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AO JUÍZO DA 15ª VARA CÍVEL DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/RJ

Processo n. 0894251-66.2023.8.19.0001

MEDCIRURGICA COMERCIO E IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS MÉDICO HOSPITALARES


LTDA (Doc. 01) e BRUNO CAMPOS DE FRANCA já devidamente qualificados nos autos do
processo em epígrafe movido pela LANG ELETRO MEDICINA LTDA, neste ato representado por
suas advogadas ao final assinadas (doc. 02), vem à presença de V. Exa., opor EMBARGOS À
MONITÓRIA, com base nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

DA TEMPESTIVIDADE

Em 06/11/2023 (segunda-feira) foi juntado aos autos o aviso de recebimento referente a


carta de citação. Aplicando-se ao presente caso o art. 701 c/c 219, ambos do CPC/2015, tem-se
que o prazo para oposição dos presentes embargos se iniciou em 07/11/2023 (terça-feira) e teria
por termo o dia 27/11/2023 (segunda-feira).

Ocorre que, nos dias 15/11/2023 e 20/11/2023 não houve expediente forense, em virtude
dos feriados do Dia da Proclamação da República e do Dia Nacional da Consciência Negra,
respectivamente (Lei Estadual n. 4007/20021). Assim, o prazo para apresentação de embargos
se iniciou em 07/11/2023 (terça-feira) e terá por termo o dia 29/11/2023 (quarta-feira). Resta,
portanto, comprovada a tempestividade da presente petição.

DOS FATOS

Trata-se de ação monitória ajuizada objetivando a condenação dos embargantes ao


pagamento de multas contratuais no valor total de R$1.036.250,00 (um milhão, trinta e seis mil

1
Art. 1º Fica instituído o dia 20 de novembro, data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares e dia Nacional
da consciência Negra, como feriado Estadual.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
e duzentos e cinquenta reais), decorrentes de supostos descumprimentos do contrato de
distribuição exclusiva dos produtos LITT, linha de material cirúrgico utilzado para realização de
ablação de frequência.

De acordo com o autor, os réus teriam descumprido as seguintes cláusulas contratuais:

1) Que os réus teriam comercializado fora da área de distribuição que lhes foi designada no
instrumento contratual, usando como comprovação supostos relatórios cirúrgicos que
são meros papéis de receituários de médicos;

2) Que os réus teriam vendido produto a um cliente em valor exorbitante;

3) Que os réus teriam vendido um produto usado para um cliente colocando em risco a
imagem da empresa autora.

Nesse sentido, para o autor seria justificada a rescisão do contrato de distribuição


exclusiva e consequentemente a aplicação das multas ora exigidas. Entretanto, tais argumentos
não se sustentam como restará amplamente comprovado a seguir.

DA VERDADE DOS FATOS

Antes de adentrar nas questões de direito que permeiam o presente caso, é necessário
observar o pano de fundo fático intencionalmente omitido pelo autor com o objetivo de levar a
erro esse juízo.

A empresa ré é distribuidora de materiais cirúrgicos, tendo toda a sua operação


capitaneada por seu sócio administrador, cuja experiência na área de vendas em saúde é
inconteste. Tendo sido, inclusive, representante comercial de grandes farmacêuticas.

E foi justamente a expertise dos réus que chamaram a atenção do autor, criando-se a
partir de 2021 uma relação comercial bastante profícua para ambas as partes, tendo o réu,
inclusive, se tornado o maior distribuidor de produtos Lang em apenas 2 (dois) anos de atuação.
Tal relação se deu com base nos seguintes negócios jurídicos:

1. No início de 2021, as partes firmaram entre si um contrato de distribuição com


exclusividade, para todo o Brasil, dos produtos da Linha de ablação por
radiofrequência LITT;

2. Em março/2021, as partes firmaram entre si um contrato de distribuição com


exclusividade, para todo o Brasil, dos produtos da Linha Endoflex;

3. Durante o ano de 2021 até meados de 2022, o sócio administrador do agravante foi
contratado pelos agravados para atuar como Gerente Nacional de Vendas e Gerente
de Produtos, desenvolvendo a área comercial da empresa e ainda novos
instrumentos cirúrgicos a serem produzidos pelos agravados;

4. Em 2021 também foi firmado um contrato verbal de distribuição exclusiva de todos


os produtos da autora e da empresa Lang e Filhos Material Hospitalar Ltda,
pertencente ao Grupo Lang.

Vale salientar que, todos os contratos de distribuição sejam formais ou mesmo o verbal
funcionavam da seguinte forma: a Medcirurgica adquiria os produtos do autor e da empresa Lang
e Filhos e revendia a terceiros. É o chamado contrato de distribuição por intermediação, cuja
remuneração se dá pela diferença entre o preço de venda e de compra.

Ou seja, para que esse contrato se perfectibilize, o produto é comprado pelos réus e entra
em seu estoque e depois é revendido. Há, portanto, a transferência de propriedade do bem
móvel, na forma do art. 1.267 do CC/2002. Após a entrada no estoque, os produtos são
revendidos para os hospitais e planos de saúde.

Considerando que o produto é adquirido para revenda, ou seja, o fabricante recebe


independetemente de ser obtida a revenda do produto para o plano de saúde, toda a estratégia
e investimento para realização das vendas é realizado pelo distribuidor. E o investimento é
sempre de milhares de reais.

Trata-se de adquirir estandes em feiras médicas, doar produtos para testes por
cirurgiões, promover cursos para que se os médicos aprendam a usar os produtos, etc. Isso
porque, são os médicos que indicam qual o produto será utilizado na cirurgia.

Além disso, o distribuidor se submete ao atraso nos pagamentos pelos hospitais e planos
de saúde, os quais não raramente superam 6 (seis) meses de atraso pressionando o fluxo de
caixa do distribuidor e exigindo um valor significativo de capital de giro tão somente para que a
operação comece a funcionar.

Os autores, por sua vez, são totalmente excluídos desse risco. Recebendo imadiatamente
os valores dos produtos. O contrato é abusivo desde sua premissa, não por acaso as
concessionárias atuaram pelas vias da política para conseguir a aprovação da Lei Ferrari (Lei n.
6.729/1979) e, assim, obter alguma proteção na referida relação comercial.

O fato é que essa lei não se aplica a todos os contratos de distribuição. Assim, se o
distribuidor quiser atuar deve aceitar os termos do contrato do fornecedor/distribuído. Trata-se
de um contrato de adesão na sua definição pura.

Pois bem. O que ocorreu no caso dos autos foi muito simples, o autor pressionou os
réus para assinar um contrato de adesão, no intuito de formalizar retroativamente a relação
comercial verbal que existia desde 2021 entre as partes. Aquela mesmo que trataria da
distribuição exclusiva de todos os produtos.

E como o autor tentou forçar a assinatura do contrato? Parando de fornercer os produtos


aos réus, prejudicando sua imagem no mercado, já que inúmeras cirurgias foram adiadas por
falta de produto. Mas essa foi apenas a primeira medida adotada com o intuito de destruir os
réus.

E a palavra correta é justamente DESTRUIR. No dia 27/09/2022, o autor simplesmente


optou por parar de fornecer produtos para aos réus, motivando o envio de e-mail solicitando
esclarecimentos (doc. 03):
Logo em seguida, o autor enviou para os réus uma minuta de contrato (doc. 04), com
data retroativa, que por si, já seria capaz de levar os réus à bancarrota, isso porque além de
colocar em seus termos cláusulas totalmente abusivas, inclusive estabelecendo que os preços de
venda dos produtos poderiam ser alterados a qualquer tempo.

Por esse motivo, em 28/09/2022 foi enviado e-mail aos envolvidos (doc. 05) com o
objetivo de marcar uma reunião para sanear esses pontos, já que em absolutamente nenhum
momento qualquer dessas cláusulas havia sido negociada.

Foi exatamente nesse momento que o autor iniciou a construção de uma narrativa
absolutamente mentirosa que seria utilizada contra os réus em desdobramentos capazes de
simplesmente acabar com sua operação comercial. Senão vejamos, o e-mail do procurador do
autor datado de 29/09/2022 (v. Doc. 05):
Veja que, já nesse momento o discurso é de que o referido contrato já havia sido há muito
enviado e que aqueles termos haviam sido acordados. A verdade é que esses nunca foram os
termos acordados entre as partes, nem mesmo os contratos anteriormente assinados continham
cláusulas tão abusivas.

Tal fato foi informado inúmeras vezes por e-mail e mesmo depois que o procurador dos
autores entrou em contato diretamente com o sócio administrador da empresa ré (v. doc. 05),
em total descumprimento ao disposto no Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil,
como admitido pelo próprio procurador em e-mail.
Veja que, a todo momento, o dito procurador tentar fazer com que o réu admita que os
termos abusivos do contrato estavam em vigor desde o início da relação. O que é uma mentira!

Se o autor pretendia alterar um contrato verbal, não deveria haver outra forma senão
negociar. Mas essa definitivamente não era a intenção do autor. Em verdade, estava procurando
uma desculpa para encerrar o contrato de distribuição com objetivo de substituir o réu, o que
efetivamente fizeram no final de janeiro/2023, tendo cooptado um ex-funcionário da
Medcirurgica para dar-lhe a distribuição.

Tal fato não é apenas verdadeiro, o próprio autor divulgou foto do referido ex-
funcionário, Sr. Carlos Gustavo Miguel da Silva, que após conseguir o contrato de distribuição
que era do réu, ainda ajuizou ação trabalhista n. 0000367-77.2023.5.06.0017 contra a empresa
(doc. 06):

- Foto do documento de identidade juntado a ação trabalhista n. 0000367-77.2023.5.06.0017:

- Print obtido no instagram do Grupo Lang (@grupolang):


Veja que o ex-funcionário da Medcirurgica está representando o próprio Grupo Lang
no evento.

Vale salientar que, o réu nunca se recusou a firmar um contrato que disciplinasse a
relação comercial daquele momento em diante, mas mesmo diante das reiteradas tentativas de
negociação, o autor não voltou a fornecer os produtos, e não foi apenas isso.

Iniciou-se aí uma campanha difamatória com o fim de acabar com a credibilidade da


empresa agravante. Primeiro, em 28/11/2022 os agravados postaram em seu site um aviso
informando que a Medcirurgica não era mais distribuidora da Lang, exceto em relação aos
produtos da linha LITT e, ainda, ameaçou os demais distribuidores para que não adquirissem
produtos e posteriormente revendessem para o agravante (doc. 07):
Vale salientar que, o único distribuidor que efetivamente tinha contrato firmado com o
autor era justamente o réu. Todos os demais adquiriam produtos esporadicamente sem sequer
ter contrato. Tal “aviso” foi apenas o início da campanha perpetrada pelo autor contra o réu.

O próximo passo foi ainda mais despropositado. O autor protocolou uma notícia-crime
contra o sócio administrador do réu (doc. 08), com o simples intuito de provocar o rompimento
dos contratos de distribuição das linhas LITT e Endoflex sem que para isso precisassem
desembolsar a multa contratual, e repassar as distribuições para outras pessoas, o que de fato
foi feito.

O inquérito foi aberto, tombado sob o n. 911-00375/2022, e a apuração está sendo feita
pela Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro (159ª Delegacia de Polícia). Entretanto,
enquanto o inquérito está em curso, o autor, entendeu que seria prudente mandar um e-mail
para um número incerto de hospitais, planos de saúde, distribuidores e fornecedores dos réus
(doc. 09), em 26/01/2023, informando da existência de uma ação criminal contra o sócio
administrador do réu:
Veja, Douto Julgador, a proporção a que o autor resolveu alçar uma questão comercial.
No e-mail o autor tratou de fatos que eles mesmos imputaram, através de uma notícia-crime
protocolada por seus advogados, e que ainda está em fase de apuração. O objetivo era apenas
um: acabar com a imagem do réu e seu sócio no mercado!

E aparentemente o objetivo foi atingido. A partir de então vários médicos pararam de


atender o réu, os hospitais e planos de saúde cancelaram cotações e o réu foi impedido de vender
até mesmo que está até o momento em seu estoque e que é de sua propriedade, haja vista o tipo
de contrato de distribuição firmado entre as partes.

E não foi apenas isso, após enviar o referido e-mail para os hospitais e planos de saúde,
o autor enviou o mesmo e-mail para os outros fabricantes de material cirúrgico com quem o réu
mantém relação comercial, motivando a rescisão dos contratos de distribuição que estavam em
pleno vigor, como o contrato firmado com a CicloMed (doc. 10):
Veja que, a intenção é tão somente asfixiar a empresa ré e acabar definitivamente
com sua atuação comercial! Trata-se de uma atuação criminosa do autor que age como uma
verdadeira quadrilha com o fim de destruir uma empresa e seu sócio como se não houvesse
lei que a eles se impusesse.

E mais, a própria Lang atuou para impedir a atuação comercial da Medcirurgica e existem
provas! Em 31/01/2023, o setor administrativo do réu recebeu um e-mail da Rede D’or solicitando
esclarecimentos acerca da suposta suspensão de contrato de distribuição (doc. 11):
A fim de deixar clara a relação de distribuição estabelecida entre as partes, o réu enviou
uma Carta de Esclarecimentos à rede de hospitais (doc. 12), mas não surtiu qualquer efeito. Isso
porque, o autor informou à Rede Hospitalar, sem qualquer base jurídica e sem sequer propor a
recompra do estoque, que o réu não poderia comercializar o que é de sua propriedade (doc. 13):

Foi justamente com base em tais fatos que os réus ajuizaram contra o autor e a empres
a Lang e Filhos a ação de indenização n. 0016029-88.2023.8.17.2001 (doc. 14), a qual está
pendente de julgamento junto à 14ª Vara Cível da Comarca de Recife/PE.

A verdade é que diante da complexidade dos fatos que envolvem o presente litígio, a
discussão sequer poderia ser tratada em sede de ação monitória, como restará amplamente
demonstrado a seguir.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA
TÉCNICA DO PROCESSO DE CONHECIMENTO PLENA QUE SE IMPÕE
APLICAÇÃO DO ART. 485, IV DO CPC/2015

Observada a realidade dos fatos fica claro que o autor omitiu os acontecimentos com o
simples objetivo de ajuizar a presente ação e aumentar a pressão sobre os réus. Entretanto, deve-
se observar que os documentos escritos juntados à inicial não são suficientes para trazer a
certeza necessária a escolha da via da ação monitória para processamento do feito.

Isso porque, a ação monitória é um tipo processual que se submete a procedimento


especial de cognição sumária, sendo necessária a provocação do réu para que seja iniciada a
instrução processual. Entretanto, para que seja possível acionar essa via processual, é necessário
que haja prova documental suficiente para que o juízo reconheça a veracidade das alegações e
determine a expedição do mandado monitório:

Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.

Não é o caso dos autos a discussão não se refere a existência de prova escrita da relação
negocial, mas sim se de fato houve ou não culpa dos réus na rescisão unilateral do contrato pelos
autores, o que, se fosse o caso, ensejaria o pagamento da multa contratual.

Veja que no caso dos autos, foram juntados dois papéis de receituário médico, assinados
pelo mesmo médico Michel Zelaquett (CRM/RJ 52.70009-6), informando que um produto
específico teria sido fornecido pela Medcirúrgica. Não foi juntado qualquer documento além
desse, nem a nota fiscal do produto, nem o vídeo de realização da cirúrugia, nem o próprio
relatório cirúrgico, nem mesmo um documento do hospital que supostamente adquiriu o
produto.

Frise-se: foi juntada apenas uma declaração de um médico, que sequer é


perfeitamente legível.

Não é demais observar que não é o médico quem adquire o material, mas sim o hospital.
Este no máximo indica o material que pretende utilizar, mas a compra não é por ele realizada. Se
não há sequer um documento do hospital nesse sentido, como é possível considerar como
documento capaz de instruir uma ação monitória um mero papel assinado por um médico.

Qual a garantia de que esta suposta declaração não foi solicitada pelo autor, em meio a
campanha difamatória por ele propogada contra os réus, justamente para tentar criar uma
situação capaz de resultar nuam rescisão contratual? Não há garantias e não há documentos pelo
simples fato de que foi exatamente o que aconteceu!

Outro documento juntado foi o e-mail enviado por um cliente que teria adquirido um
gerador em preço superior ao vendido pelo autor, o que por si só não seria descumprimento
contratual já que se trata de um contrato de distribuição por intermediação e não por
aproximaçaõ, e que este teria sido enviado usado.

Analisemos tal “prova”: quando um produto desse tem algum tipo de defeito de
fabricação ou não é entregue a contento do cliente, este aciona a empresa fornecedora (no caso
teria que ter acionado os réus) para entender qual o procedimento a seguir.

Nesses casos, obviamente sendo um produto de alto valor agregado, a fábrica (no caso
o autor) deveria realizar uma análise do produto, por meio de seu serviço de assistência técnica,
e constatando se de fato há problema e indicando qual o procedimento será adotado.

Veja que nesse caso, a empresa que alega ter comprado dos réus um material usado não
entrou em contato com a Medcirurgica, mas tão somente com o autor através do e-mail de seu
principal Diretor e fundador e não foi juntado nenhum relatório de análise desse produto.
Absolutamente nenhum!

Ou seja, um terceiro mandou um e-mail, não há nenhuma de prova de que o produto


estava usado ou se eles mesmos usaram, não houve recusa do recebimento do produto (o que
se faz no próprio verso da nota fiscal no momento da conferência do recebimento). É
simplesmente uma alegação!

Além disso, o autor junta tão somente a notícia crime, e não o procedimento de inquérito
completo, e notificações extrajudiciais que forma respondidas, mas não junta das respostas. São
apenas documentos incompletos juntados no intuito de levar esse juízo a erro.

O fato é que a apuração de tal descumprimento contratual somente poderia se dar por
meio da técnica processual do processo de conhecimento plena, tal qual descrita por Antônio
Carlos Marcato2:

Vale dizer, a técnica do processo de conhecimento plena é caracterizada,


fundamentalmente, pela realização integral do contraditório em forma antecipada,
ou seja, o provimento judicial final só será emitido depois de assegurada às partes,
com a observância das formas e prazos determinados em lei, a possibilidade de
fazerem valer todas as suas alegações, defesas e provas, assim permitindo que à
declaração contina na sentença seja atribuída a autoridade de coisa julgada material;
a essência da cognição plena reside, então, de um lado, na predeterminação legal das
modalidades de realização do contraditório, das formas e dos prazos nos quais o
processo se articula e, de outro, na realização mesmo do contraditório, de forma plena e
antecipada.

Dessa forma, não havendo qualquer certeza se são ou não devidas as multas por rescisão
do contrato e por violaçaõ da cláusula de não-concorrência, faz-se indiscutível a necessidade de
extinção do feito sem resolução de mérito nos termos do art. 485, IV do CPC/2015, o que desde
já se requer.

CONTRATO DE ADESÃO
ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ultrapassada a prejudicial acima indicada, o que se admite tão somente com base no
Princípio da Eventualidade, deve-se observar que o contrato firmado entre as partes não
comportou qualquer tipo de negociação, tendo todas as cláusulas sido impostas aos réus.

No caso em específico, para que se conclua pela abusividade da cláusula de eleição de


foro, basta verificar o que ocorrer quando o réu se recusou a assinar o contrato com data
retroativa enviado pelo autor na tentativa de obrigar a formalização da relação verbal de
distribuição que já havia anteriormente.

Além de iniciar uma campanha difamatória contra o réu amplamente comprovada no


presente processo, o autor passou a utilizar de forma absurda a máquina estatal contra os réus,
promovendo:

1) A abertura do inquérito criminal n. o n. 911-00375/2022 junto à Delegacia de


Defraudações do Rio de Janeiro (159ª Delegacia de Polícia). Procedimento este que
sequer foi encerrado até o momento e do qual o autor se limitou a juntar tão somente a

2
MARCATO, Antônio Carlos. Procedimentos especiais. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.
petição inicial;

2) Protestou títulos contra o réu e os executou através do processo n. 0077837-


94.2023.8.17.2001, em trâmite na 1ª Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais da
Comarca de Recife. Nesse caso, utilizaram notas fiscais para instruir o processo, mesmo
estas não sendo consideradas títulos executivos. Tal processo também não foi julgado
até o momento;

3) Ajuizou a presente ação monitória no intuito de cobrar multas contratuais que sequer
são devidas, uma vezque a rescisão contratual foi causada pelo próprio autor como mais
uma etapa do plano intencional de destruir a empresa ré.

O fato é que para além da importância de ter identificada a utilização da máquina pública
de forma absolutamente deliberada contra os réus, é necessário observar os efeitos de tais atos
para a saúde financeira da empresa:

1) Com os protestos, todas as compras de outros materiais cirurgicos somente podem ser
feitas na modalidade à vista, reduzindo a capacidade de compra da empresa e de
formação de estoque para atender a demanda de mercado;

2) A abertura do inquérito criminal e sua divulgação através de e-mail enviado para um


sem número de hospitais, planos de saúde, médicos, fabricantes de materiais e
parceiros comerciais, colocou em dúvida a credibilidade da empresa ré dificultando
ainda mais as vendas no mercado;

3) O ajuizamento de diversas ações, e a tentativa de trazer a ação de indenização n.


0016029-88.2023.8.17.2001, ajuizada pelo autor, para ser julgada no Rio de Janeiro/RJ
com o intuito único de dificultar a atuação dos réus.

Os efeitos da absoluta incapacidade de negociação do autor foram e são sérios e


demonstram claramente não apenas a posição de hipossuficiência dos réus, mas principalmente
o abuso do poder econômico pelo autor no intuito de prejudicar ao máximo a Medcirúrgica.

TUDO PORQUE O RÉU NÃO QUIS ASSINAR UM CONTRATO DE ADESÃO COM DATA
RETROATIVA!

Resta alguma dúvida de que a cláusula de eleição de foro deve ser considerada
abusiva nesse contexto? Claro que não!

Há de ser aplicado no presente caso o entendimento já consolidado do Superior Tribunal


de Justiça, para declarar nula a cláusula de eleição de foro, ante o completo cerceamento da
liberdade de contratar, a hipossuficência dos réus, o abuso do poder econômico do autor e a
tentativa de cerceamento do direito de defesa:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO


DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA. COMPETÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO. CÓDIGO
DO CONSUMIDOR NÃO APLICÁVEL AO CASO. TRIBUNAL DE ORIGEM QUE NÃO
RECONHECEU A HIPOSSUFICIÊNCIA ALEGADA. REEXAME DO CONTRATO E
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
DECISÃO MANTIDA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A Segunda Seção desta Corte já consolidou o entendimento de que "a cláusula que
estipula a eleição de foro em contrato de adesão é válida, desde que não obste o
acesso ao Poder Judiciário nem a necessária liberdade para contratar, razão pela
qual, para sua anulação, é imprescindível a constatação do cerceamento de defesa e
a comprovação da hipossuficiência do aderente" ( AgInt nos EDcl no CC 156.994/SP,
Rel. Ministro Raul Araújo, Rel. p/ acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda
Seção, julgado em 10/10/2018, DJe de 20/11/2018).
2. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória (Súmula n.
7/STJ).
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(STJ - AgInt no AgInt no AREsp: 2165086 CE 2022/0209646-5, Relator: Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento: 25/09/2023, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 28/09/2023)

Assim, há de ser aplicado ao presente caso o art. 63, §§ 3º e 4º, reconhecendo-se a


competência da comarca de Recife/PE para processamento e julgamento do feito, o que desde
já se requer.

AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE INADIMPLEMENTO CONTRATUAL PELO RÉU


APLICAÇÃO DO ART. 373, I DO CPC/2015

Como se não bastassem os pontos até então ventilados, é necessário observar que não
houve, no presente, caso, sequer a comprovação de que rescisão contratual ocorreu por culpa
dos réus. Pelo contrário, basta uma analise superficial do processo para se verificar que, em
verdade, não há comprovação das alegações trazidas aos autos

Com relação a comercialização de produtos supostamente fora da área de distribuição,


como dito anteriormente, foi juntado tão somente uma folha de receituário médico indicando a
compra do produto através da empresa réu, entretanto, não foi apresentado nenhum documento
do hospital que é o efetivo comprador do produto. Nem mesmo o relatório cirúgico foi
apresentado.

Ou seja, não há absolutamente nenhuma prova acerca da alegação apresentada de que


houve comercialização pelos réus fora da área de abrangência do contrato de distribuição, como
verificado anteriormente.

Com relação a alegação de venda de produto a um cliente por valor exorbitante, deve-
se observar que o contrato em discussão é de distribuição por intermediação, ou seja, nesse caso
o réu compra o produto do fornecedor e repassa ao cliente, sendo o seu lucro constituido unica
e exclusivamente pela diferença do preço de compra e do preço de venda.

Ou seja, o sobrepreço é exatamente a fonte de receita do distribuidor e tal modelo é


definido pelo próprio fornecedor, já que o contrato é de adesão. Ademais, não há
absolutamente nenhuma cláusula no contrato em questão que limite o preço de venda.

Vale salientar ainda que, o e-mail juntado aos autos é claro ao indicar que a pesquisa de
preços foi feita com outros concorrentes, ou seja, distribuidores que não vendiam os produtos
Lang. Ora, se a pesquisa não foi feita anteriormente à compra, esse foi um erro cometido pelo
comprador, não tendo o distribuidor qualquer responsabilidade sobre tal fato.

Com referência a alegação de que o réu teria fornecido um produto usado ao comprador,
é necessário observar, como dito anteriormente, que não foi apresentado nenhum laudo, nem
mesmo produzido internamente comprovando tal fato. Trata-se de mera alegação do
comprador, não sendo um e-mail sem qualquer resposta suficiente para demonstrar a ocorrência
do fato.

Por fim, com relação aos protestos de notas fiscais, é necessário observar que não foi
sequer comprovada a entrega das mercadorias e esta discussão já está sendo travada nos autos
da execução de título extrajudicial n. 0077837-94.2023.8.17.2001 (doc. 15).

Não foram apresentadas nos presentes autos, portanto, as provas dos fatos constitutivos
do direito do autor, em absoluta afronta ao art, 373, I do CPC/2015:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
Assim, faz-se necessário o reconhecimento da improcedência da presente ação,
resolvendo-se o mérito nos exatos termos do art. 487, I do CPC/2015, o que desde já se requer.

DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer:

1) Que seja reconhecida a inadequação da via eleita no presente caso, ante a inexistência
de qualquer certeza se são ou não devidas as multas por rescisão do contrato e por
violaçaõ da cláusula de não-concorrência, entinguindo-se o feito sem resolução de
mérito nos termos do art. 485, IV do CPC/2015;

2) Ultrapassada a referida prejudicial, que seja aplicado ao presente caso o art. 63, §§ 3º e
4º, reconhecendo-se a competência da comarca de Recife/PE para processamento e
julgamento do feito, ante a abusividade da cláusula de eleição de foro.

3) No mérito, que seja reconhecida a absoluta ausência de provas nas alegações do autor,
reconhecendo-se a improcedência dos pedidos formulados na exordial, resolvendo-se o
mérito nos exatos termos do art. 487, I do CPC/2015.

Em tempo, com base no art. 272, §5 do NCPC, sob pena de nulidade, que sejam todas as
futuras notificações e intimações referente a este feito realizadas exclusivamente em nome de
LOUISE DANTAS DE ANDRADE, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 30.392 e THAYS
MEIRELLY VALENÇA DE PAIVA, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 41.570, ambas com
endereço na Rua Padre Carapuceiro, n. 968, Torre Janete Costa, sl 1805, Boa Viagem, CEP 51020-
280.

Nestes termos,
P. deferimento.
Recife/PE, 29 de novembro de 2023.

Louise Dantas de Andrade Thays Meirelly V. de Paiva


OAB/PE 30.392 OAB/PE 41.570

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