Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Morte Cruzada' Do Executivo e Do Legislativo - JOTA Info
A Morte Cruzada' Do Executivo e Do Legislativo - JOTA Info
×
Receba os resultados dos principais julgamentos tributários no STF, no STJ e no Carf diretamente
no seu e-mail no mesmo dia da decisão. Conheça e assine o JOTA PRO!
DEFENSOR LEGIS
03/02/2021 07:58
OCongresso
JOTA faz Nacional / Crédito:
uso de cookies Marcello
para Casal
oferecer umaJr/Agência Brasil
melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
Quando se volta a falar de impeachment no Brasil, vale a pena conhecer a gura jurídica
ESTOU CIENTE
da “morte cruzada”, alcançada como consequência da aplicação dos artigos 130 e 148
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 1/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
Ocorre que, nos dois casos, é como se (para usar uma metáfora do boxe) quem dá um
nocaute levasse outro igual. Se a Asamblea Nacional remove o presidente da República,
ca automaticamente dissolvida: são convocadas novas eleições gerais tanto para o
Poder Executivo, quanto para o Poder Legislativo. Da mesma forma, se o presidente da
República dissolve a Asamblea Nacional, ca automaticamente destituído.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
De acordo com o artigo 130 da Constituição do Equador, a Asamblea Nacional pode
destituir o presidente em dois casos: 1) por avocar funções que não lhe correspondem
ESTOU CIENTE
constitucionalmente (como, por exemplo, tirar os magistrados da cúpula judicial),
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 2/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
Por seu turno, o presidente da República pode dissolver a Asamblea Nacional em três
situações: 1) quando, a seu juízo, esta tiver assumido funções que não lhe
correspondem constitucionalmente, também após parecer favorável do Tribunal
Constitucional; 2) se esta se obstruir repetidamente e injusti cadamente à execução do
Plano Nacional de Desenvolvimento (que equivaleria à aprovação das leis do programa
de governo); ou 3) por grave crise política e comoção interna. Esse poder também só
pode ser exercido pelo presidente uma única vez nos primeiros 3 anos do mandato,
que é de 4 anos.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 3/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
Está claro que a “morte cruzada” e o impeachment não são guras equivalentes, o que
prejudicaria qualquer comparação. Inclusive, a Constituição do Equador também traz
sua própria modalidade de julgamento político do presidente da República pela prática
de crimes, conforme o art. 129.
Como ainda não foi usada desde a sua instituição, a gura desperta dúvidas sobre se é
simplesmente ine caz ou se está realmente conseguindo alcançar seu objetivo de
conferir alguma estabilidade na política do Equador.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 4/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
É a ideia da “pele em risco” (skin in the game) explorada pelo trader de opções
nanceiras e lósofo Nassim Taleb, que usa justamente os políticos como exemplo de
assimetria na sociedade: por vezes, sem arriscar a própria pele, os políticos mantêm os
ganhos e vantagens de governar, transferindo os prejuízos e desvantagens de suas
ações aos governados[1].
Aqui, não se defende que a inovação jurídica equatoriana seja usada como modelo
para Brasil. A possibilidade de o presidente da República dissolver o Parlamento e
convocar novas eleições até chegou a existir na Constituição de 1937, art. 167,
parágrafo único, mas sem que o presidente caísse junto (ou seja, a medida era tão
autocrática quanto a própria a Carta de 1937). Hoje, à luz da atual Constituição de
1988, a providência seria inconstitucional e crime de responsabilidade, por atentar
contra “o livre exercício do Poder Legislativo”, nos termos do art. 85, inciso II.
A ideia é chamar a atenção para a necessidade de uma medida que gere real equilíbrio
entre os poderes, sem instabilidade política ou paralisia decisória. Além disso, é
necessário que os mecanismos de checks and balances não desvirtuem as naturezas e
funções dos poderes, em especial do Poder Legislativo. Este argumento cará claro
mais adiante.
Não é de hoje que o sistema presidencialista (não o modelo puro, mas o existente
concretamente nos países) é apontado como uma das principais razões para o
fracasso das democracias latino-americanas. Karl Loewenstein já a rmava que o “tipo
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
americano de governo” é o de mais difícil funcionamento. Embora, haja quem discorde
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
de que o problema seja o presidencialismo em si, tal diagnóstico é a opinião
majoritária.
ESTOU CIENTE
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 5/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
Na prática, os poderes do Congresso Nacional são enormes, o dia a dia revela que a
aprovação das leis de interesse do governo requer um tipo especial de acordo, formado
a partir de uma coalizão, resultado de negociações que incluem, não só o conteúdo das
medidas legislativas (que costumam des gurar as propostas de iniciativa do
presidente), mas também uma série de outras questões, como a aprovação de
emendas orçamentárias, distribuição de recursos de forma mais ampla, indicação de
cargos na administração pública, etc.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
No prática.
essa entanto, como
Saiba aqui
mais em não
nossa se permite
Política nada parecido à dissolução do Parlamento,
de Privacidade.
quando surge uma crise, o impeachment costuma ser apresentado como solução para
o ESTOU
sistema se livrar de um presidente incompetente ou impopular.
CIENTE
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 6/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
No momento em que este texto é escrito (dia 31 de janeiro de 2021), isso ainda não
vem acontecendo, ao menos segundo o termômetro que é a ferramenta Google Trends:
no Brasil, o ápice de buscas pela palavra impeachment ocorreu entre 17 e 23 de abril de
2016. Embora as pesquisas venham subindo desde o dia 12 de janeiro de 2021, o
número ainda é in nitamente inferior ao da época do último impeachment no país.
Mas já que o impeachment parece estar entrando para a agenda de 2021, convém
recordar que se trata de um julgamento político – ou político-jurídico – mas jamais
estritamente jurídico. E aqui se chega ao que se queria comentar sobre o papel do
Poder Legislativo nesse processo, conforme o desenho institucional que lhe foi
reservado na Constituição de 1988.
3º), sendo certo que tais poderes não devem ser confundidos com os poderes de pedir
informações (art. 50, § 2º).
Explicado tudo isso, o que se extrai de conclusão é que, ao menos à luz da atual CF, é
duvidoso que exista uma atribuição (ou sequer uma autorização) constitucional para o
Poder Legislativo (ou de quaisquer de suas Casas) usar o mecanismo de impeachment
para “investigar” o presidente da República.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__ul… 8/10
03/02/2021 A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo | JOTA Info
Em terceiro lugar, porque, se para instaurar uma CPI é necessário “fato determinado”,
então, a fortiori, para admitir o processamento de uma denúncia de impeachment (que
é muito mais grave), é preciso cumprir requisito semelhante, sob a forma de uma
mínima exposição do fato que con gura crime de responsabilidade e todas as suas
circunstâncias (até mesmo para permitir a defesa), acompanhada, ainda, de “justa
causa” consistente em lastro probatório mínimo que embase a acusação. Portanto,
isso reconduz à impossibilidade de usar o impeachment como meio de investigação,
sob pena de confundir causa e consequência.
Remover do cargo um presidente da República para impedir que, com o poder que o
cargo lhe confere, ele cause mais danos à nação, de fato é uma decisão que cabe ao
Poder Legislativo, mas cada vez mais ca a impressão que o impeachment é uma
ferramenta mal compreendida no Brasil: uns pretendem usá-lo como se fosse uma
moção de censura (sem a prática de crimes de responsabilidade), outros querem
instrumentalizá-lo como “procedimento de investigação”, o que converteria o
Congresso Nacional em uma grande CPI, sem qualquer lastro constitucional.
Daí que a ideia da “morte cruzada”, mesmo com todas as críticas, tem o mérito de
garantir algum skin in the game parlamentar, evitando desvio de nalidade e invocações
temerárias de impeachment.
ESTOU CIENTE
[1] TALEB, Nassim Nicholas. Arriscando a própria pele: assimetrias ocultas no cotidiano. Rio de
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
ESTOU CIENTE
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-executivo-e-do-legislativo-03022021?utm_campaign=jota_info__… 10/10