (Figura 07, B): basidiósporos de
superfície finamente ornamentada, transparentes, e pouco lenticulares. Morfotipo semiovatus
(Figura 07, C): basidiósporos de superfície lisa, opacos, bastante compridos (≥ 20 μm),
pouco lenticulares e com os lados quase paralelos em visão de frente. Morfotipo alcis
(Figura 07, D): basidiósporos de superfície lisa, opacos, compridos (≅ 20 μm), e pouco
lenticulares. Morfotipo papilionaceus (Figura 07, E): basidiósporos de superfície lisa,
opacos, relativamente compridos (≅ 16–18 μm), distintamente lenticulares, subhexagonais,
poro germinativo protuso. Morfotipo cyanescens (Figura 07, F): basidiósporos similares ao
morfotipo papilionaceus, porém menores (≅ 13–15 μm). Morfotipo acuminatus (Figura 07,
G): basidiósporos de superfície lisa, transparentes, medianos (≅ 13–15 μm), fortemente
lenticulares, achatados, poro germinativo não protuso. Morfotipo fimicola (Figura 07, H):
34
O segundo tipo geral de cistídios são os lamprocistídios (Figura 08, B), também
chamados de metulóides. Eles estão presentes somente no subgen. Copelandia são
amplamente distribuídos nas laterais das lamelas (pleurocistídios), e também no ápice
(queilocistídios) (LARGENT et al., 1977; SINGER, 1986; GERHARDT, 1996). Exibem
paredes espessas, pigmentadas, ápice com incrustrações hialinas, e não apresentam conteúdo
interno distinto. Já os gloeocistídios (Figura 08, C), são cistídios de parede fina que possuem
36
conteúdo interno bem distinto, que pode ser visualizado com, ou sem, o auxílio de reagentes
químicos (LARGENT et al., 1977; SINGER, 1986). Um tipo específico de gloeocistídio está
presente nas laterais das lamelas (pleurocistídios), e são chamados sulfídios, que são
identificados na microscopia por seu conteúdo interno amorfo, granuloso, naturalmente
amarelado a refringente, que no reagente químico sulfovanilina (vanilina + ácido sulfúrico
puro) se torna tingido em vermelho vinho (GERHARDT, 1996).
37
3 MATERIAL E MÉTODOS
O catálogo de epítetos associados à Panaeolus s.l. foi acessado por meio de busca nas
páginas do sítio Index Fungorum (http://www.indexfungorum.org) e Mycobank
(https://www.mycobank.org). Foi então construída uma planilha ordenada por ano da
publicação original, totalizando 237 táxons legítimos, inválidos, ou variações ortográficas, de
acordo com o Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas
(TURLAND et al., 2018). A busca por exsicatas das coleções biológicas, se deu por meio da
consulta no SpeciesLink (http://www.splink.org.br/), plataforma online que integra as
informações dos acervos brasileiros. A plataforma Index Herbariorum
(http://sweetgum.nybg.org/science/ih/) foi utilizada para a consulta dos acrônimos e
informações adicionais das coleções. Solicitou-se junto aos curadores o pedido formal do
empréstimo, com ênfase nas exsicatas com o local de coleta para as regiões Norte e Nordeste
do Brasil. As anotações sobre a distribuição geográfica das espécies foram realizadas com
base no Mapa de Biomas do Brasil (Figura 10), definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2004).
39
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca por materiais das coleções biológicas brasileiras resultou em uma lista de 122
espécimes referidos como pertencentes ao gênero, desse total, somente 57 têm o seu local de
coleta para as regiões Norte e Nordeste. As solicitações de empréstimo forneceram 33
materiais das coleções: INPA, JPB, UFACPZ, UFRN-FUNGOS e URM (Tabela 01). Quanto
às condições de conservação dos materiais: 25 espécimes estavam em bom estado de
preservação das características taxonômicas, e um total de nove em mau estado de
conservação, impossibilitando descrições morfológicas completas. As análises morfológicas
resultaram na interpretação de sete espécies, mais especificamente seis novos registros para o
Norte e Nordeste e uma nova espécie para o estado do Acre, região Norte do país. As
exsicatas de números de tombo: URM 9879, anotado como “Panaeolus guttulatus”, e INPA
81160, “Panaeolus belangeri”, foram mal identificadas, correspondendo a um espécime da
família Tricholomataceae R. Heim ex Pouzar, e ao material de Panellus belangeri (Mont.)
Singer, respectivamente.
4.2.1 Panaeolus antillarum (Fr.) Dennis, Kew Bulletin 15 (1): 124 (1961)
Figuras: 12–13.
Basiônimo: Agaricus antillarum Fr., Elenchus Fungorum 1: 42 (1828)
Sinônimos publicados: P. albellus Massee, P. bolombensis Beeli, P. eburneus Sacc., P.
ovatus Sacc., P. sepulchralis (Berk.) Sacc., P. solidipes (Berk.) Sacc. (GERHARDT, 1996).
Descrição:
Descrição macroscópica baseada em Neves et al. (2013), Melo et al. (2016) e análises
adicionais do presente estudo. Píleo 20–80 mm de diâmetro; subgloboso quando imaturo,
hemisférico a campanulado na maturidade, orbicular em visão superior, margens retas a
levementes involutas, inteiras, finamente laceradas; cor branca a acinzentado (1C2), tornando-
se amarelado quando desidratado; superfície lisa e glabra, areolada; contexto de cor branca
(1A1), consistência macia, 1–3 mm de espessura, sem odor e gosto distinto. Lamelas adnexas,
ventricosas, próximas, margens lisas, manchadas de cor cinza a preto na maturidade;
lamélulas presentes em tamanhos variados (0,2–0,4 mm de espessura). Estipe 20–140 × 1–2
mm, na região próxima ao píleo, central, cilíndrico, igual acima do bulbo, superfície lisa a
levemente estriada, cinza oliva (1D2); levemente bulboso na base com 2–3 (6) mm de largura;
consistência cartilaginosa, fistuloso. Véu parcial e universal ausentes.
Basidiósporos (11,4) 15–19,6 (21) × 8,7–11,4 (15) × 7–10 (15,7 ± 1,3 × 11,4 ± 0,9 ×
8,5 ± 0,9) μm, Q = 1,19–1,72, Qm = 1,38, n = 455/13; limoniformes a subhexagonais, alguns
ovoides em visão frontal, elipsoides em visão lateral e polar; fortemente pigmentados, cor
marrom escuro, parcialmente translúcidos em KOH a 5%; paredes lisas, espessas ≅ 1,2 μm;
43
poro germinativo presente, truncado, central. Basídios 20,4–34 × 9,7–16,6 μm, tetrasporados,
amplamente clavados a subglobosos, paredes finas e hialinas; esterigmas cônicos com 3,6–4,6
μm de comprimento; basídiolos em formato semelhante aos basídios. Pleurocistídios 25,8–
46,7 (50) × 7,5–17,6 μm, tipo gloeocistídio, sulfídios ventricosos, clavados a
esferopedunculados, com ápice regularmente mucronado ou rostrado, conteúdo interno
dourado a lúteo. Queilocistídios 17,5–38,8 × 7,5–12,5 μm, obclavados, utriformes a
lageniformes, base subventricosa. Trama da lamela regular a subregular. Pileipellis celular,
composta por elementos vesiculados, paredes lisas, finas e hialinas, sem pigmentação.
Píleocistídios ausentes. Trama do píleo composta por hifas infladas e subglobosas.
Caulocistídios 31,3–55,5 × 6,2–10,2 μm, cilíndrico-flexuosos a lageniformes com base
subventricosa. Trama do estipe do tipo derme de hifas longitudinais, paredes finas e hialinas.
Grampos de conexão não observados.
Habitat: Encontrados em solos adubados, fezes de bovinos, equinos e caprinos.
Distribuição no Brasil: Região Norte: Amazônia (presente estudo). Região Nordeste: Mata
Atlântica e Caatinga (ALVES & CAVALCANTI, 1996; NEVES et al., 2013; MELO et al.,
2016). Região Sul: Mata Atlântica e Pampa (STIJVE & DE MEIJER, 1993;
SOBESTIANSKY, 2005; DE MEIJER, 2006; SILVA-FILHO et al., 2019).
Material examinado: BRASIL, ACRE, Rio Branco, Colônia Santo Daime, Km 13,
27/X/1980, Lowy B. 1000BR (INPA 100933); PARAÍBA, São José dos Cordeiros, RPPN
Fazenda Almas, 03/IV/2010, AC 152 (JPB 46283), 20/V/2009, AC 420 (JPB 46300), João
Pessoa, 20/VII/2008, Baseia, I.G. s.n. (UFRN-FUNGOS 794); PIAUÍ, Caracol, Parque
Nacional Serra das Confusões, 31/III/2011, Sulzbacher 243 (UFRN-FUNGOS 1523); RIO
GRANDE DO NORTE, Goianinha, 28/X/2017, Lima, A.A. s.n (UFRN-FUNGOS 3114);
PERNAMBUCO, Recife, Campus da UFPE, Coimbra, 24/II/2011, VRM s.n. (URM 83348),
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), 14/VI/2012, Melo, RFR s.n. (URM
86811a, URM 86838), 28/XI/2012, Melo, RFR s.n. (URM 86810), 03/II/2013, Melo, RFR
s.n. (URM 86812), Caruaru, Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), 05/XII/2011, Melo,
RFR s.n. (URM 86807), 06/02/2012, Melo, RFR s.n. (URM 86809).
Discussão:
Panaeolus antillarum se encontra distribuído mundialmente, em regiões tropicais a
subtropicais, sendo considerada uma espécie coprófila facultativa em uma ampla variedade de
fezes de herbívoros, como também em campos e solos bem adubados (GERHARDT, 1996;
HALAMA, 2014). Alguns autores chegam a considerá-la como uma espécie comestível: “O
tamanho relativamente grande faz dele o único Panaeolus não alucinógeno que vale a pena
44
comer” (ARORA, 1986; ALLEN, 2012). Allen & Merlin (1992), já haviam apontado de
forma errônea coletas de P. antillarum da Tailândia como psilocibínicas, posteriormente com
novas evidências outros estudos demonstraram que a espécie não produz concentração alguma
de psilocibina e psilocina (HALAMA, 2014).
Seus basidiomas também podem ser superficialmente confundidos com espécies de píleo mais
claro do subgen. Copelandia, como P. cyanescens ou P. tropicalis, mas essas são logo
diferenciadas microscopicamente pela presença de metulóides (HALAMA, 2014).
apresentavam basidíolos nas laterais das lamelas, com conteúdo interno pigmentado, marrom
claro em KOH a 5% (Figura 16).
4.2.3 Panaeolus cyanescens (Berk. & Broome) Sacc., Sylloge Fungorum 5: 1123 (1887)
Figuras: 17–18.
Basiônimo: Agaricus cyanescens Berk. & Broome, Botanical Journal of the Linnean Society
11: 557 (1871)
Sinônimos publicados: Copelandia cyanescens (Berk. & Broome) Singer, Panaeolus
bubalorum Pat., Copelandia papilionacea (Bull.) Bres., Panaeolus anomalus (Murrill) Sacc.
& Trotter, Panaeolus westii (Murrill) Murrill, Copelandia westii (Murrill) Singer
(GERHARDT, 1996).
Descrição:
Píleo 21–31 mm de diâmetro, 7–14 mm de altura, cônico e campanulado, orbicular em
visão de cima, margem do píleo reta, inteira; cor da região central amarelo claro (4A3) e da
margem amarelo acinzentado (4B2), torna-se azulado depois de machucado; superfície opaca
e seca, higrófana, lisa e glabra; contexto branco (1A1), consistência macia, com menos de 1
mm de espessura, sem odor e gosto distinto. Lamelas adnexas, manchadas, de cor cinza oliva
(2F2), abundantes e ventricosas, margens lisas; lamélulas presentes. Estipe 90–97 mm de
comprimento, 3 mm de largura, central, cilíndrico, igual, branco amarelado (3A2) perto do
ápice e cinza amarelado (3B2) perto da base, torna-se azulado quando machucado,
consistência cartilaginosa, fistuloso. Véu parcial e universal ausentes. Esporada cinza escuro a
preto.
52
Basidiósporos 11,1–14,1 × 7,5–10,1 × 5,1–7,0 (12,4 ± 0,7 × 9,0 ± 0,6 × 6,0 ± 0,6) μm,
Q = 1,3–1,6, Qm = 1,4, n = 30/1; limoniforme em visão frontal e elipsóide em visão lateral e
polar; cor marrom escura em KOH a 5%, bastante opacos; parede lisa, espessa; poro
germinativo presente, central, ápice do esporo levemente protuberante. Basídios 15,9–23,6 ×
9–11,8 μm, tetrasporados, amplamente largos e cilíndricos, paredes finas e hialinas.
Pleurocistídios em torno de 49,7 × 15,4 μm, somente do tipo lamprocistídeo, metulóides,
subulados, lanceolados a amplamente ventricosos a subventricosos no meio, de parede
levemente espessa (1–1,6 μm de espessura na parede lateral e 8,9–10 μm no ápice),
pigmentada, marrom amarelada, com incrustações hialinas no ápice. Queilocistídios 25,5 ×
10,7 μm, subventricosos e lageniformes com um pequeno rostro cilíndrico, paredes finas e
hialinas. Trama da lamela regular a subregular, paredes finas e hialinas, mediostratos estreitos
ao longo de toda a lamela, subhimênio e himenopódio não observados. Pileipellis celular, com
células isodiamétricas 21,8–28,7 × 20,7–24 μm, paredes finas e cor marrom claro em KOH a
5%. Píleocistídios não observados. Trama do píleo composta de células isodiamétricas, de
paredes finas e hialinas. Caulocistídios subventricosos e lageniformes, assim como os
queilocistídios, paredes finas e hialinas. Trama do estipe composta de hifas filamentosas e
paralelas, paredes finas e hialinas. Grampos de conexão presentes, abundantes na trama do
estipe, mais raros na trama do píleo e das lamelas.
Habitat: Encontrado crescendo de forma dispersa a gregária em jardim, solo adubado.
Distribuição no Brasil: Região Nordeste: Mata Atlântica (WARTCHOW et al., 2010;
presente estudo). Região Sul: Mata Atlântica (DE MEIJER, 2006; SILVA-FILHO et al.,
2018).
Material examinado: BRASIL, RIO GRANDE DO NORTE, Natal, Campus UFRN, Setor
III, 14.II.2019, M.D. Xavier MDX2019/2 (UFRN-FUNGOS 3119).
Discussão:
O espécime é facilmente posicionado dentro do subgênero Copelandia ao se observar
a presença de pleurocístídios do tipo metulóide (GERHARDT, 1996). Panaeolus cyanescens
possui basidiomas de cor esbranquiçada, que se tornam fortemente contrastados em cor azul
quando machucados (Figura 17). Os basídios tetrasporados (raramente bisporados) e o
tamanho dos basidiósporos (11,09–14,05 × 7,51–10,14 × 5,06–7,04 μm) são as principais
características diagnósticas da espécie (Figura 18) (WARTCHOW et al., 2010; SILVA-
FILHO et al., 2018).
Dentre as espécies de Panaeolus sensu lato, P. cyanescens é a mais utilizada para fins
recreativos e também comercializada (MUSSHOFF et al., 2000), possuindo concentrações
elevadas de psilocibina que variam entre 0,2–11,5 mg/g de peso seco (n = 6) (GARTZ, 1994;
MUSSHOFF, et al. 2000; ANDERSSON, 2009). A cultura moderna do uso de “cogumelos
mágicos” começou a se espalhar ao redor do mundo a partir dos anos 60, com a divulgação da
descoberta da psilocibina isolada de cogumelos Psilocybe mexicana R. Heim (WASSON,
1957; GUZMÁN, 2019). Uma vez que P. cyanescens é comum em regiões tropicais e
subtropicais, o seu consumo para fins recreativos já foi registrado no Caribe, Havaí,
Indonésia, Tailândia e Austrália (POLLOCK, 1974, 1976; SCHULTES & HOFMANN, 1980;
ALLEN & MERLIN, 1992; MERLIN & ALLEN, 1993; STIJVE, 1992, 1995; ALLEN &
GARTZ, 1977). Em muitos casos torna-se difícil saber se o uso de cogumelos psilocibínicos
era comum entre uma população nativa ou havia sido introduzido por influências estrangeiras,
como por exemplo, P. cyanescens nas ilhas de Samoa como observou Cox (1981).
54
Este é o primeiro registro dessa espécie para o Brasil, previamente coletada somente
para o Havaí e sua localidade tipo na República Democrática do Congo (MERLIN & ALLEN,
1993; GERHARDT, 1996). O espécime aqui descrito é similar ao tratamento em Gerhardt
(1996): píleo levemente higrófano, de cor acinzentada a marrom escura (Figura 19), estipe
longo e grácil (60–120 mm de comprimento), dimensões dos basidiósporos similares ao
material tipo (10–13 × 8–9.5 × 6–7 μm), e poro germinativo distintamente protuso e central
(Figura 20).
Os queilocistídios e caulocistídios também possuem um aspecto bastante semelhante à
ilustração do lectótipo “P. campanulatus var. ealaensis Beeli” em Gerhardt (1996), são
furcados e com ápice inflado, capitado. As principais diferenças entre P. goossensiae e P.
papilionaceus var. parvisporus são duas, assim como escreve Gerhardt (1996):
57
4.2.6 Panaeolus papilionaceus var. parvisporus Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica 147: 58
(1996)
Figuras: 23–24.
Basiônimo: Panaeolus papilionaceus var. parvisporus Ew. Gerhardt, Bibliotheca Botanica
147: 58 (1996)
Sinônimos publicados: Não há sinônimos publicados.
Descrição:
61
4.2.7 Panaeolus semiovatus (Sowerby) S. Lundell & Nannf., Fungi Exsiccati Suecici fasc.
11-12: no. 537 (1938)
Figura: 25.
Basiônimo: Agaricus semiovatus Sowerby, Coloured Figures of English Fungi 2: 56, t. 131
(1799)
Sinônimos publicados: P. egregius (Massee) Sacc., P. phalaenarum (Fr.) Quél., P. separatus
(L.) Quél., P. teutonicus Bride & Métrod (GERHARDT, 1996; VOTO & ANGELINI, 2021;
VOTO, 2021)
Descrição:
Descrição macroscópica não foi possível ser realizada, devido à desidratação do
material. Basidiósporos 13,7–20,2 × 9,2–14,2 × 8,7–10 (15,9 ± 1,4 × 10,7 ± 1 × 9,2 ± 0,5)
μm, Q = 1,3–1,6, Qm = 1,5, n = 45/1; limoniformes, alongados e de lados quase paralelos a
subhexagonais em visão frontal, elipsoide em visão lateral e polar; poro germinativo presente,
truncado, central a raramente oblíquo; paredes lisas, espessas, fortemente pigmentadas, cor
marrom escuro, parcialmente translúcidos. Basídios 23,3–34 × 12–13,7 μm, tetrasporados,
clavados, paredes finas e hialinas. Pleurocistídios 27–45,8 × 9–15,9 μm, gloeocistídeos,
sulfídios clavados com um ápice rostrado e base pedunculada. Queilocistídios não
observados, fortemente colapsados. Trama da lamela regular a subregular. Pileipellis celular,
células variando de 19,3–30 μm de diâmetro, paredes finas, hialinas, marrom claro em KOH a
5%. Píleocistídios não observados. Trama do píleo composta por hifas infladas, pigmentação
marrom a marrom claro em KOH a 5%. Caulocistídios não observados, fortemente
colapsados. Trama do estipe do tipo derme de hifas longitudinais, de paredes finas e hialinas.
Grampos de conexão não observados.
Habitat: Encontrados em fezes de equino.
Distribuição no Brasil: Região Nordeste: província Atlântica (presente estudo). Região Sul:
província Pampeana (RICK, 1930).
Material examinado: BRASIL, PERNAMBUCO, Recife, Campus UFPE, 22/V/1995, LC
Maia s.n. (URM 75747).
Discussão:
Essa é uma espécie do subgen. Anellaria rara de ser encontrada em regiões tropicais,
sendo mais comum em ambientes de clima temperado no hemisfério norte (GERHARDT,
1996). Panaeolus semiovatus var. phalaenarum foi epitificado por Gerhardt (1996) baseado
em materiais coletados na Dinamarca. No Brasil, o primeiro registro dessa espécie foi
realizado por Rick (1930) para a região Sul, listado como o sinônimo P. phalaenarum. O
65
espécime aqui descrito como um novo registro para a região Nordeste foi coletado em 1995
por Leonor C. Maia e depositado no herbário URM, também com o nome P. phalaenarum.
Infelizmente, não foi possível descrever as características macroscópicas do material devido à
ausência de anotações de coleta, mas foi possível observar os seus basidióporos e sulfídios em
detalhes (Figura 25).
descrições da espécie em Gerhardt (1996), são clavados com um ápice regularmente rostrado
(Figura 25, B).
marrom (6E4 KW) nas margens; contexto ≅ 1 mm de espessura. Lamelas adnatas, próximas,
moderadamente estreitas, margens lisas, variegadas, discolores, mais claras nas bordas, cor
marrom chocolate (6F4 KW); lamélulas presentes e de diversos tamanhos. Estipe 54,2–59,5
mm de comprimento, 1,8–2,2 mm de largura; unicolor marrom acinzentado (6F3 KW),
superfície fortemente pruinosa esbranquiçada (6A1 KW); central, cilíndrico, igual,
consistência cartilaginosa. Véu ausente.
Basidiósporos 8,2–10,4 × 5,2–7,3 × 4,9–6,0 (9 ± 0,5 × 6,5 ± 0,4 × 5,4 ± 0,4) μm, Q =
1,2–1,7, Qm = 1,4, n = 30/1; limoniformes, piriformes, alguns levemente romboides ou mais
raramente cordiformes em visão frontal, elipsoides em visão lateral e subglobosos em visão
polar; lisos, sem ornamentações, paredes espessas ≅ 1 μm, cor marrom escuro, parcialmente
translúcidos; não descolorindo em ácido sulfúrico concentrado. Basídios não descritos,
fortemente colapsados, provavelmente tetrasporados. Pleurocistídios 26–47 × 10–13,7 μm;
gloeocistídeos, sulfídios clavados a lageniformes, com um rostro inflado ou mucro no ápice;
conteúdo interno refringente, amorfo, granuloso, marrom amarelado a dourado em KOH a 5
%; paredes finas a levemente espessas. Queilocistídios 29,3–46,5 × 5–6,2 μm, cilíndricos,
ápice subcapitado. Trama da lamela regular a subregular, subhimênio celular de pigmentação
marrom claro em KOH a 5%. Pileipellis formada por duas camadas: suprapellis do tipo derme
celular composta por células variando de 25,5–76,2 μm de diâmetro, de paredes finas e
hialinas; subpellis de hifas compactadas e pigmentação marrom escura em KOH a 5%.
Píleocistídios não observados. Trama do píleo composta por hifas infladas, pigmentação
marrom a marrom claro em KOH a 5%. Caulocistídios não observados. Trama do estipe do
tipo derme de hifas longitudinais, 8,7–19,5 μm de largura, paredes finas e hialinas. Grampos
de conexão não observados.
Habitat: Encontrados em folhiço.
Distribuição no Brasil: Região Norte: Amazônia (presente estudo).
Material examinado: BRASIL, ACRE, Senador Guiomard, 20/IV/2019, Santos GS s.n.
(UFACPZ 20900).
Discussão:
Essa nova espécie encontrada em meio ao folhiço entra nos limites do gênero
Panaeolus s.l. devido às lamelas manchadas e seus basidiósporos não descolorirem em ácido
sulfúrico concentrado. Em Psathyrella, que também possui espécies com pileipellis celular e
gloeocistídios nas laterais das lamelas, os basidiósporos descolorem em ácido sulfúrico, são
elipsoides e não lenticulares, geralmente possuem poro germinativo menor ou ausente
(SINGER, 1986; GERHARDT, 1996; DOVERI, 2004). Além disso, os gloeocistídios
70
(sulfídios) de Panaeolus s.l. são naturalmente amalerados e não se tornam amarelos somente
quando montados em KOH (SINGER, 1986; GERHARDT, 1996).
A superfície do píleo em P. microsporus é descrita por Ola’h (1969) como oleosa (em
cultivo), higrófana, de cor castanha clara a preto acastanhada, não apresenta véu e seu hábitat
é coprófilo. Os basidiósporos variam de 7,5–9 × 5–6 × 4–4,5 μm e são opacos, pouco
lenticulares e também aparentam ser romboides em visão frontal. Os sulfídios de P.
microsporus foram redescritos por Gerhardt (1996) como: “saculiformes ou fusoides, largos,
muitas vezes pouco perceptíveis, com conteúdo frequentemente compacto e refringente, 15–
30 μm de comprimento”. A morfologia dos cistídios se assemelha ligeiramente com as
ilustrações do material tipo de P. microsporus em Gerhardt (1996). Porém, ao comparar a
nova espécie proposta com P. microsporus, podemos observar que a principal semelhança é
nas dimensões dos basidiósporos (Figura 29), sendo, porém bem diferenciada pela superfície
do píleo não-higrófana, basidiomas fortemente escuros, unicolores, marrom acinzentados, e o
hábitat não-coprófilo (Figura 28). Além disso, pode-se distinguir a nova espécie pelos
sulfídios conspícuos, ao contrário de P. microsporus, e de formas variadas: clavados a
lageniformes, com ápice de rostro inflado ou mucronado (Figura 30). Ao propor P.
microsporus somente a partir de materiais de cultivo, Ola’h (1969) não fornece o
embasamento necessário para a separação do táxon, não se sabe ao certo se as variações
72
encontradas nos espécimes são de origem natural ou ocasionadas pelas condições artificiais
em laboratório.
4.3 Chave de identificação de Panaeolus sensu lato com ocorrência para o Brasil
5. Metuloides de paredes finas e claras, somente no ápice são mais espessas; basídios
tetrasporados; basidiósporos 8–12 × 7–9 × 5,5–6 μm..................................P. cambodginiensis
5’. Metuloides de paredes laterais moderadamente espessas a espessas, pigmentadas..............6
13. Véu ausente; basidiósporos entre 10–13 μm de comprimento, poro germinativo fortemente
protuso...................................................................................................................P. goossensiae
13’. Véu presente formando margem apendiculada distinta a indistinta no píleo....................14
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALLEN, J. W. A chemical referral and reference guide to the known species of psilocine
and/or psilocybine-containing mushrooms and their published analysis and bluing reactions:
an updated and revised list. Ethnomycological Journals: Sacred Mushroom Studies, v. 9,
p. 130-175, 2012.
ALLEN, J. W.; GARTZ, J. Magic mushrooms in some third world countries. Seattle:
Psilly Publications, 1997.
ALLEN, J. W.; MERLIN, M. D. Psychoactive mushroom use in Koh Samui and Koh Pha-
Ngan, Thailand. Journal of ethnopharmacology, v. 35, n. 3, p. 205-228, 1992.
BEUG, M. W.; BIGWOOD, J. Psilocybin and psilocin levels in twenty species from seven
genera of wild mushrooms in the Pacific Northwest, USA. Journal of ethnopharmacology,
v. 5, n. 3, p. 271-285, 1982.
CACIALLI, G.; CAROTI, V.; DOVERI, F. Contributo allo studio dei funghi fimicoli-II.
Coprinaceae: Panaeolus fimicola (Fries) Qualet e Panaeolus dunensis Bon & Courtecuisse.
Micologia Italiana, v. 25, p. 49-56, 1996.
EARLE, F. S. The genera of the North American gill fungi. Leipzig: Deutsche
Nationalbibliothek, 1909.
FITZHUGH, K. The inferential basis of species hypotheses: the solution to defining the term
‘species’. Marine Ecology, v. 26, n. 3‐4, p. 155-165, 2005.
GARNICA, S. et al. Reconstructing the evolution of agarics from nuclear gene sequences and
basidiospore ultrastructure. Mycological Research, v. 111, n. 9, p. 1019-1029, 2007.
GARTZ, J. Extraction and analysis of indole derivatives from fungal biomass. Journal of
basic microbiology, v. 34, n. 1, p. 17-22, 1994.
GILLET, C. C. Les hyménomycètes: ou, Description de tous les champignons (fungi) qui
croissent en France, avec l'indication de leurs propriétés utiles ou vénéneuses. Alençon:
Ch. Thomas, 1874.
79
GUZMÁN, G. The hallucinogenic mushrooms: diversity, traditions, use and abuse with
special reference to the genus Psilocybe. In: MISRA, J. K. (Ed.). Fungi from different
environments. EUA: CRC Press, 2019.
HE, M. Q. et al. Notes, outline and divergence times of Basidiomycota. Fungal diversity, v.
99, n. 1, p. 105-367, 2019.
HEIM, R. Les champignons d' Europe. Paris: Editions N. Boubee & Cie, 1957.
HOPPLE J. R., John S.; VILGALYS, R. Phylogenetic relationships among coprinoid taxa and
allies based on data from restriction site mapping of nuclear rDNA. Mycologia, v. 86, n. 1, p.
96-107, 1994.
HOPPLE J. R., John S.; VILGALYS, R. Phylogenetic relationships in the mushroom genus
Coprinus and dark-spored allies based on sequence data from the nuclear gene coding for the
large ribosomal subunit RNA: divergent domains, outgroups, and monophyly. Molecular
phylogenetics and evolution, v. 13, n. 1, p. 1-19, 1999.
KUMMER, P. Der Führer in die Pilzkunde: Anleitung zum methodischen, leichten und
sicheren Bestimmen der in Deutschland vorkommenden Pilze. Zerbst: Verlag von E.
Luppe's Buchhandlung, 1882.
LA ROCCA, S; BAZAN, G. Contributo alla conoscenza della micoflora delle dune costiere
della Sicilia: i macromiceti di contrada “Le Macchie” (Balestrate, Palermo). Quaderni di
Botanica ambientale e applicata, v. 12, p. 3-12, 2001.
81
LIDDELL, H. G.; SCOTT, R. Liddell and Scott's Greek-English Lexicon. Oxford: Clarendon
Press, 1940.
MUSSHOFF, F.; MADEA, B.; BEIKE, J. Hallucinogenic mushrooms on the German market:
simple instructions for examination and identification. Forensic science international, v.
113, n. 1-3, p. 389-395, 2000.
NEVES, M. A. et al. Guide to the common Fungi of the Semiarid Region of Brazil.
Florianópolis: TECC Editora, 2013.
OHENOJA, E. et al. The occurrence of psilocybin and psilocin in Finnish Fungi. Journal of
natural products, v. 50, n. 4, p. 741-744, 1987.
OUABBOU, A. et al. Bibliographic catalog of the forest of Mamora (Morocco) fungal flora.
Journal of Animal and Plant Sciences, v. 15, p. 2200-2242, 2012.
OUABBOU, A. et al. Etude de quelques espèces fongiques du genre Panaeolus (Fr.) Quélet.,
dont une nouvelle pour le Maroc: Panaeolus dunensis Bon et Courtecuisse. Bulletin de
l’Institut Scientifique, Rabat, section Sciences de la Vie, v. 32, p. 47-50, 2010.
PEGLER, D. N. et al. A preliminary agaric flora of East Africa. Londres: H.M. Stationery
Off., 1977.
POLLOCK, S. H. A Novel Experience with Panaeolus A Case Study from Hawaii. Journal
of Psychedelic Drugs, v. 6, n. 1, p. 85-89, 1974.
SAMORINI, G. The oldest archeological data evidencing the relationship of Homo sapiens
with psychoactive plants: A worldwide overview. Journal of Psychedelic Studies, v. 3, n. 2,
p. 63-80, 2019.
SINGER, R.; SMITH, A. H. About the identity of the “weed Panaeolus” or “poisonous
Panaeolus”. Mycopathologia et mycologia applicata, v. 9, p. 280-284, 1958.
STAMETS, P. Psilocybin mushrooms of the world. Berkeley: Ten Speed Press, 1996.
STIJVE, T. Psilocin, psilocybin, serotonin and urea in Panaeolus cyanescens from various
origin. Persoonia-Molecular Phylogeny and Evolution of Fungi, v. 15, n. 1, p. 117-121,
1992.
STIJVE, T.; DE MEIJER, AAR. Macromycetes from the State of Paraná, Brazil. 4. The
psychoactive species. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 36, n. 2, p. 313-329, 1993.
THIELE, K. R. et al. Towards a global list of accepted species I. Why taxonomists sometimes
disagree, and why this matters. Organisms Diversity & Evolution, v. 21, n. 4, p. 615-622,
2021.
TOMEI, P. E.; NARDUCCI, R. Lista dei funghi carnosi del Regno del Marocco: 1°
aggiornamento. INTER NOS, v. 4, p. 69-90, 2017.
TÓTH, A. et al. Iteratively refined guide trees help improving alignment and phylogenetic
inference in the mushroom family Bolbitiaceae. PLOS One, v. 8, n. 2, p. e56143, 2013.
85
TURLAND, N. J. et al. International Code of Nomenclature for algae, fungi, and plants
(Shenzhen Code) adopted by the Nineteenth International Botanical Congress Shenzhen,
China, July 2017. Koenigstein: Koeltz Botanical Books, 2018.
VOTO, P.; ANGELINI, C. First record of Copelandia mexicana in Dominican Republic and
notes on Panaeolus. Mycological Observations v. 1, p. 44-58, 2021.
WALTHER, G.; GARNICA, S.; WEI, M. The systematic relevance of conidiogenesis modes
in the gilled Agaricales. Mycological research, v. 109, n. 5, p. 525-544, 2005.
WASSON, R. G. Seeking the magic mushroom. Life, v. 42, n. 19, p. 100-120, 1957.