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ISSN 1809-4139

O ambiente lúdico como fator motivacional.

O AMBIENTE LÚDICO COMO FATOR MOTIVACIONAL NA


APRENDIZAGEM ESCOLAR.

THE PLAY ENVIRONMENT AS A MOTIVATIONAL FACTORIN SCHOOL


LEARNING.
Karen Kaufmann-Sacchetto
Vanessa Madaschi
Geraldo Henrique Lemos Barbosa
Priscilla Ludovico da Silva
Raquel Caetano Teixeira da Silva
Beatriz Tomás da Cruz Filipe
João Roberto de Souza-Silva

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Sobre os autores RESUMO


Karen Kaufmann-Sacchetto A atividade lúdica, que pode se expressar no jogo, no brinquedo ou brincadeira,
Pedagoga pelo IUP, Especialista
tem importância fundamental na educação escolar e na formação do homem. Ela
em Distúrbios de Aprendizagem
Pelo CRDA/UFABC, Mestranda permite ao educador perceber traços da personalidade e do comportamento do
em Distúrbios do Desenvolvimento educando, o que facilita o planejamento de estratégias pedagógicas no ambiente
pela UPM. karenks@terra.com.br lúdico, promovendo a motivação para uma melhor aprendizagem. O objetivo
desse estudo foi fomentar uma reflexão sobre a importância do ambiente lúdico
Vanessa Madaschi como fator motivacional para a aprendizagem escolar de crianças. A inserção de
Terapeuta Ocupacional pela momentos específicos para o brincar, no ambiente escolar, deve ser utilizada nos
UFSCAR, Mestranda em processos de aprendizagem como uma estratégia útil para incentivar a
Distúrbios do Desenvolvimento
participação da criança na realização das atividades. A brincadeira possibilita o
pela UPM, Bolsista CAPES.
desenvolvimento de aptidões físicas, mentais e emocionais. Educadores
Geraldo Henrique Lemos Barbosa acreditam que quando a vivência de experiências lúdicas é adequada ao estágio
Psicólogo pela Universidade Vale de desenvolvimento da criança, resultará em uma aprendizagem rica e duradoura.
do Rio Doce, Teólogo pelo
Seminário Presbiteriano do Sul, Palavras-chave: síndrome de Down, família, pai.
Especialista em Administração
Escolar pela Universidade Cândido ABSTRACT
Mendes, Mestre em Teologia pelo
Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper ,
Playful activity, which can be expressed in games and toys, is fundamentally
Mestrando em Distúrbios do important in early academic and general education. It allows an Educator to
Desenvolvimento pela UPM. understand personality traits and behavior, which facilitates strategic planning for
playful learning activities, while promoting motivation and learning. This study
Priscilla Ludovico da Silva focuses was to foster a discussion about the importance of the environment as a
Fisioterapeuta pela USC, motivational factor for playful learning school children. The introduction of
Mestranda em Distúrbios do specific playful moments in school must be used in the teaching process as a
Desenvolvimento pela UPM. strategy to motivate children to participate in activities. Playing affords physical
Raquel Caetano Teixeira da Silva
development, mental stimulus, and emotional growth. Educators believe that
Terapeuta Ocupacional pela PUC when playful activities are well introduced in early childhood education, the
de Campinas, Mestranda em learning experience is much more productive.
Distúrbios do Desenvolvimento
pela UPM. Keywords: Down syndrome, family, father.
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CCBS – Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.11, n.1, p. 28-36, 2011
ISSN 1809-4139
O ambiente lúdico como fator motivacional.

Beatriz Tomás da Cruz Filipe


Psicóloga pela Universidade
Agostinho Neto (Angola),
Mestranda em Distúrbios do
Desenvolvimento pela UPM.

João Roberto de Souza-Silva


Psicólogo pela UPM, Mestrando
em Distúrbios do Desenvolvimento
pela UPM, Bolsista CAPES.

Apoio Financeiro:
CAPES
Mackpesquisa

1-INTRODUÇÃO modo, a atividade lúdica tem importância


fundamental na educação escolar, na formação
do ser humano e permite ao educador perceber
A atividade de brincar é inerente ao traços da personalidade e do comportamento do
desenvolvimento humano. Por meio de jogos e educando, o que facilita o planejamento de
brincadeiras, somos capazes de simular e estratégias pedagógicas no ambiente lúdico,
exercitar situações do dia-a-dia permeadas pela promovendo a motivação para melhor
aprendizagem e socialização, permitindo que aprendizagem (LOPES, 2009).
desenvolvam a confiança em si e o aparato
Anastasiou e Alves (2005) diferenciam
cognitivo.
aprender de apreender. Ao apreender o aluno se
Este artigo tem o intuito de fomentar apropria do conhecimento, ao passo que quando
uma reflexão sobre a importância do ambiente aprende, apenas recebe a informação e a retém
lúdico na aprendizagem escolar das crianças, na memória. No ato de brincar é que a criança,
pois é também por meio do brincar e da de forma privilegiada, apropria-se da realidade
brincadeira que a criança desenvolve aptidões imediata, atribuindo-lhe significado,
físicas, mentais e emocionais e encontra a desenvolvendo a imaginação, emoções e
motivação para seu desempenho. Por meio de competências cognitivas e interativas. E os
uma prática pedagógica que desequilibre os brinquedos são os instrumentos que fazem com
alunos, sondando seus conhecimentos, que as crianças compreendam que o mundo está
problematizando situações, permitindo que cheio de possibilidades, pois estes são
busquem por respostas em um ambiente lúdico, ferramentas que permitem simbolizar os dilemas
e desafiador alcançaremos, sem sombra de e dicotomias do cotidiano.
dúvidas uma aprendizagem significativa e
Considerando esta abordagem, este
perene.
estudo teve como objetivo fazer uma breve
Uma infância estimulante, com discussão de alguns elementos relacionados a
brincadeiras apropriadas a cada etapa de conceitos e fundamentos sobre o ambiente
desenvolvimento, contribui para a formação de lúdico como fator motivacional para a
uma personalidade mais íntegra, saudável e aprendizagem escolar.
completa. Um ambiente adequado e motivador
poderá delinear a qualidade de experiências que
serão vividas pela criança. 2- MÉTODO
Situações lúdicas auxiliam a criança a
lidar com sentimentos, contribuindo com o O presente estudo é de cunho teórico
amadurecimento e colaborando para as decisões baseado em levantamento bibliográfico nas
que tomará posteriormente na vida adulta. Desse bases de dados da Bireme com os termos:
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lúdico, aprendizagem, motivação e escola no alunos, mas os levamos a aprender a aprender


período compreendido entre 1999-2009. Os fazendo.
artigos foram selecionados a partir do foco de
interesse do trabalho e foram incluídos alguns
autores de livros e dissertações. Motivação educacional no ambiente lúdico

3- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo Myers (1999) a motivação


pode ser compreendida como um
comportamento orientado para um de
A Aprendizagem determinado objetivo. Para Sampaio (2009)
Maslow afirma que a motivação da pessoa não é
fragmentada, mas sim deve ser analisada
A aprendizagem é entendida como uma globalmente. Ela está associada a uma
mudança relativamente permanente do finalidade, pois está sempre presente e em
comportamento; basta observar uma criança transformação, na medida em que ao se alcançar
para discernir comportamentos automáticos dos um objetivo, um novo se instala. O homem, em
que são produtos de aprendizagem. A criança suas palavras, é um “animal desejante” e nunca
nasce com potencial para aprender, contudo o alcança a satisfação completa.
aprendizado só ocorrerá em função das
Para Soler e colaboradores (2004), a
experiências. Ao mesmo tempo, existem
motivação pode ser entendida como um
limitações, pois há a necessidade de um maduro
“processo cognitivo gerado a partir de uma
aparato físico, motor, neurológico e sensorial
necessidade (desejo) a qual determina o
para que a aprendizagem aconteça. Ao superar
comportamento de um indivíduo na busca de
esses limites considera-se que as crianças estão
um objetivo” (p.14). De acordo com Bzuneck e
“prontas” para aprender (ANTUNES, 2003).
Guimarães (2007) na motivação intrínseca o
O aprendizado humano pressupõe uma aluno fica motivado quando a atividade tem um
natureza social específica, pois ele integra fim em si mesma e se torna interessante e
vários processos internos de desenvolvimento, prazerosa. Já na motivação extrínseca, segundo
que são capazes de operar somente na interação Neves e Boruchovitch (2007), um aluno estará
da criança com o ambiente e quando estão com extrinsecamente motivado quando realiza uma
seus pares. Após a internalização desses tarefa em busca de recompensas externas,
processos, os mesmos tornam-se parte das sociais ou materiais.
aquisições do desenvolvimento dela
Em outras palavras, ao despertar a
(VIGOTSKI, 2008).
curiosidade aumenta-se o engajamento, a
Cordazzo e Vieira (2008) enfatizam a motivação intrínseca e a retenção do conteúdo
importância da inserção de momentos pelo aluno, ou seja, sua aprendizagem. Assim, a
específicos para o brincar no ambiente escolar, motivação seja ela extrínseca e intrínseca têm
devido a sua colaboração no processo do papel fundamental e facilitador na
desenvolvimento humano e a grande motivação aprendizagem. Para uma criança não há nada
que as crianças possuem para isso. mais motivador que um ambiente rico de
Nos paradigmas contemporâneos têm- possibilidades para ela interagir, comunicar,
se abandonado gradativamente práticas arcaicas criar, ousar, aprender e apreender.
e têm-se também buscado pautar os
planejamentos escolares não em seus fins, mas
O Ambiente Lúdico
sim em seus processos tendo como mote os
pilares educacionais em que não se ensinam os
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Segundo Lopes (2009), a política de Na esfera escolar, portanto é


valorização da educação infantil no Brasil, é imprescindível que educadores e gestores sejam
uma conquista recente, bem como a legislação absolutamente conhecedores da maneira pela
vigente. De acordo com Maluf (2008) o qual os alunos aprendem. Afinal o foco na
ambiente lúdico precisa ser levado a sério para educação hoje é o aprender a aprender e o papel
assim contribuir para o desenvolvimento de do professor é de ser um desestabilizador e
competências e habilidades no processo de direcionador. O ambiente lúdico é o campo
aprendizagem. O ato de brincar vai oportunizar fértil para eu essa aprendizagem significativa
as vivências inocentes e simples da essência ocorra. Ao sondar os conhecimentos prévios dos
lúdica, possibilitando à criança o aumento da alunos, problematizar os fatos e fornecer
autoestima, autoconhecimento de suas ferramentas que auxiliem os alunos a
responsabilidades corporais e culturais, por sistematizar este conhecimento, em um espaço
meio das atividades de socialização. propício, munidos de ferramentas que permitam
o jogo simbólico, a expressão da criatividade e
Segundo Biscoli (2005) ao deixarmos a
da fantasia não há como negar a ocorrência de
criança se expressar respeitando sua
uma aprendizagem de fato.
individualidade, linguagem e imaginação,
valorizamos sua autoestima. Sendo assim, é
imprescindível pensar em uma educação que
A inter-relação do brincar, brincadeira e jogo no
priorize a sensibilidade e respeite os processos
ambiente lúdico
criativos da criança.
Desse modo, o ambiente lúdico
possibilita às crianças o enriquecimento de suas Marcellino (2009) defende que o lúdico
próprias capacidades mediante o estímulo, a apresenta-se como um termo de difícil
iniciativa, a melhoria nos processos de conceituação, sendo até mesmo utilizado como
comunicação e criatividade que são, certamente, similar pelos termos jogo, brinquedo,
características fundamentais da atividade lúdica, brincadeira ou festa. Segundo ele, o lúdico é um
que pode ser vivenciada nas diferentes faixas “componente da cultura historicamente situada”
etárias adequando-se às metodologias e (p.18).
procedimentos em cada etapa do Para Carvalho (2009), a atividade
desenvolvimento. A criança, na atividade lúdica é uma das condições essenciais para o
lúdica, projeta seu modo de ser e por meio dela, desenvolvimento humano e sua manifestação
é auxiliada a expressar com maior facilidade os pode expressar-se no jogo, no brinquedo ou
seus conflitos e dificuldades (MALUF, 2008). brincadeira, em processos terapêuticos ou de
O brincar é um comportamento que aprendizagem.
leva ao prazer, possui um fim em si mesmo, é De acordo com Rezende (2008), o
uma oportunidade para a criança expressar suas brincar tem sido um desafio para teóricos e
fantasias internas e, dependendo da idade e do pesquisadores há vários anos. Historicamente a
contexto da criança, possui regras que o autora relembra as definições do brincar desde
conduzem, está ligado aos aspectos do 1932, a partir de Parten, que descreve a
desenvolvimento físico e à atividade simbólica. sequência do brincar considerando as relações
Justifica-se, assim, a importância da inserção da que a criança estabelece brincando, até os
brincadeira no ambiente escolar, devido à sua conceitos trazidos por Ferland (2006), para
colaboração no desenvolvimento humano e a quem
grande motivação que as crianças revelam para
brincar (CORDAZZO; VIEIRA, 2008). [...] o brincar constitui um meio
privilegiado de interação e de evolução para
a criança. É um poderoso mecanismo de

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aprendizagem com o qual a criança adquire Segundo Burns e MacDonald (1999), o


conhecimento, desenvolvendo suas brincar deve ser utilizado ao máximo em todos
capacidades de raciocínio, criando e os processos de aprendizagem, como uma
resolvendo problemas (p.32).
estratégia útil para incentivar a participação da
criança na realização das atividades,
contribuindo, assim, para a adequação da
Para Aranega, Nassim e Chiappetta
autonomia e da capacidade de comunicação das
(2006), o brincar merece lugar especial na
crianças (OLIVEIRA; MILANI, 2003).
prática pedagógica, pois possibilita às crianças a
assimilação da cultura e dos valores, de maneira O brincar pode ser entendido como um
criativa e social. O educador tem uma função estágio entre as restrições puramente
fundamental na garantia e enriquecimento da situacionais da primeira infância e o
brincadeira como atividade social da criança, pensamento adulto, que pode ser totalmente
criando os espaços, adequando os materiais e desvinculado de situações reais, uma vez que
partilhando as brincadeiras. são os processos de simbolização que
desenvolverão o pensamento abstrato
Considerando que, atualmente, as
(VIGOTSKI, 2008).
crianças começam a frequentar cada vez mais
cedo a escola, torna-se importante que os Segundo Antunes (2003), a palavra
educadores utilizem o lúdico como um recurso jogo expressa gracejo e provém de jocu,
privilegiado na intervenção educativa. A substantivo masculino de origem latina; no
configuração da educação infantil contempla as sentido etimológico, significa brincadeira, ou
seguintes abordagens: a brincadeira livre, um passatempo que está sujeito a regras.
objetivando a socialização e a brincadeira
Para as crianças, jogos valiosos são
dirigida, principalmente por meio dos jogos
aqueles que despertam interesse e há progressos
educativos, visando à escolarização.
expressivos no desempenho dos jogadores. O
(ARANEGA; NASSIM; CHIAPPETTA, 2006).
jogo terá para cada indivíduo um efeito sobre a
Por outro lado, ao tratarmos o brincar sua inteligência, é seu mais eficiente
de crianças com deficiências ou distúrbios do estimulador e de forma alguma pode ser
desenvolvimento, essa prática envolve uma generalizado. No espaço do jogo a criança pode
abordagem mais acurada. satisfazer simbolicamente seus anseios.
Socialmente o jogo impõe o controle dos
De acordo com Messa e colaboradores
impulsos e a aceitação das regras que são
(2005):
estabelecidas pelos que jogam e não impostas
A importância do lazer na infância, embora por qualquer estrutura alienante (ANTUNES,
explícita nas declarações e políticas 2003).
públicas no contexto brasileiro, não vem
sendo privilegiada efetivamente nas ações, Segundo Biscoli (2005) a criança
como se o lazer, o brincar e o lúdico não fantasia e assume papéis imaginários. Quando a
fossem práticas imprescindíveis na criança não possui o objeto para representar ela
qualidade de vida e no desenvolvimento do pode substituí-lo por outro, dando-lhe o sentido
ser humano, principalmente quando se trata que deseja, dependendo das características e
de pessoas com deficiência [...]
propriedades destes. Uma caneta pode, por
Considerando a importância do tema para
exemplo, representar um termômetro, um talher
esta população, torna-se relevante discutir o
brincar, considerando seu caráter lúdico, ou um pente em uma substituição lúdica. Já uma
propício para a elaboração do pensamento e bola, não serviria neste caso, pois não haveria
para as interações sociais. (p. 14) uma adequação do seu uso.
A generalização é uma característica
importante que é própria da atividade lúdica;
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[...] possibilita que as ações lúdicas tenham um A manipulação do brinquedo leva a criança à
limite mais amplo e assim a criança possa ação, representação e imaginação. Mostra-se
utilizar recursos das substituições que faz com como uma das mais eficientes formas de
os objetos (BISCOLI, 2005, p. 41). comunicação com a criança e proporciona
diversão, relaxamento, diminuição da ansiedade
Biscoli (2005) pondera que a
e meios de expressar os sentimentos
brincadeira é a ação que a criança tem para
(FALEIROS; SADALA; ROCHA, 2002).
desempenhar as regras do jogo na atividade
lúdica. Utiliza-se do brinquedo, mas ambos se A introdução de brinquedos e
distinguem. As crianças, numa perspectiva brincadeiras na escola requer espaço e materiais,
histórico-cultural imitam e reinterpretam o estímulo à interação entre as crianças e
mundo adulto, transformando as relações sociais compreensão por parte dos professores das
e intervindo ativamente. Na idade pré-escolar, a diferentes formas de brincar, relevantes para
brincadeira ocorre em virtude da necessidade da cada criança em determinado momento (LEITE;
criança em se apropriar das ações desse SHIMO, 2007).
universo.
De acordo com Biscoli (2005) no
Segundo Pontes e Magalhães (2003) as brinquedo não há necessariamente regras
brincadeiras tradicionais e populares possuem envolvendo seu uso e funcionamento. O
padrões lúdicos universais, que mesmo com brinquedo é o que permite a materialização das
suas características regionais, têm estruturas de representações que a criança faz, que por sua
regras muito semelhantes. Para eles, a vez é livre para usá-lo como quiser. O
brincadeira também pressupõe aprendizagem brinquedo é o suporte das brincadeiras e “um
social, pois através dela “aprendem-se as substituto dos objetos reais no caso da
formas, os vocabulários típicos, as regras e o brincadeira do faz-de-conta” (p.25).
seu momento de enunciá-las, as habilidades
Lisboa (2007) fez um relato carregado
específicas requeridas para cada brinquedo, os
de emoção com seus resultados obtidos em
tipos de interações condizentes, etc.” (p. 118).
intervenção lúdica focada no esporte e mídia,
Para Vigotski (2008), a participação de que não discorreremos aqui, feita com alunos de
outras pessoas é imprescindível para promover 2ª série (3°) ano, que teve na participação do
o desenvolvimento infantil e o brincar é aluno, no diálogo e a alteridade os pressupostos
essencial para o desenvolvimento cognitivo da para sua pesquisa. Para a autora, opinião da qual
criança, pois os processos de simbolização e nosso grupo também se apropria, considera os
representação a levam ao pensamento abstrato. alunos como parceiros na prática pedagógica.
Eles são agentes ativos no processo de
conhecimento em busca da sua autonomia e
Brinquedo: O instrumento para a ação lúdica emancipação. Como atores sociais ativos
precisam ser considerados e ouvidos. A autora
discorre sobre a euforia demonstrada pelas
Para Oliveira (1986), o brinquedo crianças na intervenção ao perceberem que
constitui-se em um objeto palpável e finito estavam sendo valorizadas em suas
podendo ser constituído por diferentes formas potencialidades e com esta motivação
de criação, desde as artesanais até as contribuíam com a prática investigativa.
industrializadas.
Assim, educadores e pesquisadores
De acordo com Bomtempo (1999), o necessitam embasar sua prática em trilhas
brinquedo é um objeto que reproduz valores e lúdicas que remetam á infância em busca da
conceitos de uma sociedade e deve ser visto formação de seres saudáveis, cognitiva, psíquica
como parceiro da criança na brincadeira. e emocionalmente. Ancorando seus novos

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saberes em saberes já assimilados os alunos Assim, proporcionar um ambiente


serão capazes de extrapolar para a interpretação lúdico que permita elucubrações, fantasias e uso
da comunidade e sociedade. da criatividade, sondando, criando situações-
problema, desafiando-os e provocando-os a
trazer para o seu cotidiano o uso prático daquele
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS novo conhecimento, poderá tornar a
aprendizagem dinâmica, divertida e perene.

Por meio deste estudo percebeu-se que Por meio deste estudo pudemos
as definições de brincar, jogo e brincadeira concluir que para que tenhamos um corpo
locados em um ambiente lúdico estão de tal discente automotivado é necessário que
forma imbricadas e sobrepostas que apesar da educadores, gestores e demais profissionais
importância das diferenças conceituais, dentro envolvidos no processo educativo,
do ambiente lúdico elas têm praticamente o compreendam o alunado como ávido pelo novo
mesmo propósito que é possibilitar o e pelo conhecimento, mas que para tanto
desenvolvimento das crianças, pois a infância é precisamos compreender que só ocorrerá um
marcada por muitas brincadeiras que colaboram aprendizado significativo, desestabilizando-o,
para a apreensão de conceitos e para o proporcionando-lhe um ambiente lúdico que
aprendizado global. permita elucubrações, fantasias e uso da
criatividade, sondando, criando situações-
Com a maturação, experiências de vida problema, desafiando-os e provocando-os a
e bagagem teórica são possíveis despertar trazer para o seu cotidiano o uso prático daquele
diversos sentimentos, aguçar a curiosidade, novo conhecimento. Desta maneira, não haverá
apropriar-se de princípios, valores e escola chata, indisciplina e acomodação. Mas,
perspectivas. Ao identificar a importância do uma aprendizagem dinâmica, divertida e perene.
ambiente e atividade lúdica na aprendizagem de
uma criança será possível transformar a
realidade educacional. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A brincadeira possibilita o
desenvolvimento de aptidões físicas, mentais e
ANASTASIOU, L. G. C; ALVES, L. P, (Orgs.)
emocionais. Uma infância estimulante com
Processos de ensinagem na universidade:
brincadeiras apropriadas a cada etapa de
pressupostos para as estratégias de trabalho em
desenvolvimento, em um ambiente adequado e
aula. 5. Ed., Joinville: Univille; 2005.
motivador, estabelecerá a qualidade de
experiências que serão vividas pela criança e ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das
contribuirá para a formação de uma múltiplas inteligências. 12. ed. Petrópolis, RJ:
personalidade íntegra e completa. Vozes, 2003.
A possibilidade de brincar deve ser ARANEGA, C. D. T., NASSIM, C. P.,
oferecida a qualquer criança. Portanto, esse CHIAPPETTA, A. L. M. L. A Importância do
pensamento deve estar presente nas reflexões brincar na educação infantil. Rev CEFAC, São
acerca da educação de crianças com Paulo, v.8, n.2, p.141-6, 2006.
desenvolvimento normal ou com crianças que
BISCOLI, I. A. A. Atividade lúdica uma
possuam necessidades especiais de natureza
análise da produção acadêmica brasileira no
motora, de linguagem, sensorial ou cognitiva. A
período de 1995 a 2001. 2005. Dissertação de
privação de experiências lúdicas pode
mestrado, Universidade Federal de Santa
constituir-se em diminuição de oportunidades
Catarina, Florianópolis, 2005.
para o desenvolvimento.

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