Você está na página 1de 11

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 11

03/04/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.662 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARAES E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE VIGÊNCIA DE
MEDIDAS DO PROGRAMA EMERGENCIAL DE MANUTENÇÃO DE EMPREGO E
RENDA.
1. Ação direta de inconstitucionalidade para que seja
conferida interpretação conforme a Constituição a dispositivos das Leis nº
13.979/2020 e 14.020/2020, que tratam do prazo de vigência de medidas
do Programa Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda
(PEMER).
2. Os artigos impugnados não comportam mais de uma
exegese, uma vez que limitam o período de vigência da política de
“manutenção de emprego e renda” a 31 de dezembro de 2020, em razão
da pandemia da COVID-19. O seu sentido é unívoco, não sendo cabível a
interpretação conforme a Constituição. Precedentes.
3. Pedido julgado improcedente.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por unanimidade de votos,
em julgar improcedente o pedido, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 24 a 31 de março de 2023.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EC0E-7867-CA7F-F811 e senha 581A-24F2-0AA7-0CF2
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 11

03/04/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.662 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARAES E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RELATÓRIO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com


pedido de medida cautelar, ajuizada pelo Partido Comunista do Brasil
(PCdoB), tendo por objeto o artigo 8º da Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de
2020, que “dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência
de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus
responsável pelo surto de 2019”; e os artigos 1º; 2º; 7º; 8º, caput e § 6º; 16,
parágrafo único; 17, caput e § 4º; e 25, caput e § 1º, da Lei 14.020, de 6 de
julho de 2020, que “Institui o Programa Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda” e dá outras providências. Confiram-se os
dispositivos impugnados:

Lei nº 13.979/2020:
Art. 8º Esta Lei vigorará enquanto perdurar o estado de
emergência internacional pelo coronavírus responsável pelo
surto de 2019.

Lei nº 14.020/2020:
Art. 1º Esta Lei institui o Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre medidas
complementares para enfrentamento do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 11

ADI 6662 / DF

março de 2020, e da emergência de saúde pública de


importância internacional decorrente do coronavírus, de que
trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
Art. 2º Fica instituído o Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e da Renda, com aplicação durante o
estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º desta Lei e
com os seguintes objetivos:
I - preservar o emprego e a renda;
II - garantir a continuidade das atividades laborais e
empresariais; e
III - reduzir o impacto social decorrente das consequências
do estado de calamidade pública e da emergência de saúde
pública.
[...]
Art. 7º Durante o estado de calamidade pública a que se
refere o art. 1º desta Lei, o empregador poderá acordar a
redução proporcional de jornada de trabalho e de salário de
seus empregados, de forma setorial, departamental, parcial ou
na totalidade dos postos de trabalho, por até 90 (noventa) dias,
prorrogáveis por prazo determinado em ato do Poder
Executivo, observados os seguintes requisitos:
I - preservação do valor do salário-hora de trabalho;
II - pactuação, conforme o disposto nos arts. 11 e 12 desta
Lei, por convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de
trabalho ou acordo individual escrito entre empregador e
empregado; e
III - na hipótese de pactuação por acordo individual
escrito, encaminhamento da proposta de acordo ao empregado
com antecedência de, no mínimo, 2 (dois) dias corridos, e
redução da jornada de trabalho e do salário exclusivamente nos
seguintes percentuais:
a) 25% (vinte e cinco por cento);
b) 50% (cinquenta por cento);
c) 70% (setenta por cento).
§ 1º A jornada de trabalho e o salário pago anteriormente
serão restabelecidos no prazo de 2 (dois) dias corridos, contado

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 11

ADI 6662 / DF

da:
I - cessação do estado de calamidade pública;
II - data estabelecida como termo de encerramento do
período de redução pactuado; ou
III - data de comunicação do empregador que informe ao
empregado sua decisão de antecipar o fim do período de
redução pactuado.
§ 2º Durante o período de redução proporcional de
jornada de trabalho e de salário, a contribuição de que tratam o
art. 20 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e o art. 28 da
Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019,
poderá ser complementada na forma do art. 20 desta Lei.
§ 3º Respeitado o limite temporal do estado de calamidade
pública a que se refere o art. 1º desta Lei, o Poder Executivo
poderá prorrogar o prazo máximo de redução proporcional de
jornada de trabalho e de salário previsto no caput deste artigo,
na forma do regulamento.
Seção IV
Da Suspensão Temporária do Contrato de Trabalho
Art. 8º Durante o estado de calamidade pública a que se
refere o art. 1º desta Lei, o empregador poderá acordar a
suspensão temporária do contrato de trabalho de seus
empregados, de forma setorial, departamental, parcial ou na
totalidade dos postos de trabalho, pelo prazo máximo de 60
(sessenta) dias, fracionável em 2 (dois) períodos de até 30
(trinta) dias, podendo ser prorrogado por prazo determinado
em ato do Poder Executivo.
[...]
§ 6º Respeitado o limite temporal do estado de calamidade
pública a que se refere o art. 1º desta Lei, o Poder Executivo
poderá prorrogar o prazo máximo de suspensão temporária do
contrato de trabalho previsto no caput deste artigo, na forma do
regulamento.
Art. 17. O empregado com contrato de trabalho
intermitente, nos termos do § 3º do art. 443 da CLT, aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, formalizado

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 11

ADI 6662 / DF

até a data de publicação da Medida Provisória nº 936, de 1º de


abril de 2020, faz jus ao benefício emergencial mensal no valor
de R$ 600,00 (seiscentos reais), pelo período de 3 (três) meses.
[...]
§ 4º Ato do Ministério da Economia disciplinará a
concessão e o pagamento do benefício emergencial mensal de
que trata este artigo, e o Poder Executivo fica autorizado a
prorrogar o período de concessão desse benefício, na forma do
regulamento, respeitado o limite temporal do estado de
calamidade pública a que se refere o art. 1º desta Lei.
Art. 25. Durante a vigência do estado de calamidade
pública a que se refere o art. 1º desta Lei, será garantida a opção
pela repactuação das operações de empréstimos, de
financiamentos, de cartões de crédito e de arrendamento
mercantil concedidas por instituições financeiras e sociedades
de arrendamento mercantil e contraídas com o desconto em
folha de pagamento ou na remuneração disponível de que trata
a Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, nos termos e
condições deste artigo, aos seguintes mutuários:
[...]
§ 1º Na hipótese de repactuação, será garantido o direito à
redução das prestações referidas no art. 1º da Lei nº 10.820, de
17 de dezembro de 2003, na mesma proporção de sua redução
salarial, para os mutuários de que trata o inciso I do caput deste
artigo.

2. O requerente argumenta que a limitação temporal de


vigência das normas em questão ofende o direito à existência digna e à
busca do pleno emprego (art. 170, CF). Dessa forma, postula,
cautelarmente e no mérito, a fixação de interpretação conforme a
Constituição para afastar a limitação temporal da vigência das aludidas
normas até o término da vigência da Declaração de Emergência em Saúde
Pública de Importância Nacional, prevista pela Portaria nº 188/2020, do
Ministro de Estado da Saúde, ou até o término da emergência
internacional de saúde decorrente do coronavírus, conforme decisão da

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 11

ADI 6662 / DF

Organização Mundial de Saúde, o que ocorrer por último.

3. O processo foi distribuído por prevenção ao Ministro


Ricardo Lewandowski, que encaminhou os autos à Presidência para livre
distribuição. Redistribuída a ação, determinei a manifestação do
Presidente da República, do Exmo. Presidente da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal.

4. A Presidência da República e o Senado Federal


manifestaram-se pela improcedência do pedido (docs. 35, 36 e 38). Em
termos gerais, tais manifestações defenderam: (i) a impossibilidade de os
dispositivos atacados, com vigência já exaurida, serem objeto de ação
direta; (ii) a ocorrência de sucessivas prorrogações do Programa
Emergencial, por meio dos Decretos nº 10.422, 10.470 e 10.517/2020; (iii) a
adoção de outras medidas emergenciais que igualmente implicaram
gastos consideráveis (aquisição de medicamentos, insumos hospitalares,
apoio a empresas e pagamento de múltiplos benefícios assistenciais), que
concorrem pelos mesmos recursos escassos; (iv) a existência de diversos
projetos de lei em tramitação no Legislativo, tendo por objeto medidas
voltadas ao enfrentamento da pandemia; (v) a circunstância de que as
flexibilizações quanto ao exame de compatibilidade e adequação
orçamentária e financeira, trazidas pela EC nº 106/2020, deixaram de
surtir efeitos também na data de 31 de dezembro de 2020, de sorte que a
continuação do Programa Emergencial demandaria equacionamento
quanto às fontes de custeio; (vi) a necessidade de compatibilizar as
medidas mais eficientes para atender ao interesse de trabalhadores e de
empregadores com a efetiva capacidade fiscal do país, o que está neste
momento em debate nas instâncias majoritárias; (vii) a impossibilidade de
o Judiciário substituir-se aos Poderes Executivo e Legislativo em decisão
de tal ordem, dado que a prorrogação de políticas públicas envolve
avaliações complexas, inclusive sobre as consequências sistêmicas das
escolhas políticas mais adequadas ao enfrentamento à pandemia, com
juízos de prognose econômica e sanitária que o Judiciário não está

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 11

ADI 6662 / DF

adequadamente aparelhado a fazer; (viii) o entendimento de que a


atuação pretendida pelo requerente, se acolhida pelo Judiciário,
implicaria violação ao princípio da separação dos Poderes (art. 2º, CF).

5. Em 03.03.2021, determinei a intimação do Procurador-


Geral da República e do Advogado-Geral da União, para manifestação,
sucessivamente, no prazo de cinco dias, sobre o pedido de cautelar.

6. A Advocacia-Geral da União, preliminarmente,


manifestou-se pelo não conhecimento da ação, em razão de não existir
questão constitucional a ser debatida. Argumenta que a literalidade dos
dispositivos objeto da presente ação direta inviabiliza a interpretação
conforme pretendida pelo requerente. Sustenta que o autor objetiva,
principalmente, substituir os critérios adotados pelo legislador por outros
que entende mais adequados. Aduz que o acolhimento da pretensão
autoral implicaria que a condução de certas políticas públicas
relacionadas ao enfrentamento da pandemia fosse determinada pelo
Poder Judiciário, o que vulneraria a separação de Poderes.

7. A Procuradoria-Geral da República apresentou parecer


pela improcedência do pedido. Argumenta que não cabe ao Poder
Judiciário, valendo-se da técnica da interpretação conforme a
Constituição, modificar o conteúdo da lei para nela inserir norma não
desejada. Sustenta que a prorrogação de política pública de
enfrentamento da pandemia de Covid-19 se insere no campo de atuação
dos Poderes Executivo e Legislativo.

8. É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4A1F-2BA9-FE01-E900 e senha 732D-EFC5-4BA8-ED29
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 11

03/04/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.662 DISTRITO FEDERAL

VOTO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (Relator):

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO


DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE VIGÊNCIA DE
MEDIDAS DO PROGRAMA EMERGENCIAL DE
MANUTENÇÃO DE EMPREGO E RENDA.
1. Ação direta de inconstitucionalidade
para que seja conferida interpretação
conforme a Constituição a dispositivos das
Leis nºs 13.979/2020 e 14.020/2020, que
tratam do prazo de vigência de medidas do
Programa Emergencial de Manutenção de
Emprego e Renda (PEMER).
2. Os artigos impugnados não
comportam mais de uma exegese, uma vez
que limitam o período de vigência da
política de “manutenção de emprego e
renda” a 31 de dezembro de 2020, em razão
da pandemia da COVID-19. O seu sentido é
unívoco, não sendo cabível a interpretação
conforme a Constituição. Precedentes.
3. Pedido julgado improcedente.

1. A presente ação direta de inconstitucionalidade objetiva a


prorrogação das medidas que integram o Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e da Renda (PEMER), instituído pela Lei nº
14.020/2020. Pleiteia-se, para esse fim, que seja conferida interpretação

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 208C-F7FE-F5CB-5C38 e senha 1413-2D5F-927F-C0B0
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 11

ADI 6662 / DF

conforme a Constituição a dispositivos das Leis nº 14.020/2020 e nº


13.979/2020, os quais limitaram o período de vigência das normas a 31 de
dezembro de 2020.

2. Registro, inicialmente, que a presente ação direta está apta


para ser julgada no mérito, na medida em que o contraditório formal está
aperfeiçoado e foram colhidas manifestações das partes envolvidas, do
Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. Ainda
que as informações tenham sido solicitadas para a apreciação da medida
cautelar, fato é que os interessados já se manifestaram exaustivamente a
respeito da matéria, tendo se pronunciado sobre o mérito. Assim, por
imperativo de celeridade processual, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal tem defendido ser tão oportuno quanto adequado emitir
pronunciamento jurisdicional definitivo. Destaco, dentre diversos
precedentes, os seguintes julgados: ADI 5.566, Rel. Min. Alexandre de
Moraes; ADI 5.253, Rel. Min. Dias Toffoli; e ADPF 190, Rel. Min. Edson
Fachin. Passo à análise do mérito.

3. Penso ser importante tecer breves considerações sobre a


interpretação conforme a Constituição. Tive oportunidade de decompor
esse princípio e técnica de controle de constitucionalidade da seguinte
forma: (i) cuida-se de escolha de uma interpretação da norma legal que a
mantenha compatível com a Constituição, em meio a outra ou outras
possibilidades interpretativas que o enunciado normativo admita; (ii) essa
interpretação busca encontrar um sentido possível para a norma, ainda
que não seja o mais evidente; (iii) além da eleição de uma das linhas
interpretativas possíveis, procede-se à exclusão expressa das demais; e
(iv) por via de consequência, a interpretação conforme a Constituição não
é só um preceito hermenêutico, mas, também, um mecanismo de controle
de constitucionalidade[1].

4. A finalidade desse princípio, como se percebe, é a de


preservar a constitucionalidade da norma questionada, em deferência ao

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 208C-F7FE-F5CB-5C38 e senha 1413-2D5F-927F-C0B0
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 11

ADI 6662 / DF

princípio democrático. Se o sentido mais evidente for compatível com a


ordem constitucional vigente ou se a norma não comportar mais de uma
possibilidade interpretativa, não há que se falar em recurso à
interpretação conforme. Nessa perspectiva, como já afirmado por esta
Corte, a interpretação conforme a Constituição é “técnica a ser utilizada
(...) quando, diante da existência de duas ou mais interpretações
possíveis, uma delas seja eleita como ajustada ao texto constitucional”
(ADI 3026, Rel. Min. Eros Grau).

5. O prazo de vigência das medidas de manutenção do


emprego e renda, em razão da pandemia da COVID-19, não comporta
mais de uma interpretação. O seu sentido é unívoco. Tanto é assim que o
requerente não apresenta nenhum argumento que infirme a
constitucionalidade do preceito legal questionado, mas apenas dissente
da limitação de sua vigência a 31 de dezembro de 2020. Desse modo, a
interpretação conforme não é cabível na espécie.

6. Nesse contexto, mostra-se inviável o acolhimento do


pedido de interpretação conforme a Constituição, para fins de extensão
de prazo de vigência dos arts. 8º da Lei nº 13.979/2020 e 1º, 2º, 7º, 8º, § 6º,
16, parágrafo único, 18, § 4º, e 25, § 1º, da Lei nº 14.020/2020.

7. Diante do exposto, julgo improcedente o pedido.

8. É como voto.

[1] Barroso, Luís Roberto. O controle de Constitucionalidade no


direito brasileiro, 2019, p. 106.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 208C-F7FE-F5CB-5C38 e senha 1413-2D5F-927F-C0B0
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 03/04/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 11

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.662


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL
ADV.(A/S) : PAULO MACHADO GUIMARAES (05358/DF) E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o


pedido, nos termos do voto do Relator. Plenário, Sessão Virtual de
24.3.2023 a 31.3.2023.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código E6D9-7B40-5E85-0DB0 e senha 8803-50EE-CB40-83FD

Você também pode gostar