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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO


CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

FLÁVIA ALVES DE MACÊDO

AZUL É DE MENINO, ROSA É DE MENINA?


Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca.

Belém

2012

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FLÁVIA ALVES DE MACÊDO

AZUL É DE MENINO, ROSA É DE MENINA?


Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca.

Trabalho de apresentação
como pré-requisito para a
conclusão do curso de
licenciatura plena em
Pedagogia da Universidade
do Estado do Pará.

Belém/PA

2012

2
FLÁVIA ALVES DE MACÊDO

AZUL É DE MENINO, ROSA É DE MENINA?


Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca.

Trabalho de apresentação
como pré-requisito para a
conclusão do curso de
licenciatura plena em
Pedagogia da Universidade
do Estado do Pará.

Data de aprovação:

Banca Examinadora
_________________________________
Profª. Lana Cláudia Macedo da Silva - Orientadora
Drª em Sociologia - UFPA
Universidade do Estado do Pará UEPA
________________________________________
- Examinadora
________________________________________
- Examinadora

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Agradeço a Deus por ter uma família e um companheiro que sempre
demonstram seu amor por mim. E por ter me dado uma filha que fez me
entender e sentir o amor que minha mãe sente por mim.

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AGRADECIMENTOS

Há tantas pessoas a agradecer que tenho medo de esquecer alguém,


mas vamos lá...

As quatro mulheres de minha vida: Francisca Macêdo, minha mãe-avó


que me amou muito e tinha o sonho de me ver formada. Ignácia Macêdo mãe-
tia que sempre cuidou de mim, me acordando para eu não chegar tarde à
escola (ela faz isso até hoje!). Minha rainha, melhor amiga e mãe conceição
Macêdo, que sempre esteve e está a meu lado em todos os momentos de
minha vida e é quem mais me apoiou nos estudos. E Beatriz Macêdo, minha
filha linda, razão do meu viver, pessoinha que me faz ser a mãe mais feliz do
mundo e que me ensina tantas coisas que às vezes me sinto mais filha do que
mãe.

Aos homens da minha vida: Antônio Macêdo, meu irmão, amigo e


conselheiro, que ajudou muito durante minha vida acadêmica, principalmente
na elaboração deste trabalho, com indicação de websites, artigos e nas
transcrições das entrevistas feitas na pesquisa de campo. E Mávio Melo, meu
companheiro, amor da minha vida e melhor amigo, que sempre me apoiou
nos estudos, dando-me forças quando eu demonstrava esmorecimento,
cansaço e desânimo.

As Best friends da UEPA: Raphaela Trindade e Suzana Rodrigues,


amigas e companheiras de pesquisa. Fomos juntas
à procura de famílias para nossa pesquisa de campo, na qual mesmo sendo
trabalhos diferentes, se cruzavam em alguns momentos. Nossas vidas de
pesquisadoras foram árduas, pois pegamos chuva, sol, sol e chuva, escutamos
muitos não ( não quero participar da pesquisa , minha mãe não está , agora
não dá , não ...). Trocamos muitas dicas de leituras, opiniões na maneira de
fazer as entrevistas, nos angustiamos e rimos juntas. A Leilane Nunes (Lelê),
Luciane Teixeira (Luci) e Gisele Teixeira, amigas que sempre se ajudaram
trocando conhecimentos, não apenas no TCC, mas durante todo o curso. Cinco
amizades que pretendo continuar cultivando para o resto de minha vida.

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A Lana Macêdo, minha orientadora e referência enquanto educadora,
mulher, mãe e amiga. Professora que me fez crescer muito, tanto na vida
acadêmica como enquanto pessoa. Quando eu crescer, quero ser parecida
com ela.

A Fabíola Macêdo, prima e amiga do coração que se dispôs a fazer a


correção ortográfica do trabalho. E ao amigo Paulo Rezende, quem com todo
carinho do mundo aceitou preparar o abstract do mesmo.

Agradeço ainda a toda a família Macêdo, minha família de origem, às


famílias Oliveira e Melo de que agora faço parte e aos amigos de infância da
Lauro Martins, por acreditarem em mim.

E Por fim, mas não menos importante à Universidade do Estado do


Pará, em especial aos professores e servidores do CCSE (Centro de
Ciências Sociais e Educação), pelos vínculos de amizade e por terem
colaborado significativamente tanto para o meu crescimento pessoal quanto
para o profissional.

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Que diferença da mulher o homem tem?
Espera aí que eu vou dizer, meu bem
É que o homem tem cabelo no peito
Tem o queixo cabeludo
E a mulher não tem.

(Durval Vieira)

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Resumo

MACÊDO, Flávia Alves de. AZUL É DE MENINO, ROSA É DE MENINA?


Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca. 68f. Trabalho de
Conclusão de Curso. Universidade do Estado do Pará, Belém, 2012.

O presente trabalho objetiva analisar como as diferenças de gênero são


manifestadas na educação, em contexto familiar, de meninos e meninas da Vila
da Barca. Por meio da pesquisa de campo se fez abordagem qualitativa,
utilizando entrevistas semi estruturadas, tendo como sujeito cinco famílias. Os
dados foram analisados buscando relacioná-los com teóricos que discorrem
sobre gênero, educação, sexualidade e família. Observou-se como são
distribuídas as tarefas de meninos e meninas no lar, identificando se as
diferenças de gênero contribuem, ou não, para se pensar a educação dos filhos
e verificando se a diferença de gênero estabelece desigualdades entre
meninos e meninas da Vila da Barca. Os resultados da análise apontam existir
diferenças na maneira da família educar meninos e meninas em âmbito
doméstico. No que diz respeito à educação escolar, o estimulo direcionado aos
gêneros é análogo Por outro lado, as famílias estudadas rompem com a
tradicional divisão sexual do trabalho, o que não significa dizer que não haja
diferenças de gêneros nas famílias. Considera-se que este estudo abre as
portas para outros do gênero, pois o fato de nossas interlocutoras não
reforçarem as diferenças de gênero não quer dizer que elas não persistem,
mas sim, que se precisa de mais estudos para que se possa afirmar essa
teoria.

Palavras chave: Gênero. Educação. Sexualidade. Família. Vila da Barca.

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Abstract

MACÊDO, Flávia Alves de. BLUE IS BOY, PINK IS GIRL? Gender and
education in the family context of Vila da Barca. 68f. Course Final Paper. Pará
State University, Belém, 2012.

This paper aims to examine how gender differences are manifested in


education, in the family context, of boys and girls of Vila da Barca, a village of
Belém, Brazil. Through field research, a qualitative approach was done using
semi-structured interviews with five families as subject. The data were analyzed
relating them to theoretical discourse on gender, education, sexuality and
family. It was observed how the tasks are distributed among boys and girls in
the domestic environment, identifying whether gender differences contribute or
not to think about their children's education and verifying if gender differences
establish inequalities between boys and girls of Vila da Barca. The results of the
analysis indicate differences in the family way to educate boys and girls in the
domestic context. On the other hand, there is no persistence of the traditional
sexual division of labor. With regard to school education the stimulus directed to
the genres is analogous.

Keywords: Gender. Education. Sexuality. Family. Vila da Barca.

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SUMÁRIO

CAPITULO I - INTRODUÇÃO 12

1.1. O interesse pelo tema 12

1.2. Problematizando, objetivando e justificando a importância do estudo


do tema. 13

1.3. Trajetória metodológica 14

1.4. Composição do trabalho 15

CAPITULO II - GÊNERO, SEXUALIDADE, FAMÍLIA E EDUCAÇÃO 17

2.1. O surgimento do estudo do gênero 17

2.2. Discutindo gênero, sexo e sexualidade 20

2.3. Pensando a família 23

2.4. Educação 26

2.5. Educando os gêneros 28

CAPÍTULO III A PESQUISA DE CAMPO 31

3.1. A Vila da Barca: o lócus de estudo 31

3.1. Análise de dados 32

3.2. A percepção das mulheres-mães pesquisadas 33

3.2.1. Educação dos filhos 34

3.2.2. Educação de meninos e meninas 38

3.2.3. Atividades esportivas sexuadas 41

10
3.2.4. Distribuição dos afazeres domésticos 44

3.2.5. Comportamento de menino e menina 46

3.2.6. Orientação sobre namoro de meninos e meninas 48

3.2.7. Incentivo à educação segundo o gênero 52

3.2.8. Sobre o futuro dos (as) filhos (as) 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS 58

REFERÊNCIAS 61

APÊNDICES 65

Apêndices A: Roteiro de Entrevista direcionado ás mulheres da Vila da


Barca 66

11
CAPITULO I - INTRODUÇÃO
1.1. O interesse pelo tema
O estímulo e pretensão de entender de maneira mais aprofundada as
diferenças existentes na educação dos gêneros e assim formular o estudo para
o Trabalho de Conclusão de Curso Intitulado Azul é de menino, rosa é de
menina?: Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca , surgiu a
partir de fevereiro de 2011, onde fui bolsista do projeto de pesquisa aprovado
pelo CNPq MULHERES DA BARCA: Análise do Programa Bolsa Família
direcionado às mulheres provedoras da Vila da Barca , coordenado pela
professora Lana Claudia Macêdo da Silva, na Universidade do Estado do Pará.
Onde eu, como bolsista, pude ter acesso a textos que falam das mulheres
chefes de família e, assim, adquirir melhor entendimento sobre o tema, como
também a possibilidade de aproximação dessas mulheres através de eventos e
com o trabalho de campo realizado por meio da aplicação de formulários e
entrevistas semi estruturadas com as mulheres provedoras, mulheres que
provém o sustendo seu e de sua família, da Vila da Barca.
Alguns estudos apontam que os filhos das mulheres chefe de família
possuem maior probabilidade de estarem fora da escola por precisarem entrar
no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar (NOVELLINO, 2004;
SCOTT, 2002). Pude, no entanto, por meio grupo de pesquisa, observar que
em todas as casas que visitei nas quais as mulheres eram chefes de família, as
mesmas faziam o possível para educar seus filhos tanto em casa, no âmbito
familiar, quanto a mantê-los na escola.

Outro estudo realizado em famílias chefiadas por mulheres onde as


mulheres provem o sustento seu e de sua família na capital paraense, afirma
que as meninas são pensadas para desempenharem atividades domésticas
enquanto os meninos são educados para ter o domínio do espaço público
(SILVA, 2010). A afirmação foi vivenciada no relato de uma mãe na Vila da
Barca, onde a mesma dizia que a menina deve ser educada para ficar mais
presa , ou seja, dentro de casa; e o menino, ao contrário da menina, pode ser
criado solto , podendo ficar na rua sem a preocupação de que os vizinhos
pensem maldade a respeito de sua estada na rua. Para ela, a menina não deve

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brincar de peteca e bola porque isso é coisa de menino, devendo se comportar,
saber sentar como uma menina educada, entre outras condutas que a mãe
afirmava serem próprios de meninas e de meninos.

Em estudo sobre mulheres provedoras da camada popular, foi visto que


em seu cotidiano os grupos familiares e domésticos evidenciam uma grande
distinção por idade e gênero, que são as relações sociais entre homens e
mulheres (SCOTT, 1995), sendo certas atividades reconhecidas como mais
femininas e outras mais masculinas, outras para os mais velhos e outras para
os mais novos sem a necessidade de associar a noção própria de chefia.
Sendo o reforço de chefia na família vindo dos próprios espaços que invocam a
autoridade de um gênero sobre o outro, ou seja, os espaços públicos
promovem essa diferenciação (SCOTT, 2002). Notou-se que essa distinção de
gênero, existente nas famílias, não é transmitida aos filhos nos lares visitados
na Vila, pois a menina não é incumbida de atividades ditas própria de meninas
e os meninos com atividades próprias de meninos.

A partir de então, tive interesse em saber se as famílias que vivem na


Vila da Barca priorizam aos seus filhos a educação escolar e se tal prioridade é
destinada igualmente entre os filhos homens e mulheres, ou seja, se o estímulo
oferecido às mulheres para estudar é o mesmo dado aos homens, se a mulher
é destinada da mesma maneira que o homem a trabalhar em espaços públicos
e observar as diferenciações existentes na educação familiar dos gêneros.

1.2. Problematizando, objetivando e justificando a importância do estudo


do tema.
De acordo com as leituras acerca das mulheres chefes de família e com
as respostas das mulheres provedoras da Vila da Barca sobre educação, se
manifestou a necessidade de saber: Como as diferenças de gênero são
manifestadas na educação, em contexto familiar, de meninos e meninas
da Vila da Barca?

Para responder a questão acima o trabalho possui como, objetivo


principal, analisar como as diferenças de gêneros são manifestadas na

13
convivência familiar de meninos e meninas da Vila da Barca. Os objetivos
secundários são: Observar e compreender como são distribuídas as tarefas
de meninos e meninas no lar; Perceber como as diferenças de gênero
contribuem, ou não, para se pensar a educação dos filhos; Verificar se a
diferença de gênero estabelece desigualdades entre meninos e meninas da
Vila da Barca.

O estudo sobre como as diferenças de gênero são manifestadas na


educação, em contexto familiar, possibilitará a percepção de que, além da
escola ensinar desde cedo o que é ser menino e o que é ser menina, a
diferença dos papéis femininos e masculinos (DRUMOND, 2006), as famílias
também demonstram essas diferenças de papéis reafirmando e contribuído
para a visão da escola de que, segundo Louro (2005), há um mundo público
masculino e um mundo doméstico feminino, ou indicando atividades próprias
de homens e atividades próprias de mulher, ignorando a pluralidade de
atividades exercidas pelos sujeitos

Existem diversas teorias para explicar as diferenças entre homens e


mulheres nas suas mais variadas dimensões como características físicas,
psicológicas, comportamentais, habilidades e aptidões, talentos e capacidades
onde são usados para nomear e demonstrar as posições sociais, o destino e
possibilidades que se diz próprio de cada gênero (LOURO, 2005). E, por meio
do estudo proposto, haverá recurso teórico atual para ser analisado, no qual
contribuirá para a averiguação e compreensão do porque as diferenças de
gêneros são, em âmbitos familiares da Vila da Barca, tratadas como
desigualdades.

1.3. Trajetória metodológica


O estudo utiliza uma abordagem metodológica de cunho qualitativo, o
que vem ressaltar a descrição e averiguação das percepções sociais dos
sujeitos envolvidos, facilitando o entendimento dos fenômenos sociais que os
cercam.
Foi adotada a pesquisa de estudo de caso com a realização de
entrevistas semi estruturadas, onde foram definidos os critérios para a escolha

14
dos sujeitos participantes, o que influencia diretamente na qualidade e no
estudo das informações que possibilitam a construção e a análise para que,
dessa forma, se possa compreender o problema delineado, por permitir o
conhecimento da realidade relatada pelos sujeitos da pesquisa, o que vem
aprofundar o estudo retratando sua complexidade (DUARTE, 2002). A
entrevista é o processo mais usual no trabalho de campo. E por meio dela o
pesquisador busca informes contidos na fala dos atores (NETO, 2004).

O processo qualitativo acontece com cinco famílias, todas da localidade


da Vila da Barca, que têm filho(s) homem(s) e mulher(s), com um roteiro pré-
estabelecido com perguntas abertas discorrendo sobre: a educação familiar
proposta pelas famílias, valores transmitidos por essas famílias e
diferenciações existentes na educação de meninos e meninas entre outras
perguntas pertinentes ao trabalho.

1.4. Composição do trabalho


Sobre a estrutura do trabalho, o capítulo primeiro compõe a introdução,
onde é apresentado o interesse pela temática, o problema, os objetivos, a
justificativa da importância do estudo do tema e a trajetória metodológica da
pesquisa.

O capítulo dois, denominado Gênero, Sexualidade, Família e Educação


aborda o surgimento do estudo do gênero falando da história do movimento
feminista e sua luta por igualdade econômica, social e política. A partir das
ondas feministas discorre sobre o movimento enquanto criador do termo
gênero e sua determinação em estudá-lo, este capitulo também discute as
diferenças dos termos: gênero sexo e sexualidade; A família e seus diversos
arranjos, mostrando que não há um conceito definido do termo por ser algo
subjetivo; A educação presente nas relações sociais com a função essencial de
reprodução cultural e social; E da educação dos gêneros pela família, onde a
mesma transmite seus valores e atribui papéis para cada gênero, revelando
sua relevância enquanto instituição social que constrói a subjetividade de seus
filhos.

15
O capítulo três vem mostrar a pesquisa de campo, sendo apresentado: o
lócus de estudo, ou seja, a Vila da Barca com seu surgimento, suas
características geográficas, os moradores e suas dinâmicas de trabalho. A
análise dos dados coletados na pesquisa. A percepção das mulheres-mães da
pesquisa, onde é relatado o roteiro, duração e os imponderáveis ocorridos ao
longo da pesquisa. Em seguida, são analisadas as oito perguntas destinadas
às famílias sobre a educação dos filhos e das filhas. E as conclusões acerca do
estudo.

16
CAPITULO II - GÊNERO, SEXUALIDADE, FAMÍLIA E
EDUCAÇÃO
2.1. O surgimento do estudo do gênero

Ao longo da história podem-se notar diversas atitudes, sejam elas


isoladas ou coletivas, realizadas em prol da não opressão contra a mulher.
Recentemente há interesse em mostrar tais atitudes por meio de filmes,
documentários, livros, artigos, entre outros. Mas quando se pensa no
feminismo como um movimento social e político os pensamentos reportam-se
ao ocidente no século XIX, pois as manifestações contra a opressão e a
discriminação obtiveram grande visibilidade e expressividade a partir do
sufragismo, movimento que reivindicava o direito de voto das mulheres, sendo
ele reconhecido como primeira onda do feminismo. Esse direito, porém,
estava ligado aos interesses das mulheres brancas e de classe média (LOURO
2011).
O direito ao voto trouxe outras reivindicações como o direito à educação,
a condições dignas de trabalho, ao exercício da docência, onde nesse período
se pode fazer referência a um feminismo burguês, se engajando mais ao direito
ao voto e ao acesso ao ensino superior, que se aliou aos movimentos
socialistas que lutavam pela formação do sindicato e por melhores condições
de trabalho e de salário como também a um movimento anarquista que
articulou a agenda pelo direito à educação. Além disso, o feminismo se engajou
em questões como o direito de decidir sobre o próprio corpo e sobre sua
sexualidade, composto de muitas e diferentes mulheres com muitas e
diferentes necessidades (MEYER, 2010).

Na década de 1960, chamada de segunda onda do feminismo, além


das preocupações sociais e políticas surgem as construções teóricas, onde o
debate entre estudiosas e militantes acontece com críticos/as de um lado e a
problematização do conceito de gênero de outro. Como ressalta Meyer (2010)
essa onda é o reconhecimento da necessidade de um investimento mais
consistente com relação à produção do conhecimento, por meio de
desenvolvimento sistemático de estudos de pesquisa como objetivo que, além

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de denunciar, possibilitará compreender e explicar a subordinação social e a
invisibilidade política às quais as mulheres foram historicamente submetidas.

A idéia de que o mundo doméstico, o privado, é o lugar em que a


mulher deveria estar vem sendo quebrada de forma gradual, já que desde
muito tempo as mulheres das classes trabalhadoras exerciam atividades fora
do âmbito doméstico, isto é, nas lavouras, fábricas, oficinas, ampliando para
lojas, hospitais, escritórios, escolas. No entanto, seus cargos eram tidos como
funções secundárias, como ajuda ou auxílio ao trabalho dos homens ou
ligados a educação por terem habilidades naturais de cuidar e educar em
função da maternidade. As feministas passam então a analisar essas
atividades e o trabalho doméstico, assim como também denunciam a
inexistência feminina nas ciências, arte e letras.

Surgem promoções de eventos, grupos de estudos, revistas, com o


intuito de avançar as análises e acreditar na capacidade das mulheres, mas
esses grupos se isolam do mundo acadêmico, deixando as propostas de unir o
universo feminino às perspectivas da sociedade e as mudanças de paradigma
sobre a mulher difícil de acontecer. Entretanto, há de se considerar a
importância desses primeiros estudos, pois os mesmos levantaram
informações, fizeram estatísticas, mostraram falhas nos registros oficiais,
enfim, falaram também de família, sexualidade, sentimentos, entre outros
assuntos que eram consideram secundários por estarem relacionados ao
universo feminino, dando voz e visibilidade àquelas que não eram vistas ou
ouvidas.

Os estudos feministas possuem um caráter político com pesquisadoras


escrevendo em primeira pessoa, mostrando a relevância das questões que
possuíam uma trajetória histórica que especifica o papel e lugar da mulher,
especificidades essas que os estudos feministas têm como intuito mudar.

As feministas sabiam que relatos e descrições pessoais não seriam


suficientes para explicar a posição da mulher diante da sociedade. Logo, são
usadas para tal explicação as teorizações marxistas para fundamentar suas
análises. Outras acreditam que as fundamentações da psicanálise são mais
produtivas. Há também as que digam ser impossível se basear em uma teoria

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em que o homem é tido como referência, tentando então produzir teorias e
explicações feministas. O que se procura através de tais teorizações é buscar a
causa da opressão feminina, para que se possa desenvolver uma
fundamentação que poderia eliminar a centralidade dessa causa, levando à
emancipação da mulher.

Os argumentos giravam em torno de que homes e mulheres são


diferentes biologicamente e por isso sua relação desigual deriva dessa
diferença, sendo que cada um tem o dever de desempenhar a função que lhe é
determinada. Como afirma Louro (2011), tanto o senso comum como a
linguagem científica têm a distinção biológica como um determinante para se
compreender e justificar a desigualdade social.

Na tentativa de negar o determinismo biológico as feministas anglo-


saxãs passam a usar o termo gender que diferencia sex, com o intuito de,
através da linguagem, mostrar o caráter social das diferenças no sexo. E
desvirtuar a determinação escondida quando se usa os termos sexo ou
diferença sexual.

Não se tem a pretensão de negar que o gênero é constituído de corpos


sexuados quando se mostra o caráter social do mesmo. E, sim, levar o debate
para o campo social, já que é nesse espaço que se desenvolvem e reproduzem
as relações dos sujeitos masculinos e femininos.
Dessa forma, o conceito começa a ser usado como relacional, pois é por
meio das relações sociais que se constrói o gênero. E, mesmo que os estudos
ainda priorizem as mulheres, surgem análises sobre o sexo masculino.
Gênero como substituto de mulheres é igualmente utilizado para sugerir que
a informação a respeito das mulheres é necessariamente informação sobre os
homens, que um implica no estudo do outro. Entendendo gênero como
constituinte da identidade do sujeito tal como a etnia, a classe, a nacionalidade,
etc. (LOURO, 2011).
A terceira onda feminista surge no meio da década de 1980, mas,
historicamente, é reconhecida na década de 90 e vem com o intuito de reparar
as falhas existentes na segunda onda, como a evidência nas experiências das
feministas, mulheres brancas de classe média, onde mulheres negras do

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movimento passam chamar a atenção no movimento e reivindicar, para mostrar
as diferenças vivenciadas por mulheres de distintos grupos sociais e étnicos. A
onda também apresentou o Feminismo da Diferença que argumenta haver sim
diferenças significativas entre os sexos. Diferentemente de uma ideia global e
massificadora que dizia ser uma construção social todo tipo de desigualdade
entre homens e mulheres (JUNIOR, 2011)
O movimento se vê também com a necessidade de se manter como
força independente tanto do ponto de vista organizacional quanto nos ideais de
transformação radical da sociedade. Outra questão é o pós-feminismo, vindo
afirmar que o feminismo está ultrapassado, com ideias sem grande
embasamento teórico que serviriam para atender por algum tempo aqueles que
apostam no retrocesso do movimento (TELES, 1999).
O movimento, durante sua trajetória de luta, possibilitou grandes
conquistas às mulheres. Contudo, foi no século XX que sua visibilidade foi
maior em seus papéis enquanto sujeitos históricos, onde começaram a
participar de diferentes espaços públicos da sociedade, principalmente no
cenário político, profissional e no campo da pesquisa científica referente à área
das Ciências Humanas dando destaque às Ciências Sociais (CONCEIÇÃO,
2009).

2.2. Discutindo gênero, sexo e sexualidade

Gênero é atribuído às relações sociais entre os sujeitos, se


desenvolvendo e constituindo por meio de debates. O termo traz consigo o
estudo das relações e elaboração no que diz respeito a mulheres e homens
nos diversos setores e espaços da sociedade.
Historicamente o termo gênero foi usado mais fortemente por duas
correntes para interpretação e definição na tentativa de conceituar o termo, as
quais são o determinismo biológico e a construção histórica e social do gênero
através das relações sociais entre homens e mulheres.

A corrente determinista biológica afirma que a relações de gênero são


notadas a partir da diferença biológica entre homens e mulheres, o que

20
justificaria as desigualdades sociais dentre esses sujeitos, estabelecendo quem
domina e quem é dominado. Como afirma Bourdieu (2002) à diferenciação
biológica entre os corpos femininos e masculinos, em especial a diferença
anatômica entre os órgãos sexuais, pode traçar a justificativa natural da
distinção social existentes entre os gêneros principalmente na divisão social do
trabalho.

A questão do sexo, as diferenciações anatômicas, biológicas, existentes


em homens e mulheres são importantes para entendermos a relevância dos
elementos e dados biológicos, para se tentar explicar a história, as diferenças
sociais e biológicas e as relações de gênero que são constituídas de
importantes fatores, às quais devemos recorrer inicialmente para entendermos
tal questão. No entanto, a visão biológica traz uma compreensão das relações
de gênero sobre um ponto de vista estável, inflexível, não havendo um
processo histórico e social das relações sociais entre homens e mulheres, o
que acaba por perpetuar a hierarquização dos sexos, sendo o feminino
dominado e contribuindo para negligenciar a compreensão de questões sobre
gênero como um fenômeno social dialético em processo de mudança
(CONCEIÇÃO, 2009).

A construção histórica e social do gênero através das relações sociais


entre homens e mulheres, ocorre por meio das diferenças sociais notadas e
entendidas pela sociedade, considerando a realidade e o contexto em que se
encontra inserida. O termo gênero se constitui nas relações de poder, ou seja,
homens e mulheres são construídos por práticas e relações sociais que
normatizam gestos, modos, postura, regras para disciplinar os sujeitos . Por
esse motivo as relações de poder como a opressão que estabelece as
diferenças devem ir além dos espaços acadêmicos, pois são questões políticas
diz Louro (2011). Sobre isso Scott afirma:

O gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder


político foi concebido, legitimado e criticado. Ele se refere à oposição
homem/mulher e fundamenta ao mesmo tempo o seu sentido. Para
reivindicar o poder político, a referência tem que parecer segura e
fixa, fora de qualquer construção humana, fazendo parte da ordem
natural ou divina. Desta forma, a oposição binária e o processo social
das relações de gênero tornam-se, ambos, partes do sentido do

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próprio poder. Colocar em questão ou mudar um aspecto ameaça o
sistema por inteiro (SCOTT, 1995, p.8).

Assim como o gênero, a sexualidade também sofre imposições políticas


de quem está no poder com a imposição da heterossexualidade como forma
correta de se viver a sexualidade, anulando as outras opções sexuais e
denominando de desvirtuantes os indivíduos que não seguem a norma. Estas,
assim como diversas outras imposições estabelecidas pelas redes de poder,
implicam em um único processo de formação de identidade de gênero, de
identidade sexual e de outras identidades. Louro (2000) vem afirmar que o
reconhecimento de identidades mostra e atribui diferenças, ou seja, implica em
ordenamento de hierarquia que está ligado as redes de poder da sociedade. A
sociedade estabelece um padrão demarcando fronteiras entre aqueles que
estão de acordo com as normas exigidas e os que estão fora dela.

Para a nossa sociedade, historicamente, a norma é ser: homem branco,


heterossexual, de classe média urbana e cristão. E, quem não possui esses
atributos e características são denominados de outros . Por isso a mulher é
vista como segundo sexo, gays e lésbicas são desviantes da norma
heterossexual. Essas diferenciações definem, separam, algumas vezes de
maneira sutil, outras vezes não, como também discriminam os outros
(LOURO, 2000).

A sexualidade, igualmente ao gênero, não é fruto de uma manifestação


biológica ou algo natural, ela é uma experiência histórica e, ao mesmo tempo,
pessoal. Como afirma louro (2000) Há quem acredite que a sexualidade é algo
natural que todos possuímos. Essa concepção não possibilita argumentar a
sua função política e social e afirma que todos vivem seu corpo da mesma
forma. Entretanto, compreendemos que a sexualidade envolve processos
culturais e plurais, ou seja, a identidade de gênero e sexual é construída e
definida pelas relações sociais moldadas pelas redes de poder da sociedade.

Louro (2011) busca em Foucault a compreensão da sexualidade como


uma invenção social, pois se constitui historicamente a partir de vários
discursos sobre sexo que regulam e normatizam, estabelecendo saberes que
produzem verdades, que vêm definir no campo de ação da cultura e da história

22
todas as identidades como as de gênero, sexo, raça, nacionalidade. Somos
sujeitos de identidades transitórias e incertas.

As crianças têm sua identidade construída através das expectativas que


se possui sobre elas, da forma como são tratadas e percebidas, pois desde
cedo apresentam características femininas e masculinas, sendo observadas
reações diante de recém-nascidos e bebês fêmeas se escutar como é meiga,
que tranquila, que rostinho delicado e diante dos bebês machos como é forte,
já se movimenta, é esperto . Assim, esse processo de socialização concretiza-
se na forma de vestir, nas brincadeiras, nas histórias, nos símbolos. Como
também nos aspectos menos visíveis, como atitudes, jeito de falar, pela
aproximação do corpo, entre outros (FARIA, 1998).

2.3. Pensando a família


A história afirma que nenhuma sociedade viveu ou vive à margem de
alguma noção de família, ou seja, de outra forma de relação institucional entre
indivíduos consanguíneos. Mesmo em seus momentos de crise e mudanças a
família sobrevive e se adapta, já que ela subsiste sob múltiplas formas
(PRADO, 1981).
E, quando se pensa em família, vem à mente diversos modelos, as
múltiplas formas de composição dessa unidade social que é a família como: a
família nuclear, ou seja, a família composta de pai, mãe e filho. A família
extensa, que é numerosa, incluindo avós, tios, primos e outros parentes, além
da família nuclear. A família patriarcal é composta não só do núcleo conjugal e
de seus filhos, mas inclui um grande número de indivíduos, parentes,
aderentes, agregados, todos submetidos ao poder absoluto do chefe do clã,
que possui ao mesmo tempo a função de marido, pai e patriarca. Esses são
apenas alguns exemplos de modelos familiares dentre muitos outros
existentes.

Por meio dos modelos citados acima, nota-se que não há uma definição
exata, fixa, do termo família, já que ela se dispõe de vários arranjos, incluindo
os que não foram ditos acima. Sobre o tema Samara (1987) afirma.

23
[...] mergulhar no passado buscando reconstruir a família é enveredar
por muitos caminhos, é o encontro de uma gama variada de
composições ora simples, ora complexas, que vão da unidade
conjugal à extensa, do grupo de sangue ao núcleo doméstico, que
agrega relações não formalizadas apenas pelo parentesco (SAMARA,
1987, p.31).

E, na busca da reconstrução familiar, se procura evidências históricas,


onde estas nos mostram as diversas formas como as famílias progridem e
transformam suas diversas concepções do significado social das relações
estabelecidas entre os indivíduos de uma determinada sociedade.

O modelo ideal de família em nossa sociedade é a família nuclear ou


normal . Percebe-se tal valorização nos livros didáticos que enfatizam imagens
do modelo familiar ideal e nos meios de comunicação como novelas, filmes,
revistas em quadrinhos, etc. Onde são estipulados os papéis do homem e da
mulher na educação dos filhos e a manutenção do bem-estar da família.
Embora o modelo familiar vivido por muitos seja diferente do modelo estipulado
como normal e ideal . Fonseca, ao estudar a família popular de Porto alegre
no inicio do século XX, diz que:

Os conceitos de amor materno da domesticidade conjugal são


particularmente adequados à intimidade da família nuclear moderna ,
isto é à unidade doméstica, onde moram só pai, mãe e filhos e onde
certa divisão de trabalho dá disponibilidade à mãe para se dedicar
inteiramente ao filho. Mas até que ponto esse modelo familiar
corresponde à realidade dos grupos trabalhadores gaúchos no início
do século? A nossa hipótese é de que a família popular de então não
se apresentava na forma de uma unidade doméstica bem limitada,
autocontida, preenchendo todas as funções domésticas que
atribuímos a ela na literatura e sociologia contemporânea. Muito pelo
contrário, era perpassada por outros grupos que competiam pelas
lealdades dos seus membros, criando uma dinâmica social que tinha
pouco em comum com o modelo nuclear moderno (FONSECA, 1989.
p.104).

Isso vem afirmar a percepção de que a valorização da família nuclear


vai contra a realidade não só das famílias de Porto Alegre no início do século
XX e sim de muitas famílias no Brasil do passado e da atualidade. Dessa
forma, desconsiderando os diversos arranjos familiares existentes.

A grande problemática da evolução familiar está na posição da criança


enquanto propriedade dos pais e da mulher enquanto sua posição econômica
dentro da família, o que envolve as questões referentes à distribuição de

24
papéis masculinos e femininos, sendo este um problema-chave para o
surgimento de uma nova estrutura social, porém, não se pode mudar a
instituição familiar sem que mude a sociedade (PRADO, 1981).

Seria equivocado, no entanto, generalizar a submissão do gênero


feminino na família, pois, no Brasil, segundo Samara (1987), estudos apontam
que em São Paulo no período Colonial imagens femininas não condiziam com
os parâmetros convencionais, mesmo considerando a frequente saída
masculina, o que aumentava o número de mulheres chefes de família. O
problema não se dava apenas quantitativamente e, sim, sobre o
comportamento das mulheres quanto à sua condição de submissão, analisados
em testamentos e processos de divórcios, onde mulheres de diferentes níveis
sociais causaram tensões no casamento, provocados por rebeldia ou mesmo
insatisfação. Além de encontrarem mulheres com participação ativa, tanto na
família quanto na sociedade, gerindo negócios e propriedades, assumindo a
chefia e trabalhando para a sobrevivência de sua prole. Apesar do aparato
legal da dominação masculina, não fazia durar para sempre seus privilégios.

Participação e rebeldia que vão além do Brasil Colonial, existindo em


outros países e outras épocas, onde as mulheres passam a ocupar espaços
públicos, que até então seriam espaços específicos do gênero masculino,
assim como mulheres que cada vez mais assumem a chefia do lar.

Sobre as crianças, o Estado procura intervir na criação dos filhos por


meio das escolas, impondo normas educativas e valores, definindo papel de
cada gênero, o que torna difícil aos familiares serem contrários a tais regras.
Contudo, os pais ainda possuem grande parte do poder de decisão sobre os
filhos menores, estes que têm direitos a assistência, educação e participação
em seus bens e lucros.

A família procura reproduzir a própria família, ou seja, seus hábitos,


valores e costumes que serão passados de pais para filhos, de geração em
geração, como a orientação que a criança recebe para ocupar um lugar
especifico na sociedade adulta por meio de seu sexo, raça, crença, status
econômico a social. Quanto aos jovens, eles aprendem as atitudes de pai e

25
mãe, isto tornando-se claro ao observar a educação diferenciada das crianças
conforme o sexo (PRADO,1981).

Assim como toda instituição social, a família possui pontos positivos, por
ser um núcleo afetivo e de solidariedade, e negativos quando impõe
comportamentos tidos como normativos pelas leis, usos e costumes que
implicam formas e finalidades rígidas, tornando-se muitas vezes elemento de
coação social, gerador de conflitos e ambíguo. Porém, apesar dos conflitos, a
família é determinante no desenvolvimento da sociabilidade, afetividade e do
bem-estar físico e social dos individuas, principalmente na infância e na
adolescência (PRADO, 1981). Ela é uma instituição essencial na construção do
processo de subjetividade, sendo esta de algum modo construída, elaborada
ou desenvolvida dependendo do ponto de partida, em função de certas
agências, mediante determinadas instituições, a família é uma instituição
privilegiada (VELHO, 1987).

2.4. Educação

Quando se fala em educação, logo se pensa na escola, mas a


educação está além dos muros dessa instituição, pois a educação não se limita
e não se encontra somente na escola, ela é presente nas relações sociais,
segue uma norma de como homens devem se organizar e reger suas vidas,
como vem afirmar Brandão.

Toda a estrutura da sociedade está fundada sobre códigos sociais de


inter-relação entre os seus membros e entre eles e os de outras
sociedades. São costumes, princípios, regras de modos de ser, às
vezes fixados em leis escritas ou não. "A educação é, assim, o
resultado da consciência viva duma norma que rege uma comunidade
humana, quer se trate da família, duma classe ou duma profissão,
quer se trate dum agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um
Estado. Como outras práticas sociais constitutivas, a educação atua
sobre a vida e o crescimento da sociedade em dois sentidos: 1) no
desenvolvimento de suas forças produtivas; 2) no desenvolvimento
de seus valores culturais. Por outro lado, o surgimento de tipos de
educação e a sua evolução dependem da presença de fatores sociais
determinantes e do desenvolvimento deles, de suas
transformações. A maneira como os homens se organizam para
produzir os bens com que reproduzem a vida, a forma de ordem
social que constroem para conviver, o modo como tipos diferentes de
sujeitos ocupam diferentes posições sociais, tudo isso determina o
repertório de ideias e o conjunto de normas com que uma sociedade

26
rege a sua vida. Determina também como e para quê este ou aquele
tipo de educação é pensado, criado e posto a funcionar (BRANDÃO,
2007, p.74 e 75).

Sabemos que a educação possui como função essencial a reprodução


cultural e social, começando na família, em casa, com os cuidados com o
corpo, com a atribuição de valores, de crença, amor, etc., compondo estruturas
fundamentais da vida social e produtiva, contendo no âmbito social a
transmissão cultural para as novas gerações por meio de diversas instituições
e no âmbito individual que depende do social, pois estão ligados aos objetivos
e relações de poder na família e/ou na escola no que se refere à adesão de
conhecimentos, habilidades, valores e formação de visões que são atribuídos
aos gêneros masculino e feminino. Por meio de pedagogias onde Magalhães e
Ribeiro (2009) buscaram em Steinberg sua explicação que, assim como o
conceito de gênero vai além do caráter biológico, destacando o caráter cultural,
também a pedagogia cultural acredita que a educação acontece nas variadas
áreas sociais, como a escola, mas não somente nela. Essas áreas sociais e
pedagógicas são lugares em que o poder é organizado e disseminado como
bibliotecas, TV, jornais, revistas, livros, cinemas, brinquedos, esportes,
propagandas, vídeo games, entre muitos outros.
A educação está sim em todos os lugares, pois em tudo que se vive, em
todos os lugares em que os indivíduos recebem algum tipo de informação,
aprendem e apreendem algo. Cabendo a quem informa a veracidade das
informações e para melhor compreensão do termo educação vale buscar as
palavras de Paulo Freire (2010), de que a educação é uma forma de
intervenção do mundo onde os conteúdos bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos implicarão tanto no esforço de reprodução da ideologia dominante
quanto ao seu desmascaramento.
Em suas palavras Freire falava da educação escolar, mas que podem
ser aplicadas a todos os âmbitos educacionais, pois os conhecimentos
transmitidos à sociedade pelas instituições (família, religião, escola, etc.) são
regulados pelas redes de poder.
Por esses motivos o homem é a única criatura que precisa ser educada,
receber a educação, que viria ser o cuidado com a infância (conservação e
trato), com a disciplina e a com formação. Consequentemente, o homem é

27
infante, educando e discípulo (KANT, 1996). Mas essa formação não está
somente na infância, ela é constante, pois a todo o momento estamos
aprendendo algo e com alguém sobre algo ou alguém e também a todo o
momento somos lembrados por pais, mães, professores, amigos etc. ou o
individuo por si mesmo se interessa em aprender algo, (BRANDÃO,2007). Pois
ninguém escapa da educação, seja em casa, na rua, na igreja ou na escola de
um modo ou de muitos, todos passam pelo processo educativo, para aprender,
para ensinar, para aprender e ensinar. Para fazer, para ser ou para conviver,
todos os dias misturamos a vida com a educação.

2.5. Educando os gêneros


Há meninas que têm na infância vontade de empinar pipa, brincar de
carrinhos, jogar bola e há meninos que querem brincar de bonecas, casinha
entre outras brincadeiras estabelecidas aos gêneros feminino e masculino, mas
as famílias acabam não permitindo, pois segundo as mesmas há brincadeiras
destinadas a meninos e outras a meninas. Assim como na infância, há também
na adolescência atividades, esportes e símbolos estabelecidos como próprios
de meninos e de meninas, o que acaba por inibir ou até mesmo impedir o
individuo de experimentar atividades que não seriam destinadas ao seu sexo.
Tomemos como exemplo o balé que, segundo as regras impostas pelas redes
de poder, seria uma atividade feminina, então caso um menino se interesse em
aprender essa dança, poderá ser impedido pela família por não ser coisa de
menino o mesmo podendo acontecer com uma menina que se interesse em
aprender lutas marciais, já que os meninos devem ser rudes e usar azul e as
meninas devem ser meigas e usar rosa. Pois como afirma Faria (1998), ser
macho ou ser fêmea é uma questão biológica, porém ser considerado homem
ou mulher implica ser masculino ou feminino, ou seja, seguir o modelo
destinado para cada gênero.
A família é uma das instituições com a tarefa de incorporar essas e
outras imposições que são estabelecidas pelas redes dominantes, onde
algumas apenas repassam essas formas corretas de comportamentos, muitas
vezes não sabendo que os comportamentos ditos próprios de meninos e de
meninas e de homem e de mulher são questões culturais, impostas pelas
instituições de poder e tão antigas como a humanidade.

28
A distinção dos gêneros é fato, porém essas diferenciações são
estabelecidas como características superiores e características inferiores, ou
seja, menina educada para ser comportada, doce e obediente, devendo
permanecer em espaços privados e o menino é educado para ser macho ,
dominador e viver na esfera pública. Parece que se está falando de coisas do
passado, educação inexistente no século XXI. Mas ao longo da história, assim
como havia mulheres, ou mesmo quando criança, que se comportavam
diferente do que lhe era estabelecido, ocupando espaços e com atitudes
determinados como masculinos, há também no século XXI famílias em que as
meninas são educadas para viver em âmbito doméstico e com
comportamentos que vêm reafirmar a hierarquia do masculino sobre o
feminino.

No entanto, deve-se considerar que homens e mulheres são mais do


que homens e mulheres, pois os mesmos são de diferentes classes, raças
religiões, etc. possibilitando vários arranjos de solidariedades e antagonismos
que vão além da redução simplista de homem dominador e mulher dominada.
Mesmo sabendo da existência desses arranjos, também sabemos que há sim o
imperativo do homem sobre a mulher (LOURO, 2011).

Estudos revelam que a forma como as famílias educam meninos e


meninas tem relação com as escolhas pessoais e profissionais na forma como
vive cada gênero. Já que é com a família que a pessoa passa mais tempo,
principalmente nas primeiras fases do desenvolvimento, e por isso, na
interação familiar que acontece de maneira lenta e algumas vezes explicitam a
transmissão dos estereótipos que regulam comportamentos, afetando projeto
de vida mútua, os respectivos percursos individuais, assim como os estilos de
relacionamento. Entretanto, a ideia dos pais de traçar a educação do rapaz e
da moça deve envolver uma visão geral de mundo, especialmente as suas
ideias a respeito da ética, da política, do ensino, da cultura e das
transformações sociais (VIEIRA, 2006).

Os fatos apontam as diferenciações e dominações percebidas ao longo


dos tempos por regras no modo de vestir, de falar, de agir, assim como as
ocupações em espaços privados e públicos que marcam os sujeitos (homem e

29
mulher). Para Louro (2011) a atribuição da diferença está sempre ligada em
relações de poder, sendo ela nomeada de um determinado lugar que se coloca
como referência.

E, enquanto não for reconhecido e problematizado o processo de


transformação dos indivíduos em homem e mulher, serão mantidas as suas
estratégias de naturalização, já que é na infância que se ocorre o processo de
socialização, a partir do que é estabelecido como papel do homem e papel da
mulher, sendo nesse processo que as crianças apreendem o mundo e
constroem sua identidade sexual e de gênero, pois ser macho ou fêmea é um
dado biológico, porém ser homem ou mulher implica ser feminino ou masculino.
Então o gênero aparece como opostos complementares, mas sob forma
hierarquizada, sendo o homem dominador e a mulher dominada. (FARIA,
1998). Nesse sentido, as regularidades da ordem física e da ordem social
impõem e imprimem as medidas que excluem as mulheres das tarefas mais
nobres, marcam lugares inferiores, ensinando a postura correta do corpo,
atribuindo tarefas penosas, baixas e mesquinhas, enfim tirando partido dos
pressupostos fundamentais das diferenças biológicas que parecem assim estar
na base das diferenças sociais (BOURDIEU, 2002).

30
CAPÍTULO III A PESQUISA DE CAMPO

3.1. A Vila da Barca: o lócus de estudo

O período do surgimento da Vila da Barca vem a ser uma incógnita, pois


há controvérsias entre autores ao escreverem a década de origem do local.
Afirma Silva (2011) sobre o assunto.
Não há consenso quanto ao período de nascimento da Vila. Furtado e
Santana (1974) fazem referência a década de 40, versão contestada
por outros estudiosos. Vilar (2008), Farias Junior (2006) e Santos et
al (2010) apontam a data de 1935 como marco no processo de
ocupação da Vila da Barca. Diogo sugere os anos de 1920, a partir
de depoimentos de antigos moradores da localidade, bem como, de
extensa pesquisa bibliográfica baseada em jornais locais, romances e
artigos científicos (SILVA, 2011, p.33).

A Vila encontra-se localizada no município de Belém do Pará, no bairro


denominado de Telégrafo, próximo ao centro da cidade. O nome Vila da Barca
surgiu a partir da apreensão, pela Capitania dos Portos de uma grande
embarcação Portuguesa na área que atracou no local por problemas de
maquinário. Logo a mesma passou a ser moradia da tripulação e, um tempo
depois, de ponto comercial para a venda de produtos, que vinham das ilhas
próximas à capital, como frutas e pescados. Isso acabou atraindo pessoas para
a moradia e comercialização de diversos outros produtos.
Quanto aos sujeitos que habitam ao local, segundo Santos (2010) as
características dos moradores reporta às suas raízes a partir do modo de vida
relacionada ao rio, já que grande parte dessas pessoas é oriunda de cidades
ribeirinhas do Pará e habitando as margens do rio Guajará reproduzem alguns
hábitos tradicionais de seus lugares de origem, como: construção de
habitações em palafita, consumo e uso doméstico direto da água da baía,
criação de animais e pesca; somando esses hábitos aos característicos do
ambiente urbano.

Branco (2009), afirma que a Vila da Barca conta com mais de 4 mil
pessoas, habitando em sua maioria área de estivas, segundo dados
estatísticos da Prefeitura Municipal de Belém (PMB), através de sua Secretaria
Municipal de Habitação (SEHAB), sendo 49,76% do sexo feminino e 50,24%,
do sexo masculino. O levantamento socioeconômico realizado pela PMB, por

31
meio da SEHAB, no período de julho a agosto de 2003, demonstrou ainda que
a maioria da população obtém baixo poder aquisitivo. O precário nível de
escolaridade dos moradores, somado à crise estrutural do emprego, oriunda da
política neoliberal das últimas administrações da União, impede o ingresso da
maioria dos moradores da área no mercado formal de trabalho.
A Vila da Barca faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) implantado pelo governo federal. O projeto foi pensado para
736 famílias, embora na Vila da Barca existam 4.000 famílias. Até o
ano de 2004 foram remanejadas 136 famílias. Há um decreto federal
que obriga a entrega dos apartamentos pela prefeitura de Belém até
2012. Representantes da Associação dos Moradores da Vila da
Barca falam a respeito do choque social , pois os moradores nas
palafitas não pagavam luz, água, IPTU, DARF, PARF, além dos
reparos, lajotas e outros consertos e coleta de lixo que era inexistente
nas palafitas (SILVA, 2011, p.36)

Os moradores distinguem a área de palafitas das áreas de apartamentos


chamando de Vila Velha a primeira e de Vila Nova a segunda. Durante as
pesquisas foi possível perceber grandes diferenças entre o que é passado na
TV sobre o andamento do projeto e a realidade dos habitantes do local. No
entanto recomenda-se pesquisa sobre o assunto (SILVA, 2011).

3.1. Análise de dados

O estudo apresentou como sujeitos cinco mulheres, que têm filho(s)


homem(s) e filha(s) mulher(s). Com as mesmas foram realizadas entrevistas
semi estruturadas sobre a educação dos gêneros, com o intuito de entender a
maneira como se educam os filhos homem e mulher, além de saber se em
todas as famílias entrevistadas há distinção nessa educação e quais seriam.

Torna-se pertinente enfatizar que se priorizou a preservação da


identidade nominal dos sujeitos, sendo então utilizados nomes fictícios para
identificar as mulheres e as pessoas que as mesmas citam nas entrevistas.
Assim, os nomes atribuídos às mulheres foram: Alice, Amanda, Ângela, Aline e
Ana. Em relação ao trabalho exercido por tais mulheres é relevante dizer que
Alice é aposentada, Amanda vive do benefício do programa federal de
transferência de renda Bolsa Família e da ajuda dos filhos, Ângela e Ana estão
sem emprego atualmente e Aline é comerciante.

32
3.2. A percepção das mulheres-mães pesquisadas

O roteiro de entrevista consiste em oito perguntas destinadas às


mulheres-mães, com o intuito de compreender de que forma os gêneros
feminino e masculino são educados pelas famílias.

As entrevistas tiveram um tempo aproximado de 18 minutos as mais


longas e 9 minutos as mais curtas. As mulheres se sentiram bem à vontade ao
responder as perguntas, deixando seus afazeres de casa e do trabalho para
receber alunas da UEPA, pois éramos eu e mais duas amigas que buscavam
sujeitos que se adequassem e se disponibilizariam a contribuir na pesquisa de
campo de cada uma, pois os temas das três eram diferentes. Havendo antes
das perguntas conversas sobre assuntos variados, depois das quais as
mulheres preparavam lanche para servir às pesquisadoras. Durante as
entrevistas as mulheres riram, compararam e questionaram quando lembravam
a criação que tiveram para a criação que dão aos filhos e netos, recorriam
muitas vezes a exemplos de vizinhos, parentes e amigos para responder as
perguntas.

A princípio se pensou em entrevistar dez mulheres, mas houve


resistência de algumas mulheres em aceitar participar da pesquisa, onde
muitas diziam não querer por medo de não saberem responder as perguntas
mesmo quando era dito que as perguntas não possuíam respostas certas, e
sim se procurava saber a opinião delas sobre o assunto. Outras não atendiam
a porta quando sabiam que era uma pessoa da UEPA que estava batendo na
porta, ou quando alguém da casa atendia era dito pela mesma que a
responsável não se encontrava no momento, quando na verdade a pessoa
estava em casa, mas não queria atender. Acontecia também de a pessoa
aceitar participar da pesquisa, marcar uma data e hora para a entrevista e
depois desistir de participar. Por esse motivo a pesquisa acabou por ter como
sujeitos cinco mulheres e não dez como havia sido pensado.

33
3.2.1. Educação dos filhos
Foi perguntado às mulheres, primeiramente: Qual seria para elas, a
melhor forma da família educar seus filhos?

Alice: No diálogo, na conversa, porque se você... Principalmente nós


que moramos aqui (Vila da Barca), se você for pegar um filho na base
da pancada em vez de ele te obedecer, ele não vai te respeitar, ele
vai ter medo de ti e não respeito. Então o certo, o ideal é a conversa.
Só que hoje em dia muitas das vezes o diálogo, a conversa não tá,
não tá resolvendo, porque a amizade tá muito forte, agente tem que
saber conversar, tem que saber fazer porque senão... Na época que
eu criei os meus filhos era diferente, mas agora mudou muito.

Amanda: Olha não existe a melhor forma, porque é como diz assim,
as vez o pessoal diz- A, porque não pode hoje em dia bater em filho -,
mas às vezes uma palmada resolve muito porque tem criança que ela
é assim impulsiva, ela tem um impulso que às vezes tu quer, tem que
dizer pro outro que tem que ser assim, tu tem que falar com ela forte,
tem que saber, tudo tem sua hora, né. Assim que eu criei meus filhos,
tudo tem as suas hora, assim só esse (o filho que mora do lado) que
bebi aqui, assim mas esses outro não fumo não bebi, nem esse daí
(o filho que estava se arrumando para jogar bola) ele fez vinte e três
anos, ontem a gente fizemos um almoço pra ele foi que eu falei que
tava cansada fizemos um almoço pra ele, eles almoçaro. Aí é como
eu te digo, né, tudo tem a sua hora, porque também se tu abandonar,
se tu não tiver diálogo com teu filho, mesmo ele sendo pequeno ele
se torna uma pessoa ignorante, sabia disso? Se torna uma pessoa
ignorante, uma pessoa ignorante que ele não sabe é assim, se
comunicar, falar. Olha o meu filho, é igual como o meu filho ele
faz(com o filho dele), aí se alguém (tocar em você)... só a vovó, a
mamãe e a titia, que pode pegar no seu pintinho ninguém mais, por
que se um homem vem e beija ele, ele fala - Tu é gay é?- (risos)
porque ele já tem aquilo na cabeça né? O pai dele falou aquilo pra
ele, né. Ele já tem tudo informado, porque o pai dele já é grande, né
já é mais interado..... uma vez o tio dele chegou da viagem, deu um
beijo nele (no neto da entrevistada), ele falou - Aí tio tu é gay é? -
Todo mundo achou graça aqui em casa (gargalhada) quer dizer que
já vem com aquilo, do jeito como eu ensinei pra ele, ele vai ensinando
pro filho e assim vai por diante, né? Porque tudo é conversa, tudo é,
porque é como eu te digo educação, é tu já falar pro teu filho, tu
ensinar, por que hoje em dia, é errado. Tu dizer tá vendo meu filho
isso é errado, tu não pode fazer isso. Porque se tu deixar ele fazer
tudo, como é que pode? Tem que ter a hora de dar palmada, você vai
apanhar porque você fez isso tá bom? Da umas palma, entendesse?
E pronto, também não é pra matar, né! Tem gente que pega e mata,
que pegar que já matar os filho (riso).

Ângela: Conversando, dialogando acho pra mim que é a melhor


forma, né? Porque se fizer uma coisa errada e agente for bater,
agente tá ensinado aquela criança a bater também, né? Eu acho...
Porque eu já vi muitas pessoas é, não faz o que eu faço né, aí eu
acho que isso não é muito certo, quer dizer Mas ele faz, por que,
que eu não posso fazer? - Aí eu não acho, acho que você tem que
conversar, acho que essa é a melhor forma, de você é conversar, e
mostrar o que é certo, o que é errado isso não pode. Dessa forma
que eu acho a melhor forma da gente conversar né? Olha a minha
filha começou segunda-feira passada (na escola) ela não queria ficar

34
eu teve que conversar muito com ela, mas muito mesmo, dizia que eu
ia ficar esperando lá fora, ou então que eu ia comprar alguma coisa,
ao contrario de mães que eu vi lá que (falava) - Tu vai ficar, tu vai
ficar ai, tu vai apanhar- assim mesmo. Então a professora disse assim
- Olha essa criança vai crescer com trauma nunca vai querer ir pra
uma escola-. Eu sei que a filha dela (da mulher que brigou com a
filha) passou a semana todinha é, chorando, chorava, chorava,
chorava, aí vinha a mãe embora, aí tinha que ligar pra mãe a mãe
voltava e ia buscar. Aí, quando foi hoje a menina chorou só um
pouquinho, não chorou muito, ai eu disse lá, quando eu fui buscar -
olha ela ficou hoje direitinho (a mãe da menina respondeu) Não
porque de manhã quando eu fui dar banho nela eu dei logo umas
tapa nela - eu digo assim, acho que essa não é a forma né? Acho
que a melhor forma é a gente conversar mesmo. Eu acho que o forte
de hoje em dia é esse, porque meu pai ca minha mãe me bateram
muito na forma de me educar, né. Queriam que eu aprendesse as
coisas na ignorância, isso é errado(os pais de Ana diziam), ai toma, ai
batia, batia, batia. Ai eu acho que não, acho que a gente ainda tem
que colocar um pouco de castigo. E eu pergunto pra ela - Você vai
ficar de castigo de três a cinco minutos - ai eu pergunto pra ela - você
sabe por que tu tá de castigo? (a mãe responde).Ai, porque você fez
isso, isso, e isso - Mas não bater, é conversar mesmo com as criança.

Aline: Bom, a melhor forma de educar um filho... é a partir da


realidade da vida né? Não tá nada fácil, como por exemplo, seguir
numa boa escola, botar os filhos pra aprender, um curso, pra fazer
um curso, aprender a falar, conversar, se explicar, ser educado,
porque têm muita criança que é mal educada, como filha, não
respeita pai nem mãe, eu acho que a melhor maneira é, também, de
ter um pai e uma mãe unido, principalmente. Eu acho que é isso.

Ana: Educar? É (não) sai na rua e mexer nas coisa dos outro (risos).
eu acho.

Pode-se perceber que as mulheres Alice, Amanda e Ângela, acreditam


que a melhor forma da família educar seus filhos é por meio do diálogo, da
conversa, que segundo Freire (2010) o sujeito que se abre ao mundo e aos
outros estabelece com seu gesto a relação dialógica em que se configura como
inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento
histórico.

O pensamento de Freire refere-se à relação aluno professor, mas pode


ser usados nas relações entre, pais e filhos, amigos, familiares, na sociedade
de maneira geral. Uma vez que por meio do diálogo se pode chegar a soluções
de problemas diversos existentes, mostrando assim sua importância também
na educação dos filhos.
Dialogar com uma criança ou adolescente não significa abandonar a
autoridade, significa instaurar um pensar crítico, mostrar sensibilidade e

35
abertura para compreender o outro, confiança na sua capacidade de
compreensão, disponibilidade para criar novas soluções, considerar os
fundamentos éticos da educação, transmitir o conhecimento e interpretação do
mundo. Não significa ausência de conflitos, eles estão presentes na dialética
entre o vivido e o pensado. É na sua superação (SZYMANSKI, 2000, p.21).

Mesmo defendendo o diálogo, Amanda enfatiza que uma palmada ajude


na educação dos filhos, ao contrário de Ângela, que diz essa não ser a melhor
forma, pois seus pais usavam da palmada para a sua educação.

Segundo Luciana Caetano (2011) a palmada não garante que a criança


irá deixar de ter um comportamento inadequado. E, o pior é que algumas
crianças se acostumam com a palmada e não ligam mais quando os pais a
ameaçam, acreditando que apanhando pagam o preço da desobediência,
perdendo os pais autoridade. E enfatiza que a agressividade não faz bem. Ela
diz ver adultos que se indignam quando sabem de casos de violência, então se
pergunta por que alguns ainda acham normal bater numa criança? E afirma
não ter dúvidas de que quando um pai bate numa criança ele mostra para ela
que a violência é o meio de resolver os problemas, de que os mais fortes têm
direito de bater nos mais fracos.

Percebe-se que bater não seria a melhor maneira para educar os filhos,
uma vez que para Kant (1996) não convêm bater, já que quando os castigos
físicos são reproduzidos frequentemente, desenvolvem caracteres obstinados e
intratáveis e se os pais punem os filhos por sua obstinação não fazem mais do
que deixá-los mais obstinados.

Ângela também fala do neto, orientado pelo pai a ter cuidado com alguns
adultos que podem tentar pegar no seu sexo. E que o menino aderindo à
orientação que recebeu, pergunta se é gay o homem que o beija. O que acaba
por reafirmar a determinação da heterossexualidade como algo inato
deduzindo que todos os sujeitos têm aptidão a escolher como objeto de desejo
uma pessoa do sexo oposto, de forma que outras maneiras de sexualidade são
consideradas anormais, sendo curioso o que se considera se inato e natural,

36
alvo de intensa vigilância bem como do mais diligente investimento
(LOURO,2000).
Para Aline, a melhor forma de educar seria pôr os filhos para estudar.
Assim, o filho seria bem educado, porém ela considera mais relevante que os
pais estejam juntos, já que essa união contribuiria na educação dos filhos. Essa
mãe atribui à escola a função e responsabilidade de educar os filhos.

Para Oliveira (2001) a família não pode tão somente justificar sua
ausência e pensar que a escola sozinha conseguirá dar conta do futuro dos
indivíduos. A responsabilidade deve ser compartilhada numa relação de
cooperação, que consentira as duas instituições desempenhar suas funções
com autonomia e respeito mútuo. Pois como aponta Carvalho (2004), para os
pais/mães interessar-se pela educação dos filhos e filhas não denota cuidar
apenas da parte acadêmica, isto é, do sucesso escolar, porque a educação, do
ponto de vista da família, comporta aspectos e dimensões que não estão
abarcadas no currículo escolar.

A função das duas instituições é diferente, pois a escola ensina e a


família educa, são papéis diferentes, porém uma precisa da outra para que
cada uma consiga cumprir suas metas de ensino e educação com êxito, uma
vez que ensino e educação se completam. Sendo então tarefa da família
proporcionar a educação dos filhos por transmissão de valores, ética e
respeito. Como também de acompanhá-los na educação escolar, observando
se há ou não dificuldades de aprendizagem, auxiliando nas tarefas e trabalhos,
percebendo de que forma os filhos se relacionam com o meio escolar, com a
vizinhança e com familiares. Não que a escola não transmita valores, respeito e
ética, mas a escola irá reforçar, ou não, esses princípios trazidos de casa pelas
crianças.

E, para Ana, a melhor forma de educar seria ensinar os filhos a não ficar
na rua e a não pegar o que não fosse deles. Ela vê na rua um lugar no qual se
pode correr riscos, ameaças onde os filhos podem ser corrompidos e levados a
fazer o que a sociedade declara ser errado. Sobre o assunto Damatta afirma:

Não preciso acentuar que é na rua que devem viver os malandros, os


meliantes, os pilantras e os marginais em geral - ainda que esses
mesmos personagens em casa possam ser seres humanos decentes

37
e até mesmo bons pais de família. Do mesmo modo, a rua é local de
individualização, de luta e de malandragem. Zona onde cada um deve
zelar por si, enquanto Deus olha por todos, conforme diz o ditado
tantas vezes citado em situações onde não se pode mais dar sentido
por meio de uma ideologia da casa e da família; contextos, repito,
onde não se pode mais utilizar como moldura moral a vertente
relacional e hierarquizante de nossa constelação de valores
(DAMATTA, 1997, p.39)

Por isso o cuidado da mãe com a estadia do filho na rua. Mesmo não
usando os termos conversa e diálogo ela faz das mesmas o modo para
orientar os filhos sobre o que considera correto.

3.2.2. Educação de meninos e meninas

A segunda pergunta feita às mulheres corresponde à opinião das


mesmas, se haveria diferenciação na maneira de educar o filho homem e a
filha mulher. Por quê?

Alice: Olha, antes sim, agora é tudo igual, porque como eles dizem
que a mulher tem os mesmo direito do homem... E mesmo você
andando na rua você vê, o que um menino de rua faz, a menina faz.
Se ele se droga ela também, se ele é... rouba ela também, porque
andam juntos. Então o que você tem que fazer pra um tem que fazer
pra outro, entendeu? Se o seu filho, se o menino... Se a menina a
gente tem que chamar pra se prevenir, tem que chamar o menino
também. Então é tudo igual, tá tudo igual, não tem, não tem diferença
agora.

Amanda: Não, existe uma boa diferença sim. Existe o cuidado é


dobrado na mulher, porque menina tu tem que (dizer), olha você não
pode isso, você não pode aquilo, por que tu és mulher, tá
entendendo? Porque, ainda mais essas menina de hoje, eu tiro pela
minha neta. A minha neta tem, tem doze anos e já que dá beijinho na
boca, tu já pensasse! A mãe dela mesmo disse, uma vez deu uma
pisa nela, na minha neta mais velha porque ela disse - Mãe, como a
gente fala tudo ela vai ter sua hora, tem a hora de namorar, tem a
hora de tu ter tua relação sexual, tudo tem uma hora -. Então é, é
necessário, é dobrada assim, tu estendeste? O homem não, o
homem tu fala as coisas pra ele, tudo bem que é homem, ele vai
jogar bola, ele coisa, né? Mas a mulher é muito pior, tem que ser
dobrado sim, ser dobrado, a conversa, o diálogo em família é muito
bom, entendeu? Tal coisa assim falar, olha isso num pode, tu fala
assim porque isso é errado, tem que amostrar, olha a fulana de tal
sofreu por causa disso, não tinha maturidade e como eu abri... a
minha filha, olha a minha filha teve filho cedo criada pra lá, né (a filha
foi criada com os avós paternos), mas ela aprendeu! Porque eu
cheguei pra ela, trouxeram ela pra cá, me jogaram ela aqui quando
ela ficou grávida, ai o menino mais velho morreu com sete meses
dentro dela e o segundo ela teve, foi a menina né, que tem doze
anos. Então é assim, como ela disse pra mim, foi uma experiência de
vida pra ela porque, cadê o diálogo dos avós? Ela não tinha, o

38
diálogo que ela tinha era assim, quando ela vinha aqui em casa
agente conversava muito eu explicava as coisa pra ela, mas não tinha
aquela convivência do dia a dia, né? Aí se perdeu cedo, cedo teve
filho, o primeiro filho dela, acho que era pra ter quase uns quinze
anos, se ele não morre, ela perdeu, perdeu do rapaz que mexeu com
ela, aí ela perdeu, teve tristeza pra dentro dela, porque ela não tomou
remédio nem nada, né. Era um menino ele morreu com sete meses
dentro dela, deu uma dor nela e pronto. Ele (o pai da criança)
abandonou ela.

Ângela: Eu ainda acho que há, eu ainda acho que, tem pra gente que
não é, mas pra mim, eu ainda acho, porque olha, o meu menino ele
tem dezesseis anos, né, é... e quando ele completou, quando ele tava
na quinta serie, aí eu já tava com a minha segunda, então eu já
deixava ele ir só ( a escola), né, já deixava ele vim só, mas eu acho
que a minha menina, eu acho que eu não posso fazer isso, deixar ela,
mesmo na quinta série( ir a escola0, pra mim no meu ponto de vista
eu tenho que buscar, deixar porque ela é mulher, agora ele não, eu já
deixava ele ir na quinta série. Levava ia buscar né. Então pra mim
essa é uma diferencia aí, deixar ela muito solta né? Enquanto eu
puder ir buscar e deixar eu vou.
Hoje em dia eu jogo assim mais pra parte da violência, né. Hoje em
dia as mocinha já tão é criando seio, ai fica com o corpo formado, os
home fica mexendo... aí meu medo é esse, mais na parte da
violência, né. Porque eu vejo aqui na nossa comunidade que
acontece, muitos pais assim não vão buscar suas filha (na escola)
elas vem só, vão só e vem só. Inclusive tem um fato aí assim, de uma
criança praticamente, né ela vai só e vem só, e aí outro dia eu peguei
ela namorando com um rapaz, não é nem uma criança namorando
com outra criança é uma criança namorando com um adoles... com
um homem, né! Com um homem! Aí eu disse assim, á eu vou contar
pra mãe dessa menina, será que ela sabe? Aí outro dia ela foi lá no
colégio..... aí é mais pela essa parte, né que eu acho que o homem a
gente sofre um pouquinho mais né, eu acho que tem que acontecer
uma coisa com um homem, né, acontece, mas eu acho que com a
menina acontece mais do que com menino, né. Ainda mais na parte
da violência que eu acho que nós temos que olhar mais pra parte das
meninas, né. Essas parte muito da violência das pessoas tá
seduzindo, que acontece muito. Eu já acho assim que eu só vou
deixar quando ela tiver bem grande, quando eu ver que ela já dá
conta de gritar, correr, aí eu acho assim.

Aline: Eu acredito que sim, é bem diferente, eu acredito que é, que


filha mulher a gente cria dum jeito e filho homem a gente cria de
outro, mulher é mulher e homem é homem, eu acho que, tem que ter
sim uma grande diferença, porque o que eu tenho que explicar pruma
filha mulher eu não vou explicar prum filho homem, assim, ou então
vice-verse, né? Não pode ser a mesma coisa, né? Porque ela é
mulher tem que explicar dum jeito, e o menino porque é menino, tem
que explicar de outro, eu acho que o que vale é uma boa conversa,
mesmo, um diálogo bom com os filhos da gente, explicar as coisas
boas e as coisas ruins da vida, eu acho que, diferença, diferença num
tem muita não.

Ana: Olha, eu não sei te dizer não, acho que a mulher, a mulher é
mais diferente de educar que o homem, é porque toda hora ficam
chamando ela é, aí tem muita maldade, aí não gosto muito dela tá na
rua não, aí de vez em quando vem uma menina chamar ela, mas aí
eu não gosto não.

39
Olha o Branco (filho) até que não mais, ele não dá trabalho, mas só
quando, quando ele quer sair que ele não fala, e ela não, ela toda
hora tá aqui (pessoas chamando a menina para brincar na rua), aí eu
me preocupo mais, mais com elas do que com eles, eles é home, né.
Ela não, se tu chamar ela pra ir ( a rua), ela vai memo, ela vai memo,
ela vai. Aí eu tenho que tá toda hora em cima dela, só que eu não
gosto dela tá brincando com os moleque, que os moleque são
péssimo, eu não gosto.

Alice acredita que não há diferença na maneira de educar o filho


homem e a filha mulher hoje em dia, uma vez que, segundo a mesma, tudo que
o menino faz a menina também faz então a orientação deve ser igual aos dois
gêneros.

E as mulheres Amanda, Ângela, Aline e Ana, acham que existe sim


diferença na maneira de educar o filho homem e a filha mulher. Visto que para
Amanda e Ângela essas diferenças estão no cuidado com as meninas que
deve ser maior porque elas seriam mais vulneráveis aos perigos existentes na
vida. Amanda relata que a neta de doze anos já quis beijar na boca, por isso
para ela deve-se ter o diálogo com a menina. E Ângela mostra essa diferença,
quando compara o filho com a filha dizendo que o filho quando estava na
quinta série já ia à escola sozinho, mas a filha que agora está na quinta série
não pode ir sozinha à escola, por causa da violência mundana, ou seja, da
vulnerabilidade da mulher nos espaços públicos. Ana diz não gostar de ver sua
filha mais velha brincando com os meninos.

Já Ana considera que a diferença está nos assuntos que se explicam


para o menino e a menina serem diferentes. Onde num primeiro momento ela
diz haver uma grande diferença e depois diz que não existir muita diferença.

As mulheres que consideram o cuidado maior com as meninas, no que


diz respeito à sexualidade, temem que a vida sexual comece cedo, por vontade
própria das filhas ou netas ou por alguma forma de abuso. Sendo percebido na
fala delas que os homens, meninos, ou moleques , como foi dito por uma
delas, é visto como um indivíduo que pode corromper a doçura e a inocência
da menina quando, na verdade, o menino também pode sofrer algum tipo de
abuso, seja por homem ou menino e, por que não dizer, de uma mulher.
Então quando é dito que a educação é igual ou que não há muita diferença na
maneira de educar deve-se procurar entender que não há uma maneira exata

40
de educar e que segundo Lima (2010) não é, portanto, uma simples técnica,
amparada por dados científicos, bem amarrada e arrumadinha em um
atraente e colorido manual. Educar homens e mulheres, para uma sociedade
democrática e igualitária, requer reflexão coletiva, dinâmica e permanente. No
decorrer da vida o gênero mostra que as instituições e práticas sociais nos
formam homens e mulheres em uma seqüência que não é linear e harmônica
como também não é finalizada e completa.

Assim, nesse pressuposto, uma articulação deve ser intrínseca entre


gênero e educação, já que tal posição teórica amplia a noção do educativo
para além dos processos familiares e/ou de escolas ao enfatizar que educar
abrange um complexo de forças e processos no interior dos quais indivíduos
são transformados em homens e mulheres, no âmbito das sociedades e dos
grupos a que pertencem, sendo tais processos educativos também envolvidos
de estratégias sutis e refinadas de naturalização que precisam ser
reconhecidas e problematizadas (MEYER, 2010).

3.2.3. Atividades esportivas sexuadas

A terceira pergunta era: Se as mulheres achavam que haveria atividades


esportivas e brincadeiras próprias de meninas e meninos. E, caso suas
resposta fosse positiva: Quais seriam essas brincadeiras, esportes e
atividades?
Alice: olha, depende muito do menino. Tem menino que tira certas
brincadeiras, apenas por uma brincadeira, por exemplo, tem menino
que joga vôlei, é joga... Qual a outra coisa que as meninas
brincam?... Quer dizer são tudo quase igual, né? Parecido. O jogo de
bola tem dos menino, tem das meninas, sendo que muitas meninas
leva aquilo po outro... é a mesma coisa dos meninos. Tem certos
tipos de brincadeiras que é unissex, mas um faz uma coisa e o outro
faz outra.
Olha no meu tempo que eu me criei, no meu tempo que eu me criei, a
gente brincava, a gente menina, é brincava de roda, brincava de
boneca, hoje em dia é difícil você vê uma menina brincar de boneca,
né? É difícil você vê uma menina brincar de boneca. Pelo menos eu
tenho a minha neta, e ela anda com o bolso cheio de peteca, tu não
vê ela com uma boneca na mão, não tem boneca dela aqui, tem
peteca, época de papagaio, quando eu vejo ela tá ó (ela faz o
movimento de empinar pipa) assanhada. Ai o quê que agente vai
fazer? Agente só chama conversa, chama conversa. Mas aí... o que,
que a gente... tem que saber, tem que ter jogo de corpo pra poder
levar pra num...comé? pra num aborrecer nem um nem o outro.

41
Amanda: Não, tem que ser diferente, com certeza, né? Ora, menino
não pode brincar de boneca! É que nem menina ficar jogando bola.
Vejo uma aqui que ela brincava bola sempre com meus filhos, hoje
em dia o quê que ela é? Ela é uma sapatão que ela é né, como diz o
um homem (risos) ela já tinha aquele jeito, ela brincava bola com
esses meu filho, pelada mesmo, pelada! Ela sai pro pau com os
moleque (o filho mais novo diz não lembrar o que a mãe conta) A
Bruna? Tá que tu não ti lembra com Marcio e com Marcelo, quem a
Bruna? A Bruna filha do finado Armando? Ô caramba! Ela tá moça
hoje em dia, o quê que ela é? É o que ela é! Fazer o que? Vai fazer o
que? Ela já tinha aquela tendência, né. Ainda vinha a mãe, num
coisava! (não chamava atenção). A mãe dela dava uma boneca ela
(Bruna) dizia - Era tu é doida é?! Toma ai pra ti essas boneca. Que?
Eu vou brincar de boneca?! Eu vou brincar é de bola - e saía pra bola,
ela brincava de bola com os meus filho. Tem que ter (diferença na
maneira de educar), tem que ter... porque, já não pode né?. Porque
vai ver ela já veio com aquele sexo, já virado, ainda teve (risos)... Aí
pronto, aí viro da pá rasgada mesmo.

Ângela: Da menina? É brincar de boneca, é brincar de casinha.


Menino brinca de bola, brinca de peteca, brinca de carrinho. Aí tem,
tem brincadeira que dá pros dois né, correr pira pega eu acho que dá
pros dois, né. É brincadeira própria de menino e de menina.

Aline: Não, não, brincadeira de menino é de menino, brincadeira de


menina é de menina, até porque meninos têm brincadeiras muito
maldosas, levam muito pro lado de... assediar as meninas, muito
aquele, o enxirimento todo, aquela coisa, eu acho que não, menina é
brinca com menina e menino é brincadeira de brinca com menino
totalmente diferente. Brincar de boneca, menino, num tem lógica eu
aceitar meus filhos brincar de boneca, de panelinha com as meninas,
não eu não aceito, brincar de panelinha, de elástico é, deixa eu ver o
que mais meu deus, brincadeira de menina, brinca de elástico, de
casinha não, essas coisa num combina. De menino é um pouco ruim
porque, tem meninas que adora futebol, aqui por exemplo têm um
bocado, já tem mãe, mãe muitas mãe aqui, que vão de costume,
brincam de bola no meio dos menino, fazem torneio, mas eu num sou
de acordo que a Bianca (filha) brinque de pira se esconde de pira
pega, outras brincadeiras mais que eu não sei o nome, brincar com
menino, não tem.

Ana: Não, não tem mais aquilo, não tem, tinha, mas agora não tem
mais não, tá difícil aqui( na Vila da Barca).
Ela (a filha menor) brinca mais de boneca, bola eles ( os filhos), eles
gosta mais de bola eles e ela de boneca. (mas a senhora se
importaria se a sua filha brincasse de bola?) olha eu acho que não,
por enquanto eu acho que não.

Alice e Ana afirmam não haver mais brincadeiras e atividades


específicas, pois meninos e meninas brincam das mesmas coisas, como o jogo
de bola. Alice exemplifica que na sua época de criança havia brincadeiras
específicas de cada gênero, mas hoje em dia não mais, e dá o exemplo de sua
neta que brinca de peteca e papagaio, porém ela diz que conversa com os

42
netos a respeito das brincadeiras. Fato este evidenciado por Farias (1998) ao
pontuar que a menina até pode jogar bola, desde a família tenha certeza que
isso não irá influenciar sua opção sexual.

Amanda acredita haver brincadeiras e atividades próprias de meninas e


de meninos e, para ela, quando uma criança brinca ou faz atividades que são
destinadas ao gênero oposto, pode ocorrer um desvio na sexualidade dos
mesmos ou das mesmas. Ela chega a citar um exemplo da filha de uma vizinha
que brincava de bola e hoje é lésbica, o que para ela seria uma coisa anormal,
e o fato de a menina brincar de bola levou ao lesbianismo. Segundo Faria
(1998), para se impor a heterossexualidade não se reconhece a diversidade,
mas apenas binômios antagônicos e estruturas bem definidas: isso é de
homem, aquilo é de mulher, mulher usa rosa, homem usa azul.
As coisas se complicam ainda mais para quem se percebe com
interesses ou desejos diferentes da norma heterossexual. Restando a essas
pessoas poucas alternativas: o silêncio, a dissimulação ou a segregação. Onde
a produção da heterossexualidade é acompanhada pela rejeição da
homossexualidade que se expressa, muitas vezes, por homofobia declarada
(LOURO, 2000).

Ângela afirma que há brincadeiras e atividades próprias a meninos e a


meninas. Aline diz que cada gênero deve brincar separado, e não aceitaria ver
seus filhos brincando de uma brincadeira destinada às meninas e que não
gostaria de ver sua filha brincando de bola com meninos. Essas construções
categorizadas, onde há uma norma cultural de que existem brinquedos certos
para meninas e outros para meninos podem estar relacionadas à preocupação
que se tem com a futura escolha sexual da criança. Sendo relevante
compreender que o fato de um menino brincar com uma boneca ou de uma
menina brincar com carrinho não denota que eles terão uma orientação
homossexual (FINCO, 2003).

As situações lúdicas que permitem à criança a possibilidade de lidar com


determinados brinquedos representam oportunidades indubitavelmente
relevantes para o experimento de condutas importantes ao desenvolvimento do
gênero. E, no momento em que são confrontados com as solicitações dos

43
rapazes e raparigas, os pais, assim como outros adultos tendem a entregar
mais materiais lúdicos típicos do sexo, dando carros e bonecas aos respectivos
gêneros, do que os brinquedos por eles encarados como atípicos, mesmo que
as crianças não os queiram (VIEIRA, 2006 apud ETAUGH e LISS, 1992).

Esse esclarecimento vem afirmar a resposta das mulheres quando,


mesmo as que asseguraram não haver atualmente brincadeiras especificas de
cada gênero, ao citar as brincadeiras próprias de meninas indicaram a boneca
e dos meninos a bola/ jogo de bola. Além de reforçar o entendimento do
cuidado de algumas mães e demais familiares, quando ficam receosos ou não
permitem que suas crianças brinquem com brinquedos ou pratiquem esportes e
atividades destinadas a outro sexo.

3.2.4. Distribuição dos afazeres domésticos

A quarta indagação quis saber se as mulheres destinavam atividades e


afazeres a seu(s) filha(s) e filho(s) e se caso fossem destinados, de que
maneira eram feitas essas atribuições.

Alice: Olha os meus filhos, todo eles foram criado duma maneira,
porque como eu já disse em outras entrevistas eu trabalhava, não
tinha tempo, então quem tomava conta da minha casa era os meus
filhos e as minhas filhas, tá! Ela, era duas menina, são duas menina e
três menino. Eles me ajudavam lavavam uma louça, arrumava uma
casa, a menina lavava a roupa, esse meu filho mais velho (que
assistia TV), ele vinha fazia o café. Então quer dizer, que o fato de
ajudar dentro da casa não quer... vai tirar a masculinidade de
ninguém, nem vai transformar ele em mulher. Eu acho que cada um
tem que fazer a sua parte, tem que ajudar.

Amanda: Olha a minha filha é difícil ela vir aqui, mas os meus
filho,vamos supor se for preciso lavar, olha é, fulano vai lavar uma
louça, vai limpar o fogão, limpar a geladeira, porque olha... borá, borá
limpar lá em cima, borá varrer, borá arrumar, eles fazem, fazem sim,
se tiverem dentro da casa eles fazem. É se não tiverem fazendo
nada, se tiverem dentro da casa, claro com certeza não vou me matar
sozinha, nem pensar.

Ângela: Eu não dô muito assim pra ele fazer e pra ela fazer, eu acho
que o que eu dô assim, é o que eu dô pra um eu dô pra outro. Porque
eu digo assim olha levanta lava seu prato, então, todos dois tem que
fazer né. Aí eu digo pra ele - Tu vai pro banheiro, lava a tua cueca-.
Eu digo pra ela - Tu vai pro banheiro lava a tua calcinha -. Então eu
não dô pra um, não porque ele é homem ele vai ter que lavar o
banheiro, tu é mulher tu tem que varrer a casa. Não eu não coloco

44
assim né. Não hoje ela vai varrer amanhã tu varre. Então eu sempre
coloco assim pra eles dois fazer.

Aline: Não, não.

Ana: Não, só que eu tenho (medo) de fogão, ai eu não gosto que eles
pegue, nenhum.

Alice, Amanda e Ângela dizem distribuir as tarefas e atividades de forma


igual aos filhos homem e mulher, já Aline e Ana não atribuem ainda tarefas aos
filhos.

Alice ainda enfatiza que o homem cumprindo tarefas do lar não irá negar
sua masculinidade e Amanda diz que não irá cumprir os afazeres sozinha, por
isso coloca os filhos homens para trabalhar. Essas afirmativas acabam por
revelar que, atualmente, a ideia de que o espaço privado, as tarefas do lar, são
destinadas somente ao gênero feminino está sendo dissolvida pelas mulheres,
na criação de suas crianças, no que diz respeito à Vila da Barca. O que vai
confrontar a ideia de VIEIRA (2006) apud BLOCK (1981,1984) e
BANSOW(1992), que no mundo ocidental é normal que os rapazes cumpram
tarefas de lavar carro, por o lixo para fora, cuidar de animais pequenos, levar
recados dos pais nas redondezas, etc. E, para as moças, tarefas de arrumar a
casa, lavar a louça, arrumar a cama, cozinhar, cuidar dos irmãos, onde os
meninos são incumbidos de tarefas externas e as meninas das tarefas do lar. O
menino passa mais tempo com o pai nos afazeres externos à casa, por isso
seu auxílio nas tarefas domésticas acaba sendo menor do que o tempo das
moças, transmitindo implicitamente a mensagem de privilégio masculino no
domínio externo.

Palavras que não condizem com a realidade da Vila da Barca. Não


porque as famílias entrevistadas não possuem animais, nem automóvel. Mas
sim porque tanto nas famílias onde há, ou não, a presença paterna dentro de
casa, as tarefas são, segundos as entrevistadas, divididas de maneira
igualitária. No entanto, as meninas são mais resguardadas em casa, por serem
consideradas vulneráveis aos perigos mundanos e não por causa das tarefas
do lar.

45
3.2.5. Comportamento de menino e menina

A quinta pergunta, indagou para as mulheres qual seria o


comportamento e a atitude próprios de um menino e uma menina em seu
cotidiano?

Alice: Olha minha filha, agora tu me enrasco por quê... Porque dentro
de casa, o comportamento de uma menina é diferente do
comportamento dela na rua, porque tem muitas meninas que dentro
de casa perto do pai, da mãe, do avô, da avó se comporta uma
maneira, mas fora de casa. Tu num tá junto, tu não ta vendo o que,
que eles tão fazendo. O que tu vai saber já é por intermédio de outras
pessoas. A mesma coisa é os meninos, eu tenho o meu neto, aqui
dentro de casa ele conversa comigo normal, ele faz as coisa normal,
mas já me falaram que fora ele quer dá uma de (ela faz um
movimento com a mão sinalizando como se o menino fosse gay), já
chamei atenção, já conversei com ele, que aqui dentro de casa eu
ponho quente em cima dele, entende? Mas lá fora eu não sei, porque
eles vão pro colégio, eles tem a atividade deles do Curro Velho
(Fundação que proporciona cursos e oficinas diversas, localizada
próximo Vila), né! tem outras atividade no colégio. Então eles têm os
amigo deles que eu não conheço, que eu não sei, eu só peço pra eles
não se meterem em confusão fazerem as coisa que não devem, aí
isso eu peço. Até agora graças a Deus já vai fazer doze anos ( o
neto), já é um adolescentezinho, já vai fazer aliás treze anos, até
agora ainda não me deu dor de cabeça a irmã (dez anos) dele me dá
mais dor de cabeça que ele.

Amanda: Olha isso aí é complicado, o cotidiano do dia é complicado!


A menina tem que ser jeito de menina, né. Se comportar, como
mulher mesmo, como menina, moçinha ou mesmo que seja firme,
tem que se comportar. Menino, o menino aqui (vizinho) brincava de
bola (na verdade ela queria dizer que ele brincava de boneca) é esse
tipo de coisa, né? Que tem que se comportar que é uma coisa que tá
errada é errada e pronto. Olha meu filho isso é brincadeira de
menina, não pode você tem que se comportar como homem,
entendeste? Porque às vezes como diz é, personalidade é uma coisa
que tu também já traz né. Assim uns falando alto pra obedecer né,
pois é, e a minha personalidade é aquela que manda entendeste?
Que manda e que manda mesmo, personalidade forte.Tem aquela
que a cabeça dele é fraca se alguém chegar dizer tal coisa, ele vai,
ele é Maria vai com as outras, vou com as outras. É tipos de pessoas
aí ele não sabe... não, não meu filho é assim, tem que ser assim se
uma pessoa vier (falar), vamo fazer tal coisa assim, tu não quiser
fazer, tu não faz, só se tu sentir a vontade, mesmo assim tu tem que
aprender saber o que é certo e o que é errado. Porque se tu não abrir
a tua boca pra falar isso pro teu filho, do mesmo jeito quando ele
chegar na rua( e alguém falar), a tal coisa assim, borá fazer? ele vai e
faz. Porque tu não vai passar vinte e quatro horas vigiando esse teu
filho. As vez tem gente que vigia o filho vinte e quatro horas, às
vezes, os pai são boas pessoas, pessoas estruturadas e eles fazem
besteira mesmo.

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Ângela: Eu sempre, eu falo pra minha filha né, olha tu não fica
pulando, te senta fecha a tua perna né. Até porque quando ela
estudava numa escola era saia aí a professora ensinava ela a sentar
de pernas cruzadas e coloca a mão assim ( colocar as mãos entre as
pernas para não aparecer a calcinha) né, e ai assim ela faz né,
porque eu falo pra ela, tu não é menino pra tá correndo, tu não é
menino pra tá pulando, então se senta, menina não brinca assim,
menina brinca de boneca, menina brinca sentada, menina assiste na
televisão. Aí, eu sempre falo pra ela assim, né. É menino que fica, aí
as vez ela tem um primo que mora aqui, aí ela fica A, mãe deixa eu
brincar? Não ele é homem, ele tá lá brincando, deixa que a mãe dele
olha ele, você não, eu que tenho que olhar, fique aí -. Às vezes o pai
dela tá bem ali (no canto de casa) A, mãe deixa eu ir lá com o
papai? Negativo! Você tem que ficar do meu lado eu sou a sua mãe,
deixa o seu pai conversar com quem ele tá -. Então eu sempre coloco
isso pra ela. Tu é mulher, tu tem que ficar do meu lado, mulher tem
que fazer as coisas assim dessa forma, eu sempre coloco isso pra
ela. No meu ponto de vista é aí né, até aí assim, eu tento diferenciar
um pouco, mas não tanto!
Eu já acho que ele (o filho homem) é mais agitado, eu acho que ele
tem mais a liberdade de subir, descer, pular. Eu acho que a liberdade
é mais pra homem, né?! Mais pra menino acho que a menina no meu
ponto de vista fica mais quieta, né, não muito quieta, porque a menina
não é muito quieta não, se der a oportunidade pra ela, ela pula, pula
corda aí.

Aline: Bom, a menina tem que se dá respeito né? Não dá cofiança


pros menino, não se envolver em brincadeira com os menino, não tá
no meio deles e a mesma coisa os menino, porque sempre levam pro
lado maldoso.

Ana: eu acho a menina, é a menina que tem mais coisa do que o


menino. Assim... eu não sei te explicar né, porque isso aí é mais
complicado pra mim, mas o que eu não gosto mesmo é que ela tome
banho com ele (filha tomar banho com o filho) é ele eu não gosto, de
jeito nenhum, ele até que, até que ele não, não gosto de jeito
nenhum, ela quer tomar banho com ele, mas aí ele fecha a porta,
brinca com ela, mas é assim.

Segundo Alice, o comportamento de meninos e meninas procede da


seguinte maneira: dentro de casa agem de acordo como a família atribui ser
certo, mas fora de casa o comportamento muda, por influências externas.
Amanda também considera que o comportamento dos filhos pode mudar com
essas influências, por isso a família deve mostrar o que é certo e o que é
errado, ela diz ainda que o comportamento da menina deve ser o de uma
mocinha , ou seja, delicada e obediente, ideia que Ângela concorda, pois, para
ela a menina deve ser comportada, obedecer diferente do homem que,
segundo ela, tem mais liberdade para fazer o que quer. Para ela, a menina, sua
filha, deve sentar e relata que a professora na escola a ensinava a cruzar as
pernas ao sentar.

47
Sobre tal comportamento ensinado nas escolas Louro (2000, p.11)
descreve suas lembranças escolares em uma escola pública Ali nos
ensinavam a sermos dóceis, discretas, gentis, a obedecer, a pedir licença, a
pedir desculpas e afirma que um corpo escolarizado pode ficar sentado por
muitas horas e provavelmente possui a habilidade de expressar gestos ou
comportamentos que indicam, até mesmo de maneira falsa, interesse e
atenção.
Aline e Ana acreditam que as meninas não devem estar junto aos
meninos, pois com as meninas os meninos seriam maliciosos.
A preocupação com o comportamento dos filhos e filhas é unânime entre
as mulheres, mas para algumas, a preocupação maior é com as meninas, pois
as mulheres são cobradas pela sociedade a serem obedientes e educadas. Ser
mulher e feminina significa ser dona-de-casa, passiva, maternal, afetiva e
detalhista, e ser homem seria ser forte, profissional, racional, agressivo e
objetivo. Essas características estão enraizadas de forma tão profunda em
cada pessoa que parece ser parte da natureza humana (FARIA,1998).

Entretanto, o quesito dona-de-casa está sendo, retirado do critério de


educação das mulheres, já que as mesmas pretendem que as filhas tenham
uma profissão que vá além das tarefas domésticas. Como será visto mais à
frente.

3.2.6. Orientação sobre namoro de meninos e meninas

A sexta pergunta teve o intuito de saber: Se as mulheres conversam


com seus filhos a respeito de namoro, ou seja, elas orientam os filhos e
filhas sobre o comportamento que devem ter no namoro?

Alice: Olha, com meus netos eu não vou te dizer que eu já conversei
com eles porque eu ainda não, ainda não sentei pra conversar com
eles. Eu já tentei conversar com ela (neta), com ela já tentei
conversar mais ela não quis me ouvir, ela levantou e foi embora.
Com meus filhos eu já conversei muito com eles, as meninas eu já...
Tanto que quando a menina (filha) teve filho, ela teve filho com vinte e
poucos anos, ela diz que já teve filho velhinha. Por quê? Porque eu
fazia ela vê a vida como é, entendeu? Porque não adianta uma moça,
uma menina principalmente no caso da minha neta, se você vê tem

48
menina de doze anos, onze anos já tudo gestante então eu mostro
pra ela, principalmente pra ela, olha aí olha tu acha que é legal? Tá
empatando o estudo, tá perdendo a oportunidade de ser alguém na
vida. Por quê? Porque já fez o que não devia. Não ouviu pai, não
ouviu mãe, não ouviu ninguém e aí quem vai sofrer? Vai sofrer os
dois, vai sofrer ela, vai sofrer a criança que ela vai ter depois. Aí ela
só fica, ela é igual papagaio, ela fica só escutando, ela não fala nada,
ela fica só escutando, ela não diz sim nem não.
(E os filhos?) Não eu conversava igual com eles, porque como eu tô
te dizendo o problema que aparece em um vai aparecer em outro. Se
não tiver cuidado. Aí ele tudo bem por ser homem, eu não vou dizer
assim, ó por tu ser (homem) tudo bem tu vai faz isso, faz aquilo, não,
porque eu sempre tive um dizer pra mim, o que eu não quero pra mim
eu não quero pra outro, tá? Então o que eu não quero que o homem
fizesse com a minha filha eu não ia querer que o meu filho fizesse
com a filha de ninguém, a gente tem que aprender a ter
responsabilidade, então eu conversava com ele e tudo. Tanto que
esse meu filho mais velho veio arrumar mulher agora, ele ta o que?
Trinta e sete anos ele ta três anos já com a menina, ele tem uma filha
que ta lá em Cametá (município paraense), é pra casa dela que eu
vou, ele tem uma filha, ela tem oito anos, tá. E os outros dois meus
filho também já vieram arranjar mulher, já tudo grandão, todos já
donos do seu nariz, ninguém arranjo mulher em adolescência como a
gente vê agora, as minhas filhas também. E eu acho que o que eu
conversei com eles deu pra eles aprender um pouquinho e levar um
pouquinho a sério

Amanda: Não isso aí, eu acho assim tu entendesse? Pra minha filha
eu até falei é olha é assim e tal, mas pros homens eu nunca tive,
nesse caso porque eu acho que é a vida que tem que ensinar eles
entendeu? É a vida que tem que ensinar ele, ele tem que vir, ele tem
que vê se da pra namorar, a tá a fim de uma menina da pra namorar,
tem que ver se ela pode se ela presta, entendeu? Eu só falava assim,
mas assim... dava aqueles conselhos, eu acho que aí tinha que ter
um pai, né? Como eles nunca tiveram. (E a filha?) Não pra minha
filha, eu ainda falava mais pra ela, mais entreaberto - Olha mulher é
assim Marta, é assim, é assim, mulher é assim -. Agora pros homem
era diferente né. Porque os homens era, sempre foi diferente, o
homem ele é adquire entendesse? Ele adquire pelo seu ser próprio,
pela sua como... Habitação natural dele, por ele ser homem ele tem
que adquirir essas coisas aí. Eu penso assim, né. Não sei se tá
errado, mas eu penso assim.

Ângela: Olha, eu vou te dizer com toda sinceridade, porque a minha


filha tem dez anos, vai fazer ainda dez anos. Com ele eu converso,
converso muito, até porque hoje em dia ele tem uma namorada né.
Então eu converso muito com ele, a privacidade essas coisas, assim,
- Olha, não vai arranjar filho porque tu é jovem, tu só tem dezesseis
anos, aí sem contar que tu não vai mais ter privacidade, tu não vai, tu
não poder largar a menina por aí -, pois é, aí tudo isso eu converso,
né. Só que ele é crente e ele diz que os crente não permite essa troca
de carne né, quer dizer tem que só namorar e não fazer nada, mas eu
converso muito com ele, mas eu converso muito com ele, né. Aí os
pessoal já da igreja, já levam mais pra parte da bíblia né, que não
pode realmente, só depois do casamento. E eu já saio mais pra parte
da privacidade, pra ele não estragar a vida dele. Ela eu ainda não
converso com ela né, eu ainda não converso com ela, o que eu
converso com ela é assim né que ela vai menstruar, que ela vai criar
pelo né, quando acontecer, pra ela me falar, aí tudo isso eu converso

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com ela, porque ela ainda não tem pelo né, aí eu sempre falo você
vai criar pelo, você vai menstruar, você vai usar absor... negoço de
namoro eu ainda não converso com ela, eu acho devido a idade dela,
né.

Aline: Com certeza, pra mim ó eu tenho uma filha de nove anos, que
é a Bianca, tenho o Ronaldo que tem onze e tenho um que tá
chegando na pré-adolescência que é o Enrique, é o mais velho, doze
anos, então eu digo pra eles assim: que pra namorar, vai te o
momento, vai chega a hora, pra tudo tem o momento, pra tudo tem
uma hora. Eu digo pra eles que eles tão muito novos, que eles têm
que estudar, aprender uma profissão, ser alguém na vida. Namoro?
Eles tem muito! Muita coisa pela frente ainda, namoro pra deixar um
pouco de lado, nada muito... (Essa orientação?) da mesma forma que
eu do pra eles eu do pra ela, pra tudo tem um momento, pra tudo tem
uma hora.

Ana: Não, não, não. (nem com a menina?) também não, tudo
pequeno. (mas e quando eles crescerem, você pretende?) pretendo.
É diferente, também que a gente não vai tá, né. Como é como num é,
é assim (mostrar o que é certo e errado).

Alice diz ter tentado orientar a neta, mas a menina não ligou. Os filhos,
ela diz ter orientado de maneira igual, onde para ela o fato de a mulher
começar sua vida sexual cedo, implica no risco de engravidar e, dessa
maneira, perder as oportunidades e sofrer. Ou seja, para uma menina, ser mãe
cedo resulta em sofrimento tanto para a jovem mãe, quanto para a criança.
Então o que a menina considerava até pouco tempo como uma brincadeira,
algo divertido, cuidar de bonecas como se cuidasse de um bebê, se torna algo
sofrido, desfazendo o que vem sendo transmitido por emissoras de TV, onde é
visto, segundo Faria (1998, p. 30), que a televisão é um dos veículos de
transmissão e imposição de modelos e vencedora em ambiguidade,
fragmentação na forma de mostrar as mulheres, aparecendo donas de casas
modernas, prontas pra programas modernos; o corpo feminino por partes; as
artistas da Globo expondo sua alegria em ser mãe, as novelas mostrando
adolescentes grávidas onde tudo dá certo e até mesmo uma visão romântica
da prostituição.
Aline também afirma orientar de maneira similar. Primeiramente eles
devem estudar e o namoro pode esperar, já que eles são novos. Ela tenta adiar
a atenção da sexualidade dos filhos, fazendo com que os filhos se interessem
por assuntos escolares, mas, na escola, mesmo que por vezes não seja
trabalhada a questão sexual, ela existe. A escola possui uma tarefa árdua de
equilíbrio, ou seja, incentivar a sexualidade heterossexual, normal , e ao

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mesmo tempo conter a sexualidade para a vida adulta. Sendo necessário
manter a pureza e inocência da criança e, se possível dos adolescentes,
mesmo que venham negar a curiosidade e os saberes infantis e juvenis sobre
as identidades, fantasias e práticas sexuais (LOURO, 2000).
Amanda diz orientar apenas a filha, por entender que o homem adquire
o conhecimento sozinho ele adquire pelo seu ser próprio . Reafirmando a
imagem de que o homem, com sua superioridade, já nasce com o saber, já que
segundo ela o homem possui o conhecimento pela habitação natural dele ,
referindo-se ao saber que o homem adquire na rua. E que a mulher, ao
contrário, precisa de orientação, pois ela nasce sem esse conhecimento.
Mostrando, na visão da mesma, a dependência e fragilidade da mulher e a
independência e firmeza do homem. Observa-se também que o termo natural
que geralmente é destinado à mulher, por causa da menstruação e da gravidez
e por isso sinônimo de inferioridade, para ela significaria algo masculino e
superior. E o termo cultural, mesmo não sido citado explicitamente, mas esteja
presente nas entrelinhas, é considerado por ela como algo inferior e feminino.
Afirmando que (OSBORNE, 1998 apud ORTNER, 1974) para contar que na
maioria das sociedades avaliam-se como culturais e superiores as atividades
masculinas e como naturais e inferiores as atividades femininas contribuindo na
explicação do status inferior da mulher.
E Ângela ainda não conversa com a filha por a mesma ser criança, mas
orienta o filho. Ela diz que o filho é evangélico, e por isso não faz sexo com a
namorada, pois a igreja não permite o troca de carne e sexo só é permitido
depois do casamento, mas a conversa dela seria por causa da liberdade que o
filho perderia caso engravidasse a namorada. Então a sexualidade para o filho
é vista como algo divino, um dogma da igreja, mais uma instituição que, assim
como a família, dita o comportamento desejado, correto para uma pessoa de
bem. Uma vez que homens e mulheres adultos recebem determinados
comportamentos e modos que demonstram ter sido enraizados em suas vidas
por meio da família, escola, igreja, lei que participam dessa produção (LOURO,
2000).

51
Ana não orienta os filhos por serem pequenos mais orientará no futuro
cada um de maneira diferenciada. Porém, ela não revela qual a maneira que irá
orientar cada gênero.
Embora algumas mulheres não orientem os filhos de maneira igual ou
ainda não tenham orientado os filhos, elas se preocupam em orientar os filhos
ou netos sobre o assunto para que eles venham fazer o que elas consideram
ser certo e no tempo que consideram ser ideal para que ocorra o namoro.

3.2.7. Incentivo à educação segundo o gênero

No que consiste a sétima pergunta, foi questionado às mulheres se o


incentivo dado por elas, aos filhos e filhas, na educação escolar é o
mesmo, ou o incentivo é mais para um do que para o outro. E por quê?

Alice: Não, eu sempre conversei com eles assim, que a gente tanto
agora como no tempo que eu criei meus filho, se você não se dedicar,
não estudar, não ter uma profissão você não é ninguém. Então é o
que eu sempre conversei com eles e isso eu converso com meus
netos, então eu faço, às vezes eles tão aqui, eu converso com eles.
Então os meus filhos não foram alguém, porque não quiseram,
porque oportunidade eu dei, não dizer assim eu vou te colocar num
colégio caro eu vou te colocar... porque eu acho que isso não tem
nada haver com quem quer aprender. O colégio caro não tem nada
haver com estudar em colégio de governo, porque vai tudo da sua
força de vontade entendeu? Porque se você vai por colégio pago, se
diz A, eu não vou estudar, o meu pai tem dinheiro se eu quiser ele
paga se eu não passar paro ano - entendeu? Já colégio do governo é
diferente - não eu vou me esforçar mais, por quê? Não é pago é de
graça se eu não passar eu perco - entendeu? Então eu trabalhava,
dizia - olha vocês vão pro colégio, vão estudar - eu saía de manhã e
só chegava à noite, só que ao invés deles irem pro colégio eles iam
brincar. Quando eu pensei que eles tavam estudando eles brincavam,
mas graças a Deus ainda estudaram, teve muitos deles que fizeram
até o segundo grau, esse mais velho ( que estava assistindo TV) e a
menina (uma das filhas) fez até o segundo grau.

Amanda: Não, porque ela não foi criada comigo entendeste? Ela
morava lá (com avós), mas ela teve uma boa formação, né. Porque
criado com avó, eles eram antigo, ela tinha bisavó e tinha a avó,
quem criou mesmo ela foi a bisavó dela, a avó dela quando ela
morreu( a bisavô) me deixou ela aqui com uns quatorze anos, foi
quatorze anos, ela ( avó) me entregou ela, mas o pai veio buscar
depois, disse que não que tinha cuidado dela desde pequena, então
que não ia deixar ela aqui, ia abandonar ele pra vim simbora comigo.
só que ela vive bem né, ela tem o marido dela, se casou, tá bem.

Ângela: Não! É os dois a mesma coisa pra um, a mesma coisa pra
outro. O que eu falo pra um eu falo pra outro, que tem que estudar. Aí

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geralmente eu falo assim pra ela, porque aí as vez eu to ensinando
ela Olha, tem que estudar muito tá, pra.... porque quando você
estiver na, é adulta... quem estuda muito é que trabalha pouco e
ganha muito -. Eu digo pra ela - Agora se tu estudar pouco quando tu
tiver jovem tu vai trabalhar muito e vai ganhar pouco - eu digo porque
toda pessoa que estuda, se dedica, aí geralmente eu digo pra ela tem
um trabalho no escritório, na caneta, aí quem não estuda trabalha
desse jeito, aí sempre eu falo pra ela e é a mesma coisa eu falo pra
ele, tanto é que ele fala assim muito em fazer vestibular sabe, aí eu
tava até conversando com meu sobrinho, aí eu disse pro meu
sobrinho que eu digo, eu peço a Deus que ele não desista do sonho
dele, porque ele fala de fazer vestibular, porque meus outro sobrinho
não falo de fazer... Inclusive um acabou (de estudar o ensino médio)
ficou por isso mesmo eu peço a Deus que quando ele chegue lá que
ele não desista porque tem muito jovem que terminou o ensino
médio e pronto, já acha que tem tudo, né? Acabei entre aspas, mal
ele sabe que foi só uma etapa da vida dele. Então eu falo assim tanto
pra um, pra outra, pra estudar, porque tem que estudar. Um dia eu
até falo dessa forma, eu digo - Olha, um dia vocês vão estudar, vocês
tem que estudar hoje, vocês tem que estudar, porque pro futuro, não
é eu não é você, não é você que vai cobrar o estudo de ti, quem vai
cobrar é a vida quem vai te cobrar- . Tanto eu falo pra um quanto pra
outro. Eu digo - Hoje em dia é a vida quem me cobra não é meu pai
não é minha mãe quem me cobra porque eu não estudei é á vida que
me cobra - eu digo pra eles. Eu digo por experiência propia, que hoje
em dia a vida me cobra porque eu não estudei, né.

Aline: Com certeza, levar o estudo a sério, chegar na sala de aula,


prestar atenção, muita atenção no que o professor explica, fala, os
trabalhos, a união entre colegas é, esse negócio de afinidade, de
criticar um colega por ter uma pele mais escura, por ser mais coisa
que o outro coleguinha, eu sempre digo pra eles - Nunca se sintam a
mais do que os outros - (E esse incentivo?) É igual como eu do pra
ela, pra todos três é igual.

Ana: É, mas só é a menina, mais é a menina de que o homem.


Porque ela é mais, é a mulher né, porque ela gosta de andar assim
só de calcinha, ela anda, aí toda hora tem que botar ela pra vestir
roupa, que o menino não o menino é shorts uma sandália, aí não, a
mulher não, mas a mulher não, ela tem que vestir uma blusa, hum
shorts. (E na escola?) Olha eu queria que ela fosse pra ela estudar,
que ela tá muito péssima, um pouco, eles não eles inda estudo,
queria bota era ela ( a menina mais nova) pra estudar, mas só que
ainda não tem da idade dela.

Para Alice o estudo é fundamental para se viver bem, e ela sempre


incentivou os filhos ao estudo igualmente, porém como ela trabalhava fora, não
sabia que ao invés de eles irem à escola, ficavam brincando. Por isso é
importante a participação da família na educação escolar dos filhos, para que a
família possa saber como vai a educação formal dos filhos. Com relação ao
assunto Carvalho garante:

Em suma, se há concordância acerca do conteúdo, método e da


qualidade do ensino oferecido pela escola, isto é, apoio tácito dos
pais/mães, e aprendizagem satisfatória dos filhos/as, isto é,
convergência positiva do aproveitamento individual e da eficácia

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escolar, tudo vai bem nas relações família escola. Mas, se os
resultados são insatisfatórios ou deficientes, seja em termos
individuais ou institucionais, ou se há conflitos entre o currículo
escolar e a educação doméstica, então há problemas. Portanto, a
relação família escola basicamente depende de consenso sobre
filosofia e currículo (adesão dos pais/mães ao projeto político-
pedagógico da escola), e de coincidência entre, de um lado,
concepções e possibilidades educacionais da família e, de outro,
objetivos e práticas escolares. A relação família escola também será
variavelmente afetada pela satisfação ou insatisfação de professoras
e de mães/pais, e pelo sucesso ou fracasso do/a estudante
(CARVALHO, 20024, p.45).

Assim como Ângela, que diz para os filhos estudarem para ter um bom
emprego, uma vez que para ela quem estuda muito trabalha pouco e ganha
muito, e enfatiza que o estudo será cobrado pela vida futuramente. Ela não vê
a educação como, (FREIRE, 2010), uma maneira de sair do senso comum, da
ignorância, para uma curiosidade crítica e epistemológica, mas sim, como uma
forma de se possuir ascensão e estabilidade econômica. Notando-se que os
pais educam os filhos para o mundo presente, quando deveriam dar uma
educação melhor para que possa acontecer um estado melhor no futuro
(KANT, 1999). Ou seja, os pais não educam os filhos para o bem social e sim
para o bem particular.
Aline também incentiva os filhos de maneira igual e os ensina a ter
respeito com os colegas de pele mais escura , ou seja, ela conversa com os
filhos sobre o preconceito, ensinando os mesmos a terem respeito pela cor
negra e a não se sentirem superior aos colegas por possuírem melhores
condições financeiras que os mesmos. É importante salientar que o
preconceito aparece como um modo de relacionar-se com o outro diferente, a
partir da negação ou desvalorização da identidade do outro e da
supervalorização ou afirmação da própria identificação (BANDEIRA e
BATISTA, 2002 apud TOROD, 1999).
Amanda e Ana, não compreenderam o sentido da pergunta e as
responderam de forma que não correspondia com a questão.

54
3.2.8. Sobre o futuro dos (as) filhos (as)

A oitava e última pergunta, indaga como as mulheres veem o futuro de


seus filhos e filhas, ou seja, como elas pensam que estará a vida dos
mesmos quando forem adultos? Justificar.

Alice: Olha minha filha, o futuro deles eu te digo mesmo, a Deus


pertence, porque quem não estudou, quem não fez o seu pé de meia
enquanto podia, a tendência agora é ficar onde está, porque se você
não aproveita a oportunidade que você tá tendo, de estudar, de ser
alguém, você parar de estudar e se entregar, arranjar logo homem,
arranjar logo isso, arranjar logo aquilo, quem vai perder é você. Mais
tarde você não vai... você não vai conseguir nada, você não vai
conseguir nada. Então se você tiver de conseguir, você tem que
aproveitar enquanto você pode, enquanto você tem oportunidade
enquanto tem gente pra lhe ajudar. Olha, no caso dos meu filhos tão
novo? Tão! Eles não tão velho, mas eles não têm mais aquela força
de vontade pra estudar, só vão trabalhar, já vem de lá morto de
cansado, aí se jogam e vão dormir. Porque a gente quando trabalha a
noite, ou trabalha de dia a noite a gente vai estudar, pra quem tem
força de vontade. Então é por isso que bato cabeça com os meus
netos que é pra não acontecer o que aconteceu com eles (os filhos),
então as vez eu falo pra eles, eu digo Olha, se vocês não tem um
bom emprego, não tem um bom estudo, não me cobram nada,
porque oportunidade eu dei, vocês não estudaram e não fizeram
porque não quiseram - . Porque hoje em dia tem muito meio pra você
aprender pra ser alguém, tem curso de computação de graça por aí,
tá. Tem outros cursos por aí ótimo pra você aprender, pra ser alguém.
Olha aqui, nós moramos aqui, é Vila da Barca que é descriminada por
muita gente, mas aqui tem advogado, aqui tem técnico em
enfermagem, aqui tem gente que tá estudando é... assistente social,
tem pessoas que tá, tá.. tão estudando pra, pra nutricionista, aqui se
você andar por aqui de tudo você vai descobrir que alguém ta
competindo, mas o que é isso? Força de vontade, desejo de ser
alguém, agora se você não tiver força de vontade, num querer nada,
você vai ser nada, aí você vai é... igual aquelas maquinas velha, na
mesma tecla, ali o mesmo tempo. Então é isso.

Amanda: eu acho assim que ela é uma pessoa guerreira, tu


entendeste? Porque eu acho que ela assim, os menino, os menino
ainda tão estudando, né? Eu acho assim, que ela pegou um rapaz,
esse rapaz inclusive ele era até de gangue, tu entendeste? Ela botou
ele num ritmo que é do serviço pra dentro da casa, hoje em dia ele é
uma outra pessoa, ele mesmo diz que do jeito que ele ia talvez ele
não existisse mais( vivo), mas ele pegou uma pessoa estruturada, tu
entendeste? Ele é mais velho do que ela, mas ela botou uma coisa...
ela mostrou assim como é a vida conversando olha a gente conversa
eu digo é isso teu colega morreu porque, por causa disso, para com
isso, tu vai ter a mesmo coisa. Então ele não tem mais mãe, não tem
pai, vou me agarrar naquele pau que tá mais firme, né? Eu acho que
ele pensou assim na época, né. Porque ele mesmo fala - Olha minha
sogra do jeito que eu ia... - ele era de gangue sabe aquela pessoa
inteira de gangue, de gangue e ela, é ela é mais nova do que ele e
assim ela mudou, hoje em dia ele é uma outra pessoa. Todo mundo
fala.

55
(E os filhos?) Olha, eu acho que eles são umas boas pessoas, não
bebe, não fumam, são estruturados entendeste? E esse é um (um
dos filhos que estava na pia esfriando uma mamadeira) esse é
gêmeo com o outro, tu falando, tu tá pensando que ta falando com a
mesma pessoa, que eles são igualzinho. Então é como eu te digo né
é assim eles são bom, são estruturado não fumo, não bebe,
entendeste? Porque o Marcio (um dos filhos) diz que ele só vai ter a
família dele o dia que ele tiver condições de vida pra família dele, ele
pensa totalmente diferente, esse (o filho que mora ao lado) também
pensa a mesma coisa, esse aí é meio coisa, esse daí arrumou
(família), mas ele trabalha, vive a vida dele, né. Já viste o filho dele,
já? Ha eles, são bonito os filho dele é igual a bebê ( neta mais nova)
eu só tenho neto bonito é o mais velho nasceu de sete meses eu
tomei conta dele desde quando ele tinha três anos, mas ele é um
bom pai tá estruturado também igual os meus outros filho, a mulher
dele também trabalha, tudo bem.
É porque eu vou te dizer eu sou filha, olha, acho que eu já nasci
mesmo assim porque olha, eu sou filha de pais alcoólatras eles
brigavam, e não sobrava uma panela em cima da casa, não sobrava
uma panela inteira, então era assim, eles brigavam, ele bebia( o pai),
ela bebia( a mãe). Eu sou filha de alcoólatra eu tenho pra mim que
ele era diabético e não sabia entendeu, eu acho isso, aí eu acho que
pra eu ser uma pessoa, não sei diferente né? Porque tu já pensasse
uma pessoa que os pais o tempo todo bebendo eu acho que não era
pra eu ter essa estrutura, e eu vou te dizer eu não tenho muito estudo
não ainda tem mais esse ok, esse porém, não tenho, não tenho, se
eu te disser que eu tenho bem pouco estudo esses meus filhos todos
tem estudo, eu não tenho. Se tu disser, se eu pegar nesse celular
aqui( em cima da mesa), eu sei só pra mim acender, pra deixar gravar
alguma coisa, fazer alguma coisa, tecnologia moderna eu não sei
nada, entendeu. Eu não sei nada de tecnologia moderna todo mundo
pensa que eu assim... não. Eu ia pa escola assistia debate ia pra
debate, olha é quando eu ia pra escola pra reuniões né eu nunca
faltava do trabalho eu vinha do trabalho pedia pra eu sair cedo, era
complicado pra mim.

Ângela: Até eu penso assim que quando eles já tiverem adultos, já


tenham terminado o estudo deles, e teja formado e trabalhando
dentro da área que eles se formaro. É isso que eu penso. O que faz
eu pensar? Eu penso do conselho que eu dô pra eles, eu digo que se
eu dô esse conselho, então quer dizer mais tarde. Eu penso que eles
realmente vão me escutar, e estudar e vão tá formado. É isso que faz
pensar, é o que eu não fui né. Então é aquele ditado, é o que eu não
quero pra mim, né eu não quero pro meu pior inimigo. Então como eu
não tive uma formação não tive estudo. Então eu penso que um dia
eles vão ser, eles vão ser (formados).

Aline: Ai, isso é uma pergunta bem difícil pra mim responder, porque a
gente num prevê né? O futuro de ninguém, eu, quero assim que a
minha filha, termine o estudo dela, entre pruma faculdade, tenha um
bom emprego não dependa de homem algum, dependa de si mesmo,
si próprio, é muito importante pruma mulher, pro homem também é,
ter os seus direito próprio é lutar pelo aquilo que quer, e conseguir e
vencer (o q faz pensar dessa forma?). A, é, eu num tive estudo não
terminei meus estudo, não foi por falta de oportunidade, oportunidade
eu tive bastante, mas tudo que eu não tive oportunidade, que eu não
tive, porque teve algumas oportunidade que eu não tive realmente e
eu quero passar tudo isso pro meus filhos, eu quero ter o que eu não
pude ter quando eu era criança e poder dá pra eles o que eu não tive
e isso eu sei que eu posso, eu e o meu marido. (como vê os

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meninos?) Bem, eu vejo eles também, da mesma forma, todos dois
trabalhando, terminando o estudo, entra numa faculdade, se fô
possível, e eu acredito em Deus que seja possível é, tendo seu
emprego, tendo uma moradia digna, poder viver bem, com todos,
com todo mundo, sabe, na sociedade, ser umas criança, passar de
criança pra adolescente, um adulto feliz.

Ana: Eu não sei dizer. Sonho assim deles tive rapaz já é trabalho. É
assim é ser médio é qualquer coisa, ai assim que eu quero. Ai queria
que ela fosse assim, médica, enfermeira que é mais melhor, eu acho.

Para Alice o futuro dos filhos não mudará porque eles não continuaram
os estudos e enfatiza que oportunidade de estudo foi dada aos filhos por ela,
mas não foi aproveitada pelos mesmos, e agora adultos eles não têm
disposição para estudar por causa do cansaço do trabalho. Logo, ela não vê
melhorias nesse sentido, e incentiva os netos a estudarem para que o futuro
deles possa vir a ser diferente. Pois há muitos cursos onde você pode melhorar
sua condição financeira.

Amanda percebe o futuro dos filhos vivendo estruturados


financeiramente e felizes, e tem orgulho dos filhos por eles não possuírem o
vício de fumar e beber. Importante salientar que sua fala está alicerçada no
passado sofrido que teve ao lado dos pais alcoólatras.

Já Ângela, Aline e Ana querem ter os filhos formados e trabalhando.


Ângela quer os filhos trabalhando na área de formação e ela pensa assim por
causa dos conselhos que acredita que eles irão seguir. Aline pensa dessa
forma por não ter tido muitas oportunidades.

Percebe-se que Alice, Ângela, Aline e Ana enxergam o estudo como


uma maneira de se ter uma vida estável. O estudo é para elas a forma de dar
aos filhos uma possibilidade de os mesmos não terem o mesmo destino dos
pais. Avigorando as afirmativas de Freire (2010) de que a educação é uma
maneira de interferir na realidade do mundo com mudanças na sociedade, na
economia, nas relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, de
terra, a educação e a saúde, ou seja, transformando a curiosidade ingênua em
crítica. Mostrando que a educação pode mudar a realidade deixando de pensar
que a miséria é fatalidade, quando na verdade é uma imoralidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho procurou analisar como a educação dos gêneros, masculino


e feminino é concebida no recinto familiar tendo como lócus de estudo a Vila da
Barca.

O estudo possibilitou a percepção de que nas famílias que se


dispuseram a participar da pesquisa, a educação dos filho(s) e filhas(s) é
destinada à mulher-mãe. Cabendo a ela a tarefa de transmitir o
comportamento, as atitudes e os valores considerados corretos pelo seio
familiar. Onde historicamente o feminino está ligado ao espaço privado e
doméstico cabendo a ela a responsabilidade de proporcionar o bem-estar da
família e a educação dos filhos. E ao homem cabe a responsabilidade de
prover financeiramente as necessidades da família como também a ele se
destina o espaço público da sociedade.

No entanto, se percebe que as mulheres estão ocupando espaços


públicos e que a tarefa de prover financeiramente passou a ser destinada a ela,
por não ter um companheiro ou pela renda do mesmo não ser suficiente para o
sustento da família, mas a função de educar os filhos ainda continua sendo
delas, assim como os afazeres domésticos, aumentando a carga de deveres e
responsabilidades para a mesma.

É notado que independente da resposta das mulheres sobre como seria


a melhor maneira de educar os filhos, sempre é pensado pelas mesmas o
melhor para eles. Uma vez que as famílias acreditam que a forma de educar
escolhida por elas é a melhor, e por meio dessa educação seus filhos e filhas
terão um bom futuro financeiro e social.

Por isso a preocupação de praticamente todas as mulheres com as


atividades e brincadeiras que filhos e filhas praticam para que os mesmos não
sejam tachados de desviantes da norma heterossexual, já que é estipulado
pelas intuições de poder e pela sociedade o que cada gênero deve fazer, vestir
e como devem agir desde o nascimento. Havendo o cuidado com o
comportamento de filho(s) e filha(s) na educação, onde a menina é vigiada

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pela família para que siga a linha educada, doce e atenciosa, por isso mais
vulnerável aos males existentes na vida. Ao homem é destinada uma educação
como foi dito por uma das mães mais solta , onde ele tem mais liberdade para
expor seus desejo e vontades. Esse cuidado se estende ao namoro, com as
informações necessárias sobre o comportamento que cada gênero deve
exercer.

Foi compreendido que as tarefas, quando distribuídas nas casas aos


filhos, são feitas igualmente onde todos fazem tarefas que dispensam aqueles
comentários isso é coisa de mulher ou homem não faz isso .

Sobre os estímulos dado aos filhos no estudo é igual, pois na visão das
mulheres não existe diferença, ou preferência, na hora de estimular os filhos
aos estudos, ou seja, a permanência na escola independe se o filho é do
gênero masculino ou feminino. Para elas, o acesso e a permanência à escola
representam a condição necessária para um futuro bem sucedido social e
financeiramente.

Percebe-se que as famílias estudadas, compostas de mulheres


provedoras, apesar das dificuldades financeiras, estimulam os filhos e as filhas
a estudarem e não pensam em nenhum momento em retirar os mesmos da
escola.

Contudo, o trabalho não teve a pretensão de dizer se há uma forma


correta de educar os gêneros, mas entender de que maneira as famílias, em
especial as da Vila da Barca, educam seus filhos (homens e mulheres),
observando e compreendendo como são distribuídas as tarefas de meninos e
meninas no lar, percebendo como as diferenças de gênero contribuem, ou não,
para se pensar a educação dos filhos, verificando se a diferença de gênero
estabelece desigualdades entre meninos e meninas por meio de embasamento
teórico.

Assim, o estudo conseguiu alcançar seus objetivos e contribuir para a


compreensão das diferenças na educação dos gêneros em âmbito familiar.
Porém, nem sempre tais diferenças são consideradas ou vistas como
dominantes e submissas, mas sim como normas de comportamentos

59
estipuladas pelas redes de poder e cobradas pela sociedade que as famílias
seguem, quase sempre de forma inconsciente. É relevante também se
entender que muitas das diferenciações estão sendo dissolvidas no que se
refere à educação familiar e na atribuição dos afazeres domésticos que são
destinados aos gêneros de maneiras iguais.

Considera-se que este estudo é uma possibilidade para outros


futuramente, pois o fato de nossas interlocutoras não reforçarem as diferenças
de gênero em âmbito doméstico não quer dizer que elas não persistem, mas
sim, que se necessita de mais estudos para que se possa afirmar essa teoria.

60
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64
65
Apêndices A: Roteiro de Entrevista direcionado ás mulheres da Vila da
Barca

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ


CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Projeto de Pesquisa: MULHERES DA BARCA: Análise do PROGRAMA
Bolsa Família operacionalizado em direção às mulheres responsáveis
pelo domicilio na Vila da Barca, Belém, Pará.
Pesquisa para formulação de Trabalho de conclusão de curso com o
Tema: AZUL É DE MENINO, ROSA É DE MENINA?
Gênero e educação em contexto familiar na Vila da Barca.
Coordenação/orientação profa. Lana Claudia Macedo da Silva
Roteiro de Entrevista direcionado às Mulheres da Vila da Barca

1- Para você qual a melhor forma da família educar seus filhos?

2- Em sua opinião ha diferenciação na maneira de educar o filho homem e


a filha mulher? Por quê?

3- Para você há atividades esportivas e brincadeiras próprias de meninas e


meninos? Quais seriam essas brincadeiras, esportes e atividades?

4- Há na sua casa atividades e afazeres destinados a sua filha e ao filho?


De que maneira você atribui essas atividades e afazeres?

5- Para você qual seria o comportamento e atitude própria de um menino e


uma menina em seu cotidiano?

6- Você conversa com seus filhos a respeito de namoro, ou seja, você


orienta seu filho e filha sobre o comportamento que devem ter no
namoro? A orientação é diferenciada?

7- O incentivo dado por você, a seus filhos e filhas, na educação escolar é


o mesmo, ou você incentiva mais um do que outro? Por quê?

8- Como você vê o futuro de seu filho e filha, ou seja, como você pensa
que estará à vida de sua filha e seu filho quando forem adultos? O que
faz você pensar dessa forma?

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Centro de Ciências Sociais e Educação
Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia
Rua do Una, 156 entre Djalma Dutra e José Pio.
66050.540 - Belém-Pará
WWW@.uepa.br

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