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Pessoas

Direito material da União


Europeia Serviços e
estabelecimento
4 liberdades Capitais

Mercadorias

Artigo 3.º TUE

• 1. A União tem por objectivo promover a paz,


os seus valores e o bem-estar dos seus povos.
Direito Material no TUE • 2. A União proporciona aos seus cidadãos um
espaço de liberdade, segurança e justiça sem
fronteiras internas, em que seja assegurada a
livre circulação de pessoas, em conjugação
com medidas adequadas em matéria de
controlos na fronteira externa, de asilo e
imigração, bem como de prevenção da
criminalidade e combate a este fenómeno.

• A União combate a exclusão social e as


discriminações e promove a justiça e a protecção
• A União estabelece um mercado interno. sociais, a igualdade entre homens e mulheres, a
Empenha-se no desenvolvimento solidariedade entre as gerações e a protecção dos
sustentável da Europa, assente num direitos da criança.
crescimento económico equilibrado e na • A União promove a coesão económica, social e
estabilidade dos preços, numa economia territorial, e a solidariedade entre os Estados-
social de mercado altamente competitiva Membros.
que tenha como meta o pleno emprego e • A União respeita a riqueza da sua diversidade
o progresso social, e num elevado nível cultural e linguística e vela pela salvaguarda e pelo
de protecção e de melhoramento da desenvolvimento do património cultural europeu.
qualidade do ambiente. A União fomenta o • 4. A União estabelece uma união económica e
progresso científico e tecnológico. monetária cuja moeda é o euro.

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• 5. Nas suas relações com o resto do mundo, a União
afirma e promove os seus valores e interesses e
contribui para a protecção dos seus cidadãos.
Contribui para a paz, a segurança, o desenvolvimento
sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito
mútuo entre os povos, o comércio livre e equitativo, a
erradicação da pobreza e a protecção dos direitos do
Homem, em especial os da criança, bem como para a
rigorosa observância e o desenvolvimento do direito
internacional, incluindo o respeito dos princípios da
Carta das Nações Unidas.
• 6. A União prossegue os seus objectivos pelos meios
adequados, em função das competências que lhe são
atribuídas nos Tratados.

Integração económica europeia


• (ZCL)
• União Aduaneira
• Mercado Comum
• União Económica
• União Monetária

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• PARTE III AS POLÍTICAS E ACÇÕES INTERNAS DA
UNIÃO TÍTULO I O MERCADO INTERNO
Mercado Comum: liberdades fundamentais
• Artigo 26.º1. A União adopta as medidas destinadas a
estabelecer o mercado interno ou a assegurar o seu TFUE
funcionamento, em conformidade com as disposições • 1. Circulação mercadorias 28º-37
pertinentes dos Tratados.
• 2. O mercado interno compreende um espaço sem • 2. Circulação de trabalhadores 20º, 45º- 48º
fronteiras internas no qual a livre circulação das
mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos
capitais é assegurada de acordo com as disposições • 3. Estabelecimento e prestação de serviços
dos Tratados. 49º- 55º / 56º - 62º
• 3. O Conselho, sob proposta da Comissão, definirá as
orientações e condições necessárias para assegurar
um progresso equilibrado no conjunto dos sectores • 4. Capitais 63º - 66º
abrangidos.

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Mercadorias

TÍTULO II - LIVRE CIRCULAÇÃO


Artigo 28.º
DE MERCADORIAS Mercadorias
1. A União compreende uma união aduaneira que
abrange a totalidade do comércio de mercadorias e
• Industriais
implica a proibição, entre os Estados-Membros, de • Artesanais
direitos aduaneiros de importação e de exportação e de • Agrícolas
quaisquer encargos de efeito equivalente, bem como a
adopção de uma pauta aduaneira comum nas suas • Artísticas
relações com países terceiros. • Literárias
2. O disposto no artigo 30.º e no Capítulo 3 do presente • ...
título é aplicável tanto aos produtos originários dos
Estados-Membros, como aos produtos provenientes de
países terceiros que se encontrem em livre prática nos
Estados-Membros.

TÍTULO II - LIVRE CIRCULAÇÃO


Artigo 28.º
DE MERCADORIAS CAP.1 A UNIÃO ADUANEIRA
1. A União compreende uma união aduaneira que
• Artigo 30º São proibidos entre os Estados-
abrange a totalidade do comércio de mercadorias e
Membros os direitos aduaneiros de importação
implica a proibição, entre os Estados-Membros, de
e de exportação ou os encargos de efeito
direitos aduaneiros de importação e de exportação
equivalente. Esta proibição é igualmente aplicável
e de quaisquer encargos de efeito equivalente, bem
aos direitos aduaneiros de natureza fiscal.
como a adopção de uma pauta aduaneira comum
nas suas relações com países terceiros. • Artigo 31º Os direitos da pauta aduaneira comum
são fixados pelo Conselho, sob proposta da
2. O disposto no artigo 30.º e no Capítulo 3 do presente
Comissão.
título é aplicável tanto aos produtos originários dos
Estados-Membros, como aos produtos provenientes de
países terceiros que se encontrem em livre prática nos
Estados-Membros.

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CAP.3 PROIBIÇÃO DE RESTRIÇÕES Mercado
comum
QUANTITATIVAS ENTRE OS EM
• Artigo 34º São proibidas, entre os Dimensão Dimensão
externa interna
Estados-Membros, as restrições
quantitativas à importação, bem como
todas as medidas de efeito equivalente. PAC
Livre circulação
de mercadorias
• Artigo 35º São proibidas, entre os
Estados-Membros, as restrições Mercadorias
Mercadorias
quantitativas à exportação, bem como produzidas
em livre prática
na UE
todas as medidas de efeito equivalente.
Regimes
especiais
de circulação

Restrições
• Artigo 29.º proibidas

• Consideram-se em livre prática num


Estado-Membro os produtos provenientes
de países terceiros em relação aos quais
Pautais Não pautais
se tenham cumprido as formalidades de
importação e cobrado os direitos
aduaneiros ou encargos de efeito
equivalente exigíveis nesse Estado- Encargos Medidas
Direitos Restrições
Membro, e que não tenham beneficiado de aduaneiros
de efeito
quantitativas
de efeito
draubaque total ou parcial desses direitos equivalente equivalente

ou encargos. Restrições excecionalmente


admissíveis (36º)

• Artigo 36º
Restrições
• As disposições dos artigos 34.º e 35.º são aplicáveis
proibidas
sem prejuízo das proibições ou restrições à
importação, exportação ou trânsito justificadas por
razões de moralidade pública, ordem pública e
segurança pública; de protecção da saúde e da vida
das pessoas e animais ou de preservação das Pautais Não pautais
plantas; de protecção do património nacional de valor
artístico, histórico ou arqueológico; ou de protecção
da propriedade industrial e comercial. Todavia, tais
proibições ou restrições não devem constituir nem um Encargos Medidas
meio de discriminação arbitrária nem qualquer Direitos Restrições
de efeito de efeito
aduaneiros quantitativas
restrição dissimulada ao comércio entre os Estados- equivalente equivalente
Membros.
Restrições excecionalmente
admissíveis (36º)

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(Limites às restrições admissíveis)

• Artigo 36º- Todavia, tais proibições


ou restrições não devem constituir
nem um meio de discriminação Restrições pautais
arbitrária nem qualquer restrição
dissimulada ao comércio entre os
Estados-Membros.

12º
• Os EM abster-se-ão de introduzir entre si
novos direitos aduaneiros à importação ou
C-26/62 Van Gend en Loos à exportação ou taxas de efeito
equivalente e de aumentar aqueles que
aplicam nas relações comerciais mútuas.
5/02/1963

TJCE TJCE
• O texto do artigo 12 enuncia uma proibição clara • Pouco importa saber de que maneira o
e incondicional que é uma obrigação não de aumento dos direitos aduaneiros surgiu.
fazer, mas de não fazer;
• Que não é acompanhada de qualquer reserva • O aumento ilícito pode resultar também de
dos Estados que subordine a sua aplicação a um novo arranjo pautal. Se no mesmo EM
um acto positivo interno;
• Que a execução do artigo 12º não precisa de
o mesmo produto se encontra, depois da
intervenção legislativa dos Estados; entrada em vigor do Tratado, onerado
• Que o facto de este artigo designar os Estados com uma taxa mais elevada, isso equivale
membros como sujeitos da obrigação de a uma majoração da respectiva aduaneira.
abstenção não implica que os nacionais não
possam ser beneficiários.

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• Taxa de exportação sobre objectos
artísticos, históricos e arqueológicos
C-7/68
• It. “Não são bens na acepção do artigo
Arte Italiana (…) os fins da taxa não são fiscais mas
para protecção do património artístico”

Restrições
proibidas

• Taxa de exportação sobre objectos


artísticos, históricos e arqueológicos
• It. “Não são bens na acepção do artigo Pautais Não pautais

(…) os fins da taxa não são fiscais mas


para protecção do património artístico”
Encargos Medidas
Direitos Restrições
de efeito de efeito
aduaneiros quantitativas
equivalente equivalente

Restrições excecionalmente
admissíveis (36º)

Restrições não pautais C-8/74 Dassonville

11/07/74

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Tribunal de 1 instance de Bruxelles
ere

TJCE
• Uma disposição regulamentar nacional
interditando a importação de uma • A proibição de medidas que tenham efeito
mercadoria com denominação de origem equivalente às restrições quantitativas
quando essa mercadoria não é abrange quaisquer regras comerciais
acompanhada de um documento oficial que directa ou indirectamente
emitido pelo Estado exportador atestando actualmente ou potencialmente causem
o direito à denominação de origem é uma entraves ao comércio intracomunitário.
medida de efeito equivalente a uma
restrição quantitativa?

TJCE
• A exigência de um certificado de
autenticidade mais dificilmente acessível
aos importadores de um produto autêntico C-254/98 TK-Heimdienst
em livre prática do que noutro EM que aos
importadores do mesmo produto provindo
directamente do país de origem constitui 13/01/2000
uma medida de efeito equivalente a uma
restrição quantitativa, incompatível com o
tratado.

Oberster Gerichtshof
PROIBIÇÃO DE RESTRIÇÕES
• «O artigo 30.° (=28) do Tratado CE deve ser
QUANTITATIVAS interpretado no sentido de que obsta à validade de
uma legislação segundo a qual os padeiros, talhantes
e comerciantes em produtos alimentares só podem
• Artigo 28º São proibidas, entre os vender de forma ambulante, de localidade em
localidade ou porta-a-porta, as mercadorias que
Estados-Membros, as restrições estejam autorizados a pôr à venda segundo a
quantitativas à importação, bem autorização de comércio de que são titulares, quando
exerçam a mesma actividade comercial num
como todas as medidas de efeito estabelecimento permanente na circunscrição
equivalente. administrativa em que propõem para venda os
produtos em causa na modalidade referida, ou num
município limítrofe, só podendo ser objecto dessa
venda ambulante, de localidade em localidade ou
porta-a-porta, as mercadorias que são igualmente
postas à venda nesse estabelecimento permanente?»

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• Com efeito, uma tal regulamentação impõe aos
padeiros, talhantes e comerciantes de produtos
TJCE alimentícios que já têm um estabelecimento fixo
noutro Estado-Membro e que desejam comercializar
as suas mercadorias através da venda ambulante
• Há que recordar que, segundo jurisprudência numa dada circunscrição administrativa, como uma
constante, qualquer regulamentação Verwaltungsbezirk austríaca, que abram ou adquiram
comercial dos Estados-Membros susceptível outro estabelecimento fixo nessa circunscrição
administrativa ou num município limítrofe, enquanto
de prejudicar, directa ou indirectamente, os operadores económicos locais já satisfazem o
actual ou potencialmente, o comércio critério do estabelecimento fixo.
intracomunitário deve ser considerada como • Em consequência, para que os produtos
uma medida de efeito equivalente a restrições provenientes de outros Estados-Membros
quantitativas e, a este título, proibida pelo artigo possam ter um acesso ao mercado do Estado-
Membro de importação igual ao dos produtos
30.° (=28) do Tratado (Dassonville) nacionais, devem suportar custos suplementares.

• Ainda que seja aplicável a todos os operadores


• Esta conclusão não é infirmada pela que actuam no território nacional, uma
consideração de que, para dada parte do regulamentação nacional como a que está em
território nacional, a regulamentação afecta
causa no processo principal dificulta o acesso
tanto o escoamento dos produtos provenientes
das outras partes do território nacional como o ao mercado do Estado importador dos
dos produtos importados dos outros Estados- produtos provenientes de outros Estados-
Membros. Para que uma medida estatal possa Membros mais do que dificulta o acesso dos
ser qualificada de discriminatória ou protectora, produtos nacionais.
na acepção das regras relativas à livre • A este respeito, basta constatar que as
circulação das mercadorias, não é necessário mercadorias provenientes dos outros Estados-
que essa medida tenha por efeito favorecer o
Membros nunca poderiam ser objecto de venda
conjunto dos produtos nacionais ou apenas
desfavorecer os produtos importados com ambulante numa circunscrição administrativa
exclusão dos produtos nacionais. situada numa zona não fronteiriça.

• CONCLUSÃO • Em contrapartida, a necessidade de evitar


• Daqui resulta que uma regulamentação nacional uma deterioração das condições de
que proíbe aos talhantes, padeiros e comerciantes abastecimento de proximidade em regiões
de produtos alimentícios a prática da venda relativamente isoladas de um Estado-
ambulante numa dada circunscrição Membro pode, em determinadas condições,
administrativa, como uma Verwaltungsbezirk justificar um entrave ao comércio
austríaca, se não exercerem também a sua
actividade comercial num estabelecimento fixo em intracomunitário.
que igualmente proponham a venda das • Mas uma regulamentação como a que está
mercadorias objecto da venda ambulante, situado em causa no processo principal, que se
nessa circunscrição administrativa ou num aplica ao conjunto do território nacional, é em
município limítrofe, é susceptível de entravar o todo o caso desproporcionada ao referido
comércio intracomunitário.
objectivo.

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• Embora a protecção da saúde pública • CONCLUSÃO
conste do número dos motivos susceptíveis • Há pois que responder à questão submetida
de justificar derrogações ao artigo 30.° do que o artigo 30.° do Tratado se opõe a uma
legislação nacional que determina que os
Tratado, ela pode ser atingida por padeiros, talhantes e comerciantes de produtos
medidas que tenham, sobre o comércio alimentícios só podem efectuar a venda
intracomunitário, efeitos menos ambulante numa dada circunscrição
restritivos do que uma regulamentação administrativa, como uma Verwaltungsbezirk
austríaca, se exercerem também a sua
nacional como a do artigo 53.°a, n.° 2, do actividade comercial num estabelecimento fixo,
GewO, como por exemplo normas relativas no qual também ponham à venda as
ao equipamento em instalações frigoríficas mercadorias objecto da venda ambulante,
situado nessa circunscrição administrativa ou
dos veículos utilizados. num município limítrofe.

Inflexão da jurisprudência C-267/91 e C-268/93

Keck e Mithouard

• B. Keck e D. Mithouard alegaram em sua • Em seguida, no que se refere ao princípio da


defesa que a proibição geral de revenda não discriminação enunciado no artigo 7. do
com prejuízo, como a prevista pelas Tratado, resulta das decisões de reenvio que o
órgão jurisdicional nacional tem dúvidas quanto
referidas disposições, é incompatível com à compatibilidade com essa disposição da
o artigo 30. do Tratado, bem como com os proibição de revenda com prejuízo, na medida
princípios da livre circulação de (…) em que pode prejudicar as empresas que a ela
[mercadorias] e da livre concorrência na se encontram sujeitas relativamente às suas
Comunidade. concorrentes que operam em Estados-membros
onde esse tipo de revenda é tolerada.

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TJCE
• É verdade que essa legislação é susceptível de
• Dado que os operadores económicos
restringir o volume das vendas e, por conseguinte,
invocam cada vez mais frequentemente o
o volume das vendas de produtos importados de
artigo 30. do Tratado para impugnar
outros Estados-membros, na medida em que priva
qualquer tipo de regulamentação que
os operadores de um método de promoção.
tenha por efeito limitar a sua liberdade Convém, no entanto, questionarmo-nos sobre se
comercial, mesmo que não abranja os essa eventualidade basta para qualificar a
produtos provenientes de outros Estados- legislação em causa de medida de efeito
membros, o Tribunal de Justiça considera equivalente a uma restrição quantitativa à
necessário reexaminar e precisar a sua importação.
jurisprudência na matéria.

• A este respeito importa recordar que, em • Em contrapartida, impõe-se considerar


conformidade com a sua jurisprudência Cassis de
Dijon, constituem medidas de efeito equivalente, que, contrariamente ao que até agora foi
proibidas pelo artigo 30, os obstáculos à livre decidido, a aplicação de disposições nacionais
circulação de mercadorias resultantes, na falta que limitam ou proíbem determinadas
de harmonização das legislações, da aplicação a modalidades de venda a produtos provenientes
mercadorias provenientes de outros Estados- de outros Estados-membros NÃO é susceptível
membros, onde são legalmente fabricadas e
comercializadas, de regras relativas às de entravar directa ou indirectamente, actual ou
condições a que essas mercadorias devem potencialmente, o comércio intracomunitário na
obedecer (como as relativas à sua designação, acepção da jurisprudência Dassonville (acórdão de
forma, dimensões, peso, composição, 11 de Julho 1974, 8/74, Colect., p. 423), desde que
apresentação, etiquetagem, acondicionamento), se apliquem a todos os operadores interessados
mesmo que essas regras sejam indistintamente que exerçam a sua actividade no território
aplicáveis a todos os produtos, desde que essa nacional e desde que afectem da mesma forma,
aplicação não possa ser justificada por objectivos de tanto juridicamente como de facto, a
interessse geral susceptíveis de primar sobre as
exigências da livre circulação de mercadorias. comercialização dos produtos nacionais e dos
provenientes de outros Estados-membros.

• Com efeito, desde que essas condições se • 18 Assim, há que responder ao órgão
encontrem satisfeitas, a aplicação de jurisdicional nacional que o artigo 30. do
regulamentações desse tipo à venda de Tratado CEE deve ser interpretado no
produtos provenientes de outro Estados-
membro que obedeçam às regras aprovadas
sentido de que não se aplica a uma
por esse Estado não é susceptível de impedir o legislação de um Estado-membro que
seu acesso ao mercado ou de o dificultar mais estabelece uma proibição de carácter
do que dificulta o dos produtos nacionais. geral de revenda com prejuízo.
• Essas regulamentações escapam, portanto, ao
âmbito de aplicação do artigo 30. do Tratado.

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• «1) a) Os artigos 28.° CE a 30.° CE opõem-se a
disposições nacionais que proíbem a utilização de motos
de água em locais que não sejam vias navegáveis
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE públicas ou águas relativamente às quais a autoridade
local adoptou disposições permitindo tal utilização, como
JUSTIÇA 4 DE JUNHO DE 2009 prevê o regulamento [nacional]?
• b) Se assim não for, os artigos 28.° CE a 30.° CE
opõem-se a que um Estado-Membro aplique disposições
deste tipo de modo a que a utilização de motos de água
seja proibida também em águas que ainda não foram
processo C-142/05 Mickelsson & Roos objecto de decisão da autoridade local sobre a adopção
ou não de disposições permitindo [tal] utilização?
• 2) A Directiva [94/25] opõe-se a disposições nacionais,
como as acima referidas, que proíbem a utilização de
motos de água?»

• Os artigos 28.° CE e 30.° CE não se opõem a tal


regulamentação nacional, desde que:
• – as autoridades nacionais competentes sejam obrigadas
a tomar as medidas de execução previstas a fim de designar
zonas fora das vias navegáveis públicas em que as motos de A Directiva 94/25/CE do Parlamento Europeu e do
água podem ser utilizadas;
Conselho, de 16 de Junho de 1994, relativa à
• – essas autoridades tenham efectivamente exercido a
aproximação das disposições legislativas,
competência que lhes foi conferida nessa matéria e tenham
designado as zonas que satisfazem as condições previstas regulamentares e administrativas dos
pela regulamentação nacional; e Estados-Membros respeitantes às embarcações de
• – tais medidas tenham sido adoptadas num prazo razoável recreio, conforme alterada pela Directiva
após a entrada em vigor dessa regulamentação. 2003/44/CE do Parlamento Europeu e do
• Incumbe ao órgão jurisdicional de reenvio verificar se, na Conselho, de 16 de Junho de 2003, não se opõe a
situação em causa no processo principal, essas condições uma regulamentação nacional que, por razões
estão preenchidas. atinentes à protecção do ambiente, proíbe a
utilização de motos de água, fora das vias
designadas.

Baranya megyei bíróság


ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE «1) A comercialização de lentes de contacto enquadra-se no
JUSTIÇA 2 DE DEZEMBRO DE aconselhamento médico que exige o exame físico do doente, sendo
excluída do âmbito de aplicação da Directiva [2000/31]?
2010 2) No caso de a comercialização de lentes de contacto não se
enquadrar no aconselhamento médico que exige o exame físico do
doente, deve o artigo 30.° CE ser interpretado no sentido de que se
opõe a uma regulamentação de um Estado-Membro que prevê que as
Processo C-108/09 Ker-Optika
lentes de contacto só podem ser comercializadas em
estabelecimentos especializados em dispositivos médicos?
3) A regulamentação húngara que permite a comercialização de
lentes de contacto exclusivamente em estabelecimentos
especializados em dispositivos médicos é contrária ao princípio da
livre circulação de mercadorias consagrado no artigo 28.° CE?»

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Resulta de jurisprudência igualmente assente que o artigo 34.° TFUE • 51 Por este motivo, é susceptível de entravar, directa ou
reflecte a obrigação de respeitar os princípios da não discriminação e indirectamente, efectiva ou potencialmente, o comércio entre os
do reconhecimento mútuo dos produtos legalmente fabricados e Estados-Membros, na acepção da jurisprudência decorrente do
comercializados noutros Estados-Membros, bem como a de acórdão Dassonville, já referido, a aplicação a produtos
assegurar aos produtos da União um livre acesso aos mercados
provenientes de outros Estados-Membros de disposições
nacionais (v. acórdão Comissão/Itália, já referido, n.° 34 e
jurisprudência referida).
nacionais que limitem ou proíbam determinadas modalidades de
venda, a menos que estas disposições se apliquem a todos os
49 Assim, devem ser consideradas medidas de efeito equivalente
a restrições quantitativas as medidas adoptadas por um
operadores que exercem a sua actividade no território nacional e
Estado-Membro que têm por objectivo ou por efeito tratar de forma afectem da mesma forma, tanto de direito como de facto, a
menos favorável os produtos provenientes de outros comercialização dos produtos nacionais e dos provenientes de
Estados-Membros, bem como as regras relativas às condições a que outros Estados-Membros. Com efeito, a aplicação de
essas mercadorias devem obedecer, mesmo que essas regras sejam regulamentações desse tipo à venda de produtos provenientes
indistintamente aplicáveis a todos os produtos (v. acórdão de outro Estado-Membro que obedeçam às regras aprovadas
Comissão/Itália, já referido, n.os 35 e 37). por esse Estado não é susceptível de impedir o seu acesso ao
50 O mesmo conceito engloba igualmente qualquer outra medida mercado ou de o dificultar mais do que dificulta o dos produtos
que crie obstáculos ao acesso ao mercado de um Estado-Membro de nacionais (v., neste sentido, acórdãos de 24 de Novembro de
produtos originários de outros Estados-Membros (acórdão 1993, Keck e Mithouard, C-267/91 e C-268/91, Colect.,
Comissão/Itália, já referido, n.° 37). p. I-6097, n.os 16 e 17, e Comissão/Itália, já referido, n.° 36).

• 52 Assim, há que examinar se a regulamentação nacional em causa no


processo principal responde às duas condições mencionadas no número • Nestas condições, a dita regulamentação não afecta da mesma
precedente do presente acórdão, isto é, se se aplica a todos os operadores maneira a comercialização de lentes de contacto por operadores
em questão que exercem a sua actividade no território nacional e afecta da húngaros e a que é levada a cabo por operadores de outros
mesma forma, tanto de direito como de facto, a comercialização dos Estados-Membros.
produtos nacionais e a dos produtos provenientes de outros • 56 Daqui decorre que a referida regulamentação constitui uma
Estados-Membros.
medida de efeito equivalente a uma restrição proibida pelo artigo
• 53 No que respeita à primeira condição, há que sublinhar que a referida 34.° TFUE, a menos que possa ser objectivamente justificada.
regulamentação se aplica a todas os operadores envolvidos na venda de
lentes de contacto, pelo que essa condição está satisfeita. • Quanto à justificação do entrave à livre circulação de mercadorias
• 54 Quanto à segunda condição, não é contestado que a proibição de • 57 Segundo jurisprudência constante, um entrave à livre
venda de lentes de contacto através da Internet se aplica às lentes de circulação de mercadorias pode ser justificado por uma das razões
contacto provenientes de outros Estados-Membros, que são objecto de de interesse geral enumeradas no artigo 36.° TFUE ou por
venda por correspondência e de entrega ao domicílio dos consumidores exigências imperativas. Em ambos os casos, a medida nacional deve
residentes na Hungria. Ora, deve referir-se que a proibição das vendas de ser adequada para garantir a realização do objectivo prosseguido e
lentes de contacto por correspondência priva os operadores provenientes não ultrapassar o necessário para atingir esse objectivo (acórdão
de outros Estados-Membros de uma modalidade particularmente eficaz de Comissão/Itália, já referido, n.° 59 e jurisprudência referida).
comercialização desses produtos e perturba, assim, consideravelmente o
seu acesso ao mercado do Estado-Membro em causa (v., por analogia, no
que respeita aos medicamentos, acórdão Deutscher Apothekerverband, já
referido, n.° 74).

58 A este respeito, se a referida medida fizer parte do domínio da • As regras nacionais relativas à comercialização de lentes de
saúde pública, importa ter em conta que a saúde e a vida das pessoas contacto estão abrangidas pelo âmbito de aplicação da
ocupam o primeiro lugar entre os bens e interesses protegidos pelo Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho,
Tratado e que cabe aos Estados-Membros decidir o nível a que de 8 de Junho de 2000, relativa a certos aspectos legais dos
pretendem assegurar a protecção da saúde pública, bem como o
serviços da sociedade de informação, em especial do comércio
modo como esse nível deve ser alcançado. Dado que o mesmo pode
electrónico, no mercado interno («Directiva sobre o comércio
variar de um Estado-Membro para outro, há que reconhecer aos
Estados-Membros uma margem de apreciação (v. acórdão de 1 de electrónico»), na medida em que respeitam ao acto de venda
Junho de 2010, Blanco Pérez e Chao Gómez, C-570/07 e C-571/07, dessas lentes através da Internet. Em contrapartida, as regras
ainda não publicado na Colectânea, n.° 44 e jurisprudência referida). nacionais relativas à entrega das referidas lentes não estão
59 No caso vertente, a justificação invocada pelo Governo húngaro abrangidas pelo âmbito de aplicação desta directiva.
tem a ver com a necessidade de proteger a saúde dos portadores de • Os artigos 34.° TFUE e 36.° TFUE, bem como a Directiva
lentes de contacto. Esta justificação responde, por conseguinte, a 2000/31, devem ser interpretados no sentido de que se opõem
preocupações de saúde pública admitidas pelo artigo 36.° TFUE, a uma regulamentação nacional que apenas autoriza a
susceptíveis de justificar um entrave à livre circulação de mercadorias. comercialização de lentes de contacto em estabelecimentos
60 Assim, importa examinar se a regulamentação em causa no especializados em dispositivos médicos.
processo principal é adequada para garantir o objectivo assim
prosseguido.

13
Restrições
proibidas

Pautais Não pautais Restrições admitidas

Encargos Medidas
Direitos Restrições
de efeito de efeito
aduaneiros quantitativas
equivalente equivalente

Restrições excecionalmente
admissíveis (36º)

Conceitos nacionais mas


• Artigo 30º As disposições dos artigos 28.o e
29.o são aplicáveis sem prejuízo das proibições interpretados restritivamente
ou restrições à importação, exportação ou
trânsito justificadas por razões de moralidade
pública, ordem pública e segurança pública; • moralidade pública
de protecção da saúde e da vida das pessoas • ordem pública e segurança pública
e animais ou de preservação das plantas; de
protecção do património nacional de valor • protecção da saúde e da vida das pessoas e
artístico, histórico ou arqueológico; ou de
protecção da propriedade industrial e animais ou de preservação das plantas
comercial. Todavia, tais proibições ou • protecção do património nacional de valor
restrições não devem constituir nem um meio de
discriminação arbitrária nem qualquer restrição artístico, histórico ou arqueológico
dissimulada ao comércio entre os Estados- • protecção da propriedade industrial e comercial
Membros.
• (…)

High Court of Justice, Queen's


Bench Division
• A proibição absoluta de importação de certos
artigos com fundamento de que são indecentes e
obscenos é incompatível com a liberdade de
C-121/85 Conegate circulação prevista no tratado se houver um
“comércio legal” dos mesmos artigos dentro do
EM de importação ou se as restrições se
11/03/1986 limitarem à proibição de venda a menores de 18
anos, à exibição pública, etc?
(Importação) • É necessária uma proibição absoluta de
produção ou comercialização dos mesmos
artigos no EM de importação?

14
TJCE conclusão
• O EM não pode alegar a moralidade
• Cabe a cada EM determinar as exigências
quanto à moral pública no seu território. pública para proibir a importação de certos
• Tratou-se de uma discriminação arbitrária bens com fundamento na sua
porque a ofensa provocada pelos artigos não é obscenidade se eles puderem ser
suficientemente séria para justificar restrições à livremente produzidos no território e
liberdade de circulação de mercadorias, na
medida em que o EM não adopta, relativamente sujeitos apenas a certas condições de
aos mesmos bens produzidos dentro do seu comercialização.
território, medidas penais ou outras que visem
prevenir o comércio de tais bens no seu
território.

Court of Appeal
• Estas moedas (de prata que já não
circulam) são “capitais” ou são
C-7/78 Thompson mercadorias?

23/11/78
(exportação)

TJCE
• As moedas de prata sem curso legal não podem ser
vistas como meios de pagamento portanto são bens,
sujeitas ao regime dos artigos 30 a 37.
• As medidas do Estado visam proteger a sua própria
C-367/89 Accessoires
cunhagem e evitar a destruição. No RU a fundição de
moedas é proibida, mesmo quando não têm curso legal.
Scientifiques
• A proibição da exportação para prevenir a fundição ou
destruição noutro EM é justificada por razões de ordem (trânsito)
pública, no sentido do artigo 36 do TCEE, porque resulta
da necessidade de proteger a cunhagem que
tradicionalmente é vista como um dos interesses
fundamentais do Estado.

15
Restrições
TJCE proibidas

• [O EM pode adoptar] legislação por


razões de segurança externa, que exija
uma autorização especial para o trânsito Pautais Não pautais
de bens considerados como material
estratégico (…)
Encargos Medidas
Direitos Restrições
de efeito de efeito
aduaneiros quantitativas
equivalente equivalente

Restrições excecionalmente
admissíveis (36º)

Limites às restrições admissíveis

Artigo 36º- Todavia, tais proibições ou


restrições não devem constituir nem
um meio de discriminação arbitrária C-205/89 Comissão/Grécia
nem qualquer restrição dissimulada ao
comércio entre os Estados-Membros. 19/03/1991

Comissão República Helénica


• A República Helénica não cumpriu as suas • A manteiga pasteurizada pode deteriorar-
obrigações relativamente ao Regulamento
804/68/CEE sobre organização comum do
se e prejudicar a saúde pública.
mercado do leite e derivados nem relativamente • A aplicação das medidas de controlo
aos artigos 30 e 36 do TCEE ao sujeitar a justifica-se por razões de protecção da
importação de leite a regras que requerem
inspecções físicas dos produtos e certificados saúde pública.
veterinários quanto à importação de manteiga
pasteurizada quando a pasteurização está
mencionada na etiqueta ou embalagem.

16
TJCE
• Na falta de harmonização ao nível comunitário,
cabe aos EM decidir o nível de protecção da
saúde pública que querem assegurar.
• Mas o art. 36 do TCEE estabelece uma C-120/78 Cassis de Dijon
excepção à regra de que as mercadorias devem
circular livremente na Comunidade, que é um
dos princípios fundamentais do mercado comum 20/02/1979
e por isso, [o art 36] deve ser interpretado
restritivamente.
• A República Helénica não cumpriu as
obrigações do artigo 30 do Tratado.

HESSISCHES FINANZGERICHT
• A fixação de um conteúdo mínimo de álcool para as
bebidas alcoólicas estabelecido na lei alemã -
BRANNTWEINMONOPOLGESETZ- (cujo resultado é que
produtos tradicionais de outros EM cujo conteúdo
alcoólico está abaixo do limite fixado não podem ser
postos em circulação na República Federal Alemã)
também cai no conceito de medidas de efeito equivalente
a restrições quantitativas às importações, contido no
artigo 30 do Tratado CEE?

A fixação de um conteúdo mínimo de álcool para as
bebidas alcoólicas estabelecido cabe no conceito de
discriminação relativamente às condições de
abastecimento e comercialização (…) entre nacionais dos
EM contida no art. 37 (actual 31) do Tratado CEE?

Governo da RFA TJCE


1. Protecção da saúde pública: • Tais considerações não são decisivas
uma vez que o consumidor pode obter no
Evitar a proliferação de bebidas alcoólicas
mercado uma gama extremanente variada
no mercado nacional, particularmente as
de bebidas fraca ou moderadamente
que têm um baixo teor de álcool, que
alcoólicas e, além disso, uma grande
induzem maior tolerância ao álcool.
percentagem de bebidas alcoólicas com
elevado teor de álcool livremente
2. Protecção do consumidor contra vendidas no mercado alemão são
práticas comerciais injustas. consumidas em forma diluida.

17
Conclusão
• Não há nenhuma razão válida para que, desde
• O conceito de “medidas de efeito
que tenham sido legalmente produzidas e
comercializadas num dos EM, bebidas
equivalente a restrições quantitativas às
alcoólicas não devam ser introduzidas no
importações”, contido no artigo 30 do
mercado de outro EM. Tratado deve ser interpretada no sentido
de que a fixação de um conteúdo mínimo
de álcool para bebidas alcoólicas pela
• A venda de tais produtos não pode ser sujeita a legislação de um EM cai na proibição
à proibição legal da comercialização de bebidas desde que se trate da importação de
com teor alcoólico mais baixo do que o bebidas alcoólicas legalmente
estabelecido por regras nacionais. produzidas e comercializadas noutro
EM.

Restrições
proibidas

Pautais Não pautais


Outros fundamentos de
restrições

Encargos Medidas
Direitos Restrições
de efeito de efeito
aduaneiros quantitativas
equivalente equivalente

Restrições excecionalmente
admissíveis (36º)

• Artigo 36º
• As disposições dos artigos 34.º e 35.º são aplicáveis
sem prejuízo das proibições ou restrições à
importação, exportação ou trânsito justificadas por
razões de moralidade pública, ordem pública e
segurança pública; de protecção da saúde e da vida C-302/86
das pessoas e animais ou de preservação das Comissão/Dinamarca
plantas; de protecção do património nacional de valor
artístico, histórico ou arqueológico; ou de protecção (Danish bottles)
da propriedade industrial e comercial. Todavia, tais 20/09/1988
proibições ou restrições não devem constituir nem
um meio de discriminação arbitrária nem qualquer
restrição dissimulada ao comércio entre os Estados-
Membros.

18
Artigo 17 Decreto n.° 397 de 02/07/1981
• Artigo 17.º • Os produtores têm a obrigação de comercializar a
• 1. A Comissão promove o interesse geral da União e toma as cerveja e os refrigerantes unicamente em
iniciativas adequadas para esse efeito. A Comissão vela pela embalagens susceptíveis de ser reutilizadas.
aplicação dos Tratados, bem como das medidas adoptadas Estas embalagens devem ser aprovadas pela
pelas instituições por força destes. Controla a aplicação do Agência Nacional para a Protecção do Ambiente,
direito da União, sob a fiscalização do Tribunal de Justiça da que pode recusar a aprovação de um novo tipo de
União Europeia. A Comissão executa o orçamento e gere os embalagem, nomeadamente no caso de
programas.
considerar que esta não é tecnicamente adaptada
• Exerce funções de coordenação, de execução e de gestão em a um sistema de recuperação, que o sistema de
conformidade com as condições estabelecidas nos Tratados.
Com excepção da política externa e de segurança comum e recuperação previsto pelos interessados não
dos restantes casos previstos nos Tratados, a Comissão garante o reemprego efectivo de uma
assegura a representação externa da União. percentagem suficiente de embalagens, ou se
• Toma a iniciativa da programação anual e plurianual da União tiver sido aprovada uma embalagem de igual
com vista à obtenção de acordos interinstitucionais. volume acessível e adaptada à mesma utilização.

Artigo 258º
• Se a Comissão considerar que um Estado-Membro Comissão Europeia
não cumpriu qualquer das obrigações que lhe
incumbem por força dos Tratados, formulará um • (Requerimento apresentado na Secretaria do
parecer fundamentado sobre o assunto, após ter Tribunal em 1 de Dezembro de 1986),
dado a esse Estado oportunidade de apresentar as
suas observações. • Ao instituir e aplicar o sistema obrigatório de
recuperação de embalagens de cerveja e
• Se o Estado em causa não proceder em refrigerantes, o Reino da Dinamarca não
conformidade com este parecer no prazo fixado pela cumpriu as obrigações que lhe incumbem por
Comissão, esta pode recorrer ao Tribunal de Justiça força do artigo 30.° do Tratado CEE.
da União Europeia.
• A regulamentação dinamarquesa viola o
Artigo 260º princípio da proporcionalidade, na medida em
• 1. Se o Tribunal de Justiça da União Europeia declarar que o objectivo da salvaguarda do ambiente
verificado que um Estado-Membro não cumpriu qualquer das poderia ser atingido por meios menos restritivos
obrigações que lhe incumbem por força dos Tratados, esse para o comércio intracomunitário.
Estado deve tomar as medidas necessárias à execução do
acórdão do Tribunal.

Decreto n.° 95, de 16/03/1984 Governo dinamarquês


• Admitir, na condição de ser instalado um • O sistema obrigatório de recuperação das
embalagens de cerveja e de refrigerantes em
sistema de depósito e recuperação, a vigor na Dinamarca, é justificado por uma
utilização de embalagens não autorizadas, exigência imperativa de protecção do ambiente.
com excepção das embalagens metálicas, • O funcionamento do sistema actual de depósito
até ao limite de 3 000 hl por produtor e por e de recuperação é perturbado se o número de
ano, bem como aquando da realização de embalagens autorizadas ultrapassar a trintena
já que os retalhistas integrados no sistema não
operações de sondagem de mercado estão dispostos a aceitar demasiados tipos de
efectuadas por produtores estrangeiros . garrafas, devido ao aumento dos custos de
manutenção e a maiores exigências de espaço
para armazenamento.

19
• A obrigação de instalar um sistema de
TJCE depósito e de recuperação das
embalagens vazias é um elemento
• A protecção do ambiente foi já considerada indispensável de um sistema que visa
pelo Tribunal (ADBHU*), como "um dos assegurar a reutilização das embalagens
objectivos essenciais da Comunidade",
• Os limites que esta obrigação impõe à
susceptíveis de justificar certas limitações ao
livre circulação de mercadorias não
princípio da livre circulação das mercadorias.
podem ser considerados como
• Face a essas considerações, deve pois desproporcionados. Tal obrigação é
entender-se que a protecção do ambiente necessária para atingir os fins
constitui uma exigência imperativa prosseguidos pela regulamentação
susceptível de limitar a aplicação do artigo litigiosa.
30.° do Tratado

• O sistema que permitia às autoridades


dinamarquesas a recusa de autorização a • A disposição de 1984, que limita a 3 000 hl, por
um produtor estrangeiro, mesmo que este produtor e por ano, a quantidade de cerveja e de
refrigerantes que pode ser comercializada em
estivesse disposto a assegurar a reutilização embalagens não autorizadas é desproporcionada
das embalagens recuperadas era relativamente ao objectivo prosseguido.
desproporcionado. O produtor estrangeiro • CONCLUSÃO
que desejasse vender no mercado • Ao limitar a quantidade de cerveja e de
dinamarquês, seria obrigado a fabricar ou a refrigerantes susceptíveis de serem
adquirir embalagens de um tipo já comercializados por produtor e por ano em
autorizado o que provocaria encargos embalagens não autorizadas (no que respeita às
suplementares importantes e tornaria muito importações desses produtos provenientes de
difícil a importação dos seus produtos no outros Estados-membros), o Reino da Dinamarca
país. não cumpriu as obrigações que lhe incumbem por
força do artigo 30.° do Tratado CEE.

C-240/83 ADBHU

7/02/1985

20
• Artigo 352.º
1. Se uma acção da União for considerada
necessária, no quadro das políticas definidas pelos Directiva 75/439
Tratados, para atingir um dos objectivos
estabelecidos pelos Tratados, sem que estes • Considerando que uma disparidade entre
tenham previsto os poderes de acção necessários as disposições já aplicáveis ou em
para o efeito, o Conselho, deliberando por preparação nos diferentes Estados-
unanimidade, sob proposta da Comissão e após membros, no que diz respeito à
aprovação do Parlamento Europeu, adoptará as
disposições adequadas. Quando as disposições em
eliminação dos óleos usados, pode criar
questão sejam adoptadas pelo Conselho de acordo condições de concorrência desiguais e ter,
com um processo legislativo especial, o Conselho deste modo, uma incidência directa no
delibera igualmente por unanimidade, sob proposta funcionamento do mercado comum.
da Comissão e após consulta ao Parlamento
Europeu.

• Artigo 3o
Os Estados-membros tomarão as medidas Decreto 79/98 sobre óleos usados
necessárias para que, na medida do possível, a
eliminação dos óleos usados seja efectuada por
reutilização (regeneração e/ou combustão com • Dividide o territorio francês em zonas.
fins diferentes da destruição). • Estabelece um sistema para a aprovação
• Artigo 5o
Sempre que os objectivos definidos nos artigos de entidades responsáveis pela recolha e
2o, 3o e 4o não possam ser atingidos por outro eliminação de óleos usados.
meio, os Estados-membros tomarão as medidas
necessárias para que uma várias empresas • Os detentores de óleos usados devem
procedam à recolha dos produtos entregues entregá-los às entidades competentes
pelos detentores e/ou à eliminação desses
produtos, se for caso disso, na área que lhes é (…)
atribuída pela administração competente.

TRIBUNAL DE GRANDE
TJCE
INSTANCE de Creteil
• O princípio da liberdade de comércio não deve ser visto
• A directiva 75/439 é válida à luz do em termos absolutos mas está sujeito a certos limites
justificados pelo objectivo de interesse geral
Tratado? prosseguido pela Comunidade, desde que os direitos em
questão não sejam substancialmente afectados. (...)
• O decreto 79/98 sobre recuperação de
• Não há razão para concluir que a directiva tenha
óleos usados é compatível com o DC? excedido esses limites. (...)
• A directiva deve ser vista na perspectiva da protecção do
ambiente, que é um dos objectivos essenciais da
Comunidade

21
Importa recordar que, segundo jurisprudência assente, toda e qualquer legislação
comercial dos Estados-Membros susceptível de entravar, directa ou indirectamente,
efectiva ou potencialmente, o comércio intracomunitário deve ser considerada uma
medida de efeito equivalente a restrições quantitativas na acepção do artigo 28.° CE
(v., designadamente, acórdão Dassonville, já referido, n.° 5).
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE 34 Resulta de jurisprudência igualmente assente que o artigo 28.° CE reflecte a
obrigação de respeitar os princípios da não discriminação e do reconhecimento
JUSTIÇA 10 DE FEVEREIRO DE mútuo dos produtos legalmente fabricados e comercializados noutros
Estados-Membros, bem como a de assegurar aos produtos comunitários um livre
2009 acesso aos mercados nacionais (v., neste sentido, acórdãos de 14 de Julho de
1983, Sandoz, 174/82, Recueil, p. 2445, n.° 26; de 20 de Fevereiro de 1979,
Rewe-Zentral, dito «Cassis de Dijon», 120/78, Colect., p. 327, n.os 6, 14 e 15; e Keck
Processo C-110/05 e Mithouard, já referido, n.os 16 e 17).
Comissão vs. Itália 35 Assim, constituem medidas de efeito equivalente a restrições quantitativas os
obstáculos à livre circulação de mercadorias resultantes, na falta de harmonização
das legislações nacionais, da aplicação a mercadorias provenientes de outros
Estados-Membros, onde são legalmente fabricadas e comercializadas, de regras
relativas às condições a que essas mercadorias devem obedecer, mesmo que
essas regras sejam indistintamente aplicáveis a todos os produtos (v., neste
sentido, acórdão Cassis de Dijon, já referido, n.os 6, 14 e 15; de 26 de Junho de
1997, Familiapress, C-368/95, Colect., p. I-3689, n.° 8; e de 11 de Dezembro de
2003, Deutscher Apothekerverband, C-322/01, Colect., p. I-14887, n.° 67).

36 Pelo contrário, a aplicação a produtos provenientes de outros


Estados-Membros de disposições nacionais que limitem ou proíbam determinadas • Essa proibição pode ser justificada por uma das
modalidades de venda, na medida em que estas disposições se apliquem a todos razões de interesse geral enumeradas no artigo
os operadores que exerçam a sua actividade no território nacional e afectem da
mesma forma, tanto de direito como de facto, a comercialização dos produtos 30.° CE ou por exigências imperativas (v.,
nacionais e dos provenientes de outros Estados-Membros, não é susceptível de designadamente, acórdãos de 19 de Junho de 2003,
entravar directa ou indirectamente, efectiva ou potencialmente, o comércio entre
os Estados-Membros, na acepção da jurisprudência iniciada pelo acórdão
Comissão/Itália, C-420/01, Colect., p. I-6445, n.° 29, e
Dassonville, já referido. Com efeito, desde que essas condições se encontrem de 5 de Fevereiro de 2004, Comissão/Itália, C-270/02,
preenchidas, a aplicação de regulamentações desse tipo à venda de produtos
provenientes de outro Estado-Membro que obedeçam às regras aprovadas por
Colect., p. I-1559, n.° 21). Em ambos os casos, a
esse Estado não é susceptível de impedir o seu acesso ao mercado ou de o disposição nacional deve ser adequada para garantir
dificultar mais do que dificulta o dos produtos nacionais (v. acórdão Keck e
Mithouard, já referido, n.os 16 e 17).
a realização do objectivo prosseguido e não
37 Por conseguinte, devem ser consideradas medidas de efeito equivalente a ultrapassar o necessário para atingir esse objectivo
restrições quantitativas à importação, na acepção do artigo 28.° CE, as medidas (acórdãos de 15 de Março de 2007,
adoptadas por um Estado-Membro que têm por objectivo ou por efeito tratar de
forma menos favorável os produtos provenientes de outros Estados-Membros, Comissão/Finlândia, C-54/05, Colect., p. I-2473,
bem como as medidas referidas no n.° 35 do presente acórdão. O mesmo conceito n.° 38, e de 20 de Setembro de 2007,
engloba igualmente qualquer outra medida que crie obstáculos ao acesso ao
mercado de um Estado-Membro de produtos originários de outros Comissão/Países Baixos, C-297/05, Colect., p. I-7467,
Estados-Membros. n.° 75).

No que diz respeito, por um lado, ao carácter adequado da 65 No que se refere, por outro lado, à apreciação do carácter necessário da
referida proibição, importa ter em conta o facto de que, em virtude da jurisprudência
proibição estabelecida no artigo 56.° do Código da Estrada, a do Tribunal de Justiça recordada no n.° 61 do presente acórdão, no domínio da
República Italiana alega que introduziu essa medida pelo facto de segurança rodoviária, o Estado-Membro pode decidir sobre o nível a que pretende
não existirem, a nível comunitário ou nacional, regras de garantir essa segurança e sobre a forma como esse nível deve ser atingido. Podendo
homologação que permitam assegurar o carácter não perigoso da esse nível variar de um Estado-Membro para outro, há que reconhecer aos
Estados-Membros uma margem de apreciação e, por conseguinte, o facto de um
utilização de um motociclo com um reboque. Não existindo essa Estado-Membro impor regras menos estritas do que as estabelecidas por outro
proibição, a circulação de um conjunto composto por um Estado-Membro não pode significar que estas últimas sejam desproporcionadas (v.,
motociclo e um reboque não homologados poderia ser perigosa por analogia, acórdãos de 13 de Julho de 2004, Comissão/França, C-262/02, Colect.
tanto para o condutor desse veículo como para outros veículos p. I-6569, n.° 37, e de 11 de Setembro de 2008, Comissão/Alemanha, C-141/07,
ainda não publicado na Colectânea, n.° 51).
em circulação, pois afectaria a estabilidade desse conjunto assim
66 No caso em apreço, a República Italiana sustenta, sem ser contraditada
como a sua travagem. quanto a este ponto pela Comissão, que a circulação de um conjunto composto por
64 A este respeito, deve observar-se que a referida proibição um motociclo e um reboque representa um perigo para a segurança rodoviária. Ora,
embora seja verdade que compete ao Estado-Membro que invoca uma exigência
é apta a realizar o objectivo de garantir a segurança rodoviária.
imperativa para justificar o entrave à livre circulação de mercadorias demonstrar que
a sua regulamentação é adequada e necessária para atingir o objectivo legítimo
prosseguido, este ónus de prova não pode ir até à exigência de que esse
Estado-Membro demonstre, pela positiva, que nenhuma outra medida imaginável
poderia permitir realizar o referido objectivo nas mesmas condições (v., por analogia,
acórdão de 23 de Outubro de 1997, Comissão/Países Baixos, C-157/94, Colect.,
p. I-5699, n.° 58).

22
• Atendendo a estes elementos, impõe-se
concluir que a proibição de tracção de
reboques por motociclos, reboques esses
especialmente concebidos para os mesmos e
legalmente produzidos e comercializados em
Estados-Membros diferentes da República
Italiana, deve ser considerada justificada por
razões relativas à protecção da segurança
rodoviária.
• 70 Por conseguinte, há que julgar a acção
da Comissão improcedente.

23

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