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COMO APLICAR A TROPA DE OPERAÇÕES ESPECIAIS NO COMBATE DAS


FACÇÕES CRIMINOSAS.

Gilberto Alves Nunes Junior1


Carmine Brescovit 2

RESUMO: O presente trabalho de conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Gerenciamento de


Polícia Militar tem por objetivo achar formas legais, eficientes e rotineiras para a utilização da tropa de
operações especiais do Rio Grande do Sul no combate as facções criminosas, para tanto será abordada
a legislação vigente, assim como técnicas aplicadas no assalto tático. Este artigo científico, quanto a sua
natureza, é aplicada, pois objetiva gerar conhecimento. Com relação à forma de abordagem do problema
é doutrinária e legislativa. Quanto ao nível de pesquisa é exploratória, pois envolve levantamento
bibliográfico e documental, além de experiências pessoais como operador do GATE (Grupo de Ações
Táticas Especiais). Quanto ao método cientifico lança-se mão neste estudo do método dedutivo, pois
conforme coleta de dados e informações obtém-se a resposta ao problema desta pesquisa, qual seja
como empregar a tropa de operações especiais para o enfraquecimento das ações das facções criminosas
no Rio Grande do Sul? Conforme análise da legislação vigente, observa-se que com o devido apoio da
inteligência policial é possível que o GATE faça intervenções nos locais onde estejam ocorrendo crimes
permanentes, aumentando o êxito nas prisões e apreensões, e tornando a ação mais segura.

Palavras-chaves: Brigada Militar. GATE. Crime Permanente. Facções Criminosas.

ABSTRACT: The present work of conclusion of the Superior Course of Technology in


Management of Military Police aims to find legal, efficient and routine forms for the use of the
troop of special operations of Rio Grande do Sul in the fight against the criminal factions, for
that will be approached the current legislation, as well as techniques applied in tactical assault.
This scientific article, as to its nature, is applied, because it aims to generate knowledge.
Regarding the approach to the problem is doctrinal and legislative. As for the level of research,
it is exploratory, as it involves a bibliographical and documentary survey, as well as personal
experiences as an operator of the GATE (Tactical Actions Group). As for the scientific method,
this study of the deductive method is used, since according to the collection of data and
information the answer to the problem of this research is obtained, which is how to employ the
special operations troops to weaken the actions of the criminal factions in Rio Grande do Sul?
According to current legislation analysis, we observed that with the support of police
intelligence, it is possible for GATE to intervene in places where ongoing crimes are occurring,
increase prison success and seizure, and make action safer.

Keywords: Military Brigade. GATE. Permanent Crime. Criminal Factions.

1
Aluno Tenente do Curso Superior de Tecnologia em Gerenciamento de Polícia Militar. Graduado em Gestão em
Segurança Pública, pela Unisul-SC em 2016. E-mail funcional Gilberto-alves@brigadamilitar.rs.gov.br.
2
Capitã da Brigada Militar. Mestre em Ciências Policiais, pelo Instituto Superior de Ciências Policiais e segurança
interna.
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1 INTRODUÇÃO

Nosso país está tomado por grupos organizados que disputam violentamente seus
territórios, e isto não é diferente no estado do Rio Grande do Sul. Todos os dias se vê novas
notícias que revelam as ações cada vez mais ousadas destas facções. Neste viés é necessário
que o Estado tome medidas drásticas e efetivas para conter esta onda de criminalidade. Cabe
assim ao poder público através da Brigada Militar traçar estratégias para a redução destes
índices.

A Brigada Militar detém uma tropa de operações especiais altamente preparada e


qualificada para lidar com situações adversas, no entanto esta ferramenta especializada não vem
sendo muito utilizada no combate a estas facções. Por isso é necessário a busca de subterfúgios
e meios legais de emprego, afim de embasar sua aplicabilidade.

O presente artigo científico visa trabalhar a legislação nacional afim de buscar


embasamento legal para melhor empregar a tropa de operações especiais no Estado do Rio
Grande do Sul, relacionando o direito constitucional da inviolabilidade de domicílio e a prisão
em flagrante no crime permanente. Para isso é necessário entender como é possível empregar a
tropa de operações especiais para o enfraquecimento das ações das facções criminosas no Rio
Grande do Sul. Para tanto é preciso analisar como agem as tropas de operações especiais,
contextualizando-as, buscando suas origens e a melhor forma de utiliza-las, identificar as
principais facções criminosas do nosso Estado e quais crimes cometem.

Importante ainda analisar a legislação quanto ao crime de violação de domicílio e sobre


os crimes permanentes, situações concernentes aos delitos praticados pelas facções criminosas,
pois para combater os mesmos é imprescindível o uso do método CQB o qual destina-se ao
emprego da tropa especializada em espaços confinados, que tem como base a invasão em
residências utilizando técnica, velocidade e agressividade, para que com isso possa reduzir as
chances de reação dos delinquentes.

Com base neste estudo será possível concluir como empregar as tropa de operações
especiais no combate às facções criminosas, através de embasamento legal referente a entrada
em residências onde estiver ocorrendo crimes permanentes, mesmo sem autorização judicial.
3

Embora já exista jurisprudência positiva sobre o fato, e qualquer policial possa proceder
este tipo de busca, o grupo especializado é capaz de desenvolver de forma mais técnica e segura
as ações contra estes grupos organizados e armados.

2 A MISSÃO LEGAL DA BRIGADA MILITAR

A Brigada Militar (BM) do Rio Grande do Sul, criada em 1837, é a força de segurança
pública que têm por função constitucional o policiamento ostensivo e a preservação da ordem
pública no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, conforme expressamente previsto na
Constituição Federal, no Art. 144, abaixo transcrito

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública;
aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil. 3

Destaca-se que os servidores vinculados à Brigada Militar, são considerados militares


estaduais conforme dispõe o artigo 42 da Constituição Federal de 1988, então veja-se:

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,


instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além
do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do
art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.4

3 BRASIL, BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, consta
disponível em < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/ Constituicao/ Constituicao.htm> acesso em 17 de outubro
de 2018.
4
Ibidem
4

Cabe ainda referir que a BM é força auxiliar do Exército Brasileiro, composta por
homens e mulheres espalhados em todos os municípios do Rio Grande do Sul, atuando de forma
ostensiva e preventiva, segundo conceitua o item 27 do R200:

Ação policial, exclusiva das Policias Militares em cujo emprego o homem ou a fração
de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo
equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública. 5

Assim conforme previsto na Constituição Federal, a BM tem como função a manutenção


da ordem pública, tendo suas competências reguladas pela Lei nº 10.991 de 1997.

Art. 3º - Compete à Brigada Militar:


I - executar, com exclusividade, ressalvada a competência das Forças Armadas, a
polícia ostensiva, planejada pela autoridade policial-militar competente, a fim de
assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos
poderes constituídos;
II - atuar preventivamente, como força de dissuasão, em locais ou área específicas,
onde de presuma ser possível a perturbação da ordem pública;
III - atuar repressivamente, em caso de perturbação da ordem pública e no
gerenciamento técnico de situações de alto risco;
IV - exercer atividades de investigação criminal militar;
V - atuar na fiscalização e controle dos serviços de vigilância participar no Estado;6

Ante o exposto, resta evidenciado que a missão legal da BM é preservar a ordem pública
através do emprego do seu efetivo, ou seja, dos militares estaduais, agindo como força auxiliar
e reserva das forças armadas, tendo como competência constitucional a preservação da ordem
pública.

5 BRASIL, decreto nº 88.777, de 30 de setembro DE 1983, Aprova o regulamento para as policias militares e
corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D88777.htm> acesso em 25 de agosto de 2018.
6 RIO GRANDE DO SUL, Lei 10991 de 1997. Dispõe sobre a organização básica da brigada Militar do
Estado do Rio Grande do Sul. Consta disponível em
<http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repLegisComp/Lei%20n%C2%BA%2010.991.pdf> acesso em 26 de
setembro de 2018.
5

3 INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: CONCEITOS E NORMAS PERMISSIVAS

O direito a inviolabilidade de domicílio foi uma conquista importante do povo brasileiro,


embora já constasse em outras constituições, foi no poder constituinte de 1988 atingiu seu ápice,
a carta magna em seu artigo 5º elencou um rol extenso de direitos individuais, conhecidos como
princípios e garantias fundamentais. O conceito de domicílio está em sentido lato senso no art.
70 do Código Civil Brasileiro: “art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela
estabelece a sua residência com ânimo definitivo”.7
A noção de domicílio é de grande importância no direito, segundo Washington:

Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham
um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas
para responder por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um
lugar certo no espaço, de onde irradiem sua atividade jurídica. Esse ponto de
referência é o seu domicílio (do latim “domus”, casa ou morada).8

O vocábulo “domicílio” tem significado jurídico relevante em todos os ramos do direito.


E o ato de violar tem seu sentido literal disposto no dicionário Aurélio:

Cometer violação ou desrespeito de norma, lei, acordo; desrespeitar lugar sagrado ou


merecedor de respeito; Abrir sem pedir autorização; Forçar a abertura; Entrar
ilegalmente. Sendo que inviolabilidade é a qualidade de inviolável que significa: o
que não se deve ou não se pode violar, sagrado.9

A casa tem tanta importância no mundo jurídico que existem várias normas penais que
a tutelam, tanto é verdade que o Código Penal reserva uma seção inteira para tratar do assunto.
Então veja-se:

SEÇÃO II
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

7 BRASIL, LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Código Civil Brasileiro. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> acesso em 6 de setembro de 2018.
8 VICENTE, Ráo, O direito, cit., n. 150; Washington de Barros Monteiro, Curso, cit., v. 1, p. 134; Silvio
Rodrigues, Direito civil, cit., v. 1, p. 103.
9 DICIONÁRIO AURÉLIO. Consta disponível em <https://dicionariodoaurelio.com. Acesso em 06 de setembro
de 18.
6

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.


§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de
violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público,
fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou
com abuso do poder.
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas
dependências
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado
ou na iminência de o ser. :( grifo nosso).
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo
a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.10

Pode-se analisar que o parágrafo segundo do tipo traz um caso de aumento de pena se o
crime for cometido por funcionário público. Nesse sentido, para o Código Penal, “Art. 327 -
Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. 11 Fica evidente a intenção do
legislador em proteger a residência do indivíduo, ainda mais quando se trata da ação do agente
público investido pelo poder do Estado, neste viés ainda temos a Lei nº 4898 de, que trata sobre
o Abuso de Autoridade que apresenta o seguinte texto: “Art. 3º. Constitui abuso de autoridade
qualquer atentado: [...] b) à inviolabilidade do domicílio”; (grifo nosso).12

Ainda segundo a doutrina é imprescindível que a atividade pública seja isenta de


ilegalidade conforme ensinamentos de Damásio de Jesus, “é o interesse concernente a normal

10 BRASIL, Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível


em<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm.> Acesso em 20 de agosto 2018.
11 Ibidem.
12 BRASIL, Lei 4898 de 9 de dezembro de 1965, Regula o Direito de Representação e o processo de
Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade, consta disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4898.htm> acesso em 17 de outubro de 2018.
7

funcionamento da administração pública em sentido amplo, no que se refere à conveniência de


garantia do exercício da função pública sem abuso de autoridade.”13

A Constituição Brasileira seguiu uma tendência mundial e buscou ser mais cidadã e
democrática, trazendo em seu texto direitos que colocaram a dignidade da pessoa humana em
evidência. Mas assim como outros direitos a inviolabilidade de domicílio não é um direito
absoluto (que não pode ser violado), e sim um direito relativo (podendo ser violado), pois a
própria norma constitucional traz tipos permissivos, ou seja, situações que permitem que esse
direito seja violado.

Mas de fato é preciso que sua violação seja de forma imprescindível e legal. De acordo
com Konrad Hesse:

A limitação de direitos fundamentais deve, por conseguinte, ser adequada para


produzir a proteção do bem jurídico, por cujo motivo ela é efetuada. Ela deve ser
necessária para isso, o que não é o caso, quando um meio mais ameno bastaria. Ela
deve, finalmente, ser proporcional em sentido restrito, isto é, guardar relação
adequada com o peso e o significado do direito fundamental. 14

Contudo, este direito em específico, como já citado anteriormente, traz na própria norma
máxima algumas situações que permitem que o domicílio seja violado, assim a Constituição
Federal em seu art. 5º inciso XI diz o seguinte:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (grifo nosso).15

Assim como também o já citado artigo 150 do Código Penal brasileiro traz em seu
parágrafo 3º, incisos I e II excludentes deste crime.

13 JESUS, Damásio E. Direito Penal: Parte Geral, v. 1. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 63.
14 HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha, p. 256. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998.
15 BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
8

Conforme análise da legislação pode-se observar que mesmo que o legislador tenha se
preocupado em proteger este bem jurídico, teve também o cuidado de flexibiliza-lo, trazendo
nas mesmas normas formas legais de violação.

4 CRIME PERMANENTE

O crime permanente é uma modalidade de delito que por suas características se prolonga
no tempo, conceitualmente.

Crimes permanentes, também chamados de crimes de conduta permanente, são


aqueles cuja consumação se protrai no tempo, estendendo-se a conduta enquanto
perdurar a prática delitiva. No âmbito processual penal, é possível a prisão em
flagrante enquanto não cessar a permanência.16

Por isso enquanto não cessar a ação o agente se mantem em estado de flagrância,
podendo ser preso a qualquer tempo.
Segundo o Código de Processo Penal brasileiro, CPP:

CAPÍTULO II – Da Prisão em Flagrante


Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão
prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante
delito enquanto não cessar a permanência.17(grifo nosso).

Desse modo, quando o agente está praticando crime permanente, está em constante
estado de flagrância, situação que possibilita a entrada do policial militar no domicílio do
agente, mesmo sem autorização judicial, isto quer dizer que o policial ao entrar em uma

16IMPORIO DO DIREITO, consta disponível em <mporiododireito.com.br/leitura/crime-permanente-e-estado-


de-flagrancia-dispensa-de-mandado-em-busca-domiciliar> acesso em 09 de setembro 18.
17. BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
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residência sem a devida ordem judicial, necessita de fundadas suspeitas que naquela casa esteja
ocorrendo um crime permanente, para Assis:

A fundada suspeita não pode ser baseada unicamente em critérios subjetivos,


necessitando de algo concreto para não causar constrangimento desnecessário ao
abordado. A partir desse raciocínio, observa-se que a simples vontade do policial em
efetuar uma busca pessoal sem nada concreto que leve a crer haver algo ilícito está
ocorrendo ou na iminência de ocorrer, não está alinhada aos aspectos legais e
doutrinários até aqui estudados.18

O CPP em seu capítulo XI, traz a regra da busca domiciliar, onde são necessários
elementos objetivos e ordem escrita da autoridade judiciária para ser executada:

CAPÍTULO XI – Da Busca e da Apreensão


Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando
haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do
fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita
de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas
letras “b” a “f ” e letra “h” do parágrafo anterior.19

Em regra a busca e apreensão é realizada mediante autorização judicial, e executada


durante o dia, sendo observado alguns quesitos dispostos em lei. Todavia esta como algumas
outras normas não é absoluta, podendo assim ser realizada sem autorização judicial.
Com objetivo de efetuar a prisão em flagrante, é preciso que a autoridade policial esteja
em situação de quase certeza do ilícito, afim de não incorrer no crime de Abuso de Autoridade
pois além de cometer uma ilegalidade. Pois toda a prova colhida do fato se tornará ilegal e

18RECANTO DAS LETRAS, disponível em <https://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/4296632>


acesso em 09 de setembro 18.
19 BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
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estará sujeita ao desentranhamento do processo, conforme prevê o instituto jurídico do fruto da


arvore envenenada, disposto no artigo 157 do CPC, então veja-se:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas


ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites
típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta
será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. 20

Conforme texto legal acima, as provas obtidas de forma ilícita, não podem ser utilizadas
no processo. Isto quer dizer, se a prisão e as provas forem colhidas pelos policiais com violação
do domicílio, em outras palavras, em desacordo com a previsão constitucional, as mesmas serão
anuladas e tornarão a prisão sem efeito.

No entanto, estando evidenciado a localização dos ilícitos os policiais poderão de modo


legal adentrar na residência, e a qualquer tempo efetuar a prisão. A entrada preferencialmente
deve ser de forma franqueada, contudo pode ser efetuada com rompimento de obstáculo, aliás
este último, em se considerando armas e o modo violento que agem estas facções criminosas,
seria a maneira mais indicada e eficaz para situação.

Fica claro que a atuação das facções criminosas é de forma permanente, pois guardam
em seu poder drogas e armas, logo a tropa especializada poderia agir sem violar domicílio,
considerando dados apurados pela inteligência policial.

20BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
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5 A TROPA DE OPERAÇÕES ESPECIAIS “COMANDOS”

Considerando a missão legal da BM, importante conhecer também o que é uma tropa de
operações especiais, para na sequencia, compreender a forma de utiliza-la no combate às
facções criminosas. Nesse sentido, pode-se afirmar que as tropas de operações especiais são
conhecidas no mundo todo como “comandos”, conforme Queiros explica, “são chamados
comandos as tropas de elite pertencentes as Forças Armadas, altamente treinadas e qualificadas,
de ação rápida, especializada em ações em locais impróprios, onde é contraindicado o uso de
tropas convencionais, tendo papel fundamental em uma variedade múltipla de missões e tarefas,
táticas estratégicas”.21
Ainda segundo Queiros:

O termo nasceu a partir da designação de Kommando que os bôeres da África do


Sul davam às suas tropas de operações especiais na guerra contra os britânicos, no
princípio do século XX. A palavra Kommando por sua vez teria tido origem no
termo português "Comando", utilizado na Índia no sentido de um grupo de tropas sob
um comando autônomo que desempenhava missões especiais durante uma batalha ou
cerco. Na África do Sul tropas similares atuavam em pequenos destacamentos, que se
deslocavam normalmente a cavalo, e lançavam ataques rápidos contra as tropas
britânicas. Durante a 2ª Guerra Mundial tanto os britânicos como
os alemães decidiram reutilizar este termo para designar as novas tropas de operações
especiais que tinham formado (as britânicas designadas Commandos e as
alemãs Kommandos). Posteriormente o termo foi utilizado por outros países para
designar algumas das suas forças de elite.22

No Brasil este tipo de tropa teve seu início após a segunda grande guerra mundial,
através da participação da Brigada paraquedista brasileira. Nesse sentido, explica Garcia que:

Os militares brasileiros que estiveram no segundo conflito mundial observaram o


valor das tropas de operações especiais começando pelos paraquedistas, comandos e
forças especiais [...] Com foco na doutrina americana e na determinação que os
alemães possuíam, que nosso Exército abonou a implantação dessa nova modalidade
de luta.23

21
QUEIROS, S.MELLO, As Operações Especiais Contadas pela História do Brasil, consta disponível em <
https://pt.slideshare.net/pdca_consultores/sergio-de-mello-queiroz-ope-esp>acesso em 06 de setembro 2018.
22 Ibidem.
23GARCIA, Marcelo. História das Operações Especiais Militares e Policiais. Porto Alegre: CORAG, 2011, p 94
12

Assim, com base na experiência adquirida na 2ª guerra mundial, o Exército Brasileiro


criou sua tropa de comandos que tem características semelhantes a muitas outras do mundo,
estes militares agem de forma peculiar em comparação as tropa convencional, sendo suas ações
denominadas ação de comandos, conforme Glossário de Termos e Expressões para Uso no
Exército ação de comandos é:

Tipo de operação especial realizada por tropa habilitada, de valor e constituição


variáveis, por intermédio de uma infiltração terrestre, aquática ou aérea, contra alvos
de valor estratégico, operacional ou crítico, sob o ponto de vista tático, localizados em
áreas hostis ou sob controle do inimigo. 24

Alguns exemplos de tropas de elite das forças armadas no Brasil são: 1º Batalhão de
Ações de Comandos (1º BAC) - Exército Brasileiro; Batalhão de Operações Especiais de
Fuzileiros Navais e Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC) - Marinha do
Brasil; e Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (PARA-SAR) - Força Aérea Brasileira.
Com a diminuição dos conflitos de nível mundial, e com aumento dos conflitos internos
as polícias do mundo viram a necessidade de investir em treinamento e formar grupos
especializados. Conforme narra Monet.

Importantes fatos históricos foram determinantes para a criação de unidades


especializadas para enfrentamento a crimes que fogem do cotidiano policial e entram
no quadro de crimes de alto risco, entre eles o atentado da vila olímpica de Munique,
em 1972, desde então a polícia alemã possui a unidade GSG 9 para atendimento a
estas ocorrências. Na França estas ocorrências são enfrentadas pelo GIGN – Grupo de
Intervenção da Gendarmaria Nacional. Os britânicos utilizam a força SAS – Special
Air Service que atuou, por exemplo, contra o IRA.25

Desse modo, o entendimento desde a formação dos grupos especiais, os mesmos são
destinados para a atuação em eventos complexos, devido a sua qualificação e
comprometimento. Além disso segundo ensinamentos de Dunnigan estas tropas “São
conduzidas por forças militares e/ou paramilitares especificamente organizadas, adestradas e

24 ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO. C 20-1 - Glossário de Termos e Expressões para Uso no Exército, 3ª


edição. Brasília, 2003, p.C-14.
25 MONET, Claude. Policias e Sociedade na Europa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001, p
257, 258.
13

equipadas, visando à consecução de objetivos militares, políticos, econômicos ou psicossociais,


em ambientes hostis e/ou sensíveis, nas situações de paz, crise ou conflito.26

Já no cenário nacional a necessidade das polícias militares evoluírem para a formação


de grupos especializados, ocorreu inicialmente nos Estados de São Paulo e Paraná, segundo
Garcia, tendo a necessidade sido percebida “A necessidade foi percebida após confronto entre
forças policiais e indivíduos liderados por Carlos Lamarca, ex-capitão do Exército Brasileiro,
na localidade de Vale do Ribeira situado entre a divisa dos estados paulista e paranaense”27.

Também a partir desse fato surge, na década de 70, a mais famosa tropa de operações
especiais do país, o Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, BOPE-RJ,
conforme explica Greco.

Com o aumento da criminalidade violenta nos idos da década de 70, surgiu a


necessidade de se ter no aparelho policial uma Unidade que possuísse recursos
materiais e humanos adequadamente preparados para situações diversas e
específicas.28

Conforme o que foi visto e seguindo uma tendência nacional, nosso estado, preocupado
em prevenir o possível avanço da criminalidade, e baseado nas doutrinas mundiais, formou seu
grupo de operações especiais, um grupo de pequeno porte com armamento e treinamento
diferenciado com característica multimissão.

5.1 A TROPA DE OPERAÇÕES NO RIO GRANDE DO SUL

Conforme visto anteriormente, é no Rio de Janeiro que está localizada a mais conhecida
tropa especial estadual do Brasil, motivo pelo qual em meados do ano 1988 o então 1º tenente
Heitor de Sá Carvalho da Brigada Militar deslocou ao Estado Fluminense e concluiu com êxito
o COESP, Curso de Operações Especiais. Após seu retorno fundou na sede do 9º Batalhão de

26 DUNNIGAN, James F. Ações de Comandos: operações especiais, comandos e o futuro da guerra dos EUA.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2008, p 14.
27 GARCIA, Marcelo. História das Operações Especiais Militares e Policiais. Porto Alegre: CORAG, 2011, p
101,102.
28 GRECO, Rogério. Atividade Policial: aspectos penais, processuais penais, administrativos e
constitucionais. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Impetus, p 267.
14

Polícia Militar o CT-9, que em 3 de abril de 1990 passou a se denominar GATE, através do
Decreto 33.512, abaixo transcrito:

Altera a Organização Básica da Brigada Militar do Estado e outras providencias. O


GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, no uso da sua
atribuição que lhe confere o artigo 82, item V da Constituição do Estado e
considerando o artigo 51 da Lei 7.556, de 20.11.81, Lei de Organização Básica da
Brigada Militar. DECRETA:
Art. 1º - Fica criado, na estrutura do Batalhão de Polícia de choque (BPChq), da
Brigada Militar, um Grupamento de Ações Táticas Especiais (GATE).
Art. 2º - O GATE será constituído pelo efetivo de um Pelotão, retirado de uma
Subunidade do BPChq.
Art. 3º - O emprego, o armamento, o equipamento e o adestramento do GATE será
regulado por ato do Comandante-Geral de acordo com a Legislação específica e
peculiar da Brigada Militar.
Art. 4º - Revogada as disposições em contrário, este Decreto passa a vigorar na data
de sua publicação. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 3 de abril de 1990. 29

Após a criação do GATE, como tropa especializada no Estado do Rio Grande do Sul, o
mesmo passou a ser empregado em ocorrências peculiares, como explica a Nota de Instrução
Operacional da Brigada Militar “Em todo o Estado do Rio Grande do Sul, cabe ao GATE atuar
em ocorrências que necessitem pessoal com maior grau de treinamento”30.
Além de atuar em situações não convencionais, o GATE como polícia militar tem o
dever de atuar na manutenção da paz, conforme ensinamentos de Bittner:

O cerne da manutenção da paz envolve o enfrentamento de emergências críticas e


desastres de toda espécie. Diante de tais situações, os policiais frequentemente são
envolvidos em operações de resgate, mas sua tarefa mais especifica é evitar o caos, a
violência e o pânico; manter a ordem; e lidar com quaisquer impedimentos ao resgate
e a esforços de auxílio. Ao fazerem isso, eles exigem que as pessoas ajam, ou as
proíbem de agir, através de algumas maneiras sejam ordens ou, quando necessário, o
uso da força.31

29 RIO GRANDE DO SUL. Decreto 33.512, 03 de abril de 1990. Disponível


em:http://www.al.rs.gov.br/legis/M010/M0100099.ASP?Hid_Tipo=TEXTO&Hid_TodasNormas=18313&hText
o=&Hid_IDNorma=18313. Acesso em: 06 de setembro de 2018.
30 BRIGADA MILITAR, Nota de Instrução Operacional Nº 014.1. Porto Alegre: Boletim Geral nº 213, de 20
Nov 2007. p. 4, consta disponível em <https://intranet.bm.rs.gov.br/> acesso em 17 de outubro de 2018.

31 BITTNER, Egon. Aspectos do trabalho policial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p34.
15

Em relação a esta finalidade de manter a ordem, evitar o caos, aplicar a lei e preservar
vidas é que existe a necessidade real da atividade policial executada por grupos especializados
em operações especiais, pois estes têm a capacidade necessária para atuar nestas situações.
O GATE é a tropa de operações especiais do Rio Grande do Sul sendo composta de um
pelotão, aproximadamente 30 (trinta) militares estaduais, inserido na estrutura do 1º Batalhão
de Operações de Porto Alegre. Este efetivo tem como missão atuar em eventos críticos e não
convencionais, onde se exija uma resposta mais especializada e pontual, conforme muito bem
leciona Greco:

O grupo tático é formado por policiais especializados e altamente treinados para as


funções que lhe são inerentes. Não são policiais convencionais, que atuam em toda e
qualquer infração penal, mas somente em casos extremos, nos quais o emprego de
técnicas especiais será, basicamente, a única solução.32

Assim com as facções cada vez mais articuladas, e armadas é de se considerar que suas
ações devem ser enquadradas no rol das ocorrências atendidas pelo GATE, uma vez que por
deter um forte poder bélico pode causar grandes danos à tropas convencionais.
Na busca de diminuir o impacto causado pelo tráfico de drogas e seus crimes conexos
(homicídio, posse e porte ilegal de arma entre outros) é necessário que o poder público
juntamente com a sociedade busque traçar meios de redução destes índices, e com a atuação do
GATE diminuir significativamente o poder financeiro e bélico das facções criminosas que agem
em nosso Estado. Mais do que relevante para a Brigada Militar este tema é essencial para a
retomada da tranquilidade e preservação da ordem pública missão constitucional da instituição.

32GRECO, Rogério. Atividade Policial: aspectos penais, processuais penais, administrativos e


constitucionais. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Impetus p, 155.
16

6 AS FACÇÕES CRIMINOSAS

Além de conhecer a previsão legal e a origem das tropas especializadas, importante


ainda entender o surgimento das facções criminosas para analisar a melhor forma de combatê-
las. O surgimento das facções criminosas no Brasil se deu no final da década de 70, segundo
Cipriani:

Em 1979 no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na prisão de Cândido


Mendes, foi criado o Comando Vermelho “CV” que tinha como lema “PAZ,
JUSTIÇA E LIBERDADE”, na época havia nesta casa prisional presos políticos e
criminosos comuns, deste intercambio surgiu a necessidade dos delinquentes se
unirem e organizar suas ações.33

No Rio Grande do Sul não foi diferente, pois foi dentro do antigo PCPA, hoje Cadeia
Pública de Porto Alegre, que surgiu a primeira facção gaúcha:

Por influência carioca, foi criado em 1980 dentro do Presidio Central de Porto Alegre
a “FALANGE GAÚCHA”, que tinha o mesmo propósito do Comando Vermelho. A
Falange Gaúcha reinou solitária por alguns anos no Estado, mas após a morte de
alguns líderes houve um racha surgindo assim a atual facção “OS MANOS”, liderados
por Dilonei Melara.34

Após problemas estruturais e o aumento dos homicídios dentro do Presídio Central, a


administração decidiu dividir os presos por afinidade, “assim as galerias na década de 90 eram
compostas por presos da mesma região e com mesmos ideais, nesta fase então se dividiu o
presídio em 03 (três) grandes facções “OS MANOS”, “OS BRASAS” e “OS ABERTOS”35,
esta decisão na época criou certa “estabilidade” dentro e fora da cadeia.
Após alguns anos de relativa paz surge um fator desestabilizador,
conforme Cipriani:

Em 2006 surge a facção “BALA NA CARA” ou “BNC” um fator desestabilizador do


mundo do crime na capital, com ações violentas estes criminosos queriam expansão
de suas “bocas de fumo” (locais de comércio de drogas), e para isso usavam a força,

33PERIÓDICOS ULBRA, Consta disponível em <http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/ direito/ article/


viewFile /2810 /2291. Acesso em 06 de setembro de 2018.
34 Ibidem
35 Ibidem
17

tendo como marca registrada o “tiro de esculacho”, que consistia em disparos de arma
de fogo na face das vítimas, assim as famílias teriam que fazer o velório com o caixão
fechado, este modo de ação além de ser sua marca deu nome à facção. 36

Afim de frear a expansão do BNC algumas facções menores se uniram e lideradas por
criminosos do beco 27, da vila cruzeiro, os “V7” encabeçaram um levante contra Os Bala,
surgindo assim “OS ANTI BALA”. Atualmente o PCPA é dividido basicamente entre “OS
MANOS”, “BNC” e “ANTI BALA”, embora esta divisão mantenha a cadeia em certa
harmonia, nas ruas a guerra está conflagrada, afim de proteger suas “bocas de fumo” as facções
estão aumentando seu poder bélico, em consequência há um aumento no número de homicídios
e de confrontos com as guarnições da Brigada Militar.

6.1 PRINCIPAIS DELITOS PERMANENTES COMETIDOS PELAS FACÇÕES


CRIMINOSAS: DOUTRINA E ASPECTOS JURÍDICOS

As facções criminosas são compostas por vários indivíduos, que agem em níveis
diferentes. Assim como uma empresa, além da organização estas pessoas cometem crimes
visando o lucro. Neste viés trabalham-se duas leis importantes para o conteúdo deste estudo: a
Lei 11.343 de ano 2006 lei que aborda a questão das drogas; e a Lei 10.826 de 2003, a qual
corresponde ao Estatuto do desarmamento.

6.1.1 CRIME DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES

No mundo todo o tráfico de entorpecentes é uma atividade ilícita muito rentável, a muito
tempo os narcotraficantes produzem e distribuem estas substâncias. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), traz no Decreto 344 de 1998 o significado de entorpecente,
“Entorpecente - Substância que pode determinar dependência física ou psíquica relacionada,

36 Ibidem
18

como tal, nas listas aprovadas pela Convenção Única sobre Entorpecentes, reproduzidas nos
anexos deste Regulamento Técnico”37.
O uso destas substâncias traz um grande impacto à saúde pública, por isso, além do tráfico
de drogas ser equiparado a um crime hediondo, o legislador se preocupou em editar leis que
combatam qualquer tipo de manipulação e distribuição destes produtos. Em nosso estado as
facções criminosas agem fortemente neste mercado, pois é de longe o crime que mais gera
recursos para as organizações, o decreto da ANVISA traz um rol extenso de substâncias, entre
estas as mais comercializadas no Rio Grande do Sul são a cocaína, e seu derivado “crack”, e o
THC (tetraidrocanabinol), ou popularmente chamado de maconha.
Na necessidade de suprir a procura do mercado, as organizações criminosas, adquirem
grande quantidade de entorpecentes a fim de abastecer suas “bocas de fumo”. Assim a Lei
11.343 traz em seu texto além da definição de droga os tipos penais referentes ao envolvimento
de agentes nesses crimes, segundo a lei, “consideram-se como drogas as substâncias ou os
produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.38
Verifica-se neste parágrafo que esta lei é uma norma penal em branco heterogenia, pois
faz remissão ao Decreto 344 da ANVISA, que lista tais substâncias.
A partir do artigo 28, a lei traz as condutas tipificadas como crime. Mas concentra-se o
estudo no artigo 33, o qual aborda o tráfico de drogas, percebe-se que se trata de um tipo penal
misto alternativo, onde é possível verificar vários verbos nucleares, então veja-se:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:39 (grifo nosso)

37 ANVISA. Consta disponível em <http://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/Portaria_344_98.pdf>:


acesso em 03 de outubro de 2018..
38 BRASIL, Lei 11.343 de 26 de agosto de 2016. Lei de drogas. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm> acesso em 03 de outubro de 2018.
39 Ibidem
19

Conforme doutrina este tipo é classificado da seguinte forma:

Trata-se de crime doloso, comum (excetuando a conduta de prescrever, que é próprio),


de mera conduta, de perigo abstrato e coletivo. Nas condutas de expor à venda, ter em
depósito, transportar, trazer consigo e guardar, o crime é permanente; nas demais é
instantâneo. Com exceção da conduta de oferecer feita verbalmente ou por gestos, que
é crime unissubsistente, todas as demais são plurissubsistentes.40

Dentre os muitos verbos, os sublinhados são considerados crimes permanente, então


veja-se:

Expor à venda: Tem o sentido de deixar exposto para que possa ser comprado.
Ter em depósito: É a retenção ou manutenção do objeto material para sua
disponibilidade, ou seja, para a venda ou fornecimento. O traficante dificilmente
mantém consigo a totalidade da droga. Geralmente, porta pequena quantidade para
que, no caso de prisão, alegue que era destinada a seu próprio consumo e, também,
para não perder toda a mercadoria. O restante da droga ele mantém em depósito em
algum local para a posterior disposição.
Trazer consigo: Significa portar, ter ou manter o objeto material consigo ou ao seu
alcance para sua pronta disponibilidade, ou seja, para venda ou fornecimento. Não há
necessidade de que a droga esteja junto ao corpo, podendo ser trazida, por exemplo,
dentro de uma mochila, pasta ou até mesmo no porta-luvas do automóvel. Para essa
conduta, exige-se que a droga esteja ao alcance do sujeito.
Guardar: Tem o sentido de reter o objeto material consigo em nome de terceiro. O
sujeito não é o proprietário e nem o possuidor do objeto material, mas, por algum
motivo, guarda-o para o seu proprietário, possuidor ou detentor.41

Assim havendo certeza de uma residência conter entorpecentes a polícia estará


autorizada, sem ordem judicial, a adentrar e efetuar a prisão e ou apreensão dos objetos ilícitos.

6.1.2 CRIME DE POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMA

Para garantir seus lucros as facções devem manter seus pontos de venda de drogas, e para
tanto, é necessário a defesa destes locais para que os rivais não os tomem. Há no Estado,
principalmente na cidade de Porto Alegre, uma crescente nas apreensões de armas de diversos

40MP-SP, Consta disponível em <http://www.mpsp.mp.br/ portal/page /portal/ documentacao_e_divulgacao


/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/A_LEI_DE_DROG
AS.pdf: acesso em 05 de outubro de 2018.
41 Ibidem
20

calibres, este fomento é devido a guerra entre estes organismos, pois com o intuito de proteção
e intimidação estes delinquentes buscam adquirir cada vez mais armas com alto poder letal.
A muito tempo há impasses sobre a posse de armas no Brasil, após muitas discussões
sobre permitir ou não o direito do cidadão civil adquirir uma arma de fogo, em 22 de dezembro
de 2003 foi editada a lei 10.826 Estatuto do Desarmamento, em 2005 houve um referendo sobre
o tema, que resultou com dois terços da população votando a favor da comercialização de armas
no Brasil, contudo o governo da época, mesmo contra a decisão da maioria dos brasileiros,
resolveu manter a referida lei que vigora até hoje.
Assim como outros crimes permanentes, manter em sua residência arma de fogo em
desacordo com Estatuto do Desarmamento, é considerado posse ilegal de arma de fogo, e o
agente estará em flagrante delito até que cesse a ação, assim o Estatuto traz em seu artigo 12:

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua
residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.42

A doutrina traz algumas classificações importantes sobre esse tipo:

Crime comum em relação ao sujeito que possui em sua casa e próprio em relação ao
sujeito que possui no local de trabalho; crime simples, de perigo abstrato e de mera
conduta porque dispensa prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a efetiva
situação de risco (a lei presume a ocorrência do perigo), bem como a superveniência
de qualquer resultado; permanente pois a consumação ocorre no momento em que a
arma dá entrada na residência ou estabelecimento comercial e permanece a situação
flagrância enquanto não cessada a conduta. Unissubjetivo e unissubsistente não
admitindo a tentativa, pois a tentativa de adquirir, mesmo para possuí-la em casa
deslocaria a conduta para o artigo 14.43

Assim, conforme já visto no crime de tráfico, o agente policial tem a possibilidade de


efetuar a prisão em flagrante, mesmo entrando porta a dentro sem consentimento do morador,
mas sempre tendo cuidado de ter a presunção que lá haja o ilícito.

42 BRASIL. Lei 10.826 Estatuto do desarmamento de 22 de dezembro de 2003,


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826compilado.htm: acesso em 05 de outubro de 2018.
43 CONTEÚDO JURÍDICO, Consta disponível em <https://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj026133.pdf
>acesso em 05 de outubro de 2018.
21

Neste contexto surgiram e atuam hodiernamente as facções criminosas no Rio Grande


do Sul, conhecimento fundamental para compreender o mecanismo de funcionamento das
mesmas e, consequentemente, combate-las com ações mais precisas e eficazes.

7 COMO APLICAR A TROPA ESPECIALIZADA NO COMBATE ÀS FACÇÕES


CRIMINOSAS

Conforme já aduzido, as facções criminosas existentes no Rio Grande do Sul, atuam de


forma violenta e organizada para manter o poder sobre a venda de entorpecentes. Assim, ante
o crime organizado é relevante que haja preparação da tropa especializada a ser empregada no
enfrentamento de tais grupos criminais.
Dessa forma, para que a o GATE seja utilizado de forma eficaz é preciso que haja um
planejamento estratégico que contemple não só a atividade de operações especiais propriamente
dita, mas também que haja uma estrutura de inteligência policial que trabalhe na coleta de dados
referentes a estas facções, para que assim seja possível a identificação e localização de áreas
críticas, tornando as ações mais precisas.

7.1 A INTELIGÊNCIA POLICIAL

De fato a polícia militar é uma instituição que deve agir de forma ostensiva e preventiva,
contudo com o avanço do crime organizado já não se pode permitir que as ações policiais sejam
de forma aleatória. Para tanto é necessário o emprego da inteligência policial, pois ela é capaz
de auxiliar os comandantes na aplicação de seus homens de forma mais eficaz.
Para o professor Celso Ferro:

A inteligência policial é a atividade que objetiva a obtenção, análise e produção de


conhecimentos de interesse da segurança pública no território nacional, sobre fatos e
situações de imediata ou potencial influência da criminalidade, atuação de
organizações criminosas, controle de delitos sociais, assessorando as ações de polícia
22

judiciária e ostensiva por intermédio da análise, compartilhamento e difusão de


informações.44

Dessa forma, a partir da obtenção de informações é possível identificar e localizar


drogas e armas. Com isso o grupo tático poderá utilizar técnicas e táticas especiais para efetuar
com rapidez prisões de pessoas e apreensões de objetos ilícitos com maior eficiência e menor
risco, inclusive tendo elementos de convencimento de que há crimes permanentes ocorrendo
em determinado local ou residência.

7.2 O MÉTODO CQB- CLOSE QUARTERS BATTLE

O GATE assim como outras equipes do mundo tem um treinamento rígido, com objetivo
de levar o operador a perfeição. Este treinamento segue princípios éticos e doutrinários já
consagrados no mundo das operações especiais. As táticas utilizadas pelo GATE tem origem
no início na década de 70 na Grã-Bretanha com SAS, Special Air Service, criador do CQB sigla
em inglês que significa combate em ambiente confinado. O CQB ainda é utilizado pelas polícias
de todo mundo com adaptações inerentes a cada realidade, como explica o texto a seguir:

Os princípios básicos deste tipo de ação são a velocidade, agressividade e surpresa.


Antes da ação existe um amplo e detalhado trabalho de planejamento e inteligência,
que vai decidir as formas de entrada.
Combate em ambientes confinados é um tipo de ação militar em que se emprega um
conjunto de táticas quando a proximidade com o alvo é mínima. O cenário típico desse
tipo de intervenção de ação é o ambiente urbano, como casas, apartamentos, prédios
e quartos. É caracterizado pela velocidade, agressividade e precisão da força letal (ou
não - letal). [...] Os operadores, soldados que aplicam estas técnicas, são
necessariamente especialistas em suas armas, e treinam repetidas e exaustivas vezes
as entradas nesses ambientes, até adquirirem uma perícia única, instintiva. Estas
técnicas são bastante complexas, normalmente administradas em Forças
Especiais e Comandos, e exigem decisões rápidas, reflexos, precisão de tiro e trabalho
de equipe num nível altíssimo. Essas táticas são o principal fundamento do
antiterrorismo e da "guerra não-convencional".45

44 FERRO. Celso, Atividade de Inteligência policial – Professor Celso Ferro – MBA Gestão Seg Pública e
Defesa Social – UPIS/DF.
45WIKIPEDIA, consta disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Combate_em_ambientes_confinados>
acesso em 06 de setembro 2018.
23

Assim com uma ação vigorosa é possível que o grupo tático entre em qualquer
edificação usando o elemento surpresa em seu favor, minimizando a reação do oponente e
consequentemente reduzindo as vítimas letais.
Portanto, a aplicação da tropa especializada no combate à facções criminosas abrange o
uso da inteligência policial e o método CQB, pois juntas existe a possibilidade de aumentar
significativamente o de êxito na operação.

8 JURISPRUDÊNCIA

Além da previsão legal e doutrinária, importante também verificar decisões do Poder


Judiciário sobre o tema. No Tribunal de Justiça de nosso Estado são inúmeros os julgados
embasando a ação policial:

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS, PORTE ILEGAL DE


ARMA DE FOGO E CORRUPÇÃO DE MENORES. Preliminar. Ilicitude da prova
obtida com violação ao domicílio rejeitada. Em sendo o crime de tráfico de drogas
permanente, em casos de flagrante não há que se falar em invasão de domicílio ou
nulidade do flagrante pela ausência de determinação judicial prévia, conforme se
infere da redação da garantia fundamental insculpida no art. 5º, inc. XI, da
Constituição Federal, que dispõe: "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre [..] Julgado em 13/09/2018).46

Neste julgado vê-se uma apelação referente ao crime de tráfico de drogas, porte ilegal
de armas entre outros, onde a parte apelante tenta a anulação da prisão, por ter os militares
ingressado na residência sem autorização judicial, a apelação foi negada conforme o estudado
neste artigo científico.

46 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, apelação criminal Número: 70076712231,


<http://www.tjrs.jus.br/busca/search?proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=
juris&entsp=a__politica-site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&sort=date:D: S:
d1&as_qj=&site= ementario&as_ epq=&as_oq=&as_eq=&as_q=+&ulang=pt-BR&ip=201.21.33.6&access
=p&entqr =3&entqrm =0&q =invas%C3%A3o +de +domicilio +crime +permanente +inmeta:
doj%3DQuarta%2520C%C3%A2mara%2520Criminal&dnavs=inmeta:doj%3DQuarta%2520C%C3%A2mara%
2520Criminal#main_res_juris> acesso em 05 de outubro de 2018.
24

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), além de muitos julgados favoráveis, editou um


informativo que diz o seguinte:

Informativo nº 0255
Período: 8 a 12 de agosto de 2005.
SEXTA TURMA
MANDADO. BUSCA E APREENSÃO. AUSÊNCIA. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
TRÁFICO. ENTORPECENTES.
O impetrante alega que a busca e a apreensão da agenda - que levaria à presunção de
que o paciente estaria ligado ao tráfico de entorpecentes - foram requeridas pelo MP
- mas não houve autorização judicial para assim proceder. No caso, os policiais
entraram na residência do acusado sem exibir o mandado de busca e apreensão, pois,
"tratando-se de crime de tráfico de caráter permanente, legítima se apresenta a invasão
domiciliar realizada sem mandado judicial". Não há que se falar em nulidade quando
todas as teses da defesa, postas na apelação, foram devidamente enfrentadas por
acórdão motivado e fundamentado, em observância ao princípio do devido processo
legal e seus consectários. As normas constitucionais que descrevem os direitos
fundamentais não podem ser interpretadas de maneira absoluta, tendo em vista a
Constituição se firmar como um conjunto aberto de regras e princípios. O Min. Nilson
Naves concedia a ordem ao argumento de que o policial ingressou em domicílio alheio
sem exibir ao ocupante a autorização judicial, mandado de busca e apreensão. Os
princípios da intimidade da pessoa e da inviolabilidade do domicílio sem a devida
autorização judicial estão acima daqueles que resguardam a proteção que o Estado
deve garantir. A Turma, por maioria, denegou a ordem. HC 41.241-SC, Rel. Min.
Paulo Medina, julgado em 9/8/2005.47

O informativo do STJ é referente a autorização de busca e apreensão no crime de tráfico


de drogas sem autorização judicial, trazendo como principal fundamento que além de se tratar
de situação de flagrância em crime permanente, diz que o direito a inviolabilidade de domicílio
não é absoluta, podendo ser quebrado.
A corte suprema de nosso país, Supremo Tribunal Federal, também tem vários julgados
sobre o tema:

RE 603616 / RO - RONDÔNIA
Ementa
Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2.
Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem
mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição
dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso de flagrante

47 Superior Tribunal de Justiça, informativo nº0255,


https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=INVAS%C3O+DE+DOMICIL
IO+EM+CRIME+PERMANENTE&operador=e&tipo_visualizacao=RESUMO&b=INFJ&thesaurus=JURIDIC
O&p=true acesso em 05 de outubro de 2018.
25

delito. No crime permanente, a situação de flagrância se protrai no tempo. 3. Período


noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é aplicável apenas aos
casos em que a busca é determinada por ordem judicial. Nos demais casos – flagrante
delito, desastre ou para prestar socorro – a Constituição não faz exigência quanto ao
período do dia. 4. Controle judicial a posteriori. Necessidade de preservação da
inviolabilidade domiciliar. Interpretação da Constituição. Proteção contra ingerências
arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso forçado
em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente.48

Dispõe sobre estado de flagrância na constância do um crime permanente, e que o fato


de ter sido realizado a noite não o torna ilegal, e faz referências as normas permissivas
constantes na Constituição Federal de 1988.
Vê-se que todos os órgãos superiores da justiça nacional convergem para o mesmo
entendimento, e torna legal e legítima a violação de domicílio por parte da polícia em situação
de flagrante delito em ocorrência de crime permanente, isto quer dizer, estando diante de um
crime permanente, presentes as condições do flagrante delito, não há que se falar na prática de
crime de violação de domicílio quando a polícia ingressa em ambientes privados sem prévia
autorização judicial.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante o exposto, fica evidente que a Brigada Militar deve adotar uma nova postura para
frear imediatamente o avanço do crime organizado. A forma mais prática e rápida é buscar
dentro da própria instituição técnicas e táticas já aplicadas em outros tipos de ocorrência.
O presente trabalho teve por finalidade analisar juridicamente o Direito Penal e
Processual Penal brasileiro, e aspectos legais, doutrinários e técnicos do assalto tático (CQB).
Com isso, foi possível desvelar que a Brigada Militar detém uma tropa que pode dar uma
resposta à altura no enfrentamento destes delinquentes.
Pode-se concluir também, que nosso Estado, através da Brigada Militar,
operacionalmente através do GATE, tem plenas condições técnicas de fazer frente a estes
criminosos de maneira segura e eficaz.

48 Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 603616,


http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=303364 : acesso em 05 de outubro de 2018.
26

Assim, o GATE, tropa de operações especiais da Brigada Militar, através do método


CQB tem condições de combater estes criminosos, pois devidamente abastecido de
informações, pode adentrar nas residências onde houver situação de flagrância de crime
permanente, assim além da utilização de técnicas e táticas especiais, as ações poderão se tornar
mais precisas, e por ter um efetivo altamente treinado aumentar o êxito nas prisões e apreensões,
enfraquecendo o poder financeiro e bélicos desses organismos. Além do mais, por ser formado
de militares especialistas em armas e com vasta experiência nesse tipo de ação é possível a
redução considerável dos riscos das operações.
Pode-se afirmar que todos os objetivos foram alcançados, uma vez que, foi justificada a
necessidade da aplicação da tropa de operações especiais no combate das facções criminosas
no Rio Grande do Sul, para enfraquecer de forma sistemática e eficiente estes organismos, e
cumprir a missão constitucional da Brigada Militar. Fica evidente que nossa questão problema
foi inteiramente confirmada e justificada, no momento em que é possível a utilização do GATE
para estabelecer a ordem pública e a paz social.

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