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Embargos Monitoria
Embargos Monitoria
Processo n. 0894251-66.2023.8.19.0001
DA TEMPESTIVIDADE
Ocorre que, nos dias 15/11/2023 e 20/11/2023 não houve expediente forense, em virtude
dos feriados do Dia da Proclamação da República e do Dia Nacional da Consciência Negra,
respectivamente (Lei Estadual n. 4007/20021). Assim, o prazo para apresentação de embargos
se iniciou em 07/11/2023 (terça-feira) e terá por termo o dia 29/11/2023 (quarta-feira). Resta,
portanto, comprovada a tempestividade da presente petição.
DOS FATOS
1
Art. 1º Fica instituído o dia 20 de novembro, data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares e dia Nacional
da consciência Negra, como feriado Estadual.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
e duzentos e cinquenta reais), decorrentes de supostos descumprimentos do contrato de
distribuição exclusiva dos produtos LITT, linha de material cirúrgico utilzado para realização de
ablação de frequência.
1) Que os réus teriam comercializado fora da área de distribuição que lhes foi designada no
instrumento contratual, usando como comprovação supostos relatórios cirúrgicos que
são meros papéis de receituários de médicos;
3) Que os réus teriam vendido um produto usado para um cliente colocando em risco a
imagem da empresa autora.
Antes de adentrar nas questões de direito que permeiam o presente caso, é necessário
observar o pano de fundo fático intencionalmente omitido pelo autor com o objetivo de levar a
erro esse juízo.
E foi justamente a expertise dos réus que chamaram a atenção do autor, criando-se a
partir de 2021 uma relação comercial bastante profícua para ambas as partes, tendo o réu,
inclusive, se tornado o maior distribuidor de produtos Lang em apenas 2 (dois) anos de atuação.
Tal relação se deu com base nos seguintes negócios jurídicos:
3. Durante o ano de 2021 até meados de 2022, o sócio administrador do agravante foi
contratado pelos agravados para atuar como Gerente Nacional de Vendas e Gerente
de Produtos, desenvolvendo a área comercial da empresa e ainda novos
instrumentos cirúrgicos a serem produzidos pelos agravados;
Vale salientar que, todos os contratos de distribuição sejam formais ou mesmo o verbal
funcionavam da seguinte forma: a Medcirurgica adquiria os produtos do autor e da empresa Lang
e Filhos e revendia a terceiros. É o chamado contrato de distribuição por intermediação, cuja
remuneração se dá pela diferença entre o preço de venda e de compra.
Ou seja, para que esse contrato se perfectibilize, o produto é comprado pelos réus e entra
em seu estoque e depois é revendido. Há, portanto, a transferência de propriedade do bem
móvel, na forma do art. 1.267 do CC/2002. Após a entrada no estoque, os produtos são
revendidos para os hospitais e planos de saúde.
Trata-se de adquirir estandes em feiras médicas, doar produtos para testes por
cirurgiões, promover cursos para que se os médicos aprendam a usar os produtos, etc. Isso
porque, são os médicos que indicam qual o produto será utilizado na cirurgia.
Além disso, o distribuidor se submete ao atraso nos pagamentos pelos hospitais e planos
de saúde, os quais não raramente superam 6 (seis) meses de atraso pressionando o fluxo de
caixa do distribuidor e exigindo um valor significativo de capital de giro tão somente para que a
operação comece a funcionar.
Os autores, por sua vez, são totalmente excluídos desse risco. Recebendo imadiatamente
os valores dos produtos. O contrato é abusivo desde sua premissa, não por acaso as
concessionárias atuaram pelas vias da política para conseguir a aprovação da Lei Ferrari (Lei n.
6.729/1979) e, assim, obter alguma proteção na referida relação comercial.
O fato é que essa lei não se aplica a todos os contratos de distribuição. Assim, se o
distribuidor quiser atuar deve aceitar os termos do contrato do fornecedor/distribuído. Trata-se
de um contrato de adesão na sua definição pura.
Pois bem. O que ocorreu no caso dos autos foi muito simples, o autor pressionou os
réus para assinar um contrato de adesão, no intuito de formalizar retroativamente a relação
comercial verbal que existia desde 2021 entre as partes. Aquela mesmo que trataria da
distribuição exclusiva de todos os produtos.
Por esse motivo, em 28/09/2022 foi enviado e-mail aos envolvidos (doc. 05) com o
objetivo de marcar uma reunião para sanear esses pontos, já que em absolutamente nenhum
momento qualquer dessas cláusulas havia sido negociada.
Foi exatamente nesse momento que o autor iniciou a construção de uma narrativa
absolutamente mentirosa que seria utilizada contra os réus em desdobramentos capazes de
simplesmente acabar com sua operação comercial. Senão vejamos, o e-mail do procurador do
autor datado de 29/09/2022 (v. Doc. 05):
Veja que, já nesse momento o discurso é de que o referido contrato já havia sido há muito
enviado e que aqueles termos haviam sido acordados. A verdade é que esses nunca foram os
termos acordados entre as partes, nem mesmo os contratos anteriormente assinados continham
cláusulas tão abusivas.
Tal fato foi informado inúmeras vezes por e-mail e mesmo depois que o procurador dos
autores entrou em contato diretamente com o sócio administrador da empresa ré (v. doc. 05),
em total descumprimento ao disposto no Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil,
como admitido pelo próprio procurador em e-mail.
Veja que, a todo momento, o dito procurador tentar fazer com que o réu admita que os
termos abusivos do contrato estavam em vigor desde o início da relação. O que é uma mentira!
Se o autor pretendia alterar um contrato verbal, não deveria haver outra forma senão
negociar. Mas essa definitivamente não era a intenção do autor. Em verdade, estava procurando
uma desculpa para encerrar o contrato de distribuição com objetivo de substituir o réu, o que
efetivamente fizeram no final de janeiro/2023, tendo cooptado um ex-funcionário da
Medcirurgica para dar-lhe a distribuição.
Tal fato não é apenas verdadeiro, o próprio autor divulgou foto do referido ex-
funcionário, Sr. Carlos Gustavo Miguel da Silva, que após conseguir o contrato de distribuição
que era do réu, ainda ajuizou ação trabalhista n. 0000367-77.2023.5.06.0017 contra a empresa
(doc. 06):
Vale salientar que, o réu nunca se recusou a firmar um contrato que disciplinasse a
relação comercial daquele momento em diante, mas mesmo diante das reiteradas tentativas de
negociação, o autor não voltou a fornecer os produtos, e não foi apenas isso.
O próximo passo foi ainda mais despropositado. O autor protocolou uma notícia-crime
contra o sócio administrador do réu (doc. 08), com o simples intuito de provocar o rompimento
dos contratos de distribuição das linhas LITT e Endoflex sem que para isso precisassem
desembolsar a multa contratual, e repassar as distribuições para outras pessoas, o que de fato
foi feito.
O inquérito foi aberto, tombado sob o n. 911-00375/2022, e a apuração está sendo feita
pela Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro (159ª Delegacia de Polícia). Entretanto,
enquanto o inquérito está em curso, o autor, entendeu que seria prudente mandar um e-mail
para um número incerto de hospitais, planos de saúde, distribuidores e fornecedores dos réus
(doc. 09), em 26/01/2023, informando da existência de uma ação criminal contra o sócio
administrador do réu:
Veja, Douto Julgador, a proporção a que o autor resolveu alçar uma questão comercial.
No e-mail o autor tratou de fatos que eles mesmos imputaram, através de uma notícia-crime
protocolada por seus advogados, e que ainda está em fase de apuração. O objetivo era apenas
um: acabar com a imagem do réu e seu sócio no mercado!
E não foi apenas isso, após enviar o referido e-mail para os hospitais e planos de saúde,
o autor enviou o mesmo e-mail para os outros fabricantes de material cirúrgico com quem o réu
mantém relação comercial, motivando a rescisão dos contratos de distribuição que estavam em
pleno vigor, como o contrato firmado com a CicloMed (doc. 10):
Veja que, a intenção é tão somente asfixiar a empresa ré e acabar definitivamente
com sua atuação comercial! Trata-se de uma atuação criminosa do autor que age como uma
verdadeira quadrilha com o fim de destruir uma empresa e seu sócio como se não houvesse
lei que a eles se impusesse.
E mais, a própria Lang atuou para impedir a atuação comercial da Medcirurgica e existem
provas! Em 31/01/2023, o setor administrativo do réu recebeu um e-mail da Rede D’or solicitando
esclarecimentos acerca da suposta suspensão de contrato de distribuição (doc. 11):
A fim de deixar clara a relação de distribuição estabelecida entre as partes, o réu enviou
uma Carta de Esclarecimentos à rede de hospitais (doc. 12), mas não surtiu qualquer efeito. Isso
porque, o autor informou à Rede Hospitalar, sem qualquer base jurídica e sem sequer propor a
recompra do estoque, que o réu não poderia comercializar o que é de sua propriedade (doc. 13):
Foi justamente com base em tais fatos que os réus ajuizaram contra o autor e a empres
a Lang e Filhos a ação de indenização n. 0016029-88.2023.8.17.2001 (doc. 14), a qual está
pendente de julgamento junto à 14ª Vara Cível da Comarca de Recife/PE.
A verdade é que diante da complexidade dos fatos que envolvem o presente litígio, a
discussão sequer poderia ser tratada em sede de ação monitória, como restará amplamente
demonstrado a seguir.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA
TÉCNICA DO PROCESSO DE CONHECIMENTO PLENA QUE SE IMPÕE
APLICAÇÃO DO ART. 485, IV DO CPC/2015
Observada a realidade dos fatos fica claro que o autor omitiu os acontecimentos com o
simples objetivo de ajuizar a presente ação e aumentar a pressão sobre os réus. Entretanto, deve-
se observar que os documentos escritos juntados à inicial não são suficientes para trazer a
certeza necessária a escolha da via da ação monitória para processamento do feito.
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
Não é o caso dos autos a discussão não se refere a existência de prova escrita da relação
negocial, mas sim se de fato houve ou não culpa dos réus na rescisão unilateral do contrato pelos
autores, o que, se fosse o caso, ensejaria o pagamento da multa contratual.
Veja que no caso dos autos, foram juntados dois papéis de receituário médico, assinados
pelo mesmo médico Michel Zelaquett (CRM/RJ 52.70009-6), informando que um produto
específico teria sido fornecido pela Medcirúrgica. Não foi juntado qualquer documento além
desse, nem a nota fiscal do produto, nem o vídeo de realização da cirúrugia, nem o próprio
relatório cirúrgico, nem mesmo um documento do hospital que supostamente adquiriu o
produto.
Não é demais observar que não é o médico quem adquire o material, mas sim o hospital.
Este no máximo indica o material que pretende utilizar, mas a compra não é por ele realizada. Se
não há sequer um documento do hospital nesse sentido, como é possível considerar como
documento capaz de instruir uma ação monitória um mero papel assinado por um médico.
Qual a garantia de que esta suposta declaração não foi solicitada pelo autor, em meio a
campanha difamatória por ele propogada contra os réus, justamente para tentar criar uma
situação capaz de resultar nuam rescisão contratual? Não há garantias e não há documentos pelo
simples fato de que foi exatamente o que aconteceu!
Outro documento juntado foi o e-mail enviado por um cliente que teria adquirido um
gerador em preço superior ao vendido pelo autor, o que por si só não seria descumprimento
contratual já que se trata de um contrato de distribuição por intermediação e não por
aproximaçaõ, e que este teria sido enviado usado.
Analisemos tal “prova”: quando um produto desse tem algum tipo de defeito de
fabricação ou não é entregue a contento do cliente, este aciona a empresa fornecedora (no caso
teria que ter acionado os réus) para entender qual o procedimento a seguir.
Nesses casos, obviamente sendo um produto de alto valor agregado, a fábrica (no caso
o autor) deveria realizar uma análise do produto, por meio de seu serviço de assistência técnica,
e constatando se de fato há problema e indicando qual o procedimento será adotado.
Veja que nesse caso, a empresa que alega ter comprado dos réus um material usado não
entrou em contato com a Medcirurgica, mas tão somente com o autor através do e-mail de seu
principal Diretor e fundador e não foi juntado nenhum relatório de análise desse produto.
Absolutamente nenhum!
Além disso, o autor junta tão somente a notícia crime, e não o procedimento de inquérito
completo, e notificações extrajudiciais que forma respondidas, mas não junta das respostas. São
apenas documentos incompletos juntados no intuito de levar esse juízo a erro.
O fato é que a apuração de tal descumprimento contratual somente poderia se dar por
meio da técnica processual do processo de conhecimento plena, tal qual descrita por Antônio
Carlos Marcato2:
Dessa forma, não havendo qualquer certeza se são ou não devidas as multas por rescisão
do contrato e por violaçaõ da cláusula de não-concorrência, faz-se indiscutível a necessidade de
extinção do feito sem resolução de mérito nos termos do art. 485, IV do CPC/2015, o que desde
já se requer.
CONTRATO DE ADESÃO
ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Ultrapassada a prejudicial acima indicada, o que se admite tão somente com base no
Princípio da Eventualidade, deve-se observar que o contrato firmado entre as partes não
comportou qualquer tipo de negociação, tendo todas as cláusulas sido impostas aos réus.
2
MARCATO, Antônio Carlos. Procedimentos especiais. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.
petição inicial;
3) Ajuizou a presente ação monitória no intuito de cobrar multas contratuais que sequer
são devidas, uma vezque a rescisão contratual foi causada pelo próprio autor como mais
uma etapa do plano intencional de destruir a empresa ré.
O fato é que para além da importância de ter identificada a utilização da máquina pública
de forma absolutamente deliberada contra os réus, é necessário observar os efeitos de tais atos
para a saúde financeira da empresa:
1) Com os protestos, todas as compras de outros materiais cirurgicos somente podem ser
feitas na modalidade à vista, reduzindo a capacidade de compra da empresa e de
formação de estoque para atender a demanda de mercado;
TUDO PORQUE O RÉU NÃO QUIS ASSINAR UM CONTRATO DE ADESÃO COM DATA
RETROATIVA!
Resta alguma dúvida de que a cláusula de eleição de foro deve ser considerada
abusiva nesse contexto? Claro que não!
Como se não bastassem os pontos até então ventilados, é necessário observar que não
houve, no presente, caso, sequer a comprovação de que rescisão contratual ocorreu por culpa
dos réus. Pelo contrário, basta uma analise superficial do processo para se verificar que, em
verdade, não há comprovação das alegações trazidas aos autos
Com relação a alegação de venda de produto a um cliente por valor exorbitante, deve-
se observar que o contrato em discussão é de distribuição por intermediação, ou seja, nesse caso
o réu compra o produto do fornecedor e repassa ao cliente, sendo o seu lucro constituido unica
e exclusivamente pela diferença do preço de compra e do preço de venda.
Vale salientar ainda que, o e-mail juntado aos autos é claro ao indicar que a pesquisa de
preços foi feita com outros concorrentes, ou seja, distribuidores que não vendiam os produtos
Lang. Ora, se a pesquisa não foi feita anteriormente à compra, esse foi um erro cometido pelo
comprador, não tendo o distribuidor qualquer responsabilidade sobre tal fato.
Com referência a alegação de que o réu teria fornecido um produto usado ao comprador,
é necessário observar, como dito anteriormente, que não foi apresentado nenhum laudo, nem
mesmo produzido internamente comprovando tal fato. Trata-se de mera alegação do
comprador, não sendo um e-mail sem qualquer resposta suficiente para demonstrar a ocorrência
do fato.
Por fim, com relação aos protestos de notas fiscais, é necessário observar que não foi
sequer comprovada a entrega das mercadorias e esta discussão já está sendo travada nos autos
da execução de título extrajudicial n. 0077837-94.2023.8.17.2001 (doc. 15).
Não foram apresentadas nos presentes autos, portanto, as provas dos fatos constitutivos
do direito do autor, em absoluta afronta ao art, 373, I do CPC/2015:
DOS PEDIDOS:
1) Que seja reconhecida a inadequação da via eleita no presente caso, ante a inexistência
de qualquer certeza se são ou não devidas as multas por rescisão do contrato e por
violaçaõ da cláusula de não-concorrência, entinguindo-se o feito sem resolução de
mérito nos termos do art. 485, IV do CPC/2015;
2) Ultrapassada a referida prejudicial, que seja aplicado ao presente caso o art. 63, §§ 3º e
4º, reconhecendo-se a competência da comarca de Recife/PE para processamento e
julgamento do feito, ante a abusividade da cláusula de eleição de foro.
3) No mérito, que seja reconhecida a absoluta ausência de provas nas alegações do autor,
reconhecendo-se a improcedência dos pedidos formulados na exordial, resolvendo-se o
mérito nos exatos termos do art. 487, I do CPC/2015.
Em tempo, com base no art. 272, §5 do NCPC, sob pena de nulidade, que sejam todas as
futuras notificações e intimações referente a este feito realizadas exclusivamente em nome de
LOUISE DANTAS DE ANDRADE, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 30.392 e THAYS
MEIRELLY VALENÇA DE PAIVA, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 41.570, ambas com
endereço na Rua Padre Carapuceiro, n. 968, Torre Janete Costa, sl 1805, Boa Viagem, CEP 51020-
280.
Nestes termos,
P. deferimento.
Recife/PE, 29 de novembro de 2023.