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Cbapm 000200 - Aluno Tenente Gilberto Alves Nunes Junior
Cbapm 000200 - Aluno Tenente Gilberto Alves Nunes Junior
1
Aluno Tenente do Curso Superior de Tecnologia em Gerenciamento de Polícia Militar. Graduado em Gestão em
Segurança Pública, pela Unisul-SC em 2016. E-mail funcional Gilberto-alves@brigadamilitar.rs.gov.br.
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Capitã da Brigada Militar. Mestre em Ciências Policiais, pelo Instituto Superior de Ciências Policiais e segurança
interna.
2
1 INTRODUÇÃO
Nosso país está tomado por grupos organizados que disputam violentamente seus
territórios, e isto não é diferente no estado do Rio Grande do Sul. Todos os dias se vê novas
notícias que revelam as ações cada vez mais ousadas destas facções. Neste viés é necessário
que o Estado tome medidas drásticas e efetivas para conter esta onda de criminalidade. Cabe
assim ao poder público através da Brigada Militar traçar estratégias para a redução destes
índices.
Com base neste estudo será possível concluir como empregar as tropa de operações
especiais no combate às facções criminosas, através de embasamento legal referente a entrada
em residências onde estiver ocorrendo crimes permanentes, mesmo sem autorização judicial.
3
Embora já exista jurisprudência positiva sobre o fato, e qualquer policial possa proceder
este tipo de busca, o grupo especializado é capaz de desenvolver de forma mais técnica e segura
as ações contra estes grupos organizados e armados.
A Brigada Militar (BM) do Rio Grande do Sul, criada em 1837, é a força de segurança
pública que têm por função constitucional o policiamento ostensivo e a preservação da ordem
pública no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, conforme expressamente previsto na
Constituição Federal, no Art. 144, abaixo transcrito
3 BRASIL, BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, consta
disponível em < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/ Constituicao/ Constituicao.htm> acesso em 17 de outubro
de 2018.
4
Ibidem
4
Cabe ainda referir que a BM é força auxiliar do Exército Brasileiro, composta por
homens e mulheres espalhados em todos os municípios do Rio Grande do Sul, atuando de forma
ostensiva e preventiva, segundo conceitua o item 27 do R200:
Ação policial, exclusiva das Policias Militares em cujo emprego o homem ou a fração
de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo
equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública. 5
Ante o exposto, resta evidenciado que a missão legal da BM é preservar a ordem pública
através do emprego do seu efetivo, ou seja, dos militares estaduais, agindo como força auxiliar
e reserva das forças armadas, tendo como competência constitucional a preservação da ordem
pública.
5 BRASIL, decreto nº 88.777, de 30 de setembro DE 1983, Aprova o regulamento para as policias militares e
corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D88777.htm> acesso em 25 de agosto de 2018.
6 RIO GRANDE DO SUL, Lei 10991 de 1997. Dispõe sobre a organização básica da brigada Militar do
Estado do Rio Grande do Sul. Consta disponível em
<http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repLegisComp/Lei%20n%C2%BA%2010.991.pdf> acesso em 26 de
setembro de 2018.
5
Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham
um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas
para responder por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um
lugar certo no espaço, de onde irradiem sua atividade jurídica. Esse ponto de
referência é o seu domicílio (do latim “domus”, casa ou morada).8
A casa tem tanta importância no mundo jurídico que existem várias normas penais que
a tutelam, tanto é verdade que o Código Penal reserva uma seção inteira para tratar do assunto.
Então veja-se:
SEÇÃO II
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
7 BRASIL, LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Código Civil Brasileiro. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> acesso em 6 de setembro de 2018.
8 VICENTE, Ráo, O direito, cit., n. 150; Washington de Barros Monteiro, Curso, cit., v. 1, p. 134; Silvio
Rodrigues, Direito civil, cit., v. 1, p. 103.
9 DICIONÁRIO AURÉLIO. Consta disponível em <https://dicionariodoaurelio.com. Acesso em 06 de setembro
de 18.
6
Pode-se analisar que o parágrafo segundo do tipo traz um caso de aumento de pena se o
crime for cometido por funcionário público. Nesse sentido, para o Código Penal, “Art. 327 -
Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. 11 Fica evidente a intenção do
legislador em proteger a residência do indivíduo, ainda mais quando se trata da ação do agente
público investido pelo poder do Estado, neste viés ainda temos a Lei nº 4898 de, que trata sobre
o Abuso de Autoridade que apresenta o seguinte texto: “Art. 3º. Constitui abuso de autoridade
qualquer atentado: [...] b) à inviolabilidade do domicílio”; (grifo nosso).12
A Constituição Brasileira seguiu uma tendência mundial e buscou ser mais cidadã e
democrática, trazendo em seu texto direitos que colocaram a dignidade da pessoa humana em
evidência. Mas assim como outros direitos a inviolabilidade de domicílio não é um direito
absoluto (que não pode ser violado), e sim um direito relativo (podendo ser violado), pois a
própria norma constitucional traz tipos permissivos, ou seja, situações que permitem que esse
direito seja violado.
Mas de fato é preciso que sua violação seja de forma imprescindível e legal. De acordo
com Konrad Hesse:
Contudo, este direito em específico, como já citado anteriormente, traz na própria norma
máxima algumas situações que permitem que o domicílio seja violado, assim a Constituição
Federal em seu art. 5º inciso XI diz o seguinte:
Assim como também o já citado artigo 150 do Código Penal brasileiro traz em seu
parágrafo 3º, incisos I e II excludentes deste crime.
13 JESUS, Damásio E. Direito Penal: Parte Geral, v. 1. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 63.
14 HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha, p. 256. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998.
15 BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
8
Conforme análise da legislação pode-se observar que mesmo que o legislador tenha se
preocupado em proteger este bem jurídico, teve também o cuidado de flexibiliza-lo, trazendo
nas mesmas normas formas legais de violação.
4 CRIME PERMANENTE
O crime permanente é uma modalidade de delito que por suas características se prolonga
no tempo, conceitualmente.
Por isso enquanto não cessar a ação o agente se mantem em estado de flagrância,
podendo ser preso a qualquer tempo.
Segundo o Código de Processo Penal brasileiro, CPP:
Desse modo, quando o agente está praticando crime permanente, está em constante
estado de flagrância, situação que possibilita a entrada do policial militar no domicílio do
agente, mesmo sem autorização judicial, isto quer dizer que o policial ao entrar em uma
residência sem a devida ordem judicial, necessita de fundadas suspeitas que naquela casa esteja
ocorrendo um crime permanente, para Assis:
O CPP em seu capítulo XI, traz a regra da busca domiciliar, onde são necessários
elementos objetivos e ordem escrita da autoridade judiciária para ser executada:
Conforme texto legal acima, as provas obtidas de forma ilícita, não podem ser utilizadas
no processo. Isto quer dizer, se a prisão e as provas forem colhidas pelos policiais com violação
do domicílio, em outras palavras, em desacordo com a previsão constitucional, as mesmas serão
anuladas e tornarão a prisão sem efeito.
Fica claro que a atuação das facções criminosas é de forma permanente, pois guardam
em seu poder drogas e armas, logo a tropa especializada poderia agir sem violar domicílio,
considerando dados apurados pela inteligência policial.
20BRASIL, Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> acesso em 15 de agosto de 2018.
11
Considerando a missão legal da BM, importante conhecer também o que é uma tropa de
operações especiais, para na sequencia, compreender a forma de utiliza-la no combate às
facções criminosas. Nesse sentido, pode-se afirmar que as tropas de operações especiais são
conhecidas no mundo todo como “comandos”, conforme Queiros explica, “são chamados
comandos as tropas de elite pertencentes as Forças Armadas, altamente treinadas e qualificadas,
de ação rápida, especializada em ações em locais impróprios, onde é contraindicado o uso de
tropas convencionais, tendo papel fundamental em uma variedade múltipla de missões e tarefas,
táticas estratégicas”.21
Ainda segundo Queiros:
No Brasil este tipo de tropa teve seu início após a segunda grande guerra mundial,
através da participação da Brigada paraquedista brasileira. Nesse sentido, explica Garcia que:
21
QUEIROS, S.MELLO, As Operações Especiais Contadas pela História do Brasil, consta disponível em <
https://pt.slideshare.net/pdca_consultores/sergio-de-mello-queiroz-ope-esp>acesso em 06 de setembro 2018.
22 Ibidem.
23GARCIA, Marcelo. História das Operações Especiais Militares e Policiais. Porto Alegre: CORAG, 2011, p 94
12
Alguns exemplos de tropas de elite das forças armadas no Brasil são: 1º Batalhão de
Ações de Comandos (1º BAC) - Exército Brasileiro; Batalhão de Operações Especiais de
Fuzileiros Navais e Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC) - Marinha do
Brasil; e Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (PARA-SAR) - Força Aérea Brasileira.
Com a diminuição dos conflitos de nível mundial, e com aumento dos conflitos internos
as polícias do mundo viram a necessidade de investir em treinamento e formar grupos
especializados. Conforme narra Monet.
Desse modo, o entendimento desde a formação dos grupos especiais, os mesmos são
destinados para a atuação em eventos complexos, devido a sua qualificação e
comprometimento. Além disso segundo ensinamentos de Dunnigan estas tropas “São
conduzidas por forças militares e/ou paramilitares especificamente organizadas, adestradas e
Também a partir desse fato surge, na década de 70, a mais famosa tropa de operações
especiais do país, o Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, BOPE-RJ,
conforme explica Greco.
Conforme o que foi visto e seguindo uma tendência nacional, nosso estado, preocupado
em prevenir o possível avanço da criminalidade, e baseado nas doutrinas mundiais, formou seu
grupo de operações especiais, um grupo de pequeno porte com armamento e treinamento
diferenciado com característica multimissão.
Conforme visto anteriormente, é no Rio de Janeiro que está localizada a mais conhecida
tropa especial estadual do Brasil, motivo pelo qual em meados do ano 1988 o então 1º tenente
Heitor de Sá Carvalho da Brigada Militar deslocou ao Estado Fluminense e concluiu com êxito
o COESP, Curso de Operações Especiais. Após seu retorno fundou na sede do 9º Batalhão de
26 DUNNIGAN, James F. Ações de Comandos: operações especiais, comandos e o futuro da guerra dos EUA.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2008, p 14.
27 GARCIA, Marcelo. História das Operações Especiais Militares e Policiais. Porto Alegre: CORAG, 2011, p
101,102.
28 GRECO, Rogério. Atividade Policial: aspectos penais, processuais penais, administrativos e
constitucionais. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Impetus, p 267.
14
Polícia Militar o CT-9, que em 3 de abril de 1990 passou a se denominar GATE, através do
Decreto 33.512, abaixo transcrito:
Após a criação do GATE, como tropa especializada no Estado do Rio Grande do Sul, o
mesmo passou a ser empregado em ocorrências peculiares, como explica a Nota de Instrução
Operacional da Brigada Militar “Em todo o Estado do Rio Grande do Sul, cabe ao GATE atuar
em ocorrências que necessitem pessoal com maior grau de treinamento”30.
Além de atuar em situações não convencionais, o GATE como polícia militar tem o
dever de atuar na manutenção da paz, conforme ensinamentos de Bittner:
31 BITTNER, Egon. Aspectos do trabalho policial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p34.
15
Em relação a esta finalidade de manter a ordem, evitar o caos, aplicar a lei e preservar
vidas é que existe a necessidade real da atividade policial executada por grupos especializados
em operações especiais, pois estes têm a capacidade necessária para atuar nestas situações.
O GATE é a tropa de operações especiais do Rio Grande do Sul sendo composta de um
pelotão, aproximadamente 30 (trinta) militares estaduais, inserido na estrutura do 1º Batalhão
de Operações de Porto Alegre. Este efetivo tem como missão atuar em eventos críticos e não
convencionais, onde se exija uma resposta mais especializada e pontual, conforme muito bem
leciona Greco:
Assim com as facções cada vez mais articuladas, e armadas é de se considerar que suas
ações devem ser enquadradas no rol das ocorrências atendidas pelo GATE, uma vez que por
deter um forte poder bélico pode causar grandes danos à tropas convencionais.
Na busca de diminuir o impacto causado pelo tráfico de drogas e seus crimes conexos
(homicídio, posse e porte ilegal de arma entre outros) é necessário que o poder público
juntamente com a sociedade busque traçar meios de redução destes índices, e com a atuação do
GATE diminuir significativamente o poder financeiro e bélico das facções criminosas que agem
em nosso Estado. Mais do que relevante para a Brigada Militar este tema é essencial para a
retomada da tranquilidade e preservação da ordem pública missão constitucional da instituição.
6 AS FACÇÕES CRIMINOSAS
No Rio Grande do Sul não foi diferente, pois foi dentro do antigo PCPA, hoje Cadeia
Pública de Porto Alegre, que surgiu a primeira facção gaúcha:
Por influência carioca, foi criado em 1980 dentro do Presidio Central de Porto Alegre
a “FALANGE GAÚCHA”, que tinha o mesmo propósito do Comando Vermelho. A
Falange Gaúcha reinou solitária por alguns anos no Estado, mas após a morte de
alguns líderes houve um racha surgindo assim a atual facção “OS MANOS”, liderados
por Dilonei Melara.34
tendo como marca registrada o “tiro de esculacho”, que consistia em disparos de arma
de fogo na face das vítimas, assim as famílias teriam que fazer o velório com o caixão
fechado, este modo de ação além de ser sua marca deu nome à facção. 36
Afim de frear a expansão do BNC algumas facções menores se uniram e lideradas por
criminosos do beco 27, da vila cruzeiro, os “V7” encabeçaram um levante contra Os Bala,
surgindo assim “OS ANTI BALA”. Atualmente o PCPA é dividido basicamente entre “OS
MANOS”, “BNC” e “ANTI BALA”, embora esta divisão mantenha a cadeia em certa
harmonia, nas ruas a guerra está conflagrada, afim de proteger suas “bocas de fumo” as facções
estão aumentando seu poder bélico, em consequência há um aumento no número de homicídios
e de confrontos com as guarnições da Brigada Militar.
As facções criminosas são compostas por vários indivíduos, que agem em níveis
diferentes. Assim como uma empresa, além da organização estas pessoas cometem crimes
visando o lucro. Neste viés trabalham-se duas leis importantes para o conteúdo deste estudo: a
Lei 11.343 de ano 2006 lei que aborda a questão das drogas; e a Lei 10.826 de 2003, a qual
corresponde ao Estatuto do desarmamento.
No mundo todo o tráfico de entorpecentes é uma atividade ilícita muito rentável, a muito
tempo os narcotraficantes produzem e distribuem estas substâncias. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), traz no Decreto 344 de 1998 o significado de entorpecente,
“Entorpecente - Substância que pode determinar dependência física ou psíquica relacionada,
36 Ibidem
18
como tal, nas listas aprovadas pela Convenção Única sobre Entorpecentes, reproduzidas nos
anexos deste Regulamento Técnico”37.
O uso destas substâncias traz um grande impacto à saúde pública, por isso, além do tráfico
de drogas ser equiparado a um crime hediondo, o legislador se preocupou em editar leis que
combatam qualquer tipo de manipulação e distribuição destes produtos. Em nosso estado as
facções criminosas agem fortemente neste mercado, pois é de longe o crime que mais gera
recursos para as organizações, o decreto da ANVISA traz um rol extenso de substâncias, entre
estas as mais comercializadas no Rio Grande do Sul são a cocaína, e seu derivado “crack”, e o
THC (tetraidrocanabinol), ou popularmente chamado de maconha.
Na necessidade de suprir a procura do mercado, as organizações criminosas, adquirem
grande quantidade de entorpecentes a fim de abastecer suas “bocas de fumo”. Assim a Lei
11.343 traz em seu texto além da definição de droga os tipos penais referentes ao envolvimento
de agentes nesses crimes, segundo a lei, “consideram-se como drogas as substâncias ou os
produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.38
Verifica-se neste parágrafo que esta lei é uma norma penal em branco heterogenia, pois
faz remissão ao Decreto 344 da ANVISA, que lista tais substâncias.
A partir do artigo 28, a lei traz as condutas tipificadas como crime. Mas concentra-se o
estudo no artigo 33, o qual aborda o tráfico de drogas, percebe-se que se trata de um tipo penal
misto alternativo, onde é possível verificar vários verbos nucleares, então veja-se:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:39 (grifo nosso)
Expor à venda: Tem o sentido de deixar exposto para que possa ser comprado.
Ter em depósito: É a retenção ou manutenção do objeto material para sua
disponibilidade, ou seja, para a venda ou fornecimento. O traficante dificilmente
mantém consigo a totalidade da droga. Geralmente, porta pequena quantidade para
que, no caso de prisão, alegue que era destinada a seu próprio consumo e, também,
para não perder toda a mercadoria. O restante da droga ele mantém em depósito em
algum local para a posterior disposição.
Trazer consigo: Significa portar, ter ou manter o objeto material consigo ou ao seu
alcance para sua pronta disponibilidade, ou seja, para venda ou fornecimento. Não há
necessidade de que a droga esteja junto ao corpo, podendo ser trazida, por exemplo,
dentro de uma mochila, pasta ou até mesmo no porta-luvas do automóvel. Para essa
conduta, exige-se que a droga esteja ao alcance do sujeito.
Guardar: Tem o sentido de reter o objeto material consigo em nome de terceiro. O
sujeito não é o proprietário e nem o possuidor do objeto material, mas, por algum
motivo, guarda-o para o seu proprietário, possuidor ou detentor.41
Para garantir seus lucros as facções devem manter seus pontos de venda de drogas, e para
tanto, é necessário a defesa destes locais para que os rivais não os tomem. Há no Estado,
principalmente na cidade de Porto Alegre, uma crescente nas apreensões de armas de diversos
calibres, este fomento é devido a guerra entre estes organismos, pois com o intuito de proteção
e intimidação estes delinquentes buscam adquirir cada vez mais armas com alto poder letal.
A muito tempo há impasses sobre a posse de armas no Brasil, após muitas discussões
sobre permitir ou não o direito do cidadão civil adquirir uma arma de fogo, em 22 de dezembro
de 2003 foi editada a lei 10.826 Estatuto do Desarmamento, em 2005 houve um referendo sobre
o tema, que resultou com dois terços da população votando a favor da comercialização de armas
no Brasil, contudo o governo da época, mesmo contra a decisão da maioria dos brasileiros,
resolveu manter a referida lei que vigora até hoje.
Assim como outros crimes permanentes, manter em sua residência arma de fogo em
desacordo com Estatuto do Desarmamento, é considerado posse ilegal de arma de fogo, e o
agente estará em flagrante delito até que cesse a ação, assim o Estatuto traz em seu artigo 12:
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua
residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.42
Crime comum em relação ao sujeito que possui em sua casa e próprio em relação ao
sujeito que possui no local de trabalho; crime simples, de perigo abstrato e de mera
conduta porque dispensa prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a efetiva
situação de risco (a lei presume a ocorrência do perigo), bem como a superveniência
de qualquer resultado; permanente pois a consumação ocorre no momento em que a
arma dá entrada na residência ou estabelecimento comercial e permanece a situação
flagrância enquanto não cessada a conduta. Unissubjetivo e unissubsistente não
admitindo a tentativa, pois a tentativa de adquirir, mesmo para possuí-la em casa
deslocaria a conduta para o artigo 14.43
De fato a polícia militar é uma instituição que deve agir de forma ostensiva e preventiva,
contudo com o avanço do crime organizado já não se pode permitir que as ações policiais sejam
de forma aleatória. Para tanto é necessário o emprego da inteligência policial, pois ela é capaz
de auxiliar os comandantes na aplicação de seus homens de forma mais eficaz.
Para o professor Celso Ferro:
O GATE assim como outras equipes do mundo tem um treinamento rígido, com objetivo
de levar o operador a perfeição. Este treinamento segue princípios éticos e doutrinários já
consagrados no mundo das operações especiais. As táticas utilizadas pelo GATE tem origem
no início na década de 70 na Grã-Bretanha com SAS, Special Air Service, criador do CQB sigla
em inglês que significa combate em ambiente confinado. O CQB ainda é utilizado pelas polícias
de todo mundo com adaptações inerentes a cada realidade, como explica o texto a seguir:
44 FERRO. Celso, Atividade de Inteligência policial – Professor Celso Ferro – MBA Gestão Seg Pública e
Defesa Social – UPIS/DF.
45WIKIPEDIA, consta disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Combate_em_ambientes_confinados>
acesso em 06 de setembro 2018.
23
Assim com uma ação vigorosa é possível que o grupo tático entre em qualquer
edificação usando o elemento surpresa em seu favor, minimizando a reação do oponente e
consequentemente reduzindo as vítimas letais.
Portanto, a aplicação da tropa especializada no combate à facções criminosas abrange o
uso da inteligência policial e o método CQB, pois juntas existe a possibilidade de aumentar
significativamente o de êxito na operação.
8 JURISPRUDÊNCIA
Neste julgado vê-se uma apelação referente ao crime de tráfico de drogas, porte ilegal
de armas entre outros, onde a parte apelante tenta a anulação da prisão, por ter os militares
ingressado na residência sem autorização judicial, a apelação foi negada conforme o estudado
neste artigo científico.
Informativo nº 0255
Período: 8 a 12 de agosto de 2005.
SEXTA TURMA
MANDADO. BUSCA E APREENSÃO. AUSÊNCIA. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
TRÁFICO. ENTORPECENTES.
O impetrante alega que a busca e a apreensão da agenda - que levaria à presunção de
que o paciente estaria ligado ao tráfico de entorpecentes - foram requeridas pelo MP
- mas não houve autorização judicial para assim proceder. No caso, os policiais
entraram na residência do acusado sem exibir o mandado de busca e apreensão, pois,
"tratando-se de crime de tráfico de caráter permanente, legítima se apresenta a invasão
domiciliar realizada sem mandado judicial". Não há que se falar em nulidade quando
todas as teses da defesa, postas na apelação, foram devidamente enfrentadas por
acórdão motivado e fundamentado, em observância ao princípio do devido processo
legal e seus consectários. As normas constitucionais que descrevem os direitos
fundamentais não podem ser interpretadas de maneira absoluta, tendo em vista a
Constituição se firmar como um conjunto aberto de regras e princípios. O Min. Nilson
Naves concedia a ordem ao argumento de que o policial ingressou em domicílio alheio
sem exibir ao ocupante a autorização judicial, mandado de busca e apreensão. Os
princípios da intimidade da pessoa e da inviolabilidade do domicílio sem a devida
autorização judicial estão acima daqueles que resguardam a proteção que o Estado
deve garantir. A Turma, por maioria, denegou a ordem. HC 41.241-SC, Rel. Min.
Paulo Medina, julgado em 9/8/2005.47
RE 603616 / RO - RONDÔNIA
Ementa
Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2.
Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem
mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição
dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso de flagrante
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante o exposto, fica evidente que a Brigada Militar deve adotar uma nova postura para
frear imediatamente o avanço do crime organizado. A forma mais prática e rápida é buscar
dentro da própria instituição técnicas e táticas já aplicadas em outros tipos de ocorrência.
O presente trabalho teve por finalidade analisar juridicamente o Direito Penal e
Processual Penal brasileiro, e aspectos legais, doutrinários e técnicos do assalto tático (CQB).
Com isso, foi possível desvelar que a Brigada Militar detém uma tropa que pode dar uma
resposta à altura no enfrentamento destes delinquentes.
Pode-se concluir também, que nosso Estado, através da Brigada Militar,
operacionalmente através do GATE, tem plenas condições técnicas de fazer frente a estes
criminosos de maneira segura e eficaz.
REFERÊNCIAS
BITTNER, Egon. Aspectos do trabalho policial. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2003.
FERRO. Celso, Atividade de Inteligência policial – Professor Celso Ferro – MBA Gestão
Seg Pública e Defesa Social – UPIS/DF.
GARCIA, Marcelo. História das Operações Especiais Militares e Policiais. Porto Alegre:
CORAG, 2011.
JESUS, Damásio E. Direito Penal: Parte Geral, v. 1. São Paulo: Saraiva, 1993.
RIO GRANDE DO SUL, Lei 10991 de 1997. Dispõe sobre a organização básica da
brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Consta disponível em
<http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/ repLegisComp/Lei%20n%C2%BA%2010.991.pdf>
acesso em 26 de setembro de 2018.
VICENTE, Ráo, O direito, cit., n. 150; Washington de Barros Monteiro, Curso, cit., v. 1;
Silvio Rodrigues, Direito civil, cit., v. 1.
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