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TA III_ARQUITETURA E POLÍTICA

TA III_LA BORDA

TA III_Leandro Pereira, Tawanda Dique, Tomás Couceiro, Tomás Leal

HABITAÇAO EM CRISE: EXPECTATIVAS SOCIAIS CRÓNICAS

TEORIA DA ARQUITETURA III


2023-2024

1
SUMÁRIO (TA III_LA BORDA)

Introdução p.2

1. Encomenda / Pertença p.3


Bairro de Sants p.3
LaCol, a cooperativa de jovens arquitetos p.7
Origem de La Borda p.9

2. Projeto / Tipologia e Elementos Arquitetónicos p.11


Contribuições p.11
Tipologias e burocracias p.13

3. Construção / Recursos Energéticos p.15

4. Receção e Apropriação / Ações no habitar p.19


Atualmente p.19
COVID-19 p.23
Desempenho energético e ambiental p.25
Impacto social p.29
La Dinamo p.30

Conclusão p.31

Bibliografia p.33
Bibliografia específica p.34

2
INTRODUÇÃO

Neste trabalho, iremos analisar o modelo de habitação cooperativista La Borda,


um dos mais icónicos exemplos de habitação coletiva não especulativa da
Europa, concluindo com uma reflexão sobre o seu impacto na sociedade atual e
o que se deve retirar deste projeto.

Este seu estatuto rendeu-lhe grande visibilidade na media internacional e ainda


diversos prémios, entre estes, Mies Van Der Rohe 2022.

A análise será feita desde o contexto do Bairro de Sants – um grande centro


industrial do século XIX – onde o edifício está implantado, até à atualidade,
acompanhado de peças gráficas que pretendem clarificar o projeto em
diversas escalas.

3
ENCOMENDA / PERTENÇA

Bairro de Sants

Sants foi um dos principais bairros operários da indústria têxtil espanhola


ocupando uma grande área, mais de 187 hectares de extensão, nos subúrbios
da cidade de Barcelona. Anos antes da implantação destas fábricas, Sants era
um meio rural com um reduzido número de pessoas que viviam essencialmente
do trabalho no campo, até que começaram a florescer novas tradições no
desenvolvimento sócio cultural da sua população. A partir de 1846, ano de
abertura da fábrica El Vapor Vell, registou-se um aumento da população e a
ascensão de novas classes sociais (a burguesia e o proletariado catalão)
consequência do desenvolvimento da indústria. A antiga fábrica Can Batlló
inaugurada em 1878 [fig. 1], situa-se no bairro La Bordeta em Sants fixando-se
ao lado da El Vapor Vell e Espanha Industrial. Este centro industrial será dos
mais importantes de Barcelona como de toda a Espanha.

Can Batlló no ano 1976 encerrou a atividade industrial devido ao Plano Geral
Metropolitano apresentado pela Câmara de Barcelona que pretendeu a
demolição do património industrial e assim instalar novos equipamentos,
habitações e espaços verdes, melhorando qualitativamente as diversas áreas
da cidade. O projeto público desenhado para Can Batlló não se realizou,
sobretudo por questões financeiras, sendo adiado durante três décadas. Os
habitantes e vizinhos do bairro La Bordeta, descontentes com a inércia da
Câmara Municipal, criaram um movimento bairrista e colocaram uma data-
limite para o começo das obras de reconversão da antiga fábrica.

O movimento “Can Batlló és per al Barri” (2009) apontou o dia 11 de junho de


2011 como o ponto de viragem para a ocupação do espaço público, caso a
Câmara não tomasse qualquer ação [fig. 2].

4
Fig. 1 - TA III_antiga fábrica de Can Battló no final do século XIX, recuperado em 08 dezembro,
2023, de

Fig. 2 – TA III_manifestações em Can Battló, recuperado em 08 dezembro, 2023, de


https://canbatllo.org/can-batllo/

5
“Si al juny de 2011 les màquines excavadores no estan en el recinte de
Can Batlló, entrarem nosaltres i començarem a construir l’espai públic i
equipaments que necessitem”1

Assim foi. Atualmente, Can Batlló é um lugar aberto a todos, um ponto de


encontro para os residentes locais e também de criatividade e expressão
artística. Este processo de transformação do bairro foi conduzido pela
comunidade, à qual se inseriu um grupo de jovens arquitetos e em conjunto
lutaram pelo direito a uma habitação acessível e de qualidade contra a
especulação do setor [fig. 3].

“Nosotros hemos planteado un vivero donde solo entren empresas


de economía social. Si tú tienes una idea de empresa la puedes
presentar a este espacio y, si cumple con la filosofía, se ceden
facilidades: espacio de trabajo, asesores jurídicos y económicos
que te ayuden a hacer el plan de empresa… Intentamos que Can
Batlló sea un ejemplo de una nueva manera de hacer las cosas.
Creemos que estos modelos son posibles, tanto la cooperativa de
viviendas como el vivero de empresas de economía social. Si
ambos proyectos salen adelante Can Batlló será un importante
referente de estos nuevos modelos”.2


1 Recuperado em 29, outubro, 2023, de http://canbatllo.org/can-batllo/

2Lacol: Otras maneras de concebir la Arquitectura’’, Balcones, 14 de agosto de 2014. (Entrevista a


Carles Baiges, integrante Lacol)

6
Fig. 3 – TA III_implantação atual de Can Battló, desenho pelos autores do trabalho.

7
LaCol, a cooperativa de jovens arquitetos

A LaCol iniciou em 2009 no bairro de Sants (Barcelona) [fig. 4]. Ainda sendo
estudantes da escola de arquitetura, eles alugaram um espaço para começar a
trabalhar em projeto da universidade. A cooperativa participou nos
movimentos cooperativistas do bairro, e iniciou a relação com a Can Batlló. É
uma cooperativa de arquitetura cujo trabalho tem mais enfoque no tema da
transformação social, como ferramenta para intervir criticamente no ambiente.
É uma equipa de catorze (14) pessoas que atuam em diferentes áreas da
arquitetura. A LaCol centra o seu trabalho em cinco pontos: construção,
habitação cooperativa (o seu principal ramo), participação, exposições de
cenografia, e urbanismo.

O plano original para Can Batlló era a demolição do património industrial


porque a ideia era criar o máximo de espaços verdes, daí que a LaCol
organizou uma conferência sobre o património industrial. esta reflexão sobre a
demolição/construção nova em contraste com a ideia de
conservação/renovação foi feita com o bairro, concretizando-se mais tarde
numa mudança no planeamento urbano para proteger mais armazéns e, através
da relocalização de programas, incorporar espaços verdes nos edifícios.

8
Fig. 4 – TA III_edifício sede da LaCol, recuperado em 08, dezembro, 2023 de
https://divisare.com/projects/477035-lacol-alvaro-valdecantos-baku-akazawa-la-comunal-espai-
cooperatiu.

Fig. 5 – TA III_equipa da lacol, recuperado em 08, dezembro, 2023 dehttps://www.lacol.coop/nosalt

9
Origem de La Borda

O projeto La Borda inicia-se em 2012, três (3) anos após a criação da Lacol
enquanto se recuperam as instalações industriais (Can Battló) e o tecido
cooperativo do bairro de Sants em Barcelona. Espanha com o seu setor
imobiliário em crise afetado pela especulação enfrenta grandes problemas
para a habitação.

A resposta a estes problemas surge através de um modelo comunitário e


participativo “La Borda”, o qual as famílias que habitam decidem o uso do
espaço e a respetiva gestão financeira.

A cooperativa ficava no Triangle de Sants, uma parte muito antiga do bairro


onde vários ativistas do movimento cooperativista estão cediados. Nas
vizinhanças de LaCol, estavam Coop57 e La Ciutat Invisible, que inicialmente
apoiaram e estruturaram o discurso social no impulsionar da criação de La
Borda. Em 2014, a cooperativa negociou com a câmara municipal este lote
público na rua Constitució, 85-89 La Bordeta Sants Montjuïc e conseguiu um
contrato de arrendamento por setenta e cinco anos. O orçamento inicial estava
previsto em dois milhões quatrocentos e sessenta mil euros (2.460.000 €).

As referências para o projeto La Borda segundo LaCol são as experiências


internacionais dos modelos Andel da Dinamarca e o FUCVAM do Uruguai,
ambos não especulativos [fig. 6].

10
Fig. 6 – TA III_modelos Andel e FUCVAM, recuperado em 08, dezembro, 2023, de
http://www.laborda.coop/en/project/grant-of-use/

11
PROJETO / TIPOLOGIA E ELEMENTOS ARQUITETÓNICO

Contribuições

Este projeto contou com a participação de várias entidades entre elas: La Ciutat
Invisible que atuava nas áreas jurídicas e financeira; Societat Orgânica que é
uma cooperativa profissional que atua na área de construção sustentável visto
que a LaCol estava interessada em projetar um edifício sustentável com uma
economia circular; a Arkenova que são especialistas em energias renováveis;
Coop57, um modelo de banco cooperativo que contribuiu com um empréstimo
de cerca de 20% do orçamento total; e a Aurea Acústica, entidade que resolve
a questão do isolamento acústico.

O processo projetual do edifício viveu da cooperação da comunidade e das


entidades, criando “workshops” para terem uma perceção do que a
comunidade gostaria que implementassem na habitação coletiva [fig. 7]. Mas a
ideia sempre foi voltada para a coabitação, por isso ao longo dos tempos houve
ideias de um projeto que vivia de um pátio central criando assim facilidade na
interação social dos habitantes.

“Initial ideas must be shared in response to questions such as where we


want to live-the neighbourhood or elsewhere-, how we want to live-share
a lot or a little and what phase of life you're in “3


3TA III_LORENTE Y FERNÁNDEZ, David et al. (EDS.) - Cohousing in Barcelona: Architecture from / for
the community. New York: Actar Publishers and Barcelona City Council, 2023. p.62.

12
Fig. 7 – TA III_workshop participativo do projeto de La Borda, recuperado em 08, dezembro, 2023
de https://www.lacol.coop/projectes/laborda/

13
Tipologias e burocracias

O acesso aos apartamentos são feitos a partir de um sistema de corralas –


corredores de distribuição, geralmente em madeira, em redor de um pátio
central – muito corrente em edifícios tradicionais espanhóis até ao século XIX.

Os apartamentos funcionam com base em tipologias expansíveis, variando


entre S, M e L. Isto é, qualquer habitante arrenda um tipo S, sendo este o
modelo base, e a sua expansão é feita a partir de módulos posicionados
estrategicamente para este fim [fig. 8].

Este modelo tipológico permitiu ainda a existência de um contrato com a


Generalidade da Catalunha em que o residente arrenda o apartamento base S e
para haver expansão, efetua-se um arrendamento entre moradores dos anexos
adjuntos aos apartamentos, de forma a evitar burocracias com o notário.

O projeto conseguiu ainda contornar a obrigatoriedade de incluir um parque


que estacionamento automóvel no edifício, pressupondo assim o uso deste
veículo. O argumento utilizado foi que a bicicleta seria o principal meio de
locomoção dos residentes, logo, um parque de estacionamento para estas no
lugar de um para automóveis seria mais apropriado. Com isto, não só o Estado
Catalão cedeu neste caso, como reconsiderou ceder para todas as iniciativas
deste género que viessem a suceder La Borda.

14
Fig. 8 – TA III_esquema da tipologia, desenho pelos autores do trabalho.

15
CONSTRUÇÃO / RECURSOS ENERGÉTICOS

O projeto foi concebido com a sustentabilidade e autossuficiência como


princípios orientadores, resultando na adoção de técnicas e materiais alinhados
a esses valores. O intuito primordial era criar um ambiente residencial que
fosse ecologicamente responsável e energeticamente eficiente, minimizando
ao máximo o impacto ambiental e fomentando a comunidade e a cooperação
entre os residentes. Além disso, visou a diminuição dos custos operacionais e
de manutenção a longo prazo do edifício, proporcionando benefícios tanto para
os moradores quanto para o meio ambiente. Para além da sua participação na
fase projetual, os futuros residentes ainda participaram na construção do
edifício, sendo uma forma prática de conectar a comunidade e reduzir os custos
da obra [fig. 9].

“Development of the building by the cooperative and its subsequent


collective management implies that the participation of future users in the
process (design, construction and use) is the most important and
differential variable of the project.” 4

A estratégia de empregar diferentes materiais permitiu estabelecer uma


aparente distinção entre os diversos pisos e suas respetivas funções, mantendo
uma estética leve e natural na área residencial. O uso abundante de materiais
naturais, em contraste marcante com o térreo que abriga a entrada, lojas e o
pátio, reflete a preferência por elementos industriais.


4 TA III_LORENTE Y FERNÁNDEZ, David et al. (EDS.) - Cohousing in Barcelona: Architecture from / for
the community. New York: Actar Publishers and Barcelona City Council, 2023. p.56

16
Fig. 9 – TA III_orçamento total da construção de La Borda, recuperado em 16, outubro, 2023, de
http://www.laborda.coop/en/project/funding-structure/

17
O térreo foi reforçado estruturalmente por blocos de betão em pisos, paredes,
pilares e teto, destinando-se à área da cozinha comunitária. Esta opção de
reforço deve-se especialmente à prevenção de casos de vandalismo e
potenciais incêndios [fig. 10]. Os pisos, predominantemente compostos por
pedra natural, como granito ou mármore, ou cerâmica, foram escolhidos pela
durabilidade, facilidade de manutenção e inércia térmica que fornecem. A
porção restante foi revestida com betão polido, uma opção moderna e
resistente de fácil manutenção, com isolamento para assegurar a estabilidade e
eficiência energética. Nas fachadas e entradas, a priorização do vidro
temperado ou laminado favoreceu a entrada de luz natural, criando uma
sensação de espaço aberto. Quanto ao revestimento, materiais como madeira
ou metal foram empregues para detalhes de design ou para criar fachadas
atraentes no térreo.

Na área habitável, a estrutura em CLT ofereceu rigidez e resistência,


permitindo a avaliação das deformações do edifício e proporcionando grande
resistência sísmica. Nas paredes do alçado, destacou-se o uso de tijolos de
barro, um material natural e ecológico eficaz em termos de isolamento térmico,
juntamente com fachadas de palha e madeira nas paredes internas,
contribuindo para a sustentabilidade e a redução da pegada de carbono do
edifício.

Para o isolamento, foi adotada a celulose, feita a partir de materiais reciclados,


como jornais e papelão, utilizada em paredes e telhados para melhorar a
eficiência energética do edifício. Materiais de isolamento Termo-acústicos
foram incorporados nas paredes e no telhado para otimizar a eficiência
energética e reduzir o consumo de energia. O processo de redução de gastos
incluiu a instalação de painéis solares e a coleta de águas da chuva, integradas
ao sistema de irrigação, enquanto a ventilação natural foi maximizada no
projeto, reduzindo a necessidade de sistemas AVAC ativos.

18
Fig. 10 – TA III_materialidade entre o piso térreo e a zona habitável, recuperado em 08, dezembro,
2023, de https://www.lacol.coop/projectes/laborda/

19
RECEÇÃO E APROPRIAÇÃO / AÇÕES NO HABITAR

Atualmente

La Borda tem vinte e oito (28) apartamentos, num sistema de cooperativa em


que a pessoa paga uma taxa reembolsável de duzentos euros (200 €) para dar
entrada, uma contribuição para o capital social, também ela reembolsável, de
dezoito mil e quinhentos euros (18.500 €) por cada unidade de convivência ou
casa da cooperativa e paga por volta de quinhentos euros (500 €) de renda.
Para além disso, sendo La Borda implantado num terreno cedido pelo Estado da
Catalunha, cada sócio deve cumprir requisitos oficiais para poder usufruir de
habitação pública, sendo estes: rendimento anual máximo de quarenta mil
euros (40.000 €) e não possuir propriedades em seu nome.

Até pelo menos início de 2019, La Borda abrigava sessenta (60) pessoas, dos
quais cinquenta (50) adultos - todos moradores originais da cooperativa, dos
quais cinco (5) pertencem à cooperativa LaCol. Nenhum residente havia saído e
existia uma lista de espera de setenta (70) pessoas.

Para atenuar as suas despesas e, consequentemente, as despesas dos seus


habitantes, a cooperativa possui fontes geradores de renda. Entre estas, está o
originalmente pensado espaço de arrendamento no piso-loja, que é feito pela
mercearia "L'Economat Social", também esta uma cooperativa originária do
Bairro de Sants. [fig. 10]

20
Fig. 10 – TA III_ L'Economat Social, recuperado em 19, novembro, 2023, de
https://leconomat.cat/leconomat-de-sants/.

21
A cooperativa não possui só esta fonte de renda. A taxa anual da cooperativa
pelo uso da terra foi de três mil setecentos e trinta e um euros (3.731 €) em 2019
e será ajustada com base no Índice de Preços ao Consumidor. Os custos
operacionais serão maioritariamente cobertos pelas contribuições mensais dos
residentes e pelas atividades geradoras de rendimentos realizadas pela
cooperativa, tais como ações de formação para o público em geral, funcionários
públicos e arquitetos, e o aluguer de espaços comerciais no rés-do-chão do
edifício. prédio. La Borda também recebe receitas ao fornecer dados climáticos
do edifício para fins de pesquisa.

Existe ainda um fundo de apoio para suportar residentes que possam estar a
passar por dificuldades financeiras, para o qual cada membro contribui
mensalmente com cinco euros (5 €). No entanto, até pelo menos início de 2019,
ninguém havia tido necessidade de recorrer a este fundo.

Na parte sul da cobertura do edifício, existe ainda um terraço pensado para


servir de horta para a cooperativa, mas pelo menos até maio de 2020, o espaço
ainda não fora preparado para o seu total potencial, ainda que algumas pessoas
tenham pequenos hortas neste espaço [fig. 11].

O espaço de cozinha comunitária permite refeições informais entre vizinhos,


assim como a reserva do espaço para eventos familiares ou de grupos de
amigos, etc [fig. 12]. Efetuam-se refeições comunitárias, normalmente todas as
quartas-feiras, em que a compra e a confeção dos alimentos passa por grupos
de quatro pessoas que vão trocando todos os anos. Esta gestão passa por
reuniões gerais na cooperativa, e também é parte fundamental para a relação
entre vizinhos. Os alimentos vêm diretamente da mercearia do piso-loja.

22
Fig. 11 – TA III_terraço na cobertura, recuperado em 14, outubro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=YQYTrgeT7jY&t=542s

Fig. 12 – TA III_cozinha comunitária no piso térreo, recuperado em 15, outubro, 2023, de


https://www.youtube.com/watch?v=lxwVJtwmAs0

23
COVID-19

Durante a pandemia da COVID-19, La Borda permitiu um ecossistema de


espaços comunitários e exteriores dentro da cooperativa, mesmo que o uso de
espaços comunitários públicos tenha sido abolido na época. Ainda que a
ideologia do que seria o uso aceitável desses espaços divergisse entre
moradores, estes permitiam condições de ventilação e distanciamento mínimos
entre habitantes que usassem simultaneamente estes espaços [fig. 13].
Importante notar a contribuição destes espaços para a saúde mental dos
habitantes, em especial das crianças, que tiveram o privilégio de ter espaços
de lazer durante a pandemia.

Houve ainda iniciativas solidárias, como uma pequena escola para entender
como a comunidade estava a reagir à pandemia [fig. 14].

“In a way, we are managing as one household, at least for the kids,’
explains Cristina Gamboa, member of Lacol arquitectura cooperativa –
the co-operative of architects who designed La Borda – and a resident of
the building. ‘Some of the parents have set up a school so they can be
together for some hours a day.” 5


5Recuperado em 04 , outubro, 2023, de https://www.architectsjournal.co.uk/buildings/sustainable-
building-sustainable-living-la-borda-barcelona-by-lacol

24
Fig. 13 – TA III_espaço comum durante a pandemia, recuperado em 15, novembro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=bTMjWAn2WZg&t=1s

Fig. 14 – TA III_escola comunitária em La Borda, recuperado em 15, novembro, 2023, de


https://www.youtube.com/watch?v=bTMjWAn2WZg&t=1s

25
Desempenho energético e ambiental

La Borda obteve ainda resultados exemplares no que toca a consumo


energético, custo energético (devido aos seus painéis solares e à queima de
biomassa) e concentração de CO2 dentro do complexo. Estes dados são
continuamente monitorados para obter material para estudos e garantir os
índices normais de consumo assim como gerir planos para reduzi-los. Devido a
este cuidado, foi possível no início da cooperativa detetar um consumo
desproporcional de energia proveniente da lavandaria, que rapidamente foi
corrigido.

Segundo relatos dos residentes, grande parte destes só sente necessidade de


recorrer a sistemas de aquecimento numa média de três (3) a seis (6) dias por
ano, correspondente a tempestades que bloqueiam a luz solar. Isto deve-se não
só ao aproveitamento da exposição solar, como também à inércia térmica
planeada para os seus sistemas construtivos.

A concentração de CO2 é também bastante afetada pela ausência do uso destes


sistemas, sendo um dos principais fatores que torna possível manter valores
maioritariamente abaixo de 1000 ppm (valor limite para a saúde pública). O
sistema de ventilação transversal presente também assume aqui um papel
fundamental. Este efetua trocas entre as habitações e os espaços comuns, e a
cobertura do pátio, que tem abertura programável, abrindo para ventilar o
espaço e aumentar os ganhos solares, e fechando para manter a temperatura do
interior e/ou proteger da chuva.

O consumo médio total de energia elétrica, AQS e aquecimento por m² das


residências de La Borda é de 20,25 kWh/m², o que representa uma redução de
68% em relação a um bloco de características semelhantes na zona
mediterrânea, que é de 62,61 kWh/m².

26
Fig. 15 – TA III_incidência solar, desenho pelos autores do trabalho

27
Fig. 16 – TA III_ventilação transversal, desenho pelos autores do trabalho

28
Fig.17 – TA III_consumo de recursos energéticos, recuperado em 18, de novembro, 2023, de
https://www.lacol.coop/actualitat/sostenible-realment-borda/

29
Impacto social

O modelo habitacional de La Borda começou a chamar a atenção dos media


desde 2016, dois (2) anos antes da obra estar concluído. O principal motivo foi
o modelo cooperativo que prometia proporcionar rendas cerca de 50% mais
baixas que as do mercado corrente. Especialmente em Espanha, em que a
habitação tem sido um problema há mais de cinquenta (50) anos, com uma
percentagem de habitação pública de cerca de 3%.

“Housing is one of the main problems in Spain, together with


unemployment. Even before 2008, when we were supposed to be in an
economic boom, housing was problematic.” 6

"We want to show that we can succeed without following the path dictated
by the market or traditional practices." 7

O modelo de La Borda foi ainda nomeado prémio Mies Van Der Rohe no ano de
2022, tendo o título sido conquistado pela inovação que o edifício trouxe na
habitação social em termos socioculturais e económicos e pela sua
sustentabilidade quer na construção, como na sua apropriação. Este obteve
ainda a categoria Bronze no evento World Habitat Awards, pelos mesmos
atributos mencionados anteriormente, entre diversos outros títulos.


6 Recuperado em 04, outubro, 2023, de http://www.laborda.coop/wp-content/uploads/2018/12/La-
Borda-Barcelona-New-Europe.pdf
7 ibidem

30
La Dinamo

La Dinamo nasceu em 2016, pouco antes do início da construção de La Borda,


sob a promoção de LaCol e La Ciutat Invisible, duas das equipas técnicas que
atuaram em La Borda. LaCol trabalhou em questões arquitetónicas e La Ciutat
Invisible em questões jurídicas e económicas. Uma das primeiras parcerias que
La Dinamo estabeleceu com La Borda foi um acordo de transferência de
conhecimento mútuo. O objetivo inicial de La Dinamo foi facilitar a replicação
do modelo de La Borda e fá-lo de várias maneiras, principalmente apoiando
grupos de pessoas auto-organizadas que desejam desenvolver projetos, mas
também divulgando e publicando esses processos. Esperava também ter uma
influência política nos novos regulamentos para obter apoio da administração
para o modelo, principalmente sob a forma de ajudas e subsídios. E em
terceiro lugar, esperava gerar estruturas que pudessem facilitar esta
consolidação com as ferramentas necessárias para realmente fazer crescer o
modelo numa escala maior.

31
CONCLUSÃO

Em suma, La Borda foi um projeto experimental que respondeu ao problema da


habitação económica no contexto espanhol, baseado nos modelos
cooperativistas Andel e FUCVAM [fig. 18].

Este modelo de habitação demonstrou ainda como é possível haver mudança


na forma de habitar sem que haja necessariamente uma mudança política,
tendo em conta que este modelo incentivou transformações burocráticas que
irão prevalecer para futuras iniciativas e que, estando este status quo quebrado,
haverá predisposição para mais transformações.

Com a crescente onda de co-housing que se verifica na Europa e a criação de


La Dinamo, modelos deste caráter e novas experiências tipológicas terão
tendência a surgir cada vez mais e a se normalizarem como formas de resolver
problemas de acesso à habitação ou meramente como formas de habitar mais
dignas e/ou comunitárias, tendo adotado um caráter intrínseco de
responsabilidade cívica acrescido, com cada vez mais foco na pegada
ecológica criada.

Dito isto, La Borda, com a transparência e documentação que teve desde a sua
fase inicial tornou-se um modelo exemplar nos universos do co-housing e da
habitação ecologicamente responsável, provando a viabilidade de iniciativas
cooperativas não especulativas no contexto europeu, e ainda a possibilidade de
habitar dignamente com uma diminuição drástica na pegada ambiental.

32
LA BORDA

LACOL

Fig. 18 – TA III_gráfico do professor Bruno gil

LA BORDA

“Thus we see that man creates and uses architecture, like all art and
science, in the general process of adaptation which characterizes human
LACOL

life, but there is no conceivable limit to the potentiality of creative


adaptation.”8


8ROBERT DE ZURKO, Edward. Origins of Functionalist Theory, New York, Columbia university press,
1957. p.236

33
BIBLIOGRAFIA

• LORENTE Y FERNÁNDEZ, David et al. (EDS.) - Cohousing in Barcelona:


Architecture from / for the community. New York: Actar Publishers and
Barcelona City Council, 2023. ISBN 978-1-63840-090-5.

• ENRECH, Carlos (2004). Entre Sans i Sants – História social i politica d¢una
població industrial a les portes de Barcelona (1839-1897). Núria Burguillos
Medina (Coord.). Ajuntament de Barcelona.

• ROBERT DE ZURKO, Edward. Origins of Functionalist Theory, New York,


Columbia university press, 1957

• Recuperado em 08, outubro, 2023, de


https://divisare.com/authors/2144925916-lacol
• Recuperado em 30, outubro, 2023, de https://world-habitat.org/world-
habitat-awards/winners-and-finalists/la-borda/,
• Recuperado em 15, outubro, 2023, de
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• Recuperado em 15, outubro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=ukZtxtbRITk
• Recuperado em 03, dezembro, 2023, de La-Borda-Barcelona-New-Europe.pdf
(laborda.coop),
• Recuperado em 04 , outubro, 2023, de
https://www.architectsjournal.co.uk/buildings/sustainable-building-
sustainable-living-la-borda-barcelona-by-lacol

34
Bibliografia específica

Movimento cooperativista
• recuperado em 04, outubro, 2023, de https://www.re-dwell.eu/case-
studies/la-borda,
Lacol, a cooperativa de jovens arquitetos.
• LORENTE Y FERNÁNDEZ, David et al. (EDS.) - Cohousing in Barcelona:
Architecture from / for the community. New York: Actar Publishers and
Barcelona City Council, 2023.
•Recuperado em 08, outubro, 2023, de
https://divisare.com/authors/2144925916-lacol,
Origem
• recuperado em https://www.youtube.com/watch?v=lxwVJtwmAs0,
Equipa
• recuperado em 18, outubro, 2023, de https://www.arkenova.coop/nosotros/,
• recuperado em 18, outubro, 2023, de https://www.aurea-acustica.com/,
• recuperado em 18, outubro, 2023, de
https://societatorganica.com/en/equipo-so/,
Prémio
• recuperado em 30, outubro, 2023, de https://world-habitat.org/world-habitat-
awards/winners-and-finalists/la-borda/,
COVID-19
• recuperado em 15, outubro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=bTMjWAn2WZg,
• recuperado em 15, outubro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=ukZtxtbRITk,
Eficiência e consumos
• recuperado em 15, outubro, 2023, de
https://www.youtube.com/watch?v=lxwVJtwmAs0,

35

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