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O Sabor Salgado Universal

(Doitsu Shioaji Gosho – Pág.1447)

Há seis espécies de sabor: o primeiro é suave, o segundo é salgado, o


terceiro é acre, o quarto é azedo, o quinto é doce e o sexto é amargo.
Mesmo que o senhor prepare um suntuoso banquete com cem diferentes
pratos, ele não será adequado como banquete para um grande rei se faltar
o único sabor do sal. Mesmo o prato mais extraordinário de todas as terras
e mares será insípido se não contiver sal.

O oceano tem oito qualidades misteriosas. Primeiro, o oceano torna-se


gradualmente mais profundo. Segundo, sua profundidade é
demasiadamente grande para ser imaginada. Terceiro, seu gosto é salgado
é o mesmo em todos os lugares. Quarto, sua maré flui e reflui
regularmente. Quinto, ele abriga muitos tesouros. Sexto, os seres vivos
muito desenvolvidos residem nele. Sétimo, o oceano livra-se de todos os
cadáveres. Oitavo, embora ele absorva todos os rios e grandes
tempestades, seu volume não aumenta, nem diminui.

A primeira qualidade, ‘o oceano torna-se gradualmente profundo’, indica


figurativamente que o Sutra de Lótus gradualmente leva todas as pessoas,
desde os mortais comuns desprovidos de conhecimento até os sábios
possuidores de conhecimento, a alcançarem o caminho do Estado de Buda.
‘Sua profundidade é demasiadamente grande para ser imaginada’, indica
que o campo do Sutra de Lótus pode ser compreendido e compartilhado
somente entre Budas; os bodhisattvas no estágio de togaku ou abaixo não
tem possibilidade de conseguí-lo. Quanto à qualidade ‘seu gosto salgado é
o mesmo em todos os lugares’, indica que todos os rios, que não contém
sal, são comparáveis aos sutras diferentes do Sutra de Lótus, e não
possibilitam a ninguém atingir a iluminação. Assim como a água de todos
os rios acaba fluindo para o oceano tornando-se salada, os homens das
mais diferentes capacidades, instruídos através dos vários ensinos
provisórios, tornam-se capazes de alcançar o caminho do Estado de Buda
através da fé no Sutra de Lótus. ‘Sua maré flui e reflui regularmente’ indica
que todos os que abraçam a Lei Mística certamente alcançarão o estágio da
não-regressão, mesmo que percam suas vidas. ‘Ele abriga muitos tesouros’
significa que as práticas e ações virtuosas de todos os Budas e
bodhisattvas, assim como os benefícios dos paramitas, estão todos
contidos dentro da Lei Mística. Quanto à qualidade ‘seres vivos muito
desenvolvidos vivem nele’, Os Budas e bodhisattvas são aqui referidos
como ‘seres vivos muito desenvolvidos’ porque possuem grande sabedoria.
O grande desenvolvimento, a grande mente aspiradora, as grandes
características extraordinárias, as grandes forças que derrotam o mal, a
grande pregação, a grande autoridade, os grandes poderes ocultos, e a
grande benevolência desses Budas e bodhisattvas – originam-se do Sutra
de Lótus. ‘O oceano livra-se de todos os cadáveres’ significa, que através
do Sutra de Lótus, uma pessoa pode livrar-se por toda a eternidade da
ofensa de caluniar a Lei ou possuir descrença incorrigível. A oitava
qualidade, ‘Seu volume não aumenta, nem diminui’ significa que a alma do
Sutra de Lótus é o ensino segundo o qual todas as pessoas possuem
igualmente a natureza do Buda. A salmoura, numa tina ou pote de uvas
conservada em sal, flui e reflui exatamente de acordo com a maré do
oceano. Um devoto do Sutra de Lótus submetido ao aprisionamento é como
o sal da tina ou do pote, ao passo que o Buda Sakyamuni, que livrou-se da
casa em chamas, é como o sal do oceano. Aprisionar um devoto do Sutra
de Lótus é aprisionar o próprio Buda Sakyamuni. Como devem estar
impressionados Bonten, Taishaku e os Quatro Reis Celestes ao
presenciarem isso ! As Dez Deusas juraram punir aquele que perseguisse o
devoto do Sutra de Lótus, partindo sua cabeça em sete partes. Quando
será cumprido esse juramento, se não for agora !

Chagas virulentas abriram-se repentinamente em todo o corpo do rei


Ajatashatsu, que havia aprisionado o rei Bimbisara. Como pode aquele que
aprisiona um devoto do Sutra de Lótus evitar o sofrimento de ter o corpo
todo aberto em chagas ?

Nitiren

Fundo de Cena

Não se conhece a data e o recebedor deste Gosho, e as razões que o


levaram a ser escrito são também incertas, por falta de documentação
confiável. Nitiren Daishonin poderia ter escrito este Gosho numa época em
que seus discípulos estariam enfrentando perseguições, conforme indicam
as afirmações: “Um devoto do Sutra de Lótus submetido ao
aprisionamento” ou “aquele que aprisiona um devoto do Sutra de Lótus…”
Existem diversos pontos de vista no tocante ao ano que foi escrito.
Segundo um deles, teria sido em 1261, quando Daishonin foi exilado a Izu;
segundo outro, em 1271, quando foi exilado à ilha de Sado; e, de acordo
com um terceiro, em 1279, quando perseguições atingiram seus
seguidores em Atsuhara. Dentre todas, 1261 parece ser a data mais
provável.

Este Gosho consta de três seções. Na seção de abertura, Nitiren Daishonin


afirma que há seis espécies de sabores, dos quais o do sal é o mais
importante. Sem o sal, qualquer alimento perderia seu gosto. Através
desta metáfora, Daishonin mostra que todos os sutras somente adquirem
seus verdadeiros significados uando baseados na verdade revelada no
Sutra de Lótus. Na segunda seção, ele cita as oito qualidades místicas do
oceano enumeradas no Sutra do Nirvana, a fim de ilustrar as esplêndidas
caracteristicas do Sutra de Lótus.

Na seção final, Daishonin compara o sal contido num pote ou tina de uvas
conservadas em sal ao seguidor do Sutra de Lótus, e compara o sal do
oceano ao Buda Sakyamuni. O sal do pote ou da tina constituía
originalmente parte do oceano. Assim, a salmoura desse pote ou tina flui e
reflui exatamente como o oceano e, analogamente, aprisionar um devoto
do Sutra de Lótus é o mesmo que aprisionar o próprio Buda Sakyamuni.
Daishonin proclama que aqueles que perseguem os devotos do Sutra de
Lótus estão destinados a receber punições através das mãos dos deuses
celestes. Em contraste, os que abraçam a Lei Mística podem no final atingir
o Estado de Buda como mortais comuns, mesmo que encontrem
sofrimentos.

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