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Ie. tiago v. zanella direito do MAR manual de Digitalizado com CamScanner MAR TERRITORIAL 11.1. Conceito Conforme se analisou na primeira parte deste estudo, os Esta- dos reivindicam uma faixa de mar adjacente 4 sua costa sobre a qual possam exercer certos poderes. Historicamente, o direito consuetu- dindrio e a sociedade internacional entenderam que as 4guas mariti- mas adjacentes a terra firme so passiveis de alguns atos de soberania por parte do Estado ribeirinho, nomeadamente para prote¢o dos interesses nacionais. O conceito de Mar Territorial é fundamentalmente juridico, uma criagio do direito, pois ndo corresponde a nenhuma nogio ge- ogrifica. Alguns autores chegam a afirmar que esta zona deveria ser denominada mar dos juristas*, uma vez que a criagio deste espaco é eminentemente ficticia, nfo observando nenhum cariter geografico. As convencées internacionais sobre 0 direito do mar concei- tuaram de forma clara o Mar Territorial. Podemos encontrar uma definigo para esta zona logo no artigo 2° da Conven¢io de Montego Bay, em que é afirmado que “a soberania do Estado costeiro esten- de-se além do seu territério € das suas Aguas interiores e, no caso de Estado arquipélago, das suas 4guas arquipeligicas a uma zona de mar adjacente designada pelo nome de Mar Territorial”*. Ou seja, © Mar Territorial é 0 espaco maritimo adjacente a costa no qual o Estado ribeirinho é soberano, mesmo havendo, como veremos, alguns limites a esta soberania. eee *8 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de... Op. Cit. * CNUDM, Art, 2. 149 Digitalizado com CamScanner 11.2. Delimitagéo Os limites ¢ larguras do Mar Territorial as no direito internacional. A mpre forarr de discussio e quere aritmético universal € 05 Estado existia um limite ' sem um padrao ou norma inter zona conforme seu interess i que regulasse tal questio. Como vimos, evolugao his espago foi caracterizada pela distancia maxima que o Mar poderia alcancar.A primeira forma de delimitaco foi ar de canhio, literal ou simbélico: posteriormente vimos a regrs trés milhas se generalizando. Ainda, alguns adotavam 0 métody g, alcance visual enquanto outros fixavam o limite exterior em qualquer distancia que entendiam mais adequada. Foi somente com a Convencio sobre Direito do Mar de Mor go Bay em 1982 que foi possivel definir e delimitar os limites do Mar Territorial de forma universal, nomeadamente a sua largura mixima, Como limite interior,a Conven¢do manteve os métodos de linhas de base ja adotadas no sistema internacional e regulados pela Convencio de 1958. Os métodos e formas de calculo das linhas de base foram aperfeicoados e atualmente utilizam-se as linhas de base normal ou as de base retas, conforme analisou-se no capitulo anterior. Destarte, 0 Mar Territorial comega a partir das linhas de base, ou seja, tudo o que se localizar anteriormente as linhas de base é considerado territério nacional, seja terra firme ow Aguas interiors. Adjacente a este territério situa-se o Mar Territorial, levando sempre em conta os métodos para se tracar as linhas de base e os casos parti- culares como os recifes, baixios, foz e embocaduras, baias e elevagdes a descoberto que ja foram tratadas na anilise das linhas de base. Entendido o limite interno desta zona, analisemos a orla exterior, a forma com que é medida e fixada a largura do Mar Territorial. Se- GUEDES, Armando M. Marques, Direto... Op. Cit. P. 101:"O Mar Territorial €.cm relacio is demais parcelas que compdem o territério do Estado, simples sub-espécie da espécie constituida pelas 4guas territoriais”. 130 Digitalizado com CamScanner i a CNUDM, via de regra, o limite exterior é definido através de en ina paral i Tinha de base na cual eu tragado correspond i langue maxima do Mar Ferritori ‘A maior novidade da CNUDM die respeito a est largura maxima, pois, a despeito das divergéncias parorieas sobre este limite, a Convengio veio universalizar a regra gue o Estado ribeirinbo pode fixar a largura desta zona mariti- ma até uma distancia maxima de 12 milhas maritimas. Ou seja, este espago é definido conforme a interpretagio do Estado costeiro, que pode delimita-lo segundo seus interesses particulares, desde que nao ultrapasse 0 maximo permitido de 12 milhas**. Nao obstante a regra das 12 milhas, a pratica o direito internacional admitem dois casos em que a orla exterior do Mar Territorial pode variar para mais ou para menos: so 0s casos dos ancoradouros e dos Estados com costas gundo fronteirigas. Os ancoradouros si locais onde as embarcagées podem fundear, Jancar ferro ou ser amarradas a boias que se encontram por diversas vezes afastadas da costa. Isto ocorre, quer pela pouca profundidade das aguas imediatamente adjacentes 4 costa e dos portos, quer pelo grande calado dos navios, muitas vezes pelos dois. Assim, a arribada ou a acostagem nao é possivel, fazendo-se necessiria a utilizacao destes ancoradouros para viabilizar a atracagem dos navios. Quando estes ancoradouros, utilizados habitualmente para carga, descarga, fandamento ou amarragio de embarca¢ées, situam-se além do limite miximo de 12 milhas maritimas estipuladas para o Mar Territorial, so considerados pela pritica e pela convengio como integrantes deste espaco. Nestas situagdes, amplia-se a orla exterior do Mar Territorial (afim de englobar os ancoradouros) ¢ ignora-se a regra do paralelismo com as linhas de base*”. A outra circunstincia na qual a largura da referida zona é re- lativizada € nos casos em que as costas de dois Estados concorrem frente a frente e a distancia entre elas é inferior a 24 milhas, ou seja, teoricamente o Mar Territorial de um pais se sobrepde ao de outro. Nestas hipoteses o limite exterior das aguas maritimas territoriais passa a ser uma linha mediana entre as duas costas. Isto é, traga-se uma linha equidistante entre as linhas de base de cada Estado envolvido. *5 CNUDM. Art. 4, * CNUDM. Art. 3. °° CNUDM. Art. 12. 151 Digitalizado com CamScanner Ainda para esta regra, excettia-se qualquer acordo em Contriri, ee Ai nee be Estados intervenientes ou em fungio de direitos histéricos oy : hy 4 e exter tT circunstineias especiais, Nestes casos, 0 limite exterior de cay hy Territorial é fixado através de acordo entre a Partes ou pela be he histériea do local. “ Outro limite a se ter em conta sio os regulada a divisa do Mar'Territorial entre dois Estados lini fazem fronteira.A CNUDM utili devendo ser tragada uma linha média entre os dois territérigg li trofes na busca de uma equidade justa para ambos*”, Todavia,ao contrario do que ocorre quando dois paises sity frente a frente, onde a linha mediana é relativamente facil de ser ¢ lada através da equidistancia entre as duas costas”’, o limite lateral dy Mar Territorial dos Estados limitrofes pode ser calculado de diverso, métodos. Existe uma variedade de formas para se fixar a divisa deste espago maritimo e cada caso deve ser analisado separadamente, Nig hi como estabelecer uma regra universal que se aplique a todss fronteiras e que respeite as particularidades de cada situagio, por isso a Convengio nao positivou um método para tal fixacio™ O método mais equitativo possivel pode ser distinto para cad, situagio geogrifica e histérica. Assim, podemos citar aqui algumas formas mais utilizadas no sistema internacional para a fixacio deste espaco: 0 método da equidistincia simples; da adaptagio as linhas de FAS, it0 & coy 0g limits | za a mesma regra da linha meg hn ni, Me aley. CNUDM. Art. 15. 3° CNUDM. Art 15. *° Nem sempre a linha eqiiidistante entre as duas costas é facilmente calculadae muitas vezes fatores geogrificos e histéricos se sobrepdem ao calculo artmé- tico, ver IC} Reports, Case concerning maritime delimitation in the black sea (Romania r, Ukraine). 3 de fevereiro de 2009, >" DUNDUA, Nugzar. Delimitation of the maritine boundaries between the adjacent ‘States. The Nippon Foundation, United ‘Nations, Nova Yorque; 2007. P. 83:"The foregoing considerations allow for the conclusion that maritime delimitationis a very complex and multiform subject. The international community and the Courts, in spite of their endeavours, find it difficult to produce a general principle applicable to all maritime delimitation processes. The 1982 LOS Convention sets forth only the goal to achieve maritime delimitation, and says nothing about the principles and methods for the achievement of equitable result [--] A single rule or method may not be applicable in all circumstances, irespect® of geographical and other facts. A maritime boundary, to be durable, must be fair and equitable and take into account the special circumstances in the a? relevant to delimitation”, 152 4 Digitalizado com CamScanner dalinha geodésica octogonal;das linhas perpendiculares;da linha adial, entre diversos outros, Independente do bas ‘ mediatrizs da proje metodo adotado para cada situagio, o relevante é que leve em conta todos os fic até socio-culturais de cada caso em especifico”. Como regra, os Estados acabam adotando em comum acordo am método que satisfaga os interesses de ambos e que seja geogrifica ¢ historicamente equitativo, entretanto a falta de um método espe- cifico aplicdvel a todos 0s casos ocasiona muitas vezes divergéncias entre os Estados limitrofes acerca da melhor técnica a ser utilizada em especifico®. Assim, encontramos diversos casos de conflitos de jnteresses acerca das delimitagdes maritimas que foram levados a ar- bitragem internacional ou até 4 Corte Internacional de Justiga para julgamento sobre o melhor e mais equitativo método de delimitacao ‘a ser empregado. O caso do Golfo de Maine que foi levado a apreciacao da Cl] é um exemplo claro. Canada e Estados Unidos se desentendiam na forma pela qual deveria ser delimitada a divisa entre suas 4guas territoriais ¢,consequentemente, as demais zonas marftimas, como a Plataforma Continental e a Zona Econémica Exclusiva. Para solucionar a lide foi criada uma cimara especial que adotou um método de linhas geodé- sicas que ligavam certas coordenadas geogrificas julgadas adequadas. fatores envolvidos, sejam geogr’ s, histéricos, ambientais 39 Para uma explicagio detalhada sobre os diversos métodos técnicos que podem set utilizados ver ANTUNES, Nuno Sergio Marques. Towards the conceptualisa- tion of maritime delimitation: legal and technical aspects of a political process. Martinus Nijhoff Publishers, Holanda; 2003. 2 CHURCHILL, Robin Rolf LOWE, Alan Vaughan. The law:.. Op. Cit. P. 62: “Practice in delimiting the territorial seas of adjacent States has been less con- sistent. Considerable use has been made of the equidistance principle, drawing a median line outwards from the boundary on the shore: the 1976 Colombia -Panami delimitation agreement is one of many examples. But other criteria have also been used. Thus the Permanent Court of Arbitration, in its award in the Grisbadarna case in 1909, favoured a line drawn perpendicular to the general direction of the coast. While that case turned in part upon use of the perpendicular in seventeenth-century practice, made relevant by a treaty of 1661 concerning referred the Norwegian-Swedish boundary, the perpendicular line is still occasionally referred to in delimitation, such as the 1958 Poland-USSR delimitation agreement and the 1972 Brazil-Uruguay agreement on the Chuy River Bank and the Lateral Sea Limit. In situations where the land boundary is constituted by a river, the boundary in the adjacent territorial sea has sometimes been set along the course of the central navigable channel, or thalweg, or the seaward projection thereof”. 153 Digitalizado com CamScanner A decisin da cimara levou em conta os critérios de equidade Dany buscar anny modelo que euicasse do bem estar econdinicn de ay" 28 populagdes € nagdes envolvidas”™* ' Até este momento estivamios nos referindo somente as dey, tagey do plano horizontal, mas existem também 0s limites very, «do Mar Territorial. © limite vertical inferior € 0 centro do glo}, terrestre, ou seja, toda a massa de agua maritima da superfici até contato com 0 leito oceinico € todo o solo ¢ subsolo sio regi, pelo regime juridico do Mar Territorial. Apesar do leito e do subsoj, abaixo da coluna d’égua desta zona nao constituitem propriamente tum mar, ¢ quase sempre formarem geograficamente a Plataforing Continental, o regime juridico aplicavel é 0 do Mar Territorial, Jo limite vertical superior, referente a0 espaco aéreo sobre, cente, sinaliza que os principios que regem 0 espa¢o aéreo do Mar Territorial, suas liberdades e restrigdes so as mesmas aplicadas em terry firme®*, Nao vem ao caso detalhar os direitos e deveres da navegacig aérea, contudo, em termos de delimitagGes, existe grande discussio até onde vai o Estado possui soberania. Alguns doutrinadores defendem a IC] Reports. Case concerning delimitation of the maritime boundary in the Gulf of Maine area (Canada/United States of America). 12 de Outubro de 1984. B 342:"It is, therefore, in the Chamber's view, evident that the respective scale of activities connected with fishing - or navigation, defense or, for that matter, petroleum exploration and exploitation - cannot be taken into account a 2 relevant circumstance or, if the term is preferred, as an equitable criterion to be applied in determining the delimitation line. What the Chamber would regard a8 legitimate scruple lies rather in concern lest the overall result, even though achieved through the application of equitable criteria and the use of appropriate methods for giving them concrete effect, should unexpectedly be revealed as radically inequitable, that is to Say, as likely to entail catastrophic repercussions for the livelihood and economic well-being of the population of the countries concerned” ** MELLO, Celso D, de Albuquerque. Curso de... Op. Cit. P.1104:O Estado tem direito sobre 0 solo € o subsolo do Mar Territorial. Esta regiio € normalmente a plataforma continental no sentido geogrifico. Existe aqui uma dissocia¢io entre a nogio geogrifica ¢ a nogio juridica de plataforma. O solo e o subsolo do Mar Territorial estio sujeitos a0 regime juridico deste e nio ao da plataforma continental” Ainda: GUEDES, Armando M. Marques. Direta... Op. Cit. P. 103: “O limite vertical inferior é o centro do Globo. O subsolo do Mar Territorial estende-se, teoricamente, até ele * Convengio de Chicago. Convengio sobre a aviagio civil internacional. Chicago: 1944 art.2 -Teritérios: Para os fins da presente Convengio considera-se com10 terTitorio de um Estado, a extensio terrestre e as Aguas territoriais adjacentes, sob a soberania, jurisdigao, protegio ou mandato do citado Esado, 154 Digitalizado com CamScanner o limite seria a estratosfera””. Contudo,a grande maioria iste tm limite internacios ese de que ende que determinado™*’. Por fim, todos os limites horizontais, desde as linhas de base, t ent ainda nio pyssando pela largura nvixima de 12 milhas, 0 caso dos ancoradouros, dos mares adjacentes © limitrofes, enfim, todas as cartas maritimas € jats de coordenadas geogrificas que delimitam o Mar‘Territorial do istado costeiro devem ser devidamente publicadas. O Estado deve inda depositar junto 20 Secretario Geral das Nagées Unidas um exemplar de cada carta com todas as coordenadas maritimas referentes gos limites ¢ larguras desta zona, a fim de que todos os demais possam ter conhecimento da demarcacio de cada Mar Territorial”. 11.3. Natureza Juridica A.CNUDM consagrou a teoria do direito de soberania do Es- tado costeiro neste espa¢o, mas uma soberania limitada. Nao obstante, sempre existiram diversas teorias acerca da natureza juridica do Mar Territorial, pois a nogdo do seu regime juridico esta estritamente yinculada 4 sua natureza. Como num movimento pendular, as teo- rias oscilavam da absoluta equiparacio da soberania exercida sobre 0 espaco terrestre até a sua mais radical negaao. ep 3 GUEDES, Armando M. Marques. Direito... Op. Cit. P.102:"O limite vertical superior é a zona de transigio entre 0 espaco aéreo, ou atmosférico proximo, que recobre a Terra, e 0 espaco extra-atmosférico, a ele exterior. Esta zona de transigio abrange a mesosfera,a termosfera e a exosfera, e principia no limite da estratosfera (48 quilémetros de altitude), terminando gradualmente para além dos 480 quilémetros. Desde o langamento do primeiro satélite artificial (Sputnik), realizado pela URSS em 4 de Outubro de 1957, é geralmente ad- mitido que a soberania estadual finda af, pelo que nenhuma violagio resulta do sobrevoo por foguetdes vectores, ou satélites atificiais j em drbita, que em tal zona se verificar; mas violagio haverd se 0 sobrevoo ocorrer abaixo dela. Donde nem mesmo as aeronaves comerciais ¢ particulares poderem invocar um direito de passagem inofensiva na troposfera (que se eleva da superficie da terra até aos 16 quilémetros) ou eventualmente na estratosfera (dos 16 aos 48 quilémetros), que em conjunto formam 0 espago aéreo ou atmosférico: a autotiza¢io do Estado sobrevoado é sempre necessiria. Em contraste, 0 espago extra-atmosférico é desde 1967 definido como érea aberta 3 utilizagio comum por toda a Humanidade (the province of all mankind), de que a nenhum Estado € licito apropriar-se”. ™ Em tese de doutorado em direito pela USP, Olavo de O. Bittencourt Neto estuda 0s “Limite Vertical 4 Soberania dos Estados: fronteira entre espago aéreo ¢ ultraterrestre”, 2011. * CNUDM. Art. 16. 155 Digitalizado com CamScanner doutrinirias & possivel identifey ; F Jeram o Mar Territorial come terrigg 6. Entre estas diverpeneias STUPOS CeGricos: os que CONSE a } fede eos que defendem que este espace Jo primeiro grupo, podem, aa aoenee brea natureza juridica do encontrar trés teorias sobre at doin i le pramteddates2) dreito de soberania; 3) direito de Ho do Estado costeiro ¢ i considerado territérie maritime. nd, ‘Territo, | ) e; juris direito de propriedade; eee tad Gio. J4 para os que consideram © Mar Territorial espago Maritim, identificamos outras trés teorias principais: 1) 0 a de Servidig, 2) o diteto de conservagio; 3) 0 dreito geral de policia, Os defensores da primeira teoria defendiam que o diteito g Estado sobre 0 Mar Territorial era um direito de Propriedade, ¢, dominium, pois este espago possui todas as caracteristicas NeCessiriag para a apropriagio: ser titil; poder se sujeitar a uma autoridade; ser de tal natureza que a utilizagio por varios prejudique a sua finalidade, ser acess6rio do territério terrestre; ter 0 solo ¢ subsolo como um prolongamento do territ6rio terrestre”. Como proprietario, 0 Estado costeiro detém sobre esta zona todas as prerrogativas que tal direito confere, como admitir ou nao a entrada de embarcacées estrangeins em suas aguas; sueiti-las & regras sanitirias, de seguranga ou outry que considere pertinentes; fixar 0 pagamento de taxas; impor sug jurisdi¢ao em matéria civil e penal; deter o monopélio na exploracig dos recursos; enfim, segundo esta teoria, o Estado ribeirinho Possui todos os direitos sobre 0 Mar Territorial id€ntico aos que Possui em terra firme. As criticas esta teoria sio muitas,a comecar pelo princfpio bi- sico de que nao existe propriedade sem ocupagio e 0 Mar Territorial € insuscetivel de ocupagao. Ademais, o costume internacional consa~ grou através dos séculos alguns direitos aos estrangeiros no tocante a este espaco, sobretudo o direito de passagem inofensiva. Ainda, este direito de propriedade contradiz diversas regras consuetudinirias e Prejudica 0 comércio e os interesses de toda a comunidade interna- cional. Cobrangas de taxas Para a navegacao, por exemplo, contrariam claramente o direito internacional, pois nao é reconhecida a legiti- midade de um Estado impor encargos a nio ser como contrapartida de algum servigo prestado ou a disponibilidade de tal %" Enrre os defensores desta tese, podemos citar, entre outros: Digges, Welwood, Selden ¢ seus seguidore Stypmann, Strauch, Pufendorf, Bynkershoekra, Vit, Vattel,Azuni, Hall, Hautefeuile, Kllber G, 'Martensrs, Phillimore, Pradiet-Fo- dére, Rayneval, Schiataelle, Wheaton, Oppenheimre, 156 Digitalizado com CamScanner A segunda teoria do grupo que considera o Mar Territorial como um espago terrestre € dos que defendem o direito de soberania sobre este espago Nesta, os defensores afirr detém a propricdade destas aguas, mas sim 0 direito soberano sobre clas, ou soja, 0 Mar Territorial nio é considerado um territério do Estado ribeirinho, mas este possui poderes de soberania nestas Aguas. Na pritica, com uma soberania ilimitada, o Estado possui os mesmos poderes que tem sobre seu territério, como na teoria do direito de am que o Estado costeiro nao propriedade™". Todavia, para fazer frente as criticas que sio praticamente as mesmas da teoria do direito de propriedade, os defensores desta tese afirmaram, em conformidade com o direito internacional e con- suetudindrio, que esta soberania deveria ser relativa; isto é, existem limites 4 soberania do Estado costeiro relativos ao Mar Territorial que derivam dos direitos que os outros Estados também possuem sobre este espago, nomeadamente o de passagem inofensiva. Os adeptos da doutrina do direito de jurisdi¢io eram contrarios dideia de propriedade e de soberania: defendiam a tese de que o Mar Territorial nao é suscetivel de apropriagio ou soberania, mas para fins de protegao dos interesses nacionais os Estados costeiros podem impor suas leis e jurisdi¢Go sobre este espaco. Assim, o Mar Territorial no estava vinculado a soberania de qualquer pais, contudo 0 Estado ribeirinho poderia impor certas condigdes normativas e estabelecer sua jurisdi¢ao perante este espa¢o, especialmente nas questées de pro- tecdo nacional, regras fitossanitdrias e aduaneiras.Ainda, denominavam este espaco “Aguas jurisdicionais”, termo apropriado, pois estabelece distingdo daquelas partes do mar que estio dentro dos portos, baias ¢ golfos fechados - a territoriais*”. Os criticos desta tese apontam sua imprecisio ¢ arbitrariedade, pois a jurisdic¢ao € um atributo da soberania e esta decorre, entre outros, do poder conferido ao Estado de legislar e aplicar as regras. 7 Podemos citar entre os defensores desta doutrina: Solorzano Pereira, Barclay, Bluntschli, Bonfils, Cobbett, Despagnet-de-Boeck, Heilborn, Hershey, Kleen, Laurence, De Louter, Mérignhac, Oppenheim, Perels, Renault, Schiicking, Zorn, Westlake, Hyde, Cavaglieri, Jessup, Kaufmann, Dupuis, Colombos, O'Connell, Francis, Ngantcha, entre outros. ™ Entre os defensores desta teoria, podemos citar: Loccenius, Rocco, Grécio, Bal- do, De Halleck, Bonfils, Calvo, Taylor, Foulke, Bidau, Von Bar, Chrétien, Godey, Harburger, Ortolan, Twiss, Heffter, Nys e Stoerk. 157 Digitalizado com CamScanner A principal critica aesti teoria reade no fato de que jig hie dissoctar jurndigie de soberania i A primeira teoria dos que defenden 0 Mar Ferntatial cay, tertorio martina a canna de deta de servi, etd py in © defendida por Albert Geouttie de Lapradelle”, em 1A94, 6, iin este autor, o Estado costeiro nao é proprictirio nem sobering , espace, pois omar & uno, uma unidade inneparivel © pertengee, comunidade internacional, tna res commis, Todas na qualidade ribeirinho e para atender seus intereses © necessidades de sep do costeiro possui direitos de fitossanitarias ¢ aduanciras of Servidkic, tringir dele. adamente o direito de livre navegagio no Mar Territorial Por Outre Isto é, 0 Estado costeita nio possuiria o direito de Estados, apenas poderia fazé-lo conforme suas necessidades ¢, en cave de diivich, nfo seria a servidlio que a se presumir, mas sim a liberda, A criti teoria recai primeiramente no fate de os direitos de servidio nio serem naturais, tanto no ambito interne quanto internacional; ou seja, para haver o dircito de servidio sob. Mar Territorial, este deveria ser convencionado, 0 que nio acontee, em relagio a est Ademais, tecnicamente, a servidio pressupde a abdicagio de Parce- In da soberania e/ou direitos. Como, mesmo pelo principio da rs communis 0 mar nao € suscetivel de soberania, tampouco propriedade de todos (toda a comunidade internacional, contudo, pode utili-t), 0 direito de servidio nao pode ser exercido®*. Ainda, os direitos ¢ ”* ROCHA, Rosa Maria Souza Martins. O Mar Territorial... Op. Cit. P. 262:Pri- miro, porque razio a sociedade de Estados delega apenas alguns poderese nio outros? Além disso, como é sabido,a delegagio pode ser revogada pelo delegante, como é que neste caso tal pode acontecer? Por outro lado, tal delegagio é feta ao Estado ribeirinho, dada a sua qualidade de ribeirinho, ou pode ser delegada a Estados que nio tenham costa maritima para ser exercida numa dada costa? Atente-se, porém, que os diteitos que o Estado ribeirinho exerce no seu Mar Territorial exerce-os no seu proprio interesse, para defesa das suas necessidades de Seguranga, sanitirias, econdmicas e aduaneiras e nao no interesse comum da Colectividade. Por esta razio ¢ pelas interrogacdes feitas, esta teoria da delegacio do dircito de jurisdigio nio pode ser accite”, 7“ LAPRADELLE, Albert Geouffre de. Le Droit de | Tomo V, RGDIP, Paris; 1898, ‘ara entendermos melhor este termo, segue uma definigio de servidio de MOREIRA, Luiz Carlos Lopes; LECH, Marcelo Mandes. Maral de Dircito Internacional Piiblico. Editora Ulbra, Canoas ~ Brasil; 2004. P85 ¢ 86:"A, servidio internacional compreende uma restrigio ao livre exercicio da soberania territo- rial, de modo permanente, de um Estado a outro (ou outros).A servidio pode ¢ sur la mer territoriale. 25 p, 158 Digitalizado com CamScanner pre o Mar Territorial neativas que 0 Estado costeiro poss restringent apenas as questies de seguiranga, fitossanitirias € 3s. Ao Estado tibeirinho é contiado, pela pritica © costume tempo, o direito exclusive de exploragio dos scional de lor anterm: S ys natuirats neste espago, além de outros (como a colocagio de curs bos submarinos, boras ¢ fandis), a teorta do direito de conservagio considerava que o Estado comente poderia atuar no Mar Territorial para defender os seus ele- inentos constitUENOS: CerTitdrio, povo e poder. O direito de defesa iia a0 Estado © exercicio para além das suas fronteiras terrestres, Esta tese era perm dobre os espagos considerados res mulls ou res communis gefendida por Paul Fauchille, que afirmava:a conservagio constitui um gos direitos findamentais do Estado, sendo, além de um direito, um dever estatal. Toda nagio pode e deve tomar as medidas necessarias 4 pripria existéncia, defendendo-se de atos que possam prejudicar seus elementos constitutivos. O Estado pode opor-se a tudo 0 que possa gmeagar seu tertitério, tomando todas as medidas necessirias para manter a seguranga, a salide e proteger os seus interesses econdmicos ¢ os dos seus nacionais. Embora sujeito a todas estas limitagdes, o Mar Territorial continuava teoricamente livre e aberto utilizago de todos. A principal critica a esta teoria é realizada pelo proprio Fau- chille, cuja visio quanto 4 pritica e 0 costume internacional sempre entenderam o Mar Territorial como um espago anexo ao territério do Estado, e nio parte do territério maritimo. O principal resultado desta constatagio € que o prolongamento do Estado sobre 0 Mar Territorial condiz 4 expansio da soberania, ou seja, ao considerar esta zona como parte integrante de seu territério, os paises também enxergam este espago como sujeito i sua soberania. Assim, 0 pro- prio autor, apesar de continuar a defender sua tese, reconhece que, na pritica internacional, o regime juridico que impera sobre 0 Mar Territorial é 0 direito de soberania, seja relativa ou nao. Por tiltimo, a teoria do direito geral de policia afirma que 0 Estado deve garantir a ordem piiblica, quer reprimindo as contraven- gGes, quer prevenindo as perturbagées, entre outros. Para tal, o pais ribeirinho pode utilizar o emprego da forga, emitir regulamentacio ser positva ow negativa. As positivas importam em permissio de determinada utilizagio de uma territ6rio. As negativas, na proibigio do exercicio do poder territorial em toda a sua extensio. Extinguem-se, através de acordo entre os Estados interessados, pela fusio de Estados ou pela renuncia dos Estados”. 159 Digitalizado com CamScanner cursos ou qualquer outra me adequada, proibir a exploragio de re: de manter 4 trangiiilidade dida apropriada que tenha a finalidade Seguranga ea salubridade do territ6rio. A critica a este sistema recai sobre torial como res communis, isto é, coisa comum Verifica-se que o direito consuetudinario Os Estados no qualificavam este espago como comum aos denai, Estados, pois o Mar Territorial era considerado como uma extensio dy territério, com soberania do Estado costeiro € no uma Fes communis, A Convengio sobre 0 Mar Territorial ¢ a Zona Contigua de 1958 consolida a tese da soberania do Estado costeiro sobre 0 Mar Territorial. Logo no seu primeiro artigo, a conven¢ao afirma que soberania do Estado ribeirinho se estende além da terra firme e das Aguas interiores, abarcando também a faixa de mar adjacente deno- minada de Mar’ Territorial. Vale lembrar que a convengao nao estipula uma distancia fixa para tal espa¢o. Ainda, neste mesmo artigo, a con- ven¢io também consagra a tes da soberania limitada, destacando que esta soberania se exerce em conformidade com os demais artigos que crevem direitos e deveres dos paises costeiros ¢ terceiros sobre esta ende-se nao somente pela 4 qualificagio do Mar tery a todos. Mais uma y, nfo entendia desta mane, presi zona maritima”*. Ademais, esta soberania est superficie e coluna d’égua do mar adjacente, mas também compre- ende o espaco aéreo sobrejacente € 0 leito e subsolo superjacente™ A principal limitagao & soberania costeira consiste no direito de pussagem inocente dos navios sobre o Mar Territorial. Ito é,0 Estado costeiro nao pode impedir que navios estrangeiros naveguem neste espaco pelo simples poder soberano que exerce. Todavia, a Convengio normatiza algumas regras, direitos e deveres para esta navegacio, que serdo analisados mais adiante. Posteriormente,a CNUDM aplicou, fundamentalmente da mes- ma forma que a Convencio de 1958, a teoria da soberania limitada. A CNUDM nio se desviou do entendimento de 1958 e manteve 0s poderes soberanos estatais sobre o Mar Territorial e as limitagGes a ste™ Assim, ambas as Convengées, consagraram a natureza juridica do Mar ® Convengio sobre 0 Mar Territorial e Zona Contigua. 1958. Op. Cit. art. | 7 Tdem. art. 2. © GUEDES, Armando M. Marques. Direito.. Op. Cit. B.119:"A parte aspectos d¢ pura forma,a Conven¢io nada inova quanto & natureza e extensio dos poderes ¢° Estado costeiro,em relagio ao MarTerritorial ou com respeito as Aguas Interiors 160 = — Digitalizado com CamScanner sitorial como UM espaco sueito A soberania do Estado costeiro. 10 ¢ ilimitada; além de gozar desta prerroga~ Contudo, esta soberania fiya exclusiva, o Estado ribeirinho esti sujeito a certas obrigagdes € 0 paises também detém alguns direitos sobre este espago ‘Aalteragio mais significativa em relagio as liberdades ¢ restrigdes da navegagio maritima no Mar Territorial impostas pela CNUDM se

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